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Lembra Dele? Rodrigo Fabri troca o futebol por gado e construção civil

Ex-jogador admite que passagem pelo Real Madrid foi um erro e hoje joga na Série B da várzea de Santo André para matar a saudade da bola

Por São Paulo

Não deve ser fácil para um jogador de alto nível tomar a decisão de abandonar os gramados após, ao longo de sua carreira, ter acumulado títulos individuais, como o de melhor jogador do Brasileirão de 1996 e a artilharia da competição nacional em 2005. Fora isso, conquistas como a da Copa das Confederações de 1997 com a Seleção e passagens por grandes clubes como Portuguesa, Flamengo, Santos, Grêmio, Atlético-MG, São Paulo, Real Madrid, Sporting Lisboa e Atlético de Madri.

Mas para Rodrigo Fabri, o nome em questão, a decisão não foi difícil. Revelado pela Portuguesa na campanha histórica da equipe no Campeonato Brasileiro de 1996, quando terminou com o vice-campeonato nacional, o ex-jogador afirmou que se sentiu aliviado quando pendurou as chuteiras.

- Não sofri nada, foi até um alívio. Quando eu completei 30 anos comecei a enfrentar muitos problemas de lesão. Eu tinha uma rotina muito difícil de departamento médico. Quando tomei a decisão eu tirei um peso das minhas costas porque não estava conseguindo desenvolver o meu melhor em campo - contou.

Sem jogar profissionalmente desde 2009, Rodrigo divide atualmente seu tempo entre as fazendas de gado no Mato Grosso do Sul e a construção civil no Guarujá e no ABC, frutos de um contrato de cinco anos assinado com o Real Madrid, em 1997. Porém, o sonho de atuar com a camisa dos galácticos acabou não se realizando.

Vendo hoje foi um erro ir para o Real Madrid. Minha posição estava bem ocupada, fui emprestado todos os anos e não criei raiz em nenhum lugar"
Rodrigo Fabri

- Financeiramente foi ótimo. Tinha propostas do Roma e do Deportivo La Coruña também. Só que os melhores jogadores estavam no Real Madrid. E não dava para pensar em falar não. Eu aceitei na hora. Vendo hoje, foi um erro. Financeiramente as outras propostas eram iguais, mas fui para o Real e acabei não fazendo jogos oficiais pelo clube porque tinha muitos jogadores de qualidade na minha posição - lembrou.

O contrato com a equipe espanhola rendeu ao jogador a tão sonhada independência financeira. Após conselhos de seu advogado, o empresário Fernando César, o ex-jogador passou a investir em gado nelore de corte. Atualmente, quem administra as fazendas no Mato Grosso do Sul é o irmão de Rodrigo, enquanto o ex-jogador atua em São Paulo apenas para administrar algumas pendências.

Já o mercado da construção civil foi apresentado ao ex-jogador por um amigo de longa data: Ilídio Lico, diretor da Lusa nos anos 90 e considerado por Rodrigo como um segundo pai. Fabri atua como investidor da construtora do ex-dirigente em algumas obras no litoral paulista e no ABC.

- Eu tenho uma consideração enorme pelo seu Ilídio. É um relacionamento familiar. Agora estou nessa área da construção com ele e com os filhos dele, com o Ricardo e com o Marquinhos. Sou o investidor dele nas obras do Guarujá e agora comprei um terreno em Santo André, incorporei, e ele vai construir. Fizemos uma sociedade - afirmou.

Dentro de campo, apesar de o clube espanhol ter honrado todos os compromissos durante os cinco anos de vínculo, Rodrigo lamenta até hoje não ter conseguido criar uma identificação com outra equipe. Em seu período em Madri, acabou emprestado para Flamengo, Santos, Valladolid, Sporting de Portugal e Grêmio.

- A minha posição estava bem ocupada no Real Madrid e, por causa disso, fui emprestado para outros clubes todos os anos. Isso fez com que eu não criasse raiz em nenhum lugar. Quando eu fazia uma boa temporada, como no Sporting de Portugal, que quis me contratar em definitivo, o Real Madrid pedia um valor absurdo e ninguém tinha condições de comprar - contou.
 

VÁRZEA DO ABC PAULISTA PARA MATAR A SAUDADE

rodrigo fabri especial (Foto: Marcos Ribolli/GLOBOESPORTE.COM)Rodrigo ainda joga futebol na várzea de Santo André
(Foto: Marcos Ribolli/GLOBOESPORTE.COM)

Para matar a saudade do futebol, Rodrigo ainda arrisca alguns toques de efeito nos gramados. Porém, os estádios da Europa e o fanatismo dos torcedores brasileiros foram trocados pela Série B do futebol de várzea de Santo André. Hoje, o eterno ídolo da Lusa defende as cores do Colorado, em homenagem a seu irmão, ex-craque do time, e aos amigos de infância.

- Eu jogo realmente por prazer, para manter a forma e por saúde mesmo. Não tem nada a ver com dinheiro. Não ganho nada. Estou muito bem e tudo o que eu consegui com o futebol vai dar para eu viver muito bem e minhas filhas terem uma qualidade de vida muito boa - disse.

Apesar das diversas diferenças entre o futebol profissional e a nova realidade, Rodrigo diz que o prazer é o mesmo. Mesmo com os traumas de fim de carreira, o ex-jogador diz que ainda sente saudade de atuar em alto nível.

- O prazer de jogar futebol você tem em qualquer lugar. Os jogos são bastante pegados, até pelos campos serem ruins, mas eu não enfrentei dificuldades. O fim de carreira me traumatizou demais. Foram três anos me lesionando muito, mas jogar futebol é divino. Tenho saudade disso, de jogar futebol no auge. Só que infelizmente o tempo passa para todo mundo e passou para mim também.

AS CHANCES NO BRASIL

Rodrigo Fabri assinou com o Real Madrid em 1997, mas só realizou exames médicos na Europa. Envolvido na negociação que levou Sávio ao clube espanhol, o meia desembarcou no Rio de Janeiro para jogar pelo Flamengo ao lado de Romário. Porém, o sonho de garoto de atuar no futebol carioca rapidamente se transformou em decepção.

rodrigo fabri especial (Foto: Marcos Ribolli/GLOBOESPORTE.COM)Rodrigo foi destaque da Lusa no Brasileirão de 1996
(Foto: Marcos Ribolli/GLOBOESPORTE.COM)

Nome sempre presente nas convocações do técnico Zagallo para a Seleção Brasileira nos anos de 1996 e 1997, época em que conquistou a Copa das Confederações, Fabri viu suas chances de disputar a Copa do Mundo de 1998 irem por água abaixo na Gávea.

- Quando eu saí da Portuguesa e fui para o Flamengo falei que era um sonho realizado. Mas isso se tornou uma coisa negativa porque foi minha primeira e única lesão séria da carreira, logo no meu primeiro jogo oficial pelo clube. Também pela lesão, depois que me transferi para o Flamengo, não fui mais convocado para a Seleção - lembrou.

Apesar de ser forte no papel e contar com jogadores como Romário, Athirson, Clemer, Zé Roberto, Palhinha, entre outros, o time comandado por Joel Santana não conseguiu se acertar dentro de campo.

 - Tive problemas pessoais no clube que não vêm mais ao caso e acabei tendo muita dificuldade lá. Foi um prazer ter jogado em um dos melhores clubes do mundo. O Flamengo tem camisa, uma torcida inigualável, assim como o Atlético Mineiro.

As melhores lembranças de Fabri em seu retorno ao país estão no Sul. No Grêmio, a reserva de Zinho nos primeiros meses de clube deu resultado, já que terminou a temporada de 2002 como artilheiro do Campeonato Brasileiro, com 19 gols. Depois, em 2008, o meia reencontrou o amigo Gallo, então técnico do Figueirense, fato que rendeu ao camisa 10 seu último bom momento no futebol, na conquista do campeonato catarinense.

- O Gallo me tirava dos treinamentos mais fortes, me preservava. Eu não treinava em alto nível, mas estava jogando em alto nível. Ele entendeu isso e me deu essa oportunidade. Meu primeiro semestre no Figueirense foi maravilhoso - lembrou.

Porém, a saída do treinador no começo do Brasileirão e o retorno à rotina de treinamentos pesados voltaram a atrapalhar a carreira de Rodrigo. Assim, após passagens apagadas por São Paulo, Paulista de Jundiaí e Santo André, Fabri resolveu abandonar os gramados.

rodrigo fabri especial (Foto: Marcos Ribolli/GLOBOESPORTE.COM)Seguidas lesões fizeram Rodrigo abandonar o futebol em 2009 (Foto: Marcos Ribolli/GLOBOESPORTE.COM)

- Qualquer jogador, sem lesão, joga até os 40 anos. Quem começa a ter problema com uma determinada idade tem de parar, não tem jeito. Eu cheguei a ficar, em um ano, sete meses no departamento médico. Isso é a pior coisa para um atleta de futebol. Tem pessoas que acham que o jogador está fazendo corpo mole, mas é muito pelo contrário - contou.

CORAÇÃO LUSITANO E VOLTA AO FUTEBOL

Ao recordar a época em que defendia as cores da Portuguesa, Rodrigo cita o clube paulista com a mesma paixão que fala das duas filhas e da esposa Fabíola, fiel companheira desde os 16 anos. Formado nas categorias de base da Lusa, o ex-jogador deu seus primeiros passos no futebol aos 12 anos, no Canindé.

Sou torcedor da Lusa. Tudo o que eu conquistei eu devo ao clube"
Rodrigo Fabri

Após ganhar notoriedade mundial com a campanha rubro-verde no Campeonato Brasileiro de 1996, Fabri garante que o clube ainda ocupa um lugar especial em seu coração e está na torcida para o retorno da equipe à Série A.

- Eu sou torcedor da Portuguesa .Tudo o que eu conquistei na minha carreira eu devo ao clube. A Lusa está no meu coração e não vai sair nunca. Estou muito feliz com o time e espero que volte para a Série A com o título, que vai ser importante.

Apaixonado pelo futebol e pela Portuguesa, o ex-camisa 10 da Lusa ainda sonha com um retorno ao clube daqui a alguns anos.

- Eu penso em voltar ao futebol. Até já fiz alguns estágios com o Gallo, quando ele estava no Náutico. Tinha uma possibilidade de voltar à Portuguesa com o seu Ilídio Lico quando ele foi candidato à presidência, para ajudá-lo no clube, como auxiliar técnico. Só que ele não venceu as eleições. Daqui a dois anos vai ter outra eleição. Quem sabe... Eu vou me preparar - revelou.

rodrigo fabri especial (Foto: Marcos Ribolli/GLOBOESPORTE.COM)Ídolo da Lusa, Rodrigo ainda sonha com retorno ao Canindé (Foto: Marcos Ribolli/GLOBOESPORTE.COM)