quarta-feira, maio 15, 2024

Não nos desiludam!

Já há abaixo-assinados contra a decisão sobre o novo aeroporto? E providências cautelares? Então e as objeções ambientais, de invejas locais, de natureza financeira e toda a lista de problemas que os cultores do imobilismo vinham a acumular há décadas? Não nos desiludam!

Mostrar o periscópio

Pressentindo que o país, nas próximas eleições presidenciais, pode preferir um estilo mais sóbrio, o senhor almirante começa a alambicar declarações patrióticas, ao jeito jingoísta dos dias. É tudo tão óbvio!

Notícias do comércio livre

Com a aproximação das eleições, Biden "faz peito" e reforça o protecionismo americano face à China. Verdade seja que, historicamente, os democratas foram quase sempre mais restritivos em matéria de comércio externo, por virtude de neles os sindicatos terem uma maior influência.

A pax chinesa

Putin diz que apoia o plano de paz apresentado pela China, em 2023, para o conflito com a Ucrânia. O texto chinês, se bem recordo, era um monte de ambíguas obviedades, algumas incompatíveis entre si. Dito isto, é bom ver Pequim (não, não escrevo Beijing) de regresso ao tema.

Reforma


Mais 50 pessoas (clique na imagem), de origens bem diferenciadas, assinaram o manifesto para a reforma da Justiça. 

Sabemos que isto vai irritar alguma gente, o que é ótimo.

Ah! Por favor, não comentem sem antes lerem o texto.

Falando de acordos


Ontem, na CNN Portugal, a propósito dos instrumentos jurídicos que, seguramente, estariam a ser preparados para a deslocação - afinal, ainda não será desta! - de Zelensky a Portugal, ouvi-me dizer algo como isto: "Nestas ocasiões, tem sempre de ser assinada qualquer coisa.."

E lembrei-me de uma cena passada, algures na segunda metade do ano de 1976.

Estávamos numa reunião entre delegações presididas pelo ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Medeiros Ferreira, e pelo primeiro-ministro e ministro da Cooperação de S. Tomé e Príncipe, Miguel Trovoada, na Sala dos Embaixadores do palácio das Necessidades. 

A discussão tinha uma longa agenda, nesses tempos de resolução de algum contencioso residual da transição pós-colonial e do início dos primeiros modelos de cooperação. Os trabalhos prolongar-se-iam pelo dia seguinte, culminando com uma conferência de imprensa.

Medeiros Ferreira, que, por qualquer misteriosa razão, tinha a seu lado António Sousa Gomes, ministro do Plano e Coordenação Económica (do que eu agora me lembro!), voltou-se para trás, para o adjunto do diretor-geral dos Negócios Económicos (era assim que, à época, se designavam, no MNE, os subdiretores-gerais), Paulo Ennes, e perguntou:

- Não há nada para assinar?

A assinatura de um acordo, ou de um outro instrumento jurídico bilateral, ajuda sempre a "compor" uma visita oficial, produzindo, no imaginário público, resultados mais concretos. Durante muitos anos, quando não havia nada para assinar, era vulgar rubricar-se um "acordo de supressão de vistos em passaportes diplomáticos". Hoje, como esses acordos têm consequências mais sérias, é comum o recurso a "protocolos de cooperação", entre instituições da mais variada natureza. Alguns úteis, outros inócuos.

Paulo Ennes olhou para mim, que tinha o pelouro, passando-me implicitamente "a bola".

- Não, senhor ministro, não vai haver nada para assinar, respondi. 

No ano anterior, após a independência de S. Tomé e Príncipe, tinha sido firmada uma montanha de acordos e protolocos entre os dois países. Estava praticamente tudo concluído. Vi Medeiros ficar com cara de caso. 

Subitamente, lembrei-me:

- Bom, há um texto que está em estudo no ministério da Saúde. É um protocolo de cooperação que permite prolongar, para a época depois da independência, a possibilidade dos funcionários públicos de S. Tomé terem acesso ao antigo hospital do Ultramar, bem como outras facilidades. Mas não sei em que pé está essa apreciação...

Pouco tempo antes, eu tinha sido mandado pelo governo a S. Tomé e Príncipe, durante uma semana, numa rara missão de serviço para ser executada por um "adido de embaixada" com menos de seis meses de casa, e recebera pessoalmente esse pedido do ministro da Saúde santomense, Carlos Graça.

Medeiros Ferreira ficou interessado.

- Veja isso já com o gabinete do ministro da Saúde! Era bom termos algo para assinar amanhã, disse, voltando-se para a frente, prosseguindo a reunião.

Paulo Ennes, excelente amigo e magnífico diplomata, olhou-me e sorriu, como que a dizer: "Já que 'abriu a porta', agora amanhe-se...". E eu fiquei com a "batata quente". 

Arranquei para o meu local de trabalho e falei para o Ministério da Saúde. O meu interlocutor foi um adjunto do ministro, de seu nome Paulo Mendo, o qual, anos mais tarde, viria a ser ministro da pasta.

Por um milagre, daqueles que acontecem uma vez na nossa vida burocrática, o assunto já estava desbloqueado, com parecer positivo. No meu carro, fui pessoalmente ao Ministério da Saúde buscar o texto e conferi-o, minutos depois, com alguém da embaixada santomense, que, sem problemas, anuiu a tudo, tanto mais que o protocolo só tinha efeitos unilaterais a seu favor.

Regressei às Necessidade e mandei dactilografar o acordo, um texto curto, de duas páginas. Disse à senhora (as dactilógrafas eram, nesse tempo, todas mulheres) para fazer dois exemplares: um para nós, que abria com "A República Portuguesa e a República Democrática de S. Tomé e Príncipe..." e outro para S. Tomé, em que a ordem dos países era trocada. 

Para quem não saiba, a regra é que, num acordo, cada país fique com a cópia que começa com o seu nome. O mesmo se passa no lugar das assinaturas, na última página, onde, na nossa cópia, a assinatura do nosso responsável se situa do lado esquerdo. Normalmente, cada país tem o seu próprio papel e capas para os acordos, bem como as suas próprias fitas coloridas, que entrançam as folhas, além de usar um sinete próprio, para firmar o lacre. Liturgias da diplomacia universal...

No dia seguinte, na tarde da cerimónia da assinatura, que antecedia a conferência de imprensa, tudo correu impecavelmente. Ainda tenho uma fotografia dessa cena publicada no "Diário de Notícias", comigo num inenarrável e inadequado blazer cinza, de cara grave, com um cabelo bastante comprido, largo bigode tipo mexicano e gravata com um nó imenso. A notícia do jornal fala de um "importante instrumento jurídico" assinado nesse dia. O pior foi, no entanto, o dia que estava para vir..

Nessa manhã, fui acordado bem cedo, em casa, pelo meu interlocutor da embaixada santomense, quase em pânico. É que, na cópia santomense, o nome do seu país não estava apenas trocado no início do texto: em vários pontos do articulado, onde, por exemplo, na cópia portuguesa, se lia que "Portugal compromete-se a facilitar o acesso às suas unidades hospitalares aos funcionários públicos de S. Tomé e Príncipe", surgia "S. Tomé e Príncipe compromete-se a facilitar o acesso às suas unidades hospitalares aos funcionários públicos de Portugal"... As "responsabilidades" para S. Tomé passavam a ser imensas!

O que é que acontecera? A dactilógrafa havia feito uma leitura "extensiva" da instrução que eu lhe dera para a troca dos nomes dos países, decidindo mudá-los ao longo de todo o texto do acordo. A culpa do que acontecera era, claro, totalmente minha, que, com a precipitação, não tinha tido o cuidado de fazer a verificação cuidada dos dois exemplares do acordo.

Levei algum tempo a acalmar o meu colega santomense, explicando-lhe que, mesmo depois de assinado pelo seu primeiro-ministro, o texto só seria válido após publicado e, naturalmente, isso nunca aconteceria antes de estarem feitas as devidas correções. E, logo nessa tarde, fez-se um novo exemplar, que se pediu, já não sei bem com que argumentário, que o nosso ministro assinasse. E tudo se resolveu, claro. 

Por muito tempo, guardei esse extraordinário exemplar, subscrito por Miguel Trovoada e Medeiros Ferreira, onde S. Tomé se "comprometia", por exemplo, a "facilitar o envio para Portugal de medicamentos" e outros modelos similares, mas impraticáveis, de cooperação recíproca!

Passados muitos anos, numa noite na nossa comum tertúlia na Mesa Dois do "Procópio", contei a história ao José Medeiros Ferreira - o qual, recorde-se, nos deixou faz agora uma década. Ainda tenho no ouvido a sua imensa gargalhada!

Retratos


O rei britânico tem um novo retrato. Terá demorado quatro anos a executar. Eu gosto. Quem fará o retrato oficial do presidente Marcelo Rebelo de Sousa?

Que rico spam!

Passei agora pelo "spam" do meu email. Nem imaginam o dinheiro que tenho para receber! Milhares e milhares de euros e dólares. Só boas notícias! O mundo é tão generoso!

Extraordinário!

Acho extraordinário - não estou a exagerar, acho mesmo extraordinário! - que o ministro das Finanças não tenha falado à comunicação social no final da reunião do Eurogrupo. Passa-se alguma coisa que o país não saiba?

terça-feira, maio 14, 2024

É a vida?


O PS não tem pena de não ter sido um seu governo a anunciar o novo aeroporto (não conta, claro, o "anúncio" feito por Pedro Nuno Santos!)? O PS deixou toda a "papa" feita e o PSD, sem mexer uma palha, fica com a glória da decisão. Neste caso, o PS só se pode queixar do PS.

Muito bem!

Acho muito bem que o primeiro-ministro português tenha decidido fazer hoje, às 20 horas, uma comunicação ao país, com vista a reagir, com a firmeza que a decência exige, ao inaceitável ato racista e xenófobo de que foi vítima uma criança nepalesa. 

Muito bem, Luís Montenegro! Que as mãos não lhe doam!

A matemática das bolachas


Quase todas as madrugadas, pé-ante-pé, para não suscitar críticas caseiras, deslizo até à cozinha em busca de um sustento complementar, porque isto de se viver muito já dentro da noite tem, podem crer, bastante que se lhe diga. E as bolachas são a minha perdição. Descobri umas excelentes, no domingo, na mercearia do Miguel, ali em frente à embaixada de França. Há pouco mais de uma hora, encerrado o expediente familiar, fui discretamente à cozinha buscar meia dúzia dessas bolachas. Foram exatamente seis, lembro-me bem. Sentei-me no sofá a ler e a verdade é que, poucos minutos tinham passado e as seis bolachas já tinham desaparecido. Imaginei então o que teria ouvido se acaso tivesse sido apanhado, nessa pecaminosa deglutição doce, por quem me acompanha os dias, mas, às vezes, me perde por algum tempo na solidão silenciosa das noites domésticas: "Devias comer menos bolachas! Fazem-te mal". A palavra "menos", confesso, calou-me fundo. E tive um rebate de consciência. Era verdade! Estava a comer demasiadas bolachas. Seis! Era um exagero glutão. Não podia ser! De facto, tinha de começar a reduzir o número de bolachas. Levantei-me do sofá, fui de novo à cozinha e trouxe quatro bolachas. Começava bem: passava de seis a quatro bolachas. Estou aqui a escrever isto e as quatro bolachas, entretanto, também já marcharam e dou comigo a pensar: ainda volto à cozinha e trago só duas bolachas. É que assim passo a metade da última vez! Cada vez menos bolachas! Esse é o caminho! Good guy!

Tutorial europeu (2)

Gostava de lembrar duas coisas, a propósito de uma menção feita ao alargamento da União Europeia ao Kosovo (alguém falou hoje nisso, embora o Kosovo não seja sequer candidato): o Kosovo não é reconhecido como Estado por todos os países da União Europeia e não é membro da ONU.

segunda-feira, maio 13, 2024

Tutorial europeu

Há por aí quem não saiba que uma eventual escolha de António Costa para presidente do Conselho Europeu, se acaso viesse a ter lugar, seria feita por voto maioritário no seio do próprio Conselho. E que o Parlamento Europeu não tem rigorosamente nada a ver com essa designação.

Basta olhar


A expressão "uma imagem vale mais do que mil palavras" é bem adequada para ilustrar esta fotografia do encontro de hoje entre o presidente da Sérvia e o MNE ucraniano. Basta esta imagem, que ambos quiseram que fosse tal como ela é, para percebermos o estado atual das relações entre os dois países. 

A fórmula de Garrincha

Foi no Mundial de 1958. Garrinha estava a ser instruído pelo treinador Feola sobre o modo de ultrapassar a defesa russa. Feola dava sucessivas dicas a Garrincha sobre como atrair e derrotar, sucessivamente, os jogadores russos, até conseguir chegar à linha de fundo e centrar para a cabeça de Vává. O dispositivo era descrito de forma tão precisa, com decorrências tão automáticas no colapso da defesa então soviética, que Garrincha, a certo ponto, não se terá contido e perguntou: "E já combinaram com os russos?"

A frase ficou até hoje e é utilizada regularmente, no dia-a-dia brasileiro, para significar uma situação difícil em que apenas por ingenuidade se pode crer num resultado favorável, por ser essa a nossa vontade, como se o adversário não existisse.

O ocidente, mais cedo ou mais tarde, vai ter de refletir na frase de Garrincha.

"It"s the economy..."

"It"s the economy, stupid!", foi a expressão cunhada por James Carville, na campanha de Clinton em 1992, para identificar o eterno motor do voto na América. 

Na Rússia, o voto é um detalhe, mas ver um político da área económica ir chefiar a Defesa parece provar a atualidade da frase. E leva a pensar que chegou a hora da economia a esta sua guerra. 

sábado, maio 11, 2024

Uma nota para os tristes


Há vários anos que, quando penso (e penso muitas vezes) ir comer ao restaurante "Salsa & Coentros", não longe da Avenida do Brasil, em Lisboa, digo para mim mesmo: vai ser difícil conseguir uma reserva! A relação qualidade/preço é ali extraordinária e a casa está sempre "à pinha", como antes se dizia. É compreensível que assim aconteça, dado o mérito excecional da comida, serviço e preço, como reconhecem todos (repito, todos!) os meus amigos e conhecidos que gostam de comer bem.

Mas é da lei da vida: nem toda a gente pode ser feliz. E infelizes e tristes, pelo menos e pela certa, são os especialistas "selecionadores" do "Time Out" e do "Boa Cama, Boa Mesa", essas "páginas amarelas" da faca-e-garfo, que nunca devem ter conseguido obter reserva para lá poderem ir. É que só assim se justifica que, nas largas dezenas de restaurantes inventariados na sua seleção de mesas lisboetas para este ano, o "Salsa & Coentros", reconhecidamente um dos grandes restaurantes do nosso país, nunca figure. 

Só posso desejar que continuem a tentar, até que um dia venham a ter a sorte de conseguirem sentar-se por lá! Até ver, deixem as vagas (e, em especial as empadas) para nós! Ficam com o telefone, para irem tentando: 218 410 990. Não, não dou o telemóvel do Duarte! Era só o que faltava...

A Ucrânia, claro, falando também da Rússia, da China e da Europa, esta com eleições à porta


Ver aqui.

sexta-feira, maio 10, 2024

Portugal bem

Portugal votou a favor da admissão da Palestina como membro pleno da ONU, numa resolução na Assembleia Geral da organização. A resolução tem um sentido político, mas não tem um efeito vinculativo, porque só o Conselho de Segurança tem essa competência. 

Dentre os membros da União Europeia, abstiveram-se Áustria, Bulgária, Croatia, Finlândia, Alemanha, Itália, Letónia, Lituânia, Holanda, Roménia, Suécia. Votaram contra Rep. Checa e Hungria. 

Foi você que pediu uma política externa europeia?

Só para lembrar

Pertencer à CPLP não obriga um país a seguir a linha política da NATO ou da UE, da qual só Portugal é membro. Relembro ainda que sete dos oito membros da CPLP são países do Sul, em regra menos alinhados com os EUA e em geral propensos a terem boas relações com a China e Rússia.

Carlos Fernando Mathias


Em janeiro de 2005, poucos dias depois de ter assumido funções como embaixador no Brasil, fui informado de que estava na embaixada e tinha manifestado interesse em falar comigo um magistrado brasileiro, o desembargador Carlos Fernando Mathias. 

Como ele não tinha audiência marcada e os meus dias estavam muito preenchidos, perguntei a que título ele queria ver-me. Creio que foi a Daisy, uma das minhas secretárias, que me esclareceu, com um sorriso: "Como grande amigo de Portugal que ele é". Estou ainda a ver a figura pequena e ligeiramente avantajada do visitante a entrar no meu gabinete. Trazia os braços abertos, para um primeiro abraço que me deu, como se me conhecesse de toda a vida.

O Carlos, com a sua mulher Maria Luísa, constituiam um dos mais simpáticos casais de Brasília. O sorriso, naquelas duas caras, era uma imagem de marca permanente. Cedo ficámos bons amigos. Ambos eram visita frequente da nossa residência e recordo sempre a grande festa anual que organizavam no jardim da sua casa, naquele que era um ponto alto da vida social de Brasília, coberto pela reportagem televisiva do Gilberto Amaral - que, com a coluna da Jane Godoy, determinavam então quem era "gente" na sociedade brasiliense. Essa era também uma ocasião que eu aproveitava para visitar a imensa coleção de placas "Cuidado com o cão", em várias línguas, que o Carlos se entretinha a colecionar. Uma delas foi oferecida por mim, creio que trazida de Bangkok.

O meu amigo Carlos Mathias, com uma vida muito ativa no mundo judiciário e universitário, tinha uma caraterística raríssima para quem se movia na complexa sociedade de Brasília: nunca lhe ouvi dizer uma palavra desagradável sobre ninguém. O Carlos era um homem positivo, congregador, apreciado por todos, sempre com uma imensa disponibilidade para os amigos e conhecidos. Ah! E era, de facto, como o vim a provar, um grande amigo de Portugal. Por aqui o voltei a encontrar um par de vezes, com a alegria, a bonomia e a abertura pessoal de sempre.

Do Brasil, dizem-me agora que o Carlos morreu, aos 85 anos. Sabia-o doente há uns tempos e que já tinha atravessado períodos bem difíceis. À Maria Luísa e restante família deixo um forte abraço de pesar e de muita e sincera saudade.

quinta-feira, maio 09, 2024

Isto é verdade?

 


Na véspera do Dia da Europa


Aqui entre nós: ás vezes, as sessões de lançamento de livros são uma seca! Em regra, não se sai delas muito mais "rico" ou informado. Quase sempre, são apenas momentos congratulatórios, onde se ouvem coisas simpáticas e agradáveis, sobre o autor e o produto do seu labor. 

Ontem, com a maior franqueza, assisti a uma exceção a esta quase regra. Na apresentação do livro "O Ano Zero da Nova Europa", que só pude ainda folhear, quem lá esteve teve o privilégio de ser brindado com duas intervenções altamente substantivas sobre o atual "estado da arte" na Europa e no mundo. 

Quer o apresentador, António Costa, quer o autor, Bernardo Pires de Lima, trouxeram-nos muito interessantes e informadas reflexões, como ficou patente na pouco usual reação entusiástica do auditório. António Costa, liberto das responsabilidades executivas, fez uma leitura das coisas em que, visivelmente, decantou os oito anos que passou pelos palcos europeus. Pires de Lima, que Marcelo Rebelo de Sousa ali disse ter até agora "escapado" por pouco ao exercício de outras responsabilidades, mostrou a maturação que vem fazendo, desde há anos e desenvolvida já em outras obras, sobre a temática internacional.

Noto que os oradores são pessoas originárias, no passado, de diferentes áreas políticas, unidas agora pela preocupação comum sobre o futuro da Europa em que estamos inseridos. Porque o livro, que foi o mote para ambas as intervenções, assenta nessa mesma preocupação, que também é a minha, estou com bastante curiosidade em lê-lo.

S. Tomé, a Rússia, a CPLP e nós


Se tiverem uns escassos minutos, gostava que ouvissem a curta conversa que ontem tive com Pedro Bello Moraes na CNN Portugal sobre a decisão santomense de estabelecer um acordo com a Rússia. Muitas vezes, é importante pensar fora do "wishful thinking". 

Veja aqui.

quarta-feira, maio 08, 2024

Ridículo e grave

A acusação de traição à pátria dirigida a Marcelo Rebelo de Sousa é, para além de completamente ridícula, de uma extrema gravidade. Os partidos responsáveis deveriam conseguir ultrapassar as reservas que a ação do presidente da República possa conjunturalmente merecer-lhes e, a bem da salubridade da vida política democrática, afirmar perante o país um repúdio conjunto face a esta inqualificável atitude.

terça-feira, maio 07, 2024

Encore Pivot

 


Oposição democrática


Chegou-me ontem a casa, numa edição do autor, este "Vila Real - Oposição e Eleições no Estado Novo". São 230 páginas, que li de um fôlego.

Ribeiro Aires é um historiador vilarrealense, com vasta obra publicada. Tive já o gosto, há alguns anos, de fazer a apresentação de um seu trabalho sobre a figura de Carvalho Araújo, o heróico marinheiro que dá nome à principal artéria de Vila Real.

Neste seu novo livro, Ribeiro Aires traça o panorama possível sobre a ação desenvolvida pelos democratas vilarrealenses, desde a instauração da Ditadura Militar até ao golpe militar democrático de 25 de Abril de 1974. É um trabalho que imagino ter sido difícil, porque, salvo para determinados períodos, as fontes e os dados devem ser escassos. Daí o interesse e a importância desta publicação.

Tive natural curiosidade em ler o que ali está escrito sobre as "eleições" de 1969. Com pouco mais de 20 anos, colaborei então bastante nessa animada campanha, ao lado de figuras prestigiadas da oposição local, como Otílio de Figueiredo, Júlio Montalvão Machado, José Alberto Rodrigues ou Délio Machado. O livro levou-me a recordar, com gosto, essa "campanha alegre". Sem surpresas, fomos copiosamente derrotados nas urnas por uma União Nacional que dominava a máquina pública e tinha o aparelho repressivo do seu lado.

Felicito Ribeiro Aires por mais esta sua obra, publicada, muito oportunamente, nos 50 anos da Revolução de Abril.

segunda-feira, maio 06, 2024

Pivot


Morreu Bernard Pivot. Tinha 89 anos. Há hoje uma França (e não só) de luto. Não terá chegado a receber a chamada telefónica que mais temia: "Ainda vou acabar por ter um telefonema da imprensa a convidar-me a comentar a notícia da minha morte", como sempre lhe acontecia quando morria um escritor. Quem teve o ensejo de assistir, na televisão, a emissões do "Apostrophes" ou do "Bouillon de Culture" percebe melhor a importância que este homem teve para a divulgação e popularização, neste caso num bom sentido, da cultura francesa. Pivot era um excelente entrevistador, sempre em tom suave e pouco confrontacional, que sabia extrair o melhor do interlocutor. A promoção da edição e a preservação de uma escrita escorreita - Pivot lançou os Campeonatos de Ortografia - mobilizaram o seu trabalho mediático. Alguns criticavam a ligeireza dos seus programas, que acusaram de serem um favor à indústria editorial. Pivot também escrevia. Deixou alguns livros. Do pouco que dele li, confesso que não me ficou uma marca forte. A palavra e o tom de interesse com que falava com os outros (sempre acreditei que Carlos Pinto Coelho se inspirou em Pivot para desenhar a sua "persona" televisiva, mesmo no traje) eram o segredo do seu êxito. Para sempre, guardei a resposta de François Mitterrand, não longe da morte, perante a sacramental pergunta do questionário que Pivot usava: "Si Dieu existe, quel est le mot par lequel vous voudriez qu'il vous accueille". O ainda presidente respondeu: "Enfin, tu sais...". E ainda: "J'espère qu'il ajoutera: Sois le bienvenu".

Depois de amanhã!

 


domingo, maio 05, 2024

Amanhã!

Hoje!

 


Geórgia à espreita, Ucrânia à espera


Ver aqui

Gaza na América

Ver aqui.

Caro Karl


Nasceste em Trier, ou Trèves, para quem gostar mais, faz hoje 205 anos. Olhaste a sociedade industrial do século XIX e, a partir dela, pensaste ser possível construir um mundo melhor. Alguns usaram as tuas ideias para criar o que vieram a ser monstros históricos. Outros souberam fazê-las evoluir para gizar a base de sociedades mais justas e, o que nos dias de hoje importa cada vez mais, em completa liberdade. Escapaste bem ao "caixote do lixo da História", como tu lhe chamavas, onde caíram muitos dos teus adversários e parte de quantos se diziam teus seguidores e se deixaram tentar pelas vias totalitárias. Nos dias de hoje, caro Karl, aqueles que apreciam a tua figura de pensador parece terem concluído que a arte da política solidária consiste em saber reivindicar o sentido de justiça e equidade que está subjacente ao essencial das tuas ideias, mas reinventando todos os dias a indispensável forma democrática de as viver.

... e a Espanha aqui tão perto


Ver aqui.

Coisas

 


Deu-me vontade de passear pela Toscânia.

Lápis azul

Israel proíbe a Al-Jazzera. Vamos aguardar para ver se a União Europeia tem lata para criticar este ato censório, depois de ter feito o mesmo aos canais televisivos russos. 

Nas democracias, os cidadãos devem poder ver tudo o que lhes apetecer, verdades ou mentiras, sempre sob o direito ao contraditório.

Cabo Verde


Descolonizado e descomplexado

sábado, maio 04, 2024

Nota

Alguns comentadores deste blogue, por coincidência sempre aqueles que vivem refugiados num confortável anonimato ou em pseudónimos, procuram colocar adendas a textos aqui publicados. E chegam a queixar-se quando isso não ocorre, pelo facto de eu não ter dado luz verde a essa publicação. Em alguns casos, vão ao ponto de avançar com "links" para coisas que convêm às suas ideias ou agendas. Estão no seu pleno direito de o tentar, tal como eu estou no meu direito de publicar apenas aquilo que, dentre essas notas, muito bem entendo. Este blogue não é um órgão de comunicação social: é um espaço pessoal. Era só o que faltava que, nesta minha "casa", eu não pudesse decidir o que fica registado.

sexta-feira, maio 03, 2024

Rockwell

 


O fundo da reforma


A quem se atrever a dizer que, num mês, este governo não fez nada que se visse, deixo esta impressionante imagem de uma reforma de fundo - levada a cabo com coragem, rasgo e determinação - a qual, em si mesma, fala já por toda uma legislatura, que tanto promete ... 

quinta-feira, maio 02, 2024

A data

Leio que faz hoje um mês que Luís Montenegro tomou posse como primeiro-ministro. Já um mês? Confesso que não tinha dado por isso.

quarta-feira, maio 01, 2024

Na minha outra juventude


Há muitos anos (no meu caso, 57 anos!), num Verão feliz, cheguei a Amesterdão, de mochila às costas. Aquilo era então uma espécie de "Meca" geracional. Para quem tinha cerca de 20 anos, apenas a Londres dos "swinging sixties" lhe fazia alguma concorrência, embora com diferentes fatores de atração. Paris era mais "grave", pessoal a discutir "à séria", guerra e livros. À boleia desde Lisboa, sem pressas, sem datas e sem companhias precisas, saltitei então entre cidades, entre "auberges de jeunesse" e outros pousos que, às vezes, até tinham bastante mais graça e era fautores de felizes "happenings". (Voltei a repetir a experiência, uma outra vez). Aos amigos que sabia irem estar, por esses tempos, por Amesterdão, disse, antes de partir de Lisboa: "Todos os dias, às sete da tarde, vou estar pelo Dam. Aparece!". (Alguém me tinha ensinado que era assim). E, naquela semana, nos fins de tarde, sentava-me na base do monumento, à espera de tudo, conversando com quem viesse à vida. Hoje, dou agora conta, está vedado.

Sem olhos em Gaza

Nem imaginam o que tenho aprendido sobre o verdadeiro caráter de algumas pessoas ao observar o modo como têm reagido ao que se está a passar em Gaza.

Parecido


Para quem ainda possa lembrar-se: em termos de alegria - embora não necessariamente de esperança - a coisa mais parecida com o último 25 de Abril foi o Primeiro de Maio de 1974. 

Macron

Macron fez, uma vez mais, um discurso europeu ambicioso. Serão as suas ideias exequíveis? Apesar do caso ucraniano, não existe a menor perspetiva de consenso em torno da futura criação de um poder europeu com uma direção comum em matéria de segurança e defesa.

Um número significativo de Estados europeus, a começar pela Alemanha, apenas confia no poder americano para a sua (e da Europa) defesa. Esses países olham para as palavras de Macron como expressão de uma ambição de liderança europeia. E assobiam para o lado. A começar por Berlim.

terça-feira, abril 30, 2024

Globalização, Segurança Nacional e Informações

 


Tudo cada vez mais claro

 


Reparações.como?

Com o episódio das reparações coloniais, o presidente deixou atónita a direita nacionalista. Muito mais graça teve a reação da esquerda da esquerda, que viu Marcelo ultrapassá-la ... pela esquerda! PS e PSD oficiais embatucaram. O presidente é um brincalhão!

PGR (3)

Seria importante o parlamento revisitar a questão da composição do Conselho Superior do Ministério Público, bastando para tal que o PSD recupere as ideias de Rui Rio e o PS tenha coragem para as apoiar. 

PGR (2)

Afeta gravemente o princípio da separação de poderes a ideia do parlamento ouvir a Procuradora-Geral da República sobre processos que correm no âmbito da Procuradoria, por mais escandalosa que seja (e é) o modo como tal se processa.

PGR (1)

Era só que faltava que a Procuradora-Geral da República se demitisse! O que é necessário é que ela seja demitida.

segunda-feira, abril 29, 2024

Sérgio Ribeiro


Deixo uma nota de sincero pesar pela morte de Sérgio Ribeiro, corajoso militante comunista antes do 25 de Abril, de quem sempre divergi politicamente, nomeadamente sobre o projeto europeu. A divergência não exclui a admiração e o respeito que por ele tinha. 

Olé!

A Espanha parece ser um país sem nenhum sentido de humor. Se a algum primeiro-ministro, em Portugal, passasse pela cabeça fazer uma operação de "indignação" como a que Sánchez montou, recebia na cara uma gargalhada mais "monumental" do que a homónima praça de touros de Madrid.

Que tropa!

A ideia de que o serviço militar poderia vir a ser uma tarefa para expiar delitos cometidos é tão absurda que se torna muito estranho que haja sido adiantada por alguém a quem cumpre promover a dignidade das Forças Armadas no seio das instituições. Parem um segundo e pensem!

Ainda o 25 de Abril (2)

O que ocorreu no último 25 de Abril, em especial a imensão de juventude que veio para a rua, devia fazer perceber aos políticos que a data deve passar a ser uma imensa festa, com menos slogans de trincheira, com muitos cravos e grande unidade sob a bandeira da liberdade. Só assim ela poderá ser preservada como "a" data nacional por excelência.

Ainda o 25 de Abril (1)

É extraordinário como os exegetas de multidões que, em regra, emergem logo na comunicação social e nas "autoridades", a mandar bitaites quantitativos sobre as manifestações, se calaram que nem ratos sobre o que aconteceu em Lisboa. Alguém ficou assustado? 

PSD?

O que é que se está a passar no PSD? Para além da história de cada uma das pessoas, que ajuda a explicar alguma coisa mas não pode justificar tudo, como é possível que gente que foi eleita sob a decência de projeto da direita democrática se bandeie assim para a extrema-direita?

sábado, abril 27, 2024

O outro 25

Se a manifestação dos 50 anos do 25 de Abril foi o que foi, nem quero pensar o que vai ser a enchente na Avenida da Liberdade no 25 de novembro, data que nos livrou do comunismo e de outras coisas más assim.

Galamba

João Galamba não tem o direito de dizer nunca foi "ouvido" pelo Ministério Público sobre a "Operação Influencer"! Essa agora! Então ele não foi "escutado" durante quatro anos?! Que eu saiba, "ouvir" e "escutar" são sinónimos, ou não? 

Hoje, aqui na Haia

Uma conversa em público com o antigo ministro Jan Pronk, uma grande figura da vida política holandesa, recordando o Portugal de Abril e os amigos internacionais da democracia portuguesa.

Ingratidão

As visitas a este blogue, durante os pretéritos governos socialistas, tiveram números sempre simpáticos. Andaram na casa dos 1.500/1.800 leitores diários. 

Porém, chegada a direita ao poder, o que é que vemos? Os números disparam e passa a visitar-nos uma média diária de 2.500/2.800 pessoas. 

Vou ter, intimamente, de me decidir sobre o que prefiro...

quinta-feira, abril 25, 2024

O herói


25 de Abril de 1974. Escola Prática de Administração Militar (EPAM). Eram aí 11 horas da manhã. Abri a fechadura da sala do quarto do oficial de dia, onde o "Ramos" dormitava, cabeça sobre a mesa, barba por fazer. Levantou a cara e olhou-me com uma tristeza infinda, num misto de desilusão e talvez receio do futuro. 

Dei-lhe de troca um sorriso aberto e estendi-lhe a G-3 que levava na mão. O "Ramos" levantou-se e ficou a olhar para mim, sem saber o que pensar. 

Cerca de nove horas antes, às duas da manhã, o "Ramos" tinha sido detido. Era o oficial de dia e, não estando no segredo do golpe, sendo imprevisível a sua reação e não havendo tempo para operações de recrutamento por convicção, havia sido essa a decisão tida por mais prudente, até para sua própria defesa, se algo corresse mal. Foi isso que me foi dito pelo capitão que tinha passado a comandar a unidade, depois do destacamento chefiado por Teófilo Bento ter partido para ocupar a RTP.

O "Ramos" era um alferes que "metera o chico”. Era bom tipo, embora um pouco militarão. Agora, quando as coisas começavam a serenar, com a unidade sob controlo, não havia razão para lhe prolongar o sofrimento. Perguntei se o podia libertar - e, autorizado, assim fiz:

"Pega lá na arma, pá, estás solto. E vai tomar um banho".

Ficou um pouco confuso, mas o meu abraço restituiu-lhe a confiança. Expliquei-lhe o que acontecera, as razões da sua detenção e que, naturalmente, contávamos com ele dali em diante.

Lembrava-me de o ver, semanas antes, muito interessado a ler o "Portugal e o Futuro", aquele manifesto de gaullismo requentado que enfurecera Marcelo Caetano e desinquietara muito militar profissional. Eu tinha ironizado com esse entusiasmo do "Ramos", desdenhando da obra assinada por Spínola, embora não desprezasse a importância do surgimento do livro.

Ao final da tarde de 25 de Abril, o "Ramos" foi para a RTP, que estava sob o controlo da EPAM, onde ficou encarregado da segurança da entrada, na Alameda das Linhas de Torres, junto às bombas de gasolina, local onde se apinhavam então muitos curiosos.

A noite ia ser longa. A Junta de Salvação Nacional, recolhida na Pontinha com o MFA, discutindo o programa e o poder, demorou muito a chegar, para fazer a famosa comunicação ao país. Desde há horas, eu andava pelos estúdios da RTP, com muito pouco para me ocupar, com uma metralhadora FBP ao tiracolo. 

(Eu nunca tinha disparado uma arma daquelas, que me diziam ser perigosa, e, "por causa das moscas", tinha o carregador só meio colocado. No dia seguinte, ao entregar a arma no armeiro, foi-me dito que, afinal, levara um carregador errado: era de uma metralhadora "Vigneron". Se tivesse sido necessário dar um tiro...)

A certa altura, já bem tarde na noite, ao telefone da sala da redação da RTP (atendia-se ali o telefone pela senha de "Mónaco"), chegou a notícia: a Junta estava prestes a chegar. Desci a rampa, fui avisar o "Ramos" e arvorei-me em "segundo comandante" da guarda de honra a Spínola e aos restantes membros da Junta. Antes, ainda perguntei ao "Ramos": "Como é que se apresenta armas com a FBP?". Sabia fazê-lo com a G3, mas não com "aquilo". O "Ramos" ensinou-me.

Coube assim ao "Ramos" improvisar a guarda de honra à chegada da Junta. Fê-lo com o garbo compatível com o estado de total bandalheira comum aos cinco ou seis soldados-cadete que o destino lhe dera para comandar, nessa efémera solenidade. E eu, "voyeur ", fiquei ao lado dele.

Ao sair do carro, seguido dos restantes membros da Junta, Spínola fixou o monóculo e olhou por um instante o "Ramos", que estava perfiladíssimo em continência, e lançou: 

"Eu não o conheço, nosso alferes?". 

O "Ramos" balbuciou: 

"Meu general, efectivamente tive a honra de servir sob as ordens de V. Exa. na Guiné". 

Spínola grunhiu algo e já se afastava, de capote e pingalim, rampa acima, a caminho dos estúdios, quando o "Ramos" se virou para mim: 

- "Estás a ver, pá?! Ele reconheceu-me, lembra-se de mim, este tipo sempre foi o meu herói!". 

Deixei o "Ramos" a gozar o instante, subi com a Junta aos estúdios e, atrás das câmaras, assisti à "performance" oratória de Spínola. Ao ver e ouvir a voz do convidado da "Divisão Azul" nazi e do mandante da Operação "Mar Verde", futuro presidente, não apenas da República mas também do bombista MDLP, não fiquei muito sossegado, recordo-me bem. Mas já passou.

(Esta tarde, 50 anos depois dessa data, o "Ramos", que não se chama "Ramos", telefonou-me, como às vezes faz. O nosso 25 de Abril é isto mesmo!)

O comandante


As ordens, nessa manhã de há precisamente 50 anos, tinham sido claras: os portões da unidade ficavam fechados e ninguém entrava sem uma autorização, dada caso a caso. 

A surpresa foi, assim, muito grande quando vimos o comandante da unidade, em passo lento mas firme, arrastando o corpo pesado, a subir a ladeira que levava à parada onde nos encontrávamos. Eu tinha-me esquecido de que ele vivia numa casa adjacente, com um acesso direto à unidade. Aparentemente, os militares do quadro permanente também...

Ao vê-lo surgir, o capitão do quadro que assumira as funções de oficial de dia, desde as primeiras horas do golpe, ficou lívido.

"Ora bolas! E agora, o que é que fazemos?", voltando-se para o António Alves Martins e para mim, que o acompanhávamos na parada, no lugar que a fotografia mostra.

Não deixava de ter a sua graça: nós, meros aspirantes a oficial miliciano, a aconselhar um profissional que era o responsável máximo de uma unidade militar amotinada.

Entretanto, o comandante ia-se aproximando, tínhamos poucos segundos para reagir.

"Prenda-o de imediato, mal ele chegar ao pé de nós", disse-lhe eu, em voz baixa, delegando comodamente a minha coragem.

Ainda era muito cedo, nesse dia 25 de Abril, não fazíamos a mais leve ideia de como estava a situação pelo país, não sabíamos mesmo se não seríamos das poucas unidades amotinadas.

"Você está doido, então eu ia lá prender o homem!" Pela disposição do capitão, eu e o António percebemos que as coisas não iam ser nada fáceis.

O comandante aproximou-se de nós e estacou, aí a dois metros. Trocámos as continências da praxe, com o António, dado que tinha a boina displicentemente no ombro, a fazer um mero aceno com a cabeça.

"O que é que você está aí a fazer de oficial de dia?" lançou o comandante, em voz bem alta, ao vê-lo com a braçadeira encarnada da função. "Não era o 'Ramos' que estava de serviço? E o que é que andam os cadetes a fazer pela parada? Porque é que a instrução ainda não começou?"

Eram aí oito e meia da manhã e, desde as oito, os soldados cadetes deveriam, em condições normais, estar a ter aulas. O capitão, sempre ladeado por nós os dois, estava, manifestamente, sem saber o que fazer, com o quarteto já sob os olhares gerais.

"Ó meu comandante, é que houve uma revolução…", titubeou o capitão, em tom baixo, como que a desculpar-se. Não explicou que o oficial de dia, que ele substituíra, havia sido detido nessa madrugada e estava fechado numa sala.

O comandante, sempre ignorando olimpicamente os milicianos que nós éramos, olhou o capitão nos olhos e atirou-lhe, com voz forte e bem audível à volta:

"Qual revolução, qual carapuça! Você está-se é a meter numa alhada que ainda lhe vai arruinar a carreira! Ouça bem o que lhe digo!"

O momento começava a ser de impasse. O comandante olhava já em redor, num ar de desafio, consciente de que recuperara algum terreno, mas também sem soluções óbvias para retomar a autoridade. Não havia mais militares do quadro à vista, alguns tinham ido para a missão externa que a unidade tivera a seu cargo, outros ter-se-ão prudentemente esgueirado, para evitar a incomodidade deste confronto com o comando legal. O capitão quase que empalidecia de crescente angústia.

É então que o António, com o ar blasé de quem já estava a perder paciência, lança um providencial: 

"Ó meu capitão, vamos lá acabar com isto!"

O comandante olhou então finalmente para o António e para mim, dois meros aspirantes, com uma fácies de extremo desprezo, como se só então tivesse acordado para a nossa presença em cena.

Aproveitei a boleia da indisciplina, aberta pelo António, e fiz das tripas coração:

"Ó meu coronel, e se fôssemos andando para o seu gabinete?"

O coronel olhou-me, com uma raiva incontida:

"Coronel? Então já não sou comandante?"

Eu nem tinha dito aquilo de propósito: tinha-me saído. A crescente nervoseira deu-me um rasgo, com uma ponta de sádica ironia:

"Não, não é, ainda não percebeu? E a conversa já vai muito longa, não acha, meu capitão?"

Mas o capitão continuava abúlico. O impasse ameaçava prosseguir.

"Então você deixa-se comandar por dois aspirantes?!", lançou o coronel, numa desesperada tentativa de puxar pelo orgulho do pobre oficial.

Mas o vento já tinha claramente mudado e achei que tinha de aproveitar a minha inesperada onda de coragem, até porque, no fundo, já pouco tinha a perder:

"O meu coronel quer fazer o favor de nos acompanhar até ao seu gabinete? É que, se não for a bem, tem que ir a mal e era muito mais simpático que tudo isto se passasse sem chatices."

Confesso que me espantei com a minha própria firmeza mas, pronto!, o que disse estava dito. O António sorria, deliciado. O capitão não reagiu, para meu sossego. O coronel entendeu então, talvez pela primeira vez, a irreversibilidade da situação. A sua voz baixou para um limiar de resignada humilhação:

"Então eu estou preso, é isso?", disse, num tom muito menos arrogante.

"Mais ou menos. Vamos andando, então" - cortei, rápido, dando o capitão por adquirido, mas sem fazer a mais pequena ideia se ele queria ou não prender o coronel.

Nesse segundo, dei-me conta que, se tudo acabasse por correr mal, o meu futuro iria ser complicado. E lá fomos para o gabinete do comando. Duas horas depois, mandámos o coronel de volta a casa.

Só o voltei a ver, anos mais tarde, ao entrar no Café Nicola. Recordo o olhar gélido que me lançou, com porte ainda altivo, barriga saliente, muito na reserva. Já com toda a liberdade, pedi uma bica.

Vou ler isto outra vez...

 


Preocupação

Lamento ter de iniciar a minha comemoração pessoal do cinquentenário do 25 de Abril com uma forte nota de preocupação institucional. E mais não digo.

quarta-feira, abril 24, 2024

O meu dia 24 de abril


Saí de manhã de casa, em Santo António dos Cavaleiros, onde vivia, desde que casara, quatro meses antes. 

No meu carro, entrei na Escola Prática de Administração Militar (EPAM), na Alameda das Linhas de Torres, em Lisboa. 

Às nove horas, iniciei a primeira aula de "Ação Psicológica", ao meus instruendos. Era aquela a minha tropa.

Cerca de um ano antes, iniciara a recruta, na Escola Prática de Infantaria, em Mafra. No termo desses três meses, foi com surpresa que constatei ter sido um dos nove soldados-cadetes escolhidos, entre os 900 colegas dessa incorporação, para integrar a especialidade de "Ação Psicológica", que era ministrada na EPAM.

Ao fim de mais três meses nessa especialidade, tive a sorte ou o engenho de sair como primeiro classificado do curso. O meu destino não ia assim ser África. Melhor, como prémio, iria ficar em Lisboa, como coordenador e instrutor do curso. 

Pelo meio-dia de 24 da abril de 1974, recolhi à biblioteca. Além de "oficial de Ação Psicológica" e coordenador do curso de formação de oficiais milicianos nessa especialidade era também bibliotecário e diretor do jornal da unidade, "O Intendente".

O António Reis bateu à porta. O António, miliciano como nós, mais tarde um consagrado historiador e professor universitário, era o nosso contacto com os oficiais do quadro, na clandestina articulação que, desde há meses, íamos mantendo com o setor profissional militar.

Conhecíamo-nos desde 1969, ao tempo da articulação da oposição democrática para o ato eleitoral desse ano. Ele tinha tido um papel destacado, como candidato oposicionista por Santarém, eu trabalhara ativamente na Comissão Democrática Eleitoral de Vila Real. Nessas últimas semanas, encontrávamo-nos regularmente na "Seara Nova", a revista oposicionista que, à época, acolhia várias correntes políticas.

Para espanto de muitos e do próprio, António Reis havia sido escolhido, meses antes, para a especialidade de Ação Psicológica, a tal que eu coordenava. A máquina das informações militares, na sua articulação com a PIDE (ninguém dizia DGS), tinha óbvias lacunas. Só há poucas semanas, o Exército mandara "reclassificá-lo", devendo regressar a Mafra, onde o esperava um destino como Atirador de Infantaria. Por esses dias, tentávamos atrasar os efeitos dessa transferência.

Notei que o António vinha com ar grave. Pediu-me para reunir o pequeno grupo de oficiais milicianos que estavam no segredo das movimentações. Não éramos muitos: além dele e de mim, eram o Alves Martins, o Otto e o Carneiro. Nenhum dos outros colegas nos merecia suficiente confiança para os envolvermos na conspiração. O António informou-nos que o golpe militar, de que há semanas falávamos, estava finalmente previsto para essa noite.

Ficámos tensos, confrontados com o peso da informação recebida. Aos pedidos de detalhes que colocámos, no tocante ao âmbito da nossa ação, adiantou explicações vagas. Ele próprio não tinha muitos mais pormenores. Sabia apenas que a unidade se iria sublevar às primeiras horas da madrugada. Não valia a pena nós estarmos presentes na unidade a essas horas, porque isso poderia ser considerado suspeito. Ficou assente que entraríamos no portão da EPAM às 7:30 da manhã, como veio a acontecer.

Ao final do dia, quando saí da unidade, não tive dúvida de partilhar a informação com o meu pai, que, vindo de Vila Real, estava de visita a Lisboa. Democrata dos sete-costados, alimentava, contudo, uma desconfiança persistente sobre a capacidade dos militares para derrubarem o regime que ele sempre detestara.

Jantei com os meus pais e com um tio. Foi uma ocasião estranha: se a operação militar que iria decorrer, horas depois, tivesse sucesso, o futuro desse meu tio - um imenso amigo de todos nós, a começar por mim - iria sofrer uma grande mudança. Ele era deputado, por Vila Real, à Assembleia Nacional...

À mesa, apenas eu, o meu pai e a minha mulher estávamos a par do que iria ocorrer, pelo que a conversa, para nós os três, não deixou de ter sempre isso como pano de fundo.

Acabado o jantar, deixei os meus pais na Feira das Indústrias, à Junqueira, onde havia uma exposição de antiguidades. À saída, ao deparar com o Rolls-Royce que transportara o presidente da República para a inauguração do evento, o meu pai disse à minha mãe uma frase enigmática, que ela lembraria até ao fim da vida: "Se uma coisa que o nosso filho me disse vier, de facto, a acontecer, amanhã o Américo Tomaz já não volta a entrar neste carro".

Nenhum de nós teve então a presciência de intuir que esse amanhã iria passar a ser conhecido como "o 25 de Abril".

Bugalho

Pensei que a indigitação de Sebastião Bugalho seria tema para discussão entre quantos votam PSD e aí se dividem sobre se ele é a pessoa indicada para representar o partido. Constato, contudo, que quem mais discute o Sebastião Bugalho é quem não tem a menor intenção de votar nele.

terça-feira, abril 23, 2024

Diversidade

E que tal um debate sobre o tema da Ucrânia entre os dois primeiros nomes que o partido da extrema-direita apresenta para as eleições europeias? É que, tendo-os já ouvido pronunciarem-se publicamente sobre o assunto, que ambos conhecem bem, podem crer que iria ter imensa graça.

Para já...


... não estou a desgostar da vista!

segunda-feira, abril 22, 2024

Atenção

Aconselho a que não se alarguem muito em bocas sobre a ida de comentadores para cargos políticos. É que, como se prova, Cristo é useiro e vezeiro em regressos à terra. 

Europas

Luís Montenegro ainda vai arrepender-se por ter desmentido Luís Marques Mendes. 

domingo, abril 21, 2024

Saudades da ramada


Da próxima vez que formos comer um cabrito ao Chaxoila, aqui por Vila Real, já vai ser possível fazê-lo debaixo da ramada exterior. Hoje, ainda teve de ser assim.

sábado, abril 20, 2024

Fim de tarde, inteiro e limpo...

 


Comendas, lombelos e valsas


Nunca tinha visto a assinatura de Franz Fischler, o austríaco que, por um período de nove anos, foi comissário europeu da Agricultura e de outros temas conexos. Encontrá-la há pouco, num documento, numa parede, à saída de um restaurante em Vila Pouca de Aguiar, foi para mim uma surpresa. Trata-se de um diploma que atesta a genuinidade da carne maronesa, que eu também poderia subscrever, depois do magnífico lombelo que é regularmente a "pièce de résistence" dos meus almoços por ali.

Na União Europeia há áreas temáticas que, não obstante a sua importância, cedo escapam à tentativa de controlo que os responsáveis pela coordenação nacional das políticas europeias sempre procuram assegurar. A Agricultura era uma dessas áreas. Nos anos que passei como secretário de Estado dos Assuntos Europeus tive essa experiência, não obstante poder contar, nos dois ministros da Agricultura e Pescas portugueses com quem convivi e trabalhei, Fernando Gomes da Silva e Luís Capoulas Santos, com dois excelentes amigos.

Se os temas da Agricultura e das Pescas se me escapuliam regularmente na gestão interministerial em Lisboa - e creio que o mesmo tinha já acontecido ao meu antecessor, Vitor Martins, durante a sua década de exercício do cargo -, constatei, ao longo dos anos, que mais distantes eles ainda ficavam do meu controlo no palco negocial em Bruxelas. Não sei como as coisas se passam nos dias de hoje, mas duvido que sejam muito diferentes.

No entanto, porque, entre 1997 e 1999, parte importante da minha atividade como secretário de Estado teve a ver com as chamadas "perspetivas financeiras" - a negociação do pacote financeiro plurianual que viria a vigorar entre 2000 e 2006, a chamada "Agenda 2000" - acabei por encontrar-me, algumas vezes, com Franz Fischler, para tratar da vertente agrícola da negociação. 

Fischler era uma figura simpática, um homem grande, caloroso na aproximação pessoal, mas com uma procrastinação deliberada no tocante à assunção de compromissos. 

A lógica destas negociações é "nothing is agreed before everything is agreed" (nada está acordado antes de tudo estar acordado). E Fischler sabia que não se podia comprometer demasiado no domínio agrícola, em especial porque seria a poderosa Alemanha a propor o acordo final, em que essa seria apenas umas das dimensões a ter em conta. E, como é sabido, não há ninguém melhor do que os austríacos para conhecerem os alemães. Para o bem e para o mal.

Depois que saí do governo para regressar à minha profissão, perdi, por completo, o contacto com Fischler, que constatei ter continuado a ser comissário europeu até 2004. 

Em Nova Iorque, o meu novo destino de vida, o embaixador austríaco e a sua mulher faziam parte dos nossos melhores amigos. Quando, em 2002, fui para Viena chefiar a nossa missão, durante a presidência portuguesa da OSCE, esses nossos amigos austríacos logo nos disseram: no início do ano seguinte, tínhamos de ir com eles a um dos mais afamados bailes da "saison" vienense.

Sou, por natureza, muito refratário a essas ocasiões de formalismo dançante. Desde logo, porque danço pessimamente. Depois, porque passar uma longa noite de camisa engomada e casaca, com condecorações a pingarem-me do peito, nunca foi o meu ideal de divertimento: fazia isso quando tal era imperativo por razões profissionais, mas tentava fugir a compromissos dessa natureza quando dependesse da minha vontade poder escapar a tais números.

Mas a insistência foi tanta que, num qualquer dia de janeiro de 2003, lá fomos nós, enfarpelados a rigor, para o espaço belíssimo do Musikverein, o mesmo onde, dias antes, tinha tido lugar o celebrado e mundialmente televisionado concerto de Ano Novo. 

Antes, com esses nossos amigos austríacos, vindos de Nova Iorque propositadamente para o baile, lembro-me que tivemos um jantar, num requintado palácio de uns aristocratas cujo nome não fixei, onde estava alguma da fina flor da sociedade vienense. Era tudo muito simpático, mas era tudo muito chato.

Chegados ao Musikverein, tivemos o privilégio de poder ir ocupar, com os nossos amigos e outros acompanhantes, uns magníficos camarotes laterais, enquanto o resto da multidão se acomodava nas galerias mais ao alto, de onde iria observar a fase mais formal do baile.

Andava eu por ali de flute de champanhe na mão, a apreciar o ambiente e a matutar nas horas que ainda faltava passar, quando, de repente, me cruzei com a figura imensa de Franz Fischler. 

Reconheci-o logo, sem pensar que ele se lembrasse de mim. Para minha surpresa, saudou-me de forma efusiva, recordando-se talvez da cara do "junior minister" português com quem tinha passado algum tempo a discutir quotas de leite para os Açores, limites à produção de trigo duro e outras coisas que eu entretanto já tinha esquecido. Expliquei o que fazia por ali.

"Tu fumas?", perguntou-me Fischler. Eu não fumava, mas lá fui com ele para um nicho do Musikverein que ele conhecia e onde se podia fumar e continuar a beber, onde estivemos a conversar uns bons minutos.
A certa altura, disse-me: "Não sei se já deste conta da quantidade de pessoas que está a olhar para nós". 
Levei isso à conta da popularidade local dele, vedeta nacional como comissário europeu, com um tipo físico maciço que não passava desapercebido. A mim, naturalmente, ninguém me conhecia.

Fischler comentou: "É que, neste espaço, se reparares bem, somos, a grande distância, as duas pessoas que usam mais condecorações. Estamos para aqui cheios de placas e coisas coloridas ao peito". 

A maioria da gente masculina que nos rodeava, embora imensamente elegante, usava escassos adereços e penduricalhos como os nossos. Pensando bem, ambos talvez tivéssemos exagerado um pouco! Fischler acrescentou: "Não fosse a mim conhecerem-me, ainda podiam pensar que éramos dois ditadores latino-americanos, dois presidentes de Repúblicas de bananas, dignos das aventuras do Tintin!" E deu uma imensa gargalhada que ecoou pela sala onde estávamos.

Despedimo-nos ao final de uns minutos, com o nosso abraço a tilintar do metálico das placas. Algumas horas e muitas valsas depois, calhou cruzarmo-nos de novo, à saída, a caminho dos respetivos carros, na mais do que gélida noite de Viena. Fez-me um aceno ao longe e berrou, para espanto de quem nos ouvia: "Adiós, presidente!". 

Nunca mais vi Franz Fischler. Até deparar com a sua assinatura, há minutos, em Vila Pouca de Aguiar, no "Costa do Sol", o restaurante do Hotel Aguiar da Pena onde o meu amigo António Machado serve um lombelo que, esse sim!, é digno de uma comenda.

Não nos desiludam!

Já há abaixo-assinados contra a decisão sobre o novo aeroporto? E providências cautelares? Então e as objeções ambientais, de invejas locais...