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Full text of "Tentativa etymologico-toponymica; ou, Investigação da etymologia; ou, Proveniencia dos nomes das nossas povoações"

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INVESTIGAÇÃO  DA  ETYMOLOGIA 
OU  PROVENIÊNCIA  DOS  NOMES  DAS  NOSSAS  POVOAÇÕES 


POR 


Pedro  Augusto  Ferreira 

Bacharel  formado  em  Theologia, 

continuador  do  Portugal  Antígo  e  Moderno 

e   Abbade    de    Miragaya,   aposentado. 


SEGUNDO    VOLUME 


PORK) 

TYPOGRAPHIA     MENDONÇA    (A     VAPOR) 

Rua  da  Picaria,  30 


1915 


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Tentativa  Etymologlco-Toponymica 


ou 


INVESTIGAÇÃO   DA    ETYMOLOGIA 
OU    PROVENIÊNCIA   DOS  NOMES    DAS   NOSSAS   POVOAÇÕES 


19G 


II 


IIAII  líIiOlOii-IOPil 


ou 


INVESTIGAÇÃO  DA  ETYMOLOGIA 
OU  PROVENIÊNCIA  DOS  NOMES  DAS  NOSSAS  POVOAÇÕES 


POR 


Pedro  Augusto  Ferreira 

Bacharel  formado  em  Theologia, 

continuador  do  Portugal  Antigo  e  Moderno 

e  Abbade   de    Miragaya,   aposentado. 


SEGUNDO    VOLUME 


PORTO 

TYPOGRAPHIA     MENDONÇA    (A     VAPOR) 

Rua  da  Picaria,  30 


1915 


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DUAS  PALAVRAS  PRELIMINARES 


Os  trabalhos  etimológicos^  tão  árduos  que  poucos 
pacientes  leitores  cativam,  eram  para  o  Dr,  Pedro 
Ferreira,  um  prazer,  um  alegre  passatempo. 

Apaixonado  cultor  desta  especialidade,  sentia 
grande  satisfação  quando  lobrigava  a  origem  ne- 
bulosa do  nome  duma  terra,  como  sucedeu  por 
exemplo  com  Tavira, 

Infelizmente  não  viu  concluída  a  sua  obra;  e 
quando  este  2f  volume,  a  que  ele  algures  chama  2.'' 
parte,  estava  impresso  até  páginas  384,  faleceu  em 
17  de  junho  de^l913. 

Depois  disso,  saiu  a  lume  a  sua  Sluto-biografia, 
que  teve  distribuição  gratuita,  assim  como  esta  obra 
a  terá. 

O  Dr,  Pedro  Ferreira  escreveu  sempre  de  graça, 
até  mesmo  no  trabalhosíssimo  SPortugal  Jlntfgo  e  Sfco- 
derno,   de  Pinho  Leal  e  dele.     O  próprio  opúsculo 


Drês   Canais   de   Srrigaçõo   em   SPortugal  que  príficipiou  a 

vender-se,  foi  retirado  das  livrarias  para  ser  ofere- 
cido e  ainda  lhe  restaram  muitos  exemplares  que 
não  chegou  a  dar,  por  não  saber  quem  estimaria 
recebê-los, 

O  terceiro  e  último  volume  da  UentaUva  vai  entrar 
no  prelo, 

Publica-se  esta  obra  em  homenagem  à  sua  me- 
mória e  em  satisfação  da  sua  vontade,  porque,  sentindo 
o  peso  dos  80  anos  e  prevendo  o  próximo  fim  dos  seus 
dias,  recomendou  que  se  imprimissem^os  três  volumes 
da  tentativa  Stimotógica,  para  quc  dcixou  manuscritos 
que  è  pena  êle  não  possa  rever. 

Sirva  ela  de  incitamento  e  auxilio  a  quem  queira 
dirigir  as  suas  lucubrações  mentais  no  sentido  das 
investigações  etimológicas,  onde  há  tanto  que  trabalhar. 


Concelho  de  Freixo  (l'Espada  á  Cinta 

Esboço  etymologico 

Indicarei  as  freguezias  todas  por  ordem  alphabetica  e  algu- 
mas povoações,  casaes  e  quintas  d'ellas. 

—  Note-se,  porém^  que  na  parte  leste  do  districto  de  Brarjari- 
ça,  nomeadamente  nos  concelhos  supra,  dá-se  o  nome  de  quintas 
a  muitas  povoações,  algumas  das  quaes  ainda  téem  ÕO  a  80  casas 
e  já  foram  parochias  independentes. 

Algumas  ainda  conservam  a  sua  egreja  matriz  com  pia  ba- 
ptismal e  Santissimo  j)ervianente ;  mas,  por  não  poderem  susten- 
tar a  sua  autonomia,  foram  extinctas  e  unidas  a  outras  parochias. 

Denominam-se  annexas  e  ha  na  dita  região  mais  de  100?!... 

Não  é  raro  encontrar-se  alli  um  presbytero  parochiando  a 
um  tempo  duas,  três  e  até  quatro  freguezias  —  comprehendendo 
algumas  d'ellas — ires  e  mais  annexas?! . .  .  ^ 

Tal  6  a  pobreza  do  districto  e  do  bispado  de  Bragança ^  por 
falta  de  estradas  a  macadam  e  de  linhas  férreas.  Mas  devem  mu- 
dar as  suas  condições  económicas  e  agricolas  e  prosperarão  muito 
com  a  via  férrea  de  Fox,  Tua  a  Bragança^  já  concluida, —  e 
com  a  do  Pocinho  a  Miranda,  já  principiada,  mas  ainda  muito 
aU^asada ! .  .  . 

Deixemo-nos  agora  de  cantigas  e  vamos  ao  esboço  etymo- 
logico das  freguezias  do  concelho  de  Freixo  d'Espada  d  Cinta. 

#       * 
1.* — Fornos. 

Talvez  tomasse  o  nome  dos  fornos  de  coser  pão,  telha  ou  ce- 
râmica—  ou  de  apuramento  de  metaes. 


1  Vejam-se  no  Portrigal  antigo  e  moderno  os  meus  artigos  Vílla 
Verde,  concelho  de  Mirandella,  vol.  xi,  pag.  1:094, —  e  Zava,  concelho  do 
Mogadouro,  vol.  xir,  pag.  2:078. 

VOL.  II  ^ 


TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


A  mesma  etvmologia  elevem  ter  as  nossas  povoações  deno- 
minadas Fornello,  Fornéllos,  Fornea,  Fornico  ou  Fornico,  etc, 
—  ao  todo  mais  de  100. 

Podem  ver-se  os  nomes  d'ellas  e  de  todas  ou  qiiasi  iodas  as 
povoações  do  nosso  paiz  —  na  Chorographia  Moderiia  do  sr.  João 
Maria  Baptista, —  obra  muito  interessante. —  Para  esta  ordem  de 
estudo  —  é  hidispensavel. 

2.** — Freixo  d' Espada  á  Cinta^  capital  do  concelho. 

Talvez  tomasse  o  nome  do  latim  —  Fraxinus  ferro  cinda  — 
freixo  cingido  de  ferro  para  castigar  delinquentes  na  falta  de  i)e- 
loiírhiho,  como  por  vezes,  na  falta  de  forca  própria,  —  os  réus  de 
pena  capital  eram  enforcados  ?ias  arvores  ?  I .  . . 

Nós  temos  também  uma  aldeia  chamada  Ferro  Cinto,  que 
tomou  o  nome  de  feiTo  einctus  e  deu  o  titulo  ao  visconde  de  Fer- 
rocinto^  ha  poucos  annos  fallecido. 

A  mencionada  villa  tem  desde  longa  data  um  pelourinho, 
mas  com  certeza  a  povoação  de  Freixo  d' Espada  d  Cinta  ó  muito 
anterior  ao  seu  actual  pelourinho!. .  . 

O  dr.  João  de  Barros  diz  que  a  villa  foi  fundada  por  um 
primo  de  S.  Rozendo  ém  977  e  que,  por  serem  as  armas  do  dito 
fidalgo — um  freixo  e  uma  espada  —  a  villa  tomou  d'ellas  o  nome 
de  Freixo  d' Espada  á  Cinta? ! .  .  . 

Outros  dizem  que,  chegando  alli  um  capitão  godo  (?),  por  ap- 
pellido  Espadacinta  (?), —  muito  cançado  e  muito  fatigado,  se  dei- 
tou á  sombra  d 'um  grande  freixo  que  alli  encontrou  e  se  ficou 
denominando  Freixo  do  Espadacinta, — nome  que  passou  á  villa, 
cujas  armas  perpetuam  a  lenda,  pois  são  —  em  campo  de  purpura 
um  freixo  e  uma  espada. 

Também  junto  da  matriz  e  do  pelourinho  da  villa  se  vê  ura 
grande  freixo,  que  dizem  ser  o  freixo  da  lenda ")!,..  ^ 


1  Foi  isto  o  que  Pinho  Leal,  meu  benemérito  antecessor,  disse 
das  taes  lendas  etymologicas  no  seu  artigo  Freixo  (V Espada  á  Cinta,  vol. 
Ill  do  Portugal  antigo  e  moderno,  pag.  334, —  mas  quem  não  acreditar  não 
pecca. 


TKNTATI VA    fH' YMOIiOOICO-TOPOX ¥3110 A 


—  Ao  sr.  (Ir.  Guerra  Jumpiriro,  illustrudo  filho  da  localida- 
de, mimoso  oscriptor  o  laureado  poeta,  —  cumpro  resolver  tào  in- 
trincado problema. —  Pude  até  s.  ex.*  dedicar-lho  um  poomoto  ou 
um  poema. 

A  villa  comprehendo  varias  quintas,  entre  ellas  a  do  Juncal 
que  tomou  o  nome  do  jtinco.  D'eile  procede  também  o  appellido 
Junqueiro. 

Outra  quinta  chama-se  Patarra.  Supponho  que  tomaria  o 
nome  do  Patarra,  appellido  ou  apodo. 

O  cães  de  Freixo  denomina-se  cães  do  Saltinho. —  É  o  termi' 
nus  da  navegação  do  Donro  e  tomou  o  nome  d'uma  pequena  cas- 
cata ou  catadupa  que  alli  ha, —  miniatura  do  í^alto  da  Pandeira, 

mencionado  supra. 

* 

8." — Lagoa  ça. 

Tomou  o  nome  d'uma  grande  bacia  que  está  junto  da  villa  e 
que  por  occasião  das  chuvas  deve  ser  uma  espécie  de  lagoa. 

Dos  lagos  e  lagoas  tomaram  o  nome  também  mais  de  300 
povoações  nossas. 

4.^ —  Ligares. 

E  metathese  do  ilgares,  por  algares:  —  fójos,  barrancos,  co- 
vas, ravinas. 

Note-se  que  a  dita  parochia  6  muito  accidentada  e  abunda 
em  barrancos,  algares,  ravi')ias  e  quebradas. 

5.^ — Mazonco. 

Este  nome,  na  minha  opinião, —  vem  do  provincianismo  hes- 
panhol  masa,  o  mesmo  que  masada  (lêem-se  maça  e  maçada)  — 
quinta,  herdade,  estabelecimento  rural,  como  diz  Valdex. 

Maxouco  6,  pois,  diminutivo  de  masa.^ — pequena  quinta,  pe- 
quena herdade. 

Cf.  ViUarôco^  ou  Villaronco,  diminutivo  de  villar,  como  T7/- 
larejo,  VUlarelho,  Villar inho,  etc,  povoações  nossas. 

Cf.  também  Masa,  Masai^ach.^  Masarrochos,  Maso,  Masou- 
cos  (plural  do  Masouco? ! .  .  ,)., —  Masueco,  Maxarcllos  (\è-%Q  Ma- 
çarellos  ou  Massarellos),  —  Maxares,  Maxarete^  Maxas^  Maxo, 
Maxon,    Maxos,   Maxueco,    3Iaxuecos   (?), —  Maxucla,    Maxuelas, 


TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONTMICA 


Mazuelo,  etc, —  povoações  hespanholas,  que  talvez  tomassem  o 
nome  de  masa  supra,  como  —  na  minha  opinião  —  Masouco  ou 
Maxouco,  povoação  nossa. 

Também  supponho  que  téem  a  mesma  etjmologia  masa  ou 
masada  —  em  portuguez  maça  e  maçada  ou  massa  e  massoda  — 
as  nossas  povoações  seguintes :  —  Maça,  Macacôrte  por  Maçacórte, 
o  mesmo  que  Massa  Córte^  infra; — Maçada^  por  Maçada  ou  Mas- 
sada^ — Maçadas,  Maças,  Massa  Corte  (Y.  Macacôrte^  supra);  — 
Massada^  Massamá  por  Massa  Má;  ^  —Massarellos^  Massas,  Mas- 
sorra^ — Mazo^  Mazôpo^ — talvez  forma  de  Maxôco,  pois  co  e  po 
substituiram-se  e  confundiram-se,  ^ — Mazorra,  grande  masa, 
grande  quinta? — e  Villar  de  Maçada  ou  de  Massoda,  povoações 
nossas. 

Para  evitarmos  repetições,  veja-se  o  que  dissemos  de  Ma- 
zouco  e  de  Samouco  nas  paginas  322  a  327; 

* 

6.* — Poiares  ou  Poyares. 

A  etymologia  d'esta  povoação  e  freguezia  —  hahet  dentem 
coelhi / . . . 

Se  a  de  Mazoueo  é  difficil,  emmaranhada, —  esta  não  lhe  fica 
a  dever  nada,  como  os  leitores  vão  ver. 

Na  minha  humilde  opinião  este  nome  Poiares  pode  vir  de 
poiaes  e  de  pilares. 

Proponho   estas  duas  etymologias  —  e  deixo  campo  aberto 


*  Cf.  Quinta  Má,  o  mesmo  que  Massa  Má;  —  Lamaniá  por  Lama 
Má,  —  Matamá  por  Mata  Má,  etc.  povoações  nossas. —  Junte-se  Pedra 
Má — sitio  no  fundo  do  valle  d'' Arouca. 

E  um  despenhadeiro  onde  passa  a  nova  estrada  a  macadam  e  onde 
eu  já  passei  quatro  veze.sf !. . . 

2  Cf.  Comba  e  Pomba, —  Combhilio  e  Pombinho, —  Colombo  e  Pombo, — 
Cotive  e  Pouve, —  Couves  e  Pouves, —  Coval  e  Poval^  etc.  povoações  nossas. 

Também  temos  Alporão  por  Alcorão f — velha  torre  de  Santarém. 
Alcorão  é  também  povoação  nossa  —  e  ainda  hoje  na  Foz  do  Douro,  etc. 
o  povo  diz  tricolantes  em  vez  de  tripulantes. 

Veja-se  o  tópico  infra: — Substituição  de  letras. 


TENTATIVA   1<ÍT  YMOI/)GICO-TOi'OX  YMIOA 
■# -  • 


para  qualquer  outra  que  melhor  satisfaça  —  porque  em  assumpto 
doesta  ordem  não  ha  precisão  mathematica  —  c  porque  sábios  ety- 
mologistas  francezes  por  vezes  propõem  duas,  ires  e  mais  etymo- 
loíjias  para  o  nome  d' uma  povoação. 

Como  já  dissemos,  Poiares  pode  vir  de  poiaes  e  de  yUares. 

A  Hespanha  tem  differentes  povoações  com  os  nomes  de 
Poyal  e  Poyales. 

Nós  não  temos  povoação  alguma  com  o  nome  de  Poial  ou 
Poyal^  mas  temos  diííerentes  povoações  com  os  nomes  de  Poiaes 
e  Poiares.^  que  talvez  correspondam  a  Poyales  supra. 

Note-se  que  /  e  r  trivialmente  se  confundiram  e  substituíram 
—  e  que  o  /  intervocalico  muitas  vezes  cahiu. 

Note-se  também  que  a  desinência  ai  na  topon}Tnia  portu- 
gueza  deu  aes  e  ares  no  plural. 

Cf.  Alhal,  Alhaes  e  Alhares, —  Casal,  Casa  es  e  Casares,  po- 
voações nossas,  —  Casal^  Casais  ou  Casales,  Casar  e  Casares,  na 
Hespanha. 

—  Felgar  por  felgal, —  Felgaes  e  Felgares. 

—  Olival,  Olivaes  e  na  Hespanha  Clivares  por  OU  vales,  o 
mesmo  que  entre  nós  Olivaes. 

—  Palhal,  Palhaes  e  Palhares^  povoações  nossas. 

Do  exposto  se  vê  que  poial  sem  violência  alguma  deu  ou  po- 
dia dar  Poiaes  e  Poiares. 

Também  Poiares  pode  vir  do  antigo  ^oriwgwQz  poyares  —  pi- 
lares. 

Ruy  Fernandes  na  sua  minuciosa,  muito  interessante  e  muito 
conscienciosa  Descrição  do  terreno  em  volta  de  Lamego  duas  le- 
goas,  escripta  em  1532,  *  foliando  da  ponte  de  pedra  que  D.  Af- 
fonso  Henriques  e  sua  mulher,  a  rainha  D.  Mafalda,  mandaram 
fazer  sobre  o  Douro^  no  ponto  do  Piar  ou  do  Pilar ^ — entre  a 
freguezia  de  Barro,  concelho  de  Rezende^  districto  de  Vixeu, —  e 
a  freguezia  de  Barqueiros,  concelho  de  Mexãofrio,  districto  de 
Villa  Real  de  TraS'Os-Mo7ites,  diz  textualmente  o  seguinte: 


Inéditos  de  Historia  portugueza,  vol.  v,  pag.  54G  e  seguintes. 


6  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 

«Dos  inares  do  Douro. 

«Item  entre  a  barca  do  hernaldo  e  a  do  porto  de  rrei  estam 
liuus  fermosos  ^peares  de  huua  ponte  que  a  Rainha  Dona  Mofal- 
da  1  dysem  que  mandava  fazer,  os  quaes  sam  dous  no  meio  do 
Douro,  de  muito  grande  altura  e  muj  largo  fundamento. 

«Os  dous  que  estam  no  rio,  neste  mez  de  maio  hiram  bem 
dez  palmos  descobertos,  e  no  Verão  hiram  bem  20  palmos,  e 
mais.  E  estam  outros  dous  de  fora,  ^  hum  da  parte  d 'aquém  (La- 
mego, margem  esquerda)  e  outro  da  parte  d'alem. 

«Estes  jjoyares  (sic)  foram  já  de  dobrada  altura,  e  os  derri- 
baram, e  fezeram  delles  pesqueiros, ...»  ^ 

Do  exposto  se  vê  que  os  pilares  no  antigo  portuguez  tive- 
ram as  formas  piares^  peares  e  poyar^es  ou  poiaresí! . . . 

Pode  portanto  Poiares  vir  de  poiaes  e  de  pilares. 

Pode  mesmo  poial  ser  uma  forma  de  pilar! . . . 

Assim  como  pilares  deu  poiares,  pilar  podia  dar  também 
jioiar  e  poial,  porque  na  toponymia  portugueza  ar  e  ai  trivial- 
mente se  confundiram  e  substituíram. 

Cf.  Avellal  e  Avellar^ — Marmelal  e  Marmelar.^ — Tojal  e  Tu- 
%ar  por  Tojal,  etc,  povoações  nossas. 

Temos  também  Aldão  e  Ardão^ — Algar.,  Algarão,  Algneirão 
por  Algarão, —  e  Argueirão  por  Algneirão? ;  —  Aljarix,  Aljeriz  e 
Argeriz  por  Aljeriz  —  ou  Aljeriz  por  Argeriz;  "  —  Alvellos  e  ^r- 
vellos^ —  Arhouça  por  albouça  —  a  bouça,  etc,  povoações  nossas. 


*     D.  Mafalda  miillier  de  D.  Affonso  Henriques. 
Note-se  a  substituição  de  o  por  a. 

2  Veja-se  no  Portugal  antigo  e  moderno  os  meus  artigos  Pontos  do 
Douro,  vol.  VII  pag.  199,  n.°  21,  —  e  Villa  Real  de  Traz- os- Montes,  vol.  xi, 
pag.  932,  onde  dei  um  longo  extracto  da  memoria  de  Ituy  Fernandes  su- 
pra. 

Note-se  também  a  forma  liesqueiros  por  pesqueiras. 

3  Na  minha  oi:)inião  Argeriqniz,  patronimico  de  Argericus,  nome 
godo,  deu  Argeriz,  Aljariz  e  Algeriz  supra, —  bem  como  Algeruz  e  Algi- 
ràz,  povoações  nossas  também. 

Algiráz,  pode  vir  de  Argericaz,  patronimico  também  de  Argericus, 
como  Froila,  nome  godo,  deu  Froilaz,  unde  Forjaz,  appellido  d'alta  co- 
tação em  Coimbra,  etc. 


TENTATIVA    OTYMOLOGICO-TOPOXVMÍCA 


* 


Do  exposto  se  ve  que  inlar  podia  dar  muito  bem  poial — e 
que  Poiares  p(3de  vir  de  poiares  e  de  pilares;  mas  qual  d 'estas 
duas  etymologias  6  mais  acceitavel? 

—  Não  sei.  Eu  opto  pela  primeira  e  ahi  vão  as  razDes  em 
que  me  fundo. 

I^oial  em  portuguez  6  quasi  o  mesmo  que  j^oio,  em  caste- 
lhano pot/o: — logar  onde  se  assenta  ou  colloca  alguma  coisa; 
banco  fixo;  assento  de  pedra,  ordinariamente  junto  das  portas  das 
casas  e  encostado  ás  paredes  d'ellas  do  lado  exterior,  como  dizem 
com  pouca  diíferença   Valdez  e  o  sr.  Cândido  de  Figueiredo. 

Também  poial  por  extensão  pôde  significar  pouso,  poiísadou- 
ro,  logar  para  pousar  e  descançar, —  unde  Pousadouro,  Pousa- 
douros,  Pouso  e  Pousos,  muitas  povoações  nossas, —  e  pousadou- 
ros,  sitios,  onde  lá  no  Douro  os  carretões  das  uvas,  etc.  costumam 
pousar  e  descançar. — Assim  tenho  eu  na  Penujoiá,  minha  terra 
natal,  freguezia  do  concelho  de  Lamego, —  no  alto  d'um  caminho 
publico,  bastante  Íngreme,  uma  propriedade  com  o  nome  de  Pou- 
sadouros, —  nome  que  tomou  certamente  dos  taes  pousos  ou  poiaes. 

Também  supponho  que  os  Poiaes  de  S.  Bento,  em  Lisboa, 
tomaram  o  nome  d 'algum  sitio  que  alli  houvesse,  onde  costumas- 
sem pousar  e  descançar  os  carretões. 

Todas  as  nossas  freguezias  e  povoações  de  Poiares  podiam, 
pois,  tomar  o  nome  de  poial  em  qualquer  das  ditas  accepções. 

Podiam  também  tomar  o  nome  de  pilar,  mas  custa-me  a 
crer  em  tantos  pilares  —  e  haveria  sempre  dous^  pelo  menos,  em 
cada  uma  das  nossas  muitas  povoações  denominadas  Poiares. 

Também  me  custa  a  crer  que  o  nosso  termo  jjí7ar  venha  do 
latim  pilar  is  —  e  este  de  j>i7a^  como  diz  o  snr.  Cândido  de  Figuei- 
redo,—  desculpe  s.  ex.* 

Pilar  no  latim  o  pila,  mas  pilaris  em  latim  puro  não  signi- 
fica pilar,  mas  coisa  relativa  ou  pertencente  d  péla,  como  se  lê  no 
Magnum  Lexicon  latino. 

Ora  a  péla,  como  diz  o  sr.  Cândido  de  Figueiredo, —  6  uma 
bola  e  não  tem  relação  alguma  com  o  pilar:  —  simples  cohimna 


8  TENTATIVA   ETTMOLOGICO-TOPOXYMICA 


em  que  assenta  uma  construcção  qualquer, —  como  diz  o  mesmo 
senhor. 

É  possível  que  o  adjectivo  pUavis  desse  j?i7a7'^  —  não  no  la- 
tim puro,  mas  no  baixo  latim. 

Y.  o  Glossário  de  Diicamfe,  que  agora  não  tenho  á  mão. 

Somma  e  segue. 

Nós  também  temos  uma  quinta  com  o  nome  de  Paíaves,  que 
pode  ser  uma  antiga  forma  de  Poiares,  pois  na  edade  media  todas 
as  nossas  vogaes  se  confundiram  e  substituíram, —  nomeadamente 
o  Q  a. 

N'este  mesmo  artigo  Poiares  viram  os  leitores  que  em  1532 
Ruy  Fernandes  em  vez  de  Mafalda  disse  Mofalda  —  e  em  vez  de 
pesqueiras,  disse  pesqueiros. 

Também  temos  na  toponymia  portngueza  o  por  a  em  muitas 
povoações.  Occorrem-nos  as  seguintes: 


—  Alivã  por  oliva. 

Cf.  Oliva  e  Olivão,  povoações  nossas. 

—  Alca?iena  e  Alcolena,  talvez  formas  do  mesmo  nome. 

—  Ainbraxes  —  de  Ainbrosiis,  patronímico  de  Ambroxius. 

—  Aracio,  o  mesmo  que  Horácio. 

—  Arrentella  e  Orentella  por  Arentella  ou  Arrentella? 

—  Arieiro  e  Orieiro,  o  mesmo  que  Arieiro.  ■"■ 

—  Areóla  e  Oriolla,  o  mesmo  que  Areóla,  de  arenóla,  dimi- 
nutivo de  arena,  areia. 

—  Ariz  e  Oriz? 

.  — Arnolha  e  Ornolho? 

—  Aguella  e  Ouguella^  o  mesmo  que  AgueUaf,,. 

—  Oressa,   Ouraça,   Ourassa  e  Ouressa  —  do  provineianismo 
aurecia  —  aragem,  viração,  vento  suave. 


*    Os  leitores  podem  rir,  mas  —  rira  bicn,  qui  rira  le  dernier?!. . . 
E  assim  a  arte  nova,  mas  demanda  aprendizagem  —  e  qiiam  quisque 
norit  arte.m  in  hac  se  exerceat?!. .  . 


TENTATIVA    OTYMOI/XilCO-TOPONYMICA  9 

—  Carntello  e  Cnruicllo  por  Corntcllo. 

—  Caselha   e   Coxelhas   (aro  de   Coitnbra),  —  por   Caselhas.   ^ 

—  Caca  o  Cova  por  Cava^  do  latim  cavea  —  cova. 

—  Gonieira  por  ganieira  —  dos  (jamos^  veados. 

—  Cf.  Gameiro^  appellido  e  aldeia, —  Gomella  e  Gumide  por 
õoinido  e  este  por  (jaifiêdo? 

—  Górça  ou  Pedras  de  Górça^  ponto  do  Douro. —  De  gar- 
ça!,, , 

Note-se  que  ainda  hoje  no  inverno  se  voem  garças  nas  pe- 
dras do  Douro. 

—  Saldanha  e  Saldonha  por  Saldanha  —  de  Sardenha  ? 

—  Alcaforada  e  Alcoforado,  povoações  nossas. 

—  Alcordal  por  alcardal — o  Cardai.,  povoações  nossas. 
r— Alcorriol  por  alcarriol  —  o  carrinho,  etc. 

Do  exposto  se  vê  que  Faiares  pode  ser  o  mesmo  que  Poiares., 
mas  na  minha  opinião  Faiares  vem  do  castelhano  j;«;'are5  —  pa- 
lheiros, palhaes,  palhares. 

Note-se  que  a  Hespanha  tem  muitas  povoações  com  os  no- 
mes de  Pajar^  Fajares^  Fajarete^  Fajaron^  PajaroiícUlo.,  etc. 

Também  abundam  na  Hespanha  Majada  e  Majadas, —  entre 
nós  Malhada  e  Malhadas. 

Também  temos  uma  quinta  denominada  Majapão  por  Malha 

JMO. 

Poiares  é  muito  provavelmente  uma  forma  de  Fajares  supra, 
—  mesmo  porque  na  edade  media  as  letras,  i,  j  e  y,  se  confundi- 
ram e  substituíram.  Por  exemplo  escreviam  viajoi'  e  magor  e 
liam  maior  — Q  vice-versa. 

Podiam,  pois,  escrever  Faiares  e  ler  Fajares,  recordação 
leonesa,  como  escreveram  Majapão  por  Malha-pão,  quinta  nossa. 

É  também  recordação  leonesa,  como  já  dissemos,  Alprajares 
por  Al  -\-  Fajares  —  e  este  por  Al -\- Falhares  —  os  palheiros,  pa- 
lhaes ou  palhares. 


1    Jimte-se    Caselho,   Caselhos  e  Cozelhos,  povoações  nossas  tam- 
bém. 


10  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 

Cf.  AlpaJhão—0  palheirão,  grande  palheiro  —  villa  e  fre- 
guezia  que  demora  entre  o  Crato  e  Niza. 

Nós  também  temos  Palheirão,  herdade, —  e  a  Hespanha  tem 
Pajaro7i,  o  mesmo  que  Palheirão. 


—  Alva,  castello  e  villa  extincta,  hoje  simples  aldeia  ou  quinta 
da  freguezia  de  Poiares,  supra. 

y.  Alva,  Barca  d' Alva,  Freixo  d' Espada  á  Cinta,  Poiares  e 
Villa  d' Alva,  no  Portugal  antigo  e  moderno. 

Pinho  Leal  foi  pouco  feliz  no  artigo  Alva,  supra;  —  tentou 
reparar  os  lapsos  no  artigo  Barca  d' Alva,  mas  foi  pouco  feiiz 
também. 

As  ruinas  do  castello  e  da  villa  à''Alva  estão  em  sitio  alto  na 
margem  direita  do  Douro  e  algo  distantes  do  rio. 

A  povoação  da  Barca  d' Alva  demora  na  margem  fronteira  — 
esquerda — do  Douro;  —  tem  hoje  (1907)  talvez  100  fogos  e  400 
habitantes:  —  nunca  teve  castello  algum  —  e  já  não  é  sesoriatica, 
por  estar  toda  litteralmente  cercada  de  eiicahjptos. 

Também  a  Barca  d'Aha  nunca  teve  capella  alguma. 

A  capella  ou  santuário  da  Senhora  d' Alva  ou  do  Castello 
d' Alva  —  esteve  e  julgo  que  ainda  está  junto  das  ruinas  do  castello 
e  da  villa  d' Alva,  em  Traz-os- Montes, —  e  nem  se  veda  Barca 
d'Alva^  província  da  Beira  Baixa. 

Fica  assim  d'algum  modo  rectificado  o  que  disse  o  meu  be- 
nemérito antecessor  nos  artigos  supra. 

Mas  deixemo-nos  de  cantigas  e  prosigamos  com  as  etimolo- 
gias. 

O  castello  e  a  villa  d' Alva  podiam  tomar  o  nome  do  sitio 
onde  estão,  por  ser  alto,  vistoso  e  desassombrado. 

Cf.  Montalegre,  Monte  Alto,  Montalvão,  Monte  Al  vinho  e 
Mo7italvo,  povoações  nossas. 

Também  Alva  podia  tomar  o  nome  do  latim  Albi/s,  Alvo, 
antigo  nome  pessoal,  o  mesmo  que  Branco,  appellido. 

Albus  podia  dar  Alba  villa,  como  Regulus^  Regido,  nome  ro- 
mano e  nome  d'um  santo,  deu  Regida  villa — a  villa  da  Rcgoa. 


TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPOXYMICA  11 

E  assim  como  Branco  deu  Branqnmho,  —  Albiis  deu  Alhi- 
nuH,  i  —  AU)Í7io,  Alviíu  e  Alcem,  povoação  nossa,  o  mesmo  que 
Alvim  —  pelo  diapasão  fraucez  em  por  irn, —  como  Agastem  po  • 
Afjosflm,  o  mesmo  que  Af/osfinho,  povoaçHes  nossas  também.  ^ 

O  mesmo  AW/t.s  —  Alvo, —  deu  Alves^  appellido  vulgar,  pa- 
tronimico  de  Alvo,  —  e  talvez  que  Albano  seja  uma  forma  d' Albino, 
posto  que  Albano  piíde  vir  d' Albannm,  cidade  da  Itália. 

Desculpem  os  meus  poucos  leitores  tantas  divagações  e  tan- 
tos dislates  (V.  . .)  a  propósito  das  etymologias  de  Poiares  e  de 
Freixo  d' Espada  á  Cinta. 

—  Sat  prata  biberunt. 

II 

Concelho  de  Miranda  do  Douro 

Esboço  etymologico 

Seguiremos  a  ordem  alphabetica  das  suas  lõ  freguezias. 

1.^ — Athenor. 

Pode  vir  de  Antenor,  nome  grego  d'um  príncipe  troiano,  etc, 
mencionado  por  Yirgilio  na  Eneida,  livro  1.°,  e  que  deu  o  patro- 
nímico Antenovides  aos  seus  três  filhos  mortos  no  cerco  de  Tróia.  ^ 

Athenor  pode  vir  também  de  Athenodor  por  Athenodoro^ 
nome  grego  d'um  poeta  cómico  —  trágico  do  tempo  á' Alexandre 
Magno  e  que  Plutarco  mencionou  na  vida  d'aquelle  imperador. 

Chamava-se  também  Athenodoro  um  sábio  grego,  mestre  e 
amigo  intimo  di  Augusto. 

Athenodoro  foi  também  nome  de  um  santo  e  martyr,  bispo 


^     Veja-se  o  tópico  infra  —  Diapasão  francez.  É  curioso  e  muito 
interessante  para  o  estudo  etymologico  de  varias  povoações  nossas. 

^     Antenorides  rima  com  Dioscorides,  medico  de  Marco  António  e  de 
Cleópatra. 


12  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPQNYMICA 

de  Neocesarêa,  o  mesmo  que  Nova  Cesárea,  irmão  de  S.  Gregório 
Thaumaturgo  e  discípulo  d'Origenes. 

Foi  martyrisado  no  auno  233  da  nossa  era,  reinando  o  im- 
perador Aureliano. 

É,  pois,  grego  o  nome  d'esta  freguezia  e  revela  muita  anti- 
guidade !  Pode  ser  contemporâneo  da  occupação  romana,  porque 
os  romanos  traziam  comsigo  contingentes  das  muitas  nações  que 
haviam  subjugado,  uma  das  quaes  foi  a  Grécia,  mas  adoraram-na 
sempre  e  sempre  a  consideraram  sua  mestra  no  campo  das  artes 
e  das  sciencias. 

Pelo  idioma  grego  modelaram  os  romanos  o  idioma  latino, 
—  como  nós  modelámos  pelo  idioma  latino  o  idioma  portugtiex. 

Atheiíor^  o  lindo  nome  d'esta  freguezia,  pode  vir,  pois,  do 
tempo  da  occupação  romana.  Pode  mesmo  ser  pre  romano  e  vir 
do  tempo  em  que  os  gregos  —  anteriormente  aos  romanos  —  oc- 
cuparam  grande  parte  da  Galliza  e  do  norte  de  Portugal,  como 
diz  Hercula7io. 

Eeforça  esta  minha  opinião  o  facto  de  chamar-se  ainda  hoje 
Aldeia  dos  Gregos  uma  povoação  do  limitrophe  concelho  do  Mo- 
gadouro,—  povoação  que  já  foi  freguezia  autónoma  com  o  mesmo 
nome  de  Aldeia  dos  Gregos, —  hoje  simples  annexa,  da  freguezia 
de  Saldanha. 

Isto  prova  que  os  gregos  tiveram  demorada  residência  n'este 
cantão / . . . 

A  freguezia  á^Athenor  ou  de  Antenor  já  pertenceu  ao  extin- 
cto  concelho  á.''Algoso,  hoje  simples  parochia  do  concelho  de  Vi- 
moso^  que  tomou  o  nome  dos  vimes,  como  Vimeira,  Vimeiro^ 
Vimieira^   Vimieiro^  etc, —  muitas  povoações  nossas. 

Algoso  o  methathese  de  lagoso^  como  prova  evidentemente 
uma  lagoa  que  ha  na  própria  villa, —  lagoa  que  rivalisa  com  a  de 
Foscôa.  ^ 

Também  lagôsa^  lagosella  e  lagosêllo  deram  Kagósa,  Nago- 


1     Veja-se  o  meu  longo  artigo   Villa  Nova  de  Fozcôa  no  Portugal 
antigo  c  moderno,  vol.  -xi,  pag.  835. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  13 

sella  e  Xagoscllo^  povoações  de  que  adiante  fallaremos,  quando 
volvermos  a  Távora. 

Pertence  á  freguezia  (VAihenor  uma  povoação  denominada 
Teixeira,  que  já  foi  parochia  independente  e  tomou  o  nome  dos 
teixos^  como  outras  muitas  povoações  nossas. —  Táo  são  Teixe^  o 
mesmo  que  Teixo;  —  Teixedas^  Teixedo^  Teixeira.,  villa,  duas  fre- 
guezias,  etc. —  Teixeira  de  Ciitia^  Teixeira  de  Baixo.,  Teixeiras^ 
Teixeirinha  e  TeixeÍ7'ó  por  teixeií-ola^  o  mesmo  que  Teixeirinha.  ^ 

Junte-se  Teixinho.,  Teixello^  Teixo.,  Teixoeira,  fórma  ante- 
rior de  Teixeira., —  Teixoso^  aldeia,  freguezia  e  titulo  de  viscon- 
dado, —  e  Treixedo  por  Teixeiredo., —  ao  todo  mais  de  20  povoa- 
ções nossas. 

Os  teixos  tomaram  o  nome  do  latim  taxiis  —  e  são  arvores 
silvestres  e  também  oriíamentaes.,  por  vezes  lindíssimas,  porque, 
além  de  serem  muito  flexíveis,  são  muito  resistentes  —  e  têem  fo- 
lhagem mimosa  que  se  presta  a  ser  educada  e  aparada  com  te- 
soura, como  a  murta. 

Em  Lamego  vi  eu  dois  teixos  muito  lindos!  —  Um  d'elles  es- 
tava no  cimo  da  rua  da  Esperança^ — no  quintal  do  Félix.,  vene- 
rando ancião  e  laureado  fogueteiro  que  ordenou  dois  filhos !.. , 

Aquelle  teixo  era  antigo  e  formava  por  si  só  uma  pyramide 
que  tinha  talvez  5  metros  d'altura,  terminando  em  uma  coroa 
muito  correcta. 

A  base  da  pyramide  era,  como  ella,  quadrada,  mas  um  pouco 
mais  larga  e  tinha  nas  quatro  quinas  superiores  4  pombas  —  em 
1845,  data  em  que  eu  fui  para  Lamego  estudar  preparatórios. 

Julgo  que  ainda  lá  se  conserva. 

O  outro  teixo  estava  no  jardim  do  palácio  da  Corredoura,  da 
nobre  familia  Pei^feitos.,  junto  de  Lamego.  *^ 


*  Teixeirola  àçiW  Teixeira,  como  areóla,  diminutivo  de  área  —  eira 
deu  Eiró,  pequena  eira, —  e  Ecclesióla,  diminutivo  de  ecclesia,  deu  Grijó, 
pequena  egreja,  etc. 

Veja-se  o  tópico  infra:  —  «Diminutivos  com  a  desinência  ohis,  ola.» 
2     V.  Cambres  e  Portello  no  Portugal  antigo  e  moderno. 


14  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPOXYMICA 

Formava,  revestia  e  sustentava  uma  casinha  ou  sala  com  3 
ou  4  janellas, —  casinha  que  balouçava  e  tremia,  mas  não  cahia. 

Lá  estive  eu  com  a  minha  familia,  aproximadamente  em 
1852,  por  occasião  do  grande  arraial  do  Senhor  dos  Afflietos^  o 
l.''  d'aquella  freguezia,  em  Agosto,— -no  rigor  do  verão.— E  o  sol 
não  nos  incommodava  nem  batia  nas  janellas,  porque  a  tal  casi- 
nha estava  entre  grandes  tílias  que  a  ensombravam. 

Consta-me  que  já  não  existe,  porque  a  sr.^  D.  Mecia  de  Ma- 
galhães^ herdeira  e  sobrinha  dos  Perfeitos^  mandou  arrancar  os 
lindos  teixos  da  tal  casinha — bem  como  arrancou  (De7(s  lhe  per- 
doe!.  .  .j — os  magestosos  castanheiros  da  índia  que  povoavam  e 
ensombravam  o  campo  fi'onteiro  ao  Palácio  da  Corredoura  ?.'... 

O  dito  campo  é  vasto  e  foi  muito  lindo,  emquanto  esteve 
arborisado  com  os  magestosos  castanheiros  da  hidia. 

D'elle  tomou  o  nome  de  Corredoura  (picaria)  o  grande  palá- 
cio—  e  n'elle  ainda  no  meu  i^m^o  —  como  recordaçcw  de  melho- 
res tempos  —  deram-se  luzidas  cavalhadas^  imitando  as  da  idade 
media',  com  jogos  d'argolínhas^  pcmellas  com  yomhas^  etc.  por 
occasião  do  grande  arraial  do  Senhor  dos  Afflictos. 

Em  uma  das  ditas  cavalhadas  entrou  de  lança  em  riste  (?) 
no  anno  de  1852  o  meu  irmão  Jorge  Augusto  Ferreira^  que  ao 
tempo  era  t()n  pimpão  e  cortava  apenas  22  annos.  Elle  ainda  hoje 
vive,  mas  bastante  alquebrado  de  forças,  pois  já  conta  77  an- 
nos ! . . . 

A  tal  sr.^  D.  Mecia  de  Magalhães  Perfeito  não  só  arrancou 
os  teixos  da  bella  casinha  e  os  magestosos  castanheiros  da  India^ 
mas  praticou  outros  dislates. 

Birrando  com  a  cor  vermelha,  rasgou  muitas  folhas  dos  titu- 
les e  prasos  do  seu  volumoso  cartório — por  terem  illuminuras 
de  nanquim? ! , .  . 

Mandou  queimar  preciosa  mobilia  do  palácio: — biombos^ 
mesas^  commodas^  contadores^  etc. —  só  porque,  tendo  vindo^  em 
tempos  muito  remotos,  do  Japão  e  da  hulia^ — tinham  acharoa- 
dos  vermelhos?! . . . 

Agora  um  cumulo : 

Dizendo-se  muito  religiosa  e  costumando  ouvir  missa  na  ca- 


TKNTATIVA   hTYMOl.OUKJO-TOPOXYMICA  15 

pclla  do  palácio, —  um  bello  dia  ( — erediie  posteríf)  —  mandou 
reunir  as  imagens  das  suas  capellas  todas  e  qimmou-as^ —  sendo 
algumas  d'ellas  i)reciosas  esenlpturas  romanan'^ ! .  . . 

Nem  poupou  uma  linda  imagem  romana  de  Sfcnlo  A}itonw^ 
—  chamando-se  António  Vieira  Tovar  de  Lemos  —  o  próprio  ma- 
rido d'ella  —  e  António  Perfeito  de  Magalhães  o  tio,  de  quem 
herdou  o  palácio  da  Corredoura^  etc,  etc. 

Custa  a  crer,  mas  é  facto! , . . 

Prosigamos  com  o  esboço  etymologico  do  concelho  de  Mi- 

randa. 

* 
*      * 

2.* —  Clcoiiro  e  Constantím. 

Estas  duas  povoações  já  foram  duas  freguezias  autónomas, 
independentes,  mas,  pela  falta  de  vida  d'este  malfadado  cantão, 
hoje  constituem  uma  S(5  freguezia. 

A  povoação  de  Constantiin  tomou  claramente  o  nome  de 
Co^istantíní,  patronimico  de  Constantbius,  i,  que  dou  Constanti- 
no, nome  d'um  santo,  etc. —  e  Con^tantbn,  como  Augiistinus,  í, 
diminutivo  à'Auijnstus  —  Augusto^  deu  Agostinho  e  Agostem^  po- 
voação nossa,  o  mesmo  que  Agostim,  pelo  diapasão  francez  etti 
por  Í7n. 

Também  Martimis,  i,  deu  Martinho,  Martino  (ó  nome  pes- 
soal aqui  no  Porto)  —  e  Martim^  nome  do  lendário  Martirn  de 
IPreitaSj  alcaide-mór  de  Coimbra,  etc, 

* 

Também  Mar^tim  deu  o  nome  a  differentes  povoações  nossas. 
Taes  são  (Martini  Annes  (Martim,  filho  de  João), —  Martim 
Branco,  Martim  Carro,  Martim  Diz  (Diniz?); — Martim  Gil, 
Martim  Joannes,  o  mesmo  que  Martim  xhmes, —  e  Martinacha, 
o  mesmo  que  Martim  Acha? 

Também  Martimts  deu  Martinelhis,  i,  que  se  encontra  em 
Martinel,  povoação  nossa; — Martines,  casal,  o  mesmo  que  Mar- 
tiniz;  MartÍ7ihães,  aldeia  que  tomou  o  nome  úq  Martinianis,  pa- 
tronimico   de    Martiniamis,    ^,  diminutivo    de   Martinus^   como 


16  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 

também  Martinimios,  casal, — Martins,  appellido  vulgar; — Mar- 
tinxel  —  de  Martínieellus,  i,  outro  diminutivo  de  Martimis,  ^ 
—  e  Martirizes,  aldeia,  plural  de  Martins'^ 

Também  Martinho  pelo  diapasão  leonez  igo  por  inho  —  deu 
Martigo  e  Martingo^  o  mesmo  talvez  que  Martinho,  povoações 
nossas. 

Com  a  mesma  desinência  im  por  ino,  de  Coyistantim,  Âgos- 
tem  por  Agostim,  Martim  e  Martins,  temos  também  Severim  e 
Severino,  diminutivos  de  Severus — Severo,  como  Severiano^  no- 
mes de  santos,  etc. 

Por  seu  turno  Severus,  i,  deu  Sever^  aldeia,  e  Sever  do  Vou- 
ga, villa,  freguezia  e  sede  de  concelho;  —  e  Severiajiis,  patroni- 
mico  de  Severianus^  i,  deu  Cervães  por  Servães, —  aldeia,  fregue- 
zia e  actualmente  appellido  muito  considerado  no  Porto,  etc. 

—  Com  vista  ao  sábio  romano  Sulpicio  Severo  —  e  ao  meu 
particular  amigo,  bem  mais  rico  do  que  eu, —  Severim  José  de 
Brito  —  natural  de  Paredes  de  Coura,  negociante  e  capitalista  no 
Porto  e  grande  proprietário  no  Douro,  etc. 

Junte-se  Galdins,  povoação  nossa^  plural  de  Galdim,  o  mes- 
mo que  Gualdim,  aldeia  e  nome  do  lendário  mestre  do  Templo  — 
Gualdim  Paes  de  Marecos. 

Por  seu  turno  Gnaklir.i  6  o  mesmo  que  Gualdim  e  Gualdi- 
no,  nomes  de  santos,  etc, —  diminutivos  de  Gualdns,  forma  latina 
de  Wild  ou  Wald^  nome  germânico  e  appellido  portuguez,  que, 
na  passagem  para  o  latim,  deu  Waldiis,  i,  unde  TJbaldiis,  i  — 
TJbaldo,  nome  d'um  santo,  etc. 

Deu  também  Ubaldim,^  o  mesmo  que  Gualdim,  Galdim^ 
GualdÍ7io  e  talvez  por  metathese  Balduino  e  Baldicino,  nomes  de 
santos,  etc. 

—  Com  vista  ao  sr.  Gualdino  de  Campos,  talento  superior  e 
distincto  escriotor. 


1  Veja-se  o  tópico  infra:  —  «Diminutivos  com  a  desinência  cel- 
IriSj  i»,  tópico  muito  interessante  para  o  estudo  etymologico  das  nossas 
povoações. 


TENTATIVA    ET  i^AlOLOGICO  TOPONYMICA  17 


O  mesmo  Wild  ou  Wald  pela  forma  l^halduHj  è— na  mi- 
nha opinião  deu  Jialde  e  Baldos,  povoações  nossas,  —  e  Val- 
digem^  talvez,  contracção  de  Uhaldini  —  fjliem  '  —  casa  de 
campo  de  Ubaldino,  o  mesmo  que  Gualdím,  Galdim,  Qual- 
dino  ou  Balduíno  ? 

Vejam-se  as  paginas  onde  summariamente  fallei  do  do- 
ble W  germânico  e  mostrei  as  modificações  que  soffreu  na 
passagem  para  o  latim  e  do  latim  para  o  portuguez,  por  não 
terem  estes  dois  idiomas  letra  correspondente. 

Mas  qual  a  etymologia  de  Constantino  e  Constantim? 

E'  o  latim  constans,  antis  que,  além  de  Constantino  deu 
Constância  e  Constando,  nomes  de  santos,  —  Contanças,  Cons- 
tance  e  Villa  Nova  de  Constância,  povoações  nossas,  —  Cons- 
tantina e  Constante,  nomes  pessoaes  e  appellidos,  etc. 

Villa  Nova  de  Constância  demora  na  confluência  do  Zê- 
zere com  o  Tejo  e  foi  assim  denominada  pela  rainha  D.  Ma- 
ria II,  aproximadamente  em  1848,  porque  durante  a  revolu- 
ção popular  de  1846  a  1847  se  conservou  fiel  á  mesma  rainha 
— e  porque  o  nome  anterior  da  mencionada  villa  era  mal 
soante. 

Chamava  se  Punhete,  deturpação  de  Pinhete  por  pinha- 
Z^íe,— pinhalzinho,  pequeno  pinhal,  como  já  dissemos. 

Também  o  sr.  conselheiro  José  Luciano  de  Castro,  sendo 
(ha  bastantes  annos)  ministro  do  reiílo  —ou  presidente  de 
ministros,  —  e  estando  em  vésperas  de  eleições,  deu  o  nome 
de  S.  João  do  Campo  a  uma  freguezia  do  concelho  de  Coim- 
bra^ chamada  anteriormente  Lava  Rabos?/... 

D.  Francisco  d'Almada  também  deu  o  nome  de  Fonte 
das  Virtudes  a  uma  fonte  do  Porto,  chamada  Fonte  de  Lava 
Cólhos,  nome  congénere  de  Lava  Rabos. 

Também  houve  aqui  no  Porto  uma  fonte  com  o  lindo 
nome  de  Mija  Velhas,  —  outra  chamada  Fonte  da  Ourina  por 


1  Esta  desinência  ghem  encontra-se  como  suffixo  e  n'esia  mesma 
accepção  em  muitos  nomes  de  povoações  germânicas.  —  Corresponde  aos 
nomes  geographicos  latinos:  —  Caesaris  villa,  Tiberii  villa,  Augusti  villa, 
etc.  —  casa  de  campo  de  César,  de  Tibério,  d' Augusto. 

Vide  Fôrstemann ;  mas  Valdigem  por  Valdige  é  talvez  o  mesmo  que 
Valduge  por  Valdujo  —  valle  do  ujo,  povoação  nossa  tambertl.  Note-se 
que  o  povo  não  diz  Valdigem,  mas  Valdige!. . . 

3 


18  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Fonte  Taurina  f  —  e  outra  na  rua  do  Laranjal  com  o  nome 
de  Fonte  do  Olho  do  c. ,  . 

Ainda  tem  o  Porto  nos  Guindaes  *  a  fonte  de  Mal  m^a- 
judas — e  em  Mivagaya  a  Fonte  da  Colher. 

* 

*  * 

Temos  também  ainda  em  Portugal  muitas  povoações  que 
deviam  ser  chrismadas  e  receber  outros  nomes,  porque  03 
seus  nomes  actuaes  estão  pedindo  esponja. 

Ahi  vai  uma  amostra  do  panno : 

—  Banhados,  Porco,  Mc^arosa^  deturpação  de  Lama- 
rosa ;— Mala  guarda,  Malaqueijo,  Malas  Caras,  Malarranha, 
Mal  Curado,  Mal  Enforcado,  Mal  Julgado,  —  Mal  Lavado, 
Mal  Penteado,  Mal  Talhado,  Maluca  e  Malvado. 

Junte-se  Mamodeiro,  Mamporcão,  Mamprolé,  Mancão, 
Mangação,  Mangancha  (manga  ancha),  —  M.ào  pelo  cão,  o  mes- 
mo que  Mamporcão  supra. 

Marafonas,  Mardirtga,  Margalho,  Mariola,  Mascarra, 
Mata  Bodes,  Maia  Burros,  Mata  Cães,  Mata  Christo  (ff...)  — 
Mata  Fome,  Mata  Ladrões,  Mata  Mouros,  Mata  Porcas,  Mata 
Porco,  Mata  sete.  Mata  Vacas^  Matraque,  Mijão  e  Mijarella, 
forma  anterior  de  Misarella,  cascata,  catadupa,  etc. 

Mas  basta  de  Constantim. 

Paliemos  agora  da  etymologia  de  Cicouro  —  etymologia 
de  pelle  diahi! ... 

*  * 

Cicouro  por  Sicouro  é  talvez  uma  forma  de  Sequeiro,  no- 
me de  varias  povoações  nossas,  tirado  do  latim  siccus  — 
sêcco.  Taes  são  as  seguintes:  —  ASeca,  Secalina^  Secarias,  Se- 
cas, Seco,  Secos,  Seculinho,  por  secalinho  ou  secalino?',  Segolim 


1  Guindaes  é  um  despenhadeiro  medonho  de  fraguedo  nú,  que 
tomou  o  nome  do  leonêz  ou  castelhano  ^«//7í/ú'/í's  —  ginjaes,  ginjeiraes, 
pois  guinda  cm  castelhano  significa  ginja  e  guindai  ginjal,  como  diz  Val- 
dez. 

Eu  ainda  me  recordo  de  vêr  entre  as  ditas  fragas  gingeiras  espontâ- 
neas, bravas. 

Ao  poente  dos  Guindaes  demora  o  Codeçal.  —  Tomou  o  nome  do 
codêço,  fTlanta  arbustiva  que  deu  também  Codeceda,  Codecido  por  Code- 
cedo,  Codexido  por  Codecido,  Codeçosa,  etc,  povoações  nossas. 


TENTATIVA   ETYMOLOOICO-TOPONYMICA  19 


por  Segalim  e  este  por  secalim?',  Sico  e  SicuriOj  quasi  Sicouro, 
povoações  nossas. 

Cf.  também  Sequeira  e  Siqueira,  apellidos,  etc.  ~  Sequei- 
rinha,  Sequeiro — de  sequeirola,   o  mesmo   que   Sequeirinha ; 

—  Sequeiro,   Sequeiros,  Sequeiros,  Siquieira,  o  mesmo  que  Se- 
queira e  Siqueira ;  Sequinique,  ^  Séquito,  etc. 

Também  temos  —  Asseca  por  Al  +  Secca,  ou  ^  —  Secca,  ti- 
tulo de  viscondado,  etc. 

Cf.  Aharella  por  A  Barella  e  este  por  A  Varella  —  a  va- 
rinha, povoação  nossa,  como  Varella,  Varellas  e  Varellinha. 

Junte-se  Abebera  por  A  Bebera;  Abicharias  por  As  Bicha- 
nas; Abicheiro  e  Abicheiros  por  Al — Bicheiro  e  Al  —  Bicheiros 

—  o  Bicheiro  e  os  Bicheiros,  com  o  prefixo  árabe  ai  —  o,  a, 
os,  as. 

Note- se  que  Bichana,  Bicheira,  Bicheiro  e  Bicheiros  tam- 
bém são  povoações  nossas,  como  Bicha,  Bichaca,  Bichico, 
Bichinha,  Bicho,  Bichoca  e  Bichos, 

Junte-se  também  Aboicinhas  por  As  — boicinhas,  o  mesmo 
que  Bouçainhas  e  Boucinhas,  povoações  nossas. 

Também  temos  Aboim  e  Boim ;  Aboinha  e  Boinhas; 
Abouça  e  Bouça;  Abroca  e  Broca; — Abrunheta  e  Brunhe- 
ta ;  Acharrua  e  Charrua;  Acheiras  e  Cheiras;  Acipreste  e 
Cipreste;  Adanaia,  Anaia  e  Danaia,  etc,  povoações  nos- 
sas. 

Junte-se  também  Sigoeira  por  Siqueira  e  Sigueiro^  —  idl- 
vez  formas  de  Siqueira  e  Siqueiro,  pois  ca,  co,  cu  e  ga,  go, 
gu  trivialmente  se  confundiram  e  substituiram. 

Notese  também  que  na  onomástica  portugueza  Siqueiro 
podia  dar  Sicouro  e  Cicoif.ro,  porque  em  portuguez  ei  e  ou  por 
vezes  se  confundiram  e  substituiram. 

Cf.  Apeadeiro  e  apeadoiro  ou  apeadouro ;  despenhadeiro 
e  despenhadoiro  ou  despenhadouro  ?  —  Picadeiro  e  Picadouro, 
povoações  nossas,  —  como  Fonteira  e  Fontoura,  Refonteira  e 
Refontoura,  Peneiços  e  Penouços,  etc. 

Cf.  também  venidero,  quasi  vindeiro,  na  Hespanha  —  e  em 
Portugal —  vindouro. 

Sem  violência,  pois,  Sequeiro  ou  Siqueiro  podia  dar  Si' 


1  Cf.  Saquinibaque,  Manique,  Peniquc  e  Toteniquc,  povoações 
nossas.  —  E  talvez  que  Peniche  e  Penique  sejam  formas  do  mesmo  nome, 
pois  ché  e  ké  ou  qué  substituiram-se  e  confundiram-se,  como  havemos  de 
provar. 


20  TENTATIVA   ETYMOLOGICOTOPONYMICA 


couro  e  Cicouro,  —julgo  eu.  —  Mas  talvez  que  Cicouro  venha 
de  sicorio,  depreciativo  popular  de  secco  e  synonimo  de  se- 
quinho,  como  Séquito  supra. 

Ad  ridendum  ahi  vão  alguns  termos  populares  deprecia- 
tivos com  a  desinência  —  o7'io.  Taes  são  latinório,  simplório, 
finório,  chapelorio,  foguetorio,  vivorio,  regalorio^  quintalorio^ 
tratantorio,  capasoria  e  capasorio,  —  viUoria,  vinhoria,  farelo- 
rio,  palanfrorio,  etc, 

Junte-se  Casalorio,  casal  nosso. 

A  Hespanha  tem  Frechorio,  diminutivo  de  freixo,  povoa- 
ção de  Oviedo^  —  e  Tenório,  apellido  de  D.  João  Tenório,  ri- 
val do  heroe  nianchêgo. 

Tenório  é  também  appellido  portuguez,  vindo  da  Hespa- 
nha, como  outros  muitos  appellidos  nossos,  entre  elles  Camõen, 
Saldanha,  etc. 

Por  seu  turno  ha  na  Hespanha  muitos  appellidos  por- 
tuguezes,   taes   são  Cardoso,  Fonseca,  Barrilar,  Bacalar,  etc. 

Cardoso  e  Fonseca  são  appelidos  muito  nobres  e  muito 
antigos,  que  têem  o  seu  solar  nas  aldeias  de  Cardoso  e  Fon- 
seca, pertencentes  á  freguezia  de  S.  Martinho  de  Mouros,  con- 
celho de  Bezende. 

Veja-se  no  Fortugal  antigo  e  moderno  o  meu  artigo  Villar, 
povoação  da  freguezia  de  Barro,  pertencente  ao  dito  concelho. 
Alli  (pag.  1:174  do  vol.  xi)  mencionei  as  nobilíssimas  e  anti- 
quíssimas casas  de  Fonseca  e  Cardoso. 

Os  appellidos  Barrilar  e  Bacalar  na  minha  opinião  pro- 
vieram das  duas  povoações  d'este  nome,  pertencentes  á  fre- 
guezia, villa  e  concelho  d^Armamar. 

Note-se  que  em  todo  o  nosso  paiz  —  e  em  toda  a  Hespanha 
—  não  ha  outras  povoações  com  os  nomes  de  Bacalar  e  Bar- 
rilar,—  e  que  na  Hespanha  Bacalar  é  appellido  muito  nobre 
e  muito  antigo ! 

D.  Vicente  Bacalar  e  Saíia  foi  marquez  de  S.  Filippe  e 
distincto  escriptor  do  século  xvii. 

Eu  tenho  a  interessantíssima  obra  d'elle : —  *Commenta- 
rios  de  la  guerra  de  Espana,  e  historia  de  su  rey  Phelipe  V.  — 
Génova...  2  vols.  4.°. 

—  Com  vista  ao  snr.  Joaquim  de  Araújo,  distincto  escri- 
ptor também  e  nosso  cônsul  actual  em  Génova. 

Prosigamos. 


Cicouro  pode  vir,  pois,  de  siccorio  e  ser  uma  forma  de 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPOXJfMlCA  21 


Siconro.  Mas — dirão  os  tímidos  leitores  —  Sicoiiro  daria  Ci- 
couro?  —  Se  não  deu,  podia  dar,  pois  na  onomástica  portu- 
gueza  c  e  s — mesmo  iniciaes  —  trivialmente  se  confundiram 
e  substituíram. 

Cf.  Ceiça,  Ceiçal,  —  Seixa  e  Seixal  —  do  -latim  —  saxum  — 
pedra;  Ceiceíra  e  Seiceíra  ;  Cella,  Cdlão,  (Mias — Sella,  Sei  Ião 
e  Sellas  ;  —  Centas  o  Sentas  ;  Centieíra^  Centieiras  —  Sentieíra 
e  Sendeiras  ;  Cepa  e  Seppa;  Cepães  e  Sepães ;  Cepeda  e  Sepeda  ; 
Cerdeira  e  Serdeira  ;  Cerdeiral  e  Serdeiral  ?  ! . . . 

Somma  e  segue. 

Cernancelhe  e  Sernancelhe ;  Cernande  e  Sernande  —  de 
Sezinandus, — SezinandOy  nome  d'um  santo,  etc._,  que  pela  forma 
Sezinandicellus,  i  também  deu  ou  podia  àdiV  Sernancelhel... 

E'  assim  a  arte  nova. 

A  critica  é  fácil,  mas  a  arte  é  difjicil  —  e  eu  direi  que  em 
assumpto  de  tal  ordem  —  a  própria  critica  é  difficil — não  sen- 
do critica  balofa  ou  de  mófa^  —  critica  imprópria  da  gente  séria. 

Quando  volver  a  Távora,  novamente  falarei  de  Sernan- 
celhe e  então  serei  mais  explicito. 

Ainda  temos :  —  Cerqueira  e  Serqueira,  —  do  latim  quer- 
cus  —  carvalho,  carvalha,  carvalheira?, — como  Cerqueiral  q 
Serqueiral ;  mas,  como  já  disse  e  novamente  digo: —  as  for- 
mas carvalho^  carvalha,  carvalhal^  carvalheira_,  e  carvalhos,  — 
não  vêem  do  latim  quercus,  mas  de  carpa,  grande  arvore, 
que  ainda  se  encontra  em  Carpalhosa,  povoação  nossa^  como 
também  Carvalhosa,  pois  bá  e  pá  trivialmente  se  confundiram 
e  substituíram.  ^ 

Junte-se  ainda  Certa,  Certão  e  Sertão  ;  Cerzeda  e  Serxeda; 
Cerzedello  ■  e  Serzedello ;  Cever  e  Sever  ;  Cide  e  Side  ;  Cioga  e 
Sioga;  Cisto  e  Sisto,  o  mesmo  que  Sixto,  Xirio,  Xisto  e  Xistro, 
povoações  nossas  que  tomaram  o  nome  de  Xisto,  santo,  etc, 
—  este  do  latim  Sextus,  Sexto,  antigo  nome  pessoal^  —  e  este 
de  sextus,  sexto,  adjectivo  numeral  romano. 

Sexto  e  Sixto  foram  também  nomes  de  santos,  como  Xisto. 

De  passagem  direi  que  os  romanos  tiraram  nomes  pes- 
soaes  de  todos  os  adjectivos  numeraes  —  desde  primas  até  de- 
cimus.  Este  tópico  é  muito  interessante  e  bastante  longo. 


1  Note-se  que  no  Minho  em  vez  de  Carvalhal,  Carvalha,  Carvalho, 
Carvalhosa,  etc,  dizem  Carbalha,  Carbalhal,  Carbalho  e  Carbalhosa. 

E'  diapasão  callaico.  pois  na  Galliza  também  ha  muitas  povoações 
com  os  nomes  de  Carballa,  Carballal,  Carballo,  etc,  que  soam  Carba- 
lha, Carbalhal  c  Carbalho,  como  no  Minho. 


22  TENTATIVA    ETyMOLOGICO-TOPONYMICA 


Prosigamos. 

Temos  também  Cezimbra  por  Sezimbra,  pois  como  jâ  disse 
na  primeira  parte  d'estes  meus  dislates^  a  povoação  de  Cezim- 
bra tomou  o  nome  do  latim  hotSimco  sysimbrium  —  certa  planta 
que  os  romanos  muito  estimavam,  porque  dava  flores  brancas^ 
de  que  faziam  grinaldas  para  os  noivos. 

Talvez  que  a  dita  planta  não  fosse  vulgar  e  ao  tempo 
abundaria  —  abundará  mesmo  hoje  ainda  —  na  excepcional 
íiora  da  Arrábida,  junto  de  Cezimbra.  ^ 

E  talvez  que  os  romanos  levassem  ou  exportassem  de 
Cezimbra,  povoação  marítima,  as  taes  plantas  e  flores  para  ou- 
tras regiões  do  seu  vasto  império. 

Note  se  que  das  plantas  tomaram  o  nome  centenares  ou 
antes  milhares  de  povoações  nossas. 

Temos  finalmente  Cintra  por  Sintra^  pois  na  minha  opi- 
nião Cintra  vem  de  Schintila  ou  Swintila,  nome  germânico, 
posto  que  o  meu  benemérito  antecessor  Pinho  Leal,  no  artigo 
próprio  diz  que  a  formosa  vi  lia  de  Cintra  vem  de  Cynthia, 
nome  que  os  celtas  davam  á  lua?... 

De  Schintila  ou  Swintila  —  Sintila — Sintra — Cintra. 

Note- se  que  em  vários  documentos  antigos  se  encontra 
a  forma  Sintra.  • 

Do  exposto  se  vê  que  Cicouro  pôde  vir  de  Sequeiro  ou 
Siqueiro — e  de  Sicorio,  afíim  ou  parente  próximo  de  Sicurio, 

Passemos  adiante. 

*      * 
3.*  —  Duas  egrejas. 

A  etymologia  d'esta  parochia  é  tão  clara  como  o  nome 

d'ella ;  mas  comprehende  as  povoações  de  Cercio,  ValdeMira^ 

Gravatos,  Fonte  Lataca  ,e  Horta  da  Silva,  cujas   etymologias 

não  são  fáceis. 

—  Cercio  já  foi  freguezia  autónoma  e  vem  talvez  de  Sér- 
gio, nome  d'um  santo,  etc. 

Nós  também  temos  Cergio  appelido,  —  e  a  Hespanha  tem 
Cercio  e  Cierzios,  povoações. 

—  Fonte  Lataca  —  talvez  seja  uma  forma  barbara  de  fon- 
te lactata  —  aleitada  ou  láctea,  cuja  agua  tivesse  cor  similhan- 
te  á  do  leite. 

Cf.  Fonte  Leite,  povoação  nossa  também. 


'    Chamamos  para  esíe  ponto  a  attenção  dos  naturalistas  que  tenham 
estudado  ou  se  proponham  estudar  a  interessantíssima  flora  da  Arrábida. 


TENTATIVA    ETYMOLOOICO-TOPONYMICA  *2;5 


No  latim  ha  lactaíus,  a,  um  —  coisa  nutriaa  ou  alimeu- 
tada  com  leite,  —  e  ladata  podia  dar  laiaca,  pois  ca,  co,  cu  e 
ta,  to,  tu,  confundiram-se  e  substituiram-se. 

Veja-se  o  tópico  infra  —  Substituic^ão  de  letras. 
Vai  de  Mira  —  pôde  vir  de    Wladimíriís,  i,   nome  germâ- 
nico e  nome   d'um   santo,    etc,   que   na  minha   opinião   deu 
Valdemir,  por   Vtddemiro,  quasi  Valdemira  ou  Vai  de  Mira  ; 

—  Vai  de  Mil,   por    Vdldemir,  —  e    VahV Amil,  sitio    de  que 
logo  íallaremos,  quando  volvermos  a  Távora. 

Wladimirus,  i  também  deu  Baldomero,  nome  d'um  san- 
to, etc.  ;  —  Baldomira  e  Baldomiro,  nomes  pessoaes  e  appel- 
lidos,  —  e  Vai  do  Mar,  aldeia  nossa,  o  mesmo  que  Vai  de 
Mar,  Vai  de  Mil  e  Valdemir,  supra. 

Note-se  que  na  onomástica  portugueza  i  deu  trivial- 
mente a. 

Cf.  Leodomirus,  i  que  deu  Leomil  e  Lomar  ;  —  Gunthi- 
mirus  i,  Gunthimiro,  nome  germânico  também,  que  deu  Can- 
demil,  terra  natal  do  snr.  conselheiro  António  Cândido.—  Cíiw- 
temih  Co7itumil,  Gondomar,  etc. 

Note-se  também  que  Miro  e  Mira  foram  nomes  pessoaes, 

—  e  Mírão,  nome  d'um  santo  e  de   varias  povoações  nossas. 


* 
*      * 


—  Gravatos  — é  contracção  do  portuguez  bem  conhecido 
garavatos,  como  garavetos,  gravetos  e  talvez  gr avi tos  — Ga.\ a.- 
cos,  lenha  miúda,  chamiços. 

Cf.  Gravateira,  Gravato,  Gravedo  por  Graveto  —  Grave- 
tal,  Graveto  e  Gravito,  povoações  nossas. 

Também  temos  varias  povoações  com  os  nomes  de  Ca- 
vaca, Cavaco  e  Cavacos,  —  Cavaco,  appellido  e  fabrica  de  cerâ- 
mica no  Porto  —  Chamiçal  e  Chamiço,  aldeias. 

—  Horta  da  Silva — é  o  mesmo  que  horta  da  selva,  —  do 
latim  silva  —  selva,  mata,  bosque,  brenha,  que  deram  Brenha, 
Mata  e  Bosque,  appellidos  vulgares,  synonimos  de  Silva,  ap- 
pelido  vulgar  também. 

* 

4.*  —  Genisio. 

Esta  freguezia  tomou  claramente  o  nome  de  Genisio,  o 
mesmo  que  Genesio,  antigo  nome  pessoal  e  nome  d'um  santo, 
—  em  latim  Genesius,  ii,  iis,  que  deu  Genes,  Gense  S.  Gensj 
povoações  nossas 


24  TENTATIVA    ETYMOLOGlCO-Tl'PONYMICA 


Por  seu  turno  Genisio  também  nome  d'um  santo,  em  la- 
tim Genisius,  ii,  iis,  —  talvez  desse  Gerizes  por  Genizes,  Gin- 
zo  por  Genízo  e  este  por  Genisio ^  —  e  Giz,  contracção  de  Ge- 
nisiis,  pois  não  ó  provável  que  o  giz  desse  o  nome  a  duas 
povoações  nossas. 

Esta  freguezia  já  teve  annexa  a  de  Villar  Secco^  actual- 
mente freguezia  do  concelho  de  Vimioso. 

Villar'  Secco  é  pouco  distante  de  Cicouro  e  está  dizendo 
que  demoram  em  região  secca,  seccalina  ou  siccoria?/,  .. 

Veja  se  o  tópico  supraT—  Cicouro  e  Constantim. 

* 
*      * 

Esta  parochia  de  Genisio  comprehende  também  uma 
quinta  —  ou  aldeia,  sua  annexa,  chamada  Especiosa,  que  já 
foi  parochia  independente  e  tomou  o  nome  de  Especiosa  vil- 
la,  —  granja,  quinta'  ou  casa  de  campo  de  Especioso,  antigo 
nome  pessoal  e  nome  d'um  santo,  etc. 

Especiosa  foi  também  nome  de  mulher,  mas  são  raras, 
raríssimas  em  Portugal  e  fora  de  Po7'tugal  as  povoações  que 
tomaram  o  nome  das  mulheres^  porque  outr'ora  ellas  não  ti- 
nham a  consideração  que  teem  hoje. 

Os  tempos  mudaram  muito  n'este  ponto. 

As  mulheres  são  hoje  tão  consideradas  como  os  homens 

—  e  mais  ainda  !  —  graças  á  nossa  religião  santa  que  aberta- 
mente pugnou  em  favor  d'ellas,  pelo  que  chegou  a  denomi- 
nar se  religião  das  mulheres? I. , .,  —  Com  vista  ao  Japão,  etc. 

5.*  —  Iffanes,  curioso  espécimen  d' arte  nova,  —  E'  con- 
tracção de  Epiphaniis,  patronímico  de  Epiphanius,  ii  —  Epi- 
phanio,  antigo  nome  pessoal  e  nome  d'um  santo  como  Epi- 
phania  \ 

Estes  nomes  pertencem  á  serie  dos  muitos  que  foram 
tirados  d^ assumptos  religiosos,  como  Deo  Gratias,  —  Deus  de- 
dit,  o  mesmo  que  Deuladéu  (Deus  a  deu)  —  nome  da  heroina 
de  Monsão,  —  Deodato,  o  mesmo  que  Adeodato  [a  Deo  datus) 

—  dado  por  Deus  —  nomes  também  de  santos,  etc. 

Junte-se  Ascendo  e  Assenço,  também  nomes  de  santos, 
tirados  da  festa  da'  Ascensão,  em  latim  Ascendo,  onis;  Pas- 
chal  e   Paschoal,  também  nomes   de  santos,  tirados  da  festa 


^     Fm  trabalhos  d 'esta  ordem  a  bússola  ê  o  ouvido?\ 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  25 


da  Paschoa,  como  Epiphanio  e  Epiphanla  supra  foram  tira- 
dos da  festa  da  Epiphanía  ou  dos  líein. 

Natal  d  Natália^  também  nomes  de  santos,  foram  tira- 
dos da  festa  do  Natal  que  deu  também  Natalina,  Natalino^ 
—  Nataria  e  Nathalia  por  Natália,  —  Nathalio  e  Natario  por 
Natalio,  etc.  ^ 

Também  a  quaresma  deu  Quaresma,  appellido,  —  e  o  Na* 
tal  deu  Nascimento^  appellido  também,  —  e  Nadaes  povoação 
de  Rezende^  que  tomou  o  nome  de  Natalis, —  forma  latina  de 
Natal  supra,  nome  d'um  santo,  etc. 

Junte-se  ainda  Ossana  por  Hossana,  nome  d'uma  santa, 
etc,  tirado  do  latim  hossanna  in  excelsis,  da  festa  dos  Ramos, 

6.*  —  Malhadas. 

Do  portuguez  malhada  que  tem  muitas  accepções^  entre 
ellas  a  de  malhar  pão. 

Cf.  Malha  Pão,  seis  povoações  nossas,  —  e  Malhadancha, 
o  mesmo  que  Malhada  ancha,  malhada  ou  eira  grande,  — con- 
génere de  Mangam-ha,  por  Manga  ancha,  casal,  que  tomou  o 
nome  de  Mangancha,  apodo  ou  appellido. 

Junte-se  Lameirancha  —  lameira  ancha,  ~  Pedrancha  — 
pedra  ancha,  etc,  povoações  nossas. 

A'  mesma  série  de  Malhadas  pertencem  ao  todo  mais  de 
150  povoações  nossas^  entre  ellas  Malhadoura.  Malha  Ferro, 
Malha  Grillos,  Malha  Milho,  Malhadaes,  Malhadal  e  Malhadil 
por  Malhadal. 

Os  leitores  não  se  espantem  com  a  substituição  de  Ma- 
Ihadil  por  Malhodil.  Encontra-se  este  diapasão  em  muitos  no- 
mes de  povoações  nossas.  Taes  são  Arcil  e  Aroal;  Barril  por 
Barrai,  muitas  povoações ;  Cabanil  por  Cabanal ;  Carril  e 
Carral;  Fetd  e  Fetal;  Ouril  e  Ourai)  Outil  por  Outeiril  e 
Outeiral]  Ovil  e  Ovial;  Touril,  Taural  e  Toural,  etc 

Junte-se  Madail,  povoação  nossa,  pois  talvez  seja  uma 
forma  de  Majadil,  forma  castelhana  de  Malhadil. 

Malhada  na  Hespanha  é  Majada,  que  soa  Magada,  quasi 
Maçada,  unde  talvez  Micada  e  Maccada,  povoações  nossas ! 
Mas  talvez  que  entre  nós  na  edade  média  Mijada  se  escrevesse 
também  Maiada,  como  Penamajor  deu  Penamaior  e  Penama- 


^    Cf.  Rosa  e  Rosália  nomes  de  santas,  que  deram  Rosalina,  Ro- 
salina (?. . .)  e  Rosaria,  forma  popular  de  Rosália. 

E'  muito  notável  em  Cambres  (Douro)  a  quinta  da  Rosália,  vul- 
go Rosaria. 


26  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


cor,  pois  Penamajor  em  castelhano  soa  Penamagor,  quasi  Pe- 
namacor. 

A  Hespanha  não  tem  Majadal  nem  Mojndil;  mas  tem 
Majada,  Mnjndaò'  e  MaJadiUas  — entre  nós  Malhada,  Malha- 
das e  Malhadinhas. 

Se  tivera  Mnjadil,  podia  lêr-se  entre  nós  na  idade  mé-. 
dia  Magadil  e  Maiadil.   Por  seu  turno  Maiadil  talvez  desse 
MadailV..,.  ^ 

Eira  bien  qui  rira  le  dernier. 

Prosigamos. 

*      * 

7.*  —  Miranda  do  Douro. 

Tomou  o  nome  talvez  do  latim  miranda —  digna  de 
vêr-se  ;  ou  que  pode  vêr-se  ;  —  vistosa'^  —  Tal  é  a  cidade  de 
Miranda  do  Douro,  pois  demora  em  sitio  alto,  alegre  e  vis- 
toso, coroando  uma  espécie  de  promontório  de  fraga  núa, 
que  se  estende  de  norte  a  sul,  aprumado  a  E.  sobre  o  Douro 

—  e  a  O.  sobre  o  Fresno  (em  Portugal  Freixo)^  —  rios  que 
vêem  de  Hespanha  e  ali  correm  fundos,  pelo  que  tornavam 
no  tempo  das  armas  brancas  muito  defensável  o  dito  pro- 
montório. 

E'  elle  accessivel  unicamente  do  lado  norte. 

Veja-se  Miranda  do  Douro  no  Portugal  antigo  e  moder- 
no.^  artigo  do  meu  benemérito  antecessor  e  que  eu  ampliaria 
muito,  se  os  editores  não  desistissem,  como  desistiram,  do 
promettido  e  tão  preciso  supplemento. 

Era-me  fácil  amplial-o,  porque  visitei  Miranda,  como  já 
disse,  demorando-me  n'aquella  cidade  três  dias  —  e  honra  me 
com  particular  estima  o  seu  illustrado  prior  e  meu  bom  amigo 

—  rev."»  José  Bernardo  de  Moraes  Callado. 


*  Note-se  que  antigamente  em  Portugal  e  na  Hespanha  em  vez  de 
major  escrevia-se  mayor—t  em  vez  de  Majada,  Majadas,  e  Myadil — 
escreveu-sc  Mayada,  Mayadas  e  Mayadil,  unde  Madail  por  Mayadii 

Também  na  Hespanha  j/d  ejá  deram  Ihá,  unde  Majapão,  o  mesmo 
que  Malha  Pão  e  Malhapão,  quintas  e  povoações  nossas. 

A  Hespanha  tem  muitas  povoações  com  os  nomes  de  Maja,  Maja- 
da, Majadas,  Majo,  Majones,  —  Malla,  que  se  lê  Malha,  Malladas,  Mal- 
ladoiro,  (Malhadoiro),  —  Mallo,  (Malho),  —  Mallon  (Malhon,  entre  nós 
Malhão)  —  e  Mallona  em  Soria,  que  se  lê  Malhona  e  deu  Malhoa,  ap- 
pellido  actual  portuguez  em  Lisboa,  etc. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  27 


Miranda  vae  em  pronunciada  decadência. 

E'  hoje  a  cidade  menos  populosa  de  Portugal.  Conta  ape- 
nas 1Õ2  fogos  e  550  habitantes. 

Afreguezia  comprehende  4  annexas  denominadas  quintaff. 

São  Qlldisv—  \  Ideia  Nova  do  Azin/ial,  que  dista  de  Mi- 
randa, 7  kilometros  para  N.  E.  e  tem  41  fogos  e  IGO  habi- 
tantes ;  —  Palancar,  distante  de  Miranda,  5  kilometros  para 
N.;  tem  14  fogos  e  55  habitantes  ;  —  Valle  d' Águia,  que  dista 
de  Miranda  G  kilometros  para  N.  E.  e  tem  23  fogos  e  85  al- 
mas, —  Pena  Branca,  distante  de  Miranda  6  kilometros  para 
N.  com  17  fogos  e  60  habitantes. 

Total  da  população  das  4  annexas :  95  fogos  e  360  habi- 
tantes. 

População  total  da  freguezia  de  Miranda — 247  fogos  e 
910  habitantes. 

O  prior  vê-se  perdido  para  curar  bem  ou  mal  as  4  anne- 
xas, distantes  de  Miranda  b  ^  1  kilometros  de  péssimo  cami- 
nho t... 

E'  também  muito  áspero  todo  o  anno  o  clima  d'aquella 
região :  —  frigidissimo  no  inverno  e  ardentíssimo  no  verão, 
pelo  que  vulgarmente  se  diz  que  tem  nove  mezes  d^inverno  e 
três  d' inferno? I ... 

Miranda  vae  em  pronunciada  decadência,  mas  devem 
amparal-a  certamente  e  dar-lhe  muita  vida  a  nova  estrada  a 
macadam  de  Bragança  a  Miranda,  já  muito  adiantada  —  e  a 
linha  férrea  do  Pocinho  a  Miranda,  também  já  principiada. 

A  pobre  cidade  tem,  como,  já  disse,  4  freguezias  anne- 
xas. Chama- se  uma  Aldeia  Nova  do  Azinhal,  contracção  d'a- 
zinheiral —  bosque  ou  mata  d'azinheiras.  — E  denomina-se  No- 
va, porque  a  povoação  actual  é  restauração  d'outra  que  alli 
houve  em  tempos  muito  remotos,  como  provam  as  muitas  ve- 
lharias romanas  e  pre-romanas  que  alli  se  teem  encontrado. 

Outra  das  suas  annexas  denomina-se  Palancar,  o  mesmo 
que  Palancal,  nome  estranho,  tirado  talvez  de  palanco,  — 
certa  graminea,   espécie  á''aveia,  —  no  dialecto  trasmontano. 

V.  Palanco  no  diccionario  portuguez  do  snr.  Cândido  de 
Figueiredo  ^ 

Comprehende  também  a  quinta  ou  povoação  de  Refega. 


*    A  Hespanha  tem  Palancar  e  Pulancares,  povoações  de  Sevilha 
e  Guadalajara. 


28  TENTATIVA    ETYMOLOaiCO-TOPONYMICA 


Refega  ou  Refega  pode  vir  do  hespanhol  Revêga  —  veiga 
ancha,  grande,  — ou  de  revéga,  o  mesmo  que  reviéga -- revê- 
lha,  muito  velha. 

Cf.  Reviejo  (lê-se  Reviego) — o  mesmo  que  Revelho,  po- 
voação da  Hespanha,  —  Recélha,  Recélho  e  Revêlhos,  povoa- 
ções nossas. 

Note- se  que  fev  confundiram-se  e  substituiram-se. 

Cf.  Alfdfar  por  Alfavar  ou  Alfaval,  o  Faval,  —  povoa- 
ção e  freguezia  do  concelho  de  Penella,  districto  de  Coimbra; 
Âlfeloas,  o  mesmo  que  Alveloas,  povoações  nossas  ;  Jafa.  vul- 
go Java,  porto  de  mar  da  Palestina  ;  Genovêfa,  o  mesmo  que 
Genoveva,  nome  d'uma  santa;  Olafo  e  Olavo,  também  nomes 
de  santos,  etc,  — formas  de  Olaf,  nome  actual  na  Suécia. 

Do  exposto  se  vê  que  Refega  e  Revéga  podem  ser  for- 
mas do  mesmo  nome. 

Yal  d' Águia  tomou  o  nome  das  águias,  como  S.  Pedro  das 
Águias  e  outras  muitas  povoações  nossas. 

Fena  Branca  ou  PennaBranca  —  é  o  mesmo  que  penha 
branca  e  tomou  o  nome  da  côr  da  dita  penha  ou  dos  lichens 
que  a  envolvem. 

Cf.  Pedra  Alva  e  Pedralva:  Pedra  Amarella;  Pedra  Pei- 
tai; Pedra  que  Luz,  unde  talvez  Queluz;  Pedras  Alvas  ;  Pe- 
dras Brancas ;  Pedras  Negras  —  sem  serem  as  pedras  vulcâ- 
nicas de  Pungo  Andongo,  e  Pedras  Ruivas. 

Somma  e  segue: 

Pena  \erde;  Penalva;  Penas  fíoias;  Penedo  Branco;  Pe- 
nha Verde,  o  mesmo  Pena  Verde;  Peralva,  o  mesmo  que  Pe- 
dra Alva.  Pedralva  e  Penalva;  Peras  Rubras^  o  mesmo  que 
Pedras  Raivas  —  e  Penas  Roias,  pedras  roxas,  etc. 

Junte-se  Penedos  Aniarellos,  sitio  junto  de  Miranda,  mas 
além  do  Douro,  jâ  na  Hespanha,  —  e  Penha  Amarella  ou  Pe- 
nha d' Águia,  morro  gigantesco  da  freguezia  de  Távora  supra, 
do  qual   fallaremos  em  tópico  especial,  como  bem   merece. 


Nós  temos  varias  povoações  denominadas  Miranda,  pelo 
que  esta  cidade  se  denominou  Miranda  do  Douro^  para  não 
se  confundir  com  as  outras  Mirandas. 

Também  a  villa  de  Miranda^  do  districto  de  Coimbra, 
por  egual  motivo  é  denominada  Miranda  do  Corvo. 

Os  corvos  são  aves  bem  conhecidas,  que  tomaram  o  no- 


TENTATIVA    ETYMOLOQICO-TOPONYMICA  29 


me  do  latim  corvus,  i  —e  este  do  grego  Jcorax^—  talvez  ono- 
mástico? !. .  . 

D*elles  tomaram  o  nome  grande  numero  de  povoações 
nossas,  incluindo  a  Corvaceira,  minha  terra  natal,  pequena, 
mas  vistosa  e  muito  mimosa  aldeia  da  vasta  freguezia  da 
Fenajoia^  concelho  de  Lamego,  na  margem  esquerda  do  Dou- 
ro^—  em  frente  das  Caldas  do  Molledo. 

Corvo  deu  Corveira  e  Corvaceira,  como  fogo  deu  Fogueira 
e  fogaceira  —  e  lodo  deu  Lodeira  e  lodaceira. 

O  Douro^  rio,  tomou  o  nome  do  latim  Durius — e  este 
do  sanscrito  dru  -  correr,  como  já  disse  algures,  citando 
Ouillou.  ^ 

Nós  temos  Miranda^  cidade^  etc.  —  Mlrandas,  aldeia.  — 
Mirandella  e  M^randos. 

Também  temos  Mirancas  e  Mirancos,  talvez  formas  de 
Mirandas  e  Mirandos,  —  e  Miranquinhos,  aldeia,  diminutivo  de 
Mirancos. 

A  Hespanha  tem  M'^anda,  Mirandela,  e  Mlrandilla,  que 
se  lê  Mlrandilha,  o  mesmo  que  Mlrandinha  e  Mirandella,  di- 
minutivos de  Miranda.  —  Não  tem  Mirandas  nem  Mirandos^ 
—  Mir ancas  nem  Mirancos,  mas  tem  Mirancinos,  que  se  lê  3Ii- 
rancrnhos,  quasi  Miranquinhos í ! ... 

Note  se  que  o  c  já  valeu  l'  e  q. 

Prosigamos. 


* 


8/ — Palaçoulo. 

Esta  freguezia  tomou  claramente  o  nome  do  baixo  la- 
tim palatiolus,  ^,  — palaciolo,  palaçólo  —  Palaçoulo,  diminutivo 
de  palatium  —  palácio  e  por  contracção  paço,  como  Pacô  é 
contracção  de  palaçólo  ou  Palaçoulo. 

Esta  forma  de  diminutivos  com  a  desinência  olus,  ola 
foi  trivial  na  edade  média  e  deu  o  nome  a  muitas  povoações 
nossas.  Taes  são  Alijo,  Arneiros,  Barro,  Bruço,  Celleiró,  Cel- 
leiroz.  Eiró,  Eduró,  — Figueiró,  o  mesmo  que  Figueirôa  ;  Fj.- 
jó,  Grijó,  Leiró,  Lijó.,  o  mesmo  que  Alijó;  —  Lorjó,  Mm^eiró, 
o  mesmo  que  Moreirola ;  —  Mosteiro,  Paço,  Palaçoulo,  Pereiro^ 
laboaçó,  Travassô,  Vinho,  Sidró,  etc. 


Petites  ctymologies  bretonncs.—  Quimper,  1882,  1  vol.  8.°  grande. 


30  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Veja-se  o  tópico  infra  —  Diminutivos  em  olus,  ola — e  a 
primeira  parte  d'estes  meus  dislates. 

Algumas  etymologias  d'aquelles  diminutivos  são  bastante 
nebulosas  e,  como  o  tópico  indicado  virá  longe,  —  se  algum 
dos  leitores  tiver  empenho  em  sabel-as,  —  basta  que  me  diga 
as  que  pretende. 

9^—Paradella. 

Nós  temos  muitas  freguezias,  casaes,  quintas  e  aldeias 
com  os  nomes  de  Parada,  Paradella,  Paradellas^  Paradellinha, 
Paradinha,  etc.  —  Todas  ellas  tomaram  o  nome  do  antigo 
portuguez  parada  -  jantar  ou  refeição,  que  os  habitantes  ou 
cultivadores  das  ditas  terras  ou  povoações  eram  obrigados  a 
dar  aos  senhores  d'ellas,  quando  as  visitassem  por  occasiáo 
de  caçadas,  etc. 

As  ditas  paradas  eram  por  vezes  muito  incommodas, 
muito  pesadas  e  muito  caras,  mas  quasi  sempre  raras,  pois 
só  de  longe  em  longe  os  reis,  os  bispos  e  quaesquer  outros 
senhores  das  ditas  terras  as  visitavam  pessoalmente. 

Com  o  volver,  porém,  do  tempo,  as  ditas  refeições  ou 
jantares^  que  deviam  ser  pagas  em  géneros,  foram  por  impo- 
sição dos  reis  e  dos  senhores  das  terras  arbitradas  em  di- 
nheiro, pelo  que  o  termo  parada  se  tornou  synonimo  de 
tributo,  mais  ou  menos  pesado  e  annual,  que  se  denominou 
também  Jaw ia?',  censo^  colheita  e  procuradoria. 

Vide  Jantar  e  Parada  em  Viterbo,  —  artigos  muito  cu- 
riosos. 

Prosigamos. 

* 
*      * 

10.^  — Picote. 

O  nome  d'esta  freguezia  foi  tirado  de  picote,  o  mesmo 
que  picoto,  sitio  alto,  a  modo  de  pico,  outeiro,  cimo  agudo 
d'um  monte. 

Cf.  Picarò,  Picaritos.,  Pico,  Picoila,  Picota,  Picoteira^  Pi- 
cotim,  Picotinho,  Picoto  e  Picotos  —  mais  de  50  povoações  nos- 
sas. 

Picote  é  o  mesmo  que  Picoto,  pois  na  onomástica  portu- 
gueza  e  e  o  trivialmente  se  confundiram  e  substituiram. 

Cf.  AJfehrinho  e  Alfobrinfio;  Arrojello,  por  Arroiello,  o 
mesmo  que  ArroyoUo  por  Arraiollo,  pequeno  arroio  :  —  Per- 
fia  e  Porfias;  Beiraniia  e  Boiranita;  Boirana  por  beirana,  o 
mesmo  que  beirôa,  fem.  de  Beirão^  etc. 


TENTATIVA    ETYAÍOLOaiCO-TOPONYMICA  31 


Hony  soit  qiii  mal  y  penf^oi.. 

Juíite-se  Ervedeiro^  Ervrdeiro  e  Orbideiro^  o  mesmo  que 
Ervednro  e  ervodo—  medronheiro. 

Ortezedo  por  Ortozedo  (cf.  O^ío^e/Zo)— povoações  nos- 
sas, como  Barrete  e  Barreto ;  Cerp.je  e  Cerejo ;  Gontije  e  Gon- 
tijo;  Liméde  por  limêdo  —  e  Miirtêde  por  miirtêdo,  o  mesmo 
quo  Murtosa;,  povoações  nossas. 

Temos  ainda  Marzogueira  e  Murçogiieira,  por  morceguei- 
ra,  abundante  em  morcegos? t .  .. 

A  etymologia  de  Marzogtieira  é  um  espécimen  d'' arte 
nova. 

Junte-se  Quintella  e  QuintoUa;  Reboreda  e  Roboreda\ 
Reboredo  e  Roboredo ;  ^  Recaio  e  Roçai  o ;  Reboleiro,  Rebo- 
leira e  Roboleiro,  etc. 

Picote  é,  pois,  o  mesmo  que  Picoto,  —  ou  diminutivo 
de  Picoto,  como  Picotinho  e  Picotim  por  PicotinJio,  povoa- 
ções nossas  também. 

A  desinência  o(e  em  portugiiez  coramum  designa  depre- 
ciação e  dimmtnção  — e  é  vulgar  entre  nós.  Na  onomástica 
portugueza  é  rara,  mas  também  se  encontra.  Alii  vão  alguns 
espécimens : 

Cabinotes,  plural  de  Cabinote. 

Cardote  por  Cardalote,  pequeno  Cardai. 

—  Carvalhote  e  Carualhotinho,  synonimos  de  Carvalhinho, 

—  Chiote,  Escravote,  Farinhote  (appellido),  Garrote, 
Leotet  3Iaricote,  Negrote,  Parrote^  Parrotes,  (talvez  formas 
de  barrote  e  barrotes)  \  Pellote  e  Fernão  Pote.,  povoações 
nossas. 

Fernão  Fote  é  talvez  o  mesmo  que  Fernão  Fote. 

Cf.  Permontelloy  Fermentellos,  Fermontellos,  Formentellos 
e  Frumento,  povoações  nossas,  cujos  nomes  foram  tirados 
do  latim  friimentum,  i  -  pão  em  grão:  trigo,  cevada,  milho^  etc. 

Cf.  também  F^ernandaires  e  Fernandares,  o  mesmo  que 
Fernandairesy  contracção  de  Fernando  Ayres,  o  mesmo  que 
Fernando  Árias,  —  de  Árias.,  antigo  nome  pessoal,  que  deu 
Airas,  Ayres,  etc. 

Também  temos  varias  povoações  com  os  nomes  de  Fe7'- 
nando  Carneiro,  Fernando  Affon,<o,  Fernando  Luiz,  e  Fer^ 
nandolena  por  Fernando  Leira  ou  Fernando  Oleira. 

Note-se  que  Oleira  e  Leira  são  povoações  nossas. 


Estes  últimos  4  nomes  foram  tirados  do  latim  robiir  —  carvalho. 


32  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Junt3-se  Fernão  Bacho  e  Fernãohico  por  Fernão  Bacho 
ou  Pernambuco? 

— Fernão  Calvo,  Fernão  Dias^  Fernão  Domingues,  Fernão 
Garcia^  Fernão  Gil,  Fernão  Joannes^  Fernão  Lobo,  Fernão 
Mendes  (i),  Fernão  Menino,  Fernão  Pinto  (?)...., — Fernão 
Porco  (?). — Fernão  Vaz,  etc,  povoações  nossas. 

Também  temos  3  aldeias,  uma  quiuta  e  um  casal  com  o 
nome  de  Ferrão  —  o  mesmo  qne  Fernando  e  Fernão  —  pois 
Fernando  vem  de  Ferdinand,  nome  germânico,  —  em  latim 
Ferdinandus,  que  no  baixo  latim  deu  Fernandus  e  Ferrandiis^ 
—  unde  Fernão  e  Ferrão^  appeliido,  etc. 

Com  a  desinência  ote  ainda  temos  Pinhote,  contracção  de 
Pinhalote,  diminutivo  de  Pinhal,  como  Punheteipor  Pin/iete, 
contracção  de  Pinhalete^  o  mesmo  que  Pinhalote. 

Ainda  hoje  temos  povoações  com  os  nomes  dePinhefe  e 
Punhete,  posto  que  a  villa  de  Punhete  que  estava  na  foz  do 
Zêzere  foi  chrismada  e  é  hoje  denominada  —  Villa  Nova  de 
Constância,  como  já  dissemos. 

Junte-se  ainda  Sacotes,  plural  de  Sacofe. 

Cf.  Sacota^  Sacoto  e  Saciitos,  povoações  nossas  que  po- 
diam tomar  o  nome  dos  sacos  —  ou  de  Z'icutus  —  Zacuto^  an- 
tigo nome  pessoal,  que  podia  dar  também  Sagute  (por  Zacute). 
povoação  nossa. 

Ainda  temos  Valigote,  o  mesmo  que  Valgode  por  valgote  e 
este  por  vallegote,  diminutivo  de  valle,  -  antithese  de  Yalle- 
gões  augmentativo  de  valle s. 

Com  a  mesma  desinência  ote  ainda  temos  as  povoações 
denominadas   Virote  e  Zote. 

São  ellas  dois  simples  casaes,  pelo  que  na  minha  opinião 
tomaram  os  nomes  de  Virote  e  Zote  —  apodos  ou  appellidos 
tirados  do  portuguez  virote  —  espada  curta  —  e  de  zote  —  pa- 
teta, maluco,  idiota. 

Cf.  Lança,  Espada,  etc,  appelidos  tirados  das  armas,  — 
e  Doide^  quasi  Doido,  —  Casal  Doido,  Casal  do  Louco,  do 
3farra,  do  Perlim,  do  Pernas ;  —  Bodegãa,  Fome^  Fonina, 
Maluca,  etc,  casaes  nossos. 

Basta  de  Picote,   Virote  e  Zote,  etc.  —  Prosigamos. 


'  Este  Fernão  Mendes  c  quasi  homonyno  do  pobre  Fernão  Men- 
des Pinto  e  Fernão  Mendes  Minto,  auctor  e  martyr  das  suas  Perigrina- 
ções  na  índia,  no  Japão  e  na  China, 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  33 


11.^  —  Povoa,  antigamente  Pohra,  —  Do  baixo  latim /jo- 
pidn,  o  mesmo  que  populus  —  povo,  sitio  povoado,  —  aldeia, 
logar; — no  Alemtejo  monte ;— no  bispado  de  Bragança  — 
quinta^  etc. 

Ao  norte  do  nosso  paiz  também  foram  synonimos  de  po- 
pnlns  G  popula  —  villa,  viílar,  vUlarinlio,  —  c  no  Minho  assento, 
residência,  eido  e  aido  —  talvez  o  mesmo  que  assento  e  resi- 
dencia?/... 

Os  leitores  não  se  espantem,  por  que  a  etymologia  de 
eido  e  aido  ~  hahet  dentem  coelhi/... 

D'ella  já  se  occuparam  distinctos  escriptores,  mas — na 
minha  opinião  —  até  hoje  não  disseram  a  ultima  palavra  sobre 
tão  nebuloso  assumpto. 

De  passagem  direi  que  os  termos  eido  e  aido  são  comple  • 
tamente  desconhecidos  na  Estremadura,  no  Alemtejo  e  no 
Algarve, 

Ao  sul  do  Douro  —  nos  districtos  do  Porto,  Aveiro  e  Coim- 
bra —  também  mal  se  conhecem ;  —  pelo  contrario  são  muito 
conhecidos  ao  norte  do  Douro,  nomeadamente  no  Minho,  — 
mas  têem  variadas  significações. 

Em  algumas  terras,  como  em  Gondomar^  designam  ape- 
nas a  loja  ou  lojas  dos  bois;  — em  outras  o  terreiro,  qiiin- 
chóso  ou  quinteiro  do  estabelecimento  rural,  chão  que  ó  ou 
costuma  ser  vedado. 

Em  outras  terras  designam  aquelles  termos  um  pequeno 
chão  vedado,  —  contiguo  ás  habitações  ruraes  e  destinado 
para  flores,  alfaces,  hortelã,  salsa  e  outras  culturas  mimosas. 

Também  algures  designam  parte  das  terras  do  casal 
próximas  da  residência  dos  caseiros  e  dos  donos  d'ellas,  com- 
prehendendo  por  vezes  a  eira  e  o  espigiieiro. 

Noutras  terras  eido  e  aido  designam  toda  a  cerca  da  casa 
e  todo  o  prédio  contiguo  a  ella,  embora  seja  espaçoso. 

No  Alto  Minho  dão  o  nome  de  eido  a  um  casal  todo,  com- 
prehendendo  o  estabelecimento  rural,  abegoaria,  casas  d'habi- 
tação_,  toda  a  cerca  e  todas  as  propriedades  pertencentes  ao 
dito  casal,  —  embora  distantes  e  em  sitios  difíerentes,  como 
pinhaes,  devesas,  moinhos,  etc. 

Eido  no  Alto  Minho  é  synonimo  de  casal. 

Em  Rezende  (Beira  Alta),  o  snr.  D.  Joaquim  de  Carvalho 
Azevedo  Mello  e  Faro,  dono  da  luxuosa  casa  da  Soenga,  tem 
um  casal  impor tante_,  denominado  Eido^  que  vale  contos  de 
réis!... 


34  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Na  província  de  Traz-os-Montes  só  conhecem  o  termo 
eido^  que  vulgarmente  empregam,  indicando  o  logar  próprio 
das  coisas  e  pessoas.  Assim  lá  dizem  :  —  põe  o  chapéu  —  o  al- 
vião, a.  chave,  o  podão,  a  fouce,  o  machado,  etc, —  no  seu 
eido. 

Também,  estando  sentados  â  mesa  ou  na  cozinha,  é  tri- 
vial dizerem  :  —  vae  para  o  teu  eido  ;  estou  no  meu  eido  /  esse 
eido  é  de  teu  irmão,  etc. 

Eido  significa,  pois,  em  Traz-os-Montes  —  o  assento  ou  lo- 
gar próprio  de  cousas  e  pessoas,—  não  de  bois  nem  de  vaccas 

—  nem  de  ovelhas,  carneiros,  cavallos  ou  cabras. 

Também  lá  não  significa  entrada  nem  sahida,  pelo  que 
mal  pode  acceitar-se  a  pretensa  etymologia  latina  aditus  ou 
exitus  —  entrada  ou  sabida. 

Eido  talvez  seja  o  mesmo  que  aido,  mas,  como  já  disse- 
mos,—  no  Alto  Minho  e  em  Traz-os-Montes — eido  nada  tem 
com  exitus  nem  aditus. 

Agora  um  dislate  meu : 

No  Minho,  onde  mais  abundam  povoações  com  os  no- 
mes de  Eido  e  Aido,  temos  também  mais  de  500  povoações 
com  o  nome  de  Assento,  quasi  todas  no  districto  de  Braga, 

—  poucas  no  de  Vianna  e  do  Porto  —  e  no  resto  do  paiz  so- 
mente duas —  no  districto  de  Villa  Real  ?  !... 

Com  o  nome  de  Residência  temos  também  mais  de  300 
povoações,  demorando  quasi  todas  nos  districtos  de  Braga, 
Vianna  e  Porto,  —  na  região  dos  Aidos,  Eidos  e  Assentos  f  ! . .. 

—  Isto  me  leva  a  suppór  que  Aido,  Eido,  Assento  e  Residên- 
cia pertencem  á  mesma  familia — e  que  o  seu  tronco  foi  o 
latim  aedes  —  casa,  —  mesmo  porque  Braga,  centro  e  capital 
do  Minho,  foi  cidade  importantíssima  no  tempo  dos  romanos 
e  por  elles  denominada  Bracara  Augusta. 

Note- se  também  que  assento,  residência  e  casa  são  entre 
nós  quasi  synonimos  ? I . . . — E  talvez  que  aedes  no  latim  popu- 
lar da  região  bracarense  tomasse  a  forma  aedium  —  édio, 
quasi  eido  ff... 

Desculpem  tantos  dislates,  porque  do  embate  pôde  sa- 
hir  a  luz. 

A  Hespanha  não  tem  adio,  aido,  edio  nem  eido,  nomes 
communs,  mas  tem  nomes  similares  de  povoações.  Taes  são 
Ahedillo,  que  se  lê  Ahedilho,  quasi  Eidinho,  em  Burgos, 

—  Ahedo,  quasi  Eido,  em  Burgos  e  Hantander. 

—  Haedo,  o  mesmo  que  Ahedo,  em  Sontander  e  na  Vis- 
çaiaf!... 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  36 


—  Edillo,  O  mesmo   que  Ahedillo  supra,  —  em    Burgos, 

—  Edino  ou  Edino  —  em  Santander. 

—  Eidian,  Eido  e  Eidos  na  Gallisa  —  Pontevedra  —  e  só  na 
provinda  de  Pontevedra^  —  nos  concelhos  ou  ayuntamientos  de 
Cafuza^  Puente  —  Caldellas,  Paenteareas,  Vigo,  Tuije  Redondela. 

Prosigamos. 

12.^  —  6'.  Martinho  d^Angueira. 

Muito  provavelmente  esta  freguezia,  bem  como  a  linda 
ribeira  que  a  banha,  chamada  Angneira,  tomaram  o  nome  de 
Anghera,  tribu  de  Marrocos,  mesmo  porque  a  dita  ribeira 
vem  da  llespanha  e  lá  denomina-se  Anguéra, 

Note-se  que  este  concelho  de  Miranda  parte  com  a  pro- 
víncia de  Zamora,  que  muito  provavelmente  tomou  o  nome 
de  Azamor,  cidade  de  Marrocos  também. 

A  cidade  de  Zamora  já  foi  nossa  no  tempo  do  conde  D, 
Henrique  e  da  rainha  D.  Thereza,  pelo  que  .D.  Affonso  Hen- 
riques, tendo  apenas  14  annos  de  edade,  se  armou  cavalleiro 
na  cathedral  de  Zamora  no  anno  1125. 

A  Hespanha  tem  varias  povoações  com  os  nomes  de 
Zamora,  Zamoranos,  Zamorela  e  Zanbroncinos,  por  Zamoron- 
cinos,  que  se  lêem  Samora,  Samoranos,  Samorella  e  San- 
broncinos. 

Nós  não  temos  Zamora,  mas  temos  com  o  diapasão  leo- 
nez  Samor,  por  Zamor  e  este  por  Azamor; — Samora  por 
Zamora  ;  —  Samor  ão  por  Zamor  ano  supra  ;  —  Samor  im  e  'Sa- 
morinha  por  Zamorim  e  Zamorinha,  que  recordam  Zanbron- 
cinos por  Zamoroncinos  supra. 

Samorim  e  Samorínha  vêem  do  baixo  latim  Samorinus, 
Saynorina,  o  mesmo  que  Samor  anus, -Samor  ana,  filho  ou  oriun- 
do de  Samora  ou  Zamora. 

Cf.  Zamoranos,  em  portuguez  Samoranos,  povoação  de 
Hespanha,  —  e  Samorão^  o  mesmo  que  Samorano  ou  ZamO' 
rano,  povoação  nossa,  como  Adriano  e  Adrião,  Romano  e  Ro- 
mão, etc,  nomes  de  santos  e  de  povoações  nossas. 

Junte-se  Vairão,  freguezia  que  tomou  o  nome  de  Vale- 
rião,  o  mesmo  que  Valeriano,  nome  d'um  santo,  diminutivo 
de  Valério,  em  latim  Valerius,  ii,  também  nome  romano  e 
nome  d'um  santo,  que  se  encontra  em  S.  João  de  Ver,  fre- 
guezia nossa,  antigamente  denominada  Sanctus  Joannes  de 
Valerii  —  i?.  João  de  Valério. 

Também  temos  Valério,  quinta. 

* 


36  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


13.*  —  Senãim. 

O  nome  d'esta  freguezia  de  Sendim^  que  é  a  mais  popu- 
losa do  concelho  de  Miranda  ^  —  vera  de  Sendintís,  i,  antigo 
nome  pessoal,  o  mesmo  que  Sandimis,  i  e  Sandinkis,  ii^  dimi- 
nutivos de  Sandus,  i  (?)  que,  além  dos  diminutivos  Sandinus, 
Sandinius  e  Sendinms,  deu  Sandanus,  i,  —  e  Sandianus,  i,  is^ 
—  unde  Sandão,  Sande,  Sandiães,  Sandim,  Sandinha,  Sandi- 
nho,  Sendiães,  Sendim,  Sendinha,  Sendinho,  Sinde  e  Sindim, 
o  mesmo  que  Sandim  e  Sendim,  povoações  nossas. 

Que  prolífico  nome  foi  o  tal  Sandus  ou  Sindtis,  i,?!.,. 

Na  Hespanha  apenas  deu  Sandan^  Sande^  Sandin,  Sando, 
Sendin,  Sendiíia  (Sendinha)  —  e  Torresandino  —  Torre  de  San- 
dino. 

Sandino  é  também  appellido  nosso  ainda  hoje. 

Mas  d'onde  virá  Sandus,  i?  —  ou  Sindus,  i? 

Sandus  encontra-se  como  prefixo  em  Sandimirus^  ?,  que 
deu  Sandemiro,  povoação  da  Hespanha;  —  Sandomil  e  Santo- 
mil,  povoações  nossas,  pelo  que  Sandus  poderá  vir  do  germâ- 
nico ou  teutonico  sand,  em  latim — verus,  verdadeiro,  como  já 
li  algures,  com  o  suffixo  germânico  trivial  mir. 

Mas  talvez  que  o  prefixo  germânico  sand  seja  uma  forma 
de  sind,  que  se  encontra  em  Sindulphus,  i  —  Sindulpho,  nome 
claramente  germânico  e  nome  d'um  santo,  etc,  unde  Cendufe 
por  Sendufe,  povoação  nossa. 

Também  supponho  q\xe  Sandimirus,  ^,  supra,  é  uma  forma 
de  Sindimirus,  i  —  o  mesmo  talvez  que  Sindimio,  também 
nome  d'um  santo,  etc. 

Também  Sandus,  i  pôde  ser  contracção  de  Senandus,  i, 
que  se  encontra  em  Senande  e  Senant,  povoações  de  Hespa- 
nha,—  e  ewL  Senande  e  Sernande  ou.  Cernande,  povoações  nossas. 

Por  seu  turno  Senandus,  i  é  talvez  contracção  de  Sezi- 
nandus,  i  —  Sezinando,  antigo  nome  pessoal  e  nome  d'um 
santo,  que,  pela  forma  Senandus  e  Sernandus,  i,  supra,  podia 
muito  bem  dar  SernandiceUus  i  —  unde  Sernancellus,  i  — 
Sernancelhe,   villa  nossa,  cuja  etymologia  Tiabet  dentem  coe" 


1  Sendim  tem  cerca  de  350  fogos  e  1:500  habitantes;  —  a  pobre 
cidade  de  Miranda  com  as  suas  4  freguezias  annexas  tem,  como  já  disse- 
mos, —  247  fogos  e  910  liabitantes?!. . . 

-  Veja-sc  o  tópico  infra  :  — «Diminutivos  com  a  desinência  cellus, 
cellí^y. 

—Também  Sezinando  deu  Sizandro,  casal  nosso. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONVMICA  37 


Também  Sandus,  i  podo  ser  o  mesmo  que  Indos,  i  —  o 
Indo^  rio  que  deu  o  nome  á  índia  e  que  também  se  denomi- 
nou SandOj  como  diz  Poyares,  paginas  230  e  371. 

Com  vista  ao  snr.  dr.  Joaquim  da  Silveira^  da  Anadia^ 
meu  atávico  successor,  depositário  dos  meus  caros  verbetes 
e  do  meu  arsenal  etymologíco  ! . . . 

E'  s.  ex.*  o  amigo  mais  ingrato  que  n'este  mundo  en- 
contrei, como  já  disse  e  repito. 

Não  só  lhe  dei  os  meus  caros  verbetes  etfjmologicos  todos ^ 
que  pesavam  cerca  de  90  kilos,  —  fructo  do  meu  insano  tra- 
balho de  10  a  12  annos,  —  mas  dei-lhe  também  maitos  livrou 
raros  e  caros,  entre  elles  um  bello  exemplar  completo  do 
Portugaliae  Monumenta,  muito  bem  encadernado  em  dois  vo- 
lumes que  pesavam  15  kilos !. . . 

Fui  demasiado  generoso  para  com  s.  ex.*  e  hoje  estou 
arrependido,  porque  á  ultima  hora  soube  que— padece  de  ata- 
vismo ?  / . . 

A^  bon  entendeur  —  demi  mot. 

Prosigamos. 


Também  Sande,  Sandim,  etc,  —  podem  vir  de  Zante,  no- 
me vulgar  d'uma  ilha  do  Árchipelago,  chamada  em  latim  Za- 
kynthos,  i,  versão  do  grego  Éyakinthos^  ilha  do  mar  Jonio, 
perto  do  Peloponeso,  —  unde  jacintho,  ílôr  e  Jacyntko,  nome 
d'um  santo,  etc.  ^ 

Também  Sande,  Sandim,  Sandinho,  Sando,  etc,  podem 
vir  do  latim  sanctus  —  santo. 

Cf.  Santino  e  Santo,  antigos  nomes  pessoaes  e  nomes  de 
santos,  —  como  Bom  e  Bôa,  em  latim  Bónus,  Bona.  ^ 

Também  Sande^  Sandiães,  SandiãOf  Sandim,  etc,  podem 
vir  do  teutonico  ou  flamengo  sant  ou  sand  por  zand,  areia, 
prefixo  de  Santhamptum  —  cabedello,  cabo  ou  pontal  d'areia, 
—  antigo  nome  d'uma  povoação  marítima  de  Flandres,  hoje 
Nieivport  —  villa  nova  —  como  se  lê  em  Chotin,  pag.  120.  ' 


^     V.  Figueiredo,  Magnum  Lexicon  e  Poyares  supra,  paginas  445. 

2  Saníino  podia  dar  Sandino,  como  Centiães  deu  Sendiães  —  e 
Centieira  deu  Sendieira,  povoações  nossas  que  tomaram  o  nome  de  centeio!... 

3  Vide  A.  G.  Chotin,  —  Êtudes  étyniologiques  siir  les  noms  de 
lieu  de  la  Flandre  Occidentale.  Ypres,  1887,  1  vol.  8.°  grande. 

Foi  uma  das  muitas  obras  francezas  que  eu  comprei,  li  e  extra- 
ctei  para  os  meus  estudos  etymologicos.  D'ella  tirei  muitos  dos  verbetes 
que  tolamente  dei  ao  meu  ingrato  successor? I. . . 


38  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Damião  de  Góes  in  Hispânia  também  disse  que  o  appel- 
lido  Sande  é  germânico  e  quer  dizer  sabulosus  —■  orenoso,  — 
o  mesmo  que  Arnoso  e  Aroso  ?  /. . . 

Também  Sinde,  Sindim^  Sindino,  etc,  recordam  Suindi- 
nun?,  capital  dos  Cenomanos,  povo  da  Gália  Transalpina^ 
cuja  provincia  e  cujo  destino  actualmente  sè  ignoram.  Ape- 
nas se  sabe  que  um  ramo  d'este  povo  no  século  vi  atraves- 
sou os  Alpes  e  fixou-se  na  Itália,  onde  teve  as  cidades  de 
Brixia  (Brescia),  Cremona  e  Mantua, 

V,  Cenojnans  em  Devars. 

De  Cremona  veiu  talvez  Carmona^  appellido  nosso; 
Mantua  foi  a  pátria  de  Virgílio,  pelo  que  se  cognominou 
Mantuario,  —  e  Brixia  talvez  desse  o  noije  de  briche  a  certo 
estofo  de  panno  barato,  grosso,  como  a  saragoça  tomou  o 
nome  da  cidade  de  Saragoça  —  e  esta  de  Caesar  Augusta  ou 
antes  de  Siracusa  ?  / . . . 

E'  bem  conhecida  também  entre  nós  a  saragoça  rainha, 
assim  denominada  —  não  por  ser,  como  effectivamente  é,  a 
rainha  das  saragoças^  absolutamente  a  melhor  de  Portugal, — 
mas  por  ser  fabricada  pelos  Rainhas,  grandes  iudustriaes  de 
Gouveia.  Deixaram  uma  fortuna  de  quinhentos  a  seiscentos 
contos,  obtida  muito  honradamente  só  com  o  esmerado  fa- 
brico da  saragoça?!.,.  * 

Também  os  razes  tomaram  o  nome  de  Arraz  ;  —  o  panno 
sedan  —  de  Sedan ;  o  estofo  gobelem  —  de  Góbelin  ;  a  bretanha 
— da  Bretanha;  o  jogo  malabar  —  do  Malabar  ;  a  bisca  sueca  e 
a  gymnastica  ,meca  —  da  Suécia  ;  o  jogo  pacáu  —  de  Macau  f  ; 
as  tangerinas  —  de  Tanger ;  os  damascos  —  estofo  e  fructa  — 
de  Damasco  ;  os  pecegos  —  da  Pérsia  ;  a  couve  gallega  —  da 
Galliza —  e  a  murciana  —  de  Murcia  ;  as  danças  cracoviana. 
varzoviana  e  siciliana  —  de  Cracóvia,  Varsóvia  e  Sicília  ;  o 
solo  inglez  —  da  Inglaterra ;  as  quadrilhas  francezas  —  da 
França  ;  o  cordovão  e  a  azeitona  cordovil  —  de  Córdova ;  o 
marroquim  —  de  Marrocos  ;  as  peras  ^i^aça* — de  Picasa,  nas 
ilhas  Baldeares ;  os  figos  burjaqotes  —  de  Burjasot,  povoação 
de  Valência ;  as  malgas  —  de  Málaga  —  e  esta  de  Mala- 
ca? etc. 

Volvendo    ao    thema   Suindinum   supra,    ainda  diremos 


1  Vcja-se  no  Portugal  antigo  e  moderno  o  meu  artigo  Villa  No- 
va de  Tazem,  onde  fallei  amplamente  dos  Rainhas.  Veja-se  também  o  vol. 
1.  d 'esta  Tentativa,  pag.  369. 


TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  39 


que  Suindínum  podia  dar  Sindinum,  Sindinus,  Sindini,  etc.  — 
unde,   Slnde,  Sindim,  Sindino,  Sandim,  Sendírn,  Senf/ino,  etc. 

Também  Sandelhão  por  Sandilhão,  Sandiães-,  ^Sandião, 
etc.  —  |.odem  vir  de  Sandilanus,  i,  is,  diminutivo  de  Sojidila^ 
nome  germânico,  mencionado  em  um  documento  do  século  xi. 

Vide  Areja,  no  Portugal  antigo  e  moderno. 

Talvez  que  Sandila  seja  uma  forma  de  Zandilas,  nome 
pessoal  do  século  vi. 

<(.Zandilas,  praefectus  eorum   qui  domi   nutriebantur..^* 

Procopius,  pag.  404. 

Também  Sandião  supra,  povoação  nossa,  talvez  seja 
uma  forma  de  *S.  Dion  e  n'este  caso  pôde  vir  de  Dion,  em 
portuguez  Dião,  antigo  nome  d'um  santo,  etc. 

Veja- se  o  meu  Diccionario  d'Appellidos  e  o  Santoral  hes- 
panhol  de  Barcelona. 

Também  Sandim,  Sendim,  Sendino,  Sinde,  Sindim,  etc, 
podem  vir  de  Sindhi,  região  da  índia,  ao  norte  de  Pendjab, 
unde  Sindi  ou  Sindhi^  nome  que  os  nossos  chronistas  deram 
ao  idioma  d'aquella  região  —  e  *SY»fZo  (portuguez  antigo)  — 
nome  que  se  dava  ao  mandarim  da  mesma  região,  como  diz 
o  sr.  Cândido  de  Figueiredo  no  seu  Novo  Diccionario  da 
língua  port  ugueza. 

Nós  também  temos  Centiães,  Centiaes  e  Santiaes,  povoa- 
ções que  tomaram  o  nome  de  centeio,  —  como  Sendiães  por 
Centiães  —  e  Sendieira  por  C^ntieira  ? ! . . ,  ^ 

Podia,  pois,  o  centeio  dar  também  Sandiães,  como  deu 
Santiaes,  Centiães  e  Sendiães. 

Que  mimosa  leitura  para  senhoras  —  e  mesmo  para  a 
maioria  dos  meus  poucos  leitores  ? ! . , , 

Somma  e  segue. 

* 
*      *  ' 

Também  Sendim,  Sendinho,  Sandino,  Sendino,  Sinde,  etc. 
podem  vir  de  Cindeo  e  Sindimio,  nomes  de  santos,  —  mesmo 
porque  Sindimio  podia  dar  Sindinio, 

Também  Sinde  pôde  vir  de  Cinde,  região  da  índia. 

«De  Badur  foi  ter  á  cidade  de  Por  e  d'alli...  foi  ató  oCinde.y>  * 


*  Mais  uma  vez  recommendo  aos  meus  poucos  leitores  a  Cfioro- 
graphia  Moderna,  onde  no  vol.  Vi  se  encontram  por  ordem  alphabctica 
todos  ou  quasi  todos  os  nomes  das  nossas  povoações,  incluindo  os  men- 
cionados supra. 

-    Couio,  Década  VL 


40  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Ad  ridendum  cf.  Chinde,  cidade  portugueza  da  Afinca 
oriental,  na  foz  do  Zambeze. 

Chinde  e  Cinde  ou  Sinde^  etc,  podem  ser  formas  do 
mesmo  nome,  como  Changai  e  Sangai,  —  Xisto  e  Sixto,  no- 
mes de  santos,  etc. 

Também  Sendim,  Sindim,  Sendino,  Sindino,  Sinde,  etc, 

—  podem  vir  de  Sindus,  i,  nome  pessoal  romano. 

«Magus  vero  Sindusque,  praefecti  Tiburtini, . . .  »  ^ 

Em  vulgar—  «Porém  Mago  e  Sindo,  prefeitos  .Tiburti- 
nos,. .  . )) 

E*  obvio  para  todos  que  Sindus,  i  muito  bem  podia  dar 
Sindinus^  i  e  Sindianus,  i,  is,  unde  Sinde,  Sindim,  Sendim, 
Sandim,  Sandiães,  Sandião,  Sendiães,  Sendinha,  Sendinho, 
Sendino,  Sandino,  etc. 

Julgo  que  nada*mais  ó  preciso  —  desculpem  a  franqueza 

—  para  ser  admittido  em  um  manicomio.  Entretanto  ahi  vão 
mais  alguns  dislates  meus. 

O  Sindus  —  Sindo,  de  Procopio,  também  podia  dar  Sin- 
delliis,  i  —  Sindello,  como  Francus  —  Franco,  appellido  e 
nome  d'um  santo,  tirado  do  germânico  franlc, — franco  o 
mesmo  que  francez,  —  deu  Franca,  Francisco  e  Francisca, 
também  santos,  —  Francella,  Francello,  Francellino  e  Francel- 
Una,  nomes  pessoaes  e  appellidos. 

Também  Marcus  —  Marco  e  Marcos,  nomes  de  santos  ti- 
rados de  marcus  —  martello,  deram  Mareia,  Marciana,  Mar- 
ciano, Marcella,  Marcellina,  Marcellino  e  Marcello,  nomes  de 
santos,  etc. 

Por  seu  turno  Sindelh^s,  i  deu  ou  podia  dar  Cendello, 
aldeia,  — Sendello  e  Sindello  appellidos  nossos. 

Ainda  com  relação  a  Sendim,  Sendino,  Sinde  e  Sindo, 
não  posso  deixar  de  transcrever  o  que  diz  Couto  y  Isaza,  vb. 
Eendesindo,  pag.  79. 

Refiro-me  a  uma  obra,  escripta  em  castelhano,  —  uma 
das  muitas  que  comprei  e  extractei,  mas  que  jà  não  possuo, 
porque  —  se  bem  me  recordo  —  a  dei  com  os  meus  caros 
verbetes  ao  meu  atávico  successor,  tantas  vezes  mencionado 


*    Procopius,  pag.  72. 

Procopio  chamou  Tiburtínos  os  prefeitos  de  Tiburtia,  hoje  Tivoli, 
pequena,  mas  muito  antiga  cidade  dos  Sabinos,  chamada  também  Tibur, 
por  ser  fundação  de  Tiburto,  filho  de  Amphiardo. 

De  Tibiiriia  provém  Tibiircío,  nome  de  um  santo.  Em  latim  é  Ti- 
biirtíus  o  mesmo  que  Tiburíinus. 


TENTATIVA    ETÍMOLOGICO-TOPONIMICA  41 


—  O  sr.  dr.  Joaquim  da  Silveira,  da  Anadia.^  —Nem  posso 
citar  o  titulo  d'ella,  porque  dei  também  ao  mesmo  ingrato 
senhor  —  como  chave  dos  meus  verbetes  —  a  indicação  das 
obras  nelles  citadas. 

Apenas  tenho  uma  vaga  lembrança  de  que  a  dita  obra 
era  um  estudo  etymologico  interessante,  relativo  á  Colômbia? !.„ 

O  extracto,  que  por  fortuna  conservo,  diz  textualmente 
o  seguinte:  * 

«...  En  un  antiguo  Inventario  de  siervos , . ,  en  el  qual 
predomina  el  nombre  Rudericus  ó  Rodericus  (Rodrigo),  bal- 
íamos el  nombre  Rodesindus,  y  el  patronimico  Rodezindix. .. 
y  entre  vários  exemplos  de  doble  denominacion  vemos  este: — 
Segesinda^  cognomento  Sinda. 

«Además,  hablando  Godoy  Alcântara  dei  nombre  Ilde- 
fonso y  dice  el  mismo  autor: — aild,  radical  que  entra  en  la 
composicion  de  vários  nombres  góticos :  —  líderedo,  IldegisOj 
Ildulfo,  Rdesi?ido, ...»  —  En  otro  logar  nota  que  el  radical 
de  Árias f  patronimico  de  Ares,  conbinando-se  con  otros  teu- 
tones,  formo  Ariamiro,  Ariulfo  y  Aresindo. 

«Es,  pues,  indudable  que  el  elemento  Sindo  ha  sido 
nombre  jpor  si  solo,  -^  y  es  mui  probable  que  RudesÍ7ido,  sea 
uno  compuesto  de  Rude  (riz)  ó  Ru  (y)  —  y  Sindo, 

«Es  tambien  de  advertir .  . .  que  los  nombres  terminados 
en  sindo,  además  de...  Gumersindo  y  Gumesindo^  Hermesinda 
y  Hermesinda,  hay  otros  muchos,  como  Wiliesindo,  Adosindo, 
Floresindo,  Gundesindo,  Osinda  y  Adosinda,  Ausinda,  Theo- 
dosinda,  etc.  * 

«Sindo  en  aleman  significa  —  que  tiene  séquito. y> 

Findou  aqui  o  extracto  e  é  muito  interessante  para  o  es- 
tudo etymologico  de  varias  povoações  nossas,  como  os  leito- 
res vão  vêr. 

^Ildulfo^  em  latim  Ildulfus,  i,  is,  deu  Adolfo  ou  Adol- 
pho  e  Adolfina,  nomes  de  santos^  etc.  —  Adoufe,  Dolves  e 
Doufins,  povoações  nossas.  * 


^    V.  a  pag.  37  supra,  e  no  vol.  i.  Joaquim  da  Silveira,  no  índice. 

■  Dou  o  extracto  cm  castelhano,  porque  os  meus  poucos  leitores 
entendem  bem  este  idioma,  irmão  gémeo  do  nosso. 

^  Occorre-me  também  Tructesindus  —  Trucfesindo,  que  deu  o 
nome  a  Tortosendo,  importante  freguczia  nossa. 

4  Também  Ildulfus  deu  Odulfo,  o  mesmo  que  Adolfo,  nome  d'um 
santo,  e  talvez  Ataulfus,  i,  nome  germânico,  undc  Adaufe,  Ufe,  Adufe 
Casal  dÕufe,  Casal  d' Ufe,  Estrada  d'Ufc,  Villar  d'Oufe  e  Fonte  d'Ufe, 
povoações  nossas. 


42  TENTA.TIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Dou  fins  vem  de  Adolfinis,  patronímico  de  Adolfiyius^  i  — 
Adolftno,  irmão  gémeo  de  Adolfina  supra. 

—  Ilderedo,  em  latim  é  Ilderedus,  i,  que  deu  Aldarete, 
Aldrete  e  Aldrêu,  povoações  nossas. 

—  Ildegiso  pela  forma  latina  Ildegisits,  i,  is  —  deu  Algé^i 
no  aro  de  Lisboa  ?  / . . . 

—  IldefonsiJs  deu  Ildefonso,  Affonso  e  Alonso,  nomes  de 
santos,  —  Affonsiirij  Affonso,  Affonsoeiro  por  Affonso  Soeiro^ 
Aldonsa  e  Fonxe^  povoações  nossas. 

Também  antigamente    se   dava    o  nome  Sanio  Alifon  à 
egreja  de  Santo  Ildefonso  da  cidade  do  t^orto. 
Somma  e  segue  o  prolifico  extracto. 

—  Aiosindo  e  Adosinda,  o  mesmo  que  Auzindo  e  Oxinda, 
na  minha  opinião  deram  Adosinda  e  Adosindo,  nomes  pes- 
soaes.  —  Ouxenda,  Oxenda^  Ozende,  Oxendo  e  Zendo^  povoa- 
ções nossas  ^ 

Também  temos  Oende  que  pôde  vir  de  Zende^  aferese  de 
Oxende,  como  Zeiido  veiu  de  Oxendo. 

Note-se  que  g  e  x  trivialmente  se  confundiram  e  substi- 
tuíram na  onomástica  portugueza. 

Cf.  Sargedo  e  Sarxedo;  Tojal ^  Tugal  e  Taxar  por  Tojal; 
Urge  e  Urxe;  Urjal  e  Urzal,  povoações  nossas. 

Também  temos  Varge  e  Varxea^  que  o  povo  denomina 
Varja  por  Vargea. 

Junte -se    Varxiella,    Varxiellas,    Varixellas  por  Varxiellas 

—  e  Vargellas,  povoações  nossas  também. 

Ao  mesmo  diapasão  obedeceiA  —  Aprigio  e  Aprizio,  — 
Brígida  e  Brixida,  —  Edwigis  e  Edwizes,  Juxarte  e  Zuzarte, 
nomes  pessoaes  e  appellidos. 

Volvamos  ao  prolifico  extracto. 

Rudericus  ou  Rodericus  e  o  seu  bárbaro  patronímico  Ro- 
deriquiz,  —  deram  Ruderico  e  Rodrigo,  nomes  de  santos,  — 
Ruyy  nome  pessoal,  —  Rodrigues^  appellido  vulgar,  —  Castello 
Rodrigo,  Rodriga,  Rodrigo,  Rodrigos,  Rorigo  e  Roriz,  contra- 
cção de  Róderiquiz,  povoações  nossas. 

Também  deu  Ruyz,  appellido  em  Portugal  e  na  Hespa- 
nha. 

Junte-se  Aldeia  de  Ruins,  o  mesmo  que  Aldeia  de  Ruizf 

—  Dom  Rodrigo,  Fonte  do  Rodrigo,  Monte  Rodrigo,  Padre  Ro- 
drigo, Vai  de  Rodrigo  e  Vai  do  Rodrigo,  etc,  povoações  nossas. 


1     Adosindo  é  o  mesmo  que  Ildcsindo,  mímcionado  no  prolifico  ex- 
tracto.—Note-se  que  o  prefixo  germ.  //,  deu  trivialmente  ai. 


TENTATIVA   ETV^MOLOGICO-TOPONYMTCA  43 


Rodrigo^  era  francez  Roderic  e  no  baixo  latira  Rodericus, 
vera  do  teutonico  rad  —  prompto,  activo,  —  ou  de  rad  ou  rat 
— conselho  —  e  rich  —  poderoso,  rico, —  segundo  diz  Boucrand. 

Rodrigo  tem,  pois,  o  raesmo  prefixo  de  Rodolpho^  em 
francez  Rodolphe,  também  nome  d'um  santo,  mas  o  suffixo 
de  Rodolpho  é  o  teutonico  vulgar  húlf  ^  —  ajuda,  soccorro ; 
em  celta  ulphe;  em  gaulez,  anglo-saxão  e  inglez  help  —  e  era 
flamengo  hulp  —  ajuda,  soccorro.^ — Veja-se  Boucrand. 

Rodolpho j  no  baixo  latira  Rodolphus  i,  e  Radulphiis,  i, 
deu  Rodolpho,  nome  d'um  santo,  —  e  Raul  nome  pessoal. 

Também  Raul,  no  baixo  latira  Raulus,  i,  deu  RaulinuSj 
i  —  unde  Raulino,  Raulim  e  Rolim,  appellidos  nossos. 

Tarabera  Rodolphus,  i  talvez  desse  Ral,  Rol  e  Roíife^  po- 
voações nossas. — Na  onomástica  portugueza  todas  as  vogaes 
se  confundiram  e  substituiram,  pelo  que  Ral  e  Rol  talvez  se- 
jara  fórraas  do  mesmo  nome. 

Em  antigos  docuraentos  nossos  tarabera  se  encontra  Ran- 
dulphus,  ij  nome  pessoal,  que  na  rainha  opinião  é  o  mesmo 
que  Rndulphus,  Rodolphus  e  Rodolpho. 

Note-se  que  a  letra  n  foi  muito  caprichosa!  —  Radul- 
phus,  sem  grande  violência  podia  dar,  pois,  —  Randulphus. 

Note-se  também  que  os  nomes  germânicos  na  passagem 
para  o  latira  e  do  latira  para  o  portuguez,  bera  corao  para  o 
castelhano,  italiano  e  francez,  —  foram  barbaramente  e  cruel- 
mente deturpados. 

Toraarara  fòrraas  tão  diversas,  que  por  vezes  não  pare- 
cera os  mesraos ! . , . 

Vide  Fõrstmann,  que  pacienteraente  indicou  as  variadís- 
simas formas  que  na  edade  média  toraarara  os  noraes  gerraa- 
nicos. 

Randulphus,   i,   deu  Rendolphis,    i,  e    Rendulphus,   i  — 

unde  Rande,  Randinha,  Randinho  e  Rando  ? —  Rendol,  Rendu- 

fas,  Rendufe  e  Rendufinho,  povoações  nossas.  ^ 

* 
*       * 

Volvendo  ao  theraa  Rodericus  —  i?oc?n^o  —  seja-rae  licito 


1  Esta  desinência  hulf  encontra-se  em  outros  muitos  nomes  germâ- 
nicos. 

2  Eni  Rendufe,  aldeia  do  concelho  de  Rezende,  tem  a  sua  esplen- 
dida casa  o  sr.  conselheiro  M.  Pereira  Dias,  que  foi  reitor  da  Universidade 
de  Coimbra,  —  e  é  natural  de  Rendufinho  {Povoa  de  Lanhoso)  —  o  sr.  D. 
Francisco  José  Vieira  de  Brito,  actual  bispo  de  Lamego. 


44  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


dizer  que  o  mesmo  suffixo  ri^h  —  poderoso,  rico,  se  encontra 
em  outros  muitos  nomes  pessoaes  germânicos.  Taes  são :  — 
Alarico,  Amalarico,  Ardarico,  Argerico,  Ermorico,  Frederico, 
Fromarico,  Genserico,  Gunderico,  Henrique  por  Henrico,  Her^ 
menerico^  Honorico  ou  Onorico,  Ilderico^  Romarico,  Sabarico, 
Theodorico,  Wiliarico  ou  Vilianco^   Viarico^  etc. 

Todos  ou  quasi  todos  estes  nomes  deram  o  nome  a  dif- 
ferentes  povoações  nossas,  como  os  leitores  vão  ver. 

—  Alarico,  no  baixo  latim  Alarieus,  Alariqui,  Alariquiz 
talvez  desse  Ariz^  povoação  nossa,  —  e  Amalarico,  no  baixo 
latim  Amalaricus,  Amalariquiz,  talvez  desse  Amares, —  como 
Henriquie^  patronimico  de  Henriciis,  deu  Henriques,  —  e  Vi- 
liariquiXy  patronimico  de  Viliaricus,  deu  Vilharigues,  povoa- 
ção nossa. 

Também  temos  Alhares  e  Alhariz,  que  tomaram  o  nome 
dos  alhos  ou  de  Aliar iquie,  pois  no  diapasão  castelhano  Alia- 
riquiz  soa  Alhariquiz,  unde  Alhariguiz  e  Alharix^t 

—  Ardarico,  no  baixo  latim  Ardaricus,  Ardariquiz^  vem 
do  teutonico  hart  —  corajoso,  valente,  '—  com  o  suffixo  noÃ, 
poderoso,  rico,  e  talvez  desse  Aldariz,  Aldrigo  e  Aldriz^  po- 
voações nossas. 

Ardarico  foi  rei  dos  Getas,  como  diz  Boucrand^  —  e  julgo 
que  teve  as  formas  Ilderico  e  Aldarico .' . .  . 
Vide  Fõrstmann. 

—  Argerico,  no  baixo  latim  Argericus^  Ârgeriquiz,  —  deu 
Arge7'iz,  Aljeriz,  Algeriz  e  Aljeruz!  ?. . .  — povoações  nossas. 

—  Rira  hien  qui  rira  le  dernier. 

Aljeriz  deu  Aljeruz,  porque  as  letras  e  e  w  se  confundi- 
ram e  substituiram  na  onomástica  portugueza  —  e  já  no  la- 
tim por  vezes  se  confundiram  e  substituiram. 

Veja-se  o  tópico  infra  —  Substituição  de  letras  —  q  no- 
te-se  também  que  em  trabalhos  d'esta  ordem,  como  já  disse- 
mos, —  a  bússola  é  o  ouvido ! , . . 

Prosigamos. 

—  Ermorieo,  no  baixo  latim  Ermoricus,  Ei^moriquiz,  — 
pela  substituição  do  r  por  s  —  deu  Esmorigo,  Esmorig^s,  Es- 
moriz e  Esmorins  por  Esmoriz^  —  como  felix  —  feliz,  —  na 
Hespanha  deu  San  Felix,  S.  Felices,  Sanfix  e  Sanfiz  —  e  entre 
nós  Sanfins  e  S.  Fins,  o  mesmo  que  S.  Felix,  S.  Feliz  e  San- 
fiz. Mas  supponho  que  Ermoricus  é  o  mesmo  que  Armoricus, 
Armoriquiz,  unde  Almoriz  e  Armoniz  —por  Armoriz,  povoa- 
ções nossas. 

A  bússola  é  o  ouvido,  além  de  que  as  vogaes  e  e  a  — e  as 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  45 


consoantes  /,  w  e  r  trivialmente  se  confundiram  e  substituí- 
ram, bem  como  ser, 

Veja-se  o  tópico  infra — Substituição  de  letra.^. 

Também  supponho  que  Armoricus  é  o  mesmo  que  Áre- 
moricus  —  Aremorico  ou  Aremoricano,  —  filho  ou  oriundo  da 
Aremorica,  antigo  nome  da  Baixa  Bretanha. 

N'este  caso,  Armorico  ou  Rrmorico  é  nome  cplta  ou  neo- 
ceítay  pois,  como  já  li  algures,  Armorica  ou  Aremorica  vem 
do  celta  ar  ou  are  -  junto  de,  —  em  frente  de  —  com  o  suf- 
fixo.  .  .  —  inar.  *  —  Armorica,  pois,  quer  dizer  —  povo  marí- 
timo ou  da  beira-mar  —  e  tal  é,  como  a  Bretanha,  a  nossa 
importante  freguezia  de  Esmoriz,  concelho  á^Ooar,  que  de- 
mora ao  sul  de  Espinho,  ao  longo  da  beira-mar. 

Prosigamos. 

Frederico,  no  baixo  latim  Frederieus,  Freieriquix^  —  deu 
Frariz,  e  Flariz,  o  mesmo  que  Frariz,  —  e  Frtiriz^  povoações 
nossas,  —  bem  como  Fradique,  appellido  hespanhol  e  portu- 
guez  —  e  antigo  nome  pessoal. 

Frederieus,  deu  Fraderiqui  e  Fradique  na  Hespanha, 
como  Henricus  deu  Henrique. 

Frederico  é  nome  d'um  santo,  etc.,—  e  Frederica,  nome 
actual  de  mulher. 

Note  se  que  Frederico,  em  francez  Fréderic,  vem  do  teu- 
tonico  fred  ou  fried  —  paz,  repouso, —  e  este  de  frieden  —  vi- 
giar, proteger,  defender,  —  com  o  suffixo  rich  —  poderoso, 
rico,  —  segundo  diz  Boucrand. 

Fromarico,  no  baixo  latim  Fromaricus,  Fromariquiz,  — 
deu  Formarigo  e  Formariz,  povoações  nossas. 

Fromarigo  Iben  Egas  figura  em  um  documento  do  anno 
de  1030. 

Veja-se  o  meu  longo  artigo  Vouzella,  no  Portugal  antigo 
e  moderno,  volume  xii,  paginas  2:116,  —  e  o  Catalogados 
Pergaminhos  da  Universidade  de  Coimbra,  paginas  113,  n.°  1. 

Iben  Egas  deu  Beniegas  e  Veniegas,  unde  Viegas,  povoa- 
ção e  appellido  vulgar  entre  nós. 

Viegas  é,  pois,  contracção  de  Iben  Egas  e  quer  dizer  fi- 
lho de  Egas,  porque  o  prefixo  Iben  é  árabe  e   significa  filho. 

O  mesmo  prefixo  ainda  hoje  se  encontra  em  muitas  po- 
voações nossas.  Taes  são  as  seguintes  : 


^     Com  vista  ao  sr.  dr.  Joaquim  da  Silveira,  depositário  dos  meus 
verbetes  e  do  meu  arsenal  etymologico!. . . 
Vejam-se  as  pag.  37  e  41  supra. 


46  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Bagauste,  contracção  e  deturpação  de  Iben  Augvsti,  pois 
na  minha  opinião  Ihen  Augusti  deu  Ben  Augusti,  Ban  Au- 
gusti  e  Banatigusti,  unde  Bagauste  / . . . 

A  bússola  é  o  ouvido.  ^ 

Junte  se  Baguaste,  povoação  nossa  também,  pois  na  mi- 
nha opinião  Baguaste  é  metathese  de  Bagauste? ! . . . 

Rira  bien  qui  rira  le  dernier, 

—  Baldreu  —  de  Iben  4-  Ilderedus,  i,  antigo  nome  pessoal, 
que  deu  também  Aldarete,  Aldreu,  e  Aldrete^  povoações-nossas. 

—  Baldrigo  —  de  Iben  -}-  Ildericus,  nome  germânico  infra. 

—  Bamonde  —  de  Iben  -f  Bdmundi,  patronimico  de  Ed- 
mundus,  i,  antigo  nome  pessoal,  que  deu  também  Amonde^ 
povoação  nossa. 

Junte-se  Barrozende  —  de  Iben  -\-  Rodesindi,  patronimico 
de  Rodesindus,  ?,  nome  pessoal  germânico  supra,  que  teve 
também  a  forma  Ramisindué,  i  e  deu  Ranzendo  e  Rozendo, 
nomes  de  santos,  —  Rezenda,  Rezende,  Rezenta,  o  mesmo  que 
Rezenda, — e  Rozende,  o  mesmo  que  Rezende,  povoações  nossas. 

Rozinda,  nome  de  mulher,  pode  vir  também  de  Rode- 
zinda  —  ou  antes  de  Rosina,  santa,  etc. 

Note- se  que  as  desinências  ina,  ino,  dos  nomes  pessoaes 
deram  muitas  vezes  inda,  indo. 

Cf.  Armelim,  ou  Armelino  e  Armindo. 

—  Armelina  e  Arminda. 

—  Carolina  e  Carlinda. 

—  Carolino  e  CarUndo. 

—  Carmelinda  e  Carminda. 

—  Carmelino  e  Carmindo, 

—  Ermelina  e  Ermelinda. 

—  Ermelino  e  ErmeUndo. 

—  Florina  e  Florinda^ 

—  Florino  e  Florindo. 

Florina  e  Florino,  —  são  diminutivos  de  Flora  e  Floro, 
antigos  nomes  de  santos. 

—  GaUinda  por  Gallina  —  e  Gallindo  por  Gallino,  —  di- 
minutivos de  Galla  e  Gallo,  —  nomes  de  santos,  etc. 

—  Junte-se  : 

Laurina  e  Laurinda  —  Laurino  e  Laurindo  —  diminutivos 
de  Latira  e  Lauro,  —  antigos  nomes  pessoaes.  La^^ro  foi  santo. 


^  A  escala  talvez  fôssc : 
Iben  —  Agusti  —  Benaugusti. 
Banaguste  —  Baganuste  —  Bagauste. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICOTOPONYMICA  47 


—  Idalina  e  Idalinda. 

—  Ido  Uno  e  Idalindo. 

—  Lucina  e  Lucinda  —  foram  santos,  bem  como  Lucinio, 
quasi  Lucino,  que  deu  Lucinda. 

Temos  finalmente  Jiaul,  Raulino  e  Raulindo. 
Rosina,    o    mesmo  que  Rosinda,  nomes  de  santos,  dimi- 
nutivos de  Rosa,  também  santa. 

* 

Volvendo  ao  thema  Ibcn—  filho,  junte-se  Bruzende,  po- 
voação nossa  também,  pois  é  o  mesmo  que  Barrozende, 
A  ttendite  et  vidette  : 
Iben  Rosendi  —  Benrosendi — Barrosendi  —  Barrozende. 

—  Banrozendi  —  Barozendi  —  Bruzendi  —  Bruzende  ! .  . . 
A  bússola  é  o  ouvido  —  e  note-se  que  ore  muito  falso. 
Somma  e  segue : 

—  Bem  Canis — de  Ben  Canis — filho  do  Cão,  —  appel- 
lido  nobre  e  antigo  de  Diogo  Cão,  etc.  ^ 

—  Bemnonis  —  de  Iben  +  Nonis  —  filho  de  Nono^  Nunes 
ou  Nuno, 

Nona,  Nonia,  Nonna  e  Nonno  foram  nomes  de  santos,  ti- 
rados do  adjectivo  numeral  romano  nonus  —  nono  que  deu 
também  Nonius  e  Nunus — Nuno,  nomes  pessoaes,  —  e  Nunes 
patronimico  de  Naus  —  appellido  vulgar,  —  unde  Nunes  e 
Nuno,  povoações  nossas. 

Também  Nonus  e  Nunus,  pela  substituição  de  n  e  m,  ^ 
deram  Mumus,  Mumius,  Munius,  Monius,  Moninus,  i,  Moni- 
nius.  ii,  Monilius,  ii,  Nonilius,  ii,  etc. 

Por  seu  turno  Mumus,  o  mesmo  que  Nunus,  deu  Muma, 
antigo  nome  de  mulher,  o  mesmo  que  Nono,  e  Nuna  —  e  tal- 
vez Monas,  nome  d'um  santo,  —  e  Mono,  appellido. 

Por  esta  solfa  Mumadona  e  Dona  Mnmadona,  pleonasmo 
de  Mumadona  por  Dona  Muma,  —  a  lendária  fundadora  de 
Guimarães  ou  do  riquíssimo  convento  de  monjas  e  monjes, 
que  produziu  aquella  cidade, —  é  o  mesmo  que  D,  Nuna  ou 


^  Leoncavallo  é  appellido  na  Hespanha— e  temos  differentes  nomes 
pessoaes  e  nomes  de  santos  tirados  das  feras.  Taes  são :  Tigre,  Leão, 
Urso,  Úrsula  e  Ursino,  diminutivo  de  Urso  —  o  mesmo  que  Ursulina  e 
Ursulino,  também  nomes  pessoaes,  mas  não  de  santos. 

2     Veja-se  o  tópico  infra:  substituição  de  letras. 


48  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Nuna  Dona  —  ou  D.  Muna,  que  se  encontra  em  Muna,  aldeia 
nossa!  ?. . . 

Também  Muna  recorda  Numa,  antigo  nome  romano  de 
Numa  Pompilio,  etc,  que  podia  dar  Numanus,  i,  is,  —  unde 
talvez  Numães  e  Numão,  povoações  nossas,  como  Lomão  por 
Numão  f .  , . 

Mumius  deu  Mumianus,  i,  is,  que  se  encontra  em  Mio- 
mães,   freguezia  do  concelho  de  Rezende,  pois  na  minha  opi- 
nião Miomães  é  metathese  Mumianisf/ , . . 
^    A  bússola  é  o  ouvido. 

Também  Mumius  deu  Muminius,  ti,  iis,  que  se  encontra 
em  Moumiz,  aldeia  nossa. 

Monius  deu  Monia  (villa),  unde  MonJia,  aldeia  nossa 
também. 

Por  seu  turno  Moninus,  i,  is  —  deu  Monim,  que  se  en- 
contra em  Ponte  do  Monim,  casal  nosso,  ^  —  Moninhas,  Mo- 
ninho,  Moninhos,  Monizae Moniz  —  povoações  nossas, —  e  Mo- 
niz, appellido  vulgar  pela  alta  cotação  do  lendário  Egas  Moniz. 

Também  temos  uma  freguezia  e  varias  aldeias  com  o 
nome  de  Mõe^,  tirado  talvez  de  Moniis,  patronímico  de  Mo- 
nius, ii  —  o  mesmo  que  Nonius,  ii.  ^ 

Monius  deu  também  Monilius,  ii  —  e  Nonius  deu  Noni- 
lius,  ii  —  unde  Monelhe  e  Nunelhe,  povoações  nossas?!. . . 

—  Seja  tudo  pela  alma  da  santa  Dona  Mumadona  e  do 
meu  bondoso  e  saudoso  amigo  F.  Martins  Sarmento. 

—  Com  vista  aos  srs.  Albano  Bellino  e  Abbade  de  Tagil- 
de,  —  meus  bons  e  velhos  amigos,  distinctos  escriptores  e  be- 
neméritos filhos  de  Guimarães. 

Como  estou  com  as  mãos  na  masssa,  direi  que  Albano  e 
Bellino  foram  santos.  O  nome  de  s.  ex  *^  é,  pois,  formado  por 
dois  nomes  de  santos  —  e  os  leitores  talvez  conheçam  algu- 
mas das  pessoas  infra,  cujos  nomes  são  formados  por  três  no- 
mes de  santos.  Eu  podia  citar  muitos  —  mais  de  500  — por- 
que já  organisei  uma  extensa  lista  d'elles. 


1  Monini  deu  Monim,  como  Severinus,  i  deu  Severino  e  Severim. 
—  Augusfinas,  i  deu  Agostinho  c  Agastem  por  Agosiim,  —  Lancfelinus,  i 
deu  Landim  e  Nandim  por  Landim,  etc. 

2  Veja-sc  o  tópico  infra :  —  Nomes  pessoaes  tirados  dos  adjectivos 
numeraes. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMTCA  49 


Ahi  vae  uma  amostra  do  panno  : 

—  D.  Clementina  Rosa  Duarte,  D.  Izabel  Perpetua  Mi- 
quelina, dr.  Joaquim  Luiz  Martha,  D.  Maria  C.  Josepha 
Isidora,  D.  Felicidade  Perpetua  Garcia,  D.  Aurélia  Aurora 
Duarte,  D.  Maria  Rosa  Felícia,  D.  Isaura  Urbano  Marçal 
e  D,  Anna  Luiza  Margarida  Duarte. 

Somma  e  segue. 

—  António  Augusto  Pedro,  Joaquim  Polycarpo  Félix, 
António  Manoel  Paulo,  Manoel  Affonso  Duarte,  Casimiro 
Bento  Pio^  dr.  Alberto  Thomaz  David,  Francisco  José  Libó- 
rio, Padre  Francisco  José  Patrício ^  distincto  orador,  escriptor 
publico,  ex-deputado,  etc. 

Por  ultimo  citarei  um  dos  homens  mais  ricos  da  anti- 
guidade —  Cecilio  Cláudio  Izidoro  —  em  latim  Caecilius  Clau- 
dius  IsidoriiSj  romano. 

Deixou  em  testamento  aos  seus  parentes  —  alem  d*ou- 
tras  bagatellas  ejusdem  fusfuris  —  4:116  escravos,  3 :tiOO  jun- 
tas de  bois,  107:000  cabeças  de  gado  lanigero  e  600:000  ar- 
ráteis de  prata,  como  diz  Plínio  e  se  lê  no  Diccionario  Clás- 
sico. 

Era  mais  rico  do  que  eu. 

Ao  meu  bom  e  velho  amigo,  rev.  sr.  João  Gomes  d' Oli- 
veira Guimarães,  distincto  escriptor  publico,  excellente  pes- 
soa e  muito  digno  abbade  de  7'agilde^  apenas  direi  que  Ta- 
gilde,  é  uma  aferese  de  Athanagíldí,  patronímico  de  Athana- 
gildus,  i  -  Athanagíldo,  nome  godo,  que  também  deu  Taínde, 
Tangil  e  talvez  Agilde,  contracção  de  Athanagilde,  povoa- 
ções nossas. 

Também  temos  Cagíl  e  Cagíde,  que  podem  ser  formas 
de  Tagil  e  Tágide  por  Tagílde,  pois  ca^  co,  cu  —  e  ta,  to,  tu, 
confundiram-se  e  substituiram-se  na  onomástica  portugueza, 
como  já  disse  e  provei  claramente,  evidentemente,  no  primeiro 
vol.  d'esta  Tentativa,  pag.  336. 

Athanagildí  também  deu  Athaide,  Thaide  e  talvez  Ca' 
liide  por  Thaide,  povoações  nossas?!. .  . 

Guimarães  veiu  claramente  de  Vimaranis,  patronímico 
de  Vimaranus,  i,  nome  germânico. 

Também  temos  Gomarães  e  Gumirães,  talvez  formas  de 
Guimarães —çi  podem  ter  a  mesma  etymologia  Gomares  e 
Gomariz,  por  Gomarins  {?)  —  de  Gomarínis,  patronímico  de 
Gomarinus,  i,  o  mesmo  que  Vimarinus,  í,  pois  Vi  ou  \Vi  em 
nomes  germânicos  deu  gui. 

Cf.    Guilherme,   versão   portugueza   de     Wilhelm,   nome 


50  TENTATIVA    ETYMOIX)aiCO  TOPONYMICA 


germânico, —  e  Wiliamirus  ou  Viliamirus,  i,  nome  germâ- 
nico também,  que  deu  Guilhamil,  Guilhemil  e  Guilhomil,  po- 
voações nossas. 

E  talvez  que  Vimaramis,  i  tivesse  também  a  forma  Vi- 
waredus,  i,  unde  Guimarei,  povoação  nossa.  ^ 

Vimaranufs  e  Vimarinus  ou  Vimaremis,  i,  parecem  di- 
minutivos de  Vimarus,  i,  que  por  seu  turno  deu  ou  podia 
dar  Vimara  {villa,  —  granja,  quinta,  ou  casa  de  campo)  — 
hoje  Guimara,  aldeia  nossa,  —  como  Fegulus,  nome  d'um 
santo,  deu  Regula  vtlla  —  hoje  a  formosa  villa  da  Régua. 

Os  nomes  germânicos  na  passagem  para  o  latim  —  e  do 
latim  para  o  francez,  hespanhol  e  portuguez  —  foram  barbara 
e  cruelmente  deturpados,  como  já  dissemos. 

Tomaram  por  vezes  formas  tão  estranhas,  que  nem  pa- 
recem os  mesmos!... 

*       * 

« 

O  sábio  allemão  Fõrstmann  indicou  muito  pacientemente 
e  muito  conscienciosamente,  grande  parte  d'aquellas  variadís- 
simas formas  em  uma  obra  muito  interessante,  que  eu  já  li 
e  extractei,  mas  que  infelizmente  agora  não  tenho  á  mão. 

Dignou  se  emprestar-ma  o  nosso  bom  amigo,  sr.  dr. 
Martins  Sarmento  e  deve  encontrar-se  na  bibliotheca  da  So- 
ciedade Martins  Sarmento,  em  Guimarães. 

A  Bibliotheca  Municipal  do  Porto  não  possue  a  dita 
obra,  o  que  lamento,  pois  é  indispensável  para  esta  ordem 
d'estudo,  mormente  com  relação  á  etymologia  dos  muitos 
nomes  das    nosssas  povoações,    tirados   de   nomes  germânicos. 

Alli  deve  encontrarse  com  as  suas  variantes  o  dito  nome 
Wimarus^  Wilmarus  ou  Viniaruf:,  —  e  os  seus  diminutivos 
supra  —  Vimaranus  e  Vimarinus,  /,  is,  que  deram  Guima- 
rães, Gomarães,  Gumirães  e  talvez  Gomares,  Gomariz  —  e 
Guiomar,  nome  d'uma  santa,  etc.  ^ 


*    Cf.  Ildcrcdus  c  Wilftcdus,  í,  Afredo,  nomes  .s^crmanicos. 

-  Nos  meus  sanloraes  encontram-se  Gumarc,  Gummaro,  Ul- 
maru,  Vuímaru,  Wlnmru  e  Wulniaro,  nomes  de  santos  que  -  na  minha 
opinião  são  formas  do  mesmo  nome,  bem  como  de  Vimarus,  Wimarus  e 
Wilmarus. 

Também  na  minha  opinião  —  Gumaro,  em  latim  Cumarus,  i,  podia 
sem  violência  dar  Gumaranus,  i,  is,  —  Gumarinus,  i,  is,  —  e  Gumiranus, 
i,  is  unde  talvez  Gomares,  Gomariz,  Gomarães  e  Gumirães,  metathese 
de  Guimarães  ? !. . . 

Valha-nos  o  santo  Fõrstmann  /, . . 


TENTATIVA   ETYMOLOOICO-TOPONYMIOA  61 


Ao  sr.  abbade  de  Tagilde,  benemérito  filho  de  Guima 
rães,  rogo  a  fineza  de  verificar. 

AUi  deve  encontrar  se  também  Wiliamirus  ou  Víliami- 
ruSy  i,  que  deu  Guilhamil,  Guilhemil  e  Guilhomil ;  Cazimi- 
riiSj  /,  que  deu  talvez  Creixomil^  freguezia  de  Guirnarãejf,  — 
Casmillo^  (luelvomil  e  Qnhromar  por  Qnixomiro^  povoações 
nossas. 

A  bússola  é  o  ouvido  —  e  os  leitores  não  se  espantem, 
porque  a  desinência  nnrus,  i,  dos  nomes  germânicos  na  ono- 
mástica portugueza  deu  mil  e  mar. 

Cf.  Leodomirus,  i  que  deu  Leonnl  e  Lo  mar ;  Theodomi- 
rus,  i,  que  deu  Theoniil  e  Thomar ;  Gunthimirtis,  i,  que  deu 
Gondomil,  Gontomil,  Candem/l,  {terra,  natal  do  snr.  conselheiro 
António  Cândido,  etc.)  —  Candomil,  Conttimil,  Contumillo  —  e 
Gondomar"?  I ... 

—  E'  assim  a  arte  nova.  Eu  sympathiso  com  ella,  mas — 
hahet  dentem  coelhi! .  .  . 

Prosigamos. 


Na  mesma  obra  do  sábio  allemão  Fõrstmann  se  deve  qx].- 
contra-r  Randulphus,  i,  que  deu.  Haul,  Nendol  e  fíol,  povoações 
nossas,  —  Hendufe  e  Ronfe^  povoações  do  concelho  de  Gui- 
marães, —  e  RendufinhOy  diminutivo  de  Rendufe. 

Também  alli  se  deve  encontrar  Sezinandus  ou  Sizenan- 
dus,  iy  que  deu  ou  podia  dar  Senande,  Sernande  e  Sande,  ou- 
tra freguezia  do  concelho  de  Guimarães. 

Lá  se  deve  encontrar  também  Athanagildus,  i,  que  deu 
Athaide,  Thaide,  Cahide,  Tagilde,  etc,  —  e  Veremundus,  i, 
que  deu  Bermudo,  nome  pessoal,  Bermndes,  patronimico  de 
Bermtfdo,  —  e  Veremundinus,  2,  que  deu  Vermoil  ou  Vermil 
—  e  Vermoim,  outra  freguezia  de  Guimarães  —  ou  Gumi- 
rães I . . . 

Lá  deve  encontrar-se  também  Segifredns  ou  Slgifrediis, 
i,  que  deu  Jesufrei,  povo  e  freguezia  do  concelho  de  Fama- 
licão, limitropho  e  visinho  do  de  Guimarães.  Supponho  que 
a  mencionada  freguezia  de  Jesufrei  no  século  xiv  se  deno- 
minava Cigoffreij. 

Refiro  mo  a  um  interessante  documento  da  Collegiada  de 
Guimarães,  publicado  pelo  snr.  abbade  de  Tagilde,  sob  o  n.<> 
89,  na  Revista  de  Guimarães,  volume  xxiii,  pag.  17. 

No  citado  documento  da  era  1389  —  anno  1351 — a  1.^ 
testemunha  foi   Vnasco  Lourenço,  abbade  de  Cigoffreij. 


52  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Na  minha  opinião,  pois,  Segifredus  ou  Sigifredus,  i  — 
deu  Jesufreij  Clgoffrei  e  Guilhofrei,  povoação  nossa  tambeni. 

Mas  —  dirão  os  leitores —  como  podia  Sigifredi  dar  Gui- 
lhofrei ? 

Lá  vamos. 

Sigifredi  sem  grande  violência  deu  Cigoffrey  por  Sigof- 
frey.  Por  seu  turno  Cigoffreij  deu  ou  podia  dar  Guilhofrei^ 
pois  íia  edade  média  ci  e  Jci  ou  qui  substituiram-se  e  confun- 
diram-se  na  onomástica  portugueza. 

Cf.  Jeguinte  e  Jeguintes,  povoações  nossas,  por  Jaguinte 
e  Jaguintes,  formas  de  Jacinthi,  Jacinfhis,  por  Hiacinthij  is, 
patronímicos  de  Jacinthus,  i,  que  se  lia  JaMnfhus,  i.  versão 
do  grego  —  Hyaldnthos  —  Jacynfho,  nome  d 'um  santo,  etc. 

Jacinthi,  Jacinthis,  que  soavam  Jaquinthij  Jaqtdnthis, 
deram,  pois,  sem  violência  Jaguinte^  Jagnintes,  —  Jeguinte  e 
Jeguintes. 

Note-se  que  Jacintho,  nome  pessoal,  vem  do  grego  hya- 
Jcintos  —  íiôr  e  pedra  preciosa  ;  em  italiano  Jacinto  e  giacinto  ; 
em  catalão  jacint  q  jacinto ;  em  hespanhol  Jadw^o;  em  fran- 
cez  hyacinthe  e  em  ^ortwgWQz  jacintho. 

Note-se  também  que  ainda  no  século  xi  entre  nós,  em 
vez  de  Jocintho,  escrevia-se  Jaquinto. 

«...  ego  marcela  una  cum  filliis  méis  iaquinto  et  froia 
placuit  miei. . .  ut  faceret  tivi  afilliata  mea  lemjjede  sicut  et 
facio  cartula  donationis  de  omnia  ereditate . . . » 

Documento  do  anno  1043    ^ 

Em  vulgar: — «Eu  Alarcella,  juntamente  com  os  meus 
filhos  Jacintho  e  Froia  ou  Froila,  *  muito  espontaneamente 
faço  a  ti,  Lempeda  (ou  Lamjmda?),  minha  afilhada,  doação 
de  toda  a  herdade ...» 

Do  exposto  se  vê  que  Jacinto  no  século  xi  era  Iaquinto 
ou  Jaquinto  —  e  que  o  termo  afilhada  vem  do  baixo  latim 
afilliata,  como  afilhado  de  afilliatus. 


*  Portugaliae  Monumenta  —  Diplomata  et  C/zor/ae,  pag.  200,  n." 
328. 

2  Este  nome  foi  vulgar  na  península  e  deu  Fruela,  Froiíanus,  i,  is, 
e  Froilaz,  unde  Forjão,  Forjães,  Froes  e  Froia,  povoações  nossas,  —  e 
Forjaz,  appellido  de  alta  cotação  em  Coimbra  no  meu  bom  tempo. 

Forjaz  é  o  mesmo  que  Froilaz,  patronímico  de  Froíla  ou  Froia, 
que  deu  também  Faroia,  appellido. 


TENTATIVA    KTYMOLOGTCO-TOPONYMICA  53 


Proseguindo  com  o  thema  ci  por  7d  ou  qui,  também  te- 
mos uma  povoação  com  o  nome  de  Joazím  por  Joacim  —  e 
este  por  Joaquim. 

Sarraquinhos  por  Sarraquinos  —  e  este  por  Sarracinos  — 
sarracenos. 

—  Serranchinos,  que  se  lê  Serranquinos^  o  mesmo  que 
Sarraquinos  e  Sarracinos,  supra; 

—  Sarrazim  e  Serrazim  por  Sarracim^  o  mesmo  que 
Serraqtãnij  povoação  nossa  também. 

Junte-se  ainda : 

—  Ancião  e  Anquião. 

—  Cimbres  e  Quimhres, 

—  Cínico  e  Quinico. 

—  Cintas  e  Quintas. 

—  Sintião  e  Quintião  —  povoações  nossas.  ^ 

Do  exposto  se  vê  que  na  onomástica  portugueza  ci  e  ki 
ou  qui  se  confundiram  e  substituiram. 

Também  se  confundiram  e  substituiram  ca  ou  ka,  Icè  ou 
qué^   ki  ou  qui,   kó  ou  co,  cu  ou  A'?í  —  e  gá,  gué,  gui,  gó,  gu. 

Também  no  diapasão  castelhano  igo  por  vezes  corres- 
ponde ao  portuguez  ilho. 

Cf.  o  hespanhol  higo  —  entre  nós  filho  —  e  mijo  (lê-se 
migo)  —  entre  nós  milho,  etc. 

Note-se  que  Portugal  foi  um  cantão  da  Hespanha, 

Cigroffrei  podia,  pois,  dar  Quigofrei,  Quilhofrei  e  Gui- 
Ihofrei. 

A  escala  é :  —  Sigifredus  —  Sigifredi  —  Sígofredi  —  Ci- 
goffrey  —  Quigofrei  —  Quilhofrei  —  Quilho  frei  ?  f  .  .  . 

Para  atesto  do  casco  ainda  direi  que  Sigifredus  —  Sigifrê- 
do  —  também  deu  Safrêdo,  povoação  nossa,  —  e  tíegefredi, 
antiga  povoação  nossa  também,  —  o  mesmo  que  Jesufrei, 
Cigoffrei  e  Quilhofrei. 

Carta  de  villa  segefredi, 

Portugalíce  Monumenta  —  Diplomata  et  Cartae  —  n.«  49, 
Livro  de  Manunadona,  —  documento  do  anno  10Õ7. 

Valha-nos  o  santo  Fõrstamnn  I . . . 


1  Junte-se  também  Recião,  Reguião,  Requiães  e  Requião,  povoa- 
ções nossas,  que  na  minha  opinião  tomaram  o  nome  de  Riquilanus,  i,  is, 
diminutivo  de  Riquila,  nome  germânico  pessoal, 

Com  vista  ao  meu  atávico  siiccessor,—  o  snr.  dr.  Joaquim  da  Sil- 
veira, da  Anadia,  ao  qual  dei  os  meus  caros  verbetes  e  o  meu  arsenal 
etymologíco,  porque  ao  tempo  mal  o  conhecia !. . . 


54  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


* 
*         * 

Como  bem  ou  mal  expuz,  Guílhofrei  pode  vir  de  Sigi- 
fredus,  i,  pela  forma  Cigoffrei,  mas,  para  descargo  de  cons- 
ciência, ainda  ouso  propor  uma  outra  etymologia  de  tão  es- 
tranho nome. 

Os  meus  poucos  leitores  e  os  mesmos  typographos  e  re- 
visores vão  dar  ao  diabo  a  cardada!... 

—  Gidlhofrei  pôde  vir  também  de  Wilifredi,  patronomico 
de  Wilifredus,  i,  o  mesmo  que  Walfridus,  Wllfredus  e  Al- 
fredo^ nomes  pessoaes  germânicos  e  nomes  de  santos. 

Wilifredus ,  i,  podia  dar  Guilhofrei,  como  Willihaldus^  i 
deu  Willibaldo,  Villebaldo  e  Vivaldo,  nomes  de  santos,  — 
Vivalvo  por  Vivaldo  —  appellido,  —  Guilhovai,  povoação  nossa 
—  bem  como  Guilhoveis  por  Guilhovais^  —  de  Willibaldis,  pa- 
tronomico de  Willibaldus,  i. 

Também  pelo  mesmo  diapasão  Wilifonsus,  o  mesmo  que 
Ildefonsus,  Alfonsus  e  Affonsus,  i,  —  Affonso,  nomes  de  santos, 
deu  Vilefonso,  antigo  nome  pessoal,  —  GaUfonxe,  Guilhafonce 
e  Guilhafonso,  povoações  nossas. 

Guilifonxi,  o  mesmo  que  Wilifonsi  ou  Vilifonsi  encon- 
tra-se  em  um  documento  do  século  xiii.  ^ 

Vilifonso  test.  —  encontra-se  no  Porta galiae  Monumenta 
em  um  documento  do  anno  1043.  ^ 

Ilefonso  é  nome  d\im  santo  e  uma  das  muitas  formas 
de  Ildefonso  e  Affonso^  nos  santoraes  hespanhoes. 

«...gracias  a  san  Ilefonso^...»  —diz  Covarriihias,  vb.  Leo- 
cadia. 

Willifonsus  ou  Ildefonsus  deu  também  Alonso  e  Alifon, 
nomes  de  santos. 

A  egreja  de  Santo  Ildefonso  (Porto)  representa  a  velha 
albergaria  de  Santo  Alifon,  o  mesmo  que  Santo  Ildefonso. 

Também  temos  Walahonso  e  Valabonso,  antigos  nomes 
pessoaes  e  nomes  de  santos,  que  talvez  sejam  formas  de  Va- 
la fonso  por   Vilefonso,  o  mesmo  que  Ildefonso!... 

Note-se  que  v.  e  f.  confundiram-se  e  substituiram-se, — 
bem  como  v.  e  /;.  —  /,  eu.  —  il  e  ai,  etc. 


1    Nova  Malta,  ii,  79. 

'    Dipl.  et  Cliartae,  pag.  199,  n.o  326,  — ibi. 

Também  na  Memoria  de  Leça  do  Balia,  pag.  85,  col.  2  a  —  em  um 
documento  do  anno  1021— se  lê...  hereditaíe  que  fuit  de  Domno  Vili- 
fonso ...» 


TENTATJLVA    KTYMOLOQICO-TOPONYMICA  55 


NÓS  também  temos  Vai  de  Affon.so,  aldeia,  que  talvez 
seja  uma  forma  de  Valahonso  ou  ÍValabonso,  o  mesmo  que 
Affonsof 

Também  temos  Valdoseiide,  outra  povoação,  que  podia 
tomar  o  nome  de  Valle-^Zendo,  povoações  nossas  também, 
—  ou  antes  de  Wildesindas,  ^,  nome  germânico  pessoal  que 
deu  Adosinda  e  Adosindo^  nomes  actuaes,  —  e  Alduzínda,  po- 
voação nossa,  —  de  Wíldosinda  villa  —  granja,  quinta  ou  casa 
de  campo  de  Wlldosindo,  o  mesmo  que  Aldosindo  e  Adozindo, 

* 

(iuilhofrei  pôde  vir,  pois,  de  Wilifridus,  i,  o  mesmo  que 
Walfridus,  Wilfredus,  Wilfredo  e  Alfredo ,  nomes  germânicos 
e  nomes  de  santos. 

Boucrand  diz  que  Alfredo  vem  do  teutonico  ai  —  todo 
ou  muito  —  e  fred  ou  frled  —  paz,  repouso,  —  significando 
Alfredo  —  homem  de  génio  muito  brando,  muito  doce,  —  três 
paisible. 

Também  diz  que  Alberto,  vem  do  teutonio  ali  —  todo,  in- 
teiramente, muito  —  e  bert  ou  be7'th  ou  brecht  ^  —  illustre.  Si- 
gnifica, pois,   Alberto  —  homem  muito    illustre^    muito   nobre. 

—  Com  vista  ao  meu  bom  e  velho  amigo  desde  «s  seus 
mais  tenros  annos  —  o  snr.  Alberto  Velíoso  de  Araújo,  distin- 
cto  escnptor  agrícola. 

*       * 

O  prefixo  á'' Alberto  e  à^ Alfredo  é,  pois,  —  segundo  Bou- 
crand, sábio  etymologista  francez,  —  o  teutonico  ai  ou  ali. 
Eu  concordo,  mas,  posto  que  nada  sei  d^allemão  e  menos 
ainda  do  teutonico  ou  antigo  allemão  {?),  —  supponho  que  o  ai 
ou  ali  em  questão  teve  as  formas  il  e  wil, —  illi  q  wili,  —  ild 
e  icild^  —  ildi  e  icildi,  que  na  passagem  para  o  latim  e  do  la- 
tim para  o  portuguez,  por  não  haver  n'estes  dois  idiomas  le- 
tra correspondente  ao  doble  u  ou.  v —  IV — teutonico,  ger- 
mânico ou  allemão,  —  deram  entre  nós  ai,  valy  vil,  gal,  gual, 
guily  gil,  etc. 

Assim   Alberto   na  minha  opinião   (muito  atrevida  é   a 


1     Aqui  temos  nós  a  etymologia  de  Bertha,  nome  pessoal,  —  e  de 
Bret,  Breite,  Brect  ou  Brecht,  appellidos  nossos. 


56  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


ignorância!...)  —  teve  a  forma  anterior  Walhert  ou  Wilhert^ 
—  unde  Wilberius^  Alberto,  Gilberto  e  Gualberto,  o  mesmo  que 
Alberto,  nomes  de  santos,  etc. 

Albert  podia  ter  as  formas  Walbert  e  Wilbert,  como  Al- 
fredo, em  francez  Alfred,  teve  as  formas  Walfred,  Walfrid, 
Wilfred  e  VPilfrid  supra. 

Também  Walbert  deu  ou  podia  dar  Gualberto ^  como. íFaZ- 
ter  deu  Gualter,  Gualtar,  Gaitar,  Baltar,  Valter,  etc. 

Por  sou  turno  Wilbertus  deu  ^Wilibertus  e  por  metathese 
Wilibretus,  unde  talvez  Wilibredo,  Guilhabredo  e  Guilhabreu 
por  Guilhabredo,  povoação  nossa. 

A  bússola  e  o  ouvido. 

*      * 

Também  Wilifredus,  i,  supra,  que  deu  ou  podia  dar  Gui- 
Ihofrei,  como  já  dissemos,  podia  também  dar  Guilhafredo, 
Guilhabredo  e  Guilhabreu  por  Guilhabredo^  pois  f.  b.  e  v, 
confundiram-se  e  substituiram-se,  como  logo  provaremos. 

Note-se  que  2vi  deu  gui  —  e  tcili  deu  guilha  e  guilho. 

Gf.  Guilhafonxe,  Guilhafonce  e  Guilhafonso,  menciona- 
dos supra,  —formas  de  Wilifonsus,  e,— e  Guilhovai  de  Wili- 
baldi,  como  já  dissemos.  —  Assim  também  Wilifredus  ou  Wi- 
libredus,  i,  podiam  dar  Guilhofrei  e  Guilhabreu, 

Também  Wiliulphus,  i,  nome  germânico  pessoal,  —  deu 
Galhufe  e  Guilhufe,  povoações  nossas. 

Wiliulphus  vem  do  teutonico  ivil  ou  icill,  o  mesmo  que 
ai  ou  ali  supra,  —  todo,  muito  —  e  hulf —  ajuda,  soccorro, 
—  o  mesmo  que  o  celta  ulphe  — -  soccorro  também,  como  diz 
Boucrand.  ^  * 

O  mesmo  suffixo  teutonico  e  celta  hulf  ou  ulphe  se  encon- 
tra em  outros  muitos  nomes  germânicos.  Taes  são  Atliaul- 
phus,  i,  que  entre  nós  deu  Adolpho,  Adoufe,  Adufe,  Dolves, 
Adaufe,  etc,  povoações  nosaas;  —  Ricuíphos,  i,  que  deu  Re- 
gou fe  e  Regufe,  povoações  nossas  também;  —  Landulphus,  i^ 
que  deu  Nandufe  por  Landufe,  aldeia,  freguezia  e  titulo  de 
condado ;  —  Randulphus,  i,  que  deu  Rendufinho  e  Rendufe, 
titulo  de  viscondado,  etc. 

* 
*      * 


*    Do  exposto  se  vê  ou  parece  aos  profanos  ver  —  que  o  celta  e  teu- 
tonico são  irmãos  gémeos?!». . 


TENTATIVA    KTYMOLOGICO-TOPONYMICA  57 


O  prefixo  de  Riculplins^  i,  é  o  teutonico  rlch  ou  reich  \ 
—  rico,  poderoso,  que  se  encontra  em  outros  muitos  nomes 
germânicos.  Taes  são  Ricardo  [rich ~  rico  —  e  hard —  ousado), 
em  latim  Ricardus  e  no  baixo  latim  Ricáredus  e  Recarédus, 
i  —  unde  Recarêdo,  nome  godo,  e  Recarei  {Recaredi  villa),  po- 
voação nossa. 

Quer,  pois,  dizer  Recarei—  granja,  quinta  ou  casa  de 
campo  de  Recarêdo  ou  Ricardo. 

O  mesmo  rich  —  poderoso,  rico  —  se  encontra  como  pre- 
fixo em  Richmond,  nome  germânico  pessoal,  que  em  latim 
deu  Richemondu.s,  /,  unde  Recamonda,  Recamonde,  Recamun- 
de,  Resamonde,  Rica  Monte  e  Rocamonde^  povoações  nossas. 

Também  Richmond  pela  forma  Rigmond  ou  Reigmond 
talvez  desse  Raijniundo,  nome  d'um  santo, — Reimonda,  Rei- 
mondè  e  Reimondinho,  povoações  nossas.  ^ 

O  suffixo  de  Richmond  é  o  teutonico  miind  —  homem. 
Ray mundo  quer  pois  dizer  rico  homem. 

O  mesmo  prefixo  de  Richmond^  etc,  se  encontra  como 
sufflxo  em  outros  muitos  nomes  germânicos  pessoaes.  Occor- 
rem-me  os  seguintes  :  —  Aliar ico,  Amalarico,  Ardarico,  Arge- 
ricOj  Ermorico,  Frederico^  Fromarico,  Genserico,  Henrique,  Ho- 
norico,  Ilderico,  Romarico^  Sabarico,  Theodorico,  Williarico  ou 
Viliarico,  Viarico,  etc. 

Todos  estes  senhores  deviam  ser  pessoas  ricas,  poderosas, 
importantes,  como  dizem  os  seus  nomes,  —  e  todos  viveram 
neste   cantão  da  peninsula,  onde  foram  proprietários. 

—  Na  falta  d'outros  documentos,  assim  o  provam  as  nos- 
sas muitas  quintas  e  povoações  por  elles  fundadas  ou  restau- 
radas, pelo  que  tomaram  d'elles  os  nomes. 

Já  indicámos  algumas,  que  tomaram  o  nome  de  AUarico, 
Amalarico,  Ardarico,  Argerico.^  Ermorico,  Frederico  e  Froma- 
rico. Vamos  agora  indicar  outras  que  tomaram  o  nome  dos 
restantes  fidalgos  supra. 

*       * 

Genserico,  no  baixo  latim  da  edade  media  Gensericus, 
Genseriquiz,  não  deu  o  nome  a  povoação  alguma  nossa,  por- 
que  Genserico  foi  rei  dos  Vândalos, — o  povo  mais  ferino  e 


1  Note-se  que  já  em  teutonico  —  /  deu  ei,  como  em  porlugucz. 
Veja-se  o  tópico  infra:  —  Substituição  cie  letras. 

2  Vide  Regulus  e  Richenwnd  em  Boucrand. 


58  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


mais  bárbaro  entre  os  bárbaros  do  norte  que  invadirara  a  íles- 
panJia  no  século  v. 

Matavam,  incendiavam  e  destruiam  por  prazer.  Não  cons- 
truiam  nem  fundavam  povoações. 

Além  d 'isso  os  Vândalos  foram  na  sua  maior  parte  para 
a  Andaluzia,  que  tomou  d'elles  o  nome,  como  já  dissemos  i; 

—  d'alli  passsaram  para  a  Africa  —  e  da  Africa  para  a  Itá- 
lia, etc. 

Pouco  tempo  se  demoraram  n'este  cantão  da  Lusitânia 
e  n'elle  só  deixaram  luctuosas  recordações,  pelo  que  d'elles 
e  particularmente  do  seu  chefe  Genserico  nenhuma  das  nos- 
sas povoações  quiz  tão  detestado  nome.  Também  o  não  en- 
contro no  meu  Diccionario  General  de  los  pueblos  de  Espana 
'  —  nem  nos  meus  sanforaes. 

Genserico,  em  francez  Genséric,  —  vem  do  allemão  ganz 
—p  ganço,  ave  —  e  rich  —  rico.  Genserico  significa,  pois,  —  rei 
das  aves  ou  rico  em  aves,  como  diz  Boucrand. 

Gunderico,  no  baixo  latim  Gundericus,  Gunderiquiz — deu 
Gondariz,  Gondoriz,  Gontariz  por  Gondariz,  Contriz  por  Con- 
toriz,  —  este  por  Condoriz — e  este  por  Gondoriz,  povoações 
nossas.^.'.  .  . 

O  prefixo  de  Gunderico  é  o  teutonico  gund  —  guerra, 
que  se  encontra  em  outros  muitos  nomes  germânicos.  Taes 
são  os  seguintes : 

—  Gondebald  —  gund  e  bald  ou  bold  —  ousado,  corajoso, 

—  unde  o  inglez  bold,  —  o  italiano  baldo,  —  o  anglo  saxonico 
bald  —  e  o  franco  baldo  e  paldo  —  atrevido,,  ardente^  ousado. 

Significa,  pois,  Gondebaldo  —  atrevido,  ousado  na  guerra; 

—  valente  capitão. 

Um  ou  mais  senhores  d'este  nome  viveram  em  Portugal, 
pois  Gondebaldo,  em  latim  Gondebaldus,  i,  com  certeza  deu 
Gondivau  por  Gondibaldo,  —  Gondivão  por  Gondiváo,  —  Gon- 
devae  e  Gondivae  por  Gondibaldi,  —  Gondivinho  por  Gondi- 
baldino  ou  Gondibaldinlio,  —  e  Gondivenho  por  Gondivinho, 
povoações  nossas. 

Também  temos  Gondifellos  e  Gondifellinhos  por  Gondi- 
vellos  e   Gondivellinhos,  —  e  estes  por  Gondibaldellus  e  Gon- 


1  Os  Vândalos  no  baixo  latim  eram  denominados  Wandalí,  pelo 
que  a  Betica  se  denominou  Wandalicia  e  Wandalucia,  unde  o  castelha- 
no Andalucia  —  em  portuguez  Andaluzia. 


TENTATIVA    KTYMOLOOTCO-TOPONYMir  A  59 


(//haldillit-s  ou  GondihaldinoH,  como    Gondivenhos  e   Gondivi- 
nhoa,  diminutivos  de  Gondihaldns? 

Note-se  que  v  e  /*  se  confundiram  e  substituiram,  como 
logo  provaremos  á  saciedade,  pelo  que  Gondícellos  e  Gondi- 
veUinhos  sem  violência  deram  ou  podiam  dar  Gondifellon  e 
QondifelUnhos.  ^ 


* 
*       * 


O  mesmo  prefixo  gund  se  encontra  em  Gundisalvufi,  i,  is, 

que  deu  Gonçala,   Gcncalinha,   Gonçalo,  Gonçalves,  Gondizal- 

.ves,    Goncalvlnho,    Gon(;alvinhos,  —  Gonça    por    Goncala  í  — 

Gonce  por  Gonçale  ?  —  Gonchiha  e  Goncinho  por  Gonçalinha 

e  Goncalinho,  —  povoações  nossas. 

Gonçalo  é  também  nome  d'um  santo,  natural  de  Tagilde^ 
no  aro  de  Vizella,  e  domiciliado  em  Amarante,  onde  —  com 
o  prestigio  do  seu  nome  e  da  sua  grande  virtude  fundou  o 
magestoso  convento  de  S.  Gonçalo,  núcleo  da  formosa  villa 
d'Amara7ite. 

Com  vista  ao  meu  illustrado  e  muito  considerado  colle- 
ga  —  João  Gomes  d'OUveira  Guimarães  —  abbade  de  Tagilde 
supra,  —  meu  bom  e  velho  amigo  desde  o  tempo  em  que 
bem  ou  mal  escrevi  a  continuação  do  Portugal  antigo  e  mo- 
derno. 

Forneceu-me  s.  ex.*  muitos  apontamentos  para  a  dita 
obra,  nomeadamente  para  os  três  artigos  Vizella,  pelo  que 
mais  uma  vez  lhe  beijo  as  mãos  agradecido. 

Eu  já  dei  a  etymologia  de  Tagilde,  que  na  minha  opi- 
nião é  a  mesma  de  Tangil,  Athaide,  Thaide  e  talvez  Gahide, 
etc,  povoações  nossas. 

Também  na  minha  opinião  Amarante  vem  de  Jimaran- 
thíís,  i.  nome  grego  d'um  santo,,  tirado  de  amaranthos  — 
immortal,  perpetuo,  duradouro,  —  que  não  murcha,  não  enve- 
lhece. 

Amarantho  é,  pois,  uma  synonymia  de  Perpetua  e  Per- 
petuo, também  nomes  de  santos. 

V.  o  Santoral  hespanhol,  de  Barcelona, 

Volvendo  ao  thema  gund — guerra, — ainda  diremos 
que  elle  se  encontra  ôomo  prefixo  em  Gunthimirus  por  Gun- 


^    Vide  Gandulphos  infra. 
— E'  assim  a  arte  nova  !• . 


60  TENTATIYA    ETYMOLOGICOTOPONYMICA 


dimirus,  i,  nome  germânico  pessoal,  que  deu,  como  já  disse- 
mos Candemil,  Candomil,  Contumil^  Contumillo,  Gondomar, 
Gondomil,  Gontomíl,  Gondar  por  Gondomar^  etc,  povoações 
nossas. 

Também  se  encontra  como  prefixo  em  Gundesindus,  i, 
que  por  seu  turno  deu  Gondesende,  Gozandina,  Gozende^  Go- 
zendes,  Gozendinho,  Gozendo,  Gozundeira  e  talvez  Guizande 
por  Gondisdnde,  povoações  nossas. 

Junte- se  também  Gandulphus  por  Gondulphus,  i,  que 
deu  Gandufe,  Gondufe,  Gondufo,  Gonfão,  por  Gondufão,  — 
Gundufe,  —  e  Gunde,  por  Gundufe,  povoações  nossas. 

Também  Gandulphus  e  Gondulphus,  i, — pela  substitui- 
ção trivial  de  i  e  ^í  — deram  ou  podiam  dar  Gundifellus  e 
GondifeUus,  i,  unde  talvez  Gondifellos  e  GondifelUnlios  supra. 
E  por  contracção  —  Gandifellí  deu  ou  podia  também  dar 
Ganfei  e  Gaveí  por  Gafei,  povoações  nossas. 

Mas  Gavei  talvez  provenha  do  Gavedi  por  Ga  fedi,  — 
este  por  Gafeti  —  e  este  por  Japhethi,  patronimico  de  Ja- 
phethus,  i,  latinisação  barbara  de  Japheth,  nome  biblico. 

*       * 

Note-se  que  ja,  jo,  ju  pelo  diapasão  callaico  por  vezes 
deram  ga,  go,  gu  e  ca,  co,  cu. 

Assim  temos  nós  Malhada  e  Maçada  por  Malhada,  o 
mesmo  que  Majada  (soa  Magada),  nome  de  varias  povoações 
da  Hespanha. 

Temos  também*  Penamacor,  o  mesmo  que  Penamaior, 
do  latim  Penamajor,  no  diapasão  callaieo  Penamagôr,  quasi 
Penamacor, 

Também  Japheth  pela  forma  Japhetus,  i,  lendo-se  Ga- 
phetus,  i,  —  deu  ou  podia  dar  Gafete,  Caféde  e  Bem-que-fe- 
de  (?!...)  —  por  Iben  ou  Ben  Japheth  {Gafei  ou  Ca^fet)  — 
filho  de  Japhet  —  povoações  nossas. 

Veja-se  o  tópico  Ihen,  infra. 

O  mesmo  Japheth  deu  ou  podia  dar  Caféo,  povoação 
nossa  também. 

A  escala  seria : 

—  Japheth  —  Jafetiis  —  Gafetus  —  Cafetus  —  Cafedus  — 
Ca  fedo  —  Caféo  ? 

Nós  também  temos  Chafé,  aldeia  (?!...)—  nome  estra- 
nho,  que  hoje  se   lê   Xafé,   mas  talvez  que  outr'ora  se  lesse 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO  TOPONYMICA  61 


Café^  pois  cArt,  che,  chi  cho  já  valeram  e  ainda  hoje  em  al- 
guns termos  nossos  valem  Ârí,  ke,  ki,  ko,  * 

Em  ambos  os  casos  —  Chafé  pôde  vir  também  de  Ja- 
pheth,  como  Ca  fede  —  quasi  Café^  supra,  —  dado  que  Chafé 
se  lesse  Café,— e  mesmo  lendose  Xafe\  porque  Já  também 
deu  .Trt  na  passagem  do  castelhano  para  o  portuguez. 

Cf.  Xavier  —  na  Hespanha  Jacier. 

Também  temos  Jarroeira  e  Charoeira  por  Charroeira,  o 
mesmo  que  Jarroeira,  —  abundante  em  jarros,  —  planta  bem 
conhecida. 

«Mas  —  dirão  os  leitores  —  que  relação  tem  a  onomás- 
tica portugueza  com  o  hebraico  ? 

«Você  com  a  monomania  etymologica  até  se  lembrou  de 
ir  buscar  á  Bihlia  o  pobre  Japheth  para  —  na  falta  d'outra 
melhor  —  nos  dar  a  etymologia  de  Gafete,  Caféo,  Ca  fede, 
e  Bem-que-fede,  o  mesmo  que  fede  hem  ou  cheira  muito 
mal! . . . 

«Efíectivamente  já  fedem  bem  ou  cheiram  mal  tantos 
dislates  da  sua  exótica  Tentativa  er^/mologica.» 

Será  assim^  mas  não  se  espantem  os  timidos  leitores, 
pois  temos  na  onomástica  portugueza  muitos  nomes  de  povoa- 
ções tirados  de  nomes  hebraicos. 

Isto  é  facto,  como  logo  provarei. 

Note-se  que  os  judeus  ou  hebreus  —  povo  antiquissimo  e 
nebulosissimo  d'alta  cotação  mundial  —  abundaram  em  Por- 
tugal desde  os  principios  da  nossa  monarchia,  sendo  muitos 
d'elles  grandes  proprietários  e  grandes  capitalistas,  muito 
atilados,  muito  trabalhadores,  muito  illustrados,  muito  ver- 
sados em  finanças  e  negociantes  de  grosso  trato. 

Por  todas  estas  considerações  não  faltou  quem  censu- 
rasse nem  falta  ainda  hoje  quem  censure  a  barbara  expulsão 
d'elles  por  D.  Manoel,  em  Portugal,  e  pelos  reis  catholicos, 
na  Hespanha. 

Os  judeus  abundaram  em  Portugal  e  na  Peninsula  desde 
a  sua  dispersão  posterior  á  morte  de  Christo. 

Abundaram  mesmo  em  tempos  muito  anteriores  desde  a 
conquista  e  destruição  de  Jerusalém  por  Nabuchodonosor,  rei 


1    Vejam-se  no  i.  vol.,  as  pag.  303  a  305 


62  TKNTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


OU  imperador  da  Bahjjlonia,  —  muito  antes  do  nascimento  de 
Christo  —  como  já  li  algures 

Note-se  também  que  os  fenícios,  como  diz  Herculano,  — 
o'ccuparam  a  maior  parte  da  Peninsula  em  temijos  antenores 
a  Homero?  /.  .  .    ^ 

Pôde  até  dizer-se  que  os  fenícios  foram  contemporâneos 
dos  celtas  e  conviveram  com  elles,  pois  Herculano  deu  aos 
turdtdos,  povo  antiquissimo  da  Hespanha  e  da  Lusitânia^  o 
nome  de  ceifo- fenícios.  ^ 

Do  exposto  se  vê  que  os  fenícios  viveram  entre  nós 
desde  tempos  muito  remotos  e,  como  já  dissemos  —  elles 
eram  amigos  inseparáveis,  dos  chaldéos  —  e  uns  e  outros 
—  eram  judeus! .  .  . 

Todos  sabem  que  os  árabes,  quando  invadiram  Portugal 
e  a  Hespanha  no  século  vni,  traziam  comsigo  numerosos 
contingentes  dos  povos  que  haviam  conquistado,  —  nomeada- 
mente egt/pcíos,  mouros  e  judeus,  —  e  que  muitos  d'estes  se 
conservaram  em  Portugal  até  o  fim  da  reconquista  no  sé- 
culo XIII. 

Conservaram-se  mesmo  depois  da  reconquista,  muitos 
d'elles  em  bairros  próprios,  denominados  mourarias  e  judia- 
rias. 

Do  exposto  se  vê  que  os  judeus  abundaram  na  Penín- 
sula e  em  Portugal  desde  tempos  muito  remotos,  pelo  que  não 
admira  que  tomassem  d'elles  o  nome  varias  povoações  nos- 
sas. 

Ahi  vae  uma  lista  d'algumas: 


Domes  de  pouoações  portuguezas  tirados  de  nomes 

hebraicos 


—  Abraã,  Abraã  Grande,  Abraã  Pequena,  Ahrahão, 
Abram  e  Abrão  -  de  Abrahão  nome  hebraico^  mencionado 
mais  de  150  vezes  na  Bíblia  com  as  formas  Abraham  e 
Abram. 

—  Agares,  duas  aldeias. 


1  Veja-se  o  i  vol.,  paj^.  63,  etc. 

2  Vol.  I,  pa.8;.  107. 


TENTATIVA    ETYMOLOíJICO  TOPONYMICA  63 


De  Agar,  nome  bíblico,  -—  ou  de  Arjarenh,  patronimico 
de  Ágarenns,  /,  —  filho  ou  descendente  de  Agar. 

—  A  llus — ou  LogíO'  de  JIus,  —  aldeia. 

De  liuff,  nome  bíblico  pessoal  e  geographico, 

—  Assares  e  Assarias. 

De  Azarias,  nome  hebraico,  mencionado  na  JUblia  mais 
de  50  vezes  e  que  no  diapasão  hespanhol  deu  Assarias,  na 
falta  do  z  sibilante. 

—  Balthazar.,.  quinta,  etc. 

'  De  Jialfhasar^  nome  hebreu^  mencionado  na    Bihlia  17 
vezes. 

—  I^arrahãs  o  liarraheis  —  dififerentes  povoações. 
De  Barrahhas,  nome  bíblico. 

Barrabeis  ó  plural  de  Jiarrahás. 

—  Belchior  —  aldeia,  casal,  quinta,  etc. 
De  Belchior  ou  Melchior,  nome  hebraico? 

—  Esther,  Esther  de  Baixo,  Esther  de  Cima  e  Parada  de 
Esfher. 

De  Esfher,  nome  hebraico,  mencionado  na  Bihlia  34 
vezes. 

—  Ezequiel,  Ezequiel  de  Baixo  e  Ezequiel  de  Cima, 

De  Ezechiel,  nome  hebraico,  mencionado  na  Bihlia  õ 
vezes. 

Gabrieis,  Gabriel,  Gabriella  e  Gahriellas,  —  difíerentes 
povoações  nossas. 

De  Gabriel,  nome  hebraico,  mencionado  na  Biblia  4  ve- 
zes. 

—  Golias  —  casal  nosso. 

De  Goliafhasf,  nome  hebraico,  patronimico  de  Goliath, 

mencionado  na  Biblia  8  vezes. 

Gove,  aldeia  e  freguezia, —  e  Joiíve  —  aldeia. 

De  Job,  nome  hebraico,   mencionado  na  Biblia  cento  e 

tantas  vezes. 

—  Joaves  —  aldeia  nossa. 

De  Joab,  nome  hebraico,  mencionado  na  Biblia  mais  de 
100  vezes. 

—  Jagaz,  povoação  nossa. 

De  Joachaz,  nome  hebraico,,  mencionado  na  Biblia  24 
vezes. 

—  Jacob  —  casal,  quinta,  etc. 

De  Jacob,  nome  hebraico,  mencionada  na  Biblia  mais  de 
300  vezes  ?  ! . . . 

—  Também    temos    Gajove,   quinta,  —  metathese   de  Ja- 


64  TENTATIVA   ETYMOLOaiCO-TOPONYMICA 


gove  por  Jacobe,  —  de  Jacohi  patronímico  de  Jacçhus,  i,  lati- 
nisação  do  hebraico,    lácoh  —  Jacob. 

Somma  e  segue. 

Jaca  e  Jadão  por  Jagão  —  povoações  nossas. 

De  Jacan,  nome  hebraico,  mencionado  na  Bíblia  duas 
vezes  —  e  mais  uma  com  a  forma  Jaclian. 

—  Joaquim...,  —  Joazim  por  Joacím,  antiga  forma  de 
Joaquim j — e  Joarim  por  Joadm,  o  mesmo  que  Joacím  por 
Joazim,  povoações  nossas. 

De  JoachiUy  nome  hebreu,  que  também  teve  as  formas 
Joacim  e  JoaMm,  mencionado  na  Bíblia  11  vezes. 

—  Jalles,  appellido,  —  e 

—  Alfarella  de  Jalles,  povoação  nossa. 

—  De  Jalelis,  patronímico  de  Jalelus,  z,  barbara  latini- 
sação  de  Jalel,  contracção  de  Jalaleel,  nomes  hebraicos  men- 
cionados na  Bíblia,  — bem  como  Jala  —  Jaleleel —  e  Jalelítae 
--Jalelitas,  o  mesmo  que  Jalles^  tribu  formada  pela  familia 
supra. 

De  passagem  diremos  que  as  nossas  povoações  denomi- 
nadas Alfarella,  Alfarella  de  Jalles  e  Alfarellos,  aldeia,  fre- 
guezia  e  estação  do  caminho  de  ferro  do  Norte^  de  Torres  e 
da  Figueira, — tomaram  o  nome  do  castelhano  alfarevo  — 
oleiro,  fabricante  de  louça. 

O  mesmo  alfarevo  na  Hespanha  deu  alfareria  —  olaria, 
fabrica  de  louça,  como  diz  Valdez.  ^ 

A  Hespanha  não  tem  Alfarella  nem  Alfarelíos,  —  Alfa- 
rera  nem  Alfareros, — mas  tem  Alfar,  Al  fará,  Al  farda,  por 
Alfaraf  ~  Alfaro  e  Alfareriasl... 

Volvendo  âs  nossas  povoações  que  tomaram  o  nome  de 
nomes  hebraicos,  ainda  mencionaremos  mais  algumas.  Taes 
são : 

—  Judas,  Judeu,  Judia  e  Judias,  —  casas,  quintas,  etc. 

De  Jtida  o  mesmo  que  Judas,  nome  hebraico,  mencio- 
nado na  Bíblia  mais  de  mil  vezes. 

Do  mesmo  Juda  ou  Judas  tomou  o  nome  a  Judéa,  em  la- 


1    Com  vista  ao  rev.  parocho  d'Alfarcllos  e  a  todos  quantos  d'ora 
avante  passarem  na  linda  estação  dos  alfareros  ou  Alfarellos. 


TENTATIVA    ETYMOLOGlCO-TOrONYMICA  65 


tim  Jiidaea,  mencionada  na  Biblia  mais  do  J(XJ  vezes, -e  da 
Judêa  tomaram  o  nomo  os  judêiiH,  mencionados  na  Bíblia 
mais  do  400  vezes,  como  pôde  verificar  se  na  Concordância 
Bíblica,  obra  interessante,  —  que  estou  medindo  a  comjjasso  ?/..» 

Jericó  —  aldeia,  e  talvez  gerico,  jumento. 

De  Jerichô,  cidade  da  Palestina,  mencionada  na  Bíblia 
mais  de  70  vezes. 

—  Jordana^  B  casaes,  —  Jordão^  aldeia,  casal,  quinta  e 
appellido  de  alta  cotação,  —  e  Jordões  —  aldeia. 

De  Jordão,  rio  da  Palestina,  mencionado  na  Biblia  mais 
de  150  vezes. 

—  Jerusalém  do  Romeu  —  grande  quinta  de  Traz-os-Mon- 
tes,  nos  concelhos  de  Mirandella  e  Macedo  de   Cavalleiros.  ^ 

De  Jerosolynia,  o  mesmo  que  Jerusalém,  nome  hebraico 
da  cidade  santa,  capital  da  Palestina,  mencionada  na  Bíblia 
mais  de  900  vezes  ? ! . . . 

—  Romeu  é  o  mesmo  que  Romano  e  Romão,  nomes  de 
santos,  tirados  de  Roma,  como  Romã,  Ronianeira,  Romeira, 
Romeiral,  Romeirão,  Romeiras,,  Romeirinhas,  Romeiro,  Ro- 
meiros, Romezal,  o  mesmo  que  Remesal,  contracção  e  detur- 
pação de  romanzeiral,  bosque  de  romanzeiras,  o  mesmo  que 
Romeiral  e  Eomeiras  supra,  povoações  nossas. 

Junte-se  Rominha  e  Romirinho  (o  mesmo  que  Romeiri- 
nha  e  Romeirinho)  —  povoações  nossas  também. 

-r- Matheus  —  casal,  quinta,  freguezia,  etc. 

De  Matheus,  em  latim  Mathaeusy  nome  hebraico  d' um 
Evangelista,  mencionado  na  Biblia  5  vezes. 

Matheus  é  o  mesmo  que  Mathias  e  Mathathias,  nomes 
hebraicos  mencionados  também  na  Bíblia  e  tirados  do  he- 
breu mathandh  —  dom  —  e  lali-Senlwr.  Significam,  pois, — 
dom  do  Senhor  ou  dom  de  Deus,  como  diz  Boucrand. 

Matheus  foi  também  nome  d'um  santo. 

—  Mathias  —  nome  d'um  santo,  casal,  etc. 
V.  Matheus. 

—  Macabio  —  aldeia  nossa. 


^  A  mencionada  quinta  é  a  maior  que  temos  ao  norte  do  nosso 
paiz!  Tem  cerca  de  80  kilomclros  de  circumferencia  e  é  atravessada  pela 
via  férrea  do  Tua  a  Mirandella  e  Bragança,  que  muito  a  valorisou,  pois 
deu-lhe  três  estações !. . . 

Pertence  ao  sr.  Clemente  Joaquim  da  Fonseca  Meneres,  grande  in- 
dustrial e  negociante  do  Porto,  actualmente  grande  capitalista  e  grande 
proprietário,  morador  em  Villa  Nova  de  Gaya. 


66  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


E'  talvez  uma  fórtaa  de  Machahên,  nome  hebraico, 
mencionado  na  Bihlia  31  vezes. 

Este  nome  vem  do  hebreu  mecahbeh  —  que  extingue,  —  de 
cabah  —  ser  extincto^  —  cognome  bem  apropriado  a  Judas 
Machahêti,  filho  de  Mafhafhias,  por  haver  acabado  com  as 
dissenções  internas  dos  judeus. 

*      * 

—  Magdalena  (o  povo  diz  Madanéla),  — nome  de  varias 
povoações  nossas, — e  Magdalenas,  quinta,  herdade,  etc. 

De  Magdalena,  nome  d'uma  santa,  etc,  tirado  de  Magda- 
lena, cognome  hebraico  de  Santa  Maria  Magdalena,  menciona- 
da na  Bíblia  muitas  vezes  assim,  por  ser  natural  ou  filha  de 
Magdalum  ou  Magdala,  povoação  da  Palestina^  mencionada 
também  na  Bihlia  4  vezes. 

Magdalum  é  a  forma  latina  de  MigJidalom,  povoação  da 
Galilêa,  —  nome  que  tomou  de  Mighdhal  —  torre.. 

V.  Boucrand. 

Também  temos  Madanelo  por  3íagdaleno,  —  casal. 

—  Manacás —  casal  nosso. 

De  Manasses,  nome  hebraico,  mencionado  na  Bihlia  mais 
de  140  vezes. 

Manasses,  vulgo  Manasse,  vem  do  hebreu  Manasche,  — 
nome  feito  de  naschah  —  elle  esqueceu,  —  e  este  de  neschiah 

—  olvido,  esquecimento. 

—  Manuel,  nome  d 'um  santo  e  de  varias  povoações  nos- 
sas, —  casaes,  quintas,  etc. 

De  Emmamiel,  nome  hebreu,  mencionado  na  Bíblia  3 
vezes  e  composto  de  3  elementos  hebraicos.   São  elles  —  im 

—  com,  —  noti  —  nós  —  e  El  —  Deus.  Significa,  pois,   Manuel 

—  Deus  comnosco. 

—  Migueis,  Miguel,  Misquel  (?)  e  S.  Miguel  —  varias  po- 
voações nossas,  —  e  Michaelis  appellido. 

De  Mikael,  nome  hebraico,  mencionado  na  Bíblia  15  ve- 
zes. 

Este  nome  vem  do  hebreu  masJtal  —  semelhança  ^  —  e 
El  —  Deus.  Miguel  significa,  pois,  —  semelhante  a  Deus,  como 
diz  Boucrand. 


*    Maskal  c  Misquel  supra,  aldeia  nossa,  —  parecem  irmãos  gé- 
meos?!  


TENTATIVA    ETYMOLOUICOTOPONYMICA  fí7 


Milmel  deu  em  latim  Michael,   elis,  unde    Michae/is,  ap 
apellido   allemão   da  sr.^  IJ.  (Jdrolina    MichaiUis    Vascomiellos^ 
distincta  escriptora   nossa,  doutora  em  phijlologia  pela  Uni- 
versidade do  Leipzig,  sócia  da  Academia   Real  das    Sciencias 
de  Lisboa  e  do  Instituto  de  Coimhra^  etc. 

Michaclis  é  o  mesmo  que  Migueis  appellido  nosso,  ti- 
rado egualmente  de  Michael,  e.lis  —  Miguel. 

Também  Micliael  deu  Michaela,  nome  d  uma  santa,  etc., 
como  (iabriel  deu  (iabriela,  Manuel  deu  Manuela  —  e  Baphael 
deu  llaphaela. 

Por  seu  turno  Michaela  deu  Michaelina,  unde  Michelina, 
vulgo  Miquelina,  também  santa. 

Sufíixo  hebraico  El  —  Deus 

Este  suffixo  de  Manuel  e  Miguel  encontra-se  em  outros 
muitos  nomes  hebraicos. 

Ahi  vae  uma  lista  curiosa  d"alguns,  mencionados  todos 
na  Concordância  Biblica,  d'onde  pacientemente  os  tirei. 

Faço  esta  declaração  para  não  me  expor  a  censuras,  pois 
muitos  d'elles  parecem  formas  do  mesmo  nome,  provenientes 
talvez  de  lapsos  dos  copistas? :... 

—Abdeel ;  Abdiel ;  Abiel ;  Abimael;  Adiei;  Aharehel ; 
Aviei  ;  Asael  ;  A.sahel ;  Asiel ;  Asrael ;  Asriel ;  Azael ;  Azahel 
e  AzarreeH .'.,. 

—  Bathuel ;  Beseleel ;  Daniel;  Esriel  ;  Ezechiel  ;  Ezriel ; 
Gabriel;  Ismael;  Ismiel ;  Israel;  Jalaleel ;  Jeriel  ;  Joel;  Ma- 
nuel ( — Emmanuel) ;  Mafhusael  ;  Michael  {Miguel)  ;  Misael ; 
Natlianael ;  Oziel ;  Raphael ;  Samuel;  Suriel ;  Uriel  e 
Zabdiel?!... 

Todos  estes  nomes  foram  por  mim  tirados  da  Concordan. 
cta  Bíblica  e  alguns  d'elles  se  encontram  mais  ou  menos  de. 
turpados  na  onomástica  portugueza. 

—  Abdeel  —  por  exemplo  —  deu  ou  podia  dar  Abdeella 
villa  e  por  contracção  Adela,  aldeia  nossa,  mesmo  porque  não 
é  de  suppôr  que  uma  adela  ou  adeleira  desse  o  nome  a  uma 
aldeia ! . . , 

—  Abdiel  ou  Abiel  podiam  dar  Abdiela  e  Abiela  viUa  — 
quasi  Viella,  nome  de  duas  aldeias  e  uma  quinta  nossas,  pois 
nos  campos  não  ha  viellas.  —  E  por  metathese  Abiela  podia 
também  dar  Abeila,  herdade  nossa,  e  Alviella,  rio,  etc. 

—  Azael  podia  dar  Azaela  villa  —  granja,  quinta  ou  casa 
de  campo  de  AzaeL 


()8  TENTATIVA.  KTYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Por  seu  turno  Azaela  deu  ou  podia  dar  Azela,  Azella  e 
Axelha^  aldeia  nossa,  pois  no  diapasão  callaico  Azella  soa 
Azelha  ou  antes  Asselha. 

O  z  sibillante  é  nosso. 

* 

—  Bathuel  podia  dar  Batel,  aldeia  nossa,  dado  que  alli 
não  haja  rio  ou  ribeiro  navegável. 

Dicant  paduani. 

Os  leitores  não  se  espantem,  pois  no  concelho  de  Ta- 
hoaço  conheço  eu  muito  bem  a  villa  de  Barcos,  que  também 
já  foi  concelho  e  por  certo  não  tomou  o  nome  dos  barcos,  pois 
demora  em  sitio  alto,  fragoso  e  secco,  onde  não  ha  rio,  ri- 
beiro, lago  nem  lagoa. 

Barcos  pôde  ser  contracção  de  Buarcos,  villa  do  conce- 
lho actual  da  Figueira,  districto  de  Coimbra. 

Por  seu  turno  Buarcos  pôde  ser  contracção  de  Bularcos, 
forma  latina  de  Bularque,  nome  grego  d'um  afamado  pintor, 
etc,  —  nome  tirado  do  grego  boulé  —  conselho  —  e  aj-chê  - 
mando,  governo.  ^ 

V.  Bularque  em  Boucrand  e  note-se  que  os  gregos  occu- 
param  em  tempos  muito  remotos  grande  parte  do  nosso  paiz, 
como  já  dissemos. 

Barcos  pôde  vir  também  do  germânico  ou  teutonico 
ba?xo  (sic)  —  o  mesmo  que  borJc  e  vark  —  porco  ?  !... 

Yide  Porcia  em  Boucrand. 

Note-se  que  a  villa  de  Barcos  demora  nas  abas  da  serra 
do  Sabroso,  que  ainda  ha  pouco  tempo  abundava  em  lobos  e 
javalis  —  porcos  bravos. 

Também  desde  tempos  muito  remotos  devia  abundar  em 
porcos  mansos,  domesticados,  pois  demora,  como  dissemos, 
nas  abas  da  serra  do  Sabroso,  o  mesmo  que  Sobroso,  povoa- 
ção nossa  também. 


^  Com  vista  ao  sr.  dr.  Joaquim  da  Silveira,  da  Anadia,  actualmente 
notário  e  advogado  em  Alcanena,  —  meu  atávico  successor,  depositá- 
rio (?■■■)  dos  meus  caros  verbetes  c  do  meu  arsenal  etynwlogico,  —  o 
amigo  mais  falso  e  mais  ingrato  que  neste  mundo  encontrei ! 

—  Ta  lis  arbor  —  talis  fructus  ? !. . . 

Vejam-se  as  pag,  37  e  40  supra  —  e  Joaquim  da  Silveira  no  Índice 
da  /.« parte. 

Aili  —  nos  meus  caros  verbetes,  que  s.  ex/*  muito  astutamente  me 
empolgou,  —  deve  encontrar-se  outra  etymoiooja  de  Buarcos. 


TENTATIVA    ETYMOrX)GICO-TOPONYMICA  ^0 


Por  seu  turno  Sohroso  é  contracção  de  .sohreiro.sOj  chão 
abundante  em  sobreiros,  arvores  que  dão  bolotas,  bom  alimento 
dos  porcos. 

Ainda  actualmente  no  Alemtejo  se  alimentam  milhares  e 
milhares  de  porcos  com  as  boletas  e  bolotas  dos  sobreiros  e 
azinheiras. 

O  mesmo  devia  succeder  na  Beira,  nomeadamente  nos 
concelhos  de  Barcos  e  'Taboaço,  pois  abundavam  alli  os  so- 
breiros, como  está  dizendo  o  nome  da  serra  de  Bancos— ou 
dos  bacorosf  —  a  serra  do  Sabroso  ou  Sobroso. 

Abundaram  também  as  ditas  arvores  em  outros  pontos 
da  mesma  região,  como  provam  os  grandes  sobreiros  que 
pompeavam  na  villa  de  Távora,  concelho  de  Taboaço,  ainda 
no  tempo  em  que  eu  alli  fui  parocho  — 1861  a  1864. 

Foram  vendidos  e  arrancados  posteriormente,  mas  ainda 
hoje  lá  se  vê  e  admira  o  tronco — só  o  tronco  — d'um  sobreiro 
que  foi  incendiado  pelos  rapazes  e  tem  5  a  6  metros  de  cir- 
cumferencia?!... 

Deve  contar,  pois,  —  mais  de  mil  amios,  porque  os  sobrei- 
ros são  muito  duradouros,  como  todos  sabem,  mas  é  muito 
moroso  o  seu  desenvolvimento. 

* 

Abundaram  também  desde  tempos  muito  remotos  na 
província  da  Beira,  nomeadamente  no  concelho  de  Taboaco, 
os  castanheiros,  como  provam  alguns  que  ainda  hoje  se  vêem 
com  espanto  naquella  provincia. 

Avulta  entre  elles  um  que  está  na  quinta  da  Boa  Vista, 
junto  de  Moimenta  da  Beira,  —  quinta  que  foi  do  sr.  José  de 
Lemos  de  Nápoles  Manoel,  do  Sarzedo,  e  é  hoje  do  seu  genro, 
o  sr.  dr.  Ovidio  Alpoim. 

O  tal  castanheiro  é  o  maior  da  provincia !  —  Tem  cerca 
de  15  metros  de  circuraferencia  no  tronco; —  ainda  está  pom- 
poso e  forte^  —  produz  muitas  castanhas  —  e  promette  longa 
duração  1... 

No  santuário  dos  Remédios  (Lamego)  ainda  hoje  se  admira 
o  tronco  d'um  castanheiro,  que  foi  derrubado  por  um  tufão. 
Apenas  poupou  o  tronco.  Tem  este  cerca  de  10  metros  de 
circumferencia  e  5  a  6  d'altura^  —  afora  a  sua  ramagem,  que 
é  bastante  alta  e  ainda  produz  castanhas. 

Está  muito  vigoroso, — é  .tratado  com  todo  o  carinho  pela 
administração  do  formoso  santuário —/ía»>'<í  lhe  seja! — e  ainda 
pôde  durar  séculos!... 


70  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 

Agora  o 

Castanheiro  do  Saluado 

Na  freguezia  de  Samodães,  terra  natal  e  nobre  solar  do 
snr.  conde  d'este  titulo,  no  aro  de  Lamego,  pompeou  a  ju- 
sante da  matriz,  no  chão  do  Salvado,  um  castanheiro  que  foi 
talvez  o  maior  da  provincia  no  seu  tempo  e  que  do  mencio- 
nado ch^o,  onde  esteve,  tomou  o  nome  de  Castanheiro  de 
Salvado. 

Dizem-me  que  eram  necessários  8  homens  para  abarca- 
rem o  tronco  do  tal  castanheiro,  mas  já  não  existe. 

Foi  arrancado  e  cortado,  aproximadamente  em  1840,  por 
António  Teixeira  de  Carvalho,  —vulgo  o  Teixeirinha  de  Sa- 
modães,  quando  fez  o  palacete  ou  casa  da  Fonte,  que  é  hoje 
do  dito  sr.  conde. 

No  tal  palacete  empregou  talvez  mais  de  cem  carros  de 
madeira,  que  tirou  do  magestoso  castanheiro,  comprehen- 
dendo  traves,  barrotes,  caibros,  taboas,  npas,  etc. 

Volvendo  a  Barcos  e  Taboaço,  não- posso  deixar  de  men- 
cionar os  muitos  soittos  de  castanheiros  que  no  século  xv  per- 
tenciam ao  grande^  enorme  passal  de  Távora,  que  se  esten- 
dia por  Chavães,  Paradella,  Nagosa,  etc. 

V.  as  paginas  458  a  480  do  í.**  vol.  onde  publiquei  textual- 
mente o  tombo  d'aquella  abbadia,  organisado  no  anno  de  1496. 

Houve  effectivamente  Qm.  Távora,  concelho  de  Taboaço, 
grandes  soutos  de  castanheiros  desde  tempos  muito  remotos, 
comprehendendo  exemplares  soberbos,  magestosos! 

Ainda  no  meu  tempo  lá  se  via  com  assombro  na  quinta 
de  Passa  Frio  —  ou  antes  Paço  Frio  —  o  tronco  —  só  o  tronco 
—  d'um  castanheiro  já  muito  carcomido,  que  estava  servindo 
de  choupana  ou  cabana  e  tinha  talvez  mais  de  lõ  metros  de 
circumferencia. 

A  mencionada  quinta  pertenceu  ao  sr.  dr.  Manoel  de 
Barros  Nobre,  meu  saudoso  amigo  da  velha  guarda — ou  d^sde 
o  nosso  bom  tempo  de  Coimbra— 1851  a  1856  —  até  que  fal- 
leceu  no  Porto  em  1907,  sendo  alli  desembargador  da  Relação. 

A  tal  quinta  demora  na  serra  do  Calfão,  metathese  de 
Falcão,  —  a  montante  de  Távora,  —  em  sitio  alto  e  frio,  pelo 
que  se  denominou  Passa  Frio,  deturpação  de  Paço  Frio.  E 
tomou  talvez  este  nome  d'um  velho  casarão,  de  ^^e  hoje 
apenas  resta  um  montão  de  pedras  e  4  columnas  de  granito 
sem  apparelho   algum,   que   ainda   lá  se  vêem  na  dita  serra 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPOXVMICA  71 


hem  aprumadas  e  até  hoje  conservadas,  como  por  mila- 
grefl... 

Também  lá  so  vêem  ainda  hoje  —  5  sepultaras  cavadas 
na  rocha,  —  sepulturas  antiquíssimas,  talvez  prehistoricas  ! . . . 
—  e  fragmentos  de  cerâmica  de  grande  espessura. 

Também  lá  appareceram  duas  mós  de  granito,  de  moi- 
nhos de  mão,  —  mós  que  hoje  podem  verse  na  casa  que  foi 
do  sr.  dr.  Barros  Nobre,  cm  Távora. 

Também  junto  da  mencionada  quinta  de  Paço  Frio  pom- 
pêam  as  ruinas  do  Casfello  do  Callao,  ainda  muito  visíveis, 
que  pertenceram  ao  mesmo  sr.  Barros  Nobre, 

* 

*  * 

O  dito  castello  foi  talvez  anterior  á  nossa  monarchia  — 
e  junto  das  ruinas  d'elle  estão  as  ruinas  da  oapella  de  Nossa 
Senhora  do  Calfão,  também  antiquíssima!,,  ,  ^ 

Tem,  pois,  muito  merecimento  archeologico  a  mencio- 
nada quinta  e  é  muito  digna  de  ser  visitada  e  estudada  pelos 
archeologos,  posto   que  demora  em  sitio  alto,  agreste  e  frio. 

Tinha  também  muito  merecimento  archeologico  o  ma- 
gestoso  castanheiro  mencionado  supra,  —  talvez  contemporâ- 
neo das  taes  velha riasí ! , . . 

Quando  volver  a  Távora  serei  mais  explicito  e  fallarei 
d'outras   velharias  não  menos  interessantes  ci'aquella  região. 

Do  exposto  se  vê  que  desde  tempos  muito  remotos  abun- 
daram na  Beira  e  no  concelho  de  Taboaço  os  castanheiros. 

A.  mesma  onomástica  evidentemente   o  prova^  pois  Ta 
boaço  é  a  forma  portugueza  de  Tablazo,  povoação  hespanhola 
de   Oviedo,   que  tomou   o  nome   do  latim  tabula  —  taboa  ou 
madeira  para  taboas. 

Tablazo  {Taboaço)  quer,  pois,  dizer  —  souto  de  castanhei- 
ros —  ou  região  abundante  em  castanheiros,  pois  —  tanto  em 
Portugal,  como  na  Hespanha  —  desde  os  tempos  mais  remo- 
tos até  hoje  ^  —  a  madeira  melhor,  mais  vulgar  e  mais  esti- 
mada para  taboas  era  a  dos  castanheiros. 

* 

*  * 


^  Vide  Távora  no  Portugal  antigo  e  moderno,  vol.  ix,  paginas 
515  a  520  —  e  Távora  no  indice  do  l.«  vol.  d'esta  Tentativa. 

^  Digo  nté  hoje,  porque  os  castanheiros  estão  muito  doentes. 
Tendem  a  desapparecer  e  muito  provavelmente  serão  substituidos  pelos  eu- 
calyptos. 


72  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


NÓS  temos  varias  povoações  —  ao  todo  mais  de  3CK,)  — 
que  tomaram  o  nome  dos  castanheiros.  Taes  são  : 

Casfaide  por  Castanide,  —  este  por  Castanido—e  este 
por  Casfanedo,  que  deu  Casfêdo  e  Castendo,  povoações  nossas. 

Castainça  e  Casfainço  —  por  Castaniça  e  Casfaniço. 

—  Castanha,  Castanhaes,  Castanhal,  Castanheira,  Casta- 
nheiro e  Castanho,  contracção  de  Castanheiro,  como  sobro  ó 
contracção  de  sobreiro  e  pinho  de  pinheiro,  etc. 

Castêdo  e  Castendo,  mencionados  supra. 

—  Casteição  por  Castanição,  augmentativo  de  castaniço, 
que  se  encontra  em  Castainço. 

Castinçal  por  Castaniçal,  etc. 

Todos  estes  nomes  foram  tirados  do  latim  castanea  —  cas- 
tanha, fructo  dos  castanheiros,  pelo  que  jà  em  latim  puro 
castanea  designou  também  o  castanheiro. 

Também  tabula  —  taboa,  a  madeira  dos  castanheiros 
por  excellencia, — deu  o  nome  a  varias  povoações  nossas. 
Taes  são : 

Tabaco  por  Taboaçô,  diminutivo  de  Taboaço. 

—  Tabelladas  por  Tabladas,  o  mesmo  que  tabuladas  e 
taboadas. 

A  forma  Tabelladas  é  uma  reminiscência  da  occupaçao 
hespanhola,  pois  na  Hespanha  em  vez  de  taboa  dizem  tabla^ 
unde  Tabla,  Tablada,  Tabladiello,  Tabladillo,  Tablado,  Tablan- 
te,  Tablares  (unde  Tavares,  povoação  nossa) ;  Tobias  e  Tablazo 
(cá  está  elle!..  );  Tablero  (o  mesmo  que  Taboeiro,  — unde  Ta- 
veira e  Taveiro ! .  . .) ',  Tabliega,  Tahlizo,  Tablones  (taboões  ?) ; 
Taboada,  Taboadela,  Taboadelo,  Taboazas,  Tabuenca,  Tabuyo, 
Tabuyuelo,  etc,  povoações  da  Hespanha. 

Nós  também  temos  Tablado,  Taboa,  Taboaça,  Taboaças, 
Taboaço  (cá  está  elle  f . .  . )  í  —  Taboadella,  Taboadello,  Taboado, 
Taboas,  Taboeira  (unde  Taveira,  appellido  nosso) ;  Taboeirinha, 
que  podia  dar  Taveirinha  ;  —  Taboeiro,  o  mesmo  que  Tablero 
supra  —  e  Taveiro,  infra. 

Junte-se  Taboinho  por  Taboadinho'?—  Taholado,  Taboleda^ 
Taboleiros,  Taboneira  por  Taboleira  ?  —  Taborda  por  Taba- 
rola? — Taborda  ou  Taborella  (quasi  Taborola — e  Taborella 
ou  Taborda  (sic)  —  povoações  nossas,  mencionadas  na  Choro- 
graphia  Moderna,  —  obra  que  mais  uma  vez  recommendo  aos 
meus  poucos  leitores. 

Junte-se  ainda: 

Tabosa  por  Tabulosa  e  —  Taburreira  —  por  Taboreira,  o 
mesmo  que    Taboneira  por  Taboleira  supra,  —  e  Tamboreira, 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  73 


quinta  e  sitio  próximos  de  Lamego,  que  ainda  hoje  abundam 
cm  castanheiros !?/... 

—  Tavares  por   Tablares  supra,  o   mesmo  que  Taboares. 

Em  Portuguez  commum  nós  temos  pregos  caibraes  e  pre- 
gos tahoares  —  pregos  próprios  para  caibros  e  pregos  próprios 
para  faboas. 

—  Taveira  e  Taveiro  por  Tablera  e  Tablero,  o  mesmo 
que  Taboeira  e  Taboeiro  por  taboleira  e  faboleiro,  supra. 

Finalmente,  junte-se  Távora,  rio  e  villa,  que  tomaram 
o  nome  de  fabula^  oomo  Taboa,  povoação  nossa,  —  Tabla  e 
Tavaras,  na  Hespanha. 

*      * 

Távora  pelas  suas  antigas  formas  Tabora,  Tabara  e  7a- 
vara,  assim  como  deu  TaboreUa  e  Tavarella,  também  deu  ou 
podia  dar  fabarola  e  taborola. 

Cf.  Casa,  Casella  e  GasaroUas,  plural  de  casarolla  ;  Quin- 
ta, Qnintella,  Quintola  e  qtdntarola  ;  Moreira  por  Moreirola, 
—  Nogueira  por  Nogueirola,  —  Figueiró  e  Figueirôa  por  Fi- 
gueirola,  etc. 

Veja-se  o  tópico  infra :  «Diminutivos  com  a  desinência 
olus,  ola-». 

Por  seu  turno  Tabarola  deu  ou  podia  dar  Taborda,  povoa- 
ção o  appellido,  como  já  dissems  e  como  os  leitores  vão  ver. 

Pelas  leis  da  arte  nova  a  escala  seria  —  Tabarola  —  Ta- 
borla  —  Taborda?  —  pois  l  e  d  confnndiram-se  e  substitui- 
ram-se  na  onomástica  portugueza. 

Cf,  Odivellas  por  Olivellas  —  oliveirinhas . 

— Pena  Júlia,  PenajuleiaQ  Penajudeia  por  Penajuleia,  anti- 
gas formas  da  minha  Penajoia,  —  como  Penajuia  por  Pena  Júlia. ^ 

HeziodOj  Egidio  e  Gil  —  de  Egilii  por  Egidii  ? 

Heziodo  é  nome  grego ;  —  Egídio  é  nome  d'um  santo  e  o 
mesmo  que  Heziodo ;  —  OH  é  o  mesmo  que  Egidio,  também 
nome   d'um   santo  e  de  varias  povoações  nossas.  Taes  são: 

—  Gil,  casal,  quinta,  etc.  —  Gil  Aires,  Gil  Bogào,  Gil 
Moleiro,  Gil  Vaz  ^,  Gila,  Gilbarbedo,  Gilboé,  Gilvaia,  Gilvaz, 
Frei  OH,  S.  Gil  e  S.  Frei  Gil^  povoações  nossas. 


1  V.  Penajoia  e  Penajulia  no  indicc  da  /.a  parte  d'estes  meus  dis- 
lates. 

^  D'este  ou  d'outro  mata-mouros  Gil  Vaz  procede  o  nosso  termo 
gilvaz  —  grande  ferida,  grande  cutilada. 

Se  bem  me  recordo,  os  Diálogos  de  Christovam  Rebello  de  Macedo 
mencionam  um  fidalgo  de  Beja,  por  nome  Gil  Vaz,  que  decepou  a  cabeça 
dum  touro  com  um  golpe  d  espada  !. . . 


74  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Também  temos  Portadeiros^  Portaleiro  e  Portanehvs,  o 
mesmo  que  portageiros,  cobradores  dos  direitos  de  portagem . 

Também  temos  Sobralinho,  Sohradinho  e  Sobrainho,  for- 
mas do  mesmo  nome  e  diminutivos  de  Sobral,  o  mesmo  que 
Soveral  por  Sobreiral. 

Junte-se  Calorno,  aldeia,  por  cadorno  ou  codorno,  —  e 
Cogorno,  appellido. 

—  Daffões  e  Lafões. 

—  Deirão  ou  Leirão  —  e  Leirão  ou  Deirào. 

—  Dobeira  e  Lobeira. 

—  Dobrigo,  Lobrigos  e  Lobrigo  (Casal  de  Lobrigo): 

—  Dordelinho  e  Lordellinho. 

—  Doroso  e  Lorósos,  plural  de  Loroso. 

—  Duro  e  Luro,  povoações  nossas. 

Também  temos  Odysseia  por  Ulysseia.  ?  —  nalga  por  ná- 
dega ;  adejar  por  alejar,  —  e  o  provincianismo  leixar  por  dei- 
xar, etc. 

Também  na  Hespanha  a  forma  popular  de  Cadiz  —  ó  Cá- 
lix. ^ 

A  substituição  de  /  e  o?  já  vem  do  tempo  dos  romanos. 

Cf.  peculium   por  pecudium — de   pecus,    cudis  —  gado. 

Confundiram-se  também  d  q  g,  —  d  q  n,  —  d  q  f,  —  de 
m,  —  der,  —  de  t,  —  d  e  v,  —  d  e  s,  —  dez,  etc. 

Também  o  d  algumas  vezes  cahia  e  sumia  se  ;  —  outras 
vezes  inesperadamente  surgia  ou  surdia. 

Foi  letra  muito  falsa,  muito  caprichosa;  o  r,  porém,  não 
lhe  ficou  a  dever  nada  ?  ! . . . 

Veja-se  o  tópico  intra — Substituição  de  letras. 

Do  exposto  se  vê  que  Tabarola  deu  ou  podia  dar  Taborla 
e  Taborda, 

A  bússola  é  o  ouvido  —  e  ó  assim  a  a7'te  nova. 

*     * 

Volvendo  á  etymologia  de  Barcos,  villa  alcandorada  na 
serra  do  Sabroso,  em  chão  alto,  secco  e  pedragoso,  —  sem  rio, 
ribeiro  ou  lago  navegáveis,  —  com  certeza  Barcos,  como  já 
dissémoSj,  —  não  tomou  o  nome  dos  bateis,  barcas  nem  bar- 


^    E  no  antigo  castelhano  diziam  melecina  melecinamiento  c  me- 
lecinar  por  medecina,  medicamento  e  medicinar. 
V.  Covarrubias  c  Valdez. 


TENTATIVA    ETYMOIvOGICO-TOPONYMICA  76 


COS,  mas  talvez  do  teutonico  harc-o — porco,  — vocábulo  tra- 
zido talvez  iá  do  norte  pelos  povos  germanicoH  que  habitaram 
a  peninsula  o  Portuíjal  3(X)  annos,  —  desde  o  século  v  até  o 
século  VIII.  • 

Também  o  teutonico  barco  —  porco  podia  dar  o  portu- 
guez  bácoro^  synonimo  de  porco, 

Note-se  que  o  povo  não  diz  bácoro,  mas  bacro  ou  baquero. 
Por  seu  turno  barco  deu  ou  podia  dar  também  bacro,  baquero 
e  bácoro,  —  methatese  menos  violenta,  do  que  outras  muitas 
da  onomástica  portugueza,  como  Esnoga  por  Synagoga,  etc. 

Barcos  pôde,  pois,  vir  directamente  do  teutonico  barcos 
—  porcos  ou  do  portuguez  bácoros,  quasi  Barcos,  também 
porcos. 

A  villa  de  Barcos  na  minha  opinião  quer,  pois,  dizer 
villa  dos  bácoros  ou  dos  porcos?!... 

Julgo  esta  etymologia  muito  acceitavel, — jâ  porque  a 
glottologia  não  se  oppõe,  —já  porque  o  terreno  da  villa  de 
Barcos  era  muito  próprio  para  a  industria,  alimentação  e 
creação  dos  bácoros  ou  porcos,  pois,  como  já  dissemos,  a  villa 
demora  na  serra  do  Sabivso,  —  monte  sobreíroso,  abundante 
em  sobreiros  e  bolotas,  magnifica  alimentação  para  os  porcos. 

Abundaram  também  n'aquella  região  os  castanheiros  — 
desde  tempos  muito  remotos,  como  já  dissemos,  e  abundaram 
por  consequência  também  as  castanhas,  magnifico  alimento 
para  os  porcos,  —  alimento  superior  ás  bolotas. 

Talvez  que  até  in  illo  tempore,  quando  os  sobreiros  e  os 
castanheiros  formavam  naquella  região  soutos  compactos,  trou- 
xessem bandos  de  porcos,  pastando  ao  ar  livre  e  comendo  as 
castanhas  e  as  bolotas,  como  ainda  hoje  pastam  nos  montados 
do  Alemtejo,  comendo  as  bolotas  e  as  boletas  dos  sobreiros  e 
azinheiras.  Assim  pastavam  nesta  província  da  Beira,  nas 
cercanias  de  Lamego^  ainda  no  século  xvi,  comendo  as  casta- 
nhas dos  soutos,  como  diz  o  cónego  tercenario  Ruy  Fernan- 
des na  sua  interessante  Descripção  do  terreno  em  volta  de  La- 
mego duas  léguas,  tantas  vezes  por  nós  citada.  ^ 

Note-se  que  na  região  da  Beira,  onde  está  a  villa  de 
Barcos,  não  menos  talvez  do  que  em  Lamego,  abundaram  os 
castanheiros,  como  já  dissemos,  e  assim  o  prova  a  onomás- 
tica. 


1    A  dita  memoria  foi  escripta  em  1532  e  publicada  nos  inéditos  de 
Hísioria  portuguezã.  E'  a  ultima  do  volume  V, 


76  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Aos  nomes  de  Tahoaço,  Távora,  villa,  e  Távora,  rio,  jà 
citados,  —  junte-se  Tabosa  —  o  mesmo  que  Tabiilosa  ou  Sou- 
tosa,  freguezia  do  concelho  de  Sernancelhe  —  Souto  e  Casfainço 

—  castaniço,  castanheiro  —  freguezia»  do  concelho  de  Pene- 
dono ;  —  Soutello  e  Castanheiro,  freguezias  do  concelho  da 
Pesqueira,  —  concelhos  limitrophes  do  de  Tahoaço,  metendo- 
se  de  permeio  apenas  o  Távora  —  rio  dos  castanheiros  ou  das 
tahoaf^'^  /.  . . 

Na  minha  opinião,  pois,  a  villa  de  Barcos  tomou  o  nome 
dos  òacoros -7- porcos. 

.  Desculpem  a  franqueza  os  filhos  da  mencionada  villa, 
entre  os  quaes  tenho  parenteá';  mas  rien  n'est  heau  que  le 
vrai. 

Dos  bácoros  tomaram  também  o  nome  outras  povoações 
nossas.  Taes  são: — Bácora,  Bacoreira,  Bacor eira  de  Baixo, 
Bacoreira  de  Cima,  Bácoro  e  Bacorinho. 

Dos  mesmos  bácoros  tomaram  talvez  também  o  nome 
certos  figos  do  Douro,  chamados  bacorinhos^  pois,  sendo  muito 
pequenos,  são  muito  saborosos! ... 

O  mesmo  se  dá  com  os  bacorinhos  ou  leitões,  porcos  ainda 
de  leite  e  pequeninos,  mas  que,  sendo  cozinhados,  como  na 
Beira  e  Traz  os  Montes  se  cozinham,  —  são  deliciosos!... 

Appello  para  os  leitores  que  já  por  alli  andassem  e  os 
saboreasssem,  como  eu  saboreei  muitas  vezes. 

Os  taes  bacorinhos  ou  leitões  —  occupam  rol  distincto 
entre  os  mais  saborosos  pratos  portuguezes. 

*      * 

Ainda  a  propósito  de  Barcos,  dos  bácoros  e  dos  bacori- 
nhos ou  leitões,  direi   que  Leitão  é  appellido  nobre  e  antigo 

—  e  muito  vulgar  em  Taboaço,  villa  próxima  de  Barcos  —  a 
villa  dos  bácoros,  onde  devia  haver  muitos  leitões  ou  bacori- 
nhos —  e  talvez  provenham  de  Barcos  os  Leitões  de   Taboaço. 

Honny  soit  qui  mal  y  pense. 

O  appellido  Leitão  foi  também  antigo  em  Barcos,  pois 
em  carta  que  á  ultima  hora  recebi  do  meu  bom  e  velho 
amigo— snr.  Joaquim  Ferreira  de  Macedo  Pinto,  de  Taboaço, 
diz  s.  ex.*  textualmente  o  seguinte  : 

«  Não  sei  que  actualmente  em  Barcos  haja  famílias  com 
o  appellido  Leitão. 

«  Aqui  em  Taboaço  houve  um  Leitão  nos  principios  do 
século  XIX  que  foi  escrivão  do  juizado  de  fora  e  depois  advo- 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  77 


gado  por  provisão,  cujos  filhos  e  netos  v...  muito  bem  conhe- 
ceu,—  família  numerosa  que  tende  a  extinguir-so, 

«Entre  os  meus  ascendentes  houve  um,  por  nome  tiimão 
de  Mattos  Leitão ^  que  foi  meu  B.®  ou  4.*^  avò,  mas  não  conti- 
nuou na  familia  aquelle  appollido. 

«Actualmente  não  conheço  em  Barcos  Leitão  algum.  Se 
os  houve  —  já  são  Porcos... 

((  Tahoúiio,  2G  de  Maio  de  1908. 

«  Joaquim  Ferreira  de  Macedo  Pinto.  » 

Do  exposto  se  vê  que  em  Barcos,  a  villa  dos  bácoros^ 
ainda  no  século  xvii  havia  Leitões. 

Digo  no  século  xvii,  porque  o  snr.  Joaquim  Ferreira  de 
Macedo  Pinto  nasceu  em  4  de  Março  de  1820.  —  Já  conta 
cerca  de  86  annos  e  era  o  mais  novo  dos  seus  oito  irmãos, 
todos  já  fallecidos.  i  O  mais  velho  foi  o  snr.  dr.  Bernardino 
de  Senna  Macedo  Pinto,  que  nasceu  approximadamente  em 
1804,  pelo  que  o  seu  3.o  ou  4.°  avô  /Simão  de  Mattos  Leitão 
devia  viver  nos  fins  do  século  xvi  e  talvez  nos  principies  do 
século  XVII. 

Ao  snr.  Joaquim  Ferreira  de  Macedo  Pinto  agradeço  pe- 
nhorado o  seu  favor,  que  juntarei  aos  muitos  —  muitíssi- 
mos!... —  de  que  lhe  sou  devedor,  bem  como  a  minha  familia 
toda,  pois,  como  s.  ex.»  já  me  disse  duas  vezes:  — as  relações 
d' amizade  entre  as  nossas  famiUas  jd  vêem  do  tempo  de  nos- 
sos avós  ? ! . .  . 

Devem,  pois,  datar  do  meado  do  século  xviii  e  contam 
por  consequência  hoje — jyrincipios  de  1909  —  mais  de  cento  e 
cincoenta  annos  talvez?!.. 

Isto  não  é  vulgar  e  muito  me  honra,  porque  se  dá  com 
a  amizade  o  mesmo  que  se  dá  com  o  vinho  do  Porto.  —  O 
mais  antigo  é  o  melhor. 

Além  d'isso  a  familia  Macedo  Pinto  é  ha  muitos  annos 
absolutamente  a  mais  rica  do  concelho  de  Tahoaço  —  e  uma 
das  mais  ricas  e  mais  consideradas  no  Dotiro  todo! . .  . 

Ainda  hoje  —  apesar  da  medonha  crise  duriense  —  a  for- 
tuna  do   snr.  Joaquim  Ferreira  de  Macedo  Pinto  é  avaliada 


1  Avultaram  entre  ellcs  o  snr.  Visconde  de  Macedo  Pinto  e  o  snr. 
conselheiro yose'  Ferreira  de  Macedo  P/n/o— lente  da  Universidade  e  au- 
ctor  da  Medicina  legal,  etc. 

V.  no  Portugal  antigo  e  moderno  o  art.  Miragaya,  vol.  5/\  pag. 
269;  Sendim,  vol.  9.o,  pa^.  103;  Taboaço,  no  mesmo  vol.,  pag.  471,  — e 
Vicente  (S.)  vol.  lO.o,  pag. ^518. 


78  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


em  mais  de  seiscentos  contos  de  reis,  —  sendo  a  maior  parte 
d'ella  em  dinheiro  —  e  com  pronunciada  tendência  para  alta, 
porque  é  muito  bem  administrada  por  s.  ex.*  e  seu  filho  —  o 
snr.  dr.  Victor  José'  de  Deus  Macedo  Pinto — já  casado  e  com 
successão —  e  excellente  pessoa  também. 

Qui  viget  in  foliis  venit  e  raiicihus  humor  -  ou  tal  a  ar- 
vore —  tal  o  fructo,  —  tal  o  pae  —  tal  o  filho I ...  ^ 

Elles  vivem  esplendidaniente,  faustosamente,  mas  capita- 
lisam  muito^  porque  não  viajam  nem  dão  banquetes  nem  bai- 
les e,  tendo  uma  grande  fortuna,  —  têem  o  bom  senso  de  vi- 
verem na  sua  terra  natal  -a  mimosa  e  formosa  villa  de  Ta- 
hoaço,  onde  a  vida  é  muito  mais  barata  do  que  no  Porto  ou 
em  Lisboa  —  e  já  Cícero  dizia  :  —  antes  primeiro  na  aldeia,  do 
que  segundo  em  Roma, 

Elles  vão  repetidas  vezes  ao  Porto,  a  Coimbra  e  a  Lis- 
boa, onde  têem  parentes  próximos  e  passam  parte  do  anno, 
mas  a  sua  residência  habitual  é  a  mimosa  villa  de  Taboaço, 
onde  são  os  reis  da  terra. 

Desculpem  ss.  ex,"*  estas  linhas,  que  por  certo  os  inço m- 
modam  e  violentam  a  sua  grande  modéstia,  mas  devo -lhes  a 
máxima  gratidão  e  não  posso  d'outra  maneira  significar- lha. 

Desculpem. 

Cada  qual  dá  o  que  tem! ,    , 

* 

Volvendo  á  graciosa  etymologia  de  Barcos,  ainda  direi 
que,  assim  como  dos  bácoros  tomaram  o  nome  a  villa  de  Bar- 
cos e  outras  povoações  indicadas  supra,  também  os  porcos, 
synonimia  de  bácoros,  deram  o  nome  a  varias  povoações. 
Taes  são  as  seguintes  : 


1  Pela  mesma  lei  de  physiologia contrasta  com  ss.  ex.as  como  a  vida 
com  a  morte  ou  como  a  luz  com  as  trevas  o  meu  atávico  (? !. . .)  suc- 
cessor— dr.  Joaquim  da  Silveira,  da  Anadia,  actualmente  notário  e  advo- 
gado em  Alcanena. 

E'  o  amigo  mais  falso,  que  n'esie  mundo  encontrei,  ao  qual  tão 
generosamente  como  iolamente  dei  o  meu  arsenal  eíymologico—cevca.  de 
80  kilos  de  verbetes,  fructo  do  meu  trabalho  insano  de  10  a  12  annos,  — 
além  de  muitos  livros  raros  e  caros,  -o  que  tudo  ha  20  annos  eu  não  da- 
ria por  três  contos  de  reis !. . . 

Vejam-se  as  pag.  37,  40,  53  e  08  supra. 

Salve-se  quem  puder,  pois  é  um  axioma  popular :  —  Cesteiro  que 
faz  um  cesto  faz  um  cento,  tendo  verga  e  tempo? !. . . 


TENTATIVA    KTYMOLOGICO  TOPONYMICA  79 


Porca,  Porcalho,  Porcalhota,  Porção^  Porca)'i(;a,  Pocariça^ 
o  mesmo  que  Porcariça  ?  —  Porcariço,  Porcas,  Porcel,  Porce- 
Ihe,  Porches;  Por  cimo,  talvez  forma  do  J^orcino  —  Porco,  Por- 
queira,  Porqueiras,  Porquciro.s  o  Porquinhas,  —  ao  todo  mais 
de  30  povoações  nossas. 

Junte- se  Progo,  aldeia,  casal,  quinta,  etc,  que  pôde  vir 
de  proculus,  methatese  do  latim  porctdus  —  porquinho,  lei- 
tão, bácoro,  diminutivo  de  porcns  —  porco. 

O  mesmo  porculus  —  porquinho  —  ou  proculus  —  nascido 
durante  a  peregrinação  do  pae  —  ou  nascido  de  pães  avança- 
dos em  edade  ^  —  deram  ou  podiam  também  dar  Prochoro, 
Proclo,  Proculo  e  Procoro,  nomes  de  santos  e  talvez  formas 
do  mesmo  nome!... 

Também  o  latim  porcus,  i  —  porco,  deu  Porcii^  Porcios, 
familia  romana,  —  Porcia,  Porciana,  Porciano,  Porcilia,  Por- 
cílio,  Porcinia,  Porcinio,  Porcino  e  Porcio,  nomes  pessoaes  e 
appellidos. 

—  Porciano  foi  santo. 

—  Porches,  supra_,  —vem  de  Porciis,  patronimico  de  Por- 
citts,  ii  ~  Porcio, — ou  de  Porcii  —  ou  Porcios,  familia  ro- 
mana. 

—  Porcel  e  Porcelhe  supra — podem  vir  do  latim  porcel- 
lus,  i  —  o  mesmo  que  pojxulus,  i  —  porquinho,  leitão,  bácoro. 

Também  Porcelhe  pôde  vir  de  Porcilius,  ii  —  Porcilio^ 
diminutivo  de  Porcio,  como  Porcinio  e  Porcino  supra. 

—  Porqueira  vem  do  latim  porcanus,  a,  um — coisa  de 
porco,  —  o  mesmo  que  porcinus,  a  iim,  que  talvez  desse  Por- 
cimo  ou  Porcino,  povoação  mencionada  supra. 

Também  o  latim  sus,  suis,  ~  o  mesmo  que  porcus  e  por- 
ca —  o  porco  e  a  porca—  deram  siiarius,  ii,  —  o  porqueiro  ou 
negociante  de  porcos,  — unde  Soeiro,  o  mesmo  que  suarius, 
porqueiro^  appellido  nosso,  —bem  como  Soares  por  sua riis, 
patronimico  de  suarius,  ii. 

Soares,  appellido  nobre  e  antigo,  quer  pois  dizer  —  filho 
do  Soeiro  ou  do  porqueiív? ! .  . . 

Por  seu  turno  Soares  e  Soeiro,  appellidos,  deram  Soares, 
Soeira,  Soeiro  e  talvez  Soirinho  por  Soeirinho, —  Souralva  e 
Sotiralvo  por  Soiralva  e  Soiralvo  —  de  Soeiro  Alvo,  —  Soure 
por  Soirc,  contracção  de  Soe)-ii  por  Soarii,  —  Soarinho  por 
Soirinho  supra,  o  mesmo  que   Soeirinho,  -  Souro   Pires  por 


Veja-se  o  Magnum  Lexicon  latino. 


80  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


tíoiro  Pires,  o  mesmo  que  Soeiro  Pires  —  Soeiro  filho  de  Pe- 
dro, —  Sueira,  Sueiro  e  Sueiros,  povoações  nossas. 

O  mesmo  sus,  suis  —  o  porco  e  a  porca  —  em  latim  puro 
deu  suile,  is  —  o  chiqueiro,  pocilga,  cortêlho  ou  curral  de 
porcos,  unde  talyez  Sil  por  suilj  povoação  nossa. 

Também  caprile,  is  —  o  curral  de  cabras,  deu  Cabril  e 
(7(a/>r«Z,f  diíferentes  povoações  nossas,  —  Cabris,  plural  de  Ca- 
bril, —  e  Cabrins  por  Cabris,  em  Barcelona  —  Cabrils. 

Também  temos  Cabria  e  Cabrial,  por  Cabra,  Cabril  e 
Cabral,  —  reminiscência  da  occupação  hespanhola,  pois  Ca- 
bria ó  também  uma  povoação  de  Palencia,  o  mesmo  talvez 
que  Valência,  na  Hespanha, — e  em  Portugal  —  Valença. 

Desculpem  os  nossos  bons  visinhos  o  bater-lhes  á  porta, 
pois  já  é  tempo  de  acordarem  e  de  investigarem  também  a 
etymologia  das  suas  povoações. 

*      * 

A  propósito :  —  Bivar,  appellido  nosso,  foi  importado  de 
Vivar,  povoação  da  Hespanlia ;  mas  qual  a  etymologia  de 
Vivara  —  Na  minha  opinião  é  Vivaldus^  i —  Vivaldo,  antigo 
nome  d'um  santo,  etc. 

Cf.  Bernardo  e  Bernaldo,  —  Bernardino  e  Bernaldim,  o 
mesmo  que  Bernardino,  Gerardo,  Geraldo,  Giraldo  e  Girai, 
o  mesmo  que  Giraldo,  etc.  Mas  deixemos  em  paz  a  Hespanha. 

—  Cabril  e  Cabral  são  formas  do  mesmo  nome,  como  já 
dissemos,  pois  na  onomástica  portugueza  confundiram-se  e 
substituíram  as  desinências  il  e  ai. 

Cf.  Barril  e  Barrai  —  muitas  povoações  nossas,  que  to- 
maram o  nome  do  barro. 

Aroil  e  Aroal,  contracção  de  aroeiral,  bosque  ou  matta 
d'aroeiras  ou  de  lentisco. 

—  Bezerral  e  Bizarril  por  bezerril  —  dos  bezerros. 

—  Barrocal  e  Marroqiãl  por  barroquil,  o  mesmo  que 
Barrocal, 

Somma  e  segue 

—  Malliadil  e  Malhadal. 

—  Aloura  e  Monral, 

—  Cabanil  e  Cabanal. 

—  Carril  e  CarraL 

—  Carcoil  e  Carcoal. 

—  Fail  e  Faial. 

—  Féfil  e  Féfal. 


TENTATIVA    ETyMOLOOTCO-TOPON YMICA  81 


—  Landnl  e  íjindal  \)ov  ÍMudral  —  das  landras,  bolotas? 

—  Lourll,  Louvai  o  Louriral —  bosque  ou  matta  de  lou- 
reiros. 

—  Ouril  e  Onral. 

—  (Jutil  por  Outeíril  —  e  Onteiral. 

—  (Jcily  O  Bevial  o  Ovial — de  ovile,  pi— curraX  de  ovelhas. 

—  Pasmil  e  Pasmai  ? ! .  .  . 

De  Cazimiriis,  i  —  Cazimiro,  nome  d'um  santo,  que  deu 
Casmillo  e  podia  também  dar  Casniil.  Por  seu  turno  Casmil 
deu  ou  podia  dar  Pasmíl  e  Pasmai,  pois  ca,  co,  cii^  e  pa^  j)Oj 
pu,  confundiram-se  e  substituiram-se. 

Veja-se  o  tópico  infra  —  Substituição  de  letras. 


* 


Junte-se  ainda: 

—  Passil  e  Passal. 

—  Resomil,  Remesal  e  Pomezal,  contracção  de  romanzei- 
ral,  bosque  ou  matta  de  romanzeiras. 

—  Resomil  é  metathese  de  Romezil.  o  mesmo  que  Reme- 
sal e  Romezalt, . . 

—  Touril,  Taural  e  Toural,  etc,  povoações  nossas. 

Do  exposto  se  vê  que  são  formas  do  mesmo  nome  Cabril 
e  Cabral,  como  já  dissemos. 

Com  vista  ao  meu  bom  e  velho  amigo  António  Moreira 
Cabral^  negociante  de  vidros,  bastante  illustrado  e  muito 
amante  de  livros!.  .  . 

E'  natural  da  freguezia  de  Cette,  concelho  de  Paredes, 
mas  vive  desde  a  infância  no  Porto,  na  rua  das  Flores,  pelo 
que  vulgarmente  o  denominam  Cabral  das  Flores. 

E'  uma  excellente  pessoa  e  tem  uma  das  melhores  livra- 
rias particulares  do  Porto,  comprehendendo  muitas  obras  ra- 
ras e  caras —  e  ao  todo  mais  de  íiete  mil  volumes. 

Adora  Camões,  pelo  que  foi  um  dos  fundadores  da  So- 
ciedade Camoneana  do  Porto  —  e  tem  uma  luxuosa  e  preciosa 
camoneana,  avaliada  em  800  a  í)00  mil  reis  ? ! . . . 

Comprehende  centos  d'exemplares  dos  Luziadas  e  d'ou- 
tras  obras  de  Camões  em  todas  as  linguas  da  Europa,  in- 
cluindo o  idioma  polaco  e  excluindo  o  russo. 

Elle  adora  Camões,  porque  também  cultiva  e  ama  a  poe- 
sia,  como   provam  as  duas  quadras  seguintes,  que  fez  e   pu 
blicou  em  22  d'Outubro  de  1903,  dia  do  seu  anniversario  na- 
talicio. 


82  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 

Eil-as : 

o  flleu  nascimento 

Em  Cêtte,  aldêa  formosa, 
Setenta  annos  hoje  faz 
Que.  uma  Mãe  carinhosa, 
Ao  mundo  deu  um  rapaz; 

Que  depois  do  Sacramento, 
Que  dizemos  baptismal, 
«António»  lá  reza  o  assento, 
E,  de  appellido   «Cabral». 

Porto,  22  de  Outubro  de  1903. 

A.  Moreira  Cabral. 

Nasceu,  pois,  o  meu  bom  e  velho  amigo  snr.  António 
Moreira  Cabral,  no  dia  22  d'Oiitubro  de  1833,  na  sua  formosa 
aldeia  de  Cêtte,  —  e  eu  nasci  na  mimosa  e  muito  vistosa  al- 
deia da  Corvaceira,  freguezia  da  Penajoia,  concelho  de  La- 
mego,—  mesmo  em  frente  da  estação  actual  do  Molledo, —  no 
dia  14  de  Novembro  de  1832.  ^ 

Somos  portanto  quesi  da  mesma  edade.  A  differença  é 
d'um  anno  e  23  dias  —  em  favor  d'elle. 

Ambos  já  transpozemos  a  bella  casa  dos  70  e  muito  pro- 
vavelmente n'ella  deixaremos  a  ossada!,    . 

* 

Volvendo  ao  thema  latino  síis,  suis  —  o  porco  ou  a  por- 
ca—  ainda  diremos  que  também  deu  suillus,  a,  um  e  siiinus, 
a,  um,  —  coisa  de  porco  ou  de  porca,  unde  talvez  Suimo  por 
Suino  supra,  — A^zímo  e  Suína,  dois  lindos  nomes  pessoaes  e 
nomes  de  santos. 

Suíno  e  Suina  são  synonimos  de  Porcia,  Porcio,  Porcia- 


1     V.  Corvaceira,  Miragaya  e  Pcnajoia,  no  Portugal  antigo  e  mo- 
derno, —  e  Corvaçeira,  no  Índice  do  i  vol.  d'esta  Tentativa, 


TENTATIVA    KTYMOLOOICO-TOPONYMICA  83 


na,  Porciano,  Porcilia,  PorcillOj  Porcinia,  Porcinio,  Porcina  e 
Porcino  supra  o  pertencem  á  classe  dos  nomes  tirados  das 
feras, —  como  Tigre,  Loim,  í^eão,  Urao,  firsicio,  f/r.nno,  Ur- 
sisceno,  Úrsula,  /.eocaflia,  Leocricia  ou  Leocrisia,  *  Leonardo, 
etc,  nomes  de  santos/.  .  . 

Junte- se  Tigides  ou  Ti  gr  ides,  Tigridia  e  Tigrio,  também 
nomes  de  santos,  tirados  de  Tigris,  is  ou  idis — o  Tigre,  fera, 
rio  e  nome  d'um  santo. 

Leocadia,  Leocrisia,  LeoniUa,  Leonardo,  Leoncia,  L^eoncio, 
Leonides,  Leopardo,  I^eohardo,  o  mesmo  que  L^eopardo,  Leo 
poldo  e  Pantaleão,  nomes  de  santos,  foram  tirados  todos  do 
latim  leo,  onis  —  o  leão,  fera  que  deu  Leão,  também  nome 
pessoal,  nome  d'um  santo  e  de  treze  Papas  ou  pontífices  ro- 
manos. 

Por  seu  turno  leo,  onis  veiu  do  grego  leon,  leontos,  *  cuja 
raiz,  segundo  se  lê  em  Boucrand,  é  lis  —  leão. 

O  hebreu  lãbi  —  leão  é  um  termo  formado  do  velho  he- 
breu lábáli,  onomatopeia  do  grito  do  leão. 

O  hebreu  laisch,  também  nome  do  leão,  foi  tirado  do 
verbo  liscli  —  elle  tem  sido  forte. 

O  grego  léón  passou  para  todas  as  linguas  occidentaes. 

Em  hebreu  teve  as  formas  lábi,  lébieh  e  laisch;  em  egy- 
pcio  laho;  em  copta  lahoi;  em  árabe  liis  ou  lejs  e  lehouah;  em 
allemão  —  lõice  ;  em  teutonico  leon;  em  inglez  e  francez  lion; 
em  anglo-saxão  —  lio  e  leon;  em  hollandez  leeu  e  leeuic ;  em 
sueco  leion  ;  em  dinamarquez  loeve ;  em  polaco  e  bohemio 
lew ;  em  islandico  leo ;  em  baixo  bretão  leon;  em  italiano  leo- 
ne  e  lione  •  em  basco  leoina ;  em  belga  leew  ;  em  russo  léic ; 
em  castelhano  leon  —  e  em  portuguez  leão.  ^ 

Leocadia  —  vem  do  grego  léon  —  leão  —  e  hados  —  bar- 
ril, cântaro,  balde,  celha,  como  diz  Boucrand. 

Por  seu  turno  Leocadia  deu  Locaia  e  Vai  de  Locaia,  po- 
voações nossas. 

Leonardo  —  em   allemão   Leonhard  —  vem   do  teutonico 


^  Leocrisia  foi  santa  e  auctorisa  a  forma  Leocrisio,  em  latim  Leo- 
crisius,  ti,  iis,  —  unde  Liicriz,  povoação  nossa,— e  talvez  Criz  por  Lucriz 
(o  Criz?)— rio  da  Beira  Alta? 

—  É'  assim  a  arte  nova !. . . 

■^  Leontos  deu  Lconte,  sitio  histórico  da  serra  do  Gerez.  Passava 
em  Leonte  a  estrada  romana  da  Geira  e  ainda  ha  pouco  alH  se  viam  tom- 
bados alguns  marcos  milUares  d'ella. 

^    —  V.  Léon,  em  Boucrand. 


84  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Zeon  —  leão  —  e  hard  —  corajoso.  Leonardo,  quer,  pois,  dizer 
—  valente  e  ousado  como  um  leão. 

O  mesmo  suffixo  hard  se  encontra  em  muitos  nomes 
germânicos,  taes  são :  Bernardo,  o  mesmo  que  Berardo,  — 
de  beér  —  urso  —  e  hard  —  ousado. 

—  Ricardo  —  em  allemão  Eichard  —  de  7Ích  —  rico  —  e 
hard  —  ousado,  valente. 

Ríchard  em  latim  deu  Ricardus  e  no  baixo  latim  da 
edade  media  Ricárediis,  Ricarédus  e  Recaredus,  i,  unde  Reca- 
rêdo,  nome  d*um  rei  godo, —  e  Recarei,  povoação,  —  de  Reca- 
redi  villa  —  granja,  quinta  ou  casa  de  campo  de  Recarédo  ou 
de  Ricardo. 

* 
*      * 

Leonides  é  o  mesmo  que  Leonidio  e  Leonidas,  nome  gre- 
go d'um  rei  de  Sparta,  cidade  que  deu  o  nome  ao  esparto, 
planta. 

Leonides  ou  Leonidas  quer  dizer  —  filho  de  leão  ou  nas- 
cido de  leão  ou  que  tem  sangue  de  leão! 

Devia  ser  mais  valente  do  que  eu  I . . . 

Leohaldo,  Leopardo  e  Leopoldo  são  formas  do  mesmo  no- 
me, em  francez  Léohald  e  Léopold  —  em  latim  Leobaldus, 
Leopaldus  e  Leopoldtts,  ^,  —  do  teutonico  leon  —  leão,  —  e 
baldy  o  mesmo  que  bold  e  hard  supra,  —  corajoso,  valente, 
ousado. 

O  mesmo  suffixo  germânico  bald  se  encontra  em  Gonde- 
bald,  nome  composto  do  teutonico  gund,  o  mesmo  que  ger  — 
guerra  —  e  bald,  —  Significa,  pois,  Gondebaldo — o  mesmo  que 
Gerard  —  Gerardo,  Geraldo,  Girai  e  Giraldo  —  valente,  ou- 
sado e  corajoso  na  guerra.  ^ 

Gondebald  em  latim  deu  Gondebaldus,  i — unde  Gonde- 
vae,  Gondivae,  Gondivau  por  Gondibaldo  —  e  Gondivão  por 
Gondiváo,  o  mesmc  que  Gondivau,  povoações  nossas. 

Al  deu  au  supra,  como  Arnaldus  —Arnaldo,  nome  d'um 
santo,   deu  Arnau,  Arnaud  e  Arnaut,  appellidos  nossos,  o 


*    Gerardo,  Geraldo  e  Giraldo  foram  santos. 

A  forma  Girai  por  Giraldo  é  antiga  e  encontra-se  em  Girai  Paes, 
povoação  nossa. 

Giraldo  deu  Girai,  como  Vivaldo  deu  Vivar  por  Vivai,  povoação 
da  Hespanha,  e  Bivar,  appellido  nosso. 


TENTATIVA    ETrMOrX)GTCO-TOPOyYMrCA  85 


mesmo  que  Arnaud  e  Arnotdd,  nomes  francezes^  tirados  de 
Renaud  e  Renould  —  e  estes  de  rein — puro,  claro,  fino,  as- 
tuto, como  diz  Boiícrand. 

Também  Theodohaldus,  i  —  Theodobaldo,  nome  germâ- 
nico, entre  nós  deu  Theobaldo  e  Theobardo,  nomes  de  santos, 
—  Theobalde,  Tibalde  e  Tlbaldinho,  povoações  nossas,  —  Ti- 
baldo,  Tibau,  Tíbeau  e  Tovar,  appellidos. 

Assim  como  Vivaldus  na  Hespanha  deu  Vivar,  nome  de 
duas  povoações,  e  entre  nós  Bivar,  appellido,  —  também 
Theodobaldus^  o  mesmo  que  Theodobardus,  na  Hespanha  deu 
varias  povoações  com  os  nomes  de  Tebar,  Tobar,  Tobarra, 
Tobaruela,  Tobera,  7ovals,  Tovar,  etc,  —  unde  Tovar,  appel- 
lido portuguez  nobre  e  antigo. 

Cf.  Thibaut  e  Tibault,  nomes  francezes,  o  mesmo  que 
Theobalde,  Théodebald  e   Theudibald. 

Este  nome  vem  do  teutonico  theod  —  povo,  nação ;  che- 
fe, principe  ;  —  e  bald  ou  bold  —  ousado_,  corajoso.  Theodo- 
baldo  significa,  pois,  —  chefe  valente,  corajoso. 

* 
*     * 

Volvendo  a  Barcos  e  aos  bácoros,  porcos,  suínos,  Soares 
e  Soeiros,  porqueiros,  negociantes  de  porcos,  ainda  mencio- 
narei um  vocábulo  portuguez  da  mesma  família,  que  prende 
com  a  nossa  onomástica.  —  E'  elle  varrão,  o  mesmo  que  bej'- 
rão  por  verrão  (o  povo  diz  borrão)  —  porco  inteiro  —  do  latim 
verres,  is  —  idem,  que  já  no  latim  deu  Verres,  appellido  de 
Caio  Verres,  cidadão  romano,  etc. 

O  mesmo  verres,  is  talvez  desse  Verride,  povoação  nossa, 
bem  como  Berredo  por  Verredo,  o  mesmo  que  Verride  por 
Verrido,  pois  na  onomástica  portugueza  as  desinências  ida, 
ide,  ido,  êda,  êde  e  édo,  por  vezes  se  confundiram  e  substitui- 
ram,  como  logo  provaremos  no  tópico  —  Desinências  onomás- 
ticas. 

Mas  Berredo  e  Berredos,  povoações  nossas,  talvez  prove- 
nham do  portuguez  popular  berredo^  o  mesmo  que  berraria  e 
berreiro  —  de  berrar,  dar  berros,  gritar  ;  —  urrar,  bramir,  ron- 
car, termos  onomásticos  da  voz  das  feras. 

Cf.  Berraria,  povoação  nossa,  que  tomou  claramente  o 
nome  do  portuguez  berraria,  o  mesmo  que  berreiro. 

A'  mesma  familia  pertencem  talvez  Urra,  Urro,  Urro, 
Urros  e  Urros,  povoações  nossas,  —  e  Pedra  Curra  (pedra 
que  urra)  —  sitio  próximo  de  S.  Cosmado,  terra  natal  do  sr. 


86  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


dr.  Francisco  Gomes  Teixeira,  mathematico  distinctissimo, 
lente  e  director  da  Academia  Polyteclinica  do  Porto ^  etc. 

A  tal  Pedra  Curra  bem  merece  o  nome,  porque  demora 
em  sitio  alto  e  desabrigado,  muito  batido  pelo  vento  e  tem 
um  buraco  ou  abertura  natural  que  brame,  quando  sopra 
vento  forte.  ^ 

Junte-se  Ronca,  Ronca  de  BaixOy  Ronca  de  Cima,  Ronca- 
nlto,  Roncão,  Roncão  de  Baixo,  Ronca  o  de  Cima,  Roncão  d'El- 
Rei,  Roncão  do  Meio,  Roncas,  Ronco,  Ronco  de  Baixo  (?/...), 
Ronco  de  Cima,  RoncÕes,  Ronqueira,  Ronqueiras  ^,  —  Ronqui- 
Iha  e  Ronquinha,  formas  do  mesmo  nome  talvez,  pois  na  ono- 
mástica portugueza  Ih  e  nh  confundiram-se  e  substituiram-se, 
como  l  e  n. 

Veja-se  o  tópico  infra  ~  Lh  e  Is/h,  —  tópico  muito  curioso 
e  muito  interessante  para  esta  ordem  de  estudo  ! . . . 

Berredo  e  Berredos  também  podem  ser  formas  de  Bar- 
redo  e  Barredos,  povoações  nossas,  que  tomaram  o  nome  do 
barro,  como  Barraes,  Barrai,  Barredo,  bairro  do  Porto,  — 
Barrosa,  Barroso^  Barril  por  Barrai,  etc. 

Junte-se  finalmente  Olival  dos  Borrões,  sitio  da  Villari- 
ça,  em  Traz-os-Montes,  que  tomou  claramente  o  nome  dos 
borrões,  por  barrões  ou  varrões,  berrões  ou  verrões  —  porcos 
inteiros. 

Note-se  que  no  dito  Olival  dos  Borrões  ainda  hoje  se 
encontram  porcos  de  pedra,  toscamente  desenhados  e  grava- 
dos em  alto  relevo  nas  fragas  ou  rochas,  imitando  a  lendá- 
ria porca  de  Murça,  —  o  porco  ou  porca  em  que  assenta  o 
pelourinho  de  Bragança  —  e  outros  porcos  ou  porcas  de  pe- 
dra, que  ainda  hoje  se  encontram  na  mesma  província  tras- 
montana,  —  talvez  reminiscência  d'algum  povo  que  por  alli 
estanciasse  e  adorasse  os  porcos,  como  deuses  .^  ! .  .  . 

Varrâo,  porco  inteiro,  virá  do  latim  verres,  idem,  mas 
Varro,  onis  —  Varrão,  — já  se  encontra  em  latim  puro,  como 


1  Para  atesto  da  pipa,  junte-se  —  Orreiro  e  Orro$,  o  mesmo  que 
Urreiro  e  Urros,  povoações  nossas,  —  bem  como  Reiro  e  Reiros,  talvez 
aferese  de  Orreiro  e  Orreiros  ?  !. . . 

—  A  bússola  é  o  ouvido. 

2  Temos  também  Ronceiras,  casal,  antiga  forma  de  Ronqueiras. 
Veia-se  o  tópico  infra :  —  Substituição  de  letras. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO  TOPONYMICA  87 


appellido    de    Marco    Terêncio     Varmo,    doutíssimo    escri- 
ptor,  etc. 

.  O  dito  Olival  dos  Borrões  pertence,  pois,  á  lon^a  série 
das  nossas  terras  e  povoações  que  tomaram  o  nome  dos  por- 
cos^ como  Bácora^  Bacoreira,  Bacorinho,  Bácoro  e  Baixos  — 
dos  bácoros,  synonimia  de  porco'^. 

Junte-se  ainda  Moita  das  Porcas^  Vai  da  Porca,  Vai  de 
Porcas,  Vai  de  Porco  e  Vai  do  Porco,  Vai  do  Porquinho, 
Horta  do  Porxes,  Corta  Porcas  —  por  Corte  das  Porcas  ?  — 
Cabeça  de  Porco  e  Cabeça  do  Porco,  etc.  —  povoações  nossas, 

Ad  ridendum,  por  ultimo  direi  que  o  nome  do  papa  Sér- 
gio IV  —  era  Pedro  Bocca  de  Porco?/.., 

Também  do  portuguez  pocilga,  o  mesmo  que  pocilgo  — 
curral  de  porcos,  —  e  de  pocilgão  —  grande  pocilga  ou  po- 
cilgo, —  tomaram  o  nome  Possijal,  o  mesmo  que  pocigal  e 
pocilgal  ?y  —  Possilgaes,  Possilgão,  Possilgões  e  Pexilgaes,  o 
mesmo  que  Possilgaes  ?  —  povoações  nossas. 

Eira  bien  qui  rira  le  dernier  f  I . .  . 

Junte-se  Barrão,  quinta  nossa,  —  o  mesmo  que  Van^ão, 
her^rão,  verrão  e  borrão,  supra. 

Também  temos  Javali,  —  aldeia,  que  tomou  o  nome  de 
javali  —  porco  montez,  porco  bravo. 

Por  seu  turno  javali  —  provém  do  árabe  jabali  —  e  este 
de  jabolon  —  serra,  monte. 

Nós  também  temos  varrasco,  —  o  povo  diz  barrasco  e 
berrascOf  —  o  mesmo  que  varrão,  berrão.^  verrão  e  borrão  su- 
pra,—  porco  inteiro,  não  castrado.  E  na  minha  opinião  bar- 
rasco  ou  verrasco  por  methatese  deu  —  Rabasca,  Rabasco,  Ra- 
basqueira,  Ravasco,  Ravasqueira  e  Ravasquinha,  contracção 
de  ravasqueirinha.,  povoações  nossas. 

Elias  têem  muita  affinidade  glottologica  —  é  certo  — 
com  as  nossas  povoações  —  ao  todo  mais  de  20  —  que  toma- 
ram o  nome  das  rabaças,  ervas.  Taes  são  : 

—  Rabaça,  Rabaçal,  Babacas,  Rabaceira,  Rabaceiro,  Ea- 
bacinha,  Rabacinas,  o  mesmo  que  Rabacinhas,  —  Rabaçosa, 
etc.  Mas  na  minha  opinião  a  série  anterior  não  tomou,  como 
esta,  o  nome  das  rabaças  mas  dos  barrascos  ou  varrascos  — 
porcos  inteiros,  como  já  disse,  —  e  por  ultimo  direi  que  os 
porcos  gostam  muito  das  rabaças  l . .  . 

Desculpem  os  meus  poucos  leitores  tantos  dislates  (?)  a 
propósito  de  Bathuel,  dos  bateis  e  de  Batel,  —  de  Barcos  e 
dos  bácoros,  bacorinhos  ou  Leitões,  —  Soares  e  Soeiro  ou  por- 
queiro, — porcos  bravos  e   mansos,    castrados  e    não    castra- 


88  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


dos  OU  varrões,  verrões,  herrões^  borrões^  harrascos  ou  varras- 
cos  —  Rabascos,  Bavascos,  etc. 

Só  por  si  este  longo  tópico  me  dá  entrada  franca  — 
não  em  um  instituto  ou  academia^  mas  em  um  ruanicomio  f . . , 

Desculpem  a  vaidade  e  prosigamcs. 


Volvendo  ao  tópico  supra :  —  Suffixo  hebraico  El  — 
Deus,  —  já  mencionámos  muitos  nomes  em  que  elle  se  en- 
contra—  e  muitas  povoações  nossas  que  tomaram  d'elles  o 
nome. 

Junte-se  Daniel,  nome  hebraico,  mencionado  na  Biblia 
muitas  vezes  e  que  apenas  deu  Daniel,  nome  d'um  santo,  e 
Daniella,  nome  de  mulher,  mas  não  de  santa. 

Este  nome  é  composto  do  hebraico  dan — juiz — e  El 
por  Eloah  —  Deus. 

—  Ezechiel  ou  Ezequiel,  nome  hebraico,  deu  também  Eze- 
chiei,  nome  d'um  santo  e  3  quintas  nossas. 

Este  nome  é  composto  do  hebraico  chezeTc  —  força  —  e 
El  —  Deus. 

Significa,  pois,  —  força  de  Deus. 

—  Gabriel  —  também  nome  d'um  santo  e  de  varias  po- 
voações nossas,  como  já  dissemos. 

Este  nome  vem  do  hebraico  gíbor  —  forte  —  e  este  de 
gebouráh — força  —  e  El — Deus.  Significa,  pois,  também 
força  de  Deus,  como  Ep'echiel,  supra;  mas  Gabriel  pôde  vir 
também  do  hebraico  geber -^  homem. —  e  El  —  Deus,  como 
diz  Boucrand. 

Também  Gabriel  deu  Gabriella,  nome  pessoal,  mas  não 
de  santa,  como  Daniel  deu  Daniella  e  Raphael  deu  Ba- 
phaella. 

—  Ismael —  nome  hebraico,  deu  Ismael,  nome  d' um  san- 
to, etc. 

Este  nome  é  composto  do  hebreu  schamah  —  ouvir, 
attender, —  e  El  —  Deus.  Significa,  pois,  Ismael  ^  Deus  o 
attendeu,  o  ouviu. 

Ismael^  filho  á^Abrahão  e  de  Agar,  foi  o  progenitor  dos 
árabes,  pelo  que  estes  se  denominaram  ismaelitas  e  agarenos. 

—  Israel^  cognome  hebraico  de  Jacob,  deu  Israel,  nome 
d'um  santo,  etc.,. —  bem  como  também  deu  o  nome  de  israe- 
listas  aos  judeus. 

Israel  vem  do  hebreu  sârah  —  elle  combateu  —  q  El  — 
Deus,  Significa,  pois,  —  combatente  de  Deus, 


TENTATIVA    ETYMOLOQICO-TOPONYMICA  89 


Também  pôde  vir  do  hebreu  iasar  —  ser  justo,  recto, 
—  e  El  —  DeuSy  —  significando  J/z-vZ/ra  de  Deus. 

Vide  Boucrand. 

Israel  no  latim  deu  Israel^  I.sraélis,  undo  talvez  I.sraeléis, 
o  mesmo  que  Israelitas,  —  e  Serrelóis,  povoação  nossa,  meta- 
these  e  deturpação  de  Israeléis. 

A  escala  podia  ser  Israel  —  Israélis  —  Israeléis,  —  Esrae- 
léls  —  Esreléis  —  Serreléis  ? 

Fiat  lux. 

—  De  Jalaleel,  élis,  nome  hebraico,  talvez  provenha  Jal' 
les,  povoação  nossa,  como  já  dissemos. 

A  escala  seria  :  —  Jalaleel  —  Jalalevlis  —  Jalélis  —  Jal- 
les? 

A  bússola  é  o  ouvido. 

—  Joel  deu  Joel  e  Zoei,  nomes  de  santos,  —  e  Juhel,  ap- 
pellido  nosso. 

Quanto  a  Manuel  e  Miguel,  — já  dissemos  o  bastante. 

—  Eaphael  deu  Rajphael^  nome  d'um  santo,  —  e  Raphaela, 
nome  de  mulher,  mas  não  de  santa,  —  Eaphael,  Eaphael  Ci- 
meiro, Eaphael  Fundeiro  e  Eaphaela,  povoações  nossas,  —  bem 
como  i?.  Eaphael,  casal  e  moinho. 

Na  Hespanha  Eaphael  deu  Eafaeles  e  talvez  Eafal,  Ea- 
falet,  Eafelhafios,  etc,  varias  povoações  de  Granada,  Ali- 
cante e  Baleares. 

Samuel,  nome  hebraico,  mencionado  na  Bíblia,  entre  nós 
deu  Samuel^  nome  d'um  santo,  —  Samicell,  appellido  d'im- 
portação,  —  Samuel.^  duas  aldeias  e  duas  freguezias,  —  Samel 
por  Samuel  —  e  Samil  por  Samel,  povoações  nossas. 

O  mesmo  Samuel,  assim  como  deu  Samel  e  Samil,  tam- 
bém deu  ou  podia  dar  Samal,  unde  talvez  Samaldo  por  Sa- 
maio?,  povoação  nossa. 

Também  Samal  e  Samel  podiam  dar  e  na  minha  opi- 
nião deram  —  Tamal  e  Tamel,  povoações  nossas,  —  e  Tamel, 
nome  d'um  santo,  —  talvez  forma  de  Samel  por  Samuel !,  . . 

Os  leitores  não  se  espantem,  porque  na  onomástica  por- 
tugueza  sa,  se,  so  —  e  ta,  te,  to  —  conftindiram-se  e  substituí- 
ram-se,   como   provaremos  no   tópico  infra  —  Substituição  de 

letras. 

* 
*      * 

«E  você  a  dar-lhe  com  o  tópico  —  Substituição  de  le- 
tras?/... 

ftEsse  tópico  —  dirão  os  leitores  —  é  o  seu  bordão,  como 


90  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


foi  para  Fr.  Bernardo  de  Brito  —  o  Lay  mundo,  tantas  vezes 
por  elle  citado  e  que  jamais  alguém  lobrigou !  » 

—  Têem  vocencias  muita  razão  e,  porque  o  mencionado 
tópico  é  longo,  —  milito  longo  —  e  talvez  se  demore,  ahi  vae 
uma  amostra  do  panno. 

5q,  5é,  5Ó  e  tá,  té,tó — confundindo-se  e  substituindo-se 
na  onomástico  portugueza 

—  SangidnTial  —  Taganhal  e  Tanganhal  por  tanguinhalf 

—  Sainde  e  Tainde. 

Todos  os  nomes  que  vou  citando  são  nomes  de  povoa- 
ções nossas,  mencionados  pelo  sr.  João  Maria  Baptista  na 
Chorographia  Moderna. 

Somma  e  segue. 

—  Sangue  —  e  Tanque. 

—  Salahorda  e  Taborda. 

—  Carrapassal  e  Carrapatal, 

—  Carapeçal,  Carapesal  e  Carrapetal. 

—  Carapeço  e  Carapeto. 

—  Carapiço  e  Car apito. 

Carapesal  foi  appellido  nobre  e  antigo  de  João  Carape- 
sal, alcaide-mór  de  Leiria  no  tempo  de  D.  Sancho  I. 

V.  Leiria  no  Portugal  antigo  e  moderno,  vol.  4.*^,  pag.  79. 

Carrapassal  ou  Carrapaçal,  Carrapatal,  Carrapeçal  e 
Carapesal  são  formas  do  mesmo  nome,  tiradas  de  Carapeço 
por  Carapeto,  Carapiço  e  Carapito  —  e  este  por  carrapato,  con- 
tracção de  carrapateiro,  espécie  de  feijão  que  dá  o  rícino  e 
que  deu  o  nome  a  diíferentes  povoações  nossas. 

Taes  são: — Carapecos,  Carapeta,  Carapeta!,  Carapetali- 
nho^  Carapeteira,  Carapeteiro,  Carapeto,  Carapetos^  Carape- 
tosa,  Carapicha,  Carapiço,  —  Carrapassal,  Carrapatal,  Carra- 
patas, Carrapateira,  Carrapateiras,  Carrapateirinhas,  Carra- 
pateiro, Carrapatello,  Carrapatinha,  Carrapato,  Carrapatosa, 
Cctrrapatoso,  appellido, —  Carrapetal,  Carrapkliana,  Carra- 
pitos  por  Carrapatos,  etc,  —  povoações  nossas. 

Junte-se  também. 

—  Saião  e  Tayão, 

—  Sedões  e  Tedões. 

—  Sarrea,  appellido, — Sarria,  na  Hespanha, — e  2'ar- 
ria,  casal  nosso. 

—  Ceira  e  Teira. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  91 


—  Seixedo  e  Teixedo. 

—  Seixeira  e  Teixeira. 

—  ^Seixo.so  e  Teixoso. 

—  Celho  [Cima  Celho)  —  Telhe  e  Telho, 

—  Sello  o  Tello. 

—  Sellões,  Tellões  e  Tendes  por  Tellõeft? f... 

—  Sendal  e  Tendaes^  plural  de  Tendal. 

—  Sendas  o  Tendas. 

—  Sente  e  Tente. 

~  Serena  e  Terena?... 

—  Serina  e  Ter i na  ? .  ,  . 

—  Serrão  e  Terrão,  aldeias!... 

—  Serrenho —  Terranlio  o  Terrenho. 

-^  Serrazim.  Serrazina  —  e  T'errazina.  • 

—  Serrões  e  Terrões  ~  aldeias  ! .  .  . 

—  iSot/m  e  Taim, 

—  Setinha  e  Tetinha. 

—  Sesteira  e  Testeira. 

—  Sourinho  e  Tourinho. 

—  Semonde  e  Themonde. 

—  Cibões  por  Cibães  ?  —  e  Tibães. 

Note-se  que  as  desinências  ães  e  ões  confundiram-se  e 
substituiram-se  -  como  ainda  hoje  se  confundem  e  se  subs- 
tituem? /... 

—  Suga  eiró  por  Sugeiro?  —  e  Tojeiros. . . 

Note-se  que  ge  e  gtie  também  se  confundiram  na  ono- 
mástica portugueza. 

—  Sonda  e  Tonda. 

—  Sonim  —  Tonim  e  Tunim, 
— Soppo  e  Topo. 

—  Soutosa  e  Toutosa, 

—  Souto  e  Totito  ?  / . . . 

—  Soito  por  Souto  —  e  Toito,  o  mesmo  que  Touto!... 
Junte-se  também  Saganhal  e  Ta(/anhal,  povoações  nossas. 

—  Saide  e  Sainde —  Thaide  e  Tainde!, . . 

—  S abeira,  Sabeiro  —  Taveira  e  Taveira. 

—  Zaborreira  por  Saborreira  ?  —  e  Taburreira  / . . . 

—  Sala  e  Talla. 

—  S.  Gil,  que  se  lê  Sangil,  —  e  Tangil  ? 

—  Sarroeira  e  Tarrueira — quasi  Tarroeira. 

—  Sardoeiro,  Sardoura — e  Tardouro,  quasi  Tardoura. 
Cf.  também  os  vocábulos  portuguezes   sarro  e  tarro  — 

sedimento  de  qualquer  liquido. 


92  TKNTATIVA    ETYMOLOaiCOTOPONYMICA 


Talvez  sejam  formas  do  mesmo  nome,  tirado  do  caste- 
lhano sarro  —  e  este  de  sar  por  sal?  /. . . 

Do  exposto  se  vê  que  sá^  sé,  só  e  lá,  lé,  ló  se  confundi- 
ram e  se  substituiram  na  onomástica  portugueza,  pelo  que 
/Sarnííeí,  ■  assim  como  deu  Samal  e  Sameí^  podia  também  dar 
e  na  minha  opinião  deu —  Tamal  e  Tamel ! 

* 

*      * 

Com  relação  ás  desinências  el,  il  e  ai  —  veja-se  o  que 
disse  a  pag.  . .  . 

Samuel  deu  Samel  —  e  por  seu  turno  Sxmel  deu  ou  po- 
dia dar  Samil. 

Cf.  Louvai^  Lourel  e  Louril,  —  Moural,  Mourel  e  Mourilj 
povoações  nossas. 

O  povo  ainda  hoje  também  diz  três  mel  réis,  dez  mél 
réis,  vinte  mél  réis  —  por  dez  mil  réis,  vinte  mil  réis,  três  mil 
réis,  etc. 

Também  o  povo  diz  facel  e  deficel  por  fadl  e  diffidl, 
versão  portugueza  do  latim  facilis  e  difflcilis  ;  mas  o  povo 
alguma  desculpa  tem,  porque  vae  com  a  maioria  ! 

Nós  temos  alguns  vocábulos  com  o  apparelho  de  fácil, 
taes  são  ágil,  grácil,  portátil,  versátil,  etc,  mas  temos  muito 
maior  numero  de  vocábulos  com  o  apparelho  de  facel.  Taes 
são : 

—Adiavel,  afável,  amável,  arável,  amoravel,  ampliavel,  ado- 
rável, cantavel,  caroavel,  cultivável,  declinaoel,  demostravel,  du- 
rável, dispensável,  estimável,  estável,  execravel,  fiável,  findavel, 
foi^midavel,  friável,  imaginável,  incomparável,  intratável,  imi- 
tavel,  inimitável.^  insociável,  etc. 

Também  temos  alguns  vocábulos  com  o  apparelho  de 
difficil ;  mas  temos  imcomparavelmente  mais  com  o  apparelho 
de  deficeL  Taes  são  os  seguintes : 

—  Amovivel,  attendivel,  audivel,  comestível,  concebível, 
cognoscivel^  compatível,  incompatível,  corruptível,  incorru- 
ptível^ crivei,  incrível,  divisível,  indivisível,  elegível,  ineligi- 
vel,  factível,  fallivel,  infallivel,  horrível,  immobil  e  immovel, 
terribil  e  terrivel_,  temivel,  impassível,  imperceptível,  imper- 
divel,  imperfectivel^  impossível,  preterivel,  impreterível,  solii- 
vel  e  insolúvel,  solvivel  e  insolvivel,  msicel  e  invisivel,  etc. 

Do  exposto  se  vê  que  o  povo,  dizendo  facel  e  di/icel  em 
vez  de  fácil  e  difficil — alguma  desculpa  tem,  pois  vae  com 
o  diapasão  geral  portuguez. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO  TOPONYMICA  93 


Fácil  e  difficil  são   excepções,   mas   devemos  acceital-as 
e  respeital-as,  porque  —  o  uso  é  o  mestre  e  arbitro  das  Uuguas, 
Desculpem  a  digressão. 

Volvendo  ao  tópico  dos  nomes  hebraicos  com  o  suffixo  el 
—  Deus,  mencionaremos  por  ultimo  Zabdiel,  que  deu  ou  po- 
dia dar  —  Zaviel,  quinta  nossa,  denominada  também  Znniel. 
N'este  caso  pôde  vir  de  Daniel^  nome  hebraico  também,  por- 
que antigamente  — já  no  tempo  dos  romanos  —  d  q  z  confun- 
diram-se  e  substituiram-se,  como  em  Medentins  por  Mezen- 
tiuSf  etc. 

Magnum  Lexicon  latino —  verbo  Z. 

Também  Zaviel  pode  vir  de  Xavier  pela  forma  castelhana 
Javier. 

Note- se  que  er  podia  sem  violência  dar  d,  porque  /  e  r 
trivialmente  se  confundiram  e  substituiram. 

Cf.  Roligo  e  Rorigo,  o  mesmo  que  Rodrigo,  povoações 
nossas. 

—  Coulella^  Coulellas — Courella  e  Courellas — idem. 

—  Beltrão,  nome  d'um  santo,  o  mesmo  que  Bertrand,  ap- 
pellido  nosso,  tirado  de  Bertrand,  nome  francez  —  e  este  do 
teutonico  bert,  o  mesmo  que  berth  e  brecht  —  ilustre  ^  —  e 
hand  —  mão. 

Junte  se  Eleutherio,  Neoterio  ou  Neuterio  e  Neutel  —  no- 
mes de  santos  e  talvez  formas  do  mesmo  nome,  tirado  do 
grego  el  eu  th  eros  —  livre. 

Também  temos  Elmano  e  Hermano,  o  mesmo  qne  Ger- 
mano, nome  d'um  santo,  em  francez  Germain,  que  deu  o  no- 
me de  Saint  Germain  a  um  dos  grandes  boulevards  de  Paris. 

Germano  ou  Germain,  como  diz  Boucratid,  vem  do  ger- 
mânico wehr  —  arma,  —  ou  ger,  o  mesmo  que  loar  —  guerra 
(unde  o  baixo  latim  e  o  portuguez  guerra),  —  e  man  —  ho- 


í  Veja-se  Alberto  supra,  pag.  55  —  e  Albert,  Berthe  e  Bertrand, 
em  Boucrand. 

O  mesmo  berí  também  teve  as  formas  —  pert,  pret  e  precht,  unde 
Rupert—  Roberto  —  do  teutonico  rat  ou  rad  —  conselho,  —  e  pert  ou 
ôerf— illustre. 

Aqui  temos  nós  d  a  i—  b  e  p  confundindo-se  e  substituindo-se yd 
em  teutonico  ?  !. . . 

Veja-se  o  tópico  'm[x^.  —  Substituição  de  letras  — <:  Boucrand  vbs, 
Berthe  e  Rupert, 


94  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


mem.  Significa,  pois,  Germano  —  homem  de  guerra  ou  guer- 
reiro. 

Outros  dizem  que  Germanus  vem  do  latim  germinare  — 
produzir,  multiplicar,  por  serem  muito  prolíficas  as  mulheres 
germânicas  e  prodigiosa  a  multidão  d'homens  que  habitavam 
a  Germânia.  ^ 

Também  Germano  —  diz  Boucrandy  —  pôde  vir  do  latim 
germanus  —  irmão  carnal,  filho  do  mesmo  pae  e  da  mesma 
mãe. 

*     * 

Para  atesto  do  casco  direi  que  o  latim  germanus  —  irmão 
—  no  baixo  latim  deu  entre  nós  germanellus  —  irmãosinho  — 
unde  Germanello,  antigo  nome  d' uma  villa  e  d'um  castello 
no  concelho  actual  de  Penella,  districto  do  Coimbra. 

Também  supponho  que  o  mesmo  germanellus  deu  Ger- 
mel  e  Jarmello,  povoações  nossas. 

Vejam-se  as  paginas  supra  —  e  no  vol.  xii  do  Por- 
tugal antigo  e  moderno  o  meu  artigo  Zambujal^  freguezia 
actual  do  concelho  de  Condeixa.  Alli  —  paginas  '2:067  e  se- 
guintes —  fallei  também  do  castello  do  Germanello  e  dei  a 
etymologia  d'elle  —  o  germaneHus  supra,  por  ter  a  mesma 
forma  cónica  e  approximadamente  a  mesma  altura  d'outro 
morro,  chamado  na  lenda  Mello,  seu  visinho,  do  qual  bem 
pode  dizer-se  irmão  germano,  germanello  ou  wmãosinho. 

Eu  já  os  vi  com  muito  prazer,  indo  de  Condeixa  para 
Penella. 

Do  exposto  se  vê  que  Xavier  pela  forma  castelhana  Ja- 
vier,  podia  dar  Zaviel. 

Note-se  que  já  e  za  se  confundiram  e  substituiram  na 
onomástica  portugueza. 

Cf.  Tojal,  Tozal  e  Tuzar  por  Tujal,  o  mesmo  que  Tojal, 
povoações  nossas,  que  tomaram  o  nome  do  tojo. 

Tampem  a  urze,  planta  ericinia,  o  mesmo  que  tórga  e 
que  iro,  —  deu  Urgal,  Urjal  e  UrzaL 

Junte -se  também  Jorjaes,  Jurzacs,  Orgens,  Orjaes,  Zor- 
zaes  e  Zurzaes,  povoações  nossas,  que  talvez  tomassem  o  no- 
me da  urze^  supra  —  ou  do  francez  orge  —  cevada  ?  ! . . . 


*  O  sr.  Cândido  de  Figueiredo  no  seu  Novo  Diccionario  da  Lín- 
gua Portugueza,  do  qual  eu  tive  a  honra  de  ser  o  mais  humildo  coope- 
rador, —  diz  que  os  povos  germanos  ou  da  Germânia  tomaram  o  nome 
do  grtgo— germanos. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOrONYMICA  95 


E'  este  um  curioso  espécimen  da  arte  nova,  que  por 
certo  vae  expôr-me  ao  desdém,  riso  e  mofa  dos  profanos,  táo 
fáceis  em  rir  e  mofar  d'aquillo  que  não  entendem ;  mas,  como 
já  disse  algures,  —  rira  hien  t/ui  rira  le  dernier! . .  . 

A  critica  de  mofa  é  critica  banal,  balofa,  imprópria  de 
gente  seria. 

Aos  meus  acres  censores  mais  uma  vez  direi :  —  edd  tua! 

Tomem  a  penna,  —  desçam  do  palanque^  —  entrem  no 
redondel  —  e  verão  o  que  lhes  succede?!... 

Mas  vamos  ao  thema  proposto. 

* 
*      * 

—  Jorjaes,  Jurzaes^  Orgens,  Orjaes,  Zorzaes  e  Zurzaes, 
povoações  nossas,  podiam  tomar  o  nome  da  U7'ze  supra  —  ou 
do  francez  orge  cevada. 

A  ifrze^  o  mesmo  que  urgueira  e  urge,  deu  Urjal,  Urgal 
ou  Orgal,  Urgares,  Urgeira,  Urgeiro,  Urgezes,  Urgueira,  Ur- 
jal, Urjarica,  Urzal  ou  Olgar  {?),—  Urzalão  e  UrzeJhe,  —  po- 
voações nossas,  mencionadas  na  Chovograpliia  Moderna,  que 
mais  uma  vez  recommendo  aos  meus  poucos  leitores. 

—  Urgal  é  contracção  de  Urgueiral,  como  Pinhal  de  Pi' 
nheiral,  Olival  de  OUieiral,  —  Cerdal  de  Cerdeiral,  o  mesmo 
que  Serdeiral,  —  Sobra f,  o  mesmo  que  Soveral  de  Sobreiral, 
—  Sorvai  de  Sorveiral,  bosque  ou  matta  do  sorveiras,  arvores 
que  dão  sorvas,  etc,  —  povoações  nossas. 

—  Orgal  é  uma  forma  de  Urgal,  —  como  também  Urjal 
e  Orjal,  porque  já,  jé,  jó,  jú,  pelo  diapasão  castelhano  deram 
gd,  gué,  gô,  gií.  Assim  Urgeira  deu  Urgueira,  etc. 

—  Ur  gares — ó  uma  forma  de  Urgales,  o  mesmo  que  Or- 
jaes,  Urjaes  e  Urgaes,  pois  na  onomástica  portngueza  ai  deu 
ar  —  e  ales  deu  ares, 

Cf.  Alrozella  e  Arrozella  ;  —  Alvellos  e  Arvellos  ;  Avellal 
e  Avellar  ;  —  Marmelal  e  Mar  melar  ;  Tojal  e  Tuzar  por  Tu- 
jal,  etc. 

Cf.  também  Casal,  Casaes  e  Casares  por  Casales  ou 
Casaes ; — Falhai,  Palhaes  e  Falhares  por  Falhales  ou  Fa- 
Ihaes,  povoações  nossas. 

A  Hespanha  tem  Casal  e  Ca^^ares  —  não  Casales  nem 
Casaes; — Fajar  e  Fajares — não  Fajal  ou  Falhai  nem  Fa- 
jales  ou  Falhaes,  —  e  nós,  como  reminiscência  da  occupação 
hespanhola  e  árabe,  temos  Alprajares  por  Alpajares,  a  linda 
calçada  transmontana  dos  palhaes  ou  dos  palhares,  supra  men- 
cionada. 


96  TENTATIVA   ETYMOLOCUCO-TOPONyMICA 


Junte-se  Olival  e  Olivaes^  povoações  nossas,  —  o  mesmo 
que  Olivar  e  Olioares  por  Olivales,  povoações  da  Hepanha.  ^ 

—  Urgéira  e  Urgeiro  são  o  mesmo  que  Orgueira^  Orguei- 
ro,  Ulgiieira,  Urgueira  e  Urqueira  f  ...  —  povoações  nossas. 

—  Urgueira  deu  Urqueira  pela  trivial  substituição  de  ga^ 
gue,  gui,  go,  gu  —  e  ca  ou  há,  —  hé  ou  gué,  —  là  ou  qui,  —  ho 
ou  cô  —  e  Jcu  ou  cu  na  onomatisca  portugueza. 

Veja-se  o  tópico  infra :  —  Substituição  d^  letras. 

—  Urjal  é  o  mesmo  que  Urzal,  como  também  urge  é  o 
mesmo  que  urze,  pois  jâ,  jé,  ji,  jó,  jú  —  e  zá,  zé,  zi,  zó,  zú 
confundiram-se  e  substituiram-se  na  onomástica  portugueza, 
como  já  dissemos  e  logo  provaremos. 

—  Olgar  —  ó  o  mesmo  que  Orgal,  Orjal,  Urgal,  Urjal  — 
Urzal  (?/...)  como  está  dizendo  a  Chorographia  Moderna  — 
Olgar  ou  Urzal^  —  Orgal,  Orgal  ou  Urgal,  —  Urgal  ou  Or- 
galj  —  Urzal  e  Urzal  ou  Olgar  ?  / . , . 

—  Urzalão  —  ó  augmentativo  de  Urzal,  o  mesmo  que 
Urjal,   Urgal,  etc. 

—  UrzeUie  é  o  mesmo  que    Urzelha,  diminutivo  de  urze. 

—  Orjaes  é  o  mesmo  que  Urjaes,  povoações  nossas, 
cujos  nomes  são  o  plural  nitido,  puro  e  correcto  de  Crjal  e 
Urjal,  o  mesmo  que  Urgal,  Urzal,  Olgar,  Orgal,  etc,  etc. 

Do  exposto  se  vê  que  a  urze  foi  muito  prolífica  na  ono- 
mástica portugueza  e,  sendo  uma  planta  muito  áspera,  tomou 
formas  variadíssimas  nos  muitos  nomes  de  povoações  d'ella 
provenientes,  já  mencionados. 

Mencionaremos  ainda  outros  e  entre  elles  um,  que  é  uma 
especialidade  distíncta  na  tão  linda  como  nebulosa  arte  nova. 

EUe  ahi  vae : 

—  Urgezes  —  nome  único  em  Portugal.  —  E'  uma  aldeia 
e  uma  freguezia  do  concelho  de  Guimarães. 

Com  vista  ao  meu  bom  amigo  e  laureado  escriptor  vima- 
ranense, o  muito  rev.  e  muito  illustrado  sr.  João  Gomes  d'Oli- 
veira  Guimarães,  abbade  de  Tagílde,  etc,  mencionado  supra. 

Desinência  EZE5  das  nossas  pouoações 

Os  leitores  devem   rir   e  mofar,  por  verem  ligar  tanta 


1  Obedecem  ao  mesmo  diapasão  de  r  por  /—  Ulmal,  Urmal  e  Ur- 
mar  (?!...) 

—  Olmeira,  Ulme  ira  e  Urmeira,  —  Ulmeiro  e  Ur  me  iro,  povoações 
nossas,  que  tomaram  o  nome  do  latim  ulmus,  i  —  o  álamo,  alemo,  olmeiro, 
olmo  e  ulmeiro,  arvore,  o  mesmo  que  choupo,  negrilho,  etc. 


TENTATIVA    ETYMOLOQICO-TOPONYMICA  97 


importância  a  uma   desinência  tão  vulgar  no  idioma   portu- 
guez  ;  mas  rira  hien  qui  rira  le  dernier !... 

Eu  não  trato  do  idioma  portuguez  —  mas  da  onomástica 
porfugueza — e  n'ella  occupa  um  rol  disfincfo  a  desinência 
ezes^  que  se  encontra  em  Urgezes,  supra,  e  cm  um  restricto 
numero  dos  milhares  ou  milhões  das  nossas  povoações,  com- 
prehendendo  cidades,  villas,  aldeias^  herdades,  quintas,  casaes, 
moinhos  e  sitios  habitados,  mencionados  na  Chorographia  Mo- 
derna^ obra  indispensável  para  este  ramo  d'estndo. 

Com  a  nebulosa  e  muito  antiga  desinência  ezes  ^  apenas 
.  temos  28  povoações.  São  as  seguintes : 

—  Ahravezes,  Andrezes,  Banrezes,  Barrezes,  Bohezes,  Bra- 
quezes,  Caldezes,  Cambezes,  Canavezes,  Cortezes,  Esperes  ou  Es- 
gezes  (sic),  Francezes,  Gemezes,  Guilhadezes,  Inglezes,  Lanhezes, 
Menezes,  Mezes,  Minguezes,  Miradezes,  Murracezes,  Pairezes, 
Queirezes,  Repezes,  Revezes,  Saboguezes,  Talharezes  e  Urge- 
zes?  /... 

São  fáceis  ou  aparentemente  fáceis  de  attingir  as  etyrao- 
logias  de  Braguezes,  Cortezes,  Francezes,  Inghzes,  Menezes, 
Mezes,  Miradezes,  Revezes,  Saboguezes,  e  Ur  gezes;  —  as  18  res- 
tantes são  de  pelle  diabi!... 

Eu  hei  de  logo  dizer  algo  d'ellas  todas,  mas  titubeando, 
—  sem  pensar  nem  por  sombra  em  dizer  a  ultima  palavra 
sobre  tão  nebuloso  assumpto.  Apenas  darei  o  thema  para  a 
discussão,  deixando  a  porta  aberta  e  franca  para  pennas  mais 
competentes. 

As  mesmas  etymologias  de  Menezes,  Mezes,  Revezes  e 
Ur  gezes  — habent  dentem  coelM! ... 

Menezes  é  appellido  vulgar,  mas  qual  a  sua  etymologia  ? 

Difficilem  rem  postulasti. 

Na  minha  opinião  Menezes  pôde  vir  de  Menizis,  patro- 
nimico  de  Menizus,  i,  nome  pessoal  no  século  X. 

Menizus  presbiter  scripsi  et  test.  —  Documento  do  anno 
943.  ^ 

Em  vulgar:  —  « Eu  o  padre  Menizo  escrevi  este  docu- 
mento e  o  assignei,  como  testemunha.  » 

Menizus  é  o  mesmo  que  Menizius,  e  este  é  talvez  o 
mesmo  que  Menezius,  metathese  de  Nemesius,  ii,  —  Nemésio, 


^    Esta  desinência  ezes  das  nossas  povoações  já  se  encontra  em  do- 
cumentos do  século  X,  que  logo  citaremos. 

'    Poríugaliae  Monumenta,  Chartae  30  —  n.o  50. 


98  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


nome  romano  d'um  santo  e  d'um  tribuno  que  foi  pae  de 
Santa  Luzia  —  em  castelhano  Lucília. 

«Bien  es  verdade  que  huvo  una  santa  virgen  y  martyr 
llamada  Lucilía,  hija  de  Nemésio  Tribuno... y)  ^ 

Mas  qual  a  etymologia  de  Nemésio^  em  latim  Nemesius, 
ii,  que  por  metathese  deu  ou  podia  dar  Meniziis,  Meneziis  e 
Menezes  ? 

—  Na  minha  opinião  é  Nemesis,  deusa  da  vingança,  filha 
de  Júpiter  e  da  Necessidade.  —  Castigava  severamente  os  que 
abusavam  dos  dons  da  fortuna. 

Os  gregos  tiveram  muitas  divindades  com  o  nome  de 
Nemesis  —  e  foi  particularmente  adorada  entre  elles  na  Aitica^ 
onde  teve  uma  celebre  estatua  de  mármore,  cinzelada  por 
Phidias  ?  / . , . 

Nemesis,  nome  da  tal  deusa,  vem  do  grego  nemesis  — 
ira,  inveja,  indignação  pelo  bom  successo  dos  maus. 

V.  Nemesis  em  Covarruhias, 

Foi  também  Nemesis  fervorosamente  adorada  pelos  ro- 
manos, unde  o  latim  Nemesius,  ii  —  Nemésio,  nome  dado  aos 
sacerdotes  de  Nemesis  e  aos  devotos  d'ella. 

V.  Nemesis  no  Diccionaino  Clássico  e  no  Magnum  Lexi- 
con  latino. 

Também  Menezez  pôde  vir  de  Menoetiis  (lê-se  Meneciis), 
patronimico  de  Menoetius  -■  Meneceo,  nome  grego  d'um  prin- 
cipe  thebano,  que  se  suicidou  para  obter  a  liberdade  de  The- 
has,  promettida  com  esta  dura  condição  por  certo  oráculo. 

Vide  Meneceo  e  Patroclo  no  Diccionario  Clássico  —  e  Me- 
noetius em.  Boucrand,  vb.  Actor. 

Menoetius  é  latinisação  de  Menoitios,  nome  grego  do  pae 
de  Patroclo^  em  latim  Patroclus,  i,  unde  talvez  Pedrogo  e  Pe- 
drogos,  povoações  nossas. 

Também  Menezes  pôde  vir  de  Mnezis,  nome  pessoal 
grego. 

Chamava-se  Mnezis  um  celebre  flautista,  muito  estimado 
por  Ptolomeu  Philadelpho,  lendário  rei  do  Egypto. 

* 

*     * 

Não  se  extranhe  tantas  referencias  á  Grécia,  pois,  como 


Vide  Cegar  —  em  Covarrubias. 


TENTATIVA     RTYMOLOGICO-TOPONYMICA  90 


já  dissemos  e  repetimos  com  o  sábio  Herculano  —  os  gregos^ 
em  tempo  muito  anterior  aos  romanos,  occuparam  grande 
parte  do  nosso  paiz. 

T3'elIos  conserva  ainda  hoje  o  nome  de  Athenor  uma  fre- 
guezia  do  conceliio  de  Miranda,  pouco  distante  da  Aldeia  dos 
Gregos,  povoação  nossa  também  —  e  temos  na  onomástica 
portugueza  e  no  idioma  portuguez  outras  militas  reminiscên- 
cias dos  gregos  / .  .  . 

Pôde  também  Menezes  vir  de  Menix,  icis — antigo  nome 
d'uma  ilha  da  Africa  no  iUeíZíYerra/ieo,  chamada  também  Gel- 
ves  e  (ierbi.  ^ 

Também  Menix,  icis  podia  dar  Menice  e  Menici,  appelli- 
dos  nossos,  vindos  talvez  da  Itália. 

Note  se  que  das  ilhas  do  Mediterrâneo,  por  serem  muito 
conhecidas  desde  o  tempo  dos  fenicioSy  gregos,  egtjpcios,  roma- 
nos e  cruzados,  foram  tirados  muitos  nomes  pessoaes  e  ap- 
pellidos. 

De  Sidónia,  velha  capital  da  Fenicia  que,  antes  de  ser 
conquistada  por  Alexandre  Magno,  era  uma  ilha,  como  diz 
Plutarcho,  veiu  Sidónio,  nome  d'um  santo,  etc. 

De  Beijruth,  ilha  e  porto  de  mar,  chamados  em  latim 
Beritus,  i,  —  vem  talvez  Brito,  appellido  nosso. 

Por  seu  turno  Beritus,  i,  deu  ou  podia  dar  Beritianns,  i, 
—  Bertiandos  e  Britiande,  povoações  nossas. 

Também  Chi/pre,  em  latim  Cyprus,  i,  —  deu  Cyprianus, 
h — Cypriano  e  Cibrão,  nomes  pessoaes  e  nomes  de  santos. 

Cf.  aS'.  Cypriano,  S.  Cibrão  e  S.  Cibrainlio  por  S.  Cypria- 
no e  S.  Cyprianinho,  povoações  nossas. 

A  forma  S.  Cibrainho  recorda  Smto  Antoninlio,  S.  Ben- 
tinho, S.  Cosniadinho,  S.  Dominguinhos,  S.  Lourencinho,  S. 
Pedrinho,   S.  Joaninho,  e  Santiaguinho,  povoações  nossas. 

Em  Almelaguez  por  Almalaguez,  freguezia  do  concelho 
de  Coimbra,  o  povo  também  dá  carinhosamente  a  aS'.  Sebastião 
o  nome  de  S.  Sebastiãosinho. 

Por  ultimo  direi  que  Menezes  também  pôde  vir  do  néo 
celta  ou  patois  bretão  menés  —  monte  ^  —  que  entre  nôs  talvez 
desse  meneses,  synonimia  de  montezes,  serranos^  se7'renhos,  — 
bravezes  e  Abravezes  por  Al  +  bravezas  ? 


^    Covarrubias,  vb.  Gelves. 
-    Héricher,  pag.  69. 

E'  para  notar  que  a  Hespanha  tem  uma  povoação  denominada  Menes 
(Menês  ou  Menés)  —  e  outra  Meneses  ?  !. . . 


100  TENTATIVA    ETYMOLOaiCO-TOPONYMICA 


Será  reminiscência  dos  celtas  a  nossa  tão  antiga,  como 
nebulosa  e  estranha  desinência  ezes  das  povoações  apontadas 
supra  ? 

Ella  destoa  do  latim,  do  portiignez,  do  ca^ielhano,  do  cal- 
laico,  do  leonez,  do  italiano,  do  toscano,  do  teutonico,  ou  ger- 
mânico, e  do  francez. 

A  Hespanha,  irmã  gémea  de  Portugal,  entre  os  seus  mi- 
lhões de  povos  apenas  tem — que  eu  saiba — com  a  desinên- 
cia eses,  correspondente  ao  nosso  ezes  —  as  seis  povoações  se- 
guintes: —  Caneses,  Fondereses,  e  Loureses  —  além  de  Ahrave- 
seSy  Cambeses  e  Meneses,  como  nós  temos. 

Chamamos  para  tão  nebuloso  assumpto  a  attenção  dos 
celtistas  e  fecharemos  este  tópico  dizendo  que  na  Monarchia 
Lusitana,  parte  II,  pag.  321,  pôde  ver- se  uma  etymologia 
romântica  de  Menezes  —  etymologia  que  ponho  de  parte,  por- 
que para  dislates  bastam  os  meus. 

Prosigamos. 

E'  também  apparentemente  fácil  a  etymologia  de  Revés 
(Revés  ou  Revês*?)  —  e  Revezes,  povoações  nossas,  —  dado  que 
tomassem  o  nome  do  portuguez  recés  ou  revcz  —  fatalidade  ; 
mas  duvido,  porque  em  geral  as  nossas  povoações  já  vêem  da 
edade  media  e  é  muito  posterior  o  timbre  do  portuguez  revés 
ou  revéz,  pelo  que  hei  de  propor  outra  etymologia  para  Re- 
vezes, 

A  mesma  etymologia  de  Urgezes  é  bastante  nebulosa,  pois 
vários  documentos  dos  séculos  X  e  XIII,  que  havemos  de 
citar,  dão  a  Urgezes  o  lindo  nome  de  Colgezes'? !... 

E  na  minha  opinião  CoUjezes  é  eífectivamente  o  mesmo 
que  Urgezes  pelo  prisma  da  arte  nova,  como  os  leitores  verão. 

*     * 

Mas  como  explicar  a  tão  nebulosa,  como  estranha  e  ar- 
chaica  desinência  ezes  das  nossas  28  povoações  indicadas  su- 
pra —  e  afinadas  todas  pelo  mesmo  diapasão  .^  —  E  qual  a  ety- 
mologia d'ellas  ?     ^ 

Eu  vou  dizer  muitos  dislates  e  os  meus  poucos  leitores 
vão  rir  e  mofar,  mas  rira  hien  qui  rira  le  dernier!... 

Em  assmpto  de  tal  ordem  a  própria  critica  é  difpcil! 

Aos  meus  acres  censores  que  julgam  saber  tudo  e  de  tu- 
do riem  e  mofam,  apenas  direi  que  tomem  a  penna,  — desçam 
do  palanque,  —  entrem  no  redondel  —  e  verão  o  que  lhes  succe- 
de?/... 


TENTATIVA    RTYMOLOaiCO-TOPONYMICA  101 


Eu  VOU  dizer  muitos  dislates-,  mas  por  vezes  os  próprios 
escândalos  são  úteis,  porque  do  embate  pude  surgir  a  luz;  — 
mas  vae  illi  per  quem  scandalum  venit. 

Ai  de  mim  que  vou  diante  e  dou  o  escândalo!... 

Basta  de  palinodias  e  de  cantigas  e  íallemos  das  etymo- 
logias  de  —  Abravezea,  Andrezes,  Banrezes,  Barrezes,  Bohezes, 
CaldezeSj  Cambezes-,  (Janavezes,  Cortezes-,  Esperes  ou  Espezes, 
Gemezes,  Gailhodezes,  Inglezes^  Lanhezes,  Menezes,  Mezes,  ^ 
Minyiiezes,  Miradezes,  MtirracezeSy  Pairezes,  Que/rezes,  Rejte- 
zes,  Revezes,  /Saboguezes,  Talharezes  e  Urgezes. 

Pondo  de  parte  Braguezes,  Francezes  e  Inglezes,  povoa- 
ções nossas,  porque  as  suas  etymologias  são  obvias,  já  me 
lembrei  de  qua  assim  como  Portugal  deu  portuguezes,  — 
bravial  ou  braval  (?)  deu  ou  podia  dar  bravezes  e  Abravezes  ; 
Barrai  —  Barrezes  e  Banrezes  por  Bar  rezes ;  Bobai  —  Bobe- 
zes ;  Canavial  ou  Canaval — Canavezes  e  Cambezes  ;  (juilha- 
dal  (?)  —  Guilhadezes  ;  Lanhai  (?)  —  Lanhezes  ;  Murraçal  — 
Murracezes  ;  Pairai  (?)  —  Pairezes ;  Queiroal  ou  Queira l  (?) 
Queirezes  ;    Sabugal  —  Sahoguezes  —  e    Urjal  —  Urgezes  ?.'... 


Este  lanço  de  rede  não  foi  mau  de  todo.  Com  certeza 
cacei  algum  peixe,  mas  fugiu  outro  pelas  tralhas  malhas  —  e 
muito  de  propósito  não  comprehendi  no  lanço  Andrezes,  Bra- 
guezes, Esperes  ou  Espezes,  Francezes,  Meneies,  Minguexes, 
Miradezes,  Repezes,  Revezes  e  Talharezes. 

—  Bragueíes  é  a  forma  popular  de  bracarenses  —  filhos 
ou  oriundos  de  Braga,  contracção  de  Bracara,  pois  Braga 
representa  a  Bracara  Augusta  dos  romanos. 

—  Esperes  ou  Espeses,  —  fica  para  segunda  leitura, 

—  Com  vista  ao  meu  atávico  successor  que,  por  boas  ou 
más  bulias  se  apossou  dos  m.ei\s  caros  —  carissinios  verbetes 
—  e  do   meu  arsenal  etyniologico.  ^  —  Talvez  que  alli  se  en- 


^  Mezes  é  uma  quinta  nossa  da  freguezia  da  Annunciada,  da  cida- 
de de  Setúbal,  —-quinta  que  por  certo  não  tomou  o  nome  dos  mezes  do 
anno. 

Na  minha  opinião  Mezes  é  contracção  de  Menezes,  unde  quinta  dos 
Mezes  por  quinta  dos  Menezes. 

Cf.  Quinta  dos  Anjos,  Quinta  dos  Barreiros,  Quinta  dos  Claros, 
Quinta  dos  Cordeiros,  Quinta  dos  Lóios,  Quinta  dos  Ramos,  Quinta 
dos  Vigários,  etc,  quintas  nossas. 

-  Vejam-se  os  meus  pobres  folhetins  61,  92,  93,  140,  146  e  14S,  pu- 
blicados no  Conimbrecense  —  e  agora  as  paginas  37,  40,  53,  68  e  78  (vz- 
deie,  videte!...)  s\X{Dr2Lj  —  e  Joaquim  da  Silveira  no  indice  da  1.^  parte. 


102  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMIOA 


contre  a  etymologia  de  Esperes  ou  Espeses ;  entretanto  ahi 
vae  uma  que  no  momento  me  occorre. 

Cepal,  chão  abundante  em  cepas^  videiras,  —  ou  em  ce- 
pos, troncos  de  arvores,  —  deu  ou  podia  dar  Cepeses,  como 
Portugal  deu  portiiguezes,  — Barrai  deu  Barrenes  e  Banre- 
zes ;  Murraçal  deu  Murracexes ;  Sabugal  deu  Sahuguezes ; 
'Urjal —  Urgexes,  etc. 

Por  seu  turno  Cepezes  muito  bem  podia  dar  Espezes, 
porque  as  metathezes  d'este  género  são  trivialissimas  na 
onomástica  portugueza. 

Cf.  Esnoga  por  Isnoga,  —  e  esta  por  Synoga,  contracção 
de  Synagoga  f,.. 

—  Escalhão  por  Secalhão,  —  terreno  muito  falto  d'agua. 
Tal  é  eíFectiva mente  Escalhão,  —  vilia  muito  populosa,  muito 
rica  e  muito  importante^  mas  muito  falta  d'agua,  tanto  potá- 
vel, como  de  regat... 

Junte -se  Escairo  por  Esqueiro  e  este  por  Sequeiro  f 

—  Esquio  por  Sequio, 

—  Esquiró  por  Sequeiro. 

—  Esgueira,  Esqueira,  Esqueiro  e  Esqueiros  —  por  Se- 
queira, Sequeiro  e  Sequeiros,  povoações  nossas. 

Junte-se  também  Cepeda  e  Sepeda,  o  mesmo  que  Cepedo 
ou  Sepedo  —  e  Sepedros  por  Sepedos  ou  Cepedos,  povoações 
nossas.  ^ 

Do  exposto  se  vê  que  Cepexes  muito  bem  podia  dar  Es- 
pezes. Por  seu  turno  Espécies  podia  dar  Esperes,  pois  na  ono- 
mástica portugueza,  como  já  dissemos  e  logo  provaremos,  — 
ser  confundiram-se  e  substituiram-se. 

Note  se  também  que  as  cepas  e  os  cepos  deram  o  nome  a 
muitas  povoações  nossas.  Ahi  vae  uma  lista  d'algumas: 

—  Cepa  e  Cepães  por  Cepôes,  porque  na  onomástica  por- 
tugueza as  desinências  aes,  ães,  e  ões  confundiram-se  e  subs- 
tituiram-se, como  havemos  de  provar  em  tópico  especial. 

—  Cepeda,  Cepellos,  Cepo,  Cepões,  o  mesmo  que  Cepães ; 
— -  Cepos,  Sapa,  o  mesmo  que  Cepa  ou  Sepa  ?  —  Sapal  por  Ce- 


'  Veja-sc  o  tópico  Metathezes,  infra;  mas,  como  talvez  se  demore 
ahi  vão  algumas,  que  não  são  feias. 

Geromano  &  Jeronymo,  nomes  de  santos;  Cavídai  por  Cada-vae; 
Gajove  por  Jagove  e  este  por  Jacob  ;  Gomes  —  de  Cosme? ;  Cliancrão— 
por  Cranchão  e  este  por  Granjão ;  Concedeira  por  Codeceira  —  e  Balu- 
zal  por  Lubazal,  o  mesmo  que  Lobagueira  e  Luval,  povoações  nossas. 

—  A  bússola  é  o  ouvido. 


TENTATIVA    ETYMOLOaiCO-TOPONYMICA  103 


pai  OU  Sepal  unde  Eapezes  por  Sepexes  ?  ;  —  Sepões  o  mesmo 
que  Cepães  e  CepÕes ;  —  Sepeda,  o  mesmo  que  Cepeda  ;  Sepe 
dellos,  o  mesmo  que  CepelloH  ou  Cepedellos ;  Sepedros,  talvez 
o  mesmo  que  Sepedos  ou  Cepedos  ^;  tiepinho  por  Cepinho ;  Se- 
pins  e  talvez  tierpim  por  (Jepínhos  ? ;  6'^;?/)^  o  mesmo  que 
/Sepa  e  Cepa  ;  Septellos,  o  mesmo  que  Bepedellos^  etc. 

Note-se  que  na  edade  media  ce  e  se  se   confuadiam  e 
substituíam  por  falta  de  bússola'^!,  .. 


* 
*       * 


Basta  de  Cepas,  Cepos,  Cepal,  Cepexes,  Esperes  e  Espezes, 
Ahi  vae  agora  uma  lista  das  nossas  povoações  que  tomaram 
o  nome  dos  troncos  das  a7'vores,  o  mesmo  que  cepos,  como  já 
dissemos. 

Note-se  que  em  Portugal,  durante  os  longos-  períodos  de 
guerras  que  assolaram  o  nosso  paiz  —  desde  os  tempos  mais 
remotos  —  e  durante  as  nossas  expedições  e  explorações  ma- 
rítimas, que  nos  cobriram  de  gloria,  mas  que  tolheram  a  nossa 
lavoura  —  conservou-se  inculta  grande  parte  do  nosso  conti- 
nente. 

O  arvoredo  florestal  attingiu  proporções  collossaes,  ma- 
gestosas,  —  nomeadamente  os  castanheiros,  carvalhos  e  sobrei- 
ros, —  as  nossas  arvores  de  maior  porte.  D'ellas  tomaram  o 
nome  centenares  —  ou  antes  milhares  de  povoações  nossas  — 
8  dos  seus  troncos  —  só  dos  troncos  —  as  seguintes. 

—  Trancào  por  Troncão  ;  Trancões  por  Troncões  ;  Tran- 
cosinho  por  troncozinho ;  Trancoso  por  troncoso ;  Trancoxão, 
augmentativo  de  Trancoso,  como  Trancosinho,  Trancoxello  e 
Trancoxellos  são  diminutivos. 

T ranço xellinho  é  diminutivo  de  Trancozello  e  subdimi- 
nutivo  de  Trancoso. 

Junte-se  Tronco^  Tronque  por  Tronco, — e  Troncal  que 
pelo  diapasão  ai  e  ezes  supra  podia  dar,  mas  não  deu,  Tron- 
quezes,  —  nem  Ameiral  Ameirezes  —  nem  Avellal  Avellezes  ; 
mas  temos  Velez,  appellido,  que  pôde  ser  aféreze  de  Arellex 
ou  de  Avilex,  appellido  nosso  também  tirado  d^Acila,  como 
Braguez  de  Braga,  Francez  de  Franca,  Maltez  de  Malta,  Ir- 
landez  da  Irlanda,  M.ilaguez  e  Almalagiiez,  no  aro  de  Coim- 
bra, de  Málaga,  —  Angorêz  de  Angora,  etc. 


*    Note-se  que  o  r,  como  já  dissemos,  — é  letra  muito  falsa  e  muito 
caprichosa.  Apparece  e  desapparece  instantaneamente!. . . 


104  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Também  Carvalhal  não  deu  Carvalhezes,  nem  Feital 
FeitezeSy  —  nem  Gestal  Oestezes,  —  nem  Pinhal  Pinhezes,  — 
nem  Sobral  Sohrezes,  —  nem  Vinhal  Vinhezes^  etc. 

—  Francezes,  herdade  nossa,  tomou  claramente  o  nome 
de  França^  paiz  dos  Francos^  o  mesmo  que  Franciscos  (?...) 
e  Francezes  —  bem  como  outras  muitas  povoações  nossas. 

Pelo  alto  prestigio  do  benemérito  conde  D,  Henrique, 
natural  da  França^  pae  do  nosso  primeiro  rei  D.  Affonso 
Henriques,  vieram  com  elle  da  França  muitos  francos  ou  fran- 
cezes —  e  posteriormente  ainda  mais,  prestando-lhe  uns  e  ou- 
tros relevantes  serviços  —  durante  muitos  annos  —  nas  guer- 
ras contra  os  mouros  e  contra  os  leonezes,  ajudando-o  a  trans- 
formar o  condado  portucalense  no  reino  de  Portugal. 

Assim  a  meu  ver  se  explica  o  facto  de  se  encontrarem 
no  velho  idioma  francez  muitos  vocábulos  portuguexes  ^  —  e 
na  onomástica  portugueza  muitas  reminiscências  da  França, 
entre  ellas  as  nossas  povoações  seguintes:  ^ 

França^  Franca,  Francaria,  o  mesmo  que  Franzia  por 
Francezia,  povoação  nossa  também ;  Francos,  France,  Fran- 
ceiras  ou  Franciscas, — Francelha,  Francelheira,  Francelhei- 
rinha,  Francelho,  Francellos,  Francezes  (cá  estão  elles!...)  — 
Franciscas  ou  Franceiras  (sic),  —  Francisco^  —  Francisco  Fer- 
nandes, casal  nosso,  ^  —  Franciscos,  Franco,  Francos.  —  A  dos 
Francos,  o  mesmo  que  A  (villa,  granja,  quinta  ou  casa  de 
campo)  dos  Francos  ou  Francexes. 

Cf.  Adanaia^  Adarce,  Adarnal,  A  das  Sovellas  por  sobrei- 
las —  sobreirinhas,  como  Sovella  por  sobrella,  antiga  rua  do 
Porto,  hoje  rua  dos  Martyres  da  Liberdade. 

Junte  se  ~  A  de  Barros,  A  de  Formoso,  Adefroia,  A  de 
Junho,  A  de  Justa,  A  de  Martinho,  Ademoço,  A  de  Mourão,  A 
de  Paulos,  A  de  Velha,  A  do  Alcaide,  A  do  Baço,  A  do  Bello, 
A  do  Cavallo,  A  do  Cêa,  A  do  Coelho  q  A  do  Lindo, 

Junte-se  também  A  do  Mealha,  A  do  Motta,  A  do  Pisco, 


^    V.  o  Glossário  dt  Ducange,  etc. 

^  Veja-se  também  o  tópico  infra  :  —  Diapasão  francez  —  e  a  rua 
dos  Francos,  uma  das  mais  antigas  da  cidade  de  Guimarães,  berço  da 
nossa  monarchiíL  -—  A  dieta  rua  dos  Francos  está  dizendo  que  foi  po- 
voada pelos  francos  ou  francezes,  tah^ez  contemporaneçs  do  conde  D. 
Henrique  ?  /. . . 

^  Com  vista  ao  meu  bom  amigo,  o  snr.  dr.  Francisco  Joaquim 
Fernandes,  lente  de  Direito  na  Universidade  de  Coimbra,  excellente  pes- 
soa e  distincto  advogado  no  Porio.  —  Só  pela  advocacia  apura  talvez 
6  a  8  contos  de  reis  —  por  anno  ?  ! . . . 


TENTATIVA    ETYMOLOGTCO-TOPONYMICA  105 


A  do  Rainha,  A  Dorde,  o  mesmo  que  A  da  Ordem,  —  A  do 
Rocha,  A  do  Serra,  A  do  Vigário,  A  dos  Bispos;  A  dos  Cal- 
ifas, A  dos  Corvos,  A  dos  Ferreiros,  A  dos  Francos  (cá  estào 
elles ?!...) —  A  dos  Gallegos,  A  dos  Loucos  (cá  estou  eu?!...), 
—  A  dos  Mattos,  A  dos  Melros,  A  dos  Molhados,  A  dos  Negros, 
A  dos  Neves,  A  dos  Nobres,  A  dos  Potes,  A  dos  Ramos,  A  dos 
Ruivos,  A  dos  Vicentes  e  Adoiirigo,  o  mesmo  que  Adorigo, 
povoações  nossas,  contracção  de  A  d^Ourigo  por  A  de  Hono- 
rigo,  quasi  Adorigo. 

Note-se  que  flonorigo  foi  antigo  nome  pessoal,  —  em  la- 
tim Honor icKS,  llonoriquix  o  Honoriquixi  —  unde  Origo,  Orix, 
Ourigo  (praia  da  Foz  do  Douro),  —  Ourique  e  Campo  d' Ouri- 
que, sitios  históricos,  —  e  Ouriz  —  povoações  nossas. 

Por  seu  turno  Honoricus  é  o  mesmo  que  liunericus,  lati- 
nisação  barbara  de  Huneric,  —  Honerico,  nome  d'um  rei 
suevo,  etc. 

Adorigo  e  Adourigo  querem,  pois,  dizer  A  granja,  quinta 
ou  casa  de  campo  de  Hunerico  ou  Honorico. 

Na  falta  d'outro  documento  pode  afoitamente  dizer-se 
que  a  povoação  de  Adorigo,  concelho  de  Tahoaqo,  districto 
de  Vizeu,  —  já  vem  do  tempo  dos  suevos'^!..,  * 


* 
*      * 


Proseguindo  com  a  serie  das  nossi^s  povoações  que  to- 
maram o  nome  dos  francos  ou  fi^ancezes,  temos  ainda  as  se- 
guintes : 

—  Franqueira  e  Franqueiro,  sitios  e  casaes  nossos  que 
podiam  tomar  o  nome  dos  francos  ou  francezes,  como  Fran- 
caria  e  Francelheira,  supra.  Mas  f  q  t  confundiram-se  e  sub- 
stituiram-se  na  onomastia  portugueza^  pelo  que  Fraacaria, 
Franqueira,  Franqueiro  e  Francelheira,  talvez  sejam  formas 
de  Trancaria,  Tranqueira,  Tranqueiro  e  Trancelheira  por 
Tranquelheira  ?!... 

Por  seu  turno  estes  nomes  talvez  sejam  formas  de  Tron- 
cai^ia,  Tronqueira,  Tronqueiro  e  Tronquelheira,  nomes  tirados 
dos  troncos  das  arvores,  como  já  dissemos. 

Trancaria  é  appellido  nosso ;  —  Tranqueira,  Tranqueirão 


*  Eu  conheço  rasoavel mente  Adorigo  e  tenho  alli  muitos  parentes 
desde  os  fins  do  século  xviii,  porque  a  minha  avó  paterna  Paula  Maria 
da  Fonseca—  e  a  minha  avó  materna yoan/ia  da  Fonseca  Pinto  eram  ir- 
mãs e  naturaes  de  Adorigo. 


106  TENTATIVA    ET  í MOLOGICO-TOPON YMICA 


Tranquilhos,  Tranquilhoso,  Trancelheira  e  Trancoso,  são  po- 
voações nossas. 

Com  o  mesmo  diapasão  de  f  por  t—  on  v.  v.  também 
temos  Finança  e  Tranca ;  ~  Fr ance  e  Trance;  —  Faroja  ou 
Faroia  e  Taroja  por  Taroia  ?;  Favella  por  Favarella  —  e  Ta- 
varella ;  Fragusta  e  Targusta ;  Farrio  e  Tarrio ;  Fartaria  e 
Cartona?/... 

Junte-se  Fareja  e  Tareja;  Faião  e  Tayão  ;  Feira  e  Tez- 
r/i;  i^eííce  e  Teixe  ;  Feixeiras  e  Teixeií^as ;  Fejos  e  Tejos?!.,. 
.    —  Fellões  ou  Foliões  —  Tellões  e  Tolões  ? ! . , . 

—  Ferrão  e  Terrão ;  Ferrenho  e  Terrenho ;  Ferronha  e 
Terronha  ;  Ferrugem  e  Terrugem  ?  / . .  . 

—  Féfelária  ou  Fetelaria  — ■  Tetelária  ou   Tételwia  ?  / . . . 

—  Ferra  e  Terra;  Fale,  e  Thaléíl... 

—  Fo/a  e  jToJíí  ;  Fo/o  a  Tq/o  ;  Fojos  e  To/oã  ?  / .  . . 
Somma  e  segue. 

—  Fontão  e  Tontão?/.,. 

—  Fontello  e  Tontello  ?  l . .  . 

—  Fontínha  e  Tontinha  f  f . . . 

—  Forneiro  e  Torneiro  ;  Forneiros  e  Torneiros  /  Forno  e 
Torno?!,,. 

Junte-se  ainda : 

—  Foro  e  Toro  ? 

—  Froia  e  T/om  ?  / .  .  . 

—  Fixoeira  por  Feixoeira,  o  mesmo  que  Feijoeira,  —  e 
Teixoeira,  povoações  nossas  ?  ! .  . . 

E'  este  um  espécimen  curioso  da  onomástica  portugueza 
comparada. 

Chamo  para  elle  a  attenção  dos  etymologistas  nacionaes 
e  estrangeiros,  pois  talvez  que  em  nenhum  outro  paiz  se  en- 
contre um  espécimen  egual  de  substituição  de  letras,  —  E 
como  este  encontram-se  outros  muito  semelhantes  na  ono- 
mástica portugueza,  o  que  lhe  dá  um  timbre  particular!, . ,  * 

Os  meus  poucos  leitores,  incluindo  alguns  doutores  muito 
illustrados,  mas  completamente  leigos  n'este  tão  curioso, 
como  nebuloso  estudo  d^arte  nova,  —  entre  elles  um  dos  meus 
mais  antigos,    mais  illustrados   e  melhores  amigos^  —  riem  e 


1     Veja-se  o  tópico  infra:  —  Substiiuição  de  letras. 


TENTATIVA    ETyMOLOGICO-TOPONYMICA  107 


mofam  dos  meus  dialntes  (?...),  mas,  como  já  disse  e  repito 
mais  uma  vez  :  —  Hira  bíen  qui  rira  le  dernier  ?  / .  . , 

Prosigamos. 

Do  exposto  se  vê  que  Franca  e  Tranca  ;  France  e  Tran- 
ce ;  Francelheira  e  Trancelheira  ;  Franqueira  e  Tranqueira  — 
talvez  sejam  formas  dos  mesmos  nomes. 

As  meias  tintas  confundem  ;  —  eu  já  tenho  a  vista  can- 
çada,  o  que  não  admira,  pois  faltam-me  apenas  alguns  mezes 
para  completar  77  annos,  —  e  a  minha  lente  da  arte  nova, 
forjada  por  mim  a  martelo,  está  pedindo  outra  mais  aper- 
feiçoada. 

Para  atesto  do  casco  junte-se  Franzia,  povoação  nossa, 
talvez  contracção  de  Francezia^  o  mesmo  que  Franqueira  e 
Francaria, 

Cf.  Callegueira,  Galgueira,  por  Gallegueira  e  Gallegma, 
povoações  nossas  também,  que  tomaram  o  nome  dos  gallegos. 

Desinência — Ifl 

Esta  desinência  ia  é  outro  espécimen  curioso  da  onomás- 
tica portugueza,  pois  com  o  mesmo  diapasão  de  Francaria, 
Franzia  e  Galleguia  temos  outras  muitas  povoações,  tal  ó 
Anadia,  concelho  e  comarca. 

Na  minha  opínão  Anadia  é  o  mesmo  que  aradia,  lavra- 
dia. 

Cf.  Lavradio,  povoação  nossa  também,  o  mesmo  que  la- 
vradia  —  e  note -se  que  o  chão  da  Anadia  é  todo  arável,  por 
ser  bastante  plano,  falto  de  pedra  e  abundante  em  hiimus. 

—  Também  temos  Pinheiria  —  o  mesmo  que  Pinheiral  e 
Pinhal  —  bosque  ou  matta  de  pinheiros. 

—  Portello,  Portella,  Portellada  e  Portelladia,  —  sitio 
abundante  em  Portellos  ou  Portellas,  quebradas  de  montes, 
passagens  estreitas,  de  que  são  typo  histórico  e  venerando 
as  Thermopilas. 

Junte-se  Portoguedia,  aldeia  nossa,  talvez  forma  de  por- 
tuguezia,  abundante  em  portuguezes,  como  Franzia  por  Fran- 
cezia,  abundante  em  francos  ou  francezes,  —  Galleguia  —  em 
gallegos,  —  Aravia  —  em  árabes,  —  Mouraria  —  em  mouros, 
—  Judiaria  —  em  judeus, — Algarvia  ou  Algravia,  povoação 
nossa  também,  —  abundante  em  algarvios  ou  algarvéosí 

Cf.  Algarvios  e  Algravéos,  povoações  nossas. 

Com  a  mesma  desinência  ia  também  temos  Abbadia, 
Abegoaria,  Albergaria^  Alcaidaria,  Caria  e  Alçaria,  Alegria, 


108  TKNTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Alfeiría,  Almaclía^  Armaria^  Azedia  e  Astroluxia,  deturpação 
de  astrologia.  —  E'  um  casal  —  habitação  isolada  e  parece 
um  meteoro  da  onomástica  portugueza,  cahido  lá  para  o  sul, 
no  districto  de  Beja^  onde  está  o  dito  casal  ou  habitação  dos 
astrólogos  e  da  Astroluzia. 
Junte-se : 

—  Barreiría  —  abundante  em  havrOy  como  Barredo^  Bar- 
rai, Barrosa,  etc. 

—  Barrocaria  —  abundante  em  barrancos  ou  barrocos, 
despenhadeiros.  Tal  é  uma  quinta  do  Alto-Doiiro,  denomi- 
nada Marrocos  por  Barrocos  ?  / . . . 

Também  temos  Berbéria,  povoação  que  tomou  o  nome 
dos  Berberes,  povo  africano  de  Marrocos. 

—  Bernardia  —  povoação  que  tomou  o  nome  da  ordem 
de   Cister  ou  dos  Bernardos,  porque  talvez  lhe  pertencesse. 

Junte-se  Bordalia,  povoação  que  podia  tomar  o  nome 
dos  bordalos,  peixes  que  tals^ez  alli  abundassem. 

Cf.  Lamprieira,  povoação  de  Rezende,  que  tomou  o  nome 
das  lampreias,  como  Lontreira,  casal,  tomou  o  nome  das  lon- 
tras. 

Também  temos  Gançaria  e  Cançaria  por  Gançaria  — 
povoações  que  tomaram  o  nome  dos  ganços. 

Junte-se  Caixaria,  Carapia,  Caria,  Carneiria,  Carvoaria, 
Casaria,  Cascarria,  Castellaria,  Cavallaria,  Chamelaria,  Con- 
geitaria.  Cordoaria,  Cortezia,  Cotovia,  Cocaria,  Coparia,  Cou~ 
xaria,  Gouxaria,  etc. 

Agora  mais  alguns  dislates  meus. 

Caixaria  e  Caixarias,  cinco  aldeias  nossas,  podiam  to- 
mar o  nome  das  caixas;  mas  lembra-me  outra  etymologia 
um  pouco  mais  violenta,  que  julgo  mais  acceitavel. 

Caixaria  e  Caixarias  são  povoações  dos  districtos  de 
de  Vianna,  Lisboa,  Santarém,  Coimbra  e  Leiria,  —  districtos 
que  abundam  em  pântanos,  charcos,  rios,  ribeiros  e  i^ans,  pelo 
que  talvez  Caixaria  e  Caixarias  sejam  formas  de  Caxana  e 
Caxarias,  por  Coaxaria  e  Coaxarias. 

Podiam,  pois,  as  ditas  aldeias  tomar  o  nome  do  coaxo 
ou  coaxaria,  coaxar  ou  grasnar  das  rãs. 

Mas  demorarão  as  ditas  povoações  perto  d'algum  sitio  em 
que  abundem  as  rãs  %  —  Dicant  paduani  ^ 

Os    elefantes  figuraram  nas  guerras   entre  os  romanos, 


^    Cf.  Rana  e  Rans,  differentes  povoações  nossas,  —  e  rua  das 
Rans  —  na  parte  baixa  e  pantanosa  de  Coimbra  ?  !. . . 


TENTATIVA    ETYMOLOOICO-TOPONYMICA  109 


cartaginezes  e  lusitanos  ;  —  também  usaram  d'elles  na  penín- 
sula muito  posteriormente  os  árabes  e  mouros  —  e  talvez 
trouxessem  da  Africa  também  camelos^  como  trouxeram  as 
zebras.  E  assim  como  as  zehras — ha  muito  completamente 
extinctas  em  Por  f  ir  f/a  l^  deram  o  nome  a  d  iíf  crentes  povoa- 
ções nossas,  —  tambcm  dos  cameloa  podia  tomar  o  nome  de 
Camelaria  ou  Chamelaria  a  nossa  povoação  ou  quinta  supra, 
bem  como  as  nossas  povoações  denominadas  Camela  e  Camelo. 
Note-se  que 

C5fl  e  Cfl  — C50eC0 

muitas  vezes  se  confundiram  e  substituíram  na  onomástica 
portugueza. 

Veja-se  o  tópico  infra :  —  Suhstitukão  de  letras^  mas, 
como  talvez  se  demore,  ahi  vae  uma  amostrinha  do  panno, 
—  outro  espécimen  curioso  da  onomástica  portugueza  compa- 
rada. 

Os  leitores  vão  rir  e  mofar,  mas,  c<imo  já  disse  e  repito 
mais  uma  vez,—  rira  hien  qui  rira  le  dernier? !... 

—  Chabouco  e  Cabouco.  ^ 

—  Chab rinha  e  Cabrinha. 

—  Chaeiros  e  Caeiros. 

—  Chães  e  Cães. 

—  Champana  e  Campanas,  plural  de  Campana. 
Somma  e  segue. 

—  Chanal  e  Canal. 

—  Chancella  e  Cancella 

—  Chanosa  e  Canosa. 

—  Chapa  Q  Capa. 

—  Chapinha  e  Capinha. 

—  Charão  e  Carão. 

—  Charniche,  quasi  Charnicha  e  Carnicha. 

—  Jarroeira,  —  Charoeira  por  Charroeira,  —  este  por  Jar- 
roeira  —  e  Caroeira  por  Charoeira. 

Caroeira  e  Charoeira  são  formas  de  Jarroeira,  povoação 
que  tomou  o  nome  dos  Jarros,  planta  aroidea. 

—  Charrão  e  Carrão. 


^  Chabouco  C  Cabouco  são  povoações  nossas,  mencionadas  na  Cho- 
rographia  Moderna,  —  bem  como  iodas  as  que  vou  citar. 

—  Vejam-se  os  meus  pobres  folhetins  84,  85,  86  e  144,  publicados 
no  Conimbricense  —  Q  agora  Chanal  t  Chabouco  no  indice  da  \.^  parte. 


110  TENTÂTiyA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


—  Charrasqueiras  e  Carrasqueiras, 

—  Charro  e  Carro. 

—  Chasco  e  Casco. 

—  Chasqueira  e  Casqueira. 

—  Chaveira  q  Caveira. 

—  Chaxão  e  Cachão. 

—  Chó  e  Có. 

—  Choradeira  e  Curadeir^as  ou  Coradeiras  (sic)  -  plural 
de  Coradeira. 

—  Chorão  e  Corão. 

—  Chorda  e  Corda. 

—  Chorim  e  Corim. 

—  Chorozeira  por  Choruzeira  —  e  Cor uj eira,  povoações 
que  tomaram  o  nome  das  corujas^  como  outras  muitas  po- 
voações nossas. 

V.  Chorozeira,  Coruche  e  Corujas  no  Índice  da  1.*  parte. 
Ainda  temos: 

—  Chouso,  Couço  e  Cousso  ? . .  . 

—  Chouto  e  Couto  ? .  .  . 

—  Chozende  e  Chozendo  por  Cozende  e  Cozendo  —  e  estes 
por  Gozende  e  Gozendo.  —  De  Gundesindus,  i,  nome  germâ- 
nico pessoal,  que  deu  Godezende,  Gozende,  Gozendes,  Gozen- 
dinho,  Gozendo  —  e  talvez  Gozandina  por  Gozendina^  povoa- 
ções nossas. 

Gozende  e  Gozendo  são,  pois,  o  mesmo  que  Chozende  e 
Chozendo^!..    ^ 

—  E'  assim* a  arte  nova. 

Do  exposto  se  vê  que  Chamelaria  e  CamelaHa  podem 
ser  formas  do  mesmo  nome. 

Também  podem  ser  formas  do  mesmo  nome  Cocaria  e 
Coparia  —  Couxaria  e  Gouxaria,  mencionadas  supra. 

Cocaria  por  Cucaria  tomou  claramente  o  nome  dos  cucos, 
aves,  bem  como  outras  povoações  nossas,  Taes  são  —  Coca- 
nha  por  Cucanha,  —  Coqueda  por  Cuqueda,  Coqueira  por 
Cuqueira,  —  Cuca,  Cucana,  Cucanha,  Cuco,  Cucos,  Ucanha, 
antigamente  Cucanha,  —  e  talvez  Cocujães,  plural  de  cucujão, 
—  ao  todo  mais  de  20  povoações  nossas,  comprehendeudo 
aldeias,  casaes,  quintas,  etc.  —  A  Ucanha  é  freguezia, — já 
foi  villa  —  e  pertence  ao  concelho  de  Mondim  da  Beira. 

Coparia  é  talvez  uma  forma  de  Cocaria,  pois  ca,  co,  cu 


1    A'  mesma  série  pertence  também  Chousenda  por  Chozenda,  po- 
voação nossa.  Junte  N.  S.^  de  Conduzende,  padroeira  de  Adorigo. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  111 


e  pa^  po,  pu  confundiram-se  e  substituiram-se  na  onomástica 
portugueza.  * 

Ahi  vae  uma  amostra  do  panno. 

Ca,  CO,  cu  —  e  pa,  po,  pu 

—  Cadella  e  Padella. 

—  Cadinho  e  Padinho. 

—  Caracha,  Caraxa,  Carocha  e>  Carochinha]  —  Paraxa, 
Paraxinha,  Parrocha  e  Parroxinha  —  povoações  que  toma- 
ram o  nome  das  carochas  —  insectos. 

—  Cavamos  e  Paramos. 

—  Cadraço  e  Padraços,  plural  de  Padraço, 

—  Cair  es  e  Paires. 

—  Cairos  e  Pairo,  quasi  Pairos. 

—  Calaceiro,  aldeia,  —  Palaceiros,  plural  de  Palaceiro, 
—  e  Passeiro  por  Paceiro,  contracção  de  Palaceiro. 

—  Cassadouro  e  Passadouro. 

—  Escalheiro  por  secalheiro,  --  e  Eapalheiros  por  Esca- 
Iheiros ! .  .  . 

—  Escairo,  Espairo  e  Espaio  por  Espairo'^.  .  . 

—  Escariz  e  Espariz. 

—  EscarigOj  —  Esporigo  por  Esparigo  —  e  este  por  Eaca- 
rigo. 

Também  temos  Esprigo  por  Esparigo  ou  Esporigo. 

Todas  estas  povoações  tomaram  o  nome  de  Ascarigus, 
nome  germânico  pessoal  ^,  cujo  patronímico  Ascariguiz  deu 
Escariz,  Espariz,  etc. 

Junte-se  Cauca  e  Pauca. 

Veja-se  Cauca,  Cossourado  e  Villa  Pouca  d'Agtáar,  artigo 
meu,  no  Portugal  antigo  e  moderno. 

—  Comba  e  Pomba. 

—  Combinho  por  pombinho. 

—  Coço  e  Poço. 

—  Couve  e  Pouve  !   . . 

—  Coures  e  Pouvesí.  .  . 
~    CovaJ  e  Poval. 


1     Veja-se  o  tópico  infra.:  —  Substituição  de  letras. 

*  Com  vista  ao  meu  atávico  successor  —  o  sr.  dr.  Joaquim  da 
Silveira,  da  Anadia,  hoje  notário  e  advogado  em  Alcanena  c  deposi- 
taria (?!...)  dos  meus  caros  verbetes  etymologicos. 

Vejam-se  as  pag.  37,  40,  53,  68,  78  (videte,  videte  !. . .),  —  101  su- 
pra, —  t  Joaquim  da  Silveira  no  Índice  da  1.^  parte. 


11'2  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


—  Cobrai  e  Pobral. 

—  Collo  Q  Polo. 

—  Conta  e  Ponta. 

—  Continha  e  Pontinha. 

—  Continhas  e  Pontinhas, 

—  Cortdha  e  Portelhaf 

—  Cortelhas  e  Portelhas  ? 

—  Cortelho  e  Portelho  ? 

—  Cortello  e  Portello  ? 

—  Cortinha  e  Portinha  ? 

—  Cortinho  e  Poi^tinho  ? 

—  Corvella  e  Porvella? !.., 

—  Costa  e  Posta. 

Junte-se  finalmente  escuma  e  espuma,  —  escumadeira  e 
espumadeira,  —  escumar  e  espumar  —  e  triculantes  por  tinpu- 
lantes,  provincianismo  actual  na  Foz  do  Douro,  etc. 

Do  exposto  se  vê  que  podem  ser  formas  do  mesmo  nome 
—  Cocaria  e  Coparia. 

Talvez  que  a  substituição  de  ^  e  c  venha  do  tempo  dos 
celtas,  pois  na  Jrlanda  dizem  cran  por  pren  ou  pran  —  e  na 
Baixa  Bretanha  ou,  Aremorica  dizem  cenn  por  penn  —  ca- 
beça. ^ 

Nós  também  temos  Chancrão  por  Cranchão,  —  talvez 
forma  de  Granjão  —  ou  de  Pranchão  ! .  . , 

Cf.  Pranchas  e  Prenxa  por  Pranxa  ou  Prancha,  povoa- 
ções nossas. 

Junte-se   Creiras  e  Pereiras,  quasi  Preiras? ! ,  .  . 

—  Crestello  e  Prestello  ?  I , .  , 

—  Crestes  e  Prestes  ? ! . .  . 

—  Grela  e  Perello,  m.  de  Perella,  quasi  Prela,  povoações 
nossas. 

Também  temos  Creado,  aldeia,  singular  de  Creados  ou 
Criados, — e  Priados,  povoação  nossa  também,  talvez  forma 
de  Criados/... 

Temos  também  Centieira,  Sentieira  e  Pentieira. 

—  Centieiro  e  Pentieiros,  plural  de  Pentieiro. 

—  Sendão  e  Pendão ? ! . . . 

—  Seninha  e  Peninha  ? ! . . . 

A  quem  haja  de  succeder-me  recommendo  esta  e  outras 
muitas  bellezas  da  onomástica  portugueza  comparada. 


^    Vide  Pcncran  em  Guillou,  pagina  113. 

O  cuia.  penn  —  cabeça  —  deu  Pena  e  Penha,  muitas  povoações  nossas. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  113 


Basta  de  Cocaria  e  Coparia  ;  —  fallemos  agora  de  Cou- 
xaria,  Gouxaria  e  Moncharia^  povoações  nossas,  talvez  formas 
do  mesmo  nome,  tirado  dos  mochos,  aves  —  ou  dos  muchôes, 
mosquitos. 

Os  mochos^  emblema  da  sciencia,  abundam  em  varias 
regiões  do  nosso  paiz.  —  Eu  nunca  vi  tantos  em  tão  curto 
espaço,  como  entre  a  estação  do  Crato  e  Nisa^  haverá  vinte 
annos,  quando  por  alli  passei  no  mez  de  Junho  em  uma  dili- 
gencia ou  carro  de  posta,  debaixo  de  sol  tropical.  Em  muitos 
penedos,  pouco  distantes  da  estrada,  com  surpreza  vi  no  cu- 
ruto  d'elles  mochos  pousados  meditando  e  talvez  dormindo 
com  os  olhos  fechados,  sem  abrigo  algum  e  expostos  á  tisneira . 

Também  nunca  vi  em  tão  curto  espaço  tantos  sardões  ou 
lagartos,  passeando  muito  satisfeitos  e  muito  socegados  na 
poeira  candente  da  estrada  que  segui  amos.  Não  os  amedronta- 
va o  carro  —  nem  fugiam  ou  se  escondiam.  Apenas  se  desvia- 
vam e  logo  proseguiam. 

Dos  sardões  ou  lagartos  tomaram  o  nome  talvez  mais  de 
100  povoações  nossas,  taes  são  Lagartal,  Lagarteira,  Lagar- 
tixo  ou  Lagartixa^  Lagarto^  Lagartos,  — Sardão,  Sardaça,  Sar- 
dadello,  Sardal,  Sardoal,  Sardoeira,  Sardoeiro,  Sardoura  e 
Sandoeira  (?/...),  o  mesmo  que  Sardoeira. 

Também  os  mochos  deram  o  nome  a  varias  povoações 
nossas.  Taes  são  —  Mocho,  Mochos^  Mochinhos — e  talvez  Moa- 
cho,  Moachos,  Moiichaes,  Mouchão,  Moucharia,  Moucheira,  Mou- 
chinho,  Mouchinhos,  Moxoco,  Moxori^o  e  Muxarro.  —  Mas  tal- 
vez que  Mouchões,  Mouchão,  Moucharia  e  Moucheira  tomas- 
sem o  nome  dos  muchões,  como  também  Moção  e  Mouchão  por 
Mochão,  —  Moçarria  por  Mucharia  ou  Mouxaria,  Mouchões, 
etc,  povoações  nossas. 

As  meias  tintas  confundem  e  eu  já  tenho  a  vista  muito 
cançada ;  mas  na  minha  opinião  Moucharia  é  uma  forma  de 
Mocharia  ou  Mucharia  e  tomou  o  nome  dos  mochos  ou  dos 
muchões. 

Por  seu  turno  Mouchaina  deu  ou  podia  dar  Couxnria 
por  Coucharia,  pois  ma,  mo,  mu,  e  ca,  co,  cu,  substituiram-se 
e  confundiram-se  na  onomástica  pnrn»<j:iieza. 

Veja-se  o  topicc  infra:  —  Sid)stitnicão  de  letras,  mas,  como 
talvez  se  demore,  ahi  vae  uma  amostra  do  panno. 

—  Cachouca,  Cachouças-  Mnchoça  e  Machossas  por  Macho- 
nas —  de  7?ia  choça  e  rnds  choças. 

Cf.  Lama  Má,  Matamá.  Quinta  Má,  Pedra  Md,  Cova  Máy 
Rio  Máu,  etc,  povoações  nossas. 


114  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


-^  Cadorno  ou  Codorno  —  e  Madorno  ? 

—  Caçoeira  e  Macoeira, 

—  Cadeiras  e  Madeiras. 

—  Cafarro  e  Mafarra^  quasi  Mafarro. 

—  Cagide  e  Magide, 

—  Cainha^   Cainhas  —  Mainha   e  Mainhas? 

—  Cairos  e  Mairos. 

—  Calheiros  e  Malheiros  ?  !... 

—  Calveira  e  Malveira. 

—  Caheto  e  Malvedo. 

—  Cancellos  e  Mancellos  ?  I . . . . 

—  Canhão  e  Manhão. 

—  Carécos  e  Ma  recos.  ^ 

—  Carimba,  quasi  Carimbo    -e  Marimbo. 

—  Cariola  —  Marioila,  Marioula  e  Mariolai, . , 

—  Carmelleiro  e  Marmeleiro. 

—  Carnofa  e  Marnota. 

—  Carutos  por  curutos,  —  Maruto  e  Marutos, 

—  Carvalho  e  Marvalho  / . . . 

—  Carvão  e  Marvão ?. . .  ^ 

—  Catadouros,  plural  de  Catadouro  —  e  Matadouro, 

—  Catão  e  Matão  .^ 

—  Catellas  —  Matella  e  Matellas. 

—  Co  e  Mó9/... 

—  Coco  e  Moco. 

—  Cocharro  —  Moxarro  e  Muxarro  9 ! 

—  Collares  e  Molares'? , . . 

—  Colles  —  Molles  e  Moldes  ?  / , . . 

—  Continhal  e  Montinhal. 

—  Coutinho  e  Montinho, 

—  Coutinho  e  Moutinho^/... 

—  Corim  e  Morim. 

—  Corjães  e  Murjães. 

—  Couxaria  e  Moticharia. 

—  Coií  e  3ío:í,  plural  de  Cô  e  J/o. 

—  Curalha  e  muralha. 


1  Aos  manes  de  Gualdim  Paes  de  Mar  ecos,  famoso  Mestre  do 
Templo. 

^  A  serra  de  Marvão  quer,  pois,  dizer  serra  do  carvão  —  e  a 
villa  de  Marvão  —  villa  do  carvão  71... 

Também  já  dissemos  que  a  villa  de  Barcos  quer  dizer  villa  dos 
bácoros !. . . 

—  Rien  n'est  beau  que  le  vrai. 


TENTATIVA    ETVMOLOGICO-TOPOXYMTCA  115 


Também  temos  (■uneganda  e  Cunegundeò-,  —  Monetjunda 
e  Monefjnndes,  nomes  de  santos,  etc. 

A  substituição  de  ca,  co,  cu  —  e  tua,  mo,  mu  é  um  espe- 
cimem  distincto  da  ono/tta.sfira  porfngyeza  comparada  ! ... 

Do  exposto  se  vê  que  Moncliaria  deu  ou  podia  dar  (Jou- 
xaria  ; —  por  seu  turno  Couxaria  —  muito  naturalmente  e  sem 
violência  alguma  —  deu  ou  podia  dar  (louxaria,  pois  ca,  co, 
cu  —  e  ga,  go,  gu  trivialmente  se  confundiram  e  substitui- 
ram  na  onomástica  portagueza.  ^ 

Na  minha  opinião,  pois,  como  já  dissemos,  —  Couxaria^ 
Gouxarla  e  Mouxaria  são  formas  do  mesmo  nome,  tiradas 
dos  mochos,  aves,  —  ou  dos  muchões,  mosquitos. 

E'  assim  a  arfe  nova  —  e  /'ira  hien  que  rira  le  dernier? !... 


Volvendo  á  sonora  desinência  ia,  temos  ainda  outras 
muitas  povoações  afinadas  pelo  mesmo  diapasão.  Taes  são : 

—  Donairia,  Enfermaria,  Enxertaria  ou  Enxertia,  Es- 
pia, Fanadia,  —  Fancaria,  Faria,  Feitoria,  Ferraria,  Franca- 
ria,  Freiria,  Fumaria,  Gafaria,  (J areia,  Gataria,  G avaria, 
Gordaria,  Gravia,  Guia,  Joaria,  Jugaria,  Judia,  Juhia,  Juta, 
etc. 

Agora  mais  algun-s  dislates  meus. 

Donairia  dava  um  lindo  nome  para  qualquer  das  ruas 
mais  luxuosas  do  Porto  ou  de  Lisboa  ;  mas  Donairia  é  uma 
triste  e  pobre  aldeia  do  districto  de  Leiria  e  o  seu  nome  es- 
tá dizendo  que  pertenceu  a  alguma  ordem  de  Donas.  Taes 
eram  as  freiras  dominicas  de  Villa  Nova  de  Gatja,  Donas  de 
Corpus  Ghristi. 

Também  as  emparedadas  se  denominavam  Donas  e  a 
uma  d'ellaí?  dedicou  Arnaldo  Gama  o  seu  lindo  romance  his- 
tórico —  A   Ultima  Dona  de  S.  Nicolau. 

Cf.  Dona,  Donas,  Casal  Dona,  Casal  das  Donas,  (cá  es- 
tão ellas !...),  —  iMgardona  ou  Tragar  da  Dona,  Quintandona 
por  Quintan  da  Dona,  Victorino  das  Donas,  etc,  povoações 
nossas. 

Donairia,  povoação  das  Donas,  recorda  Bernardia,  po- 
voação dos  frades  Bernardos,  e  Freiria,  povoação  das  freiras 
ou  dos  freires  —  cavalleiros  pertencentes  a  ordens  militares. 


Veja- se  o  tópico  mira.— Substituição  de  letras. 


116  TENTA.TIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


—  Enfermaria^  povoação  nossa,  tomou  talvez  o  nome 
d'alguma  doação  feita  pelo  senhor  d'ella  a  determinado  mos- 
teiro para  tratamento  dos  frades  ou  das  freiras  doentes. 

Também  Sajyataria,  aldeia  e  freguezia,  talvez  tomasse  o 
nome  d'alguma  doação  análoga  para  o  calçado  das  freiras  ou 
dos  frades  —  e  Vestíaria,  povoação  nossa  também,  talvez  to- 
masse o  nome  d'alguma  doação  feita  para  vestuário. 

Nas  chronicas  dos  mosteiros  encontram-se  muitas  doações 
feitas  aos  monges  e  monjas  para  calçado,  vestuário,  tratamen- 
to dos  doentes  e  para  sustentação  da  communidade,  unde  tal- 
vez Ucharia,  o  mesmo  que  huxaria,  deposito  ou  provisão  de 
mantimentos,  etc,  povoação  nossa. 

—  Enxertaria  e  Enxertia,  povoações  nossas,  tomaram  o 
nome  talvez  dos  castanheiros  bravos  ou  reboleiros  enxertados. 

E-efiro-me  aos  castanheiros,  por  serem  arvores  de  grande 
porte  que  muito  avultavam  e  abundaram  em  differentes  re- 
giões do  nosso  paiz  —  desde  os  tempos  mais  remotos.  ^ 

Cf.  Enxertada,  Enxertadinha,  Enxertado,  Enxertai,  En- 
xertim,  Enxerto,  Enxertos,  etc,  povoações  nossas. 

—  Espia  —  vem  do  portuguez  espia,  pessoa  que  espreita 

—  e  por  extensão  atalaia,  esculca,  vigia. 

Cf.  Atalaia,  Atalaia  Cimeira.  Atalaia  da  Barroca,  Ata- 
laia da  Corte,  Atalaia  da  Guarita,  Atalaia  da  Torrinha,  Ata- 
laia de  Baixo,  Atalaia  de  Cima,  Atalaia  do  Campo,  Atalaia 
Fundeira,  Atalaias^  Atalainha,  lalaia,  ^  Ataia  por  Atalaia, 
Ataja  ou  Ataya  por  Ataia,  etc,  povoações  nossas,  —  ao  todo 
mais  de  oitenta? !... 

Todas  estas  Atalaias,  Talaias,  Ataias  e  Ataijas  ou  Atayas 
supra,  são  reminiscências  tétricas  das  muitas  guerras  que  as- 
solaram o  nosso  paiz  desde  os  tempos  mais  remotos. 

Ainda  no  ultimo  século  XIX  —  o  século  das  luzes  —  em 
Portugal  correu  muito  sangue  com  a  guerra  da  Península  e 
com  as  guerras  civis  posteriores. 

Mal  se  imagina  o  que  òs  nossos  antepassados  soffreram!... 

Felizmente  vivemos  em  paz  desde  1847  —  ha  62  annos 

—  e  Deus  a  prolongue,  porque  a  ella  se  devem  os  melhora- 
mentos de  toda  a  ordem  que  por  ventura  gosamos  e  que  pro- 
mettem  ir  longe.  —  Mas  o  mundo  treme  e  não  sei  o  que  suc- 
cederá  com  as  utopias  ou  aspirações  dos  atTieistas,  socialistas^ 
ac7^atas  e  nihilistas  —  tão  numerosos  com.0  perigosos^. !.., 


1    V.  Castanheiros  no  indice  do  i  vol. 

^    Talaia  é  appellido  nosso  também  e  o  mesmo  que  Atalaia. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  117 


Neste  momento  —  agosto  de  1000  —  a  Rússia  é  um  vul- 
cão —  e  a  lava  pôde  ir  longe! ...  * 

A's  nossas  muitas  jifa/dias  junte-so  Afalaião,  sitio  a  mon- 
tante de  Portalegre,  onde  ainda  hoje  se  vêem  as  ruinas  d'um 
castello. 

Também  temos  Vigia,  o  mesmo  que  Espia,  —  e  Vegião 
por  Vigião,  o  mesmo  que  Ataíaião,  povoações  nossas. 

Junte-se  também  Esculca  e  Escurquella  por  Escnlquella, 
pequena  esculca,  povoações  nossas. 

—  Fanadia  —  fica  para  segunda  leitura,  posto  que  Ana- 
dia, escrevendo-se,  como  talvez  outr'ora  se  escrevesse  Hana- 
dia,  dava  sem  violência  Fanadia  no  diapasão  hespanhol. 

Cf.  Haba,  Ilahales,  Harienda,  Jfaciendas,  Havia,  Haro, 
Haya,  etc,  povoações  da  Hespanha  —  em  portuguez  Fava, 
Facaes,  Fazenda,  Fazendas,  Faria,  Faro  e  Faia. 

—  Fancaria  é  talvez  o  mesmo  que  Fraiicaria  supra,  pois, 
como  já  dissemos  ore  uma  letra  muito  falsa  e  muito  capri- 
chosa !... 

—  Faria  —  é  appellido  vulgar  portuguez  e  nome  de  14 
povoações  nossas;  mas  qual  a  sua  etymologia? 

Talvez  seja  o  hespanhol  Maria  supra^  que  podia  dar  Fa- 
ria,  como  Haro  deu  Faro,  etc. 

Note-se  também  que  temos  grande  numero  de  appelli- 
dos,  importados  da  Hespanha  *.  Taes  são  os  seguintes : 

—  Araújo  —  de  Arauzo,  differentes  povoações  de  Sala- 
manca e  Burgos. 

—  Aragão  —  do  Aragão. 

—  Ávila — de  Ávila,  duas  povoações  da  FJespanha. 

—  Azuaga  —  de  Azuaga,  povoação  de  Badajoz. 

—  Alarcão  —  de  Alarcon,  nome  de  varias  povoações  de 
Málaga  e  Cuenca. 

Somma  e  segue. 

—  Alcântara  —  de  xilcantara,  povoação  da  Hespanha, 

—  Cáceres  —  de  Cáceres  ou  Cazeres,  vil  la  e  capital  de 
provincia  na  Hespanha. 

—  Burgos — de  Burgos,  cidade  e  capital  de  provincia 
também. 

—  Andaluz  —  da  Andaluzia. 

—  Vilhena  —  de   Villena,  povoação  di  Alicante. 


' .  Foi  isto  o  que  escrevemos  no  folhetim  n.o  156  do  Conimbricense. 
'-'    Por  seu  turno  a  Hespanha  tem  vários  appellidos  portuguezes  como 
já  dissemos. 


118  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


—  Villaça  —  appellido  e  povoação  nossa.  —  De  Vllacha, 
muitas  povoações  da  Hespanha, —ow  de  Villaza,  povoação 
de  Orense. 

Vasconcellos,  appellido  nosso,  é  o  mesmo  que  Basconcil- 
los,  duas  povoações  de  Burgos ;  mas  na  minha  opinião  Vas- 
concellos, vem  de  Velascucellus ,  /,  diminuitivo  de  Velascus, 
quij  quis,  que  na  Hespanha  deu  Velasco,  nome  pessoal,  —  Ve- 
lasco,  nome  de  varias  povoações  de  Jaen,  Sor  ia,  (medo  e 
Logronho,  —  e  Velascalvaro  por  Velasco  Álvaro,  nome  d' uma 
povoação  de  ValhadoUd. 

O  mesmo  Velasats,  qui,  quis,  entre  nós  por  contracção 
deu  Vasco,  nome  pessoal,  e  Vasques,  appellido  vulgar. 

Também  temos  Basco,  Bascos,  Vawão,  Vasco,  Vascões, 
Vasconcellos,  Vasconeto,  contracção  de  Vasco  Neto,  —  Vascos, 
Vascoveiro,  Vasques,  Vasq^Esteves  e  Vasquinho,  povoações, 
cujos  nomes  são  reminiscência  dos  bascos  ou  iberos, — povo 
mysterioso  e  muito  antigo,  que  já  foi  muito  numeroso  e  actual- 
mente se  acha  muito  reduzido,  alcandorado  nos  Pyreneiis. 

Vejam- se  as  pag,  70  e  segg.  do  l.o  vol. 

* 
*       * 

Volvendo  aos  nossos  appellidos  importados  da  Hespanha, 
ainda  me  occorrem  os  seguintes : 

— Lemos  —  de  Lemos,  povoação  da.  Corunha. 

—  Noronha  —  talvez  de  Lorona,  povoação  de  Hiiesca, 
pois,  como  já  dissemos,  l  e  n  —  mesmo  iniciaes,  —  confundi- 
ram-se  e  substituiram-se. 

—  Padim  e  Paim  por  Padim  —  de  Padíw,  três  povoações 
de  Pontevedra. 

—  Queiroga  e  Quiroga  —  de  Quiroga,  povoação  de  Lngo. 

—  Saldanha  —  de  Saldana,  nome  de  varias  povoações 
de  Burgos,  Segóvia  e  Falência. 

—  Tovar  —  de  Tobar  ou  de  Tovar,  dififerentes  povoações 
de  Cuenca,  ValhadoUd,  Albacefe  e  Burgos. 

—  Calainho  por  Alcalainho — de  Alcald,  nome  de  varias 
povoações  da  Hespanha,  avultando  entre  ellas  Alcala  de  He- 
nares,  pequena  mas  importante  cidade  próxima  de  Madrid, 
pelo  que  á  sahida  de  Madrid,  para  a  dita  cidade  lhe  erigiram 
um  pórtico  monumental  que  eu  já  vi,  denominado  Porta 
d'Alcalá. 

Demora  a  pequena  distancia  da  Praça  dos  Touros  —  ou- 
tro monumento  de  Madrid. — E'  a  praça  de  touros  maior  e 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  119 


mais  \uxu.oii3i  da.  Península,  da.  Europa  e  talvez  do  inundo  in» 
tetro?/..,  —  A  sua  lotação  é  para  19  a  20  mil  pessoas. 

Nem  podia  deixar  de  ser  assim,  porque  Mo  Madrid  es 
Cortei — dizem  com  orgulho  os  liespanhoes  —  e  para  elles  as 
touradas  são  tudo. 

—  Pan  /y  toros  /  —  é  a  sua  phrase  proverbial  caracteris- 
tica. 

—  Vade  retro!... 

Volvendo  aos  nossos  appellidos  importados  da  Hespanha^ 
ainda  me  occorrem  os  seguintes : 

—  Moreda —  talvez  de  Moreda,  11  povoações  hespanholas. 

—  Navarro  —  da  Navarra. 

—  Iglesias  —  de  Iglesia  e  Iglesias,-  mais  de  100  povoa- 
ções da  Hespanha. 

—  Dias  —  de  Diax  por  Diagax,  patronimico  hespanhol  e 
muito  antigo  de  Diago,  o  mesmo  que  Thiago,  Diego,  Diogo, 
Jayme,  Jacome^  Jacob,  etc,  —  nomes  tirados  de  Jacob,  patri- 
archa  biblico. 

Vejam-se  as  pag.  81õ  e  319  do  1.**  vol. 

—  Diegues,  appellido  nosso,  —  veiu  de  Diegues,  appelli- 
do  hespanhol,  patronimico  de  Diego^  o  mesmo  que  Diogo, 
Diago,  Thiago,  etc. 

—  Biscainho  e  Biscaia,  appellidos  nossos,  —  vieram  de 
Biscaia,  região  da  Hespanha,  como  Biscainha  e  Biscainho, 
povoações  nossas,  —  e  Biscainhos,  casa  nobre  e  muito  antiga 
de  Braga,  ^ 

*      * 

Faria,  appellido  vulgar  portuguez  e  nome  de  14  povoa- 
ções nossas,  poderá  vir,  como  já  dissemos, do  hespanhol  Harta, 
mas  8U  não  conheço  na  Hespanha  o  appellido  Haria  ou  Fa- 
ria —  e  com  o  nome  de  Haria  ou  Haría  a  Hespanha  apenas 
tem  uma  povoação  nas   Canárias  —  emquanto  que  nós  temos 

14:?!... 

Isto  me  leva  a  suppôr  que  o  appellica  Faria  não  veiu  da 
Hespanha,  mas  é  nosso  e  que  talvez  Faria  seja  contracção  de 
Favaria,  o  mesmo  que  Faval  —  campo  de  favas'^!... 

Favaria  deu  ou  podia  dar  Faria,  como  Alçaria  deu  Ca- 
ria,—  Algravia  deu  Gravia,  —  Cardaria  deu  Cárdia, — En- 
xertaria deu  Enxertia,  —  Francezia  deu  Franzia,  —  Fornaría 


^    Vieram  também  da  Hespanha  Sepúlveda   e  Gusmão,  appellidos 
nossos. 


120  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


deii  Forniaf,  —  Gavaria  deu  Gavía  ?;  Judiaria^  Juia,  Juhia  e 
Jma  ? ;  Mouraria  —  Mouria  ;  Rebolaria  —  RehoUa  ;  Touraria 

—  Touria'^  e  Trafegaria  —  Trafaria  ? 

Também  temos  Ciiria.  estabelecimento  thermal,  etc.  cujo 
nome  pôde  vir  de  Caria,  ou  de  Curaria,  corporação  capi- 
tular, — ou  de  Curaria,  o  mesmo  que  Enfermaria  supra,  doa- 
ção de  terras  para  a  cura  ou  tratamento  dos  frades  ou  fre^^ 
ras  doentes. 

Favaria,  pois,  sem  violência  deu  ou  podia  dar  Faria, 

Note-se  que  as  favas,  legume  importante,  já  veêm  do 
tempo  dos  romanos  —  ou  talvez  de  tempos  pre  romanos  *  -^ 
e  deram  o  nome  a  difíerentes  poVoaçõss  nossas.  Taes  são :  — 
Fava,  Favacal,  Favaes,  Favaial  ou  Favacal,  Faval,  Favaquei- 
ra,  Favariça,  Favarrel,  Favarrelinho,  Favas,  Favasal,  Favas-> 
ga,  Favaxa,  Favaxinha,  Favella  e  Favellinha. 

Também  temos  Favaios,  que  podia  tomar  o  nome  das 
favas  —  ou  antes  de  Phebadius  —  Phebadio,  nome  d'um  santo, 
etc. 

O  nosso  distincto  escriptor  Fr.  Manoel  dos  Praxeres  Ma- 
ranhão, natural  da  villa  de  Favaios,  auctor  d'um  Santoral 
interessante  e  d'um  interessante  Diccionario  Chorographico, 
bem  conhecido  como  Diccionario  do  Flaviense,  julgou  que  Fa- 
vaios vinha  de  Flavius  —  Flávio,  nome  romano  e  nome  d'um 
santo  ;  mas  aliquando  dormitat  Homerus  / .  . . 

Flavius  não  podia  dar  Favaios,  porque  na  passagem  do 
latim  para  o  portuguez  fia  deu  cha. 

Cf.  Chaves,  villa,  que  tomou  claramente  o  nome  de  Flaviis 

—  ou  Aquis  Flaviis  —  cidade  episcopal  romana  que  a  pobre 
villa  representa.  * 

Por  seu  turno  o  nosso  appellido  Chaves  não  vem  das 
chaves,  mas  da  villa  de  Chaves  supra. 

Também  Flavii,  patronimico  de  Flavius,  ii,  deu  Chave^ 
freguezia  do  concelho  á' Arouca, 

Chave  quer,  pois  dizer  —  granja,  quinta  ou  casa  de  cam- 
po de  Flávio  ?  I.  . . 

—  E'  assim  a  arfe  nova. 


^  Os  romanos  diziam  Jabá  —  no  velho  toscano,  idioma  pre-romano 
— fava,  como  em  portuguez. 

Os  romanos  diziam  fabalia,  um  por  faval,  —  no  velho  toscano /ava/^, 
quasi  faval. 

V.  Magnum  Lexicon  e  Las  Casas. 

2    V.  Chaves  no  Portugal  antigo  e  moderno. 


TENTATIVA    ETYMOLOOICO-TOPONYMICA  121 


O  mesmo  Flavius-,  Flávio,  deu  Flavia,  Flaviana  e  Flatia- 
no,  nomes  romanos  e  nomes  de  santos,  —  Fiavinia  e  Flavinio, 
nomes  pessoaes  e  appellidos. 

Por  seu  turno  Flama  no,  em  latim  Flatianus-,  i.  is,  deu 
Chamães,   Chavetes,  e  Chavões  por  Chavãe^,  povoações  nossas. 

Também  Flavinio,  em  latim  Havinius,  ii  —  deu  Chavim, 
aldeia,  etc. 

Para  atesto  do  casco  direi  que  Flávio,  nome  romano,  vem 
do  latim  fiavas  —  louro,  da  còr  do  ouro. 

O  nome  ou  cognome  Flávio  é,  pois,  tirado  da  cor  do 
cahello» 

Prosigamos. 


Feitoria  —  varias  povoações  nossas,  —  podiam  tomar  o 
nome  do  antigo  portuguez  feitoria — fazenda,  prédio  rústico 
—  ou  do  portuguez  actual  feitoria  —  um  dos  processos  de  fa- 
bricar vinho ;  fabrico  do  vinho  —  como  diz  o  sr.  Cândido  de 
Figueiredo 

S.  ex.*refere-se  talvez  á  denominação  vinho  de  feitoria  — 
denominação  vulgar  no  Alto  Douro ^  no  tempo  da  velha  Com^ 
panhia  dos  Vinhos,  fundada  pelo  Marquez  de  Pombal. 

Effectivamente  pela  organisação  da  mencionada  com- 
panhia todo  o  Alto- Douro  foi  dividido  em  dois  lotes  paralle- 
los  ao  rio,  comprehendendo  um  dos  lotes  a  parte  mais  baixa, 
mais  próxima  do  Douro,  mais  funda  e  por  consequência  mais 
cálida,  mais  ardente  e  que  produzia  —  e  produt  —  o  vinho 
mais  generoso  ^  destinado  para  feitoria  ou  —  para  exporta- 
ção, depois  de  bem  preparado  ou  bem  feitor isado. 

Este  lote  era  demarcado  a  jusante  pelo  rio  —  e  a  mon- 
tant<^  por  grandes  mogos  ou  marcos  de  pedra  com  a  letra  — 
P  ->  {Feitoria). 

O  lote  immediatamente  superior  ou  a  montante  era  des- 
tinado para  os  vinhos  de  consumo  —  ou  de  ramo  —  nome  que 
tomou  dos  ramos  das  tabernas  em  que  era  vendido  —  no  Porto 


1  O  vinho  melhor  do  Douro,  como  lá  dizem,  —  é  o  que  ouve  ranger 
a  espadella  dos  barcos  rabellos  —  ou  creado  nas  vinhas  mais  próximas 
do  rio,  —  zona  tão  ardente,  que  alli  na  estiagem  tremem  com  sezões  os  ga- 
tos, as  gallinhas  e  os  cães,  —  estalam  as  pedras  com  o  calor,  —  destempe- 
ram-se  os  instrumentos  de  corte  que  fiquem  expostos  á  tisneira  —  e  chega 
a  derreter-se  a  solda  das  vasilhas  de  lata. 

Custa  a  crer,  mas  é  facto  !. . . 


122  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMIC  A 


e  seus  arrabaldes  pela  mencionada  Companhia; — nas  outras 
povoações  por  quem  quizesse  vendel-o.  —  E  era  crime  seve- 
7'amenfe  punido  passar  uvas  ou  vinho  do  lote  de  7'amo  para  o 
de  feitoria  —  embora  pertencessem  ambos  ao  mesmo  dono  e  á 
mesma  quinta,  ^ 

Teve  somente  o  Douro  vinhos  de  feitoria,  assim  denomi- 
nados —  não  pelo  fabrico  particular  d'elles,  mas  por  serem 
provenientes  das  vinhas  que  estavam  no  lote  da  feitoria  supra. 

Não  podiam  portanto  as.  nossas  povoações  denominadas 
Feitoria  tomar  o  nome  dos  vinhos  de  feitoria,  porque  nenhuma 
das  ditas  povoações  pertence  ao  Alto  Douro. 

Demoram  5  no  districto  do  Porto,  —  duas  no  districto 
à^ Aveiro  —  e  uma  no  de  Lisboa. 

Na  minha  opinião,  pois,  as  nossas  terras  denominadas 
Feitoria  tomaram  o  nome  de  feitoria  —  fazenda,  prédio  rústi- 
co—  ou  de  feitoria  por  feitaria  ou  Fételaria,  o  mesmo  que 
Feitada,  Feital,  Feítosa,  Feitoso,  etc,  povoações  que  tomaram 
o  nome  dos  feitos,  planta  arbustiva. 

Notese  que  a  e  o  trivialmente  se  confundiram  e  substi- 
tuiram  na  onomástica  portugueza  *,  pelo  que  Feitaria  e  Fei- 
toria podem  ser  formas  do  mesmo  nome. 

Note-se  também  que  os  feitos,  fentos,  fetos  ou  feitos,  sen- 
do uma  planta  parasita  e  arbustiva_,  deram  o  nome  a  centena- 
res de  povoações  nossas,  em  muitas  das  quaes  os  fieitos  toma- 
ram formas  tão  estranhas,  que  só  com  a  lente  da  arte  nova  se 
distinguem,  como  os  leitores  vão  vêr. 

PouoQções  nossas  que  tomaram  o  nome 
dos  feitos,  fentos,  fetos  ou  ííeítos 

Ao  meu  bom  amigo,  ex-advogado  no  Porto  e  capitalista 
—  o  sr.  dr.  José  Corrêa  Pacheco,  —  muito  amante  de  flores  e 
de  plantas,  nomeadamente  dos  fetos,  fentos  ou  fieitos,  offere^ 
ço  este  insulso  tópico,  pedindo  desculpa  do  meu  arrojo  e  dos 
meus  dislates. 

O  tópico  é  longo,  muito  longo;  estou,  porém,  certo  de  que 
s.  ex.*  o  lerá  todo,  porque  sympathisa  com  este  ramo  de  lit- 
teratura. 


1     Vejam-sc  no  Portugal  antigo  e  moderno  os  meus  artigos  Victoria, 
freguezia  do  Porto,  —  e  Villa  Jusã,  freguezia  do  concelho  de  Mezãofrio. 
'^    Veja-se  o  tópico  infra:  Substituição  de  letras. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  123 


Foi  um  dos  mais  assiduos  leitores  dos  meus  pobres  fo- 
lhetins, que  agora  estou  publicando  em  livro. 

Sem  mais  delongas,  —  entremos  na  felga. 

Afains  (?/...),  Afeitai,  Afeifeira,  Alfeirão,  Al  fel /-ia,  Al- 
feirõesj  Alfeite,  Alfeiteira^  Covão  do  Feto,  Faitos,  Falagueira, 
Falagueirinha,  Fuleira,  Faleirinha,  Faleiro,  Falei j-os,  Ffdga- 
reira^  Falgarinho,  Falgarom  e  Falgaroso. 

—  Feitada,  Feital,  Feitoria  por  Feitaria^ ;  --  Feítosa, 
FeitoHo ;  Felegrosa,  Felgaes,  Felgar,  Felgares,  Felgaria,  Fel- 
goso,  Felgueira,  Felgueiras,  Felgueiros,  Feliteira,  Feltia,  Fen- 
tella,  Fétaes;  Fetal,  Feteira,  Feteira  de  Baixo,  Feteira  de  Ci- 
ma, Feteira  de  DeiitrOj  Feteira  de  Fora,  Feteiras,  Féteirinha, 
Fetelaria  ou  Tetelaria,  Fétil  e  Feto. 

—  Filgneiras,  Filtreiraj  Fitares,  Fitos,  Fitouro  e  Foitos. 

—  Folga,  Folgada,  Folgado,  Folgados,  Folgão,  Folgar,  Foi- 
garosa,  Folgas,  Folgôa,  Folgorosa,  Folgosa,  Folgoselhe,  Folgo- 
sinho,  Folgoso,  Foligueira,  Monte  da  Feiteira  e  Monte  da  Fei- 
teirona. 

Agora  ahi  vae  a  minha  lente,  na  falta  d'outra  melhor, 
para  os  leitores  verem  que  todos  os  nomes  supra  foram  ou 
podiam  ser  tirados  dos  feitos,  fentos,  fétãos,  fetos  ou  f leitos^ 

—  vocábulos  que  por  seu  turno  foram  tirados  do  latim  filix, 
icis  —  o  feito^  planta,   que  já  no  latim  deu  filectum  e  filictum 

—  fetal,   campo   ou    bosque  de  fetos, — filicétiim  —o  mesmo 
que  fdectnm  —  e  filicatus,  a,  nm  —  coisa  semelhante  ao  feto. 

Também  filix  e  filectum  no  baixo  latim  tomaram  formas 
variadissimas  que  podem  ver- se  em  Ducange  ou  no  (Hossa' 
rio  de  Ducange — obra  indispensável  para  este  ramo  de  estudo 

—  bem  como  o  Portugaliae  Monunienta  e  a  Chorographia  Mo- 
derna, tantas  vezes  por  mim  citada. 

Veja- se  o  1."  vol. 

O  sr.  Cândido  de  Figueiredo  também  dá  aos  fetos  o  no- 
me de  felgas  —  e  o  povo  também  diz  :  —  que  felga  !  —  que 
azáfama  !...  —  Talvez  referencia  ás  difficuldades  com  qlie  lucta 
quem  se  vê  em  um  massiço  ou  bosque  de  fetos. 

—  Com  vista  aos  caçadores  ;  mal  se  imagina,  porém,  hoje 
o  que  deviam  ser  as  taes  felgas,  bosques  ou  massiços  de  fetos 
noutro  tempo,  quando  o  nosso  paiz  esteve  em  grande  parte 
inculto  durante  séculos!... 

Note^se  que  os  fetos  são  plantas  arbustivas  muito  viva- 
zes. Deixando-os  á  vontade,  multiplicam-se  espantosamente. 

As  raizes  lançam  esporões  que  vão  até  um  metro  e  mais 
de  profundidade: — a  sua  ramagem  sobe  também  a  um  me- 


124  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


tro  e  roais  de  altura  e  distende-se  lateralmente  em  proporções 
análogas,  cruzando-se  em  todas  as  direcções  e  formando  mas- 
siços  compactos,  nos  quaes  se  abrigam  como  em  antros  e  vi- 
vem como  em  casa  própria  os  coelhos,  etc. 

Por  vezes  os  caçadores  cercam  os  taes  massiços  com  os 
seus  cães  e  de  um  só  dos  taes  massiços  fazem  sahir  com  gran- 
de trabalho  muitos  coelhos!... 

D'aqui  vem  a  phrase  vulgar  dos  caçadores  :  hoa  feiteira  !... 

Corresponde  á  locução  vulgar  dos  pescadores  :  —  bom  lan- 
ço de  rede!... 

Os  fetos  são  plantas  arbustivas  e  parazitas  sem  valor,  — 
mas  muito  lindas,  pelo  que  também  se  cultivam  nos  parques 
e  jardins, — nomeadamente  no  Porto,  onde  ha  fetos  arbóreos 
que  parecem  palmeiras! 

Chegam  a  ter  um  metro  de  circumferencia  no  tronco  — 
e  5  a  6  metros  d'altura  total,  sendo  por  vezes  avaliado  íim 
só  em  300  a  400  mil  réis  ?  ! . . . 

Os  fetos  arbóreos  talvez  maiores,  mais  antigos  e  mais  lin- 
dos que  ha  hoje  no  Porto,  são  dois  que  pompêam  no  bello 
jardim  do  sr.  José  Joaquim  Guimarães  Pestana  da  Silva,  na 
rua  do  Almada. 

Dizem-me  que  já  contam  mais  de  50  annos'^  ! . . 

•  Basta  de  cantigas  e  fallemos  agora  das  etymologias  das 
povoações  indicadas  suprú,  que  na  minha  opinião  tomaram  o 
nome  dos  fetos,  —  não  dos  fetos  arbóreos  dos  parques  e  jardins, 
—  fetos  muito  lindos  e  de  muito  valor,  —  mas  dos  fetos  arbus- 
tivos, montanhosos,  incultos  e  sem  valor  algum. 

Entremos  na  felga  —  tão  densa,  como  espinhosa  e  nebu^ 
losaf!... 

—  Afeitai  e  Afeiteira  ^  —  são  o  mesmo  que  Al  Feital  e 
Al  Feiteira  ou  Al  feiteira  infra  —  o  fetal  ou  feital  e  a  Fei- 
teira, 

—  Alfeirão  —  de  Alfeiteirão  —  o  grande  feiteiro  ou  a 
grande  feiteira,  o  mesmo  que  F'eiteirona  supra. 

Monte  da  Feiteira  e  Monte  da  Feiteirona  recordam  AtagO' 
na,  Barhatona^  Cachadona,  Campona,  Carrasona,  Crasona^ 
Quintandona,  Sílveirona,  Foros  da  Catampona,  etc,  povoações 
nossas. 


1     Logo  fali  ar  em  os  de  Afains. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICOTOPONYMICA  125 


Pernona  é  nome  commum  popular,  como  solteirona,  sa- 
bichona,  mocefona^  felizoiía,  etc. 

—  Alfeiria  —  é  talvez  contracção  de  Alfeifai-iãy  como  Fel- 
tia  por  Fetelaria,  Mouria  por  Mouraria,  Judia  por  Judiaria, 
Juhía  e  Juia  por  Judia,  etc,  povoações  nossas. 

—  Alfeirões  —  é  plural  de  Alfeirão  supra. 

—  Alfeite  —  é  talvez  uma  forma  de  Al  -{-  Feito  —  o  feito, 
pois  e  G  o  trivialmente  se  confundiram  e  substituiram  na  ono- 
mástica portugueza. 

Cf.  Barrete  e  Barreto,  Burguete  e  Burgueto,  Lourede  e 
I^ouredo,  povoações  nossas,  como  Limede  por  Liniedo,  Murie- 
de  por  Martelo,  etc. 

—  Faitos  —  é  talvez  uma  forma  de  Feitos,  pois  e  q  a  tri- 
vialmente se  confundiram  e  substituiram  na  onomástica  por- 
tugueza. 

Ahi  vae  uma  amostra  do  panno. 

—  Almelagiiez  —  ÍYQgwezidi  importante  do  concelho  de 
Coimbra,  vem  de  Al  malaguex,  o  mesmo  que  malagueno  — 
filho  de  Málaga^  como  já  dissemos: 

Cf.  também  Fenescal  por  Panascal  e  Penascaes  por  Pa- 
nascaes. 

—  Penada  e  Peneda. 

—  Penados  e  Penedos, 

—  Panasqueira  e  Penisqueira  por  Panasqueira. 

—  Pedra  Fita  por  Petra  fida,  unde  Perafita  e  Parafita 
por  Perafita. 

—  Vilhena  e  Vilhana,  que  se  encontra  em  Peral  Vilhana. 
Cf.   também  Sopegal  por  Sopagal, —  este  por  Sapogal  — 

e  este  por  Sabugal,  povoações  nossas  como  Supagal  e  Supe- 
gal,  o  mesmo  que  Sapogal,  Sopegal  e  Sabugal. 

E'  assim  a  arte  nova/, .  . 

Junte  se  Bur gatas  por  Burguetas. 

Cf.  Burgueta,  Burguete,  Burgete  por  Burguete, —  Burgue- 
to e  Burguinho,  diminutivos  de  burgo,  que  deu  Burqo  e  Bur 
gos,  muitas  povoações  nossas  —  e  Burgos,  etc,  na  Hespanha- 

—  Falagueira  e  Falagueirinha  —  são  talvez  formas  de 
Felagueira  e  Felagueirinha,  tiradas  de  falga  por  felga,  como 
Falgareira,  Falgarinho,  Falgarosa  e  Falgaroso  supra,  povoa- 
ções nossas. 

Falagueira  pôde  ser  o  mesmo  que  Falgareira  e  Felguei- 
ra,  mas  talvez  que  Falagueira  seja  o  mesmo  que  Vallagueira 
e  Valgueira,  povoações  nossas  também,  que  tomaram  o  nome 
das  valias  ou  dos  valles. 


126  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Note-se  que  /a,  fé^  fi  —  e  va,  ve,  vi  se  confandiram  e  su- 
bstituíram na  onomástica  portugueza. 

Veja-se  o  tópico  infra  —  Substituição  de  letras  e  como 
pôde  demorar-se,  —  ahi  vae  uma  amostra  do  pano. 

—  Fariginhas  por  Farginhas  e  este  por  VarginJias,  o 
mesmo  que  Varzinhas  I  ? 

—  iarjella  por  VarjeUat    .. 

Cf.  Barge,  Èargellas^  Barges  e  Bargina  por  Barginha;  — 
Varga  e  Vargas  por  Varja  e  Varjas ; —  Varg^  Vargellas  e 
Vargem,  o  mesmo  que  Barge  e  Varge ;  —  Varginha,  Vnrgio- 
ta,  Varizellas  e  Várzea,  o  mesmo  que  Barge,  Barja,  Varga, 
Varge  e  Vargea  ;  —  Várzeas,  Varziella  e  Varziellas,  o  mesmo 
que  Bargellas,  Vargellas  e  Varizellas ;—r  Varxiellinha^  Var- 
xigueto,   Varzina,  Varzinha^  Varzinhas,  etc,  povoações  nossas. 

Junte-se : 

—  Faldigens,  plural  de  faldigem.  —  e  Valdigem  ?  f .  . . 

—  Faldrêu^  Baldrêu,  Valdrêu  e  Fraldêu  por  Faldreti'^.,, 

—  Faleira  —  Bateira  e  Valleira. 

—  Faleiro  e  Valleiro. 

—  Falia  e   Valia. 

—  Falorca,  Palorca  —  e  Baloca  por  Valloca  ?  / . . . 

Na  minha  opinião  —  Falorca  por  Faloca  é  o  mesmo  que 
Valloca; — e  Palorca  por  Paloca  é  o  mesmo  que  Baloca,  pois 
pa,  po,  pu  e  ba,  ho,  bu  co.ifundiram-se  e  substituiram-se  na 
onomástica  portugueza. 

Falorca,  Palorca  —  Baloca  e  Valloca,  são,  pois,  formas  do 
mesmo  nome.  ^ 

Junte-se  Faquinhas  e  Vaquinhas, 

—  Farrio  —  Bar  rio,  Barrias  e  Barriosa,  o  mesmo  que 
Barrosa  e  Barrosas,  muitas  povoações  nossas. 

—  Felino  e  Bellino,  nomes  de  santos,  etc. 

—  Fermil,  —  Vermií  e  BermiL    ' 

—  Barrai^  Berrai  e  Ferral"} 

—  Berraria  e  Ferraria  ? 

—  Fiscainho  —  Biscainha  e  Biscainho,  o  mesmo  que  Vis- 
cainha  e    Viscainho ;  mas  também  temos  Fiscal,  freguezia  e 


1  Como  refuerzo  a  Murillo,  direi  que  na  minha  PenajuUa  ou  Pe^ 
najoia,  concelho  de  Lamego,  ha  um  sitio  denominado  Palorca,  pequeno 
valle  na  foz  d'um  ribeiro  que  desagua  no  Douro. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMirA  127 


aldeia,  que  tomaram  o  nome  de  fiscal^  funccionario  publico. 
Por  seu  turno  íiscal  podia  muito  bem  dar  Fiscainho  por  Fis- 
calinho. 

Do  exposto  se  vê  que  Falagueira  pode  vir  dos  fétos^  como 
Falfjareira  e  Felg?ieira,  —  ou  dos  valles  como  Vallagneira  e 
Valgiifira,  contracção  de    Vaílagiieira. 

Prosigamos. 

—  Faleira  e  Fal^irin/ia  são  contracções  de  Falagueira  e 
Fulag tf ei rinha  —  ou  talvez  formas  de  Valleira  e  Valleirinha, 
como  Faleiro  e   Faleiros   talvez   sejam  formas  de    Valhiro  e 

Valleiros. 

Cf.  Valleira,  VaUeirão,  Valleira-^,  Valleirinhos,  Valleiro, 
VaUinha,  Vallinhas,   ValUnho  e    Valiinhos,  povoações  nossas. 

—  Falgareira — é  o  mesmo  que  Felgareira  e  Felgueira'? 

—  Falgarinho  —  ó  o  mesmo  que  Folgosinho,  porque  felga 
deu  fahja  e  folgo.  —  e  .s*  e  r  confundiram-se  e  substituiram-se. 

Também  Falgarosa  e  Falgaroso  são  o  mesmo  que  Felga- 
rosa,  Felqaroso^  —  Folgarosa,  Folgaroso,  —  Folgorosa,  Folgo- 
roso,  —  Folgosa,  Folgoso  e  Felgoso  —  povoações  nossas  indi- 
cadas supra. 

Que  bello  espécimen  da  onomástica  portugueza  compa- 
rada'^! .  , . 

E'  assim  arfe  nova  —  e  hurra h  pelos  fetos  t 

Prosigamos. 

*      * 

—  Feitada  vem  claramente  dos  feitos  —  e  é  o  mesmo  que 
Felgueira  e  Feteira  —  bosque  ou  massico  de  felgas,  feios,  feitos 
ou  fieitos. 

Feito  deu  Feitada  como  ramo  deu  ramada^  bosque  ou 
massiço  de  ramos,  —  unde  ramada — pai-reira.  latada  ao  norte 
do  nosso  paiz;  — ramada  —  carvalhal,  ná  Galliza,  —  e  rama- 
da —  ahegoaria  ou  casa  para  recolher  gado  —  no  Algarve.  Por 
vezes  alli  as  taes  ramadas  ou  ahegoarias  —  são  casas  espaço- 
sas, sem  terem  tima  única  videira,  mas  tomaram  e  conservam 
o  nome  de  ramadas  do  tempo  em  que  abrigavam  os  bois  etc, 
á  sombra  da  ramagem  ou  dos  ramos  das  arvores. 

Notem- se  as  diversas  accepções  de  ramada  em  Portugal 
e  na  Galliza. 

Nós  temos  varias  povoações  com  os  nomes  de  Ramada^ 
Ramadas  e  Ramadinha,  talvez  synonimos  de  Barrada  por 
parreirada,  —  Par  rainha  por  parreirinha,  —  Parral  por  parrei- 
ral,—  Parreira,  Parreiral,  Parreiras,  Parreirinha,  Par reirinhas. 


128  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Parrella  e  Parrellinhas,  povoações  que  tomaram  o  nome  de 
parra  —  folha  das  videiras  e  portanto  dns  videiras.  ^ 

Mas  talvez  que  Ramada^  Ramadas  e  Ramadinha  tomas- 
sem o  nome  da  rama  ou  dos  ramos  sem  serem  das  vides,  co- 
mo RamaJha,  Ramaihada,  Ramalhal,  Ramalhão,  Ramalhedò, 
Ramalheira,  Ramalheiro,  Ramalhete,  Ramalhido,  Ramalho^ 
Ramalhos,   fíamalhosa,  etc,  povoações  nossas. 

Do  exposto  se  vê  que  feito  deu  feiteira  ou  Feteira,  Fetal, 
Feital  e  Feitada,  como  7'amo  deu  Rameira,  rameira  (?», .)  e 
Ramada;  ramalho  deu.  Ramalheira,  Ramalhal  e  Ramaihada; 
alho  den  Alheira,  Alhal  e  Alhada;  cardo-  Cardeira,  Cardai 
e  cardada ;  sobro  —  Sobreira,  Sobreiro,  Sobral,  Sobrada  e  So- 
brado, etc,  povoações  nossas. 

Sobrada  e  Sobrado  de  Paiva,  etc,  são  o  mesmo  que  So- 
breda e  Sobreda,  povoações  nossas  também,  contracção  de  so- 
breireda  e  sobreiredo,  bosque  ou  matta  de  sobreiros. 

—  Cardada  q  rameira  supra  são  nomes  communs. 
Prosigamos'.    . 

—  Feital  é  o  mesmo  que  Ffdqar  por  Felgal  —  Fetal ^  — 
Fétil  por  Fetal  —  e  Folgar  por  Folgai,  —  povoações  nossas 
que  tomaram  o  nome  dos  feitos,  o  mesmo  que  felgas,  fetos  e 
folgas  por  felgas. 

As  desinências  il,  ai  e  ar  confundiram-se  e  substitui- 
ram-se,  como  já  dissemos.  ^ 

—  Feitoria  talvez  seja  uma  forma  de  Peitaria,  o  mesmo 
que  Alfeiria,  Felgaria,  Fételaria  e  Feltia  por  Fetelaria,  como 
já  também  dissemos. 

—  Feitosa  e  Feitoso  —  vieram  claramente  dos  feitos^ 
como  Gestosa,  Giestosa  e  Giestoso  das  giestas ;  Pedrosa  e  Pe- 
droso  —  das  pedras;  Lamosa  e  Lamoso  —  da  lama,  etc,  po- 
voações nossas. 

*      * 

Felegrosa   por  Felgarosa — vem  de  felga,  o  mesmo  que 
feito,  fento,  feto  e  fieito. 
Vide  Falgarosa, 

—  Felgar  e  Felga7'es —  são  o  mesmo  que  felgal  e  felgales 
—  sitios  em  que  abundam  as  felgas. 


^    O  sr.  Cândido  de  Figueiredo  não  deu  a  etymologia  de  parra,  nome 
commum  portuguez. 

^    Veja-se  a  pag.  80  supra. 
E'  assim  a  arte  nova !... 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPOXYMICA  129 


— Felgaes  —  é  o  mesmo  que  Fdgales  e  Felgares, 

—  Felgaria  —  vem  de  feUja  e  é  o  mesmo  que  Alfeiria  por 
Alfeitaria  ou  Al -\-  Fei faria  ou  Al -\- Feitoria, —  Fételaria  e  Fel- 
tia  por  Fételaria, 

—  Felgos-o  —  vem  de  Fdga,  como  Falgarosa,  Falgaroso, 
Folgarosa,  Folgosa  e  Folgo-so,  de  falga  e  folga  por  felga. 

—  Felg2f£Íra,  Felgueiras  e  Felgueiros. 
Vide  Falagueira  e  Falqareira. 

—  Feliteira  por  Felicteira  —  vem  do  latim  botânico  feli- 
dum  —  feito  que  deu  também  Filtreira^  o  mesmo  que  Felitei- 
ra e  Feteira, —  Fitares,  o  mesmo  que  Fetales  e  Fetaes,—  Fitos 
e  Foitos,  o  mesmo  que  Feitos,  — q  Fitouro,  o  mesmo  que  Fi- 
teiro, pois  i  deu  ei  —  e  ei  —deu  ou,  como  já  dissemos  e  logo 
provaremos.  ^ 

—  Feltia,  como  já  dissemos,  é  contracção  de  Fételaria,  o 
mesmo  que  Feitoria  por  Feitaria,  —  Felgaria  e  Alfeiria. 

—  Fentella—  talvez  seja  diminutivo  de  fento,  o  mesmo 
que  feito,  feto  e  fieito. 

Cf.  Chã  do  Fento'?!...  —  povoação  nossa  também,  que  to- 
mou claramente  o  nome  dos  fentos. 

Também  Fentella,  pela  substituição  de  fé  e  vé,  '^  pôde 
ser  uma  forma  de  Venfella,  tirada  do  vento,  como  Venteiraf 
Ventiella,    Ventosella,  etc,  povoações  nossas. 

Pôde  mesmo  Ventella  ser  contracção  de  Ventiella  ou 
Ventosella!... 

Pôde  Fentella  também  ser  o  mesmo  que  Fontella,  pequena 
fonte,  como  Fontainha  e  Fontainhas,  Fontella  e  Fontellas,  Fon- 
tinha  e  Fontinhas,  etc,  povoações  nossas. 

Escusado  é  dizer  que  e  q  o  se  confundiram  e  substitui- 
ram  na  onomástica  portugueza,  pois  n^este  mesmo  tópico  te- 
mos visto  e  veremos  a  trivial  substituição  de  «^  e,  i  e  o. 

Fentella  pôde  pois,  vir  dos  fetos,  ou  fentos,  á?iS  fontes  e 
do  vento. 

As  meias  tintas  confundem  e  eu  já  tenho  a  vista  muito 
cançada. 

Nem  eu  sei  como,  tendo  tanta  edade  (77  annos?!...)  — 
ainda  posso  fazer  habitualmente  serão,  lendo  e  escrevendo  — 
até  ás  duas  e  três  horas  da  manhã. 

—  Seja  tudo  em  desconto  dos  meus  peccados  ! . , . 
Prosigamos. 


Veja-se  o  tópico  infra: — Substituição  de  letras  — q  pag.  19,  supra. 
V.  a  pag.  28,  supra. 


130  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Com  relação  a  Fétaes,  Fétaly  Feteira,  Feteira  de  Baixo, 
Feteira  de  Cima,  Feteira  de  Dentro,  Feteira  de  Fora  e  Feteiras, 
povoações  nossas,  —  veja-se  Alfeiteíra  e  Feital  supra. 

—  Féteirinha,  é  diminutivo  de  Feteira,  como  talvez  Fen- 
tella  por  fenteirella  ? 

Féteirinha  contrasta  com  Feiteirona,  augmentativo  de 
Feiteira,  o  mesmo  que  Feteira,  que  se  encontra  no  Monte  da 
Feiteirona  supra,  povoação  nossa  também. 

Com  relação  a  Fetelaria,  veja-se_,  Alfeiria,  Felgaria  e 
Feltia  supra. 

A  Chorogra;phia  Moderna,  diz  —  Fetelaria  ou  Tetelaria  — 
e  Tetelaria  ou  Fetelaria. 

Talvez  que  Fetelaria  seja  o  mesmo  que  Tetela7'ia,  já  por- 
que F  e  T  manuscriptos  facilmente  se  confundem_,  —  já  por- 
que na  minha  opinião  /a,  fe,  fo  —  e  ta,  te,  to,  se  confundiram 
e  substituiram  na  onomástica  portugueza.  * 

Ahi  vae  uma  amostra  do  panno,  restricta  á  substitui- 
ção de 

Fé  e  Té 

—  Feira  e  Teiraff... 

São  povoações  nossas,  mencionadas  na  Chorographia  Mo^ 
derna,  bem  como  as  seguintes: 

—  Feixe  e  Teixef... 

—  Feixeiras  e  Teixeiras"?... 

—  Feixegueira  e  Teixugueira. 

—  Fejos  e  Tejos!... 

—  Fellões  ou  Foliões — Tellões  e  Toldes?... 

—  Ferrão  e  Terrão. 

—  Ferrenho  e  Terrenho. 

—  Ferronha  e  Terronha. 

—  Ferrugem  e  Terrugem'^/ 

—  Fazoura  e  Tesouras  ? 

—  Festos  e  Testos  ou  Festos/... 

—  Ferra  e  Terra  ?  ! . . . 

Do  exposto  se  vê  que  Fetelaria  e  Tetelaria  são  ou  podem 
ser  formas  do  mesmo  nome,  tirado  dos  fetos. 

As  substituições  de  fa  e  to,  —  fóe  tó,  são  ainda  mais 
numerosas  e  mais  curiosas. 


Veja-se  o  tópico  infra:  —  Substituição  de  letras. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  131 


Chamamos  a  attenção  dos  leitores  para  este  bello  espé- 
cimen da  onamasflca  portufjiieza  comparada. 
Prosigamos. 

—  Fctil  —  é  o  mesmo  que  Fetal  e  Feital,  porque  as  desi- 
nências el,  il  e  aly  trivialmente  se  confundiram  o  substitairam 
como  já  dissemos.  ^ 

Cf.  Lourel,  Louril  e  Loiíral,  Mourel,  Mouril  e  Moural^ 
Cabril  e  Cabral^  etc,  povoações  nossas.  • 

—  Filgueiras  —  não  vem  na  Chorographia  Moderna,  mas* 
com  certeza  é  uma  povoação  da  importante  freguezia  de 
CambreSy  no  aro  de  Lamego,  —  freguezia  que  tomou  o  nome 
Cambres,  do  latim  botânico  de  Plínio,  crambe,  es  —  a  couve. 

Noce-se  que  alli  se  dão  muito  bem  as  couves,  e  tanto  que 
a  mencionada  freguezia  abastece  de  couves  a  praça  da  Regoa, 
villa  próxima. 

Fagueiras  é  o  mesmo  que  Felgueiras,  pela  trivial  substi- 
tuição de  e  e  i. 

Com  relação  a  Filfreira,  Fitares,  Fitos,  Fitouro  e  Foitos 
—  veja-se  o  tópico  Feliteira  supra. 

—  Folga,  Folgada f  Folgado,  Folgados,  Folgão,  Folgar^ 
Folgarosa,  Folgas,  Folgôa,  Folgorosa,  Folgos,  Folgosa,  Folgo- 
sas,  Folgoselhe,  Folgosinho  e  Folgoso  —  vêem  de  folga  por  felga, 
o  mesmo  que  feto,  fento,  feito  e  fieito,  como  já  dissemos. 

—  Folga  é,  pois,  o  mesmo  que  Felga. 

—  Folgada  —  o  mesmo  que  Felgada  e  Feitada  supra. 

—  Folgado  —  o  mesmo  que  Felgado. 

—  Folgados — o  mesmo  que  Felgados,  Felguedos  e  Fel- 
gaes  supra. 

Folgão  —  o  mesmo  que  Felgão,  Felgueirão  ou  Feiteirão, 
macho  da  Feiteirona  supra. 

—  Folgar — é  o  mesmo  que  Felgar  supra. 

—  Folgarosa  —  é  o  mesmo  que  Falgarosa  por  Felgarosa 
e  Felegrosa  supra. 

—  Folgos  por  Folgas  —  é  o  mesmo  que  Felgas,  como 
Folga  é  o  mesmo  que  Felga. 

—  Folgôa  por  Felgôa  —  é  talvez  contracção  de  Felguei- 
rôa  por  Felgueirona,  o  mesmo  que  FViteirona  supra  ?  I . . .  * 


*    Veja-se  a  pag.  25. 

-  Também  Folgôa  por  Felgôa  pôde  vir  de  Folgorola  por  Fclga- 
rola,  diminutivo  àe  felga  ou  Felgueira. 

Cf.  Figueiró  e  Figiieirôa  —  áQ  figueirola,  no  baixo  Mim  ficaria  la, 
diminutivo  áe  ficaria— figueira,  —  e  Arnoia  por  Arnôla,  de  areno/a,  arei- 
inha^  diminutivo  de  arena  —  areia. 


132  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


—  Folgorosa  —  é  o  mesmo  que  Falgarosa,  por  Felgarosa 
—  e  Folgarosa  supra. 

—  Folgosa  —  é  talvez  contracção  de  Folgorosa  t... 

—  Folgosas  —  é  plural  de  Folgosa. 

—  Folgoso  — é  talvez  contracção  de  Folgaroso  —  ou  antes, 
o  mesmo  que  Felgoso  supra^  como  Folgosa  talvez  seja  o  mes- 
mo que  Felgosa? ! ... 

—  íolgosehhe  e   Folgosinlio  são  diminutivos  de  Folgoso. 
FoUgueira,  nome  lindíssimo  d'uma  aldeia  nossa,  também 

na  minha  opinião   tomou   o  nome  dos  fetos,  pois  FoUgueira 
por  Feligueira  é  quasi  o  mesmo  que  Filgueira  e  Felgueira?!... 
A  bússola  é  o  ouvido. 

—  As  etymologias  de  Monte  da  Feiteíra  e  Monte  da  Fei- 
teh'ona,  são  claras. 

Apenas  direi  que  Feitelrona  recorda  Barbatona,  Cacha- 
dona,  Campona,  Atagona,  Carrasona,  Crasona,  Quintandona, 
Silveirona,  Arjona  e  Atafona,  o  mesmo  talvez  que  Atagona, — 
e  Foros  da  Catampona,  povoações  nossas. 

Com  o  mesmo  diapasão  também  temos  Barahona,  Bar- 
jona  e  Pamplona,  appellidos  d'alta  cotação.  ^ 

—  O  povo  também  diz  pernona,  mocetona,  pimpona,  ma- 
7'afona,  balona,  solteirona,  lamhona,  tapona,  felisona,  etc. 

*       * 

Nunca  se  escreveram  nem  escreverão  tão  cedo  tantos 
dislates  (?)  com  relação  aos  fetos,  planta  parasita  sem  valor, 
mas  prolífica,  muito  prolifi.ca  e  muito  interessante  na  ono- 
mástica portugueza,  como  os  leitores  já  viram.  E,  para  atesto 
do  casco,  ainda  mencionarei  as  nossas  povoações  seguintes, 
que  talvez  tomassem  o  nome  dos  fetos  —  ou  de  Félix,  nome 
d'um  santo,  etc. 

São  ellas: — Afains,  Fens,  Fenxe.  Finges,  Finxes  e  Fins, 
appellido. 

Os  leitores  não  se  espantem,  porque  Fins  com  certeza 
vem  de  Félix,  icis  —  Félix  ou  Feliz,  nome  d'um  santo,  etc, 
tirado  do  latim  felix,  icis,  —  nome  que  deu  Sanfins,  muitas 
povoações  nossas,  o  mesmo  que  S.  Felix,  S.  Fins  e  Sinfães, 
metathese  de  Sanfíns,  povoações  nossas  também. 

S,  Felix,  com  certeza  deu  Sanfins  e  /S.  Fins,  porque  o 
PortugaUce  Monunnenta,  l.  Inquisitiones,  fallando  da   fregue- 


Junte-se  Carmona  e  Carona,  appellidos  nossos  também. 


TENTATIVA    ETYMOLOOICO-TOPONVMICA  133 


zia  de  Sanfins  do  Douro,  concelho  á"* Alijó,  a  qual  tem  como 
orago  Santa  Maria,  dá-lhe  o  titulo  :  —  Sanefa  Maria  de  Sancto 
Felice  —  ou  Santa  afaria  de  San  fins. 

—  Nada  mais  terminante! ...  ^ 

Félix,  icis,  com  certeza,  pois,  deu  Fins  —  e  talvez  Afains 
por  Al  e  Fains,  quasi  Fins  e  Fens,  pelo  diapasão  francez,  pois 
em  francez  in  soa  em. 

Também  Félix,  icis,  pela  forma  Felice  podia  dar  Fenxe  — 
e  pela  forma  Felizes,  povoação  nossa  também,  —  com  certeza 
deu  Finges  e  Finzes,  pois  ge  e  ze  confundiram-se  e  substi- 
tuiram-se,  —  bem  como  l  e  n.  — Y.  pag.  12,  supra. 

Por  seu  turno  filix,  icis  --  o  feto  ou  fento  —  quasi  felix, 
icis  —  feliz  —  se  não  deu.  podia  também  dar  Afains  por  Al-\- 
fains,  *  Fens  e  Fenxe  por  felice  ou  felici,  como  dizendo  villa^ 
granja,  quinta  ou  casal  do  feto  ou  dos  fetos. 

Note-se  que  Fenxe  é  uma  aldeia,  e  que  na  edade  média 
podiam  muito  bem  dizer  Felici  villa — ou  villa  de  felici,  em  vez 
de  Felicis  villa. 

Cf.  Aldeia  das  Ho rtinhas,  Aldeia  de  Ervidel  {Ervedal !...); 
Aldeia  de  Lordello  (do  baixo  latim  laurltelliim  —  Louriçal) ; 
Aldeia  de  Ruins  —  ou  do  Rodriguez,  porque  Ruins  vem  de 
Ruiz,  contracção  de  Roderiquix,  patronimico  de  Rodericus  — 
Rodrigo,  que  deu  também  Rorigo,  Roriz  e  Roligo,  o  mesmo 
que  Rorigo,  povoações  nossas?!... 

Cf  também  Casal  do  Alho,  Casal  do  Feijão,  Casal  do 
Marmello,  Casal  do  Pedro,  sem  ser  Ferreira  ou  Ferreiro;  — 
Casal  Doufe  por  Casal  á'  Ufe,  contracção  de  Adaufe,  o  mesmo 
que  Athaulphi,  patronimico  de  Athaulphus,  i,  nome  germâni- 
co pessoal,  que  deu  também  Dolves,  Adolpho,  Adoufe,  Adicfe, 
Villa  Duffe,  etc,  povoações  nossas,  como  já  dissemos. 

Cf.  também  Villa  de  Cannas,  Villa  de  Rei,  Villa  de  Rei 
de  Baixo,  Villa  de  Rei  de  Cima,  Villa  de  Souto,  Villa  do  Bis- 
po, Villa  do  Conde,  Villa  do  Monte,  Villa  do  Touro,  Villa  Fon- 
che,  por  Villa  Alfonsi  —  villa  do  Affonso;  Villa  FrescainJia, 
por  Villa  Fresquinha,  etc,  povoações  nossas. 


1  Com  vista  ao  meu  atávico  successor,  o  snr.  ár.  Joaquim  da  Silvei- 
ra, da  Anadia,  notário  e  advogado  em  Alcanena,  ao  qual  tolamente  dei, 
como  já  disse,  b  meu  arsenal  eiymologico,  —  cerca  de  80  kilos  de  verbetes 
—  e  muitos  livros  raros  e  caros,  entre  clles  um  bello  exemplar  do  Poriu- 
galice  Monumenta. 

V.  as  pag.  37,  40,  53,  68,  78  {videte,  videte) ;  101  e  111,  supra,  —  e 
Joaquim  da  Silveira  no  indice  da  l.^  parte. 
-    Cf.  Faltos  por  Feitos  supra. 


134  TENTATIVA   ETYMOLOGICOTOPONYMICA 


Do  exposto  supra  se  vê  que  Afains  por  Al  \-fains,  Fens, 
Fenxe,  Finges,  Fins  e  Finzes,  podem  vir  de  filix,  icis  —  o  feto  ou 
fento  —  ou  de  Félix,  icis,  nome  d'um  santo,  etc,  tirado  de 
felix,  icis  —  feliz. 

As  meias  tintas  confundem ;  —  eu  já  tenho  a  vista  muito 
cançada — e  a  minha  lente  da  arte  nova,  forjada  por  mim  a 
martello,  está  pedindo  outra  melhor  e  mais  aperfeiçoada. 

Ainda  com  relação  a  Félix  supra,  direi  que  só  por  si  deu 
nada  menos  de  65  santos,  mencionados  em  difíer entes  santo- 
raes  e,  desdobrando-se,  deu  também  Felice,  appeliido,  Felicia, 
Feliciana,  Feliciano,  Felicio,  Felicissima,  Felicissimo  e  Felio, 
o  mesmo  que  Félix,  na  Hespanha,  —  todos  nomes  de  santos, 
exceptuando  Felicio  e  Feliciana. 

*       * 

Também  parecem  affins  ou  parentes  próximos  de  Félix : 

—  Felicidade,  Felisarda,  Felisardo,  Felisbella,  Felisherta,  Fe- 
lisberto, Felishina,  Felisbino,  Felismina  e  Felismiiio,  —  todos 
nomes  pessoaes,  mas  não  de  santos,  exceptuando  Felicidade 
e  Felisberto. 

Por  ultimo,  direi  que  Fretos,  povoação  nossa^  talvez  se- 
ja o  mesmo  que  Fetos,  plural  de  Feto,  povoação  nossa  tam- 
bém, mencionada  supra,  porque  o  r,  como  já  dissemos,  —  é 
letra  muito  falsa  e  muito  caprichosa !  —  Apparece  e  desappa- 
rece  instantaneamente. 

Cf.  Marcella.^  povoação  nossa,  que  pôde  vir  de  Marcellus, 
nome  romano, —  ou  da  9?2«ce/Za,.  planta. 

— Camarinha,  Camarinhos  e  CramarinJios  por  Camarinhos. 

—  TraJhariz  por  Talhariz,  —  este  por  Calhariz  —  e  este 
por  Calhandriz,  sitio  em  que  abundam  calhandras,  aves. 

Calhandra,  Calhandriz  e  Calhariz,  são  povoaçõss  nossas. 

—  Também  temos  Curcomellos  por  cocomellos  —  cogume- 
los, o  mesmo  que  tortidhos,  e  na  Beira  gazalhos, — unde  Ga- 
zalha,  Gazalho,  Zagalho,  Zangalho,  Sangalhos  por  Zangalhos 
e  este  por  Gazalhos^  diíferentes  povoações  nossas. 

Viva  la  gracia  dos  Curcomellos  I 

Também  temos  Enxido  e  Enxidro.  —  Enxudos,  Enxudros 
e  Enxiddro?! ... 

—  Taganhal  e  Traganhal^  —  Cujo  —  de crujo por  Corujo. 

—  Teixedo  e  Treixedo,  —  Espindo  e  E^^pindro,  —  Longa  e  Lon- 
gra,  —  Longas  e  Longras,  —  Lodeira  e  Lordeira,  —  Segude  e 
Sergude,  —  Cepeda,  Cepedo,  Sepeda,  Sepedellos  e  Sepedros  por 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  135 


Sepedellos  ou  Cepedos^f...  —  Sohal  e  Sobral!... — Fancaria  e 
Francaria.  —  Falorca  por  Paloca,  e  este  por  halloca  ou  val- 
loca,  ut  supra. 

Baloca,  JJalocas,  Balôco  e  Balócos,  são  povoações  nossat 

Do  exposto  9©  vê  que  os  fetos  podiam  dar  Fretofi. 

Também  Fileto  ou  Filecto,  nome  d'um  santo,  em  latim 
Filetus  ou  Filectiís^  —  sem  grande  violência  podia  dar  Freios. 

Junte-se  ainda  Freitosas^  povoação  de  Villa  Nova  de  Gat/a, 
junto  do  Candal. 

Assim  como  Fetos  deu  ou  podia  dar  Frétos,  também  Fei- 
tosas  deu  ou  podia  dar  Freitosas. 

Feitoso  e  Feítosa  são  povoações  nossas  mencionadas  na 
Chorogmphia  Moderna,  —  bem  como  Feiposa  ou  Feitosa  —  e 
Feiiosa  ou  Feiposa?!... 

Eis  aqui  outro  bello  espécimen  da  onomástica  portagueza 
comparada, 

Feitosa  deu  ou  podia  dar  Feiposa,  porque  na  onomástica 
portugueza,  t  q  p  confundiram -se  e  substituiram-se. 

Veja-se  o  tópico  infra  :  —  Substituição  de  letras.  —  Ahi 
vae  entretanto  uma  amostra  do  vanno. 


T  e  P  confundiram-se  e  substituiram-se 
na  onomástica  portugueza 

Cf.  Padim  e  Tadim.  —  São  nomes  de  povoações  nossas, 
mencionados  na  Chorographia  Moderna,  bem  como  toáos  os 
nomes  seguintes : 

—  Paião  e  Tayão;  —  Paim  e  Thaim;  —  Painho  e  Tainho; 

—  Palada  e  Taladas,  plural  de  Talada-,  — Palleira  e  Talleira; 

—  Falha  e  Talha; — Palhinha  e  Talhinha;  —  Palia  e  Talla:  — 
Falias  e  Tallas;  —  Panque  e  Tanque;  —  Papada  e  Tapada;  — 
Paralheira  por  taralheira? 

Cf.  Taralhão,  Taralhàos  e  Taralhões,  povoações  nossas 
que  tomaram  o  nome  dos  taralhões  ou  tralhões,  3íYGS  bem  conhe- 
cidas e  que  se  encontram  na  phrase  popular: — gordo  como 
um  tralhão!... 

Somma  e  segue. 

—  Paranhão  —  por  paralhão  e  este  por  Taralhão? 

—  Pacinhas  e   Tacinhas,  plural  de  Tacinha. 

— Pavilhão  e  Tavilhão — Fecho  e  Peixe — Teixo  e  Teixe, 

—  Peixinhos  e  Teixinhos;  —  Peixeira  e  Teixeira;  —  Peja  e 


136  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Teja?!... — Pelho  e   Telho?/... — Penha,  o  povo  diz  Panha, 

—  e  Tanha.  —  Pêra  e  Tera'^ ! ...  —  Perra  (duas  aldeias)  — e 
Terra]  —  Perraço  e  terraço:  —  Perigadas  —  Terrada  e  Terrados^ 
quasi    Ter  radas. 

—  Perrães  por  Pérrões  (í)  —  e  Terrõe^. 

Note-se  que  as  desinências  ães,  ãos  e  ões  confundiram-se 
e  ainda  hoje  se  confundem. 
Somma  e  segue. 

—  Pigeiro  e  Tigeiro  por  Tojeiro  ?  —  Pljâo  e  Tijão  por 
Tojão  —  e  este  por  fojalõo ?  !...  —  Pinheiro  e  TinheÍ7*o ? f . . .  — - 
Pinhel  e  Tanhel  por  Tinhel '^  —  Pinhella  e  Tinhellaí ! . . , — 
Pinta  e  Tinta;  —  Pintim  e  Tintim,  aldeias,  etc.  —  Pinto  e  Tin- 
to; — Pires  e  Tires  ?  / . . .  —  Piroleira  e  Tiroeira  por  Tiroleira  ? 

—  Pogeira  e  Togeira, 

Notem  os  leitores  a  substituição  de  po  e  to  —  mesmo-  ini- 
ciaes,  o  que  torna  menos  violenta  a  substituição  do  po  e  to 
mediaes  de  Feiposa  e  Feitosa. 

Junte-se : 

—  Poído  e  Pitqido —  Tugido  e  Tuido — de  Tugido  por  to- 
jedo,   o  mesmo   que   Tojal,  que  deu  também  Tosar,  Tugal  e 

Tuzarff. .. 

Também  Tojo  deu  Tôcho,  Togo  e  Tuxoh^ . » . 

E'  assim  a  arte  nova  —  e  rira  bien  qiii  rira  le  dernier ! ... 

Somma  e  segue. 

—  Poja,  Toja  e  Tocha  por  Tojal... — Poledo  e  Toledo, 
povoações  nossas  ;  —  Polo  e  Tolo,  —  talvez  de  Polo,  o  mesmo 
que  PaulOf  na  Hespanha ;  —  Ponta  e  Tonta  —  duas  aldeias  e 
uma  quinta. 

—  Pontão  e  Tontão;  — Pontello  e  Tontello  ;  —  Pontinha  e 
Tontinha;  —  Pormlhão  —  e  turbilhão  ?  —  Pragal  e  Tragai;  — • 
Predo  e  Tredo;  —  Prega  —  e  Trega  ou  Preqa,  (sic).  —  Pregaes 
e  Trigaes  f  —  Pregai  e  Trigal  ?  —  Pregueira  e  Trigueira  —  (3 
aldeias)  —por  trígoeira,  o  mesmo  que  Trigosa,  que  abunda 
em  trigo. 

—  Prilhão  e  Trinhão  por  Trilhão,  o  mesmo  que  Tralhão 
ipor  Taralhão  supra?!... 

—  Prova  e  Trofa  por  Trova,  —  de  prova  —  bacellada,  vi- 
nha nova. 

—  Provella  e  Trovella,  que  se  encontra  em  Ponte  de  Tro- 
vella. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPOXYMICA  137 


Junte-se  Pinouca  por  Pinoca  —  e  Tinoca. 

—  Ponce,  appellido,  —  o  Tonce;  —  Porqtteiroíf  e  Torquei- 
ros?!..,  —  Praven  e  Trave,  singular  de  'Traces, 

—  Praxeiro  e  Trazeiros^  plural  de  Trazeiro  por  Prazeh'o? 

—  Apriijio  ou  AprlziOf  nome  d'um  santo,  —  e  Trizio,  ai 
deia  nossa,  talvez  o  mesmo  que  Prízio,  aferese  de  Aprizio! ... 

Do  exposto  se  vê  que  Felfo-sa  deu  ou  podia  dar  Feipo.s-a. 

Basta  de  fentos,  fétãos,  faitos,  fetox^  feitos^  felgas,  falgas, 
folgas  e  fieifos. 

Sat  prata  biberunt. 

Prosigamos. 

Antes  de  volvermos  á  sonora  desinência  ia^  que  tem  lar- 
gas ensanchas,  ahi  vae  outro  jorreiro  de  dislates  meus  a  pro- 
pósito dos  fetos. 

Formas  onieriores  da  nossa  desinência  ães, 
na  onomástica  portugueza 

Já  dissemos  que  Afains  por  Alfains  ou  Al  e  Fains  —  é  o 
mesmo  que  /'e/i.ç,  povoações  nossas,  cujos  nomes  talvez  fossem 
tirados  de  filix,  icis,  o  feto.,  planta,  que  podia  dar  Fains  e 
íens,  como  Félix.,  icis,  nome  d\im  santo,  etc,  deu  Felizes^ 
Finges,  Finxes,  Fins,  Sanfins  e  Sinfães. 

Fains  pelo  diapasão  francez  em  que  ain  vale  ên,  *  deu 
ou  podia  dar  Fens  na  edade  média.  —  Por  seu  turno  Fens  deu 
ou  podia  der  Féns  e  Fães,  que  no  diapasão  portuguez  soa 
Féns  ou  Félns,  quasi  Fã  is. 

Cf.  Alcains,  povoação  nossa,  o  mesmo  que  Al  -\-  Cains, 
por  Kens  ou  Kéns  ou  Keins,  quasi  Cães!, .  . 

Cães,  Cães,  Cães  de  Baixo  e  Cães  de  Cima,  são  povoa- 
ções nossas. 

Afains  por  Alfains  e  Fens  talvez  queiram  dizer  os  fetos 
ou  fieitos,  como  Alcains  e  Cães — os  cães! 

O  diapasão  á^ Alfains  e  Fens  é  o  mesmo  de  Alcains  e 
Cães.  " 

Isto  me  leva  a  suppôr  que  a  nossa  particular  desinência 
ães  teve   as  formas  anteriores  ains  e  ens?!,.,  — E  a  mesma 


1     Veja-se  o  tópico  iníva.— Diapasão  francez. 

'    Junte-se  Mains,  casal  nosso. 

Pela  substituição  de  ma  e  ca  —  Mains  talvez  seja  uma  forma  de  Cains, 
o  mesmo  que  Alcains  e  Cães  supra;  mas  pela  substituição  de  ains  por 
ães  e  ões  —Mains  talvez  seja  o  mesmo  que  Mães  e  Mões,  infra. 

— Some-te,  coisa  má!. . . 


138  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


desinência  ães  teve  posteriormente  e  conjunctameute  as  for- 
mas aes,  ãos  e  ões  na  onomástica  portugueza,  como  os  leitores 
vão  ver. 

Desinências  aes,  aes,  ens,  aos  e  ões 

Cf.  Almargem,  Abnarjão,  Almarjães,  Almargens  e  AlmaV' 
jões,  povoações  nossas  que  tomaram  o  nome  do  portuguez  al- 
margem, prado  natural,  —  e  este  do  árabe  aVmardje,  tirado  do 
persa,  como  diz  o  sr.  Cândido  de  Figueiredo  —  ou  do  verbo 
árabe  marajá  —  dar  pasto  ou  cortar  herva  para  o  gado,  como 
diz  Fr.  João  de  Souza. 

Também  Souza  diz  que  Almarjam  ou  Almarjão  significa 
lugar  das  pedradas  ou  cumulo  de  pedras.  —  Do  verbo  árabe 
7'ajama,  apedrejar  alguém?!., . 

Risum  teneafis. 

Almarjão  é  augmentativo  de  Almarjem,  e  com  certeza 
tem  a  mesma  etymologia,  como  Almarjães  e  Almarjões. 

Prosigamos. 

—  Centiaes,  Centiães,  —  Santíaes  por  Centíaes,  —  Sandíães 
e  Sendiães  por  Centiães^  —  povoações  nossas  que  tomaram  o 
nome  do  centeio,  como  Centieíra,  Sentieira  e  Sendieira  por 
Centíeira  ?  / .  . . 

—  Cejoães,  Sepães  e  Cepões — povoações  nossas  também, 
que  tomaram  o  nome  das  cepas  ou  dos  cepos,  troncos  d'arvores.  ^ 

—  Chã,  Chans,  Chão,  Chães,  Chãos  e  Chões  ?  / 

—  Faldijaes  por  Faldijães  ?  —  e  Faldígens  por  Valdtgens^ 
plural  de   Valdigem. 

Faldijaes,  Faldigens  e  Valdigem,  são  povoações  nossas. 

—  Fanhaes  por  Fanhãesf—e  Fanhões. 

—  Farelães,  Fralães  e  Farlens? !. .  . 

—  Fundão,  Fundaes,  Ftcndoães  por  Fundães?  —  e  Fun- 
dõesíl... 

—  Condam  por  Condão,  —  Contào,  Contães  e  Conténs!... 

—  Mourão,  Mourãos,  Mourens  e  Mourões!.  . . 

—  Mucão,  Mucies,  Mucães  e  Mucens  ou  Mucães  (sic)  — 
povoações  nossas. 

—  Crjaes^  Urjaes  e  Orgens  por  Crjães  ? 


1  Todas  as  povoações  mencionadas  e  as  que  vou  mencionar,  encon- 
tram-se  na  Cliorograplíia  Moderna,  obra  indispensável  para  este  ramo 
d'estudo,  como  já  dissemos. 

E'  assim  a  arte  nova  e  rira  bien  qui  rira  le  dernier  ?  !. . . 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPOXYMICA  139 


—  Perdigão,  Perdigões,  Perdagães  por  Perdigães,  —  e  este 
por  Perdigões^! . . . 

—  Pinthn,  Pintem,  Pinfens,  Pinfães,  Pinfins  e  Pifões-  —  po- 
voações nossas  que  tomaram  o  nome  dos  inntainhos^  chama- 
dos também  pintos  e  pitos. 

—  Pintainha,  Pintainhos,  Pinta,  Pinto,  Pitas  e  Pintos,  — 
são, também  povoações  nossas. 

—  Junte-se  ainda — Tourão,  Touraes,  Tourãese  Touivesff,.. 

* 

Eis  aqui  outro  bello  espécimen  da  onomástica  portugiieza 
comparada. 

A  desinência  ão  dos  substantivos  e  adjectivos  portugue- 
zes,  —  no  plural  deu  ãos^  ães  e  Ões, 

O  povo  sympathisa  mais  com  a  desinência  ões.  Assim, 
em  vez  de  mãos,  pagãos,  cidadãos,  pães,  escrivães,  tabelliães, 
etc,  —  diz  mões,  pagões,  cidadões,  pões,  escricões,  tahelliões,  etc. 

Nós  temos  cinco  povoações  e  uma  freguezia  denominadas 
Mões^  que  por  certo  não  tomaram  o  nome  do  portuguez  popular 
mões,  por  mãos  supra,  mas  talvez  de  Monils,  patronímico  de 
Monius,  ii  —  Monio,  o  mesmo  que  Munius,  ii  —  Munio^  anti- 
gos nomes  pessoaes  tirados  de  nonus  —  nono,  adjectivo  nume- 
ral romano  que  tomou  formas  variadissimas!... 

O  tal  adjectivo  nonus  deu  Nona,  Nonia,  Nonna  e  Nonno, 
nomes  de  santos; — Nónio,  nome  pessoal  e  appellido;  Noia, 
também  appellido,  talvez  contracção  de  Nonia  ;  Nuno,  nome 
vulgar,  em  latim  Nunus,  i,  unde  Nunes  por  Nunís,  patroní- 
mico de  Nuno. 

Também  Nonius  e  Ntcnus,  pela  substituição  de  n  e  m  de- 
ram Monius,  Munius,  Mumus  e  Mumius? /   .  . 

Por  seu  turno  Monius  deu  Monia  (villa),  que  se  encontra 
em  Monha,  aldeia  nossa, —  e  Moninus,  i,  is,  unde  Monin,  que 
se  encontra  em  Ponte  do  Monim,  casal  nosso, —  Moninhas,  Mo- 
ninho  e  Moninhos,  povoações  nossas  também, —  e  Moniz,  po- 
voação e  appellido  d'alta  cotação  pelo  grande  prestigio  do  len- 
dário Egas  Moniz.  ^ 

Mumus  ou  Mummus  deu  Mumma,  antigo  nome  de  mu- 
lher, unde  Mummadona  por  Mumma  Dona,  o  mesmo  que  Do- 
na Mumma  e  Dona  Mummadona, —  a  lendária  fundadora  de 


1    Moniz  vem  de  Moniniz,  patronimico  de  Moninus,  i  —  Moninho, 
o  mesmo  que  Monino,  antigo  nome  pessoal. 


140  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Guimarães,  ou  do  grande  mosteiro  que  produziu  a  cidade  de 
Guimarães.  ^ 

Também  Mumius,  ií,  deu  Mumianus,  i,  is,  unde  Miomães^ 
metathese  de  Munianls,  povoação  nossa,  —  e  Muminius,  ii,  iis, 
unde  Moumlz,  povoação  nossa  também. 

Junte-se  Nonínha,  povoação  nossa  que  vem  de  Nonina, 
villa,  e  esta  de  Nonirnis,  i,  diminutivo  de  Noniiis,  ii^  que  deu 
também  Nonilius  ii,  unde  Xunelhe,  povoação  nossa  também, 
como  já  dissemos. 

Yeja-se  no  l.*'  vol.  a  pag.  384 — e  o  tópico  infra: 
Nomes  pessoaes  e  nomes  de  santos  tirados  dos  adjectivos  niinie- 
raes  romanos. 

Com  relação  á  forma  popular  cidadões  por  cidadãos,  cf. 
Cidadão,  Cidadãos, —  Cidão  por  Cidadão,—  Seidões  e  Cidões^ÇiOY 
Cidadões,  povoações  nossas,  pois  na  onomástica  portugueza  i 
deu  ei. 

Mas  talvez  que  Cidões  e  Seidões  venham  de  Sidoniis.,  pa- 
tronimico  de  Sidoniits,  ii — Sidónio,  nome  d'um  santo,  etc, 
tirado  de  Sidónia,  antiga  capital  da  Fenícia. 

Note-se  que  os  Fenícios  foram  dos  mais  antigos  explora- 
dores e  colonisadores  da  Ilespanha  e  da  Luzítania.  - 

O  padre  António  Pereira  de  Figueiredo  —  sábio  de  primei- 
ra plana — em  uma  das  suas  Dissertações  publicadas  nas  Me- 
morias da  Academia  Real  das  Sciencias,  diz  que  os  Fenícios 
ílanearam  pela  Hespanha  1400  annos  —  ou  mais  —  antes  do 
nascimento  de  Christo?! . .  .  —  E  em  outra  Dissertação  diz  que 
os  gregos  ílanearam  pela  Hespanha  antes  da  guerra  de  Tróia? !... 

A  forma  ■popula.r  pagões  ^or  pigãos  supra,  recorda  Pagons, 
casal  nosso.  —  Por  seu  turno  Pagons  é  deturpação  ou  antiga 
forma  callaica  do  Hespanhol  paganos  —  pagãos, —  forma  tira- 
da do  latim  clássico  paganus  —  aldeão,  —  ou  do  latim  eccle- 
ú'à.bÚGO  pag  anus — idolatra,  gentio,  pagão. 

Ainda  a  propósito  da  desinência  ães,  ahi  vae  outro  clior- 
reiro  o\x  jorreiro  de  dislates  meus. 

Desinências  âes  e  ans  —  [Hagalfiâes  e  (Dagalhans 
—  [Tlalaga  e  os  Fenicios 

Como  já  dissemos,  a  nossa  desinência  ães  teve  as  formas 
aes,  ens,  ãos  e  ões  —  e  também  ans  talvez ! . . . 


1     V.  Guimarães  no  Portugal  antigo  e  moderno. 

■    V.  pag.  57  a  65  do  I  vol.  — e  o  tópico  Magalhães,  infra. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  141 


Cf.  Magalhães  e  Magallians  —  o  mesmo  que  Magalhãení 

—  povoações  nossas. 

Também  temos  Magães,  que  pode  ser  contracção  de  Ma- 
galhães^—  e  varias  povoações  com  os  nomes  de  MagalhCi  e 
Magalhôa. 

A  Hespanha  tem  Magallanes,  que  se  lê  Maqalhan^s,  quasi 
Magalhães ;  —  Magallon,  que  se  lê  Magalhon,  quasi  Magalhão; 

—  Magan,  talvez  contracção  de  Magallan  ;  —  Maganes^  talvez 
contracção  de  Magallanes^ — e  Magana,  que  se  lê  Maganha, 
talvez  contracção  de  Magallana  —  Magalhana  ? 

Nós  também  temos  Maganhe,  Maganha  e  Magalão.  tal- 
vez forma  de  Magalon  supra,  povoação  da  Hespanha.  —  £  a 
Formosa  Magallona,  romance  de  cordel^  escrevendo- se  Magal- 
lona,  pelo  diapasão  hespanhol  dava  em  portuguez  Magalhana, 
quasi  Magalhôa  supra,  povoação  nossa. 

Magalhães-  é  também  appellido  portuguez  nobre  e  antigo 

—  e  hoje  muito  vulgar  pelo  grande  prestigio  de  Fernão  de 
Magalhães,  natural  de  Sabrosa  em  Traz-os-montes,  ^  que  no 
século  XVI,  andando  ao  serviço  da  Hespanha,  descobriu  a  pas- 
sagem do  Atlântico  para  o  Pacifico  pelo  estreito  da  America 
do  Sul, —  estreito  que  tomou  d'elle  e  conserva  ainda  hoje  o 
nome  de  Estreito  de  Magalhães,  por  onde  seguiu  da  Hespanha 
para  as  PhiUppinas,  sendo  alli  barbaramente  trucidado  pelos 
indígenas. 

Vasco  da  Gama,  partindo  de  Lisboa,  dobrou  o  Cabo  de 
Boa  Esperança  nos  fins  do  século  xv  e  foi  até  á  índia,  con- 
tornando a  Africa;  por  seu  turno,  Fernando  ou  Fernão  de  Ma- 
galhães foi  da  Hespanha  até  á  índia  também,  alguns  annos 
depois,  pelo  sul  da  America. 

No  citado  artigo  Sabrosa,  Pinho  Leal  com  bom  funda- 
mento sustenta  que  Fernão  de  Magalhães  era  natural  d'aquella 
villa  —  e  não  do  Porto,  como  dissera  no  artigo  Porto,  vol. 
7.<»,  pag,  296. —  Reconsiderou,  por  serem  de  muito  peso  as  no- 
ticias, até  áquella  data  inéditas^  que  lhe  forneceu  certo  ami- 
go d'elle  e  meu,  cujo  nome  não  publicou,  como  desejava  e  de- 
clarou no  mencionado  artigo,  porque  o  tal  informador  o  não 
consentiu. 

Eu  tive  a  honra  de  privar  com  ambos,  pelo  que  posso 
afoitamente  dizer  que  o  tal  cavalheiro,  informador  de  Pinho 
Leal, —  foi  o  sr.  José  Augusto  Pinto  da  Cunha  Saavedra,  na- 


^    Vide  Sabrosa,  no  Portugal  antigo  e  moderno,  vol.  8.0,  pag.  275, 
col.  2.a  e  seg. 


142  TENTATIVA    ETYMOLOQICO-TOPONYMICA 


tiiral  de  Provezende,  villa  do  concelho  de  Sabrosa, —  cavalheiro 
respeitabilissimo,  tão  modesto  como  illustrado  e  muito  ver- 
sado nas  genealogias  transmontanas,  etc. 

Falleceu  quasi  de  repente  na  sua  nobre  casa  de  Prove- 
xende,  no  dia  26  de  Abril  de  1885  —  e  poucos  sentiriam  tan- 
to como  eu  a  inesperada  morte  de  s.  ex.*, — já  por  ser  um 
dos  meus  melhores  amigos,  já  por  me  haver  promettido  mui- 
tos apontamentos  para  o  artigo  Villa  Real  de  Traz-os-Mon- 
tes, —  villa  que  s.  ex/  muito  bem  conhecia  por  ser  a  capital 
do  seu  districto  e  por  ter  alli  muitas  relações  e  parentes. 

Com  a  morte  de  s.  ex.*,  perdi  o  melhor  cyreneu  para 
aquelle  artigo  de  tanta  responsabilidade  e  que  tanto  trabalho 
me  deu  / . . . 

Elle  ficou  bastante  extenso,  pois  comprehende  111  pagi- 
nas—  e  é  muito  variado,  mas  gastei  com  elle  uns  três  mezest 

—  Talvez  tenha  algum  merecimento,  mas  teria  com  certeza 
mais  valor  e  ficaria  mais  correcto  e  mais  completo,  se  me  não 
faltasse,  como  faltou,  o  auxilio  de  tão  illustrado  e  dedicado 
amigo.  Quando  s.  ex.*  falleceu,  apenas  deixou  esboçadas  algu- 
mas linhas  informes  que  não  pude  aproveitar. 

Veja-se  no  Portugal  antigo  e  moderno  o  meu  longo  arti- 
go,—  Villa  Real  de  Trax-os-Montes^  vol.  xi,  paginas  926  a  1:041, 

—  e  para  a  genealogia  de  s.  ex.»,  o  artigo  Provezende,  vol.  vii, 
pag.  680  a  714, —  artigo  em  que  Pinho  Leal,  meu  benemérito 
antecessor,  aproveitou  muitos  apontamentos  que  o  mesmo  se- 
nhor lhe  forneceu. 

Fernão  de  (Tlagalhâes 

Antes  de  esboçar  a  nebulosa  etymologia  do  nosso  appel- 
lido  Magalhães,  não  posso  resistir  á  tentação  de  dizer  algo  de 
Fernão  de  Magalhães,  afamado  navegante  portuguez,  cuja  bio- 
graphia  é  muito  vaga  e  muito  nebulosa,  posto  que  d'ella  se- 
têem  occupado  distinctos  escriptores  nacionaes  e  estrangeiros. 

Pinho  Leal,  fallando  de  Fernão  de  Magalhães  nas  ephe- 
merides  relativas  ao  Porto  e  ao  anno  1521,  data  do  falleci- 
mento  de  grande  navegador,  pois  ignora-se  a  data  em  que 
nasceu,  diz  textualmente  o  seguinte:  ^ 

«Segundo  alguns  escriptores  —  e  entre  elles  o  esclareci- 
do auctor  dos  Portuguezes  illustres,  o  sr.  M,  Pinheiro  Chagas  — 
nasceu  na  cidade  do  Porto  o  famoso  Fernando  de  Magalhães, 


Portugal  antigo  e  moderno,  legar  citado. 


TENTATIVA    ETVMOLOGICO-TOPONYMICA  143 


Foi  creado  da  rainha  D.  Leonor,  mulher  de  D.  Joáo  ii, 
e  depois,  do  rei  D.  Manuel,  irmão  da  mesma  sennora. 

Em  1Õ04  foi  para  a  índia  com  o  seu  primeiro  vice-rei, 
D.  Francisco  d' Almeida  (V.  Lisboa,  vol.  iy,  pag.  321,  col.  1.*) 
e  alli  deu  provas  de  grande  valor,  assim  como  na  Africa,  on- 
de também  se  distinguiu  em  muitos  combates  contra  os  mou- 
ros e  turcos. 

Requereu  ao  rei  D.  Manuel  um  pequeno  augmento  na 
sua  moradia,  e  como  lhe  fosse  recusado,  deixou  Portugal  e  se 
pôz  ao  serviço  de  Ccisfella.» 

a  Quando  para  alli  foi,  já  ia  persuadido  de  que  o  plano 
de  Chrisfovam  Colombo,  de  buscar  pelo  lado  occidental  um 
caminho  para  o  Oriente^  se  podia  realisar,  navegando  mais  ao 
sul;  conseguindo-se  assim  a  posse  das  Molucas, 

Ofifereceu-se  Magalhães  a  Carlos  v,  para  levar  a  effeito 
esta  empreza ;  —  o  imperador  acceitou  este  offerecimento,  e 
lhe  deu  uma  esquadrilha,  com  a  qual  o  nosso  portuguez  foi 
em  10  d'Agosto  de  1519,  ousadamente,  em  demanda  de  ma- 
res desconhecidos. 

Rodeando  os  mares  da  America  meridional,  entre  a  Pa- 
tagonia  e  a  Terra  do  Fogo,  ^  descobriu  o  canal  que  communica 
o  Atlântico  com  o  Mar  Pacifico,  ou  Grande  Oceano  Austral,  e 
por  isso  ao  mesmo  canal  se  deu  o  nome,  que  ainda  conserva, 
e  que  todos  os  geographos  lhe  dão,  de  Estreito  de  Magalhães. 

«D'alli  vogou  para  as  Molucas ;  mas  foi  morto  em  um 
combate  contra  os  habitantes  das  ilhas  Fhilippinas,  no  dia 
27  d'Abril,  d'este  anno  (o  tal  das  ephemerides  supra — 1521.) 

Foi  Sebastião  dei  Cano  que  aportou  ás  Molucas,  regres- 
sando á  Hespanha  pelo  Oriente  ^  (Oceania)  concluindo  assim 
uma  viagem  de  circumnavegação  em  volta  do  mundo.» 

—  Foi  isto  o  que  Pinho  Leal  disse  de  Fernão  de  Maga- 
lhães no  artigo  Porto  ;  vejamos  agora  o  que  disse  o  meu  be- 
nemérito antecessor  no  artigo  Sabrosa,  villa  transmontana, 
vol.  VIII,  pag.  275. 

Desculpem  a  transcripção,  porque  ó  muito  interessante 
para  a  nebulosa  biographia  do  celebre  navegante  portuguez. 


I  A  Terra  do  Fogo  (nota  de  Pinho  Leal)  é  uma  ilha,  e  a  extremidade 
meridional  da  America,  cuja  ponta  forma  o  Cabo  de  Horn,  no  Oceano 
Atlântico  Austral. 

-  Aqui  houve  lapso  de  revisão.  —  Em  vez  de  Oriente  —  leia-se  Oc- 
cidenie. 

Este  tópico  é  interessantíssimo,  como  os  leitores  logo  verão. 


144  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Sob  O  titulo  Fernando  de  Magalhães  diz  textualmente 
Pinho  Leal ; 

—  «No  7.°  vol.  (artigo  Porto) ^  pag.  296,  disse  eu  que  — 
segundo  alguns  escriptores—.tmhdi  nascido  na  cidade  do  Porto 
este  navegador  famoso,  e  n'aquelle  logar  dei  uma  rápida  bio- 
graphia  d'este  esclarecido  portuguez. 

«A  um  meu  respeitável  amigo  e  incansável  investigador, 
ao  qual  muito  deve  esta  obra,  devo  amplas  noticias  sobre  a 
naturalidade  Magalhães,  e  as  vou  aqui  dar  em  resumo,  como 
o  pede  um  diccionario. — A  modéstia  doeste  cavalheiro  pri- 
va-me  do  prazer  de  publicar  o  seu  nome,  o  que  muito  me 
custa.  1 

«Se  não  ha  certeza,  ha  toda  a  probabibilidade  para 
crermos  que  Fernando  de  Magalhães  nasceu  na  sua  casa  solar 
da  Pereira^  da  villa  de  Sabrosa,  ainda  que  uns  o  fazem  na- 
tural do  PortOf  —  outros  de  Figueiró  dos  Vinhos  e  ainda 
outros  de  diversas  localidades. 

A  causa  d'esta  confusão,  é  porque  no  principio  do  sé- 
culo XVI  houve  vários  individues  com  este  mesmo  nome, 
sendo  alguns  da  mesma  famiba  de  Fernando  de  Magalhães, 
como  se  pôde  vêr  em  differentes  nobiliários. 

Investigações  feitas  modernamente  em  face  de  documen- 
tos authenticos,  põem  fora  de  toda  a  duvida  que,  se  elle  não 
foi  de  Sabrosa,  pelo  menos  alli  tinha  com  toda  a  certeza  a  sua 
casa  e  a  sua  familia,  que  foi  herdeira  e  representante  do  seu 
nome  —  e  administradora  do  vinculo  por  elle  instituído  na 
Cusa  da  Pereira,  d'esta  villa. 

«O  grande  nobiliário  do  Casal  do  Paço,  manuscripto  da 
Bibliotheca  jmblica  do  Porto  (volume  vii  pag.  189)  diz  que 
Lopo  Rodrigues  foi  para  a  villa  de  Figueiró  dos  Vinhos  ser 
tutor  dos  filhos  do  senhor  de  Figueiró  e  de  Pedrogam  Grande, 
os  quaes  eram  sobrinhos  de  D.  Izabel  de  Souza,  mulher  de 
seu  tio  João  de  Magalhães,  senhor  da  Barca.  ^     . 


1  Já  dissemos  que  o  benemérito  informador  de  Pinho  Leal  foi  o 
meu  saudoso  amigo  sr.  José  Augusto  Pinto  da  Cunha  Saavedra,  distin- 
cto  fidalgo  e  rico  proprietário  de  Provezende. 

—  Suum  cuique. 

2  D.  Izabel  de  Souza  era  filha  de  Ruy  Vaz  Ribeiro  de  Vasconcel- 
los,  senhor  de  Figueiró  dos  Vinhos  e  de  Pedrogam  Grande. 

Vide  Ponte  da  Barca  e  Paço  Vedro  de  Magalhães  (no  Portugal 
antigo  e  moderno). 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  146 


aLopo  Rodrigues  teve  da  sua  mulher  oito  filhos  (4  de 
cada  sexo),  tendo  o  mais  velho  por  nome  Fernando  de  Ma- 
galhães^ como  o  seu  avô  materno.  Note-se,  porém,  que  ne- 
nhuma das  irmãs  d'este  Fernando  de  Magalhães  se  chamava 
Thereza. 

<í  Gajo,  no  seu  extenso  nobiliário,  existente  no  archivo 
da  Mise7dcordia  de  Barcdlos  (tomo  xxiii,  letra  M,  §  27)  con- 
forraa-se  com  o  manuscripto  do  Casal  do  Paço^  mas  aponta 
mais  três  indivíduos  da  familia  Magalhães,  todos  chamados 
Fernando  de  Magalhães,  cada  um  dos  quaes  tem  passado  por 
descobridor  do  Estreito  de  Magalhães. 

O  arcebispo  de  Braga  (primeiramente  bispo  do  Porto) 
Dom  Rodrigo  da  Cunha,  auctor  do  Catalogo  dos  Bispos  do 
Porto,  e  que  attentamente  estudou  a  questão,  fundando-se  em 
que  do  inventario  de  Fernando  de  Magalhães  constava  que 
elle  viveu  na  ilha  da  Madeira,  é  de  parecer  que  Fernando  de 
Magalhães  era  filho  de  Lopo  Rodrigues,  o  tal  tutor  de  Figuei- 
ró dos  Vinhos.  ^ 

«Ainda  o  mesmo  Gajo  nota  que  um  dos  três  menciona- 
dos Fernandos  de  Magalhães — era  senhor  do  vinculo  de  Men- 
Iheias,  o  qual  perdeu,  por  passar  ao  serviço  de  Castella. 

O  sábio  MuTioz  diz  que  elle  fizera  um  outro  testamento 
em  24  de  Agosto  de  1519,  e  que  nelle  se  declarava — Vicino 
de  Oporto,  —  d'onde  se  collige  que  elle  devia  ser  natural 
d'esta  cidade,  —  e  accrescenta  que  n'este  testamento  instituiu 
por  herdeiro  seu  irmão  Diogo  de  Sousa  (ou  de  Magalhães,  se- 
gundo Gajo)  —  no  caso  que  fallecesse  o  filho  que  havia  tido 
de  sua  mulher  —  D.  Beatriz  Barbosa,  realisando-se  esta  ultima 
hypothese.  ^ 

«Finalmente,  de  antigos  documentos  consta  haver  nada 
menos  de  seis  Fernandos  de  Magalhães,  em  dififerentes  terras 
de  Portugal,  —  sendo  alguns  d'elles  militares  e  fazendo  parte 
das  nossas  expedições  á  Africa  e  á  índia;  mas  é  certo  que 
de  nenhum  d'elles  ha  noticias  tão  authenticas  e  positivas, 
como  do  da  Casa  da  Pereira^  de  Sabrosa. 


1  Eu  modifiquei  algo  este  tópico,  pois  é  bastante  confuso  no  origi- 
nal que  vou  copiando.  —  P.  Ferreira. 

-  Henri  Vast  na  sua  interessante  obra  —Le  Tour  du  Monde  -  que 
havemos  de  citar  muitas  vezes,  —  a  pag.  120,  fallando  de  Fernão  de  Ma- 
galhães, diz:  —  «casou  na  Hespanha  com  D.  Beatriz,  filha  d'um  grande 
personagem,  commendador  da  ordem  de  S.  Thiago,  que  desde  1501  tinha 
feito  numerosas  viagens  nos  mares  da  índia». 

—  Nada  mais  diz  do  casamento  de  Fernando  de  Magalhães.    • 


10 


146  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


«O  sr.  dr.  Alexandre  Manoel  Alvares  Pereira  d'' Aragão,  fi- 
dalgo da  casa  real  e  cavalleiro  da  ordem  de  Nossa  Senhora 
da  Conceição  de  Villa  Viçosa^  natural  da  freguezia  de  Parada 
do  Pinhão^  concelho  de  Sabrosa,  hoje  residente  em  Villa 
Flor  (onde  casou  com  uma  sobrinha  do  general  António  Pin- 
to de  Seixas  Pereira  de  Lemos,  feito  visconde  de  Lemos  em  29 
de  Março  de  1854)  —  é  actualmente  ^  o  único  representante 
legitimo  da  casa  e  familia  de  Fernando  de  Magalhães. 

Possue  o  dito  sr.  dr.  Alexandre  Manoel  dois  documentos 
que  derramam  a  luz  mais  clara  sobre  esta  questão. 

0  1.^  d'elles  é  o  testamento  do  próprio  Fernando  de  Ma- 
galhães, feito  em  Belém,  nas  notas  do  tabellião  Domingos 
Martins,  a  17  de  Dezembro  de  1504,  —  três  mezes  antes  da 
sua  partida  para  a  índia  com  o  1.°  vice~rei  d'ella —  D.  Fran- 
cisco d' Almeida,  que  partiu  de  Lisboa  a  25  de  Março  de  1505. 

N'aquelle  testamento  institue  por  seus  únicos  herdeiros 
—  sua  irmã  D.  Thereza  de  Magalhães,  —  seu  marido  João  da 
Silva  Telles  —  e  o  filho  doestes  Luiz  Telles  da  Silva,  —  sem 
mencionar  n'este  documento  qualquer  outro  seu  irmão  ou 
irmã. 

«De  todos  os  seus  bens,  que  elle  mesmo  declara  serem 
poucos,  instituiu  pelo  testamento  um  vinculo  em  favor  da  dita 
sua  irmã,  marido  e  filho,  na  sua  casa  da  Pereira,  de  Sabrosa, 
e  na  sua  pequena  quinta  da  Souta.^  junto  de  Sabrosa  e  so- 
branceira ao  Valle  da  Porca,  com  o  encargo  de  doze  missas 
annuaes,  —  unindo  tudo  ao  seu  altar  do  Senhor  Jesus,  da 
egreja  matriz  (a  antiga)  de  Sabrosa. 

Ora,  se  elle  chama  para  lhe  succeder  no  vinculo,  uma 
irmã,  é  de  crer  que  não  tinha  irmãos,  porque,  se  os  tivesse 
não  legaria  o  morgado  a  fêmea,  contra  o  uso  geral  d'aquelles 
tempos. 


«O  outro  documento  que  possue  o  sr.  dr.  Aragão,  é  um 
testamento  feito  por  Fr*ancisco  da  Silva  Telles,  filho  do  já  re- 
ferido I^uiz  da  Silva  Telles. 

Este   documento  não   deixa   a  mais  pequena  duvida  de 


1  Refcre-se  ao  arino  de  1878,  em  que  Pinho  Leal  escreveu  o  artigo 
Sabrosa. 

O  dr.  Alexandre  Manuel  Alvares  Pereira  d' Aragão  aiuda  vivia  em 
Villa  Flor  e  era  alli  um  dos  40  maiores  contribuintes  do  concelho  em  1884, 

Veja-se  no  Portugal  antigo  e  moderno  o  meu  artigo  Villa  Flor,  vol. 
XI,  pag.  736,  col.  l.a. 


TENTATIVA    ETYMOLOQICO  TOPONYMICA  147 


que  o   Fernando  de   Magalhães  que  descobriu  o  estreito  do 
seu  nome  —  é  este  de  ^Sabrosa  e  não  outro. 

O  testador,  dominado  pelo  medo  que  ainda  tinha  ás  iras 
do  rei  D.  Manoel,  legadas  aos  seus  successoras  contra  a  sua 
familia,  exprime-se  da  maneira  mais  interessante  e  deixa 
transparecer  o  terror  de  que  estava  possuido,  querendo  fazer 
acreditar  ás  justiças  d'el-rei,  que  elle  desapprovava  também 
o  procedimento  do  seu  tio  —  Fernando  de  Magalhães'. 

Dá  muita  luz  á  questão  o  seguinte  periodo  do  tal  testa- 
mento : 

«...  mandando  a  todos  os  meus  descendentes  e  herdei-' 
ros  que  na  minha  casa  da  Pereira^  em  Sabrosa,  não  ponham 
armas,  nem  outro  brazão,  porque  quero  que  em  todo  o  tempo 
se  conservem  picadas  e  rasas  da  mesma  maneira  que  as  man- 
dou pôr  o  nosso  senhor  e  rei,  pelo  delicio  de  Fernando  de  Ma- 
galhães passar  a  Castella,  em  desserviço  d'este  reino,  a  des- 
cobrir novas  terras,  onde  morreu  em  desagrado  do  mesmo 
rei.  ^  E,  como  elle  era  irmão  de  minha  avó  D.  Therexa  de  Ma- 
galhàesy  se  mandaram  picar  as  armas,  por  cujo  motivo  de 
vergonha  me  passei  a  viver  no  Maranhão^  onde  agora  me 
acho,  ao  tempo  do  outhorgamento  doeste  meu  testamento.  E 
faço  esta  declaração  para  que  aos  meus  vindouros  fiquem  para 
exemplo  não  só  os  castigos  do  senhor  rei,  mas  os  do  Céu,  que 
fez  que  o  meu  dito  tio  Fernando  de  Magalhães,  irmão  de 
minha  avó,  morresse  tão  desastradamente,  como  dizem  que 
morreu,  em  uma  ilha  chamada  Maltam,  ás  mãos  de  herejes,  ^ 
ou  melhor,  —  de  seus  peccados,  atravessado  por  uma  lança. 

«E  cuidem  todos  os  meus  descendentes  e  herdeiros,  em 
servir  os  seus  principes,  se  querem  a  minha  benção,  que  lhes 
negaria,  se  soubesse  que  haviam  de  ter  tão  baixos  sentimen- 
tos e  tão  ruinosos  para  as  familias,  como  tem  sido  para  mim 
e  meu  pae,  que  deixamos  a  nossa  pátria  por  vergonha  e  medo 
que  se  levantassem  os  visinhos  contra  nós,  pois  com  justiça 
não  podiam  soffrer  quem  ia  contra  Portugal^  que  era  a  sua 
pátria,  servir  caslelhinos,  nossos  inimigos  naturaes,  etc.» 


^  Nenhum  rei  portuguez  teve  melhores  ministros  e  mais  bravos  ge- 
neraes,  do  que  D.  Manoel,  —  e  nenhum  dos  nossos  monarchas  foi  tão  in- 
grato, castigando  até  muitos  que  devia  premiar. 

Se  elle  fosse  tão  solicito  em  dar  o  premio  áquelles  que  tanto  lh'o  me- 
receram, como  em  castigar  Fernando  de  Magalhães,  que  uma  ingratidão 
do  rei  lançara  no  serviço  de  Castella,  mais  bom  mereceria  da  pátria  e  da 
posteridade. 

2    O  testador  queria  dizer  idolatras. 


148  TENTA.TIVA    ETYMOLOGICOTOPONYMICA 


«Este  testamento  foi  feito  no  Maranhão^  nas  notas  do 
tabellião  Damião  Carneiro,  a  3  de  Abril  de  1580. 

O  brazão  da  Casa  da  Pereira  ainda  está  picado  e  arrasado, 
tal  como  o  mandou  picar  o  rei  D.  Manoel. 

O  sr.  dr.  Aragão  ainda  possue  outros  documentos,  pelos 
quaes  se  prova  a  identidade  d'este  Fernando  de  Magalhães — 
e  que  elle  era  da  nobilissima  família  do  appellido  Magalhães, 
—  appellido  que  elle  próprio  no  seu  testamento  diz  —  com 
referencia  ás  suas  armas  —  ser  dos  mais  distinctos,  antigos  e 
nobres  d'este  reino,  pedindo  que  juntem  ás  suas  armas  as 
dos  Magalhães. 

Foi  ainda  o  medo  que  obrigou  esta  familia  a  deixar  o 
illustre  appellido  de  Magalhães, 

Na  Noitvelle  Biographie  general,  editada  por  Mr.  M.  Fer- 
min  Didot  Frères,  sob  a  direcção  do  doutor  Hoefer,  vem  uma 
extensa  biographia  de  Fernando  de  Magalhães  e  alli  se  men- 
ciona o  seu  testamento. 

* 
*       *  ' 

Segundo  a  tradicção,  quando  constou  que  Fernando 
de  Magalhães  passou  para  o  serviço  de  Castella,  o  povo  de 
Sabrosa  fez  toda  a  qualidade  de  insultos  aos  seus  sobrinhos, 
—  chegando  até  a  correl-os  á  pedra,  pelo  que  se  viram  força- 
dos a  fugir  para  o  Maranhão,  nesse  tempo  ainda  quasi  todo 
despovoado,  —  e  não  quizeram  pedir  ao  monarcha  hespanhol 
o  cumprimento  do  que  havia  promettido  a  seu  tio. 

A  sua  casa  de  Sabrosa,  abandonada  por  elles,  cahiu, 
como  é  fácil  de  suppôr,  no  maior  estado  de  ruína  e,  quando 
regressaram  á  pátria,  nem  se  animaram  a  voltar  para  a  sua 
terra  natal,  indo,  ao  que  parece,  residir  em  Fafe. 

Só  nos  fins  do  século  xviii  é  que  os  seus  descendentes 
se  animaram  a  usar  o  appellido  Magalhães. 

«  Em  1795  António  Luiz  Alvares  Pereira  Coelho  da  Silva 
Castello  Branco  Magalhães,  avô  do  sr.  dr.  Aragão,  requereu 
na  qualidade  de  único  herdeiro  de  Fernando  de  Magalhães, 
ao  governo  castelhano  —  o  titulo  de  odelantado  e  uma  indem- 
nisação,  pela  vintena,  das  terras  e  rendimentos  promettidos 
ao  fundador  da  sua  casa;  —  mas  nada  conseguiu. 

«  O  antigo  vinculo  instituído  por  Fernando  de  Magalhães 
está  hoje  em  poder  de  pessoas  extranhas  a  esta  familia,  por- 
que a  mãe  do  sr.  dr.  Aragão  o  vendeu  e  deixou  partir. 

«  As  armas  da  Casa  da  Pereira,  picadas  por  ordem  do 


TENTATIVA  KT  VMOLOOICO-TOPON  YMICA  149 


rei   D,  Manoel^  foram   apeadas  na   reconstrucção  da  casa  e 
servem  hoje  de  cunhal  em  um  dos  ângulos  d'ella». 

♦      * 

A  transcripção  foi  longa,  mas  todos  concordarão  em  que 
é  muito  interessante  para  a  nebulosa  biographia  de  Fernando 
de  Magalhães. 

Graças  ao  fallecido  sr.  José  Augusto  Pinto  da  Cunha 
Saavedra  ^  —  distincto  genealogista  e  auctorisado  investiga- 
dor, pôde  hoje  affirmar  se  que  Fernão  de  Magalhães  —  o  afa- 
mado navegante,  —  era  da  villa  de  Sabrosa  e  dono  da  Casa 
da  Pereira^  da  mesma  villa. 

Também  Pinho  Leal  por  informações  do  mesmo  sr.  Saa- 
vedra deu  no  artigo,  que  vamos  extractando,  uma  interes- 
sante lista  genealógica  dos  successores  lateraes  de  Fernão  de 
Magalhães, 

São  elles  os  seguintes  :  * 

«  1.*'  —  D.  Thereza  de  Magalhães^  irmã  de  Fernando  de 
Magalhães,  sua  única  herdeira  a  1.*  morgada  do  vinculo  ins- 
tituido  na  Casa  da  Pereira^  de  Sabrosa. 

Casou  com  João  Telles  da  Silva,  fidalgo  da  casa  real  e 
tiveram 

2.°  —  Luiz  Telles  da  Silva,  fidalgo  da  casa  real,  o  que  fu- 
giu para  o  Maranhão. 

Casou  com  D.  Rosa  de  Castro  Vasconcellos  e  tiveram 

3.0  —  Francisco  Telles  da  Silva,  fidalgo  .da  casa  real. 

Casou  com  D.  Maria  Moreira  e  tiveram 

4.0  —  António  da  Silva  (de  Magalhães?)  Faria,  fidalgo  da 
casa  real. 

Casou  com  D.  Francisca  Pereira  da  Silva  e  tiveram 

5.0  —  Gonçalo  Alvares  Moreira  Telles.  Casou  com  L>. 
Maria  Marinha  (sic)  e  tiveram 


^  Um  sábio  escriptor  hespanhol  diz  que  o  appellido  Saavedra  vem 
de  saia  velha  ? !... 

Na  minha  opinião  Saavedra  vem  de  Sala  -f  ve/era  —  casa.  velha, 
pois  sala  em  antigo  hespanhol  (?)  significou  casa. 

Também  sala  deu  Sá,  appellido  e  nome  de  varias  povoações  nossas, 
—  ao  todo  mais  de  ^0]  bem  como  Sá  de  Baixo,  Sá  de  Cima,  Sá  de  San- 
galhos, Salaberie  {casa  verde)  ?,  Sala  e  Salinha,  povoações  nossas. 

Cf.  Casa,  Casa  Vedra,  Casa  Velha,  Casa  Verde,  Casa  Vermelha, 
Casarollas,  Cdsarullos,  Casas,  Casinhas,  etc,  muitas  povoações  nossas, 
ao  todo  mais  de  mil? !. . . 

'^    Artigo  citado,  pag.  287. 


150  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


6.**  —  D.  Maria  Moreira, 

Casou  com  Francisco  da  Silva  Pinheiro  de  Faria ^  de 
Royos  ou  Arroyos,  junto  de  Vilía  Real  de  Traz-os- Montes^  e 
tiveram 

7. o  —  Manoel  Alvares  Coelho  de  Faria. 

Casou  com  D.  Anna  Maria  Pereira,  da  povoação  de  Do- 
nello,  freguezia  de  Covas  do  Bouro,  concelho  de  Sabrosa,  e 
tiveram 

8.°  —  D,  Caetana  Rosaura  Pereira  Coelho  da  Silva. 

Casou  com  Luiz  Ribeiro  Valente  Castello  Branco  e  tiveram 

9."  —  D.  Quitéria  Joaquina  Pereira  Coelho  da  Silva. 

Casou  com  o  dr.  Amaro  Pereira  d' Aguiar,  juiz  de  fora 
de  Villa  Pouca  d' Aguiar,  e  tiveram 

10.0  _  António  Luiz  Alvares  Pereira  Coelho  da  Silva  Cas- 
tello Branco  Magalhães. 

Casou  ai.*  vez  com  a  herdeira  única  da  casa  e  vinculos 
dos  Cunhas  Amaraes,  de  Provezende  e  Villa  Real  —  e  senhora 
de  mais  cinco  differentes  vinculos.  Teve  d'ella  duas  filhas 
que  falleceram  de  tenra  edade. 

Casou  segunda  vez  com  D.  Petronilla  Lopes  d'Alboim  e 
Cunha  de  Sande  Soares  Carreto,  filha  de  D.  Eugénio  José  Lo- 
pes d'ATboim  e  Cufia,  e  sobrinha  do  tristemente  celebre  Go- 
doy,  ao  qual  o  rei  de  Castella  deu  o  titulo  de  príncipe  da  Paz. 

Tiveram 

li.*»  —  D.  Petronilha  Laura  Alvares  Pereira  de  Maga- 
lhães, —  a  ultima  senhora  da  Casa  da  Pereira» 

Casou  com  o  marechal  de  campo  Manuel  António  Fer- 
reira d' Aragão,  da  freguezia  de  Villar  Chão,  conce]h.o  d^ Alfan- 
dega da  Fé,  morgado  e  seohor  da  casa  de  seus  pães.  Tiveram. 

12.°  —  O  dr.  Alexandre  Manoel  Alvares  Pereira  d' Ara- 
gão, fidalgo  cavalleiro  da  casa  real,  cavalleiro  da  ordem  de 
Nossa  Senhora  da  Conceição  de  Villa  Viçosa,  actual  represen- 
tante da  casa  de  Fernando  de  Magalhães. 

Casou  em  Villa  Flor  de  Traz  os-Montes  com  a  sr.*  D.  Fe- 
licidade Amélia  Pinto  de  Lemos,  sobrinha  do  general  visconde 
de  Lemos. 

Ha  d'este  matrimonio  até  hoje  (refere-se  ao  anno  de 
1877?)  —dois  filhos  e  duas  filhas,  todos  ainda  menores  > 

*     ♦ 

Também  Pinho  Leal  no  mesmo  artigo  que  vamos  extra- 
ctando  — deu  uma  lista  dos  homens  notáveis  de  Sabrvsa  e, 


TENTATIVA    ETYMOIX>aiCO-TOPOXYMICA  151 


principiando  pela  Casa  da  Pereira  —  a  casa  de  Fernão  de  Ma- 
galhães —  mencionou  os  seguintes  : 

«!.• — O  licenciado  André  da  Silva  Coelho  (G.°  sobrinho 
de  Fernando  de  Magalhães) — freire  conventual  da  ordem  de 
S.  Thiago  de  Pai  mel  la. 

Foi  alumno  do  Real  Collegio  dos  Militares,  áe  Coimbra, — 
e  superior  do  convento  de  Palmella,  fazendo  as  vezes  de  prior- 
mór,  —  cónego  e  monsenhor  da  Pafriarchal  de  Lisboa, — do 
conselho  de  S.  M.  etc. 

2  o  -   Luiz  Pereira  da  Silva,  sobrinho  do  antecedente. 
Foi  prelado  mitrado   da   Patriarchal  de  Lisboa  e  freire 
conventual  do  mosteiro  de  Palmella. 

3.0  —  O  dr.  Manoel  José  Pereira  da  Silca,  9.°  sobrinho 
de  Fernão  de  Magalhães. 

Foi  juiz  de  fora  da  villa  da  Barca  e  desembargador  no 
Eia  de  Janeiro. 

«4°  —  António  Luiz  Alvares  Pereira  Coelho  da  Silva  Cos- 
tello  Branco  Magalhães,  já  mencionado. 

Foi  irmão  do  antecedente  e  morgado  da  Casa  da  Pereira, 
cavalleiro  da  ordem  de  S.  Thiago,  encarregado  de  uma  mis- 
são secreta  pelo  governo  de  Ccistella  junto  do  de  Portugal, 
para  as  pazes  entre  as  duas  nações.  ^ 

Reclamou  do  governo  hespanhol  o  cumprimento  do  tra- 
tado feito  com  o  seu  9.*  tio  Fernando  de  Magalhães,  como 
herdeiro  do  vinculo  d'este  e  seu  único  e  legitimo  represen- 
tante, morrendo,  porém,  da  queda  d*um  cavallo,  —  nada  obteve. 
ò.°  —  A7itonio  Pinto  Alvares  Pereira,  brigadeiro  ihoje 
diz-se — general  de  brigada). 

Fez  a  campanha  peninsular  e  foi  governador  militar  da 
praça  de  Marvão,  pelos  liberaes. 

Foi  também  deputado  às  cortes  em  183-i  e  morreu  no 
anno  seguinte. 

Teve  a  medalha  d'ouro  de  toda  a  campanha  peninsular 
e  outras  condecorações. 

6.**  —  João  Pinto  Alvares  Pereira. 

Fez  toda  a  campanha  peninsular  no  posto  de  capitão  de 
cavaliaria  e,  ficando  prisioneiro  dos  francezes  na  batalha 
de. . .  — teve  a  habilidade  de  poder  fngir-lhes  com  toda  a  sua 
companhia  —  sem  perder  um  único  soldado  —  indo  reunir  se 
ao  exercito  anglo-luso. 


1    Já  se  vê  que  este  senhor  havia  passado  também  para  o  serviço 
dos  castelhanos. 


152  TENTATIVA    ETYMOLOGIOO-TOPONYMICA 


Em  1823  acompanhou  o  sr.  D,  Miguel  a  Villa  Franca 
de  Xira, , .  —  e  falleceu  em  1828,  sendo  coronel  da  cavalla- 
ria  de  Chavesi>. 

Agora  mais  alguns  dislates  meus. 

Pinho  Leal  disse  bastante  com  relação  á  nebulosa  biogra- 
phia  de  Fernão  de  Magalhães  no  artigo  Sabrosa  supra,  e  nelle 
se  encontram  espécies  novas,  mas  não  disse  a  ultima  palavra. 

Menciona  dois  testamentos  do  nosso  biographado,  —  um 
feito  em  Lisboa  (Belém)  no  anno  de  Lõ04,  3  mezes  antes  de 
partir  para  a  índia  com  o  l."*  vice-rei  D.  Francisco  d^ Almeida; 

—  o  outro  feito  na  Hespanha  em  24  d' Agosto  de  1519,  pouco 
antes  de  partir  para  a  sua  gloriosa  expedição  (20  de  Setem- 
bro do  dito  anno). 

No  2.®  testamento,  como  diz  Pinho  Leal,  citando  Munoz, 
instituiu  herdeiro  o  seu  irmão  Diogo,  no  caso  de  fallecer  um 
filho  que  o  testador  já  tinha  da  sua  esposa  D.  Brites,  o  que 
se  realisou. 

Do  exposto  se  vê  que  Fernão  de  Magalhães  teve  pelo 
menos  um  irmão,  emquanto  que  Pinho  Leal  diz  que  o  nosso 
biographado  no  primeiro  cestamanto  vinculou  a  sua  Casa  da 
Pereira  e  instituiu  herdeira  e  administradora  do  vinculo  a 
sua  irmã  D.  Thereza , . .  pelo  que  Pinho  Leal  suppõe  que 
Fernão  de  Magalhães  não  tinha  irmão  algum,  pois,  se  o  ti- 
vera, o  instituirá  administrador  do  vinculo,  segundo  a  praxe, 
com  preferencia  á  irmã. 

Este  argumento  é  de  pouca  força,  porque  os  instituido- 
res dos  vínculos  por  vezes  nomearam  administradores  d'elles 

—  não  o  filho  ou  sobrinho  varão  mais  velho,  mas  qualquer 
outro  dos  mais  novos. 

Instituiram-se  mesmo  vínculos  a  favor  das  filhas  e  so- 
brinhas, tendo  os  instituidores  e  seus  successores  filhos  varões. 

Era  muito  ampla,  muito  variada  e  por  vezes  muito  com- 
plicada a  legislação  vincular. 

Eu  nada  sei  de  coisa  alguma,  nomeadamente  de  direito, 
pois  formei-me  em  theologia;  mas  refiro -me  ao  que  tenho  en- 
contrado na  historia,  nas  chronicas  e  em  difíerentes  nobiliários. 

Ahi  vae  um  espécimen  curioso  : 

(Tlorgado  da  Ribeira  de  Sabrosa 

Sob  este  mesQio  titulo  disse  eu  no  longo  artigo  Villa 
Real  de  Traz  os- Montes  —  vol.  xi  do  Portugal  antigo  e  moder^ 
noy  pag.  964,  o  seguinte: 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONTYMICA  153 


«Na  mesma  egreja  da  santa  casa,  na  capella  de  Nossa  Se- 
nhora da  Co7^ôa,  instituíram  em  1598  um  morgado,  a  que 
vincularam  todos  os  seus  bens,  —  Fernão  Pinto  Pimentel^  ar- 
mado oavalleiro  em  Ceuta,  procurador  d'esta  villa  ás  cortes 
d^Almeirini,  etc,  —  esua  mulher  Maria  Corrêa,  ambos  ádi pri- 
meira nobrexa  doesta  villa  transmontana,  com  obrigação  de 
certas  missas,  vestuário  a  pobres,  etc. 

«Nomearam  primeiro  administrador  do  dito  morgado 
seu  sobrinho  António  Pinto  Pimentel,  com  muitas  condições, 
algumas  curiosas,  v.  g.  —  que  o  administrador  d'este  morgado 
usaria  os  appellidos  Pinto  Pimentel,  sendo  varão,  —  e  Corrêa 
Pimentel^  sendo  fomea. 

«Que  se  o  dito  António  Pinto  Pimentel  e  sua  mulher  An- 
na  Corrêa  não  deixassem  successão,  passaria  este  morgado 
com  todos  os  seus  bens — para  um  criado  qualquer  do  ultimo 
administrador  {?[...),  —  porque  não  queriam  os  instituidores 
que  n'elle  succedesse  jamais  António  Corrêa,  genro  de  Paio 
Rodrigues,  de  Favaios,  —  nem  Anna  Pimentel,  nem  os  filhos 
ou  descendentes  d'estes  — pelas  grandes  desobediências  e  cruéis 
ingratidões  que  d'elles  haviam  recebido.  ^ 

«Que  os  administradores  doeste  vinculo  nos  dois  primei- 
ros annos  da  sua  administração  lhe  uniriam  qui.renta  mil  réis 
(somma  importante  naquelle  tempo)  —  em  dinheiro  ou  em  fa- 
zendas,— ■  comtanto  que  não  fossem  vinham  ?  !..>> 

—  Do  exposto  se  vê  que  já  vêem  de  longe  as  crises  viní- 
colas do  Douro.  — No  momento  (1908)  está  elle  atravessando 
uma  das  crises  mais  duras,  mais  cruéis  -  —  e  mais  dura  foi 
ainda  a  crise  porque  passou  em  1851,  quando  eu  fui  para 
Coimbra. 

Chegaram  a  vender-se  na  Regoa  3  quartilhos  de  bom  vi- 
nho por  20  réis  —  e  a  pipa  d' aguardente  de  prova  —  550  li- 
tros de  puro  espirito  de  vinho — por  trinta  mil  réisf!... 


*  Os  taes  senhores  de  Favaios,  como  revelam  os  appellidos  e  o 
contexto,  deviam  ser  parentes  próximos  dos  instituidores.  Imagine-se, 
pois,  como  ficariam  desesperados,  quando  se  vissem  preteridos  por  um 
criado  qualquer  áo  ultimo  administrador  do  grande  vinculo,  —  criado  que 
podia  ser  inclusivamente  um  gallego  ?  !. . . 

'^  Vende-se  alli  actualmente  a  pipa  de  bom  vinho  de  pasto  a  18$000 
réis  —  e  com  difficuldade,  —  porque  a  Extremadura  e  o  Alemtejo  produ- 
zem muito  vinho,  que  innunda  o  Porto  e  tolhe  o  consumo  do  Douro. 

Só  um  proprietário  do  Alemtejo  —o  sr.  José  Maria  dos  Santos-- 
colhe  20  a  30  mil  pipas  de  vinho  por  anno  ?  ! . . . 


164  TENTATIVA    ETYMOLOGIOO-TOPONYMICA 


* 
*         * 

Proveiu  da  abundância  a  tal  crise,  pois  antes  de  manifes- 
tar-se  alli  o  oydium  —  a  producçáo  do  vinho  era  espantosa  ! . , , 

Com  o  apparecimento  do  oydium  —  cessou  a  crise  da 
abundância  —  e  o  vinho  encareceu  rapidamente,  mas,  em- 
quanto  não  se  descobriu  a  applicação  do  enxofre  para  com- 
bater o  oydium,  a  crise  foi  ainda  mais  violenta,  porque  as 
videiras  adoeceram,  morriam  e  nada  produziam  ! 

Alguns  lavradores  do  Douro,  entre  elles  o  meu  pae,  at- 
tonitos  compraram  gado  lanigero,  forçados  a  volver  á  vida 
pastoril?  1.  . . 

Com  a  applicação  do  enxofre  os  vinhedos  em  breve  se 
reconstituiram ;  nao  tardou,  porém,  nova  crise  com  o  appare- 
cimento da  maldita  phyloxera  e  das  30  doenças  que  perse- 
guem as  vides  d'aquella  região. 

Infeliz  Douro ! . . . 

Elle  devia  soffrer  muito  em  1598,  como  prova  a  institui- 
ção do  vinculo  ou  morgado  da  Ribeira  de  Sabrosa  supra. 

Também  devia  soffrer  muito  no  século  xv,  como  prova  o 
tombo  do  grande,  enorme  passal  da  freguezia,  villa  e  honra 
de  Távora,  concelho  de  Taboaço,  districto  de  Vizeu^  —  tombo 
que  foi  organisado  em  1496. 

N'elle  se  mencionam  103  propriedades  que  então  perten- 
ciam ao  dito  passal,  entre  ellas  — sob  os  n."'  19  e  54  —  duas 
courellas  que  já  foram,  vinha. 

—  Isto  em  Távora,  parochia  mimosissima^  fertilissima  e 
já  então  vinicola  ?  f 

Veja-se  o  1.°  vol.  d'esta  obra^  onde  dei  copia  fiel  do  men- 
cionado tombo  desde  pag.  460  até  474. 

Veja-se  também  ali  a  nota  n.»  2  de  pag.  464,  onde  men- 
cionei umas  inquiriçõefi  reaes  do  século  xiii,  relativas  ao  con- 
celho de  Lamego,  as  quaes,  fallando  da  freguezia  de  Samo- 
dães^  terra  natal  do  sr.  conde  doeste  titulo,  entre  outras  coisas 
dizem:  — . .  .  e  ha  aqui  um  souto  que  já  foi  vinha  e  paga  de 
foro  ao  rei.  .  .  tanto  por  anno. 

No  mencionado  volume  disse  e  provei  eu  tampem  que 
na  minha  Penajulia  ou  Penajoia,  minha  terra  natal,  —  a  fre- 
guezia mais  TYíimosa  do  Douro  e  de  Portugal^  visinha  e  limi- 
trophe  da  de  Samodães,  ha  também  soutos  que  em  tempos  muito 
remotos  foram,  vinhas  ?  / . . . 

Note-se  que  as  taes  Inquirições  do  século  xni  já  mencio- 
navam difíerentes  vinhas  em  Samodães. 


TENTATIVA    ETYMOLOQICO-TOPONYMICA  155 


Não  fallavam  da  minha  Penajulia  (o  que  muito  senti), 
porque  desde  os  princípios  da  nossa  mouarchia  toda  a  minha 
Penajulia  foi  reguengo  ou  propriedade  da  coroa.  * 

Volvendo  ao  tópico  supra  —  Morgado  da  Ribeira  de  Sa- 
brosa ~-  disso  eu  ainda  no  meu  longo  artigo  Villa  Real  de 
T7'a2-Ofi- Montes  : 

«Tomou  este  vinculo  o  nome  de  vinculo  ou  morgado  da 
Ribeira  de  Sabrosa,  porque  na  ribeira  da  freguezia  de  Sa- 
brosa,  margem  direita  do  Pinhão,  tinha  uma  das  melhores 
propriedades  que  o  constituiam,  a  qual  escolheu  para  seu  ti- 
tulo o  barão  da  Ribeira  de  Sabrosa,  —  ultimo  ou  penúltimo 
administrador  d'este  morgado,  —  Rodrigo  Pinto  Pizarro  Pi- 
mentel d' Almeida  Carvalhaes,  ministro  de  D.  Mana  ii,  um 
dos  homens  mais  illustrados  e  mais  honrados  que  teve  For- 
no século  XIX. 

Falleceu  em  1841  sem  successão. 

V.  Ribeira  de  Sabrosa,  Sabrosa  e  Villar  de  Maçada^  no 
Portugal  antigo  e  moderno, 

i(Sào  hoje  (1885J  herdeiros  e  representantes  do  fallecido 
barão  os  Nobrpgas  Pintos  Pizarros,  de  Villa  Real ;  mas  a 
grande  quinta  da  Ribeira  de  Sabrosa  foi  vendida  e  os  restan- 
tes bens  divididos,  em  virtude  da  lei  que  aboliu  os  vínculos. 


* 
*      * 

Proseguindo  com  o  mesmo  thema,  ahi  vae  outro  jor- 
reiro  de  dislates  meus. 

Gajo  —  diz  Pinho  Leal  supra — menciona  três  Fernandos 
de  Magalhães,  notando  que  um  d'elles  era  senhor  do  vinculo 
ou  morgado  das  Merilheias,  o  qual  perdera  por  passar  para  o 
serviço  de  Castella,  como  dissemos  no  extracto  do  artigo  Sa- 
brosa. 

Não  é  de  suppôr  que  o  tal  Fernando  ou  Fernão  de  Ma- 
galhães fosse  o  nosso  biographado,  porque  este,  como  diz  Pi- 
nho Leal,  era  muito  nobre,  7nas  pobre.  —  Apenas  deixou  o 
pequeno  vinculo  da  sua  Casa  da  Pereira,  —  vinculo  ou  mor- 
gado que  devia  perder,  como  o  seu  homonymo  e  talvez  pa- 
rente próximo,  perdeu  o  das  Merilheias,  por  haver  também 
passado  para  o  serviço  de  Castella. 

Note-se  que  D,  Manoel,  apenas  soube  que  Fernão  de  Ma- 


V.  Penajoia  e  Penajulia  no  indice  do  i  volume. 


156 


TENTATIVA   ET  YMOLOGICO-TOPON YMICA 


galhães  passou  para  a  Hespanha,  o  perseguiu  tenazmente.  — 
Não  só  mandou  picar  as  armas  da  sua  Casa  da  Pereira^  mas, 
como  diz  Vast^  que  havemos  de  citar  muitas  vezes, — recla- 
mou instantemente  de  Carlos  v,  rei  da  Hespanha,  a  prisão  e 
extradição  d'elle. 

Carlos  V,  não  accedeu  e  mais  se  convenceu  de  que  Fer- 
não Magalhães  não  era  um  aventureiro,  um  intrujão^  como  al- 
guém lhe  dizia,  —  mas  um  homem  d' alta  cotação. 

A  tenacidade  com  que  D.  Manoel  perseguiu  o  nosso  bio- 
graphado  foi  óptima  recommendação  para  este ;  mas  era  uma 
vez  um  homem,  se  D.  Manoel  o  podesse  haver  á  mão ! ,  .  . 

Os  reis  da  Hespanha  desde  que  os  portuguezes  nos  fins 
do  século  XV  assombraram  o  mundo  com  a  feliz  descoberta 
da  navegação  directa  para  a  índia,  —  não  pouparam  esforços 
e  dinheiro  com  o  fito  de  angariarem  pilotos  e  marinheiros 
portuguezes.  —  Por  seu  turno  os  nossos  reis  puniam  os  trans- 
fugas  com  pena  de  morte. 

Já  li  algures  que  D.  Manoel,  constando-lhe  que  dois  pi- 
lotos portuguezes_,  aliás  beneméritos,  iam  a  caminho  da  Hes- 
panha, os  mandou  prender  e  matar,  —  e  que,  estranhando  a 
nossa  marinha  tanta  severidade  para  com  os  dois  pilotos,  D. 
Manoel  simplesmente  e  muito  friamente  dissera :  —  Não  gosto 
de  nrarinheiros  que  viajam  por  terra  í! .  . . 

Fernão  de  Magalhães,  como  já  dissemos,  devia  perder  a 
sua  Casa  da  Pereira,  pois  é  de  suppôr  que  D.  Manoel,  perse- 
guindo-o  tão  tenazmente,  chegando  até  a  enviar  esquadras  para 
o  Cabo  da  Boa  Esperança  e  para  os  outros  pontos  do  cami- 
nho e  do  mar  da  índia  com  o  fim  de  o  prenderem,  —  não  se 
limitou  a  picar-lhe  as  armas  da  Casa  da  Pereira.  —  Muito 
provavelmente  confiscou-a,  segundo  a  praxe  para  com  os  trans- 
fugas  —  em  Portugal  e  na  Hespanha  desde  os  princípios  da 
nossa  monarchia. 

Mal  pôde  portanto  acceitar-se  o  que  diz  Pinho  Leal :  — 
que  a  irmã  de  Fernão  de  Magalhães  e  os  descendentes  d'ella 
ficaram  possuindo  o  mencionado  vinculo  até  o  meado  do  sé- 
culo XIX. 

Mais.  —  No  testamento  do  Maranhão  supra,  feito  em 
1580  por  Francisco  da  Silva  Telles,  2.**  sobrinho  de  Fernão  de 
Magalhães,  —  ainda  o  testador  chama  sua  a  Casa  da  Pereira, 
como  vimos.  —  E  é  para  extranhar  que  referindo-se  á  morte 
de  Fernão  de  Magalhães  e  3lo  primeiro  testamento  por  elle  feito 
em  Lisboa  {Belém)  no  anno  de  1504,  —  estando  ainda  solteiro, 
—  não  faça  a  mínima  referencia  ao  segundo  testamento  feito 


TENTATIVA    ETYMOLOOlCO-TOPONYMirA  167 


na  Hespanha^  como  dizem  Munoz  e  Vast,  no  anno  de  1519, — 
estando  jd  casado,  — testamento  que  devia  annular  ou  modi- 
ficar o  primeiro ! . .  . 

Logo  daremos  uma  ligeira,  mas  interessante  noticia  do 
segundo  testamento  de  Fernão  de  Ma<jaUiães. 

Pinho  Leal  também  diz  que  o  mencionado  vinculo  ou 
morgado  foi  vendido  pela  máe  do  sr.  dr,  Alexandre  d' Ara- 
gão —  ultima  dona  da  Casa  da  Pereira.  —  Nào  diz  quando, 
mas  devia  ser  no  meado  do  século  xix,  porque  o  dito  senhor 
ainda  vivia  em  1885,  como  já  dissemos. 

Vai  longo,  muito  longo  este  tópico,  mas  não  podemos 
resistir  á  tentação  de  dar  um  ligeiro  extracto  do  precioso  e 
luxuoso  livro  que  temos  sobre  a  nossa  mesa  d'estudo,  intitulado 

bc  Tour  du  (Tlonde 

Em  vulgar:  A  volta  ao  mundo  ha  4  séculos  ou  Vasco  da 
Gayna  e  Fernão  de  Magalhães  por  llenri  Vast  [íFnrique  Basto  ?), 
professor  no  Lycêu  Fontanes  —  Paris,  1880. 

O  mencionodo  livrinho  foi  escripto  em  francez  e  faz 
parte  da  interessante  coUecçào  de  propaganda :  —  Bibliotheca 
das  escolas  e  das  famílias. 

Comprehende  apenas  101  paginas  (8.°  grande)  em  óptimo 
papel,  bom  typo  e  bella  capa,  luxuosa  edição  da  livraria  Ha- 
chelte,  com  2  bellos  retratos  de  Vasco  da  Gama  e  Fernão  de 
Magalhães^ — 2  mappas.  indicando  um  d'elles  a  viagem  de 
Vasco  da  Gama  para  a  índia,  seguindo  o  rumo  leste  pelo  Cabo 
da  Boa  Esperança.  —  O  outro  mappa  indica  a  viagem  do  Fer- 
não de  Magalhães  para  a  índia,  seguindo  o  rumo  occidental  e 
diametralmente  opposto,  atravessando  3i  America  sul  pelo  es- 
treito que  descobriu  e  d'elle  tomou  o  nome  actual :  —  Es- 
treito  de  Magalhães. 

D'alli  navegou  quasi  em  recta  para  a  índia  atraves- 
sando com  a  maior  felicidade  e  como  por  milagre  o  tenebroso 
Mar  Pacífico  —  nunca  d'antes  navegado  em  tal  rumo — na  ex- 
tensão de  milhares  de  léguas  ?.'... 

Dão  particular  merecimento  ao  dito  mappa  3  quadrellas 
que  nelle  se  vêera^  representando  uma  d'ellas  o  emmara- 
nhado,  sinuoso  e  perigoso  Estreito  de  Magalhães. ' 

O  mencionado  livro  comprehende  também  10  formosas 
gravuras,  representando  uma  d'ellas  a  nossa  torro   de  Belém. 

O  livro  é  muito  lisongeiro  para  Portugal,  sendo  para  la- 
mentar que  até  hoje  não  fosse  traduzido  em  Portuguez. 


1B8  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Dava  um  brinde  muito  próprio  e  muito  interessante  para 
ser  distribuido  pelos  alumnos  dos  nossos  collegios  e  das  nos- 
sas aulas  nas  festas  escolares. 

Nós  temos  detractores  nos  paizes  estrangeiros,  mas  tam- 
bém temos  amigos  e  admiradores,  como  Vast,  desde  tempos 
muito  remotos. 

No  atlas,  que  foi  um  dos  mais  notáveis  do  mundo,  pu- 
blicado em  1570  por  Ahrahão  Ho7'telio,  d^Anvers,  se  lê  no 
mappa  relativo  a  Portugal,  o  seguinte: 

«O  império  lusitano  é  hoje  (1570)  o  mais  vasto  possível, 
porque  se  estende  desde  Lisboa  até  á  China  e  ao  Japão. 

Os  filhos  de  Portugal,  partindo  d'alli  com  um  arrojo  e 
uma  felicidade  incriveis,  devassaram  o  mundo  inteiro. 

Descobriram  innumeraveis  ilhas,  d'alguma  das  quaes 
apenas  se  sabia  o  nome  e  d'outras  nem  sequer  o  nome ;  — 
converteram  em  província  sua  grande  parte  da  Africa^  —  tor- 
naram tributaria  a  Asia^  esse  paiz  abençoado,  —  e  levaram  a 
religião  de  Christo  até  os  paizes  mais  remotos.» 

Decorou  o  mappa  de  Portugal  com  um  simples  galeão — 
e  o  mappa  da  Pérsia  e  da  índia  com  as  armas  actuaes  por- 
tuguezas  de  7  castellos  e  5  quinas. 

Isto  prova  que  não  era  sem  fundamento  que  os  nossos 
reis  se  intitulavam:  —  Reis  de  Portugal  e  dos  Algarves  d'aquem 
e  d'além  mar  em  Africa,  senhores  de  Guiné  e  da  conquista, 
navegação  e  commercio  da  Ethiopia,  Arábia,  Pérsia,  índia, 
etc. 

Faltou  a  Hortelio  mencionar  a  nossa  colónia  do  Brazil, 
que  só  por  si  era  tão  vasta  como  a  Europa  toda!... 

Não  a  mencionou  talvez  por  não  estar  ainda  bem  deli- 
mitada. 

—  E  dava-se  isto  nos  fins  do  século  xvi,  quando  Portu- 
gal propriamente  dito  —  credite  posteri  I  —  n&o  contava  dois 
milhões  d'habitantes ^t ... 

Nós  perdemos  grande  parte  das  nossas  colónias  durante 
os  60  annos  da  occupação  hespanhola  -  1580  a  16-40  — e,  gra- 
ças ao  sr.  D.  Pedro  iv,  perdemos  o  Brazil  em  18*22  ;  mas 
ainda  assim  Portugal  é  a  terceira  potencia  colonial  do  inundo !. . . 

Temos  ainda  hoje  talvez  mais  de  mil  portos  de  mar  na 
Europa,  na  Africa,  na  Ásia  e  na  Oceania,  pelo  que  todas  as 
potencias  nos  afagam  e  namoram,  por  estarem  hoje  em  foco 
as  guerras  marítimas  com  vapores,  — guerras  em  que  os  por- 
tos de  mar  são  indispensáveis,  tanto  para  abrigo  dos  vapores, 
como  para  abastecimento  de  carvão. 


ENTATIVA    ETYMOLOaiCO-TOPONYMICA  159 


Os  nossos  mil  portos  de  mar  sào  invejados  pelas  poten- 
ciai marítimas  todas,  —  mas  todas  os  respeitam  e  nenhuma 
ousa  tocar-lhes,  posto  que  a  nossa  marinha  é  hoje  microscó- 
pica. —  Respeitam-nos,  porque  teriam  de  bater-se  com  a  //!• 
(jlaterra^  nossa  alliada,  —  hoje  a  primeira  potencia  maritima 
do  mundo  e  que  por  certo  nào  cederia  a  outrem  um  único 
dos  nossos  portos. 

A  nossa  marinha  é  hoje  microscópica^  mas  já  foi  muito 
importante,  —  a  primeira  do  mundo  no  século  xvi,  pelo  que 
não  ha  muito,  estando  em  manobras  uma  esquadra  ingleza  na 
nossa  bahia  de  Lagos^  o  almirante  inglez  convidou  para  jan- 
tar a  bordo  do  seu  grande  couraçado  o  commandante  d'um 
vapor  de  guerra  portuguez  que  alli  foi  saudal-o.  —  E  ao  des- 
sert  o  almirante  inglez  brindou  ao  rei  de  Portugal  —  e  á  ma- 
rinha portugueza,  mãe  de  todas  as  marinhas? f ,. . 

Foi  um  requinte  d'amabilidade  este  brinde,  mas  não  to- 
talmente gracioso,  porque  em  um  livro  francez  já  eu  li  ha 
bastantes  annos  o  seguinte: 

a  A  marinha  do  guerra  portugueza  foi  no  século  xvi  a 
marinha  de  guerra  mais  importante  da  Europa.  Os  seus  gran- 
des vasos  de  guerra  montavam  duas  a  três  pontes  d'arti- 
Iheria,  —  nos  cestos  de  gávea  usavam  artilheria  mais  leve  — 
e  toda  a  sua  artilheria  era  de  bronze.  -  Não  usavam  canhões 
de  ferro  fundido,  como  as  outras  nações». 

Na  bahia  do  Rio  de  Janeiro  ha  um  sitio  ou  um  castello 
chamado  Bota  Fogo. 

Talvez  tomasse  o  nome  d'um  grande  vaso  de  guerra  por- 
tuguez assim  denominado,  por   ter  muita  artilheria  a  bordo. 


* 
*      * 


Volvendo  a  fallar  dos  estrangeiros  que  muito  nos  esti- 
mam e  consideram,  não  posso  deixar  de  render  preito  a  um 
distincto  escriptor  italiano  (?)  —  o  Marquez  Mac  Siciney  de 
Mashanaglass,  camarista  particular  de  Sua  Santidade^  mora- 
dor no  palácio  Falconieri  da  Via  Júlia.,  em  Roma. 

E'  s.  ex.*  tão  amigo  de  Portugal  que,  manuseando  os 
preciosos  o  volumosos  archivos  da  Santa  Sé,  já  publicou  di- 
versas obras  muito  lindas  e  muito  interessantes  relativas  a 
Portugal. 

Eu  conheço  e  possuo  nada  menos  de  cinco  d'aquellas  me- 
morias,  porque  s.  ex."  muito  gentilmente  e  muito  amavel- 
mente se  dignou  enviar- m'as,  —  fiiaeza   com    que   muito  me 


160  TENTATIVA    ETYMOLOQICO-TOPONYMICA 


honrou  e  penhorau  e  pela  qual  novamente  lhe  beijo  as  mãos 
agradecido. 

As  ditas  memorias  são  as  seguintes: 

l.a  —  Les  Précourseurs  de  Vasco  da  Gama  — par  le  Mar- 
quis  Mac  Stmney  de  Mashanaglass  —  Chambellan  intime  de  Sa 
Sainteté — Rome^  1898. 

Em  vulgar :  Os  Precursores  de  Vasco  da  Gama  —  pelo 
marquez  Mac  Swiney  de  Mashanaglass  —  camarista  particular 
de  S.  Santidade. 

Roma,  1898. 

2.*  —  Le  Portugal  et  la  Sainte  Siège...  —ou  Portugal  e  a 
Santa  Sé.  —  As  Espadas  d^honra^  enviadas  pelos  Papas  aos 
Reis  de  Portugal  no  século  xvi  —  pelo  marquez  Mac  Swiney 
de  Mashanaglass^  camarista  particular  de  S.  Santidade,  —  Pa^ 
ris,  1898.  ^ 

3  *  —  Le  Portugal  et  la  Sainte  Siège...  —  ou  Portugal  e  a 
Santa  Sé.  —  Os  Enxovaes  ou  Cueirinhos  bentos  ^  enviados  pelos 
Papas  aos  principes  reaes  de  Portugal  —pelo  marquez  Mac 
Swiney  de  Mashanaglass^  camarista  particular  de  S,  Santidade, 
—  Paris,  1899. 

4.* — Le  Portugal  et  la  Sainte  Siège..,  — ou  Portugal  e 
a  Santa  Sé.  —  Uma  embaixada  portugueza  enviada  a  Roma, 
sendo  pontifice  Júlio  ii  (I50õ)  —  pelo  marquez  Mac  Swiney 
de  Mashanaglass j  camarista  particular  de  S.  Santidade.  — 
Paris,  1909. 

5.*  —  Le  Portugal  et  la  Sainte  Siège...  —  ou  Portugal  e  a 

Santa  Sé.  —  As  Rosas  d^Ouro  enviadas  pelos  Papas  aos  Reis 

de  Portugal  no   século  xvi  —  pelo   marquez   3Iac  Swiney  de 

Mashanaglass,  camarista  particular  de  S.  Santidade.  —  Paris, 

1904. 

* 
*      * 

Do  exposto  se  vê  que  s.  ex.^  adora  Portugal  / . . . 

Sendo  muito  illustrado  e  muito  versado  em  diversas  lin- 
guas,  incluindo  a  portugueza^  a  hespanhola  e  a  italiana,  fez 
aquellas  cinco  memorias  e  publicações  todas  em  francez,  — 
por  ser  actualmente  o  francez  a  lingua  mais  vulgar  em  todo 
o  mundo.  —  Era  por  consequência  a  mais  própria  para  a  vul- 
garisação  e  propaganda  que  s.  ex.*  —  honra  lhe  seja!  — 
muito   espontaneamente   se  lembrou   de  fazer    em   favor  de 


1    Note-se  que  as  ditas  memorias  são  todas  escriptas  em  francez. 
'^    Les  tanges  bénits  —  diz  o  texto. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPOXYMICA  IGl 


Portugal,  —  E,  havendo  em  lioma,  onde  vive,  muitas  e  ópti- 
mas typographias  deu  preferencia  ás  de  Parin^  por  serem 
as  publicações  em  francez  e  consequentemente  de  mais  fácil 
composição  em  Fran(;a,  do  que  na  Itália. 

As  ditas  memorias  todas  andam  fora  do  mercado,  por- 
que s.  ex.*  as  destinou  para  brindes. 

Sei  que  as  enviou  também  ao  meu  santo  prelado  —  o  sr. 
D.  António  Barroso^  actual  bispo  do  Porto,  —  e  por  certo 
brindou  com  ellas  também  outros  bispos  nossos,  bem  como  a 
nossa  casa  real,  as  secretarias  do  estado,  etc. 

S.  ex.*  não  necessita  de  mais  titulos  nem  condecorações, 
mas  ao  nosso  governo  cumpre  significar-lhe  a  nossa  gratidão 
condecorando-o,  se  ainda  o  não  condecorou. 

—  Bem  merece  uma  grã  cruz  da  Ordem  de  S.  Thiago. 
Agora  Le   Tour  du  Monde,  Henri  Vast  e  Magalhães  —  e 

como  preliminar  o  Infante  D.  Henrique  e  Sagres,  Christovam 
Colombo  e  Vasco  da  (jama. 

Um  dos  homens  mais  notáveis  e  mais  beneméritos  que 
Portugal  tem  produzido  até  hoje  —  foi  sem  contestação  o  in- 
fante D.  Henrique,  filho  do  nosso  rei  D.  João  i  e  da  rainha 
D,  Filippa  de  Lencastre. 

Sendo  muito  bondoso,  muito  illustrado,  muito  querido 
pelos  irmãos  —  e  muito  rico,  pois  era  duque  de  Vizeu^  Grão- 
Mestre  da  Ordem  de  Christo,  senhor  da  Covilhã,  na  Beira  Bai- 
xa, e  de  Lagos,  Portimão  e  Sagres  no  Algarve,  podia  viver 
esplendidamedte  na  corte  ou  em  Thomar,  no  seu  magestoso 
palácio  e  convento,  solar  da  Ordem  de  Christo. 

Podia  também  viajar,  como  o  seu  irmão  D.  Pedro,  du- 
que de  Coimbra  que,  na  phrase  vulgar,  percorreu  as  sete  par- 
adas do  Mundo  f  /.., 

—  Mas  o  infante  D.  Henrique  muito  espontaneamente 
deixou  tudo  o  que  tanto  podia  encantar  e  seduzir  qualquer 
outro  e,  fiel  á  sua  divisa  —  talent  de  bien  faire  ou  desejo  de 
bem  fazer  —  foi  no  vigor  da  edade,  contando  apenas  vinte  e 
cinco  annos,  alcandorar-se  no  promontório  de  Sagres,  um  dos 
sitios  mais  ermos  e  mais  solitários  do  nosso  paiz  todo  e  da 
nossa  província  do  Algarve»  —  E  alli  passou  muito  contente  e 
satisfeito  a  maior  parte  da  vida  —  cerca  de  41  annos  —  desde 
1419  até  1460,  data  em  que  falleceu,  contando  (S^  annos  de 
edade,  pois  nasceu  no  Porto  em  1394. 

Custa  a  crer,  mas  é  tem  facto  incontroverso^  —  facto  que 
o  immortalisou,  bem  como  a  Portugal^  pois  a  elle  se   devem 


162  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


as  nossas  grandes  explorações  marítimas  que  assombraram  o 
mundo  nos  séculos  xv  e  xvi. 

Ditosa  pátria  que  tal  filho  teve ! 

D.  Henrique,  pela  sua  muita  illustração  e  pelas  suas 
viagens  e  expedições  a  Marrocos,  aífeiçoou-se  ao  mar, —  até  en- 
tão muito  mal  conhecido  no  grande  mundo  —  e  concebeu  o 
projecto  de  o  explorar,  —  não  com  a  mira  da  avareza  e  do 
interesse  próprio,  como  em  tempos  muito  remotos  o  explora- 
ram os  Fenicios,  ^  —  mas  para  ser  útil  à  humanidade  toda, 
fiel  á  sua  divisa — talent  de  bien  faire. 

Com  este  santo  e  louvável  intuito  deixou  Vixeu,  Tho- 
mar,  Lisboa,  a  côHe,  a  familia  —  tudo  —  e  foi  viver,  qual  ere- 
mita no  solitário  e  deserto  promontório  de  Sagres^  por  ser  o 
local  mais  p^'oprio  para  as  suas  projectadas  explorações  ma- 
rítimas. 

Veja-se  no  Portugal  antigo  e  moderno  o  interessante  ar- 
tigo Sagres  do  meu  benemérito  antecessor  Pinho  Leal,  —  vol. 
vjir,  pag.  323  a  329,  —  artigo  muito  acceitavel  todo^  menos 
a  parte  etymologica. 

—  «Esta  villa  (Sagres)  é  povoação  antiquíssima,  talvez 
mesmo  anterior  ao  domínio  dos  romanos; —  diz  elle  textual- 
mente, pag.  326  —  e  accrescenta  : 

«Os  árabes  lhe  mudaram  o  nome  para  Chak  Back  (que, 
segundo  alguns,  quer  dizer  —  Ilha  dos  Rochedos)  mudando-lhe 
ainda  depois  para  Sacron,  que  se  corrompeu  em  Sagres. 

<rSigo  o  que  dizem  escriptores  de  muito  credito  ;  mas, 
com  sua  licença,  não  me  conformo  com  semelhante  etymología. 

«E'  verdade  que  frei  João  de  Sousa  nos  Vestígios  da  lin- 
gua  arábica  em  Portugal,  diz  que  Sacron  significa  uma  espécie 
de  peça  d'artílheria  :  — mas,  como  podiam  os  mouros  dar  seme- 
lhante nome  a  Sagres,  se  só  passados  135  annos  depois  da  sua 
completa  expulsão  do  Algarve,  ó  que  cá  appareceram  pela 
primeira  vez,  peças  d^artilheria  f 

«Entendo  que  Sagres  é  corrupção  de  Chak-Rack  e  não 
de  Sacron  ;  mesmo  porque  era  mais  fácil  a  corrupção». 


1     Vejam-se  as  pag.  63-65  do  l  vol. 

De  passagem  diremos  que  os  hollandczes  nas  suas  explorações  ma- 
rítimas dos  séculos  xvi  e  xvii  mostraram  ter  sangue  de  Judeus  caos  Feni- 
cios, pois  chegaram  a  fazer,  publicar  e  vender  mappas  e  roteiros  falsos 
com  relação  ao  mar  da  Oceania  e  da  Austrália  ou  Nova  Hollanda,  como 
dizem  Beschereíl  c  Devars.  —  Irra !. . . 

Semelhante  procedimento  é  um  cumulo  de  villania,  de  maldade  e 
avareza. 


TENTATIVA    ETYMOLOGUCO-TOPONYIIICA  163 


Vem,  pois,  Safjyes  de  Chak-RacJc  na  opinião  de  Pinho 
Leal,  mas  na  minha  opinião  Sagres  vem  de  Hi/agriU  patro- 
nimico  de  títjagrius^  li  —  Sifagrio^  nome  d'um  santo,  etc.  —  ti- 
rado talvez  do  latim  botânico  de  Plinio  syagrus,  i  —  cena 
espécie  de  palmeira. 

N'esta  hypothese  Sjjagrio  quer  dizer  alto^  elegante  e  del- 
gado como  a  palmeira. 

SijagriiH  deu  tíajjre.s,  como  Flaviis,  patronimico  de  Fia- 
vius,  ii,  Flávio,  nome  romano  e  nome  d 'um  santo,  deu  Chavett 

—  e  como  Jh/lariis,  patronimico   de  Hylarhis,   li,  —  Hylario, 
também  santo,  etc,  deu  Alares,  povoação  nossa. 

Também  Amaris,  patronimico  de  Amanis^  i  —  Amaro, 
nome  d'um  santo  e  do  Amaro  Mendes  Gaveta,  que  pelo  nome 
não  perca,  deu  Amares,  villa  e  freguezia  nossas. 

Por  seu  turno  Amanis — Amaro —  vem  do  latim  amarus 

—  triste. 

E',  pois,  Amaro  synonimo  de  Tristão  e  antithese  de  Hy- 
lario,  que  vem  de  hilnrls  —  alegre. 

Flavius,  li — vem  do  latim  flavus,  i  —  louro,  da  côr  do 
ouro,  como  já  disse 

Também  Sagres  pôde  vir  directamente  do  latim  Si/a- 
grus,  i  —  palmeira. 

Notese  que  no  Algarve  dão-se  muito  bem  as  palmeiras 
e  melhor  deviam  dar-se  no  tempo  de  Plínio,  porque  o  Algar- 
ve, todo  o  nosso  paiz  e  toda  a  zona  temperada  deviam  ser 
mais  quentes  outr'ora. 

Refiro-me  á  theoria  do  arrefecimento  gradual  da  terra, 
pelo  qual  bons  naturalistas  e  geólogos  pretendem  explicar  as 
muitas  doenças  que  actualmente  perseguem  os  vegetaes  da 
Europa  todos,  incluindo  as  videiras,  cerdelras,  laranjeiras,  azi- 
nheiras, castanheiros,  carvalhos,  pinheiros  e  sobreiros,  que  eram 
as  nossas  arvores  mais  robustas,  mais  vivazes. 

* 

Volvendo  a  Sagres^  faremos  algumas  rectificações. 

E'  certo  que  o  Infante  D.  Henrique  passou  a  maior  parte 
da  vida  alcandorado  no  promontório  de  Sagres,  —  mas  não 
pôde  marcar  so  com  precisão  e  certeza  o  anno  em  que  para 
alli  foi. 

Eu  indiquei  o  anno  1419,  mas  talvez  fosse  anteriormente. 

Vast  diz  que  o  Infante  D.  Henrique  fundou  a  celebre 
Academia  de  Sagres  (logo  volveremos  ao  assumpto^  era  14:15, 


164  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


—  no  seu  regresso  da  tomada  de  Ceuta,  ^  Concordam  n'este 
ponto  vários  escriptores ;  outros  dizem  que  o  Infante  montou 
Si, celebre  Academia  de  Sagres  —  no  seu  próprio  palácio.  Logo 
em  1410  já  tinha  mandado  fazer  o  dito  palácio .  . , 

E  por  certo  que  antes  de  fazer  o  palácio  no  deserto  pro- 
montório, aprumado  sobre  o  oceano  e  muito  exposto  a  ser 
atacado  e  surprehendido  pelos  piratas  berberescos  ou  da  An- 
dalttzia,  ao  tempo  ainda  occupada  pelos  mouros,  já  tinha  for- 
tificado, como  fortificou,  o  dito  promontório,  transforman- 
do-o,  como  transformou,  em  uma  valente  praça  de  guerra  e 
Tercena  ou  Terça  Naval,  —  arsenal  importante,  representando 
grandes  sommasl,.. 

Pôde,  pois,  dizer-se  que  o  Infante  se  instalou  em  Sagres 
desde  1415  —  ou  ainda  antes  —  e  que  preso  com  a  sua  cons- 
tante lahufa  das  explorações  marítimas,  que  eram  para  elle 
tudo^  —  alli  se  conservou  até  que  falleceu  em  1460  —  ou  du- 
rante 45  annos  aproximadamente. 

Não  quero  dizer  com  isto  que  elle  desde  1415  esteve  sem- 
pre em  Sagres,  mas  —  que  alli  passou  a  maior  parte  do  tempo. 

Somente  obrigado  por  motivos  de  força  maior,  com 
grande  violência  de  quando  em  quando  se  afastou  do  seu 
adorado  promontório  de  Sagres^  volvendo  rapidamente  a  elle, 
pelo  que  foi  denominado  —  e  ainda  hoje  se  denomina  —  o  In- 
fante de  Sagres?!... 

Emquanto  viveu  o  pae  —  D.  João  i,  que  muito  o  esti- 
mava por  todas  as  considerações  e  por  ser  o  filho  que  mais 
se  parecia  com  elle,  passou  algum  tempo  na  corte,  porque  o 
pae  obrigava  os  filhos  mais  velhos  —  D.  Duarte,  D.  PedrOy 
D.  Henrique  e  D.  Fernando  —  a  coadjuval-o  na  governação 
publica  —  três  mezes  cada  um  por  anno. 

D.  Henrique  era  pontual  e  o  que  melhor  cumpria,  mas 

—  logo  que  findava  o  seu  trimestre  —  fugia  rapidamente  para 
Sagres.  Apenas  uma  vez  ou  outra  por  excepção  e  para  obse- 
quiar e  poupar  os  irmãos,  se  demorava  na  corte  mais  alguns 
dias,  mas,  logo  que  podia  —  fugia  rapidamente  para  o  seu  ado- 
rado promontório. 

Digo  rapidamente,  porque  era  muito  valente,  muito  enér- 
gico e  montava  muito  bem. 

O  irmão  D.  Duarte  foi  o  mais  destro,  mais  correcto  e 
mais  afamado  cavalleiro  do  seu  tempo,  como  prova  o  seu  in- 
teressante livro  Ensenãnça  de  bem  cavalgar  toda  a  sella.  Mas 


1     Tour  du  Monde,  pag.  20. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOFONYMICA  165 


D.  Hennque,  por  ser  mais  valente,  mais  fogoso  e  destemido, 
se  não  cavalgava  tão  correctamente,  —  galopava  como  nin- 
guém. —  Não  corria  —  vonva  / 

Pôde  dizer-se  que  até  hoje  ninguém  o  bateu  galopando!  ?.  . 


* 
*      * 

Kefiro-me  á  interessante  Memoria  em  commemoração  do 
quinto  centenário  do  Infante  D.  Henrique,  publicada  no  Porto 
em  1894,  por  occasiáo  das  pomposas  festas^  henriquinas,  — Me- 
moria que  obteve  o  primeiro  premio  no  respectivo  concurso  e 
que  íoi  escripta  pelo  saudoso  portuense  Alfredo  Alves, 

Com  o  prematuro  fallecimento  de  s.  ex.*  perderam  muito 
as  boas  letras,  pois  era  uma  excellente  pessoa,  talento  verda- 
deiramente superior,  tão  modesto,  como  illustrado,  —  investi- 
gador benemérito,  incansável,  — ■  distincto  escriptor  e  poeta. 

Além  da  dita  Memoria,  escreveu  e  publicou  dois  livros 
de  versos  —  Melancolia  (se  bem  me  recordo)  —  e  Folhah  d'He- 
ra,  sendo  este  ultimo  prefaciado  pelo  sr.  Joaquim  d' Araújo, 
nosso  cônsul  actual  em  Génova,  distincto  escriptor  e  também 
poeta,  amigo  particular  do  pobre  Alfredo  Alves. 

As  Folhas  d'Hera  foram  publicadas  na  Tijpographia  El- 
zeviriana^  aqui  no  Porto ,  em  1886,  —  e  são  ellas  um  formoso 
livrinho  de  xi  96  paginas  (4.**  grande)  com  27  mimosas  poe- 
sias soltas,  entre  ellas  uma  —  a  primeira  —  dedicada  ao  seu 
bondoso  tio  Joaquim  d' Oliveira  Guimarães,  —  outra  á  sua  mãe, 
—  outra  ao  seu  irmão,  —  outra  á  sua  irmã,  —  outra  ao  sr.  Joa- 
quim d^ Araújo,  etc, —  todas  sobre  themas  ou  assumptos  dif- 
ferentes  e  com  titulos  próprios  correspondentes. 

Alfredo  Alves  publicou  também  uma  Biographia  de  Santo 
António  e  um  romance  histórico  —  it/arza  dúbrilens  (irlan- 
deza),  etc. 

Cito  de  memoria  —  desculpem  —  e  pouco  mais  posso 
adiantar,  posto  que  foi  algum  tempo  meu  parochiano  e  vi- 
veu com  o  tio  supra  —  Joaquim  d'' Oliveira  Guimarães — que 
o  adorava  e  morava  no  I^argo  de  Viriato,  freguezia  de  Mira- 
gaya,  quando  eu  fui  parodio  d'esta  freguezia. 

O  sr.  Joaquim  d'' Araújo  pôde  adiantar  muito  mais,  por- 
que privou  mais  de  perto  com  o  desditoso  Alfredo  Alves,  que 
era  filho  d'um  lente  de  medicina  da  nossa  Universidade  de 
Coimbra  —  o  Z)r.  Francisco  António  Alves. 

Tentou  formar-se  em  medicina  também,  mas,  vendo  certo 


166  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


dia  um  cadáver  em  dissecação  no  theatro  anatómico  —  perdeu 
os  sentidos, —  adoeceu  gravemente,^  ficou  sempre  triste  e  não 
mais  se  restabeleceu  completamente  nem  pôde  formar-se? !... 

O  pae  não  deixou  fortuna,  mas  o  mencionado  tio  esti- 
mava-o  muito,  —  levou-o  para  a  sua  casa  e,  como  dispunha  de 
bastantes  meios,  —  nada  faltou  ao  pobre  moço  até  que  falle- 
ceu.  —  Morreria,  porém,  talvez  de  fome  e  desgostos,  se  vivesse 
mais  alguns  annos  e  sobrevivesse  ao  bondoso  tio,  porque  este 
era  negociante  na  rua  de  S.  João,  algo  distante  da  casa  onde 
vivia  e  —  confiando  muito  nos  caixeiros  —  segundo  me  consta 
—  foi  por  elles  atraiçoado  e  morreu  pobre  —  pobríssimo !?.. . 

O  santo  homem  viveu  bem,  mas  acabou  mal!  —  Acabou 
também  mal  o  avô  paterno  de  Alfredo  Alves —  João  José  d^  Oli- 
veira Guimarães,  pae  do  lente  da  Universidade,  pois  cegou 
completamente  e  assim  viveu  annos  aqui  no  Porto,  havendo 
ainda  quem  se  lembre  de  o  ver  na  rua,  guiado  pela  mão  do 
seu  netinho  Alfredo  ?  / . . . 

—  Com  vista  ao  sr.  Joaquim  de  Araújo. 

* 

Na  citada  Memoria  henriquina  o  sr.  Alfredo  Alves,  depois 
de  descrever  a  tomada  de  Ceuta  e  a  heroicidade  com  que  D. 
Pedro  de  Menezes,  governador  d'aquella  praça,  a  tinha  conser- 
vado e  defendido,  diz  que  D.  João  i  um  bello  dia,  eçtando 
em  Cintra  doente,  recebeu  a  noticia  de  que  os  mouros  de  Fez, 
colligados  com  os  granadinos,  havendo  pregado  e  apregoado 
a  guerra  santa  contra  os  christãos,  marchavam  em  grande 
numero  contra  Ceuta  e  tentavam  reconquistal-a. 

A  noticia  do  perigo  de  Ceuta  estalou  em  Cintra  como  um 
trovão  —  diz  Alfredo  Alves,  pag.  48  e  accrescenta:  —  ^(Só  D. 
Duarte  e  os  Infantes  mais  novos  estavam  em  Cintra,  nos  Pa- 
ços da  Serra,  D.  Pedro  era  em  Vílla  Real,  —  o  Conde  de  Bar- 
cellos  em  Bragança  —  q  D.  Henrique  em  Vizeu.  Tinham  partido 
para  esses  pontos,  porque  de  Castella  se  temiam  alguns  que- 
brantamentos da  paz. 

«Assim  que  ao  Infante  D.  Henrique  —  diz  textualmente  o 
sr.  Alfredo  Alces  —  constou  o  risco  em  que  estava  de  per- 
der-se  o  theatro  da  sua  maior  façanha  guerreira  {CeutaJ,  para 
cuja  conquista  tanto  havia  trahíúhaido,  — montou  a  cavallo  e  a 
galope,  a  galope,  sem  pousar  em  cidade,  nem  villa,  nem  alber- 
garia, —  apresentou-se  nos  Paços  da  Serra,  em  Cintra,  — den- 
tro de  vinte  e  quatro  horas^ . 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  167 


E'  isto  O  que  diz  textualmente  o  sr.  Alfredo  Alves  na  ci- 
tada e  muito  auctorisada  Memoria  henriquina,  pfig.  48  e  49. 

Do  exposto  se  vê  que  o  Infante  J).  Henrique  —  no  pri- 
meiro quartel  do  século  xv  foi  de  Vizeu  a  Cintra  em  vinte  « 
quatro  horas— ^  a  cavallo  e  a  galope,  serni^re  a  galope, — sem 
descanço  algum. 

Isto  custa  a  crer,  pois  ainda  em  1767  —  decorridos  mais 
de  trezentos  annos  —  João  Baptinta  de  Castro  no  seu  curioso 
e  muito  consciencioso  Roteiro  de  Portugal  diz  que  Vizeu  dis- 
tava de  Lisboa  47  léguas  —  e  que  Cintra  distava  de  Lisboa 
6  léguas. 

Distancia  total  de  Cintra  a  Vizeu  52  legoas,  que  pela 
craveira  d'aquelle  tempo  correspondiam  a  mais  de  60  das 
nossas  léguas  actuaes  de  5  kilometros. 

O  mencionado  Roteiro  marca,  por  exemplo,  —  de  Lamego 
á  villa  da  Régua  1  legoa  —  e  da  Régua  a  Villa  Real  3,  —  Ao 
todo  4  léguas  de  Lamego  a  Villa  Real,  emquanto  que  pela 
craveira  actual  dos  õ  kilometros  a  distancia  entre  aquelles 
dois  pontos  —  é  de  30  kilometros  só  da  Régua  a  Villa  Real 
—  e  13  da  Régua  a  Lamego.  —  Total  43  kilometros  —  cerca 
de  9  léguas  —  em  vez  de  4 — de  Lamego  a   Vala  Real?!».. 

Do  exposto  se  vê  que  o  Infante  para  ir  de  Vizeu  a  Cin- 
tra e  percorrer  mais  de  60  léguas  em  24  horas  —  não  galopou 
mas  voou  !  —  mesmo  porque  as  nossas  estradas  in  illo  tenipore 
deviam  ser  e  com  certeza  eram  na  sua  maior  parte  —  barrancos 
e  despenhadeiros,  por  onde  se  não  podia  galopar.  —  Nem  ca- 
vallo algum  —  mesmo  ainda  hoje  nas  melhores  estradas  a  ma- 
cadani  —  podia  galopar  durante  24  horas  seguidas  sem  parar 
nem  ter  descanço  algum ! 

O  //?/awíe  podia  distribuir  cavallos  —  muitos  cavallos  — 
desde  Vizeu  até  Cintra  para  mudas  d'espaço  a  espaço  e  assim 
podia  adiantar  muito  e  aligeirar  o  percurso.  Mas  tal  processo 
devia  ser  moroso  e  a  Memoria  citada  não  faz  a  minima  refe- 
rencia a  elle. 

Apenas  diz  que  o  Infante  —  logo  que  recebeu  a  noticia... 
partiu  rapidamente  ou  no  mesmo  instante. 

*      * 

Em  uma  minuciosa,  muito  interessante  e  muito  conscien- 
ciosa biographia  do  bispo  de  Vizeu  —  D.  Jidio  Francisco  de 
Oliveira  (1740-1765)  —  escripta  pelo  padre  Leonardo  de  Sousaj 
congregado  do  Oratório,  amigo  e  contemporâneo  do  dito  pre- 


168  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


lado,  e  publicada  por  mim  na  Vida  Moderna,  jornal  do  Porto^ 
em  1890,  n.^^  45  a  49,  meneiona-se  uma  grande  pendência 
que  houve  entre  o  bispo  D.  Júlio  —  e  toda  a  cidade  de  Vizeti, 
a  principiar  pelo  provedor,  corregedor,  juiz  de  fora,  camará 
municipal^  etc. 

Foi  uma  questão  gravissima  que  durou  annos  e  obrigou 
o  prelado  —  sendo  aliás  um  bispo  benemérito  e  muito  gene- 
roso —  a  gastar  mais  de  vinte  e  cinco  mil  crusados  —  e  a  cho- 
rar lagrimas  de  sangue'^!...  — E  tudo  por  causa  d' uma  pouca 
de  palha,  que  não  valia  um  caracol  ?  ! .  . . 

As  bulhas  principiaram  em  Setembro  de  1744 —  «e  log^o 
começaram  a  correr  os  postilhões,  havendo  tal  que  de  Lisboa 
a  Vizeu  —  gastou  menos  de  três  dias  I  »  como  diz  com  espanto  o 
mencionado,  muito  illustrado  e  muito  auctorisado  biographo. 

Dava  elle  a  entender  que  os  postilhões  costumavam  gas- 
tar com  o  dito  percurso  3  a  4  dias  —  ou  mais !  —  Isto  de  Vi- 
zeu  a  Lisboa  —  afora  as  õ  a  7  léguas  de  Lisboa  a  Cintra , 

Também  o  padre  Sousa,  descrevendo  minuciosamente  e 
muito  conscienciosamente  a  viagem  do  bispo  D.  Júlio,  que 
elle  acompanhou,  —  de  Lisboa  até  Vixeu,  diz  que  partiram  de 
Lisboa  no  dia  9  de  Março  de  1743,  ás  7  horas  da  manhã  —  e 
que  chegaram  a  Vizeu  no  dia  17  do  dito  mez  e  anno  pelas  8 
8  meia  horas  da  noute. 

Gastaram,  pois,  com  a  viagem  cerca  de  nove  dias  —  não 
se  poupando  a  noitadas  e  fadigas.  ^ 

Note-se  que  o  bispo  fez  a  viagem  toda  em  caleça  —  e  a 
comitiva  a  cavallo;  mas  por  vezes  a  caleça  enterrou-se  na 
lama  até  os  eixos  —  e  de  Coimbra  até  Vixeu  foi  mister  con- 
certar expressamente  e  com  antecipação  vários  lanços  da  es- 
trada. 

*      * 

Eu  estou  abusando  muito  da  paciência  dos  leitores  com 
relação  ao  antigo  percurso  entre  Vizeu  e  Lisboa,  mas  não 
posso  resistir  á  tentação  de  dar-lhes  ainda  uma  ligeira  noti- 
cia tão  interessante,  como  authentica  e  assombrosa,  que  se 
encontra  na  Taboada  Curiosa  de  João  António  Garrido,  pu- 
blicada em  IJsboa  no  anno  de  1747. — Eefiro-me  á  4.*  edição, 
pois  a  dita  obra,  pelo  seu  particular  merecimento  (?) — teve 
seis  edições  ou  mais  ! . . . 

Na  de  1747,  pag.  165,  se  lê  textualmente  o  seguinte: 

1    Jornal  citado,  n.«  46,  de  1890. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  169 

«Conta  para  se  saber  quando  se  deitõo  e  tirão  as  cartas 
do  Correyo,  e  o  tempo  que  tardõo  em  ir  e  tornar  a  Da- 
rias partes  do  Reino,  desde  Lisboa 

—  «Trez  dias  tarda  uma  carta  em  ir  e  tornar  desde  Lis- 
boa a  Setuhal  —  nem  'perder  corre f/o. 

Vão  de  Lisboa  sabbado  e  tterça-feira  e  tornáo  segunda  e 
sexta-feira. 

—  a  Sete  dias  tardam  em  ir  e  tornar  desde  Lisboa  &  Alem- 
quer,  a  Santarém,  a  Torres  Vedras,  a  Thomar,  Ecora,  Elvas, 
e  Beja,  pelo  correyo. 

—  «Qiuitorze  dias  tardam  em  ir,  e  tornar  desde  Lisboa  a 
Leiria,  Coimbra,  Aveiro,  Faro,  Esgueira,  Porto  (cá  estou 
eu!...),  Campo  d' Ourique,  Algarve,  Portalegre  e  Vizeu,  (cá  está 
elle !...). 

—  «  Vinte  e  hum  dias  tardam  em  ir  e  tornar  desde  Lis- 
boa a  Guimarães,  Moncorvo,  Braga,  Lamego^  Guarda,  Castel- 
Branco,  Vianna  do  Minho,  Pinhel  e  Almeida. 

—  «Trinta  dias  (?!..-.)  tardam  em  ir  e  tornar  desde  Lis- 
boa a  Bragança,  Chaves ,^  Miranda,  Monção,  e  Montalegre.y> 


E  faziam-se  por  aquelle  tempo  em  Lisboa  apenas  duas 
expedições  na  semana: — ás  terçasfeiras  para  leste  e  sul: — 
Algarve,  Alemtejo,  Franca,  Hespanha  e  Itália  ;  —  nos  sabba- 
dos  para  o  norte  :  —  Beira,  Minho  e  Traz-os-Montes. 

Yeja  se  o  meu  longo  artigo  Vias  férreas  —  Estradas  a 
macadam  —  Rios  e  Canaes  —  Telegraphos,  Correios  e  Pharoes 
—  no  Portugal  antigo  e  moderno,  vol.  x,  pag.  467  a  502, — 
publicado  em  1884  —  no  anno  em  que  eu  tomei  conta  da  dita 
obra,  por  haver  fallecido  o  meu  benemérito  antecessor  Pinho 
Leal  em  2  de  Janeiro  de  1884,  —  deixando  aquelle  dicciona- 
rio  aproximadamente  a  meio  do  artigo  Vianna  do  Castello  e 
do  vol.  X. 

Coube-me,  pois,  a  honra  de  bem  ou  mal  concluir  o  men- 
cionado artigo  e  o  mencionado  volume  e  de  levar  o  pobre 
diccionario  até  o  fim  do  volume  xii  e  ultimo,  por  haverem  os 
editores  desistido  do  promettido  e  tão  preciso  supplemento. — 
Elle  daria  mais  alguns  volumes {"!  l .. ,)  e  eu  então  de  bom 
grado  o  escreveria,  mesmo   porque  já  tinha  destinados  para 


170  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


èlle  muitos  maços  d' apontamentos^  que  ficaram  inutilisados  — 
e  com  elles  o  meu  tirocínio  de  mais  de  seis  annos. 

Também  senti  que  os  editores  não  quizessem  dar  ao  me- 
nos mais  um  volume  com  o  índice  geral  da  obra  toda,  —  Ín- 
dice que  muito  a  valorisata,  pois  facilitava  as  consultas,  como 
eu  lhes  disse  e  lembrei  repetidas  vezes,  prestando-me  também 
então  a  escrevel-o. 

Veja-se  a  minha  advertência  —  Ao  Publico  —  no  fim  do 
vol.  XII  e  ultimo  (?!...)  do  Portugal  antigo  e  moderno, 

Prosigamos. 

No  citado  artigo  Vias  .férreas  —  Estradas  a  macadam, 
etc,  pag.  493,  —  dei  eu  aquelle  tópico  da  Taboada  Curiosa  de 
Garrido,  —  tópico  já  então  muito  interessante  e  hoje  ainda 
mais  por  se  haver  operado  entre  nós  um  progresso  espantoso 
na  viação  publica  e  na  facilidade  de  communicações  de  toda 
a  ordem  desde  os  fins  do  século  xviii  —  e  particularmente 
desde  o  meado  do  século  xix,  como  eu  já  então  suppunha, 
pelo  que  no  principio  do  mencionado  artigo  disse  textual- 
mente o  seguinte :  - 

«Conglobamos  todos  estes  tópicos  (Vias  férreas.  Estra- 
das a  macadam,  etc.,)  —  pela  intima  ligação  que  os  prende  e 
para  aproveitarmos  o  ensejo  de  registar  o  que  sobre  tão  im- 
portante assumpto  hoje  gosamos  e  vamos  legar  ás  gerações 
por  vir. 

«E'  inegável  que  neste  ponto,  bem  como  em  outros  mui- 
tos, havemos  progredido  consideravelmente  desde  o  principio 
da  segunda  metade  d'este  século,  ^  mas  ninguém  pôde  calcu- 
lar até  onde  irão  os  vindouros  com  a  herança  que  de  nós  re- 
cebem, —  pois  uma  civilisação  produz  outra  cimlisação  —  e  tanto 
mais  assombrosa  quanto  maiores  elementos  herdar  da  cimlisa- 
ção anterior. 

«Estamos  certos  —  certissimos  —  de  que,  em  praso  não 
muito  longo,  elles  rirão  do  nosso  decantado  progresso,  como 
nós  actualmente  rimos  do  que  nos  legaram  nossos  avós,  — 
mas  outros  nos  vingarão  rindo  d'elles. 

—  RÍ7'a  hien  qui  rira  le  dernier !...» 


*    Portugal  antigo  e  moderno,  vol.  x,  pag.  467. 
-    Referia-me  ao  século  xix,  pois,  como  já  disse,  estava  escrevendo 
o  mencionado  artigo  em  1884. 


TENTATIVA    ETYMOLOOICO-TOPONYMICA  171 


*        * 

Effectivamente  nós  habituados  aos  commodos  e  á  velo- 
cidade das  nossas  actuaes  linhas  férreas,  dos  nossos  telegra- 
phos  eléctricos,  telephones  e  automóveis  —  só  a  mofar  e  rir 
podemos  acreditar  e  ouvir  que  no  século  xviii  os  correios  ou 
postilhões  gastavam  14  dias  para  irem  e  voltarem  de  Vizeu  a 
Lúhoa,  como  assevera  O  amido. 

Não  foi  portanto  sem  motivo  que  o  Padre  Sousa  na  bio- 
graphia  de  Z>.  Júlio  com  assombro  mencionou  o  facto  de  te- 
rem alguns  postilhões — certamente  hem  remunerados  !  —íeito 
a  viagem  de  Vizeu  a  Lisboa  em  menos  de  três  dias,  pois  a  ta- 
beliã oíEcial  dos  correios  marcava  sete  dias  para  aquelle  tra- 
jecto —  ou  14  para  a  ida  e  volta. 

Custa  realmente  a  crer  que  o  Infante  D.  Henrique  — 
cerca  de  300  annos  antes — fosse  de  Vizeu  a  Cintra  em  24 
horas ! 

Graças  ao  progresso  e  ás  nossas  linhas  férreas  pôde  fa- 
zer-se  hoje  a  rir,  a  palestrar  ou  a  dormir  (?!..,)  a  viagem  de 
Vizeu  a  Lisboa  —  324  kilometros  —  em  10  horas  aproximada- 
mente, pois,  segundo  se  lê  em  um  horário  que  tenho  pre- 
sente, o  percurso  dos  nossos  trens  do  correio  entre  os  dois 
pontos  mencionados  é  o  seguinte : 

—  De  Vizeu  a  Santa  Comba-lJuo,  entroncamento  na  linha 
da  Beira  Alta  —  50  kilometros  —  2  horas  e  Yi  • 

—  De  Santa  Comba-Dào,  á  Pampilhosa^  entroncamento  na 
linha  do  norte  —  3õ  kilometros  -—  1  ^'^  horas. 

—  Da  Pampilhosa  a  Lisboa — 339  kilometros — G  Yg  horas 
E'  este  o  percurso  actual,  mas  seria  muito  menor,  se  as 

nossas  vias  férreas  tivessem  a  velocidade  das  linhas  estrangei- 
ras, nomeadamente  dos  trens  relâmpagos,  que  ainda  não  temos. 

Na  linha  de  Lisboa  ao  Porto  e  de  Lisboa  a  Madrid  e  Pa- 
ris,  já  temos  expressos^  que  adiantam  muito,  mas  são  só  para 
viajantes^  —  não  tocam  em  todas  as  estações  —  nem  vão  a 
Vizeu. 

Notese  também  que  as  linhas  férreas  são  muito  mais 
curtas  do  que  as  estradas  a  macadam,  porque  não  podendo 
dar  voltas  de  pequeno  raio,  atravessam  por  vezes  morros,  pe- 
nhascos e  montes  em  tunneis  —  e  muitos  ribeiros,  valles  e 
rios  em  pontes  e  viaductos,  como  a  nossa  linha  da  Beira  Alta, 
atravessou  os  contrafortes  do  Bussaco,  etc. 

Também  a  nossa  linha  do  Douro  tem  abundância  de  tun- 
neis, viaductos  e  pontes. 


172  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Note-se  também  que  hoje  entre  nós  as  cartas  por  vezes 
são  substituídas  por  telegrammas,  pois  já  temos  os  nossos  con- 
celhos todos  e  todo  o  nosso  paiz  ligados  com  Lisboa  e  com  o 
mundo  todo  por  telegraphos  eléctricos,  para  os  quaes  não  ha 
distancias  I 

—  Em  poucas  horas  uma  noticia  pode  dar  volta  ao  mun- 
do —  não  havendo  impedimento  nem  solução  de  continuidade 
no  fio  conductor — ou  seja  terrestre  ou  submarino. — Assim 
em  Portugal  estamos  recebendo  noticias  diárias  da  Rússia^  da 
America,  da  índia,  do  Japão,  etc. 

* 

*      * 

Accrescem  também  já  os  telegraphos  sem  fios  —  e  pelos 
telephones  pôde  conversar  se  na  voz  própria  entre  pontos 
muito  distantes,  como  já  se  conversa  entre  o  Porto  e  Lisboa, 
entre  Londres  e  Paris,  etc. 

Também  os  carros  eléctricos,  muito  vulgares  entre  nós  — 
e  mais  ainda  noutras  nações  —  representam  um  grande  pro- 
gresso pela  sua  belleza,  commodidade,  barateza  e  velocidade, 
—  bem  como  os  automóveis  recentemente  descobertos  e  que 
já  abundam  em  todo  o  nosso  paiz  —  tanto  nas  cidades,  como 
nas  villas  e  mesmo  em  algumas  aldeias  e  quintas  ! , . . 

Temos  já  hoje  talvez  mais  de  500  automóveis  em  Portu- 
gal —  e  o  numero  tende  a  subir  1 . . . 

Elles  são  muito  lindos^  muito  variados,  muito  velozes  e 
levam  vantagem  aos  carros  eléctricos  e  ás  linhas  férreas,  pois 
não  demandam  leito  próprio  nem  carris. 

Podem  trabalhar  francamente  nas  estradas  a  macadam  e 
prestam-se  para  conduzir  bagagem  e  mercadorias ;  —  mas  são 
bastante  caros  e  perigosos. 

Diariamente  se  registam  choques,  tombos  e  desgostos —  tanto 
em  Portugal,  como  na  França.^  na  Inglaterra,  na  Allemanha,  etc. 
"  Em  automóvel  podia  ir  em  poucas  horas  o  Infante  D. 
Henrique  de  Vizeu  a  Lisboa  e  Cintra,  mas  no  século  xv  não 
havia  automóveis  nem  estradas  a  macadam,  linhas  férreas  nem 
carros  eléctricos. 

O  transporte  melhor  e  mais  rápido  eram  os  cavallos  de 
sella.  —  Julgo  que  na  província  —  nem  se  usavam  as  liteiras, 
que  foram  o  transporte  mais  luxuoso  em  Portugal  nos  sécu- 
los xviiT  e  seguintes  até  o  advento  das  estradas  a  macadam, 
da  mala  posta  e  das  diligencias  no  meado  do  século  xix. 


TENTATIVA    ETyMOLOGICO-TOPONYMICA  173 


« 
*        * 

Eu  formei-me,  como  já  disse,  em  1851  a  1850  na  lusa 
Atlienas  —  sem  ver  uma  diligencia;  —  vi,  porém,  com  assom- 
bro chegarem  a  Coimbra  a  mala  posta  e  o  telegrapho  eléctrico, 

—  este  vinha  de  Lisboa, —  a  mala  vinha  do  Carregado,  pois 
ao  tempo  já  estava  construido  o  lanço  da  via  férrea  do  norte 
desde  Lisboa  até  alli. 

A  malaposta  era  esplendida e  foi  uma  das  mais  bem  mon- 
tadas que  ao  tempo  havia  na  Europa  —  a  todos  os  respeitos. 

Os  carros  eram  inglezes,  magestosos  e  luxuosos ;  os  cavai- 
los  eram  inglezes  também  —  ou  normandos ;  os  cocheiros  e 
conductores  andavam  todos  fardados  —  e  o  serviço  era  pon- 
tualissimo! 

A  estação  de  Coimbra  estava  em  uma  dependência  do 
extincto  convento  de  Santa  Cruz,  pelo  que  a  mala-posta  pas- 
sava com  difficuldado  na  antiga  rua  do  Coruche,  muito  es- 
treita, que  posteriormente  foi  alargada  e  substituída  pela  for- 
mosa ri\a  actual  do  Visconde  da  Luz, 

Certo  dia,  subindo  eu  pela  velha  rua  do  Coruche  ^  e  ou- 
vindo a  corneta  do  cocheiro  da  mala-posta  que  vinha  descendo, 

—  entrei  rapidamente  para  uma  loja  de  commercio  da  dita 
rua,  ficando  junto  da  porta  para  ver  passar  o  avejão! 

A  mala  ia  roçando  pelas  casas  da  dita  rua,  que  não  ti- 
nha passeios,  e  tocou  de  raspão  na  humbreira  da  porta  onde 
eu  estava.  —  Recuei  logo  e  nada  sofíri,  mas  cortou-me  um 
fragmento  da  capa  que  não  recolhi  a  tempo  e  ficou  sobrepu- 
jando a  humbreira. 

Bom  tempo  era  aquelle!... 

Só  Dassados  annos  a  dita  mala  checou  ao  Porto  —  ou  an- 
tes  a  Villa  Nova  de  Gaya,  pois  julgo  que  nunca  entrou  no  Porto. 

Conclui  a  formatura  sem  me  utilisar  da  malaposta,  por- 
que eu   era  da  região  norte,  —  ella  trabalhava  só  para  o  sul 

—  e  eu  então  não  viajava. 

Só  me  utilisei  d'ella  quando  em  1858  fui  a  primeira  vez 
de  Lamego  a  Lisboa  por  terra,  e  para  variar  volvi  de  Lisboa 
ao  Porto  por  mar  no  vapor  Lusitânia  da  carreira  entre  o  Porto 
e  Lisboa. 


^  Coruche  é  deturpação  de  Corucho  —  e  este  de  corujo  por  coruja  — 
ave  nocturna  bem  conhecida,  que  deu  o  nome  a  differentes  povoações 
nossas. 

Vejam-se  no  i  vol.  as  pag.  297  a  305. 


174  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Na  dita  carreira  ao  tempo  só  trabalhava  o  Lusitânia^  por 
haver  naufragado  o  outro  vapor  seu  companheiro,  chamado 
Porto,  no   dia  29  de  março  de  1852,  jnnto  da  Foz  do  Douro. 

O  dito  naufrágio  cobriu  de  lucto  a  cidade  invicta,  pois 
sepultou  nas  ondas  talvez  mais  de  80  pessoas^  quasi  todas  do 
Porto,  sendo  algumas  d'ellas  pertencentes  ás  primeiras  famí- 
lias d'esta  cidade. 

Não  ha  memoria  de  naufrágio  tão  luctuoso  na  barra  do 
Porto!.,.   ' 

Durante  a  minha  formatura  (1851  a  1856)  —  apenas  fiz 
as  viagens  indispensáveis  entre  Coimbra  e  Lamego  —  ou  antes 
Penajoia  —  a  terra  das  cerejas,  minha  terra  natal,  no  aro  de 
Lamego.  ^ 

O  dito  percurso  pelo  citado  Roteiro  de  João  Baptista,  de 
Castro  era  de  22  léguas,  mas  nunca  o  podemos  transpor  em 
menos  de  dois  dias  e  meio,  —  seguindo  de  Lamego  pela  serra 
do  Mezio,  Castro  d'Ayre,  S.  Pedro  do  Sul,  Vouzella,  Ponte  Fora, 
serra  das  Talhadas,  Rompesilhas.  Águeda,  Sardão,  Mealhada, 
Fornos  e  Coimbra. 

Nós  gastávamos  sempre  dois  dias  e  meio  para  transpor 
as  22  léguas  —  e  em  Dezembro  de  1854  gastámos  com  o  dito 
percurso  das  ?2  léguas  —  três  dias  e  meio  —  levantando-nos  de 
madrugada  com  archotes, —  recolhendo  ás  immundas  hospe- 
darias já  de  noute — e  dando  ao  diabo  a  cardada!... 

Na  forma  do  costume  nós  tínhamos  ido  naquelle  anno 
para  Coimbra  em  Oatubro; — pagámos  livros  e  matriculas  e 
principiamos  o  nosso  curso,  mas,  como  grassava  a  cólera  em 
Coimbra,  o  governo  mandou  fechar  a  Universidade  —  e  volve- 
mos aos  nossos  lares.  Declinando,  porém,  a  epidemia,  o  go- 
verno mandou  abrir  novamente  a  Universidade  no  dia  1  de 
Janeiro  de  1855,  pelo  que  tivemos  de  marchar  para  Coimbra 
nos  fins  de  Dezembro,  —  rigor  do  inverno  —  por  caminhos 
diabólicos  —  sitios  ásperos,  altos  e  desabrigados  —  com  chuva 
torrencial  e  vento  fortíssimo  de  vendaval,  que  por  vezes  ati- 
rava com  os  cdiYSillos  para  fora  do  trilho?!...  ♦ 

Eu  ia  em  caravana  com  uns  quatro  estudantes  meus  pa- 
trícios, todos  novos  e  vigorosos ;  —  os  cavallos  eram  valentes 
e  portaram-se  bem:  —  os  creados,  também  fortes,  não  esmo- 


1  Veja-se  no  Portugal  antigo  e  moderno  o  meu  artigo  Miragaya,  vol. 
V.,  pag.  256. 

-  V.  Corvaceira,  Miragaya  e  Penajoia  no  Portugal  antigo  e  moderno 
—  e  Penajoia  c  Penajulia  no  indice  do  i  volume. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA.  175 


receram  nem  adoeceram,  e  dós,  para  os  animarmos,  lhes  dá- 
vamos de  comer  e  beber  —  a  valer!  —  Cambaleavam,  canta- 
vam e  riam,  mas  não  cahiam! 

A  jornada  foi  trabalhosa  e  só  passados  três  dias  e  meio 
chegámos  a  Coimbra, 

Também  no  mesmo  anno  de  1854,  mas  na  primavera  e 
por  tempo  mais  doce,  mais  ameno,  —  depois  da  celebre  71io- 
marada  {?...)  —  eu  e  o  meu  patricio  que  Deus  haja  —  António 
Rodrigues  Pinto,  de  Sande,  junto  de  Lamego,  que  foi  juiz  de 
direito  em  Vílla  Real,  etc,  e  falleceu  quasi  de  repente  em 
Mattosinhos,  estando  alli  a  banhos, — fizemos  uma  interessante 
viagem  de  Coimbra  até  Lamego. 

* 

Xós  gastámos  com  o  percurso  três  dias,  mas  só  em  um 
dia  andámos  cerca  de  11  léguas  tolamente  —  parte  em  gericos, 
—  parte  em  cavallos  —  e  as  ultimas  3  a  4  léguas  a  pé  —  desde 
Avellans  de  Caminha  até  á  villa  d' Alva,  onde  pernoitámos, 
chegando  alli  muito  cançados,  muito  fatigados  e  molhados, 
porque  chovia. 

Dissemos  mal  da  nossa  vida  e  ambos  chorámos,  mas  d'ahi 
a  pouco  já  riamos  e  cantávamos?!... 

Nunca  fiz  uma  jornada  assim. 

—  Pôde  vêr-se  detalhada  no  meu  artigo  Villa  Maior,  fre- 
guezia  do  concelho  de  aS'.  Pedro  do  Sul,  que  ad  perpetuam  rei 
memoriam  publiquei  no  Portugal  antigo  e  moderno,  vol.  ii, 
pag.  774  a  776. 

Agora  ahi  vae  uma  ligeira  notici*  da  saudosa  Thoma^ 
rada  supra. 

Depois  diurna  grande  desordem  que  houve  em  Coimbra 
no  carnaval  do  dito  anno  (28  de  Fevereiro  de  1854)  —  de  dia 
e  de  noite  —  entre  a  academia,  o  povo  da  cidade  e  a  tropa  da 
guarnição,  —  a  academia  resolveu  ir  toda  em  massa  e  com  as 
suas  vestes  próprias  a  Lisboa  pedir  ao  governo  a  transferencia 
da  Universidade — de  Coimbra  para  outra  qualquer  cidade. 

Eífectivamente  partiu  para  Lisboa  na  quinta-feira  imme- 
diata  —  e  eu  a.companhei-a,  por  ser  chefe  do  movimento  o 
distincto  académico  meu  patricio  —  Manoel  pinto  d'' Araújo, 
de  Lamego  —  ou  antes  da  minha  Penajulia  ou  Penajoia,  onde 
nasceu,  e  d'onde  em  tenra  edade  passou  para  Lamego  com  os 
pães,  que  foram  alli  negociantes. 

Fomos  até  á  cidade  nabôa  de  Thomar,  onde  rindo  e  fla- 


176  TENTATIVA    ETYMOLOGUCO-TOPONYMICA 


neando  nos  demorámos  oito  dias,  dispostos  a  seguir  pelo  Tejo 
para  Lisboa,  d'onde  volvemos  a  Coimbra  por  capitulação  com 
o  governo  — capitulação  lionrosissiwa  para  nós  —  pois  o  gover- 
no, para  nos  acalmar  e  lisonjear,  tratou-nos  sempre  cow.  o 
máximo  respeito  e  com  a  maior  longanimidade  e  generosidade, 

—  Prometteu-nos  demitir  —  como  demittiu  —  o  adminis- 
trador e  o  governador  civil  de  Coimbra  e  o  reitor  da  Univer- 
sidade, —  amnistiou  logo  todos  os  estudantes  da  rebellião  que 
o  reitor  e  conselho  dos  decanos  da  Universidade  —  na  ausên- 
cia da  academia — já  tinham  riscado.  ^ 

Também  o  governo  mandou  a  Tliomar  o  chefe  d'aquelle 
districto  (Leiria)  para  dar  aos  estudantes  que  acceitassem  a 
capitulação  —  passaportes  e  o  dinheiro  que  pedissem  para  a  via- 
gem  —  o  que  tudo  aquelle  magistrado  cumpriu  muito  delica^ 
damente  e  sem  a  mimma  reluctancia  na  casa  dos  nossos  dire^ 
dores  e  na  presença  d^elles. 

Collocou  sobre  uma  mesa  algumas  folhas  de  papel,  onde 
os  convencionados  muito  simplesmente  escreviam  os  seus  no- 
mes e  íis  cifras  que  pretendiam — cifreiS  qne  p7'om2)tamente  e 
7nuito  delicadamente  — sem  a  minima  observação — lhes  eram  da- 
das por  offi-ciaes  do  dito  governador  civil,  que  o  acompanharam. 

Eu  estava  attonito  com  tanta  generosidade  e  disse  cá 
para  os  meus  botões  e  para  o  académico  meu  patrício  — 
António  Rodrigues  Pinto^  supra :  —  O  governo  tem  de  receber 
este  dinheiro  —  ou  de  nós  ou  dos  nossos  pães;  mas,  para  sa- 
borearmos a  fructa  que  era  tentadora  —  libras  e  só  libras,  mui- 
tas libras!  —  resolvemos  eu  e  elle  marcar  também  no  papel — 
uma  libra  cada  um  —  verba  minima. 

Fomos  muito  generosos,  porque  felizmente  nem  da  pobre 
libra  precisávamos  para  o  regresso  a  Coimbra,  mas  houve  tal 
que  —  menos  tímido  e  menos  escrupuloso  —  pediu  e  recebeu 
dez  libras. 

O  governo  gastou  com  a  brincadeira  bastantes  libras, 
porque  eram  muitos  —  talvez  mais  de  400  —  ainda  então  os 
convencionados. 

Eu  muito  desejava  ir  de  Thomar  para  Lisboa  e  cheguei 
a  pedir  o  passaporte,  mas  não  pude  obtel-o,  porque  o  santo 
governador  civil  muito  delicadamente  me  observou  que  no 
momento  não  podia  dar  para  Lisboa  mais  passaportes,  pois  já 
tinha  dado  muitos  naquelle  dia  e  o  empenho  do  governo  era 


1    Ao  tempo— se  bem  me  recordo— já  tinham  riscado  22  académicos 
e  por  certo  iriam  mais  longe  ?  !. . . 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  177 


obstar  a  que  entrasse  em  Lisboa  a  academia  junta  ou  incor- 
porada, mas  que  no  dia  seguinte  de  bom  grado  me  attenderia. 

Regressei,  pois,  directamente  a  Coimbra  com  muitas  sau- 
dades de  Thomar,  porque  os  bondosos  thomarenses  —  honra 
lhes  seja! — nos  penhoraram  com  attençòes,  bem  como  a  coda 
a  academia,  e  nos  trataram  esplendidamente  grátis  durante 
aquelles  oito  dias. 

Também  o  governo  concedeu  aos  académicos  da  rebelliáo 
—  e  somente  a  estes? /! !..,  —  pela  letra  da  convenção  —  30 
dias  de  feriados  —  e  ainda  posteriormente  mais  feriados,  incor- 
porando nas  férias  do  Entrudo  as  de  Paschoa,  pelo  que  eu  e 
a  maior  parte  dos  convencionados  ou  da  rebellião  fomos  gosar 
o  fartote  das  férias  com  as  nossas  familias. 

Ao  dito  passeio  da  academia  até  á  nabôa  cidade  de  Tho- 
mar  deram  os  académicos  o  nome  de  thomarada. 

Eu  podia  dedicar-lhe  um  grande  folheto,  aproveitando  as 
minhas  saudosas  reminiscências  e  o  que  disse  d'ella  o  sr.  Joa- 
quim 3/artins  de  Carvalho  no  seu  interessante  livro  :  —  Apon- 
tamentos para  a  Historia  Contemporânea^  pag.  241  a  248. 

* 
*      * 

Só  a  biographia  de  Manoel  Pinto  d' Araújo,  bacharel  for- 
mado em  Direito  e  bacharel  em  Theologia,  promotor  e  dire- 
ctor principal  da  celebre  thomarada,  pelo  que  foi  cognominado 
Samuel  Geíb^  ^  podia  dar  um  livro,  —  E  seria  bastante  volu- 
moso comprehendendo  os  artigos  de  fogo  que  publicou  em  dif- 
ferentes  jornaes  contra  gregos  e  troganos,,,  justificando  o 
movimento  da  academia. 

Davam  também  um  largo  capitulo  os  discursos  de  fogo 
que  pronunciou  na  camará  dos  deputados  contra  o  governo^, 
tomando  só  com  um  d'elles  t7'es  sessões  completas,  —  não  obs- 
tante receber  no  fim  da  primeira  alguns  bofetões  ou  empur- 
rões do  sr.  Guilhermino  de  Barros,  seu  velho  amigo  e  contem- 
porâneo em  Coimbra,  então  deputado  governamental. 

Pinto  d' Araújo,  na  sua  estreia  como  deputado_,  em  breves 
dias  conquistou  na  camará  logar  distincto  entre  os  deputados 
da  opposição,  e  a  elle  se  deve  o  serem  annuUadas  as  eleições 


^  Foi  assim  cognominado,  porque  parece  ter  lido  o  romance  Deus 
Dispõe  (?),  no  qual  se  descreve  uma  rebellião  muito  semelhante  da  acade- 
mia de  Heidelberg,  na  Allemanha,  —rebellião  promovida  e  muito  bem  di- 
rigida pelo  académico  Samuel  Gelb. 


12 


178  TENTATIVA  ETYMOLOaiOO"  TOPON YMIC A 


do  districto  de  Villa  Real,  que  elle  denominou  —  eleições  da 
mocada.  ^ 

Com  isto  muito  lisonjeou  e  penhorou  o  par  do  reino,  ex- 
cellente  pessoa  e  grande  capitalista  —  Francisco  José  da  Silva 
Torres —  que  o  ficou  adorando  e  o  levaria  ás  nuvens,  se  Pinto 
d' Arauto  fosse  mais  prudente. 

Elle  era  muito  sympathico,  muito  illustrado,  muito  tra- 
ctavel  e  orador  distincto,  mas  o  seu  génio  exaltado  per* 
deu'0 !.., 

Quando  chegou  a  Lamego  depois  de  formado,  era  alli  então 
juiz  de  direito  o  dr.  Januário  Teixeira  Leite  de  Cast7'o,  homem 
também  muito  enérgico,  bastante  rico  e  bem  aparentado,  pelo 
que  pouco  se  importava  com  as  leis. 

Já  tinha  sido  guerrilheiro  e,  sendo  juiz  em  Faro,  —  bateu 
com  um  chicote  no  governador  civil  do  districto  em  plena  riia, 
indo  o  governador  em  um  trem  descoberto,  acompanhado  da 
esposa  (?!...)  —  e  o  juiz  passeando  a  cavallo,  em  direcção 
opposta. 

A  biographia  do  tal  juiz  dava  também  um  livro  interes- 
sante!, . . 

Estava  elle  ancioso  por  conhecer  o  Pinto  d' Araújo,  pelo 
que,  apenas  o  viu  em  Lamego,  abraçou-o  e  felicitou-o  pelas 
suas  campanhas  de  Coimbra^  etc,  concluindo  por  dizer-lhe  que 
abrisse  banca  d'advogado» 

O  Araújo  agradeceu  tanta  amabilidade,  mas  dissé-lhe  que 
precisava  de  praticar  algum  tempo. 

—  «Eu  sei  que  é  um  talento  superior  e  muito  illustrado, 
pelo  que  não  necessita  de  pratica — lhe  retorquiu  o  bom  juiz, 


1  Denominou-as  assim,  por  ter  a  opposição  apprehendido  uma  carta 
do  governador  civil  de  Villa  Real  para  o  governo  ou  para  um  amigo  seu, 
—  carta  em  que  affiançava  o  vencimento  das  taes  eleições,  ainda  que  fosse 
á  mocada  !. . . 

Fez  sensação  a  dita  carta,  porque  o  Pinto  d' Araújo  não  só  a  leu  na 
camará,  mas  publicou-a  em  differentes  jornaes. 

As  ditas  eleições  da  mocada  tiveram  logar  em  1862  ou  1863,  sendo 
presidente  de  ministros  o  snr.  duque  de  Loulé  —  e  já  nas  ditas  eleições  o 
sr.  Torres  foi  chefe  da  opposição  em  todo  o  districto  de  Villa  Real,  — 
bem  como  nas  eleições  que  se  fizeram  no  mesmo  districto  em  substituição 
das  da  mocada. 

O  sr.  Torres  perdeu  a  primeira  campanha  eleitoral,  mas  ganhou  a  se- 
gunda. 

Elle  gastou  muito  dinheiro,  mas  levou  de  vencida  o  sr.  duque !. . . 

Foi  um  capricho  e  uma  questão  de  familia,  porque  a  sr.»  condessa  da 
Azambuja  —  D.  Maria  d' Assumpção  Ferreira,  enteada  do  sr.  Torres,— 
era  esposa  do  sr.  conde  á' Azambuja,  filho  do  sr.  duque  de  Loulé  supra. 


TENTATIVA    ETYMOLOOICO-TOPONYMTCA  179 


accrescentando  :  —  Estabeleça-se  e  deixe  o  resultado  por  mi' 
nha  conta.y> 

O  Araújo  abriu  logo  banca  de  advogado  e,  como  o  juiz 
o  adorava  cegamente  e  cegamente  o  attendia  e  favorecia  em 
tudo,  —  os  litigantes  e  consulentes  todos  rapidamente  deixa- 
ram em  paz  e  ás  moscas  todos  os  outros  advogados  de  Lame- 
go, entulhando  o  escriptorio  do  Pinto  d'ArauJo. 

Apurou  este  —  como  estreia  —  no  seu  primeiro  anno  de 
advocacia,  talvez  mais  de  três  contos  de  réis  —  caso  rarissimo 
em  Lamego! 

Como  era  muito  favorecido  pelo  juiz,  augmentou  espan- 
tosamente a  sua  clientella  e  não  se  descuidou  em  elevar  tam- 
bém espantosamente  a  sua  tabeliã. 

O  Araújo  tinha  a  sua  fortuna  feita,  acompanhando  o  men- 
cionado juiz  e  conservando-se  nas  boas  graças  d'elle ;  mas  um 
bello  dia  —  não  sei  porque  —  indispozeram-se  e  não  mais  se 
congraçaram. 

O  Pinto  d^ Araújo —  mesmo  no  tribunal  —  em  um  discurso 
de  fogo,  lhe  arrancou  a  pelle  —  e  dirigiu  ao  tribunal  da  Re- 
lação do  Porto  um  requerimento  de  fogo  também  contra  o  mesmo 
juiz,  apontando  muitas  faltas  d^elle,  todas  bem  documentadas, 
e  pedindo  providencias  terminantes. 

O  juiz  pouco  se  importou  com  as  advertências  da  Pelação, 
mas  vingou-se  do  ^7*a2(;'o  hostilisando-o  e  desconsiderando-o  no 
foro,  tanto  como  até  alli  o  considerara  e  favorecera. 

Os  litigantes  e  consulentes  fugiram  rapidamente  do  seu 
escriptorio,  deixando-o  em  paz  e  ás  moscas  também,. pelo  que 
o  Araújo  foi  advogar  para  a  villa  da  Regoa,  onde  o  receberam 
muito  bem,  mas  certo  dia,  no  próprio  tribunal  —  atirou  com  um 
tinteiro  á  cara  do  juiz? /.  . .  — Este  desviou  se  à  tempo.  Nem 
ferido  íicou^  e  foi  tão  generoso,  que  lhe  perdoou,  mas  com  a 
condição  de  abandonar  a  comarca. 

Passou  para  a  de  Alijó,  onde  viveu  alguns  annos  e  muito 
se  distinguiu  como  advogado  e  orador,  pelo  que  o  elegeram 
deputado  por  aquelle  circulo.  * 

Foi  então  que  nas  camarás  se  immortalisou,  como  já  dis- 
semos, e  captou  as  boas  graças  do  digno  par  do  reino,  —  o  sr. 
Francisco  José  da  Silva  Torres — grande  capitalista,  muito  hon- 
rado e  muito  bondosOj  —  absolutamente  o  primeiro  proprieta- 


^    Foi  eleito  pela  opposição  e  com  a  protecção  do  sr.  Torres,  nas  taes 
eleições  da  mocada. 


180  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


rio  do  Douro  —  e  o  primeiro  negociante  de  vinhos  da  praça  do 
PortOy  durante  muitos  annos  ?  / . . . 

Foi  sua  ex.a  o  segundo  marido  da  sr.»  D.  Antónia  Ade- 
laide Fei^reira  e,  por  consequência  representante  da  casa  Fer- 
reirinha  c?a  i^g^/oa -^  absolutamente  a  mais  poderosa  e  mais 
rica  ao  norte  do  nosso  paiz  até  hoje^  avaliada  na  bagatella  de 
seis  a  oito  mil  contos  — muito  sólidos  ?! . , , 

Veja-se  o  volume  l.^,  pag.  289,—  e  no  Portugal  antigo 
e  moderno  o  meu  longo  artigo  Villa  Real  de  Traz-os- Montes ^ 
vol.  XI,  pag.  1:013,  col.  i.^. 

Sendo  annulladas  as  ditas  eleições  da  mocada,  procedeu- 
se  a  novas  eleições  no  districto  de  Villa  Real. 

O  governo  esforçou-se  por  vencei- as,  mas  o  sr.  Torres  não 
costumando  ingerir-se  na  politica,  d'esta  vez  —  para  saldar 
certas  contas  com  o  governo  —  declarou-lhe  abertamente  oppo- 
sição  em  todo  o  districto  de  Villa  Real?/.    , 

Gastou  muito  dinheiro^  mas  teve  a  gloria  de  vencer  as 
eleições  e  derrotar  o  governo  em  todo  o  distncto?!... 

Gastou  na  dita  campanha  talvez  mais  de  600  contos!... 

Sendo  a  producçáo  dominante  no  districto  de  Villa  Real 
o  vinho  —  e  o  sr.  Torres,  como  já  dissemos, — o  primeiro  nego- 
ciante de  vinhos  da  praça  do  Porto,  —  para  lisonjear  os  grandes 
proprietários  do  districto  comprou-lhe  o  vinho,  —  talvez  mais 
de  8  mil  pipas,  pelo  que  no  dito  anno  juntou  nos  seus  grandes 
armazéns  do  Douro  e  de  Villa  Nova  de  Gaya  —  cerca  de  vinte 
mil  pipas  de  bello  Port-  Wine  —  e  sem  tremer,  nem  por  som- 
bra?!... 

Náo  exagero,  porque  o  deposito  de  vinhos  do  sr.  Torres 
costumava  ser  de  15  a  16  mil  pipas  de  bello  Po)'t-  Wine,  todo 
colhido  nas  suas  vastas  quintas  do  Douro  que,  antes  de  se 
manifestarem  as  muitas  doenças  das  videiras,  produziam  cerca 
de  2:500  pipas  de  vinho  por  anno,  pelo  que  não  costumava 
comprar  vinhos  estranhos.  —  Por  excepção  os  comprou  no 
dito  anno  das  duas  campanhas  eleitoraes. 

O  seu  deposito  de  vinhos  era  muito  grande  —  o  maior 
do  Douro  e  de  Villa  Nova  de  Gaya  —  mas  tinha  muito  cre- 
dito e  muito  bons  freguezes.  —  Vendeu  muitos  lotes  de  vinho 
de  1:000  a  3:000  pipas  —  e  um  de  4:000  pipas  para  certa 
casa  de  Londres,  —  todo  de  preço  superior  a  1008000  réis  a 

Fallecendo  o  sr.  Torres  em  1880,  instituiu  herdeira  uni- 
versal a  sr.*  D.  Antónia  Adelaide  Ferreira,  sua  idolatrada  es- 
posa —  e  por  fallecimento  d'ella  em  1896,  foram  seus  herdei- 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  181 


ros  universaes  os  seus  dois  únicos  filhos  —  o  sr.  António  Ber- 
nardo Ferreira  e  a  irmã  —  sr."  JJ.  Maria  d' Assumpção  Ferreira^ 
esposa  do  sr.  conde  d'' Azambuja. — De  commum  accôrdo  fun- 
daram estes  uma  companhia  para  administrar  o  seu  grand«^ 
deposito  de  vinhos  que,  por  ser  enorme,  ficou  indiviso. 

Intitula-se  olla :  —  Companhia  Agricola  e  Commercial  dos 
Vinhos  do  Porto  —  a  qual  é  muito  bem  dirigida  e  tem  como 
fiscaes  effeotivos  o  sr.  António  Bernardo  Ferreira  e  o  sr.  con- 
de d'Azammja,  etc,  pelo  que  a  mencionada  companhia  sus- 
tenta com  firmeza  o  credito  e  o  prestigio  da  grande  casa 
Torres  —  ou  da  sr.»  D.  Antónia  Adelaide  Ferreira, 

* 
*      * 

O  deposito  de  vinhos  da  mencionada  companhia  —  se- 
gundo me  informam  pessoas  competentes  —  ainda  hoje  (1907) 
monta  a  16:CXX)  pipas  de  hello  Port-Wine,  —  e  também  já  tem 
vendido  lotes  de  3  a  4  mil  pipas  de  vinho  —  de  réis  808000 
a  tim  conto  e  novecentos  mil  réis  —  cada  pipa?!. . . 

Note-se  que  a  mencionada  companhia  recebeu  da  opu- 
lenta casa  Ferreirinha  a  sua  frasqueira  de  18'2  pipas  de  pre- 
cioso Port-Wine,  —  todo  de  1810  a  1868  —  e  todo  engarrafado, 
correspondendo  cada  pipa  a  700  garrafas.  —  Total  das  182 
pipas  127:400  garrafas  ?!    . . 

Passou  a  dita  frasqueira  para  a  mencionada  companhia 
da  casa  no  valor  de  400  contos  por  avaliação  particular,  —  ci- 
fra muito  inferior  ao  seu  valor  real. 

O  sr.  Torres  não  a  venderia  talvez  por  600  contos. 

Era  e  é  absolutamente  a  maior  e  melhor  frasqueira  do 
Douro,  do  Porto ^  de  Villa  Nova  de  Gaya  —  e  talvez  do  mundo 
inteiro  ?/... 

A  mencionada  companhia  vende  cada  garrafa  da  dita 
frasqueira  por  400  réis  ató  20$000  réis  —  e,  correspondendo 
cada  pipa  de  vinho,  como  já  dissemos,  a  700  garrafas,  cor- 
responde o  vinho  da  frasqueira  a  210$000  réis  —  até  14  con- 
tos deveis,  cada  pipa?t... 

Desculpem  os  nossos  poucos  leitores  tantas  digressões,  e 
prosigamos. 

Certo  dia,  quando  o  sr.  Torres  já  tinha  bem  disposta  a 
segunda  campanha  eleitoral  em  substituição  das  celebres  elei» 
ções  da  mocada,  e  tratava  de  propor  deputados  pelos  differen- 
tes  circules  do  districto  de  Villa  Real,  perguntou-lhe  o  Pinto 
d^ Araújo  quem  tencionava  propor  pelo  circulo  da  Regoa  f 


182  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


—  O  dr.  José  Júlio  d' Oliveira  Pinto  ^  —  lhe  disse  franca- 
mente o  sr.  Torres, 

— Pela  Regoa  —  eu!  —  lhe  retorquiu  seccamente  o  Araújo. 

Observou-lhe  muito  brandamente  o  sr.  Torres  —  que  já 
tinha  compromissos  com  o  desditoso  José  JuliOj  a  quem  devia 
relevantes  serviços  e  que,  sendo  natural  da  viila  de  Barquei- 
ros, pertencia  ao  mesmo  circulo  da  Regoa  ;  mas  que  podia  o 
Araújo  estar  certo  de  que  seria  eleito  deputado  por  outro 
qualquer  circulo  do  districto  de  Villa  Real,  em  questão. 

Lembrou-lhe  s.  ex.*,  por  exemplo,  o  circulo  à^ Alijó,  — 
circulo  que  tão  distinctamente  já  tinha  representade  nas  cor- 
tes e  que  podia  representar  novamente,  o  que  lhe  era  muito 
honroso. 

•  «Demais  a  mais  —  aQcrescentou  ainda  muito  branda- 
mente s.  ex.a  —  o  sr.  Pinto  d^ Araújo  não  é  filho  da  Regoa, 
mas  de  Lamego.» 

—  Pela  Regoa  —  euf — disse  novamente  e  bruscamente 
o  Araújo,  accrescentando : 

—  «Se  V.  ex.*  deve  serviços  ao  José  Júlio,  também  os 
deve  a  mim  —  e  quando  v.  ex.*  não  me  proponha  deputado 
pela  Regoa  —  vou  eu  propôr-me  !  )^  —  e  retirou-se  mal  humo- 
rado. 

Ficou  attonito  e  muito  magoado  o  sr.  Torres,  por  ser 
muito  amigo  do  Araújo  e  ter  vivo  desejo  de  o  ver  nova- 
mente na  camará  dos  deputados. 

Empregou  todos  os  meios  para  o  trazer  a  bom  accordo, 
chegando  até  a  nomear  uma  commissão  d'amigos  para  verem 
se  o  Araújo  cedia,  —  mas  não  cedeu! 

Propoz-se  effectivamente  deputado  pela  Regoa,  onde  ao 
tempo  —  á  sombra  do  sr.  Torres — era  muito  estimado  e  con- 


1  Foi  s.  ex.a  meu  contemporâneo  e  do  Araújo  em  Coimbra,  excel- 
lente  pessoa,  um  dos  primeiros  talentos  da  Universidade  no  seu  tempo, 
deputado  ás  cortes,  director  geral  do  ministério  dos  negócios  ecclesiasti- 
cos,  etc. 

Promettia  longo  futuro,  mas,  sendo  deputado,  foi  morto  em  um 
duello  nos  arrabaldes  de  Lisboa  por  causa  de  certa  semsaboria  nas  cama- 
rás. 

Ainda  vive  no  Douro,  na  sua  bella  casa  da  Ermida,  o  conselheiro 
António  Camiílo  d' Almeida  Carvalho,  também  meu  contemporâneo  em 
Coimbra  e  meu  bom  e  velho  amigo  que,  sendo  então  deputado  também, 
-r  foi  um  dos  padrinhos  át  José  Júlio  no  duello  que  o  matou  ?  I. . . 

Veja-se  o  meu  pobre  folhetim  n.o  80— -e  no  Portugal  antigo  e  mo- 
derno o  meu  longo  artigo  Zêzere,  (Santa  Marinha  do)  freguezia  do  con- 
celho de  Baião,  — \o\.  xii,  paginas  2:115,  onde  mencionei  o  tal  duello?!... 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  183 


siderado,  mesmo  porque  era  o  director  e  principal  redactor 
d'um  jornal  de  combate  que  havia  montado  na  Regoa.  ^  Mas, 
logo  que  o  viram  a  hostilisar  o  sr.  Torres  com  tanta  ingrati- 
dão,—  todos  lhe  voltaram  as  costas,  deixando-o  em  paz  e  d* 
moscas  —  e  ficou  estatelado  na  votação. 

Perdeu  Pinto  d^ Araújo  a  valiosa  protecção  do  sr.  Torres  ; 

—  não  mais  foi  deputado;  —  volveu  para  a  advocacia  —  e 
morreu  pobre  no  hospital  da  Ordem  do  Terço,  aqui  no  Porto^ 
ha  bastantes  annos. 

De  todos  os  meus  patrícios  contemporâneos  foi  o  que 
mais  prometteu. 

Podia  conquistar  fortuna,  — ser  muitas  vezes  deputado, 

—  conselheiro,  embaixador,  titular,  ministro  d'estado  e  até 
presidente  de  ministros,  mas  por  ser  tão  desiquilibrado,  pas- 
sou a  maior  parte  da  vida  obscuramente  e  morreu  pobre- 
mente. 

Assim  acabou  o  tão  decantado  Samuel  Geíb, 
—  A  terra  lhe  seja  leve  !... 

O  Manoel  Pinto  d^Aranjo,  com  o  seu  altivo  e  desiquili- 
brado  génio  perdeu-se  e  perdeu  também  o  seu  único  irmão 

—  Joaquim  Pinto  d* Araújo  —  que  também  era  bastante  illus- 
trado,  muito  valente  e  ainda  mais  desiquilibrado!..  . 

As  coisas  passaram-se  pouco  mais  ou  menos  assim : 

O  sr.  Torres,  quando  se  envolveu  na  grande  campanha 
eleitoral  contra  o  governo  em  todo  o  districto  de  Villa  Real, 
montou  na  Regoa  um  jornal  de  combate,  de  que  foi  director 
e  principal  redactor  o  Manoel  Pinto  d^Aravjo  —  e  administra- 
dor o  seu  irmão  Joaquim  Pinto  d^ Araújo  —  então  muito  va- 
lente e  de  pelle  diabi  ?  / . . .  ^ 

O  governo  mandou  para  a  Regoa  bastante  tropa  —  e  o 
administrador  do  concelho  armou  os  cabos  e  organisou  ma- 
gotes de  caceteiros. 

Receando  o  sr.  Torres  que  fosse  de  dia  ou  de  noute  as- 
saltada a  casa  da  typographia  e  da  redacção  do  jornal,  órgão 
seu,  transformou-a  em  uma  pequena  praça  de  guerra. 

Mandou  chapear  com  ferro  as  portas  ;  —  deu  boas  armas 
de  fogo  aos  typographos  e  a  todo  o  pessoal  da  casa ; — muitas 


1    Logo  fallaremos  do  dito  jornal,  porque  a  certos  respeitos  —  fo 
talvez  único  em  Portugal  até  hoje  /. . . 

Refiro-me   ao  Jornal  do   Douro,  montado  na  Regoa  pelo  Pinto 
d' Araújo,  mas  com  o  dinheiro  do  sr.  Torres. 

^    Veja-se  a  nota  explicativa,  supra. 


184  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


granadas  de  mão  —  e  foguetões  para  lançarem  como  aviso, 
quando  se  desse  o  assalto. 

Armou  também  centenares  dos  matulas  mais  vigorosos 
dos  seus  armazéns  e  dos  jornaleiros  das  suas  quintas  mais 
próximas  da  Regoa,  devendo  todos  marchar  em  defeza  da 
casa  da  redacção  e  da  typographia  do  jornal,  apenas  ouvis- 
sem os  taes  foguetões. 


Note-se  que  o  Joaquim  Finto  d' Araújo,  administrador  do 
jornal  e  governador  da  pequena  praça  de  guerra^  — já  tinha 
sido  militar,  mas,  pelo  seu  génio  turbulento,  não  fez  carreira, 
pois  durante  o  seu  tempo  de  praça  respondeu  a  vários  conse- 
lhos de  guerra! 

Julgo  que  em  Portugal  nunca  tivemos  uma  redacção  e 
uma  typographia  tão  bem  fortificadas  e  defendidas. — Nunca 
foram  assaltadas  e  correria  muito  sangue  se  as  assaltassem  ! .  . . 

Joaquim  Pinto  d* Araújo  estava  no  seu  elemento  e  anciava 
por  ter  occasião  de  jogar  a  vida  em  defeza  do  seu  redactor  e 
do  sr.  Torres. 

Certa  noite  foi  elle  á  formosa  quinta  das  Nogueiras^ 
onde  morava  o  sr.  Torres,  junto  da  Regoa,  quando  a  lucta  es- 
tava mais  accesa.  —  No  regresso  encontrou  junto  da  villa  um 
bando  dos  taes  caceteiros  e  cabos  de  policia  que  lhe  ordena- 
ram fizesse  alto ;  —  elle,  porém,  metteu  o  cavallo  a  todo  o 
galope  e  seguiu. 

Os  taes  senhores  dispararam  sobre  elle  alguns  tiros,  mas 
por  fortuna  as  balas  não  o  attingiram. 

Foi  direito  á  casa,  onde  no  momento  estava  reunido  o 
centro  eleitoral  do  sr.  Torres^  na  villa  da  Regoa.  —  Contou 
aos  vogaes  a  occorrencia,  —  transmittiu-lhes  as  instrucções 
que  levava  e  retirou-se ;  mas,  quando  chegou  á  porta  da  rua, 
viu-a  cercada  pelos  desordeiros  que  o  haviam  assaltado  pouco 
antes. 

Como  era  muito  valente  e  andava  sempre  bem  armado^ 
não  se  intimidou,  mas,  apenas  transpoz  o  limiar  da  porta,  os 
taes  desordeiros  metteram  á  cara  duas  clavinas  contra  elle, 
dispostos  a  matal-o  d  queima-roupa! . . . 

—  Valeu-lhe  um  cavalheiro  do  partido  opposto,  mas 
muito  generoso,  que  por  fortuna  alli  appareceu  no  momento 
e,  lançando  as  mãos  ás  clavinas,  disse  aos  taes  bandidos :  — 
Altot  —  Não  se  mata  assim  um  homem!. . . 

Por  estes  e  outros  factos,  o  sr.  Torres  era  também  muito 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  18Õ 


amigo  do  Joaquim  Pinto  d' Araújo,  —  gastou  com  elle  bas- 
tante dinheiro  e  por  certo  o  levaria  longe  e  o  coUocaria  van- 
tajosamente, se  o  irmão  d'elle,  o  Manoel  Pinto  d' Araújo,  fosse 
mais  prudente  e  não  se  revoltasse  tão  levianamente  e  com 
tanta  ingratidão,  como  já  dissemos,  contra  o  sr.  Torres,  — 
chegando  a  insultal-o  e  a  aggredil-o  no  seu  próprio  jornal. 

Custa  a  crer,  mas  é  facto,  pelo  que  o  Manoel  Pinto 
d' Araújo  se  perdeu  —  e  perdeu  também  o  pobre  irmão  Joa- 
quim Pinto  cV Araújo.  —  Corteu  este  sorte  varia,  mas  sempre 
adversa. 

Foi  director  d'um  coUegio  na  Meda  (?) ;  posteriormente 
foi  aqui  no  Porto  professor  de  ensino  livre  muitos  annos  —  e 
por  ultimo,  estando  já  decrépito,  falto  de  forças,  pobre  e 
doente^  —  foi  assassinado  em  Lisboa  ?  l .  . , 

flinda  a  Thomarada— tópico  interessante 

Manoel  Pinto  d^ Araújo  ficou  muito  satisfeito  com  a  letra 
da  convenção,  receando,  porém,  que  os  lentes  da  Universidade 
fossem  no  fira  do  anno  lectivo  severos  para  com  os  estudan- 
tes convencionados,  formou  uma  associação  secreta  denomi- 
nada Liga  Académica,  muito  semelhante  á  Carbonária,  ^  com- 
posta dos  académicos  mais  enérgicos  e  de  mais  confiança  — 
para  o  que  desse  e  viesse  /.  .  . 

Eu,  por  ser  então  muito  novo  e  uma  completa  nullidade, 
não  fiz  parte  da  dita  associação  —  nem  ella  teve  consequên- 
cias tristes,  porque  os  lentes  foram  muito  benignos,  muito  ge- 
nerosos nos  actos  para  com  os  estudantes  convencionados. 

Eu  só  mais  tarde  tive  conhecimento  da  tal  associação  e 
então  me  lembrei  do  afan  com  que  em  certo  dia,  tendo  de 
fazer  acto  um  dos  estudantes  mais  compromettidos  na  revolta, 
me  convidaram  e  a  muitos  outros  para  irmos  assistir  ao  acto 
e  não  sahirmos  da  sala  sem  vermos  como  o  dito  estudante 
era  tratado  no  exame. 

Eu  fui.  —  A  grande  sala  encheu-se  litteralmente  d 'estu- 
dantes e  com  surpreza  notei  que  todos  conversavam,  berra- 
vam, jogavam  piadas  e  papelotes.  —  Aquillo  era  um  pande- 
monio  infernal! —  Não   se  percebia  o   que  diziam  os  lentes 


1  Veja-se  o  interessante  livro  —  Apontamentos  para  a  Historia 
Contemporânea,  publicado  pelo  saudoso  fundador,  proprietário  e  redactor 
principal  do  Conimbricense,  pag.  241  a  248. 


186  TKNTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


nem  o  examinando  —  só  de  quando  em  quando  se  ouvia  gri- 
tar com  voz  de  estentor  :  —  Ninguém  se  retire  sem  acabar  o  acto  I 

Logo  que  terminou  o  acto  e  vimos  que  o  examinando 
ficou  approvado,  —  todos  nos  acercámos  d'elle,  tumultuosa- 
mente, felicitando-o.  Entretanto  os  lentes  a  custo  foram  sa- 
hindo  por  entre  aquella  turba  magna  d'estudantes. — Nin- 
guém lhes  tocou  nem  os  insultou,  mas,  segundo  mais  tarde 
me  constou,  se  reprovassem  o  tal  estudante,  correria  sangue, 
porque  assim  o  resolvera  a  mencionada  Liga  Académica. 

Note-se  que  os  estudantes  na  occasião  da  grande  desor- 
dem do  carnaval— todos  estavam  desarmados,  mas,  quando  no 
fim  das  grandes  ferias  regressaram  das  suas  terras  a  Coim^ 
hra^  levaram  muitas  armas  de  toda  a  ordem. 


* 
*      * 

Era  aguardado  com  vivo  interesse  por  toda  a  academia 
o  acto  de  Pinto  cC Araújo,  e  não  sei  o  que  succederia,  por  ser 
a  alma  da  revolta, — muito  estimado  pelos  estudantes    todos 

—  e  chefe  da  tal  associação  académica,  espécie  de  Carboná- 
ria, —  Ficámos,  porém,  todos  desapontados,  porque  os  seus 
lentes  se  deram  por  suspeitos  e  se  recusaram  a  examinal-o. 

Queixou-se  elle  ao  reitor  da  Universidade,  pedindo-lhe 
que  nomeasse  outros  lentes  para  o  examinarem,  pois  tinha  o 
seu  anno  provado  e  necessitava  da  formalidade  do  exame  do 
quarto  anno  para  poder  matricular-se  no  quinto  anno  e  con- 
cluir a  formatura  em  Direito, 

Todos  os  outros  lentes  da  faculdade  se  deram  egual- 
mente  por  suspeitos  e  se  recusaram  também. 

Ficou  muito  contrariado,  mas  não  se  deú  por  vencido  o 
Pinto  d* Araújo. 

Foi  a  Lisboa  queixar-se  ao  governo,  pedindo-lhe  que 
obrigasse  os  lentes  da  Universidade  a  examinal-o  —  ou  que  o 
mandasse  examinar  em  Lisboa  por  quaesquer  jurisconsultos, 
pois  tinha  o  seu  4.o  anno  provado  e  só  lhe  faltava  a  mera 
formalidade  do  exame,  para  poder  matricular-se  no  5.°  anno 
e  concluir  a  formatura. 

O  governo,  attonito  com  semelhante  occorrencia  —  orde- 
nou ao  reitor  da  Universidade  que  o  matriculasse  xio  5.°  anno 

—  sem  o  acto  do  anno  antecedente, —  caso  raríssimo  e  talvez 
único  nos  annaes  da  Universidade,  depois  da  reforma  de  1772. 

Assim  se  matriculou   no  5.°  anno  e  o  frequentou,  mas, 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  187 


quando  tinha  de  fazer  acto, — novamente  se  recusaram  a  exa- 
minal-o  os  seus  lentes  e  todos  os  lentes  da   Universidade. 

O  Pinto  d^Araicjo  clamou  e  gritou  como  possesso,  de  viva 
voz  e  pela  imprensa. — Volveu  a  Lliboa,  queixando-se  nova- 
mente ao  governo — e  julgo  que  ao  próprio  rei  D.  Pedro  V, 

O  governo  deu  instrucções  terminantes  ao  reitor  da  Uni- 
versidade para  que  os  lentes  de  Direito  examinassem  o  sup- 
plicante. 

Post  tot  tantosque  labores,  o  Pinto  d^ Araújo  fez  acto  do 
seu  4.°  e  5.°  annos  de  Direito  —  7io  mesmo  dia,  ficando  appro- 
vado  em  ambos. 

Foi  extraordinária  a  concorrência  e  todos  concordaram 
em  que  fez  dois  actos  muito  bons. 

* 
♦     * 

Antes  de  deixar  Coimbra,  onde  passei  o  melhor  tempo 
da  minha  já  tão  longa  vida,  consignarei  aqui  mais  algumas 
reminiscências  do  tempo  da  minha  formatura  — 1851  a  1856. 

Qaauto  a  feriados,  que  são  a  fructa  mais  mimosa  para  os 
estudantes  todos,  mormente  para  os  cabulas  como  eu  era  — 
desculpem  a  franqueza  ^  —  ainda  mencionarei  mais  alguns 
obtidos  de  modo  estranho — além  dos  da  thomarada  —  desde 
o  principio  das  férias  d'entrudo  até  o  fim  das  férias  de  Pas- 
choa. 

Uma  bella  noite,  estando  a  academia  toda  (suppunhá- 
mos)  já  entregue  aos  seus  labores  e  alinhavando  as  lições  para 
o  dia  seguinte,  não  ouvimos  o  metálico  som  da  cabra  —  sino 
da  Unicersidade,  que  á  hora  do  estylo  annunciava  sempre 
como  dia  d'aula  o  dia  seguinte. 

Ficou  attonita  a  academia  toda  e,  sendo  véspera  d'aula, 
foram  os  estudantes  todos  para  as  janellas  e  muitos  d'elles 
para  as  ruas,  gritando:  —  Bravo,  bravo  !  —  Temos  amanhã  fe- 
riado ! .  . . 

Assim  foi,  mas  ninguém  esperava  semelhante  feriado  ca- 
hido  das  nuvens.  Só  no  dia  seguinte  se  explicou  tão  estra- 
nha occorrencia. 


1  Cabulei  muito  e  estudei  pouco,  mas  nenhum  dos  meus  contem- 
porâneos se  formou  em  menos  tempo,  como  já  disse,  pois  chegando  eu  a 
Coimbra  com  os  reles  preparatórios  de  Lamego,  em  Junho  de  1851,— em 
Junho  de  1856  concluí  a  formatura  em  Theologia  —  sem  um  R  —  com  to- 
dos os  preparatórios  da  faculdade  de  D/rc/Yo -— accrescendo  os  dois  exa- 
mes de  grego  e  de  hebraico. 


188  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


A'  hora  do  estylo,  quando  o  servente  do  guarda-mór  ia 
com  as  chaves  próprias  abrir  a  porta  da  torre  para  tocar  o 
sino,  chamado  cobra,— sl  despeito  de  todos  os  seus  esforços 
não  pôde  abrir  a  fechadura.  —  Foi  participar  tão  estranho 
caso  ao  guarda-mór,  que  ficou  também  surpreso  e  de  salto 
correu  a  esgarafanchar  ou  escarafunchar  ou  escravelhar  na 
fechadura,  mas  também  não  conseguiu  abril-a. 

Foi  logo  procurar  o  reitor  da  Universidade  e  expoz-lhe 
tão  extranha  occorrencia,  dizendo  que,  mandando  s.  ex.*,  elle 
ia  arrombar  a  porta ! 

O  reitor  ficou  também  attonito  e,  consultando  o  relógio, 
viu  que  a  hora  do  estylo  já  tinha  passado !  —  Limitou=se  a 
dizer  ao  guarda-mór  que  no  dia  seguinte  mandasse  arrancar 
e  concertar  a  fechadura. —  Só  então  se  viu  que  ella  estava 
entulhada  com  areias  que  certo  estudante  por  brincadeira  lá 
mettera  no  fim  da  tarde  do  mencionado  dia. 

O  guarda-mór  e  o  reitor  não  gostaram  da  brincadeira,  a 
modo  de  bruxaria,  mas  folgou  e  exultou  com  ella  toda  a  aca- 
demia. ^ 

Folgou  e  exultou  ainda  mais  toda  a  academia  com  ou- 
tro feriado  no  inverno  de  1854  para  1 855  —  se  bem  me  re- 
cordo. 

Frequentava  eu  então  o  4.°  anno  e  morava  na  rua  dos 
Estudos,  lado  norte.  — Certo  dia,  sendo  dia  de  aula  e  estando 
eu  ainda  na  cama,  ouvi  grande  sussurro  e  gargalhadas  na  rua. 

Fiquei  attonito,  porque  no  bairro  alto  de  Coimbra  a  taes 
horas  e  em  dias  d'aula  rão  se  tolera  barulho  nem  ruido  se- 
melhante.—  O  facto  era  anormal,  pelo  que  saltei  logo  fora  da 
cama  e  fui  das  janellas  ver  o  que  se  passava  na  rua. 

—  Estava  toda  entapetada  ou  atapetada  de  neve  —  caso 
estranho  em  Coimbra ! 

—  Vesti- me  a  correr  e  fui  logo  para  a  Universidade,  pa- 
tinhando sobre  a  neve,  que  alli  era  um  pouco  mais  alta  ainda, 
por  ser  o  ponto  mais  alto  de  Coimbra. 

O  terreiro  da  Universidade,  ao  tempo  ainda  não  ajardi- 
nado, como  hoje,  estava  todo  litteralmente  coberto  por  uma 
densa  camada  de  neve  e  já  n'elle  patinhavam  centos  d'estu- 
dantes,  rindo  e  folgando  loucamente. 

Lembraram- se  alguns  de  fazerem  grandes  bolas  de  neve^ 


1  No  meu  tempo  ainda  em  Coimbra  o  povo  acreditava  em  bru- 
xas, feiticeiras  e  Uibisomes  ou  lobishomens,  como  tive  occasião  de  saber. 
Logo  contarei  o  caso. 


TENTATIVA    ETYMOLOOICO-TOPONYMICA  189 


rodando  com  ellas  em  diíferentes  direcções  sobre  o  dito  largo 
e  com  ellas  entulharam  a  Porta  Férrea  e  o  cimo  das  Enca- 
das  de  Minerva^  —  as  duas  entradas  únicas  para  o  Pacp  dos 
Estudos. 

—  Sehastopolisemos  a  Universidade/ —  gritavam  elles,  re- 
ferindo-se  á  guerra  da  Cinméa  que  então  se  feria,  avultando 
n'ella  a  grande  praça  de  SebastopoL 

Fechámos  effectivamente  as  duas  portas  com  grandes 
bolas  de  nece  —  e  com  outras  também  de  neve,  mais  peque- 
nas, a  modo  de  balas  ou  granadas  de  mão.,  defendemos  va- 
lentemente as  barricadas  l  —  Nào  mais  entrou  pessoa  alguma 
para  a  Universidade, —  nem  lentes,  nem  estudantes  —  nem  os 
cavalheiros  e  senhoras  convidados  para  assistirem  ao  acto  ma- 
gno de  certo  doutorando  que  devia  tomar  capello  no  tal  dia. 

Dentro  da  praça  da  lusa  Sebastopol  —  ficariam  talvez  ò(X> 
estudantes  —  e  eu  com  elles  —  sem  nos  importarmos  com  as 
aulas  nem  subirmos  para  a  Via  Latina. 

*      * 

O  reitor,  que  já  estava  na  secretaria^  por  causa  da  festa 
do  capello,  mandou  por  alguns  archeiros  —  mtmidos  d^ enxa- 
das ?  / . . .  desobstruir  a  Porta  Férrea,  mas  nós  disparámos 
contra  elles  tal  chuveiro  de  balas  de  neve,  que  os  pobres  ar- 
cheiros logo  bateram  em  retirada,  dando  ao  diabo  os  estu- 
dantes e  a  cardada! 

Assomou  então  á  porta  da  secretaria  da  Universidade  o 
bondoso  velho  secretario  Vicente  de  Vasconcellos  —  clamando 
e  animando  os  pobres  archeiros,  mas  nós  com  outra  descarga 
de  balas  de  neve,  dirigida  contra  a  dita  porta,  obrigámos  o 
santo  velho  a  fechal-a. 

O  reitor,  vendo  que  os  estudantes  não  cediam  e  não  po- 
dia realisar-se  a  funcção  do  capello,  mandou  dizer-nos  que 
nos  dava  feriado  n'aquelle  dia  e  nos  retirássemos. —  Nós  re- 
cebemos a  mensagem  rindo  e  continuamos  firmes  no  nosso 
posto,  defendendo  a  praça  com  toda  a  galhardia. 

Só  retirámos  quando  bem  nos  aprouve,  —  muito  satisfei- 
tos, muito  enlameados  e  com  os  pés  muito  molhados,  porque 
fomos  para  a  dita  campanha  da  nece  com  o  fardamento  do 
estylo  académico  :  —  batinas  curtas, —  meias  de  lã  pretas  —  e 
sapatos  d' entrada  baixa  ?  / . . . 

Depois  que  nos  retirámos  muito  espontaneamente ^  os  po- 
bres archeiros  desobstruiram  a   Porta   Férrea,    amontoando 


190  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


junto  d'ella,  do  lado  exterior,  as  taes  bolas  de  neve,  que  alli 
se  conservaram  alguns  dias  sem  se  derreterem. 

Julgo  que  a  neve  também  poisou  no  bairro  baixo  de 
Coimbra^  pois  indo  eu  por  essa  occasião  ao  alto  da  torre  da 
Universidade y  com  surpreza  vi  os  arrabaldes  de  Coimbra  até 
grande  distancia  todos  cobertos  de  neve. 

filais  leriados 

Em  um  dos  últimos  annos  da  minha  formatura,  o  santo 
José  Ernesto  de  Carvalho  e  Rego,  sendo  então  vice-reitor  da 
Universidade,  foi  em  serviço  official  —  não  sei  agora  bem  por- 
que motivo  — a  Pombal,  onde  se  demorou  apenas  um  dia,  mas 
com  a  ida  e  volta  gastou  três  dias,  porque  ao  tempo  a  linha 
férrea  do  norte  ainda  não  passava  do  Carregado  —  e  elle  foi 
n'um  trem. 

Deixando  o  bastão  da  reitoria  ao  dr.  Bandeira,  lente  e 
decano  da  faculdade  de  Philosophia,  fomos  logo  pedir-lhe 
como  estreia  um  feriado,  que  elle  promptamente  nos  deu.— 
Se  bem  me  recordo  seguiu-se  um  feriado  da  tabeliã  —  e  fo- 
mos pedir-lhe  ainda  outro  feriado  para  o  terceiro  dia  da  sua 
ephemera  governança. —  Recusou-se,  porém,  dizendo  que  ter- 
minava n'aquelle  dia  o  seu  mandato,  porque  no  mesmo  dia 
regressava  de  Pombal  o  dr.  Ernesto, 

Resolvemos  ir  esperar  o  santo  vice-reitor  na  velha  ponte 
de  Coimbra,  onde  devia  passar,  e  alli  nos  demorámos  algum 
tempo,  sentados  nas  guardas  da  ponte. —  Como  s.  ex.»  se  de- 
morasse e  já  tivesse  anoutecido,  comprámos  archotes  e  íômos 
pela  estrada  de  Lisboa  em  marcha  aux  flambeaux  esperal-o. 

Surprehendemol-o  e  á  sua  comitiva  um  pouco  além  do 
convento  de  Santa  Clara. —  Demos-lhe  respeitosamente  as, 
boas  vindas  e  pedimos-lhe  o  feriado. 

Ficou  s.  ex.*  attonifo  e  prometteu  consultar  o  governo 
pelo  telegrapho  logo  que  chegasse  a  Coimbra. 

Apenas  regressámos,  dirigimo-nos  em  grande  numero 
para  a  porta  da  casa  d- elle  na  rua  da  Alegria,  com  alguns 
instrumentos,  e  alli  estivemos  algum  tempo  dançando,  to- 
cando e  aguardando  o  telegramma.  Eis  que  appareceu  de 
repente  uma  força  d'infanteria  que  muito  delicadamente  pas- 
sou por  entre  nós  e  fez  alto  a  poucos  passos  de  distancia  da 
casa  do  vice-reitor. 

Ficámos   attonitos   c   ,   ais    ainda  quando  vimos  descer 


TEÍíTATIVA    ETYMOLOGICOTOPONYMICA  191 


pela  mesma  rua  outra  força  de  cavallaria,  que  também  fez 
alto  a  pequena  distancia  dos  académicos. 

Dirigiu-se  entào  a  nós  o  administrador  do  concelho  e 
ordenou  que  nos  retirássemos. 

Dissemos-lhe  que  respeitávamos  muito  o  sr.  dr.  Ernesto 
e  que  estávamos  aíli  muito  pacificamente  aguardando  o  te- 
legramma. 

—  lietirem-se  ^já  disse  !  —  repetiu  o  administrador. 

E  os  académicos  tiveram  de  retirar-se,  passando  pelas 
forcas  caudinas,  pois  a  dita  rua  era  muito  estreita, —  estavam 
desarmados  e  mettidos  entre  dois  fogos. —  D'um  lado  a  in- 
fanteria  com  as  bayonetas  em  bocca  d'arma  —  do  outro  a  ca- 
vallaria com  as  espadas  desembainhadas. —  E  a  rua  não  tinha 
travessas  por  onde  fugissemos,  pois  corta  transversalmente 
de  nascente  a  poente  um  despenhadeiro  medonho,  pelo  que 
só  tem  casas  do  lado  norte  ou  superior. 

Ao  poente  da  casa  do  santo  dr.  Ernesto^  ao  tempo  havia 
do  lado  norte  um  muro  liso  bastante  alto,  que  não  podiamos 
transpor  —  e  do  lado  opposto  ou  sul  um  parapeito  ou  guarda 
de  pedra,  encimando  uma  medonha  barreira  de  l-i  metros 
talvez  d'altura,  aprumada  sobre  a  decantada  insua  do  Vianna 
—  ou  do  cantado  e  decantado  Vianna,  dono  d'ella  no  meu 
tempo.  ^ 

Eu  então  era  muito  vigoroso, —  saltava  muito  bem  —  e 
ainda  me  approximei  do  tal  parapeito  da  rua,  mas,  quando  á 
luz  tibia  da  noute  vi  lá  no  fundo  a  insua  do  Vianna  —  sensi 
in  fronte  meo  se  arripiare  cabellos! , .  . 

Tive,  pois,  de  capitular  e  passar  pelas  forcas  catidinas. 


^  Como  a  tal  insua  era  muito  linda  e  estava  muito  próxima  de 
Coimbra,  o  dono  d'ella,  que  era  commerciante,  ia  visital-a  e  passear  n'ella 
muitas  vezes,  mormente  de  tarde  para  se  distrahir. 

Os  estudantes,  birrando  com  passeio  tão  frequente,  apenas  lá  o  viam 
de  tarde  os  muitos  que  a  essa  hora  em  dias  de  feriado  costumavam  ir  pas- 
sear para  a  velha  ponte,  principiavam  a  gritar:— O^  Vianna!  Oh  Vianna!... 

Formavam  logo  coro  com  elles  os  muitos  estudantes  que  moravam 
na  Couraça  de  Lisboa,  superior  á  bel  la  insua  e  fronteira  á  dita  ponte,  bra- 
dando eguaimente :  —  Ofi  Vianna  !  Ofi  Vianna  !. . . 

E  por  vezes  também  os  estudantes  que  passeavam  além- Mondego, 
no  bairro  de  Santa  Clara,  formavam  écco,  bradando  eguaimente :  —  Oh 
Vianna  !  Oh  Vianna !. . . 

Não  exagero  dizendo,  que  por  vezes,  a  um  tempo  e  durante  alguns 
minutos  ouvi  mais  de  400  estudantes  gritando  como  possessos  e  bradando 
como  estentores :  --  Oh  Vianna !  Oh  Vianna  !. . . 

Era  uma  brincadeira  innocente,  pois  não  insultavam  o  referido  com- 
merciante, dizendo  somente:  —  Oh  Vianna  !  Oh  Vianna  !. . . 


192  TENTATIVA   ETYMOLOaiCO-TOPONYMICA 


como  OS  outros  estudantes,  dando  ao. diabo  a  brincadeira  e  o 
feriado. 

Se  eu  estivera  só,  não  me  assustavam  tanto  a  cavallaria 
e  a  infanteria^  porque  o  santo  dr.  Ernesto,  então  vice-reitor 
da  Universidade,  era  meu  patricio,  também  natural  da  minha 
Penajidia  ou  Penajoia,  e,  se  eu  lhe  batesse  á  porta^ —  imme- 
diatamente  me  recebia,  como  sempre  me  recebeu  durante  a  mi- 
nha formatura. 

S.  ex.^  era  tão  meu  amigo,  que  chegava  a  dizer :  —  la- 
mento que  este  rapaz  não  seja  meu  sobrinho !... 

Foi  durante  a  minha  formatura  toda  o  meu  melhor  e  mais 
dedicado  protector  e,  como  eu  tinha  pae  alcaide  —  não  me  as- 
sustava com  bagatellas. 

Honrou-me  com  a  sua  amisade  até  que  falleceu  em  no- 
vembro de  1875  —  ha  33  annos  completos, —  e,  para  d'algum 
modo  lhe  significar  a  minha  gratidão,  esbocei  e  publiquei  no 
Portugal  antigo  e  moderno  a  biographia  de  s.  ex.*. 

Pôde  lêr-se  no  artigo  Penajoia,  vol.  vi,  pag.  562  e  seguintes. 

Foi  s.  ex.»  prelado  da  Universidade  21  a  22  annos  con- 
secutivos,—  sempre  adorado  pela  academia  e  muito  estimado 
e  considerado  pelo  governo, —  o  que  é  raro,  raríssimo  nos  an- 
naes  da  Universidade, 

Foi  também  s.  ex.»  agraciado  pelo  nosso  governo  e  pelo 
governo  brazileiro  com  altas  mercês  e  regeitou  varias  mitras 
que  o  nosso  governo  lhe  ofifereceu. 

Deus  o  tenha  em  bom  logar,  como  firmemente  creio,  pois 
era  muito  bondoso,  muito  accessivel,  muito  tratavel, —  um 
santo!... 

* 
*      * 

Ainda  outro  jorreiro  de  feriados,  ao  todo  mais  de  70?!... 

Como  já  dissemos,  quando  no  anno  lectivo  de  1855-1856 
—  o  5.0  da  minha  formatura,  chegámos  a  Coimbra  em  Outu- 
bro de  55,  grassava  a  cholera  na  lusa  Athenas,  pelo  que  o  go- 
verno, apenas  nos  matriculámos,  fechou  a  Universidade  sine 
die,  para  não  expor  a  academia  a  uma  hecatombe. 

Nem  sequer  tivemos  um  dia  d'aula !  —  Deixámos  logo 
Coimbra  quasi  todos  no  meado  d' Outubro  do  dito  anno  e  só 
volvemos  no  fim  de  Dezembro  do  mesmo  anno,  porque  o  go- 
verno, como  já  disse  no  meu  pobre  folhetim  168^ — havendo 
declinado  a  epidemia,  mandou  abrir  a  Universidade  nos  prin- 
cipios  de  1856,  para  não  perdermos  aquelle  anno  lectivo. 


TENTATIVA    ETYM0L03IC0-T0P0NYMICA  193 


Estivemos,  pois,  em  ferias  desde  o  meado  d'Oiitubro  até 
o  fim  de  Dezembro  —  ou  mais  do  10  dian?!... 

A  viagem  do  regresso  á  lusa  Athenas  foi  trabalhosa,  como 
já  dissemos,  por  ser  feita  a  marcha  forçada,  no  rigor  do  in- 
verno e  gastámos  no  percurso  das  '22  legoas  de  Lamego  a 
Coimbra  —  pela  estrada  militar  d'aquelle  tempo  e  mais  certa 

—  três  dias  e  meio. —  Na  viagem  de  Coimbra  a  Lamego  —  ou 
antes  á  minha  Penajulia^  no  aro  de  Lamego,  em  Outubro,  gas- 
támos oito  dias,  porque  nada  nos  incommodava,  —  o  tempo 
era  doce  —  e  já  suppunhamos  perdido  aquelle  anno  lectivo. 

Deus  nobis  haec  otia  fecií !...— dissemos  com  o  Mantuano 

—  e  fomos  andando  pausadamente  em  uma  pequena  caravana 
de  quatro  amigos  e  contemporâneos,  sendo  um  d'elles  filho 
dí*  Águeda  e  ainda  calouro  —  Augusto  César  Elmano  da  Ctiuha  e 
Costa  —  e  os  outros  dois  de  Baião,  lá  no  Douro  e  por  conse- 
quência meus  patricios  e  visinhos:  — um  á^eWes  — António  d^ Al- 
meida e  Silva,  ao  tempo  ainda  calouro  também,  — e  Francisco 
da  Cunha  Coutinho,  então  alumno  do  5.**  anno  de  Direito. 

De  Coimbra  até  Águeda  fomos  em  gericos,  pois  a  mala 
posta  e  a  estrada  a  macadam  ainda  não  passavam  de  Coimbra 
para  o  norte. 

Demorámo-nos  2  bellos  dias  em  Águeda,  rindo,  passean- 
do, palestrando  e  dançando.— No  4.°  dia  da  viagem  fomos 
em  um  barco  pelo  Águeda  para  Aveií^o,  d'onde  seguimos  atra- 
vez  da  formosa  7'ia  no  barco  da  carreira  para  Gear,  chegando 
alli  na  manhã  do  dia  seguinte. 

Alugámos  cavalgaduras  em  Doar  e  seguimos  pela  pobre 
aldeia  de  Espinho  —  hoje  villa  esplendida  e  cidade  em  per- 
spectiva 1  —  para  o  Porto,  onde  chegámos  já  de  noute  e  en- 
contrámos os  nossos  criados  aguardando-nos  com  os  cavallos. 

Demorámo-nos  alli  um  dia  —  o  6.«  da  viagem  —  e  fomos 
dormir  a  Bailar,  cerca  de  3  legoas  ao  nascente  do  Porto, 
d'onde  no  dia  seguinte  —  o  7.°  da  viagem  —  seguimos  pelo 
Marco  de  Canavezes  ou  pela  velha  estrada  do  Porto  ao  Douro 
e  Lamego  —  para  Baião,  distante  de  Bailar  cerca  de  12  le- 
goas ? ! . . . 

Em  Baião  pernoitei  na  casa  do  Ervedal,  freguezia  de 
Santa  Marinha  do  Zêzere, — casa  do  meu  companheiro  António 
d* Almeida  e  Silva,  pouco  distante  da  do  outro  companheiro 


1  Deve  dar-lhe  muita  vida  a  linha  férrea  do  Valle  do  Vouga,  em 
construcção  n'esta  data  (1909)  e  já  aberta  á  circulação  desde  Espinho  até 
á  villa  á' Azeméis. 

13 


194  TENTATIVA    ETYMOLOaiCO  TOPONYMICA 


Francisco  da  Cunha   Coutinho, —  ambos  já  fallecidos  n'esta 
data. 

O  Almeida  e  Silva  formou- se  em  Direito ;  — foi  um  ta- 
lento superior, —  estudante  distincto  e  distincto  advogado  em 
Baião.  Passou  depois  para  a  magistratura  e  falleceu  ha  muitos 
annos,  sendo  ainda  novo  e  delegado  em  Macedo  de  Cavai- 
leiivs. 

O  Coutinho  foi  também  advogado  em  Baião  e  alli  admi- 
nistrador do  concelho,  bem  como  do  de  Mirandella,  em  Traz- 
os-Montes.  Por  ultimo  foi  conservador  em  Baião  e  morreu  ha 
poucos  annos. 

V.  Zêzere  {Santa  Marinha  do)  —  longo  artigo  meu,  no 
Portugal  antigo  e  moderno,  vol.  xii,  pag.  2:119  e  2:129,  onde 
mencionei  aquelles  meus  dois  bons  amigos,  por  serem  ambos 
filhos  beneméritos  da  dita  parochia. 

Finalmente,  no  oitavo  dia  da  viagem  fui  da  nobre  casa 
do  Ervedal  para  a  minha  Penajulia  —  ou  antes  para  a  minha 
pequena  povoação  da  Corvaceira,  na  extremidade  leste  da  tão 
mimosa,  como  espaçosa  freguezia  da  Penojoia  —  decantada 
terra  das  cerejas  —  concelho  de  Lamego, —  na  margem  es- 
querda do  Douro  —  mesmo  em  frente  das  Caldas  do  MoUedo,  ^ 
—  distando  a  dita  povoação  da  Corvaceira  11  a  12  kilome- 
tros  da  nobre  quinta  do  Ervedal  supra. 

*       * 

Toda  a  viagem  pouco  me  incommodou  —  nem  mesmo  as 
12  legoas  de  mau  caminho  que  transpuzemos  no  7.°  dia  de 
Baltar  ao  Ervedal.  Recordarao-nos  até  com  saudade  de  alguns 
episódios  d*ella.  Ahi  vae  um  que  nos  fez  rir  a  valer! 

Quando  sahimos  de  Coimbra^  o  tempo  estava  húmido  e 
entre  a  Mealhada  e  Águeda.^  não  havendo  ainda  estrada  a  ma- 
cadam,  tivemos  de  transpor  com  os  pobres  gericos  um  grande 
atoleiro^  de  20  metros  talvez  de  comprimento. 

Eu  logo  suppuz  que  algum  dos  quatro  cahiria  ao  charco, 
pelo  que,  indo  na  frente  da  caravana,  fui  picando  o  meu  ge- 
rico  e  bradando-lhe  para  o  animar. 

Transpuz  felizmente  o  atoleiro  sem  naufrágio  e  fiz  alto 
para  ver  a  sorte  dos  meus  companheiros. 

Dois  d'elles  fizeram  a  travessia  com  felicidade  também, 
mas  o  quarto  e  ultimo  —  o  tal  Coutinho,  appellidado  em  Coim- 


ai.  Penajoia  e  Penajulia  no  indice  do  i  volume. 


TENTATIVA    ETYMOLOaiCO-TOPONYMlCA  195 


hra  —  grão  turco,  por  ser  muito  alto  e  usar  grande  cabelleira  e 
um  bigodo  também  muito  grande,  muito  áspero,  hirto  e 
desgracioso,  —  nanfrarjou  ! ... 

Ia  embrulhado  em  um  cobertor,  na  falta  de  capa  melho/, 
para  se  abrigar  da  chuva, —  e  dormitando  no  couce  da  cara- 
vana, por  ser  muito  indolente,  deixando  o  gerico  á  vontade. 
— Foi  este  andando  como  pôde,  mas,  indo  a  meio  do  loda- 
çal, tombou,  ficando  o  pobre  Coutinho  enterrado  no  lodo  até 
o  pescoço  e  com  uma  perna  debaixo  do  gerico. 

Só  então  acordou  e  principiou  a  berrar  e  gritar,  cha- 
mando o  conductor  do  gerico. 

O  rapaz  demorou-se,  porque,  para  fugir  do  atoleiro,  con- 
tornou-o,  seguindo  por  um  monte  próximo.  Entretanto  o  ge- 
rico, fazendo  esforços  para  se  levantar,  sacudia  fortemente  e 
constantemente  a  cabeça  e  as  grandes  orelhas,  atirando  com 
ellas  pazadas  de  lodo  contra  o  rosto  do  pobre  Coutin?io,  que 
mal  podia  gritar!  Ficou  em  misero  estado  com  a  bocca,  o 
rosto,  os  grandes  bigodes  e  a  cabelleira  cheios  de  lodo,  bem 
como  a  roupa  toda  e  o  cobertor  que  o  embrulhava  e  lhe  ser- 
via de  capa. 

Quando  sahiu  do  atoleiro  —  cortahat  fios  almae! , , . 

Eu  ri  tanto,  tanto,  que  fiquei  suffocado ! 

Fui  andando  e  só  passados  alguns  minutos  desabafei  com 
estridentes  gargalhadas. 

Os  outros  companheiros  também  riram  a  valei'  —  e  con- 
tinuámos a  rir  até  grande  distancia,  porque  o  grão  turco  e  o 
seu  burro  ficaram  todos  litteralmente  cobertos  de  lama!. . . 

Eram  assim  as  viagens  n'aquelle  tempo.  —  Eu  ainda  te- 
nho saudades  do  tal  episodio  da  lamarada,  mas  o  pobre  Cou- 
tinho deu  ao  diabo  o  gerico,  o  atoleiro  e  a  cardada!.  .  . 

Como  dissemos,  fazia  também  parte  da  caravana  o  nosso 
contemporâneo,  ainda  caloiro  —  Augusto  César  Elmano  da 
Cunha  e  Costa — filho  á^ Águeda,  que  depois  se  formou  em  Di- 
reito e  foi  muitos  annos  tabellião  e  advogado  em  Lisboa, 

Em  Águeda  levou-nos  para  a  sua  casa  e  apresentou-nos 
á  mãe,  uma  excellente  senhora  que  muito  nos  penhorou  e 
obsequiou  durante  dois  dias  — a  mim  e  aos  meus  dois  patrí- 
cios —  Almeida  e  Coutinho. 

Na  noite  do  primeiro  dia  da  hospedagem,  convidou  s. 
ex.*  para  a  sua  casa  algumas  senhoras  visinhas,  entre  ellas 
uma  irmã  e  duas  interessantes  filhas. 

Passámos  deliciosamente  aquella  noite  rindo,  palestran- 
do, cantando  e  dançando  com  as  ditas  senhoras,  todas  muito 


196  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


sympathicas  e  muito  amáveis, —  e  com  duas  meninas  da  casa, 
irmãs  do  Elmano,  também  muito  interessantes,  muito  lindas 
e  muito  amáveis,  mas  terminou  a  soirée  com  uma  semsaboria, 
a  que  eu  muito  involuntariamente  dei  causa. 

Tendo  os  meus  companheiros  recitado  algumas  poesias, 
lembrei-me  eu  de  recitar  uma  que  pouco  antes  lera  em  um 
jornal,  tendente  a  inspirar  no  publico  animo  contra  a  cólera^ 
epidemia  que  então  grassava  e  nos  obrigara  a  deixar  Coimbra. 

Eu  gostei  da  tal  poesia,  porque,  além  de  ser  muito  lin- 
da, conjurava  o  desanimo,  predisposição  que  em  tal  conjun- 
ctura  todos  deviam  evitar,  como  instantemente  recommenda- 
vam  os  facultativos  e  a  imprensa. 

Jà  decorreram  55  annos  e  eu  já  completei  os  76,  mas — 
se  bem  me  recordo  —  a  tal  poesia  era  pouco  mais  ou  menos 
a  seguinte. 

Desculpem  os  lapsos,  porque  cito  de  memoria. 

Eil-a: 

Dizem  que  a  peste  ahi  está, 
Que  sem  cautellas  irá 

Tudo  raso !. . . 
Mas  da  peste  a  face  adusta 
Não  me  importa  nem  me  assusta 

Nenhum  caso ! 
* 
Sem  cidreira  nem  macela, 
Sem  receita  com  chancelia 

Morrerei? 
Quando  arquêa  os  sobrolhos, 
Bem  me  matam  certos  olhos 

Que  eu  cá  sei !. . . 
A  mim  não  me  dá  canceiras 
D'essas  aves  agoureiras 

O  piar. 
Se  p'ra  morrer  acham  cedo, 
Fujam  nas  azas  do  medo 

Sem  parar  /. . . 

* 

—  Eu  cá  fico !  a  face  adusta 
Da, tal  peste  não  me  assusta, 

— Não  senhor ! 
— Venha  a  morte !  —  estou  sereno. 
O  seu  mal  —  dirá  Galeno  — 

Foi  amor. 

Quando  terminava  a  recitação^  em  voz  um  pouco  mais 
alta,  ficando  hirto  e  muito  animado,  como  que  desafiando  a 
morte,  senti  certo  rumor  na  sala. 


TENTATIVA    ETYMOLOÍilCO-TOPON YMICA  lí-í? 


—  Era  a  irmá  da  dona  da  casa  procurando  as  suas  rou- 
pas d'abrigo  e  dizendo  ás  filhas: — Vamos  embora,  meninas^ 
—  fmmos  embora  / 

—  Que  tens  tu,  oh  mana  ?  perguntou-lhe  a  dona  da  cast., 
approximando-se  d'ella. 

—  Vou-me  embora,  vou-me  embora,  porque  estou  incom- 
modadifisima  ! . .  .  respondeu  a  tal  senhora. 

—  Incommodadissima  ?  —  Porque  ? 

—  Pois  tu  não   ouviste   aquelle   senhor    a   rir  e  mofar 
da  cólera? 

—  EUe,  como  disse,  não  fez  os  versos.  Leu-os  em  um  jor- 
nal —  observou-lhe  a  dona  da  casa  —  e  simplesmente  os  reci- 
tou. 

—  Será  assim,  será ;  mas  vou-me  embora,  porque  estou 
incommodadissima !  —  Estes  senhores  que  vêem  lá  de  Coim- 
bra são  todos  pedreiros  livres !  —  não  teem  religião  nem  te- 
mor de  Deus! 

—  Vamos  embora,  meninas,  vamos  embora  !  —  disse  ella 
novamente  para  as  filhas  —  e  lá  foram  todas  três  pela  porta 
fora  ?  ! . . . 

No  fim  da  tarde  do  dia  seguinte,  a  santa  dona  da  casa 
disse-nos  muito  contente  :  —  Parece-me  que  vão  passar  muito 
bem  esta  noite,  porque  o  sr.  conde  da  Borralha  mandou-me 
convidar  e  ás  minhas  filhas  para  irmos  passar  a  noite  na  casa 
d'elle.  Eu  agradeci  muito  o  convite,  mas  disse  que  não  po- 
dia acceital-o,  porque  tinha  em  casa  três  hospedes,  amigos  e 
contemporâneos  do  meu  filho,  que  vieram  com  elle  de  Coim- 
bra e  amanhã  devem  seguir  viagem  para  o  Douro.  —  O  sr. 
conde  é  uma  excellente  pessoa,  muito  tratavel,  muito  obse- 
quiador  e  provavelmente  diz-me  que  vá  com  as  minhas  filhas, 
com  o  meu  filho  e  com  os  meus  hospedes. 

Effectivamente  d'ahi  a  pouco  tempo  chegou  á  nossa  porta 
um  grande  carroção,  tirado  por  valentes  bois,  e  conjuncta- 
mente  um  criado  do  sr.  conde  da  Borralha  com  um  cartão 
de  s.  ex  >,  convidando-nos  a  todos  para  irmos  passar  a  noite 
no  seu  formoso  palacete,  pouco  distante  da  villa  à^ Águeda, 

Recebeu-nos  s.  ex.»  muito  amavelmente,  pondo  de  parte 
etiquetas  e  formalidades,  como  Portugal  velho  e  fidalgo  distin- 
ctissimo  que  era  e  ao  mesmo  tempo  então  o  rei  da  terra  ?  ! , .  , 

Fez-se  boa  musica,  —  palestrámos  e  dançámos  muito  — 
8  retirámo-nos  penhoradissimos  alta  noite  sem  o  minimo  des- 
gosto.—Mas,  quando  iamos  à^ Águeda  para  o  formoso  e  ma- 
gestoso  palacete  da  Borralha,  deu-se  um  episodio  que  fez  mu- 


198  TENTATIVA   ETyMOLOGICO-TOPONYMICA 


dar  de  cor  o  meu  patrício  e  companheiro  António  d' Almeida 
e  Silva. 

O  carroção  em  que  nós  iamos  era  muito  grande,  enorme 
e  luxuoso,  com  alta  imperial  e  janellas  lateraes,  mas  d^ancien 
regime  e  sem  molas,  assentando  a  caixa  sobre  valentes  tiran- 
tes de  couro. —  Balouçava,  pois,  muito,  posto  que  á^ Águeda 
até  o  palacete  da  Borralha  o  caminho  era  quasi  plano. 

Balouçava  muito,  porque  o  pavimento  da  estrada  ainda 
não  era  a  macadam,  como  hoje,  mas  de  pequenas  pedras,  no 
estylo  das  velhas  calçadas. 

Em  certa  altura  o  tal  meu  companheiro  levantou-se  não 
sei  para  que  e,  dando  o  carroção  n'esse  momento  um  forte 
balanço,  foi  d'encontro  a  um  grande  vidro  da  janella  do  car- 
ro.—Não  só  o  partiu  e  despedaçou,  mas  ia  cahindo  da  ja- 
nella á  rua! ... 

Acudiu  logo  o  trintanario,  perguntando  o  que  succedera. 

—  Quebrei  este  tidro  —  lhe  respondeu  logo  o  tal  meu  com- 
panheiro muito  afflicto,  accrescentando  :  —  mas  eu  pago-o^  eu 
pago-o . . . 

—  O  sr.  conde  não  liga  importância  ao  vidro  —  respon- 
deu o  criado. 

O  Almeida  e  Silva  não  se  magoou  e  nada  pagou,  mas  es- 
tou certo  que  jamais  olvidou  tal  episodio  e  se  recordou  d'elle 

toda  a  vida. 

* 
*      * 

Mais  feriados  durante  a  minha  formatura,  dados  pela 
rainha  D.  Maria  II. 

Quando  S.  M.  em  Abril  de  1852  visitou  Coimbra  pela 
primeira  vez  ^  e  em  seguida  o  Porto ^  Barcellos,  Braga,  etc, 
—  muito  pausadamente,  acompanhada  pelo  duque  de  Salda- 
nha e  pelo  joven  príncipe  D.  Pedro,  depois  rei  D.  Pedro  F, 
etc,  demorou-se  oito  dias  em  Coimbra. —  Poisou  com  toda  a 
corte  nos  paços  da  Universidade  e^  para  ver  toda  a  academia 
exultando  de  contentamento, —  não  só  lhe  deu  logo  por  ter- 
minado o  anno  lectivo,  antecipando  o  ponto  obra  d'um  meZj 
mas  além  d'isso  deu-lhe  perdão  d^actof . .  . 

Ficámos,  pois,  íio  dito  anno  todos  em  ferias  e  sem  mais 
canceiras  desde  Abril  até  Outubro  —  largos  seis  mezes  —  e 
todos  approvados  nemine  discrepante,  sem  fazermos  acto. 

Supponho  que  a  mesma  rainha  nos  deu  também  mais 
três  feriados,  quando  falleceu  em  Novembro  do  anno  se- 
guinte (?!...)  —  1853  —  e  Coimbra,  coberta  de  luto,  celebrou 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  199 


com  toda  a  pompa  do  estylo  a  tocante  cerimonia  da  quebra 
dos  escudos  / . . . 

Eu  assisti  ás  duas  grandes  funcções  de  caracter  diame- 
tralmente opposto. 

Na  visita  de  1852  Coimbra  não  se  poupou  a  despezas 
para  receber,  como  recebeu,  pomposamente  S.  M. —  Levantou 
junto  da  velha  ponte,  lado  norte,  um  soberbo  pavilhão,  onde 
a  camará  foi  esperar  a  rainha  e  lhe  apresentou,  em  uma  salva 
de  prata  muito  linda,  as  chaves  da  cidade? 

Ornou  também  varias  ruas  com  bandeiras,  colchas  ri- 
quíssimas, arcos  triumphaes  e  palanques  onde  tocaram  mui- 
tas bandas  de  musica  durante  os  mencionados  oito  dias. 

Foi  também  enorme  a  concorrência  de  povo  e  forastei- 
ros de  toda  a  ordem  do  concelho  e  do  districto  de  Coimbra^ 
bem  como  dos  de  Vizeu,  Aveiro  e  Leiria^  durante  aquelles 
oito  dias  —  e  as  danças  e  festas  populares  ou  descantes — fo- 
ram constantes. 

*      * 

Durante  a  minha  formatura  —  1851  a  1856  —  nunca  vi 
em  Coimbra  festas  semelhantes. 

Foram  esplendidas  e  correram  muito  bem  !  —  Apenas  me 
recordo  d'uma  pequena  semsaboria,  que  arreliou  e  contrariou 
vivamente  um  pobre  fogueteiro,  mas  que  fez  rir  a  bandeiras 
despregadas  centenares  ou  milhares  de  pessoas,  nomeadamente 
os  fogueteiros  todos  de  Coimbra, 

Eil-a  : 

Estando  então  na  lusa  Athenas  uma  companhia  estran- 
geira d'arlequins,  offereceu-se  um  d'elles  á  commissão  das 
grandes  festas  para  apresentar  e  queimar  no  terreiro  da  Uni- 
versidade  fogo  preso,  como  jamais  se  vira  em  Portugal  e 
Coimbra!   .  , 

Acceitou  a  commisão  a  proposta  e  no  dia  aprasado  o  ar- 
lequim montou  effecti vãmente  no  largo  da  Universidade  enor- 
mes arvores  de  fogo,  que  talvez  correspondessem  á  especta- 
tiva ;  mas  por  infelicidade  choveu  algo  no  fim  da  tarde  d'esse 
dia,  pelo  que  o  pobre  fogueteiro  deu  ao  diabo  a  cardada  l 

As  arvores  não  ardiam  com  a  presteza  e  regularidade 
próprias,  mas  só  em  fracções  e  morosamente,  apesar  do  afan 
com  que  elle  e  um  bando  de  criados  seus  atiçavam  o  fogo.— 
Algumas  nem  chegaram  a  arder  por  completo. 

A  hilaridade  e  os  apupos  da  multidão,  nomeadamente 
dos  fogueteiros  de  Coimbra^  zangados  por  se  verem  preteri- 


200  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


dos  e   desconsiderados  por  um  estrangeiro,  —  ensurdeciam, 
atroavam  os  ares,  ouviam-se  além  Mondego?!.  . . 

E  nós,  bem  como  toda  a  academia, —  a  multidão  enorme 
que  entulhava  o  terreiro  da  Univeridade, —  a  rainha,  os  prin- 
cipes  e  toda  a  corte  que  estavam  aguardando  das  janellas  do 
paço  o  deslumbrante  fogo  de  vistas, —  ficámos  todos  desapon- 
tados !  —  E  não  menos  desapontado  ficaria  por  certo  o  pobre 
fogueteiro. 

Eu  tive  dó  d*elle.  —  Tendo  assistido  a  muitas  festas  se- 
melhantes e  a  muitos  arraiaes, —  nunca  vi  uma  coisa  assim. 

Desgraçado  arlequim  / . .  . 

Os  fogueteiros  de  Coimbra  exultaram  com  o  episodio  su- 
pra, mas  ahi  vae  outro  em  que  elles  choraram,  occorrido  tam- 
bém durante  a  minha  formatura. 

Em  certa  noite  da  semana  santa,  estando  eu  e  outros 
muitos  estudantes  na  capella  da  Universidade,  assistindo  ás 
pomposas  festas  d^endoenças  que  alli  se  realisaram  n'aquelle 
anno,  tocaram  a  rebate  os  sinos  de  vários  templos  de  Coim- 
bra e  logo  se  espalhou  a  noticia  d'um  grande  incêndio  no 
bairro  baixo. 

—  Correram  logo  todos  para  a  poi^ta  férrea  da  Universi- 
dade^ d'onde  se  viu  o  grande  incêndio. —  Parecia  a  cratera 
d'um  vulcão  e  devorou  algumas  casas  de  fogueteiros  Fora  de 
Portas, —  na  extremidade  norte  da  rua  Sophia. 

Não  só  causou  prejuízos  materiaes  importantes,  mas  fez 
algumas  victimas.  perecendo  no  grande  incêndio  — entre  ou- 
tras pessoas  —  a  filha  d' um  fogueteiro,  ainda  nova  e  jnuiio 
linda.  Era  considerada  a  tricana  mais  formosa  de  Coimhra  ?!... 

Também  pouco  antes,  ou  depois,  suicidou-se  em  Coimbra, 
no  meu  tempo  d^estudante,  outra  moça  ou  tricana  também 
nova  e  muito  linda, 

A  pobre  moça  não  era  filha  de  Coimbra,  mas  d'uma  fre- 
guezia  próxima  e,  tendo  ido  á  feira  de  Santa  Clara,  atirou 
comsigo  da  velha  ponte  sobre  o  Mondego,  que  então  ia  muito 
alto,  muito  cheio,  pelo  que  pereceu  afogada,  posto  que  a  ti- 
raram da  agua  no  mesmo  dia. 

O  facto  fez  sensação  em  Coimbra  e,  sendo  o  cadáver  da 
infeliz  tricana  levado  para  o  theatro  anatómico,  muitas  pes- 
soas o  foram  vêr,  admirando  todos  a  belleza  d'ella  que,  se- 
gundo me  disseram, —  se  suicidou,  porque,  sendo  muito  bem 
comportada, —  certo  moço  que  ella  repellira  —  a  infamava  e 
calumniava  ? ! . . . 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  201 


A  propósito  das  cheias  do  Mondego^  mencionarei  uma  que 
foi  extraordinária  e  deu-se  também  durante  a  minha  forma- 
tura,—  talvez  no  anno  da  campanha  da  neve  supra, —  inverno 
de  18Õ4  a  1855. 

O  Mondego  cobriu  a  velha  ponte  de  pedra  e  derrubou  al- 
guns lanços  das  valentes  guardas  d'ella,  que  eram  compactas, 
muito  grossas,  muito  pesadas  e  também  de  pedra. 

Inundou  também  o  Mondego  diíFerentes  ruas  da  haixa  de 
Coimbra^  sendo  durante  alguns  dias  os  seus  habitantes  servi- 
dos por  barcos. —  Eu  e  outros  muitos  académicos  n'elles  na- 
vegámos também,  percorrendo  as  diíferentes  ruas  inundadas 
que  nos  traziam  â  memoria  as  de  Veneza,  posto  que  eram 
quasi  todas  tortas  e  estreitas,  a  modo  de  hitesgas  —  e  os  bar- 
cos nem  por  sombra  imitavam  as  gôndolas. 

A  Praça  do.  Commercio  e  o  Largo  de  Sansão  — eram  os 
cães  d'embarque  e  desembarque. 

As  cheias  posteriores  de  1860  e  1876  deviam  ser  maio- 
res, mas  talvez  que  não  alteassem  tanto  no  bairro  baixo  de 
Coimbra,  por  estar  então  já  bastante  desenvolvido  o  grande 
muro  que  lhe  serve  de  resguardo  e  que  hoje  forma  a  grande 
avenida  ou  passeio  de  Emygdio  Navarro. 

Evocando  reminiscências  do  tempo  da  minha  formatura 
— 1851  a  1856 — ainda  mencionarei  o  advento  dos  lumes 
promptos. 

.  Parece-me  ouvir  ainda  uns  rapazes  de  Lisboa  que  appa- 
receram  em  Coimbra^  cantando  com  certa  graça :  —  Vam,os 
aos  lumes  promptos j  três  por  dez  réis,  seis  quinze  réis,  — quem 
me  compra  o  resto'^ 

Os  taes  phosphoros  eram  de  pau  e  enxofre,  mas  baratís- 
simos; —  hoje  estão  muito  aperfeiçoados,  mas  carissimos  !  — 
Graças  ao  interessante  progresso  dos  monopólios  ?  ! 

Também  se  fundou  em  Coimbra  no  meu  tempo  a  Compa- 
nhia do  Gaz,  mas  não  cheguei  a  ver  a  lusa  Athenas  illumi- 
nada  por  elle,  —  Só  vi  parte  da  construcção  do  gazometro  — 
e  os  tubos  de  ferro  estendidos  ao  longo  das  ruas  do  bairro 
alto,  —  Foram  o  nosso  entretenimento  e  d'outros  académicos 
muitas  noutes  nas  ruas  mais  amplas  e  mais  declivosas,  no- 
meadamente na  Couraça  de  Lisboa. 

Atravessando-os  de  certo  modo,  rodavam  e  rolavam  até 
grande  distancia,  indo  bater  uns  contra  os  outros  —  e  por  ve- 
zes contra  as  portas  das  casas,  —  fazendo  grande  ruido, 
grande  estrondo,  a  que  nós  achávamos  muita  graçafl,, . 

Não  deviam  gostar  da  brincadeira  os  trabalhadores  que 


202  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


tinham  de  os  arrastar  novamente ;  mas  nunca  protestaram 
nem  nos  estorvaram  e  andaram  prudentemente^  i , .  . 

* 
*      * 

Mais  uma  reminiscência  do  meu  bom  tempo  de  Coimbra: 

fls  latadas  e  o  X 

Desde  tempos  muito  remotos  costumam  os  estudantes 
das  faculdades  positivas — ou  de  Direito  e  Theologia,  ter  ponto 
mais  cedo  do  que  os  das  faculdades  naturaes  de  Philosophia^ 
Mathematica  e  Medicina. 

Também  desde  tempos  muito  remotos  costumam  aquelles 
ir  em  grande  numero  saudar  (?)  estes  na  véspera  do  seu  pri- 
meiro dia  d'aula  com  uma  berraria  medonha  e  uma  musica 
infernal,  composta  de  tudo  quanto  possa  fazer  barulho,  pre- 
dominando latas  velhas,  taes  como  bahús  de  folha  e  panellas, 
pelo  que  os  taes  charivaris  são  denominados  latadas. 

Só  no  bairro  alto  de  Coimbra  —  o  bairro  dos  estudantes 
—  se  toleram  desde  tempo  immemorial  estes  e  outros  diver- 
timentos semelhantes, —  sem  a  minima  observação  nem  ad- 
vertência particular  e  sem  a  minima  intervenção  da  policia 
ou  força  publica  da  cidade  —  nem  do  guarda-mór  e  archeiros 
da  Universidade?!... 

Em  Coimbra  o  bairro  alto  é  dos  estudantes,  que  são  e  fo- 
ram sempre  rapazes  e  precisam  de  ar  puro,  liberdade  e  dis- 
tracções. 

Não  se  pode  exigir  d'estudantes,  de  rapazes,  —  a  pru- 
dência e  a  madureza  d' anciãos. 

—  No  bairro  alto  mandam  elles  —  e  quem  os  não  puder 
ou  não  quizer  aturar  rode  por  largo  e  procure  domicilio  em 
outro  bairro. 

Poucas  Academias  estarão  tão  vantajosamente  situadas  e 
terão  tanta  liberdade  como  a  de  Coimbra. 

Aqui  no  Porto,  por  exemplo,  como  a  cidade  tem  pros- 
perado e  prospera  espantosamente,  o  palácio  da  Academia 
Polytechnica,  outr'ora  situado  extra  muros,  está  hoje  em  um 
dos  pontos  mais  centraes,  —  todo  cercado  de  ruas  com  grande 
movimento. —  Não  tem  um  largo  próprio  qualquer,  onde  os 
seus  numerosos  académicos  possam  rever  as  lições  —  e  me- 
nos ainda  saltar^  passear,  rir  e  folgar^  como  estudantes  que 


\ 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  203 


sáo,  —  nem  retemperar  os  pulmões  com  ar  livre  no  intervallo 
das  suas  aulas  e  das  lições. 

—  E'  uma  barbaridade  que  revolta  e  brada  aos  céos! , . . 
Basta  que  os  pobres  estudantes   dêem  qualquer  piada  ou 

ponham  uma  simples  tijela  na  cabeça^  para  serem  logo  perse- 
guidos, aífrontados  e  por  vezes  espadeirados  e  presos  pela  po- 
licia civil  e  pela  cavallaria  Municipal  P/.  , . 

Custa  a  crer,  mas  é  facto. 

Eu  tenho  muito  —  viuitissimo  dó  d'elles  ! . . . 

O  palácio  da  Academia  é  esplendido  e  custou  centos  de 
contos^  mas  demora  em  sitio  altamente  impróprio  para  uma 
academia  tão  importante  e  tão  numerosa. 

—  Dêem- lhe  outro  qualquer  destino  e  levantem  outro  pa- 
lácio para  a  academia  em  local  mais  amplo,  mais  desafogado 
e  mais  distante  do  centro  da  cidade. 

Estão  ainda  em  peores,  muito  peores  condições  os  dois 
Lyceus  do  Porto  —  e  ambos  em  casa  de  renda  ou  d' aluguer'^!... 

Removam-nos  também  para  casa  própria,  bem  localisada 
e  muito  espaçosa,  porque  os  dois  Lyceus  já  hoje  são  muito 
concorridos  e  mais  concorridos  serão  de  futuro. 

Os  palácios  do  Lyceu  e  da  Academia  devem  ser  cons- 
truidos  em  chão  amplo  e  bem  desaffrontado  —  com  amplos 
terreiros  ou  largos  próprios  —  não  no  centro  da  cidade,  mas 
em  qualquer  sitio  dos  seus  lindos  arrabaldes. 

Construa-se  também  junto  do  novo  Lyceu  e  da  nova  Aca- 
demia um  bom  Jordim  Botânico  para  instrucção  e  recreio  — 
dos  estudantes  e  do  publico, 

O  Pwto  bem  merece  tudo — e  noblesse  oblige?!... 

* 
*     * 

Ainda  o  pandemonium  das  latadas. 

São  ellas  uma  troça  infernal  feita  aos  alumnos  das  três 
faculdades  de  Phílosophia,  Mathematica  e  Medicina^  compre- 
hendendo-os  todos^  —  sejam  de  que  anno  forem,  não  exce- 
ptuando os  quintanistas,  ainda  os  laureados,  mais  considerados 
e  premiados!  —  E,  sendo  infernal  a  troça,  —  tem  algum  tanto 
de  honrosa,  pois  nunca  se  moveram  tantos  alumnos  de  Direi- 
to e  Theologia  para  troçarem  e  arreliarem  os  caloiros  e  os 
novatos. 

Também  nunca  os  archeiros  nem  o  guarda-mór  e  o  rei- 
tor da  Universidade  —  cohibiram  ou  tentaram  cohibir  tal  pan- 
demonium. 


204  TENTATIVA    ETYMOLOGIOO-TOPONYMICA 


Note-se  que  são  muito  numerosos  sempre  os  cursos  de 
Direito.  Regulam  por  100  a  130  os  alumiios  de  cada  um  d'el- 
les^  pelo  que  os  juristas  dos  õ  annos  montam  sempre  a  seis- 
centos e  tantos  estudantes  ? I .. . 

Ai  dos  archeiros  e  do  guarda-mór  se  tentassem  cohibil-os, 
emquanto  que,  deixando-os,  como  deixam  sempre,  em  liber- 
dade e  á  vontade,  — não  fazem  mal  a  ninguém. 

Certo  anno  eu,  como  alumno  de  Theologia,  tomei  parte 
com  o  batalhão  dos  juristas  em  uma  das  taes  latadas,  que  foi 
das  mais  numerosas  e  mais  luzidas.  —  Muitos  estudantes  le- 
vavam campainhas  de  mesa,  chocalhos,  panellas  de  folha,  la- 
tas velhas  e  bahús  também  de  folha,  segurando  os  dois  estu- 
dantes pelas  azas  e  rufando  outros  sobre  os  pobres  bahús, 
amolgando-os  com  pancadas. 

Eu,  a  meio  do  pandemonium,  quando  nos  abeirávamos  do 
quartel  d'algum  pobre  mathematico,  philosopho  ou  medico,  ba- 
tia palmas  e  recitava  o  soneto  seguinte^  feito  por  um  caloiro 
transmontano  do  Mogadouro  (?...)»  q^e  nós  appelidavamos  Ca- 
mões, por  ser  quasi  cego  de  um  olho  e  fazer  versos.  —  Julgo 
que  posteriormente  foi  professor  no  Lyceu  de  Bragança,  mas 
não  mais  o  vi. 

Ahi  vae  o  tal  soneto  que  elle  dedicou  ao  X  e  era  muito 
bem  apropriado  á  festança  das  latadas,  mas  infelizmente  já 
me  não  recordo  d'elle  todo. 

Eil-o : 

Fantasma  aterrador  d'um  desgraçado 
Que  á  sciencia  do  calculo  se  votou  ; 
Infame  X,  maldito  o  que  inventou 
Teu  nome  e  forma  e  ser,  oh  !  desastrado ! . . . 

Foi  Satanaz  sem  duvida  o  malvado, 
Que  tão  immundo  parto  lhe  inspirou  ; 
Pague  no  inferno,  pois,  quem  te  gerou 
Quantas  dores  de  cabeça  tens  causado ! . . . 

Newton  o  arranhe,  Euclides  môrda^ 
Sisson  (?)  o  arrepelle  sem  piedade, 
Faça-lhe. . .  os  ossos  em  açorda. 


E  fique  lá  bem  no  centro  do  averno  {?) 
Fazendo  X  por  ioda  a  eternidade !. . . 

Foram  n'esse  anno  muito  pomposas  as  ditas  latadas,  mas 
por  causa  d'ellas  fui  preso! . . . 

Tinha  eu  com  antecipação  arranjado  por  empréstimo  de 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMTCA  205 


um  sacristão  ou  servente  da  egreja  de  S.  Salvador  uma 
grande  campainha,  que  no  percurso  da  procissão  ia  tocando 
muito  pausadamente,  a  modo  de  andador  das  almas. 

Quando  alta  noite  seguiamos  da  rua  Larga  para  a  Cou- 
raça dos  Apóstolos,  muito  de  propósito  nos  dividimos  em  pe- 
quenos grupos  algo  distanciados,  passando  em  frente  da  ca- 
deia do  Aljube.  A  sentinella  esteve,  pois,  durante  um  quarto 
de  hora  talvez,  gritando  constantemente: 

—  Quem  vem  láf  —  Quem  vem  lá  ? 

A  pobre  sentinella  estava  portanto  já  fatigada  e  muito 
zangada,  quando  eu  passei  no  couce  da  estúrdia  e  distanciado 
50  metros  talvez,  tocando  a  grande  campainha  muito  pausa- 
damente, no  estylo  supra. 

—  Quem  vem  Zá  ?  —  bradou  novamente  a  sentinella. 

A  minha  resposta  foi  dar  á  grande  campainha  uma  forte 
sacudidela. 

—  Quem  vem  Za  ?  —  tornou  ella. 

E-espondi  com  outra  sacudidela  — -  e  fui  andando. 

—  Faça  alto,  senão  prendo-o  !. . . 

—  Prender  ?  —  Porquê  f  —  lhe  disse  eu. 

—  Porque  ó  obrigado  a  responder  á  sentinella :  —  cama- 
rada. 

—  Eu  sou  estudante  e  nada  sei  dos  regulamentos  milita- 
res. 

Acudiu  logo  o  sargento  da  guarda  e  disse-me : 

—  O  sr.  está  a  caçoar  com  a  tropa  1  —  Bem  sabe  o  que 
deve  responder  á  sentinella  ~  e  o  que  eu  devia  fazer  era  pren- 
delo. 

—  Pois  prenda  f  —  lhe  disse  eu. 

—  Está  o  sr.  preso  !  —  accrescentou  elle,  —  atravessan- 
do-se  diante  de  mim,  mas  sem  me  tocar. 

—  Bem  I  Vamos  lá  para  a  cadeia.  —  E  segui  rapida- 
mente para  a  porta  do  Aljube,  pouco  distante. 

O  sargento  disse  lâ  para  os  seus  botões  :  —  Este  rapaz  é 
maluco,  por  ver  como  eu  corria  para  a  cadeia ;  mas  apenas 
me  approximei  do  portão,  que  estava  escancarado,  dei  um 
salto  para  a  esquerda  e  fui  unir-me  logo  aos  meus  compa- 
nheiros da  festança^  que  estavam  a  pequena  distancia,  ou- 
vindo o  dialogo. 

D'ahi  a  pouco  já  novamente  soavam  a  grande  campai- 
nha e  as  latadas  na  rua  de  S.  Salvador  e  na  da  Mathemafica, 
etc. 

Bom  tempo  era  aquelle  ?  ! . . . 


206  TENTATIVA    ETYMOLOGICOTOPONYMICA 


Durante  a  minha  já  táo  longa  vida  só  o  tal  sargento  me 
deu  a  voz  de  preso ;  mas  não  chegou  a  prender-me,  —  nem  o 
santo  dr.  EraestOy  meu  dedicado  protector,  mencionado  su- 
pra, teve  noticia  de  tal  occorrencia. 

*      * 

Agora  a  minha  primeira  viagem  de  Lamego  para  Coim- 
bra—  o  a  ultima  de  Coimbra  para  a 'minha  Penajulia. 

Quando  em  Junho  de  1851  parti  de  Lamego,  ou  antes  — 
da  minha  Penajulia  para  Coimbra,  montado  no  meu  roei' 
nante,  acompanhou-me  um  criado,  com  uma  bagageira  em 
que  levava  dois  bahús  com  roupa  branca,  etc.  ^ 

Acompanhou-me  também  uma  visinha  já  idosa,  que  ia 
da  minha  Corvaceira  para  a  casa  d'um  genro,  morador  na 
povoação  de  Eiras^  junto  de  Coimbra,  onde  era  então  caseiro 
da  nobre  quinta  do  Paço,  da  familia  Champalímaud,  da  fre- 
guezia  de  Cidadelhe,  concelho  de  Mezão-frio,  no  Douro,  —  em 
frente  da  minha  Penajulia.  —  Ia  também  ella  a  cavallo  e 
acompanhada  pelo  dono  da  alimária. 

Seguimos  pelo  caminho  mais  curto,  mencionado  supra : 

—  Lamego^  Castro  Dayre^  S.  Pedro  do  Sul,  Vouzella,  Talhadas 
Rompecilhas,  Águeda,  Sardão,  Mealhada,  Fornos  e   Coimbra. 

Chegando  a  Castro  d'Ayre,  ou  Castro  Dayre  (^),  pouco 
depois  do  meio  dia,  apeámo-nos  na  única  hospedaria  da  terra^ 
conhecida  pelo  nome  à'Anna  do  Moinho,  dispostos  para  jan- 
tar, passar  alli  o  rigor  do  sol  e  seguir  para  S.  Pedro  do  Sul. 

—  Ficámos,  porém,  attonitos,  quando  a  tal  sr.»  Anna  do  Moi- 
nho peremptoriamente  nos  disse:  —  «Eu  não  os  posso  rece- 
ber, porque  tenho  a  casa  toda  tomada  por  uma  familia  de 
Lamego  que  vae  para  Coimbra, i> 

— De  Lamego  venho  eu  também  —  e  vou  também  para 


^  Já  decorreram  cincoenta  e  oito  annos  e  meio  n'esta  data  —  junho 
de  1909.—  Contava  eu  então  18  annos,  pois  nasci  em  14  de  Novembro  de 
1832. 

(-)  Esta  villa  tomou  o  nome  do  latim  Cí75frí//7Z  —  castello,  fortale- 
za, entrincheiramento,  sitio  fortificado,  —  e  Árias,  nome  godo,  que  deu 
Airas  ou  Ayras,  sitio  e  casa  nobre  do  conceiho  da  Feira,— Aires  aldeia, 
quinta,  etc— e  Ayres  appellido. 

Castro  Dayre  quer,  pois,  dizer  Castro  ou  castello  do  Árias  ou  do 
Ayres. 

Também  casirum  deu  Castro,  appellido  nosso,  vulgar,  nobre  e  an- 
tigo,— Castro,  Castros  e  por  mctathese  Crasto  e  Crastos,  ao  todo  mais 
^e  300  povoações  nossas  —  e  Cristello  por  Castrello,  pequeno  castro. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  207 


Coimbra;  quero  apenas  jantar,  descançar  um  pouco  e  seguir 
para  S,  Pedro  do  Sul... 

—  «Tenho  a  casa  toda  tomada  e  não  posso  dispor  d*ella 
nem  receber  pessoa  alguma,  como  já  lhe  disse.» 

—  Venha  cá,  sr.*  Anna  —  disse  um  cavalheiro  que  estava 
descançando  em  um  quarto  próximo  e  ouvira  o  dialogo. 

Obedeceu  ella  promptamente  e  o  tal  cavalheiro  pergun- 
tou-lhe  quem  era  esse  hospede  de  Lamego,  que  ia  também  para 
Coimbi^a. 

—  Não  sei  —  respondeu  ella; — julgo  ser  um  estudante. 

—  Chame  o  cá. 

Volveu  ella,  dizendo-me  :  —  O  sr.  Belchior  Albergaria  de- 
seja fallar-lhe. 

Annui  promptamente  e  fiquei  attonitò  quando  vi  e  logo 
reconheci  em  um  pobre  quarto  da  locanda  o  sr.  Belchior  Pe- 
reira Coutinho  de  Vilhena,  um  dos  fidalgos  então  mais  ri- 
cos e  mais  considerados  de  Lamego^  representante  da  nobre 
casa  dos  Albergarias,  pelo  que  era  vulgarmente  conhecido  por 
Belchior  Albergaria, 

Era  s.  ex.*  primo  —  co-irmão  de  Macário  de  Castro,  o  ve- 
lho, par  do  reino,  etc,  que  eu  também  conheci, —  dono  e  re- 
presentante da  nobilissima  casa  das  Brolhas,  avô  materno  do 
sr.  Macário  de  Castro,  hoje  também  par  do  reino  por  succes- 
são  e  universal  herdeiro  do  avô  e  do  mencionado  sr.  Belchior 
Albergaria,  seu  tio  paterno,  do  qual  herdou  cerca  de  300  con- 
tos de  reis  I .  .  . 

Ficou,  pois,  sendo  —  e  é  hoje  ainda  s.  ex.^  —  o  fidalgo 
mais  rico  entre  os  velhos  fidalgos  de  Lamego,  que  eram  mui- 
tos desde  tempos  muito  remotos.—  Com  a  extincção  dos  vin- 
cules em  1860?  —  os  velhos  fidalgos  de  Lamego  foram  sup- 
plantados  todos  pelos  novos  fidalgos,  avultando  entre  estes  o 
1.°  e  o  2.<*  viscondes  de  Valmôr,  o  sr.  conde  d^ Almedina  e  o 
sr.  conde  di  Alpendurada^  todos  já  fallecidos. 

Volvendo  a  Castro  d^Ayre,  perguntou  me  o  sr.  Belchior 
Albergaria  se  eu  era  de  Lamego. 

—  Sou  natural  da  Penajoia  —  respondi  eu  —  mas  passei 
os  últimos  quatro  annos  em  I^amego  estudando  preparatórios 
e  lá  vi  muitas  vezes  a  v.  ex.*,  porque  morei  na  casa  do  sr. 
cónego  Araújo  {}),  a  pequena  distancia  da  casa  de  v.  ex.*  — 
e  agora  vou  para  Coimbra  formar-me. 


(•)    O  dito  cónego  era  um  santo,  muito  estimado  e  muito  conside- 
rado em  Lamego, 


208  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


—  Eu  recordo-me  de  o  vêr  lâ  —  e  até  estimo  que  você 
nos  acompanhe  —  disse  o  fidalgo  —  porque  vou  também  para 
Coimbra  assistir  ao  baptisado  d'um  meu  sobrinho,  filho  da 
minha   irmã  casada  com  o  Diogo  Barata,  da  quinta  da  Boa 

Vista,  junto  de  Coimbra.  Levo  commigo  a  minha  esposa,  uma 
irmã  e  duas  bagageiras  com  jóias  e  roupas  de  valor ! . . .  Au- 
gmenta,  pois,  a  caravana  e,  para  fugirmos  ao  sol,  podemos 
fazer  a  viagem  de  madrugada —  e  no  fim  da  tarde  até  algu- 
mas horas  da  noite. 

Ordenou  logo  á  dona  da  hospedaria  que  me  desse  um 
quarto  —  e  eu  retirei-me  satisfeitissimo,  agradecendo  penho- 
rado a  fineza. 

No  fim  da  tarde  do  mesmo  dia  fomos  para  aS'.  Pedro  do 
Sul,  onde  pernoitamos  em  uma  hospedaria  bastante  espaçosa 
e  muito  acreditada. 

—  Era  a  maior  e  melhor  que  ao  tempo  havia  entre  La- 
mego e  Coimbra. 

Accomodámo-nos  bem  alli  todos,  posto  que  era  bastante 
numerosa  a  caravana.  —  Compunha- se  ella  do  sr.  Belchior,  es- 
posa e  irmã, —  de  mim  e  da  tal  visinha  supra. —  Total  —  5 
pessoas  a  cavallo, —  duas  em  cella  e  3  em  andilhas,  —  mais  3 
bagageiras  e  4  criados,  sendo  3  do  sr.  Belchior  e  um  meu. 

—  Total  12  pessoas  e  8  cavalgaduras. 

A  viagem  correu  bem  até  os  Fornos,  a  uma  legoa  de 
Coimbra  e  d'alli  por  diante  melhor  ainda,  porque  o  sr.  Diogo 
Barata  foi  até  alli  com  alguns  amigos  seus,  todos  muito  bem 
montados,  esperar  os  seus  nobres  cunhados. 

Seriam  dez  horas  da  noite  quando  chegámos  a  Coimbra, 
onde  eu  fiquei  muito  satisfeito  sem  a  troça  e  apupos  do  es- 
talo. —  O  grosso  da  cavalgata  seguiu  para  o  palacete  do  sr. 
Diogo  Barata.  (^) 

Quando  parti  da  minha  Penajulia  nem  por  sombra  ima- 
ginei fazer  a  viagem  com  tanta  imponência  e  tanta  satisfação 
e  entrar  na  lusa  Athenas  tão  socegado  e  tão  tranquillo,  acom- 
panhado por  tantos  e  tão  distinctos  fidalgos. 

Toda  a  viagem  correu  bem  —  muito  bem,  como  já  disse, 
e  d'ella  me  recordo  e  recordarei  sempre  com  saudade ;  mas 


(i)    S.  ex.a  offereceu-me  a  sua  valiosa  protecção,  mas  não  o  incom- 
modei,  pois,  como  logo  direi,  não  me  foi  preciso  passar  da  rua  da  Alegria. 


TENTATIVA    KTYMOLOGICOTOPONYMICA  209 


ahi  vae  um  episodio  interessante,  para  os  meus  poucos  leito- 
res verem  o  que  eram  as  viagens  in  illo  tenipore. 

No  segundo  dia  partimos  de  >S'.  Pedro  do  Sul  de  madru- 
gada e,  quando  o  sol  já  picava  fortemente,  fizemos  alto  em 
uma  pequena  e  pobre  aldeia,  onde  havia  algumas  tabernas  e 
uma  estalagem  muito  inferior  á  de  Castro  d^At/re.  Tinha  ape- 
nas uma  sala  e  dois  quartos  disponiveis  com  vidraças,  onde 
ficaram  a  esposa  e  a  irmã  do  sr.  Belchior. —  Eu  e  este  senhor 
fomos  deitar-nos  e  passar  a  tisneira — por  lembraiic/i  d'elle  — 
debaixo  d'uns  grandes  carvalhos  que  povoavam  um  largo 
contiguo  e  fronteiro  á  locanda  onde  ficaram  as  duas  senho- 
ras,—  largo  onde  se  fazia  do  mez  em  mez  uma  feira. 

Mandou  s.  ex.»  levar  para  alli  algumas  fachas  de  palha 
centeia  e  dois  lénçoes,  onde  nos  deitamos  e  dormimos  algo, 
servindo  de  leito  a  terra  e  a  palha  —  e  de  t:atre  ou  resguardo 
as  raizes,  já  muito  salientes,  d'um  (fraude  carvalho? !..  . 


Acordando  s.  ex.*  d'ahi  a  pouco,  viu  á  janella  do  grande 
hotel  a  irmã. 

—  Já  te  levantastes? — perguntou-lhe  s.  ex.^. 

—  Já  me  levantei  ha  muito,  porque  as  pulgas  eram  em 
barda!  —  respondeu  a  dita  senhora. 

Ao  menos  nós,  os  dois,  não  sentimos  pulgas  na  cama  de 
palha. 

Quem  nos  visse  deitados  em  tão  reles  cama  ao  ar  livre 

—  jttnto  da  estrada  publica  —  não  diria  que  estava  alli  o  grande 
fidalgo  de  Lamego,  —  Belchior  Albergaria. 

A  cama  era  muito  mais  reles  do  que  as  dos  pastores  e 
lavradores  da  sertaneja  freguezia  d^ Albergaria  das  Cabras^ 
na  serra  d' Arouca. —  Os  taes  serranos  —  incluindo  os  mais  abas- 
tados —  também  costumam  dormir  todo  o  anno  em  camas  de 
palha  solta,  mas  deitam-n'a  entre  quatro  taboas  lisas  e  postas 
de  cutellOj  pregadas  nas  extremidades  umas  contra  as  outras 

—  e  assentes  nos  sobrados   ou   pavimentos  térreos  das  suas 
pobres  casas. 

Mas  —  dirão  os  leitores  —  sendo  tão  nobre  e  tão  rico  o 
sr.  Belchior  Albergaria,  porque  não  fez  a  viagem  de  Lamego 
a  Coimbra  em  liteiras  —  o  transporte  mais  luxuoso  d'aquelle 
tempo, —jamais  levando  comsigo  duas  senhoras? 

Não  fez  a  viagem  supra  em  liteiras,  porque  ellas  não 
trabalhavam  nem  podiam  trabalhar  na  dita  estrada  de  La- 

14 


210  TENTATIVA    ETYMOLOaiCO-TOPONYMICA 


mego  a  CoimPra,  por  ser  em  grande  parte  montanhosa,  esca 
brosa  e  muito   declivosa,   principalmente  desde  Lamego  até 
Castro  d'Ayre,   atravez  de  Penude  e  da   serra  do  Mezio  —  e  1 

desde  Voiizella  até  Águeda  atravez  da  serra  das  Talhadas  e  I 

da  de  Rompecilhas,  dependência  das  Talhadas.  " 

Como  alguns  dos  meus  poucos  leitores  já  estão  fartos  de 
cantigas  e  pedem  etymologias,— ahi  vão  algumas: 

—  Penude  vem  talvez  de  Penide  por  Penido  e  este  por 
Penedo. 

Cf.  Peneda.,  Penedo,  Penedello,  Penida  ou  Monte  da  Pe- 
nida,  Penido,  Penidello,  o  mesmo  que  Penedello, —  e  Pindello, 
o  mesmo  que  Penidello,  povoações  nossas. 

Também  temos  Pindella,  aldeia,  quinta,  titulo  de  conda- 
do, etc, —  e  na  minha  opinião  Píndella  é  contracção  de  Peni- 
della,  diminutivo  archaico  de  Penida  supra. 

—  Mezio  é  o  mesmo  que  Homizio — terra  de  Homiziados 
foragidos,  degredados. 

V.  Conto  111,  em  Viterbo. 

—  Vouzella — de  òaucella,  diminutivo  de  batiça  —  bouça. 

Vouxella  é  o  mesmo  que  Boucelha  e  Boucinha,  povoa- 
ções nossas.  —  Tem  a  mesma  etymologia  Bucellas  por  Bou- 
cellas. 

—  A  serra  das  Talhadas  tomou  o  nome  dos  grandes  pe- 
nedos que  lá  se  vêem  partidos  a  meio  pelos  raios! .  ■  . 

Também  temos  Freita  e  Freitas,  varias  povoações  que 
tomaram  o  nome  do  latim  petra  fracta  —  pedra  fendida,  par- 
tida, talhada,  unde  Serra  da  Freita^  em  Ai'ouc(if  o  mesmo  que 
serra,  da  (pedra)  Talhada  ou  das  Talhadas. 

Tem  a  mesma  etymologia  o  nosso  appellido  Freitas. 

—  Rompecilhas  tomou  o  nome  d  "uma  ladeira  medonha, 
onde  passa  a  estrada,  porque  os  almocreves,  para  não  se  des- 
penharem no  abysmo  as  cavalgaduras,  vão  sempre  concer- 
tando as  cargas  e  apertando  as  cilhas,  unde  Bornpecilhas?'... 

flinda  05  liteiras 

o  sr.  Belchior  podia  ir  em  liteiras  de  Lamego  até  Coim- 
bra pelo  Porto,  mas  o  percurso  das  22  léguas  supra  subia  a 
42  —  o,  em  vez  de  gastar,  como  gastou,  3  dias  com  a  via- 
gem, gastaria  8  a  9  dias,  porque  as  liteiras  apenas  transpu- 
nham 5  a  8  léguas  por  dia  — em  bom  caminho  —  e  o  do  Porto 
a  Lamego  estava  longe  de  ser  bom  I 

Tinha  lanços  diabólicos  e  muito  declivosos,  principal- 


TENTATIVA    ETYMOLOOICO-TOPONYMICA  211 


mente  de  Amarante  até  á  povoação  da  líêde,  atravez  de  Qain- 
tella,  Volta  Grande  e  Mezãofrio^  ua  extensão  de  40  kilometros 
approximadamente. 

Com  o  percurso  pelo  Porto  gastaria,  pois,  8  a  9  dias  — 
no  rigor  do  verão,  em  Junho,  —  sempre  exposto  á  tlsneira, 
porque  as  liteiras,  sendo  luxuosas,  eram  perigOHas ! — Xão  tra- 
balhavam de  noite,  mas  de  dia  somente  e  muito  pausada- 
mente!,  . . 

Andariam,  pois,  o  sr.  Belchior  e  as  duas  fidalgas  expos- 
tos á  tisneira  8  a  9  dias,  chegando  a  Coimbra  torturados  e 
assados  com  o  calor. 

Devia  succeder-lhes  o  que  pouco  antes  ou  depois  succe- 
deu  a  uma  fidalga  distinctissima  do  Porto  —  D.  Maria  Victo- 
ria  da  Cunha  Portocarrero,  dona  do  Palácio  das  Sereias,  ou 
da  Bandeirinha. 

Estando  s.  ex.*  no  Porto  —  e  o  marido  —  Gaspar  Finto 
de  Magalhães  Cardozo  Pizarro  —  na  sua  grande  quinta  de  Vil- 
lar  de  Maçada,  concelho  de  Alijó,  em  Traz-os- Montes,  recebeu 
ella  uma  carta  do  caseiro  parfcicipando-lhe  que  o  marido  es- 
tava muito  doente.  ^ 

Sendo  ella  ainda  nova  e  muito  vigorosa,  tomou  imme- 
diatamente  uma  liteira  e  partiu  com  um  lacaio  e  uma  baga- 
geira para  Villar  de  Maçada,  distante  do  Porto  mais  de  80 
legoas,  pois  teve  de  seguir  da  Regoa  por  Villa  Real  para 
Villar  de  Maçada  ?■  ^ 

Quando  alli  chegou^  passados  6  dias,  encontrou  já  res- 
tabelecido e  bem  disposto  o  marido,  que  ficou  attonito  com 
a  surpresa  e  lhe  disse : 

—  Que  trabalhos  te  trouxeram  aqui  por  sol  tão  ardente, 
no  rigor  do  verão  f 

—  Vim — respondeu  a  fidalga  —  porque  me  disse  o  ca 
seiro  que  tu  estavas  muito  doente. 

—  O  caseiro  é  maluco !  —  Eu  estive  incommodado,  mas 
logo  me  restabeleci,  A  doença  foi  passageira  e,  para  não 
mandarmos  vir  do  Porto  ou  da  Regoa  outra  liteira,  podes 
voltar  para  o  Porto  na  mesma  em  qu,e  viestes. 


1  V.  no  Portugal  antigo  e  moderno  o  meu  longo  artigo  Myra- 
gaya,  vol.  v,  pag.  271  ;  artigo  Porto,  vol.  vii,  pag.  519  —  525,  onde  se  en- 
contra uma  extensa  genealogia  dos  fidalgos  da  Bandeirinha  ou  do  Palá- 
cio das  Sereias,  — t  Villar  de  Maçada,  artigo  meu  também,  vol.  xi,  pag. 
1:233. 

-    Podia  também  seguir  da  Regoa  pela/oz  do  Corgo,  Poyares,  etc, 
como  logo  provaremos. 


212  TENTATIVA   ETYMOLOaiCO-TOPONYMICA 


Isto  me  contou  a  própria  fidalga^  ^  accrescentando  : 

—  «EíFectivamente  parti  de  Villar  de  Moçada,  na  mesma 
liteira,  no  dia  seguinte.  —  O  sol  parecia  fogo!  Eu  ia  abrazada 
quando,  depois  de  seis  dias  de  viagem  cheguei  de  retorno  à 
villa  da  Regoa.  —  Mandei  logo  encher  uma  canoa  d'agua 
fresca  e  tomei  um  banho  geral,  mas  ia  lá  ficando^  pois  adoeci 
gravemente ! .  .  .  » 

Do  exposto  se  vê  que  as  viagens  em  liteiras  no  estio  — 
eram  uma  tortura,  um  martyrio! .  .  . 

Não  foi  portanto,  sem  motivo,  que  o  sr.  Belchior  Alberga- 
ria, em  Junho  de  1851,  preferiu  os  incommodos  da  viagem 
supra  de  Lamego  a  Coimbra,  aos  commodos  (?)  das  liteiras, 
indo  pelo  Po7'to  e  tendo  de  andar  com  as  duas  senhoras  ex- 
posto á  tisneira  durante  nove  dias. 

As  liteiras  propriamente  ditas  eram  muito  semelhantes 
ás  cadeirinhas,  então  muito  vulgares  e  hoje  quasi  extinctas 
no  Porto,  tiradas  por  dois  galíegos  cada  uma,  com  a  diffe- 
rença  de  que  eram  um  pouco  maiores  as  caixas  das  liteiras. 
—  Tinham  ellas  dois  assentos,  em  que  podiam  ir  duas  pes- 
soos  (díias  somente)  —  emquanto  que  as  cadeirinhas  apenas 
teem  um  assento  em  que  vai  uma  só  pessoa. 

A  caixa  das  liteiras,  quasi  sempre  luxuosa,  tinha  como 
a  das  cadeirinhas,  dois  varaes  de  cada  lado,  presos  com  for- 
tes correias  a  dois  grandes  e  possantes  machos,  carregados 
de  guisos  6  campainhas,  para  espantarem  as  feras  ^  e  para 
os  próprios  machos  —  sempre  com  antolhos  —  não  se  espanta- 
rem com  algum  tiro  ou  ruiao  inesperados. 

O  liteireiro,  que  era  sempre  um  homem  forte  e  possante, 


1  S.  ex.a  ainda  vivia  e  viveu  bastantes  annos,  depois  que  eu  me  col- 
lei  na  freguezia  de  Miragaya  (Porto),  em  1864. 

Foi  s.  ex.;^  minha  parochiana  até  que  falleceu,  porque  o  palácio  da 
Bandeirinha  ou  das  Sereias  pertencia  e  pertence  á  dita  parochia. 

Era  s.  tx<^  muito  tratavel  e  muito  bondosa,  pelo  que  palestrámos 
muito  e  jogámos  o  voltarete  no  seu  palácio  muitas  noites. 

Não  cheguei  a  conhecer  o  marido  que,  segundo  me  consta,  tinha  gé- 
nio forte  e  áspero,  —  mas  foi  óptimo  administrador  da  sua  grande 
casa  ? !. . .  » 

O  palácio  das  Sereias  tomou  o  nome  de  duas  formosas  sereias 
que  tem  no  portão  do  lado  sul,  ornamentando  as  hombreiras  c  servindo 
de  apoio  a  uma  sacada  immediatamente  superior. 

■^  Note-se  que  as  liteiras  como  logo  provaremos,  já  vinham  do  sé- 
culo XVI,  tempo  em.  que  abundavam  entre  nós  lobos,  Javalis  e  talvez  ursos. 
Estes  desappareccram  por  completo  ha  muito  ;  —  os  lobos  e  javalis  ten- 
dem a  desapparecer,  mas  ainda  se  encontram  cm  varias  regiões  do  nosso 
paiz. 


TEXTATTVA     KTYMOLOOTCO-TOPOXYMICA  213 


guiava  a  liteira^  marchando  ao  lado  do  macho  da  frente;  — 
com  uma  das  mãos  segurava  as  rédeas  ou  as  cambas  do  freio 
do  dito  macho  —  e  na  outra  levava  sempre  um  grande  chi- 
cote. 

Usavam  também  os  liteireiros  chapéu  redondo  e  pe- 
sado, de  panno  preto — jaqueta,  collete  e  calças  também  de 
panno  preto  —  e  botas  de  couro  também  pretas  e  de  cano 
alto,  mas  não  passavam  do  joelho. 

Os  machos  não  trotavam  ;  —  iam  sempro  a  passo,  e  passo 
muito  curto,  muito  irregular  e  muito  pausado  nas  descidas  e 
subidas  e  nos  lanços  mais  perigosos. 

* 
*       * 

Na  VoJfa  Grande,  por  exemplo,  entre  Quintella  e  Me- 
são-frio^  o  lanço  mais  perigoso  na  linha  do  Parto  ao  Douro, 
por  vezes  o  caminho  estava  tão  escalavrado,  que  na  descida 
a  caixa  da  liteira  tocava  no  chão,  ficando  o  macho  da  frente 
com  as  mãos  no  ar,  sem  as  poder  poisar  ?  /. .  . 

Irra  ! .  .  . 

Note-se  que  a  maldita  estrada,  hoje  macadamisada,  é 
muito  declivosa,  --  nunca  teve  guardas  nem  foi  arborisada  — 
e  corre  na  extensão  de  10  kilometros  atravez  d'uma  medonha 
ladeira,  aprumada  sobre  os  confluentes  do  rio  Teixeira. 

Na  descida  tombaram  e  naufragaram  alli  muitas  diligen- 
cias, tiradas  por  cavallos ;  mas  na  subida,  desde  a  povoação 
da  Eêde,  margem  direita  do  Douro ^  até  ao  alto  de  Quintella, 
cimo  da  Volta  Grande,  —  bem  como  de  Amarante  ate  Quin- 
tella —  as  diligencias  eram  tiradas  e  morosamente  arrastadas 
por  duas  juntas  de  bois —  cada  umaí  /.  ,  . 

E  era  tal  o  movimento,  que  alli  trabalharam  durante 
muitos  annos  três  diligencias  diárias.,  a  um  tempo^  antes  da 
construcção  da  linha  férrea  do  Douro. 

Em  Portugal  nunca  tivemos  uma  carreira  de  diligencias 
tão  importante,  de  tanto  movimento  —  e  tão  perigosa  ff... 

As  diligencias  acabaram  com  as  liteiras,  que  foram  em 
Portugal  durante  séculos  o  transporte  mais  luxuoso,  mas  tam- 
bém perigoso  e  muit)  caro/.    . 

Eram  transportes  para  cnpitalisfas'  síímente,  para  freiras, 
para  noivos  e  para  fidalgos,  preferindo  muitos  d'estcs  viajar 
em  cella  ou  em  cavallos. 

As  liteiras,  como  já  dissemos_,  não  transpunham  ordina- 
riamente mais  de  5  a  6  legoas  por  dia,  em  hom  caminho  —  e 


214  TENTATIVA  ElTl^MOLoaiCO-TOf ONYMICA 


custava  o  aluguel  de  cada  liteira  —  ainda  na  primeira  me- 
tade do  século  XIX —  uma  moeda  de  4$800  réis  por  dia,  com- 
prehendendo  a  ida  e  volta  ou  regresso^  —  embora  a  liteira  re- 
gressasse vazia! — Accrescendo  ainda  o  sustento  dos  machos 
e  do  liteireiro,  que  eram  sempre  muito  bem  tratados  e  fica- 
vam sempre  muito  caros^  mesmo  porque  os  liteireiros  d'ac- 
côrdo  com  os  estalajadeiros,  deixavam  sempre  paga  a  viagem 
do  retorno. 

Ora,  demandando  a  viagem  do  Porto  á  villa  da  Regoa  4 
dias  e  outros  4  o  regresso  forçado,  que  o  viajante  devia  pa- 
gar pela  tabeliã  supra,  —  custava  só  o  aluguel  da  liteira  oito 
moedas  ou  381400  réis  —  afora  o  sustento  dos  machos  e  do 
liteireiro,  que  não  custaria  menos  de  10  a  12  mil  réis. 

—  Total  da  despeza  com  a  viagem  do  Porto  á  villa  da 
Pegoa  em  lileira  ~  48$400  a  50$400  réis?..  .  . 

O  transporte  era  luxuoso,  mas  perigoso  e  muito  caro,  — 
mesmo  porque  as  liteiras  não  dispensavam  as  bagageiras. 

Também  as  liteiras  incommodavam  muito,  porque  baloi- 
çavam constantemente  —  e  a  chocalhada  dos  guisos  e  das 
campainhas  punham  os  ouvidos  dos  viajantes  em  agua  !  Dias 
depois  d'uma  viagem  do  Porto  ao  Douro,  em  liteira,  ainda  o 
viajante  cambaleava  e  julgava  ouvir  a  chocalhada. 

Eu  nunca  viajei  nas  taes  liteiras,  mas  vi  muitas  na  Re- 
goa e  fora  da  Regoa,  pois  morava  no  meu  casarão  da  Corva- 
ceira  ^  —  mesmo  em  frente  da  estação  actual  do  3IoUedo,  onde 
passava  o  caminho  do  Porto  para  o  Douro,  que  então,  na  mi- 
nha infância,  —  no  ditoso  t^^mpo  da  velha  Companhia  dos  Vi- 
nhos —  era  o  paiz  do  ouro,  onde  se  vivia  faustosamenle  ! . , . 


* 
*     * 


*  O  tal  casarão  denomina-se  casa  da  capella,  por  ter  á  entrada  do 
rocio  uma  capellinha  feita  em  1740  e  dedicada  a  Nossa  Senhora  da  La- 
pa, com  festa  e  romaria  annual  no  dia  15  d'Agosto. 

O  dito  casarão  é  muito  vistoso  e  algo  espaçoso,  pois  tem  30  metros, 
d'extensão  na  fachada  que  olha  para  o  Douro  e  para  a  estação  do  Mal- 
ledo  —  e  15  metros  na  fachada  que  olha  para  o  portão  d'entrada  para  o 
terreiro  e  para  a  capella. 

V.  Corvaceira  e  Penajoia,  no  Portugal  antigo  e  moderno  —  e  Pena- 
joia  e  PenajuUa.  no  indice  do  l.o  vol.  d'esta  Tentativa  etymologíca. 


TENTATIVA    KTVMOL0(HC0-TOf'ON'YMÍCA  21' 


Muitos  lavradores  do  Douro  tinham  liteiras  suas  ^  —  e 
na  Regoa,  ainda  no  meu  tempo,  havia  um  bom  estabeleci- 
mento de  liteiras^  que  durou  até  ao  advento  das  diligencias 
do  Porto  á  villa  da  Regoa  — 1858?  —  Era  o  estabelecimento 
José  Braz  (?),  que  passou  para  a  viuva  com  o  mesmo  appellido. 

Entre  os  grandes  fidalgos,  lavradores  e  proprietários  do 
Douro,  que  ainda  na  minha  infância  viviam  mais  faustosa- 
mente e  tinham  liteiras  sitas,  avultou  Salvador  (7)  Paes  de 
Saneie  e  Castro,  o  velho,  da  villa  da  Pesqueira,  óptimo  admi- 
nistrador da  sua  grande  casa  e  excellente  pessoa,  que  falle- 
ceu  já  idoso,  approximadamente  em  1840. 

Para  se  formar  ideia  do  fausto  com  que  vivia  o  dito  /a- 
vrador,  basta  o  que  me  disse  um  amigo  meu,  que  assistiu  a 
um  jantar  de  s,  ex.'  : 

(cFiquei  attonito  quando  vi  a  grande  mesa  do  jantar 
toda  coberta  de  prata,  pois  eram  de  prata  os  talheres,  as  ser- 
pentinas, os  pratos,  as  terrinas,  os  paliteiros,  o  apparatoso  e 
magestoso  centro  da  mesa,  etc.  —  E  em  dois  grandes  apara- 
dores lateraes  viam-se  ainda  muitas  salvas  de  prata,  sendo 
algumas  enormes,  —  além  d'outras  muitas  peças,  também  de 
prata. 

«Mas  o  que  mais  me  surprehendeu  —  disse  elle  ainda  — 
foi  ver  que  a  prata  servida  era  levada  por  criados  valentes, 
todos  fardados,  em  grandes  cestas,  a  modo  de  brezas,  feitas 
de  grossas  vergas  também  de  prata, —e  em  cestas  eguaes  era 
trazida  a  prata  limpa. 

—  «Só  as  cestas  vazias  —  accrescentou  elle  —  fatiam  ver- 
gar os  criados/...» 

^      * 


'  Todos  os  proprietários  do  Douro  foram  sempre  denominados  la- 
vradores, comprehendendo  muitos  fidalgos  distinctos  —  e  outros  sem  se- 
rem fidalgos  —  com  vinte  a  cem  contos  de  renda  —  e  mais  ?  !. . . 

Avultou  entre  elles  José  Paulo,  de  Abambres,  concelho  de  Villa 
Real,  que  deixou  uma  fortuna  de  mil  contos  !  —  Passou  de  mil  contos  a 
casa  Macedos  Pintos,  de  Taboaço,  ainda  hoje  uma  das  mais  ricas  do 
Douro,  muito  dignamente  representada  pelo  sr.  Joaquim  Ferreira  de  Ma- 
cedo Pinto,  e  pelo  seu  bom  filho  —  o  sr.  dr.  Victor  José  de  Deus  Ma- 
cedo Pinto. 

Sobe  talvez  a  dois  mil  contos  a  fortuna  do  sr.  António  Caetano 
d' Oliveira,  de  Moncorvo  -  e  teve  centenares  de  contos  de  renia  a  c.sa 
Ferreirinha,  da  Regoa,  —  absolutamente  a  maior,  de  que  ha  me.noria  no 
Douro  e  ao  norte  do  nosso  paiz  até  hoje,  pois,  como  já  disse. nos,  — 
quando  em  18Q6  falleceu  a  sr.^  D.  Antónia  Adelaide  FerreirUy  digníssima 
e  virtuosíssima  representante  da  dita  casa,  —  foi  a  sua  fortuna  avaliada 
em  seis  a  oito  mil  contos  —  muito  sólidos  ?  !. . . 


210  TENTATIVA    ETYMOLOCaCO  TOPONYMIOA 


Devia  também  s.  ex.**  ter  muitos  bacios  de  prata^  como 
tinliam  no  sen  tempo  outros  muitos  fidalgos,  lacradores  e 
proprietários  do  Douro. 

Veja- se  no  Portugal  antigo  e  moderno  o  meu  artigo  Villa 
Jusã^  freguezia  do  concelho  de  Mesão-frio,  volume  xr,  pag. 
771,  col-  2.^ 

O  mencionado  tópico  é  muito  interessante  e  muito  fri- 
sa nte  para  o  caso,  pelo  que  não  posso  resistir  á  tentação  de 
o  extractar. 

Em  Junho  de  1808  chegou  a  Villa  Jusã  e  Mesão  frio  o 
sanguinário  Loison^  general  francez,  com  a  sua  divisão,  em 
marcha  de  Almeida  sobre  o  Porto,  que  ao  tempo  já  se  havia 
sublevado  contra  os  invasores,  bem  como  a  villa  á^ Amarante 
e  as  provincias  do  Minho  e  Traz  os- Montes. 

Tentando  Loison  seguir  para  o  Porto,  foi  surprehendido 
por  grande  numero  de  populares  armados,  interceptando -lhe 
a  passagem  do  rio  Teixeim,  que  alli  corre  fundo,  e  pelos 
que,  descendo  de  Villa  Real,  sob  o  commando  do  general 
Silceira,  se  dispunham  a  mettel-o  entre  dois  fogos. 

Retirou  Loison  precipitadamente  sobre  Lamego,  talando 
e  saqueando  as  terras  que  deixava  após  de  si  na  extensão 
d'uma  grande  légua  desde  Mezão-frio  até  á  villa  da  Regoa, 
onde  passou  o  Douro  já  debaixo  de  fogo,  batido  pelos  valen- 
tes trasmontanos. 

Chegou  a  Lamego  na  tarde  do  dia  21  do  dito  mez  de 
junho, —  poisou  com  o  seu  estado  maior  no  Paço  Episcopal, — 
e  marchou  na  manhã  do  dia  immediato  para  Vizeu  com  tal 
precipitação,  que  deixou  no  quarto  onde  dormiu  dois  pesa- 
dos caixões,  todos  chapeados  de  ferro. 

Depois  da  convenção  de  Cintra  e  da  expulsão  dos  fran- 
cezes.  foram  os  ditos  caixões  abertos  por  ordem  do  nosso 
governo  em  fevereiro  de  1809. —  E,  segundo  eu  li  no  inven- 
tario que  então  se  lavrou  e  dignou  confiar-me  o  rev.<>  snr.  Tei- 
xeira Fafe,  cónego  de  Lamego,  benemérito  amador  d'antigui- 
dades,  que  possue  outros  manuscriptos  muito  curiosos  no  seu 
interessante  Muzeu,  —  nos  ditos  caixões,  rtsto  da  bagagem  e 
rapina gem.  de  Loison,  se  encontraram  as  peças  de  prata  se- 
guintes : 

Treze  castiçaes, —  2  serpentinas  grandes,— 2  escrivani- 
nhas, —  3  bacias  de  mãos  e  2  jarros,  -  6  dúzias  de  garfos, 
facas  e  colheres,  — 4  clarins, —  2  grandes  cruzes  processio- 
naes, —  1  imagem  de  Christo, —  uma  rica  banqueta  d' altar  com 
51  peças, —  6  grandes  salvas,  —  7  púcaros  e  13  bacios ^  (cá  es- 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPOXYMICA  21' 


tão  elles!...)  —  sendo  6  de  cadeira,  grandes,  el  de  cabeceira, 
mais  pequenos^  —  tudo  de  prata  e  com  o  peso  total  de  462 
marcos  e  6  onças, —  além  de  uma  caixa  forrada  de  marro- 
quim, contendo  um  bello  apparelho  de  chá  com  13  peças  de 
louça  da  índia. 

Vejam  que  salteador  :M  • . . 

Isto  apanhou  elle  de  corrida  na  pequena  extensão  d'uma 
legoa,  entre  'Mezão-frio  e  a  villa  da  Regoa,  como  já  dissemos, 
— e  é  de  suppôr  que  roubassem  muito  ma/,?— inclusivamente 
jóias  e  dinheiro,— tSiUto  elle  como  os  salteadores  da  sua  divisão. 

Do  exposto  se  vê  que  o  Douro  em  1808  — era  o  paiz  da 
prata  e  do  ouro?/... 

Se  o  maldito  Loison  não  fosse,  como  foi,  escorraçado  pe- 
los valentes  minhotos  e  trasmímtanos  —  e  o  deixassem  percor- 
rer, varejar  e  saquear  o  Douro  todo  —  carregaria  um  barco 
ou  navio  de  praia  e  ouro. 


Talvez  que  em  toda  a  Península  e  em  toda  a  Europa,  in 
illo  tempore,  não  houvesse  um  paiz  tão  rico,  tão  cheio  de  prata 
e  ouro,  jóias,  estofos,  louça  e  mobilia  do  Japão  e  da  índia, 
como  era  o  Douro. —  Graças  ao  marquez  de  Pomhal,  a  quem 
o  Douro  ha  muito  tempo  devia — por  gratidão  —  íqt  levan- 
tado um  monumento  —  uma  estatua,  na  formosa  villa  da  Re- 
goa,—  villa  que  é  o  centro  e  coração  do  Douro,  e  não  existia 
antes  do  marquez  de  Pombal  em  1756  fandar  a  poderosa  Com- 
panhia da  Agricultura  e  Vinhos  do  Alto  Douro. 

A  mencionada  Companhia  foi  muito  privilegiada,  mas 
transformou  em  luxuosos  vinhedos,  que  produzem  o  vinho 
mais  generoso  de  Portugal  e  do  mundo  inteiro, —  as  Íngremes, 
alcantiladas,  pedragosas  e  ardentíssimas  encostas  da  dita  re- 
gião, até  alli  sem  valor,  pois,  como  já  dissemos  no  1.°  vo- 
lume d'esta  obra,  as  ditas  encostas  anteriormente  estavam  in- 
cultas na  sua  maior  parte  e  só  produziam  sumagre?  f... 

O  Alto  Douro  é  um  cantão  excepcional,  que  demanda  le- 
gislação igualmente  excepcional. —  Assim  o  comprehendeu  o 
primeiro  ministro  que  Portugal  tem  tido  até  hoje  —  o  grande 
marquez  de  Pomhal. 

Uma  poderosa  Companhia  não  só  enriqueceu  o  Douro 
—-mas  Portugal  todo  ? ! . ,  . 

A  um  meu  ascendente  disse  n'aquelle  tempo  certo  ne- 
gociante de  Lisboa :  —  «Nós  mesmo  aqui,  nas  transacções 
commerciaes,  notamos   a  decadência  ou  a   prosperidade  do 


'218  TENTATIVA    ETVMOLOGIOO-TOPONYMICA 


Douro». —  E  mais  —  muito  mais  f.  . . —  devia  e  deve  noíAr-se 
no  Forto^  por  str  o  empório  dos  vinhos  do  Douro  —  e  por- 
que os  negociantes,  proprietários  e  lacradores  (?)  do  Douro 
se  forneciam  e  fornecem  quasi  exclusivamente  do  Porto  -  e  no 
Porto  consumiam  e  consomem  a  maior  parte  das  suas  rendas. 

E'  um  disparate,  uma  loucura  e  falta  de  critério  dos  nos- 
sos governantes  o  equipararem  o  Douro  ás  nossas  regiões  vi- 
nicolas  do  centro  e  sul  do  nosso  paiz. 

O  Douro,  como  todos  sabem,  —  é  muito  escabroso,  muito 
ardente,  muito  alcantilado  e  muito  pedragoso,  mormente  a 
parte  que  produz  o  vinho  mais  generoso, —  a  que  ouve  ran- 
ger  a  espadela  dos  barcos  rabellos  ou  que  está  mais  próxima 
do  rio  e  é  a  mais  ardente. —  O  seu  clima  no  verão  sustenta  o 
confronto  com  a  zona  tórrida,  pois,  como  já  dissemos,  no  ri- 
gor da  estiagem  tremera  alli  com  sezões  0,9  gatos,  as  gallinhas 
e  os  cães,  —  derrete-se  a  solda  das  vazilhas  de  lata  e  destem- 
peram-se  os  machados,  os  cutellos,  as  podôas  e  outros  instru- 
mentos de  ferro  que  fiquem  expostos  á  tisneira. 

As  próprias  pedras  tornam-se  candentes  ;  —  estalam  com 
o  calor  —  e  durante  a  construcção  da  linha  férrea  do  Douro ^ 
os  jornaleiros  assavam  as  sardinhas  nos  7'ails,  ainda  em  mon- 
tão e  expostos  á  tisneira. —  Isto  é  facto  que  em  Pinhão  pre- 
senciou um  meu  criado,  filho  de  Lamego,  homem  sério,  digno 
de  todo  o  credito. 

O  clima  é  tão  ardente  que  por  vezes  as  próprias  perdi- 
zes voando,  sendo  aves  tão  valentes,  cahem  a  terra,  suffoca- 
das  com  o  calor  f  ! ... 

Parece  incrível,  mas  é  facto  que  eu  posso  affirmar  e  ju- 
rar, pois  certo  dia,  no  rigor  do  verão^  sendo  eu  abbade  de 
Tavo7*a,  no  alto  Douro  e,  seguindo  a  cavallo  para  o  meu  ca- 
sarão da  Corvaceira,  no  baixo  Douro,  e  passava  a  jusante  da 
quinta  de  Valmôr  ^  pela  margem   esquerda  do  rio,  atravez 


1  Este  nome  é  de  phantasia  e  moderno.  O  seu  velho  nome  era 
quinta  da  Penha,  mas,  quando  a  comprou  José  Izidoro  Guedes,  \xn\x\áo-2i 
a  outra  que  herdara  do  seu  primeiro  sogro,  deu-lhe  o  nome  de  Valmôr  c 
.d'ella  tomou  o  titulo  de  Visconde  de  Valmôr. 

A  quinta  é  uma  das  maiores  do  alto  Douro  e  tem  boa  casa  d'habi- 
tação  e  bons  armazéns  que  foram  feitos  sobre  uma  grande  penha,  pelo 
que  se  denominou  quinta  da  Penha. ^  O  nome  era  bem  apropriado,  — 
não  o  de  Valmôr,  pois  quer  dizer  valle-mór,  valle  maior  ou  muito  gran- 
de,— valle  que  não  se  lobriga  em  tal  quinta. 

Ella  pertence  á  freguezia  da  Folgosa  e  á  de  Villa  Secca  dArmamar, 
pelo  que  lhe  dediquei  um  largo  tópico  no  Portugal  antigo  e  moderno, 
vol.  XI,  pag.  1:063,  col.  2.»  e  seguinte,;fa)lando  de  Villa  Secca  de  Armamar. 


TENTATIVA    ETYMOLOaiCO-TOPONYMÍCA  2VJ 


d'um  areal  candente,  porque  ao  tompo  ainda  não  estava  feita 
a  estrada  marginal  a  macadam, —  vi  com  surpreza  uma  per- 
diz voando  atabalhoadamente  da  direita  do  Douro  p^ra  a  es- 
querda e  cahir  no  areal  junto  de  mim,  ficando  inerte,  como 
fulminada  ! 


* 


Apeei-me  logo  e  fui  apanhal-a,  pois  não  se  movia,  posto 
que  ainda  estava  viva ;  —  borrifei-a  com  agua  do  Douro  e  le- 
vei-a  para  a  minha  parvónia,  distante  dez  kilometros,  abri- 
gada pelo  meu  guarda  sol. —  Dei-a  a  uma  senhora  visinha, 
que  a  metteu  em  uma  gaiola ;  cantava  muito  bem  e  viveu 
alguns  annos. 

Do  exposto  se  vê  que  durante  a  estiagem  no  alto-Douro 
as  próprias  perdizes,  voando,  chegam  a  cahir  suíFocadas  pelo 
calor !.  . . 

O  clima  é  tão  ardente,  que  no  verão  alli  murcham  e  per- 
dem grande  parte  das  folhas  as  arvores  todas,  incluindo  as 
oliveiras,  arvores  vivazes  e  de  folha  permanente. —  As  figuei- 
ras não  só  deixam  cahir  as  folhas,  mas  o  próprio  fructo,  pelo 
que  em  muitas  quintas  não  apanham  os  figos  —  aliás  delicio- 
sos^ magnificos  ! — Estendem  apenas  debaixo  das  figueiras  al- 
guma palha,  para  os  figos  não  cahirem  na  terra. 

Alli  na  estiagem  só  as  videiras  em  tempos  normaes,  que 
vão  longe,  se  conservavam  pujantes  e  viçosas  ;  mas  por  ve- 
zes o  sol  queimava  ou  crestava  como  fogo  alguns  bagos  dos 
cachos  e  alguns  cachos  todos ! .  . . 

Alli  o  thermometro  costuma  subir  á  temperatura  do  ru- 
bro no  estio,  pelo  que  certos  serviços  próprios  do  verão,  como 
a  redra,  a  enxofração,  etc,  são  feitos  só  de  manhã  —  desde  o 
nascer  do  sol  até  ás  8  ou  9  horas. 

As  ladeiras  ou  encostas  marginaes  do  Alto-Douro  talvez 
tenham  100  a  200  metros  de  declive  pór  kilometro  —  termo 
médio  —  e,  por  serem  muito  fragosas,  foram  alli  sempre  muito 
caras  as  plantações  das  vinhas  —  e  mais  caras  são  hoje  f ,  .  . 

Note- se  que  as  vides  europeias  davam-se  bem  com  as  pe- 
dras. Circundavam-nas  e  abraçavam-nas  com  as  raizes  —  e 
até  gostavam  d'ellas,  porque  ao  lado  das  pedras  havia  fres- 
cura.—  As  vides  americanas  são  mais  gulosas  e  muito  exi- 
gentes. Querem  húmus,  terra  solta  e,  quando  as  raizes  d'ellas 
tocam  nas  pedras,  -  encaracolam-se,  recuam, —  e  as  videiras 
definham,  adoecem,  morrem  ?  ! . . . 

Assim   a  plantação  das  vides  europeias  apenas  deman- 


220  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


dava  um  arroteamento  ou  vallado  d' um  metro  d'altura  e  ou- 
tro de  largura  —  sem  remoção  das  pedras;  —  agora  a  planta- 
ção das  vides  americanas  lá  no  Douro,  demanda  vallados  de 
metro  e  meio  d^altura  e  largura  —  alem  da  remoção  das  pe- 
dras todas  / . . . 

Um  meu  irmão  —  Jor^e  Augwíto  Ferreira  ^  —  creado 
no  Douro  e  muito  versado  na  lavoura  de  vinhas,  ficou  atto- 
nito,  quando  ha  annos  foi  a  Valença  do  Douro  e  viu  em  uma 
encosta  grandes  montões  de  pedra  solta,  espécie  de  mura- 
lhas!—  Depois  soube  que  era  uma  quinta  da  opulenta  casa 
Ferreirinha,  da  Regoa,  cuja  plantação  montou  a  íim  conto  e 
duzentos  mil  reis  por  milheiro  das  taes  vides  americanas?/... 
—  E  por  egual  preço  a  mesma  casa  mandou  replantar  outras 
quintas  suas  lá  no  Douro,  nomeadamente  a  de  Vargellas,  por 
ser  também  muito  pedragosa  e  muito  declivosa/...  * 

E'  assim  o  Alto-Douro.,  emquanto  que  as  nossas  regiões 
vinícolas  do  centro  e  do  sul  —  desde  a  formosa  Anadia  até  á 
Estremadura   e  Alemtejo  —  por  assim  dizer,  não  têem  pedra. 

Abundam  em  húmus  e  são  pouco  accidentadas,  pelo  que 
a  plantação  da  vinha  é  alii  muito  barata! — Regula  por  5  a 
10  mil  reis,  como  já  dissemos,  a  plantação  das  vides  por  mi- 
lheiro—  e  ó  também  muito  barato  o  grangeio. 

Podem  alli  fazer-se  —  e  fazem  se  por  machinas  a  vapor  — 
a  cava,  a  redra  e  a  plantação  das  vinhas  em  algumas  terras 
do  sul,  nomeadamente  na  grande  quiita  do  sr.  José  Maria 
dos  Santos,  — -  o  maior  colheiteiro  de  vinho  que  ha  hoje  em 
Portugal  e  na  Hespanha,  —wd.  Europa  e  talvez  no  mundo  in- 
teiro !  —  Só  na  sua  quinta  do    Poceirão,    no   Alemtejo,  —  se- 


*  Ainda  vive  actualmente,  (1909),  mas  já  conta  79  annos;— tenho  uma 
irmã  com  80  annos  —  e  eu  já  completei  7ò  annos.  A  edade  dos  três  dá, 
pois,  a  bagatella  de  235  annos ! 

'  Vargellas  tomou  o  nome  de  vargella,  diminutivo  do  portuguez 
varge,  o  mesmo  que  vargem,  vargea  e  Ví7r2:^a— campina  cultivada;  chan. 

Têem  a  mesma  etymologia  muitas  povoações  nossas,  ao  todo  mais 
de  300,  Taes  são :  Barge,  Bargellas,  Barges,  Bargina  por  Barginha^— 
Barigellas,  Barja,  Varchinhas,  diapasão  gallego  de  Varginhas ;— Var- 
ge, Vargem,  Varginha,  Vargiota,  Varizellas,  Várzea,  Várzeas,  Varziellas 
e  Varziellinha,  diminutivo  de  Varzielía  e  subdiminutivo  de  Várzea. 

Somma  e  segue: 

Varzieta  ou  Varzieto,  —  Varzina,  Varzinha,  Varzinfias  e  Farigi- 
nhas  por  Farginhas,  o  mesmo  que  Varginhas  e  Varzinfias,  pois  fa,  fé, 
fi,  fó,fu  —  e  vá,  vé,  vi,  vó,  vu,  confundiram-se  e  substituiram-se,  como  já 
dissemos. 

—  E'  assim  a  arte  nova  —  e  rira  bien  qui  rira  Ic  dernier !. . . 


TENTATIVA    ET  VMOLOOlCO-TOrO-N  VMICA  221 


gundo  me  consta  —  já  tem  colhido  em  um  só   anno   cinte  a 
trinta  mil  pipaa  de  unho  ? !. . . 


«      * 


Não  podem,  pois,  equiparar-se  de  forma  al^^uma  as  nos- 
sas regiões  vinicolas  do  centro  e  .sul  com  a  do  Alto  Douro  — 
tão  fragosa,  tão  alcantilada  e  toda  valentemente  ensucalcada, 
pois  desabando  uma  parede,  por  vezes  leva  outras  muitas  pa- 
redes e  sucalcos  diante  de  si. 

O  desabamento  mais  triste  e  mais  importante  de  que  ha 
memoria  no  Alto  Douro,  foi  o  que  se  deu  na  quinta  de  Mel- 
res,  muito  escarpada  e  que  demora  na  margem  esquerda  do 
Douro  —  em  frente  da  foz  do  Corrjo  e  da  quinta  da  Vaccaria 
pertencente  â  nobre  familia  Cunha  Rt^is,  de  Braga,  perten- 
cendo a  de  Melres  aos  distinctos  fidalgos  Por tocarr eros,  do 
palácio  das  Sereias  ou  da  Bandeirinha.,  no  Porto. 

No  inverno  de  1S22  para  1823,  rebentou  no  alto  da  men- 
cionada quinta  uma  espécie  d'olho  marinho  que  fez  desabar 
os  prim^ros  sucalcos  e  levou  de  roldão  outros  muitos  a  ju- 
sante na  extensão  d'alguns  centos  de  metros  e  na  direcção 
da  casa  da  quinta,  levando-a  conjunctamente  cora  o  armazém 
e  lagares  até  o  Douro,  que  então  ia  muito  alto  e  alli  era 
muito  largo. 

Foi  tão  grande  a  entulheira  de  terra  e  pedras,  que  sus- 
teve por  momentos  a  impetuosa  corrente  do  Douro,  fazen- 
do o  altear  tanto,  que  subiu  até  ás  janellas  da  casa  fronteira 
— a  casa  da  quinta  da  Vaccaria  —  derrubando  um  grande  cy- 
preste  e  outras  arvores  que  havia  no  terreiro  da  casa. 

Também  o  Dmiro  subiu  pelo  Corgo  até  á  grande  quinta 
do  Vallado,  da  opulenta  casa  Ferreirinha,  da  Regoa,  —  e  na 
vertiginosa  descida  arrasou  e  levou  um  grande  estabeleci- 
mento de  moagens,  pertencentes  á  mesma  quinta. 

Tantos  e  tão  grandes  penedos  deixou  no  leito  do  Douro 
que,  apesar  dos  muitos  que  mandou  partir  e  remover  a  Com- 
panhia dos  Vinhos  e  d'outros  que  foram  partidos  e  aproveitados 
para  diversas  construcções  particulares,  —  ainda  lá  se  vêem 
bastantes,  formando  alguns  d'elles  o  rápido  ou  ponto  àoCorgo.  ^ 


^  Veja-se  no  Portugal  antigo  e  moderno  os  meus  artigos  Poiares, 
freguezia  do  concelho  da  Regoa,  vol.  vii,  paginas  121,  col.  2.^,  e  —  Pon- 
tos do  Douro  (n.**  19)  no  mesmo  vol.,  pag.  199,  col.  l.a  — artigo  que  dei 
ao  meu  antecessor  Pinho  Leal,  no  fim  do  qual  declarou  haver  também  re- 
cebido de  mim  o  longo  artigo  Pinhel,  todo. 

Veja-se  também  no  mesmo  vol.  o  artigo  Porto,  pag.  319  e  segg.  — 
e  no  vol.  XI,  pag.  1:335,  o  meu  artigo  Villarinho  dos  Freires, 


222  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Custa  a  crer,  mas  é  facto ! 

O  desabamento  deu  se  de  noute  — e  muito  antes  da  meia 
noute,  pois  na  Regoa  ainda  vigora  a  tradicção  de  verem  ir 
na  grande  avalanche  a  casa  do  infeliz  caseiro  —  e  n'ella  bri' 
Ihando  luz  —  o  que  prova  que  elle  ainda  não  se  havia  dei- 
tado. 

O  prejuizo  foi  grande,  mas  seria  muito  maior,  se  o  de- 
sabamento se  desse  na  actualidade,  pois  com  certeza  levaria 
e  arrasaria  "um  lanço  da  via  férrea  do  Douro,  que  alli  passa 
a  jusante  da  casa  da  Facc«Wa,  —  bem  como  outro  lanço  da  li- 
nha do  valle  do  Corgo,  —  a  ponte  commum  ás  duas  linhas 
sobre  a  foz  do  rio  Corgo,  —  ponte  com  taboleiro  de  ferro 
sobre  pilares  de  pedra,  — e  outra  ponte  próxima,  de  pedra,  na 
estrada  a  macadam  da  Regoa  para  Poyares,  etc. 

Também  levaria  e  arrasaria  um  lanço  da  estrada  a  ma» 
cadam,  que  passa  na  margem  esquerda  do  Douro  e  atravessa 
toda  a  quinta  de  Melres. 

Aquelle  desabamento  recorda  o  que  em  tempos  muito 
mais  remotos  se  deu  5  a  6  kilometros  a  jusante,  na  margem 
esquerda  do  Douro  também,  ik)  pequeno  ribeiro  da  minha 
Corvaceira,  que  limita  a  O.  a  freguezia  de  Saniodães  e  a  leste 
a  minha  Penajulia,  ambas  do  concelho  de  Lamego,  —  des- 
abamento de  que  já  fizemos  larga  menção. 

A  quinta  de  Melres,  como  já  dissemos,  é  muito  esca- 
brosa, muito  alcantilada,  mas  não  menos  escabrosas  nem  me- 
nos alcantiladas  são  outras  muitas  quintas  do  Alto  Douro, 
nomeadamente  a  de  Marrocos^  pouco  distante  da  de  Melres^ 
do  lado  nascente,  o  pertencente  ao  sr.  Duapfe  liuet  Bacellar, 
do  Porto. 


A  mencionada  quinta  é  uma  especialidade  no  género, 
pelo  que  na  minha  opinião  Marrocos  é  deturpação  de  Bar- 
rocos —  barrocaes,  despenhadeiros. 

Cf.  Barroca,  Barroca  Alta,  Barroca  da  Pena,  o  mesmo 
que  Barroca  da  Penha  —  Barroca  das  Cilhas,  Barroca  das 
Cortilhas,  Barroca  d' Alva,  Barroca  do  Alcaide,  Barroca  do 
Comprido,  Barroca  do  Louro,  Barroca  do  Rego,  Barroca  do 
Bodelhão,  Barrocaes,  Barrocal,  Barrocalinho,  Barrocão,  Bar- 
roçaria,  Barrocas,  Barrochaes  por  Barrocaes ('1  \...). — Barroco, 
Barrocos  (cá  estão  elles !  ..),  Barrogueira  por  Barroqueira? 
—  Barronda^ —  Ban^oqueira,  Barroquinha,  Barraquinhas, 
Barroquinho  e  Barruco  por  Bar)*ôco,  singular  de  Barroco.^-,— 


TENTATIVA    ETYMOLOaiCOTOPON YMICA  '223 


ao  todo  mais  de  4rX)  povoações  nossas,  —  todas  mencionadas 
na  Chorographia  Moderna,  vols.  vi  e  vii,  —  obra  indispensá- 
vel para  este  ramo  d'estudo,  como  já  dissemos  e  mais  uma 
vez  repetimos. 

A'  mesma  série  de  povoações  que  tomaram  o  nome  dos 
barroca  es  e  6arroco.v, -- despenhadeiros,  pertencem  também 
as  que  tomaram  o  nome  dos  algares  e  barrancos^  attins  dos 
barrocos,  —  taes  são  as  seguintes  : 

—  Algar,  Âlgarão,  Algareira,  Algares,  Aígarinho,  Alga- 
rinlios  e  talvez  Ligares,  methatese  de  ligares,  por  Algares, 
como  já  dissemos. 

Junte  se  :  —  Barranca,  Barrancão,  Barrancas,  Barran- 
cha  por  Ba?Tancaf — Barranco,  Barranco  Alto,  Barranco 
Bravo  (?!)...  e  —  Barranco  das  Telxagueiras,  que  tomou  o 
nome  dos  teixugos,  gatos  bravos,  que  deram  também  o  nomo 
a  varias  povoações  nossas. 

Junte-se  Barranco  do  Inferno?  l.  . .  — Barranco  do  Lu- 
zio,  Barranco  do  Ouro,  Barranco  do  Porco,  Barranco  do  Ve- 
lho, Barranco  dos  Pisões,  Barranco  Longo,  /^arrancões,  Bar^ 
ranços,  Barranqiieiro,  Barranqtdnho^  Barranquinho  Grande^ 
Barranquinho  Pequeno,  etc. 

Por  seu  turno  a  quinta  de  Melres  tomou  o  nome  da  villa. 
hoje  simples  freguezia  de  Melres,  concelho  de  Gondomar. 

Note-se  quft  na  villa  de  Melres  viveram  outr'ora  fidalgos 
distinctos,  entre  elles  um  ramo  da  familia  Bellesas  do  Douro, 
do  Porto,  Borcellos,  Valdigem,  Gnya  e  Mattosinhos,  descen- 
dentes e  ascendentes  de  Miguel  Bellesa  d^ Andrade,  1.»  gover- 
nador ou  provedor  da  Velha  Companhia  dos  Vinhos,  fundada 
pelo  Marquez  de  Pombal. 

Y.  Mattosinhos,  Provezende  e  Miragaya,  artigo  meu,  no 
Portugal  antigo  e  moderno. 

Viveram  também  na  villa  de  Melres  ascendentes  dos 
Portocarreros  supra,  donos  da  quinta  de  Melres,  assim  deno- 
minada por  viverem  os  seus  donos  na  villa  de  Melres,  que 
tomou  o  nome  dos  melros,  pois  demora  na  margem  direita 
do  Douro,  —  em  sitio  baixo,  abrigado  e  mimoso  com  bellos 
campos  e  muito  arvoredo,  —  sitio  em  que  abundam  e  deviam 
abundar  sempre  os  melros. 

Pelo  cGutrario  são  rarissimas  as  ditas  aves  na  quinta 
de  Melres^  por  ser  muito  árida,  muito  secca  e  muito  es- 
carpada. 

—  Não  cultiva  um,  grão  de  milho  e  não  tem  uma  laran- 
jeira, um  castanheiro  ou  uma  n(»giieira,  mas  somente  ajgumaia 


224  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


oliveiras.  —  A  sua   producção    dominante   era  o    vinho  —  e 
talvez  que  hoje  nem  vinho  produza  ?/. . . 

Logo  seremos  mais  explícitos. 

Na  minha  opinião,  pois,  a  villa  de  Melres  tomou  o  nome 
dos  melros^  como  outras  muitas  povoações  nossas.  Taes  são  : 
—  MeJre,  Melreira,  Melrêu  por  Melredo  ?■  —  Melriça,  Melriqal 
ou  Mi  Iris.ml,  —  Melrina,  Melrineta,  Meirinho,  Melrinita,  Mel- 
rôa^  Melroeira^  o  mesmo  que  Melreira,  —  Melroinha,  Melros^ 
Mello,  villa,  titulo  de  condado,  etc,  —  e  Mellos,  nome  de 
duas  quintas,  etc. 

Note-se  que  a  villa  de  Mello  antigamente  se  denominou 
Merlo,  quasi  Melro.  —  Eu  já  a  visitei.  Demora  na  pendente 
norte  da  serra  da  Estrella,  junto  da  villa  de  Gouveia,  e  tem 
no  seu  pelourinho,  como  brazão  parlante  ou  emblema,  um  pi- 
nheiro e  sobre  elle  um  melro? !. . .  ^ 

A  escala  seria  Melro  —  Merlo  —Mello,  pois  na  onomás- 
tica portugueza  er  e  ar  deram  trivialmente  el  e  ai,  como  já 
dissemos. 

Também  Melro  podia  sem  violência  dar  —  e  na  minha 
opinião  deu  —  Merlo, 

Também  melro  e  melros  podiam  dar  Melre  e  Melres,  pois 
na  onomástica  portugueza  e  e  o  trivialmente  se  confundiram 
e  substituíram. 

x4.hi  vae  uma  amostra  do  panno. 

E  e  O  confundipdo-se  e  substituindo-se 
ne  onomástica  portugueza 

—  Quintella  e  Quintola  —  povoações  nossas,  bem  como  to- 
das as  que  vou  citar,  como  os  leitores  podem  verificar  na 
Chorographia  Moderna. 

—  Ortezedo,  o  mesmo  que  Ortozedo. 

Cf.  Orfozello  e  líorlozello.  —  Erredeiro,  Ercideiro  —  e 
Orbideiro  —  de  ervedo  por  ervodo  —  medronheiro  ?  ! . . . 

Orvida  e  Orzieira,  'contracção  de  Orvideira,  o  mesmo 
que  Orhideiro  supra? 

—  Peneicos  e  Penoicos. 

—  Marcelino  e  Marcolino,  diminutivos  de  Marcus  — 
Marco,  nome  d'um  santo,  etc. 

—  Rthoreda  e  Roboreda. 


V.  Mello,  villa,  no  Portugal  antigo  e  moderno. 


TENTATIVA    ETYMOLOaiCO-TOPONYMICA  225 


—  Reboredo  e  Roboredo. 

—  Marzugtieira  e  Murçogueira  são  formas  de  Morçe- 
guêira,  abundante  em  morcegos'. 

—  Recaio  è  Rocaio  ? 

—  Rechoso  e  Rochoso. 

—  Reboleiro  e  Roholeiro. 

—  Fentella  e  Fontella  / .  . . 

—  Meloal,  Molual^  e  Peloal  por  Meloal  f ! 

—  Ferrenha  e  Ferronha. 

—  Alfebrinho  por  Alfobrínho  —  pequeno  alfobre. 

—  Arrojello  por  Arroiello,  o  mesmo  que  Arraiólo,  que 
deu  Arraiollos  ou  Arrayolos  por  arroiolosj  povoações  nossas, 
cujos  nomes  são  diminutivos  do  portuguez  arroio  —  pequeno 
regato, —  em  latim  arrogium,  que  também  deu  Arrota,  Arroi- 
inhttj  Arroio,  Arroios  e  Roios,  aferese  d^ Arroios^  povoações 
nossas  —  e  Arroio  ou  Arroyo,  appellido  nobre,  etc. 

Junte-se  : 

—  Per/ia,  Por/ia,  e  Porfias,  povoações  nossas. 

—  Beiranita  e  Boiranita. 

Também  temos  Bolrana  por  belrana,  o  mesmo  que  bei- 
róa,  f.  de  Beirão  ?! ... 

—  Barrete  e  Barreto,  povoações  nossas. 

Barreto  é  também  appellido  nobre  e  antigo. —  Cf.  D. 
Christovam  de  Noronha  Mello  e  Faro  de  Barreto,  que  foi  dono 
e  ultimo  representante  do  palácio  de  Porto  Rei,  no  Douro, 
primo  ou  parente  próximo  do  snr.  D.  Joaquim  de  Carr^alho 
d* Azevedo  Mello  e  Faro,  da  nobre  casa  da  Soenga,  visinha 
da  de  Porto  de  Rei.   ^ 


^  Além  da  nobre  casa  da  Soenga,  temos  algumas  povoações  mais 
com  os  nomes  de  Soenga,  Soengas  e  Siiengas  —  ca  Hespanha  tem  na 
província  de  Lugo  também  duas  povoações  com  o  nome  de  Soengas. 

Este  nome  é  talvez  reminiscência  dos  árabes,  pois  a  casa  da  Soenga 
demora  na  muito  antiga  e  muito  importante  freguezia  de  S.  Martinho  dos 
Mouros,  concelho  de  Rezende.^E  na  dita  parochia  ainda  hoje  soenga  é 
termo  popular  que  significa  fabrica  de  panellas  de  barro  —  industria 
muito  antiga  na  localidade !. . . 

A  nobilissima  casa  da  Soenga  tomou  o  nome  do  chão  onde  foi  fei- 
ta, denominado  Soenga.  por  ter  havido  alli  outr'ora  ?i\gum?L  soenga  ou  fa- 
brica de  panellas  de  barro. 

A  nobilissima  casa  da  Soenga  recorda  o  palácio  das  Tulherias,  em 
francez  Tuilleries,  pois  na  minha  opinião  tomou  o  nome  do  francez  tuil- 
/ene  — fabrica  de  telha. —  Talvez  que  alli  houvesse  antigamente  algumas 
das  ditas  fabricas,  pelo  que  o  dito  chão  se  denominasse  Tuitteries,  unde 
Tuilleries  ou  Tulherias,  nome  do  grande  palácio ?. . . 


226  TENTATIVA    ETYMOLOWICO-TOPONYMICA 


Junte-se  ainda : 

—  Feitos  e  Foitos  —  e  para  remate  um  cumulo : 

—  Bezerreira  e  Bojorreira,  o  mesmo  que  Bezerreira  ?  ! , , , 
Note-se  que  jd,jé,jifjo,  ju — e  za,  ze,  zi,  zo,  zu  também  se 

confundiram  e  substituiram  na  onomástica  portugueza,  como 
e  e  o,  pelo  que  Bezerreira  podia  dar  Bejerreiíri  e  Bojorreira 
supra. 

Bezen^eira  quer  dizer  abundante  em  bezerros  —  novilhos, 
dos  quaes  tomaram  o  nome  varias  povoações  nossas  —  taes 
são  Bezerra^  Bezerral^  Bezerreiros,  Bezerrins  por  Bezerrinhos, 
—  BezerrOy —  Bizorreiro  por  Bezerreiro,  Bizarril  por  Bizar- 
ral  —  e  este  por  Bezerral,  pois,  como  já  dissemos, —  na  ono- 
mástica portugueza  todas  as  vogaes  se  confundiram  e  substi- 
tuíram^ bem  como  as  desinências  el,  il  e  aí, 

Cf.  Barril  e  Barrai,  Cabril  e  Cabral,  Carril  e  Carral, 
"etc,  etc,  povoações  nossas  apontadas  supra. 

E'  assim  a  arte  nova. 


Volvendo  á  quinta  de  MelreSy  dissemos  nós  que  hoje  tal- 
vez nem  vinho  produza,  pois  deve  estar  toda  phylloxerada^ 
inculta,  abandonada,  como  outras  muitas  do  Alio  Douro,  por 
ser  muito  ardente,  muito  escabrosa,  muito  alcantilada,  muito 
pedragosa  e  por  consequência  muito  cara  a  sua  replantação 
com  as  vides  americanas. 

E'  assim  o  Alto  Douro,  todo  muito  escarpado,  muito  fra- 
goso e  todo  ensucalcado,  pelo  que  alli  nunca  trabalharam  nem 
podem  trabalhar,  como  trabalham  na  região  vinícola  do  sul, 
machinas  a  vapor  —  nem  mesmo  simples  arados  tirados  por 
bois. 

—  Nem  os  próprios  bois  podiam  subir  e  descer  de  so- 
calco para  socalco,  porque  as  escadas  ou  escaleiras  que  dão 
passagem  d'uns  socalcos  para  os  outros  em  geral  são  muito, 
Íngremes,  muito  estreitas  e  únicas  tahez  em  Portugal  ? ! . . . 

As  ditas  escadas  ou  escaleiras  são  formadas  ou  feitas  por 
pequenas  pranchas  ou  lageas  de  schisto,  a  pedra  da  dita  re- 
gião, que  varam  as  paredes,  ficando  apenas  fora  do  nivel 
d'estas  alguns  decimetros,  como  que  suspensos  no  ar,  por  onde 
sobem  e  descem  apenas  pedestres  —  e  com  diííiculdade, — mor- 
mente os  jornaleiros  carregados  com  os  gigos  das  uvas,  etc. 

E'  tão  declivoso,  tão  pedragoso  e  tão  alcantilado  o  chão 
das  quintas  do  Alto  Douro,  que  o  graugeio  d'ellas  (cava  e  re- 
dra)  é  feito  com  enxadas  de  doig;  bicos  de  ferro,  tendo  as  pon- 


TENTATIVA    ETYMOLOGUCO-TOPONYMICA  227 


tas  d'aço  bem  temperado  I  —  Só  assim  podem  mover  a  casca- 
lheira, pelo  que  o  ruido  da  caca  e  redra  com  o  movimento 
das  enxadas  e  das  pedras,  ouve-se  por  vezes  a  um  kilometro 
de  distancia  —  e  mais! , . . 

Note  se  que  os  jornaleiros  são  por  vezes  30  a  4r)  —  o  an- 
dam sempre  em  colunma  —  a  cavar  ou  redrar. 

E'  assim  o  Alto  Douro,  emquanto  que  nas  regiões  viní- 
colas do  centro  e  do  sul,  por  serem  pouco  accidentadas,  abun- 
dantes em  húmus  e  faltas  de  pedra_, —  a  cava  e  a  redra  po- 
dem ser  feitas  a  vapor  —  ou  com  enxadas  leves  e  rasas. 

Note-se  também  que  no  Douro  —  mesmo  em  tempo  nor- 
mal—  um  milheiro  de  vides  —  em  geral  —  apenas  dava  uma 
pipa  de  vinho  por  anno,  emquanto  que  nas  regiões  vinícolas 
do  centro  e  do  sul  —  nomeadamente  na  Lourinhã  —  um  mi- 
lheiro de  vides  produzia  e  talvez  produza  ainda  —  duas  a  três 
pipas  de  vinho?!,.. 

Eu  já  estive  em  Torres  Vedras  algumas  vezes  antes  de 
fazer-se  a  linha  férrea  de  Lisboa  por  Torres  á  Figueira  da  Foz. 

Também  fui  em  diligencia  de  Torres  até  Alhandra  —  por 
Matacães,  Runa,  Dois  Portos  e  Sobral  de  Monte  Agraço,  —  villa 
que  demora  em  sitio  alto,  alegre  e  vistoso,  na  cumeada  ou  cu- 
mieira  d'onde  partem  para  O.  o  rio  Si\andro,  que  banha  Tor 
res  Vedras  e  morre  no  Atlântico  —  e  a  ribeira  que  vàe  para 
nascente  e  morre  junto  á'' Alhandra,  no  Tejo. —  Nunca  estive 
na  Lourinhã,  mas  consta-me  que  alli  a  producçào  das  vides  é 
espantosa  / .  .  . 

D'ella  fallaremos  mais  d'espaço.  Agora,  para  d'algum 
modo  satisfazer  aos  meus  poucos  leitores,  que  birram  com 
tantas  e  tão  insulsas  cantigas  e  querem  etfjniologias,  —  ahi  vão 
algumas  cora  relação  ás  povoações  mencionadas  supra. 

—  Torres  Vedras^  como  todo?  sabem,  é  o  mesmo  que  Tor- 
res Veteras  —  torres  velhas,  antithese  de  Torres  Novas, 

• —  Matacães  —  pôde  vir  de  matacão,  planta  venenosa  que 
talvez  alli  abundasse,  ou  de  Mata  Cães,  apodo  ou  appellido. 

Cf.  Mata  Bodes,  Mata  Burros,  Mata  Christo,  Mata  Fome, 
Mata  Ladrões,  Mata  Lobinhos,  Mata  Lobos,  Mata  Mouros,  Mata 
Porcas,  Mata  Porco,  Mata  Sete,  Mata  V^acas,  etc,  povoações 
nossas. 

—  Runa  talvez  tomasse  o  nome  do  portuguez  popular  de 
Coimbra  —  Runa,  cano  d'esgoto,  por  allusão  ao  rio  Sizandro 
que  alli  passa  e  corre  fundo. 

—  Alhandra  é  talvez  uma  forma  d\ilhambra  —  villa  e 
formoso  palácio  da  Hespanha. 


'i28  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


—  Dois  Portos  —  é  uma  freguezia  muito  importante  e 
muito  linda,  que  tomou  o  nome  de  jporto  na  accepção  de  pas- 
sagem estreita  entre  montes  ou  sitios  altos,  pois  alli  não  ha 
portos  de  mar  nem  de  rios. 

Porto  na  mesma  accepção  deu  Portella,  Portellada,  Por- 
telladia,  Portellndinha,  Portellas,  Portellinha,  Portellinhas,  Por- 
tellinho,  Portellinhos,  Portello  e  talvez  Portinho  e  Porto — a 
próprio  cidade,  porque  o  Douro  ali  é  tão  estreito,  que  parece 
um  canal  ?  / . . . 

Somma  e  segue : 

—  Porto  da  Carne,  junto  da  serra  da  Estreita,  no  conce- 
lho da  Guarda  ;  Porto  de  MoZy  Portozello,  etc, —  ao  todo  mais 
de  mil  povoações  nossas,  quasi  todas  distantes  do  mar  e  de 
rios?/,., 

—  Sobral  de  Monte  Agraco  —  é  nome  composto  de  Sobral 
por  Sobreiral,—  bosque  ou  mata  de  sobreiros,  chamados  tam- 
bém corticeiros, —  arvores  que  deram  o  nome  a  centenares  de 
povoações  nossas,  como  já  dissemos,  dando  a  lista  ou  série  da 
maior  parte  d'ellas. 

Eu  não  me  recordo  de  ver  alli  sobreiros,  mas  por  certo 
alli  abundaram  outr'ora. 

Monte  Agraço  —  tomou  o  nome  do  sitio  por  ser  uma  cm- 
m,eeira, —  e  do  portuguez  agraço  —  vinho  verde,  pejorativo  de 
agro  —  azedo,  rascante. —  Assim  deve  ser  o  vinho  da  locali- 
dade, porque  o  sitio  é  o  chão  mais  alto  e  desabrigado  da  re- 
gião vinicola  de  Torres, 

—  Sizandro — o  peqv.eno,  mas  formoso  rio  supra^  —  to- 
mou talvez  o  nome  de  Lisander  —  Lisandro,  nome  pessoal 
grego,  congénere  de  Alexander  —  Alexandre;  —  Leaader  — 
Leandro;  Periander  —  Periandro,  nomes  históricos  e  alguns 
d'elles  nomes  de  santos,  etc. 

Note-se  que  Lisandro  podia  dar  Sizandro  —  porque  l  e  r, 
mesmo  iniciaes  —  confundiram-se  e  substituiram-se. 

Veja-se  o  tópico  Substituição  de  letras.  Ahi  vae,  entre- 
tanto uma  amostra  do  pano: 

h  e  5  confundindo-se  na  onomástica  poriugueza 

—  Sabordella,  povoação  nossa,  é  talvez  uma  forma  d^ 
Saportella  por  La  Portella  —  a  portella  í 

Cf.  Laportella  e  Saportella,  povoações  da  Hespanha. 
Note  se  que  a  Hespanha  tem  29  povoaçõer;  denominadas 


TENTATIVA    ETYMOLOOICO-TOPONYMICA  2'29 


Portela,  todas  na  Gallíza, —  e  fora  da  Galliza  tem  Portella^ 
Portellada^  Portiella,  Portilla,  Portlllo,  etc. 
Laportella  e  Saportella  estão  era  Lerida. 

—  Laborim,  povoação   nossa, —  e  Sahorim  ns.  líeMpanha 
Almedina  —  em  Portugal  e  na  ílespanha  —  e  Halmedina 

por  U Almedina?  —  na  ílespanha.  ^ 

Somma  e  segue:  —  Lavariz,  Sabariz  Q  Savariz ;  Lago  e 
Sago'!  Lameira  e  Sameira;  Lameiras  e  Sameiras ;  lameiro  e 
Sameiro?.»,  Larninho  ou  Samínho  —  e  Santinho? . .  .  Landal 
e  Sandel,  por  Sandal  ?  Landim,  Nandirn  e  Sandim  ?  Landeiro 
—  e  Sandeiro  ;  Lapa  e  Sapa;  Lapadncos  —  e  Sapaduços  ? /. ,  . 
De  lapa  d* ursos!..,  Cf.  iMpa  do  Lobo,  Serra  d'Ossa,  o  mesmo 
que  Serra  da  Ursa,  -  Baldossa,  o  mesmo  que  Vai  da  Ursa^ 
etc.,  povoações  nossas  que  tomaram  o  nome  dos  ursos,  como 
já  dissemos.  * — Lapinha  e  Sapinha;  Lapdra  e  S>ppira;  Lapeiro 
e  Sapeiro ;  Lardoeira  e  Sardoeira  ;  Larjal  e  Sarj'd  por  Se- 
rejal  /  Lavadouro,  Levadouro  e  Sebadouro  í  Ledesma  e  Seder- 
ma,  que  o  povo  denomina  também  Sedesrna. 

Estas  povoações  tomaram  o  nome  dos  soromenhos,  pe- 
reiras bravas,  que  deram  também  Salmães,  Salmanha,  Sar- 
menha  (o  povo  também  diz  Ser  manha)', —  Sermenheiros,  Sero- 
menha,  Seromenho^  Serominhão,  Serominheiro,  Siderma  por 
Sederma,  —  e  Juromenha  por  Soromenha  {í  ...) — povoações 
nossas. 

Junte-se  também  Soromenho  —  appellido. 

E'  assim  a  arte  nova!... 

Mas  dirão  os  leitores :  —  como  podiam  os  soromenhos 
dar  Sedesrna,  Sederma  e  Siderma  f 

Lá  vou. 

—  Os  soromenhos,  pela  forma  popular  seromenhos^  deram 
seromenheda ;  —  e  esta  por  contracção  deu  ser  meda.— Sederma 
é  metathese  de  ser  meda  —  e  por  seu  turao  Sederma  deu  Se- 
desma,  Ledesma  e  Siderma,  porque  na  onomástica  portugueza 
s  Q  l, — er  e  es  —  e  e  i  confundiram- se  e  substituiram-se  mui- 
tas vezes. 

As  pereiras  bravas  também  se  denominaram  codornos, 
que  o  povo  chama  cadornos^  —  unde  Cadorneiro,  nome  d'uma 
povoação  e  de  um  ribeiro  da  minha  Penajulia,  denominados 


^  Veja-se  a  nossa  Chorographia  moderna  e  o  Diccionario  general 
de  los  Pueblos  de  Espana  —  Madrid-  1862. 

2  Junte-se  Peraduça  por  Pedra  da  Ursa,  o  mesmo  que  Lapaduça 
ou  Lapaduços. 


230  TENTATIVA    ETyMOLOGICO-TOPONVMICA 


vulgarmente  Coderneiro. — Jante  se  Codorneiro,  Codornellas  e 
Codórno,  povoações  nossas,  —  e  Cogórno  por  Codorna,  appel- 
lido,  pois  d  e  g  também  se  confundiram  e  substituíram  mui- 
tas vezes  na  onomástica  portugueza. 

Veja-se  o  tópico  —  Substituição  de  letras,  —  tópico  inte- 
ressaniissimo  para  esta  ordem  d'estudo. 

Prosigamos. 

—  Ledões  e  Sedões. 

—  Ledouro  e  Sedouro 

—  Leixões  por  seixões  (ff...)  plural  de  Seixão,  povoação 
nossa,  como  Leixosa  e  Seixosa? !,  . . 

—  Lemede  e  Semedo,  quasi  Semede. 
Cf.  também  Semide,  povoação  nossa. 

—  herdeira  —  Cerdeira  e  Serdeira  ?  ! . . , 

—  Leomil.  quasi  Lomil  —  e  Sn  mil  por  Lomil?  ^ 

—  Leside  e  Sezite  por  Se^ide  —  de  Le  Sid  —  o  senhor  por 
excellencia,  unde  Ruy  Diaz  el  Cid,  vulgo  Cid  Ruy  Diaz,  en- 
tre nós  Cid  Ruí/  Dias  —  lendário  cavalleiro  hespanhol. 

—  Lesteiro  e  Cesteiro,  povoações  nossas. 

—  Lidadelha  e  Cldadelha. — Loòreiro  e  Sobreiro? 

—  Lomar  e  Assumar  —  por  Al  +  Somar  —  e  este  por 
Lomar,  —  de  LeodomÍ7'us,  i  supra. 

—  Loure  e  Soure  ?  —  Lourinhos  e  Sourinho  ?  —  Louro  e 
Souro'^  —  Lousa  e  Sousa?  — Loicseiro  e  Souseiro'^  —  Lousella 
e  Souzella. 

Note-se,  porém,  que  na  minha  opinião  Sousa  —  rio,  etc, 
—vem  do  baixo  latim  saucia* — salgueiral. 
Junte-se  : 

—  Leiros  e  Seiros. 

—  Lemenhe  e  Semelhe. 

Note- se  que  Ih  e  nh  muitas  vezes  se  confundiram  e  sub- 
stituíram na  onomástica  portugueza. 

—  Libães  por  Libões  —  e  Cibõesf 

Note-se  que  em  portuguez  as  desinências  ães  e  ões  con- 
fundiram-se  —  e  ainda  hoje  se  confundem  ?  !... 

—  Linhaceiros,  Linheiro  —  e  Cinheiros. 

—  I^opo  e  Soppo? 


^  Leomil  vem  de  Leodomirus,  i,  que  deu  também  Lomar,  como 
Gunthimirus,  i  deu  Candemil,  Candomil,  Contumil,  Contumillo,  Gondo- 
mil  t  Gondomar?  !. . . 

—  Com  vista  ao  sr.  conselheiro  António  Cândido,  natural  de  Can- 
demil. 


TENTATIVA    ETYMOLOOICO-TOPOXYMinA  231 


—  Loredo,  Loridos,  plural  de  Lorido  —  e  Chovido  por 
Sorido  ? 

A  Hespanha  tem  Churide  e  Chorito,  quasi  Chovido.  * 

Do  exposto  se  vê  que  na  onomástica  portugueza  l  q  s 
confundiramse  e  substituiramse,  pelo  que  Lizandro  deu  ou 
podia  dar  Sisandro. 

Fiat  lux  —  e  hurra!  pela  onomástica  portugueza  compa- 
rada / . .  . 


« 


Também  Sisandro  pôde  vir  de  Sizenando  ou  Sezinando, 
antigo  nome  d'um  santo,  etc,  — em  latim  Sizenandus  e  Se- 
xinandus,  i,  que  teve  as  formas  Senandus,  Sisnandus,  Sesnan- 
dus  e  Sernande  por  Sesnande,  povoações  nossas. 

Por  seu  turno  Senandus,  i  deu  ou  podia  dar  Sande, 
villa,  etc,  —  e  Sandimis,  i  que  deu  ou  podia  dar  Sandim,  Sau- 
dinha^ Sandinho  —  e  Sendim,  Sendinha,  Sendinho,  povoações 
nossas. 

Também  temos  Sandiães  e  Sandião,  que  podem  vir  de 
Sandianus,  ^,  is,  o  mesmo  que  Sandinus,  i  —  por  Senandinus, 
i  supra. 

Cf.  Antonius,  Antonimis,  Antonianns  e  Antoniolus,  i,  di- 
minutivo archaico  á^Antonius  —  António. 

Maximus,  Maximinus,  Maximianus,  Maximilus  e  Maxi- 
milianus,  i,  nomes  pessoaes,  diminutivos  de   Maximus  —  Ma 
ximo  —  nome  d'um  santo,  etc. 

Maximilus,  i  deu  Meixomil,  freguezia  de  Paços  de  Fer- 
reira —  e  Antoniolus  i,  supra,  —  deu  AntanhoU  freguezia  do 
concelho  de  Coimhvaf :...  • 

O  mesmo  Sizenando  ou  Sezinando  podia  dar  Sizandvo 
por  SizandOy  pois,  como  já  dissemos,  ore  muito  falso,  muito 
ca/?nc/?o-s'o /  —  Apparece  e  desapparece  instantaneamente. 

—  E'  assim  a  arte  nova  —  e  rira  hien  qui  rira  le  der- 
nier  ff. , , 

Também  Sezinandus,  i  pela  forma  Sernandus,  i  supra  — 
deu  ou  podia  dar  Sernandicellus,  i,  unde  Sernancelhe,  villa,  etc. ' 

Nós  propomos  duas  etymologias  para  Sizandro  —  e  fica 


*  Como  estamos  a  fallar  de  Torres  Vedras,  afamada  região  viní- 
cola, junte-se  para  atesto  do  casco  —  S.  Colmado  e  S.  Cosmado,  povoa- 
ções nossas,  lindíssimas  formas  de  S.  Cosme  e  S.  Damião,  como  já  dis- 
semos. 

'    Veja-se  o  tópico  :  —  Diminutivos  com  a  desinência  olus,  ola. 

'    Veja-se  o  tópico  :  —  Diminutivos  com  a  desinência  ccllus,  i. 


232  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


a  porta  aberta  e  franca  para  outra  que  melhor  satisfaça,  pois, 
como  já  dissemos  e  repetimos :  —  em  assumpto  de  tal  ordem 
não  ha  precisão  rnathematica. 

Os  mesmos  etymologistas  francezes  por  vezes  propõem 
três  e  mais  etymologias  para  o  nome  d'uma  povoação  e, 
quando  isto  succede  na  França,  onde  a  sciencia  etymologica 
está  muito  adiantada  e  ó  já  muito  antiga,  não  se  estranhe 
que  eu  —  sendo  uma  completa  nullidade — titubie  n'esta 
louca  Tentativa. 

*       * 

Antes  de  passarmos  adiante,  ahi  vão  mais  algumas  ety- 
mologias  com  relação  ás  povoações  do  concelho  de  Torres 
Vedras,  um  dos  mais  importantes  da  Estremadura  e  que  de- 
via ser  occupado  e  habitado  desde  os  tempos  mais  remotos^ 
por  estar  a  pequena  distancia  do  Tejo,  do  mar  e  de  Lisboa 
—  e  por  ser  pouco  accidentado,  abundante  em  húmus,  todo 
arável,  mimoso  e  fértil. 

Da  sua  remota  occupação  por  centenares  de  povos  diffe- 
rentes  provieram  os  nomes  das  suas  muitas  povoações,  pelo 
que  a  etymologia  d'alguns  d'elles  é  difficilima !  —  Têem 
mesmo  em  geral  um  timbre  particular. 

N'elles  abunda  a  desinência  eira,  como  em  volta  de  La- 
mego a  desinência  im  —  e  entre  a  Figueira  e  Coimbra  a  desi- 
nência ede.  Taes  são :  Araiede,  Cantanhede ^  Limede,  Murtedèj 
Tacarede,  etc,  —  e  em  volta  de  Lamego  —  Nostim,  Godim^ 
Constantim,  Penim,  Lerreirim,  Magustim,  Cantím,  Contim, 
Lalim,  Lazarim,  Gogim,  Goujoim,  etc. 

Isto  não  é  vulgar  e  já  dissemos  o  bastante  com  relação 
á  etymologia  d  esta  ultima  série  de  nomes  de  terras  com  a 
desinência  im,  deixando  a  estranha  série  da  desinência  êde 
para  o  meu  atávico  successor,  que  muito  provavelmente  será 
o  sr.  dr.  Joaquim  da  Silveira,  da  Anadia,  hoje  notário  e  advo- 
gado em  Alcanena,  —  tantas  vezes  mencionado  n'esta  pobre 
Tentativa.—  A  eile,  como  visinho  das  ditas  povoações,  cumpre 
velar  ^ro  domo  sua,  investigando  a  etymologia  d'ellas. 

* 

.  .' :Ahi  vae  agora  uma  lista  d'alguns  nomes  das  povoações 
dó, concelho  de  Torres  Vedras,  com  a  desinência  supra  — 
eim, —  todos  mencionados  pelo  sr.  João  Alaria  Baptista  na 
Chòrograpthia  Moderna. 


TKNTA.TIVA    ETYMOLOGUCOTOPON YMICA 


á38 


Sáo  elles  os  seguintes  : 

—  Crujeira,  Sittnheira^  Carraffqueira,  Carvoeira,  Panas- 
queira, Zihreira,  Jíinqueira,  Maceira,  Bombardeira,  Figueira, 
Mixilhoeira,  Serpiyeira,  Gallegueira,  Serreira,  Sindieira,  Sei- 
ctira,  Ordasqueira,  ISecUheira,  Zurragueira,  Lameira,  Espi- 
nheira, Fortuxtira,  Lchagueira^  Ermigueira,  ou  Ermigeira 
(sic),  —  Freira^  Sthreira,  Gourozeira  e  Brejoeira. 

Somma  e  segue. 

—  Abrunheira,  Bogalheira,  RibaJdeira,  Palameira,  Feli- 
teira,  Murteira,  Feteira,  Soalheira,  OUceira,  Fixoeira,  Alma' 
greira,  S.  Fedro  da  Cadeira,  Siloeira,  Barreira,  Brijeira  ou 
Brejeira,  (sic),  — Escravilheira,  Sequeira,  Vai  da  Ribeira,  Lou- 
riceira.  Madeira,  Amoreira,  Monteira,  Freixofeira,  Melroeira^ 
Cadriceira,  Mugedeira,  Penfieira,  Semineira,  Chapuceira,  Far- 
ropeira,  Ribtiray  Bordinheira,  Carregueira,  Moça  faneira  (sic), 

—  Recomeira,  Guilhalmeira,  Gol  íapeira,  Maxarreira,  Rochei- 
ra,  Xeira,  Xeira-Maitos  e  Xeira  Campos?  l .  . . 

--Total  —  oitenta  e  tantas  povoações  com  a  desinência 
eira,  pois  alguns  dos  nomes  supra  repetem  se  varias  ve- 
zes. 

Esta  desinência  é  própria  e  característica  de  Portugal  e 
da  velha  GaUiza,  pelo  que  se  encontra  na  onomástica  de 
todo  o  nosso  paiz,  mas  no  concelho  de  Torres  Vedras  abunda 
mais  do  que  em  nenhum  outro  dos  nossos  concelhos. 

Abundou  também  outr'ora  e  ainda  hoje  abunda  na  ono- 
mástica da  Galliza  a  mesma  desinência  eira. 

Ahi  vae  uma  ligeira  amostra  do  panno ; 

—  Abelleira,  Acelleira  e  Abelleiras;  ^—  Agueira,  Agueiro; 

—  Barreira,  Carballeira,  que  se  lê  Carbalheira,  em  portuguez 
Carvalheira; — Carrasqueira,  Carreira,  Carreiras,  Castinei- 
ra,  Castineiras,  *  Cumieira,  Eira,  Eiras,  Feira,  Feiteira,  Fer- 
reira, Ferreiras,  Figueira,  Figueiras,  Franqueira,  Frieira, 
Galineira,  Gamalleira,  Herreira,  Moreira,  Moreiras,  Nogueira 
e  Nogueiras. 

Juntese: 

Oliceira,  Pateira,  Pedreira,  Pereira,  Pereiras,  Peniqueira, 
Pesqueiras,  Pineira,  Porgueira,   Pradeira,   Ribeira,    Ribeiras, 


'  Vide  o  Diccionario  Qeneral  de  los  Pueblos  de  Espana  citado 
-supra,  onde  se  encontram  como  povoações  da  Galliza  estas  e  outras 
muitas. 

'    Junte-se  Corbaceíras,  Coruxeira  e  Coruxeiras. 


2B4  TENTATtVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Eigueira,  Rigueiras,  Rivadeneira,  *  —  Sahugueira,  Sabuguei- 
ras,  SabugueÍ7'o,  Solbeira  e  Solvei ra  (formas  de  Sorveiraf);  — 
Teijeira  e  Tejugueira  (são  formas  cal  laicas  de  Teixeira  e  Tei- 
xugueirOj  povoações  nossas) ;  —  Videira,  Vidueira,  Vidueiras, 
Vidueiros,  etc. 

Do  exposto  se  vê  que  a  Galliza,  como  já  dissemos, — e 
irmã  gémea  de  Portugal t... 

N'elJa  abunda  a  desinência  eira,  como  reminiscência 
talvez  já  do  tempo  em  que  a  Lusitânia  provincia  romana, 
compreliendeu  a  Galliza,  como  já  dissemos,  —  ou  do  tempo 
em  que  posteriormente  a  GalUza  compreliendeu  a  parte  norte 
de  Portugal  até  Coimbra,  Vizeu  e  Lamego^ — ou  do  tempo 
em  que  Poi^tugal  por  seu  turno  posteriormente  comprehen- 
deu  parte  da  Galliza!... 

E,efiro-me  ao  tempo  em  que  no  século  xii,  a  rainha  D. 
Thereza  passeava  pela  Galliza,  como  nós  por  nossa  casa  —  e 
trouxe  durante  annos  na  sua  corte  os  bispos  de  Tui/  e  Oreií- 
se,  como  senhora  d'aquellas  duas  provincias. 

A  desinência  eira  —  como  já  dissemos — é  própria  e  ca- 
racteristica  de  Portugal  e  só  se  encontra  na  onomástica  da 
velha  Galliza,  pois  actualmente  e  desds  longa  data  a  Galliza 
é  forçada  a  seguir  e  adoptar  o  idioma  castelhano,  pelo  que 
pôz  de  parte  a  desinência  eira,  substituindo- a  pela  desinên- 
cia castelhana  equivalente  e^m,  —  desinência  que  abunda  em 
toda  a  onomástica  da  Hespanha. 

Fdra  da  Galliza  é  rara,  rarissima  a  desinência  eira. 

Eu  apenas  lobrigo  Cantejeira  na  provincia  de  Leão. 

Também  se  encontra  a  desinência  eira  no  patois  do  sul 
da  França,  nomeadamente  na  Provença, 

—  Com  vista  ao  meu  atávico  successor,  tantas  vezes 
mencionado,  —  o  sr.  dr.  Joaquim  da  Silveira,  da  Anadia^ 
que  por  boas  ou  más  bulas  se  apoderou  dos  meus  caros  ver- 
betes, —  ao  todo  cerca  de  cem  kilos  —  fructo  do  meu  traba- 
lho  insano  de  dez  a  doze  annos  —  além  de  bastantes  livros 
raros  e  caros,  avultando  entre  elles  um  óptimo  exemplar  com- 
pleto do  Portugalíre  Monumenta  histórica  f ! ,  - , 


1  Com  este  nome  ha  duas  freguezias  e  duas  povoações  em  Lugp  e 
d'ellas  tomou  o  appellido  Ribadeneira  um  distincto  escriptor  hespanhol. 

Ribadeneira  quer  dizer  que  demora  nas  ribas  ou  margem  do  Nei- 
ra,  rio  de  Lugo. 

Cf.  Ribadavia,  Rivadesella,  Rivaseca,  etc,  povoações  da  Hespa- 
nha;- Riba  d' Ancora,  Riba  d' Ave,  Riba  d'Ul,  Riba  Pinhão,  Riba  Tâ- 
mega, Riba  Tua,  etc,  povoações  nossas. 


TENTATIVA    ETYMOLOOICOTOPONYMÍCA  235 


O  potois  do  sul  da  França  —parece  patois  portuguez! . ,. 
—  Já  dissemos  algo  sobre  o  assumpto  e  chamamos  para  este 
ponto  a  attenção  dos  philologos. 

Prosigamos. 

Diremos  agora  também  algo  da  etymologia  das  muitas 
povoações  do  Torres  Vedras  com  a  desinência  eira,  princi- 
piando por  notar  que,  sondo  tantas,  nenhuma  se  denomine 
Eira  —  ou  tomasse  o  nome  das  eiras,  —  Uma  d'ellas  chama-se 
Ereira,  mas  não  tem  relação  alguma  com  eira,  pois  Er  eira  é 
uma  forma  de  Hereira  —  abundante  em  heras,  planta  bem 
conhecida. 

Por  seu  turno  eira  vem  do  latim  área  ;  —  e  hera,  nome 
de  varias  plantas  trepadeiras  da  familia  das  araliaceas,  vem 
do  latim  heclra,  que  deu  o  nome  a  differentes  povoações  nos- 
sas. —  Taes  são:--^rí?,  Erada,  Eras,  Ereira,  Ereiras,-- 
Edras,  Edrosa,  Edi^oso,  e  Hera,  —  ao  todo  15  a  '20  povoa- 
ções. 


Não  se  estranhe  a  forma  Era  em  vez  de  Hera,  porque  a 
nossa  orthographia  é  um  cahos  ou  caos  {?)  —  ainda  hoje  —  e 
os  nomes  de  muitas  povoações  nossas  jà  vêem  de  tempos 
muito  remotos!.  ..— Alguns  d'elles  são  romanos  e  outros 
pre  romanos  —  do  tempo  dos  celtas,  celtiberos,  gregos  pheni- 
cios,  etc. 

Não  se  confunda  também  hera,  vulgo  era,  planta,  com 
era  do  verbo  .ser  —  ou  era  —  acontecimento,  época  em  latim 
aera,  que  se  lê  era. 

Não  se  confunda  também  a  etymologia  de  Ereira  com  a 
de  Ericeira,  villa  histórica  e  marítima  do  concelho  de  Ma- 
fra, que  tomou  o  nome  do  latim  erice,  es  —  a  urze,  pois  na 
costa  da  Ericeira,  abunda,  como  eu  já  vi,  uma  espécie  de  urze. 

A  villa  da  Ericeira  podia  também  tomar  o  nome  do  la- 
tim zoológico  de  Varrão  ericius  —  ericio,  vulgo  ouriço  cachei' 
ro,  animal  que  ainda  hoje  se  encontra  em  varias  regiões  do 
nosso  paiz. 

O  mesmo  ericius  —  ouriço  cachnro  —  deu  Ericio,  nome 
d'um  santo,  etc,  que  se  encontra  nos  sanloraes  e  em  Santo 
Ericio,  aldeia  nossa?/ . . . 

Pertence,  pois,  Ericio  á  classe  dos  nomes  affrontosos  que 
vários  santos  pela  sua  humildade  e  virtude  adoptaram,  tendo 
sido  apodos  com  que  os  affrontavam. 

Dos  bichos  e  feras  foram  tirados  os  seguintes  nomes  de 


236  TENTATIVA    ETYMOLOGIOO^TOPONYMICA 


santos :  —  Lmo^  Leopando,  Leobardó,  o  mesmo  que  Leopardo, 
—  Leohino,  Leocadia,  Lpoaricia^  Leodegario,  Leonardo,  Leon- 
cia,  Leôncio,  Leonides,  Leonilla,  Leopoldo.  Leocigildo,  Lobo,  Ti- 
gre, Tigridia,  Tigrio,  —  Urso,  Urdcio^  Ursino,  Urdsceno,  Ur- 
so, Ur  Sida,  Por  cario,  o  mesmo  que  porqueiro,  —  e  Porciano, 
diminutivo  de  Por  cio,  etc,  —  todos  nomes  de  santos  —  e  os 
últimos  três  tirados  dos  porcos?/... 

Temos  também  muitos  appellidos  affrontosos :  isso,  po- 
rém, .não  obsta  a  que  sejam  alguns  d'elles  nohilissimos  e  d' alta 
cotação  ! 

—  Honra  o  teu  nome  e  elle  te  honrará  —  seja  qual  fôr  7 

Prosigamos, 

Temos  também  varias  povoações  que  tomaram  o  nome 
das  eiras,  taes  são :  —  Eira,  Eira  Alta,  Eira  Barrenta,  Eira 
Cova,  Eira  da  Isca,  Eira  da  Loba,  Eira  da  Mó,  Eira  da  Pal- 
ma, Eira  da  Pedra,  Eira  de  Baixo,  Eira  de  Cima  e  Eira  de 
Lapella.  ^ 

Junte-se :  —  Eira  de  Mello,  Eira  de  Sá,  Eira  de  Tibães, 
Eira  do  Cabo,  Eira  do  Meio,  Eira  Doniga  (das  Donas?) ;  — 
EÍ7'a  Grande,  Eira  Nova,  Eira  Pedrinha,  Eira  Vedra,  afim 
de  Torres  Vedras,  mas  d'outro  concelho ;  Eira  Velha,  o 
mesmo  que  Eira  Vedra ;  —  Eirão,  o  mesmo  que  Eira  Gran- 
de supra;  —  Eiras,  Eiras  Altas,  Eiras  d' Alem,  Eiras  dos  Mou- 
ros (?!...);  —  Eiras  Vedras,  irmãs  gémeas  de  Torres  Vedras; 
Eirinha,  Eirinhas,  Eiró,  Eiró,  ^  etc. —  ao  todo  mais  de  800 
povoações,  que  tomaram  o  nome  das  eiras.  —  Não  pertence, 
porém,  uma  única  ao  vasto  concelho  de  Torres  Vtdras,  co- 
lhendo bastantes  cereaes  e  devendo  colher  outr'ora  muito 
mais  /,,. 


*■  Lapella  é  diminutivo  de  Lapa  e  o  mesmo  que  Lapinha,  Pedri- 
nha e  Peninha,  —  povoações  nossas  também,  como  Padrella  por  Pe- 
drella,  Penella,  etc. 

^  ^  Eiró  e  Eiró  são  diminutivos  de  eira,  tirados  de  eirola,  que  deu 
Eiró  e  Eiró,  como  Figueirola  no  baixo  latim  ficariola,  deu  Figueiró  e  Fi- 
gueirôa,  appeliido;  Ecclesiola,  diminutivo  de  ecc/es/fl  —  egreja,  —  deu 
Grijó  e  Egrijó;  Alexiolus,  diminutivo  de  i4/ex/w5  —  Aleixo  —  deu  Alijó 
t.  por.  aferése  Lijó  o  mesmo  que  Aleixixinho  ?  !. . . 
•  Também  Hectorolus,  diminutivo  de  Hector,  o  ris  —  Heitor  ~-áe\i 
Eituró,  o  mesmo  que  Heitorzinho,  etc,  povoações  nossas?!. .. 

Veja-se  o  tópico :  Diminutivos  com  a  desinência  olus,  olu. 

Na  minha  Penajulia  ha  um  sitio  chamado  Eirõ,  —  e  outro  na  fre- 
guezia  de  Távora,  concelho  de  Taboaço,  —  ambos  relativamente  altos, 
expostos  ao  sol  e  bem  talhados  para  eiras,  eirinhas  ou  eirolas. 

—  E'  assim  a  arte  nova? !. .. 


TENTATIVA    ín'YMOLOGICO  TOPONYMICA  237 


Nào  tem  uma  única  povoação  denominada  Eira,  porque 
as  suas  eiras  náo  são  fixos,  permanentes  e  de  pedra^  como  as 
das  nossas  provincias  do  norte,  —  mas  de  terra  batida,  calca- 
da e  endurecida,  pelo  mesmo  processo  adoptado  e  usado  nas 
provincias  da  Estremadura  e  Alemtejo^  por  terem  grande  es- 
cassez de  pedra. 

Pelo  contrario  nas  provincias  do  norte  —  Minho,  Douro, 
Beira  e  Tiaz-os-Montes,  —  por  terem  muita  e  óptima  pedra 
de  schisto  e  granito  —  ha  centenares  ou, antes  milhares  de  ei- 
ras fxas  e  perjnanenies  de  boa  pedra,  sendo  algumas  d^ellas 
bastante  luxuosas  e  caras/ , .  .  —Avulta  entre  estas  a  da  quinta 
d'' Entre  Aguas,  no  concelho  de  Baião,  da  nobre  familia  Per- 
feitos  do  Porto,  Mesão-frio,  Corredoura  ou  Cambres,  Lamego, 
Ade  Barros  ou  A  de  Barros,  Minho,  Riodades,  etc.  ^ 

A  dieta  eira  —  que  q\x  já  vi  —  custou  contos  de  réis,  pois 
ó  muito  espaçosa  e  toda  de  bello  granito  aparelhado  em  es- 
quadria, com  guardas  e  casas  ou  cobertos  espaçosos  contíguos; 
também  de  granito,  etc. —  E  toda  a  quinta,  que  bem  merece 
o  nome  à^ Entre  Aguas,  por  estar  entre  2  ribeiros  e  ser  toda 
valentemente  ensocalculada,  bem  regada  no  verão  e  limada 
no  inverno,—  tem  cales,  caleiras  ou  regueiras  de  granito  bem 
aparelhado  ao  longo  dos  socalcos  todos,  para  conducção  e  me- 
lhor distribuição  da  agua,  o  que  é  raro  —  rarissimo  —em 
todo  o  nosso  paiz,  e  custou  muito  dinheiroL    .  ^ 

Também  no  meado  do  século  xix  os  mesmos  srs.  Perfei- 
tos, para  abastecerem  d'agua  potável  de  veia  nativa  o  seu  for- 
moso palácio  da  Cori^edoura,  junto  de  Lamego,  foram  bus- 
cal-a  a  distancia  d'alguns  kilometros  e  gastaram  com  a  sua 
can  ali  sacão,  etc.  —  mais  de  oito  contos  de  réis?!... 

Gastaram  também  por  essa  occasião  muitos  contos  de  réis 
na  conclusão  do  dicto  palácio  e  projectavam  fazer  grandes 
embellezamentos  na  cerca,  posto  que  jà  era  muito  linda  e 
muito  digna  de  vêr-se. 


Agora  um  cumulo,  relativamente  ás  nossas  eiras. 
A  d^Entre  Agvas  é  absolutamente  a  maior  e  melhor  de 
todo  o  concelho  de  Baião,-  toda  de  pedra,  muito  sólida  e 


'  Vide  Portello,  povoações  de  Cambres,  no  Portugal  antigo  e  mo- 
derno. 

'^  V.  Zêzere  (Santa  Marinha  do)  —  longo  artigo  meu,  no  Portugal 
antigo  e  moderno,  voJ.  xn,  pag.  2:118,  onde  fallçi  da  mencionada  quinta 
ç  da  luxuosa  eira.  '  •  i  ..•:r,  i  ..••  . :  •  ;      . 


288  TKNTATIVA    ETYMOLOGICOTOPONYMICA 


muito  earâ,  mas  no  concelho  de  Trancoso  ha  outra,  também 
de  pedra,  muito  mais  sólida,  muito  mais  espaçosa  —  e  bara- 
tissima! . , . 

Demora  na  freguezia  de —  a  leste  de  Tran- 
coso e  ao  sul  da  estação  e  freguezia  de  Villa  Franca  das  Na- 
ves^  na  pendente  sobre  o  valle  onde  passa  a  linha  férrea  da 
Beira  Alta, —  vendo-se  perfeitamente  d'ella,  como  eu  já  a  vi. 

A  mencionada  eira,  como  já  dissemos,  é  também  de  pe- 
dra e  muito  sólida,  muito  espaçosa^, —  antlquissima,  baratis- 
sima  e  talvez  única  em  Portugal,  no  seu  género ! 

—  Foi  íeita  pelo  supremo  architecto  do  universo  —  e  só 
elle  a  podia  fazer,  pois  é  formada  por  um  penhasco  enorme 
ou  brulainontes,  muito  accessivel  do  lado  O.  — terminando  em 
superfície  plana,  muito  exposta  ao  sol,  onde  malham  e  seo- 
cam  o  pão  todos  os  proprietários  e  lavradores  da  dita  paro- 
chia,  —  por  vezes  6  e  mais,  a  um  tempo !h.. 

Com  vista  aos  meus  poucos  leitores,  filhos  de  Trancoso, 
6  aos  que  viajem  na  linha  da  Beira  Alta, 

Prosigamos. 

No  Alto  Douro  ha  poucas  e  pequenas  eiras,  porque  as 
uvas,  producçâo  dominante  da  localidade,  vão  directamente 
das  vinhas  para  os  lagares.  Mas  por  excepção  também  lá  as 
uvas,  antes  de  pisadas,  vão  das  vinhas  para  estendedouros  — 
e  d  estes  para  os  lagares,  quando  se  fabrica  o  vinho  passa  ou 
de  uvas  empassadas,  —  vinho  superior. 

Assim  lá  certo  anno,  em  que  o  meu  pae  vendeu  em  uvas 
e  antes  da  colheita  o  vinho  da  nossa  quinta  do  Campo  Velho, 
margem  direita  do  Tédo,  ao  nosso  visinho  —  Félix  Manuel 
Borges  Pinto,  pae  do  primeiro  visconde  de  Castello  de  Bor- 
ges e  avô  do  2  «  visconde  do  mesmo  titulo,-  que  foi  barbara- 
mente assassinado  na  sua  quinta  do  Té  lo  ou  de  Castello  de 
Borges,  em  1905  —  se  bem.  me  recordo, —  as  uvas  da  nossa 
quinta  não  foram  directamente  das  vinhas  para  os  lagares. 
—  Depois  de  colhidas — já  muito  sazonadas  e  grande  parte 
d'ellas  empassadas  \ —  foram  todas  directamente  das  vinhas 
para  estendedouros  —  onde  estiveram  dois  dias  —  e  d'alli  para 
os  lagares  da  quinta  do  tal  senhor,  distante  da  nossa  pouco 
mais  de  um  kilometro. 


í  Note-se  que  a  nossa  vindima  naqiielle  anno  foi  feita  oito  dias  de- 
pois das  outras  vindimas  —  por  condição  preliminar  da  venda  que  o  meu 
pae  fez  ao  dito  sr.  Félix  e  da  qual  muito  se  arrependeu,  porque  o  dito 
senhor  lhe  pagou  tarde  e  mal?!. . . 


TENTATIVA    ET  VMOLOOICO-TOPONYMICA  239 


Sáo  muito  próximas  as  duas  quintas  e  a  producçáo  prin- 
cipal d'uma  e  outra  é  o  vinho;  ha,  porém,  grande  differença 
entre  ellas. 

A  nossa  está  em  um  plató  ou  planalto  muito  lindo  e 
muito  vistoso  na  margem  direita  do  rio  Tédo,  pelo  que  muito 
provavelmente  outr'ora  se  denominou  Campo  Bello,  no  dia- 
pasão leonez  Campo  Belho,  unde  o  seu  nome  actual  Campo 
Velho,— masmo  porque  alli  náo  ha  nem  houve  jamais  campo 
algum.^  —  Apenas  tem  a  pequena  distancia  uma  fonte  d'agua 
potável,  de  mina^ — e  uma  hortinha. 

A  de  Castello  de  Borges  está  em  sitio  fundo,  abafado, 
sem  horisonte,  muito  ardente  e  nada  vistoso,  mas  bastante 
mimoso,  — na  margem  esquerda  do  Tédo. 

Eefiro-me  á  casa  nobre  da  quinta,  pois  dista  poucos  me- 
tros do  rio  Tédo  —  e  passa  junto  d'ella  um  açude,  que  tem  al- 
guns centos  de  metrcs  d'extensão  e  rega  um  pomar  de  laran- 
jeiras e  uma  grande  horta  ou  lameira  numosinsima  e  fertiUs- 
sima,—  o  que  é  raro  nas  quintas  do  Alto  Douro. 

Tem  ella,  pois,  bastante  agua  de  rega,  mas  pouca  e  pés- 
sima agua  potável,  pelo  que  o  tal  sr.  Félix  que  era  bastante 
illustrado  e  tinha  viajado  muito,  mandava  ir  da  fonte  da  nossa 
quinta  agtta  para  o  chá? I... 

A  quinta  d'elle  produzia  óptimo  vinho,  mas  era  pequena. 
A  sua  producção  nunca  passou  de  30  a  40  pipas,  emquanto 
que  a  producção  da  nossa  regulava  por  50  a  60  pipas.  —  E  o 
meu  pae  dispunha-se  para  leval-a  a  produzir  150  pipas  —  oti 
mais,  pois  já  tinha  comprado  montes  para  cento  e  tantas  pi- 
pas; mas,  quando  em  1864  se  dispunha  para  os  plantar  — 
adoeceu  e  morreu  na  mesma  quinta,  que  elle  tanto  estimava!... 

Deus  o  tenha  em  bom  logar. 

A  quinta  de  Castello  de  Borges  tomou  este  nome  d'uma 
pequena,  mas  bastante  sólida  torre,  que  Félix  Manuel  Borges 
Pinto,  approximadamente  em  1856,  mandou  fazer  em  um  an- 
gulo da  casa, —  torre  onde  dormia  e  guardava  as  suas  jóias,  etc. 

Elle  tinha  feito  a  guerra  da  península  como  alferes  de 
guias,  mas,  quando  fez  a  torre,  já  era  viuvo,  velho  e  tímido. 


*  Refiro-me  á  casa  d'habitação,  armazém  e  lagares,  pois  a  quinta 
comprehende  vinhas  que  tocam  na  margem  do  Tédo. 

O  mesmo  planalto  é  cortado  por  4  estradas  publicas,  bastante  con- 
corridas, pelo  que  já  tinha  mais  6  ou  7  casas  de  quintas  —  hoje  todas 
abandonadas,  porque  as  mencionadas  quintas  e$tão  todas  phyloxeradas, 
incultas? !... 


240  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


A  mencionada  quinta  charaava-se  anteriormente  quinta 
do  Tédo  —  e  vulgarmeate  quinta  do  Félix,  desde  que  o  dito 
senhor  n'ella  fixou  a  sua  residência. 

Era  elle  natural  da  freguezia  de  Escu7'quella,  na  margem 
direita  do  Tacora^  concelho  de  Sernancelhe,  —  casou  na  fre- 
guezia da  Folgosa,  concelho  á^ArmaiJiar — e  falleceu,  approxi- 
madamente  em  1870,  na  mencionada  quinta,  unde  jaz,  em  um 
mauzoleu  que  alli  mandou  fazer  também,  e  uma  capella  com 
o  Santissimo  permanente  ^ 

Veja-se  no  Portugal  antigo  e  moderno,  vol.  xr,  pag.  1:059 
e  seguintes,  o  meu  longo  artigo  Vllla  Secca  d  Ar  mamar, 
onde  fallei  da  mencionada  quinta,  pertencente  á  dita  paro- 
chia,  e,  aproveitando  o  ensejo,  também  fallei  do  barão  de 
Forrester,  amigo  particular  de  Félix  Manuel,  que  varias  ve 
zes  o  recebeu  e  hospedou  na  sua  quinta  de  Castello  de  Borges. 

No  mencionado  artigo  se  encontra,  pois,  uma  minuciosa 
e  conscienciosa  noticia  do  naufrágio  em  que  o  dito  barão, 
sendo  tão  amigo  do  Douro,  morreu  afogado  no  mesmo  Douro 
—  em  22  de  Maio  de  1861. 

Volvendo  ao  tópico  eiras,  mencionaremos  ainda  uma 
que  ha  'na  quinta  supra,  de  Casfello  de  Borges.  —  E'  pequena, 
mas  de  pedra  (schisto)  e  foi  notável,  porque  formava  o  tecto 
d'uma  importante  e  muito  interessante  frasqueira  que  o  dito 
snr.  Félix  M.  Borges  Pinto  fez  em  um  subterrâneo  ou  buraco 
no  sopé  d^uma  encosta,  a  pequena  distancia  da  sua  nobre 
casa  da  torre. 

No  Alto  Douro  não  ha  granito,  mas  somente  schisto,  po- 
diam, porém  fazer -se  com  elle  eiras  magestosas,  pois,  como 
jà  dissemos  —  em  algumas  regiões  do  Alto  Douro  ha  schisto 
especial,  —  único  talvez  em  Portugal  ?  ! .    , 


*  Como  os  leitores  estão  fartos  de  cantigas  e  pedem  etyniologias, 
ahi  vão  algumas. 

—  Escurquella,  supra,  vem  de  Esculqnella,  diminuitivo  de  esculca 
—  vigia,  atalaia,  sentinella. 

Távora  — vilias,  rio,  etc.  —  vem  do  latim  tabula  —  tábua  ou  madei- 
ra para  taboas  e  por  extensão  castanheiros.  ' 

—  Sernancelhe,  como  já  dissemos,  —  vem  de  Sernandicellus,  i,  di- 
minuitivo do  Sarnandus  por  Sesnandus  e  este  por  Sezinandus  —  Sqzí- 
nando,  nome  d'um  santo,  etc,  —  Folgosa  por  Felgosa  vem  de  felix,  íeis 
por  filix,  icis  —  o  feito,  por  fento  ou  fieito.  planta,  como  já  dissemos  em 
um  largo  tópico  supra,  dedicado  aos  fieitQs,  ~  vol.  i.,  pag.  295!       •    - "   - 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  241 


Com  elle  se  fazem  ali  pontes  de  arcos  e  de  esquadria 
muito  .'iolidas,  como  se  vê  uma  que  a  velha  Companhia  dos 
Vinhos-  mandou  fazer  na  estrada  marginal  do  Douro  sobre  a 
Foz  de  Mil  Lobos  ou  do  no  Temi  Lúpus  —  a  jusante  e  pouco 
distante  da  Folgosa, 

Ha  também  no  Douro  lagares  com  tampos  de  schisto  de 
6  a  7  metros  de  comprimento,  1  de  largura  e  4  decimetros 
de  espessura. 

Podem  ver-se  e  admirar-se  na  quinta  do  Ferrão,  da  no- 
bre familia  Pessanhas,  junto  da  estação  do  mesmo  nome,  na 
linha  férrea  do  Douro  ^ 

Em  Villa  Nova  de  Foscôa  ha  pedreiras  de  schisto  que 
dão  esteios  para  ramadas,  balaustres  para  varandas,  pran- 
chões  para  pontes,  etc. 

V.  Villa  Nova  de  Foscôa,  longo  artigo  meu,  no  Portu- 
gal antigo  e  moderno,  vol.  xi_,  pag.  839. 

Ha  também  tampos  enormes  de  lagares,  —  maiores  do 
que  os  do  Ferrão,  —  em  Casal  de  Loivos,  freguezia  do  conce- 
lho d'' Alijó,  —  e  dizem-me  que  appareceu  alli  ha  annos  soter- 
rado, a  certa  altura,  um  pranchão  natural  de  schisto,  que  de- 
via ter  approximadamente  oito  metros  quadrados  de  superfície! 

O  tal  pranchão  por  si  só  podia  dar  uma  eira  ;  mas,  por 
que  não  necessitavam  d^elle  para  eira  nem  para  lagares  ou 
para  outra  qualquer  obra,  —  lá  ficou  soterrado,  como  estava. 

O  que  mais  abunda,  porém,  no  Alto  Douro  é  schisto 
miúdo,  lascado,  informe,  que  mal  se  presta  para  construcções 
de  casas,  etc. 

Eefiro-me  particularmente  á  freguezia  de  Poyares,  con- 
celho de  Freixo  d' Espada-á-Cinta,  onde,  como  já  dissemos, 
—  ainda  hoje  se  vêem  e  nós  já  vimos  —  casas  circulares^  a 
modo  de  pombaes,  como  as  da  Citania  de  Briteiros  e  as  do 
monte  de  Santa  Luzia,  em   Vianna  do  Castello. 

Na  minha  opinião  construem-nas  a^fesim,  por  ser  aquelle 
estylo  tradiccional  e  porque  a  pedra  da  localidade  é  schisto 
miúdo,  lascado,  informe,  que  offerece  mais  resistência  tra- 
vado em  paredes  circulares,  do  que  nas  paredes  em  linha  re- 
cta. 

—  Com  vista  aos  archeologos,  engenheiros  e  mestres 
d'obras. 


1     Os  lagares  da  nossa  quinta  do  Campo  Bcllo  ou  Campo  Velho, 
supra,  teem  tampos  com  27  palmos  ou  6  metros  de  comprimento. 


242  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


flínda  Torres  Uedras — succinto  esboço  etymologlco 

Volvendo  a  fallar  das  muitas  povoações  de  Torres  Ve- 
dras com  a  desinência  eira,  vamos  dar  a  etymologia  d'algu- 
mas,  seguindo  a  ordem  porque  as  mencionámos,  supra. 

—  Corujeira  —  tomou  claramente  o  nome  das  corujas^ 
bem  conao  outras  muitas  povoações  nossas. 

—  Sitinheira  —  tomou  talvez  o  nome  do  latim  sitis  —  se- 
de, por  ser  o  seu  chão  pobre  d'agua  potável  ou  de  rega?  — 
N^este  caso  Sitinheira  é  uma  synonimia  de  Sequieira  e  Sequei- 
ra,  povoações  nossas  também,  como  Escalhão  é  metathese  de 
Secalhão  —  e  talvez  que  Esgueira  por  Esqueira  seja  uma  me- 
tathese de  Sequeira/... 

Cf.  Esqueira,  Sequeira  e  Sequeiras,  —  Esqueiro,  Esquei- 
ros  e  Isqueiros  por  Esqueiros,  —  Sequeiro,  Sequeiro  e  Sequei- 
ros, povoações  nossas,  claros  espécimens  de  és  por  sé  —  julgo 
eu  —  e  7'ira  bien  qui  rira  le  dernier? !... 

Note-se  que  as  metatheses  são  trioialissimas  na  onomás- 
tica portugueza. 

Prosigamos. 

—  Carrasqueira  —  podia  tomar  o  nome  do  portuguez 
Carrasqueira,  o  mesmo  que  charrasqueira  e  reboleira  —  cas- 
tanheiro bravo,  —  ou  dos  carrascos,  oliveiras  bravas  também, 
que  deram  o  nome  a  outras  muitas  povoações  nossas.  —  Taes 
são  Carrasco,  Carrascos,  Carrascosa,  Carrascosinha,  Carra- 
zeda, Carrazede  e  Carrazedo  por  Carrasceda,  Carrascede  e 
carrascedo  —  ou  Carrasqueda,  Carrasquede  e  Carrasquedo  ? 

Também  Carrasqueda  e  Carrasquedo  podem  ser  contra- 
cção de  Carrasqueireda  e  Carrasqueiredo. 

—  As  meias  tintas  confundem;  —  eu  já  tenho  a  vista 
muito  cançada  e  a  minha  lente  da  arte  nova,  forjada  por  mim 
a  martello  —  está  pedindo  outra  melhor  e  mais  aperfeiçoada. 

—  Carvoeira  —  tomou  claramente  o  nome  do  carvão  e  ó 
uma  reminiscência  do  tempo  em  que  havia  grandes  matas  e 
brenhas  no  concelho  de  Torres  Vedras,  das  quaes  hoje  ape- 
nas resta  um  exemplar  digno  de  menção,  na  freguezia  de 
Monte  Redondo. 

—  E'  a  grande  e  bella  mata  da  nobre  quinta  das  Lapas, 
do  snr.  conde  de  Tarouca,  rival  da  do  Bussaco,  pois  tem  car- 
valhos e  cedros  também  magestosos,  —  pinheiros  com  3  a  4 
metros  de  circumferencia  no  tronco  —  e  medronheiros  que 
podem  dar  taboas,  tendo  alguns  d'elles  mais  de  dois  metros 
de  circumferencia  no  tronco,  etc. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  243 


Ha  também  no  concelho  de  Torres  Vedras  uma  fregue- 
zia  chamada  Carmões^  deturpação  talvez  de  Carhões  por  Car- 
võeSf  pois  6a,  bo,  bu  e  ma,  mo,  mu,  confundiram-se  e  substi- 
tuíram se  na  onomástica  portugueza,  como  já  dissemos. 

Também  do  carvão  tomou  talvez  o  nome  a  nossa  villa 
do  Garmo?!.., 

—  E'  assim  a  arte  nova. 
Prosigamos. 

—  Panasqueira  —  tomou  claramente  o  nome  do  panasco, 

—  erva  umbilifera  para  pastos,  que  deu  também  Panasca,  Pa- 
nascal,  Panasco,  Panascosa,  Panascoso,  Panasqueíro,  Panas- 
quinhOf  Panasquita,  etc,  povoações  nossas. 

Panasquita  é  congénere  de  Melrinita,  Caslta,  etc,  po- 
voações nossas  também. 

—  Zibreira  —  pôde  ser  o  mesmo  que  Zebreira,  povoação 
nossa  também,  que  tomou  o  nome  das  zebras,  animaes  muito 
lindos,  hoje  extinctos,  mas  que  outr'ora  abundaram  na  pe- 
nínsula e  deram  o  nome  a  varias  povoações  nossas.  —  Taes 
são  Zebra,  Zebral,  Zebras,  Zebreiros,  Zebrinho,  Zebro,  Zebros, 
Vai  do  Ztbrinho,  etc. 

Também  Zibreira  pôde  ser  o  mesmo  que  Zimbreira,  po- 
voação nossa,  que  tomou  claramente  o  nome  do  zimbro, 
planta,  como  Zimbral,  Zimbreirinha,  Zimbro,  etc.^  povoações 
nossas  também.  ^ 

—  Junqueira  —  tomou  claramente  o  nome  do  junco, 
planta,  bem  como  outras  muitas  povoações  nossas,  taes  são : 

—  Juncaes,  Juncal,  Juncalinlio,  Junco,  Juncosa,  Junqueiro, 
Junqueiros,  Junquinho,  etc,  ao  todo  mais  de  tresenfasf... 

Deu  também  o  appellido  a  um  dos  nossos  mais  distin- 
ctos  poetas  da  actualidade  — o'  sr.  Guerra  Junqueiro. 

—  Maceira  —  é  o  mesmo  que  Macieira,  abundante  em 
maçãs  ou  macieiras,  arvores  fructiferas,  muito  antigas  em 
Portugal,  pois  deram  o  nome  ás  nossas  povoações  seguintes  : 
—  Maçã,  Macagoso  (?),  Maçainhas  por  maceirinhas  (?) ;  —  3Ja- 
çaira  por  Maceira  ;  Maçai  por  Maceiral ;  Maçanicas,  Maçans, 
Maceda  por  Maceireda  ;  —  Macedinho,  Macedo  e  Macedos  por 
Maceiredo  e  Maceiredos,  * 


*  V.  Zimbro,  artigo  meu,  no  Portugal  antigo  e  moderno,  vol.  xii, 
pag.  2:248,  col.  2fi  e  a  sua  respectiva  nota. 

-  Cf.  Azeredo,  contracção  de  azereiredo,  bosque  ou  mata  dazerei- 
ros,  —  e  Azevedo,  contracção  á'Azevinhedo,  bosque  ou  mata  á' azevinhos. 

Também  Azevedo  por  seu  turno  deu  Azevo,  aldeia  e  freguezia  do 
concelho  de  Pinhel.—  A  bússola  é  o  ouvido !. . . 


244  tp:ntativa  etymologico-toponymica 


Somma  e  segue. —  ^faceiras,  plural  de  Maceira  supra ; 
Maceirinha  e  Macens  por  Maçansí ! ... 

Cf.  Magalhães  e  Magalhans,  povoações  nossas. 

—  Macide  e  Macído  por  Macedo f  ! ... 

—  Macieiras,  Macieirinha,  Macieirinhas,  Madeiro,  Ma- 
deiros e  Maciel,  appellido  vulgar,  o  mesmo  que  Macial  por 
Madeiral. 

Cf.  Pinhel  por  Pinhal  e  este  por  Pinheiral,  —  Freixiel  e 
Freixial,  etc,  povoações  nossas. 

—  Macinhata  —  por  Madnheirata  ou  Madnheirada  ? 

—  Maçoeira  —  por  Macieira,  —  Maçoira  por  Macoeira, 
etc,  —  ao  todo  mais  de  150  povoações  nossas. 

Hurrah !  pelas  maçans  e  maceiras  ou  macieiras!... 

Nós  temos  grande  variedade  de  7naçans  porttiguezas  e 
francezas,  mas  talvez  que  as  melhores,  mais  lindas  e  mais 
mimosas,  mais  aromáticas  e  mais  saborosas  sejam  as  nossas 
antigas  maçans  denominadas  camoêsa  de  rosa,  —  nomeada- 
mente as  do  concelho  de  Mondim  da  Beira  e  do  de  Tarouca, 
a  sueste  de  Lamego. 

Appéllo  para  quem  as  tenha  saboreado,  como  eu  as  sa- 
boreei muitas  vezes. 

E'  encantador  o  seu  aroma —  e  só  duas  aromatisam  uma 
grande  sala. 

A  sua  polpa  é  finissima  e,  sendo  tão  mimosas,  conser- 
vam-se  durante  um  anno?!... 

Isto  é  facto,  que  eu  já  notei  com  assombro  no  paço  epis- 
copal de  Lamego. 

Estando  ali  hospedado  por  occasiáo  da  grande  festa  e 
feira  de  Nossa  Senhora  dos  Remédios  (8  a  15  de  setembro), 
quando  eu  era  abbade  de  Távora,  concelho  de  Taboaco,  — 
em  1861  a  18()4  —  e  bispo  de  Lamego  o  sr.  D.  José  de 
Moura  Coutinho,  excellente  pessoa  e  muito  meu  amigo,  ^  no- 


''  Veja-se  no  Portugal  antigo  e  moderno,  vol.  ix,  pag.  530,  o  meu 
artigo  Telho,  casa  nobre  da  freguezia  á' Amola,  concelho  de  Celorico  de 
Basto,  —  e  no  vol.  xi,  pag.  897,  o  meu  artigo  Villa  Pouca,  aldeia  da 
mesma  freguezia  á'Arnoia. 

Para  d'alguma  maneira  significar  a  minha  profunda  gratidão  para 
com  o  dito  prelado,  n'aquelles  dois  artigos  dei  a  biographia  e  a  geneolo- 
gia  de  s.  ex.a,  então  já  fallecido. 

Deus  o  tenha  em  bom  logar,  como  firmemente  creio,  pois  era  um 
santo !. . . 


I 


TENTATIVA    ETyMOLOOICO-TOPONYMlCA  24Õ 


tei   que   ao  dessert  vinham  á  mesa  pratos  com  as   taes  ma- 
çans  camoésos  de  rosa,  tendo  a  cútis  encarquilhada. 

—  Estas  maçans  parecem  velhas  !  —  disse  eu  ao  bondoso 
prelado. 

—  São  effectivamente  velhas !  —  respondeu  s.  ex.*. 

—  Mas  como  podem  conserval-as  perto  de  doze  mezes  — 
sem  apodrecerem  ! 

—  Conservamol-as  em  palha  nos  forros  da  casa. 

Não  instei,  porque  respeitava  muito  o  santo  prelado, 
mas,  pedindo  explicações  a  um  criado,  elle  me  disse  que 
effectivamente  as  conservavam  nos  forros  do  paço  todo  o  anno. 

—  Mas  na  minha  casa  apodrecem!... 

—  Também  aqui  apodrecem  bastantes,  mas,  como  o  sr. 
D,  José  gosta  muito  d'estas  maçans,  faz  sempre  um  deposito 
de  carros  d^ellas  e,  como  são  muitas,  escapam  sempre  algu- 
mas. 

São  ellas  muito  aromáticas  e  mimosissimas,  pelo  que  o 
meu  pae,  tendo  em  deposito  durante  uns  10  a  20  annos  seis 
pipas  de  vinho  precioso  da  nossa  quinta  do  Campo  Bello  ou 
Campo  Velho  supra,  —  vinho  que  elle  muito  estimava  e 
muito  bem  tratava,  todos  os  annos,  quando  o  passava  a 
limpo  e  lhe  deitava  aguardente,  deitava-lhe  também  algumas 
das  taes  maçans — muito  escolhidas,  descascadas  e  pisadas. 

—  Mais  nada. 

O  tal  vinho  era  uma  delicia ! 
Vendeu-o  approximadamente  em  1854. 

*       * 

Volvendo  a  Torres  Vedras  e  ás  suas  muitas  povoações 
com  a  desinência  eira,  ainda  temos  as  seguintes  : 

—  Bombardeira.  —  Tomou  talvez  o  nome  de  Bombar- 
deiro, appellido,  tirado  da  milifança. 

Cf.  Alabardeiro,  Arcabuzeiro,  Archeiro^  Artilheiro,  Bes- 
teiro, Besteiros,  Cavallaria,  Cavallarias,  Cavalleira  (?!...),  — 
Cavalleiro,  Cavalleiros,  Couraça,  Couraceiro,  Espada^  Espa- 
dagão.  Espadeira  i^\...),  —  Espadeiro,  Espadeiros,  Espadi- 
nha, Clarim,  Corneteiro,  Lança,  Lanceiro,  Tambor,  Tambo- 
reira,  etc,  appellidos  e  muitos  d'elles  também  povoações 
nossas.  —  Taes  são  :  Cavalleira,  Espadeira  e  Tamhoreira,  que 
rimam  com  Bombardeira. 

Podia  também  Bombardeira  tomar  o  nome  d 'alguma  fa- 
brica de  pólvora  bombardeira  que  alli  houvesse. 


246  TENTATIVA    ETyMOLOGICO-TOPONYMICA 


Dicant  paduani.  —  Respondam   os  filhos  da  localidade. 
Prosigamos. 

—  Mixilhoeira  ou  Mexilhoeira  —  tomou  talvez  o  nome 
dos  mexilhões,  mariscos,  mas,  como  em  Torres  Vedras  não 
ha  portos  maritimos,  talvez  que  Mixilhoeira  seja  nome  de 
importação,  como  outros  muitos  nomes  de  povoações  nossas. 

Cf.  Mexilhão,  Mexilhoeira,  Mixilhoeira  da  Carregação, 
Mixilhoeira  Grande  e  Mexilhoeirinha,  povoações  nossas  tam- 
bém. 

—  Serpigeira  —  pôde  ser  uma  forma  de  Serpilheira,  ti- 
rada do  portuguez  serpillo,  o  mesmo  que  serpão  e  serpol, 
planta  bem  conhecida  e  muito  aromática. 

—  Gallegtieira  —  tomou  claramente  o  nome  dos  gallegos, 
como  outras  muitas  povoações  nossas.  —  Taes  são :  Gallega, 
Gallegas,  Gallego,  Gallegos,  Gallegos  de  Baixo,  Gallegos  de 
Cima,  —  Alda  ou  Aldeia  Gallega,  Monte  dos  Gallegos  e  Gal- 
leguia,  que  recorda  Mouraria  e  Franzia,  por  Francezia,  o 
mesmo  que  Francaria,  terra  de  francos  ou  francezes. 

Junte  se  Galleguinha,  Galleguinho,  Gallisa,  Gallizes  por 
Gallegos'^,  etc,  povoações  nossas. 

Mas  —  dirão  os  leitores  —  estando  Torres  Vedras  tão  dis- 
tante da  Gallisa,  não  é  provável  que  a  dita  povoação  to- 
masse o  nome  dos  gallegos  ! 

Muito  mais  distante  da  Gallisa  está  hoje  Aldeia  ou  Al- 
da Gallega  supra,  que  tomou  claramente  o  nome  dos  Gal- 
legos, bem  como  outras  muitas  povoações  do  districto  de 
Lisboa,  já  por  nós  citadas.  —  N'este  mesmo  concelho  de  Tor- 
res temos  nós  Fixoeira,  diapasão  gallego  de  Fijoeira  por  Fei- 
joeira  —  e  ao  mesmo  diapasão  pertence  talvez  Portuxeiraí!,.. 

Note-se,  como  já  dissemos,  que  uma  grande  parte  do 
districto  de  Lisboa  pertenceu  e  obedeceu  aos  reis  de  Leão  e 
á  Gallisa  —  antes  da  fundação  da  nossa  monarchia. 

—  Serreira.  —  E'  talvez  contracção  de  Serralheira,  abun- 
dante em  serralhas,  ervas  de  que  tomaram  o  nome  varias  po- 
voações nossas.  Taes  são,  entre  outras,  as  seguintes  : 

—  Sarralha,  Sarralhas  e  Sarranheira  por  Sarralheira  7, 
—  pois  Ih  e  nh  confundiram-se  e  substituiram-se  na  onomástica 
portugueza,  como  já  dissemos. 

Junte-se  ainda  —  Sarreira,  quasi  Serreira  por  Sarranheira 
ou  Sarralheira? 

—  A  bússola  é  o  ouvido  .'. . . 

—  Serralhão,  Serralheira,  Serralheirinha,  Sarrão  e  Ser- 
rão por  Serralhão,  etc. 


TENTATIVA    ETYMOLOOICO-TOPONYMICA  247 


Cf.  Pinhão  por  pinhalão^  —  Hohrão  por  sobralão,  etc,  po- 
voações nossas,  como  Tojão  por  tojalão^  Olivão  por  OUvalão, 
Cardão  por  Cardalão  —  e  Casão  por  Casalão  ou  Canarão,  po- 
voações nossas  também. 


—  Sinaleira. —  Na  minha  opinião  é  uma  forma  de  Sen- 
dieÍ7'a,  povoação  nossa  também,  como  Sentieira  e  Sentieiras, 
povoações  que  tomaram  o  nome  do  centeio  —  além  d'outras. 

Ahi  vae  uma  curiosa  lista  d'ellas :  —  Centeio,  Centiaes, 
Centiães  por  Centiaes  i,  —  Centieira,  Centieiras,  Centieiro  *  ; 
Sandiães  por  Sandiaes  e  este  por  Centiaes  ;  —  Santeiro,  quinta 
e  aldeia  f.^/.  .  j,  talvez  forma  de  Santieiro  por  Sentieiro  —  e 
este  por  Centieiro  ? 

Também  temos  Santiaes  por  Centiaes;  Sendiães -por  Cen- 
tiães, o  mesmo  que  Centiaes  ;  Sendieira  por  Centieira ;  Senteno 
por  Centeno  —  do  castelhano  centeno  — centeio  ?  ;  Sentieira  por 
Centieira  —  e  talvez  Setiaes  por  Sentiaes  —  e  este  por  Cen- 
tiaes ?  /   . . 

—  Desculpem  os  etymologistas  e  apologistas  do  parque 
Setiaes,  um  dos  mais  formosos  de  Cintra  —  na  actualidade^ 
pois  talvez  que  o  chão  d'elle  em  eras  remotas  —  como  no 
tempo  da  invasão  dos  povos  germânicos  ou  durante  as  luctas 
com  os  árabes  e  mouros  —  estivesse  inculto  ou  produzisse 
apenas   centeio,   como   as  povoações,  quintas  e  casaes  supra. 

Também  temos  outras  muitas  povoações,  'villas  e  quin- 
tas, hoje  muito  importantes  e  algumas  d'ellas  muito  lindas, 
que  tomaram  o  nome  de  feras,  algumas  já  extinctas, —  e  das 
brenhas,  matas  e  bosques,  de  que  não  ha  memoria ! 

Também  muitas  das  nossas  povoações  tomaram  o  nome 
de  certas  aves  que  ha  muito  desappareceram  das  localidades, 
por  haverem  mudado  do  fo7id  en  comble  as  condições  agrico- 
las  de  varias  regiões  nossas. 

Vem  a  propósito  a  minha  terra  natal  —  Corvaceira,  — 
pequena  povoação  da  grande  freguezia  da  Penajulia  ou  Pe- 
najoia,  que  demora  na  margem  esquerda  do  Douro,  concelho 
de  Lamego  —  mesmo  em  frente  da  estação  actual  do  Molledo, 


^  Na  onomástica  portugueza,  como  já  dissemos,  confundiram-se 
muitas  vezes  —  ce  e  se, —  ci  e  si  —  ães  e  aes, —  ães,  ãos  e  ões,  etc. 

2  Com  vista  aos  manes  do  Centieiro  que,  sendo  um  pobre  artista, 
quasi  analphabeto,—  um  serralheiro,—  foi  aqui  no  Porto  em  ISóO  a  1S70 
notável  orador  de  comicios  e  grande  influencia  eleitoral !. . . 


248  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


NÓS  temos  varias  povoações  com  o  nome  de  Corvaceira 
e  com  certeza  todas  tomaram  o  nome  dos  corvos,  aves  de  ra- 
pina, posto  que  em  algumas  d'ellas  —  nomeadamente  na  mi- 
nha —  não  ha  memoria  dos  corvos  —  por  ser  muito  fértil  e 
desde  longa  data  muito  mimosa,  muito  bem  agricultada  e 
cultivada  como  um  jardim! , .  . 

E',  porém,  bastante  declivosa  e,  como  já  dissemos,  de- 
via ser  outr'ora  —  como  toda  a  minha  Penajulia,  a  freguezia 
mais  mimosa  do  Douro  e  de  Portugal  todo  —  uma  brenha,  um 
matagal  enorme,  em  que  abundavam  os  bichos  e  as  feras, 
cujos  cadáveres  attrahiam  os  corvos. 

Data,  pois,  d'esse  tempo  immemorial  o  nome  da  minha  Co7'~ 
vaceira  —  e  talvez  que  o  nome  de  Setiaes,  venha  do  tempo  em 
que  o  chão  do  lindo  parque  fosse  terra  de  centiaes  ou  centieira?/ 

—  Fiat  lux. 

Também  a  propósito  de  Cintra  direi,  que  na  minha  opi- 
nião Cintra  vem  talvez  de  Sintila  por  Suintila  ou  Swintila, 
nome  pessoal  germânico. 

Note-se  que  em  velhos  documentos  se  encontra  a  forma 
Sintra  —  como  em  vez  de  Cezimhra  a  forma  Sezimbra, —  forma 
que  devia  adoptar-se,  pois  na  minha  opinião  Cezimbra,  como 
já  dissemos, —  vem  do  latim  botânico  sisimbrium,  ii  —  certa 
planta  muito  estimada  pelos  romanos,  porque  dava  flores 
brancas,  de  que  faziam  grinaldas  para  os  noivos,  como  se  lê 
em  Ovidio  e  no  Magnum-Lexicon  latino.  ^ 

Seiceira 

Volvendo  a  Torres  Vedras  e  á  série  de  nomes  das  suas 
povoações  com  a  desinência  eira  —ainda  temos  bastantes. 
Pela  ordem  da  lista  supra,  segue- se  agora : 

—  Seiceira.  —  Pôde  vir  do  portuguez  popular  seiceira  por 
seixeira — abundante  em  seixos^  pedras,  como  outras  muitas 
povoações  nossas.  Taes  são  as  seguintes : 

—  Ceiça,  Ceiçal  {?!»..).  —  Ceiceira,  Ceiceiro,  Ceissa,  por 
Ceiça? ;  —  Seiça,  appellido  ;  Seição,  Seiceira  (cá  está  ella  !...); 
Seixa,  Seixal,  Seixalinho.,  Seixalvo  por  Seixo  Alvo ;  Seixào, 
Seixas,  Seixedo,  Seixeira,  Seixenha  ou  'Seixinha ;  Seixezello 
por  Seixozello ;  Seixido  por  Seixedo ;  Seixieira,  o  mesmo  que 
Seixeira ;  —  Seixinha,  Seixinhas,  Seixinho,  Seixinhos  e  Seixo, 


^    De  sisimbrium  —  Sisimbria  —  Sezimbra^-  Cezimbra !. 
—  E'  assim  a  arte  nova. 


TENTATIVA    ETYMOLOaiCO-TOPONYMICA  249 


—  Seivo  Alvo,  o  mesmo  que  Seixalvo  supra;  Seixo  Ama- 
rello,  Seixo  B7'anco,  o  mesmo  que  Seixo  Alvo  e  Seixalvo; 
Seixo  do  Ervedal^  Seixo  do  Côa,  Seixo  Grande,  Seixo  de  Ga- 
tões, Seixomil  (?f,,.j; — Seixos^  Seixosa,  Seixoso  —  e  talvez 
Leixões  por  Seixões,  fragoedo  na  foz  do  Leça,  onde  está  hoje 
a  doca  de  Leixões,—  e  fragoedo  ou  penhasco  marítimo,  deno- 
minado também  Leixões,  no  Caho  de  S.  Vicente. 

Junte-se  finalmente  Leixosa,  povoação  nossa^  mencionada 
na  Chorographia  Moderna  com  o  titulo  de  Leixosa  ou  Sei- 
xosa,  (sic). 

Note-se  que  l  e  s  confundiram-se  e  substituiram-se  na 
onomástica  portugueza,  como  já  dissemos  em  um  longo  tó- 
pico supra. 

•  — Seiceira  pôde  ser  também  uma  forma  de  Sinceira,  ti- 
rada do  portuguez  sinceiro  —  salgueiro,  que  deu  sinceiral  — 
salgueiral. 

Cf.  Sinçães  por  Sinçaes  e  este  por  Sinceiraes  —  salguei- 
raes ;  Sinceira,  Sinceira  ou  Seiceira  (cá  está  ella !...);  *Sm- 
ceÍ7^a  Branca,  o  mesmo  que  salgueiro  branco  ?  !  . »  .  \  —  Sin- 
ceira Grande  e  Sinceirinha,  povoações  nossas,  mencionadas 
na  Chorographia  Moderna. 

Mas  —  dirão  os  leitores  —  como  podia  Sinceira  dar  Sei- 
ceira ? 

Lá  vamos. 

Pelo  diapasão  francez  Sinceira  deu  ou  podia  dar  Sem- 
ceira,  que,  em  portuguez  sôa  quasi  Seinceira,  unde  talvez 
Seiceira  ? 

A  escala  seria,  pois, —  Sinceira  —  Semceira  —  Seinceira  — 
Seiceira ! 

Desculpem  os  meus  poucos  leitores  tantos  dislates  e  pro- 
sigamos. 

—  Seiceira  é  o  mesmo  que  Asseiceira  (por  Al  ou  A  Sei- 
ceira),—  villa  e  freguezia  próximas  de  Thomar,  onde  no  dia 
16  de  Maio  de  1834  se  feriu  a  ultima  batalha  entre  as  forças 
de  D.  Miguel  e  de  D.  Pedro. 

Pinho  Leal,  meu  benemérito  antecessor,  deu-lhe,  como 
lhe  dá  também  a  Chorographia  Moderna,  o  nome  de  Assei- 
ceira, mas  diz  que  antigamente  se  denominou  Ceiceira  — e  no 
foral  de  D.  Manuel — Ceiceyra. 

Por  seu  turno  Ceiceira  deu  ou  podia  dar  Aceiceira,  hoje 
Asseiceira,  por  Al  Seiceira,  reminiscência  árabe  —  em  portu- 
guez A  Seiceira. 

Com  o  mesmo  diapasão  e  a  mesma  assimilação  do  pre- 


250  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


fixo  árabe  ai  —  em  portuguez  a, —  temos  outros  muitos  no- 
mes de  povoações.  Taes  são  as  seguintes  : 

—  Alagôa  e  Lagoa ;  Alagoas  e  Lagoas ;  Alagoinha  e  La- 
goinha;  Alamella  e  Lamella;  Alapella  e  Lapella;  Alares  e  La- 
res f  Alçarão  e  Carão  f  Alcarapinha  e  Carapinha;  Alcaravella 
e  Caravela  (sic);  Alçaria  e  Caria;  Alcohella  por  Alcovella  —  e 
Covella  ;  Alcongosta  e  Congosta  ;  Alcordal  por  Alcardal  —  e 
Cardai! •  .  .  Alcôrrego  e  Corgo  por  Córrego  t, .  .  Alcovas  e  Co- 
vas ?  Alfaião  e  Faião  ;  Al  farinha  e  Farinha  ;  Al  faro  e  jParo ; 
Alfarrobeira  e  Farroheira ;  Al  fava  e  Fava, 

Somma  e  segue  :  —  Alfeirão  e  Feirão ;  Alfeirões  e  JFez- 
rôe^;  Alfeiteira  e  Feiteira;  Al  foliões  e  Foliões  f  Al  fontes  e  i<b?i- 
tes^f,  .  .  Al  fora  e  Fora;  Alfreita  e  Freita;  Al  fundão  e  i^wn- 
eíâo;  Alfundega  e  Fundego,  m.  de  Fundega;  Algalé  e  Galé; 
Algramassa  por  Algramaça  e  Gramaça,  nomes  tirados  da 
grania,  como  Gramacha  por  Gi^amaça,  Gramacho,  appellido, 
eíc, —  por  Gramaço  ?  —  Gramaços,  Gramas,  Gramatal,  Gra- 
matinha,  Gramatinhos,  Gramella,  Gramezinhos  por  Gramosi- 
7ihos?,  ~  Gramido  por  Grainêdo  ;  Graminheira  por  Grama- 
nheira?  ;  Gr  amoinha  ?;— Gr  arnosa,  Gramosos,  Gramual,  Gro- 
micho  por  Gramachof  etc,  povoações  nossas. 

—  Hurrah  pela  grama ! . .  ^ 

* 
*       * 

Junte -se  :  —  Ahnarinho  e  Marinho;  Almeirinho  e  Meiri- 
nho) Almiiro  e  Muro ;  Alornbada  e  Lombada;  Alpalhão  e  Pa- 
Iheirão,  o  mesmo  que  Pallião  e  Alpalhão!...  Alparrel  ^ov  Al- 
parral —  e  Parral,  o  mesmo  que  Parreiral.  ^  Alpedreira  e 
Pedreira;  Alpedrinha  e  Pedrinha;  Alpendurada  e  Pendurada) 
Alportel  e  Portel;  Alpossas  por  Alpocas  e  Poças;  Ahibagueira 
e  Lobagueira,  o  mesmo  que  Lobeira^  nome  tirado  dos  Z0605, 
como  i;2VZe  deu  Videira  e  Vidigueira  ?  f . . .  Alufinha  e  Lm/?- 
TiÃa;  Alumeara  e  Lumiara;  Alvarão  —  Barão  e  Farão,  que  se 
encontra  em  Santo  Varão;  Alvarães  e  Fa?*ãe5;  Alvariz  e  Fa- 
7*ú ;  Alvélho  e  FeZ/io ;  Alventella  e  Ventiella,  quasi  Ventella  ; 
Alviobeira  e  Viuveiro,  m.  de  Viuveira  ?  Alvogas  por  Albogas 
— e  Bogas ;  Amadeiras  por  Almadeiras  —  e  Madeiras  .'...  ^wza- 


1  Cf.  Pinhel— e  Pinhal,  — Freixial  e  Freixial,  — Maciel  por  Aía- 
c/a/  e  este  por  Macieiral,  —  Souzel  por  Souzal  e  este  por  Salgueiral  ?!. . . 
etc. 

^/ra  ô/en  g^í/í  nra  /e  dernier !. . . 


TENTATIVA    ETYMOLOGICOTOPONYMICA  251 


reira  e  Mareira, —  o  mesmo  que  Amoreira  e  Moreira!,.. 
Ameada  e  Meada  ;  Arneda  e  Meda ;  Amedo  e  Medo  ;  Ametra  e 
Meira.  ^—Aweixedo  e  Meixedo,  contracções  de  Ameixieiredo  ou 
Ameixoelredo,  bosque  de  ameixieiras'  ou  ameixoeiras  ;  Amoinha 
e  Moinha?...  Amolar  e  Molar?...  Amora  e  Mora;  Amoraen  e 
Moraes. 

—  Amoreira  e  Moreira;  Amoreirinhae  Morei  rinha;  Anaia 
e  Nata;  Apariça  e  Pariço,  m.  de  Parica;  Apatil  e  Paul;  Apaula 
e  Paula  ;  Apaulinha  e  Paulina,  o  mesmo  que  Paulinha  ;  Ape- 
ral  e  Peral;  Aperrai  e  Perral;  Aperreia  e  Perrello  (sic)  —  m. 
de  Perrella  ;  A  Pomheira  e  Pombeira ;  Apothicario  e  ac?  riden- 
dum  Boticário  —  casal  e  quieta.  * 

Junte-se : 

—  Apparicios  —  Pariço  e  Porisso,  o  mesmo  que  Pariço, 
formas  de  Apparicius  —  Aj^paricio,  nome  d'um  santo,  etc. 

—  Aprestimo  e  Préstimo;  —  Arbouça  por  Albouça  —  e 
JBouça  /...  —  Arcella  por  Alcella  —  e  Cella;  —  Arcellas  por  Al- 
cellas  —  e  Cellas ;  —  Arcipreste  (oito  povoações?!...]  por  Alci- 
preste  —  e  Cipreste.  ® 

—  Ardão  por  Aldão^.  —  Q  Dão. 

—  Armoniz  por  Almoniz  ou  Al  Moniz,  o  mesmo  que  O 
Moniz — e  Moniz^  aldeia,  casal,  quinta  e  appellido  d'alta  co- 
tação desde  o  tempo  de  Egas  Moniz  ^. ! . .  . 

—  Arochas,  Arrocha  e  Arivchas  por  Alrocha  e  Alrochas, 
o  mesmo  que  A  Rocha  e  As  Rochas,—  Rocha  e  Rochas!... 

—  Arrabaça  por  Alrabaça  — e  Rabaça. 

—  Arrabaçal  por  Alrabaçal,  o  mesmo  que  O  Rabaçal,  — 
e  Rabaçal. 

—  Arrabalde  ou  Rabalde  —  e  Rabalde  ou  Arrabalde  (sic). 

—  Arrabalde  e  Rabalde. 


1  Estes  últimos  oito  nomes  de  povoações  talvez  sejam  formas  de 
Amieirada,  Amieireda,  Amieiredo  c  Amieira? !. .  .—Fiat  lux. 

-  Apothicario  por  Alpothicario  e  este  por  Al  ■{•  Boticário  —quer 
dizer—  A  (villa,  granja,  quinta  ou  casa  de  campo)  —  do  Boticário. 

Cf.  A  do  Alcaide,  A  do  Bello,  A  do  Cêa,  A  do  Coelho,  A  do  Freire, 
A  do  Moita,  A  do  Rainha,  A  do  Rocha,  A  do  Vigário,  A  dos  Bispos,  A 
dos  Ferreiros,  A  dos  Francos,  A  dos  Loucos,  A  de  Barros,  Adefroia  por 
A  de  Froila,  etc,  povoações  nossas. 

Estes  prefixos  A  de...  — A  do...  —  Q  A  í/os...  — da  onomástica 
portugueza  obedecem  á  lei  do  metior  peso,  como  as  contracções,  apoco- 
pes  e  afereses  de  muitos  nomes  de  povoações  de  Portugal,  á^Hespanha, 
da  França,  da  Itália,  etc. 

3  Cf,  Arcipreste  ou  Cipreste  —  e  Acipreste  ou  Cipreste  (sic),  po- 
voações nossas  também,  mencionadas  na  Chorographia  Moderna. 


2Õ2  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


—  Arrobai  ou  Arrabalde  —  Rabal  e  Rahalde  (sic). 

—  Arrábida  entre  nós  —  e  Rábida  na  Hespanha. 

—  Arraia  —  e  Raia. 

—  Arramadas  por  Al  Ramadas,  o  mesmo  que  As  Rama- 
das e  Ramadas. 

—  Arramadinlias  por  Al  Ramadinhas,  o  mesmo  que  As 
Ramadinhas  —  e  Ramadinhas. 

—  Arranas  por  Al  Ranas,  o  mesmo  que  ^.s-  Rans,  — 
Rana  e  Rans. 

—  Arranhadouro  e  Ranhadouro ;  —  Arranho  e  Ranho?!... 

—  Arrangel  por  Al  Rangel,  o  mesmo  que  O  Rangel  — 
6  Rangel,  appellido  e  nome  de  varias  povoações  nossas. 

—  Arreçaio  —  Recaio  e  Roçaio  / .  .  .  —  Arredonda  e  Re- 
donda  ;  —  Arredondo  e  Redondo  ?l...  —  Arretorta  —  Retorta  e 
Retortinha  ?  / . . . 

—  Não  temos  Arrevolta,  mas  temos  também  Revolta  e 
Revoltinha.  ^ 

—  Arribas  —  Riba  e  Ribas. 

—  Arribam  e  Ribão,  talvez  o  mesmo  que  Ribeirão,  po- 
voação nossa  também  ! . .  . 

—  Arriconha  —  o  mesmo  que  Al  ou  A  Riconha,  fórma 
talvez  de  Riquinha,  povoação  nossa  também. 

Somma  e  segue. 

—  Arroga  e  Roça  ;  —  Arrogada  e  Roçada  ? !...  —  Arroga- 
das e  Roçadas  ;  —  Ari-oçaio  e  Roçaio ;  —  Arrochella  e  Rogella, 
o  mesmo  que  Rochella,  diminutivo  de  Rocha  ?! . , . 

—  ArroeUas  e  Ruellas  ?.'...  —  Arroio,  Arroios  —  e  Roios. 
—  Arromas  por  Arromãs  ? —  e  Romãs. 

—  Arromba  e  Romba  ?/. . .  — Arrota  e  Rota;  —  Arrotéa 
6  Rotea  ;  —  A^^rote^  Arroto  (sic).  —  e  Roto  ?  ! . . . 

—  Arruellas  e  Ruellas ; — Arrufina  e  Rufino,  m.  de  Ru- 
fina. 

—  Asanto  por  Al  Santo?  —  e  Santo;  —  Assaheiros  e  Sa- 
beiro,  quasi  Sabeiros,  talvez  contracção  de  Saboeiro  e  Saboei- 
ros  ?  ! .    . 

Cf.  Saboeiros,  povoação  nossa  também,  —  e  Saboneiro, 
appellido. 


1  Revoltinha  é  uma  quinta  pequena,  fronteira  ao  meu  casarão  da 
Corvaceira,  no  Douro,  e  contigua  á  estação  do  Moledo. 

Tomou  o  nome  d'uma  volta  muito  cega,  que  dá  junto  d'ella  uma  es- 
trada publica. 

O  re,  prefixo  de  Revolta  e  Revoltinha  é  augmentativo,  como  o  de  Re- 
torta e  Retortinha. 


TENTATIVA    ETYMOLOOICO-TOFONYMICA  253 


—  Àssade  e  Sades,  plural  de  Sade;  —  Assafroeira  e  Sa- 
foeiro  por  Safroeiro,  m.  de  Safroeira? 

—  Assamaça,  Afssamassa  e  Samaca?  —  Asseca  e  í^eca;  — 
Asseiceira  e  Seiceira.  Cd  está  ella  ?  ! 

—  Assenta  —  Cenfas,  Sentas,  Senda  e  Sendas  1  /.  . .  —  As- 
silhò  e  Silho; —  Assinceira  e  Sinceira  ?/. .  .  —  Assinzas  e  Cin- 
zas '! . . , 

—  Assorda  e  Sor  da,  que  se  encontra  em  Malhada  Sor  da; 

—  Assuhida  e  Subida;  —  Arzelas  por  Azelas  ou  Assellas — Cel- 
las  e  Sellas  ?  / . . . 

—  Ataboeira  e  Taboeira; — Atnboeirinha  e  Taboeirinhaf... 

—  Atahide  e  Athaide; — Tainde  por  T^azcíg  e  Thaide,  contra- 
cções de  Athanagildi,  que  deu  também  Tagilde,  como  já  dis- 
semos. 

Com  vista  ao  rev.  sr.  João  Gomes  d^  Oliveira  Guimarães^ 
meu  bom  e  velho  amigo,  distincto  escriptor  publico  e  bene- 
mérito abbade  de  Tagilde,  no  aro  de    Vizella,  ^ 

—  Atalaia  e  Tala  ia;  — Ataia  e  Ta  ias; —  Atai j  a  e  Taijas; 

—  Atalaião  (em  Portalegre)  —  e  Tayão  ?  / .  . . 

Ataia  e  Taias,  —  Ataya  e  Taijas  são  contracções  de 
Atalaia  e  Atalaias,  como  Tayão  é  evidentemente  aferese  e 
contracção  de  Atalayão  ?  ! . . . 

A  bússola  é  o  ouvido. 

Note-se  que  antigamente  se  escrevia  Atalaya  por  Atalaia, 
—Atalayas  por  Atalaias, — Atalayão  por  Atalaião, — Talaya  por 
Talaia  e  Talaija,  por  Talaya,  unde  Ataija  e  Taijas  supra?  !... 

—  i?iríi  í^ieri  g?íi  rira  Ze  dernier. 

* 

*      * 

—  Atalhada  —  Talhada  e  Talhadas  —  pedras  fendidas 
ou  partidas  pelos  raios  /. . . 


1  Tem  sido  também  s.  ex.a  presidente  da  camará  municipal  de  Gui- 
marães e  da  benemérita  Sociedade  Martins  Sarmento  —  e  é  lioje  s.  ex.a 
quem  melhor  conhece  não  só  Guimarães,  mas  todo  o  seu  vasto  concelho, 
como  provam  as  longas  séries  de  artigos  que  tem  publicado  na  Revista 
d'aquella  Sociedade. 

Também  lhe  deve  muito  o  Portugal  antigo  e  moderno,  pois  forne- 
ceu vastos  apontamentos  ao  meu  benemérito  antecessor  Pinho  Leal  —  ea 
mim  próprio,  nomeadamente  para  os  artigos  Vizella,  Caldas,  —  Vizella, 
rio,—  Vizella,  S.João,—  Vizella,  S.  Miguel— e  Vizella,  Santo  Adrião, 
como  eu  declarei  nos  mencionados  artigos  e  novamente  declaro,  beijan- 
do-lbe  as  mãos  com  profundo  reconhecimento  —  para  não  me  expor  ao 
labéu  d'ingrato. 


254  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


—  Atalho  —  Talho  e  Talhos;  —  Atoleiro  e  Toleiro;  —  Ato- 
leiros e  Toleiros  ? ! . . » — Atiíinha  por  Tia  Anna,  —  ém  cal- 
laico —  Tia  Ana,  que  se  lê  Tia  Anha.—Atianha  quer,  pois, 
dizer  A  tia  Anna!?, . . 

Os  leitores  pódera  rir,  como  eu  próprio  estou  rindo ; 
mas  notem  que  temos  também  uma  povoação  denominada 
Tia  Annica,  irmã  gémea  da  Tia  Anna — e  talvez  uma  e  a 
mesma  senhora,  pois  entre  nós  Anna  e  Annica  são  formas 
do  mesmo  nome. 

( "f.  Annica,  Annicas  e  Antonicas,  povoações  nossas  também. 

Junte-se  Atranco  por  Altronco? — Trancão  por  Troncão; 
Trancões  por  Troncões;  Trancoso  por  Troncoso  e  Tronco  l , . . 

Atranco,  aldeia,  na  minha  opinião  é  uma  forma  de  Atronco 
por  Al  Tronco — O  Tronco — e  tomou  talvez  o  nome  d'algum 
tronco  d' ar  core  magestoso,  que  alli  houvesse,  como  houve  mui- 
tos em  Portugal  —  o  ainda  hoje  se  encontram  alguns  que  as- 
sombram !  —  Já  mencionámos  castanheiros  com  16  metros  de 
circumferencia  no  tronco  —  e  na  villa  de  Trancoso  ha  extra- 
muros em  freixo  colossal  —  o  maior  do  nosso  paizf.  .  . 

Eu  já  o  vi  com  espanto  muitas  vezes  e  tenho  duas  bellas 
photographias  d'elle,  tiradas  expressamente  para  mim,  quando 
ha  annos  tentei  escrever  e  publicar  um  livro  com  relação  ás 
nossas  arvores  e  plantas  mais  notáveis, 

Incommodei  muitos  amigos  e  cheguei  a  colher  muitas 
noticias  d'arvores  e  plantas  magestosas  de  todas  as  nossas 
províncias,  comprehendendo  o  Algarve,  a  Madeira,  os  Açores 
e  as  nossas  colónias  africanas.  —  Tudo,  porém,  puz  de  parte, 
por  estar  no  fim  da  vida  e  porque  esta  pobre  Tentativa  e 
outras   impertinências   litterarias  me  roubam  o  tempo  todo. 

De  passagem  direi  que  no  Algarve  —  segundo  me  disse 
o  meu  bom  e  velho  amigo  sr.  José  Gonçalves  Vieira,  muito 
digno  Prior  e  Vigário  da  Vara  de  Villa  Nova  de  Portimão^ 
houve  na  freguezia  do  Alferce,  concelho  de  Monchique^  um 
castanheiro  de  tal  ordem  que,  tendo  o  tronco  já  fendido,  pas- 
savam pela  abertura  d'elle  cavalleiros  —  de  um  lado  para  o 
outro?!.    . 

Tinha  e  tenho  também  apontamentos  com  relação  a  cas- 
tanheiros magestosos  ò.\4.rouca,  do  Fundão,  de  Vinhaes,  etc, 
—  e  a  choupos  de  Setúbal,  sobreiros  do  Alemtejo,  nogueiras 
àsi  Beira  Alta^  vides  do  Douro,  de  Paços  de  Ferreira,  àQ  Avin- 
tes, etc.  —  e  uma  bella  photographia  da  magestosa  carvalha 
do  Presépio,  de  Castro  Dayre, 

O  sr.  Chrystiano  Vanzeller,  um  dos  cavalheiros  mais  con- 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  2ÕÕ 


siderados  e  mais  ricos  do  Porto,  tem  na  sua  quinta  á^ Avintes, 
concrelho  de  Gaya,  uma  videira  americana  isabella,  que  forma 
por  si  só  uma  grande  ramada  e  já  deu  em  um  só  anno  duas 
pipas-  de  vinho,  de  5õO  litros  cada  uma^. ! , . . 
Prosigamos. 

—  Atai  —  Vai  e  Valle  ;  —  Avanteira  —  Aventeira  —  e, 
Venteira.  — Avanteira  é  diapasão  francez  de  Aventeira. — 
Avargas  e  Vargas —  o  mesmo  que  Vargeas^  Varjas  e  Varxeas. 
Avargas  por  Al  Vargas  quer,  pois,  dizer  As  Varjas,  Var- 
geas  ou  Várzeas.  —  Avellal  e  Vellal  por  Avelleiral  é  o  mesmo 
(\\XQ  Avellar. —  Avellanoso  e   Vellanoso  por  Vellanoso.f /... 

—  Avelleda  por  Avelleireda  —  e  Velledo,  o  mesmo  que 
Velleda,  como  Vellida  e  Vellide,  povoações  nossas  também, 
podendo  juntar-se  Bellida  e  Riba  Bellida  por  Vellida.  — 
Belledo  por  Velledo^  o  mesmo  que  Bellido  ;  —  Bellide^  o  mesmo 
que  Veílide  e  Bellido  —  e  Bellaido  por  Vellanido,  o  mesmo 
que  avellanido,  por  avellanedOy  que  deu  Bellide,  Bellido,  Veí- 
lide e   Velledo  por  avellanedo. 

Junte-se  Avelleiro  e  Veleirinho,  aldeia,  por  Avelleirinho, 
diminutivo  de  Avflleiro ;  Avellosa  por  avelleirosa  ou  avella- 
nosa  —  e  Vellosa;  Avelloso  por  avellanoso — e  Velloso  ;  Aveneda 
por  Avelleda  —  e  Venade  por  Veneda  ?  / . . . 

—  E'  assim  a  arte  nova  —  e  rira  bien  qui  rira  le  der- 
nierf... 

Note-se  que  a  raiz  d'estes  últimos  nomes  todos  é  o  latim 

—  avellana,  avellã ;  por  seu  turno  avellana  vem  do  latim  Avel- 
la,  povo  da  Campania,  —  chamada  também  Avellino,  unde 
Avellino,  nome  d^im  santo,  etc. 

Vellosa   e   Velloso  podem   vir  também   do  latim  vellus, 
eris, —  a  lã  ou  o  vello  da  lã.  As  meias  tintas  confundem. 
Prosigamos. 

—  Aventeira,  o  mesmo  que  Avanteira  supra,  —  e  Venteira, 

—  Aventosa  e  Ventosa  ;  Averdiães  por  Averdiaes  ou  Averdeaes 

—  e  Verdeal^  sing.  de  Verdeaes  ;  Avessada  e  Vessada  :  Avessa- 
das G  Vessadas ;  Avihora  e  Víbora ;  Avidagos  —  Vidago  e  Vi- 
tego  por  Vidagoff, . . 

Por  seu  turno  Vitego  deu  Vedigal,  Vedigaes,  Vidigal, 
Vidigalinlio,  Vidigão,  Vidigueira  e  Vidigueiras,  povoações 
nossas  também. 

Vidigão  por  Videgão  e  este  por  Vitegão  —  é  augmenta- 
tivo  de  Vitego. 

Todos  estes  nomes  supra  foram  tirados  do  latim  vitis' — a 
vide,  a  videira,  a  cepa,  a  uva  e  o  vinho,  productos  das  videiras. 


256  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


*  * 

Junte-se: — Avinho  e  Vinho—  do  baixo  latim  víniola  — 
pequena  vinha. 

Viniola  deu  Vinhos  como  Ecclesiola  deu  Grijó,  — ficariola 
deu  Figiieirôa  e  Figueiró, —  Ahxiolus,  diminutivo  de  Alexms 
—  Aleixo  —  deu  Alijó  e  por  aferese  Lijô,  o  mesmo  que  Aleixi- 
nho. 

Também  Hectoi%  oris  —  Heitor  —  deu  Hectorolus,  i  unde 
Eituró  por  Heitoró,  povoação  nossa,  o  mesmo  que  Heitorzinho, 
como  já  dissemos. 

V.  o   tópico :  —  Diminutivos  com  a   desinência  olus,  ola, 

—  Avitureira  e  Vitoreira  por  Vitureira  —  é  o  mesmo  que 
Abiiureira  por  Abutreira,  abundante  em  abutres^  como  já  dis- 
semos. 

— Azabucho  e  Zabucho — são  talvez  formas  de  Azambujo! ... 

Note-se  que  antigamente  em  vez  de  Azambujo  escrevia- 
se  Azabujo,  unde  Azabujo,  Azabucho,  e  Zabucho,  -pois  já,  jó, 
ju  e  chá,  chó,  chu  com  o  valor  de  xá,  xo,  xu  —  trivialmente 
se  confundiram  e  substituiram. 

— Azagãe-s  por  Azagaes  —  e  zagaes,  pastores. 

—  Azagaia  e  Zagaia;  Azalfrias — Al  fria  e  Frias  f...  — 
Azambuja  e  Zamhuja;  Azambujeira  e  Zambujeira;  Azambuji- 
nha  e  Zambujinha;  Azavel  e  Zavel  por  Isabel/.,,  Azebral  e 
Zebral  —  abundante  em  zebras.  —  Azeimota  por  Azémoita  —  e 
Zémoto  por  Zémota  ou  Zé  Moita,  o  mesmo  que  José  Mota  ou 
José  3Ioita^ 

A  zeimota  por  Al  Zeimota  —  e  este  por  Al  Zémoita  —  o 
José  Mota  ou  José  Moita  —  é  um  especinien  da  onomástica 
portugueza;  mas  será  tudo  isto  um  dislate? 

Fiat  lux. 

Cf.  A  do  Mota  —  o  mesmo  que  A  granja,  quinta,  casa  de 
campo  ou  villa  do  Motta  —  povoação  nossa  também,  mencio- 
nada supra. 

Junte-se  ainda : 

—  AzeiteÍ7'os  e  Zeiteiros ! , , .  Azenha  e  Zenha;  Azenhas 
e  Zenhas;  Azevedinho,  Azevinho — e  Zevinho. 

Estas  povoações  tomaram  o  nome  do  azevinho,  arbusto 
espinhoso,  que  deu  azevinhedo  e  por  contracção  Azevedo,  ap- 
pellido,  etc,  —  e  Axêvo,  contracção  de  Azevedo. 

Tèem  a  mesma  etymologia : 

—  Azeval  por  Azevedal;  Azevido  por  Azevedo;  Azevinheiro, 
Azevinhos^  Azibal  por  Azeval  ?  Azíboso  por  azivedoso  e  este  por 


TENTATIVA    ETY&IOLOGTCO  TOPONYMICA  257 


azecedoso?  Azido  por  advo  e  este  por  Azevo? !,  . .  Azical  por 
Azeval  supra;  Aziveiro  por  Azeveiro  e  este  por  azecedeiro. 

Também   Azival   e   Aziveiro  podem   ser  contracções  de 
Azevinhal  e  Azeinnheiro. 


* 


A  Ilefipanlia  tem  muitos  nomes  similares,  corresponden- 
tes aos  nossos,  taes  são  entre  outros :  —  Acehal,  Acebeda,  Ace- 
bedo,  Acebeiro,  AceMdo,  Acebo,  Acebosa,  Acebro  por  Aceho  ? 
Acev€da,[Acevedo,  etc. 

Ao  mesmo  diapasão  de  Azevedo  obedecem  os  nossos  ap- 
pellidos  JJãrbedo,  Azevedo^  Macedo^  etc. 

Barhedo  tomou  o  nome  das  Barbas  que,  por  serem  um 
dos  caracteristicos  mais  salientes  do  rosto,  deram  outros  mui- 
tos appeliidos  —  e  por  seu  turno  estes  deram  o  nome  a  varias 
povoações  nossas.  Taes  são  as  seguintes: 

—  Barbacão  por  barbas  de  cão  f  —  Barbacena,  Barbada,  o 
mesmo  que  barbuda  —  mulher  que  tem  grandes  barbas,  o  que 
não  depõe  muito  a  favor  d'ella,  pois  já  disse  Covarrubias,  sá- 
bio escriptor  hespanhol :  —  Mujer  barbuda  de  lejo>;  la  saluda!... 

Prosigamos. 

— Barbadães  por  Barbadões?  Barbadans  por  Barbadães, 
Barhadãos  onBarbadões  ?  Barba  d''xiIho,  povoação  nossa,  e 
Barba  de  Fuerco  (Barba  de  Porco)  —  povoação  hespanhola, 
que  auctorisam  a  forma  Barbacão  por  barbas  de  cão  supra. 
Barbadeno  ?  ;  Barba  de  Pelle  f  Barbães  por  Barbadães  supra  ? 
Barbaido  por  Barbido,  infra,  o  mesmo  que  Barbedo,  supra? 
Barhaláo  por  Barbalão,  talvez  o  mesmo  que  Barbadãol... 
Ba7'banxa  por  Barbancha,  contracção  de  barba  ancha,  gran- 
de. Cf.  Mangancha  por  manga  ancha, —  Pedrancha  por  x>edra 
ancha,  Malhadancha  por  malhada  ancha,  etc,  povoações  nos- 
sas também,  como  Lameirancha  por  lameira  ancha. 

E'  assim  a  arte  nova  —  e  rira  bien  qui  rira  le  dernierf... 

—  Barbanxo  —  é  o  mesmo  que  Barbanxa^  supra. 

Cf.  Portanxo  (sic),  povoação  nossa  também,  o  mesmo  que 
portoancho,  grande. 

(^om  o  mesmo  diapasão  de  Barbanxo  e  Portanxo  tam- 
bém temos  na  onomástica  portugueza  Balancho  e  Balanxo, 
por  vai  ou  imlle  ancho,  grande. 

Não  temos  Valancho  nem  Vai  ou  Valle  Ancho,  mas  te- 
mos muitas  povoações,  ao  todo  rnais  de  mil,  que  tomaram  o 
nome  dos  .valles, —  e  mais  de  cem  com  os  nomes  de  Vai  Gran- 


258  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


de,  Valle  Longo,  Vai  Maior,  Vallongo,  o  mesmo  que  Valle 
Longo, —  e  Valmôr,  o  mesmo  que  Valle  Môr  ou  Valle  Maior, 
Proseguindo  com  a  lista  das  nossas  povoações  que  to- 
maram o  nome  dos  appellidos  tirados  da  harha^  ainda  temos 
as  seguintes : 

—  Barbas,  Barbas  de  Lebr^e,  Barbas  de  Porco  (na  Hespa- 
nha  Barbas  de  Fuerco,  supra) ;  —  Barbas  Novas,  Barbas  ra- 
las (sic) ;  —  Barbatona,  ^  Barbatoi^ta,  Barbutos,  Barbedo  (cá 
está  eWel...);— Barbeira  (note-se  que  é  tima  aldeia  f  !...]  ;  — 
Barbeiro,  Barbeiros,  Barbeita,  Barbeita  de  Baixo,  Barbeita  de 
Cima,  Barbeita  ou  Barbuta  (sic?!...);  —  Barbeitas,  Barbeito, 
Barbeite,  o  mesmo  que  Barbeito  f...  ; — Barbeito  ou  Barbei- 
ta (?/...); —  Barbelães  por  Bar  bala  es  ou  Barbalões  e  este 
por  Barbadões. 

Note-se   que  l  e  d  confundiram-se  e  substituiram-se  na 
onomástica  portugueza,  como  já  dissemos  e  logo  provaremos. 
Somma  e  segue. 

*       * 

—  Barbeloto  ou  Barbelote,  que  recorda  Barbofj  appellido 
no  Porto. — Barbialhos  por  Barba  d'Ál}ws,  o  mesmo  que  Borba 
d' Alho,  supra. —  Barbido,  o  mesmo  que  Barbedo,  supra, —  e 
Barbudo,  infra. 

—  Barbitello,  diminutivo  claro  de  Barbito,  o  mesmo  que 
Barbido  e  Barbedo,  supra, —  e  Barbudo,  infra. 

Por  seu  turno  Barbito  deu  ou  podia  dar  Barbeito  q  Bar- 
beita supra,  já  porque  na  onomástica  portugueza  —  i  deu  ei  ; 
— já  porque  temos  Barbeita  ou  Barbuta,  o  mesmo  que  Bar- 
bita,  Barbida  e  Barbuda,  —  Barbuta  ou  Barbeita  (sic),  —  e 
Barbuto  por  Barbito  e  Barbeito?!... 

—  E'  assim  a  arte  nova  —  e  rira  hien  qui  rira  le  dernier  /... 
Prosigamos. 

—  Bnrbolega  por  «Barbolega»  ou  Barbolenga — é  talvez 
uma  forma  de  Barbalenga  por  Barbalonga  —  barba  comprida, 
o  mesmo  que  barba  grande,  barba  ancha  e  Barbanxa  supra. 

Note-se  que  a,  e  q  o  trivialmente  se  confundiram  na  ono- 


'  Ao  diapasão  de  Barbatona  obedecem  os  vocábulos  portuguezes 
mocetona,  pimpona,  pernona,  intrujaria,  etc.,—  e  Campana,  Silveirona, 
Cachadona,  Crasona  por  Casarona? ;  —  Atagona,  Quintandona,  Monte 
da  Feiteirona  e  Foros  da  Catampona  ?  /. . .  —  povoações  nossas, 

^í^isum  tçneaiis, 


TENTATIV^   ETYMOLOaiCO-TOPONYMICA  2.'í) 


mastica  portuguoza  —  bem  como  trivialmente  se  escrevia  e 
com  til^  por  en  e  cm.  Fiat  lux. 

* 
*      ♦ 

Ainda  temos  JJdrhosn,  appellido  vulgar  dhomem,  po.sto 
que  entre  nós  a  desinência  a  é  feminina. 

Adoptámos  o  appellido  Barbosa  por  Barhoso,  como  Fer 
reira  por  Ferreiro^  posto  que  Ferreira^  appellido  d 'este  Pe 
tnis   in   cuncfls   niliil  in  omnihffs-,  talvez  provenha  do  latim 
ferraria  —  mina  de  ferro  ou  ferraria.  ^ 

Em  compensação  temos  outros  appellidos  com  a  desi- 
nência a,  em  vez  de  o.  Taes  são  Pei.roto  por  Peixota,  de  pei- 
xota—  pescada, —  e  Tinoco  por  Tinoca,—  de  tinoca,  o  mesmo 
que  tinalha  —  pequena  tina  ? 

Cf.  Tinallia,  Tinalhas,  Tinoca  e  Tinoquinha,  povoações 
nossas. 

Na  Hespanha  também  ha  differentes  povoações,  cujos 
nomes  foram  tirados  das  barbas.  Ahi  vae  uma  amostrinha  do 
panno  : 

—  Barba  de  Puerco,  Barbacana  ?  Barhacharro,  em  Bil- 
bdu,  provincia  da  Viscat/a ;  Barbadanes,  Barbadelo,  Jíarba- 
diUo,  o  mesmo  que  Barbadelo ;  Barbain,  Barbalimpia,  em 
Cttenca  ;  Barbalos,  Barbarvoja  —  nós  dizemos  Barba  Roxa  ; 
^  Barba ruens  {Barbas  ruins?);  Barbnstro  ? ;  Barbate,  Barba- 
tain,  Barbatana,  Ifarbecho,  Barbeira,  Barbeiros,  Bnrbeita,  Bar- 
beitas,  Barbeito  e  Barbeitos,  —  ^stsis  ultimas  quatro  povoações 
demoram  na  Gallisa,  irmã  gémea  de  Portugal. 

A  Hespanha  ainda  tem  Barbens,  em  Lerida  ;  Burboles^  em 
Saragoça;  Barbolla  em  Guadalajara,  Soria  e  Segóvia;  Bar- 
bote,  na  Galliza,—  G  Barbués,  em  Huesca. 

Desculpem  os  nossos  bons  visinhos  o  bater-lhes  á  porta, 
pois  já  é  tempo  de  acordarem  e  de  investigarem  também  a 
etymologia  dos  nomes  das  suas  povoações. 

Nós  temos  também  muitos  appellidos  tirados  das  borbas, 
taes  são,  entre  outros,  os  seguintes  : 

—  Barba  —  nobre  e  antigo. 

Foi  appellido  de  José  Cardoso  Barba  de  Menezes,  d'Ar- 
mamar,  fidalgo  distincto  e  distincto  general,  bera  como  do 
brigadeiro  seu  irmão — Gonçalo  Cardoso  Barba  de  Menexes,  etc. 


^    Também  dizemos  Gama,  mo  Gamo,  posto  que  o  appellido  Gama 
vem  de  Gamo  esp.  de  veado. 


260  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


—  Barbadão,  appellido  histórico  do  tempo  de  D.  João  I ?... 

—  Barba  Longa;  Barba  mea,  ou  Barba  meã.  Este  appel- 
lido data  do  século  xv.;  Barbas  de  I^erro,  Barbas  de  Lebre, 
Barbas  de  Lobo,  Barbas  de  Porco,  Barbas  Novas  e  Barbas 
ralas. 

Estes  appellidos  são  também  muito  antigos,  pois  quasi 
todos  deram  o  nome  a  povoações  nossas. 

Junte-se  Barbata,  antigo  nome  de  mulher, —  Barbatanas 
e  Barbato,  nome  d'um  santo,  como  Barbea,  etc. 

Fecharemos  este  longo  tópico  das  barbas  a  propósito  do 
appellido  Barbedo,  mencionando  o  facto  do  nosso  vice-rei  da 
índia  que,  para  restaurar  os  muros  da  praça  de  Diu,  obra  que 
demandava  sommas^  de  que  elle  no  momento  não  podia  dis- 
por,—  pediu-as  á  camará  de  Goa,  dando  como  penhor  alguns 
cabellos  das  suas  próprias  barbas.  —  E  a  camará  de  bom 
grado  o  attendeu,  não  exigindo  outra  caução  ? ! . . , 

—  E'  facto  único  na  historia  —  facto  que  muito  recom- 
menda  os  portuguezes  d'outr'ora. 

* 
*      * 

Ad  ridendum  e  a  propósito  da  Barba  de  Pelle  supra^  ahi 
vai  outro  facto  que  se  deu  em  I^io  Tinto  —  nó  meu  tempo  — 
com  o  meu  parochiano  Júlio  Schneider,  allemão^  estabele- 
cido como  schipchandler  aqui  no  Porto. 

Era  elle  uma  excellente  pessoa,,  muito  sympathico,  muito 
generoso,  muito  animado  e  muito  trabalhador,  mas  também 
muito  desiquilibrado  e  muito  ^gastador. 

Ganhou  rios  de  dinheiy^o,  mas  quanto  ganhava  tudo  gas- 
tava ou  malbaratava  —  e  deixou  a  familia  em  precárias  cir- 
cumstancias  ! .  . . 

Indo  elle  certo  dia  com  um  bando  de  comilões,  seus  ami- 
gos inseparáveis,  a  Rio  Tinto,  por  occasião  da  festa  e  roma- 
gem de  S.  Bento  das  Peras,  —  depois  de  comer  algo  e  beber 
a  valer  na  forma  do  costume,  pôz-se  a  rir,  saltar  e  brincar 
com  os  lavradores  e  lavradeiras. 

Usava  elle  grandes  barbas  —  suissas  muito  compridas  e 
aguçadas  —  e,  quando  se  dispunha  a  abraçar  uma  lavradeira, 
certo  aldeão  que  a  acompanhava  e  não  gostou  da  brinca- 
deira,—  rompeu  contra  elle  e  arrancou-lhe  uma  suissa  in- 
teira ?  ! . ,  . 

Armou-se  grande  motim,  porque  os  taes  comilões  ou 
zangões,  que  exploravam  e  acompanhavam  o  pobre  Schnei- 


TE>íTA.TIVA    ETVMOLOGUCO-TOPONYilICA  261 


deVf  uniram-se  logo  a  elle.  — Por  seu  turno  os  lavradores  em 
grande  numero,  armados  de  cacetes  e  varapaus,  uniram-se 
rapidamente  ao  aggressor,  dispostos  a  espancal-os  a  todos. 

Interveiu  a  tropa  que  policiava  o  arraial  e  a  tempestade 
serenou ;  mas  o  pobre  /Sch/ieider  ficou  sem  a  grande  suissa 
que  o  lavrador  lhe  arrancou.  —  Assim  andou  muito  tempo 
manco  das  barbas  e  fazendo  rir  as  pedras  das  calçadas,  até 
que  a  suissa  que  perdeu  e  ficou  reduzida  a  barba  de  pelle  — 
novamente  cresceu. 

—  Risum  teneaUs, 
ProsigamoS. 

—  Azeredo  —  appellido  congénere  à^ Azevedo  e  Barbedo, 
—  é  contracção  diazereiredo,  bosque  ou  matta  á^azereiros,  — 
arvore  ou  planta  rosácea  da  tribu  das  armjgdaldceas. 

Por  seu  turno  azereiro  pôde  vir  do  latim  acer,  eris  — 
uma  espécie  de  bordo  pu  faia  que  deu  Azere^  nome  d'uma 
villa  e  de  duas  freguezias  nossas.  Isto  me  leva  a  suppôr  que 
acere  (Azere)  foi  entre  nós  a  forma  anterior  de  azereiro  por 
acereiro  ?  ! . . . 

A  bússola  é  o  ouvido. 

Também  na  minha  opinião  Alvaiázere,  villa  e  freguezia, 
tomou  o  nome  de  Aha  Azere  —  acere  branca  ou  alva,  como 
faia  branca,  choupo  branco,  salgueiro  branco,  etc. 

Cf.  também  Penalva,  Pedralva,  Villa  Alva,  o  mesmo 
que  Villalva^  Montalvo,  Casa  Branca,  Monte  Branco,  etc,  po- 
voações nossas. 

Congénere  à^ Azevedo  e  à' Azeredo  é  o  nosso  appellido 
Macedo,  que  pôde  vir  de  maceiredo  —  bosque  de  maceiras  ou 
macieiras,  como  já  dissemos,  —  ou  do  hespanhol  Manzanedo, 
que  se  lê  Mancanedo,  —  bosque  de  manzanas  —  m^aceiras  ou 
macieiras  e  maçans,  quo  deram  o  nome  a  differentes  povoa- 
ções da  Hespanha. 

Ahi  vai  uma  lista  d'algumas. 

— Manzanal,  Manzanares^  Manzaneda,  Manzanedillo,  Man- 
zanedo (cá  está  elle!.. .);  — Manzanera,  Manzaneros,  Manza* 
neruela,  Manzanete,  Manzanilla,  Manzaríillo,  Manzano  e  Man- 
zanos,  —  Massana,  Massanar  por  Massanal,  —  Masana  Masa- 
nella  (nas  Baleares) ;  —  Masanel,  Masegosa,  Masegoso,  Mase- 
guilla,  Masenga,  Mases,  Maset  por  Masanet  e  este  por  Man- 
maneie? — Masid  e  Maside  ipor  Masanide  e  este  por  Manzanide, 
o  mesmo  que  Masanido  por  Masanedo  ou  Manxanedo  ? 

Junte-se  Mazaeda  por  Mazaneda^  —  Mazaira  por  Maza- 
naira? — Mazan  por  Mazana?  —  Mazanal,  o  mesmo  que  J/a- 


262  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


sanar,  supra,  —  Mazara  por  Mazera  e  este  por  Mazanera  ou 
Manzanera,  supra ;  —  Mazares  por  Mazanares  e  este  por  Man- 
zanares,  etc,  povoações  da  líesjjanha. 

Desculpem  os  meus  bons  visinhos  tantos  dislates. 

Manzanedo,  que  na  Hespanha  se  lê  Mançanedo,  podia 
muito  bem  dar  Mazanedo,  3Jaçaaedo  e  Macedo. 

Por  seu  turno  Manzaneda  com  o  mesmo  diapasão  caste- 
lhano de  Mançaneda,  podia  dar  maçaneda,  unde  Maceda, 
nome  de  varias  povoações  nossas  também.  —  E  com  o  z  sibi- 
lante portuguez,  Manzaneda  podia  também  dar  —  e  na  minha 
opinião  deu  —  mazaneda  e  Maxedal  nome  'd'uma  fonte,  de 
uma  quinta  e  d' uma  velha  rua  de  Larnego. 

—  E'  assim  a  arte  nova! 

Também  temos  Nazído,  aldeia,  —  talvez  forma  de  Ma- 
zido,  por  Mazedo,  irmão  gémeo  de  3Iazeda,  pois  e  e  i  —  m  e 
n  —  confundíram-se  e  substituiram-se  na  onomástica  porlu- 
gueza^  como  jà  dissemos. 

Na  minha  opinião  também  Manxanilla,  supra,  que  se  lê 
Mancanilha, — deu  Mancilha  ou  Mansilha^  appellido  nosso!... 

Mancillia  ou  Mansilha,  quer,  pois,  dizer  Maçanzinha  ou 
Maceirlnlia  e  pertence  aos  muitos  appellidos  nossos,  tirados 
das  maçans  e  mac.eiras  ou  macieiras.  Taes  são  as  seguintes : 

—  Maçans  ou  3Iaçãs,  —  Macedinlio,  Macedo.^  Maceira, 
Macewó^  Macens,  povoação  nossa  e  o  mesmo  que  Maçãs;  — 
Macide  e  Macldo,  também  povoações  e  formas  de  Macedo ;  — 
Macieira,  Maciel  por  Macial  e  este  por  Macieiral,  etc. 

Cf.  Pinhel  e  Pinhal,  Portel  e  Portal,  Freixiel  e  Freixial^ 
Corvel  e  Corval,  appellidos  e  povoações  nossas,  como  Lourel 
e  Loural,  Esjyinhel  e  Esiúnhal.^  Mourel  e  Moural,  Ermdel  e 
Ervedal,  Fael  e  Faial,  —  Ferrei  e  Ferral,  Tamel  e  Tamal, 
Turquel  e  Turcal,  o  mesmo  que  Torgal,  Trogal  e  Trugal,  ap- 
pellidos e  nomes  de  povoações  tirados  da  torga,  como  Torgo, 
Torgos,  Torgueda,  etc. 

Volvendo  ao  longo  tópico  do  prefixo  ai,  assimilando-se 
na  onomástica  portugueza,  junte  se  para  atesto  do  casco: 

—  Azi beiro  por  Azihreiro  ou  Al  Ziheiro  —  e  Zihreiros,  plu- 
ral de  Zihreiro. — Azido  e  Zido?f...  —  Azoia,  Azoio — e  Zoioí.., 
—  Azarara  e  Zurara. — A  villa  de  Mangualde  chamou-se  an- 
tigamente Zurara  da  Beira, 

Veja-se  no  Portugal  antigo  e  moderno — Azurara  e  Man- 
gualde, artigos  do  meu  benemérito  antecessor  Pinho  Leal,  — 
e  Zurara  da  Beira,  longo  artigo  meu,  no  qual  ampliei  e  re- 
ctifiquei os  do  meu  antecessor. 


TENTATIVA    ETYMOLOOICO-TOPONYMICA  263 


AZURARA  —  esboço  etymologico 

Alguém  diz  quo  Azin^ara  vem  de  azul  ara^  e  quer  dizer 
altar  ou  ara  de  pedra  azul ;  mas  na  minha  opinião  Azurai-a 
è  uma  forma  de  Azurera,  o  mesmo  que  Azureira  e  Açoreira, 
povoações  nossas,  que  tomaram  o  nome  dos  açorei. 

Por  seu  turno  açor,  ave  diurna  de  rapina  ^ — vem  do 
latim  astm\  uris,  que  na  Hespanha  deu  astor  e  axôr  —  e  em 
Portugal  açor,  o  mesmo  que  azôr,  porque  a  Hespanha,  não 
tendo  z  sibilante,  escreve  azôr,  mas  lê  açor.  * 

Azm^ara  ou  Axurera  e  Axureira  são^  pois,  reminicencia 
da  occupação  leoneza  ou  callaica,  e  soavam  in  illo  tempore 
Acurara^  Açurera  e  Açureira^  unde  Açoreira,  povoação  nossa, 
que  tomou  claramente  o  nome  dos  açores,  como  outras  mui- 
tas povoações  nossas.  —  Taes  são  as  seguintes : 

—  Açor,  Açoreira,  Açoreiras,  Açoreiras  de  Baixo,  Aço- 
reiras  do  Meio,  Açoreiras  do  Porto,  —  e  Açores,  aldeia,  villa, 
freguezia,  quinta  e  archipelago !... 

Junte-se  Axtieira  por  Azurara,  o  mesmo  que  Açoreira  ?; 
—  Azueira  de  Baixo,  Azueira  de  Cirna  e  Azueira  do  Meio,  ir- 
mã gémea  de  Açoreiras  do  Meio,  supra. 

—  Azuleiral  por  Azureiral,  o  mesmo  que  A.çoreiral? !.. , 

—  Azura7'a,  Azureira  e  antigamente  Zurara,  o  mesmo 
Azurara,  povoações  que  tomaram  o  nome  dos  açores  pela 
forma  castelhana  azôres. 


1  O  açor,  como  diz  Valdez  no  seu  Diccionario  espaíwl-portugués, 
é  uma  espécie  d'ave  rapina  diurna  da  tribu  dos  falcões,  siniilhante  ao 
gavião,  e  tem  cerca  de  dois  pés  d'altura.  —  A  sua  côr  é  negra  clara  por 
cima  —  e  branca  no  ventre  com  manchas  negras  como  nas  azas  e  no  bico. 
A  cauda  é  cinzenta  e  branca  -•  e  as  pernas  são  amarellas. 

Foi  denominado  por  Linnêu — falco  palumbarius  —  falcão  pom- 
beiro. 

Valdez,  vbs.  astor  e  azor. 

2  O  latim  astar  deu  ou  podia  dar  assar,  como  em  bom  latim  has- 
tala  —  maravalha  —  deu  assula  —  ou  v.  v.  —  segundo  se  lê  no  Magnum 
Léxico  n. 

Por  seu  turno  assar  deu  açor  por  assôr  —  e  talvez  Ansur,  appel- 
lido  archaico  de  Guesto  Ansur,  o  famoso  heroe  das  cem  donzellas. 

V.  Figueiredo  das  Donas  no  Portugal  antigo  e  moderno. 

De  passagem  diremos  que  o  estranho  nome  Guesto  vem  claramente 
de  Godesteus,  ei,  antigo  nome  pessoal,  cujo  patronímico  Godestei  deu  Gos- 
tei, freguezia  nossa. 

—  E'  assim  a  arte  nova  !. . . 

Godesteus  foi  abbade  do  convento  da  Vaccariça  e  do  de  S.  Salva- 
dor de  Bouças. 


264  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Também  temos  Estoril  por  Astoril,  que  tomou  o  nome 
do  antigo  castelhano  astôr,  o  mesmo  que  azar  e  açor,  —  ou 
directamente  do  latim  astur,  uris  supra. 

Estoril  é,  pois,  o  mesmo  que  Estoral,  Astural,  Açoreiral 
ou  Azuleiral  ?  —  terreno,  sitio  ou  praia  abundante  em  açores, 

—  Estoril  por  Esforal,  o  mesmo  que  Astural,  obedece  ao 
diapasão  das  nossas  muitas  povoações,  em  cujos  nomes  se 
encontram  as 

Desinendias  Ih  e  flh  com  o  mesmo  ualor 

Occorrem-nos  as  seguintes : 

—  Aroil  e  Aroal,  o  mesmo  que  Aroeiraly  bosque  ou 
matta  rV aroeiras,  —  lentisco,  planta. 

—  Barril  e  Barrai  —  povoações  que  tomaram  o  nome 
do  barro,  como  outras  muitas  povoações  nossas,  —  ao  todo 
mais  de  cem. 

Já  demos  uma  lista  d'ellas. 

—  Bizarril  por  Bezerril  —  e  Bezerral  f  ! ,    . 

—  Cabril  e  Cabral ;  —  (7^rre7  e  Carral ;  —  Carvoil  e  Car- 
voai,  povoações  que  tomaram  o  nome  do  carvão.  —  Fail  e 
Faial,  povoações  que  tomaram  o  nome  das  faias,  —  Fetil  e 
BYtal  —  povoações  que  tomaram  o  nome  dos  fétoSj  fentos, 
ficitos  ou  felgas. 

Já  demos  uma  extensa  lista  d'ellas. 

—  Landril  e  Landal  por  Landral^  povoações  que  toma- 
ram o  nome  das  landes  ou  landras  — bolotas.  — Louril  e  Lou- 
vai por  Loureiral. 

—  Malliadil  e  Malhadal,  povoações  que  tomaram  o  nome 
das  malhadas  —  eiras — sitios  onde  se  malha  o  pão,—  ou  das 
malhadas,  colmeaes  —  ou  das  malhadas  —  curraes,  sitios  onde 
se  acolhe  e  dorme  o  gado. 

Somma  e  segue : 

—  3Iarroquil  por  Barroquil  —  e  Barrocal,  povoações  que 
tomaram  o  nome  dos  barrocos^  o  mesmo  que  algares  e  bar- 
rancos. 

Já  demos  uma  lista  d'ellas. 

—  Mouril  e  Motiral,  povoações  que  tomaram  o  nome 
talvez  dos  mouros,  como  outras  muitas  povoações  nossas,  en- 
tre cilas  Monle  de  Adeus  Mouros? ! . .  . 

—  Ouril  e  Ourai?... 

Ahi  vae  um  jorreiro  de  dislates  meus,  que  por  si  só  me 
dá  entrada  franca  em  um  manicomio. 


TENTATIVA    ETV^MOLOOICO-TOPONYMICA  265 


—  Leia  quem  tiver  coragem. 

—  Ouril  e  Otiralj  na  minha  opinião  -talvez  sejam  afe- 
rese  de  LouriL  e  Loural?  I .  .  . 

Cf.  Labarella  o  mesmo  que  Lavarella  —  o  Varella,  povoa- 
ções nossas,  bem  como  todas  as  que  vou  citar  e  que  são  um 
espécimen  interessante  da  onomástica  portuçjueza  comparada. 

Labouclnlio  o  BoncinJio]  Laòrunhal  e  Abrunhal  ?  l . . .  La- 
ceira  e  Cetra]  Lacerda  e  cerda  ?/ . . .  Laeira  e  Eira]  Lagiella-s 

—  e  Giella  por  La(jiella  ? !  , .  Lamó  e  Mó]  Lapella  e  Pella? 
Lapinha  o  Pinha  ?  Larcã  e  Arca  ou  Arçã  —  como  se  le  na 
Chorographia  Moderna]  T^atães  —  Atdes  e  Athãesí! ...  I^avage 

—  Bage  e  Vage  / . .  .  —  Lavaginhas  —  Baginha,  Vaginha  e  Va- 
ginhas  f  ! .  .  .  I^avariz  e  Variz]  Leça  —  Eça  e  Beca,  appellidos 
tirados  de  Decia  villa  —  granja,  quinta  ou  casa  de  campo  de 
Becio,  nome  romano?!...  Leirão  e  Eirão]  Leiró  q  Eiró]  Lei- 
rós  e  Eiroz]  Leside  por  I^e  Side — Cide  e  Side?  I  . .  Lecer  — 
e  Ver,  que  se  encontra  em  ;iS^.  João  de  Ver. 

Junte-se  Levide  e  Vide]  T^origo  e  Origof..,  Louraes  e 
Ouraes] — Loural  e  Ourai? ! . . .  Louriçal,  cujo  plural  é  Lonri- 
çaes  e  Oitricaes? — Louril — cujo  plural  é  Louriz — e  Ouriz — Lou- 
ro e  Ouro  —  na  freguezia  de  Lordello  do  Ouro,  freguezia  que 
tomou  o  nome  do  baixo  latim  lauritellus,  dim.  de  lauretum,  que 
deu  Loreto,  I^oredo  e  Louredo  por  Loureiredo, —  do  latim  Latc- 
rus~-lou.YO  e  loureiro. —  Lourim,  que  podia  dar  Louvem  e  Ou- 
rem. ^  L^ourosa,  Lotiroso  e  Ouroso f !  ..  Lucriz  e  Criz,  rio,  etc.  ^ 

— Lu/fe  —  e  Ufe,  Casal  f/'  Ufe,  Estrada  d^  Ufe,  Fonte  d'Ufe, 
etc.  —  De  Ataulphus,  i,  nome  germânico,  que  deu  também 
Adaufe,   Adufe,  aldeia, —  Adoufe,   Adoufe   ou  Adaufe   (sic); 

—  Villar  d'Oufe,  Casal  Boufe  por  Casal  d'Oufe  e  este  por  Ca- 
sal d'Ufe,  povoações  nossas, —  e  Adolpho,  em  latim  Adulphus, 
i,  nome  pessoal  ?  ! . . . 

—  E'  assim  a  arte  nova  —  e  rira  bien  qui  rira  le  dernierl... 
Junte-se  Luilhas  por  Lo  Llhas  —  O  Ilhas  ?  -  e  Ilhas,  po- 
voação nossa. 


1  Cf.  Agastem  por  Afrosiim ;  —  Alvem  e  Alvim ;  —  Daem  por  Da- 
dem  —  e  Dadim;  Carem  e  Carim;— Pintem  e  Pintim;—  Tourem  e  Tau- 
rim;— Alpoem-  aldeia.— e  Alpoim— c:isa.  nobre,  quinta  e  appcllido  d'alta 
cotação. 

Veja-se  o  tópico  mkã:  —  Diapasão  francez. 

2  Criz  por  Ocriz  pôde  vir  de  Ocrisiis,  patronímico  de  Ocrisius,  ii, 
nome  romano. 

A  mãe  de  Sérvio  Tullio  chamava-sc  Ocrisia,  como  se'  lê  no  Aía- 
miim-Lexicon. 


266  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


—  Luriz  por  Loriz  —  e  Orizt... 
Cf.  Loariz  e  Ouriz,  supra. 
Somma  e  segue : 

—  Lutra  — e  Utra,  appellido,  o  mesmo  que  Lutra,  casal, 
etc,  que  tomou  o  nome  do  latim  lutra  —  lontra,  animal  am- 
phibio. 

Cf.  Lontra  e  Lontreira,  povoações  nossas,  —  Lampreia, 
appellido  d'alta  cotação, — lampreia  e  Lamprieira^  povoa- 
ções nossas  também.  ^ 

—  Luval  por  Loval  —  e  este  por  Lo  Vai,  o  mesmo  que 
O  Vai  —  Vai  e  Valle,  povoações  nossas ;  mas  louvai  por  Lo- 
hal  pôde  vir  também  dos  lobos,  como  Luvar,  Luvares^  etc.,— 
ao  todo  mais  de  cem  povoações  nossas. 

Em  muitos  dos  nomes  supra,  na  minha  opinião  andam 
absimílados  e  bem  ou  mal  usados  como  prefixos  os  artigos 
castelhanos  lo,  la,  los  e  las,  metathese  do  artigo  árabe  ai, 
que  entre  nós  deu  talvez  {?!...) — o,  a,  os  e  as,  o  mesmo  que 
em  Hespanha  lo,  la,  los,  las. 

—  Fiat  lux ! . ,  . 

*       * 

Volvendo  ao  tópico  das  nossas  povoações  com  as  desi- 
nências il  e  ai,  —  ahi  vão  mais  algumas. 

—  Outíl  por  Otiteirilf—  e  Outeiral,  Fasmil — e  Pasmai!,.. 
A  etymologia  d'estas  duas  nossas  povoações  —  habet  den- 
tem coelhi / . . , 

Eu  supponho  que  Pasmai  vem  de  Pasmil — e  este  de 
Casmil  por  Cazimiri,  patronimico  de  Cazimirus,  i,  —  Cazi- 
miro,  nome  d'um  santo,  etc,  pois  ca,  co,  cu  e  ta,  to,  tu  con- 
fundiram-se  e  substituiram-se  na  onomástica  portugueza,  como 
jâ  dissemos. 

Cf.  Casimira  e  Casimiro,  povoações  nossas, —  bem  como 
também  Casmillo  por  Casimiro  ?  !  t  ! .  *  . 

Também  na  minha  opinião  Cazimiri  deu  Creixomil,  nome 
de  duas  freguezias  e  de  uma  aldeia  nossas. 

A  escala  foi  talvez:  Cazimiri — Crazimil  —  Craximil  — 
Crixomil — Creixomil --pois  i  deu  ei  na  onomástica  portu- 
gueza^ como  jâ  dissemos. 


*  Utra  por  Lutra  —  lontra,  —  e  Lampreia,  são  appellidos  tirados 
dos  peixes,  como  Sardinha,  Cação,  Bordallo,  Enguia,  Peixe,  Peixoto,  por 
Peixota — pescada,  Robalío,  Eirol,  Capatão  e  talvez  Ruivo,  etc. 

V.  o  meu  Diccionario  de  appellidos  portuguezes. 


TENTATIVA    ETYMOLOUICO-TOPONYMICA  267 


Por  seu  turno  Creixomil  por  Crhroiiiil  deu  Quelxomil  e 
Quixomar,  povoações   nossas   tamisem,    como    Leodomirns^  i 
deu  Leouiil  e  'Lomav,  —  Ountiminis,  i  deu  Candemil^  Cando 
mil,  ContujnU,  Contumillo  e  Gondomar,  —  Theodomirus,  i  deu 
Iheomil  e  Tliomar.  etc.,  povoações  nossas. 

—  E'  assim  a  arte  nova  e  rira  bien  qui  rira  le  dernier? !... 
Somma  e  segue. 

— Paml  —  e  Passal ;  —  Eesomil,  metathese  de  Romezil  ? 
—  Remezal  e  Romezal,  formas  de  romanzeiral,  bosque  de  ro 
manzeiras,  o  mesmo  que  romeiras,  arvores  que  dão  rortians  e 
tomaram  o  nome  do  árabe  romman,  como  diz  o  sr.  Cândido 
de  Figueiredo.  —  Mas  —  desculpe  s.  ex.^  —  talvez  que  rom- 
man  seja  um  dos  muitos  vocábulos  romy  ou  latinos,  que  os 
árabes  levaram  da  Jlespanha  para  o  seu  idioma,  como  deixa- 
ram na  Hespanlia  muitos  vocábulos  seus. 

V.  La  Cimlisacion  des  Árabes,  por  Gustave  Le  Bon,  ci- 
tada por  nós  supra  —  repetidas  vezes. 

Na  minha  humilde  opinião  roman,  fructo  da  romeira  ou 
romanzeira,  pôde  vir  de  Roma,  como  romanus  deu  Romão  e 
Romano,  nomes  pessoaes  e  nomes  de  santos^ —  e  Romana ^ 
também  santa,  o  mesmo  que  romana  e  roman  (sic)  —  natu- 
raes  de  Roma. 

Cf.  também  romaria,  romeira,  romeiro  e  romeiros,  que 
tomaram  o  nome  de  Roma  —  e  talvez  romeira  na  accepção 
de  romanzeira  i   . . 

Roma  podia  muito  bem  dar  e  na  minha  opinião  deu  ro- 
mana, roman,  Romaneira,  quinta  nossa, —  romano,  romeira  e 
romanzeira,  como  Avella,  outra  cidade  da  Ltalia,  deu  Avel- 
lana,  avellano  e  avellanera  na  líespanha  —  e  entre  nós  avel- 
lan.  avellaneira  e  avelleira. 

Jâ  dêmos  uma  extensa  lista  das  nossas  muitas  povoa- 
ções que  tomaram  o  nome  das  avelleiras  ;  —  ahi  vae  agora 
também  outra  das  que  tomaram'  o  nome  das  romeiras  ou  ro- 
manzeiras. 

Além  de'  Resomil,  metathese  de  Romezil  f  —  Remezal  e 
Romezal  supra,  temos  —  Romã,  Romaneira  (cá  está  ella!. .  .) 
— Rontaneiras,  Romaneiras  de  Baixo,  Romaneiras  de  Cima  e 
Romaneiras  do  Meio;  —  Romãs  e  Romazelhas,  o  mesmo  que  ro- 
mazeirelhas  ou  romanzeirellias  ?  I . . . 

—  Junte-se  Romeira  e  Romeiras, —  só  com  estes  dois  no- 
mes vinte  e  sete  povoações  ?!!,.. 

—  Romeiral,  Romeirão,  Romeirinha  e  Romeirinhas. —  Ru- 
melha — talvez  forma  de  Ronielha  e  contracção  de  Ronianzelha!? 


268  TKNTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Cf.  Eomazelhas,  ^ supra. 

—  BumhiJiai,  Ruminlieira  e  Buminheirinlia^  povoações 
nossas,  não  prendem  com  as  romeiras,  —  São  talvez  formas 
de  Ramalhal,  Ramallieira  e  Ramalheirínha,  nomes  tirados 
da  rama  ou  dos  ramalhos. 

Cf.  Ramalhal  e  Ramalheíra,  povoações  nossas  também 

—  e  note-se  que  a^  i  q  u  confundiram-se  e  substituiram-se  na 
onomástica  portugueza  —  bem  como  Ih  e  nh  —  como  já  dis- 
semos. 

A'  mesma  familia  dos  Ramos  e  Ramalhos  pertencem  ou- 
tras muitas  povoações  nossas,  entre  ellas  Romagom, —  talvez 
forma  de  Ramagon,  o  mesmo  que  ramagão  e  Ramalhão? ! ... 

Note-se  que  Romagom  prende  com  o  diapasão  hespanhol, 
em  que  ja,  jo,  ju  se  lêem  ga,  go,  gu  — ■  e  no  portuguez  deram 
lha,  lho,  Ihu. —  Assim  na  Hespanha  escrevem  atajo,  que  se  lê 
atago,  em  portuguez  atalho.  Também  lá  escrevem  remojo,  que 
se  lê  remogo  —  em  portuguez  remôlho,  etc. 

Também  a  desinência  hespanhola  on  em  portuguez  deu  ao. 

Assim  em  callaico  ou  castelhano  deturpado  poiliam  es- 
crever ramajon,  que  soava  ramagon  e  correspondia  ao  portu- 
guez ramalhão. 

Será  tudo  isto  um  dislate  ? 

Volvendo  ás  desinências  il  e  ai  com  o  mesmo  valor,  jun- 
te-se  também  : 

— Sahil  6  Saial  —  duas  aldeias  nossas?  !...  TourilQ  Tou- 
ral  —  dos  touros  —  e,  como  finis  coronal  opus,  fecharemos  este 
tópico  das  desinências  il  e  ai,  mencionando  : 

—  Samel  e  Samil  —  Tamel,  giiasi  Tamil  —  e  Tamal,  po- 
voações nossas,  cuja  etymologia  hahet  dentem  coelhil... 

Na  minha  opinião  Samil,  Tamel  e  Tamal  —  são  formas 
de  Samel  por  Samuel,  nome  hebraico  e  nome  d'um  santo,  etc. 
Mas  — dirão  os  leitores  —  Samel  daria  Tamel  f 

—  Se  não  dou,  podia  dar,  pois 

5fl  e  Tfl 

confundiram-se  e  substituiram-se  na  onomástica  portugueza. 
Cf.  Saião  e  Tayão;  Saim  e  Taim;  Sainde  e  Tainde;  Sala- 
horda  e  Taborda  ?  Salla  e  Talla;  São  Gil,  que  se  lê  Sangil — 
e  Tangil;  Sanque  e  Tanque;  Sarrea,  appellido,  —  Sarria,  po- 
voação da  Hespanha  —  e  Tavria,  casal  nosso.  —Sarro  e  Tarro 

—  sedimento  de  qualquer  liquido  7-  nomes  communs  portu- 
guezes,   tirados  do   castelhano  sarro  —  e  este?  —  Talvez   de 


TENTATIVA    KTYMOLOGICO-TOPONYMICA  2P)9 


sar  por  sal?!.,.  —  Harroeira  e  Tiirrtteiro,  m.  de  Tarroeira. 
— Zabiirreka  por  Saburreira  —  e  Taburreira. 

Junte-se  ainda : 
-  Sardoura^  Sardoeiro  por  Sardouro  —  o  Tardouro?  Car- 
rapassal  e  Carrapatal  l .  , ,    Carape(jal  e  Carapesal  por  carra- 
pessal  —  e  Carrapetal  ? !, ,  , 

Carapesal  foi  appellido  nobre  e  antigo  de  João  Carape- 
sal, alçai de-mór  de  Leiria  no  tempo  de  D.  Sancho  I. 

V.  Leiria  no  Portugal  antigo  e  moderno,  vol.  4.",  pag.  79. 

Carapesal,  Carrapacal,  Carrapatal,  Carnpeçal  e  Carrape- 
tal são  formas  do  mesmo  nome,  tiradas  de  Carapeco  por  Ca- 
rapeto  ou  Carapito — e  estes  de  carrapato,  contracção  àQ  car- 
rapateiro, espécie  de  feijão,  que  dà  o  rícino  e  abunda  em  va- 
rias regiões  do  nosso  paiz,  pelo  que  d'elle  tomaram  o  nome 
differentes  povoações  nossas.  Taes  são  as  seguintes : 

—  Carapeços ,  appellido  nobre,  etc. —  Carapeta,  Carape- 
tal,  Carapeta  linho,  Carapeteira,  Carapeteiro,  Carapeto,  Cara- 
petos,    Carapetosa,    Carapicha,   Carapiço,   Carapito,    Carapito, 

Carrapassal,  Carrapata,  Carrapatal,  Carrapatas,  Carrapatei- 
ra, Carrapateiras,  Carrapateirinha,  Carrapateirinhas.  Carra 
pateiro,    Carrapatello,  Carrapatinha,  Carrapato,   ^  Carrapato- 
sa,  Carrapatoso,  appellido,—  Carrapatal^  Carrapichana,  Car- 
rapitos  por.  Carixípatos,  etc,  povoações  nossas. 

Do  exposto  se  vê  que  sa  e  ta  confandiram-se  e  substi- 
tuiram-se  na  onomástica  portugueza. 

Também  se  confundiram  e  substituiram  so  e  to. 

Cf.  Sonda  e  Tonda.  —  Soppo  e  Topo.  —  Souto  e  Tonto. — 
Soutosa  e  Toutosa.  —  Toito  e  soito,  forma  popular  de  souto. 

Junte  se  Coensos,  talvez  forma  de  coentos  por  coentros, 
povoação  nossa  também,  que  podia  tomar  o  nome  dos  coen- 
tros. 

Cf.  Coentral,  Coentros,  Alcoentre  por  Alcoentro  — ^e  .1/- 
coentrinho,  povoações  nossas. 

Do  exposto  se  vê  que  Samel  deu  ou  podia  dar  Samil, 
Tamel,  Tamil  e  Tamal. 

—  E'  assim  a  arte  nova  —  e  rira  bien  qui  rira  le  der- 
dier  ?  /. . . 

Frei  João  de  Sousa,  nos  Vestígios  da  Língua  arábica,  — 
diz  que  Alcoentre,  supra,  vem  do  árabe  alconaifara  —  ponte 
pequena,  diminutivo  de  alcantara  —  ponte,  como   Alcantari- 


1     Carrapato  —  é  aldeia  c  quinta  que  muito  bem  se  prestavam  para 
wm  titulo  de  baronato !. . . 


270  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


lha,  povoação  nossa,  o  mesmo  que  Alcantarilla,   oito  povoa- 
ções da  Hespanha. 

—  Aliquando  dormitat  Homerus. 

Alcoentre  é  o  mesmo  que  Alcoentro,  pois,  como  já  disse- 
mos, as  desinências  e  e  o  confundiram-se  e  substituiram-se  na 
onomástica  portugueza. 

Cf.  Alfeite  por  Al  feito  —  o  fento,  feito  ou  fiei  to  ;  —  Al- 
ferrarede  por  Alferraredo  ;  —  Barrete  e  Barreto  ;  —  Bur gue- 
te e  Burgueto ;  —  Carrazeda,  Carrazede  e  Carrazedo ;  —  Li- 
mede  por  Limedo  ;  — Louredi,  Lourede  e  Loiíredo ;  -  Picota, 
Picote  e  Picoto,  etc,  — povoações  nossas. 

Alcoentre  é,  pois,  o  mesmo  que  Al  -\-  Coentro  —  o  coen- 
tro, planta  aromática  bem  conhecida  entre  nós,  cuja  etymo- 
logia  ó  o  latim  coriandrum,  tirado  do  grego  Jcoriannon. 

Alcoentre  não  pertence,  pois,  â  série  das  nossas  povoa- 
ções que  tomaram  o  nome  do  árabe  alcantara  —  ponte,  mas 
á  grande  série  das  nossas  povoações^  cujos  nomes  apenas  tem 
do  árabe  o  prefixo  ai. 

Ahi  vae  uma  amostra  do  panno  :  —  Albarrol  e  Alhorrol 
por  Alharral  —  o  Barrai;  —  Albuquerque—  de  albus  quercus, 
—  o  carvalho  branco; — Alcohella  por  Alcovella  —  a  covella 
covinha;  —  Alcohia  por  ai  cavea  —  a  cova;  —  Alcócas  por  Al 
Covas  —  as  covas;  — -  Alconilhes  por  Al  Conillws  —  os  coelhos; 
— ■  Alcordal  por  Al  Cardai  —  o  Cardai;  —  Alcorochel  por  Al- 
comichai  —  o  Corujal. 

—  Aldara  —  de  Ilduara,  antigo  nome  pessoal  que  deu 
Aldoar,  em  Bouças,  Aldora,  nomo  d'um:\  santa.  —  Alda, 
nome  de  mulher  —  e  rua  das  Aldas,  velha  rua  do  Porto.  — 
Aldareto,  Aldreie  e  Aldreii  —  de  Ilderedus,  i,  nomo  germâ- 
nico ?  —  Alfontes  —  o  mesmo  que  as  fontes  ;  —  Alfreita  —  o 
mesmo  que  Freita  e  Freitas,  muitas  povoações  nossas,  — 
e  Freitas,  appellido,  —  do  latim  fracta  —  pedra  fendida  ou 
partida  pelos  raios,  —  o  mesmo  que  Talhada  e  Talhadas,  po- 
voações nossas  também. 

—  Almoster  —  de  Al  Monasterium,  o  mosteiro;  —  Alpe- 
drinha —  o  mesmo  que  A  Pedrinha  —  e  —  Alpedreira —  o 
mesmo  que  A  Pedreira  —  do  latim  petra  —  pedra;  —  Alquare- 
lha  —  o  mesmo  que  aguarelha  ou  aguarella  ---  do  latim  aqua, 
agua.  etc._,  etc. 

Todos  estes  nomes  de  povoações  nossas  e  outras  muitas 
que  podíamos  citar  —  ao  todo  mais  de  mil  —  mencionadas  na 
Chorographia  Moderna  com  o  prefixo  árabe  ai  —  só  téem  de 
árabe  o  prefixo^  como  Alcoentre  por  Alcoentro,  etc. 


TENTATIVA    ETYMOLOOICOTOPONYMICA  271 


flínda  05  açores  —  Rzurara  e  Zurara 

Os  leitores  já  viram  que  temos  bastantes  povoações, 
cujos  nomes  foram  tirados  dos  acfires ;  —  na  Hespanha  tam- 
bém ha  muitas. 

Ahi  vão  algumas,  para  os  leitores  verem  que  ha  grande 
afinidade  entre  a  onomástica  portugueza  e  a  hesparíhola. 

—  Astariz  por  Astoriz  —  é  o  mesmo  que  Estoriz,  phiral 
á^EstoriU, .  . 

—  Afitor  —  é  o  mesmo  que  Açor,  povoação  nossa. 

—  Astorga  —  cidade  do  reino  de  Leão  e  capital  das  As- 
urias,  —  vem  do  A.storica  ou  Asturíca,  abundante  em  astures 

ou  astores  —  o  mesmo  que  azores,  entre  nós  açores, 

—  Asturqiiia  por  Astorguia  prende  com  Astorga^  Asto- 
rica  e  Asturica,  supra. 

—  Astulez  é  uma  forma  de  Asturez^  tirada  de  astiir  ou 
astor,  o  mesmo  que  azar  e  açor. 

—  Asturiannos  é  uma  povoação  de  Zamora,  cidade  que 
já  foi  nossa,  pelo  que  na  sua  cathedral  se  armou  cavalleiro 
o  nosso  primeiro  rei  D.  Affonso  Henriques,  como  já  dissemos. 

Zamora  tomou  o  nome  de  Azanwr,  cidade  marroquina. 

Por  seu  turno  A^amor  e  Zamora,  que  na  Hespanha  se 
lêem  Assamor  e  Samora,  entre  nós  deram  Samor  e  Samora, 
reminiscências  da  occupação  hespanhola,  como  Samorão,  Sa- 
morim  e  Samorinha,  filhos  ou  oriundos  de  Samora. 

Volvendo  ao  tópico  açores,  ha  também  na  Hespanha  as 
povoações  seguintes  : 

Azoreiras  e  Azoreiros,  que  se  lêem  Açoreira  c  Açoreiros; 
—  e  Soreiros,  por  Azoreiros  ou  Açoreiros  —  na  Galliza  ? I . . . 

—  Em  Córdova  também  ha  Azores.  que  se  lê  Açores,  etc. 
Desculpem    os   meus   bons  visinhos    tantos    dislates.    A 

culpa  é  d'elles,  pois  até  hoje  não  se  lembraram  de  investi- 
gar a  etymologia  das  suas  povoações. 

Por  ultimo  direi  que  Azurara  e  Zurara  recordam  Fer- 
rara; povoação  e  ducado  da  Itália,  que  talvez  tomassem  o 
nome  do  latim  ferrum  —  ferro,  que  em  latim  deu  ferraria, 
quasi  Ferrara,  —  feraria  ou  mina  de  ferro. 

O  mesmo  ferraria  latino  entre  nós  deu  Al  ferrara  por 
Al  -\-  Ferrara  (?!.,.);  Alferrarede  por  Al  -f-  Ferraredo;  — 
Ferraria,  Ferrarias,  Ferreira  e  Ferreiras,  por  ferrarias,  — 
ferrarias  ou  minas  de  ferro;  —  Ferreiro  por  ferrarióla,  etc, 
ao  todo  mais  de  cem  povoações  nossas,  —  e  talvez  Ferreira, 
appellido  meu  e  appellido  vulgar. 


272  TENTATIVA    ETYMOI<OGTCO-TOPONYM1CA 


Em  italiano  ferraria  é  actualmente  ferriéra  ;  mas  talvez 
fosse  antigamente  ferrara,  unde  Ferrara  supra,  mesmo  por- 
que o  cantão  de  Ferrara,  pertencente  á  Lombardia  Vene- 
ziana—  tem  minas  de  ferro,  como  dizem  BescJierelle  e  De- 
varsj  na  sua  Geographia  histórica  universal. 

—  Fiat  lux. 

Azíirara  por  Azurera  —  Azureira  ou  Açoreira  —  talvez 
obedeça  ao  antigo  diapasão  portuguez  de  Ferrara  por  Fer- 
reira, que  se  encontra  em  Álferrara,  supra,  —  e  ao  diapasão 
italiano  de  Ferrara,  por  Ferriéra,  entre  nós  Ferraria  e  Fer- 
reira —  e  na  Hespanha  Herraria,  Herreria  e  Herréra  ?  / . . . 

Desculpem  os  meus  poucos  leitores  tantos  dislates  a 
propósito  da  etymologia  de  Seiceira. 


Volvendo  ao  concelho  de  Torres,  diremos  também  algo 
das  outras  suas  numerosas  povoações  com  a  desinência  eira, 
mencionadas  supra.  Mais  tarde  lá  chegaremos,  porque  é  tempo 
de  darmos  aos  leitores  d'esta  minha  louca  Tentatica  etymo» 
lof/ico-toponymica  um  esboço  dos  tópicos  tantas  vezes  pro- 
mettidos!. . . 

Serão  elles: 

1.°—  Diapasão  fi'ancez. 

2.^ —  Diapasão  callaico. 

3.« —  Diapasão  toscano. 

4:.^ — Diminutivos  com  a  desinência  cellus,  i. 

5.0 — Diminutivos  com  a  desinência  ohts,  a. 

6.° —  Bellezas  da  nossa  orthographia. 

7.°  —  Letras  caprichosas. 

8.0 —  Substituição  de  letras. 

9.0 — Prefixos  deposição  relativa,  como: 

—  Alem  —  por  alem  de, ,  . 

—  Ante  —■  por  antes  de.  .  . 

—  Cá  —  por  áquem  de. ,  . 

—  Prí?,  do  latim  prae  que  se  lê  pré—  e  significa  também 
ante,  antes  ou  —  diante, — e —  Tran.s,  traz  e  trez  por  trans  — 
o  mesmo  que  alem  de. . . 

Vou  dizer  muitos  dislates,  porque  o  assumpto  é  nebuloso 
e  em  gi^ande  parte  novo  ;  —  faltam-me  as  habilitações  preci- 
sas e  mesmo  as  forças  phisicns,  pois  já  estou  velho  e  de- 
crépito. 


TENTATIVA    ET\'AIOLOGICO-TOPONYMTCA  273 


Nasci  em  14  de  novembro  de  18B2  e  em  14  de  novem- 
bro do  corrente  anno  de  1909  —  se  lá  chegar  —  vou  comple 
tar  setpnta  e  sete  annos?  .\  .  . 

—  Com  certeza  diroi  muitos-  dislates,  mas  talvez  que  en- 
tre elles  algo  seja  aproveitável  para  este  ramo  de  litteratura 
d'arie  nooa, — tão  descurado  até  hoje  em  Portugal^  na  Hespa- 
nha  e  na  Itália. 

Diapasão  francez 

Nos  princípios  da  nossa  monarchia,  como  já  dissemos, 
viveram  entre  nós  muitos  francos  ou  francexes  que  trouxe  con- 
sigo da  Fiança  o  conde  D.  Henrique  —  e  outros  que  o  mesmo 
conde  posteriormente  chamou  para  o  auxiliarem — como  au- 
xiliaram —  nas  guerras  contra  os  mouros  e  contra  os  leone- 
zes,  castelhanos  e  aragonezes. 

Também  mititos  francos  ou  francezes  militaram  com  o 
nosso  primeiro  rei  D  Affonso  Henriques  —  e  com  os  nossos 
reis  immediatos  -  não  só  francos  ou  francezes,  propriamente 
ditos,  mas  vários  contingentes  da  Borgonha,  Flandres,  Nor- 
mandia, Bolonha,  etc. 

Não  admira,  pois,  encontrarem-se  na  onomástica  portu- 
gueza  e  mesmo  no  idioma  portuguez  tantos  vestigios  do  dia- 
pasão francex. 

Datam  d'aquelle  tempo  talvez  o  nome  de  muitas  povoa- 
ções nossas  que  tomaram  e  conservam  o  nome  dos  francos  ou 
francezes. — Tnes  são — entre  outras,  as  seguintes: 

—  A  dos  Francos  —  o  mesmo  que  a  villa,  granja,  aldeia 
ou  povoação  dos  Francos. 

Cf.  A  dos  Gallegos,  povoação  nossa  também,  mencio- 
nada na  Chorographia  Moderna,  como  todas  as  que  vou  citar. 

—  França,  Franca,  Francaria  e  Franzia  por  Francezia — 
terras  de  francos  ou  francexes. 

Cf.  Galleguia^  povoação  nossa  também,  que  está  dizendo 
terra  de  gallegos. 

Somma  e  segue : 

—  Francas,  France,  Franceiras  ou  hanciscas, 
Note-se  que  Francisco  é  o  mesmo  (jue  Flanco  e  Francez. 
Logo  volveremos  ao  assumpto  e  seremos  um  pouco  mais 

explícitos. 

--  Francelha,  Francelheira,  Franc-Veirinha,  Francelho, 
Francfllos,  Francexes,  Franco,  Francos,  Franqueira,  Franquei- 
ro  e  Franzia,  o  mesmo  que  Francezia,  Franqueira  e  Franca- 

18 


274  TKNTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


ria,  —  como  Gallegueira  e  Galgueíra  por  Gallegueira,  povoa- 
ções nossas  também,  são  synonimos  de  Galleguia. 

Somma  e  segue. 

—  Monte  Franco  —  por  Monte  do  Franco. 

Note-se  que  Monte  Franco  não  é  monte  baldio,  mas  nome 
d'um  casal  e  d'uma  herdade  ou  quinta, 

Note-se  também  que  em  algumas  regiões  do  nosso  paiz, 
nomeadamente  no  Alemtejo  —monte  é  uma  synonimia  de  logar, 
povo,  aldeia,  casal,  quinta,  eido,  aido,  assento  e  residência. 

De  passagem  diremos  que  estes  4  nomes  geographicos 
ou  nomes  de  terras : —  Eido,  Aido,  Assento  e  Residência  — 
são  vulgares  ao  norte  do  nosso  paiz  e  em  alguns  cantões 
d'elle  teem  a  mesma  significação,  nomeadamente  no  Minho, 
como  ]k  dissemos  ;  —  não  se  encontram,  porém,  nas  regiões 
do  centro  e  sul  do  nosso  paiz. 

Em  compensação  ao  norte  do  nosso  paiz  monte  designa 
sempre  um  chão  inculto,  relativamente  alto  e  deserto  —  e 
nunca  um  chão  habitado  e  povoado^  como  no  Alemtejo. 

Também  ao  norte  do  nosso  paiz  ramada  significa  latada, 
parreira ;  —  no  Algarve  é  o  mesmo  que  abegoaria,  casa  para 
recolherem  gado  bovino  e  cavallar — e  na  Galliza,  ramada^ 
quer  dizer  matta  de  carvalhos? ! 

Volvendo  á  lista  das  nossas  muitas  povoações  que  toma- 
ram o  nome  dos  francos  ou  francezes,  ainda  temos:  —  Porto 
Franco  —  ou  do  Franco  ? 

Note-se  que  Porto  Franco  é  uma  quinta  nossa  —  e  que 
até  boje  em  Portugal  nunca  tivemos  portos  francos. 

Junte-se :  —  Vai  de  Franca,  Vai  de  Francas  e  Vai  de 
Franciscos,  o  mesmo  que  Francos  ou  Francezes  —  e  Villa  Fran- 
ca. —  Só  com  este  nome  20  povoações  ?  ! .  . . 

Villa  Franca  da  Serra,  Villa  branca  das  Naves,  Villa 
franca  de  Xira,  Villa  Franca  do  Deão  e  Villa  Franca  do  Ro- 
sário ^  —  ao  todo  mais  de  cem  povoações  nossas. 

Junte-se  ainda  ma  dos  Francos,  velha  rua  da  cidade  de 
Guimarães  —  cidade  onde  viveu  o  conde  D.  Henrique  e  onde 
nasceu  e  foi  baptisado  o  nosso  primeiro  rei  J).  Affonso  Hen- 
riques. 

Também  temos  no  aro  do  Porto  a  Quinta  de  Francos  e 


1  Vejam-se  no  Portugal  antigo  e  moderno  os  meus  artigos  com  re- 
lação a  estas  ultimas  5  povoações,  —  nomeadamente  o  artigo  Villa  Franca 
de  Xira  —  o  mais  longo  de  todos  e  que  não  é  obra  de  fancaria. 


TENTATIVA    ETYMOLOOICO-TOPONYMICA  275 


a  rua  de  Francos^ —  rua  que  atravessa  a  mencionada  quinta  e 
d'ella  tomou  o  nome. 

Do  exposto  se  vê  que  os  francos  ou  francezen  tiveram, 
demorada  residência  em  Portugal  desde  os  principios  da 
nossa  monarcliia,  como  provam  as  nossas  muitas  povoações 
mencionadas  supra,  que  tomaram  d'elles  claramente  o  nome. 

Obedecem  ao  diapasão  francez  também  outras  muitas  po- 
voações nossas,  em  cujos  nomes  se  encontra  a  desinência  fran- 
ceza  em  por  im  —  bem  como  ens  por  ins. 

Também  temos  muitas  povoações,  em  cujos  nomes  se  en- 
contra o  por  a  —  e  ?í  por  oit^  como  em  francez. 

Ahi  vae  uma  amostra  do  panno. 

Desinência  EfU  por  Ifll  na  onomástica  portugueza 

—  Abexim  ou  Boxim — e  Boxem  ou  Abexim.  ^ 

De  AhijsdaiuSy  ti,  Abt/ssinio,  antigo  nome  pessoal  e  nome 
d'um  santo^  tirado  de  Aòi/ssinia,  como  Romano,  o  mesmo  que 
Romão  —  de  Roma  ;  Franco  —  da  França  ;  -  Egypcio  —  do 
Egypto,  etc. 

—  Agostem  por  Agostim  —  o  mesmo  que  Agostinho  por 
Augiistinho. 

De  Augustinus,  i,  diminutivo  de  Augusfus  —  Augusto^ 
nome  romano  e  nome  d'um  santo,  como  Agostinho. 

—  Aldarem  por  Aldarim  —  e  este  por  Aldunrim  ? 
Talvez  de  Ilduariniis,  i,  diminutivo  de  Ilduarus.  i,  que 

se  encontra  em  Alduar  ou  Aldoar^  freguezia  do  concelho  de 
Bouças. 

Cf.  Ildwara,  antigo  nome  de  mulher,  que  figura  em  ve- 
lhos documentos  e  na  minha  opinião  deu  Aldara  e  por  con- 
tracção Alda. 

> 

Cf.  rua  das  Aldas,  velha  rua  do  Porto,  no  bairro  da 
Sé?/,., 

—  Alpoem  e  Alpoim — povoações^  nossas — e  Alpoim^  ap- 
pellido  muito  nobre  e  muito  antigo  do  snr.  conselheiro  e  par 
do  reino  —  José  Maria  Alpoim  Cerqueira  Borges  Cabral,  etc. 

—  Alvem  e  Alvim  —  povoações  nossas. 

De  Alhinus,  i  —  Albino,  nome  d'um  santo,  etc.  —  dimi- 
nutivo de  Albus  —  Alvo,  Branco. 

Albino  é,  pois,  o  mesmo  que  Branquinho^  appellido  nosso. 


^    São  povoações  nossas,  mencionadas  na  Chorographia  Moderna, 
bem  como  todas  as  que  vou  citar. 


276  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


—  Aztirem  por  Azorim  —  e  este  por  açorim  —  açorinho  ou 
açorzinho —  pequeno  açor, —  ou  de  Azurinus,  i,  diminutivo  de 
Azurius  —  Azurio,  nome  d'um  santo,  etc. 

—  Carem  e  Carim,  povoações  nossas. 

De  Carinus,  i,  diminutivo  de  Carus,  i,  ^  nome  romano, 
tirado  do  latim  caruf<  —  bemquisto. 

—  Cartem  e  Cartím  por  Quartím,  povoações  nossas. 

De  Quartinus,  i,  diminutivo  de  Quartas,  Quarto,  nome 
romano  e  nome  d'um  santo,  tirado  de  quartas  —  quarto,  adje- 
ctivo numeral,  pois,  como  já  dissemos  supra,  os  romanos  ti- 
raram nomes  pessoaes  de  todos  os  seus  adjectivos  numeraes 
—  desde  prinus — primeiro,  que  deu  Primus,  i,  -  Primo,  nome 
de  um  santo,  e  Prime,  povoação  nossa,  —  até  decimus,  que 
deu  Decimo,  também  nome  pessoal. 

Quai^tinus,  i,  —  além  de  Cartem  e  Cartim  —  também  deu 
ou  podia  dar  Quartilho  por  Quartinho  —  e  Quartinos,  povoa- 
ções nossas. 

Cf.  Martino  e  Martinho,  nomes  pessoaes. 

Também  Quartinus,  i,  deu  Qwarím,  appellido,  — e  por  me- 
tathese  Quatrim,  appellido  e  nome  de  varias  povoações  nossas. 

Também  na  minha  opinião  Quartinus,  i,  deu  Quartinia- 
nus,  i,  is,  unde  Quartilhães  por  Quartinhães  —  e  Quartinhaes 
por  Quartinhaes,  povoações  nossas. 

Qunrtus  deu  ou  podia  dar  Quartinus  e  Quartinianus, 
como  também  Maximus  deu  Maximinus,  Alaximianus,  Maxi- 
minianus,  Maximilianus  por  Maximinianus  —  e  Maximilus 
por  Maximinus. 

Por  seu  turno  Maximilus,  i,  deu  Meixomil,  freguezia  do 
concelho  de  Paços  de  Ferreira,  etc. 

Também  Martinus.  i,  deu  Martínianus,  i,  is,  unde  Marti' 
nhães,  povoação  nossa,  como  Quartinianis  deu  Quartilhães 
por  Quai^tinhães,  supra. 

Podia  também  Quartinianus  ter  a  forma  Quartilianus. 

Cf.  Maximianus,  Maximinianus  e  Maximilianus. 

Por  seu  turno  Quartilianus,  i,  is,  podia  sem  violência  dar 
Quartilhães. 

Também  Martinus,  i,  pelo  diapasão  italiano  deu  Marti- 
nellus,   i,  que  se  encontra  em  Martinel,  povoação  nossa,  —  e 

^    Carina  foi  santa. 


TENTATIVA    ETYMOLOQICO-TOPON YMICA  277 


pelo  diapasão  toscano  deu  Marti nicelus,  i,  unde  Martin cel,  po- 
voação nossa  também. 

Ao  diapasão  de  Martinel  por  Martinelli  pertence  o  nosso 
appellido  Pignatelli,  que  veio  da  Itália,  — e  AnfonelU,  appel- 
lido  italiano,  tirado  de  Antonius  —  António,  que  deu  Antoni- 
nus,  Antonianus'  e  Antoniolns,  i  —  unde  Antanhol,  aldeia  e 
freguezia  do  concelho  de  Coimbra,  como  já  dissemos. 

Também  Antoninun  deu  Antoninho  o  mesmo  que  Anto- 
nino, povoação  nossa,  como  Antonina  deu  Antoinha,  povoação 
nossa  lambem. 

Junte-se  Antonicas,  nome  d'uma  quinta  nossa,  tirado  de 
Antonica,  forma  popular  de  Antoninha. 

Também  Antonius-  na  Hespanha  deu  Anton,  unde  Antão, 
nome  pessoal  portuguez  e  de  varias  povoações  nossas,  como 
talvez  Affiões,  três  povoações  nossas  também;  mas  na  minha 
opinião  Antões  vem  de  Antoniis\  patronímico  de  Antonius,  ii, 
como  Antunes,  appellido  e  nome  de  dois  casaes  nossos. 

Também  Antonianis,  patronímico  de  Antonianus,  i,  deu 
Antunhaes  por  Antunhães,  aldeia  nossa. 

Cf.  Antonho,  fdrma  rude  e  popular  de  António. 

E'  assim  a  arte  nova,  mas  basta  de  Cartem  e  Cartini. 

Nós  também  temos  Cnrdim,  que  pôde  vir  de  Cartim ; 
mas  na  minha  opinião  Cardim  vem  de  cardinho  por  Cardai- 
nho,  contracção  de  CJardalinho,  diminutivo  de  Cardai,  povoa- 
ções nossas  também. 

Veja  se  a  lista  supra  das  nossas  muitas  povoações  que 
tomaram  o  nome  dos  cardos,  avultando  entre  ellas  Cárdia 
por  Cardaria,  —  Cardida  por  Cordedn,  —  Curdido  por  Carde- 
do,—  Cardiga  por  Cardila,  —  C'i7^digos  por  Cardidos,  —  Car' 
dosa,  Cardoso,  Cardote  e  Cardiinxal  por  Cardosal? 

Prosigamos  com  o  diapasão  francez  —  em  por  im. 

—  Cotem,  povoação  nossa. 

Talvez  seja  uma  forma  de  Cotim  por  Coutim,  quf>  se  en- 
contra em  Alcoutim,  o  mesmo  que  Al  Coutim  —  o  Coutinho 
ou  Colinho,  pequeno  coto  ou  pequeno  couto. 

Estes  dois  vocábulos  teem  significação  muito  differente. 
—  Coto  é  o  mesmo  que  outeiro,  pequeno  monte;  —  couto  era 
chão  privilegiado.  Mas  na  minha  opinião  coto  e  couto  por  ve- 
zes confundiram-se  na  onomástica  portugueza.  --já  porque  o 
deu  ou,  ^ — já  porque  varias  povoações  nossas,  denominadas 
Couto,   demoram  em  cotos,  sítios  altos  e  vistosos.  —  Taes  são 


Veja-se  o  tópico  infra :  —  Substituição  de  letras. 


278  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


duas  quintas  do  Couto,  fronteiras  uma  á  outra  no  Douro  ^  ^-  e 
Alcoutim^  no  Algarve, 

Note-se  também  que  temos  talvez  mais  de  trezentas  po- 
voações com  os  nomes  de  Coutinho,  Goutlnhos,  Couto  e  Coutos. 
—  São  demasiados  coutos  ou  honras  para  um  paiz  tão  pe- 
queno. 

Dos  montes  tomaram  o  nome  talvez  mais  de  dez  mil  po- 
voações nossas,  —  dos  outeiros  talvez  mais  de  cinco  mil  —  e 
dos  cotos  as  seguintes : 

—  Cota  e  Cotas  (Villarinho  de  Cotas)  por  Coto  e  Cotos?  ; 
Cotão  por  Cotalão ;  Cotàes  por  Cotões?  ;  Cotai  lei  ra  ;  Colarejo  ; 
Cotares  por  Cotiles  e  este  por  Cotólosí ;  Colarinhos  por  Coto- 
rinhos,  Cotolinhos,  Cotosinhos  ou  Cotinhos? 

—  Coteiro  e  Couteiro  —  não  vêem  dos  cotos,  mas  dos  cou* 
tos.  ■ 

—  Couteiro  devia  ser  o  guarda,  superintendente  ou  fiscal 
dos  coutos. 

Cí.  Monteiro  —  o  guarda  ou  superintendente  dos  montes.^ 
que  os  defendia  das  feras  com  m^ontarias,  etc. 

Junte-se  Cotelaio  —  por  Cotolaio  e  este  por  cotoloio  —  de 
cotolo,  pequeno  côtof 

Cf.  Arreçaio,  Recaio  e  Roqaio,  povoações  nossas  também, 
afifins  de  Cotelaio  e  de  Tocaio,  appellido  nosso,  importado  da 
Hespanha  f 

Na  minha  opinião  Arrecaio  e  Beçaio  são  formas  de  Ro- 
caio  e  este  de  Rocádio,  o  raesmo  que  Rozadio,  povoação  da 
Hespanha  em  Bantander  —  e  Roçado,  povoação  nossa. 

Cf.  Roçada,  Roçidis,  Roçadinhas,  Roçado  e  Roçaio,  po- 
voações nossas;  — R)sada,  Rosadas,  Rozada,  Rozada>i  e  Ro- 
zadio,  povoações  da  Hespanha,  que  se  lêem  Roçada,  Roçadas 
e  Roçádio,  quasi  Roçaio? ! . .  • 

— •  E'  assim  a  arte  nova. 

Prosigamcs. 

—  Cotelhe,  povoação  nossa. 

-  E'  uma  forma  de  Cutelho,  diminutivo  de  coto,  como  Co- 
tello  o  Cotatejo  por  Cotarelko.  reminiscência  da  occupação 
hespanhola. 

Cf.  Lagarejos,  povoação  da  Hespanha, —  e  Lagarelhos, 
povoação  nossa. 

—  Cotelões  por  Cotolões  — do  cotolão,  grande  coto? 


*     Uma  demora  na  fre^uczia  de  Cambres,  concelho  de  Lamego; 
a  outra  na  freguezia  de  Fontellas,  concelho  da  Regoa. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  279 


—  Cotens  por  Coãns  —  plural  de  Cotem  por  Coti/n  —  Co- 
tinho,  como  já  dissemos. 

Junte- se  Coto,  Colinho,  Cotinhos,  Cotolinho  por  CotMlinlio^ 
diminutivo  de  Coteílo  o  subdiminutivo  de  Coto,  —  e  Cothitri- 
nho por  Cotolinho  ?!... 

Também  temos  Cotões  por  Cotolões. 

V.  Cotelões  supra. 

Também  temos  Cotoluda,  —  aldeia,  que  podia  tomar  o 
nome  dos  cotos. 

A  desinência  iida,  não,  é  vulgar  em  portuguez  e  na  ono- 
mástica portugueza. 

Cf.  Barbuda  e  Barbudo,  —  Beiçuda  e  Beiçudo,  —  Bicuda 
8  Bicudo,  —  Cabeçudo  e  Cabeçudos,  —  Talurdo  por  Taludo, 
etc,  povoações  nossas. 

Também  temos  em  portuguez:  —  amortida  e  amorudo ; 
• —  barriguda  e  barrigudo  ;  —  bochechuda  e  bochechudo ;  —  car- 
rancuda e  carrancudo  ;  —  cascuda  e  cascudo  ;  —  cobelluda  e 
cabelludo ;  —  carnuda  e  carnudo ;  —  choruda  e  chorudo ;  fel- 
puda e  felpudo  ;  lanzuda  e  lanzudo  ;  massuda  e  massudo  ;  na- 
riguda e  narigudo  ;  pançuda  e  pançudo  ;  taluda  e  taludo  ;  te- 
Ihuda  e  telhudo  ;  trombuda  e  trombudo  ;  cachaçuda  e  cachaçudo; 
papuda  e  papudo  ;  pelluda  e  pelludo;  repolhuda  e.  repolhudo  ; 
rombuda  e  rombudo,  etc. 

Junte  se  o  portuguez  antigo  :  —  bonheçuda  e  conheçudo 
por  conhecida  e  conhecido;  —  sabuda  e  sabudo  por  sabida  e  sa- 
bido ; —  temuda  e  temtido  por  temida  e  temido,  —  unde  The- 
mudo  e  Themido  por  Temudo  e  Temido.^  appellidos.  —  Ao 
mesmo  diapasão  pertence  também  o  nosso  appellido  Sanhudo 
—  e  o  antigo  portuguez  iiuda  e  mantiuda  por  tida  e  mantida. 

Podia,  pois,  Cotoluda  tomar  o  nome  d'algum  coto,  se  de- 
morar n'elle  ou  junto  d'elle. 

—  Dicant  paduani  —  respondam  os  filhos  da  localidade. 
Junte-se  Côtto  por  Coto;  Coturella   e    Coiurellos  ;  —  Cuta- 

rélla  por  Coturella  ;  —  Cuteis  por  Cuteis  e  este  por  Cotens  su- 
pra ;  —  Cutêllo,  aldeia^  por  Cotéllo  —  e  Cutinho  por  Cotinho  ou 
Coutinho,  pois  na  onomástica  portugueza  ou  pelo  diapasão 
francez  deu  u. 

Veja-se  o  tópico  infra:  —  Substituição  de  letras  —  e  hur- 
rah  pelos  coutos  e  cotos!... 

Nós  também  temos  Cotimos^  aldeia  e  freguezia  do  couce- 


280  TENTATIVA   ETYMOLOGICOTOPONYMICA 


lho  de  Trancoso^  mas  Cotimoa  na  minha  opinião  vem  do  la- 
tim cotinus,  espécie  de  zamhujeiro,  como  diz  Plinio  —  Plan^ 
tce  bacatoe,  titulo  vi,  pag.  ()98. 

Por  seu  turno  cotinus  vem  do  grego  Jcotlnos  —  a  oliveira 
brava  ou  zambujeiro ;  em  latim  oleaster  /  em  castelhano  uze^ 
buche  ;  em  catalão  vilastre  —  e  em  tudesco  wilderbaun. 

Laguna,  pag.  90. 

* 
*      * 

Proseguindo  com  o  diapasão  francez  em  pon  im,  já  nos 
ia  esquecendo  mencionar  Catem,  povoação  nossa,  talvez  for- 
ma de  Gatem  por  Gatim  —  (gatinho) — povoação  nossa  tam- 
bém; como  Guetlm  por  Gatim?/... 

Note-se  que  os  gatos  bravos  ou  teixugos  deram  o  nome 
a  differentes   povoações  nossas,  —  ao  todo  mais  de  trinta!... 

—  Taes  são : 

—  Cata  e  Gata? — Catão  e  Gatão? —  Calarredo  por  ga* 
tarredo  ? —  Catella  e  Gatella  ,'. . .  —  Catellaria  por  gatellaria 

—  e  Gataria! . .  —  Catdlas  por  gatellas  ?  —  Catem  por  Ca- 
tim  —  Gatim  e  Gitetim^  como  já  dissemos. 

—  Cateoza  —  por  gateos'a  ou  gatosa  ?  —  abundante  em 
gatos,  —  povoação  nossa  também. 

Cf.  Vermiosa,  abundante  em  vermes  ;  —  Formigosa,  abun- 
dante em  formigas ;  —  Coelhosa,  abundante  em  codhos  ;  —  PiO" 
Ihosa,  abundante  em  piolhos?  ;  —  Moscoso  ou  Moscosa,  abun- 
dante em  moscas,  —  Gaioso  e  Gaiosa,  abundante  em  gaioSy 
etc,  povoações  nossas. 

Para  atesto  do  casco  junte-se  MinJiatosa  por  minhotosa  — 
abundante  em  minhotos  —  aves,  o  mesmo  que  papapintos  ou 
papapitos,  milha  frps,  peneireiros,  e,  peneirinhas  / — O  povo  assim 
denomina  os  milhafres,  porque,  andando  a  voar  e  lobrigando 
os  pintainhos,  seu  manjar  predilecto,  mas  que  só  se  encon- 
tram em  sitios  povoados,  —  suspendem  o  vôo.  — Conservam-se 
firmes  no  ar,  fora  do  alcance  dos  tiros,  batendo  as  azas,  como 
que  peneirando  e  mirando  os  pintainhos,  até  que,  vendo  occa- 
sião  de  os  apanharem  sem  risco,  —  descem  a  prumo  sobre  el- 
les,  —  rapidamente  lhes  lançam  as  garras  e  os  levam  ! .    . 

Proseguindo  com  o  thema  em  por  im,  — junte  se  Dadini, 

—  Daem  por  Dadem,  o  mesmo  que  Dadim  —  e  De m  por 
Daem,  povoações  nossas,  mencionadas  na  Chorographia  Mo- 
derna, como  todas  as  que  vou  citando. 

—  Formosem  por  formosim  —  formosinho  ? 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  281 


Cf.  Formosa,  Formoselha,  Formosellos^  Formoso  e  For- 
mosil  por  Formosim,  o  mesmo  que  formosinho? —  como  Fm'- 
tim,  povoação  nossa  tamVjem,  por  fortinho,  pequeno  forte, — 
o  mesmo  que  Fortunho,  também  povoação  nossa,  como  For- 
tunhos  e  Fortumhos  por  fortinhn^  ? /     . 

E'  assim  a  arte  nora  —  e  rhn  bien  qvi  rira  le  dernier. 

No  tópico  Substituição  de  letras  verão  os  leitores  que  u  e 
i  —  muitas  vezes  se  confundiram  e  substituiram  na  onomás- 
tica portugneza  —  bem  como  as  desinências  il  e  im,  embora 
mais  raras  vezes. 

Prosigamos. 

—  Gomlarem  por  gondarim  —  e  talvez  Gondim  por  Gon- 
darim  ? 

Cf.  Gondariz  por  Gondaynns,  plural  de  Gondarim — e 
Gondoriz  por  Gondariz. 

Mas  Gondariz  e  Gondoriz  talvez  provenham  de  Gunde- 
riquix,  patronimico  de  Gundericus,  nome  germânico  —  E 
Gondim  talvez  seja  uma  forma  de  Gontim^  povoação  nossa^ 
como  esta  de  Contim  —  e  esta  de  Cantim,  povoações  nossas 
também,  cujos  nomes  talvez  fossem  tirados  de  Qiiintini,  patro- 
nimico de  Quintimis,  i  —  Quintino,  nome  d'um  santo,  etc,  di- 
minutivo de  Quintiis — Quinto,  nome  romano  e  também  nome 
d'um  santo. 

A  escala  seria  :  Quintini  —  Quentim  —  Cantini  —  Contim 
—  Gonfim  —  Gondim  ?.  . . 

—  Junte-se  Lacem  por  lacim  —  lacinho? 
Cf.  Laços  e  Lações,  povoações  nossas. 

—  Lagarem  por  lagarim  —  e  Lagarinho,  povoações  nos- 
sas, que  tomaram  o  nome  dos  lagares,  como  outras  muitas. 
Taes  são  as  seguintes: 

Lagar  e  Antelagor  (sic)  por  Ante  Lagar,  que  está  antes 
ou  diante  do  Ingar.  Note-se  que  Antelagar  é  uma  aldeia,  o 
que  prova  ser  muito  antiga  e  datar  do  tempo  em  que  um  la- 
gar, por  certo  bem  humilde,  n'aquella  região  dava  na  vista  e 
era  um  monumento,  uma  maravilha! 

Junto  das  Caldas  da  Felgueira  vi  eu  um  lagar,  talvez 
congénere,  formado  por  leves  cavidades  abertas  em  um  pe- 
nedo nativo,  com  face  declivosa  e  exposto  ao  ar  livre. 

As  ditas  cavidades  eram  pequenas  regueiras  que  leva- 
vam o  mosto  para  uma  biqueira  do  penedo,  onde  o  colhiam.. 

O  pobre  lagar  não  podia  ser  mais  tosco,  mais  simples 
nem  mais  rudimentar!... 

Em  Monsão   vi  eu   também   outro  lagar  muito  simples, 


282  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYVÍICA 


muito  archaico  e  muito  rudimeatar,  —  egualmente  exposto 
ao  ar  livre  e  formado  por  uma  só  pedra  movei,  cavada  ligei- 
ramente, onde  esmagavam  as  uvas  com  certo  apparelho  de 
paus  fixos,  mas  não  podia  ferver  o  mosto.  —  Levavam-n'o  as- 
sim cru  para  as  pipas  ?  ! .  . . 

Era  um  lagar  muito  hixuom  com  relação  ao  da  Fel- 
gueira,  mas  com  relação  aos  lagares  do  Douro  —  causava 
nojo!... 

Volvendo  ás  nossas  muitas  povoações  que  tomaram  o 
nome  dos  lagares,  citarei  pelo  exotismo  Lagardona,  que 
pôde  vir  de  Lagarona  —  ou  de  Lagar  da  Dona,  —  d'alguma 
senhora,  fidalga  distincta. 

(^f.  Alde'*a  da  Dona,  Casal  das  Donas,  Dona  Senhora 
(sic),  —  Donaria,  Donas,  Fonte  da  Dona,  Quintandona,  etc, 
povoações  nossas. 

Junte -se  Lagai^ata  por  Lagareta,  povoações  nossas, — 
como  Lagarelhos,  Lagariça,  Lagariças,  Lagarinlio,  Lagari- 
nhos, etc,  —  ao  todo  mais  de  cento  e  cinconta  povoações^  que 
tomaram  o  nome  dos  lagares. 

Volvendo  ao  diapasão  francez  em  por  im,  ainda  temos 
Lebrem  por  lehiim,  o  mesmo  que  Lebrinho,  povoações  nossas 
que  tomaram  o  nome  das  lebres,  como  outras  muitas.  Taes 
são  as  seguintes  : 

—  Lehra  ?  —  Lebre,  Lebreira,  Lebres,  Lebrinho,  —  Castro 
Laboreiro,  —  Laboreiro  e  talvez  Labor  im  por  Lebrim!... 

Note -se  que  o  termo  hhre  vem  do  latim  lepus,  õris,  que 
no  baixo  latim  deu  Leporarius,  ii  —  lebreiro  abundante  em 
lebres  e.  caçador  de  lebres,  unde  Lebreiro,  appellido  nosso. 

Também  leporarius  deu  ou  podia  dar  laporaritis,  unde 
Laboreiro  e  Castro  Laboreiro,  o  mesmo  que  Lebreiro^  abundante 
em  lebres.  Tal  é  e  foi  sempre  a  nossa  região  de  Castro  Labo- 
reiro—  uma  das  mais  altas,  mais  ásperas,  mais  frias  e  menos 
povoadas  do  nosso  paiz. 

Castro  Laboreiro  rivalisa  com  as  serras  de  Monte  do 
Muro,  S.  Macário,  vulgo  Simagaio,  unde  Samagaio,  appellido; 
—  Gralhnra  e  Penude,  na  Beira  Alta,  —  e  com  as  de  Monta- 
legre e  Barroso,  em  Traz-os- Montes. 

—  E,  assim  como  lepus,  õris  deu  leporinas,  i,  unde  Le- 
brim e  Lebrinho,  também  deu  ou  podia  dar  laporinus,  i  unde 
Laborim  por  Leborim,  forma  anterior  de  Lebrim,  —  e  Labo- 
ris  por  Laborins  ? 

Será  tudo  isto  um  dislate  ? 

Prosigamos. 


TE^íTA.TIVA    ETYMOLOGÍCO-TOPONYMICA.  283 


♦         * 

—  Meiem,  povoação  nossa,  é  talvez  uma  forma  de  Metim 
por  Medim,  contracção  de  Metellim,  que  deu  Medelíni  e  Me- 
dim,  povoações  nossas  também.  ^ 

Por  seu  turno  Medelim  é  uma  das  nossas  muitas  remi- 
niscências da  occupação  romana,  pois  Medelim  por  Medellím 
vem  claramente  de  Metellinus^  i,  diminutivo  de  Metellus,  i, 
nome  ou  cognome  romano  d^alta  cotação,  pois  deu  Metelli  — 
os  Metellos-,  uma  das  familias  romanas  mais  nobres  e  mais 
consideradas. 

Avultou  entre  elles  Quinto  Cecilio  Metello,  cognominado 
Numidico,  por  se  haver  imtnortalisado  na  guerra  contra  Ju- 
gurtha,  rei  da  Numidia, 

Outro  Metello  da  mesma  familia  salvou  do  fogo  o  Palia- 
dio,  quando  o  templo  de  Venta  foi  reduzido  a  cinzas  —  e  elle 
era  Grão  Sacerdote  do  dito  templo. 

Também  Quinto  Cecilio  Metello  Celer,  da  mesma  familia, 
se  immortalisou  na  guerra  contra  Catilina. 

A'  mesma  família  pertenceu  também  Lúcio  Cecilio  Me- 
tello tribuno  do  povo  romano,  que  nas  guerras  civis  entre 
Cesnr  e  Pompeu  foi  partidário  d'este  ultimo  e  se  oppoz 
a  César,  quando  este,  havendo  derrotado  Pompeu,  entrava 
em  Roma  com  o  seu  exercito  triumphante. 

Também  outro  Quinto  Cecilio  Metello  da  mesma  familia, 
famoso  general,  conquistou  a  ilha  de  Creta  e  a  Macedónia, 
pelo  que  foi  appellidado  Macedonico. 

Outro  Lúcio  Cecilio  Metello  da  mesma  familia,  foi   appel- 


^  No  concelho  de  Penaguião  houve  uma  freguezia  denominada 
Santo  André  de  Medim.  -■  Por  ser  pouco  populosa  foi  extincta  e  annexa 
a  outra  contigua,  denominada  Sanhoane,  ou  S.João,  que  prevaleceu  com 
o  nome  de  Sanhoane,  mas  tornou  e  conserva  como  padroeiro  Santo  An- 
dré, vulgo  Santo  André  de  Medim. 

No  mesmo  concelho  de  Penaguião  ha  na  freguezia  de  S.  Miguel  de 
Lobrigos  a  povoação  de  Lourentim,  que  tomou  o  nome  de  Laurentinus, 
i,  diminutivo  de  Laureniius,  li  —  Lourenço,  nome  de  um  santo,  etc. 

A  pequena  distancia  de  Lourentim  ha  no  concelho  da  Regoa  a  fre- 
guezia de  S.  José  de  Godim,  que  tomou  o  nome  de  Gotfiinus,  i  —  Godi- 
nho. —  E  na  freguezia  de  Moura  Morta,  concelho  da  Regoa  também,  ha 
Nostim,  aldeia  que  tomou  o  nome  de  Naustinus,  i,  diminutivo  de  Naus- 
tus,  i,  Nausfo,  nome  d'um  santo,  etc. 

Nausiini  deu  Nostim  pelo  diapasão  franccz  o  por  aii. 

Medim,  Lourentim,  Nostim  c  Godim  pertencem  á  grande  série  de 
povoações  que  ha  em  volta  de  Lamego  com  a  sonora  desinência  im. 

Já  dêmos  a  lista  e  a  etymologia  d'ellas. 


284  TENTATIVA   ETYMOLOGTCO  TOPONYMICA 


lidado  Cretico,  por  se  haver  immortalisado  nas  suas  expedi- 
ções a  Creta,  no  anno  66,  antes  do  nascimento  de  Chrlòto. 

Também  outro  Metello  da  mesma  familia  se  cobriu  de 
gloria  na  conquista  da  Dafmacia,  pelo  que  se  cognominou 
Dalmatico. 

Ainda  outro  Metello,  general  romano,  se  distinguiu  na 
guerra  contra  os  Sicilionos  e  Carthaginezes. 

Do  exposto  se  vê  que  os  MeteUoò-  foram  honra  e  lustre 
do  império  romano  desde  antes  do  nascimento  de  Chrísto  e 
se  immortalisaram  na  Greda,  na  Africa^  na  Dalmácia,  em 
Roma,  etc. 

Não  lhes  foi  também  estranha  a  nossa  peninsula,  como 
revelam  as  nossas  povoações  que  tomaram  o  nome  de  Metellus, 
pois  além  de  Medím  e  Medelim  por  Metellim  supra,  —  temos 
Metella  e  Metello,  povoações  nossas,  como  também  Medella, 
MeUêllo  e  Medellos,  por  Metella,  Metello  e  Metello^  —  e  Medel- 
Unha  por  MeteUina.  ^ 

Médêllo  é  uma  povoação  muito  linda  no  aro  de  Lamego. 

A  Hespanha  tem  Medella,  Medeias^  MedelUn  e  Medello. 

Para  atesto  do  cavco  junte-se  Mettdlo,  pppelUdo  muito  no- 
bre e  antigo  —  e  ad  rídendum  —  Medlícotte,  uma  das  muitas 
quintas  ^  da  freguezia  dos  OUvaes,  no  aro  de  Lisboa. 

Cf.  Medlicott,  appellido  actual  inglez  de  R.  S.  Medlicott, 
parodio  da  freguezia  de  aS'.  Thomé,  da  cidade  de  Porfsmotdh, 
na  Grã- Bretanha,  como  se  lê  no  Século,  jornal  de  Lisboa,  n.® 
8:826,  de  22  de  Agosto  de  1906,  — pag.  1.*,  col.  7.*. 

Medlícotte  é  o  mesmo  que  Medlicott,  o  que  me  leva  a  sup- 
pôr  que  a  mencionada  quinta  pertenceu  a  algum  parente  do 
parodio  actual  de  Porlsmouth,  que  tomaria  d'ella  —  ou  vice- 
versa  —  o  appellido  supra  —  Medlicott. 

A  desinência  ote,  em  inglez  ott  —  é  muito  vulgar,  tanto 
em  portaguez  puro,  como  no  portuguez  popular  —  e  na  ono- 
mástica portugueza. 

São  povoações  nossas,  todas  mencionadas  na  Chrorogra- 
phia  Moderna,  alóm  d'outras  as  seguintes: 

—  Alrote,  Cardote  por  Cardalote. — ^arcalhote.  Caznlzote 
por  Casalote, — Chiole,   Garrote,  Ingote,  Fonte  do  Pote,  Maca- 


^  Cf.  Meiellinus,  a,  um,  latim  puro  de  Cícero,  —  coisa  pertencente 
á  familia  dos  Metellos. 

-  São  nada  menos  de  145,  todas  mencionadas  com  os  nomes  pró- 
prios, alguns  muito  exóticos,  na  Chorographia  Moderna,  vol.  4.o  pag.  742. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPO.VYMIC  \  285 


corte  por  Macacote ;  ^  —  Maricota  e  Maricote,  —  Mascote  e 
Medlicotte  (cá  está  ella!...) 

Junte-se  ainda  Mefote,  Nec/rote,  Parrote  e  Parrotes  por 
harrote  e  barrotes"^  ;  —  l'ellofe,  Picote.  Plnhote  por  pinhalote  ;  — 
Pot^^,  Si^tote  e  Vai  Cipote  (sic) :  —  Valligofe,  Velhote,  Zofe,  Monte 
do  Zote^   Vai  de  Zote  —  e  Farínhote,  appellido. 

Do  exposto  se  vê  (jue  temos  na  onomástica  portiigueza, 
muitas  povoações  afinadas  pelo  diapasão  de  Medlicotte  e  julgo 
que  a  desinência  ote  é  porttiguezisòima,  porque  o.v  idiomus  to- 
dos são  formados  pelo  povo,  como  já  li  algures  —  e  no  portu- 
guez  popular  a  desinência  ofe  ainda  hoje  é  trivial,  muito  ex- 
pressiva e  uma  das  caracteristiftas  do  nosso  idioma. 

Ahi  vae  uma  ligeira  amostra  do  panno. 


* 
*      * 


— Amarelote,  amargote^azedote,  hairofe,  hrichote,  breigeirote, 
carote,  ceote  (pequena  ceia),  —  esperta Ihote,  fortote,  feiote,  filhote^ 
finote,  franchinote,  o  mesmo  que  rapazelho  e  rapazole;  —  fran- 
galhote,  girote  (vadio) ; — gran dote, pnpar ote,  piparote,  pipote,  ra- 
pazote,  reguingote  (que  reguinga;  *  —  ribeirote,  tratantote,  vi- 
Ihacote,  etc. 

Todos  estes  vocábulos  sd^o  do  ijortuguez  popular  hodierno 
—  e  pertencem  ao  antigo  po7^tu(juez  popular ^  os  seguintes: 

—  Cardote  por  cardalote  f,  —  carcalhote,  casalzote,  escra- 
vote,  esfuziote  (reprehensão) ; — farinhote,  macacote.  moricote, 
melote,  negrote,  parrote  por  barrote,  pellote,  picote,  pinhote,  vai- 
ligote,  etc,  que  se  encontram  nas  povoações  mencionadas  su- 
pra, cujos  nomes  são  muito  antigos. 

Junte  se  cavallicoqiie  e  cacallicote,  diminutivos  de  cavallo, 
como  cavallinho  —  e  outr'ora  também  cavaUicho,  que  se  encon- 
tra em  Cavalluche  por  cavallucho,  casal  da  freguezia  de  Sa- 
cavém, annexo  á  quinta  do  Papagaio,  —  quinta  hoje  perten- 
cente ao  meu  proli-parente  Albino  Rodrigues  Cardoso  Corva- 


1  Também  temos  Macaco,  povoação,  e  em  portugucz  popular  ma- 
cacão —  homem  astuto,  finório !. . . 

Ad  ridendum  seja-me  licito  dizer  que  no  meu  bom  tempo  de  Coim- 
bra (1851-1856)  teve  alli  grande  popularidade  o  José  Macaco.  Assim  de- 
nominavam certo  criado  do  Hotel  Mondego,  por  ter  o  nariz  achatado, 
como  o  de  certo  académico  d'então,  cognominado  por  esse  motivo— C/za/e 
Zé  do  Cão  ?!. . . 

2  Reguinga  deu  reguingote,  como  bala  deu  baloie,  camará  deu  ca- 
marote, capa  deu  capote,  mala  deu  malote,  pipa  deu  pipoie,  serra  deu 
serrote,  etc. 


286  TENTATIVA    ETYMOLOUICO-TOPONYMICA 


ceira,  negociante  em  Lisboa^  director  da  Companhia  Interna- 
cional  de  Seguros  e  excellente  pessoa. 

E'  também  dono  da  bella  quinta  do  Reguengo,  onde  vive 
junto  do  Lumiar,  —  e  dono  actual  do  casarão  da  Corvaceira, 
^  onde  eu  nasci  lá  no  Douro,  —  bem  como  de  todo  o  casal 
da  minha  Penajulia  ou  Pena  joio,  pertencente  ao  dito  casarão 
da  Coroaceira,  —  casal  que  foi  dos  meus  pães  e  por  faileci- 
mento  d'elles  foi  meu  e  dos  meus  irmãos. 

Agora  o  dito  casal  pertence  todo  ao  dito  snr.  Albino  Cor- 
vaceira,  pois  herdou  parte  d'elle  da  sua  2.»  esposa,  minha  so- 
brinha ; — outra  parte  comprou-a  a  um  meu  irmão  —  e  eu  doei- 
Ihe  —  ou  antes  á  filha  d'elle — ^ Maria  Eugenia,  — ainda  menor, 
minha  afilhada  e  sobrinha  em  2.°  grau      tudo  o  que  lá  tinha. 

Denominei-o  meu  proliparenU,  porque  ó  meu  primo 
co-irmão.  sobrinho,  compadre  e  afilhado? ! ... 

Custa  a  crer,  mas  é  facto,  como  os  leitores  vão  vêr. 

—  E'  meu  primo  co-irmão,  porque  a  mãe  d'elle  e  a  mi- 
nha eram  irmãs. 

—  E'  weu  sobrinho,  por  haver  casado  com  minha  sobrinha. 

—  E'  meu  compadre,  porque  sou  padrinho  da  filha  d'elle, 
—  e  é  meu  afilhado,  porque  fui  padrinho  ou  paranympho  no 
casamento  d'elle  com  minha  sobrinha. 

*       * 

Desculpem  a  digressão  a  propósito  da  quinta  do  Papagaio, 
do  meu  proli parenU,  pois,  batendo-lhe  á  porta,  não  podia  dei- 
xar de  cumprimental-o  e  descansar  um  ratito. 

A'  mencionada  quinta,  como  já  dissemos,  pertence  o  ca- 
sal de  Cacalluche,  íórma  de  Cavallucho  por  cavallicho,  dimi- 
nutivo popular  de  catai  lo,  "  como  cavallicoque  ou  caiallicote. 


*  A  fachada  principal,  que  olha  para  o  norte,  para  o  Douro,  e  para 
a  Estação  do  Moledo,  tem  30  metros  d'extensão;  —  a  que  olha  para  leste, 
para  o  portão  d'entrada  e  para  a  capella  da  casa  —  tem  15  metros  de  lar-? 
•gura. 

—  E'  uma  das  casas  maiores  e  mais  vistosas  que  ha  nas  duas  mar- 
gens do  Douro. 

2  p^  forma  Cavalucho  é  toscana,  —  e  muito  antiga,  pois  Las  Ca- 
sas no  seu  Vocabulário  de  las  dos  Lengvas  toscana  y  castellana,  já  por 
nós  citado,  e  publicado  em  Veneza  em  1537  —  ha  372  annos?!. ..  --  men- 
ciona como  vocábulos  da  Toscana—  cavallo  e  cavallucio  — quasi  cava- 
lucho! —  em  antigo  castelhano  cavallejo  —  e  em  portuguez  cavallinlio. 

Cavalluche  por  Cavallucho  pertence,  pois,  ao  diapasão  toscano,  de 
que  já  fallei  e  logo  fallarei  novamente. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  287 


diminutivos  congéneres  de  alhricoque  e  albricoff^  daraasco  pe- 
queno, trivial  no  Douro,  etc,  que  deu  Alhricoque,  povoaçà"» 
nossa  no  districto  de  Beja. 

O  snr.  Cândido  de  Figueiredo  diz  que  a/br/roque  vem  do 
árabe  ai  +  harcoque  ;  mas  là  no  Douro  o  povo  diz  também 
albricote,   como  cavai iicoque  e  cieallicnfe. 

Isto  me  leva  a  suppôr  que  alhricoque  vem  de  alhricofe  — 
e  este  de  Alvaricote,  diminutivo  popular  á^Alca)'o.  nome  pes- 
soal, que  pelo  dispasão  de  cacallicoque  e  cavallicote  podia  dar 
também  Alvaricote,  como  deu  outros  diminutivos,  alguns  bas- 
tante exóticos.  —  Taes  são:  —  Aharetes,  Alvarim,  Alvarinha, 
(de  Alvarina,  villa  ? ',  —  Alvarinho,  Alvarinhos,  Alrariz  por 
Alvarins  (de  Alvarinis,  patronímico  de  Alvarinus,  i?)  —  e  Al- 
varol —  de  Alvarolus,  i,  diminutivo  á^Alvarun  —  Álvaro,  como 
Antonius  —  António  deu  Anfoninus^  Antonianu.s  e  Antoniolus, 
unde  Antanhol,  no  concelho  de  Coimhra.  ^ 

Além  das  povoações  mencionadas  supra,  que  tomaram  o 
nome  dos  diminutivos  á^Alvarus — Álvaro,  nome  d'um  santo 
etc,  também  do  prolífico  Álvaro  tomaram  o  nome  outras  po- 
voações nossas.  Taes  são  Álvaro,  villa,  etc.  —  Álvaro  Affonso, 
Álvaro  Annes  (o  mesmo  Álvaro^  filho  de  João),  —  Álvaro  Gil^ 
Álvaro  Gomes,  Álvaro  Pequeno,  Álvaro  Pires^  (o  mesmo  que  Pe- 
res, filho  de  Pedro) — e  Alvaroqildes  por  Álvaro  Gilles  —  filho 
de  Gil — o  mesmo  que  Egidio  e  Heziodo,  como  já  dissemos. 

Também  alvarinho,  espécie  de  uva,  podia  tomar  o  nome 
á^ Alvarinho  supra,  como  outras  muitas  variedades  dativas,  ma- 
çans,  figos,  peras,  cerdeiras,  dahlias,  rozeiras,  ratos,  carneiros, 
cavallos  etc,  tomaram  o  nome  de  nomes  pessoaes. 


Note-se  também  que  os  alhricoques  ou  albricotes  (eu  co- 
nheço-os  muito  bem)  são  damascos  miúdos,  pequeninos,  como 
\k  dissemos,  o  que  me  leva  a  suppôr  que  talvez  de  Álvaro, 
seu  introductor,  fizessem  alvaricotes,  pejorativo  popular  de  al- 
varinhos, como  cavallicoque,  e  cavallicotte,  diminutivos  de  ca- 
vallo,  eão  pejorativos  populares  de  cavallinho. 

Pelo  mesmo  diapasão  portuguez  de  cavallicoque  ou  ca- 
vallicote, diminutivos  de  cavallo — e  de  alhricoque  oii  a  Ih  ri  cote 
por  nlvaricoque  e  alvaricote,  diminutivos  de  Álvaro  —  também 
Metellus  —  Metello   supra   podia  dar  Metellicote  e  Medellicote, 


Veja-se  o  tópico  inh^:  —Diminutivos  com  a  desinência  olus,  ala. 


28S  TEJÍTATIVA.    ETYMOLOGUCO-TOPON^YMICA. 


em  portuguez  popular  —  e  por  contracção  Medlicotte,  povoação 
ou  quinta  nossa  —  unde  talvez,  Medlirott,  appellido  actual  in- 
glez  em  Portsmouth. 

—  Será  tudo  isto  um  dislate  ? 

Note-se  que  a  mencionada  freguezia  dos  OJicaes  é  muito 
mimosa,  muito  hnda,  muito  espaçosa  e  nella  têem  vivido 
desde  longa  data  muitos  inglezes,  como  prova  uma  das  suas 
numerosas  quintas  denominada  Quinta  dos  ingJezes? f ... 

E',  pois,  muito  possível  que  algum  inglez  habitasse  a 
quinta  de  MedUcotte  e  que,  sympathisando  com  ella  e  com  o 
exotismo  do  nome,  tomasse  d'ella  o  appellido  Medlicott  e  o 
levasse  para  a  Inglatei^ra. 

Note-se  também  que,  assim  como  nós  temos  grande  nu- 
mero de  appellidos  importados  da  Hespanha,  da  França,  da 
Itália,  da  Inglaterra,  da  Allemanha,  da  Hollanda,  etc,  ^ — 
também  se  encontram  muitos  oppellidos  portuguezes  em  na- 
ções estrangeiras,  nomeadamente  na  Inglaterra,  por  termos 
vivido  desde  longa  data  em  intimo  contacto  com  ella. 

Mas  será  Medlicott  appellido  inglez  ou  portuguez? 

—  Com  vista  ao  rev.  prior  dos  Olicaes  e  da  quinta  de 
MedUcotte  —  e  ao  rev.  parocho  de  S.  TJiomé  de  Portsmouth. 

Fiat  lux!... 

Basta  de  Metem  por  Metim,  contracção  de  Metellim,  o 
mesmo  que  Medelim  e  Medim,  povoações  nossas. 

Volvendo  ao  diapasão  francez  em  por  im,  junte-se : 

—  Morem,  Moinni  e  Mourim,  povoações  nossas,  que  to- 
maram o  nome  de  Maurimts,  i,  is,  —  unde  também  Mauriz, 
Mouriz  e  Mnurens  por  Mouriyis^  como  Fens  e  Fins,  povoações 
nossas  também,  afinadas  pelo  mesmo  diapasão  francez.  Mas 
Fens  e  Fins  são  formas  de  Félix,  icis,  que  deu  S.  Félix,  San- 
fins  e  Sinfães  por  Sanfins,  povoações  nossas,  como  já  dis- 
semos. 

Na  Hespanha  o  mesmo  Félix,  icis  deu  San  Felices,  San 
Félix,  Sanfix,  Sanfiz  —  e  talvez  San  F^eliú  em  Gerona  e  Bar- 
celona!... 

Somma  e  segue. 

—  Ourem  por  Ourim,  o  mesmo  que  Ourinho,  povoação 
nossa  também. 


1  Na  Europa  talvez  não  haja  outra  nação  que  sympathise  mais  com 
Portugal  do  que  a  Hollanda. 

Basta  dizer  que  a  lingua  portugueza  é  a  língua  familiar  da  boa  so- 
ciedade hollandeza? !. . .  E  cm  varias  synagogas  da  Hollanda  se  encon- 
tram ainda  hoje  inscripções  portuguezas  !  . . 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  289 


—  De  Aiirinus,  i,  is,  que  deu  também  Oariz,  plural  de 
Ourim. 

—  Ousarem  —  povoação  nossa. 

—  E'  talvez  metatliese  de  Ourosem  por  Otcrosim,  o 
mesmo  que  Ourosínho^  diminutivo  de  Ouroso,  povoação 
nossa. 

—  Penozem?  /... 

Pôde  vir  de  perozem  por  perozim,  o  mesmo  que  Perosi- 
nho  por  Pedrosinho,  diminutivos  do  Pedroso,  povoações  nos- 
sas. 

Cf.  Morface7n  e  Ousarem  supra  —  e  note-se  que  n  e.  r 
trivialmente  se  confundiram  e  substituiram  na  onomástica 
portugueza. 

—  Pexem  por  pexim  ? 

E'  talvez  o  mesmo  que  Peixinho,  povoação  nossa  — 
como  Pexins  por  Peixinhos  ? 

*  —  Pintim  por  pintinho,  —  Pintem  e  Pintens  —  por  pin- 
tins  ou  pintinhos,  —  o  mesmo  que  Pintainhos,  povoações  nos- 
sas? !... 

—  Põem  ou  Ruim  — e  Ruim  ou  Roem  (sic)?!... 

—  Agora  um  cumulo  : 

—  Tadim,  Thaim,  Tainde,  Tedim,  Thaide,  Athaide,  Tan^ 
gil  e  Tagilde — povoações  nossas,  mencionadas  na  Chorogra- 
phia  Moderna. 

—  São  formas  do  mesmo  nome,  tiradas  de  Alhanagildus, 
i^  nome  germânico. 

Por  seu  turno  Tadim  deu  ou  podia  dar  também  Dadim 
supra  —  Daem  por  Dadem  —  e  Dem  por  Dadem  ou  Daem, 
como  já  dissemos. 

—  Para  atesto  do  casco  junte-se  Attim  por  Athaim^ 
forma  anterior  de  Thaim  por  Tadim  ?  /. . . 

—  E'  assim  a  arte  nova  —  e  rira  hien  qui  rira  le  der^ 
nier  ! ... 

*       * 

Note-se  que  ta,  te,  ti,  to,  tii  —  mesmo  iniciaes — deram 
da,  de,  di,  do,  du. 

Veja- se  o  tópico  infra:  —  Substituição  de  letras. 

—  Será  assim  —  dirão  os  meus  poucos  leitores, — mas 
vallia-nos  Deus!... 

—  Valhanos  Deus — digo  eu  também  —  e  elle  me  vale 
no  momento,  pois  o  vocábulo  Deus  vem  do  latim  Deus  —  e 
este  do  grego  Theos,  o  que  prova  que  já  t71  illo  tempore  —  na 

19 


290  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


passagem  do  grego  para  o  latim  puro  de  Cícero,  Virgílio,  etc, 

—  o  t  inicial  foi  substituido  por  d, 

Somma  e  segue. 

Thourim,  Toiírim  e  Toitrem  por  Tourim,  povoações  nos- 
sas. 

—  De  Taurinus,  i,  is,  antigo  nome  pessoal  e  nome  d'um 
santo  que  deu  Turim,  na  Itália  —  e  entre  nós  —  além  de 
Thourim,  Tourim  e  Tourem  supra,  —  deu  Torino,  Toriz,  Tou- 
riz  e  Fonte  Taurina,  —  vulgo  Fonte  da  Ourina  —  estreita, 
immunda  e  velha  rua  do  Porto,  ^ 

Também  Taurinus  deu  Taurianus—  Tauriano  ou  Taurião, 
nome  d'um  santo,  etc,  —  e  um  e  outro  foram  tirados  do  la- 
tim tauriis — touro. 

—  Junte-se  Turiz  por  Toiíriz,  povoação  nossa  também, 
que  logo  citaremos  novamente,  pois  Turiz  por  Touriz  ó  um 
lindo  exemplar  do  diapassão  francez  u  por  ou. 

Somma  e  segue. 

—  Vai  de  Ferrem  por  Ferrim?  —  E'  talvez  contracção 
de  Ferreirim,  povoação  nossa  também  —  como  Terrem  por 
Ferremf 

—  Note-se  que  f  e  t  confundiram-se  e  substituiram-se  na 
onomástica  portugueza. 

Veja-se  o  tópico  infra:  Suòstituição  de  lettras. 
Junte-se  finalmente: 

—  Roxem  e  Vai  de  Rocim  por  Vai  de  Roxim,  o  mesmo 
que  Vai  de  Rozem? 

De  Rauzendus,  i  —  Rozendo,  antigo  nome  pessoal,  que 
deu  Rozendo,  nome  d'um  santo,  —  Rezenda,  Rezende,  Rezenta^ 
o  mesmo  que  Rezenda,  —  Rozem  e  Rozende,  povoações  nossas, 

—  e  talvez  Rozim^  o  mesmo  que  Rozem!  ,. 

Cf.  Menendus,  i,  supra,  que  deu  Mendo,  Mim  e  Mem?!... — 
na  onomástica  portugueza,  como  os  leitores  vão  vêr. 

Dm  e  Dn  por  Efíl 

Julgo  haver  demonstrado  que  pelo  diapasão  francez  en- 
Gontra-se  em  muitos  nomes  de  povoações  nossas  em  por 
im,;  —  agora  mostrarei  que  na  onomástica  portugueza  e  no 


*  Alguém  diz  que  a  tal  rua  da  Fonte  Taurina  tomou  o  nome  d'um 
touro  que  ornamentava  uma  fonte  que  alli  houve. 

Eu  tenciono  dedicar  um  tópico  ás  Etymologias  das  velhas  ruas  do 
Forto  —  t  esse  tópico  será  longo f... 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  291 


antigo  portugaez  também  se  encontram  im  e  in  por  em,  co- 
mo no  írancez. 

Mimvaqtieiro  e  Mira  Velho,  povoações  nossas,  na  minha 
opinião  são  formas  de  Mem  VaquPÂro  e  Mem  Velho,  por  Mendo 
Vaqueiro  e  Mendo    Velho. 

Todos  sabem  que  Men(>ndus,  i,  deu  Mendo,  antigo  nome' 
pessoal  e  nome   actual  —  e  Jlíem,  antiga  forma  de  Mendo;  — 
agora  ficam  sabendo  que  também  deu  Mim,  como  provam  as 
nossas  povoações  —  Mimvaqueiro  e  Mim   Velho  supra. 

Velho  ainda  hoje  é  appellido  nosso,  tirado  da  edade;  — 
Vaqueiro  foi  também  appellido  tirado  das  vaccas  e  hois,  como 
differentes  nomes  de  povoações  nossas.  Taes  são: 

Voccaria,  Vacariça,  Vaqueira,  Vaqueirinho,  Vaqueiro  (cá 
está  elle);  Vaqueiros,  Vaquinha,  Vaquinhas  e  Vagueira  por  Va- 
queira?, —  espaçoso  chão,  muito  próprio  para  pastos,  junto 
da  ria  d^ Aveiro. 

Junte  se    Vagas  por   Vaccas?  —  povoação  nossa  também. 

Por  seu  turno  Menendus,  i,  deu  o  nome  a  varias  povoa- 
ções nossas  também.  Taes  são: 

—  Mandim  por  Mendim,  Mem  Martins,  Memende  por  Mem 
Mende  e  este  por  Mem  Mendes  —  o  mesmo  que  Mendo,  filho 
d'outro  Mendo;  ^  —  Mendalvo  por  Mendo  Alvo;  —  Mendares  por 
Mendo  Árias  ou  Mendo  Ayres;  —  Mendavão  por  Mendo  Alvão^ 
affim  de  Mendalvo  supra. 

Junte-se  Mende,  Mendel  —  de  Menendellus,  i  ?  ;  Mende  • 
nha  por  Mendinha,  —  de  Menendina  (villa)  —  e  este  de  Menen- 
dinus,  i,  is,  que  deu  Mendim,  supra,  —  e  Mendis  ou  Mendiz 
infra. 

—  Mendes,  appellido  vulgar;  Mendo,  Mendo  Affonso  e 
Mendo  Affonsínho.  —  Mendo  Cáceres,  ^  Mendo  Marques  e  Men- 
danha, por  Mendenha  supra,  o  mesmo  que  Mendanha,  appel- 
lido nosso  também. 

Junté-se  António  Mendo,    quinta;    Casal  Mendinho,  João 


1  Cf.  Pêro  Pires,  povoação  nossa  também,  o  mesmo  que  Pêro  Pe- 
res —  Pedro,  filho  d'oiitro  Pedro. 

Mandim  por  Mendim  pertence  ao  diapasão  francez  an  por  en,  de 
que  logo  fallaremos  em  tópico  especial. 

-  Com  vista  ao  sr.  Manoel  d  Albuquerque  de  Mello  Pereira  e  Cá- 
ceres, dono  e  actual  representante  da  nobre  casa  da  Insua,  de  quem  já 
falíamos  supra  e  volveremos  a  fallar  ainda. 

E'  s.  ex.a  também  dono  de  Casal  Vasco,  antigo  morgado  e  nobre 
solar  dos  Cáceres,  instituído  em  1482. 

V.  Miragaya,  longo  artigo  meu,  no  Portugal  antigo  c  moderno, 
vol.  V,— pag.  271-275,  onde  dei  a  genealogia  de  s.  ex.»  e  dos  Cáceres. 


292  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Mendes^  casal,  etc.^  —  Martim  Mendes,  herdade  ;  —  Fernão 
Mendes^  quinta;  —  Monte  do  3/endes  ; —  Vai  de  Mendis  ou  Men- 
diz ;  —  Vai  do  Mendo,  Vil  In  Mende,  Villa  Mendo,  etc. 

Também  Menendus,  assim  como  deu  Menendelhis,  i,  que 
se  encontra  em  Mendel  supra,  -  deu  ou  podia  dar  Menindus 
e  Menindellus,  —  unde  Minde  e  Mindello  ? 

Menendus  também  teve  a  forma  archaica  Melendus  —  e 
talvez  Melindus,  i. 

Por  seu  turno  Meliadus,  i  (ad  ridendum)  —  podia  dar 
Melinde,  reino  e  cidade  da  Africa  Oriental,  mencionados  por 
Camões  nos  LuziadaiS. 

Do  exposto  se  vê  que  foi  muito  prolifico  na  onomástica 
portugueza  o  tal  sr.  Menendus^  i  —  o  mesmo  que  Mem,  Mim 
e  Mendo. 

Prosigamos. 

O  mesmo  diapasão  francez  im  e  in  por  em  —  vogou  tam- 
bém no  antigo  portugiiez. 

Occorre-me  no  momento  Ordin  por  Ordem  —  e  outrim 
por  outrem. 

Nos  Faros  da  Guarda,  pag.  488  i,  se  lê  textualmente  ó 
seguinte : 

—  «Primeyramente  apellem  ao  Maestro  dessa  Ordin^  se 
for  em  o  Regno . . .  » 

Em  vulgar :  —  «  Primeiramente  recorram  ao  Mestre  da 
Ordem,  se  for  C^)  no  Reino.,.  » 

Aqui  temos  nós  também  no  antigo  portuguez  uma  amos- 
tra do  diapasão  italiano,  pois  im\aestro  e  regno  são  vocábulos 
italianos,  que    significam  mestre  e  i^eino,  como  diz  Prefumo. 

Também  nos  Foros  de  Beja,  pag.  490,  se  lê  outrim  por 
outrem. 

Os  Foros  de  Beja,  de  Gravão,  ^  da  Guarda  e  de  S.  Mar- 
tinho de  Mouros  são,  como  já  disse,  muito  interessantes  para 
a  historia  pátria  e  um  manancial  precioso  do  antigo  portuguez. 

Veja-se  no  Portugal  antigo  e  moderno,  vol.  xi,  pag.  1:173 
a  1:175,  o  meu  artigo  Villar,  povoação  da  freguezia  de  Bar- 
ro, concelho  de  Rezende  e  antigamente  do  concelho  de  S.  Mar- 
tinho de  Mouros.  —  Alli  mencionei  e  extractei  os  Foros  de 
S.  Martinho  de  Mouros  e  disse  coisas  que  mal  se  acreditavam 


^    V.  Inéditos  de  Historia  Portugueza. 

^    Note-se  que  ainda  hoje  em  Lisboa  o  povo  rude  —  e  muita  gente 
bôa  —  em  vez  de  carvão  dizem  cravão  ?  !. . . 
—  Risum  teneatis. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  293 


líoje  com  relaçáo  á  prepotência  dos  antigos  fidalgos.  —  Pro- 
vam ellas  claramente  o  motivo  porque  certas  povoaf;Oes  nos- 
sas, como  o  Porto,  Pinhel  ^  e  outras^  muito  estimavam  o  pri 
vilegio   de  não   poderem  viver  dentro  dos  seus  muros  fidal- 
gos nem  ricos  homenH. 

Volvendo  ao  diapasão  francez  im  e  in  por  em,  —  elle  se 
encontra  em  muitas  povoações  nossas.  Taes  são: 

—  Inchouzella  por  Em  Chouzella  —  e  este  por  choncella 
ou  choicella,  pequena  chouça  ou  choiqa,  nome  que  o  povo  da 
Beira  dá  a  um  acerbo  informe  de  plantas  agrestes  —  ou  ma- 
tagal. 

Também  Chousella  pôde  vir  do  portuguez  cJiousa,  o  mes- 
mo (^ue  chousal  e  chouso  :  —  redil  ou  sebe  que  os  pastores  ar- 
mam no  campo^  de  verão,  para  ahi  recolherem  o  gado,  —  ou 
do  portuguez  antigo  —  chouso,  pequena  fazenda  cerrada  sobre 
si;  tapado;  cerrado. 

Cf.  Choiça  {?...),  — Choiisa,  Chousal,  C^ousalinho,  Chou- 
sas,  Chousella  ( —  cá  está  ella  ! .  •  •  )>  —  Chousellas,  Chousinha, 
Chouso  e  Chusas  por  Chousa^i?  —  povoações  nossas. 

Também  temos  Inchousos  por  Em  Chousos,  plural  de 
Chouso,  supra. 

—  ingonços  por  engonços? 

—  Ingostas  por  Encostas,  plural  á' Encosta^  povoações 
nossas. 

. —  Inguias  por  enguias.  —  Intendente,  o  mesmo  que  en- 
tendente. 

—  Inviando,  o  mesmo  que  Enviande,  povoação  nossa 
também. 

—  Inxameia,  o  mesmo  que  Enxamea?  —  povoações  nos- 
sas. 

—  Inxidro  —  o  mesmo  que  Enxido  e  Enxidro. 

—  Enxudro  —  talvez  o  mesmo  que  Enxuldro  por  enxur- 
ro,  —  como  Inxudreiro  por  enxuldreiro^  e  este  por  enxurr eiró, 
povoações  nossas. 

Eu  conheço  a  quinta  do  Inxudreiro.  Demora  em  Ba- 
gauste,  no  Alto  Douro,  margem  direita,  junto  da  estação 
actual  de  Bagauste,  na  linha  férrea  do  Douro.  —  E  bem  lhe 
quadra  o  nome  de  Inxudreiro,  por  enxuldreiro  ou  enxurreiro, 
pois   comprehende  na  margem   do   rio  um  trato  de  terreno 


^  Veja-se  no  Portugal  antigo  e  moderno,  vol.  vii,  pag.  60  a  101,  o 
meu  artigo  Pinhel,  onde  mencionei  um  facto  interessantíssimo  com  rela- 
ção ao  despotismo  dos  fidalgos  in  illo  tempore. 


294  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


alagadiço,  coberto  lias  enchentes  pelo  Douro,  que  alli  deposita 
grandes  nateiros,  formando  grandes  enxuldreiros,  enxurreiros 
ou  inxudreiros. 

De  passagem  direi  que  Bagauste  é  um  dos  sitios  mais 
interessantes  do  Alto  Douro,  —  Comprehende  hellas  quintas^ 
entre  as  quaes  avulta  a  dos  Bahias ;  —  foi  habitado  desde 
tempos  muito  remotos  —  e  teve  um  convento  anterior  á  nos- 
sa monarchia. 

Veja-se  no  Portugal  antigo  e  moderno  o  artigo  Bagauste 
•^  e  no  Elucidário  de  Viterbo  o  artigo  Bacalar. 

O  mesmo  nome  Bagauste  é  muito  archaico  e  vem  do 
tempo  dos  mouros,  pois  na  minha  opinião  Bagauste  é  contra- 
cção e  detuipação  de  Iben  Augusti  —  íilho  de  Augusto^  como 
já  dissemos. 

—  E  por  metathese  Bagauste  deu  Baguaste,  povoação 
nossa  também. 

Proseguindo  com  o  diapasão  francez,  junte-se : 

—  Emjoostos  por  impostos,  povoação  nossa. 

—  Enfistella  por  Infestella,  diminutivo  de  Infesta  por  en- 
festa —  cumeada,  picoto^  —  do  latim  fastigium  ? 

—  Enfermaria  —  povoação  nossa, — o  mesmo  que  infer- 
maria. 

—  Enfermos  —  o  mesmo  que  infermos. 

-  Engenho  —  o  mesmo  que  ingenJio,   povoações  nossas. 

Também  o  povo  portuguez,  sem  nunca  ir  a  França  nem 

sonhar  com   o  francez,   trivialmente  emprega  im  por  em.  — 

Assim   costuma  dizer :  —  está  im,  Lisboa,   im   Bragança,  im 

Lamego,  im  Barcellos,  im  Faro,  im  Setúbal,  im  Tentúgal,  etc. 

—  Não  diz  em  Lisboa,  em  Bragança,  em  Lamego,  etc. 

Muito  espontaneamente  prefere  o  im  francez  ao  em  por- 
tuguez. 

Também  costuma  dizer :  imbalar  —  não  embalar  ;  imhan- 
deÍ7'ar  —  não  embandeirar  ;  imbarcar  —  não  embarcar  ;  imbar- 
gar  —  não  embargar;  imbrulhar  —  não  embrulhar  ;  imprestar 

—  não  emprestar  ;  impinhar  não  empenhar ;  impurrar  —  não 
empurrar,  etc. 

Somma  e  segue  o  diapasão  francez.   . 

Ens  por  íns  e  eis  por  eis  —  o  mesmo  que  aès  e  ens? 

Fens,  povoação  nossa,  e  Fins,  appellido,  —  são  formas 
do  mesmo   nome,   tiradas   de   Félix,  icis,   nome  d'um  santo, 


TENTATIVA    ETYMOLOaiCO-TOPOXYMICA  295 


etc,  que  deu  'S.  Félix,  Sanfin,  San  fins,  S.  Fins  e  por  meta- 
these  Sinfães,  povoações  nossas,  como  já  dissemos. 

—  Mourens  por  Mourins  é  o  mesmo  que  Mouris,  Moiiriz. 
e  Mourizes,  povoações  nossas.  —  De  Maurinis,  patronimico 
de  Maurinus,  i,  diminutivo  de  Maurus,  i  —  Mouro  ou  Mau' 
ro,  nome  d'um  santo,  etc. 

Também  temos  uma  povoação  (quinta)  chamada  Mureis 
por  Mar  tis,  o  mesmo  que  Murens  por  Mourens  supra? 

Note-se  que  na  onomástica  portugueza  u  deu  ou  —  e  ou 
deu  u,  como  já  dissemos,  pelo  que  Mourens  deu  ou  podia 
dar  Murens. 

Também  Mureis  pôde  ser  uma  fórma  de  Mureis  por  Mu- 
rens, — já  porque  o  til  facilmente  se  perdia  ou  esvaia  nos  có- 
dices,—  já  porque  na  onomástica  portugueza  se  encontram 
de  longe  em  longe  as  desinências  aes,  a  es  e  ans  com  o  mes- 
mo valor,  —  o  que  me  leva  a  suppôr  que  também  se  confun- 
diram as  desinências  m,   tis,  ens?...  ^ 

—  Fiat  lux. 

Com  o  mesmo  diapasão  de  Mureis  temos  também  Careis, 
povoação  nossa,  —  talvez  fórma  de  Çareis  por  Carens  —  e 
este  por  Carins, 

—  De  Carinis,  patronimico  de  Carinus,  z,  diminutivo  de 
Carus,  i,  Caro,  nome  ou  cognome  romano  do  imperador 
Marco  Aurélio  Caro  ^,  successor  de  Probo,  etc. 

Junte-se  Cotem,  Cotens  e  C úteis  por  Coteis,  Coteis  ou  Cu- 
teis,  Cutens  ou  Cotins — Cotinhos,  Continhas  ou  Godinhos  ?  /... 

—  De  Coiim  por  Cotttim  —  Cotinho  ou  Coutinho,  como 
já  dissemos,  —  ou  de  Gothinus,  i —  Godinho,  como  Godim,  — 
Goim  por  Godim,  —  Godinho,  Godinhos,  Godins  e  Goins  por 
Godins,  povoações  nossas. 

—  Vejam  que  salsada  .^  /. . , 

—  Irra  I 

Junte-se  Gontães  e  Gontens  por  Gontins,  plural  de  Gon- 
tim  por  Gondim  —  povoações  nossas. 

Com  vista  ao  meu  bom  amigo,  laureado  escriptor  e  cli- 
nico, dr.  Innocencio  Osório  Gondim. 


1  Veja-se  o  tópico  infra :  —  Desinências  curiosas  da  onomástica 
portugueza. 

-  Foi  um  general  prudente  e  activo,  —  conquistou  os  Sarmatas  e 
continuou  a  guerra  da  Pérsia,  que  o  seu  antecessor  iniciou. 

Reinou  apenas  dois  annos  e  morreu  nas  margens  do  Tigre,  em  uma 
expedição  contra  a  Pérsia,  no  anno  283  da  nossa  era,  como  diz  Eutropio. 


296  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Somma  e  segue : 

—  Molães   por   Molens  —  e  este   -por  Molins  —  moinhos? 

—  Do  baixo  latim  molinus,  i  —  moinho,  — ou  do  francez 
moulins,  que  se  lê  mulêns,  quasi  Molães,  —  moinhos  ?  ! .  . . 

Cf.  Gontães  e  Gontens  por  Gontins  supra. 

Molães  é  uma  povoação  do  Douro  na  minha  Penajulia» 

Ainda  temos  Pintem  por  Pintim  —  e  Pintens  por  Pin- 
Uns — Pintinhos,  o  mesmo  que  Pintainhos,  povoação  nossa 
também,  como  já  dissemos. 

Junte  se  Martens  e  Martins,  appellidos  nossos,  tirados 
de  Martinis,  patronimico  de  Martinus,  i  —  Martino,  Martim 
e  Martinho,  nomes  pessoaes,  que  por  seu  turno  foram  tira- 
dos do  latim  Mars,  Martis  —  Marte,  deus  da  guerra,  como 
Apolo,  deus  da  sciencia,  deu  Apolonio,  nome  d'um  santo,  etc. 

Ahi  vae  agora  mais  um  espécimen  do  diapasão  francez 
na  onomástica  portugueza  e  em  portuguez. 

U  por  OU 

—  Alquetes  —  propriedade  minha  no  Douro^  muito  vis- 
tosa, que  já  foi  cultivada  e  habitada  pelos  romanos,  como  já 
dissemos  e  provámos. 

Pode  vir  de  ^/  +  Jcouetes  —  as  maltas  —  ou  junto  das 
mattas. 

Do  celta  ou  neocelta  l'ouete — matta  —  com  o  prefixo 
árabe  ai —  o,  a,  os^  as,  —  ou  com  o  prefixo  também  celta  ou 
neo-celta  are — junto  de... — em  frente  de...  que  se  encontra 
em  Aremorica^  hoje  Bretanha  ou  Baixa  Bretanha,  como  já 
dissemos. 

A  escala  seria:  Ar  ou  Al  -\-  Ivouetes — Alcuetes  —  Alque- 
tes? 

E'  assim  a  arte  nova  e  rira  hien  qui  rira  le  dernier! ,  . . 

—  Bucellas  —  aldeia  e  freguezia  do  aro  de  Lisboa,  no 
concelho  dos  Olivaes, 

Na  minha  opinião  Bucellas  é  o  mesmo  que  Boucellas,  di- 
minutivo de  Bouças.^  como  Boucelhas,  Boucinhas,  Bouçai- 
nhas  por  Boucinhas,  e  Vouzella  por  Boucella,  povoações  nos- 
sas, que  tomaram  o  nome  das  bouças,  como  outras  muitas, — 
ao  todo  mais  de-  mil !  —  mencionadas  na  Choroyraphia  Mo' 
der  na. 

Taes  são :  —  Bouça,  Bouça  Boa,  Bouça  Chã,  Bouça  Cova^ 
Bouça  da  Casa,  Bouça  da  Cruz,  Bouça  da  Fronte,  Bouça  da 
Lage,  Bouça  da   Lama,  Bouça  da  Ponte  e  Bouça  da  Pupa  — 


TENTATIVA   ET\'A10L0GIC0-T0P0NYMICA  297 


O  mesmo   que   Bouça  da  Poupa.  —  Aqui  temos  nós  um  bello 
espécimen  do  diapasão  francez  u  por  ou. 

V.  Pupa  infra. 

Somma  e  segue. 

—  Bouça  da  Vaca,  Bouça  do  Ahbade.,  (não  é  minha) — e 
Bouça  d^Airó  (?...)  que  podia  tomar  o  nome  de  atro,  ave 
aquática,  pela  forma  airol,  como  Airó^  e  Airoles,  povoações 
nossas  também. 

N'este  caso  Alró  e  Airoles  são  diminutivos  de  ai7'o,  que 
podia  dar  também  airão,  Airão  e  AyrciOj  povoações  nossas, 
como  águia  deu  Aguião,  gaio  deu  Gaião,  etc. 

Mas  na  minha  opinião  Airó  é  o  mesmo  que  Eiró  e  Eirój 
muitas  povoações  nossas  —  ao  todo  mais  de  50  —  que  toma- 
ram o  nome  de  eirola,  no  baixo  latim  areola,  diminutivo  de 
área  —  eira,  como  Eírirtha,  Elrinhas,  Eirinhos,  Eirogo  por 
EÍ7'oca,  o  mesmo  que  eirola  ou  eiroca,  etc. 

Nós  também  temos  Eirão,  aldeia,  que  podia  dar  tam- 
bém Airão  e  Ayrão  supra,  mas  julgo  que  Airão  e  Ayrd.o  vêem 
de  Arianus,  i,  Ariano,  antigo  nome  d'um  santo,  que  deu 
Ariano  e  podia  dar  também  Arião,  Airão  e  Ayrão,  como 
Adrianus  deu  Adriano,  Adrião  e  Santo  Adrião,  povoação 
nossa,  —  Romanus  deu  Romano,  Romão  e  S.  Romão,  povoa- 
ção nossa  também  ;  —  Cyprianufí  deu  Cypriano,  Ciòrão,  ap- 
pellido,  S.  Cypnano  e  S.  Cibrão,  o  mesmo  que  S.  Cypriano, 
povoações  nossas  também. 

E'  assim  a  arte  nova, 
"Proseguindo  com  o  thema  bouças,  ainda  temos: 

—  Bouça  de  Baixo,  Bouça  de  Cima,  Bouça  de  Dentro  e 
Bouça  de  Fora,  —  Bouça  de  Grillo  e  Bouça  de  Guindas,  o 
mesmo  que  bouça  àe  ginjas  {?!...)  —  pois  Guindas,  como 
Guindaes,  nome  d'um  antigo  bairro  do  Porto,  com  toda  a 
certeza  vem  do  castelhano  guinda  —  ginja,  que  pela  forma 
guindai  —  gi^j^l,  ginjeira!,  deu  guindales  —  e  Guindaes. 

Note  se  que  entre  o  medonho  fragoedo  abrupto  dos 
Guindaes  eu  —  se  bem  me  recordo  —  vi  ha  muitos  annos  cer- 
deiras  ou  ginjeiras  bravas  —  e  talvez  que  ainda  hoje  lá  se  en- 
contrem algumas  ! .  .  . 

Também  temos  Guinde  e  Guindo,  que  tomaram  o  nome 
do  castelhano  guindo,  synonimo  de  guindai  —ginjal,  ginjei- 
ral,  como  diz  Valdez. 

A  O.  dos  Guindaes  ha  outro  bairro  ejusdem  fusfuris  — 
não  menos  abrupto  e  o  mais  immundo,  mais  nojento  do  ve- 
lho Porto,  a  sopé  do  antigo  bairro  da  Sé. 


298  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Chama-se  Codeçal  —  e  tomou  o  nome  do  codêco^  planta 
arbustiva^  também  espontânea,  que  alli  talvez  abundasse 
outr^ora,  como  abundou  em  varias  regiões  nossas,  pois  temos 
ao  todo  mais  de  cem  povoações  que  tomaram  o  nome  do  co- 
dêço.  —  Pelo  exotismo  do  nome  avultam  entre  ellas  Codal 
por  Codeçal? —  Codecido  por  Codecêdo  —  e  pelo  diapasão  cal- 
laico  ou  gallego  Codexido  por  Codecido  f /.. . 

Volvendo  á  série  das  Bouças,  ainda  temos  : 

—  Bouça  de  Padre  { também  não  é  minha) ;  Bouça  de 
Bicos  (idem);  Bouça  do  Louro  (idem);  Bouça  do  Rei  ^;  Bou- 
ça do  Rio  ;  Bouça  dos  Agueiros^  o  mesmo  que  Arroios  e  Ar- 
rayollos  por  Arroyolos. 

Bouça  dos  Fojos!  —  Este  nome  vem  do  tempo  em  que 
abundavam  entre  nós  as  feras  e  se  faziam  fojos  para  as  ca- 
çar, —  unde  Foia,  Foio,  Foios^  Foja,  Fojo,  Fojos  e  Refoyos,  o 
mesmo  que  Refojos  —  grandes  foios  ou  fojos,  povoações  nos- 
sas. 

Cf.  Cabadouso,  Cabaduço  e  Caòaduços  por  Cova  do  Urso 
e  Cova  dos  Ursos  —  fojos  ou  Covas  para  caçar  ursos,  —  e  Ca- 
doucos  por  Cabadoucos,  hoje  rua  muito  linda  na  Foz  do  Dou- 
roí!..,  ^ 

Somma  e  segue. 

—  Bouça  Fria,   Bouça   Milhaça,    abundante    em    milho. 

—  Bouça  Paio !  —  De  Pelagio,  em  latim  Pelagius,  ii,  iis, 
unde  Paes,  S*  Pelagio,  Sampaio  e  Paião,  de  Pelagianus,  i, 
diminutivo  de  Pelagius. 

Também  Paio,  na  onomástica  portugueza,  por  apocope  e 
obediência  á  lei  do  menos  pezo,  deu  Pai. 

Cf.  Pai  Agua,  Pai  Alvo,  Pai  Cabeça,  Pai  Calvo,  Pai  Ca- 
nito,  Pai  Cão,  Pai  Daniel,  Pai  das  Donas,  ^  Pai  d'Aviz,  Pai 
Joannes,  Pai  Janes,  o  mesmo  que  Pai  Joannes,  Pai  Lobo, 
Paimogo  por  Paio  Mogo ;  —  Pai  Moure,  Pai  Penella,  Pai  Pol- 
dro,  Pai  Sobrado,   Pai  Soeiro,  Pai   Viegas,    Pai   Vieira,  Pai 


1  Com  vista  ao  sr.  D.  Manuel  II,  nosso  rei  actual,  a  quem  Deus 
guarde  por  muitos  annos  e  bons. 

^  Cadouços  por  Cabadoucos  —  cova  d'ursos  —  é  congénere  de 
Cova  da  Bouça,  Cova  da  Burra,  Cova  da  Lua,  Cova  da  Onça,  Cova  da 
Raposa,  Cova  da  Serpa  ou  da  serpente,— Cova  da  Zorra,  o  mesmo  que 
raposa,  —  Cova  de  Lobos,  Cova  do  Coelho,  Cova  do  Lobo,  etc,  povoa- 
ções nossas  também. 

Dos  ursos  tomaram  também  o  nome  outras  muitas  povoações  nos- 
sas, como  já  dissemos. 

3    Donas  é  appellido  nosso. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  299 


Villão,  etc, —  povoações  nossas  e  o  mesmo  que  Paio  Agtia, 
Paio  Alvo,  Paio  Caberia,  Paio  Calvo,  Paio  Cão,  Paio  Canito,  etc.  ^ 

Também  são  povoações  nossas  Paio,  Paio  Affon.so,  Paio 
Calvo,  o  mesmo  que  Pai  Calvo,  supra,  Paio  Correia,  Paio  de 
Pelle,  Paio  Mendes  e  Paio  Pires,  que  se  encontra  na  decan- 
tada freguezia  do  Seixal,  bem  conhecida  como  Aldeia  de  Paio 
Pires. 

Pelo  ultimo  censo  contava  ella  1:027  habitantes. —  E', 
pois,  mais  populosa  e  mais  importante  do  que  centenares  de 
freguezias  nossas,  pelo  que  é  uma  injustiça  flagrante  conside- 
rarmos a  Aldeia  de  Paio  Pires  como  a  nossa  aldeia  ou  povoa- 
ção mais  obscura  e  mais  insignificante. 

E'  além  d'isso  muito  vistosa,  muito  alegre  e  bastante  mi- 
mosa, banhada  pelo  rio  Coina  —  e  orgulha-se  de  haver  sido 
fundada  pelo  valente  commendador  de  S,  Tliiago  e  fronteiro- 
mór  do  Algarve  —  o  famoso  Paio  Peres  Correia,  do  qual  to- 
mou o  nome  de  Paio  Pires,  o  mesmo  que  Paio  Peres. 

Comprehende  muitas-  quintas — ao  todo  mais  de  vinte  e 
oito  —  dispersas  ou  disseminadas  pela  sua  vasta  zona  — •  e  uma 
aldeia  denominada  Foros  da  Catampôna? !... 

V.  Aldeia  de  Paio  Pires  no  Portugal  antigo  e  moderno,  vol.  i, 
pag.  89  —  e  a  Chorographia  Moderna,  vol.  iv,  pag.  763  e  764. 

Catampôna  vem  talvez  de  Catapôna,  portuguez  popular, 
pejorativo  de  tapona  —  pancada.  —  Neste  caso  a  povoação  de 
Catampôna  ou  P^ôros  da  Catampôna  pertence  á  grande  série 
de  povoações  que  tomaram  o  nome  de  apodos  ou  appellidos. 

Nós  não  temos  actualmente  Catampôna,  Catapôna  ou  Ta- 
pona, appellido,  mas  temos  o  appellido  Pancada,  synonimo 
de  tapona. 

Ahi  vae  agora  um  jorreiro  de  dislates  meus  a  propósito 
da  etymologia  de  Coina,  rio  mencionado  supra. 

Como  em  assumpto  de  tal  ordem  não  ha  precisão  mathe- 
matica,  vou  propor  d iffe rentes  etymologias  para  tão  extranho 
nome  e  deixo  a  porta  aberta  e  franca  para  outra  que  melhor 
satisfaça. 

Coina 

—  rio   da   Extremadura  alemtejana,  districto  de  Lisboa,  que 
banha  a  freguezia  de  Paio  Pires,  etc,  no  concelho  do  Seixal ^ 


1     Cão  foi  appellido  nobre  e  antigo  de  Diogo  Cão,  etc.  —  Canito  é 
diminutivo  de  Cão  e  também  appellido  nosso. 

Veja-se  o  meu  Diccionario  de  Appellidos  Portuguezes. 


300  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


—  e  Coina,  villa  e  freguezia  extinctas,  hoje  annexas  á  fregue- 
zia  de  Palhaes,  concelho  do  Barreiro^  podem  vir : 

l.a  —  de  Góina,  antigo  nome  pessoal. 

— Ego  Góina  Pefri  de  Cambar... — Tibi prefacia  Góinae... 

Em  vulgar:  —  Eu  Góina  Peres  de  Cambar,..  —A  ti  su- 
pra mencionada  Góina... 

Documento  da  Cathedral  de  Vizeu.  Não  tem  data,  mas 
com  certeza  é  do  século  xii  —  e  pôde  vêr-se  no  Elucidário  de 
Viterbo,  tit.  Deo  Vota. 

Góina  podia  sem  violência  dar  Coina,  pois  ca,  co  cu  e  ga, 
go,  gu  trivialmente  se  confundiram  e  substituíram  na  ono- 
mástica portugueza. 

Veja-se  o  tópico  inírs,:  —  SubstituiçõU)  de  letras. 

2.*  —  Também  Coina  pôde  vir  do  árabe  Jcouna,  viso  de 
monte,  cumeada,  ^  pois  entre  nós  oi  e  ou  confundiram-se  e 
ainda  hoje  se  confundem. 

3.^ — Pôde  também  Coina  vir  do  basco  ou  euskaro  — 
C(^iYi  —  altura,  elevação,  que  se  encontra  em  Tarragôna,  ci- 
dade da  Hespanha,  situada  sobre  um  grande  rochedo  com 
pendente  rápida,  como  diz  Moncaut,  pag.  456  e  458,  —  vb. 
Escoin. 

O  mesmo  auctor  accrescenta  :  —  O  prefixo  thara  de  Tar- 
ragôna  —  é  basco  também  e  significa  pena,  difpculdade. 

Note-se  a  identidade  da  significação  do  basco  ou  etcsJcaro 
coin  —  e  do  árabe  l:ouna  supra. 

4.*  —  Também  Pinho  Leal,  meu  benemérito  antecessor, 
diz  que  a  villa  de  Góina  tomou  o  noms  de  Equa  Bona,  po- 
voação romana  que  alli  esteve  —  ou  em  Agua  de  Moura.  ^ 

João  Baptista  de  Castro  também  diz  que  a  villa  de 
Coina  representa  a  estação  Equabona,  mencionada  no  Roteiro 
d' Antonino ;  mas  o  dr.  Emilio  Húbner  nas  suas  Noticias  Ar- 
cheologicas  de  Portugal,  diz  : 

«A  situação  de  Equabona  é  completamente  incerta  e  não 
pôde  affirmar-se  que  ella  corresponde  a  Coina  pela  remota 
semelhança  dos  nomes.»  ^ 

Nôs  temos  também  Coja,  Goia,  Goija,  Goixa,  Goixo, — 


1  V.  Cherbonn,  pag.  211.  . 

—  Coina  foi  denominada  Cóuna  por  D.  Sancho  \,  no  codicillo  que 
fez  em  1188. 

Elucidário,  vb.  Bemquerença,  in  fine. 

2  V.  Coina  e  Palhaes,  no  Portugal  antigo  e  moderno,  vol.  ii, 
pag.  358. 

3  V.  Palhaes  na  Chorographia  Moderna,  vol.  iv,  pag.  406. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  301 


Goio^  Goja  e  Gojo,  que  talvez  tenham  a  mesma  etymologia  de 
Coina,  pois  Coina  podia  sem  violência  dar  Cóiaj  que  antiga- 
mente se  escrevia  Cojja  e  Coja?/... 

Por  seu  turno  Cóia  podia  sem  violência  dar  Ooia,  Goija, 
Goja  e  Gojo,  pela  trivial  substituição  de  go  e  co. —  E  pelo  an- 
tigo diapasão  callaico  também  Goija  e  Goijo  podiam  sem  vio- 
lência dar  Goixa  e  Goixo  ?  f... 

Também  como  jà  dissemos,  Coja,  Cojinha,  Coixa,  Coixi- 
nho,  Coixo  e  Coixos  —  varias  povoações  nossas  —  e  Monte 
Caixa  {S.  Domingos  de  Monte  Caixa)  —  santuário  e  monte  do 
concelho  trasmontano  de  Sabrosa, —  Gogido  por  Gojêdo, — 
Goija,  Goije  por  Goija,  —  Goixa,  Goíxe,  por  Goixo,  —  Goja, 
Gojide  por  Gojêdo  —  e  Gojo,  povoações  nossas,  —  podiam  to- 
mar o  nome  de  tojo,  pois  ca^  go  e  to  não  raras  vezes  se  con- 
fundiram na  onomástica  portugueza. 

Veja- se  o  tópico  infra  :  —  Substituição  de  letras. 

Note-se  que  o  povo  não  diz  tojo,  mas  toijo,  —  e  que  o 
monte  de  S.  Domingos  de  Monte  Coixo  abunda  em  tojo. 

V.  Tojo  e  Tosar  no  Índice  da  1.^^  parte,  onde  se  encontra  a 
lista  das  nossas  muitas  povoações  que  tomaram  o  nome  do  tojo. 

Pinho  Leal  no  artigo  Coja  diz  que  esta  villa  tomou  o 
nome  do  árabe  Copje,  que  nós  pronunciamos  Coje  —  e  corres- 
ponde ao  latim  praetor  —  pretor,  significando  assim  Coja  — 
villa  ou  povoação  do  pretor. 

V.  Coja  no  Portugal  antigo  e  moderno,  vol.  ii,  pag.  358, 

—  e  Coje,  nos  Vestigios  da  língua  arábica,  de  Fr.  João  de  Souza 

—  artigo  que  Pinho  Leal  aproveitou,  posto  que  o  não  citou. 

Podia  eíFecti vãmente  Copje  dar  Coja,  mas  na  minha  opi- 
nião Coja  vem  de  Toja,  povoação  nossa  também  que  to- 
mou o  nome  do  tojo,  como  em  Aveiro  (?)  o  sitio  denominado 
Côjo?!... 

—  Fiat  lux. 

*      * 

Volvendo  á  lista  das  povoações  que  tomaram  o  nome 
das  bouças,  ainda  temos : 

—  Bouça  Redonda.  —  Não  admira  que  fosse  redonda  a 
dita  bouça ;  mas  temos  uma  povoação  denominada  Ponte  Re- 
donda, cujo  nome  faz  scismar!.  .  . 

—  Com  vista  aos  engenheiros. 

—  Boução,  Bouças  e  Bauceguedini  —  por  Bouça  Godim 
ou  Bouça  da  Godim? 

—  Bauceiras,  Baucinha,  Boucainha  e  Bauchina  por  Bou- 


302  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


cinha^  pois  no  velho  diapasão  callaico  Boucínha  podia  escre- 
ver-se  Bouxiha — unde  Bouxína  e  Boucliina  pela  suppressão 
do  til  —  suppressão  que  era  fácil,  como  já  dissemos,  e  na  mi- 
nha opinião  deu  se  muitas  vezes  nos  defumados  e  antigos  có- 
dices e  na  onomástica  portugueza?... 

—  Com  vista  aos  paleographos  e  ao  meu  suocessor. 
Ainda  temos  Boução  e  Bouço  por  Bouça;—  Boiições, — 

Bouçoães  por  Bouçães, —  e  Bouçães  ou  Bouçõesf... 

—  Este  Bouçoães  é  amphibio ! 

Junte-se  Boiíçó  e  Bouçós  —  por  Bouçolos  ou  Bouçolas,  di- 
minutivos de  bouça,  como  Boucinha^  Bouçainha,  Boucella  e 
Vouzella  supra. 

Veja-se  o  tópico  infra: — Diminutivos  com  a  desinência 
olus,  ola. 

Para  atesto  do  casco  junte-se  finalmente  : 

—  Bousias  por  Boucias  —  Bouças'^  —  Bouxa,  diapasão  cal- 
laico de  Bouça  —  e  Bozelha  por  Bocelha  —  Boucelha  ? 

A  Gallisa,  irmã  gémea  de  Portugal,  tem  muitas  povoa- 
ções com  os  nomes  de  Boucina  e  Bouziha,  que  se  lêem  Bou- 
cinha  ;  —  Bouza  e  Bouxas,  que  se  lêem  Bouça  q  Bouças  ; — 
Bouxo  e  Bouzos,  que  se  lêem  Bouça  e  Bouços ;  —  Bouzon  que 
se  lê  Bouçon  e  corresponde  ao  portu^uez  Boução,  etc. 

—  Nas  outras  províncias  da  Hespanha  não  ha  nomes 
eguaes  .nem  similares  ff.,. 

Fecharemos  este  longo  tópico  das  Bouças,  dizendo  que 
bouça,  terreno  inculto,  "na  opinião  do  snr.  Cândido  de  Figuei- 
redo—  vem  do  portuguez  balsa  ou  antes  balça: — matagal; 
terreno  inculto^  onde  nascem  arbustos  espinhosos ;  balseiro 
ou  dorna  em  que  se  pisam  e  fermentam  as  uvas  ;  espécie  de 
funil  de  madeira,  pequeno  balde  com  que  se  lança  o  vinho 
nas  cubas  e  toneis;  jangada;  antigo  pendão,  bandeira,  estan- 
darte ou  balsão  dos  Templários. 

Mas  qual  a  etymologia  de  balça  ? 

—  Na  opinião  do  mesmo  sr.  Cândido  de  Figueiredo  ^  é  o 
latim  baltea,  plural  de  balteum,  o  mesmo  que  balteus. 

Baltea  daria,  pois,  balça,  como  puteum  oii  puteus  deii poço 
e  2^oça.  — Mas  balteum  significa  talim,  talabarte,  boldrié,  tira- 
colo,  cinto  militar,  ^  —  não   estandarte  ou  bandeira  e  menos 


'    V.  Novo  Díccionarío  da  Língua  portugueza. 

-  Vem,  pois,  claramente  balteum  do  scandinavo  ou  teutonico  bali 
—fita,  que  deu  também  o  nome  ao  Báltico,  per  ser  mar  muito  estreito  e 
tortuoso,  imitando  ama  fita,  como  se  lê  algures. 


TENTATIVA    ETYMOLOOICO-TOPONYMICA  303 


ainda  terreno  inculto^  mafafjaly  etc,  como  significam  balça  e 
hou(^a. 

Isto  me  leva  a  suppur  que  o  portuguez  houça  vem  talvez 
do  baixo  latim  banda '}  —  ou  coisa  semelhante  —  mesmo  por- 
que temos  Bousias  (quasi  Houcían)  aldeia  mencionada  supra. 

Veja- se  o  Glos-sarfo  de  Ducange,  que  agora  não  podemos 
confc;ultar,  —  notando-se  que  no  dito  Glossário,  como  já  disse- 
mos, —  faltam  muitos  vocábulos  do  haixo  latim,  relativos  a 
Portugal,  que  podiam  dar  um  grosso  folioíl...  ^ 

Nós  temos  21  povoações  com  os  nomes  de  Balsa,  Balsas 
e  Balsinha  -■  e  eu  conheço  muito  bem  uma  d'ellas.  —  Chama- 
se  Balsa  ou  Balça  ,\ — é  uma  pequena  povoação  e  forma  com 
outra  ejusdem,  fusfuids^  denominada  Desejosa^  uma  freguezia 
pertencente  ao  concelho  da  Pesqueira,  no  Alto  Douro. 

Demora  ella  em  sitio  escabroso  com  pendente  rápida  so- 
bre a  margem  direita  do  Távora^  pelo  que  a  dita  povoação 
da  Balsa  ou  Balça  podia  tomar  o  nome  do  toscano  sbalzo  — 
despenhadeiro,  como  já  dissemos  no  longo  tópico  supra,  de- 
dicado ao  Diapasão  toscano,  vol.  1.**,  pag.  45  a  Ô7. 

Mas  viriam  também  do  toscano  svalzo  todas  as  outras 
nossas  Balsas? — Fiat  lux!... 

Também  no  velho  toscano  —  segundo  se  lê  no  curioso  Vo- 
cabulário de  las  Casas,  publicado  em  Veneza  no  anno  1537 — 
ha  372  annos  ?  !...  —  se  encontra  svalzo  pulo  ;  —  salto  da  pella; 

—  e  svalzare  —  (quasi  valsar  7)  —  saltar. 

Pode,  pois,  sem  violência,  o  portuguez  valsar  vir  do  tos- 
cano —  svalzare. 

O  sr.  Cândido  de  Figueiredo  diz  que  valsar  vem  de  valsa^ 

—  esta  do  francez  valse —  e  esta  do  allemão  ícalzer  de  icãlzen, 

—  Será  assim;  mas  o  velho  toscano  é  anterior  ao  latim,  ao 
italiano,  ao  francez,  ao  castelhano  e  diO  portuguez? ! ... 

Desculpem  os  meus  poucos  leitores  tantos  dislates  e  pro- 
sigamos  com  o  diapasão  francez. 

O  por  flU 

Na  onomástica  portugueza  e  em  portuguez  não  é  raro  o 
diapasão  francez  o  por  au. 

Cf.  Aldova  por  Adolfa  —  e  Dolves  por  Adolves,  povoa- 


1  Com  vista  aos  manes  de  Herculano,  de  Viterbo  e  de  /oão  Pedro 
Ribeiro,  —  os  antiquários  mais  sérios,  mais  illustrados,  mais  trabalhadores 
e  mais  auctorisados  que  Portugal  tem  tido  até  hoje. 


304  TENTATIVA    ETYMOLOaiCO-TOPONYMICA 


ções  nossas,  cujos  nomes  foram  tirados  de  Adolphus^  i  —  Adol- 
pho,  nome  pessoal  e  nome  d'um  santo,  —  e  este  de  Athaulphus, 
i, — nome  germânico  pessoal  muito  prolífico  na  onomástica 
portugueza,  pois  na  minha  opinião  Athaulphus,  i,  deu  o  nome 
ás  nossas  povoações  seguintes  : 

—  Adaiifa,  Adaufe  ;  —  Adaufe  ou  Adoufe  ( sic ' ;  Adoufe 
-  e  Adoufe  ou  Adaufe^ — povoações  assim  mencionadas  na 
Chorograpliia  Moderna^  bem  como  todas  as  que  vou  citar. 

—  Adufe,  Aldova  por  Adolfa,  como  já  dissemos;  Bal- 
drufa  por  Balãufa  e  este  por  Valdufa  ?,  —  Casal  Doufe  e 
Casal  d' Ufe ;  Dohes  por  Athlves — e  este  por  Adolphis,  o 
mesmo  que  Atliaulphis^  patronimico  de  Athaulpluis^  i,  que  se 
encontra  mais  bem  desenhado  em  Adaufe  e  Adufe. 

Somma  e  segue. 

—  Estrada  de  Ufe ;  Fonte  d^  Ufe  ;  Vai  d'oufe  (sic)  — o  mes- 
mo que  Valdouve  por  Valdufe—  valle  d'Athaulplio^  ^ — ou  de 
Ihen  Athaulphus  —  filho  de  Athaulpho,  como  Baldrupha  por 
Baldupha,  mencionada  supra.  ^ 

Ainda  temos  : 

—  Villa  Duffe,  —  Villar  d'Oufe  —  e  talvez  Tufe  e  Tufos, 
povoações  nossas. 

Tufe  por  Atufe  devia  ser  a  forma  anterior  de  Adufe  por 
Ataufe^  tirada  de  Athaulphus,  i,  que  pelo  mesmo  diapasão  po- 
dia também  dar  Athaulptus,  —  Tulfos —  e  Tufos  I . .     ^ 

O  mesmo  Athaulphus,  t  —  deu  Adolpho  e  Adulpho,  no- 
mes de  santos,  etc,  —  em  latim  Adolphus,  i,  is — unde  Dol- 
ves  por  Adolces,  o  mesmo  que  Adolphis  —  e  Aldova  por  Adol- 
pha  supra  —  de  Adolpha  (villa)  —  a  granja,  quinta  ou  casa 
de  campo  de  Adolpho,  como  Regulus  —  Regulo,  nome  d'um 
santo,  etc,  deu  Regula  Villa  ~  hoje  a  formosa  villa  da  Regua^ 
como  já  dissemos. 

Também  Adolpho  deu  Adolphina  e  Adolfino,  em  latim 
Adolfinus,  i,  is  —  unde  talvez  Dou  fins  por  Dolphinis,  povoa- 
ção nossa,  aferese  de  Adolphinis  7 . . . 

—  E'  assim  a  arte  nova  —  e  rira  hien  qui  rira  le  dernier !... 


1  Note-se  que  das  estradas  das  fontes  e  dos  valles  tomaram  o  nome 
talvez  mais  de  nove  mil  povoações  nossas,  todas  mencionadas  na  Choro- 
graphia  Moderna. 

2  Veja-se  o  meu  tópico  supra:  --  Thema  Iben. 

3  Cf.  Tougues,  Touguinha  e  Touguínhó  por  Thioguis,  Thioguina 
e  Thioguinolusy  i,  formas  anteriores  de  Diogues,  o  mesmo  que  Diegues, 
Dioguinha  e  Dioguinho,  tiradas  do  prolífico  Thiagiis,  o  mesmo  que 
Diego,  Diogo  e  Diago,  como  já  dissemos. 


TENTA.TIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  305 


Do  exposto  se  vê  que  foi  muito  prolífico  na  onoraa-stica 
portugueza  o  tal  sr.  Afhaulphnfi,  que  pelo  diapasão  francez  o 
por  au  deu  Adolphus  i,  is^  unde  Adolpho,  —  Dolves  por  Adol- 
ves,  o  mesmo  que  Adol/ls,  Adaulfis  e  Athaidphls,  —  Adoufe,  o 
mesmo  que  Adaufe  por  Afhaiilphi,  etc.  —  E  pelo  diapasão 
francez  u  por  ou  —  Adoufe  deu  Adu/e,  JJufe  e  Ufe,  etc,  co- 
mo já  dissemos. 

Somma  e  segue  o  diapasão  francez  o  por  ati. 

Cf.  Maurelles,  Mauriz,  Moura,  Moura  Morta,  Moural, 
Mourão,  Mouraria,  Mouras^  Mourata,  Mourato,  Mouralos, 
Mouraz,  Moure  e  Mourel,  —  o  mesmo  que  Moural,  pois,  como 
já  dissemos,  na  onomástica  portugueza  confundiram-se  e  sub- 
stituiram-se  as  desinências  e/,  il  e  aL 

Junte-se: 

—  MoureUinho,  Mourello,  Mourellos,  Mourens  por  Mou- 
rins,  o  mesmo  que  Mouriz,  povoação  nossa  também,  mencio- 
nada na  Choro  gr  apMa  Moderna^  como  todas  as  que  já  citei  e 
as  que  vou  citar. 

—  Mourento  e  Mouria  por  Mouraria  supra,  como  Fran- 
zia por  Francezia,  —  Cárdia  por  Cardaria^  etc. 

—  Mouril,  o  mesmo  que  Motirel  e  Moural; — Mourilhe, 
Mourim,  Mourinha,  Mourinho,  Mourinhos,  Mouris,  Mourisca, 
Mouriscas,  Mourisco,  —  Mourissó  (?!...);  —  Mouriz,  Mourizes, 
Alouro,  Mourões  e  Mouros. 

Junte-se  ainda: 

—  Casal  de  Mouro  e  Casal  do  Mouro»   Corte  do  Mouro. 

—  Cova  da    Moura.  —  Fonte   da  Moura.  —  Fonte  do  Mouro. 

—  Fonte  Morena  e  l^onte  Moura,  —  Foz  da  Mourisca.  —  Foz 
do  Mouro.  —  Maurelles,  Mauriz.  —  Monte  da  Mourata.  —  Mon- 
te da  Mourinha.—  Mour alves  por  3Iouro  Alves? — Monte  do 
Mourinho. —  Monte  do  Mcurique.  —  Monte  dos  Mouriquinhos 
e  —  Monte  de  Adeus  Mouros? !... 

Junte-se  também : 

—  S.  Martinho  de  Mouros.  —  Outeiro  da  Aloura.  —  Outei- 
ro do  Alouro.  —  Outeiro  dos  Aíouros. 

Pai  Mouro  por  Pelagio  Alouro,  o  mesmo  que  Paio  Alouro 
e  Palaio  Mouro  ou  Paio  Alouro.  —  De  Pelagius,  ii,  antigo 
nome  pessoal,  que  deu  Pelagio  e  Paio,  nomes  de  Santos,  que 
se  encontram  em  S.  Pelagio  de  Fornos,  freguezia  do  concelho 
de  Castello  de  Paiva,  —  S.  Paio  e  Sampaio  por  S.  Pelagio,  — 
appellido  e  povoações  nossas,  como  Paio,  Paio  Pires,  etc. 

Também  Pelagiis  deu  Pais,  appellido  nosso  vulgar,  —  e 
Plagianus  deu  Paião,  freguezia  do  concelho  da  Figueira. 

20 


306  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Por  seu  turno  Pelagius  vem  do  Idcúiíi  pelagus  —  mar  — 
e  é  synonimo  de  Mavius  —  Mário,  nome  romano  e  também 
nome  d'um  santo,  etc,  como  já  dissemos. 

Volvendo  á  serie  das  nossas  povoações  que  tomaram  o 
nome  dos  mouros,  ainda  temos: 

—  Palamoro?  —  Fé  de  Moura  —  sitio  nas  margens  do 
Douro,  —  Pego  Mourão,  —  Pego  da  Moura,  —  Penedo  do  Moíi- 
ro,  —  Pêro  Moreno,  —  Pêro  Mouro  e  Pêro  do  Mouro  ? ! ...  —  Po- 
ço Mourão,  —  Poço  do  Mouro  e  Poço  dos  Mouros! ...  —  Ponte 
de  Mouro,  —  Ponte  do  Mourão  e  Ponte  do  Mouro I...  —  Porto 
Mourisco  e  Porto  do  Mouro. 

—  Relva  da  Moura,  —  Riba  de  Mouro.  —  Rio  de  Mouro. 

—  Serra  do  Mouro.  —  Torre  do  Mouro.  —  Vai  de  Moura.  — 
Vai  de  Mourão.  —  Vai  de  Mourelles.  —  Vai  de  Mourisco.  — 
Vai  de  Mouro. —  Vai   de  Mouros.- —  Vai   do    Mouro. —  Vai 

Mourão  e    Vai  Mourisco  ?  / .  . .    Villa  Moura.  —  Villa  Mouro. 

—  Villar  de  Mouros.  —  Villar  do  Mouro,  etc,  povoações  nos- 
sas —  ao  todo  iuais  de  trezentas,  mencionadas  na  Chorogra- 
phia  Moderna. 

Isto  prova  que  os  mouros  tiveram  longa  residência  em  Por- 
tugal —  e  que  a  onomástica  éum  valente  auxiliar  da  historia! ... 

Elles  demoraram  se  muito  entre  nós — nada  menos  de  qui- 
nhentos  annos,  —  desde  o  século  viii  até  o  século  xiii,  data 
em  que  foram  expulsos  do  Algarve.  —  Coube- nos  a  gloria  de 
os  expulsar  definitivamente  duzentos  annos  antes  que  a  Hes- 
jpanha  os  expulsasse  do  seu  território^  pois  só  no  século  xv 
os  expulsou  da  Andaluzia. 

Elles  incommodaram-nos  muito,  — mas  tudo  pagaran  com 
o  próprio  e  custas  I^õ.o  só  os  expulsámos  aferro  e  fogo  do 
nosso  paiz,  raas  fomos  batel-os  na  Africa  e  lhes  tomámos  to- 
do ou  quasi  todo  o  littoral  de  Marrocos!... — E,  se  não  fo- 
ra o  revez  à^ Alcácer- Kihir  em  1580  —  não  sei  até  onde  iría- 
mos? !... 

As  muitas  povoações  mencionadas  supra  tomaram  o  nome 
dos  mouros,  como  já  disse;  mas  note-se  que  algumas  e  não 
poucas  tomaram  o  nome  dos  mouros  —  não  como  conquista- 
dores e  senhores  d'ellas, — mas  como  vencidos,  prisioneiros  e 
captivos  ?  I . . . 

Pondo  de  parte  a  historia  e  volvendo  ao  diapasão  fran- 
cez  o  por  au,  diremos  que  as  ditas  povoações  tomaram  o  no- 
me dos  mouros,  em  latim  mauri,  orum,  que  no  baixo  latim 
deu  maurus,  i  —  mouro  e  Mauro,  nome  d'um  santo,  etc. — 
em   castelhano  Moro  —  e  em  portuguez  Mouro,  quasi  Moro 


TENTATIVA    ETYMOLOGTCO-TOPONYMTCA  307 


por  Mauro,  — nitido  exemplar  do  diapasão  francez  o  por  au, 
—  thema  dos  nossos  dislates  no  momento. 

Maurus,  /,  entre  nós  deu  Mauraniis,  l,  unde  Mourão,  ap- 
pellido  vulgar,  etc.  —  e  Maurdlus,  i,  is^  unde  Maurelles^  Mou- 
ref,  Mourello  e  Mourellos,  supra. 

Por  seu  turno  Maurellns,  2,  deu  Maurellinus,  i  —  unde 
MourelJinho  supra,  diminutivo  de  Mourello  e  subdiminutivo 
de  Mouro.  ^ 

Também  Maurus,  i  deu  Maurimis,  i,  is  —  unde  Maurix, 
Moiírím,  Mourinho,  Mourinho^,  Mouris,  e  Mouriz  supra,  —  o 
mesmo  que  Mauriz  por  Maurins  e  Mourens,  diapasão  francez 
de  Mourinsl.., 

Por  seu  turno  Mourim  e  Mourins  deram  Morim  e  Morins, 
povoações  nossas  também,  cujos  nomes  foram  tirados  de  Mau- 
rini,  is,  pelo  diapasão  francez  o  por  au. 

Também  Mauriis,  i,  deu  Maurilius,  ii^  unde  Moiiril,  Mou- 
rilhe  e  Moural  por  Moíiril,  como  cahra  deu  Cabril  e  Cabral. 

Veja-se  o  tópico  supra: — Desinências  el,  il  e  ai. 

Também  Maurus,  /,  deu  Mauricus,  i  —  unde  Mouriga  e 
Mourigo,  povoações  nossas.  ^ 

Por  seu  turno  Mauricus,  i,  deu  Mauricius  —  Maurício, 
nome  d'um  santo,  etc.  —  E  Mauricius  deu  Mauriciolus,  i, 
unde  Mourissó,  povoação  nossa  também. 

Mourissó  é  pois,  diminutivo  de  Mauricio  e  quer  dizer 
Mauricinlio^  —  como  Alijó  e  por  contracção  Lijó,  vêem  de 
Alexiolus,  i,  diminutivo  de  Alexius,  ii  —  Aleixo,  nome  d'um 
santo,  —  e  querem  dizer  Aleixinho. 

Também  temos  Eituró,  povoação,  cujo  nome  veiu  de 
Hectorolus,  i,  diminutivo  de  Hector^  oris  —  Heitor — e  quer  di- 
zer Heitorsinho . 

Cf.  Santo  HeitorzinJw,  nome  que  o  povo  da  freguezia  de 
Loureiro,  concelho  da  Regoa,  dava — e  dá!  —  a  um  virtuosis- 
simo  fidalgo  seu  visinho,  chamado  Heitor,  que  falleceu  ha  pou- 
cos annos  e  —  sem  estar  ainda  canonisado  —  é  tido  e  venerado 
como  santo ? ! ... 

Ha  também  no  Douro,  junto  da  villa  da  Pesqueira^  uma 
formosa  quinta,  chamada  Cidrô.  —  Pertence  a  um  irmão  do  sr. 
Marquez  de  Sovei^al^  nosso  embaixador  em  Londres,  ministro 


'    Junte-se  Mortinho,  aldeia  nossa,  contracção  de  Moiirelinho  !. . . 

—  E'  assim  a  arte  nova  —  e  rira  bien  qui  rira  Ic  dernier. 

-  Também  taurus,  /—touro,  deu  fauricus  e  taaríca  unde  touriga, 
uva,  e  Tourigo,  povoação  nossa,  como  Tourega,  por  Touriga!... 


308  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


d'estado  honorário,  etc,  e  desde  longa  data  persona  grata  de 
Eduardo  vii,  rei  da  Grã-Bertanha,  imperador  das  índias,  etc. 
Na  minha  opinião  Cidró  vem  de  Cidrolus,  diminutivo  de 
Cidrus  —  CidrOf  o  mesmo  Ixidro,  contracção  áe  Ixidortis  -  Izi- 
doro^  antigo  nome  d'um  santo  ^ 

—  A  quinta  do  Cidró  quer,  pois^  dizer  —  quinta  do  Izido 
rinho?!... 

—  E'  assim  a  arte  nova  —  e  rira  bien  qui  rira  le  dernier, 
Veja-se  o  tópico  infra :  —  Diminutivos  com  a  desinência 

olus,  ola. 

Mauricus,  i,  deu  Mauricius,  como  já  dissemos,  —  e  Mau 
ricanus,   i,  unde   Mouricão  supra  —  e  Mourigães  por  Mouri- 
gões  o  mesmo  que  Mouricões,  plural  de  Mouricão ? ! ... 

Nós  também  temos  Mouria,  e  Mourio  por  Moiiria,  con- 
tracção de  Mouraria,  como  Franzia  por  Francezia,  o  mesmo 
que  Francaina,  —  Portuguedia,  o  mesmo  quQ  Fotuguezia{?); 
— Touina  por  Touraria, —  Cárdia  por  Cardaria,  etc. 

Cf.  Galleguia,  Pinheiria,  Vacaria,  Lameiria,  Portelladia, 
Begadia,  Pousia,  Soutama,  Serviçaria^  que  se  encontra  em  Ou- 
teiro da  Serviçaria ;  —  Rebolaria  e  Rebolia,  contracção  do 
Rebolaria,  etc,  povoações  nossas,—  e  Bainharia  (o  povo  diz 
Banharia  ?)  —  rua  do  Porto» 

Veja-se  o  tópico  supra  :  —  Desinência  —  ia. 

Volvendo  á  mourama  da  nossa  onomástica,  ainda  temos 
Mourisia,  o  mesmo  que  Mouraria  e  Mouria? 

•^-Mourisca,  Mouriscas  e  Mourisco  supra  —  vêem  de 
mourisca  e  mourisco^  —  terras  de  mouros,  o  mesmo  que  3Jou- 
risia,  Mouraria  e  Momna  supra. 

—  Mouro  deu  Mourisco  e  Mourisca,  como  Franco  deu 
Francisco  e  Francisca. 

—  Moura,  appellido  vulgar,  é  o  mesmo  que  Mouro.  — 
Tomou  a  desinensia  a  por  o,  como  Barbosa  por  Barboso,  Mos- 
queira por  Mosqueiro  ^  —  e  talvez  Ferreira  por  Ferreiro;  mas 
Ferreira,  appellido  d'este  Petrus  in  cumctis,  nihil  in  omni  bus, 
—  talvez  provenha  do  latim  ferraria — ferraria  ou  mina  de  ferro. 


*  Tambcm  temos  um  casal  c  uma  quinta  com  o  nome  de  Cidro  —  e 
nas  Caldas  do  Moíledo  os  Quartéis  do  Cidro,  bastante  espaçosos  e  com 
uma  capella.  mandados  fazer  nos  princípios  do  século  xix  pelo  capitão  Ci- 
dro, da  Regoa. 

São  também  povoações  nossas  Izidro,  Izidoro,  Santo  Izidoro,  Santo 
Izidro  —  e  Zido  por  zidro,  contracção  de  Izidro  ?  / . . . 

2  Mosqueiro  é  o  mesmo  que  Moscoso,  appellido  portuguez  nobre, 
ç  antigo  também. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMÍCA  309 


Veja-se  no  Ehiddario  o  longo  tópico  Ferros,-  tópico 
interessantissimol —  O  seu  illustrado  auctor  n*elle  prova  que  o 
officio  de  ferreiro  antigamente  foi  muito  considerado  e  muito 
importante,  pelo  que  outrora  o  appellido  Ferreiro  foi  appellido 
nobre  e  adoptado  por  cavalheiros  distinctos,  que  se  orgulhavam 
de  ser  ferreiros  de  forja  e  exploradores  de  minas  de  ferro. 

Cita  um  documento  das  Salxedas,  do  anno  1227,  no  qual 
figura  como  doador  Fernão  Martins  Ferreiro,  casado  com  Do- 
na Águeda! — Isto  prova  que  o  dito  Ferreiro  era  um  fidalgo 
distincto,  pois  no  século  xiii  eram  raras  as  senhoras  com  o 
tratamento  de  dom. 

No  documento  citado,  —  como  diz  Viterbo,  —  o  tal  Fer- 
não Martins  Ferreiro  doou  aos  monges  das  Salzedas  uma  vi- 
nha em  Ermamar,  onde  chamam  Vai  de  Nácar... 

Ahi  vão  alguns  dislates  meus : 

—  Ermamar  é  hoje,  sem  contestação,  Ar  mamar,  villa  e 
sede  de  concelho  e  comarca  do  districto  de  Vizeu. 

—  Vai  de  Nácar  é  talvez  hoje  Vacalar,  povoação  perten- 
cente á  freguezia,  villa  e  concelho  d^Armamar,  mencionada 
na  Chorographia  Moderna. 

A  escala  seria:  —  Vai  de  Nácar  —  Valnacar  —  Valcanar 
—  Valcalar  —  Vacalar  ?/ . . . 

A  Viterbo  não  occorreu  tal  etymologia,  mas  outra  muito 
'^  diíFerente,  que  pôde  vêr-se  no  Elucidário,  artigo  liacalar  ou 
Baccallar  (sic), —  o  mesmo  que   Vacalar. 

A  dita  povoação  é  pequena,  mas  bem  situada,  muito  an- 
tiga, muito  vistosa  e  única  do  seu  nome  em  Portugal  e  na 
Hespanha,  pelo  que  na  minha  opinião,  como  já  disse,  d'ella 
procedeu  talvez  o  appellido  Bacalar,  muito  nobre  e  muito 
antigo  na  Hespanha.  —  O  Marquez  de  S.  Filippe,  laureado  es- 
criptor  hespanhol  do  século  xvii,  —  chamava  se  D.  Vicente 
Bacalar  y  ^ana/.., 

E'  também  appellido  hespanhol  Barrilar  —  e  talvez  pro- 
venha da  povoação  do  Barrilar,  que  demora  em  frente  do 
Vacalar,  mettendo-se  de  permeio  apenas  um  pequeno  rio  ou 
ribeiro, —  e  pertence  também  á  mesma  villa  e  freguezia  d^Ar- 
mamar. 

Note  se  que  a  povoação  do  Barrilar  é  também  única  do 
seu  nome  era  Portugal  e  na  Hespanha,  ^ 


^  Com  vista  ao  meu  proli-parente:  —primo,  sobrinho,  compadre, 
afilhado,  herdeiro  e  exceíknte  pessoa,  mencionado  supra,  -  Albino  Ro- 
drigues Cardoso  Corvaceira  —  residente  em  Lisboa,  pois  é  filho  do  Va- 


310  TKNTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPOXYMICA 


Também  Cardoso  e  Fonseca  são  appellidos  de  varias  fa- 
mílias nobres  em  Portugal  e  na  flespanha,  —  famílias  que  ti- 
veram o  seu  solar  nas  pequenas  povoações  de  Cardoso  (abun- 
dante em  cardos)  —  e  Fonseca  {fonte  secca),  pertencentes  á 
freguezia  de  S.  Martinho  de  Mauros y  concelho  actual  de  Re- 
zende. 

Volvendo  ainda  ao  Fernão  Martins  Ferreiro^  dono  da  tal 
vinha  de  Vai  de  Nácar  em  1227,  diremos  que  elle  talvez 
fosse  habitante  ou  visinho  do  Vacalar,  porque  junto  d'esta 
povoação  ha  outra,  chamada  Ferradosa,  o  mesmo  que  Ferra- 
jostty  abundante  em  ferro,  povoação  nossa  também. 

Não  será,  pois,  dislate  suppôr  que  o  tal  Fernão  Martins 
explorasse  in  illc  tempore  os  jazigos  de  ferro  da  dita  povoa- 
ção da  Ferradosa,  e  que  d'essa  exploração  tirasse  a  fortuna  e 
o  appellido  Ferreiro. 

Desculpem  os  meus  poucos  leitores  tantos  dislates. 

Viterbo  menciona  também  o  Grande  Affonso  Fernandes 
Barhuz  (sic),  natural  de  Arrifana  de  Sousa^  hoje  Penafiel,  que 
—  sendo  fidalgo  distincto  — era  ferreiro  por  offlcio?!... 

Também  menciona  um  Pedro  Ferreiro  (quasí  Pedro  Fer- 
reira'^!...)—  que  em  1222  deu  foral  aos  que  andavam  po- 
voando a  sua  herdade  na  margem  direita  do  Zêzere,  chamada 
hoje  villa  de  Ferreira  do  Zêzere  ?  /... —  E  cita  documentos  de 
Thomar,  nos  quaes  o  dito  Pedro  umas  vezes  se  chama  Ferra- 
rias,—  outras  Faher,  o  mesmo  que  Ferrarius  —  e  outras  Fer- 
reiro, o  mesmo  que  Faher  e  Ferrarius. 

O  tal  meu  homonymo  Pedro  Ferreiro  era  homem  tão 
importante,  que  dava  foraes  aos  povoadores  das  suas  terras?!... 


Ao  dito  Pedro  Ferreiro  doou  muito  espontaneamente  D. 
Sancho  I  uma  grande  porção  de  terra,  chamada  Valdorjaens, 
junto  de  Thoniar^  em  1191_, — •  doação  que  D.  Affonso  ii  con- 
firmou, chamando  as  ditas  terras  Ordiaes, —  o  mesmo  que  Gr- 
jaens  ( Valdorjaens)  supra^,  —  Grgens,  Orjaes  e  Cevadaes,  po- 
voações nossas  também. 

Note-se  que  Ordiaes  —  na  minha  opinião  —  vem  do  la- 
tim hordeum,  i,  —  cevada;  —  q  Gr  jaens,  actualmente  Grgens 


calar,  visinho  da  Ferradosa  e  do  Barrillar—  e  dono  actual  do  casarão 
onde  eu  nasci  na  pequena  povoação  da  Corvaceira  —  mesmo  em  frente 
da  Estação  do  Molledo,  como  já  disse. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPOXYMICA  311 


e  Orjaes,  —  vem  do  francez  Orge,  que  significa  também  ce- 
vada. 

Nós  actualmente  não  temos  povoação  alguma  com  c 
nome  de  Ordeaes  nem  Ovdiaes,  mas  temos  Orfje^  Orgens  e 
Orjaes  —  Cevadeira,  Cevadinha  e  Cevadaen. 

Tanto  1).  trancho  I  n'aquella  doação,  como  D.  Affonso 
II  na  confirmação,  dizem  que  o  tal  meu  homonymo  Pedro 
Ferreiro  foi  creado  com  elles  no  Paço, —  militou  com  elles  e 
lhes  prestou  relevantes  serviços  na  batalha  de  Monte  Mor, 
etc,  —  pelo  que  lhes  cumpria  estimal-o,  defendel-o  e  ampa- 
ral-o,  —  tanto  a  elle  Fedro  Ferreiro,  como  aos  seus  filhos  e  á 
sua  familia. 

Não   leu  pela  mesma  cartilha  o  nosso  rei  venturoso  I , . . 

Devia  ser  muito  importante  a  herdade  supra  —  e  muito 
estimada  pelo  tal  Pedro  Ferreiro  ;  mas,  não  obstante  isso,  elle 

—  sendo  casado  e  com  successão  —  era  tão  rico  e  tão  generoso 
que  no  seu  testamento  a  doou  aos  Templários^  addiccionan- 
do-lhe  ainda  a  sua   Villa  Verde,  etc. 

Legou  também  aos  Templários  o  seu  melhor  cavallo  e  a  sua 
armadura  de  ferro  completa— além  de  vinte  morahitinos  em  ouro. 

E'  muito  interessante  a  dita  verba  testamentária,  pois 
n'ella  se  mencionam  todos  os  artigos  d' uma  armadura  de  ferro 
completa  in  illo  tempore,  pelo  que  Viterbo  a  copiou  textual- 
mente no  logar  citado.—  Attendite  et  videte. 

Note- se,  porém,  que  Viterbo  a  copiou  textualmente  no 
baixo  latim  da  época ;  —  mas  não  a  traduziu  nem  é  fácil  a 
traducçâo  —  mormente  a  dos  vocábulos  Perpuntum,  carraxos 
e  templorittm  ou  iemptorium,  que  n'ella  se  encontram?!..  . 

Veja- se  o  Glossário  de  Ducange. 

No  mesmo  artigo,  Viterbo  falia  muito  e  muito  bem  da 
villa,  do  concelho,  do  castello  e  do  convento  de  Ferreira 
d'' Aves,  bem  como  dos  Paehecos,  senhores  da  mencionada 
villa,  ostentando  muita  erudição  no  esboço  histórico,  et3'mo- 
logico  e  genealógico  do  appellido  Pacheco. 

Fallando  da  villa  de  Ferreira  d' Aves,  entre  outras  coi- 
sas diz,  que  a  rainha  D.  Thereza  a  povoou  ou  repovoou  e  lhe 
deu  foral;  — que  os  nossos  primeiros  reis  alli  puzeram  juizes 

—  e  que  um  dos  juizes  para  alli  mandado  por  D.  Affonso 
Henriques  chamava- se  Pedro  Oydiz. 

I)o  exposto  se  vê  que  Oydiz  foi  appellido  nobre  e  muito 
antigo  em  Portugal,  e  na  minha  opinião  Oydix  ou  Oydis  deu 
ou  podia  dar  Ois  da  Ribeira  e  Ois  do  Bairro,  povoações  e  fre- 
guezias  nossas.  Fiat  lux. 


312  TENTATIVA   ETYMOLOGUCO-TOPONYMICA 

Agora  o 

flPPEhhDDO  PflCBECO  * 


Viterbo,  fallando  dos  Pachecos,  antigos  senhores  de  Fer- 
reira  á^Aves,  descendentes  de  Fernão  Rodrigues  Pacheco,  o 
celebre  defensor  do  castello  de  Celorico  da  Beira  no  anno  de 
124Õ,  por  D,  Sancho  II  contra  o  Irmão  D.  Affonso  III,  conde 
de  Bolonha f  insurge-se  contra  os  que  dizem  que  o  dito  alcaide 
foi  o  primeiro  que  usau  o  appellido  Pacheco. 

Sustenta  que  o  appellido  PacheJco  ou  Pacheco  é  mais  an- 
tigo e  com  certeza  já  vem  do  século  xii, —  anno  1193  — 
como  provou  no  seu  artigo  Deo  Vota, 

.  Viterbo  também  cita  um  documento  de  1290,  que  faz 
referencia  a  um  certo  Gonçalo,  abbade  da  freguezia  de  Pa- 
chaco,  por  certo  muito  antiga,  da  qual  se  originou  o  appel- 
lido Pacheco. 

Também  diz  que  esta  familia  Pachecos  produzira  muitas 
pessoas  notáveis,  entre  ellas  Lopo  Fernandes  Pacheco,  um  dos 
doze  da  Inglaterra,  cantados  por  Camões,  —  e  Diogo  Lopes 
Pacheco,  um  dos  assassinos  de  Ignez  de  Castro,  etc. 

Ahi  vão  agora  também  alguns  dislates  meus. 

—  No  foral  de  Castello  Mendo  —  anno  de  1229  —  figuram 
como  testemunhas  Suerius  Petri  pacheca  e  Johannes  menendi 
pacheca. 

Portugaliae  Monumenta,  1.  Foralia,  pag.  612. 

—  Suerius  Petri  PacheÃ^a  (talvez  o  vaesmo pacheca  supra ! . . .) 

—  figura  em  outro  documento  sem  data,  mas  do   século   xir. 

Elucidário,  vb.  Deo   Vota,  pag.  259,  col.  2.^  —  mihi. 

—  Também  no  foral  d^ Aguiar  de  Sousa  —  do  anno  1269 

—  figura  como  testemunha  Domingos  pacheco  ? 

Foralia  —  71õ. 

—  Também  no  foral  da  Azambuja,  do  anno  de  1272, 
figura  entre  as  testemunhas —  gonçaleannes  pachacho  cavalleiro 

—  e  em  uma  variante  se  lê  pachaco. 

Foralia  —  727. 

Do   exposto  se  vê  que  o  appellido  Pacheco  foi   vulgar 


*  Chamo  para  estas  pobres  linhas  a  attcnção  do  sr.  dr.  José  Cor' 
rêa  Pacheco,  meu  bom  e  velho  amigo  e  um  dos  meus  poucos  leitores, 
fidalgo  distincto,  proprietário  e  capitalista  e  actualmente  vereador  da  ca- 
mará municipal  do  Porto. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  313 


entre  nós  nos  séculos  xii  e  xiii  com  as  formas  Pachacho, 
Pachaco,  Pacheka  e  Pacheco.  * 

E'  pois,  como  diz  Viterbo^ — muito  anterior  a  1245,  data 
em  que  Fernão  Rodrigues  Pacheco  se  immortalisou  defendendo 
o  castello  de  Celorico  da  Jieira. 

Supponho  até  que  o  appellido  Pacheco  já  vem  do  tempo 
dos  romanos  e  íoi  tirado  de  Paciecis^  familia  romana,  men- 
cionada por  Damião  de  Góes  na  sua  Hispânia, 

O  Magnum-Lexicon  latino  e  o  Diccionario  Clássico  não 
mencionam  tal  familia ;  mas  Paciecus,  nome  ou  cognome  ro- 
mano, é  mencionado  por  Paulns  Mamdiícs,  Epist.  18;  —  Cicero^ 
Epist.  1.*,  livro  XII  Ad  Atticum  e  livro  iv  Famil.  Epist.  18. 
—  e  Hirtius  —  De  Bello  Hispani...  * 

Também  nos  Commentarios  de  César ^  pag.  232,  se  lê 
pouco  mais  ou  menos  o  seguinte  : 

Tendo  César  recebido  emissários  de  Córdova,  que  então 
obedecia  di  Pompeu,  pedindo-lhe  soccorros  para  tomarem  aquel- 
la  cidade,  César  annuiu,  mandando  contra  ella  um  bom  nu- 
mero de  tropas,  comprehendendo  peões  e  cavalleiros  —  «  de 
los  quales  hizo  capitan  un  hombre  conocido  de  aquella  pro- 
víncia, hombre  sábio,  que  se  llamava  Lúcio  Jiinio  Pacheco.. .y> 

Do  exposto  se  vê  que  na  Hespanha  —  já  antes  do  nas- 
cimento de  Christo  —  houve  o  appellido  Pacheco?!... 

Note-se  que  Pompeu  Magno  morreu  assassinado  no  Egypto, 
contando  de  edade  59  annos, — no  anno  48  antes  do  nas- 
cimento de  Christo,  —  E  Sexto  Pompeu,  filho  de  Pompeu  Ma- 
gno, foi  assassinado  no  anno  35  A.  Ch, 

Apenas  sobreviveu  ao  pae  treze  annos. 

Era  também  muito  valente  e  chegou  a  commandar  uma 
esquadra  de  350  velas,  pelo  que  se  dizia  filho  de  Neptuno  e  Se- 
nhor dos  Mares  fl... 

Nós,  além  do  appellido  ainda  hoje  vulgar  —  Pacheco, 
temos  varias  povoações  —  aldeias,  casaes  e  quintas  — com  os 
nomes  de  Pacheca,  Pacheca  de  Baixo,  Pacheca  de  Cima,  Pa- 
checas,  Pacheco  e  Pachecos. 

—  A  Hespanha — que  eu  saiba — apenas  tem  quatro 
povoações  com  os  nomes  de  Pacheca,  Pachecas  e  Pacheco  nas 
províncias  de  Albacete,  Cadiz,  Cuenca  e  Murcia  —  e  Pachs  na 
de  Barcelona, 


1    Talvez  que  Pachacho  se  lesse  Pachaco  pois  ch  q  k  ou  q  substi- 
tuiram-se  e  confiuidiram-sc,  como  já  dissemos. 
'^   J.  Rosini,  pag.  908,  col.  l.a  e  2.» 


314  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Cf.  também  Pachí,  povoação  da  Anatólia,  na  Turquia  da 
Ásia,  —  Pachino  e  Paceco^  povoações  da  Itália,  na  Sicília, 
mencionadas  por  Besclierelle  e  Devars. 

Mas  qual  a  etymologia  de  Pacheco  ? 

Viterbo,  como  já  disse,  lembroa-se  da  velha  freguezia 
Pachaco. 

Eífectivamente  Pachaco  podia  dar  Pacheco.  Supponho 
até  que  Pacheco  e  Pachaco  são  formas  do  mesmo  nome,  — 
bem  como  Pachacho  por  Pachaco  supra;  mas  qual  a  etymo- 
logia de  Pachaco,  Pachacho  por  Pachaco  —  e  Pacheco? 

Nos  idiomas  latino,  porticguez,  francez,  castelhano,  italiano 
e  toscano,  apenas  encontro  o  vocábulo  italiano  pachetto  —  pa- 
cote, embrulho  —  que  podia  dar  Pacheco,  pois  na  onomástica 
portugueza  ta,  to,  tu  e  ca,  co,  cu  substituíram- se  e  confundi- 
ram-se,  como  já  disse. 

Mas  deixemos  o  italiano  pachetto — pacote,  embrulho, 
masso  de  cartas  —  e  tentemos  outra  erymologia. 


•  Talvez  que  Pacheco  venha  do  supposto  latim  bárbaro 
paciecus,  i,  tirado  de  pt^x,  acis  —  paz,  como  pacatas  e  pacificus 
—  pacato,  pacifico,  sereno^,  manso,  affavel,  tranquillo,  —  for- 
mas anteriores  ou  posteriores  de  paciecus  ? 

V.  o  Glossário  de  Ducange,  que  agora  não  tenho,  á  mão 
e  que  é  indispensável  para  este  ramo  d'estudo. 

A  forma  paciecus,  i,  encontra-se  em  Paciecis,  familia  ro- 
mana, mencionada  por  Damião  de  Góes  na  sua  Lusitânia, 
citada  supra. 

Paciecus  podia  sem  violência  dar  Pacheco  e  n'este  caso 
Pacheco  é  synonimo  de  affahiUs  —  affavel,  cortez,  mimoso, 
que  por  seu  turno  deram  Cortez,  appellido  vulgar, — e  Mi- 
moso, appellido  nobre  e  antigo. 

Também  temos  Cortez,  Corfezes,  Cortezia,  Cortezões,  Mi- 
mosa e  Mimoso,  povoações  nossas,  cujos  nomes  foram  tirados 
de  Cortez  e  Mimoso  supra,  synonimias  de  Paciecus  —  Pa- 
checo ? 

Também  Paciecus  —  Pacheco  —  é  synonimo  do  latim 
blandus,  i — brando,  —  que  deu  Blanda  e  Blandina,  nomes  de 
santos. 

Blandina  foi  nome  pessoal  em  Trancoso,  no  meu  bom 
tempo. 

Blandanus,    outro    diminutivo    de   blandus  —  brando  — 


TENTATIVA    ETYMOLOaiCO-TOPONYMIOA  315 


deu  Bnindano^  também  nome  d'um  santo,  o  mesmo  que  bran- 
dão, appellido  e  nome  de  varias  povoações  nossas. 

liíandufi  deu  também  lUandinus,  i,  unde  Blandina,  su- 
pra, —  e  Jirandim^  povoação  nossa. 

Por  seu  turno  BlandinnSy  «,  deu  Blandianus',  i — e  Blan- 
dinianus^  i,  is — unde  Brandlão  e  Brandinhaes  por  Brandi- 
nhães,  povoações  nossas  também. 

Paciecus'  —  Pacheco  í  —  é  também  synonimo  do  latim  be- 
nignus  —  aífavel,  cortez,  benigno,  que  deu  Benigno,  nomo 
d'um  santo,  etc. 

—  Pôde  também  dizer-se  que  é  synonimo  do  latim  jíi- 
ctmdus  —  alegre,  jucundo,  suave,  que  deu  Jucundo,  Jucunda, 
Jucundinoe  Jucundina.  nomes  de  santos, —  bem  como  Jagunda 
por  Jucunda  — formosa  campina  junto  da  villa  de  Ceia^ ! .  .  . 

—  Pôde  também  dizer-se  que  Pacíecus  —  Pacheco?  —  é 
s3^nonimo  do  latim  álacris — jucundo,  animado,  vivo,  alegre^ 
que  deu  Alegro  e  Alegre,  appellidos  nossos  também,  —  Mon- 
talegre, Portalegre,  Vista  Alegre,  etc,  povoações  nossas. 

Pôde  egualmente  dizer-se  que  Paciecus  —  Pacheco?  —  é 
também  synonimo  do  latim  de  Varrão  mansues  —  brando^ 
plácido,  pacifico,  sereno,  manso,  que  deu  Manso,  appellido 
nosso  também,  —Manso  e  Mansos,  nomes  de  santos,  —  Man- 
sa, Mansas  e  S..  Mancos,  povoações  nossas. 

—  Pôde  egualmente  dizer-se  que  Paciecus  —  Pacheco? — 
manso,  pacato,  pacifico,  alegre,  jucundo,  generoso,  é  também 
synonimo  do  latim  bónus — bom,  —  que  deu  Bona,  Bom  e 
Bôà,  nomes  de  santos,  —  Bom  João,  aldeia,  —  Jambo,  o 
mesmo  que  João  Bom  e  Bom  João,  povoação  nossa  também, 

—  e  Santo  Homem  Bom,  capella,  rua  e  largo  de  Vianna  do 
Castello. 

Junte  se  Casal  da  Nabôa  ou  d'Anna  Boa,  como  se  lê  na 
Chorographia  Moderna,  —  ou  antes  Casal  de  Dona  Boa,  pois 
em  velhos  documentos  do  cabido  de  Lamego  já  eu  encontrei 
Dona  Boa. 

Note- se  que  o  dito  casal  —  é  muito  antigo  e   muito  lindo 

—  e  demora  junto  do  santuário  de  Nossa  Senhora  dos  Remé- 
dios, no  aro  de  Lamego. 

Pôde  também  dizer-se  qu^  Paciecus  —  Pacheco  —  é  syno- 
nimo do  latira  generosus  —  liberal,  generoso,  que  deu  Gene- 
rosa e  Generoso,  nomes  de  santos. 

—  E'  também  synonimo  do  latim  Uberalis,  e,  que  deu 
LJberal,  appellido,  —  e  pela  forma  làthm  liberal e  —  den  Li- 
vralde,  povoação  nossa. 


316  TENTATIVA   ETYMOLOGTCOTOPONYMICA 


—  E'  também  synonimo  do  latim  pacatus  —  sereno,  pa- 
cifico, pacato,  tranquillo,  manso,  que  deu  Pacato,  appellido,  e 
pela  forma  Pacati  deu  Pagade,  povoação  nossa. 

—  Pôde  egualmente  dizer-se  que  Paciecus — Pacheco?  — 
é  synonimo  do  latim  seremis  —  tranquillo,  pacato,  sereno, 
que  deu  Sereno  e  Serena,  nomes  de  santos,  —  Serem,  Serena, 
Serenas,  Sereno  e  talvez  Serina  por  Serena,  povoações  nossas. 

—  E'  também  synonimo  de  tranquilltis  —  sereno,  manso, 
tranquillo,  —  que  deu  Tranquillo,  Tranqmlla,  Tranquillino  e 
Tranquillina,  nomes  pessoaes,  —  Tranquillino,  nome  d' um 
santo,  —  e  Tranquillo,  appellido  já  do  tempo  dos  romanos!... 

Cf.  Stietonio  Tranquillo,  famoso  historiador  romano. 

Viveu  no  tempo  do  imperador  Adriano  e  foi  desterrado 
da  corte  por  falta  d'attenção  para  com  a  imperatriz  Sabina. 

No  seu  desterro  continuou  a  merecer  a  amizade  de  PU' 
nio,  o  Moço,  —  correspondia-se  com  elle  —  e  dedicou-se  intei- 
ramente ao  estudo. 

Escreveu  muito,  mas  a  única  das  suas  obras  que  chegou 
até  nós  —  é  A  Vida  e  a  Historia  dos  doze  primeiros  Cezares 
—  e  alguns  fragmentos  do  seu  Catalogo  dos  grammaticos  mais 
celebres. 

A  dita  Historia  é  muito  considerada  e  muito  elogiada 
pela  sua  exactidão,  mas  censura  se  a  dureza  e  aspereza  com 
que  descreve  os  defeitos  e  as  estravagancias  dos  Cezares.  ^ 

Tranquillus  deu  ou  podia  dar  Tranquilhos,  povoação 
nossa,  —  e  Tranquillitas  —  o.  Tranquillidade  —  foi  uma  das 
muitas  deusas  da  antiguidade. 


Por  ultimo  diremos  que  Paciecus  —  Pacheco  —  é  também 
synonimo  do  latim  placidiis  —  manso,  tranquillo,  pacato,  se- 
reno, plácido,  que  deu  Plácida  e  Plácido,  nomes  de  santos, 
—  e>  S.  Plácido,  capella  e  sitio  da  freguezia  e  concelho  de 
Taboaço. 

Também  na  minha  opinião  Placidinius,  ii,  lis,  diminutivo 
de  Placidus,  — deu.  Prazins,  nome  de  varias  povoações  e  fre- 
guezias  nossas. 

—  Com  vista  ao  meu  boS  e  velho  amigo  —Plácido  Au- 


í  A  historia  do  povo-rei  menciona  outro  Suetonio  muito  notável. 
Refiro-me  a  Suetonio  Paulino,  o  primeiro  general  romano  que  atravessou 
o  Atlas  com  um  exercito. 

Governou  a  Grã-Bretanha  por  espaço  de  vinte  annos  —  e  por  ul- 
timo foi  feito  cônsul. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMTCA  317 


gusto  de  Moura  Vasconcellos  —  chantre  do  cabido  de  Lamego^ 
tendo  sido  alli  reitor  do  Seminário  episcopal  muitos  annos  — 
e  anteriormente  fâmulo  do  í^r.  I),  Joné  de  ^foura  Coutinho, 
benemérito  prelado  de  Lamego,  patricio  e  particular  amigo 
d'elle,  —  ambos  naturaes  da  freguezia  á^Arnoia,  concelho  de 
Celorico  de  Banto, 

As  minhas  relações  com  o  dito  rev.  sr.  Plácido  jà  vêem 
do  tempo  em  que  fomos  condiscipulos  em  Lamego,  nas  aulas 
de  preparatórios  —ou  desde  184G.  —  Contam,  pois,  a  bagatella 
de  sessenta  e  três  annos?!.., 

—  Vive  também   ainda  no  Douro,  —  lá  na  minha  Pena- 

julia  ou  Penajoia  —  um  meu  particular  amigo  desde  o  tempo 

em  que  fomos  condiscipulos  na  aula  d'instrucção  primaria,  em 

1839  a  1841. —  Contava  eu  então  7  a  9  annos  ~  e  elle  talvez 

8  a  10. 

Chama-se  José  Fernandes  d"" Almeida  e — apesar  de  ser 
um  pouco  mais  velho — ainda  está  muito  mais  vigoroso  do  que 
eu?!... 

Contam  as  nossas  relações  a  bagatella  de  68  a  70  annos 
—  e  foram  sempre  cordeaes. 

Honram-me  também  ainda  com  a  sua  amisade  —  e  mes- 
mo intimidade —  desde  o  meu  bom  tempo  de  Coimbra  —  1851 
a  1856  —  o  sr.  dr.  Manoel  de  Barros  Nobre,  benemérito  des- 
embargador actual  na  relação  dos  Acjores,  prestes  a  ser  trans- 
ferido para  a  relação  do  Porto, —  e  o  rev.  dr.  Abilio  Ribeiro 
Alvares  de  Mello,  cunhado  do  fallecido  conde  de  Tavarede  — 
e  cónego  á^Evora,  etc. 

Foi  também  meu  contemporâneo  em  Coimbra  e  até  hoje 
meu  intimo  amigo  —  o  sr.  conselheiro  António  Camillo  d' Al- 
meida Carvalho,  —  dono  da  bella  casa  da  Ermida,  no  Douro, 
e  que  já  foi  deputado,  etc. 

Falleceu  também  ha  poucos  annos  na  cidade  da  Figueira 
o  dr.  Júlio  César  d' Almeida  Rainha,  da  opulenta  casa  Rainhas, 
de  Gouveia,  que  foi  deputado  em  difierentes  legislaturas,  meu 
contemporâneo'  e  condiscipulo  em  Coimbra  e  desde  então  meu 
intimo  amigo,  até  que  falleceu. 

— Honrou-me  também  com  a  sua  amisade  desde  o  nosso 
bom  tempo  de  Coimbra  até  que  falleceu  em  abril  ultimo  — 
o  rev.  dr.  Alexandre  J.  Freire  de  Faria  e  Silva  —  que  foi  có- 
nego —  thesoureiro-mór  do  cabido  à'' Évora  e  alli  por  vezes 
governador  do  arcebispado,  etc. 

— Foi  também  muito  meu  amigo  até  que  falleceu  em 
Braga,  sendo  alli  cónego  professor,  o  meu  contemporâneo,  cou- 


318  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


discípulo,  companheiro  de  casa  no  ultimo  anno  da  nossa  for- 
matura —  e  primeiro  premiado  do  nosso  curso  —  José  Gomes 
Martins^  de  S.  Pedro  da  Torre,  —  por  antonomásia  o  theologo 
—  pois  era  considerado  e  respeitado,  como  primeiro  theologo 
de  Portugal,  no  seu  tempo?  !... — V.  pag.  B67  e  382  do  1.°  vol. 

—  Foi  também  meu  contemporâneo  em  Coimbra  e  meu 
companheiro  de  casa  no  dito  anno  lectivo,  o  sr.  dr.  Pedro 
Augusto  Dias,  depois  lente  muito  distincto  da  Escola  Medico- 
Cirurgica  do  Porto^  actualmente  aposentado,  que  é  um  dos 
meus  poucos  leitores  e  ainda  me  penhora  com  a  sua  estima. 

Honra-me  também  com  a  sua  amisade  e  particular  esti- 
ma desde  1858  (?)  o  sr.  conselheiro  Francisco  Ribeiro  da  Sil- 
va, inspector  geral  das  obras  publicas,  etc. 

Honrou-me  também  sempre  com  a  sua  estima  o  sr.  conde 
d'' Âlpendm^ada  —  desde   1858  —  até   que  falleceu  ha  poucos 

annos.  J 

Também  desde  longa  data  o  sr.  conde  de  Samodães,  meu  M 

patrício  e   visinho   lá  no  Douro,  me  trata  melhor  do  que  eu  í 

mereço,  —  e  em  1889  me  deu  a  honra  de  acceitar-me  como 
collahorador  do  livro  :  —  Monumento  á  memoria  de  D,  António 
Luiz  da  Veiga  Cabral  e  Camará,  bispo  de  Bragança. 

Foram  também  coUaboradores  do  mesmo  livro  o  sr.  pa- 
dre Arthur  Eduardo  d"" Almeida  Brandão,  distincto  escriptor 
publicO;,  deputado  em  varias  legislaturas,  —  meu  bom  amigo 
também  desde  a  sua  infância,  —  e  Mgr.  Manoel  António  Pires, 
então  cónego  de  Bragança,  excellente  pessoa,  distincto  escri- 
ptor também  e  meu  bom  amigo  desde  1882  até  que  falleceu. 
— Era  um  santo  ! ... 

—  Penhoraram- me  também  durante  muitos  annos  com  at- 
tenções  e  finezas  os  meus  bons  amigos  e  mestres  —  Joaquim 
Possidonio  Narciso  da  Silva,  benemérito  archeologo,  —  e  o 
distincto  escriptor  e  virtuosíssimo  sr.  Ignacio  de  Vilhena  Bar- 
bosa, —  até  que  falleceram. 


Honrou-me  também  com  particular  estima  até  que  falle- 
ceu—  o  sr.  D  José'  de  Moura  Coutinho,  santo  bispo  de  La- 
mego, que  me  ordenou  em  1857  e  pouco  depois  me  nomeou 
professor  do  seminário,  examinador  synodal  e  vigário  geral 
interino,  por  estar  velho  e  decrépito  o  rev.  dr.  Diogo  de  Ma- 
cedo Per.eira,  então  provisor  e  vigário  geral  da  diocese. 

Prometteu-me  também  sua  ex.*  a  nomeação  definitiva  de 


TENTATIVA    ETVMOLOOICO-TOPONYMTCA  319 


provisor  e  vigário  geral  por  fallecimento  do  dito  senhor,  mas 
infelizmente  íalleceu  antes  d'elle  o  santo  bispo!... 

Deus  o  tenha  em  bom  logar,  como  firmemente  creio,  pois 
era  mrtuoslssimo  ! 

J)evo-lhe  as  maiores  finezas  e  —  para  d'algum  modo  lhe 
significar  a  minha  gratidão  e  não  me  expor  ao  infame  labéu 
de  ingrato — vejam-se  no  Portugal  antigo  e  moderno,  vol.  ix, 
pag.  350,  o  meu  artigo  Telho,  casa  nobre  da  freguezia  de 
Arnoia,  concelho  de  Celorico  de  Basto,  onde  s.  ex.*  nasceu,— 
e  Villa  Pouca,  aldeia  da  mesma  freguezia  á^Arnoia,  vol.  xi, 
pag.  897,  col.  2.»  e  segg. 

Em  um  e  outro  dos  mencionados  artigos  se  encontram 
largas  noticias  genealógicas  e  biographicas  do  sr.  D.  José  de 
Moura  Coutinho  —  e  dos  seus  últimos  representantes  —  dois 
sobrinhos. 

Também,  como  já  disse,  me  honrou  com  a  sua  amizade 
e  particular  estima,  desde  que  fui  para  Coimbra  em  1851,  até 
que  falleceu  em  1875  na  sua  casa  da  rua  da  Alegria  —  o  sr. 
dr.  José  Ernesto  de  Carvalho  e  Rego  —  meu  patrício^  pois  era 
natural  da  minha  Penajulia  ou  Penojoia  lá  no  Douro. 

Foi  meu  lente  de  theologia  na  Universidade  e  depois  vi- 
ce-reitor  da  mesma  —  durante  21  a  22  annos  consecutivos, — 
caso  raro,  rarissimo,  nos  annaes  da  Universidade. 

—  Era  tão  meu  amigo,  que  chegava  a  dizer:  —  Lamento 
que  este  rapaz  vão  seja  meu  sobrinho ! 

Devo-lhe  as  maiores  finezas,  pelo  que  também  para  não 
me  expor  ao  infame  lahe'u  de  ingrato,  dei  ao  meu  antecessor 
Pinho  Leal  uma  longa,  minuciosa  e  muito  conscienciosa  bio- 
graphia  de  s.  ex.»,  que  pode  vêr-se  no  artigo  Penajoia,  do 
Portugal  antigo  e  moderno,  vol.  vr.  pag.  562  a  564. 

Devo  também  a  máxima  gratidão  ao  mordomo  do  santo 
bispo  de  iMmego  supra,  que  me  ordenou. 

Chamava-se  elle  José  António  Dias;  —  viveu  muitos  annos 
com  o  dito  prelado  e  era  tão  estimado  e  considerado  por  elle, 
que,  pelo  facto  de  terem  ambos  o  nome  —  José,  se  dizia  que 
em  Lamego  havia  ao  tempo  dois  prelados:  —um  José  Bispo 
—  e  outro  Bispo  José. 

Ambos  me  estimavam  muito  ~  e  o  Bispo  José  —  o  tal 
José  António  Dias,  que  era  uma  exceli  ente  pessoa,  —  na  sua 
rude  franqueza  chegou  a  dizer  me:  —  Ninguém  é  mais  seu 
amigo  do  que  eu  —  exceptuando  unicamente  seus  pães!... 

'  —  Effectivamente   assim   era  e  d'isso  me  deu  provas  pe» 
nhorantissimas  durante  annos  —  até  que  falleceu. 


320  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


* 
*         * 

Devo  também  muita  gratidão  à  memoria  do  meu  bondoso 
amigo  e  collega — Fortunato  Casimiro  da  Silveira  e  Gama, 
natural  da  cidade  da  Figueira  e  que  foi  muitos  annos  abbade 
de  Quinchães,  junto  de  Fafe,  onde  se  collou  em  1859  e  fal- 
leceu  no  dia  10  de  março  de  1896,  ás  duas  horas  da  ma- 
nhã. 

Era  virtuosissimo  e  generosíssimo^  tão  modesto  como  il- 
lustrado  —  e  um  bibliophilo  distincto. 

Deixou  uma  livraria  selecta,  de  cinco  a  seis  mil  volumes 
talvez,  sendo  muitos  d'elles  comprados  por  mim  nos  leilões 
do  Porto. 

Como  tinhamos  intimas  relações  e  eu  ao  tempo  era  assí- 
duo frequentador  dos  leilões  de  livros,  —  mandava-lhe  os  res- 
pectivos catálogos,  —  elle  indicava  os  n.°^  que  pretendia,  — 
eu  liçitava-os  na  praça  e  depois  enviava-lhe  os  que  podia 
obter. 

Era  tão  generoso,  que  estava  sempre  a  dizer- me :  —  Tire 
os  que  lhe  agradarem,  pois  com  isso  me  penhora. 

Nunca  tirei  um  único,  mas  s.  ex.*  deu -me  alguns  ma- 
nuscriptos  que  são  hoje  códices  da  Bihíiotheca  Municipal  do 
Porto,  dados  por  mim. 

Também  s.  ex.*  possuia  um  bom  mealheiro,  comprehen- 
dendo  muitas  medalhas  e  moedas  antigas,  sendo  algumas  ra- 
7*as  e  caras,  —  mealheiro  avaliado  em  um  conto  de  reis  apro- 
ximadamente e  que  muito  generosamente  offertou  ao  Museu 
Ai'cheologico  da  cidade  da  Figueira,  sua  terra  natal,  onde  se 
guarda  e  conserva. 

Foi  s.  ex.^  educado  em  Vizeu,  onde  collaborou  no  Libe- 
ral, jornal  em  que  publicou  vários  artigos,  avultando  entre 
elles,  um  intitulado :  —  O  Cardeal  D.  Miguel  da  Silva  e  a 
quinta  de  Fontéllo  —  interessante  folhetim  que  assignou  e  pô- 
de vêr-se  em  o  n.**  163  do  dito  jornal. 

Possuia  elle^  cemo  saudosa  recordação  do  seu  bom  tem- 
po, a  collecção  completa  do  mesmo  jornal  muito  bem  enca- 
dernada, —  collecção  que  por  fineza  especial  me  deu  também 
e  hoje  se  encontra  na  Bibliotheca  Municipal  do  Porto,  dada 
egualmente  por  mim,  bem  como  outros  jornaes,  differentes 
livros  e  vários  códices  ou  manuscriptos,  —  ao  todo  mais  de 
setenta. 

Só  com  relação  ao  mosteiro  de  Arouca  dei  á  mencionada 
Bibliotheca  uns  15  a  20  códices,  —  alguns  muito  interessantes 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  321 


e  todos  muito  dignos  de  serem  consultados  por  quem  se  pro- 
ponha escrever  com  relação  ao  dito  convento. 

No  meu  longo  artigo  Vize/i,  pôde  vôr-se  no  Portu(j(d  an- 
ti go  e  moderno,  vol.  xir,  pag.  1810  e  1817  a  biograpliia  do 
meu  saudoso  amigo  e  collega  —  Fortunato  Casimiro  da  Sil- 
veira e  Gama. 

Deus  o  tenha  em  bom  logar,  como  firmemente  creio,  pois 
era  um' .santo!... 

Eu  nunca  tive  a  honra  de  o  ver. 

(guando  visitei  Fafe,  em  186G^  ainda  o  não  conhecia^  aliás 
iria  comprimental-o,  pois  já  elle  era  abbade  de  Quinchãe.s, 
freguezia  próxima  de  Fafe. 

Nasceu  na  Figueira  no  dia  22  de  setembro  de  183.o.  ^ — 
Foram  seus  pães  Francisco  Casimiro  da  Gama,  varão  de  no- 
bre linhagem,  natural  da  villa  á'Ançã,  official  do  exercito  e 
um  dos  bravos  do  Mindello,  tendo  assentado  praça  como  cade- 
te, —  e  Z).  Maria  Manuela  Cândida  de  Gouveia  e  Seixas,  na- 
tural de    Vizeu. 

Fallecendo  o  pae  na  Figueira,  approximadamente  em  1843, 
a  viuva  passou  para  Vixeu,  sua  terra  natal,  e  levou  com  ella 
o  filho,  nosso  biographado,  que  ao  tempo  contava  apenas  oito 
annos. 

Foi  fâmulo  do  Bispo  de  Vizeu  —  D.  José  Joaquim  de 
Azevedo  e  Moura  que,  sendo  transferido  para  o  arcebispado  de 
Braga  em  1856,  o  levou  com  sigo. 

Em  Braga  concluiu  a  sua  ordenação ;  —  no  dia  24  d'ou- 
tubro  de  1858  celebrou  com  grande  pompa  a  primeira  missa 
—  e  logo  no  anno  seguinte  —  1859  —  foi  apresentado  e  se  col- 
lou  na  abbadia  de  Quinchães,  onde  se  conservou  até  que  fal- 
leceu  em  1896,  como  já  dissemos. 

Foi  portanto  s.  ex.^  abbade  de  Quinchães  37  annos,  posto 
que  o  sr.  D.  José  Joaquim  d' Azevedo  e  Moura,  arcebispo  de 
Braga^  que  muito  o  estimava,  por  vezes  lhe  oífereceu  melhor 
collocação  e  outras  honras  que  o  nosso  biographado,  pela  -sua 
modéstia  e  padecimentos  recusou,  bem  como  a  eleição  de  pro- 
curador á  junta  geral  do  districto,  etc. 


* 


'     Era  cerca  de  três  annos  mais  novo  do  que  eu,  pois  nasci  em  14  de 
novembro  de  1832. 


21 


o 


22  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Foi  s.  ex.*  sócio  eífectivo  da  Sociedade  promotora  das 
Bellas  Artes  em  Portugal,  —  sócio  correspondente  da  Real 
Associação  dos  Be7iemeritos  italianos  de  Palermo  —  e  sócio  fun- 
dador e  benemérito  da  Real  Associação  Arclieoloyica  da  cidade 
da  Figueira, 

Travámos  relações  approximadamente  em  1872  por  causa 
dos  livros  —  e  duraram  ellas  24  annos — até  que  s.  ex.*  fal- 
leceu  em  1896. 

As  coisas  passaram-se  assim : 

—  Eu  havia  comprado  em  um  leilão  aqui  no  Porto  um 
ms.  muito  interessante,  luxuosamente  encadernado  em  chagrin 
com  filetes  dourados,  escripto  em  papel  inglez  e  muito  boa 
caligraphia,  mas  sem  assignatura. 

Pelo  contexto  vi  que  o  tal  códice  foi  escripto  pelo  re\. 
dr.  António  dos  Santos  Leal,  de  Moncorvo,  deputado  supplen- 
te  ás  cortes  de  1822,  desembargador  da  camará  ecclesiastica 
de  Braga,  abbade  de  Quinchães —  e  por  ultimo  Vigário  Geral 
e  governador  do  bispado  de  Pinhel,  onde  falleceu. 

Desejando  eu  saber  se  o  tal  ms.  era  eíFectivamente  do 
dr.  Santos  Leal  e  autographo,  —  escrevi  ac  rev.  abbade  de 
Quinchães,  pedindo-lhe  me  esclarecesse_,  ao  que  s.  ex.*  muito 
amavelmente  sem  demora  satisfez. 

Começaram  assim  as  nossas  relações. 

O  tal  ms.  é  hoje  também  um  códice  da  Bibliotheca  Mu- 
nicipal do  Porto,  dado  por  mim,  —  códice  muito  interessante, 
pois  é  a  historia  minuciosa  e  muito  conscienciosa  da  revolução 
que  o  general  Silveira,  2.°  conde  d' Amarante  e  1.**  marquez  de 
Chaves,  fez  em  Traz  os  Montes,  no  anno  de  1823,  derrogando 
a  constituição  de  1820  e  proclamando  novamente  rei  absolu- 
to D.  João  VI. 

O  ms.  —  além  da  revolução  propriamente  dieta  —  com- 
prehende  a  emigração  do  general  Silveira  com  a  sua  grande 
divisão  atravez  da  Hespanlia  até  ás  proximidades  de  Burgos, 
— a  sua  contra  marcha  até  Salamanca  —  e  de  Salamanca  até 
Lisboa^  a  pedido  de  />.  Miguel,  para  o  auxiliar  na  villafran- 
cada,  etc, 

Note-se  que  o  auctor  do  ms.—  Santos  Leal  —  era  amigo  do 
general  Silveira  e  o  acompanhou  durante  a  dieta  revolução  e 
durante  a  emigração  na  Jfespanha,— indo  com  o  estado  maior 
no   quartel  general  e  foi  secretario  particular  do  Silveira!?... 

Santos  Leal  descreve,  pois,  a  dieta  revolução  e  a  emigra- 
ção cOiHO  testemunha  ocular,  fazendo  por  vezes  "apreciações, — 
talvez  muito  justas,  mas  pouco  lisonjeiras  para  o  próprio  seu 


TENTATIVA    ETVMOLOGICO-TOPONYMTCA  323 


amigo  general  Silveira  o  para  outrcs  generaes  da  mesma  di- 
visão, porque  o  auctor,  como  se  vê  do  contexto,  escreveu  o 
dicto  codico  —  não  para  o  dar  ao  prelo  —  mas  tão  somente  e 
unicamente  i)aí'(i  seti  uso  particidar  ! ... 

—  Tem,  pois,  muito  merecimento  o  dicto  códice,  pelo  que 
eu,  antes  de  o  dar  á  /iihliotheca,  o  mostrei  ao  sr.  Jo.sé  Pereira 
dr  Sampaio  (Urano)  —  distincto  escriptor  c  historiador,  auoto- 
risando-o  para  o  copiar,  como  eífectivamente  copiou. 


* 


Tambom  devo  muita  gratidão  á  memoria  do  rev.  Manoel 
Henrique  da  Silva  Machado,  reitor  de  Bornes,  junto  das  Pe- 
dras Salgadas,  pois  desde  1874  até  que  íalleceu  ás  11  horas 
•da  noute  de  26  de  novembro  de  1893,  me  honrou  com  part  i- 
cular  estima. 

Duraram  as  nossas  relações  19  annos. 

EUe  não  foi  escriptor,  mas  era  bastante  illustrado  e  muito 
amante  de  livros,  pelo  que  deixou  uma  das  melhores  livrarias 
transmontanas,  comprehendendo  ao  todo  cinco  a  seis  mil  vo- 
lumes, comprados  muitos  d'elles  por  mim  nos  leilões  do  Porto. 

Apenas  se  distribuiam  os  catalagos,  eu  mandava- lhe  um; 

—  elle  indicava^me  os  números  que  pretendia  ;  —  eu  licitava-os 
na  praça,  como  licitava  outros  para  mim  e  para  o  santo  ab- 
bade  de  Quinchães  ;  —  depois  mandava- lhe  os  que  podia  obter. 

Assim  comprei  nos  leilões  do  Poi^to  —  durante  longos 
annos  —  muitos  livros  para  o  dicto  meu  collega  e  para  o  san- 
to abbade  de  Quinchães,  ambos  já  fallecidos  —  e  eu  prestes  a 
marchar! ... 

Para  a  biographia  de  s.  ex.^  veja-se  no  Portugal  antigo  c 
moderno,  vol.  xr,  pag.  1:371  e  1:372,  — o  meu  artigo  Villarinho 
das  Paranheiras,  concelho  de  Chaves, — freguezia  onde  s.  ex.* 
nasceu  no  dia  26  d'abril  de  1834. 

Era  mais  novo  do  que  eu  cerca  de  dois  annos^  pois  nasci 
em  14  de  novembro  de  1832. 

T^oi  também  um  dos  meus  amigos  da  velha  guarda  o  rev. 
Dionizio  Ignacio  de  Sampaio  e  Mello  —  desde  184(i,  data  em 
(pie  nos  encontrámos  em  Lamego  nas  aulas  de  preparatórios, 

—  até  que  falleceu  na  Cogulla.  freguezia  do  concelho  de  Tran- 
coso, no  dia  2  d'abril  de  J  900  ~-  ou  durante  Ò4  annos. 

Elle  era  filho  de  Marialva,  concelho  actual  da  Meda,  mas 
na  partilha  da  casa  tocou  lhe  um  bom  casal  que  tinham  na 
Cogulla,  onde  passou  os  últimos  annos  da  vida  muito  socegado, 


B24  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Pertencia  s.  ex.*  a  uma  familia  das  mais  nobres  e  antigas 
de  Marialva,  e  era  primo  co- irmão  do  sr.  dr.  José  Tibério  de 
Reboredo  Sampaio  e  Mello,  que  foi  também  meu  contemporâ- 
neo em  Lamego,  nas  aulas  de  preparatórios,  ~  e  depois  em 
Coimbra^  onde  se  formou  em  Direito,  sendo  posteriormente 
advogado  em  Foscôa,  governador  civil  de  Viseu,  deputado  ás 
cortes,  etc. 

Este  sr.  Tibério  também  tomou  parte  na  grande  desordem 
que  se  feriu  em  Coimbra  no  dia  128  de  fevereiro  de  1854 — 
entre  a  academia,  o  povo  e  a  tropa  que  ao  tempo  guarnecia 
a  cidade, — desordem  precursora  da  celebre  Ihomarada. 

Na  campanha  diurna  s.  ex.°  nada  soffreu :  mas  na  cam- 
panha nocturna  do  mesmo  dia,  quando  tolamente  parte  da  aca- 
demia foi  ao  bairro  baixo  e  na  subida  ou  passagem  da  Praça 
do  Commercio  para  a  rua  da  Calçada  dispararam  do  angulo  E. 
S.  E.  da  dita  praça  contra  a  academia  alguns  tiros,  —  foi  um 
dos  três  estudantes  que  ficaram  feridos!... 

—  Uma  bala  partiu-lhe  um  dos  dedos  polegares; — outra 
bala  feriu  de  raspão  na  testa  o  académico  Leandro  José  da 
6V>síí7,  natural  de  S.  Thomô,  na  Africa  Occidental  ;  —  o  terceiro 
ficou  ferido  no  peito,  mas  também  de  raspão  e  levemente. 

—  Eu  acompanhei  o  farrancho  :  —  assisti  á  campanha 
diurna  e  nocturna — e  fiz  toda  a  celebre  Thomarada,  mas  fe- 
liz mente  nada  soffri. 

— Bom  tempo  era  aquelle  em  que  eu  apenas  contava  22 
annos,  —  emquanto  que  hoje  —  1909  — estou  derreado  de  todo, 
vergado  ao  peso  de  77  annos  e  de  87  kilos?!... 

Vejam-se  as  pag.  175  a  187  supra,  onde  descrevi  a  ce- 
lebre Thomarada. 

Veja-se  também  no  Portugal  antigo  e  moderno^  vol.  xi, 
pag.  774  a  776,  o  meu  artigo  Villa  Maior,  freguezia  do  con- 
celho de  S.  Pedro  do  Sul^  onde  ad  perpetuam  rei  memoriam 
contei  um  episodio  da  mesma  Thomarada,  —  eipisoáio  que  nip 
fez  chm^ar ;  mas  d'ahi  a  poucos  minutos  Já  ria  e  cantava. 

Prosi  gamos. 


O  meu  bom  e  velho  amigo  supra  Dionisio  Ignacio  de  Sam- 
paio e  Mello  —  era  também  primo  do  sr.  António  Maria  Ho- 
mem da  Silveira  Sampaio  e  Mello,  do  Pabaçal,  freguezia  do 
concelho  e  comarca  da  Meda,  —  um  dos  fidalgos  mais  ricos, 
mais  distinctos  e  mais  considerados  da  JJeira,  no  seu  tempo. 


TENTATIVA    ETYMOLOaiCU-TOPONYMlCA  8*25 


— Foi  8.  ex.*  quem  promoveu  a  fundação  da  comarca  da  Meda, 
só  para  ter  o  tribunal  mais  perto  da  sua  nobre  casa  do  Ra- 
haail . 

Os  meus  poucos  leitores  já  estão  fartos  de  cantigas',  pelo 
que  ahi  vão  algumas  et^^mologias,  a  propósito  do  Rahacal, 

Esta  freguezia  tomou  claramente  o  nome  das  rahaças, 
como  outras  muitas  povoações  nossas,  ao  todo  mais  de  vinte. 
Taes  são: 

—  Rahaça,  Rabaçal,  Rabacas,  Rahaceira,  Rabaceiro,  Ra- 
hacinha,  llabacínas,  no  diapasão  leonez  Rabacihas,  o  mesmo 
íjuo  o  portuguez  Rahacinhas  ;  —  Rabaçosa  e  —  Rabal,  contrac- 
ção de  Rabaçal  f 

Junte-se  também  Ravicaes,  talvez  forma  de  Ravaçaes,  e 
este  de  Rabaçaes,  —  o  mesmo  que  Ribaçaes,  povoação  nossa 
também,  como  Ribncal,  nitida  forma  de  Rabaçal f 

W  assim  a  arte  nova. 

O  padre  Dionizio  era  tão  meu  amigo,  que  por  vezes  foi 
da  Cogtilla,  junto  de  Trancoso,  visitar- me  a  Távora,  concelho 
de  Taboaço,  onde  fui  parocho  três  annos  antes  de  passar  para 
a  freguezia  de  Mlragaya,  no  Porto. 

Também  foi  por  vezes  expressamente  da  Cogulla  ao 
Porto,  só  para  me  ver  e  abraçar  e  passar  commigo  alguns 
dias. 

Note  se  que  elle  já  então  estava  muito  doente,  muito 
gasto^  muito  decepado  e  tinha  de  fazer  a  viagem  da  Cogulla 
a  Trancoso — 10  kilometros  —  em  sella;— de  Trancoso  até  á 
villa  da  Regoa,  cerca  de  80  kilometros,  —  em  diligencia,  —  e 
da  Regoa  ao  Porto  100  kilometros  em  via  férrea. 

Quando  ia  visitar-me  da  Cogulla  a  Távora  transpunha 
mais  de  40  kilometros  de  péssimo  caminho  em  sella  —  e  de 
Tíivora  foi  também  um  anno  commigo  em  sella  e  por  mau  ca- 
minho até  o  meu  casarão  da  Corvacelra,  distante  de  Távora 
cerca  de  30  kilometros  para  O. 

Também  eu  fui  —  não  de  Távora,  mas  do  Porto  —  varias 
vezes  á  Cogulla  só  para  o  ver  e  abraçar  e  passar  com  elle 
alguns  dias. 

—  Elle  tinha  muito  génio,  —  mas  foi  sempre  meu  ánilgo 
extremoso^  muito  sincero  e  muito  dedicado  !.. . 

Foi  também  meu  amigo  intimo  o  dr.  Anfonio  Podriyues 
Pinto,  de  Sande,  junto  de  Lamego,  alli  meu  eoudiscipulo  nas 


326  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


aulas  de  preparatórios  em  1846  a  1849  —  e  depois  meu  con- 
temporâneo em  Coimbra,  onde  se  formou  em  direito  —  e  meu 
condiscipulo  no  primeiro  anno  theologico  —  1851  a  1852. 

Fiz  com  elle  a  campanha  da  Thomarada  em  1858  —  e 
com  elle  regressei  de  Thomar  a  Coimbra, 

Pouco  depois_,  para  melhor  saborearmos  o  grande  farfofe 
de  feriados  que  o  governo  por  essa  occasião  muito  generosa- 
mente  {?...)  deu  aos  convencionados,  —  incorparando  as  férias 
do  Entrudo  nas  de  Paschoa,  —  fiz  com  elle  a  exótica  viagem 
de  Coimbra  até  Lamego,  —  viagem  muito  accidentada,  que  na 
pobre  villa  d^Alva  nos  fez  succumbir  e  chorar!... 

Valeu-nos  o  santo  regedor  da  pobre  villa,  que  muito  ge- 
nerosamente nos  acolheu.  —  Logo  nos  animámos  e  d'ahi  a 
pouco  já  riamos  e  cantávamos!... 

V.  pag.  175  e  seguintes  supra  —  e  no  Portugal  antigo  e 
moderno,  vol.  xi,  pag.  774  a  776,  o  meu  artigo  Villa  Maior^ 
freguezia  do  concelho  de  S.  Pedro  do  Sul,  onde  descrevi  a 
exótica  viagem  —  ad  perpetuam  rei  memoriam. 

O  tal  meu  bom  amigo  António  Rodrigues  Pinto  —  era  um 
talento  verdadeiramente  superior  —  e  um  cavalheiro  a  toda  o, 
prova,  por  ser  filho  de  bom  sangue. 

O  pae,  grande  proprietário  de  Sande,  que  eu  também  co- 
nheci, --  era  honradíssimo  —  e  a  mãe  era  uma  santa! 

—  Qui  viget  in  foliis  venit  e  tradicibus  humor  ^—  ou  talis 
arbor,  talis  fructus  —  tal  a  arvore  tal  o  fructo.  ^ 

O  meu  saudoso  amigo  dr.  António  Rodrigues  Pinto  foi 
advogado  em  Lamego  e  em  Castro  d'Ai/7'e; — passou  depois 
para  a  magistratura  e,  sendo  juiz  de  direito  em  Villa  Real 
de  Traz  os- Montes,  um  dia  escreveu-me  dizendo  que  tenciona- 
va ir  com  a  familia  tomar  banhos  em  Mattosinhos^  pelo  que 
me  pedia  que  fosse  alli  arrendar-lhe  uma  casa. 

De  bom  grado  annui  —  e  pouco  me  incommodei,  pois  vi- 
via então,  como  vivo  ainda  hoje,  no  Porto.  — Alli  fui  cumpri- 
mentai o  algumas  vezes  e  em  uma  das  ultimas  disse-me : 

—  Vem  jantar  commigo  tal  dia...  pois  tenciono  partir  no 
seguinte. 

—  Fui.  Jantámos  e  palestrámos ;  —  no  fim  da  tarde  acom- 
panhou-me   até   o   carro   americano  e  despedimo-nos,  ficando 


'  Com  vista  ao  meu  aíavico  successor  que,  se  Deus  lhe  prolongar  a 
vida,  será  o  sr.  dv.  Joaquim  da  Silveira,  da  Anadia,  —  o  amigo  mais  fal- 
so e  mais  ini^rato  que  n'cste  muudo  encoutrei. 

—  Suave  qui  pent  /. . .  —  V.  pag.  218  a  220,-  337  a  341,  etc—  t  Joa- 
quim da  Silveira,  no  indice  da  l.a  parte. 


TENTATIVA     ETYMOLOGICO-TOFOXYMICA  32' 


elle   de   perfeita  saiide  e  muito  hem  dUposto,  —  Passados,  po- 
rém, dois  dias,  quando  eu  suppuuha  que  elle  já  estivesse  em 
Vil  la  Real  de  Traxos  Montes,  recebi  de  Mattos  inhos  um  tek- 
írramma  da  irmã,  dizendo-me  :  —  Falleceu  o  meu  Antofiinho. 

Fiquei  attouito  !...     -  Parti  logo  ;  —  encontrei-o  ettéctiva- 
mente  já  morto  —  e   coube-me    a  tristíssima  honra  de  acom 
panhar  o  cadáver  até  ao  cemitério?  f.  .  . 

Havia  fallecido  na  véspera,  quasi  repentinamente.  —  ha- 
verá doze  annos  —  ou  em   1897. 

Xós  deviamos  ser  da  mesma  edade:  —  convivemos  muito 
de  perto  em  Lamego  e  em  Coimbra  —  e  tomos  amigos  Íntimos 
durante  mais  de  cincoenta  annos  talvez 

Deus  o  tenha  em  bom  logar,  pois  era  uma  excellente  pes- 
<<">a.um  cavalheiro  a  toda  a  prova  e  um  magistrado  dignissimo. 

Também  ha  muitos  annos  me  trata  melhor  do  que  eu 
mereço  o  ex  "»**  sr.  D.  Joaquim  de  Cor  calho  Azevedo  Mello  e 
Faro,  residente  no  Porto  desde  longa  data,  na  sua  linda  casa 
da  rua  Firmeza.  E*.  porém.  s.  ex  *  meu  patricio,  dono  e  re- 
presentante da  nobre  casa  da  Soenga,  uma  (Jas  mais  antigas 
e  mais  importantes  do  concelho  de  Rezende,  pelo  que  lá  no 
Douro  é  cognominado  D.  Joaquim  da  Soenga. 

Casou  s.  ex.»  em  Baião  com  uma  senhora  da  nobre  casa 
de  -í^enalca,  freguezia  d'Ancede  e  teve  duas  filhas  e  dois  filhos. 

Uma  das  filhas  —  a  mais  velha,  D.  Maria  da  Boa  Xora 
casou  em  primeiras  núpcias  com  o  sr.  Carlos  Maria  da  Cu- 
nha Coutinho,  das  Casas  Xovos,  freguezia  de  Santa  Marinha 
do  Zêzere,  concelho  de  Baião  também :  *  —  e  casou  em  se- 
gundas núpcias  com  o  sr.  António  Borges,  da  freguezia  de 
Fontellas,  concelho  da  Regoa,  sendo  também  já  viuvo  —  e 
agora  viuvo  novamente,  pois  a  dita  senhora,  sendo  ainda  muito 
rigorosa,  já  falleceu.  deixando  successão  de  ambos  os  maridos. 

A  outra  filha  do  sr.  D,  Joaquim  da  Soenga  chama  se  D. 
Maria  do  Sacramento ;  —  casou  com  o  seu  primo  ^4/caro  d'A^e- 
Yfdõ  Pinto  Leme — da  dita  casa  de  Penalva^  e  ainda  vive. 

Dos  filhos  do  sr.  D.  Joaquim  —  o  mais  velho,  /).  Ale.ran- 
dre,  ainda  está  solteiro  —  o  mais  novo.  por  nome  D.  Pedro, 
casou  ha  annos  com  a  sr.»  D.  Carolina  Pereira  Dias,  filha  do 
sr.  conselheiro  e  digno  par  do  reino — dr.  Manoel  Pereira 
Dias,  dono   da   casa  de  Rendufe,  em  Rezende,  que  foi  depu- 


'  \^eja-se  o  meu  longo  artigo  Zêzere  (Santa  Marinha  do),  freguezia 
do  concelho  de  Baião,  no  Portugal  antigo  e  moderno,  volume  xu,  pag. 
2:113  e  2:114. 


328  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMÍCA 


tado  em  varias  legislaturas,  lente  e  decano  da  faculdade  de  Me- 
dicina na  Universidade  de  Coimbra  e  durante  annos  reitor  da 
mesma  Universidade. 

S.  ex.^  ainda  vive  na  sua  nobre  casa  de  Rendufe^  mas 
deve  estar,  como  eu^  jâ  velho  e  gasto,  pois  fomos  contempo- 
râneos em  Coimbra  e  devemos  ter  com  pouca  differença  a 
mesma  edade. 

Volvendo  â  nobre  casa  da  Soenga,  ainda  me  recordo  de 
ver  o  sr.  D.  Alexandre^  pae  do  sr.  D.  Joaquim,  —  mas /a  ca- 
dáver, pois  coube-me  a  honra  de  assistir  ao  funeral  d'elle. 

Também  me  recordo  de  dois  irmãos  de  s.  ex.* :  —  D. 
Francisco  de  Carvalho  Azevedo  Mello  e  Faro,  casado  em  Mões, 
junto  de  Castro  d^A(/re,  —  e  D.  Frederico  d^ Azevedo  Faro  e 
No7'onha,  que  foi  lente  de  direito  rornano  em  Coimbra ,  no  meu 
bom  tempo  d'estudante. 

Morava  s.  ex.^  na  Couraça  de  Lisboa,  onde  se  dignou  re- 
ceber-me  e  palestrar  commigo  algumas  vezes. 

Era  uma  excellente  pessoa. 

As  minhas  relações  com  o  sr.  D.  Joaquim  da  Soenga  já 
contam  54  a  55  annos,  pois  datam  de  1854  a  1855,  —  anno 
em  que  '(se  bem  recordo)  s.  ex.*  casou  ,com  a  sr.*  D.  Maria 
Rosa  Pinto  Leme,  filha  de  Francisco  Carlos  Pinto  Leme,  da 
nobre  casa  de  Penalva,  freguezia  de  Ancede,  em  Baião.     • 

Datam  as  nossas  relações  d'aquelle  anno,  porque  s.  ex.* 
para  festejar  o  seu  casamento  —  deu  um  grande  baile  na  sua 
nobre  casa  da  Soenga,  baiie  para  que  se  dignou  convidar-me 
e  ao  meu  irmào  Jorge  Augusto  Ferreira  que,  sendo  mais  ve- 
lho do  que  eu  dois  annos,  ainda  vive  no  casarão  da  Corva- 
ceira,  onde  nascemos.  ^ 

Ao  mesmo  baile  assistiu  também  o  dr.  José  Júlio  d' Oli- 
veira Pinto,  ao  tempo  meu  contemporâneo  em  Coimbra  e  que 
em  1862  ou  em  1863,  sendo  deputado  e  director  geral  do 
ministério  dos  negócios  ecclesiasticos  e  de  justiça,  foi  morto 
em  IJsboa  no  dia  29  de  marco  em  um  duello  fatal.  ^ 


í  Eu  nasci  em  1832  — e  o  snr.  D.  Joaquim,  segundo  me  consta, 
nasceu  em  1833  ou  1834. 

Somos,  pois,  da  mesma  edade,  com  pequena  differença. 

2  V.  Barqueiros  no  Porugal  antigo  e  moderno,  vol.  l.o  pag.  366, 
—  CO  meu  longo  artigo  Zêzere  (S.  Marinha  doj,  vol.  xii,  pag.  2115,  on- 
de mencionei  a  triste  occorrencia,  fallando  da  nobre  casa  da  Ermida  e  do 
meu  bom  e  velho  amigo,  dono  d'ella,  —  o  conselheiro  António  Camillo 
d' Almeida  Carvalho,  pois  sendo  então  deputadr,  foi  padriniio  áo  dr.  José 
Júlio,  seu  visinho  e  amigo  particular,  no  duello  que  o  victimou !. . . 


I 


TENTATIVA    ETYMOLOGICOTOPONYMICA  329 


Eu  senti  muito  aquella  triste  occorrencia  ^por  todas  as 
considerações,  —  nomeadamente  porque  s.  ex  *  —  além  de  ser 
uma  excellente  pessoa  o  um  talento  superior,  —  foi  meu  con- 
temporâneo em  Coimbra,  —  tratou-me  sempre  melhor  do  que 
eu  merecia  —  e  devo-lhe  em  grande  parte  a  minha  apresenta- 
ção na  abbadia  de  Tacora^  solar  dos  'Javora.s,  concelho  de 
'JahoaçOj  onde  fui  parocho  três  annos  —  18()1  a  1864—  antes 
de  me  transferir  para  o  Porto. 

Também  a  minha  familia  deve  muita  gratidão  ao  primo 
do  sr.  D.  Joaquim  da  /^oenga  —  D.  Christocani  Noronha  Md- 
1o  e  Faro  de  Barreto  —  dono  do  palácio  de  Porto  de  Rei,  na 
margem  esquerda  do  Douro,  —  um  pouco  a  jusante  da  nobre 
casa  da  Soeriga,  —  mesmo  em  frente  da  estação  actual  de 
Porto  de  Rei,  na  linha  férrea  do  Douro. 

Foi  s.  ex.'*  padrinho  d'uma  minha  irmã  e  teve  muitas  re- 
lações com  o  meu  pae  desde  1828  até  que  falleceu,  approxi- 
madamente  em  1890,  —  já  decrépito,  solteiro,  sem  successão 
o  ah  intestato,  na  sua  casa  do  Villar,  freguezia  de  Barro, 
concelho  de  Rezende  também. 

V.  Villar,  curioso  artigo  meu  no  Portugal  antigo  e  Mo- 
derno, vol.  xr»  pag.  1:173  a  l:l7õ. 

—  E^  curioso  o  mencionado  artigo_,  porque  eu,  citando 
os  Foros  de  S.  Martinho  de  Mouros,  indiquei  varias  familias 
que  no  século  xiv  avultavam  entre  as  mais  nobres  de  Rezen- 
de e  expliquei  o  motivo  porque  outrora  algumas  povoações, 
como  o  Porto,  Pinhel,  Villa  Real,  etc,  muito  estimavam  o 
privilegio  de  não  poderem  morar  nellas  fidalgos  nem  ricos 
homens. 

Comprova  também  esta  asserção  o  estranho  e  horroroso 
facto  que  mencionei  no  meu  longo  artigo  Pinhel,  praticado 
pelo  marichal  D.  Fernando  Coutinho,  pelo  seu  filho  D.  Hen- 
rique e  pelo  conde  de  Marialva^  seu  sobrinho,  no  segundo 
quartel  do  século  xv. 

V.  Pinhel  no  Portugal  antigo  e  moderno,  vol.  vii,  pag. 
70  e  71. 

De  passagem  direi  que  o  mencionado  artigo  —  é  todo 
meu, — como  Pinho  Leal  declarou  no  artigo  Pontos  do  Douro, 
artigo  meu  também,  —  no  mesmo  vol.  vii  do  Portugal  antigo 
e  moderno.^  pag.  200. 

Volvendo  á  longa  série  d 'amigos  que  por  fortuna  encon- 
trei neste  mundo,  ainda  mencionarei  mais  alguns. 

Foram  também  meus  contemporâneos  em  Coiml)ra  e 
honraram-me  com  a  sua  estima  vários  filhos  de  Rezende,  avul- 


330  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


tando  entre  elles  o  sr.  conselheiro  e  digno  par  do  reino  — 
Manuel  Pereira  Díaí^,  dr.  de  capello  em  medicina,  lente  e 
decano  da  mesma  faculdade,  —  excellente  pessoa  e  talento 
superior,  —  deputado  ás  cortes  em  varias  legislaturas  e  por 
ultimo  bastantes  annos  reitor  da  Universidade^  qíc. 

Casou  s.  ex.a  com  uma  irmã  do  visconde  de  Rendufe  e 
teve  dois  filhos,  que  falleceram  de  tenra  edade, — e  duas  fi- 
lhas que  ainda  vivem.  A  mais  velha  —  D  Lucinda  -  casada 
com  o  sr.  dr.  Albano  de  Magalhães,  de  Felgueiras,  meu  bom 
amigo  e  magistrado  dignissimo,  actualmente  juiz  de  direito; 
—  a  mais  nova  —  D.  Carolina  —  casou  com  o  sr.  D.  Pedro 
de  Mello  e  Faro,  filho  do  sr.  D,  Joaquim  da  Soenga. 

O  sr.  coxiselheiro  e  digno  par  do  reino  —  Manuel  Pereira. 
Dias  —  deve  ser  da  minha  edade,  mas  já  o  não  vi  ha  muitos 
annos. 

O  sr.  D.  Joaquim  da  Soertga  -  além  do  filho  D.  Pedro 
supra,  teve  mais  dois  filhos  e  duas  filhas  de  legitimo  matri- 
monio. 

Dos  filhos  um,  de  nome  D.  António  (?)  falleceu  de  tenra 
edade ;  —  o  outro,  por  nome  D.  Alexandre,  como  o  avô,  ainda 
está  solteiro. 

Das  filhas,  a  mais  velha  —  D.  Maria  da  Boa  Nova  —  ca- 
sou a  primeira  vez  em  Baião  com  o  sr.  Carlos  Alaria  da  Cu- 
nha Coutinho — e  teve  successão ;  ^ — ficando  viuva,  casou  se- 
gunda vez  em  Fontellas,  concelho  da  Regoa,  com  António 
Borges,  também  viuvo  e  agora  viuvo  novamente,  como  já  dis- 
semos.—  A  mais  nova  —  D.  Maria  do  Sacramento  —  csison 
em  Penalva  supra,  com  o  seu  primo,  o  sr.  Manoel  Alraro 
d' Azevedo  Pinto  Leme. 

Foi  também  meu  contemporâneo  em  Coimbra  um  excel- 
lente moço  —António  Pinto  Dias  Chaves,  filho  do  dr.  Manoel 
Pinto  Dias  Chaves,  dono  da  casa  do  Carujeiro,  freguezia  de 
>S.  Frei  Gil,  concelho  de  Rezende.  ^  —  O  pobre  moço  não  se 
formou,  porque  adoeceu  gravemente.  O  pae,  que  era  um  bom 
fiacultativo,  levou-o  de  Coimbra  para  a  sua  casa  do  Carujeiío, 
onde  o  tratou  com  o  maior  disvelo_,  mas,  passado  poucto  tem- 
po, falleceu,  o  que  muito  senti,  porque  tanto  o  pao  como  o 
filho  eram  muito  meus  amigos. 


'  V.  Casas  Novas,  no  meu  longo  artigo  Zêzere,  do  Portugal  antif^o 
e  moderno,  vol.  xii,  pag.  2:113,  col.  l.-i. 

2  Carujeiro  é  unia  fornia  de  corujeiro,  abundante  em  corujas,  aves 
nocturnas;  —  Gil  vem  de  Egídio  —  e  este  de  Heziodo,  nome  grego. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  BBl 


Foi  também  meu  contemporâneo  em  Coimbra  e  muito 
meu  amigo  até  que  íklleceu  —  o  dr.  José  'íeixeira  Borges 
Soeiro  d^Ãhneida,  natural  de  Fornêllo  (pequeno  forno)  —  fre- 
guezia  de  .S'.  Martinho  de  Mouros,  concelho  de  Rezende  tam- 
bém. 

Formou-se  em  direito,  —  seguiu  a  magistratura  —  e  mor- 
reu ha  bastantes  annos,  sendo  juiz  de  direito  na  villa  da  /V.v- 
qneira. 

(^utro  meu  contemporâneo,  filho  de  Rezende^  foi  o  dr. 
Frederico  de  Sequeira  Coelho  de  Macedo,  natural  da  povoação 
de  Cantini  de  Baixo,  freguezia,  concelho  e  comarca  de  Jíezende, 
onde  foi  advogado.  —  Casou  com  a  sr.^  D.  Izabel  Cardo^io  Gi- 
rão, da  quinta  do   BairrOj  concelho  de  Rezende  também. 

Ainda  vive,  mas  já  viuvo  o  com  filhos  —  e  deve  ser  da 
rainha  edade. 

* 

Como  os  leitoreu  já  estào  fartos  de  cantigas,  ahi  vão  al- 
gumas etymologias. 

— ^Na  minha  opinião  Cantitti  vem  de  Quentim,  diapasão 
francez  de  Quintim  por  Quintini,  patronímico  de  Quintinus  /, 
—  Quintino,  nome  d'ura  santo,  etc,  diminutivo  de  Quintas  ~ 
Quinto,  nome  romano  e  também  nome  d'um  santo,  tirado  de 
quinttis  —  quinto,  adjectivo  numeral. 

Note-se  que  os  romanos,  como  já  dissemos,  tiraram  nomes 
pessoaes  de  todos  os  seus  adjectivos  numeraes,  —  áe.^áe prinius, 
que  deu  Primo,  nome  d' um  santo,  e  Prime,  aldeia,  quinta  e 
titulo  de  condado,  — até  nonus  e  decimus,\xnáei  Nonna,  Nonno^ 
Nuno,  Nunilona  e  Nunilono,  nomes  de  santos,  etc. 

Também  Quintus,  i,  deu  Quintilitise  Quintiliaiius —  Quin- 
tiliano, famoso  sábio  romano  e  professor  de  rethorica,  auctor 
do  Compendio  de  Quintiliano,  que  vigorou  entre  nós  até  o 
tempo  cm  que  eu  estudei  preparatórios. 

Também  Quintus  deu  Quiutius  e  QuintiunuSj  i,  is,  unde 
Quinchàes,  freguezia  do  concelho  de  Fafe  — e  Quintião^  aldeia 
da  freguezia  de  Camhres,  concelho  de  Lamego. 

Quintinus,  i,  como  já  dissemos,  deu  Cantim,  duas  aldeias 
do  concelho  de  Rezende,  etc.  —  Por  seu  turno  Cantini  deu  ou 
podia  dar  Contim,  Gontim,  Gondim,  etc.  —  povoações  nossas, 
— •  e  talvez  Gontinhães.^  o  (iondinhães  —  de  (rontinianis,  pa- 
tronímico de  Gontinianus,  i^  diminutivo  de  Gontinus,  i,  que 
deu  Guntim  e  Gondim  supra. 


332  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


E'  assim  a  arte  nova  —  e  rira  hien  qiii  rira  le  dernier!  ?... 

Foram  também  meus  contemporâneos  em  Coimbra  —  e 
desde  então  afé  hoje  me  honraram  com  a  sua  estima  —  dois 
filhos  de  Rezende,  naturaes  da  povoação  de  Córdova,  fregue- 
zia  de  S.  Pedro  de  Pá  as. 

São  elles  o  dr.  Albino  Augusto  Guedes  de  Mello —  e  o 
seu  irmão  Eduardo  Guedes  de  Mello,  filhos  de  Alexandre  Ro- 
drigues Osório,  proprietário  e  capitalista. 

O  Eduardo  passou  alguns  annos  em  Coimbra  fianando, 
pelo  que  não  se  formou.  Também  até  hoje  — 1909  —  não  ca- 
sou. —  E'  uma  excellente  pessoa  e  ha  muitos  annos  vive  no 
Porto  com  uma  irmã  —  a  mais  nova,  que  elle  muito  estima. 
—  Chama- se  ella  D.  Maria  Au(/usta  Guedes  Pinto  de  Mello, 
senhora  de  muito  merecimento  e  também  solteira. 

Vivem  com  muita  decência  e  muita  independência,  por 
haverem  herdado  de  seus  pães  boa  legitima  e  terem  o  bom 
senso  de  a  conservarem. 

Elle  foi  durante  annos  empregado  da  Real  Companhia 
Vinicola  do  Porto ^  da  qual  era  e  é  accionista,  bem  como  a 
sua  adorada  irmã  supra;  mas,  para  não  se  fatigar  e  por  não 
ter  filhos,  abandonou  o  emprego  —  e  leva  melhor  vida  do 
que  eu  ! .  .  . 

Pode  dizer  com  o  Mantuano :  —  Deus  nolns  haec  otia  fe- 
citl ... 

Além  d'isso  é  natural  do  bom  génio?  —  Eu  nnnca  o  vi 
zangado,  pelo  que,  tendo  nascido  em  1834  ou  1835  —  está 
bem  disposto  e  muito  bem  conservado  ! .  .  . 

O  irmão — dr.  Albino,  pouco  depois  de  formado,  casou, 
com  uma  senhora   muito   linda,  —  D.    Maria  Angelina  Finfo 
Leme  —  da  nobre  casa  de  Penalva  supra,  irmã  da  esposa  do 
sr.  D.  Joaquim  da  Soenga  —  e  teve  apenas  um  filho,  que  fal- 
leceu  de  tenra  edade. 

Foi  administrador  de  concelho  em  Rezende  e  posterior- 
mente conservador  em  Amarante ;  mas,  por  ter  meios  de  so- 
bra para  viver  com  decência  e  independência — e  por  não  ter 
filhos  —  deixou  Amarante  e  vive  com  a  esposa  na  sua  bella 
quinta  de  Lòuredo,  contracção  de  loureíredo,  fieguezia  e  con 
celho  de  Rezende. 

* 

Tiveram  ellos  também  .uma  irmã —  D.  (Carolina  Camlila 
Guedes   de  Mello  —  que  já  falleceu,  havendo  casado  em  18ò3 


TENTATIVA    ETYMOLOOICOTOPONYMICA  333 


OU    1854   com   o  dr.  Johv  Borges  de  Carvalho  Vasconc^llos^  da 
froguezia  (VOUceira,  concelho  de  Mezão  frio,  —  oxcol lente  pes 
soa  e  fidalgo   distincto,    que   ao  tempo  era  o  caculheiro  mais 
rico  da  dita  percebia  e  do  dito  concelho.  ' 

I)'este  consorcio  tiveram  2  filhos  e  'ò  filhas: — António, 
.Jose\  Maria  FAuarda,  outra  Maria  Eduarda  e  Afaria  Josr, — 
todos  já  fallecidos,  exceptuando  o  Joòé  e  a  Maria  Jo.<>é. 

O  António  falleceu  de  tenra  edade. 

O  José  ainda  está  solteiro  e  vive  na  sua  grande  casa 
d'0//'í,7^/rí/, -— Chamase  José  Borges  de  CarvalJio  Vasconcellos 
tSoares  d' Albergaria  —  e  é  talvez  o  homem  mais  corpulento 
que  ha  no  Douro ! .  .  . 

Parece  um  gigante  o  dito  morgado  e,  além  de  ser  muito 
vigoroso  o  muito  alto,  —  é  muito  nutrido. 

—  Pesa  talvez  mais  de  cento  e  vinte  Ailos? ! .  .  . 

A  sr."  D.  Maria  José  Borges  de  Corralho  Vasconcellos^ 
irmã  dó  gigante,  casou  em  Rezende  com  José  Maria  Teixeira 
Pinto  de  (louveia  Vasconcellos ^^\h.o  do  dr.  João  Teixeira  Pinto 
de  Vasconcellos,  conhecido  no  meu  bom  tempo  como  fidalgo  de 
Carosa,  por  viver  na  sua  nobre  casa  e  quinta  de  Carosa,  fre- 
guezia  de  Cambres,  junto  de  Lamego,  onde  havia  casado.  Mas 
s.  ex.*  era  natural  de  Rezende,  irmão  do  dr.  José  Manoel  Tei- 
xeira Pinto,  morgado  e  senhor  da  nobre  casa  de  Villa  Pouca^ 
—  edifício  brazonado,  muito  espaçoso  e  de  construcção  impo- 
nente^ com  quatro  faces  e  um  terreiro,  a  modo  de  claustro, 
no  centro. 

A  casa  de  Villa  Pouca  é  talvez  a  maior  e  mais  regular 
do  concelho  de  Rezende —  e  é  seu  dono  actual  o  dito  sr.  José 
Maria  Teixeira  Pinto,  porque  o  seu  tio  morgado  lh'a  deu  em 
dote,  quando  casou  com  a  dita  sr.^  D.  Maria  José  Borges  de 
Carvalho, 

Os  drs.  José  Manoel  e  João  Teixeira  supra  —  eram  filhos 
de  Diogo  Luiz  Teixeira  Pinto,  morgado  e  senhor  da  casa  de 
Villa  Pouca,  em  Rezende,  o  qual  teve  três  filhos,  todos  bacha- 
réis formados  em  direito,  —  e  seis  filhas^  todas  ainda  soltei- 
ras, —  total  nove  filhos  I . . . 

Foi  s.  ex.^  bastante  prolihco,  mas  levou- lhe  a  palma  Ju- 
lião Sarmento,  visconde  de  Moimenta  da  Beira,  fidalgo  dis- 
tincto e  grande  proprietário  d'esta  mesma  provincia  da  Beira 
Alta,  pois,  como  já  dissemos  —  a  viscondessa,    esposa   d'elle, 


1     V.  Santa  Maria  d'Oliveira,  curioso  artigo  ineii,  no  Portugal  an- 
tigo e  moderno,  vol.  viii,  paginas  428, 


334  TENTATIVA    ETYMOLOGICO  TOPONYMICA 


teve  nada  menos  de  vinte  e  seis  partais  —  e  vingou  vinte  filhos 
e  filhas í!... 

O  dr.  João  Teixeira  Pinto,  de  Carosa  supra,  —  além  do 
filho  José'  Maria  leixeira,  dono  actual  de  Villa  Pouca,  teve 
mais  4  filhas :  —  D.  Maria  da  Piedade,  hoje  viuva  de  Manoel 
Mendes,  de  Cambres,  —  D,  Marii  do  Patrocinio,  casada  com 
Ahilio  de  Mello  Sampaio,  da  nobre  casa  do  l^aco,  freguezia 
de  S.  José  de  Godim,  concelho  da  Regoa^ — D.  Maria  dos 
Prazeres  e  D.  Maria  da  Conceição,  ainda  solteiras. 

A  casa  e  quinta  de  Carosa  foi  dividida  pelos  5  irmãos, 
mas  o  pae  deixou  a  terça  ao  filho,  dono  actual  da  grande  casa 
de  Villa  Pouca  supra,  casado  com  a  sr.^*  D.  Maria  Jo^é  Bor- 
ges.—  São,  pois,  bastante  ricos,  mas  não  têeni  siiccessão — nem 
ella,  nem  os  tios  d'ella  supra,  —  nem  o  gigante  e  morgado 
seu    irmão  ? ! .  .  . 

A  dita  sr.*  J).  Maria  José  Borges,  pelo  lado  materno  é 
prima  do  morgado  de  Córdova  —  Justiniano  César  Osório  — 
conhecido  também  por  Justiniano  de  Cordoca,  que  no  tempo 
da  revolução  da  Junta  do  Porto — 1846  a  1847 — deu  brado 
como  guerrilheiro  I 

Não  era  natural  do  bom  génio,  como  são  os  dois  primos 
e  meus  bons  amigos  Eduardo  e  Albino  supra. 

Birrando  com  as  prepotências  dos  Cahraes,  ~~  armou  uma 
guerrilha  de  200  homens  seus  visinhos,  muito  valentes,  bem 
escolhidos  e  capitaneados  por  elle,  como  tenente  coronel  c  com- 
mandante  do  batalhão  de  voluntários  de  Rezende^  titulo  dado 
pela  Junta  do  Porto. 

Foi  um  guerrilheiro  muito  ousado  e  muito  valente;  — 
deu  brado  durante  a  dita  revolução  —  e  pôde  denominar-se  o 
Galamba  da  Beira. 

Com  os  seus  200  voluntários  incommodou  muito  a  divi- 
são do  conde,  então  ainda  barão  do  Casal,  composta  de  õ:000 
homens,  que  estava  em  Lamego,  a  15  kilometros  de  Córdova, 
pelo  que  o  dito  general,  a  instancias  dos  Marçaes  de  Foscôa, 
que  andavam  unidos  áquella  divisão  com  a  sua  guerrilha  ou 
antes  quadrilha,  —  mandou  contra  Córdova  e  Rexende  forças 
importantes  varias  vezes. 

Foram  ellas  sempre  batidas,  escorraçadas  e  repellidas 
pelo  valente  guerrilheiro _,  mas,  vendo  que  não  podia  conti- 
nuar a  bater  se  com  forças  tão  superiores, — deixou  Córdova 
o  recolheu-se  ao  Porto. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  335 


Sabendo  isto  os  Marçaes,  foram  com  a  sua  guerrilha  e 
com  outras  forças  ria  mencionada  divisão  a  ro?*r/otY/ ;  sa(|uea- 
ram  a  dita  povoação  e  as  povoações  visinhas  —  e  incendia- 
ram 13  das  melhores  casas,  principiando  pela  do  inonjado 
guerrilheiro,  então  ausente  no  Porto,  —  e  pela  do  seu  primo 
o  visinho  —  Alexandre  Rodrigues  (J.sorio  —  pae  dos  meus  bons 
amigos  supra,  Eduardo  e  Albino  Guedes  de  Mello. 

Terminada  a  lucta  pela  convenção  de  Gramido  (detur- 
})ação  de  gramêdo)  foi  o  Galamha  da  Beira  repetidas  vezes 
administrador  do  concelho  e  presidente  da  camará  de  Rezen- 
de, portando  se  sempre  com  a  maior  dignidade,  até  que  falle- 
ceu  no  Porio  em  2õ  de  julho  de  1861. 

Pouco  depois  falleceu  também  a  sua  esposa  —  1).  Leopol- 
dina Adelaide  e  Mello^  da  nobre  família  Mellos  de  Adalvdres, 
junto  de  Lamego,  sem  deixar  successão. 

Veja- se  no  Portugal  antigo  e  moderno  o  meu  artigo  Paus, 
freguezia  do  concelho  de  Rezende, —  vol.  vi,  pag.  Õ09  a  512, 
onde  fallei  de  Córdova,  povoação  d'aquella  freguezia,  —  e  do 
famoso  guerrilheiro  Justiniano  de  Córdova. 

Veja- se  também  no  mesmo  diccionario  o  meu  longo  artigo 
—  Villa  Nova  de  Foscôa  —  vol.  xi,  pag.  829  a  849,  onde  ren- 
di justo  preito  (?/..,)  aos  Marcaes  de  Foscôa —  desde  pag. 
842  a  844. 

—  Com  relação  à  guerra  da  Junta  do  Porto — veja  se 
Gramido,  vol.  3.",  pag.  316. 


*       * 


Volvendo  á  longa  série  de  pessoas,  que  durante  muitos 
annos  consecutivos  me  honraram  e  á  minha  família  com  a  sua 
amizade,  ainda  mencionarei  mais  algumas. 

Occupa  distincto  logar  entre  ellas  o  dr.  João  Maria  Mer- 
gulhão Neves  Cabral,  da  freguezia  de  aS.  Romão,  concelho 
á^Armamar,  que,  além  de  ser  uma  excellente  pessoa  e  um 
íidalgo  distincto,  —  foi  um  dos  primeiros  jurisconsultos  de 
Portugal,  no  século  xix. 

Falleceu  já  decrépito  em  21  de  novembro  de  1884  e  me 
honrou  sempre  com  particular  estima,  —  bem  como  á  minha 
familia  da  ( orvaceira  e  do  Bacalar,  dando  nos  muito  espon- 
taneamente e  muito  generosamente  o  tratamento  de  primos. 

Este  tratamento  é  tradiccional  entre  as  duas  familias. -^- 
Já  vem  do  tempo  dos  nossos  pães,  avós  e  bisavós:  —  conta 
mais  de  cem  ou  duzentos  annos  —  e  foram  sempre  cor  deães  as 
relações  entre  as  duas  familias. 


336  TENTATIVA    ETYMOLOGICO»TOPONYMICA 


Não  ha  memoria  da  miiiima  divergência  entre  ellas,  — 
facto  não  vulgar  e  muito  honroso  para  ambas,  nomeada- 
mente para  a  minha. 

Quando  s.  ex.*  falleceu  em  1884,  já  tinha  fallecido  dez 
annos  antes  —  em  1874  —  o  seu  único  filho  varão  dr.  Accacio 
Mergulhão  Neve.s  Cabral^  bacharel  Goxn.  ditas  formaturas  em 
direito.—  uma  no  escriptorio  do  pae,  distincto  jurisconsulto ; 
—  outra  na  Universidade  de  Coimbra^  onde  foi  sempre  laurea- 
do estudante  e  preyniado,  —  Nem  outra  coisa  era  d'esperar, 
por  ser  um  talento  superior,  excellente  pessoa  e  já  muito  ver- 
sado em  direito. 

Quando  íòi  para  Coimbra,  — já  podia  reger  cadeira^  — 
pois  levava  o  curso  completo  do  pae — e  promettia  ir  além 
d'elle ;  mas,  por  estudar  muito,  adoeceu  e  morreu  pouco  de- 
pois de  formado. 

Antes  de  ir  para  Coimbra  tentou  ordenar-se  e  frequentou 
o  curso  theologico  no  seminário  de  Lamego,  quando  eu  fui 
alli  professor  em  I8õ7  a  1860,  pelo  que  tive  a  honra  de  o 
contar  entre  os  meus  numerosos  discípulos. 

Só  na  aula  de  historia  ecçlesiastica  —  aula  que  eu  bem 
ou  mal  regi  no  anno  lectivo  de  1859  a  1860  —  ( tive,  se  bem 
me  recordo)  122  discípulos?!...  — E  escusado  é  dizei:  que 
o  meu  primo  Accacio  era  absolutamente  o  primeiro  estudante  J 

do  grande  curso,  — estudante  distinctissimo ! . .  .  " 

Foram  também  por  distracção  meus  condiscípulos  alguns 
dias  no  meu  primeiro  amo  lectivo  de  1857  a  1858  os  reve- 
rendos srs.  Manuel  de  Oliveira  Chaves  e  Castro  e  Francisco 
de  Moura  Secco,  ambos  filhos  de  Lamego  —  e  que  ao  tempo 
acabavam  de  ordenar-se.  ^ 

—  Eu  também  me  ordenei,  —  recebendo  as  ordens  todas 
desde  prima  tonsura  até  á  de  presbítero  —  no  anno  de  18Õ7  e 
no  curto  espaço  de  três  mezes,  por  estar  ao  tempo  já  forma- 
do em  theologia.  —  E  em  outubro  d'esse  mesmo  anno  prin- 
cipiei a  reger  a  aula  de  direito  canónico  no  seminário  de  La- 


1  Eram  dois  talentos  verdadeiramente  superiores  e  ambos  se  dispu- 
nham a  ir  para  Coimbra. 

O  sr.  Oliveira  Chaves  effectivamente  foi,  porque  tinha  recursos  pró- 
prios. —  Formou-sc  e  doutorou-se  em  direito,  como  todos  sabem  ;  —  regeu 
cadeira  muitos  annos  —  e  tem  sido  ab alisado  jurisconsulto. 

O  infeliz  Moura  Secco,  por  falta  de  meios  não  foi  para  Coimbra.  — 
Seguiu  a  vida  parochial  muito  contrafeito ;  foi  abbade  na  freguezia  da  Rua 
e  depois  na  minha  Penajulia,  bispado  de  Lamego. 

Foi  também  distincto  orador,  escriptor  e  poeta —  e  falleceu  ha  bas- 
tantes annos  ralado  de  desgostos  ? !. . , 


TENTATIVA    ETYMOLOGICOTOPONYMICA  337 


mego,  por  haver  fallecido  o  professor  d'ella  —  dr.  Francisco 
José  Pereira  —  e  eu  ser  convidado  pelo  santo  bispo  da  dioce- 
se para  substituir  aquello  professor. 

Regi,  pois,  bem  ou  mal  no  dito  anno  lectivo  de  1857  a 
1858 — -e  no  de  1858  a  1850,  a  aula  de  direito  canónico  —  e 
no  de  1859  a  18G0  a  aula  de  historia  ecclesiastica^  então 
creada  de  novo  no  seminário  de  Lamego. 

—  Coubeme,  pois,  a  honra  de  ser  no  dito  seminário  o 
primeiro  professor  de  historia  ecclesiasticUj  —  disciplina  de  que 
eu  gostava  muito! , .  • 

Mas  —  dirão  os  leitores  -  sendo  você  tão  novo  ^  e  tendo 
cabulado  tanto  em  Coimbra,  como  você  próprio  já  disse,  — 
como  se  atreveu  a  leccionar  direito  canónico  e  historia  eccle- 
siastica  ?  / ,  .  . 

Eu  efíectivamente  estudei  pouco  em  Coimbra^  mas  algo 
estuarei,  pois,  havendo  entrado  em  Coimbra  no  mez  de  junho 
de  1851,  com  os  tristes  preparatórios  de  Lamego^  —  em  junho 
de  1856  estava  na  minha  parvónia  formado  em  theologia  — 
com  todos  os  preparatórios  de  direito,  accrescendo  ainda  os 
exames  de  grego  e  de  hebraico!... 

—  Estudei  pouco,  mas  nenhum  dos  meus  contemporâ- 
neos se  formou  —  nem  podia  formar — em  menos  tempo. 

—  Estudei  pouco  em  Coimbra,  mas  estudei  muito  em  La- 
mego, quando  professor  e,  se  não  deixasse,  como  deixei,  o 
professorado,  passando  para  a  vida  parochial  e  de  escriptor, 
—  talvez  que  hoje  soubesse  algo  do  meu  ofíicio. 

Eu  gostava  pouco  do  direito  canónico,  mas  gostava  mui- 
to da  historia  ecclesiastica  —  e  por  fortuna  logo  no  primeiro 
anno  —  (e  ultimo  ?!...)  ~  em  que  bem  ou  mal  regi  a  dita  aula, 
encontrei  na  bibliotheca  do  paço  episcopal  de  Laynego,  —  bi- 
bliotheca  esplendida  que  foi  dos  jesuítas  * — óptimos  expo- 
sitores, avultando  entre  elles  a  Historia  Ecclesiastica  de  Fleu- 


^  Nasci  em  14  de  novembro  de  1832  e  completei  os  25  annos  em 
14  de  novembro  de  1857,  quando  yd  era  professor  em  Lamego. 

-  A  extincção  dos  Jesuítas  comprchendeu  o  collegio  que  elles  tinham 
na  alta  e  inhospista  serra  da  Lapa,  concelho  de  Sernancelhe,  junto  do  san- 
tuário de  Nossa  Senhora  da  Lapa,  diocese  de  Lamego,  pelo  que  o  gover- 
no—ou antes  o  marqiiez  de  Pombal — deu  aos^  bispos  de  Lamego  o  dito 
collegio  com  a  sua  grande  bibíioiheca. 

Os  bispos  conservaram  o  collegio  para  residência  dos  capellães  do 
santuário  e  commodidade  dos  romeiros,  mas  levaram  a  bibliotheca  para  o 
paço  episcopal  de  Lamego. 

O  vasto  edifício  do  collegio  é  actualmente  uma  bclla  casa  de  educa- 
ção. 

?8 


338  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


ry  —  e  a  de  Tillemond^  —  ambas  completas  e  bem  encaderna- 
das, comprehendendo  muitos  volumes! ... 

Também  comprei  e  compulsei  a  grande  Historia  Ecclesias- 
tica  do  Barão  (THenrion  —  em  francez,  comprehendendo  doze 
volumes» — E'  muito  interessante,  muito  linda  e  parece  escripta 
por  um  auctor  portuguez,  pois  menciona  e  descreve  muito  bem 
todos  os  bispados  portuguezes,  —  tanto  os  do  continente,  como 
os  do  ultramar,  comprehendendo  os  do  Brazilj  da  Madeira, 
dos  Açores^  da  Africa,  da  Asia^  da  índia,  da  China,  etc. 

Note-se  também  que  as  ordenações  de  Lamego  no  tempo 
em  que  eu  para  alli  fui  como  professor  —  causavam  dói... 

Não  havia  periodo  regular  para  matriculas — nem  semi- 
narioy  pois,  tendo  sido  devorado  por  um  incêndio  em  1834, — 
ao  tempo  (1857)  ainda  se  tratava  da  sua  reconstrucção. — Só 
se  abriu  no  meu  ultimo  anno  lectivo-— 1859  a  1860  — anno  em 
que  residi  nelle  como  professor,  sendo  vice-reitor  do  mesmo 
seminário  o  meu  bom  e  velho  amigo  supra  —  Plácido  Augusto 
de  Moura  Vasconcellcs. 

Os  ordinandos  matriculavam- se  quando  bem  lhes  parecia 
e  por  vezes  —  passado  pouco  tempo  —  requeriam  ao  prelado 
licença  para  fazerem  exame  sobre  a  parte  das  disciplinas 
theologicas  estudadas,  com  o  pretexto  de  mandarem  vir  de 
Roma  certos  papeis, — obrigando-se  á  frequência  da  parte 
restante  do  anno  lectivo. 

O  santo  prelado  costumava  deferir,  mas  os  taes  melian- 
tes abusavam. — Feito  o  exame  —  não  mais  voltavam  ás  au- 
las?! .  •  —  Com  isso  também  pouco  perdiam,  porque  os  exa- 
mes todos  naquelle  tempo  eram  facilimos  —  tanto  os  das  au- 
las theologicas,  como  os  de  preparatórios,  que  então  —  credi- 
te poslerif--SQ  reduziam  a  lógica,  retórica  e  latim^  estuda- 
dos ordinariamente  pro  forma  nas  casas  dos  respectivos  pro- 
fessores. 

Não  havia  exames  d^instrucção  primaria  —  nem  de  fran- 
cez —  nem  sequer  uma  aula  publica  ou  particular  de  francex  ?  /... 
A  primeira  aula  de  francez  que  houve  em  Lamego  —  foi 
regida  espontaneamente  e  gratuitamente  por  mim  no  seminário, 
em  1859  a  1860,  —  nas  quintas-feiras,  dias  de  feriado,  —  por 
ter  muita  pena  dos  pobres  ordinandos. 

O  professor  de  lógica  era  então  o  dr.  e  clinico  —  Domin- 
gos Pinto  Ribeiro  —  homem  bastante  illustrado  e  auctor  d'um 
compendio  da  mesma  disciplina. 

—  De  todos  os  três  professores  de  preparatórios  era  o 
que  melhor  cumpria. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  339 


O  professor  de  rhetorica  era  então  o  velho  padre  Mattos^ 
que  durante  muiton  annos  regeu  a  dita  cadeira  pelo  compen- 
dio de  Quintllinyio  —  a  ultimamente  pelo  compendio  do  grande 
latinista  e  humanista  padre  António  Cardoso  Borges  de  Fi- 
gueiredo, 

O  dito  snr.  Mattos  era  muito  versado  em  rhetorica^  mas 
por  extremo  bondoso,  para  não  dizer  ontra  coisa. 

—  Nu7ica  reprovo/l  nm  examinando  ■ —  quer  fosse  leigo, 
quer  ordinando,  —  e  acceitava  francamente  tudo  quanto  elles 
lhe  davam  ?  !  .    . 

O  professor  de  latim  —  João  Tei.cdra  de  Mesquita  —  era 
muito  illustrado  e  um  afamado  latinista,  mas  muito  excên- 
trico e  demasiado  generoso  para  com  os  ordinandos.  —  Não 
hesitava  em  os  approvar^  —  sem  saberem  muitos  d'elles  coisa 
alguma  de  latim,  pelo  que  muitos  ordinandos  in  illo  tempore 
— nem  compravam  os  compêndios  theologicos,  por  serem  to- 
dos em  latim. 

—  Custa  a  crer,  mas  ê  facto  /  /  . . . 

Iam  para  as  aulas  theologicas  sem  cofnpendio  e,  quando 
os  professores  os  chamavam  á  lição,  diziam  simplesmente :  — 
Não  vi! 

A  frequência  era  de  banco,  mas  pela  muita  generosidade 
dos  professores  ficavam  todos  approvados  no  fim  do  anno? ! .  .  . 


* 


Antes  da  minha  ida  como  professor  para  Lamego  —  não 
havia  memoria  de  ficar  um  só  ordinando  reprovado? I... 

Eu  só  no  meu  3.°  anno  lectivo,  —  1859  a  1860 —  quando 
bem  ou  mal  regi  a  aula  de  historia  ecclesiastica  e  tive  122 
discipulos,  —  reprovei  32,  —  entre  elles  um  que  me  foi  7miito 
recornmendadol  -  Encontrando  mais  tarde  no  Porto  o  meu 
amigo,  protector  d'elle,  perguntei-lhe  se  o  tal  estudante  che- 
gou a  ordenar  se.  Respondeu  : 

—  a  Effectivamente  ordenou-se,  mas  está  irregular,  por- 
que nem  sabe  ler  o  latim  ? ! ...  » 

Note-se  também  que  antes  da  minha  ida  como  professor 
para  Lamego  —  tanto  os  exames  de  preparatórios,  como  das 
disciplinas  ecclesiasticas,  —  não  eram  feitos  em  mesa,  —  Os 
respectivos  professores  examinavam  os  discipulos  e  ordinan- 
dos a  sós  —  nos  cantos  d'uma  sala  cochichando  e  fallando 
talvez  de  tudo,  menos  da  matéria  do  exame. 

Também  nas  aulas  não  havia  contínuos.  — As  faltas  eram 


340  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


unicamente  marcadas  pelos  respectivos  professores,  —  se  é 
que  as  marcavam,  do  que  duvido^  porque  ninguém  lhes  tomava 
contas. 

Também  os  ordinandos  iam  para  as  aulas  theologicas 
vestidos  a  seu  hei  'prazer.  —  Devendo  ir  de  crepe  regular^  to- 
dos levavam  capa  e  batina,  mas  alguns  sem  cabeção  e  quasi 
todos  sem  sapatos  d'entrada  baixa  nem  meias  pretas,  mas 
com  botas  e  sapatos  de  toda  a  ordem  —  e  calças  por  vezes 
de  cotim. 

Estavam  tão  desconceituadas  as  ordenações  de  Lamego, 
que  vários  ordinandos  de  Braga  e  de  Bragança.^  cidades, muito 
distantes,  tendo  alli  frequentado  as  aulas,  iam  em  sella 
por  estradas,  que  ao  tempo  nem  diligencias  Unham,  —  fazer 
os  exames  em  La77iego,  onde  todos  ficavam  approvados,  sendo 
uma  corja  de  díscolos,  de  cabulas  e  vadios  ? !... 

Eu,  apenas  tive  conhecimento  do  facto,  fiquei  horrori- 
sado  e  disse  aos  outros  professores,  meus  collegas : 

— «  Isto  é  uma  vergonha,  uma  affronta  para  nós, — affron- 
ta  que  deve  terminar. —  Quando  houvermos  de  fazer  favor,— 
seja  aos  ordinandos  da  nossa  diocese;  —  não  aos  de  dioceses 
estranhas  e  tão  distantes,  ^  pois  não  os  conhecemos. — Para 
esses  todo  o  rigor !  —  e  eu  darei  o  exemplo.  » 

D'ahi  a  pouco  disse-me  o  escrivão  da  camará  ecclesiasti- 
ca  de  La  mego  : 

—  Ahi  vem  um  bando  de  seminaristas  de  Braga  fazer 
aqui  os  exames. 

—  Deixe-os  vir,  pois  talvez  seiam  os  últimos,  —  res- 
pondi eu. 

Eis  que  se  apresenta  um  dos  taes,  como  cerra- filas,  que 
elles  mandaram  deante  em  descoberta.  —  O  pobre  moço  era 
bom  estudante,  mas  reprovei-o. 

—  Foi  um  remédio  santo,  pois  não  mais  appareceu  em 
Lamego  ordinando  algum  de  Braga  nem  de  Bragança. 

Transíormaçôo  completa  das  ordenações 
de  Lamego 

Vão  agora  os  leitores  vêr  como  eu  —  sem  plano  formado 
e  sem  violência  alguma  —  transformei  de  fond  em  comble  as 


1    Lamego  ainda  hoje  (1909)  dista  de  Bra ora  cerca  de  26  legoas  — 
OU  130  kiJometros  —  e  de  Bragança  pouco  menos. 


TENTATIVA    KTYMOLOGICOTOPON YMÍCA  341 


ordenações  de  Lamego  nos  três  annos  lectivos  do  meu  profes- 
sorado. 

Desde  que  o  santo  prelado  me  ordenou  em  1857,  tratou 
me  sempre  melhor  do  que  eu  merecia,  porque,  sendo  s.  ex.* 
bispo  de  Lamego  desde  1845  e  tendo  por  consequência  decor- 
rido trexe  annos  —fui  eu  o  primeiro  dos  seus  diocesanos  for- 
mado^ a  quem  s.  ex.*  conferiu  ordens, —  como  elle  próprio  me 
disse. 

Era  s.  ex.a  o  snr.  B.  José  de  Moura  Coutinho,  da  nobre 
casa  do  Telho,  freguezia  à''  Arnoia^  concelho  de  Celorico  de  Bas- 
to '^^  onde  nasceu  em  1779, — talento  superior,  muito  illus- 
trado  e  muito  virtuoso,  —  bacharel  formado  e  licenciado  em 
theologia  pela  Universidade  de  Coimbra,  —  excellente  pessoa, 
muito  tratavel  e  muito  meu  amigo. 

Falleceu  no  paço  episcopal  de  Lamego  —  no  dia  3  d'ou- 
tubro  de  1861  —  e  devo-lhe  a  máxima  gratidão ^  pelo  que  — 
para  não  me  expor  ao  infame  labéu  de  ingrato—  esbocei  a  ge- 
nealogia de  s.  ex.*  no  Portugal  antigo  e  moderno.  ^ 

Poucos  dias  depois  que  s.  ex.*  me  ordenou,  como  já  disse, 
nomeou-me  professor  de  direito  canónico,  examinador  syno- 
dal  e  vigário  geral  interino,  por  estar  decrépito  o  vigário  ge- 
ral effectivo  —  dr.  Diogo  de  Macedo  Pereira, 

Como  o  santo  prelado  era  muito  accessivel,  muito  trata- 
vel e  multo  meu  amigo,  palestrava  com  elle  repetidas  vezes. 
Certo  dia  expuz  lhe  o  estado  lastimoso  dos  ordinandos  e  lem- 
brei-lhe  muito  respeitosamente  algumas  providencias  para  que 
elles  tivessem  uma  frequência  regular  e  adquirissem  alguma 
instrucção. 


1  Como  os  leitores  já  estão  fartos  de  cantigas,  ahi  vão  algumas  ety- 
mologias: 

—  Telho  vem  talvez  de  Telliolus,  diminutivo  de  Tellus,  i — Tello, 
antigo  nome  pessoal,  cujo  patronimico  Tellis  deu  Telles,  appellido  vulgar. 

Também  Tellus  deu  Tellonius,  como  Apollus  deu  Apollonius—Apol- 
lonio,  nome  d'um  santo,  etc— -  E  Tellonius,  ii,  tis,  deu  Tellões  e  Tenões 
por  Tellões,  povoações  nossas. 

Arnoía,  contracção  de  Arenoia  —  vem  do  baixo  latim  arenola  ou  are- 
nolia,  diminutivo  de  arena  —  areia,  que  deu  outras  muitas  povoações, 
como  já  disssémos. 

—  Cellorico  —  vtm  de  celloricus,  diminutivo  do  baixo  latim  cellorius 
por  cellarius  —  ctWtno,  cujo  diminutivo  cellariollus  deu  Celleiró  e  Cel- 
leiroz,  o  mesmo  que  Celorico  e  Celorícos. 

Cf.  Machico,  Burnico  por  Burrico,  Pocico,  etc,  povoações  nossas. 
'^    V.  Telho,  vol.  XI,  pag.  530  a  533  —  e  Villa  Pouca,  aldeia  da  fregue- 
zia á'Arnoia  supra,  vol.  ix,  pag.  897,  col.  2.»  e  segg. 


342  TENTATIVA   ETYMOLOQICO-TOPONYMICA 


Concordou  s.  ex.»  em  que  a  instrucção  era  para  elles 
muito  necessária  e  muito  útil.  Dignou-se  até  s.  ex.^  contar- 
me  o  facto  seguinte  : 

—  Vagando  uma  egreja  do  bispado  annos  antes,  apre- 
sentou-se-lhe  um  presbytero,  filho  d'ella,  pedindo-lhe  a  em- 
commendação  até  que  fosse  provida,  porque  era  pobre,  bem 
como  a  sua  familia,  que  elle  estava  amparando. 

De  bom  grado  annuí,  por  ter  dó  d 'elle,  e  recommendei- 
Ihe  que  se  habilitasse  para  o  concurso. 

—  Eu  pretendo  apenas  a  encomme?idação  —  respondeu  o 
padre, 

—  Mas,  se  a  egreja  lhe  convém  tanto  por  eneommendã' 
ção  —  mais  lhe  convém  a  collação.  Habilite-se,  pois  para  o 
concurso,  que  eu  o  favorecerei  quanto  possa.  —  Retardarei 
até  mais  algum  tempo  o  concurso  para  rever  as  doutrinas 
que  estudou  e  melhor  se  habilitar. 

—  Agradeço  muito  a  bondade  de  v.  ex.^ — acorescentou 
o  desgraçado  chorando,  —  mas  eu  não  posso  ir  ao  concurso 
nem  habilitar-me  para  elle,  porque  não  sei  latim  nem  coisa 
alguma?!.  . . 

—  Mas  você,  quando  se  ordenou,  devia  juntar  e  por  cer- 
to juntou  exames  de  preparatórios  e  das  disciplinas  theologi- 
cas  do  seminário ! .  .  . 

—  Efifectivamente  juntei,  mas  iiada  sei — disse  o  pobre, 
chorando,  e  acorescentou : 

—  O  meu  pae  era  um  pequeno  lavrador  e,  tendo  três  fi- 
lhos, resolveu  ordenar  um: — embora  com  sacrificio.  Mandou, 
pois,  para  Lamego  o  meu  irmão  mais  velho.  Ordenou-se  com 
tanta  facilidade,  que  o  meu  pae  attonito,  mandou  também  para 
Lamego  e  ordenou  com  a  mesma  facilidade  outro  irmão. — 
Restava  ainda  eu  e,  como  o  meu  pae  visse  já  dois  filhos  or- 
denados, tendo  gasto  com  as  ordenações  d'elles  menos  do  que 
esperava  gastar  com  a  ordenação  de  um, —  mandou-me  tam- 
bém a  mim  para  J^amego  e  com  facilidade  também  me  orde- 
nei,—^w«6'  nada  sei!.., — disse  o  desgraçado  chorando. 

Tive  muita  pena  d'elle  —  disse  o  bondoso  prelado  —  e 
concordo  em  que  os  ordinandos  — mesmo  por  utilidade  pró- 
pria—  devem  ser  obrigados  a  estudar  e  a  ter  uma  frequên- 
cia regular. 

Vendo  eu  o  santo  prelado  tão  bem  disposto,  ftii-lhe  lem- 
brando paulatinamente  e  muito  respeitosamente  as  providen- 
cias mais  urgentes  para  melhorar  as  ordenações  e  tiral-as  do 
cahos  em  que  jaziam  desde  longa  data. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  343 


Fui  tão  feliz,  que  o  prelado  nunca  se  recusou  a  acceitar 
lima  única  das  minhas  propostas — e  auctorisou-me  para  lavrar 
as  portarias,  como  se  íbra  secretario  d'ello. — Assim  lavrei  algu- 
mas, depois  de  o  consultar;  —  elle,  depois  de  as  lêr,  assigna- 
va-as ; —  eu  afixa va-as  na  porta  da  aula  do  seminário  e  cha- 
mava para  ellas  a  attenção  dos  ordinandos,  concluindo  por 
dizer-lhes  muito  simplesmente:  —  Notem  que  na  minha  aula 
aquella  portaria  cumpre-sef . . . 

—  Tanto  bastava  para  elles  a  cumprirem  pontualmente. 
Doesta  forma,  com  muita  facilidade  consegui  estabelecer 

um  periodo  fixo  e  ixgular  para  as  matriculas  nas  aulas  theo- 
logicas  do  seminário  —  e  pôr  termo  ao  escândalo  dos  exames 
que  até  então  muitas  vezes  se  faziam  na  primeira  época  do 
anno  lectivo  com  o  pretexto  de  mandarem  os  ordinandos  vir 
de  Roma  certos  papeis,  chamados  reverendas^—  o  que  era  um 
pretexto  para  não  mais  irem  ás  aulas  n'aquelle  anno. 

Também  consegui  a  nomeação  d'um  continuo^  encarrega- 
do de  marcar  nas  aulas  theologicas  as  faltas  dos  alumnos  — 
em  voz  alta,  para  o  respectivo  professor  as  marcar  também 
na  sua  pauta. 

Consegui  também  do  santo  prelado  uma  portaria  regu- 
lando as  faltas  pela  tabeliã  da   Universidade. 

—  Com  um  certo  numero  d'ellas  ficavam  os  alumnos  pre- 
teridos;— com  outro  numero  algo  uislÍoy  perdiam  o  anno, — 
e  também,  como  na  Universidade,  certo  numero  de  faltas  po- 
dia abonar-se  por  doença. 

Também  consegui  do  santo  prelado  que  o  sacramental 
não  vi  fosse  considerado  como  falta  inabo?iavel,  das  quaes  um 
limitado  numero  preteria  —  e  outro  pouco  maior  fazia  perder 
o  anno  aos  alufnnos?  f . . . 

*      * 

Consegui  também  do  santo  prelado  instituição  de  co?i- 
gregações  wensaes,  relativas  ás  aulas  theologicas  do  seminário 
—  congregações  formadas  pelos  diversos  professores,  presi- 
dindo a  ellas  o  prelado. 

Nas  ditas  congregações,  para  as  quaes  havia  um  livro  pró- 
prio, se  tomava  todos  os  mezes — com  relação  a  cada  um  dos 
alumnos  —  nota  das  faltas  e  das  lições  por  elles  dadas,  com 
as  respectivas  qualificações  d'ellas,  constantes  das  pautas  dos 
professores,  — para  se  obviar  a  empenhos  e  escândalos  no  fim 
do  anno. 

Havia  também  uma  congregação  geral  no  fim  do  anno 


344  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


lectivo  e  nella  se  tomava  nota  dos  alumnos  habilitados  para 
irem  aos  actos_,  —  bem  como  dos  que  ficavam  preteridos  e  dos 
que  haviam  perdido  o  anno  por  faltas  ou  por  outro  qualquer 
motivo,  pois  nas  ditas  congregações  se  registava  também  o 
comportamento  moral  e  civil  dos  alumnos. 

—  No  paço  episcopal  de  Lamego  deve  existir  pelo  me- 
nos um  livro  com  as  actas  das  ditas  congregações  — ■  escriptas 
por  mim,  —  pois  era  eu  o  secretario  d'ellas_,  por  ser  o  profes- 
sor e  vogal  mais  novo.  —  E  todas  devem  estar  assignadas  por 
mim, —  pelos  outros  professores  —  e  pelo  santo  prelado  como 
presidente. 

As  taes  congregações  foram  um  remédio  santo  para  aca- 
barem com  os  escândalos  anteriores. 

Note-se  que  até  á  minha  ida  como  professor  para  La- 
mego^ por  vezes  succedia  ficar  um  alumno  reprovado  —  e  ser 
na  mesma  semana  e  pelo  mesmo  professor  novamente  exami- 
nado —  e  approvado? !!!... 

—  Custa  a  crer  —  mas  é  facto. 

—  No  meu  primeiro  anno  lectivo,  entre  vários  alumnos 
reprovei  um,  que  apenas  conhecia  pela  pauta  e  que  era  uma 
nullidade  completa. 

No  mesmo  dia  o  snr.  conde  d'Alpendurada,  que  ao  tempo 
ainda  não  era  conde  mas  simplesmente  João  Baptista. ...  — 
morador  na  rua  dos  Loureiros,  •-  excellente  pessoa  e  muito 
acceito  do  prelado  '  escreveu-lhe,  dizendo  pouco  mais  ou  me- 
nos o  seguinte : 

—  a  Acaba  de  ser  reprovado  em  direito  canónico  o  por- 
tador. .  .  que  é  filho  d'um  meu  cazeiro,  pelo  que  peço  a  v. 
ex.*  a  fineza  de  ordenar  ao  professor  que  novamente  o  exa- 
mine e  approve,  porque  o  pae  d'elle  é  um  desgraçado  e  porque 
factos  semelhantes  —  se  têem  dado  aqui  mais  vezes.  .  .  » 

Com  vista  ao  respectivo  professor — escreveu  no  próprio 
bilhete  (nem  carta  era!...)  —  o  santo  prelado  e  mandou-me 
o  bilhetinho  pelo  tal  meu  disciplo  reprovado. 

—  Eu  fiquei  attonito  e  bem  quizera  responder  á  leira  ao 


1  Note-se  que  o  snr.  D.  José  de  Moura  Coutinho,  antes  de  ser  bis- 
po foi  deão  da  Sé  de  Lamego,  como  coadjiitor  e  futuro  successor  do  deão 
D.  Manuel  F.  Gameiro  de  Sousa,  desde  junho  de  1812  até  setembro  de 
1836  —  e  desde  1836  deão  effectivo  até  11  de  março  de  1855,  data  em  que 
foi  sagrado  bispo. 

Foi  s.  ex.a  pois,  muitos  annos  deão  da  Sé  de  Lamego,  onde  teve  por 
collegas  dois  cónegos,  tios  do  snr.  conde  d' Alpendurada  c  muito  amigos 
do  santo  prelado. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  345 


tal  senhor,  mas,  como  vi  no  estranho  bilhete  a  assigna- 
tura  do  santo  prelado^ — fui  expôr-lhe  de  viva  voz  o  que  sen- 
tia, protestando  energicamente,  embora  muito  respeitosamente^ 
contra  semelhante  pedido. 

o  venerando  prelado  concordou  e  desde  aquella  data  — 
o  escândalo  acabou  / . .  . 

Foi  até,  talvez  um  dos  motivos  porque  o  sr.  conde  d' Al- 
pendurada desde  então,  até  que  falleceu  ha  poucos  annos,  me 
honrou  sempre  com  particular  estima. 

—  Sem  violência  alguma  e  até  com  muita  satisfação 
minha  acabei  com  a  immunda  papar  oca  e  com  a  empenhoca, 
de  que  até  á  minha  ida  como  professor  para  Lamego  —  de- 
pendiam alli  em  grande  parte  as  ordenações. 

Note-se  que  desde  o  tempo  do  arroz  de  quinze  os  profes- 
sores das  aulas  theologicas  do  seminário  de  Lamego  —  cre- 
dite prosteril.  .  .  —  apenas  recebiam  8$305  por  mez — ou  reis 
99$660  por  anno,  pelo  que — para  não  morrerem  de  fome  — 
acceitavam  francamente  dos  ordinandos  tudo  quanto  estes  lhes 
davam,  —  e,  porquanto  vós  desteis  —  a  todos  approvavam  ?  I . . . 

Custa  a  crer. 

—  Os  pobres  ordinandos  davam-lhes  mugens,  lampreias, 
sáveis,  etc,  do  Douro  \  trutas  do  Varosa  e  do  Paiva;  pipos  e 
garrafas  de  vinho ;  açafates  de  laranjas,  peras,  figos,  maçãs, 
damascos,  etc. ;  —  sacos  de  castanhas  e  de  carvão  de  choça, 
muito  estimado  em  Lamego  no  inverno,  po7'  ser  terra  fria  I  ? 

Davam-lhes  também  doce : — cavacas  de  Rezende,  murcellas 
de  Arouca,  viuvinhas  de  Villa  Real,  pasteis  do  convento  das 
Chagas^  de  Lamego,  etc;  —  lombos  de  porco,  leitões,  cordei- 
ros e  os  decantados  presuntos  de  Lamego;  —  perdizes,  lebres, 
coelhos,  patos,  perus,  frangos,  gallinhas,  etc. 

Também  os  três  professores  e  examinadores  de  prepara- 
tórios:—  lógica,  rhetorica  e  latim  —  nomeadamente  os  d'estas 
ultimas  duas  disciplinas  —acceitavam  tudo  quanto  lhes  davam 
—  inclusivamente  dinheiro, — pelo  que  eram  tão  generosos  e  tão 
brandos  para  com  os  ordinandos.  —  Davam-lhes  inclusiva- 
mente na  véspera  do  exame  os  pontos  e  assim  os  approvavam 
a  todos  /  ? . .  . 

—  Custa  a  crêr_,  mas  tudo  o  que  levo  dito  era  facto  in 
illo  tempore,  —  facto  de  que  ainda  hoje  se  conservam  as  mais 
tristes  reminiscências  em  Lamego  e  fora  de  Lamego. 


346  TENTATIVA    ETYMOLOGUCO-TOPONYMICA 


Quando  eu  para  alli  fui  como  professor  de  direito  eano- 
nico,  em  1857  a  1858  —  appareceram  logo  alguns  dos  meus 
discípulos  com  os  presentes  do  estylo.  —  Recusei-me  termi- 
nantemente a  acceital-os,  apesar  das  instancias  d'elles  —  e 
muito  peremptoriamente  e  claramente  lhes  disse : 

—  «  Não  mais  se  incommodem  com  brindes  e  presentes, 
porque  não  os  acceito. —  Para  mim  a  melhor  recommendação 
e  o  melhor   empenho  será  —  estudarem  e  portarem- se  bem,y> 

Os  moços  ficaram  attonitos,  mas  em  breve  se  convence- 
ram de  que  eu  cumpria  pontualmente  o  que  dizia. 

—  Appello  francamente  para  os  que  por  ventura  ainda 
viverem. 

—  E  vivem  por  certo  muitos  dos  meus  discipulos,  por 
serem  numerosos  e  todos  mais  novos  do  que  eu. 

—  Appello  mesmo  para  as  famílias  d'elles  e  para  os  ami- 
gos e  representantes  d'elles. 

—  Eu  tratava  o  melhor  possível  .na  aula  e  fora  da  aula 
os  que  estudavam  e  se  portavam  bem. 

—  Cumprimentavo-os  na  rua  e  apertava-lhes  a  mão  — 
e   nos  actos  tratei-os  sempre  com  generosidade  e  brandura. 

—  Fui  severo  unicamente  para  com  os  díscolos  e  vadios 
que  se  portavam  mal  e  não  estudavam  coisa  alguma,  pelo  que 
reprovei  muitos  d'estes  —  sem  attender  a  empenhos. 

—  São  pobres  e  desgraçados !  —  diziam-me  os  amigos  que 
os  recommendavam  e  me  pediam  que  tivesse  dó  d'elles  e  os 
approvasse. 

~  Eu  mostrava-lhes  a  minha  pauta,  para  que  vissem  a 
frequência  d'elles  e  o  seu  comportamento,  concluindo  por 
dizer :  Se  são  pobres_,  —  portassem-se  melhor  e  estudassem 
mais  alguma  coisa. 

—  Eu  reprovei  muitos,  mas,  sendo  in  illo  tempore  os  ordi- 
nandos  tão  numerosos  ^  e  não  havendo  então  policia  em  La- 


1  —Só  no  meu  anno  lectivo  —  em  1859  a  1860,  quando  bem  ou 
mal  regia  a  cadeira  de  historia  eccíesiastica,  tive  121  discipulos!  Ficaram 
approvados  nemine  4A;  simpliciter  38;  reprovados  18  —  e  perderam  o 
anno  por  faltas  21,  —  segundo  consta  d'uma  nota  d'aquelle  tempo  que  no 
momento  encontrei. 

Fica  assim  rectificado  o  que  sobre  o  assumpto  já  disse  na  pag.  339 
supra. 

No  mesmo  anno  matricularam-se  em  theologia  dogmática  66  disci- 
pulos ;  foram  approvados  nemine  25  ;  simpliciter  30  ;  reprovados  8  —  e 
perderam  o  anno  por  faltas  6.  —  Matricularam-se  em  theologia  moral  43; 


•íkNTATIVA    ETVMOLOGICO-TOPONYMTCA  347 


mego,  —  eu  passeava  francamente  de  dia  e  de  noute,  quasi 
sempre  sô  —  e  nunca  os  estudantes  me  desconsideraram  nem 
aíFrontaram,  pois  só  os  discolos  olhavam  para  mira  de  travéx. 

Tçdos  os  outros  me  estimavam  e  respeitavam  —  e  em 
questões  sérias  que  no  meu  tempo  surgiram  contra  os  estu- 
dantes —  eu  muito  espontaneamente  me  coUoquei  sempre  do 
lado  d^elles. 

Certa  noite,  por  exemplo,  estando  eu  no  theatro,  o  admi- 
nistrador do  concelho  ^  reprehendeu  os  estudantes  que  esta- 
vam na  plateia  fazendo  grande  arruido  e,  como  elles  recalci- 
trassem, mandou  prendwr  dois,  —  um  dos  quaes  era  irmão 
do  reverendo  dr.  João  Manuel  Cardoso  de  Nápoles,  que  foi 
deão  em  Lisboa  e  arcebispo  eleito  de  Goa,  etc. 

Eu  muito  espontaneamente  me  dirigi  logo  ao  adminis- 
trador pedindo-lhe  que  soltasse  os  estudantes. 

—  Não  posso  —  respondeu  elle,  porque  me  desconsidera- 
ram recalcitrando,  quando  eu  os  reprehendi. 

—  Estudantes  são  rapazes.  Não  se  pôde  exigir  d'elles  a 
prudência  d'anciãos —;  lhe  disse  eu,  —  mas  se  a  questão  é  do 
arruido  e  barulho  que  faziam,  —  mande-os  v.  ex.*  soltar,  que 
eu  me  responsabiliso  pela  tranquillidade  d'elles. 

—  Promptamente  annuiu  e  mandou  logo  commigo  um  offi- 
cial  de  diligencias  com  ordem  para  o  sargento  da  guarda  sol- 
tar os  dois  estudantes,  que  ainda  estavam  á  porta  do  thea- 
tro  e  em  volta  d'elles  e  dos  soldados  muitos  estudantes  vo- 
ciferando. 

Foram  immediatamente  postos  em  liberdade  os  dois  pre- 
sos —  e  eu,  tocando  no  hombro  d'um  estudante  do  Alto  Dou- 
ro—  muito  valente  e  de  pelle  diabi  ^  —  disse-lhe  que  me  res- 


foram  approvados  nemine  13  ;  simpUciter  5  ;  reprovados  9  —  e  perderam 
o  anno  por  faltas  16. 

Do  exposto  se  vê  que  em  1859-1860  o  curso  theologico  do  seminário 
de  Lamego  comprehendia  233  aiumnos ;  vingaram  o  anno  155  —  e  perde- 
ram-no  78. 

—  Não  ha  memoria  de  curso  tão  numeroso  no  seminário  de  Lamego. 
^  Era  então  o  snr.  dr.  José  Beires,  que  posteriormente  foi  governa- 
dor civil  de  vários  districtos  e  por  ultimo  official  superior  e  director  d'uma 
secretaria  do  estado  em  Lisboa,  onde  fallcceu. 

Era  s.  ex.*  irmão  do  snr.  dr.  Manuel  de  Beires,  que  falleceu  ha  pou- 
cos annos  no  Porto,  sendo  juiz  da  Relação. 

Um  e  outro  eram  excellentes  pessoas; — foram  meus  contemporâneos 
em  Coimbra  e  rne  trataram  sempre  melhor  do  que  eu  merecia. 

^  —No  Douro  tudo  é  bom,  menos  o  que  falia  !  —  Desculpem  os 
meus  patrícios  a  franqueza. 


348  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


ponsabilisára  para  com  o  administrador  pela  tranquillidade 
d'elles  e  que  esperava  me  attendessem  e  não  deixassem  ficar 
mal. 

—  Agradeço  a  fineza  ^  e  pode  você  estar  certo  de  que 
não  o  comprometteremos  —  disse  elle  —  e  muito  generosa- 
mente cumpriram, 

—  Na  dita  recita  portaram-se  como  cordeiros,  ficando  o 
administrador  estupefacto ;  —  na  recita  seguinte  foram  ainda 
mais  longe. 

—  Tomaram  a  plateia  toda  —  e  convidaram-me  para  ir 
ao  espectáculo. 

—  Eu  fui  —  e  elles  pareciam  auto^natos.  —  Estavam  com 
tanto  respeito  e  tão  silenciosos  como  na  aula  e  sempre  com 
os  olhos  fitos  em  mim.  —  Só  applaudiam  e  davam  palmas^ 
quando  eu  as  dava,  —  o  que  foi  para  mim  uma  gloria,  pois 
mostraram  ao  administrador  e  á  cidade  toda  quanto  me  es- 
timavam e  respeitavam. 

* 
*       * 

Outro  facto  mais  eloquente: 

—  Era  in  illo  tempere  commandante  do  regimento  de 
infanteria  n.°  9_,  de  Lamego,  um  brigadeiro  geralmente  esti- 
mado e  considerado;  tinha  elle,  porém,  filhos  do  vários  ma- 
trimónios, sendo  dois  d'esses  filhos  então  sargentos  e  bastante 
desequilibrados. 

Birrando  elles  com  os  estudantes  e  sabendo  que  estes  na 
fprma  do  costume  sahiriam  certa  noute  com  uma  tocata,  por 
ser  véspera  de  feriado,  e  percorreriam  a  cidade,  —  que  fize- 
ram os  taes  sargentos,  filhos  do  brigadeiro? 

Chamaram  os  outros  sargentos, —  distribuíram  por  elles 
os  instrumentos  da  banda  regimental,  incluindo  os  de  panca- 
daria e  de  metal,  e  foram  na  mesma  noute  com  os  instrumen- 
tos, fazendo  um  barulho  infernal,  surprehender,  affrontar  e 
provocar  em  uma  das  ruas  principaes  de  Lamego  os  estudan- 
tes, quando  estes  iam  tocando  e  marchando  em  grande  nu- 
mero—  talvez  mais  de  trexentos  —  muito  soce  g  adam  ente? !,. . 

O  facto  escandalisou  a  cidade  toda.  —  Houve  grande  ar- 
ruido  e  podia  haver  muito  sangue,  mas  o  conflicto  passou. 

Os  estudantes .  continuaram  passeando  e  tocando  —  e  os 
sargentos  recolheram  se  victoriosos  ao  quartel,  saboreando  o 
estranho  facto  que  haviam  praticado  e  o  grande  escândalo  que 
haviam  dado. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  349 


No  dia  seguinte,  um  dos  taes  filhos  do  brigadeiro,  andan- 
do a  passear  na  cidade  com  dois  sargentos  e  encontrando  um 
grupo  de  estudantes,  jogou-lhes  certa  piada  affrontosa.  Os 
estudantes  insultaram-nos  e  deram- lhes  alguns  bofetões. 

O  filho  do  brigadeiro  foi  logo  queixar-se  ao  pae;  este  ofíi- 
ciou  também  logo  ao  administrador  do  concelho,  que  era  o 
tal  snr.  dr.  José  de  lieires  supra, —  mostrando-se  muito  ma- 
goado e  pedindo  processo  urgente  contra  os  estudantes  que  ha- 
viam insultado  e  desacatado  o  seu  filho,  mais  dois  sargentos, 
indo  unifoTinisados ! ... 

Eu,  apenas  tive  conhecimento  de  tão  estranha  occorren- 
cia^  muito  espontaneamente  fui  procurar  o  administrador  e 
disselhe  que,  se  os  estudantes  andaram  mal  —  os  sargentos 
andaram  peor  ainda^  como  s.  ex.*  bem  sabia. 

—  Que  os  estudantes  eram  rapazes  —  foram  provocados 
e  tinham  desculpa, — emquanto  que  os  sargentos  não  tinham 
desculpa  alguma,  por  serem  officiaes  inferiores  que, —  deven- 
do ser  mantenedores  da  ordem, — eram  os  primeiros  a  provocar 
a  desordem^  como  todos  sabiam. 

—  Que  o  snr.  brigadeiro,  mostrando-se  tão  magoado  e 
tão  irado  contra  os  estudantes  —  era  injusto,  pois  devia  prin- 
cipiar por  manter  a  disciplina  militar,  castigando  ou  pelo  me- 
nos admoestando  os  filhos  que  o  estavam  cobrindo  de  vergo- 
nha e  expondo-o  a  graves  censuras,  como  brigadeiro  e  com- 
mandante  de  infanteria  9,  —  o  que  era  publico  e  notório  em 
toda  a  cidade  —  es.  ex.*  bem  o  sabia,  melhor  do  que  ew,][por 
ser  filho  de  Lamego. 

Disse-lhe  mais :  —  Pode  v.  ex.*  estar  certo  de  que,  se 
mandar  prender  es  estudantes  incriminados,  —  eu  levarei  a 
questão  para  a  imprensa ;  -  narrarei  tudo  o  que  acabo  de 
dizer  e  algo  más  —  e  pedirei  providencias  terminantes  ao 
ministro  da  guerra. 

—  O  administrador,  que  era  muito  prudente  e  muito  ati- 
lado e,  como  filho  de  Lamego,  estava  ao  facto  de  tudo...  — 
conferenciou  com  o  brigadeiro,  —  este  reconsiderou  —  e  tudo 
terminou  em  santa  paz,  por  meio  d'uma  conferencia  no  salão 
nobre  da  camará  municipal  de  Lamego. 

—  A'  dita  conferencia  assistimos  eu  e  elle,  —  os  estudan- 
tes incriminados^  —  o  major  do  regimento  —  e  os  taes  sargen- 
tos, —  promettendo  uns  e  outros  porem  termo  ás  provo- 
cações e  aggressões,  o  que  —  honra  lhes  seja!  —  cumpri- 
ram. 

— Na  citada  conferencia  não  houve  a  mínima  alterca(^ão. 


350  TENTATIYA    ETYMOLOGIOO-TOPONYMIOA 


—  Tudo  correu  com  a  maior  placidez,  porque  o  major  levava 
os  sargentos  bem  dispostos  —  e  bem  dispostos  levava  eu 
também  os  estudantes. 

Volvendo  ao  ayer  e  hoy  das  ordenações  de  Lamego,  ain- 
da direi  que  eu  regulava  as  approvações  e  reprovações  pela 
pauta. 

—  Para  mim,  a  frequência  do  anno  lectivo  era  tudo  —  e 
os  actos  pouco  mais  valiam  do  que  uma  lição  ou  uma  sábha- 
tina. — Apenas  provavam  que  o  examinando  estudou  nas  vinte 
e  quatro  horas  do  ponto. 

Certo  dia  procurou-me  um  meu  discípulo,  tremendo  com 
sezões,  na  véspera  do  dia  em  que  devia  tirar  ponto,  e  pediu- 
me  que  lhe  adiasse  o  exame  para  outubro  próximo  futuro, 
por  estar  muito  doente. 

Eu  fui  ver  a  minha  pauta  e  notando  que  o  tal  estudante, 
que  eu  não  conhecia  nem  me  havia  sido  recommendado  por 
pessoa  alguma,  tinha  hoa  frequência  e  hom  com  por  lamento  ^  — 
disse-lhe  muito  espontaneamente : 

—  De  bom  grado  o  adiarei  para  outubro,  mas  você  tem 
boa  frequência  e  hom  comportamento  —  e  por  consequência  tem 
três  a  a  garantidos.  Veja,  pois,  se  amanhã  pode  tirar  o  ponto 
e  ir  ao  acto  —  e  tenha  a  certeza  de  que  fica  approvado  —  em- 
bora não  diga  coisa  alguma,  porque  para  mim  a  frequência  é 
tudo  —  0  0  acto  pouco,  mais  de  nada, 

—  O  pobre  estudante  ficou  attonito  t  —  No  dia  seguinte 
foi  tirar  o  ponto ;  —  fez  acto  com  um  lenço  na  cabeça,  tre- 
mendo ainda  com  as  sezões.  —  Pouco  disse,  nem  podia  dizer, 
por  estar  tão  doente,  mas  eu  falei  por  elle  animando  o  —  e 
de  bom  grado  o  approvei. 

Passado  pouco  mais  de  um  anno,  fui  para  Távora^  como 
parocho  ;  — no  dia  seguinte  foi  elle  cumprimentar-me  dizendo: 
—  «Eu  sou  aquelle  estudante  que  vc^ê  tão  generosamente 
approvou  ;  —  fiquei  penhoradissimo  e  moro  n'esta  freguezia, 
pelo  que  venho  offerecer-lhe  o  meu  limitado  préstimo». 

Chamava-se  elle — Joào  António  Ribeiro  Nobre;  —  pouco 
depois  ordenou-se ;  —  foi  parocho  muitos  annos  em  Paredes 
da^  Beira,  a  pequena  distancia  de  Távora ^  sua  terra  natal, 
onde  eu  também  fui  parocho  em  1861  a  1864,  —  e  alli  falle- 
ceu  em  1905,  sendo  sempre  meu  amigo. 

—  Deus  o  tenha  em  bom  logar. 

—  Com  vista  ao  méu  atávico  successor... — o  amigo 
mais  falso  e  tnais  ingrato  que  n'este  mundo  encontrei. 


TENTATIVA    ETYMOLOQICO-TOPONYMICA  351 


—  Qhí  viget  in  folíís  venil  c  radicibus  humorí ! .  .  ,  ^ 

* 
*       * 

Volvendo  ainda  ao  ot/er  e  hoy  das  ordenações  de  Lamego 
in  illo  iempore  —  fiz  mais. 

—  Sem  violência  alguma  resolvi  o  santo  prelado  a  pôr 
termo  aos  actos  ou  exames  feitos  pelos  respectivos  profes- 
sores e  examinandos  nos  cantos  d' uma  sala  cochichando  a  sós. 

Desde  aquella  data,  que  no  momento  não  me  occorre,  — 
principiaram  e  continuaram  a  ser  feitos  em  meza  regula^^ 
como  então  se  faziam  em  Coimbra  —  os  actos  e  exames  todos, 
—  tanto  das  disciplinas  theologicas,  como  de  preparatórios, 
comprehendendo  o  latim,  pelo  que  desde  então  os  ordinandos 
de  Lamego,  todos  —  ficaram  sabendo  algo  de  latim. 

—  Eu  exultei  de  contentamento,  mas  íicou  desesperado  e 
quasi  doido  o  respectivo  professor— </o«o  Teixeira  de  Mesquita. 

Não  me  podia  ver,  por  lhe  tirar  a  paparoca.  —  Certo  dia 
estando  elle  na  Praça  do  Commercio  a  palestrar  com  alguns 
amigos  e  passando  eu  a  distancia,  disse : 

—  Lá  vae  o  cometa  de  cauda  preta^  que  veiu  do  inferno 
para  civilisar  Lamego  / . . . 

—  Chamava-me  cometa  de  cauda  preta,  porque  eu  nos 
dias  d'aula  costumava  andar  de  crepe  ou  habito  talar y  para 
dar  o  exemplo  aos  ordinandos,  obrigando- os  a  usarem  tam- 
bém crepe  nos  dias  d,'aula,  como  prescreviam  os  regulamen- 
tos disciplinares  do  seminário, — regulamentos  que,  —  a  pe- 
dido meu  e  segundo  a  letra  d'uma  portaria  lavrada  por  mim 

—  o  santo  prelado  estabeleceu. 

Elles  íóra  das  aulas  podiam  vestir-se  laicâmente  a  seu 
talante,  mas —  quando  vestissem  capa  e  batina  —  eram  obri- 
gados a  crepe  regular,  usando  também  cabeção^  meias  pretas 
e  sapatos  d' entrada  baixa.  —  E  só  assim  —  trajando  crepe  re- 
gular ^  —  podiam  entrar  nas  aulas.  —  Apresentando-se  vesti- 
dos d'outra  forma,  —  o  continuo  vedava-íhes  a  entrada  e  mar- 
cava-lhes  uma  falta  inabonavel . 

—  Assim  puz  termo  ao  escandaloso  vestuário  anterior 
dos^  ordinandos  —  nas  aulas  e   fora  das  aulas,  pois  como  já 


1  Wide  Joaquim  da  Silveira,  no  indice  da  1.;^  e  2.^  parte  d'esta  mi- 
nha louca  Tentativa. 

—  Elle  queixa-se  da  dureza  com  que  o  trac.-O  e  com  que  o  tenho 
desmascarado,  mas  — -  sibi  imputei !. . . 


352  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


disse,  —  por  vezes  trajavam  capa  e  batina,  mas  sem  cabeção^ 
—  calças  de  cotim  alegre^  —  e  butes  ou  sapatos  de  toda  a  or- 
dem ?!... 

*       * 

Volvendo  ao  ayer  e  hoy  das  ordenações  de  Lamego  in 
illo  tempore,  —  ahi  vai  um  escândalo  que  faz  rir. 

Quando  eu  me  ordenei  em  1857,  o  prelado  não  me  obri- 
gou aos  exames  do  estylo  para  me  conferir  as  ordens  desde 
prima  tonsura  até  á  de  presbytero.  —  Deu-se  por  satisfeito 
com  as  cartas  da  minha  formatura ;  mas  tive  de  juntar  para 
as  três  ordens  sacras  três  exames  de  cantochão. 

—  Effectivamente  juntei  certidões  dos  três  exames  de 
cantochão  —  e  com  appr ovação, — mas  sem  saber  uma  nota  do 
canto  —  nem  ir  um  dia  único  á  dieta  aula  —  nem  sequer  sa- 
bia onde  o  professor  morava? I... 

O  dicto  professor  de  cantochão  era  cantor  do  cabido  e 
algo  sabia  da  especialidade,  mas  —  para  não  incommodar  os 
ordinandos  nem  elle  também  se  incommodar,  —  era  do  estylo 
entregarem  os  ordinandos  meia  folha  de  papel  sellado  com 
a  bagatella  de  500  reis  a  um  servente  da  Sé  —  mais  um  tos- 
tão para  o  tal  servente. — No  dia  seguinte  o  servente  entre- 
gava ao  ordinando  a  certidão  legal  do  exame  de  cantochão, 
passada  pelo  dicto  senhor  na  forma  do  estylo  —  com  a  nota 
de  approvação  ? ! . .  . 

Assim  juntei  eu  as  três  certidões  de  cantochão  —  sem  sa- 
ber onde  o  professor  morava !  —  Apenas  soube  que  vivia  na 
rua  da  Calçada,  depois  que  me  ordenei  e  fui  nomeado  profes- 
sor, porque  o  tal  senhor  foi  cumprimentar-me  e  eu  tive  de  o 
procurar,  paVa  lhe  pagar  a  visita. 

Era  o  dicto  professor  mais  delicado  e  mais  sério  do  que 
um  seu  antecessor  que  obrigava  os  ordinandos  a  irem  a  casa 
d'elle,  quando  precisavam  das  certidões  ;  —  collava-os  ao'^an- 
gulo  de  uma  sala  e  dizia -lhes  com  certa  graça:  —  aEstfja 
firme,  porque  não  quero  jurar  falso,  dizendo  que  você  está 
firme  no  canto ? f . . .» 

—  Risum  teneatis. 

—  Acabou  também  no  triennio  do  meu  professorado  o 
grande  escândalo,  porque  o  santo  prelado  a  pedido  meu 
criou  no  seminário  uma  aula  regular  de  cantochão.  Foi  seu 
primeiro  professor  o  rev.  sr,  Miguel  Rodrigues  de  Jesus,  muito 
versado  na  especialidade  e  que  é  hoje  (1909)  capellào  cantor 
e  regente  do  coro  no  cabido  da  Sé  do  Porto, 


TENTATIVA    ETYMOLOGICOTOPONYMICA  353 


O  dicto  senhor  é  natural  cie  Ltíyttfgo  e  ali  foi  no  meu  tem- 
po fâmulo  do  santo  prelado  D.  José  de  Morna  Coutinho.—  O 
outro  fâmulo  de  s.  ex.^  era  o  rev.  riacido  Avr/osto  df-.  Mo/ira 
Vascoriccllos,  actualmente  Chantre  na  Sé  do  Lainego,  mencio- 
nado bupra — o  ambos  muito  meus  amigos  desde  IHKí  até 
hoje  iliOD  —  ou  durante  sessenta  e  três  anutjs  ?J...  ^ 

As  nossas  relações  datam  do  tempo  em  que  eu  estudei 
preparatórios  em  Latneyo  nos  annos  de  184G  a  1850  —  depois 
de  estudar  instrucção  primaria  e  latim  na  minha  Penajulia 
ou  Penajoia  —  decantada  terra  das  cerejas  .  .  —  no  aro  de  Im- 
mego,  margem  esquerda  do  Douro  —  em  frente  das  Caldas 
do  Moledo,  como  já  dissemos. 

Basta  com  relação  ao  oyer  e  hoij  das  ordenações  de  La- 
mego in  illo  temjwre. 

Julgo  ter  provado  que  durante  o  simples  triénio  d  »  meu 
professorado  —  sem  violência 'alguma  as  transformei  de  fond 
en  comble. 

Só  me  restou  crear  distincções  e  prémios  —  embora  fos- 
sem títulos  nominaes :  —  simples  cartões  de  papel  com  as  ar- 
mas do  prelado  e  com  uma  tarja  qualquer. 

Os  áicios  prémios — embora  fossem  nominaes  e  ào  papel 
-  seriam  muito  estimados  pelos  ordinandos  —  e  eu  por  certo 
os  crearia,  se  me  demorasse  em  Lamego  mais  um  anno  —  e 
Deus  conservasse  a  vida  ao  santo  prelado  —  snr.  D.  José  de 
Moura  Coutinho.  Mas  s.  ex.'^  falleceu  em  1861  —  e  eu  deixei 
Lamego  eui  18G0,  porque  fui  barbaramente  preterido  no  con- 
curso para  um  canonicato  de  Lamego  com  o  ónus  do  ensino, 

O  nosso  governo — hoira  lhe  seja!. —  para  melhorar  a 
critica  situação  em  que  viviam  os  professores  dos  seminários, 
—  por  decreto  de  26  d'agosto  de  1859,  referendado  pelo  con- 
sídheiro  João  Baptista  da  Silva  Ferrão  de  Carvalho  Martens, 
vulgo  Martens  Ferrão,  —  creou  os  conegos-professores  com  o 
ónus  de  ensino  em  todas  as  nossas  dioceses.  Pôz  logo  a  con- 
curso grande  numero  dos  dictos  canonicatos  para  as  nossas 
differentes  Sés,  incluindo  três  para  a  de  Lamego ^  por  serem 
três  in  illo  tempore  os  professores  do  respectivo  seminário. 

Os  canonicatos  do  Lamego  —  depois  da  extincção  dos  dí- 
zimos—  são   dos   menos    rendosos    de    Portugal. —  Renderão 


^    Com  vista  ao  meu  benemérito  successor. 

33 


354  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


apenas  300$000  reis  por  anno,  verba  pouco  importante,  mas 
muito  superior  aos  insignificantes  99$660  reis  annuaes  —  ou 
8$B05  reis  mensaes,  que  recebiam  os  professores  do  seminá- 
rio de  Lamego,  como  já  disse,  pelo  que  eu  e  os  meus  dous 
collegas  nos  habilitámos,  como  concorrentes  aos  três  canoni- 
catos,  d'accôrdo  com  o  santo  prelado. 

-^—Requeiram  — disse  elle  —  que  eu  de  bom  grado  os  pro- 
porei e  muito  provavelmente  serão  providos,  porque  o  gover- 
no, pondo  a  concurso  três  canonicatos  para  Lamego, —  clara- 
mente visava  os  três  professores  d'este  seminário.  —  Além 
d'isso,  no  relatório  do  decreto,  o  ministro  claramente  diz  que 
se  regulará  pelas  propostas  dos  respectivos  prelados. 

Eequeremos,  pois,  logo  os  três  professores,  contando 
com  o  deferimento,  nomeadamente  eu,  porque  dos  três  era  o 
único  formado.  Os  outros  eram  simples  presbyteros — e  da- 
va-se  ainda  a  circumstancia  de  que  o  prelado  era  muito  meu 
amigo  / .  .  • 

Eu  não  sympathisava  com  a  vida  de  cónego,  mas  no  mo- 
mento cohvinha-me,  pelo  que  mandei  fallar  ao  ministro  —  sr. 
Martens  Ferrão^  com  o  qual  não  tinha  relações,  posto  que 
muito  bem  o  conheci  em  Coimbra^  onde  foi  meu  contempo- 
râneo e  excellente  pessoa. 

—  Foi  também  s.  ex.^  pinmeiro  premiado  sempre,—  ge- 
ralmente considerado  e  apontado  pela  academia  como  talento 
verdadeiramente  superior  e  assombro  de  todos  os  juristas  da 
Universidade  no  seu  tempo  —  incluindo  os  próprios  lentes  ?!... 

Ao  deputado  que  por  mim  lhe  fallou^  respondeu  o  snr. 
Martens  Ferrão : 

—  «Se  elle  é  formado  e  professor  do  seminário  de  La- 
mego —  está  despachado,  sendo  proposto  pelo  bispo.  Escu- 
sam, pois,  de  se  incommodar.» 

Eu  depositava  toda  a  confiança  no  snr.  Martens  Ferrão^ 
pelo  que  plenamente  acreditei  na  sua  resposta  e  não  mais  o 
incommodei. 

Deu-se  até  o  seguinte  facto : 

Certo  dia,  na  véspera  ou  ante-vespera  da  sua  partida 
para  Lisboa,  fez-me  a  honra  de  ir  ao  seminário  despedir-so 
de  mim  e  offerecer-me  os  seus  serviços  o  depufca-d®  de  La- 
mego,  que  então  era  o  snr.  António  Pinheiro  da  Fonseca  Osó- 
rio, posteriormente  visconde  á^A^^nei^^oz. 


TENTATIVA    ETYMOLOQICOTOPONYMICA  355 


«  Eu  tenho  esta  pretonsáo.  .  ,  como  s.  ex.*  sabe  -  lhe 
disse,  eu  agradecendo ;  —mas  o  ministro  jà  deu  como  certo  o 
meu  despacho.  Não  quero  pois  incoramodar  a  v.  ex.**  e  guardo 
os  seus  bons  oíficios  para  outra  occasião  » 

—  Como  queira  —  respondeu  s.  ex.^  —  e,  quando  poste- 
riormente se  commentava  a  minha  barbara  preterição,  —  fa- 
zia allusão  á  minha  ingenuidade  sorrindo! .    . 

Os  outros  dois  concorrentes,  meus  collegas,  —  por  não 
serem  formados  nem  confiarem  tanto  no  santo  bispo,  aperta- 
ram com  empenhos  o  ministro,  pelo  que  este  os  despachou 
sem  delongas,  emquanto  que  o  meu  despacho  não  aparecia  ?  ! . 

Decorreram  assim  alguns  mezes  e  vários  amigos  meus 
estranhavam  tanta  demora;  mas  eu  não  me  affligia,  lembran- 
do-me  do  que  havia  dicto  o  próprio  ministro,  —  mal  imagi- 
nando a  desillusão  que  me  esperava?!.  . . 

As  coisas  passaram-se  assim : 

Quando  o  governo  pôz  a  concurso  os  três  canonicatos  de 
Lnmego,  acabava  de  formar-se  o  rev.*'  Ildefonso  José  Cardoso 
d^ Almeida  Santos,  de  Villa  Secca  d^Armamar^  então  ainda 
residente  em  Coirnbra,  onde  foi  meu  contemporâneo  alguns 
annos  e  convivemos  amigavelmente  como  patricios. 

Era  elle  bastante  desequilibrado  e  muito  arrojado,  pelo 
que  —  sem  ser  professor  do  seminário  de  Lamego^  nem  ter 
esperanças  de  ser  proposto  pelo  prelado,  —  requereu  também 
um  dos  três  canonicatos. 

Arranjou  em  Coimbra  muitas  cartas  de  recommendação, 

por  ter  sido  ali  durante  annos  prefeito  no  grande  CoUegio  de 

iS.  Bento^—  e  de  Coimbra  partiu  com  fé  para  Lisboa  na  mala- 

jwsta  que,  na  forma  do  costumo,  ia  entulhada  de  passageiros. 

Também  na  forma  do  costume  os  passageiros,  birrando 
cora  os  padres  e  sendo  elle  o  único  padre  do  bando,  iam  der- 
ricando  com  elle. 

Por  seu  turno  elle  ia  palestrando  e  derriçando  cora 
ura  lavrador,  já  velho  e  mal  vestido,  que  seguia  no  mesmo 
carro,  em  contacto  com  elle. 

A  mata-posta  chegou  a  Leiria  já  de  noute  e  paro  a  junto 
de  uma  hospedaria,  onde  os  passageiros  todos  cearam  e>n 
mesa  redonda,  na   forma  do  costume,  por  500  reis  cada  um. 

O  padre  pagou  logo.  O  lavrador  pôz-se  a  apalpar  os  bol- 
ços  e,  fingindo  não  ter  dinheiro  para  pagar  a  sua  quota,  disse 
ao  padre : 

—  Dê  lá  também  por  mim  os  500  reis,  que  eu  depois 
lh'os  darei. 


356  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


O  padre  não  gostou  da  lembrança,  mas,  para  não  dar 
parte  de  fraco,  pagou,  — sendo  um  flautida  em  frente  do  tal 
lavrador,  que  era  um  grande  proprietário  e  grande  capitalista, 
como  os  leitores  logo  verão. 

—  Seguiram  na  mala-posta  até  Lisboa^  onde  se  apearam, 
sem  que  o  lavrador  lhe  pagasse  os  500  reis,  o  que  levou  o 
nadre  a  dizer  para  os  seus  botões,  como  elle  próprio  contou: 
— «Eu  durante  a  viagem  caçoei  com  o  lavrador^  —  mas  elle 
codilhou-me,  pois  ceou  á  minha  custa  em  Leiria !...y> 

—  O  lavrador  não  o  codilhou,  antes  muito  generosamente 
lhe  pagou,  —  pois  quando  em  Lisboa  se  despediam,  o  lavrador 
disse  ao  padie: 

—  Você  é  lá  da  provinda.  Tem  aqui  alguma  pretenção? 

—  Tenho  effecti vãmente. 

—  Que  pretenção  é? 

—  Pretendo  um  canonicato  de  Lamego. 

—  Eu  vou  com  muita  pressa  para  as  minhas  herdades  do 
Alemtejo  e  não  me  posso  demorar — disse  o  lavrador;  —  mas 
tenho  aqui  em  Lisboa  um  amigo,  que  lhe  pôde  prestar  bons 
serviços.  ^  Venha  d'ahi  seu  padre, 

Metteram-se  logo  em  um  trem  e  seguiram,  dizendo  o  la- 
vrador ao  cocheiro: 

—  «Toque  para  a  i^ua  de  tal...  n.o  tantos.» 

Isto  contou  depois  o  padre  em  Lamego,  accrescentando : 
—  «Eu  acceitei  e  segui  com  o  lavrador  sem  saber  para  onde 
ia,  porque  elle  ainda  me  estava  devendo  os  500  reis  e,  como 
diz  o  dictado —  a  ruim  paga  venha  empalha!...  —Fiquei,  po- 
rém, attonito  quando  o  trem  parou  á  porta  da  casa  indicada 
e  o  lavrador  disse  muito  altaneiro  ao  guarda- por  tão: 

—  Está  em  casa  o  snr.  José  Estevam? 

—  Está,  sim  senhor. 

—  Diga-lhe  que  o  Custodio  Gil  Carneiro  o  procura  e  de- 
seja falar-lhe. 

Volveu  rapidamente  o  guarda-portão  dizendo : 

—  Suba,  suba. 

Subiram  os  dous  e  foi  o  lavrador  muito  amavelmente 
recebido  pelo  José  Estevam,  que  logo  o  mandou  sentar  e  lhe 
perguntou  que  trabalhos  o  traziam  a  Lisboa. 

—  Eu  vou  com  muita  pressa  para  as  minhas  herdades  do 
Alemtejo  e  não  posso  demorar-me.  — Quiz  só  cumprimentar-te 
e  recommendar-te  este  padre,  com  quem  fiz  a  viagem  desde 
Coimbra  e  que  tem  aqui  certa  pretenção.— Peço-te  que  o  pro- 
tejas e  lhe  prestes  os  serviços  que  possas. 


TENTATIVA    KTYMOLOGUCO-TOPOXYMICA  357 


—  Que  pretende    você?  —  disse  Johh  Estevam  ao  padre. 

—  Pretendo  um  dos  três  canonicatos  de  Lamego^  que  es- 
tão a  concurso. 

—  E  que  habilitações  tem  ? 

—  Sou  bacharel  formado  em  theologia. 

—  E'  professor  no  seminário  de  Lamego  ? 

—  Não,  senhor. 

—  Foi  proposto  pelo  bispo? 

—  Também  não. 

—  Estamos  mal ^ disse  o  José  Estevam  ao  lavrador;  — 
em  todo  o  caso  eu  falarei  ao  ministro  e  verei  se  consigo  o 
despacho. 

—  Nem  eu  peço  outra  coisa  — disse  o  lavrador,  accres- 
centando  ; 

—  A  tua  snr.»  está  em  casa? 

—  Está,  sim. 

—  Manda  chamai -a. 

—  Veiu  ella  sem  demora  sorrindo,  apenas  viu  o  lavra- 
dor. 

—  Está  de  pé,  sr.  Custodio?  —  Sente  se,  sente-se!... 

—  Não,  minha  senhora;  não  me  sento,  por  que  não  posso 
demorar-me. 

—  Quiz  só  cumprimental-a  e  recommendar-lhe  aquelle 
padre.  .  .  — Eu  já  o  recommendei  ao  seu  marido,  mas,  como 
elle  traz  sempre  a  cabeça  a  razão  de  juros,  peço  a  v.  ex.^  que 
lhe  lembre  a  minha  pretenção. 

—  Esteja  descançado,  sr.  Custodio,  — respondeu  ella. 

—  Você  —  disse  o  lavrador  ao  padre  —  quando  vir  que 
o  snr.  José  Estevam  se  esquece,  —  dirija- se  a  esta  senhora. 

Retiraram-se  logo  o  lavrador  e  o  padre,  que  ficou  at- 
tonito — e  mais  ainda  quando,  passados  mezes,  —  talvez 
cinco  — foi  despachado  cónego  professor  para  Lamego,  ficando 
eu  harbaramente  preterido  ! 

—  Vejam  como  o  diabo  as  arma  ?  !. .  . 

* 
*      * 

O  lavrador,  que  eu  posteriormente  conheci  no  Porto, 
sendo  então  ali  abbade  de  Miragaya,  -■  era,  como  já  disse, — 
o  Custodio  Gil  Carneiro^  de  Santo  Thyrso,  muito  conhecido, 
muito  respeitado  e  muito  considerado  no  Porto  e  fora  do 
Porto^  porque  —  apezar  de  viver  sem  fausto  algum,  confun- 
dindose  apparentemente   com   um  simples  lavrador,—  tinha 


358  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


uma  fortuna  superior  a  dous  mil  contos  —  em  terras  e  em  nu- 
merário ?! .    . 

—  Costumando  ir  á  loja  d'um  grande  cambista  do  Porto, 
o  cambista,  apenas  elle  entrava,  levava- o  logo  para  o  seu  gabi- 
nete particular,  abandonando  oe  freguezes  todos  e  quasi  todos 
capitalistas,  pelo  que  um  d'estes  que  não  conhecia  o  lavra- 
dor estranhando  tantas  attenções  e  deíferencias  para  com  um 
homem  tão  mal  vestido,  chegou  a  perguntar  ao  banqueiro 
certo  dia  quem  era  o  dicto  homem. 

E'   um   dos   meus  melhores  amigos  e  melhores  fregue- 

xes  I  —  respondeu  o  banqueiro.  — N'este  momento  pôde  sacar 
contra  mim  até  quatrocentos  contos  !  . . 

Era  tão  modesto  e  tão  mesquinho  —  ou  tão  avaro  que, 
vindo  em  certo  dia  de  verão  ao  Porto  com  alguns  seus  visi- 
nhos  todos  a  cavallo,  poisaram  em  uma  modesta  hospedaria 
ou  estalagem  da  rua  do  Bomjardim,  aonde  chegaram  já  do 
noute.  —  Ficou  muito  satisfeito  o  dono  da  locanda  e  mais 
ainda  quando  subiram  os  freguezes  e  lhe  disseram  que  vinha 
com  elles  o  sr.  Custodio  Gil. 

—  Mandou  logo  o  hospedeiro  preparar  camas  para  os 
hospedes  todos  e  todos  tractaram  de  se  deitar,  mas  não  appa- 
recia  o  grande  lavrador  e  grande  capitalista,  freguez  habitual 
da  modesta  hospedaria. 

—  Onde  ficou  o  sr.  Custodio?  —  perguntou  o  dono  da  lo- 
canda a  um  dos  hospedes. 

—  Não  sei!  — Elle  veiu  comnosco  e  entrou  para  a  cava- 
Ihariça. 

Mandou  logo  o  hospedeiro  procural-o  por  um  criado. 
Foi  este  á  cavalhariça;  — mirou  e  remirou,  mas  não  o  viu. — 
Bradou  então  em  voz  alta: 

—  Oh  snr.  Custodio! — Snr.  Custodio! , ,  . 

—  Você  que  pretende?  —  respondeu  o  grande  proprie- 
tário e  grande  capitalista,  que  estava  deitado  em  uma  mange- 
doura   na  cacalhariça. 

—  Suba,  subn!  -  lhe  disse  o  creado,  pois  já  tem  a  cama 
íéita  no  seu  quarto ! .  . . 

—  Estou  aqui  muito  bem!— Já  é  tarde;  — as  noutes  são 
pequenas  e  não  vale  a  pena  subir  e  descer  as  escadas. —  Es- 
tou aqui  muito  bem! .  .  . 

E  lá  ficou  o  grande  proprietário  e  grande  capitalista 
deitado  na  niangedoura  nua,  —  sem  roupa  nem  fronha  -  ao 
pé  do  seu  cacallo  —  para  poupar  os  cento  e  vinte  reis  da  ca- 
ma!?... 


TENTATIVA.    ETYMOLOGICO-TOFONVMICA  B59 


Isto  me  contou  mais   tarde   e   com   assombro   o    próprio 
dono  da  locanda. 


Era  assim  o  grande  proprietário  e  capitalista  Caniodio 
Gil  Carneiro,  —  muito  rico,  mas  muito  modesto,  ou  antes  — 
muito  avaro  e  muito  sumitico  ! . . . 

Tendo  grandes  herdades  no  Alemtejo,  o  administrador 
d'ellas  vivia  com  mais  fausto  do  que  o  dono  e,  porque  este 
se  appelidava  Carneiro^  -  os  taes  administradores  —  fosse  qual 
fosse  o  appelido  d'elles  —  eram  no  Alemtejo  conhecidos  por 
Carneiros  —  e  muito  respeitados  e  considerados,  porque  fa- 
ziam fortuna. 

Dentro  de  poucos  annos  enriqueciam  os  taes  adminis- 
tradores e  viviam  com  trem  montado  como  grãs  senhores  f .  .  . 

Certo  dia  o  tal  sr.  Custodio  Gil  Carneiro,  indo  ver  as 
suas  herdades  do  Alemtejo,  onde  tinha  pendentes  valiosas 
transacções,  preveniu  o  administrador  para  o  esperar  em  certa 
estação  da  linha  férrea.  —  Quando  ali  chegou  e  se  apeou,  mal 
vestido  na  forma  do  costume  e  levando  na  mão  apenas  uma 
pequena  saca  de  chita  com  alguma  roupa  branca,  não  viu  o 
administrador  que  devia  esperal-o  e  que  elle  não  conhecia 
pessoalmente. 

Apenas  viu,  luxuosamente  vestido,  um  fidalgo  com  um 
bom  trem.  —  Este  egualmente  surprehendido  por  não  ver 
apear-se  na  dieta  estação  mais  ninguém,  approximou  se  do  la- 
vrador e  perguntou-)he  se  conhecia  o  snr.  Custodio  Gil  Car- 
neiro, de  Santo  Thyrso. 

—  E'  este  seu  criado. 

Esbarretou-se  logo  attonito  o   dicto  fidalgo,  dizenáo : 

—  Eu  sou  o  administrador  das  herdades  de  v.  ex.» — o 
já  o  estava  esperando  com  o  trem  da   casa.  — Suba,  suba!... 

O  grande  proprietário  e  grande  capitalista  ficou   assom 
brado,  aterrado  e  —  suando  mais  do  que  se  fosse  a  pé,  —  se- 
guiu no  trem  do  fidalgo  ;  mas  em  breve  o  despediu  e  mandou 
para  o  Alemtejo,  como  administrador  das   suas   herdades,  um 
filho. 

*       * 

O  tal  sr.  Custodio  Gil  Carneiro  possuía  também  muitas 
casas  no  Porto  —  e  muitas  quintas  e  casaes  no  concelho  de 
Aveiro,  onde  tinha  também  muitos  foros  e  muito  dinheiro 
mutuado.  —  Dispunha  por  tanto  ali  de  muito^t  votos  que  dava 


360  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


ao  snr.  José  Estevam  Coelho  de  Magalhães,  pelo  que  este  muito 
o  estimava  e  respeitava  —  e  o  lavrador  por  assim  dizer — o 
mandava,  tractando-o  inclusivamente  por  tu?/... 

Sendo-lhe,  pois,  recommendado  com  tanto  interesse  o 
dicto  padre,  foi  logo  o  snr.  José  Estevam  á  secretaria  dos  ne- 
gócios ecclesiasticos  e  de  justiça  procurar  o  sr.  Martens  Fer- 
rão^ dizendo-lhe  que  tinha  todo  o  empenho  em  que  despa- 
chasse o  dicto  padre. 

E-ecusou-se  o  ministro,  dizendo  : 

—  Não  posso  despachar  o  seu  afilhado,  porque  no  relató- 
rio do  meu  decreto  disse  que  havia  de  regular-me  pelas  pro- 
postas dos  respectivos  prelados  —  e  o  de  Lamego  propoz  para 
os  três  canonicatos  os  três  professores  actuaes  do  seminário, 
dando  a  todos  três  boas  informações.  Não  propoz  o  seu  afi- 
lhado —  e  deu-lhs  informações  péssimas,  como  pôde  ver  dos 
autos_,  que  lhe  mostrou.  —  Aíém  d'isso  elle  não  é  professor  do 
seminário  de  Lamego  o,  se  eu  o  despachasse,  levantaria  um 
conflicfo  seno  com  o  respectivo  prelado. 

Foi  isto  —  pouco  mais  ou  menos  —  o  que  disse  Martens 
Ferrão,  mas  José  Estevam  não  se  deu  por  vencido  e  con- 
tinuou instando  pelo  despacho  do  seu  afilhado,  emquanto 
que  eu  dormia  a  somno  solto,  muito  socegado  e  tranquillo, 
confiado  na  palavra  do  ministro. 

Pouco  tempo  depois  de  fechado  o  concurso,  Martens 
Ferrão,  vendo-se  apertado  por  diversos  amigos  que  prote- 
giam os  outros  meus  coliegas,  despachou-os  —  e  quizera  tal- 
vez despachar-me  tambsm,  mas  a  pedido  do  snr.  José  Estevam 
suspendeu  o  despacho. 

Como  o  principal  argumento  do  ministro  eram  as  péssi- 
mas informações  que  o  prelado  de  Lamego  tinha  dado  —  não 
sei  porque  ^  —  ao  afilhado  do  snr.  José  Estevam,  tractou  este 
de  ver  se  d'algum  modo  as  modificava.  —  Com  este  intuito 
retardou  o  despacho  alguns  mezes  —  e  um  bello  dia  o  padre, 
talvez  d'accôrdo  com  elle^  —  escreveu-me  de  Lisboa,  onde  se 
conservava,  para  Lamego,  onde  eu  estava,  dizendo-me  pouco 
mais  ou  menos  o  seguinte : 


'  Eu  nunca  tentei  saber  o  motivo  que  determinou  o  prelado  de  La- 
mego a  dar  semelhantes  informações  ao  dicto  padre  ;  mas  talvez  influissem 
as  relações  d'elle  com  outro  irmão  que  tinha,  também  padre,  —  ainda 
mais  desequilibrado  e  muiío  desordeiro,  que  foi  envolvido  na  morte  d'um 
compadre,  seu  particular  amigo,  ctc. 

Os  taes  meus  coliegas  —padeciam  do  sangue  ?  !. . . 

—  Talis  arbor  —  talis  frucius  !  . . 


TENTATIVA    ETYMOLOarCO-TOPONYMICA  361 


—  «Já  perdi  de  todo  a  esperança  do  ser  despachado  có- 
nego para  ahi,  polo  que  mo  habilitei  para  uma  capellania 
militar  que  va^ou  no  Castello  de  S.  Jorge.  Com  a  protecção 
do  duque  de  Saldanha  e  d'outros  amigos,  espero  ser  n'ella 
provido^  se  o  prelado  de  Lamego  modificar  as  informações  que 
me  deu  e  que  são  realmente  péssimos.  —  Muito  me  penhora- 
ria você,  falando-lhe  n^este  sentido,  pois  sei  que  elle  é  muito 
seu  amigo.» 

Eu  fui  tão  asno,  que  mostrei  a  própria  carta  ao  prelado. 
Respondeu  s.  ex.* : 

—  «Para  capellão  militar  serve  e  —  demais  a  mais  — ■  fica- 
nos  longe.  Eu  farei  o  que  entender». 


* 


Effecti vãmente   escreveu   ao    ministro,    modificando    as 
péssimas  informações  que  alguns  mezes  antes  tinha  dado. 
O  snr.  José  Estevam,  apenas  teve  conhecimento  do  facto, 

—  exultou  de  contentamento  e  atirou  se  bruscamente  ao  mi- 
nistro, dizendo  : 

—  Agora  não  peço  —  exijo  o  despacho  do  meu  afilhado!... 

—  Não  posso  I  —  lhe  disse  Martens  Ferrão  —  pelas  razões 
que  já  expuz  e  porque  levantaria  certamente  conflicto  com  o 
prelado  de  Lamego.  -*~  Desculpe. 

—  O  prelado  de  Lamego  é  um  santo  —  retorquiu  José  Es- 
tevam.  —  Ha  cinco  mezes^  por  estar  então  de  mau  humor,  deu 
péssimas  informações  ao  meu  afilhado  ;  —  agora  deu-lh'as  sof- 
friveis  —  e  se  o  padre  podesse  esperar  outros  cinco  mezes,  por 
certo  lhe  dava  informações  melhores  ainda.  Mas  elle  é  pobre 
e  não  pôde  continuar  a  viver  em  Lisboa,  pelo  que  peço  a 
V.  ex.*  que  o  despache  immediata mente. 

—  Não  posso  t  —  Não  posso  !  —  desculpe  ;  —  respondeu  o 
ministro  muito  contrariado. 

—  Se  V.  ex.*  o  não  despacha,  —  eu  passo  para  a  oppo-n- 
ção  com  armas  e  bagagens!  —  disse  José  Estevam  muito  zan- 
gado e  disposto  a  voltar  as  costas  ao  ministro  e  ao  ministé- 
rio, de  que  s.  ex.^  era  absolutamente  o  primeiro  deputado. 

Dirão  os  leitores : 

—  Você  está  a  fazer  versos  / . , . 

—  Não  faço. 

—  Tudo  o  que  levo  dicto  ~  é  facto,  porque  assim  m'o 
contou  no  Porto,  passados  alguns  annos,  —  o  Rei  de  Paredes 

—  snr.  José  Guilherme  Pacheco,  —  assim  cognominado,  porque 


362  TENTA.TIVA    ETYMOLOGICOTOPONYMIOA 


durante  mais  de  trinta  annos,  como  todos  sabem,  dispoz  do 
circulo  de  Paredes  e  por  elle  algumas  vezes  elegeu  deputado 
o  próprio  sr.  Martens  Ferrão.  —  Era,  pois,  amigo  particular 
do  ministro  ;  —  entrava  sem  formalidades  no  seu  gabinete  — 
e  por  acaso  entrou  no  momento  do  conflicto.  como  s.  ex.*  me 
disse.  —  Tractou  de  conciliar  os  dous  e,  como  ao  tempo  ainda 
não  me  conhecia,  —  muito  provavelmente  se  collocou  do  lado  de 
José  Estevam !... 

—  O  ministro  cedeu  ;  —  o  padre  foi  despachado  —  e  eu 
fiquei  a  ver  navios?! . . . 

*     * 

Não  me  queixo  contra  o  sr.  Martens  Ferrão,  porque  es- 
tou certo  —  certíssimo  —  de  que  fez  o  despacho  violentadissimol 

Também  não  me  queixo  contra  o  sr.  José  Estevam  nem 
contra  o  sr.  José  Guilherme  Pacheco.,  porque  não  me  conhe- 
ciam—  nem  eu  lhes  tinha  sido  recommendado. 

—  Queixo-me  unicamente  e  somente  contra  o  padre  que 
—  sendo  meu  patrieio,  meu  contemporâneo  em  Coimbra  e  di- 
zendo-se  muito  meu  amigo  —  me  atraiçoou  infamemente,  como 
Judas  a  Christo. 

A  minha  surpresa  não  foi  grande,  porque  elle  padecia  do 
sangue^  como  já  dissemos,  —  e  era  tão  falto  de  critério  que, 
sendo  já  conego-professor  em  Lamego,  se»  jactava  de  me  haver 
codilhado,  narrando  tudo  e  concluindo  por  dizer  que  eu  pró- 
prio dei  a  co7'da  com  que  fui  por  elle  enforcado ? ! ... 

—  Era  assim  o  tal  snr.  cónego  professor  —Ildefonso  José 
Cardoso  d"" Almeida  Santos,  que  já  falleceu  ha  muitos  annos. 

—  Deus  lhe  perdoe. 

Em  pouco  tempo  inutilisou  tudo  o  que  eu  havia  feito  em 
pró  das  ordenações  de  Lamego. 

Tomando  rumo  completamente  diverso  do  meu,  —  quiz 
botar  figura  como  politicão  d' agua  chilra  ;  —  metteu-se  a  váu 
sem  botas  na  politica  e  —  para  arranjar  votos  —  chamava  a 
sua  casa  os  pobres  ordinandos  e  os  pobres  discípulos ;  dava- 
Ihes  beberetes  e  listas  para  os  pães  e  parentes  d'elles,  etc. 

—  Nunca  pôde  arranjar  trinta  votos,  mas  cobriu-se  de 
vergonha  como  professor  do  seminário,  —  tornou-se  muito 
doente  e  acabou  desprestigiado  e  obscuramente. 

—  Talis  vita  —  finis  ita. 

Pouco  tempo  incommodou  o  santo  bispo  de  Lamego  — 
snr.  D.  José  de  Moura  Coutinho  — ludibriado  por  elle  também, 
pois  o  tal  snr.  tomou  posse  do  canonicato  e  do  professorado 


I 


TENTATIVA    ETYMOLOarCO-TOPONYMICA  363 


em  1860e  o  prelado  falleceu  —  como  já  dissemos,  em  1861, 
quando  eu  já  era  parocho  em  Távora. 
Deu- se  até  o  facto  seguinte: 


*      * 


Certo  dia,  estando  eu  em  Távora,  soube  que  fora  sacramen- 
tado o  rev.  dr.  Diogo  de  Macedo  Pereira,  já  muito  idoso,  vi- 
gário geral  e  provizor  do  bispado,  regente  dos  estudos  do 
seminário,  etc.  —  Escrevi  logo  ao  santo  prelado,  lembrando- 
Ihe  a  promessa  que  já  me  havia  feito  dos  cargos  de  provizor 
e  vigário  geral,  que  me  permittiam  o  viver  em  Lamego,  dei- 
xando em  Távora  um  coadjutor. 

O  santo  prelado  respondeu  sem  demora  em  carta  que 
devo  conservar,  mas  que^  no  momento  não  encontro. 

Eu  costumo  guardar  as  cartas  dos  meus  amigos,  mas  não 
as  tenho  colleccionadas  e  como  são  muitas-- ao  todo  mais  de 
mil — não  me  é  fácil  encontrar  as  que  pretendo,  como  agora 
—  1909  — a  do  prelado  de  Lamego,  escripta  em  1861  — ha  48 
annos?!... 

Foi  uma  das  ultimas  cartas  que  sua  ex.*  escreveu,  pois 
falleceu  poucos  dias  depois— em  3  d'outubro  de  1861,  como 
já  dissemos. 

Nella  dizia  o  santo  prelado,  pouco  mais  ou  menos  o  se- 
guinte : 

«Bem  me  recordo  da  promessa  que  lhe  fiz  e  novamente 
lhe  faço,  mas  o  rev.  snr.  Diogo  de  Macedo  Pereira  vae  melho- 
rando e  talvez  que  eu  seccumba  antes  d'elle...» 

O  coração  presago  não  mente,  pois  efifectivamente  passa- 
dos poucos  dias  recebi  em  Távora  a  dolorosa  noticia  de  que  o 
santo  prelado  fallecêra ! . . . 

—  E  evL  presagiei  também  o  triste  facto,  pois,  quando  li  a 
carta  de  sua  ex.*,  notei  que  a  letra  d'ella  differia  bastante  da 
sua  letra  ordinária,  que  eu  muito  bem  conhecia  e  era  muito 
igual,  muito  firme,  emquanto  que  a  da  carta  supra  era  des- 
igual e  tremida!,  ■  .—  Mostrei  a  até  a  um  meu  parochiano  — 
José  Guedes  de  Gouveia  Sarmento — fidalgo  de  Moimenta  da 
Beira,  que  tinha  um  bom  casal  em  Távora,  onde  no  momento 
vivia,  e  se  dizia  parente  remoto  do  prelado. 

Observei-lhe  a  diíferença  da  letra  e  disse-lhe  que  na  mi- 
nha opinião  o  santo  prelado  estava  doente^  posto  que  na  sua 
penhorantissima  carta  não  falava  de  doença. 

—  Não  me  enganei,  pois  soube  posteriormente  que  o  santo 


364  TENTATIVA    ETYMOLOaiOO-TOPONYMICA 


prelado  contando  já  cerca  de  83  annos  (sua  ex.^  nasceu  em 
8  de  fevereiro  de  1779)  —  se  fatigara  e  suara  bastante  a  con- 
ferir ordens;  —  constipou-se  e  adoeceu.  —  Foi  então  que  me 
escreveu; — não  mais  se  levantou  da  cama  —  e  pouco  depois 
falleceu  no  infausto  dia  3  d'Dutubro  de  1861?!... 

Deus  o  tenha  em  bom  logar,  como  firmemente  creio,  pois 
era  virtuosíssimo  e  de  sangue  nobilíssimo  ?l  •  . . 

—  Talis  arhor  —  talis  fructus  —  ou  qui  viget  in  foliis  —  ve- 
mií  e  radicíbos  humor  / . . .  ^ 

*       * 

Eu  deixei  Lamego  com  saudade,  por  haver  tirado  com 
a  protecção  do  santo  bispo  as  ordenações  do  cáhos  em  que 
jaziam,  elevando-as  com  pouca  differença  ao  seu  estado  actual. 
—  E  sem  violência  alguma,  além  da  pecuniária,  pois,  para 
me  conservar  em  Lamego  três  annos,  —  vivendo  com  decên- 
cia —  e  com  a  porta  travessa  fechada  —  o  que  posso  dizer  alto 
e  bom  som— sem  temer  contradicta — fiquei  devendo  aos 
prestamistas  de  Lamego  cerca  de  seis  centos  mil  i^eis, 

—  Nem  podia  deixar  de  ser,  porque  eu  apenas  recebia  do 
seminário  —  8$305  reis  por  mez  —  ou  99$660reis  por  annol?... 

Celebrava  missas,  mas  ao  tempo  em  Lamego  a  esmola  das 
missas  de  rol  era  de  120  a  140  reis  —  cada  uma?  !...  —  Assim 
celebrei  muitas.  —  As  de  devoção  regulavam  por  200  reis  a 
240,  mas  demandavam  horas  e  altares  determinados,  pelo  que 
não  as  podia  celebrar,  por  ter  de  ir  para  a  aula  a  hora  fixa, 
como  ia  pontualmente. 

—  Nem  eu  sei  como  os  prestamistas  ou  agiotas  confia- 
ram de  mim  tanto  dinheiro.  —  Talvez  se  lembrassem  de  que 
os  meus  pães  —  que  elles  bem  conheciam,  por  serem  visinhos 
de  Lamego,  —  eram  proprietários  ou  lavradores  do  Douro 
abastados  —  e  de  que  por  morte  d'elles  a  minha  legitima  da- 
va de  sobra  para  lhes  pagar. 

Paguei-lhes  mesmo  antes  —  muito  antes  -  -  dos  meus  pães 
fallecerem,  porque  a  abbadia  de  Távora  rendia  300  a  400  mil 
reis,  —  tanto  ou  mais  do  que  os  canonicatos  de  Lamego, — 
e  a  abbadia  de  Miragaya  rendia  o  dobro :  —  700  a  800  mil 
reis. 


1  Vide  Telho,  artigo  meu,  no  Portugal  antigo  e  moderno,  vol  ix, 
pag.  531,  coi.  l.a  —  e  Villa  Pouca,  aldeia  da  freguesia  d Arnoia,  concelho 
de  Celorico  de  Basto,  artigo  meu  também,  no  mesmo  diccionario,  vol.  ix, 
pag.  897,  col.  2.a  e  segg. 


TENTATIVA    ETyMOLOGICOTOPONYMTCA  365 


A  abbadia  de  Távora  tinha  uma  grande  residência  e  um 
grande  passal,  posto  que  ao  tempo  já  não  era  a  decima  parte 
do  que  toi  nos  princípios  da  nossa  monarchia.  ^ 

Eu  não  só  o  conservei^  mas  valorisei-o  bastante,  pois, 
dando  ao  meu  antecessor  —  além  d'outros  géneros,  foros, 
milho,  azeite,  fructa,  etc,  —  14  almudes  de  vinho,  -  no  meu 
3."  anno  colhi  5  pipas  de  550  litros  cada  uma  —  e,  se  ali  me 
demorasse,  colheria  30  pipas  —  ou  mais,  dentro  de  poucos 
annos. 


* 
*       * 


Você  está  a  fazer  versos!  —  dirão  os  leitores. 

—  Não  faço  nem  exagero,  como  vão  vêr. 

~  Só  nas  vinhas  velhas  do  passal  eu  colheria  8  a  10 
pipas  de  vinho,  passados  um  a  dous  annos,  pois  grangea- 
va-as  como  nunca  foram  grangeadas,  —  cavando-as  e  redran- 
do  as  o  melhor  possível —  e  podando-as  a  meu  modo  pelo  sys- 
tema  Guiot  (?)  —  de  i:ara  e  torno. 

—  Deixava  como  espera  um  torno  apenas  com  dois  olhos 
no  principio  da  vara  velha;  —as  outras  vergonteas  d'ella 
cortava  as  todas,  deixando  apenas  uma  das  primeiras^o?' ^o/iía 
ou  inteira,  sem  lhe  aparar  um  só  olho,  embora  tivesse  muitos. 

Ficava,  pois,  uma  videira  muitas  vezes  com  16  olhos  e 
mais,  devendo  ter  apenas  8  a  10  pelo  systema  vulgar  da  poda; 
mas  qual  era  o  resultado? 

—  Eu  nos  16  a  2C  olhos  colhia  mais  vinho  do  que  os 
visinhos  —  e  as  videiras  ficavam  sempre  fortes  e  com  poda 
melhor  e  mais  certa  para  o  anno  seguinte. 

Passando  a  seiva  das  vides  toda  pelos  dois  olhos  da  espe- 
ra,—  estes  davam  sempre  duas  grandes  varas,  das  quaes  no 
anno  seguinte  eu  deixava  a  primeira  apenas  com  dois  olhos 
para  espera  — e  a  s,Qg\\v\á^  por  ponta  ou  com  os  olhos  todos!... 

Por  este  systema  a  poda  era  muito  simples !  —  Um  cego 
a  pedia  fazer  —  e  o  resultado  era  surprehendente. 

—  Assim  podei  três  annos ;  —  colhi  muite  vinho  —  e  dei- 
xei as  videiras  fortes  e  pomposas,  nas  melhores  condições  de 
produção  !?.  .  . 

Outra  vantagem  do  meu  exótico  systema  de  poda  era 
obstar  quanto  possivel  ao  prolongamento  das  videiras,  pois 
adiantavam   por  anno   apenas   o   espaço  de  dous  olhos  —  em 


*     Vejam-sc  as  pag.  458  a  480  da  1/  parte,  nas  quaes  dei  copia  fiel 
do  tombo  do  dicto  passal,  organisado  no  scculo  xv  —  anno  1:496. 


366  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


quanto  que  pelo  systema  rotineiro  adiantavam  por  vezes  o 
espaço  de  3  a  4  olhos  —  e  mais.  As  pobres  videiras  passados 
ani;ios  attingiam  3  a  4  metros  de  comprimento  e  assim  as 
conservavam  com  as  podas  reduzidas  a  macacos  ou  tornos  de 
3  a  4  olhos  somente,  porque  toda  a  seiva  das  pobres  vides 
mal  podia  sustentar  o  seu  longo  e  velho  corpanzil  cheio  de 
mataduras  provenientes  dos  callos  ou  cortes  das  vergonteas 
que  aparavam  todos  os  annos. 

* 

Pelo  contrario  —  andando  as  vides  curtas,  —  conserva- 
vam-se  mais  íortes  ;  não  se  malbaratava  a  seiva ;  —  produ- 
ziam mais  uvas  e  davam  melhor  poda. 

Eu  mandei  cortar  ao  róz-do-chão  algumas  das  taes  vides 
velhas  muito  compridas  que  já  poucas  uvas  davam  e  —  depois 
de  cortadas  e  enxertadas  —  logo  remoçavam  e  continuavam 
a  produzir  uvas  regularmente. 

'Mais.  —  Como  eu  trazia  as  videiras  curtas,  reduzidas  ape- 
nas aos  dois  olhos  da  espera  e  á  longa  vara  por  ponta  ^  -  dei- 
xava esta  pousada  e  estendida  sobre  a  terra.  —  Como  que 
recebiam  da  sombra  e  da  humidade  nova  seiva ;  —  davam 
muitas  uvas;  —  enxofra vam-se  com  facilidade,  levantando  as 
da  terra  apenas  para  a  enxofraçào  e  deixando=as  outra  vez 
na  mesma  posição,  aspirando  o  enxofre  cabido. 

Davam  assim  mais  uvas,  do  que  se  estivessem  altas  e  ex- 
postas ao  ar  e  —  para  não  apodrecerem  e  melhor  amadure- 
cerem as  uvas,—  nas  proximidades  da  vindima  fàzm  a.  empa, 
levantando  as  dietas  varas  e  isolando-as  da  terra  apenas  com 
alguns  chamiços  e  algumas  pedras. 

—  Não  se  perdia  nem  apodrecia  um  bago  —  e  davam 
uvas  em  barda  !... 

No  meu  ultimo  anno  — 1864  —  vendi  o  vinho,  antes  da 
colheita  das  uvas  a  um  meu  irmão  •  Joaquim  Augusto  Fer- 
reira —  muito  versado  em  agricultura.  Não  justei  por  ser  meu 
irmão  ;  -•  acceitei  o  que  elle  me  deu  e  ficou  muito  satisfeito. 

—  Nunca  vi  tantas  uvas!   . .  —  me  disse  elle. 

* 

As  pobres  videiras  do  passal,  tendo  dado  ao  meu  ante- 
cessor apenas  14  almudes  de  vinho  no  seu  ultimo  anno  — 1860, 
n'aquelle  anno  deram  5  pipas  —  e  dariam  8  a  10,  passados  2 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  367 


annos,  porque,  estando  as  vides  muito  raras,  eu  tractei  de  re- 
povoar as  vinhas  com  mergulhas  ou  mergulhias. 

Só  no  dito  anno  eu  mandei  lançar  de  empreitada  cinco 
mil  pontas,  que  rapidamente  se  desíiuvolveriam  e  dariam  mais 
4  a  5  pi[)as  de  vinho,  se  eu  lá  me  conservasse.  —  Infelizmente 
o  encommendado  que  me  succedeu  —  padre  António  Rodngues 
Cardoso,  de  Taboaço — deu  e  vendeu,  como  barbados,  as  taes 
pontas  ou  videirinhas  novas  que  eu  havia  lançado  ?! .  .  • 

Vendeu  também  por  uma  bagatella  5  ou  G  grandes  oli- 
veiras que  estavam  em  um  lindo  chão  próximo  da  igreja  e 
da  residência  parochial,  —  chão  que,  fazendo  parte  do  passal, 
o  meu  antecessor  alienou  ('?!..  . ),  reservando  para  a  abbadia 
somente  as  taes  oliveiras. 

—  Árcades  ambof,  . . 

Eu  —  só  nas  vinhas  velhas  do  passal — colheria,  pois,  8  a 
10  pipas  de  vinho,  se  ali  me  conservasse;  —  plantaria  também 
vinha  no  Campario,  grande  chão  que  ao  tempo  estava  inculto, 
pertencente  ao  passal  e  contíguo  á  residência  parochial,  —  chão 
que  podia  muito  bem  dar  20  pipas  de  vinho  -  ou  mais, — 
sendo  a  plantação  relativamente  /í^ícíV  —  e  o  dito  chão  muito 
fértil  í .  .  . 

Não  faço,  pois,  versos  dizendo  que,  se  me  conservasse 
em  Távora,  eu  colheria  nos  bens  do  passal  trinta  pipas  de  vi- 
nho—  ou  mais, —  dentro  de  poucos  annos. 

Note-se  que  ao  tempo  apenas  se  conhecia  o  oydium,  que 
já  não  aterrava  ninguém,  pois  combatia-se  facilmente  com  o 
enxofre  em  pó.  —  A  phyloxera  c  as  outras  muitas  doenças  que 
hoje  perseguem  as  vinhas  do  Z^o^ro  — appareceram  mais  tarde. 

—  Eu  valorisei  bastante  o  passal;  mas  ainda  o  valorisaria 
mais  se  estivesse  em  Távora  no  tempo  da  carestia  da  baga 
dos  sabugueÍ7'0s. 

Eu  não  apurei  um  real  em  baga,  porque  ella  no  meu 
tempo  estava  muito  barata  e  o  passal  não  tinha  sabugueiros. 

Quando  a  baga  encareceu  e  chegou  a  vender-se,  como 
se  vendeu  em  Taboaço  e  no  Douro  a  cinco  e  seis  mil  reis  cada 
airoba  de  15  kilos,  era  então  alli  abb  ide  um  meu  successor — 
José  Lúcio  de  Luna  Vasconcellos.  Plantou  elle  muitos  sabuguei- 
ros no  passal  e  chegou  a  apurar  só  em  baga  um  conto  de.  reis, 
em  um  annc  !  —  Foi  bastante;  mas  se  eu  lá  estivesse,  apuraria 
talvez  mais  de  1:500$000  reis,  por  ser  muito  versado  na  cul- 


368  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


tura  da  baga,  —  industria  antiga  na  minha  Penajulia  ena 
minha  casa  da  Co7'vaceira. 

Eu  encheria  literalmente  de  sabugueiros  todo  o  passal, 
comprehendendo  a  parte  regadia,  o  chão  de  seccadal  —  e  as 
próprias  vinhas. 

Os  sabugueiros  são  parasitas.  Gostam  de  terra  húmida  e 
forte;  mas  também  se  desenvolvem  e  produzem  muita  baga 
em  chãos  sem  agua  —  sendo  fortes  e  relativamente  frescos, 
taes  como  as  vinhas  do  passal  e  os  ditos  chãos  de  seccadal. 

Eu  um  anno  semeei  batatas  em  uma  pequena  parte  das 
vinhas  e  dos  dictos  chãos  e  —  sem  rega  nem  adubos  —  colhi 
nove  carros  d'excellentes  batatas!?. .  . 

Estou,  pois,  certo  —  certíssimo  —  de  que,  se  plantasse  nas 
vinhas  e  nos  taes  chãos  sabugueiros  —  elles  se  desenvolveriam 
e  dariam  muita  baga  I 

Note-se  que  o  terreno  de  Távora  é  muito  fértil^  abun- 
dante em  húmus  e  relativamente  fresco.  —  E'  análogo  ao  da 
minha  Penajulia  ou  Penajoia^  -  decantada  terra  das  cerejas 
—  uma  das  freguezias  mais  vastas,  mais  fértei:^  o  mais  mi- 
mosas do  Douro  e  de  Portugal  todo  / . . . 

—  A  minha   Penajoia  —  é  o  jardim  do  Douro,  como  já 

disse.  , 

* 
*       * 

Ella  produz,  como  Távora,  muitas  cerejas,  mas  também, 
como  Távora,  —  produz  algo  mas  do  que  cerejas :  -  laranjas, 
pêras,  maçãs,  figos,  castanhas,  damascos,  ameixas,  pecegos, 
etc.  — ^  ao  todo  500  a  600  carros  d'optima  fructa. 

Foi  também  sempre  o  vinho,  como  em  Távora,  a  sua 
produção  dominante.  —  Ainda  hoje  produz  cerca  dó  3:0(JO  pi- 
pas de  vinho  e  2  a  3ú,00  razas  de  baga;  mas  no  tempo  da 
carestia  d'ella  chegou  a  produzir  cerca  de  vinte  mil  razas  de 
baga  por  annofl.    . 

Pôde  afoitamente  dizer  se  que  nenhuma  outra  freguezia 
de  Portugal  e  do  Z)o?íro  jamais  produziu  tanta  baga  —  e  quasi 
toda  em  sabugueiros  plantados  entre  as  vinhas  em  chãos  de 
seccadal  '.  —  E  teve  sabugueiros  enormes  que  davam  por  anno 
duas  a  três  arrobas  de  baga'^! .  .  .  —  Infelizmente  a  baga  baixou 
de  preço  e,  como  os  sabugueiros  são  parasitas  e  muito  gulo- 
sos, —  estendem  as  raizes  até  grande  distancia  e  com  a  som- 
bra prejudicam  muito  as  vides  e  as  outras  plantas,-  arranca- 
ram a  maior  parte  d'elles. 

A  minha  Penajulia  e  outras  freguezias  do  Baixo  Douro, 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  3G9 


como  Sande,  Samodães',  Valdigem,  Camhres^  etc,  apuraram 
muito  dinheiro  em  baga.—  O  mesmo  succedeu  por  excepção 
no  Alto  DourOy  nomeadamente  em  Taboaço  e  Távora. 

—  Só  a  villa  de  Taboaço  apurou  em  baga  cerca  de  vinte 
contos  de  reis —  em  um  anno  ! .  .  . 

Apurou  mais  dinheiro  em  baga  no  dicto  anno,  do  que  em 
vinho,  sendo  o  vinho,  como  em  Távora  e  nsi  Penajoia,  a  sua 
produção  dominante.  —  E,  se  a  baga  encarecesse  novamente 
e  houvesse  a  certeza  de  que  ella  sustentava  durante  vinte 
annos  o  preço  —  não  direi  de  õ  a  ()  mil  reis,  como  no  tempo 
das  vaccas  gordas,  mas  simplesmente  o  preço  de  2  a  3  mil  reis 
cada  arroba,  —  a  produção  da  baga  duplicaria  ou  triplicaria 
novamente  e  rapidamente/, . . 

Note-se  que  os  sabugueiros  prendem  d' estaca  e  —  são  ar- 
vores de  grande  porte  e  de  fácil  cultura; — apenas  demandam 
poda  —  e  dão  vergonteas  de  1  a  2  metros  por  anno. — E' 
muito  mais  moroso  o  desenvolvimento  das  oliveiras  —  e  de 
todas  as  outras  arvores  fructiferasl... 

Eu  nunca  fui  lavrador,  porque  os  meus  pais  desde  crean- 
ça  me  destinaram  para  o  estudo  e  nunca  me  occuparam  na 
lavoura.  Mas,  por  nascer  e  viver  no  Douro  em  contacto  com 
os  lavradores  e  por  ter  lido  algo  d'agricultura,  —  a  industria 
mãe  das  industrias  todas  —  algo  sei  da  cultura  das  vinhas  e 
da  baga.  —  E,  se  eu  estivesse  em  Távora,  quando  o  meu  suc- 
cessor  apurou  só  em  baga  tim  conto  de  reis  em  um  anno,  — 
eu,  como  já  disse,  talvez  apurasse  mais  de  1:500$000  reis. 

* 

*  * 

Talvez  que  nem  me  lembrasse  de  pedir  a  transfe- 
rencia, —  mesmo  porque  eu  gostava  —  e  gosto  ainda  hoje 
muito  —  de  Távora,  —  freguezia  muito  mimosa,  muito  fértil, 
muito  saudável — e  hoje  muito  linda  e  muito  habitável. 

—  E'  uma  das  que  mais  tem  progredido  na  Beira  —no- 
meadamente no  concelho  de  Taboaco.  '' 

No  meu  tempo  as  suas  estradas  eram  barrancos,  despe- 
nhadeiros, que  mal  podiam  transpor-so  em  sella.  —  Hoje  é 
atravessada  por  uma  linda  estrada  a  macadam  que,  partindo 
da  bella  ponte  do  Pinhão,  no  Douro,  segue  por  Taboaço  para 
Moimenta  da  Beira,  estando  a  parte  maior  e  mais  difficil  já 

feita. 

* 

*  * 

Atravessa  toda  a  freguezia  de  Távora  em  linha  horizon- 

S4 


370  TENTATIVA    ETYMOLOQICO-TOPONYMICA 


tal,  formando  uma  bella  estrada  —  rua^  que  já  tem  difíeren- 
tes  casas,  sendo  uma  d'ellas  a  mais  luxuosa  da  freguezia 
toda  —  e  uma  das  mais  luxuosas  do  concelho  e  da  província 
da  Beira,  « 

Pertence  a  dieta  casa  ao  sr.  Adriano  Gomes  Seií^ano, 
meu  primo,  por  affinidade,  capitalista  brazileiro,  filho  de 
Távora  e  excellente  pessoa,  que  já  mandou  restaurar  e  dou- 
rar os  altares  todos  da  egreja  matriz  —  e  é  o  grande  prote- 
ctor da  freguezia. 

—  Graças  a  s.  ex.*  —  a  egreja  de  Távora  é  hoje  a  mais 
formosa  do  concelho  —  e  tem  auxiliado  a  construcção  d'uma 
linda  torre  da  mesma  egreja,  —  construcção  promovida  por 
outro  filho  benemérito  de  Távora  —  o  sr.  António  de  Bar- 
ros Costa,  —  primo  de  s.  ex.*  e  meu  bom  e  velho  amigo  desde 
o  tempo  em  que  ali  fui  parocho  —  em  1861  a  1864. 

A  linda  torre  concluiu-se  em  1908  —  e  terá  um  relógio 
de  repetição  com  sino  próprio,  muito  generosamente  dados  por 
outro  benemérito  filho  de  Távora.  —  Refiro-me  ao  sr.  dr.  Ma- 
nuel de  Barros  Nobre,  actualmente  desembargador  da  E-elação 
do  Porto, — magistrado  digníssimo,  i— E'  s.  ex,*  primo  do 
sr.  António  de  Barros  Costa  —  e  meu  bom  e  velho  amigo 
também  desde  o  nosso  bom  tempo  de  Coimbra  —  ou  desde 
1851  a  1856. 

*      * 

—  Mire-se  n'este  espelho  o  meu  atávico  siiccessor,  que 
muito  provavelmente  será  o  snr.  dr.  Joaquim  da  Silveira,  da 
Anadia,  actualmente  notário  e  advogado  em  Alcanena.  —  E' 
o  amigo  mais  falso  e  mais  ingrato  que  n^este  mundo  encontrei, 
—  sendo  um  dos  amigos  que  mais  sincera  e  cordealmente  es- 
timei—  e  ao  qual  prestei  mais  finezas  e  mais  relevantes  ser- 
viços?/... 


1  V.  Távora  no  Portugal  antigo  e  moderno,  vol.  i.  pag.  518,  —  e 
os  meus  pobres  folhetins. . . 

Foi  isto  o  que  eu  escrevi  e  mandei  para  o  Conimbricense  em  julho 
de  1907,  mas  em  agosto  do  mesmo  anno  o  dicto  jornal  acabou;  —  em  se- 
tembro do  mesmo  anno  falleceu  no  Porto  o  meu  bom  ami^o  desembarga- 
dor Barros  Nobre  -c  em  junho  do  corrente  anno  de  1909  falleceu  em 
Távora  o  primo  d'elle  e  meu  bom  amigo  também  —  António  de  Barros 
Costa  ?!  ■  . 

A  torre  de  Távora  c  muito  linda  e  ficou  concluída,  —  mas  sem  o  re- 
lógio, porque  as  duas  sobrinhas,  herdeiras  do  desembargador,  se  recusa- 
ram a  cumprir  a  promessa  do  seu  tio  —  e  até  hoje  nem  mandaram  fazer 
no  cemitério  de  Távora  o  mauzolèu  cm  que  o  tio  deve  ser  inhumado?  !... 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  371 


—  Além  de  bastantes  livros,  sendo  alguns  raros  e  caros, 
avultando  de  entre  elles  um  bello  exemplar  do  PortiiqaUae 
Monumenta,  completo  e  muito  bem  encadernado,  —  dei-lhe  os 
meus  caros  verbetes  ett/ mo  lógicos  todos — em  numero  de  milhões, 
talvez  —  e  que  pesavam  cerca  de  ÍJO  kilos,  —  fructo  do  meu 
trabalho  insano  de  10  a  1'2  annos,  — verbetes  que  eu,  se 
estivesse  mais  vigoroso,  não  dava  por  três  contos  de  reis?!... 
Protestando-me  s.  ex.a  de  viva  voz  e  por  escripta  muitas  vezes 
eterna  gratidão,—  pagou-me  com  a  mais  negra  e  vil  ingratidão. 

Apenas  se  viu  na  posse  dos  meus  caros  verbetes,  —  es- 
gueiron-se  com  elles^  tratando-me  com  desdém  e  voltando  me 
inclusivamente  as  costas,  pelo  que  o  deixei  em  paz  e  ás  moscas. 

O  homem  padece  do  sangue,  o  que  eu  ignorava,  quando 
me  escreveu  a  primeira  vez  de  Coimbra  no  seu  2.°  anno  de 
direito,  como  repetente  i,  offerecendo-me  os  seus  serviços  na 
labuta  etymologica. 

Padece  do  sangue,  porque  eu,  não  podendo  explicar  d'ou- 
tra  forma  tão  estranho  procedimento,  tratei  de  me  iníormar 
e  soube  que  não  me  enganava?! . .  . 

—  Qui  viget  in  foliis  —  venit  e  radicibus  humor  —  ou  talis 
arbor,  talis  fructus. 

—  Sauve  qui  peut! . . . 

Eu  gostava  e  gosto  ainda  hoje  muito  de  Távora.  — Passei 
ali  3  annos  admiravelmente,  porque  me  honravam  com  par- 
ticular estima  as  principaes  familias  de  Távora,  de  Riodades 
e  de  Taboaço,  villa  próxima  de  Távora,  sede  do  concelho  e 
da  comarca. 

Eu  estou  derreado  de  todo  com  o  peso  dos  meus  77  an- 
nos e  com  o  meu  árido  estudo  —  lima  surda  que  mina  a 
existência. 

Ha  muito  que  não  sahi  nem  tenciono  sahir  do  Porto  — 
nem  fui  a  Távora,  mas,  se  ali  voltasse,  como  desejava,  seria 
talvez  bem  recebido, 'porque,  apesar  de  haverem  decorrido  já 
45  annos  desde  que  sahi  de  Távora  em  1864,  —  ainda  lá  se 
recordam  de  mim  como  prova  o  documento  seguinte. 

Desculpem  a  falta  de  modéstia  : 


1  Elle  deve  saber  muito  de  direito,  pois  gastou  com  a  formatura  nove 
annos?!. . . 

Repetiu  o  l.o,  2.o.  4.o  e  5.<)  annos— e  não  repetiu  o  3."  porque  eu  me 
empenhei  para  o  salvar. 

Passou  por  muito  favor  simpíiciicr?  !. . . 

.V.  Joaquim  da  Silveira,  nos  índices  da  l.^i  e  2.^  partes  d'esta  Ten- 
tativa. 


372  TENTATIVA  ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 

flcta  da  sessão  de  trinta  de  Dezembro  de  1906 


ftAos  30  dias  do  mez  de  Dezembro  do  anno  de  1906,  a 
Junta  de  Parochia  d'esta  freguezia  de  Távora  se  reuniu  na 
salla  das  suas  sessões.  —  Foram  presentes  a  ella  o  presidente 
Manoel  Ferreira  de  Bastos  Caulino,  e  os  vogaes  Manoel  António 
de  Carvalho  e  Majwel  Joaquim  Monteiro,  comigo  João  Baptista 
Ignacio  Ferreira,  secretario  da  Junta,  que  esta  escrevo. 

«Aberta  a  sessão,  o  presidente  propôz  que  fosse  exarado 
n'esta  acta  um  voto  de  louvor  ao...  rev."^®...  dr.  Pedro  Au- 
gusto Ferreira. .  ,,  abbade  jubilado  de  Miragaya,  em  virtude 
d'este  benemérito  cidadão  ter  concorrido  com  a  quantia  de 
quarenta  mil  reis,  —  sendo  vinte  mil  reis  para  a  arborisação  da 
estrada  nova  que  passa  n'esta  localidade  ^  —  e  outros  vinte 
mil  reis  para  ajuda  da  construcção  da  torre  que  se  pretendeu 
construir  n'esta  parochia  de  S.  João  Baptista  de  Távora, 
onde  o  illustre  sacerdote  mencionado  supra  foi  parocho  du- 
rante alguns  annos,  prestando  então  relevantes  serviços  aos 
seus  parochianos  e  a  Távora,  —  serviços  que  jamais  serão  es- 
quecidos. 

* 
*       * 

«Tal  proposta  foi  acolhida  e  approvada  por  unanimi- 
dade, por  traduzir  a  gratidão  que  os  habitantes  de  Távora 
devem  ao  seu  querido  e  bondoso  ex-parocho  que,  apezar  de 
hoje  estar  retirado  da  vida  parochial  e  não  ter  obrigação  de 
pugnar  pelos  interesses  d'esta  freguezia,  concorre  tão  gentil- 
mente .  .  para  os  seus  melhoramentos  materiaes  e  se  inte- 
ressa e  consola  tão  carinhosamente  com  os  progressos  que- 
n'esta  freguezia  de  Távora  se  vão  notando,  devido  aos  esfor- 
ços e  energia  d'alguns  filhos  illustres  d'esta  terra. 

(cNão  havendo  mais  nada  a  tratar^  o  presidente  ordenou 
ao  secretario  que  sem  perda  de  tempo  tirasse  copia  d'esta 
acta  e  a  enviasse  ao  illustre  sacerdote  em  questão_, —  verda- 
deiro ornamento  das  letras  portuguezas,  a  quem  a  pátria 
muito  deve.  —  E  por  não  haver  mais  nada  a  tratar,  deu  elle 
presidente  esta  sessão  por  finda  e  acabada,  que  por  todos  vae 


1     Em  1907  dei  mais  vinte  mil  reis  para  a  arborisação  da  dieta  es- 
trada. 


TENTATIVA    ETYMOrX)aiCO-TOPONYMICA  373 


ser  assignada  e  por  mim  João  Baptista  Ignacio  Ferreira,  se- 
cretario da  Junta,  que  esta  escrevi.  Era  ut  retro. 

O   Presidente  —  Manuel   Ferreira  de  Bastos  Caulino. 

O  vogal  —  Manuel  António  de  Carvalho. 

O  vogal  —  Manuel  Joaquim.  Monteiro. 

O  secretario  —  João  Baptista  Ignacio  Ferreira. 

—  Está  conforme  ao  original,  que  se  encontra  no  livro 
das  actas  das  sessões  d'esta  Junta  de  Parochia,  a  paginas  49 
verso,  e  oO. 

O  secretario — João  Baptista  Ignacio  Ferreira. y> 

* 

*       * 

Effectivamente  eu,  lembrando-me  de  que  os  sinos  de  Tá- 
vora, desde  que  foi  construida  nos  fins  do  sec.  XVIII  a  nova 
egreja  matriz,  estavam  em  um  pequeno  e  humilde  campaná- 
rio —  e  de  que  o  meu  bom  e  velho  amigo  —  snr.  António  de 
Barros  Costa  se  propunha  substituir  o  pobre  campanário  por 
uma  torre,  —  mandei-lhe  iáO$000  reis  para  ajuda  da  despeza. 

Note-se  que  elle  tem  uma  fortuna  modesta,  mas  —  des- 
culpe s.  ex.^  a  franqueza  —  ó  um  dos  cavalheiros  mais  honra- 
dos que  eu  conheço  —  e  um  dos  mais  beneméritos  filhos  de 
Távora. 

—  Adora  a  sua  terra  natal  e  tem-lhe  prestado  relevantes 
serviços,  promovendo  a  reparação  das  fontes,  das  estradas, 
etc.  —  E  a  camará  municipal  attende-o,  porque  sabe  que  elle 
é  honradíssimo  e  zela  as  obras  municipaes  com  tanto  inte- 
resse como  se  fossem  suas  próprias. 

—  Assim  no  momento  está  zelando  e  fiscalisando  a  con- 
strucção  da  nova  torre_,  —  construcção  promovida  por  elle,  já 
por  ser  uma  obra  de  muito  interesse  para  a  sua  adorada  fre- 
guezia, -— já  porque  mora  na  veneranda  Casa  da  Torre? ! . .  . 

A  dita  casa  é  humilde,  mas  muito  antiga,  —  a  única  do 
Távora  que  tem  inscripções  na  fronteria  —  e  que,  se  hoje  nãf) 
tem  torre,  muito  provavelmente  já  teve  alguma  torre,  como 
está  dizendo  o  seu  nome  :  —  Casa  da  Torrei  ! , . . 

Note-se  também  que  por  coincidência  a  veneranda  C<isa 
da  Torre  demora  no  mesmo  plano  e  a  poucos  metros  de  dis- 
tancia da  egreja  matriz  e  da  nova  torre. 

Mandei-lhe  também  20$000  reis  para  a  arborisação  da 
bella  estrada  a  macadam,  que  passa  atravez  de  Távora,  a 
montante  da  egreja  matriz  e  a  jusante  do  lindo  cemitério  da 
villa,  que  pôde  dizer-se  —  o  jardim  publico  d''.  Távora. 


374  TENTATIVA    ET  YMOLOGICO-TOPONYMICA 


—  E'  muito  vistoso  ;  —  domina  a  igreja  matriz, —  a  resti- 
dencia  parochial,  —  a  veneranda  Casa  da  Torre  e  a  viila 
quasi  toda. 

—  Tem  um  lindo  portão  de  ferro,  di£ferentes  mauzoleus 
com  inscripções  —  e  está  bem  arborisado. 

O  mauzoleu  mais  luxuoso  é  o  do  meu  primo  Serrano. — 
Tem  fronteria  de  mármore  e  custou-lhe  1:500$000  reis. 

Eu,  como  presidente  da  junta  de  parochia,  tentei  fazer  o 
cemitério  no  mesmo  sitio,  quando  ali  fui  parocho.  Não  o  fiz 
por  causa  da  minha  transferencia  para  o  Porto,  mas  deixei 
a  planta  para  elle  com  o  respectivo  orçamento  e  as  áuctorisa- 
ções  precisas  —  bem  como  a  verba  do  orçamento  já  lançada 
em  derrama  pela  junta  de  parochia  sobre  a  freguezia  toda. 
Construiu-se  mais  tarde  —  no  anno  de  1883  —  quando  eu  já 
era  abbade  de  Miragaya,  no  Porto. 

—  I)e  passagem  direi  que  a  planta  do  dito  cemitério  foi 
— por  deferência  para  commigo — levantada  em  1863  pelo  snr. 
Joaquim  Ferreira  de  Macedo  Pinto,  de  TaboaçOj  então  ali  be- 
nemérito presidente  da  camará  municipal.  * 

O  dito  snr.  ainda  hoje  vive  —  e  está  muito  mais  vigo- 
roso do  que  eu,  posto  que  já  conta  cerca  de  90  annos. 

—  E'  o  ultimo  dos  seus  oito  irmãos  e  por  consequência 
representante  digníssimo  da  opulenta  casa  Macedos  Pintos,  de 
Taboaço,  —  e  ainda  hoje  —  1909  —  muito  meu  amigo  e  da  mi- 
nha familia. 

—  Devemos-lhe  as  maiores  finezas  —  e  já  s.  ex.*  duas  ve- 
zes me  disse: 

—  ^1^  relações  entre  as  nossas  famílias  já  veeni  do  tempo 
dos  nossos  avós. 

—  Contam,  pois,  mais  de  150  annos,  o  que  é  muito  hon- 
roso para  mim  e  para  a  minha  obscura  familia,  porque  os 
snrs.  Macedos  Pintos,  de  Taboaço,  —  desde  tempo  muito  re- 
moto foram  e  são   o  grande  blóeo, —  a  familia  mais  impor- 


'  —  E'  presidente  actual  da  mesma  camará  o  snr.  dr.  Victor  José 
de  Deus  Macedo  P//z/o,  — excellente  pessoa  e  muito  ilhi^rado,  cavalheiro 
a  toda  a  prova  e  bacharel  formado  em  Medicina,  casado  e  com  successão, 
filho  do  snr.  Joaquim  Ferreira  de  Macedo  Pinto. 

—  Talis  arbor,  talis  fructus  —  ou  —  qui  viget  in  foliis  venit  c  ra- 
dicibus  humor 

—  Com  vista  ao  meu  atávico  successor— — o  amigo  mais 

falso  c  mais  ingrato  que  n'este  mundo  encontiei. 

—  Sauve  qui  pcut ! 

V.  Joaquim  da  Silveira  nos  Índices  da  1.^  e  2.^  parte  d'esta  obra. 


TENTATIVA    KTVMOr>OaiCO-TOPON YMICA  375 


taiite,  mais  considerada  e  mais  rica  do  concelho  de  Tahocup 
—  o  uma  das  mais  importantes,  mais  consideradas  e  mais  ri- 
cas do  Douro  todo?!.  . .  ^ 

■i-  * 

Volvendo  a  Távora,  ainda  direi  que  a  arborisação  do 
lindo  cemitério  foi  dada  pelo  snr.  dr.  Victor  José  de  Deus 
Macedo  Pinto,  benemérito  presidente  da  camará  municipal  de 
Taboaço,  filho  do  snr.  Joaquim  Ferreira  de  Macedo  Pinto,  —  e 
excellente  pessoa  —  ou  do  mesmo  sangue  do  pai! .  .  . 

Eu  apenas  dei  40$000  reis  para  inicio  da  arborisação  da 
bella  estrada  nova  que  passa  atravez  de  Távora  e  a  jusante 
do  cemitério. 

Foi  a  dita  somma  empregada  nos  eucalyptos  que  lá  se 
vêem, —  graças  ao  meu  bom  amigo  snr.  António  de  Barros 
Costa,  que  muito  generosamente  se  incumbiu  da  plantação  e 
conservação  d'elles. 

Na  falta  d'outro  monumento,  os  pobres  eucalyptos,  que 
são  muito  vivazes,  muito  lindos  e  muito  duradouros^  lembra- 
rão aos  vindouros  o  meu  humilde  nome  e  o  do  meu  bom 
amigo  Barros  Gosta, 

EUe  adora-os,  —  visita-os  muitas  vezes  e  trata-os  com 
todo  o  carinho.  —  Oriou-os,  por  assim  dizer,  como  filhos  ;  mas, 
como  bom  pai,  estima  e  presa  incomparavelmente  mais  o  seu 
único  filho  —  snr.  dr.  Alberto  de  Barros  Costa  —  excellente 
pessoa  também  e  um  talento  superior. 

—  Formou  se  em  medicina  no  anno  de  1906  —  obtendo 
sempre  distincções ;  —  casou  em  Coimbra  com  a  sr.*  D.  Her- 
minia  de  Barros  Costa  e,  sendo  facultativo  do  ultramar,  vive 
actualmente  no  Congo  portuguez,  com  a  sua  adorada  esposa  e 
uma  filhinha  que  já  tem. 

* 
*       * 

Eu  não  posso  esquecer  Távora,  por  muitas  considerações 
e  porque  na  grande  residência  parochial,  —  uma  das  maiores 


^    Vejam-se  no  Portugal  antigo  e  moderno  os  meus  artigos  Mira- 
gaya,  vol.  5. o,  pag.  269,  col.  l.-i 

—  Sendini,  vol.  9.«,  pag.  103,  col.  1.''^. 

—  Taboaço,  no  mesmo  vol.,  pag.  468  a  475, —  e  Vicente  (S.)  —  sitio 
da  freguezia  e  villa  de  Taboaço,  vol.  lO.o,  pag.  516  a  519. 


376  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


e  melhores  do  bispado  de  Lamego,  —  me  iniciei  na  vida  d'es- 
críptor. 

Durante  os  três  annos  em  que  ali  fui  abbade  —  collabo- 
rei  no  Almanach  luso-brazileíro,  publicando  charadas,  logogri- 
phos  e  vários  artigos  em  prosa  humorísticos^  fazendo-me  o 
seu  illustrado  director  a  fineza  de  publicar  todos  os  annos 
três  artigos  meus,  —  numero  máximo,  concedido  aos  diversos 
collaboradores,  por  serem  muitos,  —  e  pequeno  o  formato  do 
lindo  Almanach. 

Também  durante  aquelles  três  annos  mandei  para  o 
Jornal  do  Porto  cartas  ou  correspondências  noticiosas  e  se- 
manaes,  escriptas  em  Távora,  mas  com  o  titulo  de  Taboaço. 

As  minhas  pobres  cartas  contribuíram  talvez  algo  para  a 
febre  das  correspondências  posteriores  da  provinda  —  e  rela- 
cionaram-me  com  o  meu  saudoso  amigo  António  Rodrigues  da 
Cruz  Coutinho,  dono  do  Jornal  do  Porto,  que  —  durante  mui- 
tos annos  —  foi  o  jornal  politico  de  mais  valor  e  mais  peso 
que  houve  em  Portugal! .  . . 

—  Era  por  assim  dizer  —  o  thermometro  da  nossa  poli- 
tica. 

—  EUe  não  só  se  intitulava,  como  outros  muitos,  — Cornai 
independente,  mas  bem  merecia  o  titulo,  pois  durante  a  longa 
vida  do  seu  benemérito  fundador,  proprietário  e  director  —  foi 
o  typo  dos  jornaes  independentes  —  e  nunca  se  filiou  em  par- 
tido algum. 

—  A  politica  do  Jornal  do  Porto, —  era  a  do  seu  bene- 
mérito fundador,  proprietário  e  director  Crtiz  Coutinho  su- 
pra, —  homem  honradíssimo,  —  Portugal  velho,  propriamente 
dicto,  —  e  muito  independente,  por  ser  muito  modesto  e  ter 
fortuna  própria,  obtida  muito  honrosamente  pelo  seu  traba- 
lho como  lioreiro-editor . 

—  A  livraria  Cruz  Coutinho,  aos  Caldeireiros,  foi  durante 
muitos  annos,  —  uma  das  primeiras  do  Porto.  —  Já  era  muito 
acreditada  quando  fundou  o  jornal  e  d'elle  e  da  fortuna 
obtida  por  ella  vivia,  —  não  do  jornal,  —  posto  que  este  algo 
rendia  também. 

O  Jornal  do  Porto,  era  muito  bem  escripto,  muito  de- 
cente, muito  bem  dirigido,  muito  acreditado  e  muito  respei- 
tado por  todos  os  governos,  por  ser  independentíssimo  t .. . 

Chegou  a  ter  larga  tiragem  e  nunca  lhe  deu  prejuízo, 
posto  que  algumas  vezes,  quando  declarava  opposição  franca 


1 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  377 


ao  governo,  se  despediam  em  poucos  dias  muitos  assifjnantes, 
como  eu  observei,  pois  dava-me  com  o  benemérito  Cru2  Cou- 
tinho o  com  o  administrador  do  jornal  —  José  António  de  Bar- 
ros Braga. 

Certo  dia  disse-lhe  este  : 

—  Já  esta  semana  se  despediram  tantos  assignantes  / .  .  . 

—  Isso  pouco  me  importa,  porque  felizmente  tenho  ainda 
recursos  para  a  féria  d'esta  semana  e  da  seguinte,  —  respon- 
deu Cruz  Coutinho. 

Elle  era  republicano,  mas  opportunista.  ■ 

Nunca  se  pronunciou  abertamente  a  favor  da  republica, 
por  ver  que  o  nosso  paiz  era  um  paiz  de  analpliabetos  que  não 
comprehendiam  — com,o  ainda  hoje  não  comprehendem — o  que 
é  a  republica: — o  governo  do  povo  pelo  próprio  povo. 

Era  opportíinista  e  muito  prudentemente  aguardava  dias 
melhores ;  entretanto  acompanhava  os  governos  monarchicos_, 
mas  não  cegamente. 

—  Censurava  um  governo  qualquer,  logo  que  o  julgava 
dig)io  de  censura,  —  e  louvava  por  vezes  o  mesmo  governo, 
quando  o  julgava  digno  de  louvor,  mas  nunca  foi  pamphle- 
tario. 

Presou  sempre  muito  a  dignidade  da  imprensa.  —  Elo- 
giava e  censurava  sempre  modestamente  e  respeitosamente  —  e 
era  mais  propenso  a  elogiar,  do  que  a  censurar. 

Foi  esta  sempre  a  sua  politica  e  a  sua  norma  de  condu- 
cta,  pelo  que  os  governos  todos  o  respeitavam  e  temiam  / .  . . 

•  Quando  declarasse  opposição  franca  a  um  governo  qual- 
quer —  esse  governo  não  ia  longe. 

Ahi  vae  um  facto  eloquente : 

Um  dos  meus  melhores  amigos  desde  o  nosso  bom  tempo 
de  Coimbra  foi,  como  já  disse,  o  dr.  Júlio  Cezar  d^ Almeida 
Rainha,  da  opulenta  casa  Rainhas,  de  Gouveia,  —  talento  su- 
perior e  muito  illustrado, 

—  Era  licenciado  com  o  6."  anno  em  theologia,  —  bacha- 
rel formado  e  sempre  premiado  em  direito,  —  deputado  em 
varias  legislaturas,  etc. 

Foi  tão  meu  amigo   desde  que  nos  encontrámos  como 
condiscipulos  em  Coimbra,  até  que  falleceu  em  1889  na  sua 
,  casa  da  Figueira,  que  muitas  vezez  veiu  de  Gouveia  e  da  Fi- 
gueira ao  Porto  —  só  para  mé  ver  e  cumprimentar. 

Por  occasião  de  uma  d'essas  visitas,  disse-me  elle : 

—  Que  te  parece  a  nossa  politica? 

—  Eu  julgo  que  o  governo  actual  tem  os  seus  dias  con- 


378  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


tados  —  respondi  eu  —  porque  o  Jornal  do  Porto  lhe  declarou 
aberta  e  franca  opposição. 

—  O  governo  não  liga  importância  alguma  ao  Jornal  do 
Porto;  —  está  firme  e   muito  firme — e  durará  muito  tempo l 

—  me  disse  elle ;  mas,  passados  poucos  dias,  —  o  governo  foi 
de  catrambias ! . . . 

Outro  facto: 

Certo  dia,  estando  no  poder  um  dos  nossos  estadistas 
mais  considerados,  mandou  olferecer  ao  Cruz  Coutinho — cem 
contos  de  7'eis  para  lhe  vender  o  Jornal  do  Porto,  mas  o  hon- 
rado C7'uz  Coutinho  desprezou  com  o  maior  altruísmo  tão  li- 
songeira  proposta,  —  segundo  me  afíirmaram  pessoas  compe- 
tentes. 

Cruz  Coutinho  deixou  uma  fortuna  muito  solida,  avaliada 
em  sessenta  contos  de  reis,  —  uma  livraria  importante,  muito 
acreditada  —  e  não  menos  acreditado  o  seu  Jornal  do  Forto, 

Deixou  também  um  nome  illibado !  —  Se  não  fosse  tão 
cavalheiro  e  tão  honrado  —  só  com  a  proposta  supra  —  podia 
duplicar  ou  triplicar  a  fortuna. 

Infelizmente  deixou  dous  filhos  naturaes  que  degenera- 
ram.—  Em  poucos  annos  meteram  a  pique  tudo  o  que  o  pai 
lhes  deixou. 

—  Venderam  a  grande  livraria,  o  Jornal  do  Porto,  etc, 

—  e,  podendo  viver  muito  bem,  luctam  com  as  maiores  diffi- 
culdades?!... 

O  mais  velho  —  António  Rodrigtces  da  Cruz  Coutinho  — 
como  o  pai  e  pelo  pai  educado  e  destinado  para  seu  successor, 

—  é  um  talento  verd*adeiramente  superior  e  muito  illustrado. 

—  E'  muito  versado  em  portuguez^  francez,  allemão,  inglez, 
etc, —  e  na  industria  dos  livros  ainda  hoje  é  talvez  o  homem 
mais  competente  e  mais  habilitado  que  ha  no  Porto,  mas  de  nada 
lhe  servem  tantas  habilitações!... 

Depois  de  dar  cabo  da  sua  livraria  e  da  sua  fortuna,  já 
esteve  empregado  em  diversas  livrarias  no  Porto,  em  Coimbra, 
em  Lisboa  e  no  Brazil.  —  Agora  está  pela  segunda  vez  no 
Chinde,  Africa  Oriental,  —  como  feitor  ou  coisa  semelhante 
em  uma  roça  do  sertão,  —  vivendo  entre  as  feras  e  entre  os. 
selvagens,  peores  do  que  as  feras?!  .  .  —  Elle  que  é  tão  illus- 
trado e  tem  já  53  annos,  estando  por  consequência  já  velho 
e  gasto!  Foi  também  sempre  muito  franzino,  débil,  timido  e 
fraco  —  e  nunca  matou  um  coelho  nem  uma  perdiz ! .  .  . 


TENTATIVA   ETYMOLOriICO-TOPONYMrCA  379 


—  Custa  a  crer,  mas  ê  facto. 

—  Para  feitor  d'ama  roça  no  interior  da  Africa  era  mais 
competente  qualquer  salteador  ou  assassino  degredado,  como 
o  João  Brandão  ou  o  José  do  Telhado. 

._  Pobre  Cruz  Coutinho! , . .  — Degredou-se  espontanea- 
mente^ mas  felizmente  ainda  está  solteiro. 

O  irmão  mais  novo  —  Luiz  da  Cruz  Coutinho  —  casou  de 

tenra  idade  e  figurou. —  Só  em  um  anno  gastou  cinco  contos 

de  reis,  pelo  que  malbaratou  em  prazo  breve  a  sua  fortuna  e 

vive  do  seu  trabalho  como  simples  caixeiro l  —  Já  esteve  em 

I^oanda  e  tem  ido   muitas  vezes  ao  Brazil  com  amostras  de 

vinho. 

* 

Volvendo  a  Távora,  seja-me  licito  dizer  ainda — que  eu 
nos  três  annos  em  que  ali  fui  parocho  não  só  beneficiei  o 
passal,  mas  toda  a  freguezia,  operando  uma  transformação  im- 
portante na  agricultura  d'ella,  como  no  triénio  do  meu  profes- 
sorado beneficiei  e  transformei  as  ordenações  de  Lamego. 

Não  exagero,  como  os  leitores  vão  ver. 

—  A  freguezia  de  Távora  é  mimosíssima  e  fertilissima, 
porque  está  no  clima  das  larangeiras  e  das  cerdeiras. 

Pôde  afoitamente  dizer-se  que  desde  a  Regoa  —  coração 
do  Douro  —  até  á  Barca  d' Alva,  fronteira  da  Hespanha,  —  e 
mesmo  até  á  Andaluzia,  a  província  mais  fértil  e  mais  mimosa 
da  Hespanha,  —  Távora  nqo  tem  rival ! .  .  . 

Produz  grande  quantidade  de  fructa  saborosíssima  e  va- 
riadíssima, nomeadamente  laranjas  e  cerejas.^  pelo  que  Tá- 
vora é  no  Douro  cognominada,  como  a  minha  Penajulia  ou 
Penajoia  —  terra  das  cerejas  ! .  .  . 

A  minha  Penajoia,  por  ser  muito  mais  espaçosa,  produz 
mais  cerejas,  mas  Távora  também  produz  muitas  e  muito 
têmporas  —  e  apura  n'ellas  muito  dinheiro. 

Como  são  as  primeiras  que  amadurecem  n'aquella  região, 
até  muitas  legoas  de  distancia  nas  províncias  da  Beira  e 
Traz-os-Montes^  —  os  filhos  de  Távora  desde  os  principies  de 
maio,  até  os  fins  de  junho  costumam  abastecer  com  ellas  os 
mercados,  romarias  e  feiras  d'aquellas  duas  províncias. 

Levam-nas  em  cargas  até  Sernancelhe,  Penedono,  Moi- 
menta da  Beira^  Meda  e  Marialva,  na'  Beira,  —  e  até  á  Torre 
de  D.  Chama,  em  Trax-os- Montes,  —  sítios  distantes  de  Tá- 
vora, 20  a  50  kilometros. 

Também  produz  muito   e  óptimo  azeite,  batatas,  casta- 


380  TENTATIVA    ETYMOLOGUCO-TOPONYMICA 


nhãs,  milho,  cevada,  centeio,  trigo,  eto.,  — mas  desde  tempos 
muito  remotos  a  sua  producção  principal  —  é  óptimo  vinho  de 
mezal... — Está,  por  tanto,  exposta  ás  crises  vinicolas  do 
Douro  e,  quando  eu  fui  para  Távora  em  1861  —  causavam 
dó  os  seus  vinhedos,  por  estarem  todos  carregados  e  devora- 
rados  pelo  oydium l.  . . 


Em  grande  parte  do  Douro,  esta  epiphytia  já  se  com- 
batia com  o  enxofre.  —  O  primeiro  lavrador  ou  proprietário 
do  Douro  que  o  introduziu  e  applicou  —  foi  o  benemérito  snr. 
Félix  Mavuel  Borges  Pinto,  dono  da  quinta  de  Castello  de 
Borges,  no  valle  do  Tédo,  —  e  o  segundo  foi  meu  pai  —  José 
António  Ferreira  —  na  sua  quinta  do  Campo  Bello  ou  Campo 
Velho,  muito  próxima  da  do  Félix,  no  Alto-Douro.  —Também 
o  meu  pai  ao  mesmo  tempo  enxofrou  o  seu  casal  da  Penajoia 
ou  Corvaceira^  no  Baixo-Douro,  pelo  que  o  meu  pai  e  o  dito 
snr,  Félix  —  reconstituir  a  m  logo  os  seus  vinhedos  e  apuraram 
bom  dinheiro  em  vinho! . .  -    ^ 

Note-se  que  lauitos  lavradores  do  Douro  só  passados  an- 
nos  se  resolveram  a  enxofrar,  pelo  que  o  vinho  do  Douro, 
por  ser  pouco,  —  teve  durante  annos  venda  fácil  e  por  alto 
preço  /  . . 

—  Quando  em  1861  eu  fui  para  Távora,  —  ainda  ninguém 
lá  enxofrava!... 

Os  vinhedos  ainda  não  estavam  mortos,  por  serem  muito 
bem  agricultados ;  —  mas  toda  a  freguezia  não  dava  talvez 
cincoenta  pipas  de  vinho  ?1 ... 


1  O  meu  pai,  pouco  depois  de  reconstituir  os  seus  vinhedos,  ven- 
deu por  um  tUulo  único  a  um  negociante  do  Porto  —Augusto  de  Moraes 

—  todo  o  vinho  que  a  nossa  quinta  do  Tédo  produzisse  durante  5  annos 

—  a  72$000  reis  cada  pipa. 

Apurou,  pois,  só  no  vinho  da  mencionada  quinta  4:320$000  reis  por 
anno,  durante  aquelles  5  annos,  porque  ella  dava,  termo  médio,  60  pipas 
por  anno. 

Também  por  essa  occasião  vendeu  a  50$000  reis,  termo  médio,  cada 
pipa  de  vinho  do  casal  da  Corvaceira,  ou  Penajoia,  que  dava  40  pipas  por 
anno. 

Apurou,  pois,  só  no  vinho  do  dito  casal  2:000$000  reis  por  anno, 
que  unidos  aos  4:320$000  reis  do  vinho  da  quinta  do  Tédo,  prefaziam 
6:320$000  reis  —  só  cm  vinho  por  anno  e  durante  5  annos. 

Pôde  também  computar-sc  cm  500$000  reis  o  que  produziam  por 
anno  os  dois  casaes,  cm  azeite,  baga,  fructa  lenha,  madeira,  cereaes,  etc. 

Total  do  rendimento  da  nossa  casa  in  illo  te mp ore  —  ():S20%000  reis 
por  anno,  approximadamente. 


TENTATIVA    ETYMOLOaíCO  TOPONYMICA  381 


Eu  fiquei  horrorisado ! 

N'esse  mesmo  anno  tratei  de  enxofrar  as  vinhas  do  pas- 
sal e  disse  aos  meus  parochianos  que  enxofrassem  também 
as  suas,  expondo-lhes  o  que  ao  tempo  se  passava  no  Douro  e 
na  minha  casa. 

Clamei  e  gritei,  mas  não  os  pude  resolver  a  enxofrar. 

—  E'  castigo  da  providencia!... — diziam  elles  —  e  cum- 
pre-nos  acceital-o. 

—  Deus  também  dá  as  doenças  —  lhe  retorqui  eu —  e  nós 
acceitamos  e  applicamos  os  remédios  contra  ellas.  —  Appli- 
quemos,  pois,  o  enxofre,  remédio  fácil  para  combater  o  oy- 
dium,  como  se  está  combatendo  na  Finança  e  na  parte  res- 
tante do  Douro. 

—  Não  enxoframos ! .  .  . 

* 

Vendo  eu  tanta  reluctancia,  dirigi- me  a  um  dos  proprie- 
tários então  mais  ricos  de  Távora  e  que  melhor  grangeava, 
—  por  nome  José  Parente^—  q  disse-lhe: 

—  Enxofre  as  suas  vinhas,  como  eu  vou  enxofrar  as  mi- 
nhas. 

—  Não  enxofro  t —  respondeu  elle. 

—  N'esse  caso  proponho-lhe  um  partido  : —  «Eu  enxofro 
as  suas  vinhas  —  e  o  senhor  dá  me  a  terça  parte  do  que  ellas 
produzirem» . 

—  Acceito  de  bom  grado  o  partido,  porque  ellas  não 
produzem  coisa  alguma  — •  disse  elle. 

Feito  o  contracto,  mandei  logo  no  l.o  anno  do  meu  trié- 
nio enxofrar  as  vinhas  do  passal  e  as  d'elle. 

O  homem  ficou  attooito,  assombrado,  porque  as  vi- 
deiras, costumando  perder  a  folha  muito  cedo,  conserva- 
ram-se  até  depois  da  vindima  luxuosas  e  verdes,  —  produzi- 
ram muitas  uvas  e  não  se  perdeu  um  bago!.  , . 

—  No  anno  seguinte  os  meus  parochianos  todos  enxofra- 
ram as  suas  vinhas ;  —  em  breve  as  reconstituiram  ;  augmen- 
taram  as  plantações  e  —  não  tendo  colhido  a  freguezia  toda 
talvez  50  pipas  de  vinho  no  anno  anterior  á  minha  ida  para 
Távora,  —  chegou  a  dar  trezentas  a  quatrocentas  pipas  de  vi- 
nho por  anno  ?  f  .  . .   ^ 


^    Se  a  vaidade  me  não  cega,  bem  merecia  o  habito  ou  uma  coni- 
menda  da  Ordem  do  Mérito  Agrícola. 


382  TKNTATIVA    ETYMOLOGICOTOPONYMICA 


* 

Hoje  não  produz  tanto,  porque  a  pliyloxera  e  as  outras 
muitas  doenças  das  videiras^  que  mais  tarde  surgiram,  nova- 
mente destroçaram  os  vinhedos  de  Tawra  ;  -  mas,  se  ali  me 
conservasse,  —  novamente  as  reconstituiria  talvez  l... 

—  Mas  como  ?  —  dirão  os  leitores. 

—  Imitando  o  processo  adoptado  pelos  beneméritos  do- 
nos da  quinta  das  Águias  —  ou  do  extincto  convento  de  S. 
Pedro  das  Águias,  pertencente  á  mesma  freguezia  de  Távora. 

A  mencionada  quinta  nunca  produziu  tanto  vinho,  como 
produz  na  actualidade  f  /. . . 

Pôde  considerar-se  uma  escola  agrícola,  —  uma  quinta 
regional  —  sem  a  minima  protecção  do  governo. 

—  E'  uma  quinta  modelo,  —  hoje  absolutamente  a  pri- 
meira do  grande  valle  do  Távora,  —  muito  digna  de  sèr  vi- 
sitada —  e  dirigida  por  uma  senhora  ?  ! ... 

—  Custa  a  crer  —  mas  é  facto ! 

Refiro-me  á  ex  ™*  sr.*  D.  3Iaria  Clementina  Pinheiro 
Leite,  casada  com  o  sr.  Alexandre  Augusto  Pereira  de  Barros, 
donos  da  mencionada  quinta. 

—  E'  uma  senhora  de  muito  merecimento,  muito  enér- 
gica, muito  atilada  e  muito  digna  d'uma  commenda  da  Or- 
dem de  Mérito  Agrícola. 

—  A  ella  e  só  a  ella,  como  todos  sabem,  por  ser  muito 
atilada  e  mais  enérgica  do  que  o  marido,  —  se  deve  a  pros- 
peridade da  sua  bella  quinta  das  Águias,  —  quinta  que  ella 
adora  ! . . . 

Para  evitarmos  repetições  —  vejam-se  na  1.^  parte  d'esta 
obra  as  pag.  382  e  segg.,  onde  falámos  do  convento  e  da  quinta 
das  Águias. 

Note-se  que  a  dita  senhora  e  o  marido  são  excellentes 
pessoas,  muito  tractaveis,  muito  accessiveis  e  não  se  recusam 
a  franquear  a  sua  quinta  a  todos  quanto  pretendam  visital-a 
—  nem  a  dar  as  explicações  que  lhes  peçam. 

* 

Não  se  recusariam  mesmo  a  dar  ou  vender  por  preço 
rasoavel  bacellos,  barbados  e  enxertos  das  vides  americanas 
da  sua  bella  quinta,  —  vides  que  são  todas  escolhidas  entre 
as  mais  resistentes  e  mais  apropriadas  ao  terreno  de  Távora. 

Note-se  que  as  ditas  americanas  todas  —  foram  indicadas 


TENTATIVA    ETYMOLOQICO-TOPONYMICA  383 


pelo  snr.  dr.  Joaquim  Pinheiro  d* Azevedo  Leite,  de  Prove- 
zende^  compadre  e  parente  da  dita  senhora,  —  cavalheiro  que 
s.  ex.*  muito  estima  e  respeita  como  seu  mestre  na  especiali- 
dade.—  E  não  podia  s.  ex.*  encontrar  mestre  melhor,  pois, 
como  todos  sabem,  —  o  snr.  dr.  Joaquim  Pinheiro,  de  Prove- 
zendc,  foi  o  benemérito  introductor  das  vides  americanas  no 
Douro  ;  —  com  ellas  reconstituiu  os  vinhedos  da  sua  grande 
casa  —  e  com  ellas  salvou  os  vinhedos  do  Douro  e  de  Portu- 
gal todo  ! .  .  . 

—  Ninguém  mais  versado  nem  mais  auctorisado  do  que 
elle  na  especialidade. — Bem  merecia  uma  commenda  ou  a 
grã-çruz  da  Ordem  do  Meriio  Agrícola, — e  o  Dotiro  por  gratidão 
lhe  devia  erigir  uma  estatua  na  Régua  ou  no  Pinhão!.  .  . 

A  quinta  das  Águias  é  hoje  a  que  produz  mais  vinho  na 
freguezia  de  Távora.  ^  por  ser  muito  bem  agricultada  pela 
dita  senhora  e,  se  os  habitantes  de  Távora  seguissem  o  exem- 
plo d'ella,  podia  estar  assim  a  freguezia  toda  ou  quasi  toda. 

Note-se  que  Távora  tem  chãos  mais  mimosos  e  muito 
mais  férteis  do  que  os  da  mencionada  quinta  das  Águias.  — 
Avultam  entre  elles  os  da  Ribeira,  do  Pí/ço,  de  Marinhos, 
Quinta,  Casal  Tello  e  Villa  Meã,  —  nomeadamente  os  cam- 
pos que  foram  do  Passal  e  que  são  hoje  do  snr.  dr.  e  desem- 
bargador da  Relação  do  Porto  —  Manuel  de  Bar7'0s  Nobre  — 
ou  antes  das  sobrinhas  e  herdeiras  d'elle. 

Os  dictos  campos  são  absolutamente  os  mais  férteis  dá 
freguezia  de  Távora  e  de  todo  o  grande  valle  do  Tavmm, — 
de  todo  o  concelho  de  Taboaço  e  dos  concelhos  circumvisi- 
nhos ! •    . 

Quando  ali  fui  parocho,  os  dictos  campos  andavam  ar- 
rendados pela  terça  parte  da  prodncçào,  —  isto  é  :  —  o  caseiro 
grangeava-os,  dando  ao  parocho  duas  partes  do  producto, — 
ficando  elle  somente  com  a  terça  —  e  muito  satisfeito? ! .  .  , 

Note-se  que  os  dictos  campos  eram  muito  bem  regados 
e  limados,  —  depois  de  darem  diíFerentes  camadas  d'erva  — 
davam  t7'igo  —  e  por  ultimo,  na  restolha  do  trigo,  davam  mi- 
lho. 

—  E  tudo  isto  sem  outros  adubos,  além  dos  que  a  agua 
trazia  da  fonte  publica  de  Villa  Meã,  onde  se  faziam  cons- 
tantemente barreias,  pelo  que  a  dieta  agua  era  um  montão  de 
lixívia,  —  óptimo  adubo!.  •  . 

—  O  trigo  crescia  tanto  e  com  tal  pujança,  que  dobrava! 


Em  1908  produziu  ella  150  pipas. 


384  TENTATIVA    ETYMOLOGIOO-TOPONYMICA 


—  Para  não  apodrecer,  era  preciso  metter-lhe  gado  lanigero 
para  o  comer  e  encurtar. 

O  maior  contra  do  milho  era  também  crescer  tanto,  que 
por  vezes  tombava  com  o  vento. 

Quando  os  habitantes  de  Távora  viam  em  qualquer  parte 
um  campo  de  milho  excepcionalmente  pomposo  e  luxuoso, 
costumavam  dizer: 

—  Este  parece-se  com  o  do  nosso  passal!... 

Hoje  os  dictos  campos  estão  plantados  de  vinha  ameri- 
cana e  dão  muito  vinho,  mas  já  deram  e  podiam  dar  mais. 

Prosigamos. 

* 

Também  á  dieta  senhora  D.  Maria  Clementina  Pinheiro 
d' Azevedo,  benemérita  agricultora  da  sua  formosa  quinta  das 
Águias,  se  deve  em  grande  parte  a  bella  estrada  nova  a  ma- 
cadam  que  atravessa  a  freguezia  de  Távora  e  muito  a  valo- 
risou  toda. 

As  coisas  passaram-se  assim  : 

Os  srs.  Macedos  Pintos,  de  Tahoaço,  que  são  desde  longa 
data  a  familia  mais  importante,  mais  rica  e  mais  considerada 
d'este  concelho,  havendo  transformado  de  fond  en  comhle  a 
villa  de  Tahoaço,  elevando-a  a  sede  de  comarca,  etc,  ^ — con- 
ceberam o  plano  de  dotar  a  villa  e  o  concelho  com  uma  es- 
trada a  macadam,  em  substituição  dos  antigos  despenhadeiros. 

Com  este  intuito  o  sr.  conselheiro  José  Ferreira  de  Ma- 
cedo Pinto,  lente  jubilado  da  Universidade  de  Coimbra,  tendo 
já  certa  edade  e  podendo  passar  o  resto  da  vida  muito  soce- 
gado  e  tranquillo,  acceitou  a  nomeação  de  procurador  á  Jun- 
ta Geral  do  Districto  de  Vizeu — durante  annos  — só  para 
advogar  a  demanda. 

Conseguiu  que  a  Junta  Geral  e  o  governo  resolvessem 
fazer  e  estrada  districtal,  n.°  40,  —  de  Vizeu  ao  Espinho  (foz 
do  Távora,  na  margem  esquerda  do  Douro)  —  por  Tahoaço  e 
Moimenta  da  Beira. 

Do  Espinho  até  Tahoaço  correu  bem  o  estudo  da  dieta 
estrada,  que  devia  seguir  por  Távora  e  Sendim  para  Moi- 
menta da,  Beira,  mas  o  engenheiro  encarregado  do  estudo  en- 
tre Tahoaço  e  Sendim,  ficou  aterrado  com  a  medonha  gargan- 


'  Vcjam-se  no  Portugal  antigo  e  moderno,  os  meus  artigos  Mira- 
gaya,  vol.  v,  pag.  269 ;  Sandím,  vol.  ix,  pag.  103 ;  Taboaço,  no  mesmo 
vol.,  pag.,  469  —  c  Vicente  (S.),  vol.  x,  pag.  516. 


TENTATIVA    ETYMOLOQICO-TOPONYMICA  385 


ta  do  ribeiro  Fradinho,  que  demora  entre  Taboaço  e  Távora. 
Disse  que  era  impossivel  atravessar  a  medonha  garganta 
de  fraguedo  nú  e  abrupto^  pelo  que  abandonou  o  traçado 
por  Távora. 

Fez  o  estudo  ganhando  em  zigue-zagues  a  villa  de  Ta- 
boaço  e  seguiu  pela  inhospita  serra  de  Chavães  para  Sen- 
dim,  deixando  em  paz  e  ás  moscas  a  mimosa  freguezia  de 
Távora,  que  nem  lobrigaria  a  nova  estrada,  pois  passava 
pela  dita  serra,  cerca  de  8  kilometros  a  montante  de  Távora. 

Os  snrs.  Macedos  bem  queriam  quo  a  nova  estrada 
seguisse  por  Távora,  porque  teem  alli  a  sua  bella  quinta  do 
Rio-Bom,  —  precisamente  na  foz  do  tal  ribeiro  Fradinho; 
mas  concordaram  com  o  engenheiro  que  ficou  aterrado  com 
a  medonha  garganta  do  Fradinho ! .  .  .  —  E  não  menos  ater- 
rados por  certo  ficaram  os  engenheiros  que,  por  ordem  da 
Velha  Companhia  dos  Vinhos,  a  instancias  de  João  Salter 
de  Mendonça,  então  dono  da  quinta  da  Avelleira,  fizeram  a 
velha  estrada,  ligando  Taboaço  a  Távora  nos  principios  do 
século  XIX. 

Os  taes  engenheiros,  não  se  atrevendo  a  transpor  a 
medonha  garganta,  fizeram  pela  margem  direita  do  Fra- 
dinho, como  já  dissemos  na  1.*  parte  d'esta  obra,  pag.  495 
e  segg., —  uma  calçada  horrorosa  e  muito  dispendiosa,  de  400 
a  500  metros  d'extensão,  aberta  em  rocha  e  com  o  desnivel 
de  15  a  20  metros  por  cento ! 

O  engenheiro  de  1883,  aterrado  com  a  medonha  gar- 
ganta do  Fradinho,  apenas  se  abeirou  d'ella, — fugiu  com  o 
traçado  para  a  serra  ! .  , . 

Salvou  a  questão  a  dita  snr.*  D.  Maria  Clementina  Pe- 
reira de  Barros,  supra,  dona  da  quinta  das  Águias,  como  no 
Porto  me  disse  o  próprio  snr.  conselheiro  José  Ferreira  de 
Macedo  Pinto,  accrescentando : 

—  A  dita  senhora,   horrorisada  com   tal  solução,  disse: 

—  O  engenheiro  nem  sequer  fez  o  reconhecimento  atra- 
vés da  garganta  do  Fradinho ;  e  porque  elle  disse  que  era 
impossivel  passar  por  alli  a  estrada,  ^.  nós  havemos  de  jurar 
na  sua  palavra?  Eu  proponho  que  se  mande  vir  do  Porto 
um  engenheiro  auctorisado  que  faça  o  reconhecimento. 

Concordaram  os  snrs.  Macedos  e  a  commissão  dos  paro- 
chianos  de  Távora,  que  os  acompanhou  na  empreza, —  com- 
missão de  que  fazia  parte  o  marido  da  dita  senhora. 

Mandaram  logo  ir  do  Porto  o  distincto  engenheiro  Tito 


386  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMTCA 


de  Noronha,  muito  meu  conhecido  e  que  foi  bem  escolhido, 
pois,  além  de  ser  muito  illustrado, —  era  forte  e  vigoroso  e 
tinha  pernas  de  galgo  ! .  . . 

Atirou-se  com  animo  e  fé  ao  medonho  gargantão ;  — 
teve  muito  trabalho,  mas  conquistou  alli  as  suas  esporas 
d'ouro  como  engenheiro,  resolvendo  o  intrincado  problema 
em  favor  do  traçado  por  Távora!.    . 

Tanto  os   snrs.  Macedos  como  a  dita  commissão  exul- 
taram  de  contentamento. —  Foram  a  Vizeu  e  mostraram  ao 
respectivo  director  das  obras  publicas  a  planta  levantada  e  . 
muito  bem  desenhada  pelo  Tito  de  Noronha. 

O  illustrado  director,  António  Casimiro  de  Figueiredo 
ficou  attonito ! 

Mandou  logo  um  engenheiro  de  toda  a  confiança  ao 
local  para  ver  se  a  planta  estava  exacta;  —  o  engenheiro 
concordou  sem  a  minima  divergência — e  a  nova  estrada 
fez-se  através  de  Távora,  como  a  dita  senhora  tanto  desejava, 
pois  atravessa  a  freguezia  toda  e  a  sua  bella  quinta  das 
Águias ! .    . 

Ainda  não  está  concluida,  mas  já  atravessou  a  funda 
ravina  e  as  Íngremes  ladeiras  da  Granjinha  a  E.  de  Távora; 
ganhou  o  vistoso  planalto  dos  Cabris^,  passando  a  montante 
e  pouco  distante  da  humilde  povoação  e  do  lendário  castello 
dos  Cabris,  —  e  já  chegou  á  parochia  de  Sendim,  distante 
de  Távora  cerca  de  8  kilometros. 

Também  já  está  coustruido  um  lanço  d'alguns  kilome- 
tros a  partir  de  Moimenta  da  Beira  para  Távora  e  Taboaço 

E'  de  fácil  construcção  a  parte  restante ;  mas  o  lanço 
através  do  gargantão  do  Fradinho—  lanço  que  eu  jcá  vi  e  é 
muito  interessante,  muito  lindo  —  foi  um  arrojo  de  constru- 
cção ! . 

Tem  cortes  de  bastantes  metros  d  ^altura  em  rocha  viva 
—  e  muros  de  supporte  com  altura  de  14  a  lõ  metros  —  ou 
mais  ! .  .  . 

Os  taes  muros  são  muito  altos  e  muito  valentes,  mas 
foram  relativamente  baratos,  por  haver  óptima  pedra  de 
sobra  na  localidade. 

O  dito  lanço  é  horisontal  ou  plano,  —  muito  suave,  muito 
lindo  e  muito  digno  de  ser  contemplado  pelos  engenheiros 
todos. 

Contrasta  com  a  medonha  calçada  do  Fradinho  a  mon- 
tante è  pouco  distante,  feita  pela  Companhia  dos  Vinhos  — 
e  n'elle  deve  gravar-se  uma  inscripçao  com  o  nome  de  Tito 


TENTATIVA    PrrYMOLOGICO-TOPONYMICA  3S7 


de  Noronha  e  a  data  em  que  s.  ex.^  fez  o  respectivo  tra- 
çado, resolvendo  com  a  maior  felicidade  tão  intrincado 
problema. 

O  texto  da  inscripçào  deverá  ser,  pouco  mais  ou  menos, 
o  seguinte : 

O  traçado  d'esta  linda  estrada,  entre  Taboaço 
e  Távora,  foi  feito  por  Tito  de  Noronha,  distincto 
engenheiro,  mandado  vir  expressamente  do  Por- 
to, em  ISSS. 

Foi  isto  o  que  eu  escrevi  em  1907,  quando  estava  pu- 
blicando em  folhetins  no  Conimbricense  esta  minha  pobre 
Tentativa,  que  agora  estou  fazendo  sair  em  livro,  por  haver 
expirado  o  Conimbricense  em  agosto  do  dito  anno  de  1907.  (^) 

Hoje,  1911,  posso  dar  aos  leitores  a  noticia  de  que  a 
mencionada  inscripção  supra,  relativa  ao  engenheiro  Tito  de 
Noronha,  já  se  ve  gravada  em  fortes  caracteres  romanos  — 
tal  qual  eu  a  propunha — em  um  dos  fragões  que  foi  cortado 
na  passagem  do  ribeiro  Fradinho  e  ficou  faceando  com  a 
bella  estrada  de  Taboaco  a  Távora. 

Mandeia-a  eu  gravar  em  1908.  havendo  já  fallecido  o 
Tito  de  Noronha  doze  annos  antes  (em  1  de  junho  de  1896) 

Foi  uma  homenagem  posthuma  bem  merecida! 


Voltemos  às  etymologias  : 

PREFIXO    SUB 

Sub  Outeiro,  é  nome  congénere  de  Sob-costa,  Sob-her- 
dades,  Sob-outeiro,  Sob-rego  e  Sorrego  por  Sob-rego ;  — 
Suadro  por  Sub-adro,  Suarriba  e  Suarribas  por  Sub-ripa  e 
Subripas  ou  Sub-Ríba  e  Sub-Ribas. 


0)  A  dita  série  comprehendeu  207  folhetins —desde  o  n.»  5:S94  do 
saudoso  Conimbricense,  de  21  de  maio  de  UJOI— até  o  n.o  6:228,  de  24 
d'agosto  de  1907. 

Foi  a  maior  série  de  folhetins  publicada  pelo  Conimbricense  durante 
a  sua  longa  vida  de  60  annos. 


k 


388  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Cf.  Sub-Ripas,  velha  rua  de  Coimbra ! .  .  . 

Somma  e  segue :— Sub-Adro,  Sub-Baceilo,  Sub-Borba, 
Sub-Caia,  Sub-Campo,  Sub-Carreira,  Sub-Carvalho,  Sub-Ca- 
sa,  Sub-Christello,  por  Cristello,  este  por  Crestello,  este  por 
Crastello,  este  por  Castrello,  diminutivo  de  Castro,  como 
Castello  por  Castrello. 

A  rua  do  Christello,  em  Massarellos,  —  queria  dizer  — 
Rua  do  Castello,  que  esteve  no  sitio  onde  está  a  igreja  de 
Nossa  Senhora  da  Boa  Viagem  ou  de  S.  Pedro  Gonçalves 
Telmo,  padroeiro  dos  navegantes,  —  unde  santelmo^  —  nome 
que  os  marinheiros,  no  alto  mar,  depois  das  grandes  tem- 
pestades dão  aos  fogos  fátuos  que  por  vezes  brilham  nas 
extremidades  das  vergas  e  dos  mastros,  como  prenuncio  de 
bonança — ou  de  que  está  com  elles  o  seu  protector  S.  Pedro 
Gonçalves  Telmo^  por  abreviatura  S.  Telmo,  unde  santelmo. 

O  S.  Pedro  Gonçalves  Telmo  era  natural  de  Tuy,  na 
Galliza,  como  lá  me  disseram. 

Prosigamos  :  —  Sub-Deveza,  Sub-Devezinha,  Sub-Egreja, 
Sub-Estrada,  Sub- Moinhos,  Sub-Nogueira,  Sub- Outeiro,  o 
mesmo  que  Sob  outeiro  supra;  Sub  Paço,  Sub-Pena,  Sub-Pòr- 
tella,  Sub-Quintã,  Sub-Rego^  Sub-Riba,  Sub-Ribas,  Sub-Ri- 
beiro,  Sub- Serra,  Sub -Torre,  Sub- Veigas,  Sulatesta  por 
Sub-la-testa,  —  Surriba,  Surribas  por  Sub-Ribas,  etc,  povoa- 
ções nossas. 


Farminhão,  freguezia  do  concelho  de  Vizeu,  na  minha 
opinião  vem  de  Firminianus,  i,  antigo  nome  pessoal,  dimi- 
nutivo de  Firminus,  i,  subdiminutivo  de  Firmus,  i. 

VjÍ.  Maximus,  3Iaximinus,  Maximilianus  e  Maximianus ; 
Antonius,  Antoninus  e  Antonianus ;  Justus,  Justinus  e  Justi- 
nianus,  etc. 

TflVlRfl 

Caramurtíf  nome  indio  do  Brazil,  em  1640 — quer  dizer: 
—  homem  de  fogo  e  filho  do  Trovão. 

Por  seu  turno  Tavira,  cidade  do  Algarve,  na  minha 
opinião  vem  de  Fabula,  nome  do  seu  penúltimo  rei  árabe,  (^) 


(')    V.    Tavira,  no  Portugal  Antigo  e  Moderno,  artigo  de  Pinho 
Leal. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPON YMICA  389 


pois  fa  deu  ia  na  onomástica  portugueza,  e  as  letras  i  &  u 
confundiram-se,  pelo  que  Fahúla  deu  Tavila  e  7 avir a^  po- 
voações nossas,  pois  na  onomástica  portugueza  ler  trivial- 
mente se  confundiram. 

Tavira  vem  pois  de  Fahúla,  nome  árabe.  —  Por  seu 
turno  Fábula,  nome  árabe,  foi  tirado  do  latim  favilla.  —  re- 
lâmpago, raio,  faisca,  nome  bem  apropriado  a  um  valente 
guerreiro  árabe. 

Cf.  Raio,  appellido  nosso  em  Braga,  etc,  e  Caramurúy 
nome  do  chefe  de  uma  tribu  de  Índios  do  Brazil,  o  qual  em 
1639  a  1641  auxiliou  valentemente  o  grande  patriota  portu- 
guez  da  ilha  da  Madeira,  José  Fernandes  Vieira,  para  ex- 
pulsar, como  expulsou,  os  hollandezes  de  Pernambuco,  sendo 
capitaneados  pelo  duque  de  Nassau. 

Caramurú,  no  dialecto  indio,  quer  dizer — Homem  de 
fogo,  filho  do  Trovão.  Nós  também  temos  Trovão  e  Trovoada, 
appellidos  .  .  —  Fahida,  nome  árabe,  foi  tirado  de  favilla  no 
tempo  em  que  os  árabes  viveram  secretos  na  Hespanha, 
vindo  a  nossa  peninsula  a  augmentar  o  seu  vocabulário  com 
o  dos  árabes,  como  diz  Gustave  Le  Bon  na  Civilisation  des 
Árabes, 

flinOfl    TflUíRfl 

Deriva-se  de  Fàbila  e  este  de  Fabiíla,  nome  do  penúl- 
timo rei  mouro  de  Tay/ra— pois  o  ultimo  foi  Aben-Fabúla, 
filho  de  Fabula. 

A  escala  seria:  —  Fabula,  Fabila,  Tavila,  Tavilla  e 
Tavira. 

Note-se  que  as  lettras  i  e  ii,  bem  como  l  e  r  —  trivial- 
mente se  confundiram  e  substituiram  na  onomástica  portu- 
gueza. 

Também  se  confundiram  e  substituiram  as  letras  F  e  T, 
pelo  que  Fabula,  sem  violência,  deu  ou  podia  dar  Favila  e 
Tavira,  (i) 

Ainda  diremos  que  Fabula  é  talvez  um  dos  muitos  vo- 
cábulos que  os  mouros  e  árabes,  durante  a  sua  longa  perma- 
nência na  Peninsula  (Portugal  e  Hespanha),  levaram  e  apro- 
veitaram do  latim  para  enriquecerem  o  seu  idioma,  como  os 


C-)  V.  Tavira,  no  Portugal  Antigo  e  Moderno,  vol.Q.o,  pagina  502, 
col.  2.*  in  fine  —  e  para  a  substituição  das  letras  f  t  t  —  veja-se  a  7..^  parte 
da  minha  louca  Tentativa  Etymologica,  pag.  105  e  106. 


390 


TENTATIVA    ET YMOLOaiCO-TOPON Y MICA 


povos  da  Península  enriqueceram  o  seu  idioma  com  muitos 
vocábulos  árabes. 

Weste  caso  Fabula  por  Fabila  ou  Favilla,  é  talvez 
deturpação  do  latim  favilla,  a  faísca  do  fogo,  o  raio. 

Cf.  Raio,  appellido  nosso. 

Cf.  Favilla,  povoação  nossa  também. 

Para  mostrar  que  Fabula  podia  dar  Tavira,  vejamos  co- 
mo se  confundiram  as  letras. 


Ffl  e  Tfl 


Facha  e  Tacha,  appeliido. 

Facho  e  Tacho. 

Fagilde  e  Tagilde. 

Faias  e  Taias. 

Faínha  e  Taínho,  quasi  Tainha. 

Falia  e  Talla. 

Fareja  e  Tareja. 

Farrio  e  Tarrio,  muitas  povoações. 

Farroeira,  Tarrogeira  e  Tarrueíro. 

Fartaria  e  Tartaria. 

Favaqueira  e  Tavaqueira. 

Favacal  e  Tavacal. 

Favarrel  e  Tavarella. 

Fazoura  e  Tezouras. 

Alfaião  e  Tayão. 

Fale  e  Thulé. 

Feira  e  Teira. 

Feixe  e  Teixe. 

Feixeiras  e  Teixeiras. 

Feixogueira,  e  Teíxugueira 

Fera  e  Terá. 

Ferra  e  Terra. 

Ferrado  e  T.írrados. 

Ferrão  e  Terrão. 

Ferras  e  Terras. 

Ferreirínho  e  Terreirinho. 

Ferreiro  e  Terreiro. 

Ferreiros  e  Terreiros. 

Ferrenho  e  Terrenho. 

Ferrões  e  Terrões. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  391 


Ferrenha  e  Terrenha. 
Ferrugem  e  Terrugem. 


F  e  T 

Festos  e  Testos. 

Fetelaria  e  Tetelaria. 

Fogueira  e  Tugueira. 

Foja  e  Toja. 

Foitos  e  Toito. 

Fojaes  e  Tojaes. 

Fojo  é  Tojo. 

Fojos  e  Tojos. 

Foíões  e  Tolões,  talvez  o  mesmo  que  Telões  e  Tenões. 

Fontão  e  Tontão. 

Fontella  e  Tondella. 

Fontinhal  ou  Tontinhal. 

Fontinha  e  Tontinha. 

Fora  e  Tora. 

Forneira  e  Torneira. 

Forneiro  e  Torneiro. 

Forneiros  e  Torneiros. 

Forno  e  Torno. 

Foro  e  Toro. 

Forrezello  ou  Forregello  e  Torrozello. 

Forrejal  e  Torrejaes,  plural  de  Torrejai. 

Foucinhos  e  Toucinhos. 

Fuzeiro  e  Tozeiro. 

Fraguinhas  e  Traguinhas. 

Franqueira  e  Tranqueira. 

P^ranca  e  Tranca 

France  e  Trance. 

Francelheira  e  Trancelheira. 

Francaria,  Franqueira  e  Tranqueira. 

Froia  e  Tróia. 

Truta,  Truta  de  Baixo,  Truta  de  Cima,  e  Trutas,  quatro 
aldeias  nossas  —  e  não  temos  povoação  alguma  com  o  nome 
de  Fruta ! .  ,  . 


Em  additamento  a  este  2.o  vol.,  pag.  309,  diremos  que 
—  Vai  de  Nácar,  sem  violência,  deu  ou  podia  dar  Vacalar. 


^ 


392  TENTATIVA    ETYMOLOGICO  TOPONYMICA 


Por  seu  turno  Vai  de  Nácar  na  minha  opinião  vem  de 
Valée  de  Nekar  (quasi  Vai  de  Nácar)  --  valle  do  Rio  Nékar, 
confluente  do  Reno,  vale  muito  mimoso  e  muito  fértil,  pelo 
que  os  povos  germânicos  (Visigodos)  quando  habitaram  o 
nosso  paiz,  talvez  dessem  ao  rio  Temilupus,  que  banha  o 
Vacalar  e  é  confluente  do  Douro,  o  nome  do  Nékar. 

V.  Nékar  na  Geographia  Universal  de  Bescherell  e  De- 
vars. 

Ahi  se  encontra,  ipsis  verhis^  vallée  de  Nékar, 

Tópicos  promettidos 

e  outros  d^alguina  utilidade  para  o  estudo  etymologico 

da  onomástica  portugueza 

NOMES   PESSOAES  E  NOMES  DE  SANTOS  TIRADOS  DOS   ADJECTIVOS 

NUMERAES    ROMANOS    Q) 

Primus^  ij  primeiro,  deu  Primo,  nome  d'um  santo,  etc. 
Por  seu  turno  Primi,  patronimico  de  Primus,  i,  deu  Prime, 
aldeia  e  quinta  junto  de  Vizeu,  e  Prime,  titulo  de  barão,  vis- 
conde e  conde,  tirado  da  mesma  quinta  de  Prime. 

Também  primus,  adjectivo  numeral  romano,  deu  Primia- 
nus  —  Primiano,  outro  nome  de  santo,  etc. 

V.  Prima,  Prime,  Primiana,  Primiano  e  Primo,  no  meu 
Diccionario  d^Appellidos,  já  impresso,  mas  ainda  não  distri- 
buido,  porque  lhe  falta  a  introducção,  que  ainda  não  pude 
escrever. 

Também  Primi,  pela  forma  Pr^?^^,  talvez  desse  Prim, 
appellido  hespanhol  e  portuguez,  (*)  bem  como  Primianis,  pa- 
tronimico de  PíHmianus,  i,  talvez  desse  Priannes,  duas  po- 
voações nossas,  como  Primiana  deu  ou  podia  dar  Priana, 
povoação  nossa  também. 

A  bússola  é  o  ouvido;  mas  talvez  que  Priannes  seja 
contracção  de  Peri  ou  Peres,  o  mesmo  que  Pêro  ou  Pedro  e 
Annes,  antiga  forma  de  Joannes,  patronimico  de  João. 


(1)    V.  este  vol.,  pag.  331. 

(^)  Primus  deu  ou  podia  dar  Preminus,  i,  e  Primianus,  i,  como  Justus 
deu  Justinus  e  fusiinianus,  Máximas  deu  Maximinus  e  Maximianus,  etc. 
Por  seu  turno  Priminus,  Primini,  deu  ou  podia  dar  Prini,  unde  Prim 
supra. 


TENTATIVA    ETYMOLOQICO-TOPOXYMICA  393 


N'este  caso  Priannes  quer  dizer:  —  granja,  quinta  ou 
casa  de  campo  de  Pedro,  filho  de  João. 

Cf.  Annes,  casal  e  appellido;  Gonçalo  Annes,  Joanne, 
Joannes,  Martim  Annes,  Peres,  Peres  Alves  e.  Peres  Escuma, 
difíerentes  povoações  nossas;  mais  14  povoações  com  os  no- 
mes de  Pedro,  Pedro  Alves,  Pedro  Caldeira,  Pedro  Moura, 
Pedro  Ferreiro,  quasi  Pedro  Ferreira,  auctor  d'estes  rabis- 
cos, Pedro  Jorge,    etc. 

Temos  ainda  mais  Õ6  povoações  com  o  nome  de  Pêro,  o 
mesmo  que  Pedro ;  mais  de  200  com  o  nome  de  S.  Pedro ; 
2  aldeias  e  15  casaes  com  o  nome  de  S.  Pedrinho;  mais  5 
aldeias  com  o  nome  —  Casal  de  Pedro  —  além  de  Pedros  e 
Peros,  o  mesmo  que  Pedros,  povoações  nossas  também,  como 
Pires  (o  mesmo  que  Peres;  appellido  e  nome  de  10  povoa- 
ções nossas,  e  Paires  por  Pires ! 

Do  exposto  se  vê  que  Pedro,  nome  d'este  Petrus  in  cun- 
ctis  nihil  in  omnibus^  foi  muito  prolifico  na  onomástica  por- 
tugueza,  posto  que  o  povo  rude  não  sympathisa  com  tal 
nome.  Costuma  até  (salvo  seja !)  dizer  que  os  Pedros  todos 
são  mause  devemos  fugir  d'elles!..    (*) 

Mas  nem  todos  os  Pedros  são  maus.  Eu  chamo-me  Pe- 
dro, porque  o  meu  padrinho  foi  Pedro  da  Silveira  Athayde 
e  Vasconcellos,  excellente  pessoa  e  fidalgo  distincto  da  po- 
voação de  Relvas,  freguezia  de  Parada  de  Cunhos,  con- 
celho de  Villa  Real  de  Traz-os-Montes.  Elle  nunca  me  deu 
5  réis  de  folar,  mas  deu  aos  meus  pães  contos  de  réis,  por- 
que, sendo  provador  da  velha  Companhia  dos  Vinhos,  e  os 
meus  pães  lavradores  do  Douro,  dava  sempre  um  grau  de 
favor  ao  nosso  vinho ! .  .  , 

Eu  não  cheguei  a  conhecei- o,  mas  recordo-me  de  meu 
pae  dizer  muitas  vezes,  depois  da  extincção  da  poderosa 
Companhia :  —  «Nós  iamos  bem,  se  a  Companhia  durasse 
mais  alguns  annos  e  vivesse  o  compadre  Pedro  da  Silveira! .  .  . 

Para  significar-lhe  d'algum  modo  a  minha  gratidão,  dei 
a  genealogia  de  s.  exc.a  e  da  sua  nobre  familia,  no  meu 
longo  artigo  Nicolau  (S.)  freguezia  do  Porto,  (^)  quando  fallei 
de  D.  Joaquim  da  Piedade  da  Silveira  Mourão,  abbade 
d'aquella  freguezia,  excellente  pessoa  também  e  sobrinho  do 
meu  bom  padrinho. 


(1)    V.  o  1.0  vol.  pag.  356  a  367. 

C)    V.  Portugal  Antigo  e  Moderno,  vol.  ó.o,  pag.  54,  col.  1.^  e  segg. 


394  TENTATIVA    ETYMOLOGICOTOPONYMICA 


Do  exposto  se  vê  que  nem  todos  os  Pedros  são  maus,  e 
para  meu  conforto  e  dos  Pedros  todos  jà  um  distinctb  es- 
criptor  francez  disse :  —  «Honra  o  teu  nome  e  elle  te  hon- 
rará, seja  qual  for!... 

O  nome  Pedro  foi  muito  vulgar  e  muito  considerado  na 
igreja  catholica,  por  ser  dado  pelo  próprio  Redemptor  ao 
principe  dos  Apstolos,  pedra  basilar  e  fundamental  da  nossa 
igreja  santa,  catholica  e  apostólica  romana. 

O  nome  d'ell6  era  Simon  Barjona  (^) — Simão,  filho  de 
João  e,  quando  o  Redemptor  o  escolheu  para  principe  do 
Apostolado,  deu-lhe  o  nome  syriaco  Cephas,  que  significava 
pedra,  r  cha,  em  latim  petra,  do  grego  ^?^ríi,  o  mesmo  que 
petrós^  quasi  p^trus^  rochedo,  pedra.  A  raiz  d'estes  vocábu- 
los é  o  sanscripto  pattas^  pedra,  que  em  malaio  deu  hat,  pedra; 
em  hindu  pathar,  pedra,  unde  pathraná,  apedrejar;  em  ben- 
galez,  pather,  pedra;  em  jávanez,  batta,  pedra;  em  francez, 
pierre,  Pedro  e  pedra;  em  italiano,  pietra ;  em  castelhano, 
piedra  e  em  portuguez,  pedra 

Vide  Boucrand,  vb.  Pierre. 

Também  temos  Petra,  appellido,  o  mesmo  que  Pedro  e 
Pedra. 

Ad  ridendum  fecharemos  este  insulso  tópico  dizendo 
que  em  Coimbra  no  meu  bom  tempo  d'estudante  (I8õl-18õ6) 
havia  um  lente  de  direito,  chamado  Pedro  Augusto  Monteiro 
Castello  Branco  distincto  jurisconsulto,  a  quem  os  estudantes, 
por  birrarem  com  elle,  chamavam  Pedro  Penedo  da  Rocha 
Calhau .  .  . 


Prosigamos  com  a  lista  dos  nomes  pessoaes  e  nomes  de 
santos  tirados  dos  adjectivos  numeraes  romanos. 

Temos  agora  secundus,  segundo,  que  deu  os  quinze  no- 
mes seguintes : 

Secunda,  Secundaria,  Secundário,  Secundiana.  Secun- 
diano,  Secundilla,  Secundillo,  formas  de  Secundilha  e  Se- 
cundilho,  na   Hespanha;   Secundina,    Secundino,    Secundola, 


(^)    Beatas  es  Simon  Bar-Jona  (Matheus,  cap.  16,  v.l7). 
Barjona,   appellido   nosso    d'alta   cotação,   vem,  pois,  do  hebraico 
Bar-Jona  e  quer  dizer  filho  de  Jonas  ou  de  João. 


TENTATIVA    KTYMOLOGICO-TOPONYMICA  39Õ 


Secuiidolo,  o  mesmo  que  Secundula  e  Secundulo —  Segunda 
e  Segundo  o  mesmo  que  Secunda  e  Secundo. 

Todos  estes  quinze  no.mes  foram  nomes  de  santos,  exce- 
ptuando os  seguintes:  —  Secundaria,  feminino  de  Secundá- 
rio ;  Secundiana,  feminino  de  Secundiano ;  Secundillo,  mas- 
culino de  Secundilla  o  Secundola,  feminino  de  Secun- 
dolo. 

Veja-se  o  meu  Diccionorio  d'AppelUdo8,  mencionado 
supra. 

Por  seu  turno  Secundaria  deu  ou  podia  dar  Segundeira, 
duas  povoações  nossas,  bem  como  Secunda  deu  ou  podia  dar 
Segunda,  povoação  nossa  também,  mencionada  na  Chorogra- 
phia  Moderna  com  o  nome  de  Segunda  Aldeia,  por  Segunda, 
aldeia,  pois  a  dita  povoação  é  efifectivamente  uma  aldeia  da 
fregiiezia  de  Villar  do  Monte,  concelho  de  Barcellos. 

Prosigamos : 

Tertius-f  a,  um,  adjectivo  numeral  romano,  deu  Terceiro 
e  Tercio,  nomes  de. santos,  que  auctorisam  as  formas  Tercia 
e  Terceira,  como  nomes  pessoaes  femininos  e  nomes  de 
baptismo. 

De  passagem  direi  que  na  igreja  catholica  romana  to- 
dos os  nomes  do  baptismo  devem  ser  tirados  de  nomes  de 
santos,  mas  infelizmente  abusa-se  e  encontram-se  na  actua- 
lidade muitos  nomes  pessoaes  que  nunca  foram  nomes  de 
santos.  Alguns  d'elles  são  nomes  de  mera  phantasia  e  outros 
tirados  de  comedias,  romances,  tragedias,  poesias,  etc. 

Se  os  pães  ou  padrinhos  das  creanças  querem  dar-lhes 
nomes  pouco  vulgares,  consultem  os  differentes  santoraes  da 
igreja  romana  e  n'elles  encontrarão  nomes  de  santos  para 
todos  os  paladares,  sendo  alguns  tão  exóticos  e  tão  estranhos 
que  fazem  scismar!    .  . 

Os  romanos  por  vezes  davam  o  nome  de  Tertia,  em 
portuguez  Terceira,  á  filha  que  nascia  em  terceiro  logar, 
como  se  lê  no  Magnum  Lexicon  latino,  vocábulo  Ter- 
tius. 

Tertúlia,  a  terceira  filhinha,  é  latim  de  Cicero,  como  se 
lê  também  n'aquelle  diccionario,  e  TertuUiano,  em  latim 
Tertullianus,  distincto  escriptor  christão  romano  que  floreceu 
pelos  annos  196  de  Christo,  parece  affim  de  Tertúlia. 

O  mesmo  tertíus  latino  deu  Terça,  Terças  e  Terceiros, 
varias  povoações  nossas,  e  Terceira,  ilha  do  nosso  archi- 
pelago  dos  Açores,  assim  denominada,  por  ser  a  terceira  na 
ordem  do  descobrimento  do  mencionado  archipelago. 


396  TENTATIVA    ETYMOLOaiCO-TOPONYMIC A 


'  Fallemos  agora  de  quartus,  quarto,  adjectivo  numeral 
romano,  que  deu  os  seguintes  nomes  pessoaes  e  nomes  de 
santos  :  Quadrado  ou  Quadrato,  Quartilla  e  Quarto,  que  au- 
ctorisam  as  formas  Quadrada  ou  Quadrata,  Quartillo  e  Quarta 
para  nomes  pessoaes  e  nomes  de  baptismo: 

Também  temos  Quadragésimo,  nome  d'um  santo,  e 
Quaresma,  appellido  vulgar  portuguez,  tirado  do  latim  qua- 
dragesima^  feminino  de  quadragesimus,  o  espaço  de  quarenta 
dias  ou  dez  vezes  quatro,  desde  a  quarta  feira  de  cinza  até  o 
domingo  de  paschoa. 

Também  prendem  com  o  adjectivo  numeral  romano 
quartus,  quarto,  os  appellidos  portuguezes  Quadrio,  Quadrios, 
Quadros,  Quartus,  Quarteira,  Quarteiha,  Q^artelhas,  Quar- 
tim,  Quartin,  Quatrim,  etc. 

São  também  povoações  nossas :  Quarta  Feira,  Quartas, 
Quarteira,  Quartelhas,  Quartilhas,  Quartinos,  Quartos,  trez 
povoações ;  Quartos  d'Além  e  Quartos  d'Aquem,  Quatrim, 
Quatro  Aguas,  Quatro  Azenhas,  Quatro  Caminhos,  Quatro 
Irmãos,  Quatro  Lagoas,  Quatro  Marcos,  Quatro  Olhos,  Quatro 
Varas,  Quatro  Rodas,  etc. 

Quarta  Feira,  povoação  da  freguezia  de  Sortelha,  con- 
celho de  Sabugal,  podia  tomar  o  nome  d'alguma  feira  im- 
portante que  alli  houvesse  outr'ora  e  que  fosse  a  quarta 
d'aquella  região  na  ordem  chronologica. 

Dicant  paduani  —  respondam  os  filhos  da  localidade 
e  note-se  que  dos  mercados  e  feiras  tomaram  o  nome  talvez 
mais  de  40  povoações  nossas,  todas  mencionadas  na  Choro- 
graphía  Moderna,  entre  as  quaes  avulta  a  Villa  da  Feira, 
povoação  muito  antiga  e  muito  importante,  sede  de  conce- 
lho e  de  comarca,  tendo  sido  muito  mais  importante  na 
idade  média.  Estendia-se  para  o  norte  até  á  margem  esquerda 
do  Douro,  e  comprehendia  muitos  concelhos  e  comarcas  que 
posteriormente  d'ella  se  desmembraram. 

V.  Feira  e  Villa  da  Feira,  no  Portugal  Antigo  p  Mo- 
derno. 


A  Quarteira,  vasta  quinta  do  Algarve,  no  concelho  de 
Loulé,  que  foi  morgado  importante  dos  duques  d'este  titulo, 


TENTATIVA    KTYMOLOOICO-TOPONYMICA  397 


por  ultimo  pertencente  ao  conde  de  Azambuja,  filho  dos  du- 
ques de  Loulé,  e  actualmente  a  uma  parceria  do  Porto,  que 
a  comprou  e  explora,  talvez  se  denominasse  Quarteira,  por 
ser  fertilissima  í 

Comprehende  os  chãos  mais  férteis  do  Algarve  todo, 
pelo  que  na  tributação  para  o  Estado  talvez  que  outr'ora 
pagasse  de  quatro  um,  ou  a  quarta  parte  dos  fructos  que 
produzisse. 

Os  leitores  não  se  espantem,  porque  os  chãos  da  Quar- 
teira são  os  mais  férteis  do  Algarve  todo  e  de  todo  o  nosso 
paiz,  exceptuando  a  Veiga  da  Villariça,  no  Alto  Douro,  que 
é  absolutamente  a  mais  fértil  de  Portugal  todo. 

Veja-se  no  Portugal  Antigo  e  Moderno^  vol.  xi,  o  meu 
artigo  Villariça,  pag.  1314. 

A  tributação  de  4,  1,  era  forte,  mas  talvez  acceitavel. 

Eu  em  1861  a  1864  fui  abbade  da  freguezia,  villa  e 
honra  de  Távora,  solar  dos  Tavoras,  no  concelho  de  Taboaço, 
abbadia  que  teve  um  passal  enorme !  Ainda  no  anno  de  1496 
o  dito  passal,  que  ao  tempo  já  devia  estar  muito  cerceado, 
comprehendia  103  propriedades.  (^) 

Com  o  volver  dos  séculos  os  meus  beneméritos  ante- 
cessores (?)  alienaram  a  maior  parte  do  dito  passal,  mas 
ainda  no  meu  tempo  era  um  dos  melhores  do  bispado  de 
Lamego  e  comprehendia  campos  também  muito  férteis,  abso- 
lutamente os  mais  férteis  do  dito  concelho  !  Os  caseiros  que 
os  grangeavam  costumavam  dar  de  renda  aos  abbades  dous 
alqueires  de  cada  trez  que  produzissem  os  taes  campos.  Por 
seu  turno  os  abbades'  apenas  davam  aos  caseiros  metade  da 
semente. 

Os  taes  campos  eram  muito  lindos  e  muito  férteis,  tal- 
vez tão  férteis  ou  ainda  mais  que  os  da  Quarteira,  mas 
muito  menos  férteis  do  que  os  da  Villariça. 


Quanto   á  tributação  de  4-1,  lembra-me  também  o  que 
se  dava  na  freguezia  da  Penajoia,  decantada  terra  das  cqxq- 


(^)  Veja-se  Passal  de  Távora  n'esta  minha  louca  Tentativa  EtymolO' 
gica,  parte  l.a,  pag.  458  e  segg.  onde,  ad  perpetuam  rei  memoriam,  dei 
uma  nota  authentica  do  tombo  do  dito  passai,  n'aquelle  anno  de  149Ó. 


398  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMTC A 


jas,  minha  terra  natal  pertencente  ao  concelho  e  bispado  de 
Lamego,  freguezia  que  desde  os  principios  da  nossa  mo- 
narchia  foi  reguengo,  villa  e  sede  de  concelho  com  justiças 
próprias. 

Também  nos  tempos  prehistoricos  da  vida  errante  e  pas- 
toril foi  cidade  com  o  nome  de  Gruadeixe,  G-uadixe  ou  Gadixo 
por  Gadinho.  A  Penajoia,  era,  pois,  a  cidade  do  gadinho, 
nome  bem  apropriado,  porque  a  sua  população  in  illo  tem- 
pore,  estava  no  sitio,  hoje  completamente  deserto,  chamado 
G-uediche,  nas  abas  da  serra  do  Poio,  ao  longo  da  velha  es- 
trada de  Lamego  para  Rezende,  Sinfães,  etc. 

A  dita  estrada  devia  ter  bastante  movimento,  pelo  que 
ao  longo  d'ella  tinham  os  seus  curraes  e  viviam  os  donos  e 
negociantes  do  gado  que  pastoreavam  na  grande  serra  a 
montante. 

Com  o  desenvolvimento  da  agricultura  e  da  civilisação, 
mormente  no  tempo  da  occupação  romana,  o  povo  foi  bai- 
xando da  serra  paulatinamente  até  que  chegou  á  margem  do 
Douro,  distante  de  Guediche  cerca  de  três  kilometros.  Ha^ 
porém,  entre  aquelles  dois  pontos,  talvez  mais  de  3Q0  me- 
tros de  diíferença  de  nivel,  pelo  que  foi  morosa  e  muito 
dispendiosa  a  occupação.  Demandou  profundo  arroteamento 
e  valente  ensocalcamento  que  hoje  não  custariam  talvez  me- 
nos do  dous  mil  contos  de  reis  ! . . . 


Note-se  que  a  minha  Penajulia  ou  Penajoia  é  a  fregue- 
zia mais  vasta  de  todo  e  concelho  de  Lamego.  Comprehende 
B  a  7  kilometros  de  nascente  a  poente  ao  longo  da  margem 
esquerda  do  Douro  e  cerca  de  B  kilometros  de  terra  culti- 
vada, desde  a  margem  do  Douro  até  ás  abas  da  serra  ou 
do  monte  do  Poio,  actualmente  chão  baldio,  mas  que  ou- 
tr'ora  foi  cultivado  e  tem  cerca  de  10  kilometros  quadrados, 
pertencente  aos  concelhos  de  Lamego,  Resende  e  Castro 
d'xAyre,.  e  por  consequência  também  á  freguezia  da  Penajoia. 
Na  linha  norte-sul  comprehende,  pois,  a  minha  Penajulia 
ou  Penajoia  talvez  mais  de  15  kilometros  d'extensão. 

O  arroteameuto  e  ensocalcamento  da  vasta  freguezia  até 
á  margem  do  Douro  certamente  foram  muito  morosos  e 
muito  dispendiosos,  mas  conquistaram  chãos  fertilissimos  e 
mimosissimos,  pois  demoram  no  clima  das  laranjeiras.   Pro- 


TENTATIVA     KTYMOLXJGICO-TOPONYMICA  399 


duzem  muitas  e  óptimas  laranjas  e  outra  muita  fructa  varia- 
díssima da  melhor  do  Douro  e  de  Portugal  todo,  nomeada- 
mente cerejas,  pelo  que  a  Penajoia  c  denominada  o  Jardim 
do  Douro  e  a  terra  das  x>erejas,  pois  produz  muitas,  muito 
boas,  muito  variadas  e  tão  temporans,  que  em  iodo  o  Douro 
e  em  todo  o  norte  de  Portugal  só  alli  S9  encontram  cerejas 
maduras  no  fim  d'abril,  todos  os  annos. 

D'alli  e  só  d'alli  vão  desde  tempo  immemorial  cerejas 
maduras  todos  os  annos  á  feira  de  Santa  Cruz,  de  Lamego^ 
no  dia  3  de  Maio.  E  alguns  annos  na  Ribeira  dos  Fornos,  — 
o  cantão  mais  fértil  e  mais  mimoso  da  Penajoia  toda  e  que 
produz  as  cerejas  mais  temporans,  —  encontram-se,  como  eu 
já  vi  cerejas  maduras  no  mez  de  Fevereiro,  creadas  ao  ar 
livre  nas  cerdeiras  sem  folhas  e  sem  abrigo  algum,  prove- 
nientes da  florescência  outomnal!.  .  . 


Também  no  meu  pomar  da  Corvaceira,  que  é  sem  con- 
testação o  melhor  da  Penajoia,  quasi  todos  os  annos  se  vin- 
gam algumas  laranjas  provenientes  da  florescência  outomnal, 
e  tivemos  na  cerca  do  nosso  casarão,  chamado  casa  da  Ca^ 
pella,  na  mesma  povoação  da  Corvaceira,  uma  figueirinha 
que  todos  os  annos  dava  trez  camadas  de  figos:  —  uns  cha- 
mados lampos^  que  eram  enormes ;  outros  vindimos,  que  ama- 
dureciam no  tempo  da  vindima,  e  outros  que  nasciam  quando 
estes  últimos  se  colhiam,  e  a  pobre  figueira  perdia  as  folhas. 
Ficavam  na  arvore  sem  abrigo  algum,  todo  o  inverno,  ama- 
dureciam somente  no  fim  da  primavera  seguinte,  no  tempo 
dos  figos  lampos,  eram  os  mais  pequenos,  mas  em  compensa- 
ção os  mais  saborosos  I .  .  . 

Também  na  cerca  da  casa  tínhamos  uma  figueira  que 
dava  só  figos  lampos ;  eram  muito  ordinários  mas  em  car- 
dume ;  tantos  como  as  folhas ! 

Também  lá  temos  outra  figueira  que  dá  somente  figos 
muito  serôdios.  Amadurecem  depois  da  vindima,  quando  as 
figueiras  todas  perdem  as  folhas.  Eram  muito  saborosos,  mas 
dificilmente  se  colhiam  maduros,  porque  nós,  os  filhos  da 
casa,  os  creados  e  creadas  e  os  mesmos  jornaleiros  e  visi- 
nhos  andávamos  sempre  a  mirar,  remirar,  apalpar  e  colher 
os  taes  figuinhos,  por  serem  muito  serôdios  e  muito  sabo- 
rosos. 


400  TEIÍ-TATIVA.    RTYMOLOGICO-TOPONÍMICA 


Com  os  da  tal  figueira  das  três  camada.s,  que  fi.cavam 
na  arvore  todo  o  inverno,  ninguém  se  importava  nem  oa 
apalpava  ou  colhia,  por  serem  pouco  saborosos  e  porque  aó 
amadureciam  na  primavera  do  anno  seguinte. 


Desculpem  os  leitores  tantas  divagações,  a  propósito  da 
minha  terra  natal,  a  decantada  terra  das  cerejas,  chamada 
também  jardim  do  Douro,  por  ser  a  mais  mimosa  do  Douro 
e  de  Portugal  todo. 

Para  evitar  repetições,  vejam-se  no  Portugal  Antigo  e 
Moderno  os  artigos  do  meu  antecessor  Pinho  Leal: 

Corvaceira,  vol.  2.^  pag.  406 :  Moledo,  aldeia  de  Pena- 
joia,  vol.  5.*',  pag.  373,  e  Penajoia,  vol.  6."  pag.  5õ9.  coL  2.^ 

Veja-se  também  no  mesmo  diccionario  o  meu  artigo 
Vizellãj  rio,  vol.  12,  pag.  1968,  coL  2.a,  onde,  failando 
da  Corvaceira,  ponto  que  ha  no  mesmo  rio,  dei  uma  lista 
das  nossas  Corvaceiras  todas,  denominando-as  Curvaceira  e 
Curvaceiras,  em  vez  de  Corvaceira  e  Corvaceiras.  Ao  tempo 
ainda  ignorava  que  a  sua  etymologia  é  corvo,  ave,  que  deu 
Corveira  e  Corvaceira,  como  fogo  deu  fogueira  e  fogaceira  e 
lodo  deu  lodeira  e  lodaceira.  E'  assim  a  arte  nova, 

Veja-se  também  Corvaceira  e  Penajoia  nos  índices  da 
primeira  e  segunda  partes  da  minha  louca  Tentativa  Etimo- 
lógica, 


Volvendo  a  fallar  da  Quarteira  do  Algarve  e  da  sua 
etymologia,  eu  já  disse  que  talvez  tomasse  o  nome  da 
tributação  de  4-1,  por  ser  o  chão  da  Quarteira  fertilissimo. 
A  propósito  citei  a  Penajoia,  minha  terra  natal  e  muito  fér- 
til também. 

Como  já  disse,  a  minha  Penajulia  ou  Penajoia  foi 
villa,  reguengo  e  sede  de  concelho  com  justiças  próprias  — 
desde  os  principies  da  monarchia.  Teve  foral  velho,  dado 
por  D.  Affonso  Henriques,  foral  novo,  dado  por  D.  Manoel, 
confirmando^  ampliando  e  modificando  o  foral  velho,  que  se 
perdeu.  Já  náo  se  encontra  na  Torre  do  Tombo,  mAs  s<5- 
mente  o  foral  novo,  de  qual  tenho  uma  copia  authentica 
sobre  a  minha  banca  d'estudo. 


TENTATIVA     ETYMOLOOÍCO-TOPOyYMICA  401 


Ahi  vae  um  ligeiro  extracto. 

O  dito  foral  de  D.  Manuel,  com  a  data  de  15  de  Julho 
de  1514,  tem  o  titulo  seguinte: 

Foral  dado  ao  concelho  de  Penajoia^  termo 
de  Lamego^  por  El-Rei  D.  Affonho  Henriques.  (/) 

tD.  Manuel,  etc.  Posto  que  pelo  dito  foral  foram  parti- 
cularmente postos  os  direitos  qne  na  mencionada  terra  se 
haviam  de  pagar,  os  moradores  da  terra  nào  costumam  pa- 
gar os  ditos  direito?,  mas  outros,  desde  tempo  immemorial, 
segundo  andam  intitulados  nos  tombos  e  recebimentos  dos 
senhorios  dos  taes  direitos  e,  sendo  perguntado  aos  ditos 
foreiros  se  queriam  pagar  os  fóroâ  como  no  dito  foral  velho, 
dado  por  D.  Affonso  Henriques,  estavam  consignados,  ou 
como  agora  os  pagavam  pelos  tombos  dos  senhorios,  respon- 
deram que  queriam  pagar  como  agora  pagavam,  com  a  mo- 
dificação ou  corregimento  de  certos  aggravos  que  adeante 
se  declaram.» 

Prosegue  o  foral  novo,  que  c  sem  contestação  o  de 
D.  Manuel,  posto  que  o  titulo  parece  o  mesmo  do  foral 
velho,  dado  por  D.  AíFonso  Henriques!.  .  . 

Da  parte  exposta  supra  se  vê  que  D.  Manuel  foi  muito 
attencioso  para  com  os  habitantes  de  Penajoia,  consultan- 
do-os  e  perguntando-lhes  se  queriam  pagar  como  outr'ora 
pagavam  pelo  foral  velho  de  D.  Affonso  Henriques  ou  se 
preferiam  pagar,  como  ao  tempo  estav^am  pagando,  segundo 
constava  dos  tombos  dos  senhorios.  Ao  que  elles  responde- 
ram que  preferiam  pagar  como  ao  tempo  (1514)  estavam 
pagando,  com  a  modificação  e  corregimento  de  certos  aggra- 
vos, o  que  D.  Manuel  acceitou. 

Mas,  se  o  concelho  da  Penajoia  era  reguengo  e  proprie 
dade  particular  dos  nossos  reis,  que  senhorios  eram  os  men- 
cionados supra? 

O  foral  não  diz  o  nome  delles,  mas  na  minha  opinião 
os  taes  senhorios  da  Penajoia  in  illo  tempore  (anno  1514) 
eram  os  condes  de  Marialva,  appellidados  Coutinhos,  que 
foram  marichaen  e  meirinhos  mores  do  reino,  pessoas  d  alta 
cotação  no  seu  tempo,  e  riquíssimos!.  .  . 


{})    Para  tornar  a  leitura  menos  áspera,  seja-me  licito  dar  o  promet- 
tido  extracto    em  portugucz  hodierno. 

26 


402  TENTATIVA    ETYMOLOGTCO-TOPONYMICA 


Além  de  serem  alcaides-móres  e  senhores  de  Marialva, 
foram  também  alcaides  mores  de  Pinhel  (^)  senhores  dos 
coutos  de  Leomil  e  d'Armamar,  dos  concelhos  e  terras  de 
Bem  Viver,  em  Canavezes  e  de  Penaguião,  em  Traz  os-Mon- 
tes,  alcaides-móres  de  Lamego,  condes  de  Loulé,  senhores 
do  couto  e  morgados  de  Medello,  no  aro  de  Lamego,  e  da 
villa,  reguengo  e  concelho  de  Lamego  também,  hoje  sim- 
ples freguezia,  mas  muito  vasta  e  bem  conhecida  como  terra 
das  cerejas  e  mimoso  jardim  do  Douro,  minha  terra  na- 
tal, etc.  (2) 

Tão  ricos  e  tão  considerados  eram,  que  o  infante 
D.  Fernando,  filho  legitimo  do  nosso  rei  I).  Manuel,  o  ven- 
turoso, e  da  rainha  D.  Maria,  casou  com  D.  Guiomar  Couti-^ 
nho,  íilha  única  e  herdeira  universal  de  D.  Francisco  Couti- 
nho, ultimo  dos  ditos  condes  de  Marialva  que  d'este  modo 
se  uniram  á  familia  real  portugueza  e  se  elevaram  mais  do 
que  nunca.  Mas  a  dita  alliança,  tão  lisongeira  e  tão  promet- 
tedora,  foi  para  elles  o  ultimo  canto  do  cysne,  pois,  não 
tendo  a  dita  senhora  successão,  extinguiram-se  os  condes  de 
Marialva  e  vagou  para  a  coroa  e  para  a  casa  do  infantado  a 
maior  parte  das  grandes  rendas  e  dos  bens  que  possuiam.  {^) 

Coisas  d'este  mundo  ! 

Para  a  genealogia  dos  condes  de  Marialva  supra,  veja-se 
a  Historia  Genealógica  da  Cam  Real,  vol.  xii,  e  o  grande 
Nobiliário  ms.  de  Gayo  em  muitos  volumes  que,  pela  disposi- 
ção testamentária  do  auctor,  se  guarda  na  secretaria  da  Mi- 
sericórdia de  Barcellos,  mas  franco  para  quem  pretenda  con- 
sultalo. 

Não  se  confundam  os  Coutinhos,  condes  de  ]\íarialva, 
que  tanto  figuraram  nos  séculos  xiv  e  xv,  com  os  Menezes, 
condes  de  Cantanhede,  que  no  século  xvii,  foram  agraciados 
com  o  titulo  de  Marquezes  de  Marialva. 


(^)  V.  Pinhel,  artigo  meu  no  Portugal  Antigo  e  Moderno,  vol.  8.*, 
pag.  60  a  101. 

('')  V.  Penajoia,  no  Portugal  Antigo  e  Moderno,  vol.  6.",  pag.  559  a 
564. 

(^)  O  ultimo  conde  de  Marialva,  D,  Francisco  Coutinho,  fp.lleceu  no 
anno  de  1493  (era  de  1531),  como  diz  o  padre  Q^.xw2^ho,?^xi\go  Bcrtiande, 
que  Pinho  Leal  extractou. 


tp:ntativa   etymologico-toponymica  403 


V.  Cantanhede  no  Portugal  Antigo  e  Moderno,  vol.  y.**, 
pag.  95,  col.  1.*  —  e  o  tópico  —  Falado  do  Marquez  de  Ma- 
riaíva,  no  artigo  Lisboa  do  mesmo  diccionario,  vol.  4.", 
pag.  134. 


Substituição  de  letras  na  onomástica  portugueza 

fl  e  E 

Alcanena  e  Qaenena  por  Canena,  o  mesmo  que  Alca- 
nena. 

Almelaguez  por  Almalaguez,  o  mesmo  que  Malagueíio, 
filho  de  Málaga. 

Burgatas  por  Burguetas. 

Cf.  Burgete,  Burgueta,  Burguete,  Burgueto  e  Burgui- 
nho,  diminutivos  de  burgo^  que  deu  Burgo  e  Burgos,  mui- 
tas povoações  nossas  e  Burgos,  etc,  na  Hespanha. 

Lavadouro  e  Levadouro ;  Lavegada,  Levegada  e  Lobe- 
gada  por  Lobagueda,  abundante  em  lobos?!.  .  , 

V.  Lobagueira  e  Lobata,  por  lobagata. 

Padral  e  Pedral;  Padrão  ou  Pedrão;  Padreda  e  Pe- 
dreda  ;  Padreiro  e  Pedreiro ;  Padrella  e  Pedrêlo;  Padroso  e 
Pedroso;  Panascal,  Penascal  e  Penascaes  por  Panascaes; 
Panasqueira  e  Penisqueira  por  Panasqueira;  Parafita,  Pedra 
Fita  e  Peraíita;  Parozellos,  Pedrozello  e  Perozello;  Penada 
o  Peneda;  Penados  é  Penedos;  Penagacha  e  Penegacha. 

Samonde,  contracção  de  Sallamonde,  e  Semonde  por 
Samonde,  povoações  nossas. 

Cf.  Sopegal  por  Sopagal,  este  por  Sapogal  e  este  por 
Sabugal,  povoações  nossas,  como  Supagal  e  Supegal,  o  mes- 
mo que  Sapogal,  Sopegal  e  Sabugal. 

fl,  B,  I  e  O 

Mendanha,  Mendenha  e  Mendanha. 

Mentrestido  por  Mentrastedo,  abundante  em  mentrastos 

fl,  Ê,  o  e  U 

Marzugueira  e  Murçogueira  por  morcegueira,  abundante 
memorcêgos.  A  bússola  é  o  ouvido. 


404  TENTATIVA    ETYMOLOGTCO-TOPONYMICA 


fl  e  Ei 

Fajão  e  í'eijão ;  Fajarda  e  Feijarda;  Fajó  e  Feijó;  Fa- 
jões  e  Feijões,  povoações  nossas. 

Caguideiro  por  cagadeiro  e  este  por  cagadoiro!.  .  . 

Cf.  Caga-Jones,  Cagança,  Cagão,  Cagarraz  e  Cagunça, 
povoações  nossas.  Junte-se  Monturo,  sitio  de  Lamego,  cha- 
mado outr'ora  Mérdeiro  om  velhos  documentos  do  cabido 
lamecense. 

Adeganha  e  Adegainha;  Angaeiro  e  Ingueiro ;  Anquião 
e  Inquião;  Asna  e  Isna;  Asnanha  por  Asninha;  Azavel,  Isa- 
bel e  Zavel ;  Birosa  e  Barosa;  Cangostas,  Congostas  e  Quin- 
gostas;  Canhão  e  Quinhão;  Chintoada  por  chantoada;  Cim- 
bres, Quimbres  e  Cambres,  são  talvez  formas  do  mesmo 
nome. 

Somma  e  segue:  —  Das  Correias  e  Discorreias  ;  EscaUos 
e  Esquillos ;  Esquinheira  por  Esquilheira  e  Escalheira;  Fajó  e 
Fijó;  Fauza  e  Fiúza;  Farminháo,  de  Firminianus,  i,  dimi- 
nutivo de  Firmus,  ?',  como  Firmino ;  Fontascos,  Fontaiscos 
e  Fontiscos;  Galhufe  e  Guilhufe;  Gramicho  e  Gramacho,  de 
Gramaço.  Gramaço  e  Gramaços  são  povoações  nossas,  como 
Gramido  por  Gramedo:  Grimancellos  por  grabancellos  e 
Grimancinhos  por  grabancinhos;  Guidieiros  por  Gadieiros, 
como  Guedieiros.  {^)  Guitoeira  por  gatoeira.  Cf,  Gataria  e 
Gateira,  povoações  nossas,  bem  como  J^arroeiras  e  Barrei- 
ras; Figoeira  e  Figueira;  Teixoeira  e  Teixeira;  Laboreiro  e 
Liboreiro:  Laceiras  e  Liceiras;  Lagares  e  Ligares;  Lageira 
e  Ligeira ;  La^o  e  Ligo ;  Lateira  por  Liteira ;  Libâo  por 
Labão,  como  Nabão;  Ligena  por  Lagena;  Maça,  Massa  e 
Missa;  Madons  e  Midões.  Junte-se  Magarreiro  e  Migarreira; 
Malhão,  Manhão,  Milhão  e  Minhãos;  Malheiro  e  Milheiro; 
Malheiros  e  Milheiros;  Malhões  e  Milhões;  Malhundes  e  Aíi- 
Ihundos;  Manhoca  por  minhoca  e  Minhocal;  Manhosa  e  Mi- 
nhosa:  Marão  e  Mirão;  Marinella  e  Mirinella  ;  Mendanha 
por  Mendinha;  Montido   por  Montado?;  Mouraz  e  Mouriz; 


(')    De  gadieiro,  pastor  ou  negociante  de  ga  io.  Cf.  boieiro,  ovelheiro, 
cabreiro,  etc. 


TENTATIVA    ETYMOLOOICO-TOPONYMICA  40Õ 


Panchorra  e  Pinchorra ;  Perdagões  e  Perdigões;  Portagem  e 
Portigens  por  Portagens?;  Prachã,  Pricbã  e  Pedra  Cbà ; 
Habai,'aes  e  Kibaçaes;  Rabaçal,  Ribaçal  e  Kibadal;  Kabada  e 
Kibada;  Rabal,  E-ibal  e  Rival;  Habasca,  Rabasco,  Kavasco, 
Robisca  e  Ruvisco;  Rabella  e  Ribella:  Rapada  e  Ripada; 
Rasca  e  Risca ;  Raso  e  Riso ;  Ravara  e  Rivára ;  Raviçaes,  de 
Rabaçaes;  Carviçaes  por  Carvajaes,  e  este  por  Carvalhaes ; 
Raxão,  Rechão  e  Rixào:  Ribaçaes  e  Ribaçal,  de  Rabaçaes  e 
Rabaçal;  Saco  e  Sico ;  Salgueiros  e  Silgueiros;  Salgado  e 
Silgado;  Salvado  e  Silvado?;  Samâo  e  Simão:  Samarra  e 
Simarra;  Samarrinho  e  Simarrinho;  Sameira  e  Simeira;  Sa- 
meiras  e  Simeiras;  Sameiro  e  Simeiro  !  Samões  e  Simões; 
São  Gil,  quasi  Saogil  e  Singil;  Tanheira  e  Tinheiro:  Tanhel 
e  Tinhella;  Tarrueiro  e  Tiroeira ;  Tragai,  Trigal  e  Trigoal!; 
Traganhal  por  trigaohal;  Tragazal  por  trigaçal?  Trancão  e 
Trincào ;  Yade  e  Vide ;  Vaiamonte  por  Viamonte ;  Valhe- 
gas  e  Vilhegas ;  Vallarinho  e  Villarinho?  Vasêu  e  Viseu?! 
De  Basilêu-  o  mesmo  que  Basilio,  nomes  de  santos,  tirados 
talvez  de  Basileia,  hoje  Bade,  cidade  da  Suissa,  etc.  Basilêu 
podia  muito  bem  dar  Vasêu  e  Viseu ;  Vilhelho,  Valheiho. 
Cf.  Valhelhas;  Viilagueira  e  Vallagueira;  Villar  d'Azeu, 
Villar  de  Izeu  ou  Villar  de  Geu;  Viqueiras  por  Vaqueiras; 
Virães  por  Varáes  e  Varaes ;  Virella  por  Varella ;  Albano  e 
Albino,    Urbano  e  Urbino,  nomes  de  santos,  etc. 

fl  c  O 

substituiram-se  no  antigo  portuguez. 

Vide  O,  em  Viterbo. 

Abregueiro,  Abrigueiro  e  Obrigueiro !  •  .  .  (i)  Aião,  Ayão 
e  Oyam  por  Oyão  ;  Arrentella  e  Orentella  ?  ;  Barrai  e  Borrai ; 
Borrainho  por  Barrainho  !  .  Borrei  por  Borrai?;  Cacella  e 
Coselhas  por  Caselhas ;  Cacilhas,  Caselha,  Coselho,  Caselhos, 
Coselhas  por  Caselhas  e  Cozelhos  por  Caselhos. 

Junte-se :  —  Carregosa  e  Corregosa;  Cavalhão  e  Cova- 
Ihão;  Covallo  por  Cavallo ;  Cavanca  e  Covanca ;  Lambadas 
por  Lombadas;  Lavegada,  Levegada  e  Lobegada  por  loba- 
gada,  abundante  em  lobos. —  V.  Lobagueira  e  Lobata. 

Somma  e  segue: 

Longarella  e  Longorella ;  Majapão,  Malha  Pão  e  Molha- 


(')    Junte-se  Abreiro  por  Abregueiro. 


406  TENTATIVA    ET YMO LÓGICO -TOPONYMICA 


pão;  Marmoiral,  Marmonrâl  e  Mormeiral,  de  memorial!... 
Marzugueira  e  Murçogaeira  por  morcegueira,  que  abunda 
em  morcegos. 

Nabaiaho  e  Novainho ;  Pantilhões  e  Pontiihões  ;  Pasmo- 
ria  por  pasmaria? 

Cf.  Pasmai,  Pasmil^  Pasmo  é  Pasmosa. 

Romadinha  e  Ramadinha;  Romagom  de  Romagão,  o 
mesmo  que  Ramagão  e  Ramalhão. 

Rosmono,  de  rosmano,  planta,  como  Rasmaninhal  e 
Rasmanial,  forma  de  Rosmaninhal  e  Rosmaninho,  povoações 
nossas  também ;  Saraminheira  e  Saramunheiro,  de  sora- 
minheira  e  soramenheiro,  e  estes  dos  soromenhos,  pereiras 
bravas,  como  Seromenha  e  Seromenho,  etc,  etc,  povoações 
nossas  também.  (^) 

fl,  o  c  U 

Sabugal,  Sopegal,  Supagal  e  Supegal  por  Sabugal,  po- 
voações nossas. 

PI  e  U 

Braceiro  e  Bruceiro  ou  Braceiro  (sic) ;  Bulonguinho  por 
Vallonguinho ;  Cârtaxeira  e  Cartuxeira?;  Carutello  e  Cu- 
rotello  ;  Carutos  por  curutos;  Friande  e  Friunde?de  Ferdi- 
nandi,  patronímico  de  Ferdinandus  —  Fernando,  que  deu 
Fernão  e  Ferrão. 

flça  e  Ma 
flço  e  fldo 

Cortegaça  e  Cortegada  por  Cortiçada !.  . .  Milbaço,  Mi- 
Iharada  e  Milharado  por  milharaca  e  milharaço?;  A  Hespa- 
nha  tem  Mijarada  e  Millarada,  em  portuguez  Milharada. 
Também  temos  Pamaraço  e  Pomarada,  quasi  pomaraça; 
Taboaço  e  Taboado  !.  .  .  Taboaça  e  Tabnada. 

A  Hespanha  tem  Tabla,  Tablada,  Tâblaza,  Tablazo,  Ta- 
boada  e  Taboazas ! .  . .  Cf.  tabuada  e  tabuado,  nomes  com- 
muns.  Também  temos  Taboadella  e  Taboadello,  diminutivos 
de  Taboada  e  Taboado.  Junte-se  Pedraca  e  Pedrada,  o  mes- 


(^)    V.  pagina  229,  supra. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMíCA  407 


mo  que  Pedreda,  povoações  nossas  também,  como  llabaçal, 
Ribaçal  e  Kibadal. 

fles  c  fles 

Pecegáes  por  pecegaes,  e  este  por  pecegueiraes. 

Cf.  Ptícegâl,  Pecegaeira,  Pecegueiro,  Pecegueiros,  Pes- 
segaido,  por  peceguedo,  e  Presigueda  por  percegueda  ou 
porsegueda,  povoações  nossas  que  tomaram  o  nome  dos  pe- 
cegaeiros,  deturpação  de  persegueiros,  arvores  vindas  da 
Pérsia.  Talvez  tenham  a  mesma  etymologia,  Pexigueiro  por 
pexegueiro,  Pexilgaes  por  pexegaes,  o  mesmo  que  Peoegaes-? 
O  povo  também  diz  Perzegueda  e  Prezegueda.  A  Hespanha 
tem  Pesaguero  em  Santander  e  os  gallegos  em  vez  de  pece- 
gos  dizem  percêgos  ou  persôgos ! . . . 

Junte  se  ainda  Tojaes  e  Tujães. 

fles,  fles  e  Ões 

Perdagaes  e  Perdigões;  Pinhaes,  Pinhães  e  Pinhões 
etc,  povoações  nossas. 

fli  e  I 

Bouçainhas  e  Boucinhas ;  Cabrinha  e  Gabrainha ;  Cer- 
vainhos  por  cervinhos,  diminutivo  de  Cervo-veado  ?  Este- 
vainha  por  estevinha? 

Fontainha,  Fontainhas,  Fontinha,  Fontinhas ;  Fontais- 
cos,  Fontascos  e  Fontiscos  ! .  .  .  Longa  e  Longainha  por  Lon- 
guinha,  etc,  povoações  nossas. 

Deu  aes  e  ares  no  plural. 

Cf.  Alhal,  Alhaes  e  Alharos ;  Casal,  Casaes  e  Casares; 
na  Hespanha  Casal,  Casais,  Casar  e  Casares;  Felgar,  o  mes- 
mo que  felgaJ,  Felgaes  e  Felgares ;  Olival,  Olivaes  na  Hes- 
panha Clivares;  Paíhal,  Palhaes  e  Falhares,  povoação  nossa ; 
Poyal  e  Poyales  na  Hespanha ;  Poial,  Poiaes  e  Poiares,  entre 
nós,  o  mesmo  que  Poyal  e  Poyales  na  Hespanha.  Também 
Poiares,  povoação  nossa,  pôde  vir  do  antigo  portuguez  Poya- 
res  —  pilares. 

Veja-se   no   Portugal  Antigo    e   Moderno   o   meu   artigo 


408  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMTCA 


«Villa  Eeal  de  Traz-os-Montes»,  vol.  11,  pag.  932,  col.  2.%  e 
esta  minha  louca  2'entatha,  pag.  4,  supra. 

fli  C  flu 

Confronte-se  Adalberto,  santo ;  Alberto,  santo ;  Alde- 
berto,  Auber,  appellido,  e  Auberto,  santo,  formas  de  Wild- 
berth,  como  talvez  Gilberto,  também  nome  d'um  santo. 

Hildeberta  e  Hildeberto,  nomes  actuaes,  e  Guiberto, 
appellido,  talvez  forma  de  Gilberto,  por  Guilberto?  e  Gual- 
berto,  santo,  etc.^  forma  de  Walbert  por  Wilbert  ou  Wild- 
berth? 

Junte-SG  Arnaldo,  nome  d'um  santo,  etc. ,  Arnau,  Ar- 
naud  e  Arnaut,  appellidos  nossos,  diíferentes  formas  de  Ar- 
naldo, em  francez  Arnaud  e  Arnould,  metatheses  de  Renaud 
e  Renould,  feitos  de  rein  —  puro,  claro,  íino,  astuto,  e  hold- 
amigo,  como  diz  Boucrand,  vbs.  Regnaud,  Arnaud  e  Al- 
bert. 

flI  e  31 

Cabral  e  Cabril;  Carral  e  Carril;  Carvoal  e  Carvoil; 
O  Bevial  por  Obevial,  Ovial  e  Ovil^  de  ovis,  ovelha,  como 
ovile,  curral;  Ourai  e  Ouril,  Outeiral,  talvez  o  mesmo  que 
Ourai  e  Ouril ! . . . 

Junte-se  Outil  por  Outeiril  e  Outiz  por  Ouceiriz?  Pas- 
mai e  Pasmil,  Passal  e  Passil,  etc,  etc,  povoações  nossas. 

Pll  e  Ou 

Monte  Alto  e  Montouto  por  Mont'alto?;  Outeiro  por 
alteiro,  de  alto,  (Cândido  de  Figueiredo,  etc),  e  Souto,  do 
latim  saltus,  bosque. 

flies  e  flres 

Casares  por  Casales,  Casaes;  Pombares  por  Pombales, 
Pombaes ;  Valladares  por  valladales,  valladaes.  Silvares  por 
Silvadares  e  este  por  Silvadales?  Confronte-se  Silvadal,  po- 
voação nossa  também. 

flpt  deu  flu 

Cf.  auto,  portuguez  antigo  do  século  xv  —  apto,  do  la- 
tim aptus.  Thebaida,  port.  vol.  1.°  pag.  44  (nota). 


TENTATIVA    KT  YMOLOGICOTOPONYMICA  409 


flu  e  Ou 

Cf.  Laureiro  e  Loureiro ;  Laurencia  e  Lourença ;  Lau- 
renciano,  de  Laurentianus,  o  mesmo  que  Laurentinus.  i,  unde 
Laurentim,  duas  aldeias  nossas ;  Mouro  e  Moura  de  J^Iaurus 
e  Maura;  Touro,  de  taurus,,  etc. 

B 

caprichoso  cahindo  e  surgindo. 

Caramancha  e  Garambancha?  Catacomas  por  catacombas, 
catacumbas?  Gamboa,  Gramoal,  Gamoalete  e  Gamoalinho, 
por  Gamboal,  Gamboalete  e  Gamboalinho? ;  Paramos  e  Pa- 
rambos;  Tarima  e  Tarimba,  etc,  povoações  nossas. 

B  e  D 

Alhambra  e  Alhandra;  Badim  e  Dadim  são  talvez  for- 
mas do  mesmo  nome,  como  Casal  Dasco  e  Casal  Vasco,  por 
Basco;  Baixa  e  Daixa ;  Barra  e  Darra;  Bebereira,  vulgo  So- 
breira, quinta  e  Dobreira ;  Belães,  freguezia  extincta,  junto 
de  Bretiande,  e  Delães;  Bolciculo  e  Duciculos? 

Cf.  Bouça,  Boução,  Bouças,  Rebouça,  Redouça,  Re- 
doução  e  Redouças. 

Rira  bien  qui  rira  le  dernier! .  . . 

Cf.  Dade  e  Babe,  Bamonde  e  Damonde,  Dardos  e  Bardo, 
singular  de  Bardos ;  Bouro  e  Douro ;  Bragas  e  Dragas ;  Bréa 
ou  Breia  e  Dreia;'  Bubeiro,  masculino  de  Bubeira  e  Dobeira; 
Cabornegas  por  Cadornegas,  dos  cadórnos;  Diogo  e  Viogo, 
Donello  e  Bonellinho  por  Donellinho.  —  Cum  suis  abiacentiis 
(por  adjacentiisj  e  cum  abicentionibus  (por  adjunctionibus) 
suis. 

Vimaranis  Monum,  5,  2.* 

B,  D  e  \7 

Beita  por  Deita.  Cf.  Torre  Deita,  de  Ecta,  antigo  nome 
pessoal.  Bonelinho  por  Donellinho,  diminutivo  de  Donello, 
povoação  nossa;  Dalmiro  Delmiro  e  Belmiro?  Dalmiro  e 
Delmiro  foram  santos;  escreder  por  escrever,  om  Riodades ; 
Raiva,  freguezia  de  Raida,  nome  d'uma  santa,  etc.    A  Tos- 


'410  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONyMIOA 

cana  tem   a  palavra  visenteria  na  accepção  de  camarás,  dy- 

senteria  e  nós  temos  muitos  vocábulos  toscanos.  (^) 

B  e  F 

Brazão  e  Frazão,  appellidos  nossos. 

B  e  b 

Cf.  Bianor,  nome  d'uma  santa,  e  Lianor,  forma  popular 
de  Leonor ;  Bobo,  Lobo  e  Novo ;  Boureiro  e  Loureiro ;  Bouro 
e  Louro;  Bouros  e  Louros;  Bousado  e  Lousado;  Bousende 
por  Bousinde  e  Luzindo?  ! .  .  . 

B,  b  e  \7 

Substituiram-so  e  confundiram-se  na  idade  média. 

Badieiro,  Ladeiro,  Ladoeiro  e  Lodoeiro,  quinta  da  mi- 
nha Penajulia ;  Bage  e  Bages  e  Baginha,  aldeias ;  Baiza  e 
Laija  por  Lagea ;  Bande  e  Lande. 

Bandeira  (muitas  povoações)^  e  Lavandeira;  Banhas  e 
Lanhas;  Banhosa  e  Lanhoso;  Beça,  Beças^  Leça  e  Leças; 
Beiro,  Beirós,  Leiró  e  Leirós;  Bello  e  Lello,  appellidos  ;  Bes- 
teiro e  Lesteiro;  Bicha  e  Lixa;  Bicho  e  Licho ;  Bigar  e  Li- 
gares ;  Bilhar  e  Linhar. 

Bobai  e  Luval  por  Lobal?;  Bobezes  e  Lcbazes;  Bobo  e 
Lobo;  Bodo  e  Lodo;  Bofmha  e  Lufiuha;  Bogo  e  Logo  de 
Deus;  Bomba  e  Lomba;  Bombarda  e  Lombarda ;  Bombeira 
e  Lombeira ;  Bombinhas,  Lomba,  Lombas  e  lombinhas ;  Bon- 
go  e  Longo;  Bordeira  e  Lordeira. 

Boriz  e  Buriz,  Louriz  e  Luriz ;  Bouçainhas  e  Louçai- 
nha ;  Boução  e  Louçam,  por  Loução ;  Bouceiras  e  Louceira ; 
Bouções  e  Loucões;  Boureiro  e  Loureiro;  Bouro,  Bouros, 
Louro  e  Louros;  Bousado  e  Lousado;  Bousinde  e  Luzinde. 

Bubeiro,  Lobeiros  e  Luveíro :  Búzio  e  Liizio.  Cf.  Eulá- 
lia^ Olaia,  O  vaia.  Santa  Ov^aia,  Santa  Vaia  e  Santa  Valha 
entre  nós,  Santabalha  e  Santa  Baya  na  Hespanha.  Cf.  tb. 
Baceira,  Baceiras,  Baceiro  e  Baceiros ;  Laceira,  Laceiras, 
Laceiros  e  Ladeira,  Ladeiras,  Ladeiro. 


(^)    V.  Diapasão  toscano,  na  1.*  parte  d'esta  minha  louca  Tentativa 
Etymologica, 


TENTATIVA     KTYMOLOGICO-TOPONYMICA  411 


Labata  de  Lobata  ou  Valata,  Vallada ;  Labeado  de  Ba- 
leado, Bailado  ou  Valiado?;  Laboucinho  de  La  por  Al  Bou- 
cinho ; 

Lagos  e  Vagos,  vi  Ha  em  contacto  coro  patameiras  e 
lagos  da  ria  d'Aveiro ;  Lilla  o  Villa  (Veiga  de  Lila) ;  Lillela 
o  Villela;  Valim  e  Lalitn ;  Vares  e  Lares;  (^)  Vedoiro  e  L?- 
douro ;  Veiros  e  Leíros,  povoações  nossas  como  Veiros  e 
Leirós. 

B  e  m 

Bacalhau  por  Má  Calhau  ou  Máu  Calhau?  Cf.  Matta 
Má^  Lamamá,  Quinta  Má  e  Pedra  Má,  Pena  Bôa  e  Panamá, 
por  Pena  ou  Penha  Má,  tal  é  a  serrania  que  forma  o  istmo 
de  Panamá. 

Bacalhôa  e  Macalhona,  forma  callaica  de  Macalhôa?  Ba- 
calhôa  e  Macalhona  são  povoações  nossas;  Baçal  e  Maçai; 
Baçar,  o  mesmo  que  Baçal  e  Maçai ;  Baceira  e  Maceira ;  Ba- 
ceiras  e  Maceiras;  Bacias,  1  aldeia  e  3  casaes,  por  Macias, 
dô  Macia,  casal?  V.  Massia  em  Figueiredo  ;  Masouco  ;  Massa, 
Massarellos,  Maçada,  Villar  de  Massada,  povoações  nossas; 
e  masia  em  Valdez. 

Também  Bacias  pôde  ser  uma  forma  de  Cacias,  casi- 
nhas; Bacunhal  por  Má- Cunhal  ou  Mau  Cunhal;  Badões  e 
Madons,  forma  callaica  de  Madões. 

Baganha  e  Maganha ;  Bagorrinho  e  Bagorro  ;  Magurra 
e  Magurro  por  Magorro  ?  Bagunte  e  Magonte;  Bairos,  Mai- 
ros  e  Pairo,  singular  de  Pairos ;  Bala  e  Mala;  Í3alaia  e  Ma- 
laia?; Balhadouro  e  Malhadoura,  quasi  Malhadouro,  mas 
talvez  que  Balhadouro  seja  uma  forma  de  Banhadouro,.  po- 
voação nossa  também,  pois  Ih  e  nli  confundiram-se. 

Balhôa,  Malho  e  Malhoa,  appellidos ;  Banhos  e  Manhos ; 
Banhosa  e  Manhosa  ;  Barchiena  e  Marchiena  ;  Barco  e  Marco, 
Barcos  e  Marcos;  Barge,  Vargem  e  Margem;  Bário  e  Mário. 

Junte-se:  Barqueiros,  Marqueiro,  appellido  e  Marquiros, 
herdade  í  Barra  e  Marra;  Barrada  e  Marrada  Alta;  Barran- 
cha  e  Marrancha,  corcovado;  Barrancos  e  Marrancos?;  Bar- 
rão e  Marrão;  Barreiras  e  Marreiras;  Barreiros  e  Marreiros; 
Barrocal  e  Marroquil  por  Marrocal. 

Barrocos  e  Marrocos,  aldeia;  Barros  e  Marres;   Basco, 


(^)     Vares  pôde  ser' também  uma  forma  de  Valles,  pois  /  e  r  trivial- 
mente se  confundiram. 


412  TENTATIVA    ETÍMOLOGíCO-TOPON YMICA 


Bascos  e  Maseos ;  Batas  e  Mattas ;  Batoque  e  2»[etoque; 
Bazorra,  Massorra  e  Mazorra;  Beco  e  Meco;  Bedim  e  Me- 
dim ;  Bega  e  Mega:  Beira  e  Meira;  Beiral  e  Meiral;  Beire, 
Boire  e  Moire.  Cf.  Beiranita  e  Boiranita ;  Beires  e  Meires ; 
Beiriz  e  Meirins;  Bejota  e  Mejota?  !    .  . 

Belchior  e  Melchior;  Bella  e  Mella;  Bellinho  e  Melli- 
nho  ;  Bello  e  Mello  ;  Bilhào  e  Milhão  ;  Bioco,  Miogo  e  Viogo ; 
Bocho  e  Mocho;  Bofarda,  Bufarda  e  Mufarda!. . . 

BogadelJa,  diminutivo  de  Bogada  e  Mogada.  Cf.  Voga- 

Bossejo  e  Mocejo ;  Boreira  e  Moreira;  Boreiras  e  Mo- 
da ;  quasi  Bogada ;  Bógo  e  Mógo ;  Boeiro  e  Moeiro;  Bóia, 
Goia  e  Moia;  Boinhas,  plural  de  Boinha  e  Moinha;  Boire 
e  Moire;  Boliqueime  e  Mogueime,  e  Muqueymes  em  Orense. 

Bossejo  e  Mocejo ;  Boreira  e  Moreira ;  Boreiras  e  Mo- 
reiras ;  Boriz,  Morins  e  Mouriz,  Bormella  por  Barmella  e 
Marmella;  Borracheira  por  Borraceira?  Murraceira  e  Borra- 
zeira ;  Borracheiro  por  Borraceiro?  Borrazeiro  e  Berreiro,  de 
Borra  e  por  extensão  lama. 

Bortaes,  Mortaes  e  Murtaes ;  Bota  e  Motta ;  Botas  e 
Mottas  ;  Bouçós  e  Moucos;  Bouquinhos  e  Mouquinho;  Bou- 
ro e  Mouro;  Bouros  e  Mouros;  Bozelha  e  Mozelho,  mascu- 
lino de  Mozelha ;  bugiganga  e  mogiganga  ou  mugiganga, 
dança  burlesca,  momices,  trejeitos.  São  formas  do  mesmo 
nome  tiradas  de  bugio. 

Felisbina  e  Felisbino;  Felisrnina  e  Felismino,  sãó  no- 
mes pessoaes;  Maladão  e  Vailadãu;  Malado  e  Vallado ;  Ma- 
lagão  e  Vallagões,  plural  de  Vallagão;  Malagueira  e  Valla- 
gueira;  Marzelona  por  Barcelona;  Mascozello  por  Bascozello 
ou  Vascozello^  de  Vellascucellus.  V.  Vasconcellos,  Vasco, 
Vascões,  Vasques  e  Vasquinho. 

Mendeira  e  Vendeira  ou  Venteira;  Mertoldos  por  Ber- 
toldos, de  Bertoldo ;  Merufe  por  Berufe,  o  mesmo  que  Brufe, 
de  Ebrulfus,  i;  Murraceira  e  Morreira  por  borraceira  e 
borreira;  Sarabagos  e  Saramagos;  Vegide  e  Megide;  Verim 
e  Merim ;  Vinhos  e  Minhós,  etc,  povoações  nossas. 

B  e  n 

Babaes  e  Nabaes ;  Babe,  aldeia,  por  Nave ;  Babainho  e 
Nabainhos ;  Baceira  e  Baceiras  por  Naceira  ou  Nasseira  e 
Nasseiras ;  Baceiro  e  Naceiro  ;  Baceiros  e  Naceiros !  .  .  Ba- 
teiras e  Nateiras ! ;  Bellas  e  Nellas ;  Bello  c  Nello  ;  Bespral  e 
Nesperal ;  Bico  e  Nico  ;  Biqueira  e  Nigueira ;  Bóia  e  Noia ; 


TENTATIVA    KTYMOLOOICOTOPONYMICA  41B 


Bobai,  Nobal  e  Noval ;  Bobo,  Lobo,  Nobo.  Cf.  Nobo,  Nobos 
e  Novos,  povoações  nossas. 

B  e  P 

Ba,  be,  bi,  bo,  bu,  e  pa,  pe,  pi,  po,  pu. 

Baçal  e  Passal;  Baceiros,  Palaceiros  e  Passeiros ;  Baço 
de  Boi^  por  Passo  de  Boi ;  Bácora  e  Pecora,  proviacianismo  ; 
Bade  e  Pade;  Badela  e  Padella;  Badieiro  e  Pardieiro?;  Ba- 
dim  e  Padim  ;  Badões,  Padrões  e  Madons ;  Bagões  e  Pagons, 
por  PagOes ;  Baião  e  Paião  ;  Baiol  e  Paiol ;  Bairos  e  Pairo, 
singular  de  Pairos ;  Bala  e  Palia ;  Balaia  e  Palaia,  appellido, 
e  Palaios,  aldeia. 

Balancho,  Balanxo,  Ballanxo  e  Palancha,  feminino  dePa- 
lancho.  Cf.  Vallancho,  sitio  próximo  de  Luso ;  Baleia,  em 
latim  balena  e  Falena  ;  Baleira,  Paleira  e  Valleiraí  Balesta  e 
Palestra  por  Palesta?  Balha  e  Palha,  appellidos ;  Ballinha, 
Vallinha  e  Pallinha  ;  Ballão  e  Paião;  Banhas  o  Penhas;  o 
povo  diz  Panhas. 

Baloca,  Palorca  por  Paloca  e  Valouta  por  Valouca,  o 
mesmo  que  Valloca?  e  Balouça,  povoação  nossa  também  como 
Balouta  e  Balouto.  Nós  temos  Baloca  e  !^>alocas ;  Baloco  e 
Balocos  ;  Balota,  Balouça  e  Balouço  ;  Balouta  e  Balouto  ;  Pa- 
lorca, Valuuta,  Balurco  e  Balutos. 

Banco  e  Panco ;  Bandeira,  Pandeira  e  Salto  da  Pandeira ; 
Bardeira  e  Pardeiro,  masculino  de  Pardeira ;  Bardo  e  Pardo; 
Barja,  Parja,  e  Varja  e  Várzea;  Barra  e  Parra;  Barrada  e 
Parrada ;  Barradinho  e  Parradinhos ;  Barrado  e  Barrados; 
Barrai  e  Parral ;  Barreira  e  Parreira ;  13arreiras  e  Parreiras ; 
Barreirinha  e  Parrsirinha ;  Barrella  e  Parrella ;  Barrinho  e 
Parrinho;  Barroja  e  Parrocha  por  Parroja?;  Barrota,  appel- 
lidoj  e  Parrote  por  Barrote  ? 

Basseiro  e  Passeiro ;  Basto,  Bastos  e  Pastos ;  Batacas  e 
Patacas ;  Bataquinhas  e  Pataquinhas ;  Batas  e  Patas ;  Bateira 
e  Pateira;  Batudes,  quasi  batudos  e  Patudos ;  Baúlo  e  Paulo; 
Beba  e  Peva ;  Beça,  Bessa  e  Peça ;  Bechos  e  Pecho,  singular 
de  Pechos  ;  Beduido  e  Pedorído  por  Peduido?  (^) 


(^)  Beduido  por  Vedoido  é  metathese  de  vidoedo  por  vidoeiredo 
bosque  ou  matla  de  vidoeiros,  o  mesmo  que  bétulas. 

Cf.  Biduedo  ou  Viduedo  (sic),  Bidueira,  Vidual  por  Vidueiral,  Vi- 
duedo,  Vidueiro  e  Vidueiros,  povoações  nossas  também. 

Pedorido  vem  talvez  do  latim  petoritum  —  o  carro  ou  a  carroça  li- 
geira de  quatro  rodas.  V.  Magniim  Laxicon. 


4U 


TENTATIVA    KT YMOLOGICO-TOPON YMICA 


Beixinheira,  por  Peixinheira,  Peixeira?;  Bella  e  Pella; 
Benello  e  Penellos,  plural  de  Penello ;  Bera  e  Pêra ;  Berlen- 
gas  e  perlengas ;  Berrai  e  Perral ;  Bias  e  Pias,  mas  Bias  foi 
também  um  sábio  da  Grécia!  Bica  e  Pica;  Bicada  e  Picada; 
Bicadas  e  Picadas;  Bicalho  e  Picalhos,  plural  de  Picaiho ; 
Bicanha  e  Picanha,  feminino  de  Picanho;  Bicha  e  Picha; 
Bicheiro,  Pigeiro  e  Pigeiros  por  Bicheiro  e  Bicheiros ! .  .  . 

Bico  e  Pico ;  Bicos  e  Picos ;  Bidarra  e  Pigarra ;  Biscossa 
por  piscosa?;  Bizoeircs  e  Pisoeira,  feminino  de  Pisoeiro ; 
Boas  Eiras  e  Poaxiras  por  Poaxeiras  (') ;  Bocarinho,  Pucarinho 
e  Pucarinhos ;  Boeiras  e  Poeiras;  Boeiro  e  Pceiro;  Boisão  e 
Pousão  por  Poisão?;  Bolão  e  Pulào ;  Bolegueira  e  Pulgueira? 
Cf.  Pulga,  Pulgas,  Pulgueiros  e  Venda  das  Pulgas. 

Bolo  e  F^olo ;  Bombeira  e  Bombeira;  Bombinhas  e  Pom- 
binhas; Borbelia,  Porvella,  Porverba!  e  Provella,  diminutivo 
de  Prova,  bacellada,  vinha  nova. 

Botão  e  Potam ;  Bragal,  Pargal  e  Pragal. 

Bragança  e  Bragança;  Brunhal  e  Prulhal;  Brunheira  e 
Prulheira ;  Bucara  por  Pucara.  Cf.  Pucariça,  Pucarinhas,  Pu- 
carinho e  Pucarinhos^  povoações  nossas ;  Bugalho  e  Puja- 
Iho  ;  Bugalhos  o  Pujalhos ;  Burga  e  Pulga ;  Burgueiros  e  Pul- 
gueiros. 

Buxo,  casal,  Debuxo,  arbusto,  do  latim  buxus,  e  este 
de  grego  puxos;  Campizes,  De  Campezes  por  Cambezes,  de 
canabis,  o  linho  cânhamo.  V.  Cambeiro,  Cambelhe,  Cam- 
bellas,  Cambezes,  Cambiaço,  Canameiras  por  Canabeiras, 
chãos  da  Villariça,  destinados  para  a  cultura  do  cânhamo. 
Junte-se  Canavezes,  Caneve,  Canevezinhos  e  Cavez  por  Ca- 
navez,  singular  de  Canavezes. 

Palazim  e  Vallazim;  Palenca  e  Valença;  Palias  e  Vai- 
las;  Parracheira  e  Barra  Cheia  por  Barracheira;  Pecelada  e 
Pecelar.  V.  Bacellada  e  Bacellar  por  Baceilal ;  Praçaes  e  Ba- 
raçal,  singular  de  Baraçaes ;  Ribança  e  Ripança,  ponto  do 
Douro ;  Sabugal,  Sopegal,  Supagal,  e  Supegal  por  Sabugal, 
etc.^  povoações  nossas. 

B  e  R 

Banginha  e  Ranginha  ;  Banhado  e  Ranhado ;  Banhadouro 
e  Ranhadouro ;  Banhas  e  Ranhas,  etc,  povoações  nossas. 


(')    Posxeiras  é  diapasão  cailaico  cie  Poas  Eiras  por  Boas  Eiras. 
A  bússola  é  o  ouvido. 


TENTATIVA    KTYMOLOaiCOTOPONYMICA  415 


B  e  T 

Bacelinho  e  Tacelinho  por  Bacelinho?  etc,  povoações 
nossas. 

B  por  U 

Encontra-se  no  antigo  portuguez,  ob  por  ou.  V.  Ob  no 
Portugal  Antigo  e  Moderno  e  no  Elucidário  de  Viterbo. 

B.  U  e  W 

Cf.  Ubaldino  do  Amaral  (Dr.)  nome  actual  no  Brazil. 
E'  lá  director  do  Banco  da  Republica;  Wladisláu  e  Ladis- 
láu ;  Baltar,  Balteiro,  Balter,  etc,  são  formas  de  Walter.  (^) 

B  e  V 

Baçal  e  Vassal;  Bacaria  e  Vacaria;  Bacarice,  quasi  Ba- 
cariça  e  Vacariça ;  Bagueira  e  Vagueira;  Bailadouro  por  Bal- 
ladouro  e  Valladouro;  Balancho,  por  Valancho,  Valle  ancho; 
Baleira  e  Valeira;  Baleizão  e  Valeizão  ;  Becaría  e  Vacaria; 
Beladãos  por  Valladãos;  Bermil  por  Vermoil,  de  Vermundi- 
nus,  i,  como  Vermoim ;  Bulonguinho  e  Vallonguinho;  Ca- 
bana e  Cabanas,  Cavana  e  Cavanas,  etc  ,  povoações  nossas. 

B  e  V7 

Anobra,  de  Hanower?;  Swazilandia ;  Wolfran,  metal 
que  abunda  no  nosso  paiz  e  é  caro ! . .  .  Cf.  Wolfran  e  Wul- 
fran,  Wlfrão  nome  germânico  e  nome  d'um  santo,  etc,  e  ve- 
ja-se  W  no  índice  da  1.*  parte  da  minha  louca  Tentativa, 

Bq  e  Ca 

Bacias  e  Cacias.  V.  Cacia,  Cacilhas  e  Caxilhas;  Badou- 
ços   e   Cadouços  ;  Badamallos  por  Cadavallos?  Cf.  Cadaval. 

Barata  e  Caratão,  quasi  Caratã ;  Barosa  e  Baroso  por 
Barrosa  o  Barroso,  e  Carosa  por  Barosa  e  Barrosa.  Carosa, 


(^)    V.  pag.  41,  104,  364  e  365  na  l.--^  parte  d'esta  Tentativa  Eiymo- 
lógica. 


416  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPON YMICA 


povoação  que  eu  muito  bem  conheço,  na  freguezia  de  Cam- 
bres,  junto  de  Lamego,  demora  em  chão  mimoso  e  muito 
fértil.  Barreteira  e  Carreteira;  Barreto  e  Carreto,  etc,  po- 
voações nossas. 

Ba  e  Ga 

Balazar  e  Galazar  por  Balazar,  povoações  nossas,  de 
Belisarius,  ii,  Belisiario,  antigo  nome  pessoal. 

Bobadella  e  Bogadella  por  Bobadella,  povoações  nossas; 
de  Abobadella,  diminutivo  de  Abobada,  nome  de  varias 
povoações  nossas  também,  como  Abobadas,  e  Aboadella  por 
Abobadella? 

Fiat  lux. 

Ba  e  Pa 

Mesmo  no  Japão,  v.  g. 

Barabara  e  parapara,  ruido  do  que  cahe,  do  que  se  dis- 
persa, como  a  chuva,  como  uma  multidão  d'homens  que  se 
dispersa  para  um  e  outro  lado.  Batabata  e  patapata,  ruido 
de  bater  das  azas  das  aves  ou  de  portas  que  se  fechem  viva- 
mente. 

«Carta  do  Japão»  no  Gommercio  do  Porto  de  20  de  ja- 
neiro de  1906. 

Também  os  árabes  marroquinos  em  vez  de  pa  dizem 
ba,  como  Ichbânjâ  por  Tspania  ou  Hespanha. 

Mem.  Henriquina,  d'Alfr6do  Alves,  pag.  52. 

Barroca,  Barrocaes,  Barrochaes  por  Barrocaes  e  Barro- 
quinha ;  Parrocha  por  Parrooa  e  este  por  Barroca ;  Parro- 
chinha   por   Parroquinha  ?,  como  Barrochaes   por   Barrocaes. 

Notese  que  eh  e  k  o\i  q  por  vezes  se  confundiram  e 
substituíram  na  onomástica  portugueza.  Veja-se  o  tópico  eh 
e  Jc  ou  $,  pag.  301  e  304,  na  1.»  parte  d'esta  minha  louca 
Tentativa, 

Bi  e  Pi 

o  povo  ainda  hoje  diz  supito  e  supita,  em  vez  de  súbito 
o  súbita,  V.  g.  de  supito ;  morte  supita,  etc. 

Bo  e  Do,  Go  e  ÍHo 

Cabornegas  por  Cadornegas;  Bogim  e  Gogim;  Bóia, 
Goia  e  Moia?  etc,  povoações  nossas. 


TENTATIV^A    ETYMOLOaiCO-TOPONYMIOA  4l7 


Bra  e  Fra 

Branca  e  Franca:  Brancas  e  Francas,  Brancelhe  e  Fran* 
celha ;  Brancelho  e  Francelho ;  Branco  e  Franco ;  Brancos  e 
Francos ;  Br  an queira  e  Franqueira ;  Brazão  e  Frazão  ;  Bra- 
zoes  e  Frazões.  Cf.  também  brazumeira,  portuguez  popular, 
—  monte  de  brazas,  e  Frazumeira,  povoação  nossa. 

C  e  D 

Mirancas,  Mirancos  ;  Mirandas,  Mirandos  e  Miranquinhos, 
diminutivo  de  Mirancos  ?  ! . . . 

A  Hespanha  tem  Miranda,  Mirandella  e  Mirandilla ; 
não  tem  Mirandas,  nem  Mirandos,  nem  Mirancas,  nem  Mi- 
rancos, mas  tem  Miranciiios,  quasi  Miranquinhos. 

Montido  por  Montico?  —  Cf.  Montarecos,  Monteco  6 
Montecos,  Montijo,  Montijos,  Montinho  e  Montinhos,  povoa- 
ções nossas. 

C  e  D 

ça  e  da,  ce  e  de,  ci  e  di. 

Cf.  Arregaça  por  A  Regaça  e  Regada ;  Cortegaça  e 
Cortegada ;  Mocifas  e  Modivas ;  Regacinha  e  Regadinha ; 
Reganceira,  quasi  Regaceira  e  Regadeira,  povoações  nossas, 
como  Ribaçaes  e  Ribadaes,  Ribaçal  e  Ribadal,  etc. 

C,  F,  5  e  T  (ínicíaes) 

Parece  que  também  se  confundiram  e  substituíram  : 

Carrascal,  Tarrastal,  Tarrasteira  ?  Terrastal ;  Carras- 
queira,  Charrasqueira,  Sarrasqueira  e  Tarrascal ;  Ceira  e 
Teira;  Celho,  Selho,  Telho  e  Telho;  Cibões  (por  Cibaes?)  e 
Tibães ;  (Jioga  e  Tinoca;  Faião,  Saião  e  Tayão  ;  Favacal  e 
Tavacal ;  Favella  e  Tavilla ;  Favaqueira  e  Tavagueira ;  Fava- 
riz  e  Tavarez;  Favarrel  e  Tavarella. 

Fonda  em  Hespanha,  e  Tonda  ;  Fundego  e  Tondogas, 
povoações  nossas. 

Fontão  e  Tontão  ;  Fontella  e  Tondella ;  Fontello  e  Ton- 
tello ;  Fontinha  e  Tontinha ;  Fontinhal  e  Tontinhal ;  For- 
neira  e  Torneira;  Forneiro  e  Torneiro;  Forneiros  e  Tornei- 
ros; Forno  e  Torno. 

27 


418  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Fruita,  fructa  e  Truite ;  Truta,  Trutas  e  Trute,  aldeias  e 
uma  freguezia;  Sabeira  e  Taveira;  Sabeiro  e  Taveiro ;  Sa- 
cões e  Tacões ;  Sagasta,  appellido  hespanhol,  e  Tagasta,  an- 
tigo povo  hespanhol. 

Sainde  e  Tainde ;  Salaborda  e  Taborda ;  Sarael,  Samuel 
e  Tamel;  Sanque  e  Tanque;  Sardoeiro,  Sardoura  e  Tar- 
douro;  Sarroeira,  Tarrogeira  e  Tarrueiro;  Seixedo,  Seixido  e 
Teixedo;  Seixeira  e  Teixeira;  Seixo  e  Teixo;  Seixoso  e  Tei- 
xoso ;  Semide,  Themido  e  Themudo ;  Semonde  e  Themonde ; 
Sezite  e  Thesido;  Silvalde  e  Thibalde,  etc,  povoações  nos- 
sas.—  Fiat  lux, 

C  e  K  OU  Q 

Boucinhas,  Boucinho  e  Bouquinhos  por  Boucinhos  ? ; 
Carroqueiro,  por  carroceiro?;  Cercal  de  quercal,  Carvalhal; 
Cercosa  por  quercosa,  como  Cerqueira  por  querqueira,  do 
latim  quercus  —  carvalho. 

Cf.  Carvalheira  e  Carvalhosa. 

Cerqueda  por  querqueda,  Carvalheda ;  Cerquedo  por 
querquedo,  Carvalhedo ;  Cerqueiral  por  querqueiral ;  Carva- 
Iheiral ;  Cerqueiras  e  Carvalheiras;  Cerquida,  Carvalhida? 
Cerquidello,  diminutivo  de  Cerquido,  Carvalhido ;  Cerqui- 
nho  appellido,  e  Carvalhioho ;  Cerquinhos,  Carvalhinho?, 
etc,  povoações  nossas. 

C  e  P 

Confronte-se  Alporão  por  Alcorão,  velha  Torre  de  San- 
tarém. 

Veja-se  Santarém  no  Portugal  Antigo  e  Moderno,  vol.  8, o, 
pag.  449,  col.  l.a  e  nota  1. 

Confronte-se  também  Cauca  e  Pauca.  —  V.  Cauca,  Cas- 
surado  e  Vi  lia  Pouca  d' Aguiar  no  Portugal  Antigo  e  Moderno. 
Escariz  e  Espariz.  etc,  povoações  nossas. 

E'  trivial  na  Irlanda,  v.  g.  cran  por  pren  ou  pran.  Tam- 
bém na  Baixa  Bretanha  ou  Armorica  dizem  cenn  por  peiín, 
cabeça.  —  V.  Pencran  em  Guiliou,  pag.  113,  mihi,  O  cá  e  pá, 
có  e  pó  supra,  serão  reminiscência  dos  celtas? 

C  por  Q  e  uice-uersa 

Ancião,  Anquião  e  Inquião ;  Calamanda  ou  Calamandra, 


TENTATIVA     KTYMOLOGICO-TOPONVMICA  419 

nome  cl'uma  santa,  etc,  o  mesmo  que  salamandra?;  ^  Cano- 
sa,  Chanoca  por  Cbajioça  e  Cbanosa ;  Carroqueiro  por  carro- 
ceiro ?  —  Cimbres  e  Quimbres  :  Cimico  e  Quimico ;  Cintas  e 
Quintas  ? 

Coalbal  e  Soalbal ;  Coalbeira  e  Soalbeira ;  Cobra  e  So- 
bra ;  Cobrada  e  Sobrada ;  Cobrados  e  Sobrados ;  Cobrai  e 
Sobral ;  Cobreira  e  Sobreira ;  Cobro  e  Sobro ;  Cobrosa  e  So- 
brosa ;  Codes  e  Sodes ;  Cceira  e  Soeira ;  Colarinha  e  Sola- 
rinho,  aldeia,  masculino  de  Solarinha ;  Collares  e  solares. 
Veja-se  Solar,  aldeia. 

Comas  e  Sommas  ;  Courellas  e  Sourellas ;  Courinha  e 
Sourinho;  Coutana  e  Soutana ;  Couteiro  e  Souteiro;  Coutello 
e  Soutello ;  Coutinha  e  Soutinha ;  Coutinho  e  Soutinho ; 
Couto  e  Souto;  Coval  e  Sobal  por  Coval?  Covellas  e  Sovei- 
las;  Jeguinte  e  Jeguintes,  de  Jacintus,  i,  is,  que  se  lia  Ja- 
kintus,  Jakinti,  Jakintis,  de  Hiacinthus,  i. 

Joazim  por  Joacim,  o  mesmo  que  Joaquim ;  Lapaduços 
e  Sapaducos,  formas  do  mesmo  nome?;  Maçada,  Maçada  e 
Massada. 

Pacar  por  passar,  como  diz  a  velha  inscripção  seguinte : 

Emquanto  tiveres  delas,  2 
Mira  por  ti,  sê  prudente ; 
Assim  como  pacas  a  ponte, 
Paca  a  vida  brevemente.» 

Antiga  inscripção  da  ponte  do  Prado,  sobre  o  rio  Cavado. 

Samossa  por  Samoça  e  este  por  Samoca,  o  mesmo  que 
Saboga,  Sabuga,  Sabogueira  e  Samoqueira. 

Sarraquinhos  de  Sarracinos,  sarracenos. 

Confronte-se  Sarrazim  e  Serrazim  por  Sarracim ;  Sin- 
tião  por  Cintião  e  Quintião?  Sirão  de  Cirão.  Y.  Queirão  e 
Queiroz,  Sirol,  Siroles  e  Siroes;  Soudel  e  coudel  por  Çoudel. 

C  OU  55  e  D 
Cacem  e  Cadem  ;  Cadema,  Cadima  e  Cassima,  p.  nossas. 


1  Note-se  que  os  santos  algumas  vezes  por  humildade  acceitavam 
como  nomes  próprios  os  apodos  com  que  os  affrontavam. 

Assim  se  explica  o  facto  de  haver  santos  com  os  nomes  de  Urso, 
Ursino,  Úrsula,  Tigre,  'iigrio,  Leopardo  e  talvez  Calamandra  por  Çala- 
mandra,  o  mesmo  que  Salamandra. 

'^    Ideias,  vida. 


420  TENTATIVA     ETYMOLOGTCO-TOPONyMICA 


C  e  T 

Alcarva,  Carva  e  Tarva ! . . .  De  carpa,  carpalha,  que  deu 
Carvalha,  Carvalho,  Carvalhosa,  Carpalhosa,  etc,  povoações 
nossas ;  attonito  e  atolico ;  Barroso  e  Tarroso ;  Calhariz  e 
Tralhariz  por  Talhariz ;  Cameirão  e  Tameirão,  appellidos, 
são  formas  do  mesmo  nome  tirado  talvez  de  canabeirão  ou 
canameirão  !  —  Confronte-se  Canameiras,  chão  da  Villariça, 
destinado  à  cultura  do  canamo  ou  cânhamo. 

Carimba  e  Tarimba;  Carocha,  Carochia,  e  Taroija  por 
Caroicha  ?  Carrascal,  Tarrascal,  Tarrastal  e  Terrastal !  Carta- 
ria e  Tartaria;  Coreixas  e  Tureixas,  Tabarca  por  Cá-Barca? 
Tagilde,  Cagide,  Cagil  e  Cahide  por  Tagilde, 

Talaminho  por  Cá-Caminho?  Confronte-se  Laminho  e 
Laminhos  por  Lameirinho  e  Lameirinhos,  povoações  nossas 
também.  Talasnal  por  Cá-1'asnai  e  este  por  Cá-rArnal.  De 
Arnal  por  Arenal.  povoações  nossas ;  Tamal  por  Carnal  e  este 
por  Camarnal,  povoação  nossa,  como  Tamel  por  Tamal.  Tâ- 
mara, aldeia,  por  Camará?  —  Note  se  que  em  Portugal  são 
raras  as  palmeiras  que  dão  tâmaras;  Touvedo  por  Couvedo? 
Confronte-se  Couval,  Couve,  Couvelha,  Couves,  etc,  povoa- 
ções nossas. 

Ç  e  Z 

Canizal  por  caniçal  e  Canizes  por  canices.  Confronte-se 
Alcaniz,  Alcaiiices  e  Canices,  povoações  da  Hespanha. 

Ca  e  Cha 

Camparão  por  Campanão,  e  Champanão  por  Campanão?; 
Chabocos  e  Caboucos ;  Chaboteira  e  Caboqueira  por  Cabou- 
queira ;  Chabouco  e  Cabouco ;  Chabrinha  e  Cabrinha ;  Cha- 
deira.  Cadeira,  (Ca-d'Eira,  Caeira,  Caeiro?)  Chaeiros  e 
Caeiros. 

Chaes  e  Cães;  Chafé  e  Café?  de  Japheth,  Chaim  e 
Caim?  Chamboa  e  Gamboa;  Chamboeira  de  camboeira  por 
Gamboeira ;  Chamboinha  por  Gamboinha;  Champana  e  Cam- 
panas. 

Chanal  e  Canal ;  Chancella  e  Cancella ;  Chancrão  por 
Cranchão  e  Granjão ;  Chanosa  por  Canosa,  em  castelhano 
soa  Canoça,  unde  Camossa,  appellido  ;  Chapinha  e  Capinha; 
Charitas  por  Caritas,  etc,  povoações  nossas. 


TENTATIVA    KTYMOLOGICOTOPONYMICA  421 


Ca,  Co,  Cu 
e  Da,  Do,  Du 

Dardos  e  Cardos;  Darei  e  Garei?;  Daroeira  e  Caroeira ; 
Dobra  e  Cobra;  Dobreira  e  Cobreira;  Dobrigo  e  Cobrica; 
Donde,  aldeia,  e  Conde ;  Donegas  e  Conega,  ou  Donégas  por 
Conéga«,  coelhas,  Confronte-se  Coelhas,  povoação  nossa. 

Dorna  e  Corna;  Domes  e  Cornes;  Dume  e  Dames,  Cu- 
me e  Cumes;  Durrães  por  Durraes  e  Curraes;  Mirandas  e 
Mirancas ;  Mirandos,  Mirancos  e  Miranquinhos,  povoações 
nossas.  Junte-se  perca  e  perda,  substantivos  femininos  com 
igual  significação. 

Ca,  Co,  Cu 
c  Ga,  Go,  Gu 

Cavião  por  Gavião;  Caviões  por  Gaviões;  Continha  e 
Gontinha;  Continho  e  Gontinho;  Contumil  e  Gontomil;  Cor- 
vella  e  Gorvella ;  Cravello  e  Gravellos ;  Crixó  e  Grijó. 

Cava  e  Gava;  Gaya  e  Caya ;  Gonde  e  Conde;  Gondeixe 
e  Condeixa;  Gonta  e  Conta;  Gondim,  Gontim  e  Contim; 
Gunha  e  Cunha ;  Labreco  por  Labrego  ;  Couxaria,  Gouxaria 
e  Moucharia,  "oovoacões  nossas. 

Ca,  Co,  Cu 

e  ma,  mo,  mu 

iniciaes,  confundiram-se  e  substituirarn-se: 

Cachouça,  Cachouças,  Machoça  e  Machossas ;  Cachuxo  e 
machucho ;  Caçoeira  e  Maçoeira  por  Macieira?  Cadarnedo  por 
cadornedo,  cadorneiredo.  —  Veja-se  Cadorneiro,  Codorneiro, 
Codornelias  e  Codorno. 

Madorna  e  Madorno  por  Cadorno  ?  posto  que  Madorna, 
Madorno,  Madroa,  Madroeira  e  Madroneira,  podem  vir  dos 
medronheiros^  em  gallego  madroucros? 

Cadeiras,  aldeia,  e  Madeiras;  Cafarro  e  Mafarra ;  Ca- 
gide  e  Magide ;  Cainha,  Cainhas,  Mainba  e  Mainhãs ;  Cairos 
e  Mairos;  Calheiros  e  Malheiros;  Calvedo  e  Malvedo  ;  Cal- 
veira  e  Malveira ;  Canhão  e  Manhão  ;  Cancellos  e  Mancellos. 

Carécos  e  Marécos ;  Carimba  e  Marimbo ;  Cariola,  Ma- 
rivila  e  Mariola ;  Carmelleiro  e  Marmeleiro ;  Carnota  e  Mar- 
nota ;  Carutello,  Curutello ;  Carutos  e  Marutos. 


422  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMTOA 


Carvalho  e  Marvalho ;  Carvão  e  Marvão ;  Cascarria  e 
Mascarra ;  Catão  e  Matão ;  Catadouros,  Matadouro  e  Mata- 
douros ;  Catellas,  Matella  e  Matellas ;  Casa  e  Casas  (no  dia- 
pasão castelhano  lê-se  caça  e  caças);  Maça,  Maças,  Massarel- 
los ;  Massas,  Massorra  e  Mazorra.  Nós  temos  Casarollas  e 
CasaruUos  que  auctorisam  as  formas  casarelios  e  Massarellos. 

Co  e  Mó ;  Coço  e  Moço ;  Cochão  e  Mouchão  ;  Cocharro, 
Moxarro  e  Muxarro ;  Coeira,  Moeira  e  Moleira;  CoUares  e 
Molares ;  Comeira  e  Momeira ;  Conegundes  ou  Munegundes, 
nomes  de  Santos;  ^  Continhal  e  Montinhal;  Continho  e  Mon- 
tinho ;  Corim  e  Morim ;  Corjáes  e  Murjáes ;  Coutinho  e  Mou- 
tinho;  Couxaria  e  Mouxaria ;  Coz  e  Moz;  Curalha  e  mura- 
lha, etc,  povoações  nossas. 

Ca,  Co,  Cu 
e  Ta,  To,  Tu 

Veja-se  paginas  336  e  segg.  da  l.a  parte  d'esta  minha 
louca  Tentativa  Etymologica, 

Ca  e  Ga 

Cadilhe  por  cadilho,  este  por  Cadinho  e  este  por  gadi- 
nho,  como  Gadunho,  povoação  nossa ! .  . .  Confronte-se  Gadi- 
che  e  Guediche  por  Gadicho  e  este  por  gadinho ;  Guedieiros 
por  Gadieiros ;  Gadanha  por  Gadenha ;  Gadelha,  Gadelho, 
Gadenha,  Gados,  Guedelha,  Guedelhas,  Guedelhinhas,  Gue- 
dexe,  etc,  povoações  nossas  que  tomaram  o  nome  do  gado, 
como  talvez  Caieiros  e  Gaieiros,  por  Gadieiros?;  Caia  e 
Gaia ;  Cainho  e  Gainhos ;  Cairos  e  Gairos ;  Calão  e  Galão  ; 
Galinha  e  Gallinha;  Callecas  e  Callegos  por  Gallegas  e  Gal- 
legos,  povoações  nossas. 

Calvão  e  Galvão ;  Calvões  e  Galvões ;  Cambellas,  Gam- 
bellas  e  Gamellas ;  Camboa  e  Gamboa;  Camélia  e  Gamella; 
Camilla  e  Gamilla;  Canados  e  Ganados;  Canal  e  Ganal ; 
Cançaria  e  Gançaria;  Candoso  e  Candoxo  por  Gandoso? 

Canhoteira  e  Ganhoteira !  Canilho  e  Ganilhos ;  Carção  e 
Garção;  Cardaes  e  Gardaes ;  Cardai  e  Gardal;  Cardanha  e 
Gardenha  por  Gardanha ;  Cardão  e  Guardáo. 


Veja-se  o  meu  Diccionario  d'Appellidos. 


TENTATIVA    KTYMOLOOICO-TOPONYMICA  423 


Carem,  Carim  e  Garim  ;  Carrão  e  Garráo ;  Carvão  e  Gar- 
vào  ;  Casa  e  Gaxa?  Casaria  e  Gaxaria?  Casconha  e  Gasco- 
nha :  Caseta  e  Gazeta ;  Casinha  e  Gaxinlia  ?  Cata  e  Gata ;  Ca- 
tão e  Gatão ;  Catella  e  Gatella ;  Cato  e  Gato ;  Cavallaria  e 
Gavaria  ?  Cavião  e  Gavião;  Caviòes  e  Gaviões; 

Junte-se  finalmente  Caetano,  aldeia,  nome  pessoal  e  no- 
me d'um  santo,  pois  Caetano  é  uma  forma  de  Gaetano,  nome 
pessoal  italiano,  tirado  de  Gaêta,  cidade  da  Itália. 

Gaetano  foi  um  famoso  violista  italiano,  que  falleceu  em 
Milão  no  mez  de  novembro  de  1907. 

Entre  nós  também  o  povo  geralmente  diz  gacho  em  vez 
de  cacho. 

Ca  e  Gua 
Por  Gq  e  Ca 

Cardai,  Cardaes,  Cardeira,  Cardelha,  Cardella ;  Cárdia 
por  Cardaria:  Cardiga  por  Cardida ;  Cardosa  e  Cardoso;  Car- 
dunxal  por  Cardosal  ? ;  Gardaes  por  Cardaes ;  Gardal  por 
Cardai;  Guardaes  por  Gardaes;  Guardai  por  Gardal;  Guar- 
dão  por  Gardão,  este  por  Cardão,  e  este  por  Cardalão. 

Guardeira  por  Cardeira;  Guardete  por  Gardete,  e  este 
por  Cardete,  contracção  de  Cardalete  !  —  Confronte- se  Pu- 
nhete  por  Pinhete,  contracção  de  Pinhalete,  etc.  Guardilho 
por,  Guardinho,  de  Gardinho  por  Cardinho  ou  Cardalinho ; 
Guardinhos  por  Cardinhos,  Cardalinhos  ou  Cardainhos;  Guar- 
dizella  por  Gardizella,  de  Cardizella  por  Cardozella,  diminu- 
tivo de  Cardosa. 

Todas  estas  e  outras  muitas  povoações  nossas  tomaram 
o  nome  dos  cardos,  planta  arbustiva,  mas  muito  prolífica  na 
onomástica  portugueza. 

E'   assim  a  arte-nova — e  rira  bien  qui  rira  le  dernier !  i 

Ca  e  ha 

Cabage  e  Lavage ;  Cabos  e  Lavos  ;  Caceira  e  Laceira  ; 
Cacem  e  Lacem ;  Cadeiras,  aldeia  e  Ladeiras ;  Cadoeira  e  La- 


^  Junte-se  ainda  Gaitar  e  Gualtar,  o  mesmo  que  Alter,  Alters,  Gual- 
ter,  Valtir.  Walter,  Baltar,  Balteiro,  Valteiro,  Balter  etc.  povoações  nossas, 
cuja  raiz  é  Walter,  nome  germânico. 

Veja-se  paginas  41,  104,  364  e  365  na  i.a  parte  d'esta  minha  louca 
Tentativa  Etymologica,  e  a  lettra  W  no  Índice. 


424  TENTATIVA  ETYMOLOGICO-TOPON YMICA 


doeiro,  quasi  Ladoeira  por  Lodoeiro  e  lodoeira,  do  lodo  ou 
dos  lodos  por  lódãos,  arvores. 

Caeira  e  Laeira ;  Cagidía  e  Lagidas,  plural  de  Lagida  ; 
Cagide  por  Cagido  e  Lagido ;  Camarão  e  Lamarão  ;  Caminho 
e  Laminho ;  Camoça  e  Camossa,  appellidos  e  Lamosa,  em 
castelhano  Lamóça  ou  Lamossa.  Em  Pontevedra  ha  Lamosa. 

Campas  e  Lampas ;  Candal  e  Landal ;  Candedo  e  Lan- 
dedo ;  Oandeira  e  Landeira  ;  Candeiro  e  Landeiro ;  Canhoso 
e  Lanhoso?!  ...  Capa  e  Lapa;  Capas  e  Lapas;  Capinha  e 
Lapinha ;  Caracha  e  Larachas ;  Carção,  Garção  e  Larçáo. 

Cardosa  e  Lardosa ;  Cargo  e  Largo;  Carim,  Garim  e 
Larim  ;  Casalão,  Casão  e  Lazão,  Cascas  ou  Lascas  e  Lascas 
ou  Cascas  (sic)  ;  Cata,  Gata  e  Lata ;  Cata-peixe  3  aldeias ; 
Cata-rouxos,  aldeia ;  Confronte-se  pintarroxo,  ave ;  Catarredo 
ou  Cata-redol,  aldeia;  Cata-sol,  3  aldeias;  Cata-tem,  aldeia; 
Ca-te-fica?  aldeia;  Catem  por  Catatem?  duas  aldeias;  Ca-te- 
vejo,  quinta ;  e  Cá-vae. 

Cavado  e  Lavado ;  Cavadouro  e  Lavadouro ;  Caveiras  e 
Laveiras ;  Cederma  ou  Sederma  (o  povo  também  diz  Sedes- 
ma)  e  Ledesma.  Confronte-se  Ciderma,  Yiterma  e  Seramena, 
por  Seramenha^  dos  soromenhos  ?  I  ^  Gateira  e  Lateira,  La- 
te-fica,  herdade  ou  casal,  e  Cá-te-fica,  aldeia,  supra ;  Latoeira 
por  gatoeira,  unde  Gateira  e  Lateira?!...  etc,  povoações 
nossas. 

Ca  e  fHa 

Caceira  e  Maceira ;  Cachada  e  Machada ;  Cachadas  e 
Machadas,  muitas  povoações?  Cachadinha  e  Machadinha'; 
Cachadinhas  e  Machadinhas ;  Cachoça,  Machoça  e  Machossas ; 
Caçoeira  e  Maçoeira ;  Cadeiras,  aldeia,  e  Madeiras  ;  Cadei- 
reiros  por  madeireiros  ?  unde  talvez  Madeiros  e  Medeiros,  po- 
voações nossas,  e  Medeiros,  appellido. 

Cadorno  e  Madorno  ;  Caeiros  e  Maeiros :  Cafarro  e  Ma- 
farra ;  Cagide,  Magide,  Megide  e  Vegide !  Caia  e  Maia,  Cai- 
nha e  Mainha;  Cainhas  e  Mainhas ;  Cairos  e  Mairos ;  Cajada 
e  Malhada ;  Cajadães  e  Malhadãéilí^  Cajados  e  Malhados ;  Ca- 
jam  por  Cajão  e  Malhão. 

Calado  e  Malado  ;  Calheiros  e  Malheiros  ;  Calva  e  Malva ; 
Calvada  e  Malvada;  Calvas  e  Malvas;  Calveira  e  Malveira; 


Veja-se  pagina  229,  supra. 


TENTATIVA    ETYMOLOCUCO-TOPONYMICA  425 


Camões  e  Mamões.  ^  Canello  e  Manellos;  Cancellos  e  Man- 
cellos ;  Canga  e  Manga;  Cangas  e  Mangas;  Cangueiros  ,  Villa 
Chã  de)  e  Mangueiros. 

Canhão  e  Manhão ;  Canhoso  e  Manhosa  ;  Canhoto  e  Ma- 
nhoco  por  Manhoto ;  Cannas  e  Manas ;  Canteiras  e  Manteira ; 
Cantellães  e  Mantellães ;  Cantim,  que  deu  ou  podia  dar  Con- 
tim,  Landim,  Mandim  e  Mondim  ! 

Canoa  e  Manôa;  Cão  e  Mão;  Carão  e  Marão;  Carécos  e 
Marécos ;  Careiro  e  Mareira ;  Carim  e  Marim;  Carimba  e 
Marimbo ;  Carinha  e  Marinha ;  Carinhos  (Ribeiro  dos)  e  Ma- 
rinhos; Carioia  e  Mariola;  Carmeleiro  e  Marmeleiro! 

Carnota  e  Marnota!  Marrada  Alta  por  Carrada  Alta?! 
Carrão  e  Marrão  ;  Carreiras  e  Marreiras  ;  (  arreiros  e  Mar- 
reiros  ! ;  Carroceiro  e  Marrouceiro  por  Marroceiro  ?  Carros  e 
Marros  ! 

Cartem  e  Cartim  por  Martim ;  Cartes  e  Martes ;  Carutos 
e  Marutos  ;  Carvalho  e  Marvalho  ;  Carvão  e  Marvão  ?  ! . . .  Cas- 
carria  e  Mascarra ;  Casqueiro  e  Masqueiro  ?  Cata  e  Matta ; 
Catadouros,  plural  de  Catadouro  6  Matadouro. 

Catão  e  Matão ;  Catella  e  Matella ;  Catellas  e  Matellas  ; 
Mão  de  Ovelheiro  por  Cão  de  Ovelheiro  ! . .  .  Mão  pelo  Cão. 
Mascanho,  de  Cascanho  por  Castanho  ;  Mathueira,  de  catoeira 
por  gatoeira.  Confronte  se  Gataria  e  Gateira,  povoações  que 
tomaram  o  nome  dos  gatos  bravos  ou  teixugos,  como  Teixu- 
geira,  etc. 

E*  assim  a  arte  nova. 

Ca  e  Pq 
Co  e  Po 

Cadella,  aldeia,  e  Padella ;  Cadinho  e  Padinho  ;  Cadraço 
e  Padraços;  —  Caires  e  Paires;  Cairos  e  Pairos ;  Calaceiro, 
aldeia ;  Palaceiros  e  Passeiro  por  Faceiro,  de  Palaceiro ;  Ca- 
Iheiros,  Malheiros  e  Palheiros;  Caracha,  Caraxa,  Carocha, 
Carochinha;  Paraxa  e  Paraxinha?.  . .  Parrocha  e  Parrochinha. 

Carâmos  e  Paramos;  Cassadouro  e  Passadourõ;  Cobrai 
e    Pobral;    Coço  e   Poço;  CoUo   e   Pólo;    Comba   e    Pomba; 


^    Mamões  e   Mamouros   podem  vir  de  Camões  por  Ca  -f  Mões  e 
Cá  -f-  Mouros,  povoações  nossas  ? ! . . . 

Veja-se  o  meu  longo  tópico:  —  «Prefixo  cá  assimilado.» 


426  TENTATIVA    ETYMOLOGIOO-TOPONYMICA 

Combinho  e  Pombinho;  Conta  e  Ponta;  Continha  e  Ponti- 
nha; Continhas  e  Pontinhas;  Cortelha  e  Portelha;  Cortelhas 
e  Portelhas ;  Cortelho  e  Portelho ;  Cortello  e  Portello ;  Cor- 
tinha  e  Portinha;  Cortinho  e  Portinho. 

Corvella  e  Porvella?!. . .  Costa  e  Posta;  Couve  e  Pouve; 
Couves  e  Pouves;  Escarigo  e  Esporigo  por  Esparigo,  e  este 
por  Escarigo?  Escairo,  Espairo  e  Espaio  por  Espairo?  Esca- 
íhão,  Escalheira,  Escalheiro  por  Seccalhão,  Seccalheira,  Sec- 
calheiro,  o  mesmo  que  Sequeira,  Sequieira,  Sequeiro,  Sequei- 
ros e  Espalheiros  por  Escalheiros?  Também  temos  Esprigo 
por  Esparigo  ou  Esporigo;  Escariz  e  Espariz  por  Escariz?! 

Cá,  Qua  e  Gua 

Escalheira  e  Esqualheiral  por  Escalheiral. 

Confronte-se  G-altar  e  Gualtar;  Gardaes  por  Cardaes  e 
Guardaes;  Gardal  por  Cardai  e  Guardai;  Gardão  por  Car- 
dão,  Cardalão  e  Guardão ;  Guardeira  por  Gardeira  e  este 
por  Cardeira  ?  I . . . 

Ca  e  5q  ou  Çq 

Guncalus  testis.  Doe.  63  a  3:100.  Vimaranis  Mon.  pag. 
68,  col.  2. a 

Ca  e  5a  ou  Za 

Faval;  Favacal  e  Favasal. 

Cá  e  Ta  e  Dicq.-uer5a 

Ce  e  te ;  Ci  e  ti ;  Co  e  to ;  Cou  e  tou ;  Cro  e  tro. 

Alcarva,  Carva  e  Tarva ;  Cagide,  Tagilde,  Cahide,  Thaí- 
de  e  Athaide.  ^  Calhandriz,  Calhariz,  Talhariz  e  Tralhariz^ 
são  formas  do  mesmo  nome,  tiradas  das  calhandras.  A  forma 
Talhariz  encontra-se  em  Talharezes  por  Talharizes.  Veja-se 
o  tópico  «Desinência  ezes.»    Calhariz,  Talharezes  e  Tralhariz, 


^    De  Atanagildus,  i,  nome  germânico  pessoal,  que  deu  também 
Tangil  e  Tainde,  povoações  nossas. 


TENTATIVA.    ETYMOLOOTCO  TOPONYMICA  427 


por  Talhariz;  CamaDho,  appellido,  e  Caminha  por  Tamanha 
e  Tamanho,  portuguez  antigo.  Veja-se  Camanho  em  Viterbo. 
Canha  e  Tanha ;  Carimba  e  Tarimba;  Caroeira,  Tar- 
roeira  e  Tarroeiro ;  Carrascal,  Tarrastal  e  Terrastal :  Carras- 
queira  e  Tarrasteira ;  Cartaria  e  Tartaria ;  Carves  e  Tarves ; 
Ceira  e  Teira ;  Cibões  por  Cibães?  e  Tibães ;  Couvedo  e  Tou- 
vedo ;  Coz  e  Tós ;  Croça  e  Troca ;  Croxa  e  Trouxa  ou  Troxa, 
etc,  povoações  nossas. 

Ca  e  Ta  ou  Ta  por  Ca 

Tabarca  por  Ca-Barca?  Tamengos  por  Cá-Mengos.  Con- 
fronte-se  Mengos,  Toposo  por  Ca-Poço?  Tariz  de  Calhariz  ou 
Ca  +  Ariz  ;  Tavilla  de  Tavira  ou  de  Ca  -|-  Vilia  ? 

Tá  deu  cá ;  assim  tarambola,  ave,  deu  carambola.  Nós 
temos  tarambola,  ave,  mas  não  temos  carambola,  ave,  nem 
se  encontra  em  Valdez. 

Veja-se  Carambola  em  Covarrubias. 

Ça  e  Da  Ci  e  Di  Çó  e  Dó 

Adelgaçar  e  Adelgadar,  formas  auctorisadas  em  bom 
portuguez  actual  (1910)  Arregaça  por  A  Eegaça,  e  Regada ; 
Cortegaça  e  Cortegada;  Louriçal  e  Louridal,  povoações  nossas; 
Madail  por  Maçai),  metathese  de  macial,  o  mesmo  que  Ma- 
ciel, appellido,  e  macieiral,  bosque  de  macieiras.  Confronte-se 
Freixiel  e  Freixial,  Pinhel  e  Pinhal ;  Regacinha  e  Regadinha ; 
Sobredo  e  Sobreço  por  Sobredo,  povoações  nossas,  como  Ri- 
baçal  e  Ribadal. 

Ça,   5a  e  Da 

Contença,  Contensa  e  Contenda ;  Contenças,  Contensas 
e  Contendas,  povoações  nossas. 

Ce  e   Se 

Já  vem  do  tempo  dos  romanos,  pois  em  latim  se  en- 
contra, vigesimus  por  vicesimus  —  em  portuguez  vigésimo. 
Magnum  Lexicon. 

Ce    por  Que 

Ronceiras  e  Ronqueiras  são  povoações  nossas  e  talvez 
formas  do  mesmo  nome,  plural  de  ronqueira  ? 


428  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Ce  e  Ze  (iniciaes) 

Ceba  e  zeba ;  cebado  e  zebado,  provincianismo  de  Mel- 
gaço, como  cebar  e  zebar,  por  cevar,  etc. 

Confronte  se  Sevra  e  Zebra,  povoações  nossas. 

Cha,  Che,   Chi,  Cho,   Chu 
e  Ca,  Que,  Quí,  Co,  Cu 

Alcabideche  e  x^ílcabideque —  são  povoações  nossas  e  for- 
mas do  mesmo  nome. 

A  l.a  pertence  ao  concelho  de  Cascaes ;  a  2.''  ao  conce- 
lho de  Condeixa. 

Archinho  por  Arquinho  ?  Barranca  e  Barrancha,  Barran- 
cão,  Barrancas,  Barranco  e  Barrancos ;  Barrochaes  ou  barro- 
jaes  por  Barrocaes,  povoações  nossas,  como  Barroca,  Barro- 
cal, Barrocão_,  Barrocaria,  Barrocas,  Barroco,  Barrocos  e  Mar- 
rocos por  Barrocos ! 

Bochinhas  por  Boquinhas.  Vejase  Boquinha ! ;  Bocho, 
Boco  e  Bócos !  ;  Borrecho,  Borreco,  Borrego  e  Borrelho  ?;' 
Cabra  e  Chabrinha  por  Cabrinha ;  Caim,  Chaim,  Saim  e 
Xaim,  povoações  nossas  e  talvez  formas  do  mesmo  nome. 

Chabocos  e  Chaboucos  por  Cabouco  e  Caboucos;  Cha- 
deira  e  Cadeiras;  Chaeiros  e  Caeiros;  Chães  e  Cães;  Chafé, 
Caféde,  e  Caféo  de  Japbeth,  nome  biblico. 

Chambôa  de  Chãbôa  ou  de  cambôa  por  gamboa,  espécie 
de  marmeleiro   que   deu   Gamboa,   povoação  nossa  também. 

Chamboinha  é  diminutivo  de  Chambôa,  supra.  Chame- 
laria,  é  uma  antiga  forma  de  camelaria,  terra  em  que  abun- 
davam camelos,  animaes  entre  nós  extinctos,  como  ãs  zebras, 
ursos,  corças,  etc. 

Chamosinhos  por  Camosinhos  —  de  gamosinhos,  gamos 
ou  veados  novos.  Confronte- se  Gamenhos  por  Gaminhos,  Ga- 
mita,  Gamitinha,  Gamito,  Gamosa,  etc,  povoações  nossas  tam- 
bém. 

Chanal  e  Canal ;  Chancella  e  Cancella ;  Chancrão,  me- 
thatese  de  Cranchão  por  Granjão. 

Veja-se  Ganjão,  povoação  nossa  também  —  e  o  tópico 
Metathezes  ou  transposições,  na  1.*  parte  d'esta  minha  louca 
Tentativa^  pag.  334  e  segg. 

Chanosa;  Yeja-se  Canosa  e  Carosa,  por  Canosa?  Chans 
e   Cans ;    Chaparreira  e   Caparreira ;    Chapinha   e   Capinha ; 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  429 


Chapitel  por  Capitel,  vinha  nossa  que,  segundo  supponho, 
tomou  o  nome  do  latim  capitellum,  i,  pote,  alambique.  ^ 

Chaqueda  e  Caqueda.  V.  Maqueda  e  Maceda.  Charam 
por  Charão — ó  uma  forma  de  Charrão  por  Carrão,  povoações 
nossas  também,  como  Charambeis  por  Charambois  e  este  por 
Carrão  de  bois. 

Charniche  é  uma  forma  de  Carnicha,  povoação  nossa 
também. 

Charoeira^  Caroeira  e  Jarroeira :  Charrão.  Veja-se.  Cha- 
ram e  Carrão  supra;  Charrasqueira  por  Carrasqueira.  Veja- 
se  Carrasca  e  Oasqueira;  Charrino  por  Charriiio  —  é  uma 
forma  callaica  de  carrinho;  Charro  e  Charroada — são  formas 
de  Carro  e  Carreada,  como  também  Charruada,  povoação 
nossa.  Chasqueira  e  Casqueira ;  Chaxão.  Veja-se  Caxão  e 
Chacão,  supra.  Chorão  e  Coráo ;  Chorda  e  Corda ;  Chorim  e 
Corim ;  Chorozeira  por  Corujeira,  forma  de  Crucheira  por 
Crujeira,  como  Coruche,  Crucho  e  Cruchos  por  Corujo  e  Co- 
rujos, povoações  nossas  também.  Junte-se  Crujaes  por  Coru- 
jaes  e  Crujães  por  Crujaes.  Chorozeira  e  Corujeira  soara 
Churuzeira  e  Curujeira. 

Chosende  e  Chosendo  por  Cosende  e  Cosendo  (?)  são 
formas  de  Gosende  e  Gosendo_,  povoações  nossas  também,  tiu 
radas  de  Gundesindus,  i,  nome  germânico  pessoal,  que  de- 
tambem  Gondesende,  freguesia,  etc.  forma  anterior  de  Go- 
sende. ^ 

A  escala  seria:  —  Gundesindi ;  Goudesende  ;  Gosende  ; 
Cosende  (?)  Chosende  ? 

E'  assim  a  arte  nova  —  e  rira  bien  qui  rira  le  dernier !. , . 

Chouto  por  Couto  ou  Souto. 

Inchonsos  por  incensos  e  Ins^onços. 

Villa  Cãa  e  ViUa  Chã. 

Cha,  Cbe,  Chi,  Cho,  Chu 
e  5q,  5e,  5i,  5o,  5u 

Choutaria  e  Soutaria ;  Chouto  e  Souto :  Chafurdaes  e 
Safordão ;    Chaim  e   Saim.  Veja-se    Caim  e   Xaim,   povoa- 


^     V.  Capote  por  Cá -f- Pote. 

-  Confronte-se  também  Nossa  Senhora  de  Condezende  de  Adorjgo, 
freguezia  do  concelho  de  Taboaço.  Condezende  é  uma  nitida  forma  de 
Gondezende. 


430  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


ções  nossas,  talvez  formas  do  mesmo  nome ;  Chainça  e  Sainça 
Chança  e  Sancha;  Chapa  e  Sapa;  Chapinha  e  Sapinha. 

Chardinheiro  e   Sardinheira,  feminino    de   Sardinheiro 
Charilhe  por  Charilho  e  Sarilhos;  Charrão,  Sarrão  e  Serrão 
Churrasqueiras  e  Sarrasqueira ;  Chaveira  e  Sabeira ;  Chaveiro 
e  Sabeiro  ;  Cheda  e  Seda  ;  Cheira  e  Ceira  í  Cheiros  e  Seiros 
Çhellas,  Cellas  e  Sellas ;  Chellão,  Ceilão  e  Sellão. 

Chelleiros,  Celleiro  e  Selleiro;  Chenta,  Centa  e  Sentas 
Cherita  e  Cerita;  Chiada,  Geada,  Geadas  e  Seada;  Choeiro 
Soeiro  e  Sueiro ;  Choqueiro  e  Soqueiro;  Chorão  e  Sourão 
Chousa  e  Sousa ;  Chousal  e  Souzel,  o  mesmo  que  Souzal 
Chousella  e  Souzella ;  Chousellas  e  Souzellas ;  Ponchão  e 
Ponsão,  de  Ponciano,  nome  d'um  santo,  etc. 

Cha,  5a  e  Xa 

Chaim,  »  Saim  e  Xaim,  povoações  nossas;  Chaim  ó  tam- 
bém appellido :  Chainça,  Sainça  e  Xainça!...  Chainha  e 
Chainho;  Xainha,  Xainho  e  Xainhos,  povoações  nossas. 

Ché,  Gé  e  Zé 

Borracheira,  Borracheiras,  Borracheiro,  Borracheta,  Bor- 
razeira,  Borrazeiro  e  Burrazeiro.  Da  borragem?  O  povo  diz 
borrage,  planta  leguminosa.  Confronte-se  Burralhal  por  Bor- 
rajal,  como  Carvajal  por  Carvalhal.  Confronte-se  também 
Chedemiam  e  Getemião  por  Ze  Damião;  Ché,  quinta,  por 
Zé;  Cheira  e  Cheiras;  Geira  e  Geiras,  povoações  nossas. 

Cfii  e  Gi 

Varchinhas  e  Varginhas  ou  Varjinhas,  etc,  povoações 
nossas. 

Cha  Xa  c  Fa 

Chou  e  Fou 

Chadeira  e  Fadeira:  Choupana  e  Foupana;  Choupani- 
nha  e  Foupaninha;  Xabregas  e  Fadregas?  povoações  nossas. 


^    Junte-se  Caim,  povoação  nossa  também,  talvez  forma  do  mesmo 
nome ! . . . 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  431 


Cho  e  3o 

Chorrar,  o  mesmo  que  jorrar.  Chorreiro — ó  o  mesmo  que 
jorreiro.  Chôrro  é  o  mesmo  que  jorro.  Soacho  e  Soajo,  po- 
voações nossas,  são  formas  do  mesmo  nome. 

Co  ou  Cu 
por  ÍHo  ou  (Ilu 

Confronte-se  Cunegunda,  Cunegundes,  Monegunda  e 
Monegundes,  nomes  de  santos,  etc. 

Co  e  Go 

Eirogo  por  Eiroco,  o  mesmo  que  Eiroca,  Eirola,  Eiró  e 
Eiró,  pequena  eira ;  Feijoca  e  Feijogo,  por  Feijoco,  etc,  po- 
voações nossas. 

Co,  Go  e  hho 

Encosta  e  Ingostas,  plural  de  Ingosta;  Botéco,  por  Bo- 
tego;  Botelho  e  Botulho  por  Botelho?  etc,  povoações  nossas. 

Co  e  To 

Bajouco  e  Bajouto ;  Balouço  e  Balouto ;  Campico  e  Cam- 
pitos,  plural  de  Campito,  são  povoações  da  Hespanha ;  Tor- 
tozendo  por  Turcozendo. 

Confronfe-se  Truycosendo  Queda  ou  Guedes,  avô  de 
Egas  Moniz,  o  aio. 

Commercio  âo  Porto,  de  28  de  Junho  de  1907,  pagina 
1.%  col.  '2.*  e  8.*,  fallando  do  tumulo  d'Egas  Moniz  e  do  con- 
vento de  Paço  de  Souza.  Confronte-se  também  Tructezindo, 
antigo  nome  pessoal. 

Ça  e  Ta,  Ço  e  To 

Alvoroço  e  alvoroto,  nomes  communs. 
l.o_D'e... 

Vide  Cândido  de  Figueiredo. 


432  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


2.*^ — Do  italiano  alvorotto,  alvoroço  e  alvoroto;  i  alvo- 
roçado e  alvorotado ;  alvoroçadamente  e  alvorotadamente ; 
alvoroçamento  e  aivorotamento;  alvoroçar  e  alvorotar. 

Cu  e  Pu 

EM   NOMES    COMMUNS 

Espuma  e  escuma ;  escumadeira  e  espumadeira ;  escumar 
e  espumar. 

Triculantes  por  tripulantes  —  ainda  hoje  diz  o  povo  na 
Foz  do  Douro  e  talvez  em  outras  povoações  nossas. 

D 

Intervocalico  e  caprichoso. 

Confronte-se  o  tópico:  desinências  ina,  ino,  inda  e  indo. 

Alcarida  por  Alçaria  ? ;  Alcina  e  Alcinda ;  Alcino  e  Al- 
cindo ;  Adelina  e  Adelinda ;  Adelino  e  Adelindo ;  Alfardim 
por  Alfarim. —  Veja-se  Alfarella,  Alfarellos,  Alfarins  e  Alfaro; 
Alfrivida  por  Alfria,  povoação  nossa  também,  como  Fria, 
Frias,  etc.  Alvaro-gildes  por  Álvaro  Giles  ?  ;  Canedo  e  Can- 
dedo;  Caneira  e  Candeira;  Caneiro  e  Candeiro ;  Canosa  e 
Candosa? 

Carmelina  e  Carminda;  Casaldate  por  Calate  ou  Casa- 
lote;  Casal  Dito  por  Casaldito,  aldeia,  de  Casalito?  Confron- 
te-se Casalzote,  Casainho,  Casalinho,  Casalito,  Casalorio  e 
Casanito  por  Casalito,  povoações  nossas. 

Cavandella  por  Cavanella? — Yejase  Cabanella  e  Ca- 
banellas,  Cavana  e  Cavanas ;  Florina  e  Florinda;  Florino  e 
Florindo  ;  Hermano  e  Armando ;  Humilde,  do  latim  humilis, 
e,  ou  como  diz  o  Snr.  Figueiredo,  Humilde  de  humildar,  e 
humildar  de  humilde. 

Tem  graça  ? ! . . . 

Laura,  Laurina  e  Laurinda;  Laurino  e  Laurindo;  Lou- 
çana  e  Lousandas  ;  Lousanda  de  Losana  ou  Lozana,  varias 
povoações  da  Hespanha.  Lucena,  Lucenas  e  Luzendas ;  Lu- 
cinia  por  Lucina  e  Lucinda ;  Luciro  e  Lucindo ;  Luzendas 
por  Lucendas,  de  Lucenas,  povoação  de  Granada.    Na  Hes- 


1     Vide  Prefumo. 


TENTATIVA    ETYMOLOOIOO  TOPONYMICA  433 


panha  também  ha  difíerentes  povoações  com  o  nome  de  Lu- 
cena, unde  Lucena,  appellido  uosso. 

Luzim,  Luzinde  e  Luzindinlio. 

L"  —  De  Lucinius,  ii,  nome  d'um  santo,  unde  Luzim  e 
Luzinde. 

2.0  —  De  Lucinus,  i,  Lucino,  antigo  nome  pessoal,  como 
Lucina  e  Lucinda,  nomes  de  santos. 

Todos  estes  nomes  foram  tirados  do  latim  lux.  ucis.  luz, 
que  deu  Lúcia  (santaj,  Luciana,  Luciano  (santo) ;  Lucidia, 
Lucidio  (santo).  Lúcifer  (santo) ;  Lucília  (santa);  Luciliana  e 
Luciliano  (santo) ;  Lucilio,  Lucilla,  Lucina,  Lucinda,  Lucin- 
do,  Lucinia,  Luciniana,  Luciniano,  quasi  Luciliana  e  Luci- 
liano, supra,  Lucinio,  Lucino,  Lúcio,  Luciola  e  Luciolo,  no- 
mes pessoaes  e  muitos  d'elles  nomes  de  santos.  ^ 

Lucina  e  Lucino  deram  Lucinda  e  Lucindo.  porque  o  d 
é  letra  caprichosa  e  costuma  surgir  depois  do  n  intervoca- 
lico.  Assim  Normancos  deu  Normando,  Normania  deu  Nor^ 
mandia,  Florina  deu  Florinda,  Florino  deu  Florindo,  Lau- 
rína  deu  Laurinda  e  Laurino  deu  Laurindo,  nomes  pessoaes : 
Eosina  deu  Rosinda.  Rosa,  Rosiaa  e  Rosula,  o  mesmo  que 
Rosinha,  foram  Santas. 

Também  pinus  deu  Pindo;  Pinella  deu  Pindella  e  Pinello 
deu  Pindello,  povoações  nossas.  Britiani  deu  Britiande,  Be- 
i'it.iaaus  deu  Bertiandos;  Mirana  deu  Miranda;  Sona  deu 
Sanda  ;  Sonim  deu  Sondim. 

Villaranda  por  Villarana,  o  mesmo  que  Villarina,  Vilia- 
rinha ;  Villarandoilo  por  Villaranello,  o  mesmo  que  Villara- 
uillo,  Villarinho,  etc.  Confronte-se  também  Clorina  e  Clo- 
rinda,  nomes  de  santos. 

Molães  e  ^loldães ;  Rebelde,  do  latim  rebéUis,  lie;  Sala- 
monde,  Sallamonde  e  Samonde,  de  Salomoni ;  Sabordella  de 
Saborella,  Sobrella?  Veja-se  Sobrello  e  Sovella  por  Sobrella, 
antiga  rua  do  Porto.  ^  Villaranda,  Villarandello  por  Villa- 
rana e  Villaranello? 

D  —  cahindo 

Aido  de  aditus  ■?  Beita,  aldeia,  de  Benedicta  (villa).  Ben- 
tes, appellido  de  Benedictis;  Brêa  e  Vrêa,  aldeias,  de  vere- 


1    Veja-se  o  meu  Diccionario  d' Appellidos. 

'^    Sobrello  e  Sobrella  são  diminutivos  de  sobro  p:T  sobreiro  e  que- 
rem dizer  sobreirinho  e  sobreirinha. 

28 


434  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


da,  caminho,  o  mesmo  que  Breda,  povoação  nossa  também; 
Crer,  do  latim  credere;  Desnuar  ó  o  mesmo  que  denudar, 
em  latim  denudare;  Faedus,  feio;  Fastio,  do  latim  fasti- 
dium;  Moio  do  latim  modium. 

Junte-se :  Peditare  e  Peditus ;  Poio,  do  latim  podium,  e 
este  do  grego  podion;  Radius,  raio  de  luz;  Raiar,  do  latim 
radiare;  Redintegrare,  reintegrar ;  Rer  e  raêr,  do  latim  ra- 
dere;  Rido,  is,  ère,  em  latim  antigo  o  mesmo  que  ndeo,  c*, 
ére,  —  rir,  rir-se ;  Traidor,  do  latim  traditor,  oris;  Parrada 
e  Parrainha,  por  Parradinha,  povoações  nossas,  etc. 

D  e  F 

Cotifo,  casal,  e  Cottido  nome  d'um  santo ;  Guidães  e 
Guidões,  Guifães.e  Guiíões ;  De  Guido,  onis.  Guido  e  Gui- 
don,  antigos  nomes  de  santos,  etc. 

Abrahão  Ortelio  no  seu  Atlas  que  publicou  em  Anvers, 
no  anno  de  1570,  dedicou  ao  Cardeal  Guido  Ascanio  Sfor- 
cia  um  mappa  de  Portugal,  com  esta  dedicatória : 

«  GuíDONi  Ascanio.  ...» 

D  s  G 

Carredal  e  Carregal,  Daivães  por  JDaivões,  Gaivão  e 
Gaivões?  Dama  e  Gama,  do  latim  dama,  corça,  Gamo;  Dan- 
ço e  ganço?  Dardão  e  Gardão  ou  Guardão;  Darei  e  Garei; 
Datão  e  Gatão  ;  Deilão  e  Geilão  por  Gelião ;  Delvira  e  Gil- 
vira  por  Gelvira? 

Dem  e  Gem  ;  Denetos,  Genetia  e  Genetus?  Dirão  e  Gi- 
rão; Dobeira  e  Goveira  ou  Coveiras;  Dueça  e  Gueço ; 
Doide  ou  Doíde,  Goido,  Guide  e  Guido ;  Donde  e  Conde ; 
Dordelinho  e  Gorlinho?;  Drave  a  Grave;  Fundão,  Fundedo 
e  Fundego ;  Ladedo  ou  Lagedo  ;  Lameda  e  Lamega  ;  Lamedo 
e  Lamego? 

Loredo,  Lorido,  Louredo,  Lourido,  Louridos  e  Lorigo 
por  Lorido?  Nodal  e  Nodar  por  Nugal_,  contracção  de  No- 
gueiral,  como  Nodel  por  Nodal ;  Pedredo  ou  Pedrego ;  Tou- 
rido  e  Tourigo  por  Tourido,  povoações  nossas. 

Somma  e  segue  : 

Gelmires,  patronímico  de  Gelmirus,  i,  Gelmiro,  o  mesmo 
talvez    que    Delmirus  —  Delmiro,    nome    d'um    santo,    bem 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  435 


como  Delmira,  etc.  Tomos  também  Deltrude  ou  Deltrudes, 
santa,  o  mesmo  talvez  que  Gertrudes.  Lenda  e  lenga-lenga 
por  lenda-lenda?,  narração  monótona,  enfadonha.  O  snr. 
Cândido  de  Figueiredo  menciona  lenga-lenga,  mas  nada 
diz    da    sua    etymologia. 

Moenda  e  Moenga ;  Parlenda,  parlenga  e  perlenga,  for- 
ma popular  de  parlenga;  Pudendas  (partes)  e  pudengas,  for- 
ma popular. 

D  e  G  por  D 

Gandulpho  e  Gangulpho,  nomes  de  santos.  ^  Confron- 
te-se  Lamarigo  por  lamarido,  o  mesmo  que  lamaredo,  lama- 
cento ;  Lamega  e  Lamego  o  mesmo  que  Latneda  e  Lamedo. 
A  Hespanha  tem  Lamego  e  Lamedo,  aldeias,  da  lama,  como 
Lamareda,  Lamarigo,  Lamarosa,  Mamarosa  por  Lamarosa, 
Lamosa,  etc. 

D,   G   e   h 

Cadorno  ou  Codorno,  Calorno  e  Cogorno,  appellidos; 
Dordelinho  e  Lordellinho  ;  Quintandonapor  quintalona,  quinta 
grande  ? 

D,   G,   b   e   n 

Confronte  se  F*ortadeiros^  Portaleiro  e  Portaneiros,  po- 
voações nossas,  de  portageiro,  cobrador  dos  direiros  de  por- 
tagem. 

Ferradeira  por  Ferrageira.  Confronte-se  Ferrageiro, 
quinta. 

Do,   Go   e  Do 

Ferradosa  por  Ferrajosa,  contracção  de  ferruginosa. 
Filhagosa   por  folhagosa,  o  mesmo  que  Folhadosa,  po- 
voação nossa  também. 

D   e   h 

Confundiram-se  mesmo  iniciaes.  A  substituição  de  l  e  d 
já  vem  do  tempo  dos  romanos,  que  de  pecus,  údis  fizeram  pe- 


Veja-se  o  meu  Diccionario  d' Appellidos. 


4.36  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


culium  por  pecudium!  Veja-se  Pecúlio  em  Figueiredo.  Tam- 
bém de  pecus,  udis,  fizeram  pecunia.  Confronte-se  o  latim 
peculioòus  e  pecuniosus  —  que  tem  grande  pecúlio,  endinhei- 
rado, rico.  —  Em  uma  doação  d'El-rei  D.  Aífonso  Casto  .fir 
gura  D.  Vidulfo^  Conde  Pando.  Vidulfo  era  nome  germânico, 
talvez  forma  de  Vilulfo  ou  Wiliulfus,  i,  unde  Guilhufe?! 
povoação  nossa. 

Também  o  Livro  Fidei  menciona  em  diversas  escripturas, 
especialmente  em  uma  do  anno  106õ  — um  monte  do  Minho 
a  que  dá  os  nomes  de  T^deiras  e  Telleiras.  —  Tedeiras  é, 
pois,  uma  forma  de  Telleiras.  Confronte-se  também  Aleste, 
antigo  nome  do  rio  Deste,  que  banha  a  cidade  de  Braga. 

Argote,  vol.  3.°  — 306,  307  e  309,  diz: 

«Item,  Domnus  Griraldus  criou  filo  Joanne  Vadasci.» — 
Doe,  a  1258. 

Vadasci  por  Valasci,  repete-se  dififerentes  vezes  nas  Iri- 
quir.  do  dicto  anno. 

«Item,  Dominicus  Petri  criou  filio  de  Johanne  Vadasci. y> 
—  «Item  Johannes  Martiniz  criou  fila  de  Johannes  Vadasci.» 
Loc.  cit. 

Confronte-se  também  Vermúlus  por  Vermudus?,  nas 
mesmas  Inquirições,  differentes  vezes. 

Adejar  por  Alejar,  do  latim  ala —  a  aza;  Calorno  por  Ca- 
dorno;  dacryma,  antiga  forma  de  lacrima,  lagrima.  Magnum 
Lexicon ;  ^  Dadim  e  Lalim;  Daffóes  por  Dafões  e  Lafões; 
Dama  e  Lama?  2  aldeias;  Damas  e  Lamas?  Deilão,  Deirão 
ou  Leiráo,  e  Leirão  ou  Deirão ;  Deimãos  por  Dimãos,  Li- 
mãos  e  Limões. 

Leixar  por  deixar;  Deolinda  e  Deolinda;  Desdeixado  e 
desleixado;  Dobeira  e  Lobeira;  Dobreira  e  Lobreira,  quasi 
Lobeira;  Dobiigo  e  Lobrigos,  plural  de  Lobrigo;  Dordeli- 
nho  e  Lordeliinho,  povoação  nossa,  diminutivo  de  Lordello. 

Doroso  por  Loroso;  Confronte-se  Lorosos,  Louroso  e 
Lourosa,  povoações  nossas; — Douro  Calvo,  —  revela  um  no- 
me pessoal,  que  podia  ser  Lauro  ou  Louro  Calvo!, . .  Douro 
e  Louro?  Duro  e  Luro,  etc ,  povoações  nossas;  Hezíodo, 
Egidio  e  Gil,  de  Egilii  por  Egidii. 

Nalga,  corrupção  de  nádega ;  Odivellas  e  Olivellas,  de 
Olivella,  oliveirinha;  Peculiar  por  Pecudiar,  de  pecus,  udis  — 
gado?  que  já  no  latim  deu  pecuHuni  por  pecudium. 


Também  temes  Sobral,  Sobralinho  e  Sobradinho  por  Sobralinho. 


TENTATIVA     FTYMOLOOICO-TOPOXYMTCA  437 


Regadeira  e  Regaleira,  fcão  talvez  formas  do  mesmo  no- 
me, porque  de  e  le  confundiram-se  e  substituiram-se.  Con- 
fronte-se  Penajudeia  e  Penajulia  por  Penajuleia,  antigos  no- 
mes da  minha  Penajoia. 

Relato  e  Reduto  sáo  povoações  nossas  e  formas  do 
mesmo  nome. 

Segodim  e  Segolim,  de  Seccalim  por  Seccalino  ?  Con- 
fronte-se  Secalina  povoação  nossa^  bem  como  Sequinique  e 
Séquito,  eto.  Também  temos  Seculinho  por  Secalinho,  o 
mesmo  que  Seccalino?  Asseca,  Secarias,  Sequieira,  Sequeira, 
Esgueira  por  Sequeira,  Escalhão  por  Secalhão,  etc,  etc.  po- 
voações nossas. 

D  e  h  e  h  por  D  na  Besponha 

Confronte-se  Caliz,  forma  vulgar  e  popular  de  Cadiz, 
cidade  da  Andaluzia,  anteriormente  Gades. 

Dizem  ser  nome  fenicio,  dado  pelos  Fenicios,  seus  fun- 
dadores, significando  valladar  contra  a  fúria  do  mar  e  dos 
inimigos. 

Confronte- se  o  hebraico  gadez,  —  muro,  sebe,  fim,  ex- 
tremidade, e  o  caldeu  gadiz,  coisa  magnifica,  engrandecida, 
coisa  cerrada,  murada,  acabada,  como  diz  Covarrubias. 

Note-se  que  o  árabe,  fenicio  e  caldeu  são  deturpações 
do  hebraico.  " 

Em  antigo  castelhano  diziam  melecina,  melecinamiento 
e-melecinar  por  medicina,  medicamento  e  medicar. 

—  Valdez  e  Covarrubias. 

D,  h  e  n 

—  Luoidia,  Lucilia  e  Luoinia;  Lucidio*  Lucilio*  e  Lu- 
cinio  * ;  Luciliana  o  Luciniana ;  Luciliano  *  e  Luciniano  =^ ; 
Lucilia*,  Lucina*  e  Lucinda*,  nomes  pessoaes  e  quasi  to- 
dos nomes  de  santos  ^ 

D  e  m 

—  Cotimos,  de  Cotidus  ou  Cottidus ;  Cotido  ou  Cottido, 
antigo  nome  dum  santo,  etc.  —  Y.  o  meu  Diccionario  d'Appél- 
lidos. 


1    São  nomes  de  santos  todos  os  que  vão  indicados  com  o  aste- 
risco *. 


438  TENTATIVA  ET  yMOLOQ-lCO-TOPONYMICA 


D  e  n 

—  Cadaveira,  Cadaveiras  e  Cadaveiro,  por  Canaveias  oa 
Canaveiras  ou  Canameiras,  e  Canameiro  ou  Cânaveiro.  Tam- 
bém temos  Cadavaes,  Canavaes  e  Cannaviaes,  Cadaval  e  Ca- 
nnavial?. .  ..Mas  Cadavae,  Cadavaes,  Cadaval  Cadavoso,  etc, 
podem  vir  do  hespanhol  cadava,  certa  planta;  Dnlcidia  e 
Dulcinia,  Dulcidio  e  Dulcinio.  São  nomes  pessoaes.  Junte-se 
também  pecunia  por  pecudia,  de  pecas,  lidis,  como  diz  Fi- 
gueiredo. 

DeP 

Duciclos  por  Pociculos,  pocinhos,  diminutivo  de  poço, 
como  Pocico,  Poceco,  Possacos,  Bussaco  por  Possaco,  Pos- 
solos,  etc,  povoações  nossas. 

D  e  R  c  Dice-Dersa 

A  substituição  do  r  e  d  já  vem  do  tempo  dos  romanos. 

Confronte-se   pecus,  coris  e  pecus,  cudis  —  gado  —  no  latim 

de  Cicero?!^   Açodar,    apressar,    antigamente   açorar,  como 

■diz  Figueiredo  no  Supplemento — Ciradelha  por  Cidadelha? 

—  Veja-se  Cidadelhe. 

Jardo,  Jardoeira,  Jardos  e  Jardosa,  por  Jarro,  Jar- 
roeira,  Jarros  e  Jarrosa — de  jarro,  planta.  —  Confronte-se 
Charoeira  por  Charroeira,  o  mesmo  que  Jardoeira-  e  Jar- 
roeira,  Sarreira  e  Sarroeira.  Também  Jardoeira  pôde  ser  uma 
forma  de  Sardoeira  ou  vice-versa. 

Póríido,  pórfiro  ou  porphyro ;  Porfidito  e  porfirito  ou 
prophyrito,  são  nomes  communs,  mencionados  pelo  snr.  Cân- 
dido de  Figueiredo. 

D  e  S 

Dissedse  por  dissesse. 

Carta  de  Távora,  concelho  de  Taboaço,  com  data  de 
26-11-1905. 


Magnum  Lexicon. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  439 


D  e   5   OU  Z 

Nagosa,  Nagosella,  Nagosello  e  Nagodinho  por  Nago- 
sinlio?  povoações  nossas. 

D   e  T 

Centiaes,  Centiàes  e  Sendiães  por  Ceutiães,  o  mesmo 
que  Centiaes.  —  Confronte-se  Sande  e  Sante,  na  Hespanha 
e  entre  nós  Centieira,  Sentieira  e  Sendieira;  Chedemiam  e 
Getemião  por  Zé  Damião ;  Sandinies  e  Santenys  por  Sandi- 
niz,  na  Hespanha.  — -  Vai  de  Soudo  por  Vai  de  Souto,  o 
mesmo  que  Vai  do  Souto,  povoação  nossa  também ;  Vital  e 
Vidal,  nomes  pessoaes  e  nomes  de  Santos,  tirados  do  latim 
vitalis,  que  dá,  sustenta  e  conserva  a  vida;  Drave  e  Trave, 
povoações  nossas. 

D  e  \7 

Casal  Dasco  e  Casal  Vasco,  povoações  nossas ;  Escreder 
por  escrever,  provincianismo  de  Riodades ;  eorjdegildo  test, 
por  Leovegildo  test. 

Vimaranis  Mon.  24,  2.a  doe.  a.  1:009. 

Padesada,  o  mesmo  que  pavesada. —  Hercul. — Hist.  l.*' 

—  389  —  padesadas,  e  Figueiredo,  Supplemento. 

Padiola  o  mesmo  que  paviola; 

Para  viso  por  Paradiso, — portuguez  antigo,  hoje  Paraiso. 

—  Veja-se  Paraiso  em  Viterbo.—  Raiva,  freguezia  de  Raida, 
Santa?  —  Rebalvia  e  Rebaldia. — Confronte-se  Rebaldio,  po- 
voação nossa. — -Santos  Evos,  por  Santos  Ivos  e  Santos 
Idos ;  Violinda  por  Deolinda,  nomes  pessoaes. 

Veja-se  o  meu  Diccionario  d'Appellidos. 

DaeUa 

Cf.  Valle  do  latim  vallis,  e  este  do  sanscrito  dal,  valle. 
Guillou,  140,  vb.  Taulé. 

DeZ 

Gulodice  e  Gulosice;  Medentius,  ant.  latim,  por  Mezen- 
iius. 

Magnum  Lexicon  vb.  Z. 


440  TENTATIVA    ETYMOLOGICÓ-TOPONYMICA 


Da  e  Fa 

Ameijoafa,  Ameijoafia  e  Ameixoaíra  por  AmeixDada? 
pov.  nossas. 

Da  e  6a 

-♦ 

Artida  e  Artiga,  anteriormente  Zahara,,  segunda  .espo- 
sa de  D.  Ramiro  II,  de  Leão,  Tentativa  Etymologica,  parte  l.a, 
pagina  383. 

D  preposição  e  prefixo  assimilado, 
o  mesmo  que  fl  de... 

Demenderes.  -E'  talvez  o  mesmo  que  Demendes  por  De 
Mendes.  Cf.  Mendo,  Villa  Mendo,  Mendes  .e  Mendiz  (Vai  de 
Mendiz)  pov.  nossas.  Cf.  tb.  Daires,  Daldas,  Dalva,  Dalvare?, 
Damonde,  Danaia,  Danço,  Daporta,  Dardão,  Darnella,  Da- 
Toaes,  Daroal,  Daroana,  Daroeira,  Daroeiras,  Degodana  por 
Pegodina,  Degoiva,  Deirão,  Delhalva,  por  Del  Alva. 

Delouca,  Demo,  Demotta,  Dessourinho,  etc.  pov.  nossas, 
em  cujos  nomes  a  preposição  de  se  incorporou.  Debroa  e 
Broa;  Destriz  e  Estriz;  Diagares  e  Agares;  Dirão  por  Dei- 
rão e  Eirão;  .Discorreias  por  Das  Correias.  Cf.  Da  Correia-. 

Dobeira  por  Lobeira;  Dobreira  por  Dobeira;  Dobrigo. 
V.  Lobrigo  e  Brigo,  aldeia.  Doganda  e  Ogando?  n.  pess. ; 
Dolves  de  Adolphis?  Dônegas.  De  Onega,  ant.  n.  pess.  Do- 
roana,  Doroanna  e  Douroanna,  de  Ouroana,  ant.  n.  pess.  Do- 
roeira.  V.  Daroeira,  Doroso  por  Daroso.  V.  Arosa,  contra- 
cção de  Arenosa;  Dragas.  V.  Bragas? 

Dueça  por  Do  Eça.  V.  Eça  e  Deça ;  Dume  e  Dumes,  do 
latim  Dumus,  i,  o  espinheiro,  que  deu  dumetum,  o  espinhal, 
unde  talvez  Medo  por  Dumedo,  pov.  nossas. 

Da   Do  Du  e  Ga  Go  Gu,  por  da  do  du 

no  antigo  portuguez. 

São  frequentes  nos  prazos  estas  locuções :  —  campa  tan- 
juda  e  campa  tanjuga  por  campainha  tangida  ;  e  quando  ha- 
via interdicto :  malho  tanjudo,  malho  tanjugo  e  malho  ba- 
tudo  por  malho  batido.  Elucidário,  vb.  Batudo.  —  Nofee-sô 
tb,  a  substituição  de  u  por  i,  fzeil 


TENTATIVA    KTYMOLOaiCO-TOPOyVMICA  441 


De  e  Re 

Alferradede  e  Alferrarede,  povoações  nossas  do  conoe- 
Iho  d' Abrantes. 

Dè  por  Té  e  Dí  por  Ti 

Casal  d'Ello  por  Casal  Dello  e  Casal  Tello,  casal  do 
Tello. —  Sendiães  por  Sentiães  e  este  por  Centiaes,  povoações 
nossas;   Sendieira   por  Centieira,  povoações  nossas  tamVjein. 

Do  Go  e  3o  por  Go 

Ferradosa  por  Ferragosa  ou  Ferrajosa  ;  era  castelhano 
s<3a  ferragosa  ;  Folhadosa  e  Filhagosa,  por  Folhagosa  o  mes- 
mo que  Folhadosa;  Regaendo  e  Regaengo  em  Viterbo,  o 
mesmo  que  Regalengo  e  Reguengo. 

E  —  caprichoso 

Recarei,  de  Recaredus,  i,  —  Recarêdo,  nome  d'um  rei 
godo,  etc,  o  mesmo  ■  que  Ricardus,  i,  Ricardo,  —  de  Rikard, 
nome  germânico,  em  francez  Richard. — Ricardus  <^  Ricaré- 
dus<[  ^  i  íirédus,  i  <^  Recarêdo  <^  Recarei.  —  Confronte-se  Ca^ 
rabalho  por  Carvalho  —  outra  epenthese!.  .  . 

E  e  em 

Painçage  por  Painçagem. 

Veja-se  e  q  em  no  tópico  Desinências, 

E  e  D 

Cisto  e  Sisto,  o  mesmo  que  Sixto^  Xirto,  Xisto  e  Xis- 
tro,  povoações  nossas,  que  tomaram  o  nome  de  Sexto,  antigo 
nome  pessoal,  e  este  Úq  sextxis — sexto,,  adjectivo  numeral 
romano.— -Sexto,  Sixto  e  Xisto,-  foram  santos. 

Edanha  e  Idanha;  Egreja  e  Igreja;  Emproa  e  ímpro- 
nas,  plural  de  Improna,  quasi  Imprôa;  Encados  e  Inçados; 
Enviande  por  Enviando  e  In  viando;  Enxamêa  e  Inxamêa; 
Enxidro  e  Inxidro  ;  Enxuldro,  Enxudro  e  Inxudro. 


442  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Ermigil  e  Irmigil,  de  Hermenegildo ;  Loindreiro  por 
Loendreiro ;  Lomite  por  Liraite ;  Marcineiro  por  Marceneiro ; 
Monte  de  Velarinho  por  Villarinho;  Monte  dos  Algravéos 
por  Algarvios. 

Recaredo  e  Recarei  de  Rickaridus,  Rickaredi?  Segarral 
de  Cigarrai.  Confronte-se  (^igarrinha  e  Cigarrosa,  povoações 
nossas  também  ;  Sequeiros,  Esqueiros  e  Isqueiros  por  Esquei- 
ros,  metathese  de  Sequeiros!...  etc,  povoações  nossas. 

E  e  O 

Confundiram-se  na  latinidade  férrea. 

Já  em  latim  se  encontram  as  formas  versus  e  vorsus, 
versoria  e  vorsoria ;  verto  e  vorto;  Vertumnus  e  Vortumnus, 
como  se  lê  no  Magnum  Lexicon. 

Arrojello  por  Arroiello,  o  mesmo  que  Arrayollo  por 
Arroiollo ;  Barrete  e  Barrote,  povoações  nossas;  Beiranita  e 
Boiranita.  —  Também  temos  Boirana  por  Beirana,  o  mesmo 
que  Beirôa,  feminino  de  Beirão. 

Beliago,  appellido  e  Boliago,  aldeia.  —  Bojorreira  e  Be- 
zerreira.  Note-se  que  ja,  je,  ji,  jo^  ju,  deram  za,  ze^  zi,  zo,  zu. 
—  Campezinhos  e  Camposinhos;  Cobrada  e  Cobradinha  por 
Quebrada  e  Quebradinha. 

Ervedal,  Ervededo,  Ervedeira^  Ervedeiro,  Ervedinho, 
Ervedosa,  Ervedoso,  etc. —  de  ervedo  por  ervodo,  medro- 
nheiro, Ervedeiro,  Ervideiro  e  Orbideiro?!. . .  são  o  mesmo 
que  medronheiro.  Esmeriz,  Esmoriz  e  Esmorins  por  Esmo- 
riz, como  Cabriz  e  Cabrins  por  Cabriz,  Sanfins  por  S.  Fiz, 
de  S.  Feliz_,  o  mesmo  que  S.  Félix.  Confronte-se  S.  Félix, 
povoação  nossa,  Sanfix  e  Sanfiz,  varias  povoações  da  Hespa- 
nha.  Confronte-se  também  Sinfães,  metathese  de  Sanfins. 

Junte-se  Mouris,  Mouriz,  Mourens  e  Mourins,  povoa- 
ções nossas. 

Feitos  e  Foitos ;  Fentella  e  Fontella ;  Fermentãos  e 
Formentãos ;  Fermentellos  e  Formentellos ;  Ferrenha  e  Fer- 
ronha;  Guerredoura  por  Gorredoura  e  este  por  Corredoura. 

Lagueza  por  Lagosa,  unde  Nagosa ;  Lamoso  e  Lamesinhos 
por  Lamosinhos ;  Lavegada,  Levegada  e  Lobegada  por  Lo- 
bagada?  Confronte  se  Lobagueira,  Lobata,  Lobeira^  etc,  Lo- 
batae  Lobato  são  talvez  contracções  de  Lobagata  e  Lobagato!... 

Ledões  e  Lodões;  Limede  por  Limedo ;  Marcelino  e 
Marcolino,  diminutivo  de  Marcus,  Marco;  Meloal,  Molual  e 
Peloal ;  Moinhella  e.  Moinhola. 


TENTATIVA  ET YMO LÓGICO- TO PONY MICA  443 


Murço,  Murçogueira,  quinta,  de  Morcegaeira,  abundante 
em  morcegos;  Martede  por  Murtedo;  Urbideiro  por  Ervi- 
deiro;  Ortezedo  por  Ortozedo.  Cf.  Ortozello;  Orvida  e  Or- 
vieira  por  Orvideira,  o  mesmo  que  Ervideira.  V.  Orbideiro, 
supra. 

Pedregal  e  Pedrogal;  Ferfia,  Porfia  e  Porfias;  Prometor 
por  Promotor;  Quintella  e  Quintola;  Reboleiro  e  Roboleiro. 

Reboreda  e  Roboreda;  Reboredo  e  Roboredo;  Recaio  e 
Roçaio;  Rechoso  e  Rochoso;  Sangemil  e  S.  Jomil;  Sante- 
cinhos  e  Santosinhos;  Seixezello  e  Seixoso;  Seromenha, 
Seromenho,  Serominhão,  Serominheiro,  etc.  dos  soromenhos, 
pereiras  bravas,  como  Sederma,  Sidesma,  Siderma,  Jurome- 
nha,  etc, 

E  e  U 

Gentios  e  Juntios?  etc.  pov.  nossas. 

Ee  por  Ei 

Maria  Migueez  por  Maria  Migueis. 

Doe.  da  Collegiada  de  Gruimarães  a.  1352. 

Ei  e  1 

Almeida,  Almeidinha  e  Almidinha  por  Almeidinha;  Ca- 
saleixo  por  Casalixo,  dim.  de  casal,  como  Cazalzote,  Casalito, 
Casanito  por  Casalito,  Casalorio,  Casalinho  e  Casainho  por 
Oasalinho.  Esteira  Manteus  e  Estira  Manteus ;  Feijó  e  Fijô ; 
Feijoeira  e  Fixoeira  por  Fijoeira;  Feitos  e  Fitos;  Geira  e 
Gira. 

Guadeixe  por  Gadixe,  actualmente  Guedixe,  nome  d'um 
sitio  que  ha  na  minha  Penajoia,  sitio  hoje  deserto,  mas  que 
outr'ora  foi  cidade,  como  diz  a  tradição  local. 

O  foral  de  D.  Affonso  Henriques  e  o  de  D.  Manuel, 
dados  á  dita  Penajoia,  mencionam  o  tal  sitio  com  o  nome  de 
Guadeixe,  por  Gadixe,  este  por  Gadixo  e  este  por  Cadi- 
nho. Era,  pois,  Gadiche  a  cidade  do  Cadinho.  O  foral  de 
D.  Manoel,  de  1514,  menciona  Guadeixe  com  7  casaes  ^. 


^    V.  Penajoia  nos  Índices  da  l.a  e  2.a  partes  d'esta  minha  louca 
Tentativa. 


444  TENTATI  VA    ET YMOLOQICO-TOPON YMICA 


Leira  e  Lira;  Leiria  e  Liria;  Meira  e  Mira;  Paires  por 
Peires  e  Pires;  Qiieires  e  Quires;  Queiroga  e  Qairoga;  Teira 
e  Tira  etc,  povoações  nossas. 


Ei  e  Oi 

Estiboiral  por  Estiveiral.  Cf.  Esteveira,  Estiveira,  Esti- 
veirinha,  Esteva!  por  Esteveiral  e  Estiboiral  por  Estiveiral. 
A  bússola  é  o  ouvido!... 


Ei  Oi  e  Ou 

Apeadeiro  e  apeadoiro  oii  apeadouro;  Avelleira,  Avel- 
leiras  e  Abeloiras  por  Avelloiras  ou  Avellouras,  o  mesmo 
que  Avelleiras;  Despenhadeiro  e  despenhadouro?  Estiboiral 
por  estiveiral. 

Feitos  e  Foitos;  Refonteira  e  Refontoura;  Seccadeira  e 
seccadoiro  ou  seccadoúro;  Valleira  e  Valloura,  o  mesmo  que 
Valloira  e  Valleira;  Yalleiro  e,  Baloiro  por  Valloiro  ou  Val- 
louro,  o  mesmo  que  Valleiro;  Venidero  em  cast.,  vindouro 
em  port.  Junte-se  finalmente :  Milheiro  e  Milhouro,  pov. 
nossas. 

Eh   e   ER 

Cf.  Mello,  villa,  outr'ora  Merlo  por  Melro. 

Note  se  que  o  pelourinho  da  villa  de  Mello,  na  serra 
da  Estrella,  tem  por  emblema  um  melro  sobre  um  pinheiro, 
como  eu  já  vi. 

Também  temos  Xavier  e  Zaviel  por  Xavier  (?)  povoa- 
ções nossas,  e  em  bom  portuguez  aluguel  e  aluguer,  o  mes- 
mo que  aluguel. 

Em  e  im 

Agostem  por  Agostim,  povoação  nossa.  Também  seen- 
contra  em  Magostim  por  Bagustim,  de  Iben  Agustini,  po- 
voação do  aro  de  Lamego.  Alpoem  e  Alpoim  :  Alvem  e  Al- 
vim; Cartem  e  Cartim  ;  Catem  por  Gatem  e  Gafim;  DaHim 
ç  Daem  por  Dadem  ?  como  Dem  por  Daem ! .  . . 

Lagarem  e  Lagarinho ;  Lebrem  e  Lebrinho ;  Mem  Mar^ 


TJSilTATIVA     ETYMOI/'í'rro-TOI'ON-VMTrA  445 


tins ;  Mim  vaqueiro  por  Mem  Vaqueiro'  e  Mira  Velho  por 
Mem  Velho. 

Metem  por  Metim  e  oste  por  Metelim,  uiide  Medelim  e 
Medim;  Morelim  e  Morem  por  Morim;  Ourem  por  Ourim  ? 
Ousarem ;  Peaozem  por  Perozem  de  Perozim  por  Perozinho, 
como  Penuzinhos  por  Perozinhos. 

Pernigem  de  penugem?  ou  penuge,  como  Valdigem  por 
Valdige,  Valduje  por  Vai  d'Ujo;  Pexem  por  Pexim,  de 
Peixinho;  V.  Pexins  por  Peixinhoá ;  Pintem  e  Pintim  por 
Pintinho  ou  Pintainho,  e  Pintens  por  Pintins. 

Porem  por  Porim  e  este  por  Porrim,  o  mesmo  que  Por- 
rinho ;  Roem  ou  Ruim;  Rozem,  de  Rozende?...  Confronte- 
se  Mem  do  Mende  ou  Mendo,  e  Memende  de  Mem  Mendo ; 
Tourem  e  Tourim  de  Taurinus,  i,  Taurino,  antigo  nome  pes- 
soal e  nome  d'um  santo,  diminutivo  de  Taurus,  Touro  ^. 


Em,  im  e  um 

Medim,  Metem  por  Metim  e  Metum  por  Medim  ou  Me- 
tim, contracção  de  Medelim  por  Metellim,  povoações  nossas. 


F,   B,   U   e   y 

Confronte- se  Aurego^  que  em  documentos  antigos  desi- 
gnava o  quadrante  sul,  porque  se  lia  avrègo,  o  mesmo  que 
abrêgo  por  africo  o  mesmo  que  africano  ou  do  lado  da  Africa. 

«Outra  casa  pequena...  Do  agiom  {lia-se  aguiom  por 
aguião,  o  mesmo  que  aquilão,  do  latim  aquilo,  onis,  norte) 
parte  com  o  muro;  e  da  travesia  (o  mesmo  que  travecia  e 
travessia,  lado  poente)  com  a  rrua  que  vay  pêra  o  postigo; 
e  do  ssoão  (leste  ou  nascente,  lado  do  sol  ou  solano)  com 
adro  da  Igreja  e  do  aurego  (cá  está  elle)  com  gil  vasques 
genrro  do  loução.» 

Tombo  da  villa  de  Penella  nas  Notícias  de  Pendia,  por 
Delfim  José  d'01iveira,  pag.  13. 

Soão  é  o  mesmo  que  solão  ou  solano,  do  lado  do  sol  ou 
do  nascente. 


1     Mem  e  Mim  são  contracções  de  Mendo. 
-    Veja-se  o  meu  Diccionario  d'Appellidos. 


446  TENTATIVA    ETYMOLOGICOTOPONYMICA 


F  por  B  OU  y  e  uice-uersa  mesmo  iniciaes 

Vide  B,  V  e  F,  supra. 

Alfobre,  Alfofre  e  Alforre;  Baldreu,  Faldreu,  Fraldeu  e 
Valdreu.  De  Wilderedub,  i?  V.  Aldarete,  Aldrete  e  Aldreu. 
Baleira,  Valeira^  Valeirinhas  e  Valeiro 

Farginhas  de  Varginhas,  dirn.  de  Vargea  ou  Várzea. 
Cf.  Varchinhas,  Varginha;  Varzinha  e  Varzinhas.  Farginhas 
é  uma  pov.  visinha  de  Castro  Dayre.  Faldigens  e  Valdigem. 

Faleira,  Faleirinha,  Faleiro  e  Faleiros;  Valleira,  Vallei- 
ras,  Valleirinhos  e  Valleiro;  Fareja  e  Vareja;  Farjella  e  Var- 
jellas;  Feijó  e  Beijos;  Feijoca,  Beijocas  e  Feijouca  por  Bei- 
joca o  mesmo  que  Feijoca ;  Fofinho,  Bofinho  e  Bufinhos. 

Foia  e  Bóia;  Foreira  e  Boreira;  Forneira  e  Borneiras; 
Forno  e  Borno;  Francos  e  Brancos;  Franqueira  e  Bran- 
queira;  Frazão  e  Brazão ;  Frazões  e  Brazões;  Frazumeira  e 
Crazumeira,  port.  popul.  da  Beira,  muitas  brazas. 

Framão  e  Bramão,  appeliido,  e  Bramanfão!  Freme  e 
Bremes;  Fretos  e  Bretos;  Friellas  e  Briellas ;  Frio  e  Brio; 
Fulão  o  Bolão;  Fumaria  e  Bornaria;  Fornico  por  Fornico  e 
Burnico;  Valia  e  Falia;  Vallagueira  o  Falagueira?  etc,  pov. 
nossas. 

F  e  G 

Atafona  e  Atagona  por  Atafona?  Cochafonis  e  Cocha- 
gonis  por  Cochagões,  grandes  coches?  V.  Alcochete  no  Ín- 
dice da  primeira  parte  desta  minha  louca  Tentativa, 

F  e  P  iniciaes 

Os  neo-celtas  de  Galles,  trocam  por  vezes  f  por  p  e 
dizem  v.  g.  fil  por  pil  —  dardo,  lança. — Guillou^  122.  Facão 
e  Paçam  por  Pação;  Fadeira  e  Padeira;  Faião  e  Paião;  Fa- 
leira e  Paleira;  Falia  o  Palia;  Falorca  e  Palorca,  aldeia  do 
districto  de  Bragança  e  da  minha  Penajoia. 

Fardo  e  Pardo;  Fataca,  Fatacos,  Pataca,  Patacas,  Pata- 
cos e  Patacões  ;  Fatella  e  Patellas,  plural  de  Patella  ;  Fati- 
nho  e  Patinho ;  Fato  e  Pato ;  Favões  e  Pavões ;  Fecho  e 
Pechos ;  Feixeiras  e  Peixeiras ;  Feliteira  e  Peliteira. 

Fermedo  e  Premedellos  por  Permadellos  —  Fermedellos  ? 
mas  Fermedo,  como  dizemos  n'outrà  parte,é  talvez  uma  fór- 


TENTATIVA    ETYMOLOGICOTOPONYMICA  447 


ma  de  sermedo,  contracção  de  Seromedo  por  soromedo,  so- 
romenhedo,  bosque  de  soromenhos.  V.  Salmanha. 

Fermentellos,  Fermontellos,  Formentellos  e  Permon- 
tello,  singular  de  Permontelloa,  o  mesmo  que  Fermentellos 
e  Fermontellos,  supra,  povoações  nossas,  como  Frumento, 
que  tomaram  o  nome  do  latim  frumentum,  i,  —  pão  em  grão  : 
trigo,  cevada  e  milho,  etc.  V.  Pernão  Pote  na  minha  louca 
Tentatica  Etymologica,  parte  II,  pag.  31. 

Confronte  se  também  Ferràes  e  Perrães;  Fernão  Bacho, 
Fernão  Calvo,  Fernão  Gil,  Fernão  Pires,  Fernão  Porco  e 
Pernão  Pote  por  Fernão  Pote;  Ferra  e  Perra;  Ferradal, 
Ferral  e  Perral ;  Ferro  e  Perro,  aldeias ;  Fiães  e  Piães ;  Fião 
e  Pião,  4  a4deias,  2  casaes,    etc. 

Ficalho  e  Picalhos,  plural  de  Picalho ;  Figoeira  e  Pi- 
goeira?!.  .  .  Figueiral  e  Piqueiral ;  Piolhoso  e  Piolhosa,  fe- 
minino de  Piolhoso ;  Fixoeira  e  Pixoira  por  Pixoeira  ou  Fei- 
joeira,  povoações  nossas  também ;  Focilgal,  Possijal,  que  já 
se  leu  Possigal  e  Possilgaes,  plural  de  Possilgal  ? ! .  .  .  Tam- 
bém temos  Possilgão  e  Possilgões.  A  etymologia  é  a  mesma 
de  Pocilga,  Pocilgo  e  Pocilgão,  vocábulos  portuguezes  tira- 
dos do  latim  porcíle  e  este  de  porcus  —  como  diz  o  snr.  Fi- 
gueiredo. 

Foejo  e  Poejo,  planta,  do  latim  pulegium.  Fója  e  Poja  ; 
Fojaco,  Fujaco,  Fujacos;  Pujalho  e  Pujalhos  por  Pujaco  e 
Pujacos  ?  —  Folhelho  e  l-^uihelho  ;  Folforinho  e  Polvarinho, 
por  Polvorinho  ;  Fonte  Gallega  e  Ponte  G-allega,  antigo  no- 
me d'uma  quinta  do  Padilha,  onde  se  fez  a  villa  da  Regoa. 

Fonteira  e  Ponteira;  Fortunho,  P'ortunhos  e  Portunhos; 
Foupana  e  Poupana  ;  Foupaninha,  Poupanita  e  Poupinha ; 
Confronte-se  também  Choupana,  Choupaninha  e  Choupanita. 

Fragosa  e  Fragosa ;  Frechào,  Frijão,  Frijom  e  Prichã ; 
Fregeira,  Fregueira  e  Pregueira ;  Friães  e  Priannes ;  Frieira 
e  Prieira ;  F"ulão  e  Pulão ;  Ponches  e  Fonxe,  singular  de 
Fonxes ;  ^  Porcalho  e  Forcalhos,  plural  de  Forcalho,  etc, 
povoações  nossas. 


1  Ponches  vem  de  Pontiis,  que  se  lê  Ponciis,  patronímico  de  Pon- 
tius  —  Poncio,  nome  romano  de  Poncio  Pilatos  e  d'um  santo,  chamado 
Ponciano. 

Por  seu  turno  Pontianus  deu  Ponchão  e  talvez  Pensão,  povoações 
nossas  também. 

De  passagem  direi  que  Pontius  e  Pontianus,  nomes  romanos  e  no- 


448  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


F  e  5 

Facaes  por  Favacaes  e  Sacaes^  bella  quinta  do  Porto ! 
Faial  e  Saial;  Faião  e  Saião;  Fail  e  Sahil;  Faimaes,  Faimas 
e  Sahimes,  Saima  e  Saime;  Farafão,  Sarafana,  Safardão  e 
Safardana. 

Farminhão  por  Sarminhão.  Oonfroate-se  Saraminheira, 
Seraminheiro,  Seromenha,  Seromenho^  etc.  dos  soromenhos  -; 
Famão  e  Samão;  Famõss  e  Samòes;  Favaqueira  e  Sabachei- 
ra;  Favaxa  e  Sabacho;  Faveira  e  Sabeira;  Faveiro  e  Sa- 
beiro. 

Feixeiras  e  Seixeiras;  Fermedo  e  Sederroa  por  Sermeda, 
o  mesmo  que  Sermedo  e  Fermedo?  Fermino  e  Sermiiio; 
Ferrado,  Serrada  e  Cerrado;  Ferraz  e  Serrazes;  Ferreira  e 
Serreira;  Ferrei  e  Serreleis;  Ferrenho  e  Serrenho  o  mesmo 
que  Serrano  (Algarve);  Ferroa,  Seroa  e  Serrôa;  Ferrões  e 
Serrões, 

Fiadeira,  fiadouro  e  Siadouro;  Fialho  e  Sialho;  Fiandal 
e  Sianda;  Fião  e  Sião;  Figoeira  e  Sigoeira!  Fois  e  Sois; 
Folgos  e  Solgos!  Folha  e  Solha;  fonda  e  Sonda;  P'ornea  e 
Sorna,  etc.  povoações  nossas. 

F   e  T 

Fainha  e  Tainha;  Fale  e  Tbalé ;  Fareja  e  Tareja;  Faroja 
ou  Faroia  e  Faroija  por  Taroia;  Farrio  e  Tarrio ;  Farropa  e 
Tarouba  por  Tarroba?  Fartaria  e  Tartaria ;  Fazoura  e  Te- 
soura. 

Favacal  e  Favaqueira,  Tavacal  e  Tavagueira ;  Tavarede 
por  Favarede  ou  Favaredo ;  Tavarella  por  Favarella  ?  Fa- 
vella  por  Favarella  e  Tavarella? 

Feixegueira  e  Teixugueira;  Feixeiras  e  Teixeiras;  Fejos 


mes  de  santos^  etc,  foram  tirados  de  Pontus,  /  —  o  Ponto,  nome  que  os" 
romanos  davam  ao  Mar  Negro. 

Pondo  e  Ponciano  querem,  pois,  dizer:  —  filhos  ou  oriundos  da  re- 
gião do  Mar  Negro  on  do  Ponto. 

Com  vista  ao  meu  bom  primo  —  Ponciano  Luiz  dos  Santos,  de 
Adorigo,  concelho  de  Taboaço. 

-  V.  Ledesma,  Salmães,  Sederma,  Sedesma.  Siderma  e  Sorome- 
nhos, supra,  pag.  229  e  seguintes. 


TENTATIVA     V.T\V(>T.C\r.JC:C>-T()]>C)S\\Ur\  419 


e  Tejos;  Fellões  ou  Foliões,  TellOes  ou  Tolòes  ?  Ferra  e  Ter- 
ra;  Ferronha  e  Terronha  ;  Ferrào,  Terrão  e  Torrão?  Ferre- 
nho e  Terrenho  ;  Ferrugem  e  Terrugem ! 

Fôtelaria  ou  Tetelaria  !  Fixoeira  por  Feixoeira  ( feijoeira) 
e  Teixoeira  ;  fonda,  Tonda,  Tondella  e  Tondellinha;  Foia, 
Foia  e  Toja;  Foios,  Fojos  e  Tojos  ou  Fojos.  Fontão  e  Ton- 
tão  ;  Fontello  e  Tontello !  Fontinha  e  Tontinha ;  Fontinhal 
ou   Tontinhal !  —  Fontinhosa,  Tontosa,   Tontousa   e  Toutosa. 

Forneira  e  Torneira ;  Forneiro  e  Torneiro ;  Forneiros  e 
Torneiros ;  Forno  e  Torno  ;  Foro  e  Toro ;  Fragusta  e  Tra- 
gusta ;  France  e  Trance  ou  France ;  Francelheira  e  Trance- 
Iheira !  Franqueira  e  Tranqueira ;  Freixedo  e  Treixedo,  o 
mesmo  que  Freixedo ;  Froia  e  Tróia,  etc,  povoações  nossas. 

F  e  y 

Gafino  por  Gavino  e  este  por  Gavinho,  unde  Gabim, 
Gavim,  Gobim  e  Gouvim  ?  povoações  nossas. 

Fq,   Ba   e   Va 

Boucinhas,  Boicinhas  e  Foicinhas ;  Falagueira  e  Yalla- 
gueira  ;  Faldigens  e  Valdigens  ;  Faldreu,  Fraldeu  e  Yaldreu  ; 
Faleira,  Valleira  e  Baleira ;  Faieirinha  e  Valleirinha ;  Faleiro 
e  Valleiro ;  Faleiros  e  Valleiros ;  Falia  e  Valia. 

Falorca  por  Faloca,  Baloca,  Balouça,  Baiouta  e  Pa- 
lorca?!... — Fariginhas  por  Farginhas  e  Varginhas ;  Far- 
jella,  Bargellas  e  Yargellas;  Farrio,  Barrio,  Barrios  e  Bar- 
riosa,  muitas  povoações  nossas  ;  Farroeira  e  Barroeiras,  plu- 
ral de  Barroeira ;  Fascaim  por  Fiscal m,  o  mesmo  que  Fis- 
cainho  e  Biscainho,  povoações  nossas.  Fofinho,  Bofinho  e 
Bufinho. 

FPi,   FE,  FC,   FU  e  Gfl,   GE,   60,   GU 

Facha  e  Gacha ;  Faia  e  Gaia ;  Paião  e  Gaiáo  ;  Faias  e 
Gaias ;  Fale  e  Galé ;  Falia  e  Galla  ;  Farraia  e  Garraia ;  Far- 
robo  ^  e  Garrobo ;  Fatella  e  Gatella. 


^    Talvez  de  farropo  ou  íarroupo  —  porco  ainda  novo  que  não  tem 
mais  de  um  anno.  Confronte-se  Leitão,  appeliido  nobre  também. 

29 


450  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Fens  e  Gens;  Feria  e  Geria;  Fermil  e  Germil;  Ferros  e 
Guerros;  Foes  e  Góes;  Fofe  e  Gove;  Foritão,  Gondão  e  Gon- 
tão;  Fonte  e  Gonte;  Fon tinha  e  Gontinha;  Frejufe  e  Gri- 
jufe?!.  .  .  Frota  e  Grota;  Fundaes  e  Gundaes;  Fundão,  Gun- 
dão  e  Guntão;  Fundeiro,  Gondeiro  e  Gundeiro,  povoações 
nossas. 

Fq  e  Pa 

Facão  e  Paçam;  Faceira  e  Passeiro,  masculino  de  Pas- 
seira;  Fadeira  e  Padeira;  Faião  e  Paião;  Faleira  e  Paleira; 
Falia  e  Palia;  Falorca  e  Palorca;  Fataca  e  Pataca;  Fatacos 
e  Patacos ;  Fatella  e  Patellas ;  Fatinho  e  Patinho ;  Fato  e 
Pato;  Favões  e  Pavões,  etc.  povoações  nossas. 


Fa  e  Ta 

Fa  deu  ta  no  antigo  portugnez,  como  já  dissemos,  e  no 
gaulez,  normando  e  celta  ou  neo-celta. 

Hericher,  verbo  Fang  —^lòáo,  lama,  pag.  26  e  27,  diz: 
fang  é  um  dos  vocábulos  que  se  encontram  simultaneamente 
nos  idiomas  celtas  e  germânicos  e  mesmo  no  latim  (con- 
fronte-se  /irmis— esterco,  lodo,  lama),  e  no  armoricano  faneg 
—  lodo. — Que  le  mot  {Fang)  ait  produit  tangue^  le  sahle  des 
estuaireSy  c'est  probable,  quoique  soit  ires  difficile  de  fairé  le 
passage  de  i  à  J. 

Depois  diz:  —  Esta  etymologiâ  se  acha  confirmada  em 
um  documento  relativo  aos  direitos  su7'  la  tangue,  a  jusante 
de  Saint  Lo: 

<í  langue  e,stoit  ce  qu'ailleur  appellent  fange...  icelle  ap- 
pelée  tangue  comme  estant  par  fange.  í) 

Littrê  não  remonta  este  vocábulo  além  do  século  xv, 
mas  eile- é  muito  mais  antigo:  excepfa  tanga  —  diz  um  do- 
cument.o  do  anno  1192,  e  in  tangaria  mea  —  outro  documento 
do  anno  de  1198. 

O  francez  tanguer  e  tangage  se  diz  dos  navios  que  mer- 
gulham a  proa  na  agua  e  no  lodo,  dàm^  la  fange. 

«Na  Terra  Nova  os  normandos  dão  o  nome  de  tangon 
a  uma  cruz  de  madeira  qiie  serve  d'ancora,  litteralmente  qui 
tangue,  i,  6,  que  se  enterra  na  areia.» 


TL^XTATIVA    KTYMOLOGICO-TCíPOVvvtir-A  451 


Fa  e  Tq.  Fe  e  Te  na  onomástica  portugueza 

Fagilde  e  Tagilde  de  Atanagildus,  i,  como  Athaide, 
Tainde,   Tiiaide,  Cagide,  Cabide,  etc,  povoações  nossas. 

Faião  e  Tayão ;  Faias  e  Taias ;  Fale  e  Tiialé ;  Favacal  e 
Tavacal;  Favagueira  e  Tavaqueira,  quasi  Tavagueira;  Tava- 
rede  por  favarede  ou  favaredo?;  Favarrel  por  Favarel  e 
Tavarella  por  Favarella? 

Junte-se: —  Faila  e  Talla;  Falleira  e  Talléira;  Fareja  e 
Tareja,  antiga  forma  de  Thereza;  Farrio  e  Tarrio;  Farroeira 
e  Tarroeiro,  masculino  de  Tarroeira;  Fartaria  e  Tartaria, 
povoações  nossas. 


Feira  e  Teira;  Feixe  e  Teixe;  Feixegueira  por  Feixu- 
gueira?  e  Teixugueira  que  tomou  o  nome  dos  teixngos,  ga- 
tos bravos. 

f^eixeiras  e  Teixeiras;  Fejo  e  Tejo;  Fejos  e  Tejos;  Fel- 
lões  ou  Foliões   {sic)  e   Tellões^  Tenões  ou  Tollões  {sic)V.... 

Feras  e  Terá.  singular  de  Terás;  Ferra  e  Terra;  Fer- 
rado e  Terrado;  Ferrão  e  Terrão;  Ferras  e  Terras;  Fer- 
reirinho  e  Terreirioho ;  Ferreiro  e  Terreiro;  Ferreiros  e  Ter- 
reiros ;  Ferrenho  e  Terrenho ;  Ferrões  e  Terrões ;  Ferronha 
e  Terronha?! .    . 

Junte-se  ainda:  —  Festos  e  Testos  ou  Fustos  (sic);  Fe- 
telaria  ou  Tetelaria  e  Tetelaria  ou  Fetelaria  (sic),  povoações 
nossas,  todas  mencionadas  na  ChorograpMa  Moderna,  de  João 
M.  Baptista,  e  que  são  um  bello  espécimen  da  onomástica 
portugueza  comparada. 

Este  íiião  é  muito  interessante  para  o  estudo  etyinolo- 
gico  das  nossas  povoações,  pois,  como  já  dissemos,  grande 
numero  d'ellas  já  vem  da  idade  media,  do  tempo  em  que, 
por  falta  de  luz,  todos  andavam,  a  jogar  a  cabra-eega.  A  um 
e  o  mesmo  vocábulo  por  vezes  davam  diversas  formas,  e  taes 
formas  deram  a  muitos  nomes  das  nossos  povoações,  que  mal 
se  acredita  serem  os  mesmos. — Prosiecamos. 


'to' 


Alfafar  por  Alfafal,  e  este  por  Alfaval,  o  faval ;  Búfalo, 
do  latim  huhalus  —  búfalo,  boi  >nv^'>tre.  Faldigens  e  F^aldi- 
jaes  por  Faldijàes. 


4Õ2  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


São  talvez  formas  de  Valdigens,  plural  de  Valdigem, 
mas  Valdigem  vem  de  Valdige,  o  mesmo  que  Valduge  e 
Valdujo  por  Valle  do  Ujo,  povoações  nossas  também. 

Faldreu,  Baldreu,  Valdreu,  e  Fraldeu  por  Faldreu?!... 

Faleira,  Baleira  e  Valleira ;  Faleiro  e  Valleiro ;  Falia  e 
Valia ;  Falorca,  Palorca  e  Baloca  por  Valloca  ?  Faquinhas  e 
Vaquinhas. 

Farginhas  ou  Fariginhas  por  Varzinhas  ou  Varginhas; 
Farjella  por  Varjella.  Cf.  Barge,  Bargellas,  Barges,  Bargina 
por  Barginha,  Barigellas,  Barja, — Varga,  Vargas,  Varge, 
Vargellas,  Vargem,  Varginha,  Vargiota,  Varizelias,  Várzea, 
Várzeas,  Varziella,  Varziellas,  Varziellinha,  Varzigueto,  Var- 
zina,  Varzinlia,  Varziellas,  povoações  nossas. 

Jenovefa  e  Genoveva,  dois  nomes  da  mesma  santa.  — 
Jafa,  vulgo  Java,  porto  de  mar  da  Palestina.  —  Nafarros  por 
Navarros?  Olafo  *  e  Olavo,  nomes  pessoaes  e  nomes  de  san- 
tos, etc. 

Fe  e  Pe 

Cf.  Permontello,  Fermentellos,  Fermontellos,  Formen- 
tellos  e  Frumento,  povoações  nossas,  cujos  nomes  foram  ti- 
rados do  latim  frumentum,  i  —  pão  em  grão. 

Fe,  Be  e  Ve 

Alféloas  por  Alvéloas.  —  Cf.  Alvéola,  povoação  nossa, 
que  tomou  o  nome  de  alvéola,  ave. 

Felino  e  Bellino,  nome  d'um  santo,  e  Avelino,  também 
santo. 

Fermil,  Bermil  e  Vermil,  povoações  nossas. 

Fí  e  Pi 

Ficalho  e  Picalhos,  plural  de  Picalho? — Figoeira  e  Pi- 
goeira?!...  por  Figoeira,  o  mesmo  que  Figueira.  —  Cf.  Tei- 
xoeira  e  Teixeira;  Figueiral  e  Piqueiral,  povoações  nossas. 

Fi  e  Ui 

Fisoainho,  Biscainha,  Biscainho,  o  mesmo  que  Viscainha 
e  Viscainho.  Também  temos  Fiscal,  que  podia  dar  Fiscainho 
por  Fisealinho;  Gafino,  Gabim  e  Ga  vim  por  Gavino. 


TF,\'T\TTV\    ■RTV\rí)r,<)r;rr'0-Tf)r'OXVMirA  453 


Fo  e  Po  ou  Pho  e  Po 

Já  no  latim  puro  se  escrevia  Bo.spfiuni.^,  IrJosporus  e 
Bosporos,  para  designar  o  Bosphoro,  —  Focilgal,  Prssijal, 
Possilgaes,  Possilgão  e  Possilgòes,  F^ejo  por  Poejo;  Foio  e 
Foios,  Poio  e  Poios;  Foja  e  Poja;  Fnnxe  e  Ponches,  de  Pon- 
tius,  ii,  iis. 

Forca  e  Porca;  Forcalhos  e  Porcalho,  singular  de  Por- 
calhos;  Forcas  e  Porcas;  Foupana  e  Foiípaninha  pc:-  Pou- 
pana  e  Poupaninha?  —  Cf.  Poupa,  Poupana,  Poup.mita  e 
Poupi/iha,  povoações  nossas.  Cf.  também  Fortunhos,  o  Por- 
tunhos  por  Portinhos  ou  Portinhos ;  Foão,  Fitlão  e  Pulão,  etc, 
povoações  nossas. 

Fo  e  To 

Fontão  6  Tontão ;  Fontella  e  Tondella  ?;  Fontello  ou  Ton- 
tel)o  e  Tontello  ou  Fontello  (sic) ;  Fontinha  e  Tontinha;  Fon- 
tiuhal  ou  Tontinhal  e  Tontinhal  ou  Fontinhal  (.sic);  Forre- 
jal  e  Torrejaes  por  Forrejaes?;  Foucinlios  e  Toucinhos,  etc, 
povoações  nossas. 

Fo  e  Vo 

Olafo  e  Olavo  nomes  de  santos,  etc,  formas  de  Olaf^ 
nome  actual  (1908)  na  Suécia,  etc,,  Trevo  de  trífollium,  que 
tem  8  folhas. 

G  —  cchindo 

«Devemos  desconfiar  do  g.  E'  uma  letra  eapricho.sa  e 
banal,  que  serve  de  liame  euphonico  entre  duas  vogaes, 
quando  ellas  se  pronunciam  separadamente,  mas  desapparece 
quando  ellas  tomam  o  som  único  de  dithongo.  Assim  Braoll 
de  Bragogil,  etc.»  isto  disse  fíouzé  com  relação  á  França,  e  o 
mesmo  se  dá  com  relação  a  Portugal,  v.  g.  de  Pelagio,  Paio; 
de  Pelagianus,  Pelagião.  Paião?  ruído  de  rugido?  etc  «Lo  let- 
tre  g  est  sv/jette  aux  chutes.-»     Hoiizê,  37  e  40. 

Ba,  Gq  e  17a.  Bu  e  Gu.  V\  e  Gui. 

Balazar  e  Galazar,  de  Belisarim^  ii,  povoações  nossas; 


454  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Balbana  e  Galvana;  líalisa  e  Galliza?  Baltar,  G-altar  e  Gual- 
tar^;  Banal,  Ganal  e  Canal;  Banduja  e  Ganducha? 

Barcia,  appellido  e  Garcia,  aldeia,  appeliido,  etc. 

Bardeira  e  Gaarrl.-ii-a  por  Gardeira;  Barrado  e  Garrado; 
Barrido  e  Garrido,  iiias  Barrido  é  talvez  uma  forma  de  Bar^ 
rêdo. —  Barrogaeirti  por  Barrojeira  e  Garrocheira  por  Garro- 
jeira?  Barrunchos  e  Garrunchos ;  Bastos  e  Gastos;  Batas  e 
Gatas;  Bocha  e  Bouxa;  Goija,  Goixe,  Goja  e  Goiíxa. 

Bocho,  Gocho  e  Gouxo ;  Bodeal  e  Godeal  ou  Bodeal; 
Bodim  e  Boim,  Godim  e  Guim ;  Bóia  e  Goia ;  Boleta  e  Go- 
leta;  Boino  e  Boinos;  Goio  e  Goios  por  Goino  e  Goinos  ? 
Borbella,  Gorveila!...  e  Gorvellos.  Cif.  Corba,  Corva,  Cor- 
vel  e  Corv3lla  !.  .  . 

Borda  e  Gorda ;  Bordinheira  e  Gordinhoira ;  Bordôa  e 
Gordôa ;  Borraz  e  Garraz,  antigo  nome  d'um  sitio  de  Távora, 
pertencente  ao  velho  passal.  Cairão  por  Gairão  e  Vairão  * 
Guerai  e  Veral ;  Guerres  e  Verres,  nome  ou  cognome  ro- 
mano. 

Guidão   e   Vidão;  Guide  e  Vide;  Guilla  e   V^illa;  Gui- 
Ihão,   Vilhano  e  Vilhões ;  Guilheiro  e  Vilheiro;  Guilhade  e 
Viihades  '^;  Guindaes  e  Guindas,  do  castelhano  guinda,  ginja' 
que  talvez  desse  Vinda,  aldeia  nossa. 

Guissoi  de  Visoi  *,  antigo  nome  pesssoal.  Guihe  por 
Gulho  e  Bulho ;  Gulpilhares  e  Gulpilheira  •—  de  vulpis  —  ra- 
posa. 

Galgodins,  de  Vai   ie  Godins.  Confronte -se  Vai  de  Go- 


^     V.  pag.  56,  supra. 

'^    De  Valerianus,  nome  romano. 

^  Guimarães,  de  Vimaranis,  patronímico  de  Vimaranus,  i,  is,  nome 
germânico,  e  Guiraarei  de  Vimaredus,  i,  antigo  nome  pessoal  também. 

^  Visoi  foi  nome  vulgar  nos  séculos  x  e  xi,  como  provam  vários 
documentos,  de  todo  o  ponto  authenticos,  mencionados  no  Portugaliae 
monumenia  histórica. 

Veja-se  o  meu  longo  artigo  Viseu  no  Portugal  Antigo  e  Moderno^ 
vol.  XII,  pag.  1715,  col  2.* 

Aproveitando  o  ensejo,  ahi  vai  outra  etymologia  de  Viseu  e  que  é 
talvez  a  mais  acceitavel. 

Viseu  pôde  ser  contracção  de  Basilêu,  o  mesmo  que  Basilio,  nome 
d'um  santo,  etc. —  O  mesmo  Basilêu  também  deu  Vaseu,  antigo  nome 
pessoal,  que  pouco  differe  de  Viseu  e  na  minha  opinião  Vasèu,  Basilio  e 
Basilêu  tomaram  o  nome  de  Basilia.  antiga  cidade  da  Allemanha,  hoje 
pertencent  •  á  Suissa,  com  o  nome  de  Bale. 

Amda  direi  que  Visoi  deu  Guisoi  e  no  diapasão  leonez  Guiçoi  ou 
Guissoi ! . . .  —  E'  assim  a  arte  nova  —  e  rira  bien  qui  rira  le  dernier. 


TENTATIVA    ETYMOLOGUCO-TOPONYMICA  455 


dinho,  povoação  nossa.  Galgueira,  Gallegueira  e  Valgueira; 
Galvôa  e  Valbôa;  Cxariz  e  Variz;  Gasco  e  Vasco  e  Gasconha 
por  Vasconha,  paiz  dos  Bascos  ou  Vascos,  no  baixo  latim 
Vasconia;  Gasconha  e  Vasconha,  etc,  povoações  nossas. 

G  e  h 

Ganfei.  —  Confronte-se  Lamphey,  povoação  da  Inglater- 
ra, no  principado  de  Galles. 

Nós  temos  gaiva,  provincianismo  duriense — fenda  aberta 
na  terra,  e  laiva,  prov.  dur.  —  ferida  na  cabeça?!... 

Confronte-se  Larção  e  Garção?  Leira  e  Geira?  Lenço  e 
Genço?  Lesteiro  e  Gesteiro  ou  Giesteiro;  Lestido  e  Gestidol... 

Liboso  e  Giboso;  Lira  e  Gira;  Lirio  e  Girio;  Liz  e  Giz; 
Lodão  e  Godão;  Loio  e  Goio;  Lóios  e  Goios;  Loivo  e 
Goivo?  Loivos  e  Goivos?  Loja  e  Goja,  etc,  povoações  nossas. 

G  e  m 

Confundiram-se  o  substituiram-se  já  no  velho  grego, 
como  em  mm^marisd  e  gargarisô. 

Vide  Margarida,  Margaride,  Margarido,  infra,  e  Marga* 
rite,  em  Guillou,  pag.  119. 

Gaia  e  Maia;  Gaios  e  Maios;  Gairos  e  Mairos;  Galguei- 
ra, Malagueira,  Valgueira  e  Vallagueira;  Galla  e  Mala,  al- 
deias; Galmeira  e  Malveira?  Gandim  e  Mandimí... 

Ganhoteira  e  Minhoteira;  Garim  e  Marim;  Gariz  e  Ma- 
riz;  Garnel  e  Marnel;  Garrão  e  Marrão;  Garvão  e  Marvão? 

Geadas  e  Meadas;  Gelhe  e  Melhe?  Gera  e  Mera;  Gigua 
e  Migoas;   Goia  e  Moia;  Goios  e  Moios;  Golães  e  Molães? 

Gondão  e  Mondão;  Gondariz  —  casal  nosso  —  e  Monda- 
riz  —  bello  estabelecimento  thermal  da  Galliza.  Gondim  e 
•Mondim;  Gontão  e  Montão;  Gontijo  e  Montijo;  Gontim  e 
Montim;  Gontinho  e  Montinho;  Gontinhos.e  Montinhos; 
Gorlinho  e  Morlinhol?... 

Goulão  e  Moulões,  plural  de  Moulão;  Gouxaria  e  Mou- 
xaria?  Gulato  e  Mulato?...  etc,  povoações  nossas.  Margarida 
—  santa,  Margaride  —  villa,  e  Margarido  —  appellido. 

«O  verbo  grego  mm^marizô  significa  brilhar ^  unde  o  la- 
tim marmor  —  mármore.  Este  verbo  pronunciava-se  indiffe- 
rentemente  marmarizô  e  gargarizô;  as  duas  formas  se  reuni- 


456 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


ram  para  fazer  margarite  —  brilhante,  subentendendo-se  o 
vocábulo  pedra, 

«Este  género  de  vocábulos  denomina-se  onomatopêa,  Po- 
pulus  —  povo,  é  onomatopêa  de  numero;  papíllon  —  borboleta, 
é  onomatopêa  de  movimento;  marmarizô  é  onomatopêa  de 
hriiho,  em  francez  eclat.»  —  Guillou,  pag.  119. 

Margarida,  Margaride  e  Margarido  vêem,  pois,  do  grego 
margaritès  —  brilhante  (pedra)  —  e  este  de  marmarizô,  o 
mesmc  que  gargarizô  —  brilhar. 

Figueiredo  diz  que  margarida  ou  margarita — pérola, 
pedra  preciosa, —vem  do  latim  margarita,  este  do  grego  rwar- 
garitès,  e  este  provavelmente  do  persa  mervaridf! ... 

G  e  Z 

Aprigio  e  Aprizio;  Beringel  e  Berinzel;  Bojorreira  por 
Bezerreira;  Brigida  por  Brizida;  Eduviges  e  Edwizes;  Ginzo 
o  mesmo  que  Ginjo,  povoações  nossas,  como  Ginja,  Ginjal, 
Gingeiro,  Quinjeira  e  Quinjeirinha  por  Gingeira  e  Ginjeiri- 
nha.  Confronte-se  tb.  Guindaes,  Guindas,  Guinde  e  Guindo, 
povoações  nossas  que  tomaram  o  nome  do  castelhano  guinda, 
ginja. 

Juzarte  e  Zuzarte,  appellidos  e  povoações ;  quigéras  e 
quigéste  por  quizeras  e  quizeste,  (diz  o  povo) ;  rapazão,,  vul- 
go rapagão ;  Sargedo  e  Sarzedo,  povoações  nossas.  Tojal  e 
Tuzar,  aldeia.  Urge  e  Urze ;  Urjal  e  Urzal,  povoações  nossas ; 
Varge,  Vargea  e  Varja  por  Várzea  (diz  o  povo). 

Ga,  go,  gu  e  ja  jo  ju 

Lagos  e  Lajos  por  Lagos?  Laija  e  Laiga  por  Laija?  o 
mesmo  que  Lage  ou  Lagea,  povoações  nossas. 

Ga  e  Gua 


Baltar,  Gaitar  e  Gualtar  por  Baltar  e  este  por  Walter  ?  ! 
Cardai,  Gardal  e  Guardai  por  Gardal  e  este  por  Cardai; 
Cardaes,  Gardaes  e  Guardaes  por  Gardaes  e  este  por  Car- 
daes ;  Cardeira,  Guardeira  por  Gardeira  e  este  por  Cardeira. 

Galdim,  appellido ;  Galdins  e  Gualdim  por  Galdim,  este 


TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMTCA  457 


por  Gaaldino  e  este  por  Ubaldino,  diminutivo  de  Ubaldus  — 
Ubaldo,  nome  d'um  santo,  de  Wild  ou  Wald,  nome  germâ- 
nico?!.. .  Trigal  e  Trigual,  são  também  povoações  nossas. 

Ga  3a   e  lha 

Camajam  por  Camagão  e  Camalhão ;  Bodegão  e  Bode- 
Iháo ;  Bolegão  e  Borbelegão,  Bolhão  e  Borbolháo ;  Boucega 
por  Bouxega  e  este  por  Boucega,  o  mesmo  que  Bouoelha ; 
Romagom,  o  mesmo  que-  Ramagom  e  Ramalhão,  etc,  povoa- 
ções nossas. 

Ga  e  17a 

Galazar,  Balazar  e  Vai  de  Azares  de  Belisarius^  ii,  Be- 
lisario,  nome  d'um  santo,  etc,  ou  de  Balthazar,  também  santo. 
Galgodins  de  Valgodins. 

Confronte-se  V"al  de  Godinho,  povoação  nossa. 

Galhufe  de  Viiiulphi  por  Wiliulphi  de  Wiliulphus,  i,  que 
deu  Guilhufe,  povoação  nossa  também;  Galifanxe,  de  Wali- 
fonsi  o  mesmo  que  Wilifonsi  por  Ildefonsi! 

Gaitar  de  Waiter,  como  Gualter,  Gualtar  e  Baltar;  Ga- 
riz,  de  Variz  e  este  de  Viaríz  por  Viariquiz  ^ ;  varlopa  e  gar- 
lopa.  —  Cândido  de  Figueiredo,  no  Supplemento. 

Gê  e  Guê 

Borguote,  Burgo,  Burgueta,  Burguete,  Burgueto  e  Bur- 
gete  por  Burguete;  Burgueiros  e  Burgeiros  ou  Burgeieiros ; 
Correginha  por  Correguinha.  V.  Corguinha ;  Gavei,  de  Ga- 
vedi  por  Gafeti,  de  Japíieti,  como  Cafede,  Bem-que-fede, 
Chafé  e  Caféo,  povoações  nossas. 

Gera  e  Guera;  Gelhe  por  Gelho  e  Guelho.  Confronte-se 
Guemil,  Sangemil  e  S.  Gemil;  Gueral,  freguezia  de  Geral, 
nome  d'um  santo,  etc.  o  mesmo  que  General,  também  santo ; 
ou  de  Geral  por  Girai,  de  Geraldo  por  Gerardo,  o  mesmo 
que  Giraldo,  unde  Girai  Paes,  povoação  nossa,  etc. 


^  Patronimico,  de  Viaricus,  nome  germânico. 


458  TENTATI7A    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Qé,  Gué  e  Qué,  Qi  e  Gui 

Farragelinha  ou  Farraquelinha,  de  Farragem  como  Fer- 
ragial;  Gaga,  Gago  e  Gagim  por  Gaguim  ou  Gaguinho? 
V.  Orgueira,  Orijal,  Urgal,  Urgeira,  Urgezes,  Urgueira,  Ur- 
jal,  Urjariça,  Urzal  e  Urzalão.  Junte-se  Ulgueira  e  Cabeça 
da  Urqueira,  o  mesmo  que  Urgeira  e  Urgueira,  etc,  povoa- 
ções nossas. 

Ge,  Gue  e  Ze 

Sabuzedo  por  Sabuguedo,  contracção  de  Sabugueiredo, 
como  Sabugo  é  contracção  de  Sabugueiro ;  Sabugal  —  de  Sa- 
bugueiral,  e  Sabu^gosa^ — de  Sabugueirosa. 

Sargedo  e  Sarzedo,  são  também  povoações  nossas. 

Ge  e  Se 

Cf.  Gestal  e  Sestal ;  Gestosa  e  Sestosa :  Giesta,  o  mes- 
mo que  Gesta  e  Sesta ;  Sestaes  por  Gestaes,  plural  de  Ges- 
tal, etc,  povoações  nossas. 

Ge  e   Xe 

Rogel  e  Roxel,  são  também  povoações  nossas. 

Ge  e  Ze 

Beringel  e  Brinzel  por  Beringel ;  Chorozeira  e  Corujeira ; 
Finges  e  Finzes,  etc,  povoações  nossas. 

Gi  Gui  e  .Qui 

Cf.  o  antigo  hespanhol  gitar,  que  se  lia  guitar,  unde 
o  portuguez  quitar,  tirar,  deitar  fora. 

«.  .  .que  todas  las  ditas  gentes  armadas  sean  gitadas  de 
Caragoça ...» 

Doe.  do  a.  1410. 

A  versão  hespanhola  posterior  e  : 

«...  que  echasse  fuera  de  la  ciudad  de  Caragoça  las  gen- 
tes armadas ...» 

Cf.   Ginja,   Ginjal  por  Ginjeiral ,  Ginjeiro  e  Ginzo  por 


TENTATIVA     ETYMOLOGICO-TOPOK  VMIOA  4Õ9 


Ginjo,  povoações  nossas.  —  Também  temos  (jruindaes  por 
Ginjaes,  do  castelhano  guinda — gicija,  que  deu  também 
Guindas,  Guinde  e  Guindo,  povoações  nossas.  —  Ginjeira  e 
Quinjeira  por  Guinjeira  ? — Quinjeirinha,  diminutivo  de  Quin- 
jeira,  etc,  são  povoações  nossas  também. 

Gi  Gy  e  Gui 

Cf.  gissa  e  gyssa,  portuguez  antigo,  actualmente  guisa, 
—  maneira,  modo. 

Archivo  da  CoUegiada  de  Guimarães,  doe.  do  a,  1373. 

Gi  e  Zi 

Cf.  Astroluzia  por  Astrologia,  portuguez  popular.  —  Cf. 
Remigio  e  Remizio,  nomes  de  santos,  etc,  e  Vai  de  Remi- 
gio.  povoação  nossa. 

Cf  também  Ermigio  e  Hermigio,  nomes'  pessoaes  e  ap- 
pellidos  e  Hermogio,  nome  d'um  santo. —  Hermogio  é  talvez 
o  mesmo  que  Hermigio,  Ermigio,  Remigio  e  Remizio?!... 

As  meias  tintas  confundem  e  a  minha  lente  d' arte  nova, 
forjada  por  mim  a  martelo,  está  a  pedir  outra  melhor  e  mais 
aperfeiçoada. 

Go  e  lho 

A  Hespanha  tem  Pontejos,  que  se  lê  Pontegos,  entre 
nós  Ponteihos ;  Pontigo,  entre  nós  pontilho  ;  Pontigon,  entre 
nós  Pontilhão  ;  Berdejo  que  se  Ic  Berdego,  quasi  Verdego, 
unde  Verdelho  e  Verdego,  povoações  nossas. 

Gu  e  Uu 

Na  Hespanha  antigamente  escrevia- se  git  por  mi, 
«Que    la   magestad   dei   Emperador  Carlos   Quinto^   se- 
guiendo    el    consejo    dei    Rey   don   Fernando   su   Aguelo...» 
Aguelo,  por  abuelo,  avô.  — Doe.  do  a.  1Õ20.  —  Gulpilhares  e 
Gulpilheira,  do  latim  vulpis  —  raposa. 

Gue  por  \7é 

Prouguer  por  prouver  e  este  por  aprouver.  -  -  Doe. 
d'Arouca  de  1205, 


460  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMTCA 


Gue  e  Ze 

Sabuzedo  por  Sabuguedo. 

Gui  s  Qui 

Guimaterra  e  Quimaterra  ou  Queimateirra ;  Guimbra  e 
Coimbra ;  Guinchães  e  Quinchães,  de  Quintianis,  patroní- 
mico de  Quititianus,  nome  rumano ;  Guinchoso,  Quinchosi- 
nho  e  Quinchousos ;  Quinjeira  de  Guinjeira  por  Ginjeira; 
Quinjeirinha  de  Guinjeirinha  por  Ginjeirinha,  etc.  povoações 
nossas. 

Gui  e  V\ 

Guilherme  e  Guilhermina  do  allemão  Wilhelm  e  VVilhel- 
mine  ^;  Guimarães  de  Vimaranus,  Vimarani,  Vimaranis;  Guis- 
soi  de  Vizoi?!.  .  .  antigo  nome  pessoal,  ut  supra. 

I  — caprichoso 

Alvaiázere  por  Alva  Azere ;  Buinhosa  e  Bunhosa ;  Olmos 
e  Olimos!...  Orijal  e  Grjal,  o  mesmo  que  Urgai,  Urjal  e  Ur- 
zal,  unde  Urzalão,  etc.  povoações  nossas. 

I  e  fli 

Cabrinha  e  Gabrainha;  Também  temos  Fetos,  Fieitos, 
Fentos,  Fitos  e  Faitos,  do  latim  fíhx,  feto  e  filictum  ou  filice- 
tum  —  fetal,  feital,  o  mesmo  que  Felgar,  Felgueira,  Felguei- 
las,  Folgosa,  Folgoso,  Folgosinho,  FoJgarosa,  Feiteira,  Fei- 
tosa,  etc. 

Fontinha  e  Fontainha;  Estevainha  por  Estevinha?  Pires 
e  Paires?  Quires  e  Caires;  Sinde  e  Sainde;  Sino  Saimão  por 
signo  Samão  e  este  por  Salomão?  Viamonte,  appellido,  e 
Vaiamonte.     Também  temos  Vide  Monte,  aldeia  e  freguezia. 


^    V.  Guillaame  em  Boucrand. 


TENTATIVA    KTYMOLOGICO-TOFON YMICA  461 


I   por  Ei  e  Ei   por  1 

Cf.  Almeida,  Almeidinha  e  Almidinha ;  Barbeita  e  Bar- 
beitas  de  barbita  e  barbitas?  —  Cide,  Side  e  Seide;  Cidòes  e 
Seidões  ;  Dirão  e  Deirão. 

Einez  Gonçalves  por  Ignez  Gonçalves. 

Doe.  da  CoUegiada  de  Guimarães,  da  era  1350,  —  Re- 
vista de  Guimarães,  vol.  '22,  n.o  1.  —  Janeiro  de  1907,  pag.  9. 

Estira  Manteus  e  Esteira  Manteus ;  Fijó  e  Feijó  ;  Fitos  e 
feitos,  ou  fieitos;  Fixoeira  por  Fijoeira  e  Feijoeira ;  Meão 
(o  povo  diz  mião)  e  Meiáo ;  Mira  e  Meira  ? 

Pias   e  Peias ;    Quires  e  Queires ;  Quiroga  e  Queiroga ; 
Tira    e    Teira ;   Tires   e   Teire,   singular   de   Teires ;  —  Tive, 
quinta,  e  Teive,  aldeia ;  Tapira  por  Toupira  e  Toupeira ;  — 
Torreilha    por  Torrelha,    Torrilha   ou  Torrinha  ;  Sirogato  e 
Ceirogato,  etc,  povoações  nossas. 

I  e  3 

Alçaria  e  Alcarja  por  Alçaria,  povoações  nossas ;  Aldeias 
e  Aldeijas  por  Aldejas,  antiga  forma  de  Aldeias. 

I,  3  e  y 

* 

Tijosa,  Tojosa  e.  Toyosa  por  Tojosa,  povoações  nossas 
que  tomaram  o  nome  do  tojo. 

I,  o  e  U 

Congosta  e  Quingosta;  Congostas  e  Quingostas;  Fijacos, 
Fojaco,  Fujaco  e  Fujacos;  Filhadella  e  Folhadella;  Filha- 
gosa  e  Folhadosa  por  Folhagosa,  como  Ferradosa  por  Ferra- 
gosa ;  Guiães  e  Goães ;  Lourizeila  e  Lourozella ;  diminutivo 
de  Lourosa;  Mintezello  e  Montosello;  Nigueira  e  Nogueira, 
etc.  povoações  nossas. 

I,  o  e  Oi,  U  e  Ui 

I  deu  ui,  como  ai,  ei  e  oi, 

Fortuir.hos  por   Fortinhos.     V.   Fortim  por  Fortinho  e 


462  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Forte.  V.  tb.  Fortunho  e  Fortunhos  por  Fortinho  e  Forti- 
nhos!...  Gramoinha  e  Graminha;  CTiimirães  por  Guimarães; 
Gundaes  por  Guindaes;  Portunhos,  Portinho  e  Portinos, 
quasi  Portinhos,  etc,  povoações  nossas. 

!  e  U 

Aguincheira^  Aguincho,  Aguncheiro  e  Agunchos  por 
Aguincheiro  e  Aguinchos;  Algeruz  e  Algeriz;  Almiiro  por 
Al-Miro?  Benevenuto,  nome  d'uTn  santo  e  nome  actual,  de 
Benevenitus,  Bemvindo,  que  deu  Bemvindo  e  Bemvinda,  tam- 
bém santos. 

Bitarães  e  Butaraens  por  Butarães,  de  Victorianis;  Bri- 
nheiro  e  Brunheiro;  Brinhola  por  Brunhola?  Caçapunho  por 
Caçapinho.  V.  Caçapps,  Cassapa  e  Cassapos,  povoações  nos- 
sas também. 

Derribar,  o  mesmo  que  derrubar,  é  portuguez  actual - 
Enxido  e  Enxudos;  Enxidro,  Enxudros  e  Enxuldro;  Fijacos 
e  Fujacos  por  Fojacos,  pequenos  fojos?  V.  Fojaco ;  For- 
tunho e  Fortunhos  por  Fortinho  e  Fortinhos,  o  mesmo  que 
Fortim  e  Fortuinhos,  povoações  nossas.  Gainde,  Guinde  e 
Gunde,  de  Galindns,  i,  ant.  nome  pessoal?  Também  Guinde 
e  Guindo  podem  vir  de  Gundesindus,  i. 

Gandim  e  Gandum?  Gadunho  por  Gadinho;  Garrido  e 
Garrudo,  appellidos,  Gçrducho  por  Gordicbo,  Gordinho. 
Confronte-se  Lagartixo  por  Lagartinhp;  Guilhufe  e  Vai  de 
Galhufe  por  Vai  de  Guilhufe:  Gnimarãcs  e  Gumirães,  pela 
graphia  Gimarães,  quando  gi  soava  gui,  como  ge  soava  gué. 

Guindaes  e  Gundaes,  do  castelhano  guinda  e  guindales, 
ginja  e  ginjaes.  Inxidro,  Inxudreiro  e  Inxudro;  Martinheira 
e  Martunheira.  Confronte-se  Mortinhaes,  Murtinhal,  Murti- 
nheira,  Murtede  e  Murtosa,  etc.  da  Murta  em  latim  myrtiis. 

Portinhos  e  Portunhos,  o  mesmo  que  Portinhos.  Con- 
fronte-se Porto,  Portinho,  Portinos,  o  mesmo  que  Portinhos, 
Portellinho,  Portellinhos,  Portozello,  Portouro,  de  Portolo, 
Portolio  ou  Portorio,  pequeno  porto,  etc,  povoações  nossas. 
Rebimbar  (provincianismo)  e  rebombar  ou  rebumbar. 

«Os  criados  e  criadas  hoje  estão  de  rebimba  o  malho!* 
—  dizia  um  meu  velho  sachristão  de  Miragaya  (Porto),  cen- 
surando os  criados,  como  dizendo  que  mereciam  grossa  pan- 
cadaria ! 

Rebimba  o  malho,  era  o  mesmo  que  rebombe  ou  rebumbe 


TENTATIVA    ETYMOLOOICO-TOPOVYMICA  463 


O  malho,  allusão  ás  obras  (muros  ou  casas)  feitas  sobre  esta- 
cas, metidas  a  malho. 

Rebombe  ou  rebumbe  o  malho,  queria  pois  dizer:  bata 
com  força !  faça  rebombar  o  malho ! 

De  bombo,  termo  onomástico. 

Simodães  por  Samodaes,  no  sec.  14.  Çumadaes  por  Ci- 
madaaes  ou  Cimadães  —  chãos  que  demoram  no  alto,  no  ci- 
mo ou  cume  d'uma  encosta  ou  ladeira. 

Tal  é  a  posição  de  Samodaes,  freguezia  do  concelho  de 
Lamego  e  titulo  de  Condado. 

Soutilho,  Soutinho  e  Soutulho  por  Soutilho ;  Themido 
e  Themudo,  appellidos.  Valdigem  por  Valdige  —  de  Valduge 
por  Vai  d'Uio. — Note-se  que  o  povo  diz  Valdige  e  temos 
Valduge  e  Valdujo,  povoações  nossas  também. 

I  e  U  por  E 

Penude,  freguezia  abundante  em  fragas  e"  penedos. — 
De  Penudo  por  Penido  e  este  por  Penedo.  —  Cf.  Peneda, 
Penida,  Monte  da  Penida  e  Penido,  povoações  nossas,  como 
Azevedo  e  Azevido,  Loureda,  Lourede,  Louredo,  Louriçal, 
Louridal  e  Lourido ;  Carvalheda,  Carvalhedo  e  Carvalhido ; 
Roboreda,  Roboredo  e  Robuido;  o  mesmo  que  Roborido, 
etc.  Junte-se  Cardai,  Cardida  e  Cardido  por  Cardeda  e 
Cardedo;  Cabeda  e  Cabedo;  Cabida  e  Cabido;  Sobreda,  So- 
bredo  e  Sobrido,  etc,  povoações  nossas. 

I  e  Uí 

Rival  e  Ruival;  Rivoz  e  Ruivoz. 

[  e  y 

Aiala  ou  Ayala  e  Ayalla,  appellidos  —  de  Ahala,  cognome 
da  familia  romana  Servilios  —  Dicdonario  Clássico.  Arroio, 
Arroyo  e  Arrayolos  por  Arraiolos;  Caiado  e  Cayado;  Meira 
e  Meyra. 

Iço  e  Ido? 

como  aça  deu  ada. 

Confronte-se  Cortido  por  Cortiço;  como  Cortegaça  por 
Cortegada  e  este  por  Cortiçada,  que  já  se  escreveu  Corticada. 


464  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Ida,  Ido,  Iga,  Igo 

Confronte-se  Cardeda,  Cardida  e  Cardiga;  Cardedo, 
Cardido  e  Cardigos,  plural  de  Cardigo ;  Loureda,  Lourido, 
Loridos,  Loriga  e  Lorigo,  povoações  nossas.  Também  temos 
Pedreda,  Pedrego  Pedrido,  que  auctorisam  as  formas  Pe- 
dredo  e  Pedrego,  Pedrido  e  Pedrigo. 

Ido  por  Ijo  ou  Igo 

Montido  e  Montijo,  povoações  nossas,  notando-se  que 
Montijo  veio  da  Hespanha,  onde  se  lê  Montigo.  Também 
temos  Tourigo  e  Tourido  por  Tourigo? 

II  e  IlE 

Vermoim,  Vermoil,  Vermil  e  talvez  Fermil  por  Vermil; 
e  Formil  por  Vermoil?  De  Verermindinus,  /,  diminutivo  de 
Vere7nundus,  i,  que  também  deu  Bermudo  e  Bermudes. 

Im  e  Inho 

Agostem  por  Agostim  e  Agostinho.  Confronte-se  Magos- 
tim;  Alcoutim  e  Coutinho;  Chaim,  appelido  \  Larim  e  Lari- 
nho;  Martim  e  Martinho;  Picotim  e  Picotinho ;  Quatrim  por 
Quartim?  Confronte-se  Quartínos;  Eebolo  e  Rebolim,  de  re- 
bolinho !  Requim  e  Requina  lembram  réquinho  e  réquinha?!... 

Samarím  e  Samarinho  ?  Samorim  e  Samorinha;  Sandim 
e  Sandinho;  Santar,  Santarém  por  Santarim  e  Santarinho?!... 
Sarrazim,  Serraquim  por  Serracim  e  Serraquinhos  por  sar- 
racinos,  sarracenos?  Sendim  e  Sendinho;  Senhorim  e  Senho- 
rinha; Sepinho  e  Sepins  por  Sepinhos;  Sezim  e  Sezinhos: 
Thomazim  e  Thomazinho ;  Thourim,  Tourim  e  Tourinho ; 
Trancoim  por  Trancosim  e  Trancosinho,  etc.  povoações 
nossas. 


^    Confronte-se  Xaim  e  Xainho,  povoações  nossas. 


TENTATIVA     KTVXfOr  nr;Trr.  TOPr,VYMTnA  465 


Ins  por  Inho5 

Pitins  por  Pitinhos,  Pintainhos?  Também  temos  Pin- 
tim,  Pintem  por  Pintim  e  Pintens  por  Pintins,  povoaçOes 
nossas. 

I5  e  Ins 

Barrins  e  Barris,  plural  de  Barril;  Bezerrins!  Confronte- 
se  Bezerral  e  Bizarril!  Cabris  e  Cabrins;  Esmorins  e  Esmo- 
riz; Mouriz  e  Mourens  por  Mourins;  Ruins  de  Ruiz;  Rodri- 
gues, como  Roriz,  contracção  de  Róderiquiz,  patronim.  de 
Rodericus,  que  deu  também  Roligo,  povoação  nossa. 

3  e  Z 

O  povo  diz  Campo  da  Jezua  em  vez  de  Jejua,  o  mesmo 
que  Gigua,  povoações  nossas;  Bojorreira  por  Bezerreira,  7d 
supra;  Java  e  Zava ;  Joio  e  Zoio,  se  é  que  Zoio  não  vem  de 
Zoilo;  Jorjaes  e  Zorzaes  ou  Zurzaes ;  Juzarte  e  Zuzarte ; 
Tosar,  Tozal  e  Tuzar  por  Tojal?!...  Urjal  ^  Urzal,  etc,  po- 
voações nossas. 

3a,  Cfia  e  Xq 

Javier  na  Hespanha.  Xavier  e  Zaviel  em  Portugal.  Tam- 
bém temos :  Chaim  e  Xaim,  Chainça  e  Xainça,  Chainha  e 
Xainha,  Cbainho  e  Xainho,  Chambôa  e  Cbambona,  Charnaes 
e  Xarnaes,  Chasqueira  e  Xasqueira,  Gerez  e  Xerez,  povoa- 
ções nossas.  O  povo  também  diz  —  deijar  por  deixar. 

3a  e  Ga 

Tugal  por  Tojal,  etc,  povoações  nossas. 

3a  e  hha 

Camajam,  Camalhão  e  Camalhões;  Caneja  e  Canelha ; 
Carvajal,  appellido,  e  Carvalhal,  Majapão  por  Malha  pão; 
Majôa  e  Malhoa?  Olalhas  de  Olajas,  actualmente  Olaias; 
Quèjas  e  Quelhas;  Zambujal  e  Zambulhal,  povoações  nossas. 

30 


466  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 

3é  e  Che  ou  Xe 

Peijes  e  Peixes,  etc,  povoações  nossas. 

3c  e  Gue 

Tugueira  por  Tojeira,  povoações  nossas,  Gonfronte-se 
Tugal  por  Tojal,  supra. 

3é  e  Zé 

Cliorozeira  por  Corujeira;  Mojes  e  Mozes,  etc,  povoações 
nossas. 

3o  e  Go 

Brejos  e  Bregos;  Togo  por  Tojo,  etc,  povoações  nossas. 

3o  e  Xo 

Ameijoafra  e  Ameixoafra,  povoações  nossas,  como  Amei- 
joafa  por  ameixoada? 

3o  G  Zo 

Confronte-se  Joel  e  Zoei,  santos,  etc. 

3u  e  Gu 

Jobim  e  Gubim,  de  Jiibino;,-,  i,  Jabino,  nome  dum  santo, 
etc.     Jubina  nome  de  mulher. 

3u  e  Zu 

Jurzaes  e  Zurzaes,  o  mesmo  que  Jorjaes,  Orjaes  e  Ur- 
jaes!...  Juzarte  e  Zuzarte,  etc,  povoações  nossas. 

b—  cafiíndo 

Adito  e  aido?  Borrainho  por  Borralinho  e  este  por  Bar- 
ralinho.  Confronte-se  Borrai  por  Barrai;  Cardai,  Cardalinho 
e  Cardainhoí  Carregainho  e  Carregaliuho;  Casal  de  S.  Juyaão 
por  S.  Julião. 


TENTATTV  \     F'IY  MOLOGICO  TOr  OVY^íTrA  4fí7 


Documento  da  Collegiada  de  Guimarães  da  era  1850. 

Casalinho,  Casalinhos,  Casainho  e  Casainhos  por  Casali- 
nho  6  Casalinhos,  povoações  nossas;  Certainha  por  Cercai- 
nha,  de  Cercalinha,  diminutivo  de  Cercal,  carvalhal?  Oervai- 
nhos  por  Sorvainhos,  de  Sorvalinhos.  Confronte-se  Sorvai. 

Nabainhos  por  Nabalinhos ;  Novalinho  e  Novainho ;  Par- 
dainhos  por  Pardalinhos;  Silvella  e  Sivella ;  Sobradinho,  So- 
bralinho e  Sobrainho;  Solidão  e  soidão  (ant.);  Troviscainho 
por  Troviscalinho,  etc,  povoações  nossas. 

bem 

L  e  m  inioiaes  também  por  vezes  se  substituiram  como 
l  e  n.  Confronte-se  Lamarosa  e  Mamarosa.  Desatrelar  e  des- 
atremar  por  desatrelar,  pois  l  e  m  corifandiram-se  e  substi- 
tuiram-se. 

O  snr.  Cândido  de  Figueiredo  vb.  desatremar  —  perder 
o  tino,  desarvorar,  desviar-se  do  bom  caminho,  diz: — «é  uma 
expressão  popularissima  cuja  origem  desconheço.  O  sentido 
liga-se  ao  de  desatrelar,  mas  duvido  do  parentesco  dos  dois 
vocábulos. » 

O  parentesco,  na  minha  opinião,  é  a  identidade,  apenas 
com  a  trivial  substituição  de  I  por  m,  como  já  dissemos. 

O  mesmo  senhor  no  Supplemento  dá  atremar  por  atermar 
—  de  termo  —  e  desatremar  como  vindo  de  des -|-  atremar. 
Prosigamos. 

Ladroeir^i,  Madroeira,  Madroneira  e  Medronheira,  dos 
medronhos;  Ladrugães,  Madruga  Nova.  Madruga  Velha  e 
Madruguinha;  Lembrar  de  membrar  e  este  do  latim  memo- 
rare,  como  diz  Figueiredo,  ou  antes  do  toscano  memhrare  — 
lembrarse.  No  tosoano  ha  também  mernoranza  —  memoria, 
lembrança.  — V.  Las  Casas  ^. 

Lúcio  e  Luciano,  Mucio  Muciano,  nomes  de  santos,  etc. 

h,  m  e  n 

Confronte-se  Landim,  Mandim  e  Nandim  de  LandeJinus, 
i,  nome  d 'um  santo.     A  Hespanha  tem  Mandim  e  Nandim 


1    Veja-se  também  o  tópico  Diapasão  Toscano,  na  primeira  parte 
d'esta  minha  louca  Tentativa,  paginas  45  a  57. 


468  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


(na  Gallisa),  mas  não  tem  Landim.  Confronte-se  tambam 
ril,  rim  e  rins  do  latim  ren,  enis,  e  no  plural  renes,  unde  o 
portuguez  rilada  em  vez  de  rinada?!...  Junte-se  Loura,  Mou- 
ra e  Noura,  etc,  povoações  nossas. 

b  e  n  iniciaes 

Já  vem  do  tempo  dos  romanos. 

Aldeia  de  Nacomba  por  La  Comba  —  a  Comba  ou  pom- 
ba. Confronte-se  Laboucinho  por  Laboucinha?  Laeira,  por 
La  Eira,  Lacerda,  por  La  Cerda;  Labrunhal  por  L' Abrunhal? 
ou  Lo  Abrunhal?  Casal  da  Nabôa  ou  d'Anna  Bôa,  talvez  de 
Dona  Bôa?! .  .. 

Eleutherio,  santo^  o  Leutel,  appellido,  Neoterio  ou  Neute- 
rio  e  Neutel,  santos,  etc.  o  mesmo  talvez  que  LutJiero.  Labão 
e  Nabão,  rio ;  Labnco,  appellido,  e  Nabuco. 

Laceira,  Laceiras,  Laceiros  e  Naceiros ;  Laços  por  Na- 
cos, o  mesmo  que  naças?  Confronte-se  Lamprieira,  Pesquei- 
ra, Peixe,  Peixe  Cerne,  Peixeira,  Peixeiro,  Peixinhos,  Pei- 
xota, Pexoto,  Peixotos,  Bacalhau  e  Bacalhóa. 

Lagido  por  Lagêdo  e  Nazido  por  Nagido  e  Lagido? 
Lamorello  ou  Namorello  e  Namosello  ou  Lamoselio;  Landim 
e  Nandim;  Landufe  e  Nanduíe;  Laranja,  Laranjeira  e  Laran- 
jo;  na  Hespanha  — Nararija,  Naranxeira  e  Naranjo,  varias  po- 
voações. 

Lavios  por  Navios,  nos  concelhos  da  Povoa,  Espozen- 
de,  etc.  Leão  e  Neáo,  santos,  Lebrijo  e  Nebrijo,  appellidos. 
Lebução,  aldeia,  de  Nepociano,  santo;  Leiva  e  Neiva,  appel- 
lidos.    Lello  e  Nello ;  Léo,  aldeia,  e  Néo,  santo  e  casal. 

Leodegarius  (Lodegero?)  e  Neodegarius.  «En  tercer  lu- 
gar sucedio  —  S.  Neodegario,  monge  professo  d'esta  casa, .  . . 
O  bispo  de  la  ciudad  de  Augusta...»  Yepes,  3.°  — -  236,  2.» 

Leonisia  e  Leonisio,  appellidos  e  nomes  pessoaes  —  Neo- 
nisia,  nome  d'uma  santa,  e  Neonisio,  appellido ;  Leopoldo  e 
Neopoldo,  santos;  Leveda,  forma  pop.  de  neveda;  Liceia, 
talvez  de  Niceia;  Licha  e  Nicha;  Lisga  por  Lisca  e  Nisca; 
Livel  e  Nivel,  do  latim  libella;  Li  velar  e  Nivelar. 

Ló  e  Nó,  appellidos,  Lobazes,  plural  de  Lobaz  e  Novaz; 
Lobelhe  e  Novelhe;  Lobios  na  Hespanha  e  entre  nós  Loivos 
e  Novios  por  Lobios  —  Loivos? 

Lodão,  Lodeiro,  Lodeiros  e  Nodeirinhos  por  Lodeiri- 
nhos,  nomes  tirados  do  lodo  ou  dos  lodos.     Confronte-se  Lo- 


TKNTATTVA     ETYMOLOGTCO-TOPOXYMTCA  469 


deiro,  sitio  da  minha  Penajulia  com  duas  quintas,  na  margem 
esquerda  do  Douro,  mesmo  em  frente  das  Caldas  do  Molledo, 
e  note  se  que  na  minha  Penajoia  houve  muitos  e  grandes 
lodãos  ou  lodos!.  ..  Eu  ainda  vi^lguns. 

Note-se  também  que  no  sitio  do  Lodoeiro  não  ha  Indo. 

Lodar  (Lodares)  e  Nodar;  Lo:não  e  Numão ;  lomear, 
forma  popular  de  nomear;  Loronha  o  Noronha,  app*^iiidos; 
Lorvão  e  Norbanus;  Luval  por  Lobai  e  alifjuando  Nov.nl  por 
Lobal?  Luzellos  e  Nuzellos,  povoações  noysas;  Lynipha  — 
agua  —  e  Nympha  deusa  das  aguas;  membrar.  hoje  leiobrar; 
Nacomba  de  Anna  Comba  ou  de  La  Comba  ou  de  D.  ('omba? 
Nagalho  ou  negalho,  do  aragonez  ligallo  (lê-se  ligalho),  liga, 
atilho,  cordel,  negalho  I.  .  . 

Do  mesmo  ligallo  pôde  vir  lagalhé  — pessoa  insignificante, 
jagodes,  badameco,  bisbórria. 

Ligallo  <l'lagaího  <  lagaihé,  -  uma  semelhança  de  na- 
galho  ou  nagalhinho  podre  e  pequeno^  sem  valor  algum. 
Covarrubias,  vb.  Mesta. 

Nagodinho  por  Nagosinb.o,  Nagoseia  o  Nagosa  por  La- 
gosinho,  Lagosa,  Lagosella  e  Lagoso?  Confronte-se  Lago, 
Lagoa,  Lagoaça,  Lagoaceiro,  Lagoços,  Lagoeiro,  Lagoella, 
Lagoiços,  etc.  Nagosa,  Nagosella  e  Nagosello,  de  Lagosa, 
Lagosella  e  Lagosello. 

Nebrijo  por  Lebrijo  o  mesmo  que  Lebrinho,  povoação 
nossa;  Nevogilde  e  Novegilde  de  Leovigilde;  Nobancha  por 
Lobancha  —  loba  grande,  ancha;  mas  Nobancha  por  Noban- 
cho  pôde  vir  de  Noval  ancho. 

Nodar  e  Lodares  plural  de  Lodar;  Nodeirinhos  por  Lo- 
deirinhos.  Confronte-se  Lodeim  e  Lodeiros;  Norbana.  Nor- 
bano  e  Lorvão  por  Norvão  '  ?  Nordello  (por  Lordelln),  pe- 
quena povoação  entre  Queluz  e  BemfioH,  no  aro  dt>  Lisboa. 
Noronha,  appellido  e  aldeia,  de  Lorofn,  povoRçã'~»  da  Hespa- 
nha  em  Huesca,  como  Loroiio,  na  Viscaia. 

A  Hespanha  não  tem  povoação  alguma  denominada  No- 
rofia  (Noronha).  Noura  por  Loura  e  este  por  Lonreira.  Con- 
fronte-se Loureira.  Loureiro  e  Louro,  povoações  r^ossas; 
Novato,  Novata  e  Loba  ta?.  .  . 


^    Mas  Lorvão  pôde  vir  de  laurus-vanus  —  loureiro  vão,  ôco,  já  car 
comido. 


470  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


h  2  n  mediaes 

Alcolena  por  Alcaleaa  |  Alcanena;  Aloqiies  da  Biquinha 
no  Porto,  por  anoqu^-s.  De  anoque,  vasilha  ou  tanque  para 
curtir  couros.  Note  f^e  que  os  Aioques  da  Biquinha  eram 
restos  de  cortumes,  como  provam  o  Largo  dos  Pelames  e  a 
rua  dos  Pelames,  pouco  distantes  dos  taes  Aioques. 

Avellal  e  Avenal;  Avelleda  e  Aveneda;  Bononia  e  Bo- 
lonha, cidade  da  Itália,  etc.  Cabril,  Cabris  e  Cabrins  por 
Cabrils,  fÓrma  de  Cabris,  na  Hespanha;  Casalito  e  Gasanito ; 
Fraguil  e  Fraguins  por  Fraguis  e  Fraguiis? 

Monfaiiai  e  Monfanim  ;  Taboleda,  Taboleiros  e  Tabonei- 
ra  por  Taboieira?  Taboneira  por  Taboleira  é  o  mesmo  que 
Tabosa  por  tabulosa,  e  Taboeira  do  latim  tabula  —  taboa 
unde  Taboa  e  Távora  por -Tabula,  o  mesmo  que  Taboa. 

Tello,  Tellões,  Tenães  e  Tenões,  de  j  ellus,  Tello,  antigo 
nome  pessoal,  como  Toulões  por  Tolões  e  este  por  Tellões  ? 
povoações  nossas;  Virgilio  e  Virginio,  nomes  pessoaes,  são 
talvez  formas  do  mesmo  nome,  como  Zilia  e  Zinia,  nomes 
pessoaes  também. 

b  e  R 

Abbade  de  S.  Crimente  por  S.  Clemente.  —  Doe.  da 
Collegiada  de  Guimarães  da  era  de  1388,  (a  13õ0)  —  Albo- 
ritel  por  Arboritel?  Alfarellos  por  Alfareros  —  oleiros;  Al- 
mansor  e  Armaçor  por  Armançor?  Avellar  e  Avellal ;  Alvellos 
e  Arvellos. 

Alvre  e  Arvore;  Avenal  e  Aveneda  por  Avellal  e  Avel- 
leda e  estes  por  Avelleiral  e  Avelleireda;  Azuleirai  por  Aço- 
reiral;  Bernaldo  e  Bernardo;  Borrões  (Olival  dos)  e  Monte 
dos  Bolrões;  Burlateira  por  Borrateira  ou  Barrateira.  Con- 
fronte-se  Borrazeira,  Bustello,  Bustellos  e  Bustarenga.  Junte- 
se  Brácala  por  Brácara,  no  sec.  12.  ' 

...sede  sancte  marie  de  hracala... 

Doe.  n.o  74,  do  anno  1124,  no  Vimaranis  Monumenta, 
parte  l.a,  pag.  74.  Também  na  minha  opinião  tabula  deu 
Távora,  como  Bracara  deu  Bracala;  Casalão  e  Casarão;  Casi- 
mira, Casimiro,  Casmillo,  Creixomil  Queixomar,  Queixomil, 
Pasmai,  Pasmil  (;  PosmilVl...  povoações  nossas.  De  Casimi- 
rus,  i,  --  Casimiro,  nome  d'um  santo,  etc. 


TENTATIVA    ETYMOLOGTCO-TOPONYMICA  47 1 


Casimiro,  em  francez  Casimiro  vem  do  slavo  e  significa 

—  homein  celebre,  ou  senhor  da  casa.     V.  Boucrand. 

Somma  e  segue: — Catalina  por  Catharina.  —  Doe.  da 
Collegiada  de  Guimarães  —  sec.  14.  —  (Catalina  Fofenso,  ibij. 

Já  os  clássicos  latinos  escreviam  Palilia  e  Parilia  — 
festas  da  deusa  Pales,  deusa  dos  pastores.  —  Palilitium  e  Pa- 
rilicium  o  sete  estrello.  —  Magniun  Lexicon. 

Clina  e  crina;  Coulella  e  ÍJoarella;  Conlellas  por  Coulel- 
las  e  (?ourellas,  povoações  nossas. 

Escurquella,  de  Esculquella,  diminutivo  de  esculca  — 
atalaia ;  Fancaria  e  Fancalhia  por  Fancalia,  o  mesmo  que 
Fancaria?  .  .  Flariz,  Frariz  e  Freiriz,  de  Fraderiquiz  por 
Frederiquiz,  patronimico  de  Fredericus,  iqui,  uude  Fradique, 
appellido,  etc,  e  Frique  por  Fradique,  appellido  nosso  tam- 
bém. Fleirinhas  por  Freirinhas. 

Fulmino  por  Firmino,  nomes  de  santos ;  Geraldo  e  Ge- 
rardo; Golpilhares  de  Golpilhales,  Golpilhaes;  Pombares  de 
Pombales,  Pombaes.  —  Também  temos  ai  e  ar,  que  podiam 
dar  Golpilhal  e  Golpilhar,  Pombal  e  Pombar,  como  Avellal 
e  Avellar,  Marmelal  e  Marraelar,  Cebolal  e  Cebolar,  etc,  po- 
voações nossas. 

Também  temos  Casal  e  Casares  por  Casales  —  Casaes. 
Gorreta  e  Gulreta  por  Gurreta,  povoações  nossas;  Lagoa  de 
Rabarrabos  e  Lagoas  de  E-abarrabos  por  Lava  Rabos.  Con- 
fronte-se    Lava    E-abos,    aldeia,   e   Rabarrabos,   duas   aldeias. 

Mello,  Merlo  e  Melro ;  Milleu  por  Mirleu,  o  mesmo  que 
Milreu  e  Milrico  por  Melrico.  —  Dos  melros.  ~V.  Mello  e 
confronte-se  Milharico,  Burnico  por  Burrico,  Pocico,  etc. 
Monte  dos  Bolrões  por  Borrões;  Natália,  santa,  e  Nataria, 
aldeia. 

Junte-se  ainda:  Peliquito  e  Periquito,  appellidos  actuaes; 
Pombares  por  Pombales  —  Pombaes;  Portouro  de  Sangalhos, 
de  Portolio  de  Sangalhos?  Confronte-se  Radoal  por  Ladoal 
e   este  por  lodoal  ou  lodoeiral,  como  Ladoeiro  e  Lodoeiro, 

—  dos  lodos  ou  lodãos,  arvores. 

Raimundo  e  Laimundo,  o  bordão  de  Brito ;  Rameiro  e 
Lameiro;  Rosália,  vulgo  Rosaria;  Roligo  e  Rorigo,  o  mesmo 
<^ue  Rodrigo;  Saldoura  por  Sardoura. 

Solveira  por  Sorveira? — Das  sorvas.  —  Confronte-se 
Sorvai,  três  povoações  nossas.  Sirarelhos  por  Villarelhos '?  — 
Taboa  e  Távora  por  Tabula;  Vernaldo  por  Bernardo,  como 
Bernaldo,  etc,  povoações  nossas. 


472  TENTATIVA    ETYMOLOGTCO-TOPONYMICA 


b  e  5^ 

Abbadim  e  Sabbadim  por  L'Abbadim,  de  Labbadira  por 
Al-Abbadim?  Almedina  em  Portugal,  e  na  Hespanha,  Salme- 
dina  (por  Lalmedina?)  na  Hespanha;  Laboriz,  Lavariz,  Lavo- 
riz,  Sabariz  e  Savariz?! 

Lago  e  Sago;  Lameira,  Lameiras,  Lameiro  e  Sameira, 
Sameiras,  Sameiro?  Laminho  ou  Saminho  e  Saminho;  Lan- 
dal  e  Sandel  por  Sandal?  Landeiro  e  Sandeiro;  Landim, 
Nandim  e  Sandim? 

Lapa  e  Sapa;  Lapaduços  e  Sapaduços  por  Lapaduços ; 
Lapeira  e  Sapeira;  Lapeiro  e  Sapeiros;  Lapinha  e  Sapinha; 
Lardeira  e  Lerdeira  —  Cerdeira  e  Sardeiras,  plural  de  Sar- 
deira — das  cerdeiras — Lardoeira,  Sardoeira,  Sardoira  e  Sar- 
doura.  —  Dos  sardões. 

Também  Lardeira  pôde  ser  contracção  de  Lardoeira, 
como  Sardeira  e  Sardeiras  podem  ser  contracção  de  Sardoei- 
ra e  Sardoeiras,  povoações  nossas;  Larjal  ou  Sarjal,  Sargeal 
e  Sarjal  ou  Larjal,  Serigal  e  Serjal.  De  Laranjal  e  Cerejal, 
povoações  nossas  tiradas  das  laranjas  e  das  cerejas. 

Lavadouro,  Levadouro  e  Sebadouro ;  Lavariz,  Sabariz  e 
Savariz.  Junte-se  ainda  —  Ledesma  e  Lederma  (o  povo  tam- 
bém diz  Sedesma).  Ledões  e  Sedões;  Ledouro,  Sedoura, 
Sedouro  e  Sedouros;  Leiros  e  Seiros. 

Leixões  por  Seixões!  Confronte-se '  Seição  de  Baixo, 
Seição  de  Cima  e  Seixão;  Leixosa  e  Seixosa;  Lemede,  Se- 
mide  e  Semedo,  appellido  quasi  Semede;  Lemenhe  e  Seme- 
lhe, por  Semenhe,  pois  Ih  e  nli  confundiram-se ;  Lente  e 
Sente,  appellido;  Leomil,  Solmil  e  Sumil,  v.  Lomar  ^. 

Lercas,  aldeia,  Cerca  e  Cercas;  Lerdeira,  Cerdeira  e 
Serdeira;  Leside  e  Sezite,  de  Le  Sid?  Lesteiro  e  Cesteiro, 
aldeias ! . .  .  Lever  e  Sever;  Libães  por  Libões  e  Cibões. 

Lidadelha  e  Cidadelha;  Linhaceiros,  Linheiro  e  Cinhei- 
ros;  Lizandro,  nome  grego,  e  Sizandro  por  Lizandro,  rio  de 
Torres  Vedras,  ut  alibi;  Lobreiro  e  Sobreiro ;  Lomar  e  Assu- 
mar  de  Al  e  Somar  por  Lomar,  de  Leodomirus,  i,  que  deu 
Leomil  e  Loumar. 

Lopo  e  Sopo?  Loridos,  Lourido  e  Chorido?  Chorido  é 


^    Este  tópico  é  áspero,  mas  talvez  seja  acceitavel !  —  Fiat  lux, 
-    De  Leodomirus,  i,  nome  germânico. 


TENTATIVA    ETYMOLOOICO-TOPONY.MTCA  478 


forma  callaica  de  Sorido  por  Lorido  ou  Lourido,  o  mesmo 
que  Louredo  por  Loureiredo.  Loure  e  Soure ;  Lourinhos  e 
8ourinho ;  Louro  e  Souro ;  Lousa  e  Sousa ;  Louseiro  e  Sou- 
zeiro  ?  Lousella  e  Souzella  ^. 

Somma  e  segue :  —  Quinta  da  Leixada,  aldeia,  por  Quinta 
da  Seixada,  o  mesmo  que  Seixeda,  povoação  nossa  também. 
Sabordella.  Confronte-se  Saportella  na  Hespanha^  talvez  for- 
ma de  Laportella,  por  La  Portella,  povoação  da  Hespanha 
também. 

Note-se  que  a  Hespanha  tem  29  povoações  denominadas 
Portella  —  todas  na  Gálliza;  fora  da  (J-alliza  tem  Portella 
Portellada,  Portiella,  Portilla,  Portillo,  ete.  Saportella  está 
em  Lerida  bem  como  Laportella.  Laportella  enoontra-se  no 
meu  Diccionario  geographico  da  He,s'panha,  pag.  Iõ2,  col.  2.* 

Sapaducos  por  Sapaduços?  e  este  por  Lapaduços  -—lapa 
d'ursos?  Confronte-se  Peraduça  —  pedra  da  ursa?  Sarrabina 
por  Larrabina  e  este  por  Ia  ravina  —  a  ravina?  S.  ('olmado  e 
S.  Cosmado,  etc,  povoações  nossas. 

b  e  T  iniciaes 

Lagoeiro  e  Tagoeiro;  Lourencinho  e  Tourenoinho  por 
Lourencinho  ? 

bh  e  nh 

Lha,  lhe,  Ihi,  lho,  Ihu,  por  nha,  nhe,  nhi,  nho,  nhu. 

Assilhô,  de  Azinho  por  Azinheirola,  Azinheirinha.  Con- 
fronte-se Azilheira,  Azinheira  e  Azinheirinha,  povoações 
nossas.  Note-se  que  lhe  e  nh  se  confundiram  e  substituí- 
ram, como  l  e  n,  Confronte-se  Avellal  e  Avenal,  Avelleda  e 
Aveneda,  etc.  Azelha  e  Azenha  são  formas  do  mesmo  nome, 
como  Azilheira  e  Azinheira. 

Baganha  e  Bagalhinha  por  Baganhinha;  Balhadouro  e 
Banhadouro ;  Baralha  e  Baranha;  Bicalho  e  Bicanho. 

Bilhão,  Bilhar  por  Bilhal,  Biihó,  etc,  de  Vinhão,  Vinhal 
e  Vinho...  Calçadilha  e  Calçadinha,  appellido  portuguez;  Ca- 
rapilheira  e  Carapinheira,  são  formas  do  mesmo  nome;  Cha- 
pilhar,  o  mesmo  que  chapinhar,  dialecto  popular  transmon- 
tano; Coelheiros  e  Coenheiros. 


Sousa,  etc,  também  podem  vir  do  baixo  latim  saúda —salgueiral. 


474  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Cortinho  e  Cortinhos  por  Cortilho  e  Cortilhos  —  Cortê- 
Ihos?  Cuvinhó  por  Ouvilhó.  Vide  Covilhó;  engalfilhado  e 
engalfinhado;  engalfilhar  e  engalfinhar;  Fernandilho  e  Fer- 
nandinho,  povoações  nossas;  Figarillia  e  figurinha;  Fornilhos 
e  Forninhos,  povoações  nossas.  Godilho  e  Godinho,  appellido  ; 
Ilha,  Inha  e  Inha  ou  Ilha !  Lilhares  e  Linhares. 

Junte-se  ainda  —  Juromenha;  no  século  16  ~  Jurome- 
Iha.  como  se  lê  no  Livro  das  Fortalezab-,  de  Duarte  d'Armas. 
Paralheira  e  Paranheiras  (Villarinho  das);  Povoa  da  Polvi- 
nheira  por  Povoa  da  Polvilheir^í.  Prulhal  e  Prulheira,  são 
formas  de  prunhal  e  prunheira,  do  latim  prunus,  ^,  o  abru- 
nho. Confronte-se  Brunhal  e  Brunheira,  povoações  nossas, 
aferese  de  Abrunhal  e  Abrunheira,  povoações  nossas  também. 

Rasquilha  e  Rasquinha;  Selhariz,  Senharei  e  Senhariz, 
de  Seniorinus,  i,  is,  que  deu  também  Senhorim,  Senhorinha  e 
Cannas  de  Senhorim.  Confronte-se  também  engalfilhado  e 
engalfinhado,  engalfinhar-se  e  engalfilhar-se,  nomes  communs 
portuguezes. 

1."  — De... 

Vide  o  Novo  Diccionario,  do  Snr.  Cândido  de  Fi- 
gueiredo. 

2. o  —  Do  antigo  portuguez  filhar,  agarrar  á  força;  en- 
galfinhado e  engalfinhar-se,  vêem,  pois,  de  engalfilhado  e 
engalfilhar-se. 

Soutilha  e  Soutinha,  Soutilho  e  Soutinho;  Telheiros  e 
Tenheiros;  Vilha,  cavSf.l,  de  Vinha,  pois  lhe  e  nh  confundi- 
ram-se,  como  em  Bilhó  por  Vinho,  Vilheiro  e  Vinheiro,  Vi- 
Ihelho  por  Vinhelho,  Vilhões  por  Vinhões  e  este  por  Vinhei- 
rões,  pi.  de  Vinheirão,  aldeia  nossa. 

Junte-se  finho  por  filho,  como  já  ouvi  dizer  no  Douro. 

(Tl  —  cafiindo 

Cuibranitos  por  Coimbranitos ;  Cuibrans  por  Coimbrans, 
Confronte-se  Coimbra,  Coimbrã,  Coimbrães  ou  Coimbrões, 
Coimbrão,  Coimbró,  Coimbrões,  etc,  povoações  nossas. 

(Tl  por  n  e  Dice-Dersa 

Confronte-se  o  latim  botânico  de  Cicero  e  Tournefort, 
nastiiriiiim  o  mastruço  planta  hortense.  Alecrimes  por  Ale- 
crines;  Avellanoso  e  Vellamoso  por  Vel lanoso,  o  mesmo  que 


lENTATIVA  ETyMOLOGICO-TOPON  VMICA  47Õ 


Avellanoso^;    Camoça    e    Canoça,    appellidos;    Cotácoa    por 
Co  tau  a? 

Uunfronte-se  Coutanâ;  Mandim  e  Nanrlim,  de  Landim! 
Mavandeira  ou  Alavaiideira  por  Lavandeira?  Mazes  e  Nazes ; 
Mazo  e  Nazo  (santuário  transmontano  da  Senhora  do  Xazo). 

Mogrão,  Mogueira.  Mogneiràes,  Mogueiras  e  Mogueiri- 
nha,  da.s  nogueiras;  Moía  o  Noia,  appellidorf;  Nazido  de  Ma- 
zido.  Confronte  se  Macido  por  Mazido,  de  Manzanido  por 
Manzanedo.  Confronte-se  tarabem  Mazeda,  feminino  de  Ma- 
zedo,  rua,  fonte  e  quinta  de  Lamego. 

Nomedo  por  Namede  e  esto  por  Mamede. 

«Emprazameato,  em  três  vidas,  dos  moinhos  da  fregue- 
zia  de  S.  Nomede  daldã, .  .   » 

Doeumí-nto  da  CoUegiada  de  Guimarães  do  anno  1B4Í,*, 
na  Revista  de  Guimarães,  vol.  2o. *^,  pag.  lõ.  A  freguezia  de 
S.  Nocnéde  daldã  ó  hoje  a  freguezia  de  S.  Mamede  d'Aldáo, 
concelho  de  Guimarães. 

Vai  das  Areraas  por  Vai  das  Arenas  —  areias.  Coníroute- 
se  Vai  de  Areia,  povoação  nossa  também. 

m  e  P 

Malheiro,  Malheiros,  Palheiro  e  Palheiros;  Maral,  Parai 
e  Peral;  Maranhão  e  Paranhão ;  Marreco  e  Parréco ;  Messa- 
gães  por  Messegáes  e  Pecegães,  Pecegueda,  Prezegueda,  por 
Pecegueda,    Pesseguido   por   Peceguedo  —  pecegueiredo,    etc. 

Mortágua  o  Portagua;  Portagide  por  Mortagide,  Morta- 
zide,  Mortazede  ou  Murtazede,  o  mesmo  que  Murtede,  po- 
voação nossa,  como  também  Murtal  e  Murtosa.  Coafronte--se 
Mortazel   por  Murtazal  e  este  por  Murtaçal  —  unde  Murtal. 

Somma  e  segue. 

Maforinha,  Mafra  e  Pafora?  Mairos  e  Pairo;  Marachão  e 
Parachão;  Meloal,  Molual  o  Peloal  por  Meloal :  Montai  e 
Pontal;  Montão  e  Pontão;  Montega  e  Pontega;  Monteira  e 
Ponteira;  Montesella  e  Pontisella;  Montesello,  Pontisellos  e 
Monteserros  por  Montesellos? 

Montido  e  Pontido!  Montilhão  e  Pontilhão;  Passadas  por 
Maçada  e   Maçadas;  Portagide  poi  Murtagide,  o  mesmo  que 


^    Avellames,  rio  das  Pedras  Salgadas.    E'  ama  forma  de  Avelanes 
por  Avellanas. 


476  TENTATIVA    ETYMOLOGIOOTOPONYMICA 


Murtazede  e  Murtede.  Confronte-se  Morgido  por  Mortagido, 
Portagide  e  Portagido ;  Ribeira  dos  Pelrinhos  por  Meiri- 
nhos? etc.  povoações  nossas. 

m  e  T 

Confronte-se  o  portuguez  popular  tarreca,  tarreco,  tar- 
requinha,  tarreqninho  —  e  marreca,  marreco,  marrequinha  e 
marreq ninho,  unde  Marécas,  Maréco,  Marécos  e  Marrecos, 
povoações  nossas,  e  Marrecas,  appellido  nobre. 

JuQte-se:  —  Magide,  Mangide,  Tagilde  e  Tangil,  de 
AthanaJ gidus ,  i,  nome  germânico  pessoal,  que  deu  também 
Ataide,  Thaide  e  Cabide,  povoações  nossas. 

Temos  ainda —  Maias  e  Taias;  Malhada,  Malhadas  —  Ta- 
lhada e  Talhadas;  Malurdo  e  Talurdo?!,..  Mancos,  aldeia,  e 
Tancos,  villa;  Maré  e  Tare;  Mariz  e  Tariz;  Meira  e  Teira; 
Melles  e  Telles?!...  Mello  e  Tello;  Mellões  e  Tellões;  Mera 
e  Terá. 

Junte-se:  ~  Mó  e  Tho ;  moras  e  Thoras;  Moulões  e 
Toulões;  Moura  e  Toura;  Mourão  e  Tourão;  Moural  e  Tou- 
ral;  Mouraria,  Mouria  e  Touria  por  Touraria;  Moure  e 
Toure;  Mourigo,  touriga  e  Tourigo;  Mouril  e  Touril;  Mou- 
rim  e  Tourim ;  Mourinha  e  Tourinha ;  Mourinho  e  Tourinho : 
Mouriz  e  Touriz;  Mourões  e  Tourões. 

Ainda  temos  —  Mujães  e  Tujães  por  Tujaes  ouTojaes; 
Mucifal  e  Turcifal  per  Tucifal,  povoações  nossas,  talvez 
d^origem  carthagineza! .  . . 

Confronte-se  Annibal,  Asdrúbal,  Setúbal  e  Tentúgal 
por  Tentubal  ou  Tentuval,,  povoações  nosi^as  também,  con- 
géneres de  Mucifal  e  Turcifal  ou  Tucifal. 

m  e  17 

Maldonados  e  Vai  do  Nado  por  Maldonado,  povoações 
nossas. 

ÍDg,  mal  e  mau,  ioponimicos 

Barrimau.  de  Barrio  (Bairro  ou  barro)  máu :  Casal 
Mau;  Castro  Mau;  Costa  Má;  Cova  Má;  Gandra  Má;  Lage 
Má;  Lama  Má;  Macabrão  por  (Mau  cabrão?);  Macarra  (por 
Má  Cara?);  Malafaia  (^por  Mala  faia?);  Malas-casas. 

Mal  Caberão.  Vide  Malcabráo;  Mal  Cofarte  por  Mal  que 


TENTATIVA    ETYMOLOOIOOTOPONYMICA  477 

farte!  Mal  Curado,  Maldonado.  Confronte-se  Mafalda  e  Ma- 
faldo  por  Malfadada/  Mal  dorme;  Mal  Enforcado;  Mal 
Forno,  por  Mau  forno?,  iVíal  Gasto;  Mal  Joga  e  Mal  JuJgada. 

Somma  e  segue: — Mal  Julgado;  Mal  Lavado;  Mal  Medra; 
Mal  Partida;  Mal  Partilha;  Mal  Pensa;  Mal  Penteada;  Mal 
Penteado;  Malpica;  Mal  Pique;  Mal  Talhada;  Mal  Talhado; 
Maltratado;  Mal  Vás  por  Mal  Vaes  ou  Malvaes?  Confronte- 
se  Malvedo  e  Malvedos. 

Malvisins?;  Manariz  por  Mau  Nariz?;  Masinha,  aldeia; 
Matamá  e  Matta  Má;  Mau  Anno;  Mau  Frade  e  Mau  Ladrão. 

Junte-se  ainda:  —  Mau  Vinho;  Maúcha  por  Má  Ucha  ^; 
Mausinho,  Mausinhos;  Mavandeira  por  Má  bandeira  ou  Má 
Vendeira?;  Ma  viso  por  Mau-Viso?;  Má  Vontade;  Outeiro 
Mau,  Pedra  Má  —  sitio  —  d' Arouca;  Portimão  o  mesmo  que 
Portimáo  —  Porto  Máu?  Confronte-se  Barrimão  e  Barrimau'; 
Quinta  Má;  Rio  Mau;  Souto  Mau;  Terra  Ruim,  o  mesmo 
que  terra  má;  Triguinho  Mau;  Vista  Má  —  herdade.  Maoarca. 

l.o  — De. .. 

2.°  —  De  Mácarcara. 

V.  Carcará  e  Carquere,  povoações  nossas.  Confronte-se 
Macarra,  Machoça,  Machossas,  Malagarta,  Malaguarda,  Ma- 
larranha,  Malas-Caras.  (Confronte-se  Macarra  por  Má-Cara?); 
Mala  Venda  por  Má  Venda  ou  Venda  Mk. 

Confronte-se  Venda  da  Escarapeila,  Venda  das  Pulgas, 
'Btc,  povoações  nossas. 

mó  e  Pó 

Morfeito  e  Perfeito.  —  O  povo  diz  Porfeito 

D  — caindo 

Cabeda  e  Cabedo,  povoações,  e  Cabedo,  appellido. 

l.«  —  De. . . 

2.0  —  De  Canabedo  e  este  de  canabis  —  cânhamo?  Vide 
Cambiaço,  Canavezes  e  Gavez^  por  Canavez,  etc,  povoações 
nossas. 


^    Confronte-se  Ucha,  Ucharia  e  Uchas,  varias  povoações  nossas. 

-  Barrimão  e  Barrimáu,  povoações  nossas,  tomaram  talvez  o  nome 
de  bairro  ou  barro  mau,  mas  Portimão,  segundo  se  lê  na  interessante 
Monographia  de  Vilta  Nova  de  Portimão,  recentemente  publicada  pelo 
muito  iliustrado  snr.  José  Gonçalves  Vieira,  prior  aposentado  da  mesma 
villa,  iomou  o  nome  de  Portus  Magnus  -porto  grande,  como  foi  outr'ora 
o  de  Portimão,  hoje  muito  açoriado. 


478  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


n — caprichoso 

Abelenda,  appellido,  e  Avelleda;  Adegneiro  e  Aden- 
giieiro,  povoações  nossas;  Alvora  por  Alvore  ou  Arvore  — 
Alvorninha  por  Alvorinha?  Antoinha  por  Antoninha?  Con- 
fronte-se  Antonieas  e  Antoninha,  povoações  nossas. 

Aragões  e  Arangões;  Aragonez  e  Aranguez;  Badões  e 
Bandões;  Baginha  e  Banginha;  Barris  e  Barrins!...  plural  de 
Barril  por  Barrai,  como  Barraes!...  Bezerrins  por  Bezerriz, 
plural  de  Bezerril.  Confronte-se  Bezerral  e  Bizarril  por  Be- 
zerril  o  mesmo  que  Bezerral. 

Brissos  ou  Brincos,  Briço  e  Brinco.  —  De  Brissus,  nome 
d'um  santo;  Briche  e  Brinches;  Briço  e  Brinco;  Oacaborrada 
e  Cancaborrada  —  asneira,  disparate. 

Cabril,  Cabris  e  Cabrins!  Cancinhôgo  e  Cancinhola,  de 
Casinhoga  e  casinhola,  no  diapasão  gallego  cacinhoga  e  ca- 
cinhola;  Catalão,  Catellâes  e  Cantellães?  Ohichorro  e  Chin- 
chorro; Codeceira  e  Concedeira,  por  Cocedeira,  metathese 
de  Codeceira? 

Corvaceira  e  Corvanceira  ^.  Confronte-se  o  portuguez 
ribança  que  deu  Ribança,  aldeia,  Ripança,  ponto  do  Douro, 
e  ribanceira,  de  riba  e  este  de  ripa  —  margem  de  rio,  ribeiro 
ou  ribeira  *. 

Somma  e  segue:  —  Costançana  por  Costazana:  Covide, ' 
Covido  e  Convido;  Cucos  e  (juncos;  Cuqueira,  Cuqueiro, 
Conqueira,  Conqueiro  e  Cunqueiro!  Demenderes,  de  Deme- 
triis?  Destriz  e  Gestrins  por  Gestriz,  o  mesmo  que  Destriz? 
Esmoriz  e  Esmoríns ;  Fiadeira  e  Fiandeira;  Fiadeiro  e  Fian- 
deiro. 

Gazalho,  Zagalho  e  Zangalho,  Sangalhos  por  Zangalhos 
e  este  por  Gazalhos;  Labrengos  e  Labregos;  Laçada  e  Lan- 
çada; Ladeira  e  Landeira;  Ladeiro  e  Landeiro;  Lagedo  e 
Lagendo,  Castedo  e  Castendo;  Lavadeira  e  Lavandeira; 
Lavadeiro  e  Lavandeiro. 

Junte-se  ainda:  —  Macedo  por  Mazedo,  de  Manzedo  por 
Manzanedo.  Confronte-se  Mazeda,  sitio  de  Lamego;  Maçores 
e   Mansores;   Magide  e  Mangide;  Martigo  e  Martingo;  Me- 


^  A  etymologia  de  Corvaceira  é  corvo,  que  deu  Corveira  e  Corva- 
ceira, como  fogo  deu  fogueira  e  fogaceira,  e  lodo  deu  —  lodeira  e  loda- 
ceira. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMTCA  479 


deiros  e  Mendeiros;  Medo  e  Mendo;  Mide  e  Minde;  Miguen- 
zes  e  Minguezes. 

Modellos  e  Mondellos;  Mogueira  e  Moguciras  por  No- 
gueiras!... Mujães  plural  de  Mujáo  e  Munjão;  Pedral  e 
Prendai?  Picaros  e  Pincaros;  Pintim,  Pintens  por  Pintins; 
Pintem  por  Pintim  e  Pintins;  Reganceira  de  Regaceira,  o 
mesmo  que  Kegadeira;  Rodolphus,  Rodulphus,  Radulphus, 
Randolphus  e  Randulphus  ^  De  Rogerius,  ii,  Rogel,  Rogil, 
Rugel,  Ragel  (?;  e  Rangel? 

n  e  P 

Em  algumas  terras  do  concelho  de  S.  Pedro  do  Sul 
dizem  marte  em  vez  de  parte  —  substantivo  feminino. 

n  e  R 

Abaneja  por  A  Baneja,  o  mesmo  que  A  Vareja.  Con- 
fronte-se  Vareja  de  Cima  e  Vareja  de  Baixo,  povoações 
nossas;  Anal  e  Arai,  de  Arenal?  como  Areal  e  Arenal,  po- 
voações nossas;  Banreza  por  Bunrosa  e  este  por  Barrosa? 
Banrezes  e  Barrezes  por  Barrosos?  Burnico  por  Burrico  e 
Burrinho,  povoações  nossas;  Caoheina  por  Cacheira?  Carta- 
rida  por  Cantárida ;  Cartemii  por  Cantemil  e  este  por  Can- 
demil  o  mesmo  que  Candomil,  Gondomil,  Gontorail  e  Gon- 
domar, de  Guntimirus,  i. 

Correlhã  de  Corneliana;  Correlho  de  Cornelio?  Einó 
e  Eiró;  Elvira  e  Elvina;  Elviro  e  Elvino;  Estorrinheira  por 
Estorninheira?  Note-se  que  Estorrinheira  pertence  ao  dis- 
tricto  de  Braga,  o  mais  fresco  do  nosso  paiz !  Ethelvina  e 
Etelvira,  são  talvez  formas  do  mesmo  nome. 

Junte-se  ainda  Nabainhos  por  Nabalinhos  e  Rabainho; 
Nabal  a  Rabal:  Pena  e  Pêra  -  pedra,  do  latim  petra,  que 
deu  Pêra,  como  Petrus,  i,  Pedro,  deu  Pêro  e  Peres. 

Por  seu  turno  Pêra  deu  Pena  pela  trivial  substituição 
de  r  e  w. 

Assim  também  aradía  deu  ou  podia  dar  Anadia ! . .  . 

Picarnel  e  Picarrel,  povoações  nossas,  e  Monte  do 
Picarrel. 


^    De  Radulphus  —  Raul,  —  e  de  Randulphus,  i  —  Rendufe,  povoa- 
ção nossa. 


480  TENTATIVA     ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 

Picarnel  é  um  moinho  e  um  casal  meu  na  margem  es- 
querda do  Tedo,  freguezia  de  Santo  Adrião,  concelho  de 
Armamar. 

Picarrel  encontra-se  no  Monte  do  Picarrel,  casal  ou 
sitio  do  districto  d'Evora;  Sandoeira  e  Sardoeira^  o  mesmo 
que  Sardoura;  Sangrinheira,  Sanguinheira  e  Sargoinheira 
por  Sanguinheira,  etc,  povoações  nossas. 

n  e  5 

Paisso  por  Painço?  Confronte-se  Painça,  Painçaes,  Pain- 
çal^  Painçage  e  Painzella  por  paincella ;  Paniceiro  por  pain- 
ceiro,  e  talvez  Pariço  por  paniço,  o  mesmo  que  painço ! . . . 
Junte-se  também  Porisso.  aldeia,  talvez  forma  de  Parico?. .. 

Do  e  nha 

Azinal  e  Azinhal^  etc,  povoações  nossas. 

Do  por  5o 

Confronte-se  Vai  de  Nobrel  por  Nobral  e  Yal  de  No- 
vreira  por  Nobreira,  de  Sobral  e  Sobreira?  Confronte-se 
Sobral  e  Sobrello  ou  Sobrallo  e  Sobreira,  etc,  povoações 
nossas. 

O — prefixo 

O  Bevial.  Vide  Ovial  e  Ovil,  do  latim  avis  —  a  ovelha. 
Odiaz  por  O  Dias;  Oledo  por  O  Ledo.  Confronte-se  Tio 
Ledo,  povoação  nossa  também. 

O —  caprichoso 

Alcorovel  por  Alcorvel.  Confronte-se  Corval  e  Corvel; 
Leiroinha  por  Leirinha,  etc,  povoações  nossas. 

O  por  E 

Confronte-se  Orbideiro,  Ervedeiro  e  Ervideiro.  O  povo 
também  diz  somana  por  semana. 


TENTATI  VA    ETyM0L0f>IC0-T0PO>.  i  m  H.\  Hl 


O  G  Ou 

Confronte-se  Baloca,  Balota,  Balouça  e  Balouta,  formas 
do  mesmo  nome,  como  Palorca  por  Paloca,  e  este  por  Balo- 
ca—Valloca;  Baloco,  Balouço  e  l^jalouto  são  também  formas 
do  mesmo  nome,  como  Balota  e  Balouta,  Balouto  e    Baloto? 

Barroca  e  Barrouca;  Barrocal  e  Barroucal;  Barrocas  e 
BarroLicas?! . . .  Beijoca  e  Beijouca;  Coto  e  Couto^  por  Coto, 
aliquando !  No  Douro  ha  duas  quintas  do  Couto  —  uma  em 
frente  da  outra  —  e  ambas  em  picotos,  sitios  altos,  vistosos 
ou  cotos.  —  Mazopo  e  Masoaco  ou  Mazouco,  são  talvez  for- 
mas do  mesmo  nome  ^.  Loupinho  por  Lopinho  —  lobinho; 
Soza  e  Sousa;  Villarôco  e  Villarouco,  etc,  povoações  nossas. 

O,  Ou  e  U 

Barroca  e  Barrocal,  Barroco,  Barrouca,  Barroucal,  Bar- 
roucas  e  Barruco  por  Barroco,  etc,  povoações  nossas. 

Barroco  e  Barruco ! . . .  Casarollas  e  Oasarallos  por  Ca- 
sarollas?  Chorozeira  por  Corujéira ;  Chouças,  Chousas  e  Chu- 
sas;  Choupal  e  Chupai;  Curceiro  por  Corceiro;  Curtinha 
por  Córtinha ;  Curvaceira  por  Corvaceira;  Curvai  por  Cor- 
val;  Curvella  por  Corvella;  Curvo  por  Corvo;  Curvos  por 
Corvos. 

Custeira  por  Costeira;  Cutelo  por  Cotello;  Cutinho  por 
Cotinho;  Cutarella  por  Cotarella;  Cuval  por  Co  vai;  Cuvi- 
Ihão  por  Covalhão;  Cuvinhó  por  Covinhò  e  este  por  Covilhó. 

Gandufe,  Gondufe  e  Gundufe;  Golfar  e  Gulfar;  Golpi- 
Ihares  e  Gulpilhares;  Golpilheira  e  Gulpilheiras,  de  vidpu  — 
raposa;  Gominhães  e  Guminhães;  Gomirão  e  Gumirães  por 
Guimarães,  de  Vimaranus,  i,  is?\ . . . 

Gondam,  Cundam  e  Guntão;  Gorreta  e  Gubreta  por 
Gorreta ;  Marzugueira  e  Murçogueira,  abundante  em  morcê-- 
gos?! . .  .  Morganheira  e  Murganheira,  abundante  em  murga- 
nhos (ratos  pequenos);  Mortinhaes  e  Murtinhal  —  da  murta 
ou  dos  mutinhos ;  Mosoão  e  jMuscão  —  das  moscas ;  Moxarro 
e  Muxárro  —  dos  muchões. 


^    Para  a  etymologia  de  Masouco  vejam-se  na  primeira  parto  d'esta 
minha  louca  Tentativa,  as  paginas  324  e  seguintes. 

31 


482  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Volcanos  e  Valcanus  —  Valcario;  volgus  e  vulgus;  Vol- 
nus  e  Vulnus;  Voltns  e  Vultus;  Volturius  e  Vulturius;  Vol- 
turniis  e  Vulturnus,  etc. — já  diziam  os  romanos. 

Juntem-se  os  nomes  communs  portuguezes  —  agoa  e 
agua,  taboa  e  tábua,  etc.  e  muito  boa  gente  escreve  também 
Regoa  e  Régua,  villa  ^. 

.01  e  Ou 

Confronte-se  Adoufe  por  Adolfi  e  este  por  Athaulphi, 
patronímico  de  Athaulphus,  i,  nome  germânico  muito  prolí- 
fico na  onomástica  portugueza,  pois,  além  de  Adolpho,  nome 
d'um  santo,  etc,  deu  Adaufa,  Adaufe,  Adoufe,  Adufe,  Aido- 
va  por  Aldopha,  víUa,  Baldrufa  por  Yaldufa,  Casal  Doufe, 
Casal  d'Ufe,  Dolves,  Doufins  por  Adolphínis !  —  Estrada  de 
Ufe,  Fonte  d'Ufe,  Ufe,  Valduve  por  Valdufe,  Yilla  Duffe, 
Villar  d'Oufe,  etc,  povoações  nossas  ^?!. . . 

Ou  e  U 

Ou  deu  II  já  no  tempo  dos  romanos  ou  do  latim. 

J.  Bosini  —  884,  vb.  Fulviae^  —  menciona  Cneius  fiulvius 
e  diz : 

«Fouhius  aiitem  veteres  scribehant,  ut  Fourius,  et  multa 
hujusmodi,  graecani  scriptiiram  imitantes.» 

Também  já  entre  os  romanos  i  deu  ei  e  více-versa. 

«Opimiae,  vel  ut  ed  in  argenteis  denaríis,  Opeimiae^  gen- 
tis pleheiae  frequens  est  mentio  apud  veteres  sc7'ipiores» .  —  J. 
Eosiní.  886,  coi.  1.* 

«Serriliam  gentem  {vel  ut  innummis  notatum  extat  Servei- 
liam)  diciam  forte  a  Sérvio  praenomime, . .  .» — Ibíd.  887, 
col.  l.a 

Também  já  no  velho  latim  se  encontra  r  por  6-  —  Pluses 
e  plusima  por  plures  e  plurima.  —  Ibíd.  õ82. 

Theusaurus  por  thesauros,  no  antigo  latim.  —  Ibid. 
510,  2.^ 


1  Junte-se  Maroíeira  e  Maroteiras,  Maruto  e  Marutos  por  maroto 
e  marotos?  etc.  povoações  nossas.  —  Risum  ieneatis. 

-  Junte-se,  finalmente,  Cachadoufe  e  Cachoufe  por  Cachadoufe  — 
Cachada  de  Adolpho?!. . . 


TENTATIVA    ETYMOLOGTCO-TOPOXYMTCA  183 


Valeridae  por  kalendae.  —  Ibid.  2Gr),  1.* 

Chousas  e  Chusas  por  Chousas;  Morim  e  Mourim; 
Morins -por  Moriz  e  IVlouriz;  Moiirens  e  Mureis  por  ^lurins? 
Mouria  e  MuriavS,  plural  de  Muria;  Mouriga  e  Murigães  por 
Mourigães  ou  Mourigaes?  Mourões  e  Muròes  ou  Mourões; 
Poupa  e  Bouça  da  Pupa,  por  Bouça  da  Poupa;  Touriz  e 
Turiz  por  Touriz,  etc.  Veja-se  o  tópico  diapasão  francez : 
u  por  ou. 

P  e  Q 

Pinhão  e  Quinhão;  Pinheiro  e  Quinheiro;  Pinhões  e 
Quinhões;  Penique,  quasi  penico  ou  pinico  e  Qninico?...  etc, 
povoações  nossas. 

P  e  T' 

Aprigio  ou  Aprizio,  nome  d'um  santo,  e  Frizio,  aldeia 
de  prizio,  afereze  de  Aprizio?...  Empregado  por  entrevado  — 
é  termo  popular;  Padim  o  Tadim;  Painho  e  Tainho;  Palada 
e  Taladas;  Paleira  e  Talleira;  Palião  e  Talião. 

Palha  e  Talha;  Palhinha  e  Talhinha;  Palia  e  Talla; 
Palias  e  Tallas;  Panque  e  Tanque;  Papada  e  Tapada;  Para- 
Iheira,  por  Taralheira  '?  Confronte  se  Taralhão,  Taralhãos  e 
Taralhões. 

Paranhão  por  Paralhão  e  Taralhão;  Passinha  e  Tacinha; 
Pavilhão  ou  Tavilhão,  Tavilháo  ou  Pavilhão  e'Tivilhão  por 
Tavilhão!  De  pavilhão  —  bandeira.  Confronte-se  Bandeira, 
appellido,  povoação,  etc.  Pecho  e  Peixe,  Teixo  e  Teixe; 
Pedom  e  Thedom,  hoje  Thedo,  rio. 

Somma  e  segue:  —  Peixeira  e  Teixeira;  Peixinhos  e  Tei- 
xeinhos;  Peja  e  Teja;  Pelho  e  Telho;  Penha  (o  povo  diz 
Panha)  0  Tanha? 

Pêra  e  Terá;  Perra  (duas  aldeias)  e  Terra;  Perraço  e  Ter- 
raço; Perrada,  Terrada  e  Terrados;  Perráes  por  Perrões  (?) 
Terrões  e  Torrões;  Peso  e  Teso,  muitas  povoações;  Peso  ou 
Teso  e  Teso  ou  Peso  (sic).'^... 

Talvez  que  a  nebulosa  etymologia  de  Peso  venha  do 
portuguez  teso,  sitio  áspero,  alcantilado;  outeiro;  monte  al- 
cantilado ou  Íngreme;  cume  de  monte.  Tal  é  o  Peso  da  Re- 


*    Este  tópico  é  muito  interessante ! 


484  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


goa,  pois  demora  um  sitio  alto  com  pendente  rápida  sobre  o 
Douro  e  sobre  a  formasa  villa  da  E-egoa,  e  talvez  que  as 
nossas  muitas  povoações  denominadas  Peso  e  Tcao -estejam 
nas  mesmas  condições  geographicas  ! ,  .  . 

Dicant  paduani — respondam  os  filhos  d'ellas. 

Peso  e  Teso  são  synonimos  de  Coto  (Outeiro),  que  deu 
Cotello,  Ootinho  e  Cotinhos,  como  Peso  deu  Peselo,  o  mes- 
mo que  Pesinho,  diminutivo  da  Peso,  e  Pesellinhos,  diminu- 
tivo de  Pesellos?.  .  . 

Também  temos  Outeiro  E-edondo  e  Peso  Redondo,  Ou- 
teiro do  Meio  e  Peso  do  Meio,  Outeiro  de  Cima  e  Pesos  Ci- 
meiros ou  de  Cima,  Outeiro  de  Baixo  e  Pesos  Fundeiros  ou 
de  Baixo!... 

Também  temos  Monteselio  e  Monte  Sello  por  Montesello, 
do  baixo  latim  monticellos^  i,  diminutivo  de  mons,  mo'ãtis,  que 
deu  Monte  Ceie.  o  mesmo  que  Monte  Cello,  Monte  Sello  e 
Montesello. 

E'  assim  a  arte  nova  —  e  rÍ7*a  bien  qui  rira  le  dernier. 

Montesello  recorda  Arcozello,  do  baixo  latim,  arcucellus, 
^,  diminutivo  de  arcus — arco;  por  seu  turno  arcucellus.  i, 
deu  também  arcucillus,  z,  unde  Argoncilhe,  povoação  nossa. 

Veja-se  o  meu  longo  tópico :  —  Diminutivos  formados 
pela  desinência  cellus,  celli. 

Veja-se  também  o  tópico  supra:  —  E  e  S  ou  Z. 

Proseguindo  com  o  tópico  P  e  Tjunte-se  Pexouro  por 
Pezouro  e  Thesouro;  Piar  e  Tear,  aldeia;  Pigeiro  e  Tigeiro 
por  Tojeiro;  Pijão  e  Tijão  por  Tojão,  Tojaláo?  Pinheiro  e 
Tinheiro;  Pinhel  e  Tanhel  por  Tinhel?  Pinhella  e  Tinheila?!... 

Pinouca,  quasi  Pinóca  e  Tinoca;  Pinta  e  Tinta;  Pinte 
e  Tinte;  Pintim  e  Tintim,  aldeias;  Pinto  e  Tinto;  Pires  e 
Tires;  Piroleira  e  Tiroeira  pot*  Tiroleira? 

Pisoeira  e  Tiroeira  por  Tisoeira?  unde  talvez  Trezouras 
por  Tezouras,  este  por  Tisouras  e  este  por  Tisoeiras,  Pisoei- 
ras,  Pisões,  Pisoarias? 

Pó  e  Thó;  Pogeira  e  Tojeira;  Poido,  Pugido,  Tugido  e  Tui- 
do;  Poja  e  Toja;  Polo  e  Tolo?!...  de  Paulo,  santo,  etc,  po- 
voações nossas. 

Junte-se  ainda :  —  Pomar  e  Thomar ;  Pomarinhos  e  Tho- 
mazinhos;  Ponce,  appellido,  e  Tonce. 

Ponta  é  Tonta;  Pontão,  Tontão  e  Fontão ;  Pontello,  ton- 
tello  e  Fontello ;  Pontinha,  Tontinha  e  Fontinha ;  Perinhas  e 
Torrinhas?  Porqueiros  e  Torqueiros?! 

Porrão  e  Torrão :  Porreira  e  Torreira ;  Porvilhão  e  tur- 


TENTATIVA    ETYMOLOarCO-TOPON  Y  JílCA  485 


bilhão;  Pragal  e  Tragai;  Pravé,  provincianismo  da  Beira, 
vento  áspero  e  frio  no  inverno,  quando  estão  abertas  portas 
fronteiras.  —  De  trave  por  través?!... 

Praves,  Trave,  Traveira  e  Traves;  Prazeiro  e  Trazeiros, 
plural  do  Trazeiro;  Predo  e  Tredo;  Prega  e  Trega  ou  I^rega; 
Pregaes  e  Trigaes !  Pregai,  Trigal  e  Trigual ;  Pregueira  e 
Trigueira  (3  aldeias)  por  trigoeira,  que  abunda  em  trigo. 
Priana  e  Triana?!...  Trilhão  e  Trinhão  por  Trilhão?  E  talvez 
que  Trilhão  seja  uma  forma  de  tralháo  ou  taralhão  —  ave, 
porque  as  letras  i  q  a  trivialmente  se  confundiram  e  substi- 
tuiram  na  onomástica  portugueza,  e  porque  tomos  varias  po- 
voações com  os  nomes  de  Tralhão,  Tralhãos  e  Tralhões,  que 
tomaram  evidentemente  o  nome  das  ditas  aves. 

Note-se  que  os  tralhões  são  aves  de  arribação  que  abun- 
dam em  varias  regiões  do  nosso  paiz,  nomeadamente  no 
coração  do  Douro.  E'  assim  denominado  o  cantão  do  nosso 
paiz  formado  pelos  concelhos  de  Lamego,  Régua,  Mesãofrio  e 
Santa  Marta  de  Penaguião,  tendo  a  formosa  villa  da  Régua 
como  centro. 

E'  o  cantão  mais  fértil  e  mais  mimoso  de  Portugal  e  foi 
também  o  mais  valioso  e  mais  rico  no  tempo  em  que  vigo- 
rou a  Companhia  dos  Vinhos  fundada  pelo  marquez  de  Pom- 
bal, porque  no  dito  cantão  era  e  é  o  vinho  a  sua  produ- 
ccão  dominante. 

Veja-se  o  meu  artigo  Villa  Jusã^  freguezia  de  Mesão- 
frio, publicado  no  Portugal  Antigo  e  Moderno. 

Prova,  Trofa  por  Trova,  e  este  por  Prova,  do  baixo 
latim  prova^  bacellada,  vinha  nova.  Provella  e  Trovella,  que 
se   encontra  em   Ponte  da  Trovella,  etc,  povoações  nossas. 

Pq  e  Tg  no  baixo  latim 

Feltaria  por  Felparia  o  mesmo  que  fdtrum-^eXtro.  — 
Ducange. 

Pi  e  Qui 

Pinhão  Celle  por  Pinhãocello?  e  Quinhãocello!...  Pinhão 
e  Quinhão;  Pinheiro  e  Quinheiro ;  Pinhões  a  Quinhões,  etc, 
povoações  nossas. 

Po  e  To 

Confronte-se  Sam  Xpoíia  por  S.  Christovam.  Docu- 
mento  da  CoUegiada  de  Guimarães,  anno  1360,  na  Revista 


486  TENTATIVA    ET  YMOLOOICO-TOPONYMIOA 

de  Guimarães,    vol.  2õ.  fascicnlo  l.o,   pagina  21,   documento 
n.o  26Õ. 

Poido  e  Tuido  por  Tugido,  de  Tojedo;  Pojeira  e  Tojei 
ra;  Poledo  e  Toledo;  Polo  e  Tolo;  Porqueiros  e  Torqueiros; 
Porrão  e  Torrào,  er,c.,  povoações  nossas. 

Q  3  T 

Caboqueira  por  Cabouqueira  e  Chaboteira  por  Caboquei- 
ra?  Confronte-se  Chabocos  por  Caboucos;  ("haboco  e  Ca- 
bouco; Chabrinha  e  Cabrinha;  Ghadeira  e  Cadeira  por  Cá- 
d'Eira?  Chães  e  Cães;  Chafé  e  Café;  Chaim  e  Caim,  etc, 
povoações  nossas. 

Vide  o  tópico  supra:  —  Chá  por  Cá. 

Que  e  Te 

Monchique  e  Monchite? -povoações  nossas. 

R  por  D  e  5  '^ 

«jÇ  —  litera  communionein  hahet  cum.  s  litera.  Ifaque 
apud  aniiquos  honos,  labo-s,  arbo.s,  dicebantur:  nunc  honor, 
labor,  arbor.í) 

Isid.  Hisp.  —  Op.  Omn.  — 12,  119  e  169.  Confronte-se 
Massilia  e  Marsiiia  —  Marselha;  Esmoriz,  de  Ermoriquiz  por 
Armoriquis.  «R  por  d  —  laurea  por  laudea;  auricula  por  au- 
dicula;  meridies  por  medidies,  subedies  por  suberies  (o  so- 
breiro), etc.»— Ibid.  231  e  232. 

R  falso 

Baberques  por  Babeques  e  esto  por  Valieques  —  valles 
pequenos;  Espindo  e  Espindro  o  mesmo  que  Espedo,  Espen- 
do;  Sepeda  por  Cepeda;  Sepedeilos  e  Sepedros  por  Cepedos? 

Lodeira  e  Lordeira;  Longa  e  Longra;  í^ongas  e  Lon- 
gras;  Palorca  por  Paloca,  este  por  Balloca  e  este  por  Vai- 
loca  —  pequena  valia,  como  Vallega,  Valleja  e  Vallelhas,  etc, 
povoações  nossas  também. 


Vice  o  topieo  infra :  —  /?  e  S. 


TENTATIVA     ETYMOLOGICO-TOPOXYMICA  487 


R — caprichoso 

Antolhos  e  antrólhos  —  como  diz  o  povo;  Antrepostos 
(provincianismo  minhoto)  por  antepostos  —  diz-se  dos  bois 
antes  de  jungidos  ou  junguidos  ou  appostos  ao  carro.  Cama- 
rinha, Camarinhal,  Camarinhas  e  Cramarinhos. 

Cujo,  de  crujo  por  Corujo;  Curcomellos  por  cocomellos 
—  Cogumellos;  Demenderes  por  Demendes,  o  mesmo  que 
De  Mendes?  Vide  o  tópico  supra:  — /)«,  preposição  e  prefixo. 
Enxido  e  Enxidro ;  Enxudos,  Enxudros  e  Enxuldro  ^  Esco- 
char  e  escorchar ;  Fancaria  e  Prancaria ;  Lustosa  e  Lustrosa ; 
Macella  e  Marcella  —  planta*;  Picões  e  Pricões ; 'Registar  e 
registrar;  Segude  e  Sergude  *;  S.  Frausto,  antiga  forma  de  S. 
Fausto,  sec.  14,  é  hoje  S.  Faustino  de  Riba  Vizella.  Soba!  e 
Sobral;  Taganhal  e  Traganhal;  Teixedo  e  Treixedo ;  Tralha- 
riz  por  Talhariz,  este  por  Calhariz,  e  este  por  Calhandriz, — 
sitio  em  que  abundam  calhandras,  aves,  espécie  de  cotovias. 

R  por  h 

Aguiar  por  Aguial,  das  águias,  como  Aguilar;  Avellar 
por  Avellal,  Avelleiral;  Marmelal  e  Marmelar;  Rabarrabos 
por  Lavarrabos ;  Raro,  forma  popular  de  rallo,  —  insecto,  es- 


1  Estas  três  povoações,  bem  como  Enxudral,  Enxudreira,  Enxur- 
reira  e  Enxurreiros,  povoações  nossas  também,  tomaram  o  nome  do  por- 
tuguez  enxurro,  —  corrente  ou  jorro  de  immundicies;  patameira,  lodaçal. 

Em  Bagauste,  no  Alto-Douro,  margem  direita,  ha  uma  quinta  deno- 
minada Enxudreiro  ou  Enxurdeiro,  que  tomou  claramente  o  nome  de 
enxurreiro !  —  Note-se  que  a  mencionada  quinta  (eu  conheço-a)  na  parte 
baixa,  confinante  com  o  Douro,  é  bastante  plana,  pelo  que  o  Douro  nas 
enchentes  a  inunda  até  distancia  e  ali  deixa  ou  deposita  grandes  nateiros, 
lamaçaes,  enxurdeiros  ou  enxurreiros,  que  estão  plantados  de  vinha  e 
produzem  muito  vinho!. . . 

Bagauste  é  talvez  uma  forma  de  Banagusti  por  ben  ou  iben  Augusti, 
filho  de  Augusto.  Por  seu  turno  Bagauste  por  metathese  deu  Baguaste, 
povoação  nossa  também. 

^  Murcella  ou  Ponte  da  Murcella,  povoação  nossa,  na  passagem  do 
Alva  e  Murcellão,  na  foz  do  Alva,  talvez  sejam  formas  de  Marcella  e 
Marcellão. 

3  Segude,  Sergude  e  Sergudo  são  talvez  formas  de  Sergidc  e  Ser- 
gido,  povoações  nossas  também,  que  tomaram  o  nome  das  cerejeiras, 
como  Cerejal,  Cereje  e  Cerejo,  Serigal  e  Serijal  por  Cerejal,  e  Serijo  por 
Cerejo,  povoações  nossas  também.    A  bússola  é  o  ouvido. 


488  TENTATIV^A    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 

pecie  de  grillo,  do  baixo  latim  rallus — rallo.  Junte-se  aiuda 
Cebolal  e  Cebolar,  etc,,  povoações  nossas. 

R  por  n  .        ^ 

Rabainho  por  Nabainho.  Yide  Nabainhos,  supra. 

R,  O  mesmo  que  RR  e  uíce-Dersa  ou  r  brando  e  forte- 

Bairos,  Bairosa,  Barrio,  Barrios,  Barriosa  e  Barrosa ! 
Baraças,  Barracha  e  Barraxas;  Barosa,  Baroso,  Barrosa  e 
Barroso;  Capareira  e  Capareiros,  por  Ohaparreira  e  Chapar- 
reiros!  Dos  chaparros,  sobreiros  novos  ^. 

Caparosa,  Caparrosa  e  Caparrosinha  por  Chaparrosa  e 
Chaparrosinha ;  Caraoha,  Caramào,  Caraxa,  Carazona,  Cara- 
zonas,  Carazonita,  Carazonitas  e  Carracho,  Carrajóla,  Carra- 
mão,  Carrazona^  etc. 

Caricola  por  Garricola;  Cariolinha  por  Carriolinha;  Ca- 
roada  e  Caroadinha  por  Carroada  e  Carroadinha;  Caroca 
por  Carroça;  Caroceiras  por  Carroceiras;  Carocho  por  Car- 
rocho;  Caroeira  por  Carroeira. 

Carotes  por  Carretes ;' Charoeira  por  Charroeira  o  mes- 
mo que  Sarroeira  por  Jarroeira,  nomes  tirados  do  jarro, 
planta;  Estorinheira  por  Estorrinheira;  Muritta  e  Murrita, 
nomes  de  santos. 

Pitarella  e  Pitarrella;  Poretos  por  Porretes.  Porinhas 
por  Porrinhas.  Confronte-se  Porraes,  Porreira,  Porreiras, 
Porretas,  Porrinho  e  Porro,  dos  porros,  planta  hortense. 

Portas  Faronhas  por  Portas  Farronhas  e  este  por  Portas 
Ferrenhas.  Confronte-se  Portas  de  Ferro,  povoação  nossa 
também,  como  Portas  Fronhas  por  Portas  Ferrenhas;  Sarei- 
la  por  Sarrolla,  de  Sarrazoila?  o  mesmo  que  SerrazoUa,  po- 
voação nossa  também.  Confronte-se  Zarola. 

R  e  5 

confundiram-se  e  substituíram- se.  Confronte-se  o  Bretão, 
armoricano  ou  neo-celta  fiermir  e  Besmir,  Bernard  e  Bes- 
nard  etc.  Guillou^  121,  núhi.  Também  Gellio  no  latim  escre- 


Ou  do  latim  cappari  —  a  alcaparra,  arvore  e  o  fructo. 


TENTATIVA  ETYMOLOmOO-TOPON  YMIOA  489 


veu  asa  em  vez  de  a7*a,  como  diz  o  Marjnum  Lexicon,  Vide 
tópico  supra:  R  por  D  e  S. 

Honos,  orh',  Oicero;  Honor,  oris%  Cicero  e  Virgílio.  Je- 
CUV — o  fígado  e  jecuscuhim  —  pequeno  fígado.  Cicero. 

Na  onomástica  portugueza  temos  Adorarcos  ou  A  dos 
Arcos  (sic).  Aremel,  que  pode  vir  de  Asemel  ou  antes  de 
Armei,  povoação  nossa  também,  como  Armil,  formas  de  Aria- 
mivus^  i  —  Ario.mirOy  nomo  germânico  pessoal,  que  antiga- 
mente se  escreveu  Arjarnirus,  i  e  Argimirus,  i,  e  deu  ou  po- 
podia  também  dar  Armilo,  ArgemiJ,  Argomil  e  talvez  Arga- 
nil, por  Argarail.  povoações  nossas,  todas  mencionadas  na 
Chorographia  Moderna. 

Com  vista  aos  manes  do  snr.  conselheiro  J.  Dias  Fer- 
reira, distineto  jurisconsulto,  deputado,  ministro  e  presi- 
dente de  ministros,  natural  d'Arganil. 

Somma  e  segue : 

Arribas  por  As  Ribas.  Amado  e  Asnado, 'appellido 
actual;  Aroal,  Aroil  e  Azuil?  Arramadas  por  As  Ramadas; 
Arramadinhas  por  As  Ramadinhas;  Arranas  por  As  Ranas, 
quinta;  Arreigadas  por  As  Reigadas.  Confronte-se  Regada, 
Regadas  e  Reigada  ^;  Arrecadas  por  As  Roçadas. 

Somma  e  segue : 

Arrochas  per  As  Rochas ;  Arroellas  por  As  Ruelias. 
Vide  Ruella  e  Ruelias,  povoações  nossas.  Carinha,  Carinhas, 
Casinha  e  Casinhas,  povoações  nossas, 

Cirne  por  Cisne  e  Cysne ;  Corteirinhas  por  Costeirinhas. 
Confronte-se  Costeira  e  Costeirinha;  Cubilhores  por  Cubi- 
Ihoses  e  este  por  Coviihoz,  Confronte-se  Covilhã,  Covilhão 
e  Covilhó,  povoações  nossas,  bem  como  Figueiró  e  Figuei- 
roz,  Mó,  Moz  e  Mozes?!... 

Esmorigo  e  Esmorigos,  povoações  nossas,  talvez  sejam 
formas  de  Ermorico  e  Ermoricos,  por  Armoricano  e  Armo- 
ricanos,  filhos  ou  oriundos  da  Armorica,  hoje  Baixa  Bretanha. 
Por  seu  turno  Armorica  vem  do  neo-celta  e  quer  dizer : 
—  região  da  beira-mar  ou  que  demora  em  frente  do  mar,  pois 
em  neo-celta  o  prefixo  a}'  ou  are  significa  junto  de,  em  frente 
de,  —  como  diz  Guillou. 

Esmoriz,  povoação  e  freguezia  do  concelho  d'Ovar,  —  ó 


'     Do  latim  rigata  -  regada,  part.  p.  de  rigare  —  regar. 
Note-se  que  na  onomástica  portugueza  /  deu  ei. 
Vide  o  meu  longo  tópico  Substituição  de  letras. 


490  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


talvez  uma  forma  de  Ermoriz,  patronímico  de  Ermoricus 
por  Armoricos  ou  Armoricanos,  supra. 

Note-se  que  a  mencionada  freguezia  de  Esmoriz  demora 
á  beira-mar,  junto  de  Espinho,  lado  sul. 

Também  temos  Esmorins,  o  mesmo  que  Ermorins,  como 
Esmoriz  por  Ermoriz,  supra. 

O  mesmo  diapasão  comprehende  o  antigo  portuguez  cos- 
sario  e  cossairo,  por  corsário. 

Também  temos  Harse  e  Hasse,  appellidos  portuguezes 
ou  usados  por  cidadãos  portuguezes. 

Joarim  e  Joazim,  o  mesmo  que  Joacim  por  Joaquim? 
Jor  ou  Joz,  Jós  e  Jás  ou  Jor  (sic),  povoações  nossas. 

Junte -se  ainda  —  Lamoreilo  por  Lamosello,  diminutivo 
de  Lamoso.  Confronte-se  Lamesinhos  por  Lamosinhos,  La- 
marosa,  Mamarosa  por  Lamarosa,  Lamosa,  Lamoreilo  ou  Na- 
morello  e  Namorello  ou  Lamoreilo. 

Leiria  e  Leisia  por  Leiria?  Lobarim  (Aldeia  de)  e  Loba- 
sim;  Pegarinha,  Pegarinhos  e  Pegarrinhos  por  Pegasinha  e 
Pegasinhos;  Pontarrinhas  por  Ponterrinhas  e  Pontesinhas, 
são  formas  do  mesmo  nome  e  diminutivos  de  ponte!... 

Sermonde,  freguezia  de  Gaya,  antigamente  Sismonde, 
de  Segismundus,  i;  Vai  da  Uça,  Vai  da  Urra,  Vai  da  Ursa  e 
talvez  Urros  e  Urros  por  Ursos  e  Ursos. 

Xisto  e  Xirto,  o  mesmo  que  Cisto,  Sisto,  Sixto  e  Xis- 
tro,  povoações  nossas,  de  Sextus,  antigo  nome  pessoal,  e  este 
de  sextus  —  sexto,  adjectivo  numeral  romano. 

Sexto,  Sixto  e  Xisto  foram  santos. 

R  e  5  OU  Z 

Monterellos  e  Montesellos  ou  Montezellos;  Outeiro,  Ou- 
tarello,  Outorella  e  Outozello  por  Outeirello?  Outrela,  Ou- 
trelle  e  Outrete  por  Outeirete,  Outrello  por  Outeirello,  Outil 
por  Outeiril  o  mesmo  que  Outeiral,  e  Outinho  por  Outeiri- 
nho,  etc,  povoações  nossas. 

R  e  T 

Lamatide  por  Lamaride?  o  mesmo  que  Lamaredo,  La- 
marigo,  Lamareda,  Lameda,  Lamedo,  Lamega,  Lamego,  etc., 
povoações  nossas  que  tomaram  o  nome  da  lama. 


TENTATIVA    ETYMOLOOICO-TOPOXYMICA  491 


R  e  Z 

Sanradftlla,  Sanzadella,  Senradellas,  plural  de  Senradella, 
Senrelia  e  Senrellas  por  Senradella  e  Senradellas.  Do  por- 
tuguez  serradela,  planta  leguminosa,  e  este  do  latim  serratu- 
la,  de  serratiis,  como  diz  o  snr.  Cândido  de  Figueiredo. 

5,  B  e  \7 

Confronto-  se  Salteiros,  Balteiro  e  Valteiro,  de  Baltarius 
e  este  de  Walter;  mas  Salteiros  pôde  ser  uma  forma  de  Sol- 
teiros ou  vir  de  saltão,  insecto.  Vide  Saltão,  Solteiras  e  Sol- 
teiros, povoações  nossas. 

Fiat  lux. 

5  e  b  inicíQes 

confundiram-se  e  substituiram-se. 

Larjal  e  Sarjal;  Lomede  e  Semedo,  appellido.  Leixões  e 
Seixões;  Leixosa  e  Seixosa;  Ledesma  e  Sederma.  vulgo  Se- 
desma  e  Siderma,  povoações  nossas. 

5  8  T  Iníciaes 

confundiram-se  e  substituiram-se. 

Confrontem-se  os  vocábulos  portuguezes  sarro  e  tarro 
—  sedimento  de  qualquer  liquido.  Do  castelhano  srnTO  e 
e  este?  Talvez  de  sar  por  salf. 

Carrapassal  e  Carrapatal,  Garrapeçal,  Carapesai  e  Car- 
rapetal,  Carapeço  e  Carapeto,  Carapiço  e  Carapito;  povoa- 
ções nossas.  Carapesai  foi  appellido  nobre  e  antigo  de  João 
Carapesai,  alcaide- mór  de  Leiria  no  tempo  de  D.  Sancho  I. 
Vide  Leiria  no  Portugal  Antigo  e  Moderno^  volume  4  o,  pa- 
gina 79.  • 

Carrapassal  ou  Carrapaçal,  Carrapatal,  Carapeçal,  Car- 
rapetal  e  Carapesai  são  íórmas  do  mesmo  nome  tirado  de 
de  Carapeço,  por  Carapeto,  Carapiço  e  Carapito,  e  estes  de 
carrapato,  contracção  de  carrapateiro,  espécie  de  feijão,  que 
dá  o  ricino. 

Vide  Carapeços,  Carapeta,  Carapeta!,  Garapetalinho,  Ca- 
rapeteira,  Carapeteiro,  Carapeto,  Carapeto&,  Carapetosa,  Ca- 
rapicha,  Carapiço,  Carapita,  Carapito,  Carapuço  e  CíU-apuços, 
por  Carapicho  e  Carapiço,  e  Carrapassal,  Carrapatal..     Car- 


492  TENTATIVA    ET^MOLOGICO-TOPOXYMICA 


í-apatello...  Carrapatosa,  Carrapatoso,  appellido,  Carrapicha- 
na, Carrapitos  por  Carrapatos,  etc,  povoações  nossas. 

Ceira  e  Teira;  Celho  (Cima  de  Celho)  Telhe  e  Telho; 
Cesteira  e  Testeira :  Saboneiro,  appellido  e  Taboneira ;  Sabor- 
reira,  Zaborreira  e  Taburreira;  Saião  (Poço  do  Douro)  e 
Tayão. 

Saim  e  Thaim ;  Sainde  e  Tainde;  Salla  e  Talla;  Sa- 
mel.  Samuel  e  Tamel ;  Sanque  e  Tanque;  Sanguinhal  e  Tan- 
ganhal  por  Tanguinbal:  Sardoeira,  Sardoura  e  Tardouro; 
Sarrazim,  Sarrazina  e  Terr;3zina;  Sarrea,  appellido.  Sarria, 
na  Hespanha  e  Tarria,  casal  nosso. 

Sarroeira  e  Tarrueiro;  Sedões  e  Tedões;  Seixedo,  Tei- 
xedo  e  Trcixedo;  Seixeira  e  Teixeira. 

Somma  e  segue: 

Seixo  e  Teixo  e  Teixo ;  Seixoso  e  Toixoso ;  Sello  e  Tello  ; 
Sellões,  Teliões  e  Tenões;  Semonde  e  Themonde;  Sendal  e 
Tendaes,  plural  de  Tendal;  Sendas  e  Tendas;  Sente  e  Tente; 
Serena  e  Terena;  Serina  e  Terina? 

Serrão  e  Torrão,  aldeias;  Serreira  e  Terreira;  Serrenho 
Terranho  e  ferrenho;  Serrões  e  Terrões,  aldeias;  Setinha  e 
Tetinha;  S.  Gi«  e  Tangil:  Sonda  e  Tonda. 

Junte-se  ainda:  —  Sonim,  Tonim  e  Tunim;  Soppo  e 
Topo;  Sourinho,  Thourim  e  Tourinho;  Souto  e  Touto;  Sou- 
tosa  e  Toutosa;  Sugueiro  e  Tojeiro;  Taburreira  e  Zaburrei- 
ra  por  Saburreira? 

Toes,  Toitão,  Toito  e  Touto,  povoações  nossas. 

1.0  — De... 

2.° —  De  Theotonius,  ii,  iú,  nome  d'um  santo.  etc.  a  que 
o  povo  chama  Titonio,  na  Itália  Titoni,  unde  Titonis  —  Toes. 
De  Titonio  —  Toito  e  de  Toito,  Touto?  Também  Theotonius 
podia  dar  Titonius  e  Titonianus,  unde  Toitão?  Confronte-se 
Antonius  e  Antonianus;  Aurelius  e  Aurelianus,  etc,  nomes 
de  santos. 

*  S.°  —  Toito  e  Touto  parecem  também  formas  de  Souto, 
a  que  o  povo  chama  Soito.  Confronte-se  Soutosa  e  Toutosa, 
povoações  nossas :  mas  só  daria  tá  ?  Com  vista  aos  mestres 
de  glottologia.  Confronte-se  também  Sanganhal  e  Tanga- 
nhal,  Sainde  e  Tainde;  Sabeira  e  Sabeiro,  Taveira  e  Ta- 
veiro;  Tapedão  por  Tapadão,  de  sapadão  —  grande  sapada? 
ou  de  Tapadão  —  grande  Tapada?  etc.  povoações  nossas. 


TKNTATIVA    KTYMOLOOICO-TOPONYMTCA  4^3 

5  e  \7? 

Sirarelhos  por  Villareihos?  povoações  nossas. 

5  e  X 

Confronte-se  Sextus  —  sexto,  que  deu  Sexto,  Sixto  e 
Xisto,  nomes  de  santos,  —  Cisto,  Sisto,  Sixto,  Xirto,  Xisto  e 
Xistro,  povoações  nossas.  Confronte-se  também  Estremo  e 
e  Extremo ;  Estremadouro  e  Extremadouro ;  Estremadura  e 
Extremadura;  estrangeira  por  extrangeira:  estrangeiro  por 
extrangeiro;  estranho  por  extranho;  Estremoz  e  Extremoz; 
extremas  e  estremas,  etc. 

5  e  Z 

O  povo  no  Alemtejo,  etc,  diz  ração  em  vez  de  rasão 
ou  razão. 

«Quando  já  tinha  uso  de  ração.»  —  Ibi.  Confronte-se 
Adozeiros,  Sebouças,  Seloureiros,  Selouros,  Sepedros,  Sevi- 
vos,  Soliliveiras,  Zeiteiros,  Zabelleiras,  etc,  povoações  nos- 
sas, por  As  Bouças,  Os  Loureiros,  Os  Louros,  As  Oliveiras, 
Os  Pedros,  ou  Peros.  Confronte-se  Pedros  e  Peros,  povoa- 
ções nossas;  As  Avelleiras?!...  e  os  Azeiteiros. 

Junte-se  Adozeiros  por  A  dos  Eiros ;  Zorzaes  por  Os 
Orjaes  ou  Urjaes  ou  Urzaes  ou  Os  Urjaes  ou  Os  Urzaes.  Con- 
fronte-se Orge,  Orgens,  Orjaes  e  Orje,  Urjaes,  Urjal  e  Urzal. 
Do  francez  orge  —  cevada,  ou  da  urze  —  planta.  Confronte-se 
também  Soliveiras  por  As  Oliveiras,  e  veja-se  o  meu  longo 
topic£):  —  Diapasão  callaico. 

5a  e  Xa 

Ansara  e  Enxara,  povoações  nossas.  Desenxabido  por 
desensabido,  do  latim  sapidus,  a,  um  —  saboroso,  que  tem 
gosto  ou  sabor.     Cândido  de  Figueiredo  e  M.  Lexicon. 

5i  e  Xi 

Sixto  e  Xisto,  nomes  de  santos.  Também  temos  Cisto, 
Sixto,  Xistro  e  S.  Xisto,  aldeias. 


494  TENTATIVA    ET YMOLOGICO-TOPONÍYMICA 


5o  e  Tò 

Coensos  por  Coentos  e  este  por  Coentros.  Confronte-se 
Coentral,  Coentros,  Alcoentre  por  Alooentro  e  Aicoentrinho, 
povoações  nossas. 

T  e  5 

T  deu  -9  na  Inglaterra  e  na  Mancha,  v.  g,  Tarn  por  Parn, 
rio;  Tara  e  Thara,  hoje  Saire  (por  Sara),  rio  da  Mancha, 
— (íexemple  unique,  à  notre  connaissance,  ou  le  fh  se  soit  adouci 
en  s,  comine  en  anglais.» 

Heriche7%  46  vb.  Tarn. 

Confronte-se  Ceira  e  Teira;  Sabacheira  Tavagueira; 
Sabeira  e  Taveira;  Sabeiro  e  Taveiro;  Sabordelia,  Taborda 
e  Taborella. 

Saganhal  (por  Sanganhal),  Taganhal  e  Tanganhal;  Saim 
e  Thaim ;  Sainde  e  Tainde,  de  Athanagildi;  Saindos  por 
Taindos,  de  Athanagildus ;  Salaborda  e  Taborda. 

Salla,  Talla  e  Tallas;  Samel  e  Tamel;  Sanqiie  e  Tanque; 
Saonda,  Sonda  e  Tonda ;  Sarraco  e  Tarraco,  provincianismo 
beirão.  —  rapaz  baixo  e  gordo;  atarracado ;  Seixedo  e Teixedo; 
Seixeira  e  Teixeira;  Seixo  e  Teixo;  Seixoso  e  Teixoso;  Sello 
e  Tello,  povoações  nossas. 

Junte-se  ainda:  —  Sellões  e  Tellões.;  Serena  e  Terena; 
Serges  e  Terges,  ribeira  do  Alemtejo;  Serina  e  Terina;  So- 
gilde  e  Tugilde;  Soirão,  Sourão  e  Tourão;  Soirmho,  Souri- 
nho  e  Tourinho;  Soleima  e  toleima,  nome  commum. 

Sonim,  Tonim  e  Tunim;  Soppo  e  Topo;  Sourões  e  Tou- 
rões; Souto  e  Touto;  Soutosa  e  Toutosa;  Sugueiro,  Tojeiro, 
Tugai  e  Tugueira,  povoações  nossas. 

T  e  Z 

Confronte-se  Taburreira  e  Zaburreira  —  chão  que  dá 
milho  zaburro  ? 

U  e  Ou 

O  provincianismo  oupa !  é  a  forma  popular  de  hupa!... 
Vide  Ou  e  U,  supra. 


TENTATIVA    ErYMOLOOICO  TOPONVMICA  495 


U  e  Ui 

U  deu  ui  em  bom  portuguez  do  século  xvii. 
«...por  cansa   das   muitas   chuivas...»    E'   influencia  do 
latim  pluma  —  chuva. 

U  e  V 

Em  antigo  hespanhol  v  valia  it  e  vice  versa. 

Assim  era  documentos  do  século  xiv  e  xv  se  encontra 
uuo  por  uvo  —  houve,  teve,  e  hiuo  por  tuvo,  idem. 

Também  no  século  xv  em  Aragão  se  escrevia  vuo  por 
uvo — houve, —  como  em  Portugal  se  escrevia  —  vua  por  uva. 
Também  na  Hespanha  outr'ora  se  escrevia  obtuuo,  significando 
obteve^  etc. 


\7g,  \7é,  \7i,  17o,  V\i  deram  Ga  Gué,  Gui,  Go,  Gu 

Para  evitarmos  repetições,   vejam-se   os   tópicos   supra  ^ 

G,  B  e  y.    Ga,  Ba  e  Va.    Gu  e  Vu. 
Gué  por  Vé.    Gui  e  Vi 

Junte-se  gô  por  vô,  que  se  encontra  em  gomil,  outr'ora 
em  vomil,  do  latim  vomère  —  vomitar.     O  povo  diz  gomitar. 
Elucidário^  vb.  Vomil,  artigo  muito  interessante. 

w 

Esta  letra — W — de  origem  tentonica  (?)  soffreu  tratos 
de  polé  na  onomástica  portugueza  e  no  idioma  portuguez, 
por  não  haver  no  latim  letra  correspondente.  Assim  W alter, 
nome  germânico  e  nome  d'um  santo,  entre  nós  deu  Alter  e 
Alther,  Baltar,  Balteiro,  Balter,  Gaitar,  Gualtar,  Gualter, 
Valteiro,  Valter,  Walter,  etc. 

Para  evitarmos  repetições,  vejam-se  na  primeira  parte 
d'esta  minha  louca  Tentativa  as  paginas  41,  104,  364  e  365. 


496 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPOXYMICA 


X  e  Z 

Menexas   e  Menezas ;  Monxorro  por  Monzorro ! . . .   Gon- 
froute-^e  Montorro,  povoação  nossa  também. 

Z  por  Ç  C  5 


Azueira  por  Açoeira  e  este  por  Açoreira?  Azuleiral  por 
Açoreiral;  Azurara  por  Açorará  e  este  por  Açorera  o  mesmo 
que  Açoreira?  Azurva  por  A  Sorva  ou  Sorveira.  Oonfronte- 
se  Sorvai,  povoação  nossa  também. 

Vide  o  tópico  S  e  Z,  supra. 


TENTATIVA    ETYMOLOaiCO-TOPONYMlCA  497 


Desinências  da  onomástica  portugueza 
pouco  Dulgares 


flc 

E'  terminação  vulgar  na  Baixa  Bretanha  ou  em  r.eo-celta. 

Confronte-se  Polignac  —  domínio  de  Paulino ;  Brissao 
—  domínio  do  bretão;  Cognac  —  domínio  do  cum  ou  prín- 
cipe, etc. — Guillou,  lõO. 

flça-Qçc 

E'  por  vezes  augmentatíva. 

Barbaça;  Barcaça  (nome  commum  i ;  Cambiaço  por  Cana- 
biaço,  abundante  em  canabis  —  cânhamo;  Colmassa  por  Col- 
maça  —  muito  colmo.  Confronte-se  Palhaça:  Cortegaça; 
Ervilhaca;  Gestaço  e  Gestaçô;  Gramaça  e  Gramacho  por 
Gramaço. 

Confronte-se  Lagoaça,  Villaça,  Pedraça  e  talvez  Alco- 
baça por  Al-f-Covaça,  povoações  nossas,  como  Vinhaça. 

Confrontem-se  também  os  nomes  communs  populares, 
mulheraça,  caraça,  barcaça,  barbaças,  etc. 

Melgaço  e  Melgaz  ;  Melgar  e  Melgasa ;  Mijarada  e 
Millarada,  em  portuguez  Milharada;  Mílhaço  e  Mílhaça 
(Bouça  da  Mílhaça)  Mulheraça,  mulher  muito  grande.  Paja, 
Pajar,  Pajares  e  Pajaro,  em  portuguez  Palba,  Palhal,  Palha- 
res  ou  Palhaes  o  Palhaço,  o  mesmo  que  entre  nós  Palhaça; 
Palhaça,  não  palhaço. 

Pedraça,  não  pedraço;  Pomaraço,  o  mesmo  que  Poma- 
rão  —  grande  pomar,  antithese  de  Pomarelho  e  Pomarínho. 
Populaça  é  termo  vulgar,  equivalente  a  populacho  e  plebe ; 
Ricaço  —  muito  rico,  ricaça. 

Sardaça  e  na  Hespanha  Sardon  e  Sardoncilio,  que  se  lê 
Sardoncilho,  unde  Sardonselhe  por  Sardoncelhe,  o  mesmo 
que    Sardoncelho   e   Sardoncilho  —  sardãosinho.     Sadonselhe 

32 


498  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMTCA 


é  povoação  Dossa.  Senhoraça  (nome  commum),  Taboaça,  Ta- 
boaço  e  Taboaçô,  do  latim  tabula -- tsihoa.. 

Também  ha  na  Hespanha- — Tabla,  Tablada,  Tablaza, 
Tablazo,  Taboada  e  Taboazos;  Traba,  Trabada,  Trabazas, 
Trabazo  e  Trabazos  e  Travazos :  Travassô  e  Travasso,  não 
Travassa;  Villaca,  appellido,  aldeia_,  freguezia,  etc. ;  Vinhaça, 
aldeia. 

flço,  masculino  de  aça 

Brunhaxos  por  Brunhaços,  plural  de  Brunhaço  por 
Abrnnhaço,  grande  Abrunhal;  Calhamaço  por  canhamaço, 
de  canabis  —  cânhamo,  como  Cambiaço  por  Canabiaço ;  Ca- 
macho por  Gamacho  e  este  por  Gramacho,  da  grama,  como 
Gramicho,  Gramido,  etc.  etc.  Carcasso  por  Carcaço?  Con- 
fronte-se  Carcaça,  casal  nosso  também;  Cortegaço;  Espi- 
nhaço; Grandassos,  plural  de  Grandaço  por  granataço,  abun- 
dante em  grãos?  Madraço  por  Malandraço  —  grande  malan- 
dro —  nomes  communs. 


flçQ  e  ada 

Cortegaça  e  Cortegada;  Louriçal  e  Louridai;  Milhaço 
por  milharaço  e  Milharado;  Milhariça  por  milbaraça  e  Mi- 
iharada;  Rabaça  e  Rabada;  Pedraça,  Pedreda  e  Pedrada  por 
Pedraça,  três  aldeias.  Samaça  por  simaça?  e  Simada;  Ta- 
boaça, Taboaço  e  Taboado.     Não  vingou  a  íórma  Taboada. 


flcho 


Corbacho.  Confronte-se  Corvacho,  Corbete,  Corvete  e 
Corvite  por  corvinho;  Gramacha,  Gramacho,  Gramaça  e  Gra- 
maços. 

Pico  e  eco 

Fijacos  por  Fijocos  ou  Fojacos?  Vide  Fujaco,  povoação 
nossa;  Forneço  e  Fornico  por  Fornico. 


TKNTATIVA    K'!  VM'>t  t,(  •irc)-'y()['<>\  Y  W.r  \  499 


fida  coIIectiDQ 

Confrorite-se  Bacellada  ;  Boiada;  Burricada ;  Cabrada ; 
Cainçada;  Canniçada;  Carneirada;  Farrapada;  Fumarada; 
Futricada;  Grarotada;  Gericada;  Ninhada;  Mascarada;  Pape- 
lada; Passarada;  Salsada;  Torresmada,  etc,  nomes  communs. 

Alhadas  de  Alhada;  Carvalhada;  Cortiçada;  Feitada; 
Leirada;  Milharada  e  Milharadas ;  Moitadas,  plural  de  Moi- 
tada;  Outeirada;  Panellada;  Panelladas;  Pereirada;  Poma- 
rada;  Sobrada  por  sobreirada,  etc  ,  povoações  nossas. 

fldiga  e  adigas.    flriga  e  arigas 

Barcadigas  ou  Barcadias,  povoações  nossas,  como  Fradi- 
gas  e  Fragas.  Confronte- se  Villardiga,  em  Zamora;  Gar- 
rida, em  Poritevedra;  Garriga  e  Garrigas,  em  Gerona  e 
Barcelona.  Arandiga,  nome  d'um  santo  e  d'uma  povoação 
da  Hespanha.  Cárdia  por  Cardaria;  Cardida  e  Cardido; 
Cardiga  por  Cardida  e  Cardigos  por  Cardidos?  Caria,  Carias 
e  Carigas;  Alçaria,  Alçarias  e  Alcarida,  o  mesmo  que  Al- 
cariga  ? 

Carigas  talvez  seja  uma  forma  de  Caridas  e  Carias, 
como  Alcarida  é  uma  forma  de  Alçaria,  Cardiga,  de  Cardida 
e  Cardigos  de  Cardidos?  Cardida  e  Cardido  são  talvez  for- 
mas de  Cardeda  e  Cardedo.  Confronte-se  Lourido  e  Lou- 
redo;  Aze  vido  e  Azevedo;  Carvalhido  e  Carvalhedo ;  Rebo- 
rido,  Robaido,  Reboredo  e  Roboredo:  Gestedo  por  Gestido ; 
Barredo  e  Barrido;  Ramalhedo  e  Ramalhido;  Sobredo  e 
Sobrido. 

Fragas,  PVagoas,  Fradigas,  Pradizella  e  Fradizellas. 
Fradigas  e  Fradizella  são  talvez  o  me.smo  que  Fragoas  e 
Fragozella ! . . . 

Formas  anteriores  da  desinência  ães 

Aefi,  àos%  õcs,  p/n.9^  ães  e  ois  por  oes ;  eis  e  eis. 
Vide  pagina  263  da  primeira  parte. 

Albarrães  por  A 1 -j- Barraes ;  Antunhaes  por  Antunhães, 
de  Antonianis?  Azagães  por  azagaes. 


500  TENTATIVA    ETYMOLOGIOO-TOPONYMICA 


Braadinhaes  por  Brandinhães,  de  Blandinianis ,  patroai- 
mico  de  Blandimanus,  L  Confronte-se  Brandão,  Brandião, 
etc.  Brirães  e  Briraes  ou  Brirães;  Brunhaes  e  Brunháes  por 
Brunhaes  ou  Abrunhaes. 

Cães,  Cães  e  Cacães  por  Ca-j-Cães;  Cardaes  e  Recar- 
dâes,  de  Recardaes;  Carraes,  Carrães  e  Carrões;  Centiaes, 
Ceiíbiães  e  Sentiaes;  Cepães,  Sepães  e  Cepões,  dos  cepos; 
Cidrães  e  Cidraes;  Corjães  por  Corjaes  e  este  por  Crujaes, 
de  Corujaes.  Crastovães,  de  Christofanis,  patronímico  de 
Christophanus,  i,  Christovam. 

Faldijaes  por  Faldijàes  e  Faldigens  por  Valdigens, 
plural  de  Valdigem?  Fanhaes  por  Fanhães  e  Fanhões.  Tal- 
vez de  fanha,  nome  que  o  povo  dá  aos  defeituosos  da  falia. 
Fu  conheci  o  Fanha  de  Ooujoim^  assim  denominado,  porque 
nas  campanhas  da  mocidade  perdeu  os  gorgomilos P.... 

Na  mesma  campanha,  um  campanheiro  d'elle  perdeu  o 
nariz,  pelo  que  ficou  sendo  denominado  o  Sem  Nariz,  do 
Bacalar;  outro  companheiro  ficou  apenas  manquejando  leve- 
mente; outros  dois  companheiros  succumbiram,  A  campa- 
nha foi  uma  romaria  ao  Bom  Jesus  de  Braga!... 

Fiães,  Fiaes  e  Povoa  de  Fiaes ;  Guardaes  e  Guardães 
por  Guardaes.     Vide  Cardai  e  Cardaes. 

Lamaçaes  e  Lamaçães  por  Lamaçaes. 

Maçã,  Maçans  e  Macens;  Messegães  e  Pecegães  por  pe- 
cegaes.  Mogueirães  por  Mogueiraes  e  este  por  Nogueiraes? 
Moiraes,  Moirães,  Moiram,  Mourão,  Mourãos,  Mourens  e 
Mourões?!... 

Orjaes,  Urjaes  e  Orgens  por  Orjães?  Pecegães  por  Pe- 
cegães—  dos  pecegos  ou  pecegueiros;  Penedaes  por  Penedàes 
e  este  por  Penedões.  Confronte-se  Penedão  e  Penedones ; 
Perdagães  por  Perdigães  e  Perdigões;  Pinhaes  e  Pinhães 
por  Pinhaes. 

Sapogães  por  Sapogaes,  o  mesmo  que  sabugaes,  como 
Sapogal  por  Sabugal;  Serraes  (por  Serrães?)  ou  Serrões; 
Serròa,  Serros  e  Serrões. 

Serreleis  de  serrelaes,  serrelães  ou  serrelens,  e  estes  de 
serrela  por  serradella,  planta  leguminosa,  em  latim  serratula, 
de  serratus, 

O  povo  também  diz  sarradela  e  senradela.  Confronte-se 
Sanradeila,  Sanradellas,  Sarnadeila  por  Sarradella?  Sarna- 
dello  por  Sarradello?  Sarreira  por  Sarreleira;  Sarrella  por 
Serradella;  Senradellas  por  Serradellas;  Senrella,  Senrellas 
por  Senradella  e  Senradellas;  Serradello;  Serreira  por  Ser- 


TENTATIVA     ETYMOLOGICO-TOPONyMlCA  501 


releira,  e  Serreleis  por  Serrelaes,  Serrelães  jou  Serrelens, 
como  já  dissemos. 

Tibàes  e  Tivaes  ^y  Tojaes  e  Tujães  por  Tojaes;  Touraes, 
TouráQS,  Tourem,  Tourim,  Tourão  e  Tourões?!... 

Ruivaes  e  Ruivães. 

Varáes  e  Varaes;  Alvoraçães,  AlvoraçOes  e  Alvações  por 
Alvorações? 

Ardegães  e  Ardegão.  Confronte-se  Aldegão,  Aldeão  e 
Aldeijas  por  Aldeias,  unde  Aldegão  por  Aldeijão,  Ardegão 
por  Aldegão,  Ardegães  por  Aldegães  e  este  por  Aldejães,  o 
mesmo  que  aldeães  e  aldeões.  Alvarães  e  Alvarões;  Azagães 
por  Azagaes  e  Azoes  por  Azagões?  de  Azagaes  —  pastores. 
Bitarães  e  Butarens  por  Bitarens  ou  Bitarães*;  Cepães  e 
Cepões:  Chavães  e  Chavões,  de  Flavianis,  como  Chaviães; 
Coimbrã,  Coimbráes,  Coimbrão,  Coimbró  e  Coimbrões. 

Juate-se  Cuibrans,  Cuibranitos,  Guimbra,  Guimbras  e 
Guimbriz,  povoações  nossas  também. 

Junte-se  ainda  dous  carreiros  muito  Íngremes  e  muito 
estreitos  que  ha  em  Avintes,  aprumados  sobre  o  Douro  e 
chamados  guimbras,  pelos  quaes  os  negociantes  de  madeira 
arrastam  com  o  peso  próprio  e  com  o  auxilio  de  cordas  a 
madeira  que  exportam  pelo  Douro  para  o  Porto. 

Nas  taes  guimbras  d'Avintes  talvez  esteja  a  nebulosa 
etymologia  de  Coimbra,  pois  na  minha  opinião  guimbra  por 
goimbra.  quasi  Coimbra,  vem  de  Colimbria,  por  Coiibria, 
e  este  de  coliher  por  coluher,  serpente,  cobra,  por  serem  os 
taes  carreiros  tão  Íngremes,  que  somente  podem  vencer  se 
em  torcicollos  ou  serpeando  como  as  cobras.  Taes  são  as  ruas 
da  parte  alta  de  Coimbra,  e  assim  eram  talvez  as  de  Con- 
deixa Velha  ou  da  velha  Coimbra,  outr'ora  Colimbria. 

Coluber  deu  ou  podia  dar  coliber,  bri,  pois  já  no  latim 
puro  as  letras  i,  e  u  se  confundiram.  Confronte-se  monimen- 
tum  e  monumentum  e  mytilus,  o  mexilhão,  denominado  tam- 
bém mutilas,  mutulus  e  mytulos  por  Plinio,  Horácio,  etc, 
como  se  lê  no  Magnum  Lexicon. 

Coimbra  pôde,  pois,  vir  de  coluber^  mesmo  porque  no 
brazão  d'armas  de  Coimbra  figura  uma  serpente!... 


^    São  talvez  tórmas  de  Estevaes,  povoação  nossa  também. 

2  De  Victorianis,  patronimico  de  Victorianus,  i— Victoriano.  antigo 
nome  pessoal  e  nome  d'um  santo,  diminutivo  de  Victor,  como  Victorino, 
também  nomes  de  santos. 


502  TENTATIVA     i:TYMOLOOICO-TOPONYMir.A 


Farelães  e  Farlens  por  Farelães?  Fermentães,-  Fermen- 
tãos  e  Fermentões;  Gontães  ou  Gontens  e  Goiitão;  Guivães 
e  Guivans.  « 

Miiihães  e   Miiihãos;   Negraes   por  Negrães   e  Negrões. 

Pedaçães  por  pedaçòes?  Confronte-se  Pedaço,  Pedaço 
Mau  e  Pedaços,  povoações  nossas;  Poldrães  por  Poldrões, 
dos  poldros?  como  Poldraria  e  Poldreirinhos. 

Prós  i  gamos. 

Quintães  e  Quintões;  Samaiães  e  Samaiões;  Sandiães, 
Sandião,  Santiaes,  Sendiaes;  Sapiães,  Sapiões  e  Seipião; 
Tabelliães  e  Tabelliões ;  Tellões,  Teriães  e  Tenões  por  Tel- 
lões. 

A  desinência  ão  dos  substantivos  e  adjectivos  portugue- 
ses no  plural  deu  ãos,  aes  e  ões.  O  povo  sympathisa  mais  com 
a  desinência  ões.  Assim  em  vez  de  mãos,  pagãos,  cidadãos, 
pães,  escrivães^  tabelliães,  etc.  —  diz  mões,  pagões,  cidadões, 
pões,  escrivões  e  tabalhões. 

«...  que  o  levam  almocreves  e  regatãees.  .  .»  -  portu- 
guez  do  século  xvi.     Ruy  Fernandes  —  Õ54. 

—  Adão,  Adàes,  e  Adões,  mas  Adães  pode  vir  de  Atães 
ou  Attiães  ou  AtKeães  povoações  nossas  também.  —  Aldeãos 
e  Aldeõ«^s; — Ancião,  Anciã'es  e  Anções  por  Anciões? — Bur- 
gão,  Burgães  e  Burgões.  —  Chão,  Chães  e  Chões,  povoações 
nossas;  —  Cidadão,  Cidadãos  e  Cidòes  por  Cidadões,  antiga- 
mente cidadães;  —  Coimbrão  e  Coimbões;  —  Fontão  e  tbntões, 
antigamente  fontàes;  Frião.  Priães  e  Friões.  Fundo,  Fundão, 
Fundaes,  Fundoães  e  Fundões;  Galeão,  Galeáes  e  Galeões; 
Galrão  e  Galráes  por  Galrões;  Gavião,  Gaviães  e  Gaviões. 
De  Guido,  onis  —  Guidão,  Guiáes  por  Guidáes.  Guidãos^ 
Guidões,  Guifães  e  Guifões  ! 

Junte  se  Goães  por  Guiáes  e  Godão  por  Guidão;  Con- 
dão, Gondiães,  Gondians,  Gondião;  Guidãos  e  Guidões,  de 
Guido  ou  Guidão  e  Guidon,  nomes  de  santos;  Gandão  ou 
Gondam,  Gantão  e  Gontães  ou  Gontens;  João  e  Joães  por 
Joões? 

Limão,  Limãos  e  Limões,  povoações  nossas;  Mogáo  e 
Mogãos;  Mourão,  Mourões  e  Mourens  por  Mourães  ou  Mou- 
rões; Moção,  Mução,  Muçaes  e  Macães  ou  Mucens  !  povoa- 
ções nossas. 

Perdigão,  Perdigões  e  Perdagães  por  Perdigães  ou  Per- 
digões!.;. 

Quintão,  Quintãos  e  Quintões;  Rebordãos  e  Rebordões, 
povoações  nossas.     O  povo  também  diz  Rebordães. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  503 


Santão,  Santães  e  SantagOes,  algo  más  do  que  SantOesr 
e  Santegãos  por  Santagãos,  o  mesmo  que  SantagOes  po, 
santarrões?;  Sedão,  Cedàes  e  Sedões;  Sapiãos  e  Sapiões,  de 
Seipião;  Simão,  Simáes  e  Simões. 

Taralhão,  Taraihãos  e  Taralhões.  De  taralhão  ou  tralháo, 
ave;  Tecelão  e  tecelões,  antigamente  tecelães. 

Afains  por  Al+Fains  e  Fens  por  Fins?;  Agrações  — 
Povoa  de  Agraçãos  e  Sobral  de  Monte  Agraço;  Alcains  por 
Al-fCains;  Cães  e  Cacães  por  Ca-f-Cães;  Almargem,  Almar- 
jáo,  Almarjães,  Almargens  e  Almarjões?  Alvar,  Alvarão,  Al- 
varães  e  Alvarões.  De  Alvar,  pinheiro?  ou  de  Aivarus,  Ál- 
varo, nome  d'um  santo. 

Bouça,  Boução,  Bouço,  Boucoães  e  Bouções;  Careis  e 
Careis  e  esto  por  Carins,  de  Carinis?  Carro,  Carrão,  Carrães 
e  Carrões;  Catello,  Catellães  e  Oatellões;  Chã,  Chans,  Chães 
e  Chões;  Oidral,  Cidraes  e  Cidrães;  Coto,  Cotães,  Cotens, 
Cotiães  e  Cotões. 

Ervilha,  Ervilhal,  Ervilhães,  Ervilhão,  Revilha  por  Er- 
vilha,  Revilhães  por  Ervilhães   e  Revilhões  por  Ervilhões. 

Parlens  ou  Farelães  e  Farelães  ou  Farlens  (sic), 

Maçans  e  Macens;  Magalhã,  Magalhães^  Magalhans  e 
Magães  por  Magalhães?  Martim  Duroaez  por  Durães.  —  Do- 
cumento da  CoUegiada  de  Guimarães,  anno  1350. 

«Dado  ao  cabido  por  Martim  Lourenço  e  Joham  Lou- 
renço, irmãos,  celorgioaes  da  villa  de  Guimarães»,...  cirur- 
giães da  villa  de  Guimarães.  —  Documento  da  CoUegiada  de 
Guimarães  do  anno  1352.  —  Mureis  por  Mureis  o  mesmo  que 
Mourens,  Mouris  e  Mouriz.  De  Mourinis? 

Pia,  Piães,  Pião  e  Piões;  Pintim,  Pintem,  Pintens, 
Pitães,  Pitins  e  Pitões.  Dos  pintainhos,  chamados  também 
pintos  e  pitos;  Portigens  ou  Portigans,  talvez  forma  de  por- 
tagens?    Confronte-se  Magalhans  e  Magalhães. 

Quinta,  Quintans,  Quintães,  Quintão,  Quintões,  Quin- 
tiáo,  Quintians  e  Quintiães. 

Revilha,  Revilhães  e  Revilhões.  Confronte-se  Ervilha, 
Ervilhas  e  Ervilhão;  Rola,  Rola,  Rolans,  Rolães  e  Rolão; 
Ruival,  Ruivaes  e  Ruiváes. 

Sabugal,  Sabugaes  e  Sapogões  por  Sabugaes,  de  Sapo- 
gal  por  Sabugal;  Sacões  e  Sacois;  Silva,  Silva,  Silvan.  Sil- 
vanes.  Silvão,  Silvãos  e  Silvões.  Do  latim  silva  —  selva, 
matta,  brenha,  bosque. 


504  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Ri 

Canavae  ou  Canavai,  de  Canaviali?  —  A  Hespanha  tem 
Canabal!     Vide  Cambiaço. 

Donai.  De  Donadi  por  Donati,  patronímico  de  Dona- 
tus,  i  —  Donato,  nome  d'um  santo,  etc. 

Garibay,  appellido  hespanhol.  de  Garibaldi,  appellido 
italiano.  Gondivae,  de  Gondibaldi?  Guilhovai,  de  Wilibaldi 
o  mesmo  que  Vivaldi!...  Viavai,  de  Vivaldi. 


flinha  e  ainho 

Agra  e  Agrainhas  por  Agrinhas;  Andainho,  Andai,  An- 
dalho,  Andão  e  Andinho.  Bouçainhas  por  Boucinhas;  Ca- 
brainha  por  Cabrinha;  Campainhos  por  campinbos?  Casai- 
nho  e  Casainhos  por  Casalinho,  diminutivo  de  Casal;  Cer- 
tainha  e  Sartainho;  Cibrainho  ou  S.  Cibrainho  por  Cypriani- 
nho,  diminutivo  de  Cibrão  e  S.  Cibrão  por  Cypriano  e  S.  Cy- 
priano. 

Estevainha  por  Estevinha ;  Fontainha,  Fontainhas  e 
Fontainho  por  Pontinha,  Pontinhas  e  Fontiscos?  Longa  e 
Longainha  por  Longuinha;  Louçainha  por  Loucinha;  Maçai- 
nha,  por  Maçadinhas?  Confronte-se  Maçadas  e  Villar  de 
Maçada,  de  Maça  ou  Massa  —  granja,  quinta,  estabeleci- 
mento rural. 

Nabainhos,  de  Nabalinhos,  diminutivo  de  Nabal,  como 
Nobainho  por  Nabalinho.  Novainho  por  Novalinho,  diminu- 
tivo de  Noval.  Pardainhos  por  pardalinhos,  diminutivo  de 
pardal. 

Rabainho,  de  rabaninho,  diminutivo  de  rábano,  ou  de 
E-abadinho.  Confronte-se  Rabada,  Rabadella  e  Rabadôa; 
Regainho,  de  Regadinho.  Confronte-se  Regada,  Regadas, 
Regadia,  Regadias,  Regadinha,  Regadinhas  e  Regado. 

Sapainho,  Sapal  e  Sapalinho;  Sartainho,  Sartainhos  e 
Casal  de  Sartainho  por  Sertainho,  de  certaninho?  certanejo, 
como  Certaninha  supra. 

Sobrainho  e  Sobralinho. 

Trochainho?  de  tochainho  por  tochalinho.  Vide  Toja- 
linho.  Troviscainho  por  Troviscalinho.  Vide  Troviscal,  Viça 
e  Vicainha.  Confronte-se  Bica,  Biquinha  e  Fontainha;  Villa 
Frescainha  por  Villa  fresquinha. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPOííYllICA  505 


fli  e  ar 

Al  e  ar  confundiram-se. 

Aguiar  por  Aguial,  o  mesmo  que  Aguilar;  Avaliai  e 
Avellar;  Bacellal  e  Bacellar;  Casal  e  Casares  por  Casales ; 
Cebolal  e  Cebolar;  Golpilhal  e  Golpilhares;  Luval  por  lobale 
e  Luvar;  Marmelal  e  Marmelar ;  Rebolai  e  Rebolar;  Tojal  e 
Tuzar  por  Tujal;  Vinhal;  Xapelar  por  Bacellar?  Zebral;  Ul- 
mar,   Urmal  e   Urmar,   dos   olmos,   choupos,  como  Choupal. 

Domes  únicos 

Armamar,  Armamil,  Armão,  Armei,  Armental.  Armil, 
Armoniz,  Arnadello,  Arneiricho,  Arnequinha,  Arnim. 

Bacalar  ou  Vacalar,  Valdigem. 

Maçai  por  Macial  —  contracções  de  maceiral  ou  maciei- 
ral,  bosque  de  maceiras  ou  macieiras,  arvores  que  produzem 
maçans  e  deram  o  nome  a  muitas  povoações  nossas.  Taes 
são:  Maçã,  Maçans,  Maceda,  Macedinho,  Macedo,  Macedos, 
Maceira,  Maceiras,  Maceirinha,  Maçens  por  Maçans, —  Ma- 
cido  por  Macedo,  Macide  por  Macido,  Macieira,  Macieras, 
Marseninha,  Macieiro,  Maçoeira  por  Macieira,  M azeda,  rua, 
quinta  e  fonte  de  Lamego,  contracção  do  hespanhol  Manza 
neda,  que  deu  Mazeda,  o  mesmo  que  Maceda  supra.  Tam- 
bém manzanedo  entre  nós  deu  mançanedo  e  por  contracção 
Macedo. 

Junte-se  Maciel,  appellido,  o  mesmo  que  macial  e  Maçai, 
supra,  como  Freixiel  e  Freixial,  infra,  são  formas  do  mesmo 
nome. 

Também  temos  Machiai  e  Machieira,  Maxial  e  Maxieira 
que  talvez  sejam  formas  de  Macial  e  Macieira  ou  de  Amei-' 
xial  e  Ameixieira,  povoações  nossas  que  tomaram  o  nome 
das  ameixieiras  ou  ameixoeiras. 

As  meias  tintas  confundem. 

Prosigamos  com  as  desinências  ai  el  e  il. 

m  d  íi 

Alparrel  por  Aiparral,  —  o  parreiral;  Areal  e  Aroil  por 
Areil?  ou  Aroeiril  por  Aroeiral  —  bosque  ou  matta  de  aroei- 
ras —  lentisco. 

Barril. 

1."— De... 


506  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


'2.0  -  De  barrai  que  abunda  em  barro.  Confronte-se 
Barrai,  mais  de  100  povoações  nossas.  Barrocal  e  Marroquil 
por  Barroqnil?  Confronte-se  Barrocos  e  Marrocos  por  Bar- 
rocos ?  Borrai  e  Borrei ;  Cabanil ;  Cabral  e  Cabril ;  Caramoxel 
por  caramoxal,  de  Caramujo  e  caramujal. 

Carral  e  Carril,  povoações  nossas;  Carvoal  e  Carvoil; 
Favaoal,  Favaial,  Faval,  Favarrel  por  Favarral  e  Favasal  por 
Favacal;  Fetal  e  Fetil,  povoações  nossas;  Fraguil;  Freixial  e 
Freixial;  Juvenal  e  juvenil.  Landal,  o  mesmo  que  Landral 
e  Landril;  Loural,  Lourel  e  Lourií,  povoações  nossas. 

Maçai  e  Maciel,  appellido;  Malhadal^  malhadil  e  Ma- 
Ihaíl,  povoações  nossas;  Mamai  e  Marnel;  Melriçal  ou  Mel- 
rissal;  Mortal  por  Murtal  e  Mortazel  por  Mortazal:  Moural 
e  Mouril;  Murtaçal,  Murtal  e  Murtmhal,  da  murta. 

Nesperal,  Nogueira  e  Nugal ;  Noval. 

Olival;  Orgal  ou  Urgal;  Orijal!  Ortigal;  Ourai  e  Ouril; 
Outeiral  e  Outil  por  Outeiril?  Ovial  e  Ouvil. 

Padral;  Painçal;  Pam pilhai;  Panascal:  Parai  e  Peral; 
Pargal.  Vide  Espagal  por  Espargal ;  Parragei  por  Parrajal 
e  este  por  Ferragial;  Parral  e  Parreiral:  Pedral,  Pedregal; 
Peral  e  Ferral;  Pinhal  e  Pinhel;  Portal  e  Portel;  Pasmai  e 
Pasmil?  Passal  e  Passil,  povoações  nossas. 

Saboral  e  Sobral;  Sabugal;  Tarrastal  por  Carrascal? 
Telhai;  Tojal,  TozaL  Tugal  e  Tuzar,  formas  de  Tojal?!... 
Toural  e  Touril,  muitas  povoações.  Trigal,  Trogal,  Trugal  e 
Turguel  por  Torgal  etc.  Tubaral  e  Tuberal.  Ulmal,  Urmal 
e  Urmar.     Vide  Ormal  e  Olmal;  Urgal  e  Urjal.     Vide  Orjal. 

Zambujal;  Zebral  e  Zimbral. 

El  por  QÍ 

Alportel,  Portel  e  Portal;  Corvel  e  Corval:  Ervidel  e 
Ervidal;  Espinhei  e  Espinhal;  Fael,  Fail  e  Faial;  Ferrei  e 
Ferral;  Mourel  e  Moural;  Nodel  e  Nodar  por  Nodal;  Ponte- 
vel  por  Ponteval,  o  mesmo  que  Ponte  do  Vai,  povoação. 
Tamel  e  Tamal  por  Thomar?  Turquel  por  Turcal,  o  mesmo 
que  Torgal,  Trogal  e  Trugal,  da  torga,  urze. 

II  deu  eí 

O  povo  diz  —  dois  mél  reis,  três  mel  reis,  quatro  mel  reis, 
etc,  por  dois  mil  reis,  três  mil  reis,  quatro  mil  reis,  etc,  e 
em  vez  de  fácil  diz  facel,  e  deficel  por  difficil. 


TENTATIVA    ETYMOLOOICO-TOPONYMTCA  507 


Azuil  e  Zuil  por  Joel  e  Zuel,  nomes  de  santos,  tirados 
de  Joel  ou  Johel,  nome  bíblico. 

Pina,  ano,  ào,  an5,  âes,  aos  e  ões 

Abbação,  Abeção,  Abelhão,  Abrãa,  Abragão,  Abrahão, 
Abrão,  Abregã;  Abregão,  Adào,  Adebagão,  Adorão ;  Adrào, 
Adrejàes,  Adriano,  Adrião,  Agadão  (santo /,  Agraçòes,  Agrão, 
Agro-chão^  Agniã,  Aguião,  Aguilhão,  Aiana,  Airáes,  Airào, 
Albardão,  Alcanhões,  Alçarão,  Alcaron,  Aldão,  Aldeão,  Alde- 
gão,  Aldrogões  e  Aldrogos,  Alentejão,  Alfaião,  Alteirào, 
Alfeirões,  Alfoizirão,  Allíblões,  Alfundão,  Algarâo,  Algibei- 
rão,  Algueirão,  Alhões,  Aligào,  Aljáo,  Ailão,  Allemão,  Al- 
marjáes,  Almarjão,  Almarjões,  Almoíáes,  Almorjão,  Alpalláo, 
Alqueidão,  Alvação,  Alvações,  Alvaràes,  Alvarào,  Al  varões, 
Alvarrão,  Alvarrões,  Alviães,  Alvões,  Alvoraçôes,  Alvorão, 
Alvorrão,  Ambrões,  Anciães,  Ancião,  Anções,  Andam  e  Ap- 
dáo,  Andeáo,  And  ões,  Anhões,  Anquião,  Antão,  Antõas,  An- 
tunhaes,  Appellação,  Aragão,  Arangões,  Arão,  Arca,  Arcam 
e  Arção,  Ardào,  Ardãos,  Ardegães,  Ardegão,  Areaes,  Areões, 
Argana,  Argueirão,  Armação,  Armão,  Arões,  Arranas,  Arrão, 
Arrachã,  Arriais!...  Arrolans,  Arrudom,  Arudáo,  Ascensão, 
Assoes,  Atães,  Atão,  Atheães,  Aveção,  Avellaes,  Avellans, 
Avellões,  Avessão,  Avessões,  Avesão,  Avonões,  Aião  ou 
Ayão,  Ayrão,  Azagães,  Azeitão,  Azinhaes^  Azoes. 

Babaes,  Badanaes,  Badões,  Baians,  baião,  Bailào,  Bâi- 
Iham,  Baiões,  Bairão,  Bairraes,  Bairrão,  Baldo  ?s,  Baleizão. 
Ballão,  Ballugães,  Bandilhão,  Bandões,  Barambão.  Barão, 
Barbacào,  l^arbadães,  Barbadans,  Barbadão,  Barbães  ou  Bar- 
baes,  Barbelães,  Barracão,  Barrancão,  Barrancões,  Barrão, 
Barregáo,  F^)arreirão,  Barrigões,  Barrimáo,  Barrimau  ou  Bar- 
rio  mau,  Barrocaes  e  Barroohaes,  Barrocão,  Barrosan,  Barro- 
são, Batocaes  ou  Batoçaes,  Bei)'am  e  Beirão,  Beladãos  por 
Valladãos?  Berbedã,  Berganção,  Bodegào,  Bodelhão,  Boião, 
Boisão,  Boisões,  Boivães,  Boivão,  Bojões,  Bolão  ou  Rolão, 
Bolbugáo.  Bolegão,  Borbolegão,  Borbolhão,  Boqueirão,  Bo- 
tão, Botelhão,  Bouba,  Boução,  Bouçoães  e  Bouções,  Braçaes 
e  Braçal,  Braciaes  e  Bracial,  Bramanfào  e  Bramão,  appel- 
lido,  Brandão,  Brandião,  Bravães,  Brazào,  Brazões,  Bregiaes, 
Brejão,  Brineào,  Brirães  ou  Briraes,  Brunhães  ou  Brunhaes, 
Bugalháo,  Bujão,  Bulhão,  Bulhões,  Burbelão,  Burgães,  Bur- 
gão,  Burgões. 


508  TENTATIVA    ET YMOLOGICO-TOPONYMICA 


Cabanões,  Cabeçaes,  Cabeção,  Cabração,  Cabrão,  Ca- 
brellões,  Cabrões,  Pacães,  Cachão,  Cachofães,  Cadavão,  Ca- 
deirão por  Ca  de  Eirão!...  Cães  e  Cães,  Cagão,  Cajadães  e 
Cajados,  Cajam  por  Cajadão,  Calão,  Calção,  Calções,  Caldei- 
rão, appellido_,  Caldeirões,  Calvães  ou  Calvaes,  Calvão,  Cam 
e  Cão,  Camalhão,  CamalhOes,  Camarão  e  Gamarão,  Ca- 
marão, Cambas  e  Cambas  e  Cambões,  Camões,  Campanhã, 
Camparão,  Camparrão,  Campeã,  Can-can,  Candão,  Canhão, 
Canhões,  Cans,  Capões,  Caramachão,  Caramão,  Carambon, 
Carapuções,  Caratão,  Carção,  Carcavão,  Cardão,  Carlão,  tal- 
vez forma  de  Cardão,  Carraes  e  Carrães,  Carramão,  Carrão, 
Carrasona  e  Carraxana  por  Carrazana?  Carregam,  Carrões, 
Carrou,  Cartão,  Carvalhão,  Carvão,  Carvões,  Casalão,  Casa- 
rão, Casarões,  Cascalhão,  Casões,  Cassurrães,  Castanhaes, 
Castanheirão,  Casteição,  Castellans,  Castellão,  Castellãos, 
Castellões,  Castilhans,  Castilhão^  Catalão,  Catão,  Catellães, 
Catião,  Catrivana  e  Catrivanita,  Cavalhão,  (^avalhões,  Ca- 
vallões.  Caverna,  Cavernães,  Cavião,  CaviÕes,  Cebolaes,  Ce* 
dães  e  Sedões,  Ceidão,  Ceiíão,  Ceivães,  Ceilão,  Centiaes, 
Centiães  e  Sendiães,  Cepães,  Cepões,  Cerciães,  Cerejaes,  Cer- 
vães,  Cevadaes,  Chabão,  Chães,  Champana,  Champanáo.  Con- 
fronte-se  Campana  e  Camparão  por  Campanão?  Chancrào. 
Vide  Grranjão;  Chans,  Chão,  Chãos;  Charco,  Charcoes;  Char- 
naes  :  Charneiâo ;  Cbarqueirão;  Chavães;  Chavão;  Chaviães ; 
Chavim ;  Chavões;  Chaxão;  Chões;  Chorão;  Chorinca  e  Chor- 
nica ;  Choupana;  Christovão;  Christovãos;  Cibões;  Cidadãos; 
Cidões  por  cidadões?  Confronte-se  Ceidão  e  Seidões.  Cidraes 
e  Cidrães;  Cidrão;  Cigana;  Cigano;  Cintrão;  Cinzão :  Co- 
brança ;  Cochão  ;  Cochoírom  ;  Cochogom ;  Cocões ;  Cocujães  ; 
Codão;  Codeçaes;  Cogana;  Coimbrã;  Coimbràes  ou  Coim- 
brões e  Coimbrão  e  Coimbró!...  Colchões;  Colmeaes ;  Com- 
missão;  Communaes;  Concão ;  Constanção;  Corão ;  Corça; 
Corçães;  Corçãos;  Cordovão;  Cordovões;  Corgão;  Corjães; 
Corjaes;  Crujães  e  Crujaes;  Cortegana;  Cortezões;  Cortinhaes; 
Cortões  e  Cortonis;  Costães;  Costançana;  Costilha ;  Costilháo; 
Cotaes  ou  Cotães;  Cotão;  Cotellões ;  Cotem;  Cotens;  Cotinho ; 
Cotões;  Coutana;  Coutinho;  Couvanas;  Covaes;  Covalháo. 
Vide  Cavalhão  e  Cavalhões;  Covão;  Covellães;  Coviães :  Co- 
vilhã, Covilhães;  Covilhans  e  Covilhão  e  Covilhó;  Crasto- 
vaes;  Cravais;  Crujaes  e  Crujães.  Vide  ...Cubalhão;  Cucana 
e  Cucanha,  hoje  Ucanha;  Cudição:  Cuibrans;  CuUão;  Cun- 
gaes;  Cunhas;  Curraes;  C  urra  Ião ;  Curralões;  Curviáo;  Cus- 
taes ;  Cutena  ;  Cutiães ;  Cuvilhão  ;  Cuvinhó. 


TENTATIVA    KTYMOLOOIOO-TOPONYHICA  509 


Daíioes  por  Dafòes  e  Lafões;  Daivães...  Dalhàes;  Dar- 
dào;  Daroama;  Datão;  Deão;  Deilão;  Deimàos:  Deirão  ou 
Leirâo!...  Deláes ;  Dirão  da  Rua;  do  Durão;  Domiugào ; 
Damões;  Dos  Caos;  Dossáos:  Durão,  Duro,  Durões;  Dur- 
rães  por  Durrões  e  este  por  Durões? 

Eiraes;  Eirão;  Eirinhaes;  Eixiào;  Engarnaes:  Enxo- 
fráes;  Ermentão ;*  Ervilhaes ;  Ervilhão;  Ervões;  Escamarão; 
Escandaião;  Escapães;  Escarapão;  Escrivã;  Escrivão;  Esmo- 
gftes;  Esmujães;  Espaldão;  Esperão;  Esperões  e  Esporões; 
Espigão;  Estevaes;  Estevão;  Estorãos ;  Estragamantens;  Es- 
traganhaes;  Estrufans ;  Estrujaes;  Esturãos. 

Facaes;  Facão;  Fafiães  e  Fafiào  unde  Fiães;  Faião  e 
Fiào;  Faimaes;  Faiões;  Fajão,  Fajó  Fajões;  Falcão;  Falcões; 
Faldigense;  Faldigaes  por  Faldijaes?  Famaes;  Famalicão: 
Famão;  Famões;  Fandinhães;  Fangarrifão;  Fanhaes ;  Fa- 
nhões;  Fào;  Farafão  e  Farfão;  Farelàes  ou  Farlens!  ..  Far- 
minhão;  Farrobeirão;  Fasamões;  Favões ;  Feijão;  Feijó; 
Feijoaes;  Feijões;  Feirão,  Feirões;  Felgaes ;  Fellões  ou  Fol- 
iões ;  Fermelã  ou  Fermellã ;  Fermentães ;  Fermentãos ;  Fer- 
mentellos;  Fermentões;  Fernão;  Perradaes;  Ferraes  ou  Fer- 
rães;  Ferram  e  Ferrão;  Ferrões;  Fiães;  Fião;  b^itaes ;  Foão; 
Fogões  ou  Fungões;  Fojaes;  Folgão;  Foliões.  Vide  Fellões; 
Fontanaes;  Fontão;  Fontões;  Fontom;  Forjães;  Forjão ;  For- 
mão ;  Formentões ;  Fortinhaes ;  Fragão ;  Fraião  ;  Fralães  ;  Fra- 
mâo;  Framinhões;  Frazão;  Frazões;  Frechão;  Frejão  ou 
Frião;  Frelaes  ou  Frelões;  Friães;  Frião;  Frijão;  Frijom; 
Friões ;  Fullão ;  Fnnhaes ;  Fundaes ;  Fundão ;  Fundilhões  : 
P'undoães;  Fundões;  Fungões. 

Graibãa;  Gaivão,  appellido ;  Galão;  Galbào ;  Galeães ; 
Galeão  ;  Galifões  ;  Galiana ;  Galiano :  Galião  ;  Galiena  ;  Gal- 
ráo ;  Galvão;  Galvões ;  Gamarão;  Garalhaes ;  Garção;  Gar- 
ções; Gardaes  ;  G  arfo  es  ;  Garrão;  Garrião  ;  Garvão  ;  Gaspa- 
rões  ;  Gatão ;  Gatians  ;  Gatões ;  Gaviães  Gavião  ;  Gaviões ; 
Geliào ;  Getemião.  Vide  Chedemião;  Gião;  Ginjões;  Giões; 
Goães  ;  Godão  ;  Goilão  ;  Golaes  ;  Golão  ;  Golegã ;  Golões ; 
Golpilhães  ? . . .  Gomarães;  Gominhães  ;  Gomirào  ;  Gondam 
ou  Gondão  ;  Gondellães  ;  Gondiães  ;  Gondians  ;  Gondião  ; 
Gondinhães  Gondivão  e  Gondivan ;  Gonfào ;  Gontaes  ou  Gon- 
tens  e  Gontão ;  Gontinháes.  Vide  Gondinhães !  Gordimães ; 
Gorgolões ;  Gorgorão  !  Gorgulão  e  Gorgolhão  ;  Goriào  ;  Gor- 
jões;  Goulão;  Gouvães;  Gouveães;  Graçáo!  Gram;  Graudão; 
Granhão  ;  Granjão  ;  Grifão ;  Grilhão  ;  Grilheiros  ;  Guardães  : 
Guardaes  •   Guardão  ;  Guiães  ;   Guidão  ;   Guidãos  ;   Guidões ; 


510  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Guifães  ;  Cruinfães  ;  Guifões  ;  Guilhadães  ;  Guilbão  ;  Guima- 
rães; Guinchães;  Guicdaes;  Guinfães;,  Guivães  e  Guivans; 
Giiminbães  ;  Gumirães  ;  Giindaes  ;  Gundam  ;  Guntão  ;  Gusmão 
e  Gusmões. 

Hilarião. 

Idães  ;  Idanha  ;  Improas  ;  Inqnião  :  Invenções. 

Jandurão ;  Joães  ;  João;  Jordão;  Jordões;  Jorjaes  ;  Ju- 
lião; Juncaes;  Jurzaes:  Jazão. 

Lações;  Ladrões;  Ladrugães ;  Lafão;  Lafões;  Lagarem; 
Lagarinho;  Lamaçáes;  Lamaçaes;  Lamaes;  Lamarão;  Lamei- 
rão ;  Lameirões ;  Lanção ;  Larçã ;  Larção ;  Latães ;  Latagão ; 
Lavatões;  Lazão;  Leão;  Lebuçào;  Ledões  e  Lodões;  Leião; 
Leirão;  Leirião;  l^eitão;  Leitões;  Lenteirão;  Lenturões:  Len- 
tiscaes;  L(ões;  Leziíão;  Lezirões;  Libáes;  Libão;  Limão; 
Limãos  e  Limões;  Lobaes;  Lobão;  Lodão;  Lodões;  Lomão; 
Lombão;  Longões;  Lorvão;  Louçam;  Louções;  Louraes; 
Lousã;  Lumião. 

Maca;    Macabrão;   Macans;   Mação;   Macens;   Machiaes; 
Mações;   Maçom;  Macotão:  Madeira;  Magães;  Magalão;  Ma- 
galbã,  Magalhães  e  Magaihans;  Maganha;  Magarão;  Majapão. 
Vide  Malha  Pão  e  Malbapao;  Maladao;  Malagão;  Mal  Cabe- 
rão. Vide  Macabrão;  Malhadaes;  Malbadões;  Malbão;  Malha 
Pão  e  Malhapão;  Maihões,  Malho  e  Malhou!...  Mamões;  Mam- 
porção  e  Mão-pelo-cão;  Mancão;  Mangação;  Manjões;  Man- 
telães;  Mão  e  Mílos;  Marachão;  Maranhão;  Marão;  Marchães, 
Marchão,  Marchiào;  Ma-:cõ>es;   Marrão;  Martinhàes:  Marvão; 
Marxào;    Marzogâo;    Marzonaes;    Mastarrão;   Matào;   Mean- 
Means;  Meão;  IVledrões;  Medronhaes;  Meião;  Meiões;  Meijão 
Meimão  ;  Meixões;  Melão  ;  Meleões;  Mendavão;  Mendões;  Me 
redãos;  Mergulhão;  Meriães;  Meriões  e  Merões;  Mesquitana 
Messagàes;    Messejana;   Mexilhão;   Michão;  Midão;  Midões 
Mijão;   Milão;  Milhão;  Milhões;  Minhães;  Minhãos;  Minho 
toes;  Mirão;  Mirões;  Mixao;  Moção;  Mões;  Mogão;  Mogrãos 
Mogrão;  Mogueirães  por  Mogueiraes,  o  mesmo  que  Noguei- 
raes;  Moiraes  e  Moirães,  Moiram  ou  Moirão,  Mourão,  Mou- 
rãos  e  Mourões;  Molães;  Moldães  e  Moldes;  Mondrões;  Mon- 
jões   ou  Manjões;    Monsao;   Monsões;   Montaes;  Montalvão; 
Montão;  Moradaes;  Morçoãs;  Morentães;  Moriães;  Morilhões; 
Morraçâ;  Mosteirão;  Mouchaes;  Mouchão;  Mouchões;  Mou- 
jazão;  Moulões.  Vide  Mourões;  Mourão;  Mourãos;  Mourens; 
Mouricão;  Mourões;  Muçaes,  Muçães  ou  Mucens!...   Muçào. 
Vide  Moção;   Mujães;  Munjão;  Murão;  Murção  ou  Monsão; 
Marcellão;  Murigães;  Murjàes;  Muscão. 


TENTATIVA    KTYMOLOGUCO  TOPONYMICA  511 


Negrões  ;  Nevões  ;  Ninães  ;  Nizão, 

Oldrões  e  Oldrons!...  Olhão;  Olheirão  ;  Olheirões ;  OH- 
vão  por  Olivalão;  Orelhão:  Orjaes  ;  Ossaes  ;  Ougrào  ;  Ouraes; 
Ouriçaes;  Oarilhão  ;  Outão  ;  Oateirão ;  Ouzão  ;  Oveláo  on 
Avelão ;  Oyam. 

Pãa  ;  Façam  ;  Padirão  ;  Padrão ;  Paiam  e  Paião  ;  Pai  Cão  ; 
Painçaes ;  Paiões ;  Paixam  e  Paixão;  Palhavã;  Palheirão: 
Confronte-se  Alpalhão ;  Palião;  Pallão  ;  Palmazões;  Panão  ; 
Pantaleão:  Pantilhões  ;  Pão;  Paracham  e  Parachão  por  Mo- 
rachão;  Paranhão.  Confronte-se  Maranhão?  Passões ;  Pata- 
cão ;  Patacões ;  Patão;  Paiões;  Patrons ;  Pavão;  Pavilhão; 
Pavões  ;  Pavoraes  ;  Pedacães  :  Pecegães  ;  Pedom  ;  Pedrão  ; 
Pedregaes,  Pedregulhaes  ;  Pedrógão  ;  Pegões  ;  Pelagão  ;  Pe- 
licano ;  Pelicão  ;  Penaçães  ;  Penão  ;  Penascaes  ;  Pendão  ;  Pe- 
nedaes  ;  Penedão  ;  Perdagàes  por  Perdigões !  Perdurão  ;  Pe- 
reirão  ;  Pereirões  ;  Perrães  ;  Petimáo  ;  Piães  ;  Pião  ;  Picão  ; 
Picões  ;  Pijão  ;  Pimpão  ;  Pinhão  ;  Pinhosão  ;  Piodào  ;  Pisão  ; 
Pitães  e  Pitões  ;  Poceirão  ;  Poldrães  por  Poldrões ;  Polvarão  ; 
Pomarão;  Ponchão ;  Ponsão  ;  Pontalão;  Pontão;  Poutãos; 
Pontegãos  ;  Pontilhão  ;  Pontilhões :  Porção  ou  Poroão ;  Por- 
raes  ;  Porrão  ;  Porvilhão  ;  í'osataes  ;  Possilgaes  ;  Possilgão  ; 
Possilgões  ;  Pousão  ;  Poveraes  ;  Povoação  ;  Povoações  ;  Pra- 
caes  ;  Prachã;  Pragaes  ;  Preirões  ;  Presandães  ?  Prichã  ;  Pris- 
cões  ?  Prilhão  ;  Pulão. 

Quarteirões;  Quartilhães  ;  Quartinhaes;  Quebrantões  ; 
Queijaes  ;  Queiram  ;  Queirão  ;  Queirões  ;  Queirom  ;  Quin- 
chães ;  Quinta;  Quintaes ;  (^uintães  e  Quintans;  Quintão; 
Quintáos  ;  Quintiães;  Quintians  ;  Qnintião  e  Quintões  de  quin- 
ta Iões  ? 

Rabecão  ou  Eabeção  ;  Rabiáo ;  Ramalhão ;  Ramalhões; 
Randam  e  Randão ;  Ranhào  ;  Rapejães  de  Rapejaes  e  este 
de  rasaes  ?  Ratão;  Ratões;  Raviçaes.  Confronte-se  Carviçaes 
e  Rabaçaes!...  Raxão.  Vide  Rechão!...  Rebentão;  Reboltão  ; 
Rebordans  ;  Rebordãos;  Rebordões;  Recantào ;  Recardães  de 
recardaes !  Rechã,  Rechans,  Rechão,  Recião.  Vide  Reguião  e 
Requião  ;  Redouçãõ  ;  Refalcao  ;  Regueirão  ;  Reimão  ;  Relaos ; 
Religães  ;  Religião  ;  Relvaes  ;  Relvão  ;  Remigão  ou  Remon- 
gão  ;  Remicaes  ;  Remoáes;  Repeilão;  Requiães  ;  Resgaes?... 
Revilhães.  Vide  Ervilhaes  ;  Revilhões  ;  Riáes  ;  Ribaçaes  e  Ri- 
baçal.  Vide  Raviçaes ;  Ribão.  Vide  Ribeirão.  Roães  ;  Rochão  ; 
Rodam  ou  Ródão ;  Rojão ;  Rola,  Rola,  Rolães,  Rolans ;  Ro- 
lão;  Roldão;  Rolhão ;  Romã;  Romagom;  Romão;  Romãos  ; 
Romarigães  ;  Romãs  ;   Romeirão  ;  Romeáo  ;  Romeões  ;  Ron- 


512  TENTATIVA     ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


dães  ;  Rondão  ;  Rotão.  Vide  Rolão  ;  Roulã  ;  Roulão  ;  Ruão  ; 
Rubiães  ;  Ruivaes  ;  Ruivães. 

Sacarrão ;  Sacões ;  Sadão ;  Saes.  Vide  Ossaes  ;  Safães. 
Vide  Safões;  Safardão.  Vide  Safarão;  Saffordão  e  Safur- 
dão;  Saiam  e  Saião;  Sairrão;  Salgam;  Salgom ;  Salmães; 
Salomão;  Saltão;  Samaiães ;  -  Samaiões ;  Samão;  Samardã  ; 
Samardão;  Samarrão;  Samodães;  Samões;  Samorão;  Sandão; 
Sandarão;  Sandelhão;  Sandiães  e  Sandião;  Saatães;  Saata- 
gões;  San  tão;  Santegãos;  Santiaes;  Santulháo —  de  S.  Julião? 
Sapiãos  e  Sapiões;  Sapogães.  Vide  Sabugaes;  Sardão;  Sar- 
rão;  Sarrião;  Satam ;  Sebastião;  Sedão;  Sedões;  Segadães; 
Segões ;  Seição ;  Seidões ;  Seilão ;  Seirrãos ;  Seixão ;  Sejães ; 
Sellão;  Sellões;  Semião ;  Semilhans;  Sendão;  Sendiães;  Se- 
pàes.  Vide  Cepões ;  Sermagão ;  Serralhão ;  Serrão ;  Serrões ; 
Sertão;  Serviaes;  Sestaes.  Vide  Gestaes;  Seteaes;  Sevilhaes; 
Sião;  Silhães;  Silhão;  Silvan ;  Silvão;  Silvàos;  Silvões;  Si- 
mães;  Simão;  Simões;  Sinçães;  Sinfáes;  Sintiao;  Sirão;  Si- 
rões;  Sistaes;  Soalhães;  Sobraes;  Sobram;  Sobrans;  Sobrão ; 
Sobrecão;  Soirào  e  Sourão;  Solteirão;  Sorens;  Sortilhão; 
Sourões;  Sucçães:  Sueirão;  Sumaraes;  Suxào. 

Tabellião;  Tacão;  Tacões;  Tagarraes;  Tapedão;  Tara- 
Ihão ;  Taralhàos ;  Taralhões ;  Tarrazães ;  Tavilhão ;  Tayão ; 
Tedões;  Telhaes;  Tellões;  Tenões ;  Temperão;  Têmpora; 
Temporão;  Temporãos;  Tenães;  Teiidaes;  Tenraes;  Terrão; 
Terrões;  Tibães.  Vide  Tivaes;  Tições;  Tijão ;  Tivaes.  Con- 
fronte-se  Tibães;  Tivilhão;  Toes;  Toitão;  Tojaes;  Tojão; 
Tolões.  Vide  Tellões,  Tenaes,  Tenões,  e  Toulões;  Tontão; 
Toqueirão;  Torrão;  Torreão;  Torrejaes;  Torrejão;  Torrejões; 
Torrões ;  Tostão ;  Toulões ;  Touraes  ;  Tourães ;  Tourão ;  Tou- 
rões ;  Trancão ;  Trancões  ;  Tranozam  ;  Transfontão  ;  Trevões ; 
Trincão;  Trinhão;  Trobulhao;  Tudão ;  Tujães.  Vide  Tojaes: 
Tuvirães. 

Ulmaes;  Unhaes;  Unhão;  Urbão;  Urjaes.  Vide  Orjaes  e 
Orjães;  Urzalão. 

Vairão;  Valeizão.  Vide  Valeirão;  Valentão;  Vallagões  e 
Vallegões;  Valleirão;  Vallões;  Valmão;  Varaes  e  Varaes; 
Vascão ;  Vegião ;  Verão ;  Verdizão ;  Verdugão ;  Vermões ; 
Vião  e  Viando,  que  podia  dar  Vião,  como  Fernando  deu 
Fernão;  Vidão;  Videgao;  Vigão;  Vilhões;  Villão;  Villarião; 
Villões;  Vinhaes;  Vinhão;  Vinheirào;  Viraes  e  Virella.  Vide 
Varães  e  Varella. 

Zambujaes;  Zangão;  Zorzaes  ou  Zurzaes,  e  Zurzaes  ou 
Zorzaes.     Vide  Orgens,  Orjaes,  Urjaes,  Urgal  ou  Orgal,  Ur- 


TENTATIVA    KTYMOLOGICO-TOPON YMICA  Õ13 


gaes,   Urgeira,  Urgeiro,  Urgezes,  Urgueira,  Urjal,  Urjariça; 
Úrqueira   por  Urgueira,    Urzal,  Urzalào.  Urzelhe  e  Urzella. 
Da  urze,  que  o  povo  chama  urge^  planta  arbustiva. 

flna  e  ena,  irmos  gémeas  de  ôna 

Alcanena  e  Alcolena!..,  Barbacena;  Barcarena;  Barquie- 
na;  Barratena  por  Barratana.  Confronte-se  Balrateira  por 
barrateira.  Confronte-se  também  barbatana  e  barbatona, 
carrazona,  peruana^  mocetona,  Silveirona,  catapona  e  Foros 
da  Catampona  por  Catapona,  de  catapona,  apodo  ou  appel- 
lido. 

Beirana  é  o  feminino  de  Beirão,  como  beiroa;  Boirana 
e  Boiranita  por  Beirana  e  Beiranita?  Burratena;  Carrapicha- 
na; Cortegana;  grande  corte?  Coutana;  Goudigana;  Guêna; 
Matana;  Matrena;  Soutana. 

flncQ,  onco  e  ancos 

Cobrança  por  Cobrança?  Covanca;  Mirancos:  Poçanco ; 
Tancos;  Travanca. 

flncha  e  ancho 

Balancho ;  Balanxo,  Ballanxo;  Barbanxa  e  Barbanxo. 
De  vaile  ancho  e  barba  ancha  —  grande  valle  e  grande  barba. 
Barrancha,  aldeia;  Barranchó  por  Barrancho?  terra  abundante 
em  barro?  Brejanja  por  Breíancha?  Carreirancha;  Corregan- 
cha  por  Correga  ancha.  Confronte-se  Corga,  Corgas,  Corgo  e 
Corgos,  muitas  povoações  nossas.  Cumeirancha  por  Cumieira 
ancha?  Lameirancha;  Magancha  e  Monte  da  Magancha;  Ma- 
Ihadancha;  Novancha  — de  Lobancha,  loba  grande,  ou  Novan- 
cha  por  Novancho,  Noval  ancho?  Pernancha?  Pernanchinha 
e  Perna  Chã  por  Pernancha?  e  Outeiro  da  Pernancha;  Por- 
tanxo;  Pranchas,  aldeia  por  Pedraíichas,  pedras  anchas, 
grandes;  Prenxa  por  Prancha?  V.  Pedrancha  e  Pranchas; 
Vallancho,  sitio  próximo  do  Bussaco. 

finços 

Anços,  Britanços,  Pinhanços  e  Villa  Nova  d'xA.nços. 

33 


514  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


fins  e  ens 

Maçans  e  Macens. 

flo,  ôas  e  ões 

Limão,  Limãos  e  Limões. 

Ão  e  áu 

Barrimão    e    Barrimáu;    Burgáo   ou  Bargáu   e    Burgão ; 
Gondivão  e  Gondiváu;  Portimão;  e  Porto  Máu?!... 

flísco  e  isco 

Fontasco,  Fontaiscos  e  Fontiscos. 

Ç\z 

Alcafaz.  Também  temos  Alcafache  e  Alcafacho,  que  pa- 
recem affins  de  Alcafaz?!...  Confronte-se  Tavragem,  vulgo 
Travage  e  Travaz;  Ferragem,  vulgo  Ferrage  e  Ferraz;  Alfa- 
razes,  plural  d^Alfaraz;  Algaz.  (Jonfronte-se  Ferraz,  Travaz, 
Mouraz,  Dardavaz,  Geraz,  Gervaz,  Jagaz,  lambaz,  rapaz, 
Serrazes,  plural  de  Serraz;  Alcafaz.  Monsaraz,  goraz  e  Go- 
razes,  plural  de  Goraz;  Algiraz,  Garraz  e  Casal  do  Garraz, 
antigo  casal  da  freguezia,  villa  e  honra  de  Távora,  concelho 
de  Taboaço;  Gilvaz,  Barrabas,  etc.  Algiraz.  —  Confronte-se 
Aljariz,  Algeriz,  Argeriz,  Aljezur,  Algeruz,  Argeriz  e  Alju- 
riça  por  Aljariça?!...  x^lvernar,  appellido  nos  Açores;  Barra- 
bas; Braz,  nome  d'um  santo  e  de  varias  povoações  nossas. 
Cagarraz  e  Chão  do  Garraz,  antigo  nome  d'um  sitio  de 
Távora  (Taboaço).  Dardavaz  D' Alda  \az?  Dentazes,  plural 
de  dentaz?,..  Detraz...  P'erraz.  (Confronte-se  Ferroz!)... 
Forjaz,  appellido.  Gervaz,  de  Gervasius^  ii,  que  deu  Gervaz, 
como  Blasius^  ii,  deu  Braz,  etc.  Gilvaz,  Goiaz;  Gorazes, 
plural  de  Gòraz;  Jagaz;  Jonas  ou  Jonas  e  Janós:  Lobazes, 
plural    de   Lobaz.,.    Marrazes,   plural  de   Marraz?    Moas   ou 


TENTATIVA    KTYMOl.OaiCO  TOPONYMKA  515 


Moaz?  Monsaráa  ou  Monsaraz;  Mouraz  e  Monriz!,..  Novaz, 
de  Novaes?...  OrgynMz;  Palrnaz,  I''aLcaze:-;  c;  Paliri&zões;  l'az; 
Pelgazes,  plural  de  pelgaz;  (Juiraz.  Quires  o  rbiímis;  Thnmaz 
e  Thomazes ;  Trâncaz;  Travaz;  Traz;  Vaz. 

E  e  em 

Barje,  Varge  o  Vargem;  Valdigem  e  Valdigo  —  como 
diz  o  povo  e  diz  bfm,  pois  Valdigem  vem  de  Valdige  e  este 
de  Valdiije  por  Vadujo,  valJe  do  ujo  ou  dos  ujos  —  aves 
nocturnas  de  rapina  que  deviam  abundar  em  Valdigem,  por- 
que demora  no  sopé  da  grande  serra  de  S.  Domingos.  Con- 
fronte-se  Valduje  e  Valdujo,  povoações  nosssas  também. 

E  e  O 

Alferrarede  por  Alferraredo;  Alte  e  Alto;  Alvite  e  Al- 
vito; Harbeite  e  Barbeito;  Barrete  e  Barreto;  Batoque  e 
Batoco;  Bellide  e  Bellido;  Bertufe  e  Bertufo;  Burguete  e 
Burgueto ;  Cadeade  e  Cadeado;  Calvelhe  e  Calvelho;  Carra- 
zedo e  Carrazedo;  Contraste  e  Contrasto;  Cortelhe  e  Corte- 
Iho ;  Enviande  e  Inviando;  Fofe  e  Fofo;  Gainde  e  Gaindo; 
Guinde  e  Guindo;  Lavage  e  Lavajo;  Limede  por  Limedo; 
Lourede  e  Louredo;  Morgade  e  Morgado;  Murtede  por  Mur- 
tedo ;  Novelhe  e  No  velho;  Picote  e.  Picoto;  Pomarelhe  e 
Pomarelho;  Pousade  e  Pousado;  Quelhe  e  Qiielho ;  Rabalde  e 
Rabaldo ;  Redonde  e  Redondo;  Saide  e  Saido;  Sambade  e 
Sambado  ;  Sergide  e  Sergido,  o  mesmo  que  Sergude  e  Ser- 
gudo;  Teixe  e  Teixo ;  Torne  e  Torno. 

Eco  e  ico 

Montarecos;  Monteco  e  Montecos,  e  Montega  por  mon- 
teca;  Monte  do  Sunioa  por  Sone<ía?  Pocico;  Ponte  da  Lago- 
rica,  por  Lagarica  e  este  por  Lagariça? 

Êda,  êdo,  ida,  ido 

Alferrarede;  Alpedreda  (Horta  de).  Antuzede  e  Anto- 
sido;  Arazede;  Avelleda,  Bellaido,  Bellf>do,  Bellido  Belida, 
Belide  por  Belido;  Velleda,  Velledos.  V<41ida,  Vellide  e  Riba 


516  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Bellida;  Azevedo  e  Aze  vido,  Barbaido  por  Barbedo;  Bar- 
redo  e  Barrido;  Bellaido  por  Bellido  ou  Belledo,  Avelledo ; 
Cantanhede;  Cardida  e  Cardido  por  Cardeda  e  Cardedo ; 
Carrazeda,  Carrazede  e  Carrazedo;  Carvalheda,  Carvâlhede, 
Carvalhido;  Codecedo  e  Codexido:  Gestido;  Ladreda,  La- 
dredo  e  Ladrido?  Lagedo,  Lagidas  e  Lagido:  Lameda,  La- 
medo  e  Lamego  por  Lamedo?  Limede;  Louredo  e  Lourido ; 
Macedo,  Macide  e  Macido;  Machede ;  Morgido  por  ^loita- 
gido.  Coufronte-se  Portagide  por  Mortagide,  o  mesmo  que 
Mortagido  ou  Murtagido,  Murtede,  Murtosa,  etc.  ^hirtede: 
Nesprido;  Pedra,  Pedraido,  Pedreda  e  Pedrido;  Pisqueiredo 
—  dos  piscos?  CoufroQte-se  Pisca,  Piscaes,  Piscàoselo?  Pisco, 
Piscola,  etc.  Pontido ;  Portagide  por  Murtagide.  o  mesmo 
que  murtagede,  murtazede  e  Martede  supra.  Confronte -se 
Mortazel  por  Mortazal  e  este  por  Murtaçal.  o  mesmo  que 
Mortal  e  Murtal,  abundante  em  murta,  ou  Murtosa.  2uó  deu 
pó.  Confronte-se  Mortágua  e  Portagua,  etc,  Pegido  ou  Pugi- 
do?  das  pegas?  Peneda,  Penedia,  Penedo,  Penidello,  Pin- 
dello,  Penido  e  Penida.  V^ide  Monte  da  Penida;  Peseguido 
e  Pesseguido  por  peceguido  e  este  por  peceguedo,  pecegal, 
pecegueiredo ;  Reboido,  Reboreda,  Reboredo,  Reborido.  Re- 
voreda,  Roboreda,.  Roboredo,  Robuide,  Rovido,  o  mesmo 
que  Robuido  e  Reborido;  Saborida,  Saborido,  Sobreda,  So- 
bredo  e  Sobrido;  Seixedo  e  Seixido;  Tavarede;  Tiiesido, 
Tugido  8  Tuido  por  tojedo  ou  tojido ;  Torgueda  e  Trogueda, 
da  tórga  como  Torgal,  Trogal,  Trugai  e  Turgal  por  Tareai, 
Torgal!,..  Tourido;  Vai  de  Vellido;  Zido.  Vide  Azevedo, 
Azevido,  Azeda,  Azedo,  Azevo  e  Azido. 

r 

Ega 

Alvega,  A  Veiga?  Arega;  Ardega;  Caregas;  Ega;  Fon- 
tega ;  Hortega,  appeliido  hespanhol  e  portuguez;  Lamega; 
Montega ;  Pontega  ;  Vallega  :  Venega. 

Ei  c  eis 

Babe  Porei ;  Carem ;  Boreis ;  Careis :  Cruéis  ;  Darei : 
Dorneis;  Fieis;  Frei,  aldeia;  Gaufei ;  Garei,  o  mesmo  que 
Girei  ou  Gorei?  Gavei,  de  Japhedi  por  Japheti.  Vide  Café, 
freguezia,  Caféo  e  Bem  que  fede. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO  TOPONYMICA  .")17 


Goraiei;  Gostei;  Giiilhofrei;  Guilhovai  e  Guilhoveis ; 
Guimarei;  Jesufrei;  Lizei.  Confronte  se  Elizeu,  em  latim 
Eli2<íus,  Elizei,  Lizei"/ 

Mel  e  Mei  de  Baixo.  Confrontese  Meio  da  Aldeia,  Meio 
de  Baixo,  Meio  de  Cima,  Meio  do  Logar,  Meio  do  Souto  e 
Meio  do  Valle;  Migueis;  Quartéis;  Quitarei.  E'  talvez  apo- 
cope  de  Quitareis  por  Quitarães  e  este  por  Bitaraes,  de 
Victorianis,  patronímico  de  Victorianus,  i,  diminutivo  de 
Victor,  como  Victorina  e  Victorino. 

Bitaraes  <  Vitarães  <  Guitarães  <  Quitarães  <  Quitareis? 
<  Quitarei  ? 

Victor  foi  santo  e  deu  Victoria  e  Victorius,  ii,  unde 
Bitoure,  povoação  nossa,  como  Victor,  Victoria,  Victorias, 
Victorina,  Victorino,  Viou^rio  o  Vitoiinho  por  Victorino. 

Victoriano,  Victorico,  Victorina,  Victorino,  Vicíorio, 
Victricio  e  Victuro  o  mesmo  que  Victorio?  foram  santos. 
Quitarei  é  um  espécimen  de  qui  por  gui  e  este  por  vi. 

Confronte-se  também  Guinchães  e  Quinchães,  de  Quin- 
tianis,  ut  alibi;  Recarei;  Senharei ;  Serreleis ;  Tare  e  Tarei. 
Confrontese  Guiraaré  e  Guimarei?... 

Também  temos  Tares  e  Tariz,  Gomares  e  Gomariz  por 
Guimares  e  Guimariz,  como  Gomarães  por  Guimarães  e  Gu- 
mirães. 

Confronte-se  também  Garei,  Garim  e  Gariz. 

Eime 

Boliqueime  e  Mogueime,  povoações  nossas,  Mugueymes, 
em  Orense.  Mogueime  foi  nome  pessoal. 

Eira 

Abelheira;  Abutreira;  Açoreira ;  Agueira;  Aguieira; 
Aguincheira;  Angueira;  Avitureira ;  Azureira;  Bagueira; 
Barregueira;  Barroguoira ;  Brogueira;  Carregueira;  Choro- 
zeira  e  Corujeira ;  Corvaceira  e  Victoreira  ou  Abitureira. 
Confronte-se  Andorinheira  —  sitio  próximo  das  Caldas  das 
Taypas.  Vide  Observações  d  Citania  do  Dr.  Hiihner,  por  Mar- 
tins Sarmento,  paginas  8,  nota  4. 

Cerveira;  Cotovieira;  Cuqueira;  Curvaceira ;  Esgr.eira; 
Espargueira,  Espregueira,  appellido;  Estorinheira  e  Estorri- 
nheira. 


518  TENTATIVA    ET  YMOLOGICO-TOi^DN  VMICA 

Falagueira;  Felgueira;  Figueira;  Filgueiras ;  Fogueira; 
Formigueira;  Fragueira  e  Fregueira. 

(íafaalioeira;    (lalgueiní;    Galheira^;    (lallegueira;    Ga- 

^     Vid^^  Qrallieira,  infra. 
vieira;  (^avinheira;  Grallieira;  Lobagaeira;  Longueira. 

Malagueira;  Margueira;  Marzugaeira  por  Morcegueira  ? 
Melreira;  Melroeira;  JMiiihoteira,  de  miahoto,  ave,  papa-pintos; 
Mogueira,  Mogueirps  e  Mogueirinhas ;  Mosqueira. 

Moucheira.  Confroute-se  Mocho,  Mochos,  Moucharia, 
Mouchiuho,  Mouciíinhos,  Mouchão  e  Mouchões,  dos  mochos 
ou  dos  mochões  ou  muchões,  espécie  de  mosquitos. 

Murçogueira;  Musqueira;  Nogueira.  Nogueiras  e  No- 
gueirinhas;  Ort.igueira;  Palhagueira;  Pardaleira ;  Pecegueira; 
Pedregueira;  Pedreira;  Perdigueira*;  Picanceira ;  Preguei- 
ra;  Purtigueiras;  Regueira;  Roieira. 

Tavagueira;  Teixugueira;  Tramagueira;  Trigueira;  Tu- 
gueira;  Uigueira;  Urgueira;  Urgueiras;  Vagueira;  Valgueira; 
Valiagueira;  Valloagueira;  Valiongueiray;  Victoreira;  Vidi- 
gueira; Villagueira  por  Valiagueira?  e  Zurragueira. 

Eis  por  ões  ou  ens 

Careis  por  Carèis,  e  este  por  Carens,  e  este  por  Carins, 
de  Cariais;  Cotem,  Cotens,  e  Cuteis  por  Coteis  ou.  Cotens 
por  Cotiiis,  Cotiiihos,  Coutinhos  ou  Godichos;  Mourens  por 
Mourins,  o  mesmo  que  Mouris,  Mouriz  e  Mureis  por  Mureis, 
o  mesmo  que  Murens  por  Mourens. 

Eita  por  ita? 

Barbeifa  e  Barbeito;  Gordeita  por  gordita?  Confronte-se 
Gorda,  Gordesas,  Gordim  por  gordinho?  Gordina  por  gordi- 
nha; Gordo,  Gordòa,  Gordos,  Gorducho,  Gorduras,  etc,  po- 
voações nossas. 

El  por  Ê*Ioah-Deu5 

Abdeel;  Abdiel;  Abiel ;  Abimael;  Adiei;  Aharehel ;  Ariel; 


^    Confronte-se  Pertigueira,  povoação  nossa  também,  o  mesmo  que 
Perdigueira? 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  519 


Asael;  Asabel;  Asiel;  Asrael;  Asriel ;  Azael;  Azahel;  Azar- 
reel;  Bathuel;  Basebeel;  Daniel;  Esriel;  Ezechiel;  Gabriel; 
Ismael;  Ismiel;  Israel;  Jalaleei;  Jeriel;  Joel;  Manuel  (Em- 
manuel);  Mathusael;  Miguel  (Michael);  Misael;  Nathanael; 
Oziel ;  Raphael;  Samuel;  Suriel;  Uriel;  e  Zabadiel. 

Todos  estes  nomes  foram  tirados  por  mim  dsL  Concordân- 
cia Bíblica  e  alguns  d'elles  se  encontram  mais  ou  menos 
deturpados  na  onomástica  portugueza. 


Elha,  elhe  g  elho 


Alvitelha;  Amarelho;  Arelho;  Bertelhe;  Boelhe;  Borre- 
Iho;  Botelho;  Boucelha;  Calvelha,  Calvelhe  e  Cal  velho; 
Cambelhe;  Cardelha;  Caselha,  Caselho,  diminutivo  de  casa; 
Cozelhas  por  Cazelhas,  diminvtivo  de  casas;  Cervelhos;  Cha- 
velhas, Chavelho ;  Cidadelha  e  Cidadelhe,  diminutivo  de 
cidade. 

Cortelha,  Cortelhe  e  Cortelho,  diminutivo  de  corte ;  Ca- 
velhas,  diminutivo  de  covas ;  Cravelhe ;  Ervelho ;  Farelhe  ; 
Forelha  ;  Formoselha  ;  Francelha  ;  Francelho  ;  Gadelha  ;  Ga- 
delho  ;  Gelhe  ;  Gelhelhe  ou  Gelhelha  ;  Gomelha  ;  Gontelhe  ; 
Gontelho  ;  Gravelhe ;  Guerrelha ;  Lagarelhos,  diminutivo  de 
lagares. 

Lidadelha;  Linharelho,  diminutivo  de  linhar;  Lobelha, 
Lobelhe,  diminutivo  dos  lobos  ;  Lombelho  ;  Melhe  ;  Negrelho ; 
Novelhe,  Novelhes,  Novelho  e  Novelhos. 

Nunelhe  ;  Pardelhas  e  Pardelhe  diminutivo  das  paredes  ; 
Pelho ;  Pingarelhos ;  Pomarelhas ;  Pomarelhe,  Pomarelho  e 
Pomarelhos,  diminutivo  de  pomar;  Pontelha  e  Pontelho, 
diminutivo  de  ponte ;  Porcelhe ;  Portelha  e  Portelho ;  Proze- 
Ihas  e  Prozelho. 

Pulhelho ;  Quelha,  Quelhas,  Quelhe  e  Quelho  ;  Quarte- 
Ihas ;  Quintarelhos^  diminutivo  das  quintas  ;  Rebelha ;  E-ebe- 
Ihos ;  Remelhe  ;  Revelha  ;  Revelhe  e  Kevelhos. 

Sabadelhe  e  Sebadelhe,  diminutivo  de  cevada;  Sande- 
Ihas;  Sernancelhe;  Silvarelhos;  Telhe  e  Telhelhe,  diminutivo 
da  telha?  Torreilha  por  Torrelha ;  Tourelhe,  diminutivo  de 
touro,  como  Tourilhe  e  Tourinho,  povoações  nossas  também ; 
Urzelhe ;  Valhelhas,  diminutivo  dos  valles ;  Verdelha  ;  Ver- 
delho ;  Vermelha  e  Vermelho ;  Vilhelho ;  Villarelho,  diminu- 
tivo de  villar;  Villelhe;  Zarelho,  casal,  etc.  povoações  nossas. 


520  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMIOA 


El  e  er      - 

Confronte-se  o  portuguez  aluguel  e  aluguer,  auctorisado 
pelos  diccionaristas. 

Xavier  e  Zaviel  por  Xavier,  povoações  nossas. 

Em,  na  proDincia  de  Gôa  (índia  portuguesa) 

Arondem  ;  Arvalem  ;  Assorem  ;  Barzem  ;  Betalbatem  ; 
Birandem ;  Cacora  Langem  ;  Canrem  ;  Caraxalem  :  Caraza- 
lem ;  Carchirem ;  CÉorlem  ;  Cocoldem ;  Colem  e  Calem  ;  Co- 
lorem ;  Compordem  ;  Conquirem  ;  Corangoenem  ;  Corfem  ? 
Damoxem  ;  Dantaxem ;  Datem;  Derodem. 

Embarbacem  ;  Gavanem  ;  Gonsalem ;  Goundogrem ;  Laem; 
Latobursem;  Loiien ;  Maem ;  Malcomem?  Mandrem ;  Man- 
quem ;  Matiem  ;  Mauninguem  ?  Mencurem  ;  Mollem  e  Mulem  ; 
Morlem  ;  Nagarem  ;  Nenorem  ;  Nunem  ;  Ornem. 
Paliem ;  Parascalem ;  Pernem ;  Pissurlem ;  Pololem  ;  Poran- 
tem ;  Poriem ;  Porsem ;  Potrem ;  Pozem ;  Salem ;  Sanvordem  ; 
Sanvorxem;  Sarolem;  Sircorem;  Tamboxem ;  Tinem;  Tor- 
xem ;  Ugem ;  Ustem ;  Vaddem ;  Vaguriem  e  Vagorem ;  Ve- 
rem; Vertem;  Vorondem ;  Heldem,  etc. 


Ena 


Alcanena;  Alcolena  por  Alcalena?  Barcarena  e  Barchie- 
na;  Burratena?  Centena  Guêna,  Guêno.  Confronte-se  Buena 
e  Bueno,  Boa  e  Bom,  antigos  nomes  pessoaes;  Lucena;  Mar- 
chiena;  Matrena;  Morelena  (Paço  de);  Morena;  Motrena; 
Pontena  por  Pontella,  pequena  ponte?  Confronte-se  Fontella; 
Quenena;  Serena;  Sobrena;  Verderena;  Vilhena. 

Ende,  na  Bespanha 

Gondesende,  em  Orense;  Gosende  em  Orense;  Gusen- 
des,  em  Leão;  Marcosende  em  Pontevedra;  Modrosende,  em 
Pontevedra;  Resende  (não  Rezende)  em  Lugo;  Tosende,  em 
Lugo  e  Orense. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMTCA  ')2l 


Enga 

Alvarenga  ;  de  alva  areneca  —  areiinha  alva.  Confronte  se 
Arealva  e  Arealve ;  Arenga;  Berlenga  ou  Berlengas ;  Busta- 
renga  de  Bostarenga,  aldeias;  Enga  feminino  (portuguez  po- 
pular) pasto,  parasitismo;  costume;  uso. 

E  prefixo  dé  muitos  vocábulos  portugueses. 

Lenga-lenga  ;  Moenga ;  Mostrengo,  nome  commum  ;  Pen- 
denga  (brasileiro)  pendência;  Perlenga;  Podenga  ou  podengo; 
Pudengas  (partes)  por  pudendas;  Soenga,  (^)  solarenga? 
Vilhenga,  etc. 

B'o 

A  Hespanha  tem  Ponteio  e  Fontéo.  Nós  temos  Aléo  e 
Aléus  ;  Boléo-quinta  ;  Botaréos  plural  de  Botaréo  ;  Coruchéo 
e  Coruchéos  ;  Lello,  appelido  e  Léo,  aldeia:  Poríello  eJPortéo; 
Réo,  pomar,  etc. 

Ermo  e  erma 

Castermo,  aldeia  ;  Caserma ;  Casermo  ;  Fonterma  ;  Se- 
derma.  O  povo  também  diz  Sedesma ;  Siderma. 

Erto  (desinência) 

Alberto;  Dagoberto;  Felisberto;  Gilberto;  Roberto, 
Gualberto,  Gumberto,  etc,  nomes  de  santos. 

Ete,  eta 

Achete;  Alcochete,  por  Al-tojete?  Aldarete ;  Alegrete; 
Azinhalete,  diminutivo  de  Azinhal;  Balicete;  Bacello,  Bacel- 
lete  e  Bacellinho. 

Baixetes;  Barquete ;  Barrete;  Batanete;  Bilrete ;  Bor- 
dalete  e  Bordalo;  Borgo,  Borguete,  Burgete,  Burgo,  Bur- 
gueta,  Burguete,  Burgueto  e  Burguinho. 


de  barro 


^    Soenga  vem  do  portuguez  popular  soenga  —  fabrica  de  panellas 


52'2  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Brete,  Bretes  e  Brefcos;  Cadete;  Caniveta  e  Canivete; 
Cavallo,  Cavallinho,  Cavalucho  e  Cavallete;  Corvete  e  Cor- 
yite  por  Corvito. 

Cruzetes  por  cruzetas.     Confronte-se  Cruzetinhas,  Cru-- 
zetinhos,    Cruzinha    e    Cruzinhas;     Fragueta    o    Fraguinha; 
Furreta  e  Fuzeta. 

Gaeta?  por  Gaieta,  dos  Gaios,  como  Gaiata  e  Gaiate. 
Confronte-se  Gaia,  Gaião,  Gaio,  Gaios,  Gaiinhos,  Gaioso, 
Gaiosa,  etc.  Gafete  de  Japheth?  Gamoalete  e  Gamoalinho  ; 
Gazeta  por  cazeta  —  quinta.  Gorreta  e  Gulreta. 

Guardai  e  Guardete  por  Guardalete,  o  mesmo  que  guar- 
dalinho  por  Cardai  e  Cardalinho  ;  Guardinhos  por  Guardali- 
nhos  e  Cardalinhos ;  Guardete  por  Gardete,  de  cardete  por 
cardalete  ? 

Lagareta ;  Marmelete;  Olivete  de  Olivalete,  diminutivo 
de  Olival;  Outrete  por  Outeirete,  diminutivo  de  Outeiro; 
Palheta,  Palhetinha,  Palhinha  e  Vai  de  Palhete. 

Pinhete ;  Pipalete ;  Piquete ;  Panhete,  de  Pinhete  por 
Pinhalete,  diminutivo  de  Pinhal,  como  Pinhalinho.  Confron- 
te-se Azinhalete  e  Azinhalinho,  diminutivos  de  Azinhal; 
Ramalhete,  diminutivo  de  ramo  ou  ramalho  ;  Rodete ;  Bo- 
quete;  Tapete;  Villacete,  etc.  povoações  nossas.     . 

Eu 

Baldreu  ou  Valdreu,  povoação  nossa ;  Caheu  ou  Alto  do 
Caheu  ou  Alto  do  Calhau^  povoação  nossa;  Milleu  e  Mirleu, 
de  millium,  milho.  D'aqai  talvez  Milreu!...  e  de  sal,  Salreu? 
Yiseu  e  Viseus.  De  Visoy?  antigo  nome  pessoal  ou  antes  de 
Yaseu,  por  Basileu,  o  mesmo  que  Bazilio_,  antigo  nome  d'um 
santo,  tirado  de  Basileia,  cidade  da  Suissa.  Confronte-se  Pom- 
peia e  Pompeu,  Bazileia  e  Bazileu,  Roma  e  Romeu,  Thodeia 
e  Thadeu,  etc. 

De  Vizoi  ou  Vízoy  Visoius,  Viseius  <:^  Visêio,  Viseu  ?  De 
Bazileia  <<  Bazileu  <;  Vazeu  <<  Vizeu  ?. . , 

Eu  (nomes  próprios) 

Abreu ;  Achillêu  e  Aquilêu,  santos.  Confronte-se  Achilléa, 
antigo  nome  d'uma  ilha  do  Mar  Negro,  onde  se  crê  sepultado 
Achilles,  e  Aquileia  antiga  cidade  da  Itália.  Vide  j\Iagn.  Le- 
xicon.    Aggeu,   santo    Agilêu   e    Agillèu,  santos.  Agyllêu  foi 


TENTATIVA     KTYMOLOQICO-TOPONyMICA  523 


nome  d'um  luctador  famoso  e  d'um  filho  d'Hercules.  Aquilêu, 
santo. 

Alfcu  ou  Alphêu,  santos  do  latim  AlphHus,  /,  Alphêu,  rio 
da  Morêa,  celebre  nas  fabulas,  unde  Alpheias,  adis,  Alpheia 
ou  Arethusa,  Nympha,  amante  de  Alphêu.  AlphriU  foi  tam- 
bém, nome  biblico,  em  latim  Alpheus,  ii;  Amadeu,  santo, 
Amidêu?  Andrcu? 

Argêu,  santo^  do  latim,  Arg(luH,  ei,  o  mesmo  que  Argi- 
vus,  i,  d'Argos  ou  da  Grécia.  Astrcu.  Bartholomeu,  santo: 
Basilêu,  santo.  E'  o  mesmo  que  Basilisio  ou  Bazilio;  Borro- 
mêu,  santo;  Briarêu? 

Cachêu;  Carizêu?  Carizia,  Carizio  e  Carisio  foram  san- 
tos; Chaldêu;  Cindco  ou  Cindêa,  santo;  Clodoveu?  E*  o  mes- 
mo que  Ludovic,  Luiz  o  Clóvis;  Cyreneu ;  Deuladeu,  santa. 
^'  o  mesmo  que  Deodata,  Deod&to,  e  Deus  dedit,  também 
santos. 

Dorostovco  ou  Dorostoveu,  santo ;  X^orotêu,  santo,  como 
Dorotoa,  também  santa;  Dosiloo,  santo  ou  Dosileu?  Droto- 
véo  ou  Drotovcu,  santo;  Eliseu,  santo.  E'  o  mesmo  que 
Elisio,  Elyseu  e  Elyzeu,  também  santos:  Filisteu;  Filothêu 
e  Philotêu,  santos;  Galdêu;  Hebreu;  Idumêu;  Irenêu.  santo; 
Isêu  (em  latim  Isaeus)  nome  grego  do  mestre  de  Demos- 
thenes. 

Lebrêu;  Lycêu;  Macabêu  e  Machabeu,  santos,  unde  Ma- 
cabio,  povoação  nossa;  Menelêu^  santo;  Menêu,  santo.  Moseu 
e  Museu,  santos;  Morphêu  (myth.);  Narsea,  santo;  Nerêu : 
Peleu,  santo  de  Peleus,  ei,  Pelêu,  pae  de  Achilles. 

Perseu?  Pompeu,  santo;  Promethêu  (myth.);  Prothéu; 
Ptolomeu,  santo,  nome  de  16  reis  do  Egypto ;  Pyrêu ;  Ro- 
meu? Salrêu;  Sandeu;  Tadeu  e  Thadêu,  santos;  Thadêu, 
Thadeia,  Thodeia  e  Parada  Thodeia ;  Thesêu,  rei  d'Athenas, 
filho  de  Egeu  e  de  Ethrêa,  filha  de  Pithêu ;  Talalêu,  santo; 
Tolomêu,  santo.  Vide  Ptolomeu;  Vazêu?  Zachêu,  santo,  de 
Zachêus,  ei,  nome  biblico ;  Zebedêu,  de  Zehedeus^  ei,  nome 
hiblico,  etc. 

ÊZ;  eza,  ezas  e  ezes 

Banrezd  e  Banrezes;  Braveza,  bravura,  qualidade  do  que 
é  bravo,  bravio  ou  Bravêz?  unde  bra vezes  e  Abravezes  por 
Al -[- Bravezes  —  na  acepção  de  moutezes  —  pcrcos  monte- 
zes,  cabras  montezes,  porcos  bravos  ou  javalis  e  cabras  bra- 
vias, selvagens,  bravas. 


524  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Nós  não  temos  actualmente,  mas  talvez  que  já  tivéssemos 
bravêz  e  bravezes  na  acepção  de  bravo  e  bravos,  montez  e 
montezes  supra,  o  mesmo  que  montanhez,  adjectivação  ti- 
rada dos  montes  e  montanhas.  Burguês  e  burguezes;  Cam- 
bezes  ;  Canavezes  ;  Chaldeus  e  Chaldezes ;  Cortês  e  Cortêz  — 
do  baixo  latim  curtensis — de  curtis=cortis — corte;  descor- 
tês e  descortêz.  São  adjectivos  e  deram  no  plural  cortezes  e 
deseortezes  para  os  dous  sexos,  —  não  certezas  nem  dercor- 
tezas,  como  soez,  também  adjectivo,  — deu  soezes  —  não  soêzas. 
Pelo  contrario  portuguez  deu  portuguezes  e  portuguezas ; 
francez  deu  francezes  e  francezas  ;  inglez  deu  inglezes  e  in- 
glezas  ;  irlandez  —  irlandezes  e  irlandezas;  escocez — escoce- 
zes  e  escocezas ;  norueguez  —  noraeguezes  e  norueguez-as ; 
dinamarquez  —  dinamarquezes  e  dinamarquezas  ;  leonez  — 
leonezes  e  leonezas,  etc.  "^ 

Parece  que  montez  deu  montezes,  não  montezas.  Assim 
dizemos  porcos  montezes  e  cabras  montezes,  não  montezas. 
Menezas  e  Menezes;  Montês,  não  montez;  Pequenez  e  peque- 
neza;  profundez,  profundeza,  profundidade,  profundura  e 
profundas  (popular). 

Refesas  e  Refezes;  Revés  e  revez,  masculino.  Robustez, 
robusteza  e  robustidão;  Rudez  e  rudeza;  Seccura  e  sequidão, 
não  sequidez;  Serenidade,  não  serenidez ;  Sofreguidão,  não 
sofreguidez.     O  povo  diz  sofreguice. 

Sordidez  e  sordideza;  surdez,  não  surdidão  nem  sur- 
deza;  Talharezes,  de  Talhariz?  Confronte-se  Tralhariz  por 
Talhariz  e  este  por  Calhariz!...  Confronte-se  também  Cana- 
vezes por  Canabizes,  que  deu  também  Campizes  por  Cam- 
bizes  e  Cambezes?!...  Terrantês  e  terrantez,  natural  d'uma 
terra  ou  povoação. 

la 

Vide  pag  107  e  seguintes  d'esta  minha  louca  Tentativa 
Eiymologica,  parte  2.* 

Abbadia;  Abegoaria;  Albergaria;  Alcaidaria;  Bernardia; 
Cúria  por  Curaria;  Freiria;  Donairia;  Alçaria;  Alegria, 
quinta  do  Douro;  Alfeiria  por  Alfreiria  ou  Alfeitaria;  Al- 
fria...  Algarvia  ou  Algravia;  Almadia  ou  Armaria. 

Alvadia;  Anadia,  de  aradia?  Confronte-se  Lameiria,  La- 
vradio, Trabalhia,  Sapataria,  Cúria  por  Curaria,  Mesadia, 
Vestiaría^  Trafaria,  Ucharia,  I^ameiria. 


TENTATIVA    KTYMOLOGICO-TOPON YMICA  'j2h 


Pedraria,  Penedia,  Pescaria,  Pinheiria,  Pisoaria,  Pom- 
baria,  Portelladia,  Portoguedia,  Vallaria,  Vessaria,  Vistoria, 
Cárdia  por  Cardaria;  Aravia ;  Astroluzia;  Azedia;  Bainha- 
ria, Banharia  e  Picaria  —  raas  do  Porto, 

Barreiria;  Barrocaria ;  Berbéria;  Hernardia;  Boquia? 
Bordalia  ?  Bornaria  por  Borraria  ou  Barraria  —  das  b('»rras 
ou  dos  burros.  Confronte-se  Cavallaria,  Chamellaria,  Car- 
neiria,  Gançaria  e  Cançaria  por  Gançaria. 

Aravia,  Berbéria,  Mouraria,  Mouria,  Cabria  por  cabra- 
ria,  Couxaria,  Gouxaria,  Gataria,  Cocaria,  Coparia  por  Cuca- 
ria, Gavaria  e  Gavia  por  Gaviaria,  Pataria,  Vacaria,  Pol- 
draria;  Brazia;  Bugia. 

Carapía  por  Casa  Pia?  Carneiria ;  Carvoaria;  Casaria; 
Cascaria ;  Castellaria  ;  Cavallaria  ;  (^hamelaria ;  Cocaria  e 
Coparia — formas  do  mesmo  nome,  pois  ca,  co,  cu  e  jja,  po, 
pu  confundiram-se.  Vide  o  meu  longo  tópico  Substituição 
de  letras. 

Congeitaria?  Cortezia ;  Cotovia;  Couxaria,  Gouxaria  e 
Mouxaria,  povoações  nossas,  que  tomaram  o  nome  dos  mo- 
chos, aves  e  dos  muchôes,  mosquitos.  Moucharia  deu  ou  pedia 
dar  Couxaria  e  por  seu  turno  Couxaria  deu  Gouxaria;  En- 
fermaria; Enxertaria  e  Enxertia;  Espia;  Fanadia;  Faria; 
Feitoria  —  talvez  de  Feitaria  ou  Fetelaria;  Felgaria,  o  mesmo 
que  Fetelaria. 

Francaria,  dos  francos,  o  mesmo  que  Franzia  por  fran- 
cezia,  dos  francezes,  e  Galleguia,  dos  gallegos;  Portoguedia, 
o  mesmo  que  portuguesia,  dos  portuguezes;  Mouraria,  dos 
mouros;  Judiaria,  dos  judeus;  Andaluzia,  dos  andaluzes; 
Berbéria,  dos  berebéres;  Franzia  por  francezia. 

Freiria;  Fumaria;  Gafaria;  Garcia;  Gataria;  Gavaria 
por  Gaviaria;  Gordaria  por  Cordaria  e  este  por  Cordoaria? 
Gouxoria;  Guia. 

Joaria.  Confronte-se  Joara,  Joarilla,  e  Juara  em  Leito, 
na  Hespanha.  Judia;  Jugaria.  Confronte-se  Jugueria  em 
Oviedo;  Juhia  e  Juía;  Lameiria;  Lavradio,  o  mesmo  que 
lavradia;  Leiria  e  Leisia. 

Moía  e  Muhia  (Villa  Nova  da  Muhia),  do  castelhano 
molina  que  deu  também  Moinha,  povoação  nossa,  Moinhelha, 
Moinhola  e  Munhota  por  Molinhota.  Também  temos  Muli- 
neta  e  Mulinheta. 

Monceravia;  Moria ;  Mossomodia,  de  Mossamedia  e  este 
de  Mossamedes;  Moucharia;  Mouraria  e  Moura  por  Mou- 
raria. 


Õ2G  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Olaria;  Pairia;  Palmeiria;  Pataria;  Penedia;  Pescaria, 
rua  de  Gaya ;  Pinheiria;  Pisoaria;  Poldraria;  E^ombaria;  Por- 
fia  o   Porfias  —  contendas,    lides?   Portelladia  ;  Portnguedia. 

Poiísia,  Pousias,  Pousios;  Rebalxia;  Rebalvia  (Rebal- 
dia?)  Rebolaria  e  Rebolia,  contracção  de  Rebolaria  ou  de 
reboleiria,  souto  ou  Soutaria  de  Reboleiras  ou  reboleiros,  o 
mesmo  que  Rebolai,   Rebolar  e  Rebordai,   povoações  nossas. 

Os  castanheiros  bravos  tomaram  o  nome  de  reboleiros, 
porque  dão  castanhas  redondas,  a  modo  de  rebolos  ou  rebolas, 
unde  Rebordans  e  Reb.ordàos,  o  mesmo  que  Rebolãos,  po- 
voações nossas. 

Rebordãos  é  o  mesmo  que  rebolãos  e  Reboleiros,  casta- 
nheiros que  dào  castanhas  rebolas  ou  arredondadas,  unde 
Rebolosa,  Rebelião,  o  mesmo  que  Rebordão,  Rebordainhos, 
Rebordai,  o  mesmo  que  Rebolai,  Rebolar  e  rebordeiral;  Re- 
bordans, Rebordãos,  Rebordeiras,  o  mesmo  que  Reboleiras, 
Rebordello,  Rebordinho,  o  mesmo  que  Reboleirinho,  Rebordo 
Chão,  Rebordões,  Rebordondo,  Rebordosa  e  Reboleiro,  po- 
voações nossas. 

Rebordo  Chão  —  e  o  mesmo  que  Rebordosão,  augmen- 
tativo  de  Rebordoso  ou  de  Rebordão.  Confronte- se  Rc-borda- 
chão  em  Pontevedra  (Gallisa),  o  mesmo  que  Rebordasão,  por- 
que a  Hespanha  não  tem  z  sibilante. 

Rebordondo  vem  talvez  de  Rebordono,  o  mesmo  que 
rebordano  e  Rebordão.  Regadia,  Regadias  e  Regadio;  Re- 
xaldia  ;  Sapataria;  Serviçaria  e  Outeiro  da  Serviçaria  ;  Ses- 
maria ;  Soutaria :  Tetelaria  ou  Fetelaria.  De  Fetal,  como 
Felgaria  de  Fe]^'ar  o  mesmo  que  Fetal. 

Tomadia;  Touria  por  Touraria.  Confronte-se  Tural  e 
Toural ;  Trafaria  por  Trafegaria.  Umbria;  Vacaria;  Vallaria 
e  Vallia  por  Vallaria.  Vespería  por  vesparia.  Confronte-se 
Vespeira  e  Vespeiro,  Bespeira  e  Bespeiro  e  Zangaria  dos 
zangões;  Vessaria;  A^estiaria ;  Vestoria ;  Via...  Vigia,  Villa 
Fria;   Villa   Garcia;    Zangaria;   Zombaria,    etc.  pov.  nossas 


íbal,  úbal  e  úga!,  taluez  o  mesmo  que  úbal 


Setúbal  e  Tentúgal.  Confronte-se  Asdrúbal,  general 
cartaginez  que  figurou  muito  na  nossa  península.  Também 
Turcifal  recorda  Annibal,  outro  general  cartaginez  da  pe- 
nínsula. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO  TOPONYMICA  r)27 


Ica  e  ico 

Burnico   por   burrico ;   Celorico,   diminutivo  de   cellorio 
—  celleiro,  no  baixo  latim  cellariolu.s,  unde  Celleiró,  Celleiroz 
e  Sellouros  por  CeJiouros?  Ceroiico  por  Celorico;  Choupica 
e    Choupico.    Cobrica;    Forneço    e    Fornico  por  Fornico I.. 
Joanico  e  Joaninho,  etc.  povoações  nossas. 

Iça 

Adiça  e  Povoa  d'Adiça;  Alcainça  por  Alcaniça,  ua 
Hespanha;  Aljuriça?  Alvariça;  Apariça;  Canniça;  Carva- 
Ihiça;  Castainça  por  Castaniça;  Costariça;  Favarica;  Ganda- 
riças ;  Lagariça  e  Lagariças. 

Melriça,  o  mesmo  que  Melrissal,  Melreira  e  Melroeira, 
abundante  em  melros  —  Milhariça ;  Pocariça  ;  Porcariça  ;  Pu- 
cariça  ;  Rapadica;  Reboriça  e  E-evoriça  em  vez  de  roboriça, 
de  robur  carvalho,  como  Carvalhiça;  Roliça,  abundante  em 
rolas?  Confronte-se  Melriça;  Urjariça  —  da  urze  ou  urge. 
Confronte  se  Qrgal,  urgares,  Urgeira,  Urgezes,  Urgueira, 
Urjaes,  Urjal_,  Urzal,  Urzalão,  Urzelhe,  Urzella  e  Zorzaes  ou 
Zurzaes,  o  mesmo  que  Os  urzaes  ?  Da  urze,  planta  —  ou  do 
francez  orge,  cevada. 

Confronte-se  também  Jorzaes,  Jurzaes,  Orgal,  Orge  Or- 
gem,  Orgens,  Orgueira,  Orijal,  Orjaes,  Orje  e  Orjo?!... 
Vacariça.  Cf.  Bacaria,  Bacarice  e  Vacaria;  Vellariça  e  Villa- 
rica  de  Avellariça,  bosque  de  Avelleiras,  pov.  nossas. 

Iche,  ique  e  íco 

Peniche,  Penique  e  Peniquinho?  ! .  .  Talvez  que  Peniche 
outr'ora  se  lesse  Penique,  pois  eh  já  soou  h  ou  q,  V.  o  tópico 
Substituição  de  letras. 

Icho,  ou  ícho  por  inho 

Arneiricho  e  Arneirinho ;  Casaleixo  por  Casalixo  e  Ca~ 
salinho  ;  Cavalluche,  casal  de  Sacavém,  por  cavallucho,  este 
por  cavallicho,  e  este  por  Cavallinho,  povoação  nossa:  Ga- 


528  TENTATIVA    ETYMOLOQICO-TOPONYMICA 


vicho,    appellido,    e    Gavinho ;    Lagartixo    por    iagartinho ; 
Rabicho  e  rabinho. 

Ico 

Celorico  por  celeirico,  pequeno  celleiro  ou  celleirinho, 
cemo  celleiro  e  Celleiroz,  do  baixo  latim  cellaiHolum,  dimi- 
nutivo de  cellarium,  celleiro;  Cobrica,  o  mesmo  que  Cobri- 
nha,  povoações  nossas;  Fornico,  o  mesmo  que  Forneço,  For- 
nello,  Fornilho  e  Forninho,  pov.  nossas. 

Joanico  e  S.  Joaniço,  povoações  nossas;  Mendricos? 
Milrico  por  melrico  ou  Meirinho,  povoações  nossas;  Passico 
por  Pacico  de  palacico,  o  mesmo  que  Pacinho  e  Passinho, 
Paço  e  Palaçoulo  por  palacinho?  Pocico,  o  mesmo  que  Poci- 
nho, povoação  nossa.  Também  temos  Poçoulos,  PopoUo, 
appellido,  e  Possacos,  diminutivos  de  Poço,  e  talvez  que 
Bussaco  venha  de  possaco?  Roxico,  diminutivo  de  Roxo?  etc  , 
povoações  nossas. 

Ida 

Alcarida  por  Alçaria?  Alfrivida  por  Altria?  povoação 
nossa  também,  como  Fria,  Frias,  etc.  Bastida,  povoação  do 
districto  de  Vianna  do  Castello,  e  sitio  deshabitado  em  um 
esteiro  entre  Ovar  e  Estarreja,  districto  d'Aveiro. 

Confronte-se  Bastida,  4  povoações  da  Hespanha  nas 
províncias  de  Lugo,  Lerida  e  Salamanca,  e  Bastido  na  de 
Cadiz. 

Confronte-se  também  Bastida  na  Toscana. 

Bastidasse  (em  portuguez  Bastidassa)  duas  povoações  de 
França,  na  Provença. 

Bastide  (em  portuguez  Bastida)  duas  povoações  da  Pro- 
vença também. 

Bastide  (em  portugez  Bastida)  10  povoações  do  Langue- 
doc,  também  sul  da  França. 

Bastide  (em  portuguez  Bastida)  7  povoações  do  depar- 
tamento d'Aveyron  (França).  Junte-se  Bastide,  uma  das 
povoações  da  Provença  no  departamento  do  Var  e  note-  se 
que  a  nossa  Bastida,  sitio  despovoado,  demora  no  concelho 
d'Ovar,  quasi  Var,  disricto  d'Aveiro,  quasi  Aveyron. 

A  França  tem  mais  com  o  nome  de  Bastide,  em  portu- 
guez Bastida,  as  povoações  seguintes:  1  no  departamento  do 


TENTATIVA    ETYMOLOGTCO-TOPONYMICA  529 


Cantai;   2   no   de   Gers;    1    no   Lot ;    1    no   de  Lozère;  1  no 
Rossilbão ;  e  1  no  departamento  d'Ariège. 

Tem,  pois,  a  França  B2  povoações  com  o  mesmo  nome 
de  Bastide,  em  portuguez  Bastida,  todas  mencionadas  na 
Geogr.  Univers.  de  Bescherelle  e  Devars.  E  talvez  tenha 
mais,  porque  a  dita  geographia  náo  menciona  as  povoações 
todas,  mas  só  as  mais  importantes.  Junte-se  Bellída.  Cer- 
quida,  o  mesmo  que  Cerqueda  e  Carvalheda,  povoações 
nossas. 

Ige 

Carcamige?  por  carcamuge,  e  este  por  carcamujo?  Cf. 
Valdige,  forma  pop.  de  Valdigem.  Valdige  é  o  mesmo  que 
Valduge  por  Valdujo  — Vai  do  ujo,  pov.  nossa  que  eu  já  vi- 
sitei duas  vezes.  E'  uma  freguezia  pertencente  ao  concelho 
de  Trancoso. 


II 

no  plural  eis  ou  is. 

Adail,  adais ;  Aguazil,  aguazis ;  Barril,  barris;  Buril, 
buris ;  Cabril,  Cabris ;  Canil,  canis ;  Cantil,  cantiS ;  Carril, 
carris ;  Ceitil,  ceitis ;  Estoril,  Estoris ;  Funil,  funis ;  Fuzil, 
fuzis;  Gentil,  gentis;  Gomil,  gomis;  Mercantil,  mercantis; 
Projéctil,  projectis  ou  projécteis ;  Quadril,  quadriz ;  Tambo- 
ril, tamboriz;  Têxtil,  textis ;  Viril  viris. 

II,  ins  e  iz 

Barrai,  Barril  por  Barrai,  Barrins  e  Barriz?  Bizarril, 
Bazarril  e  Bezerrins  por  Bezerris ;  Cabral,  Cabril,  Cabrins  e 
Cabriz;  Carril,  Carris  e  Carrizes;  Esmoriz  e  Esmorins  por 
Esmoriz;  Fraguil  e  Fraguins;  Loural,  Louril  e  Louriz,  etc, 
povoações  nossas. 

Im  e  íno 

Agostim  e  Agostinho.  Confronte-se  Agostem  e  Magos- 
tim,  povoações  nossas;  Alvim  e  Albino;  Arentim  por  Aren- 
tino,  de  Arinthinus,  i,  diminutivo  de  Arinthus\  i,  Arintho  e 

34 


530  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Arinto,  antigos  nomes  pessoaes  e  hoje  appellidos;  Beduíno 
e  Bedim  por  Beduíno ;  Bensafrim  e  Safrím,  povoação  nossa, 
de  Zephyrinus,  i,  Zephyríno  ou  Zeferino,  santos. 

Bernardim  e  Bernardino ;  Cantim  e  Contim,  de  Quíntim 
por  Quintino;  Constantim  e  Constantino;  Gogim  e  Goujoim, 
de  Gosuinus,  i\  Gualdim  e  Gualdino;  Jozim  (aldeia)  e  Jo- 
sino;  Landim,  freguezia,  e  Nandim,  appellido,  de  Landeli- 
nus,  2,  Landelino,  nome  dum  santo.  Por  seu  turno  Landim 
deu  Nandim,  como  Landolphus^  ^,  nome  germânico,  deu 
Nandufe  por  Landufe  ^. 

Laurentim  e  Laurentino  ;  Lazarim  e  Lazarino ;  Louren- 
tim  por  Lourentino,  de  Laurentinus,  i;  Laurentino,  santo,  etc. 
o  mesmo  que  Lourencinho,  casal,  diminutivo  de  Laurentius,  ii, 
Lourenço,  santo,  que  deu  também  Laurentianus ,  ^,  unde 
Laurenciano,  casal  nosso. 

Martim,  Martino  e  Martinho ;  Mimvaqueiro  por  Mem 
Vaqueiro,  e  Mim  Yelho  por  Mem  Velho,  de  Mendo  Vaqueiro 
e  Mendo  Velho.  Cf.  Agostem  e  Agostim  supra.  Nostim  por 
Nostino^  de  Naustinus,  i,  dim.  de  Naustus,  i  Nausto,  santo ; 
Paim,  appellido  nobre  e  antigo,  é  o  mesmo  que  Painho^  pov. 
nossa,  de  Pelaginus,  i,  dim.  de  Pelagius,  ii,  que  deu  Pelagio, 
Paio  e  Paes,  como  Pelagianus,  i,  deu  Paião. 

Tourim,  aldeia  e  appellido  de  Taurinus,  i,  Taurino,  S.*^ 
etc.  dirí.  de  taurus,  i,  touro.  O  mesmo  TaurinuSy  i,  deu 
Tourem  e  Torino,  pov.  nossa,  e  talvez  Torim,  cidade  italiana. 
Severim  e  Severino:  Verim  por  Verino,  de  Verinus,  i,  dim. 
de  Verus,  z,  Vero,  santo. 

Im  e  em  por  im  (diapasão  francez) 

Abbadim  e  Abbedim;  Agosteni  por  Agostim,  o  mesmo 
que  Agostinho;  Aleanim  e  Alcaninzinhos?  Alcoutim;  Alda- 
rem  por  Aldarim?  e  Aldarinho !...  Alfardim  por  Alfarim. 
Confronte-se  Alfarins  e  Alfaro  por  Alfarero,  unde  Alfarellos? 
Alfeixim  por  Alfreixim  —  o  freixinho? 

Alfenim,  de  Alfena?  Almadanim?  Almadantim?  Almei- 
rim, Almeirinho,  Almeirinhos  e  Almeirões;  Almorquim;  Al- 
poem  e  Alpoim;  Alpolentim?  Alporxim;  Alquerubim  ;  Altim; 
Alvarim;  Al  vem  e  Alvim. 


Vide  o  tópico  Substituição  de  letras. 


TENTATIVA    KTYMOLOGICO•TOPONY^fICA  531 


Amorim;  A.reiitira  ;  Arestim;  Arpim  (do);  Attim.  Vide 
Altim;  Badim;  Baguim;  Barturim,  de  Iben  Arturini;  Bas- 
sim?  Bediui  por  Badim?  Bensafrim,  filho  de  Zeferino. 

Bodim.  Confrorite-se  Godim!...  Bogim,  Boim  e  Villa 
Boiml...  Oonfronre-se  Roinhas,  Boíno  e  Boínos;  Bostelira; 
Boucegodim  por  Bouçagodim,  Bouça  do  Godinho!... 

Brandim;  Caim;  Calquim;  Cantim ;  Caparim ;  Cardim ; 
Carem  e  Carim!...  Cartem  e  Cartira ;  Catem  por  gatem  e 
Gatim;  Cedo  vira?...  Cedrim  por  cedrinho?  Confroute-se  Ce- 
dro, povoação  nossa. 

Ceromil,  de  cerarail  por  celamil  e  este  por  celamim!... 
Chacim ;  Chaim;  Chamoim ;  Chavim;  Chorim,  Corim  e  Ca- 
rim. São  talvez  formas  do  mesmo  nome  tirado  de  Carini... 
Codim  6  Godim;  Coixim  e  Coixinho?!...  Confronte-se  Coixa, 
Coixo  e  Coixos;  Constantim  e  Constantino:  Contim.  Vide 
Cantim  por  Quentim  de  Quintini. 

Cotem  por  cotim  ou  coutim,  que  se  encontra  em  Ah30U- 
tim  ;  Cotens  plural  de  Cotens  supra;  Crespim  —  de  Crispi- 
nus,  i\  Crestim  e  Crestins  —  de  Christini,  santo;  Eidim  e 
Eidinhoí... 

Enxertim  por  enxertinho?  Escaroupim  ;  Espertim;  Fal- 
porrim  ;  Faseaim  por  Fiscaim  o  mesmo  que  Fiacainho ;  Ga- 
bim,  Gavim  e  Gavinho ;  Gobim  e  Gouvim?...  Confronte-se 
Gavião,  Gavianito  e  Gaviãosinho,  Gaviello,  Gavinho  e  Gavi- 
nhos.  Gavim  por  Gavinho ;  Gabim  por  Gavim  ;  Gobim  por 
Gabim  ;  Gouvim  por  Govim  e  este  por  Gobim.  Também 
Gobim  pôde  ser  uma  forma  de  Godim!...  Confronte-se  tam- 
bém Gafino  por  gavino?... 

Gagim  por  Gaguim  ou  Gaguinho.  Confronte-se  Gaga, 
Gago  e  Gagos  *;  Gaiandim  por  Galantim  e  galantinho.  Con- 
froute-se Galante,  appeliido  ;  Galdins  e  Galgodins  —  de  Val- 
Godins?  Note  se  que  va  deu  ga  e  gíia,  et(3.  — Gandim.  Vide 
Gaiandim,  Gondim,  Gontim,  (>antim  e  Contim?!... 

Gargoli-íi ;  Garim  ^;  Gato  e  Gatim  por  gatinho?  Gebe- 
lim?  —  Godelim,  Godim  e  Goim  por  (líodim.  Confronte-se 
Godos,  Goda,  Godel,  Godela,  Godilha,  Godinha,  Godinhella, 
Godinho,  Godinhos,  e  Godins,  etc,  povoações  nossas. 

Goivim  por  goivinho?  —  Confronte-se  Goiva  e  Goival. 
Gombim   por  combim?  Vide  Combinho,  Comba,   Pomba,    e 


^    Também  Gagim  pôde  ser  uma  forma  de  Gogim!. 
*    Vide  Carem  e  Carim,  supra. 


532  TENTATIVA    ETYMOLOGTCO-TOPONYMICA 


Pombinha;  Grondelim  e  Gondim?!.  .  .  Gordim  e  Gordinho?!... 
Goujoim;  Gouvim;  Gradii,  Gradim,  Gradins  (quinta  e  ponto 
do  Douro)  e  Gradiz,  o  mesmo  que  Gradins  plural  de  Gradii? 

Gualdira  por  Gualdino,  etc.  Confronte-se  Galdins  patro- 
nímico de  Galdim,  velha  forma  de  Gualdim;  Guetim.  Vide 
Gatim;  Guim.  Vide  Goim  e  Godim,  Guins  e  Godins!.    . 

Joaquim,  Joazim  (por  Joacim  que  já  soou  Joaquim)  e 
Joarim,  são  fórmas  do  mesmo  nome;  Jozim;  ^ — Jubim.  Vide 
Jovim ;  Laborim ;  Landim  e  Naridim — de  handelinus,  if.., 
que  deu  também  Landina  por  Landelina;  Larim,  Vide  Laza- 
rim;  Lebrem  por  lebrim,  o  mesmo  que  Lebrinho. 

Levarim.  Vide  Laborim  e  Laboriz.  unde  Lavariz?  —  Le- 
xim,  de  Aleixim  por  Aleixinho.  Vide  Alijó  e  Lijó  ;  Lobaim 
por  lobaguim  ?  Vide  Lobagueira,  Lubasim  e  Lubasins;  Lou- 
rentim,  de  Laurentinus,  i,  diminutivo  de  Laurentius  —  Lou- 
renço ;  Lourim  ;  Luzim,  de  Lucinii,  etc.  povoações  nossas. 

Im,  na  prouincia  de  Gôa  (índia  portuguesa) 

Ambelim  ;  Ansolim  ;  Arossim  ;  Arsulim ;  Bambolim  ;  Ba- 
tim  ;  Benacolim  ;  Bicholim  ;  Bombaim  ;  Camorlim ;  Camague- 
nim ;  Cancaulim ;  Candolim ;  Carmolim;  Cartarim;  Cave- 
tossim;  Champalim. 

Chicolim;  Coelim;  Corlim;  Cortalim;  Cundaim;  Cuissim; 
Dabolim  ;  Dangerim  ;  Dangim  ;  Doncolim  ;  Gandaulim  ;  Gui- 
rim  ;  Juarim  ;  Letolim  ;  Lontulim. 

Marcaim  ;  Morgim  ;  Naguelim  ;  Naiquinim  ;  Navelim  ; 
Nertodim ;  Orlim ;  Pangim ;  Purvarim  ;  Querim;  Salganim ;  San- 
quelim  ;  Sarolim ;  Siolim  ;  Sirtim  ;  Talanlim,  Tivim;  Ucassaim; 
Vangutmim ;  Vantim ;  Vavelim;  Vellim,  etc. 

Ina  e  inda.  Ino  e  indo 

Arminda  —  de  Arminia  ou  Ermina,  Ermino  foi  santo, 
bem  como  Hermínia,  Hermina  é  nome  actual.  Carlinda  —  de 
Carolina ;  Carlindo  de  Corolino ;  Carminda  de  Carmilina  ? 
Carmindo  —  de  Carmilino;  Clorinda — de  Colorina? 

Ermelinda  —  de  Ermelina;  Ermelindo — de  Ermelino;  Flo- 


De  fesuinos,  /— Jesuino,  nome  pessoal  e  appellido. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  53B 


rinda — de  Florina;  Florindo  —  de  B'lorino  ;  Galinda  —  de  íjral- 
lina?  Galirido — de  Gallino.  Confroare  se  Cialla  e  Gallo,  no- 
mes de  santos,  etc.  Idalinda  —  de  Idalina;  Idalindo  —  Idalino. 

Laurinda — de  Laurina  ;  Lucinda  *  de  Lucina  *  ou  Lu- 
cinia  ;  Lucindo  —  de  Lucinio  *  ou  Lucino  ;  Raindo  —  de 
Raino  —  Rainho  ?  Raulindo  —  de  Rauliuo  ;  Rosinda  —  de  Ro- 
sina  *  Rosinha  *  Zuzulinda  e  Zuzulindo? — de  Zurzulina  e 
Zurzulino,  nomes  pessoaes  e  appellidos. 

—  Os  asteriscos  suppra  (*  *)  revelam  nomes  de  santos. 

Inho  e  osinho 

Camposinhos,  em  Leça  da  Palmeira,  junto  de  Mattosi- 
nhos,  e  Campinhos;  Mattosinhos  e  Mattinhos;  Ouro,  Ouro- 
sinho  e  Ourinho,  etc.  povoações  nossas. 

Ino  e  iano 

Antonius,  Antoninus  e  Antonianus;  Florus,  Flora,  Flori- 
nus,  Florina;  Florindus,  Florinda  e  Florianu-<,a  Justus,  Jus- 
tinus  e  Justinianus;  JVlaximus,  Maximmus,  Maximianus  e 
Maximilianus ;  Severus,  Severinus  e  Severianus. 

Ins,  iz  e  izes  (plural  da  desinência  il) 

Barrai,  Barraes,  Barril,  Barrin??,  Banrezes  e  Barrezes. 
Confronte-se  Meneixos;  Menexas,  Menezas  e  Menezes,  po- 
voações nossas,  e  Menizes,  appellido  archaico.  Barril,  Bar- 
rins  e  Barris;  Cabril,  Cabrins  e  Cabris;  Carril,  Carris  e  Car- 
rizes. 

Mende,  Mendel,  Mendes,  Mendalvo,  Mendim,  Mendis  e 
Vai  de  Mendiz;  Moural,  Mouraz,  Mourel,  Mourens  por  Mou- 
rins,  Mouril,  Mourim,  Mouris,  Mouriz  e  Mourizes!...  Junte- 
se  Morem,  Morim  e  Morins,  Boreis,  Boriz  e  Buriz,  por 
Mourens  e  Mouriz  (?),  povoações  nossas. 

Ique  e  ico 

Casal  de  Nique ;  Henrique ;  Laxique  ou  Vai  do  Laxique ; 
Manique;  Manrique;  Monchique;  Monte  do  Mourique ;  Monte 


634  TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 

dos    Mouriquinhos ;    Morachique    e    Mourachico  ;    Mourique 
(Monte  do  Mourique). 

Ourique;  Peniche,  villa,  Penique  e  Peniquinho,  casaes ; 
Pussich,  appellido  nosso.  Saquinibaque  e  Sequinique ;  Vai 
de  Laxique;  Tarik,  nome  árabe;  Totenique;  Vai  de  Brique, 
etc.  povoações  nossas. 

Isa  e  iza 

Anisa,  Balisa,  Bemvisa,  Clavisa,  Devisa,  Niza,  Revisa, 
etc.  povoações  nossas. 

Isca,  isco 

Corisca,  Coriscada,  Coriscas  e  Coriscos ;  Faisca,  Faiscas 
e  Faisco;  Fontaiscos  e  Fontiscos;  Francisca,  Franciscas  e 
Francisco  e  Franciscos ;  Lentisca,  Lentiscas  e  lentisco  ;  Pe- 
nediscas,  plural  de  Penedisca ;  Pisca  e  Pisco ;  *  Robisca  e 
E-uvisco,  etc.  povoações  nossas. 

Ita  e  ÍÍO 

Azenhita;  Beiranica  e  Boiranita,  são  formas  do  mesmo 
nome;  Cabanita;  Cabeçanita;  Cabrita;  Caganita  (é  uma  quinta); 
Casalito;  Casita;  Catrivana  e  Catrivanita;  Cegonhita;  Ciiel- 
rito;  Cor  eitos  e  Fillipito. 

Ganita,  Gavianito;  Guarita;  Lopitos;  Melrinita;  Monte 
da  Ganita;  Monte  das  Baionitasi;  Monte  do  Melanito;  Olei- 
rita;  Olhitos;  Padre  Cabeçanita;  Pai  Canito  e  Pai  Cão; 
Paixanita;  Pisanito;  Poupanita,  etc,  povoações  nossas. 

Iz  e  ins 

Barril,  Barris  e  Barrins;  Cabril,  Cabriz  e  Cabrins;  Es- 
moriz e  Esmorins;  S.  Félix,  S.  Feliz,  S.  Fiz,  na  Hespanha, 


^    Dos  piscos,  aves,  ou  de  Priscus,  Prisco,  nome  d'um  santo,  etc. 
que  deu  S.  Pisco,  orago  antigo  da  Regoa. 


TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPOXYMICA  535 


e  entre  nós  Sanfins  e  Sinfáes  por  Sanfins!...   Mouril,  Mou- 
ris,  Mouriz  e  Mourens  por  Moiirins,  etc,  povoações  nossas. 

3ó  por  xó,  G  Dice-DersQ 

Alijó  e  Lijó,  de  A  lixo  e  este  de  Alexiolus,  ^,  Aleixinho, 
diminutivo  de  Alexius,  ii,  Aleixo. 

Crixó,  de  Grijó,  o  mesmo  que  Egrejó,  de  Ecclesiola  — 
egrejinha  ou  pequena  egreja,  o  mesmo  que  Ermida,  Mesqui- 
tinha  e  Mesquinhata  por  Mesquitanha,  o  mesmo  que  Mesqui- 
tinha,  povoações  nossas. 

má  e  mau 

Barrimão  e  Barrimau  por  Barro  Mau  ^?  Carrimá ;  Casal 
Mau;  Costa  Má;  Cova  Má  e  Cova  da  Má  ou  Covada  Má; 
Lama  Má;  Massamá;  Matamá  e  Matta  Má;  Quinta  Má;  Pe- 
daço Mau;  Pedra  Má,  sitio  no  fundo  do  Vai  d'Arouca.  E'  um 
despenhadeiro  medonho,  onde  passa  a  nova  estrada  a  maca- 
dam.     Porto  Máu;  Rio  Máu,  etc,  povoações  nossas. 

nó 

Comino,  casal. 

O  por  Ciro 

Castanho  e  Castanheiro ;  Louro  e  Loureiro ;  Pinho  e  Pi- 
nheiro ;  Sobro  e  Sobreiro,  povoações  nossas. 

Oca  C  ÔCO 

Baloca,  Baloco ;  Balouça  e  Balouço;  Balouta.  Balouto ; 
Beijocas ;  Bejota  por  Beijota,  este  por  Beijoca  e  este  por 
Feijoca  ?  Bichoca;  Eirogo  por  eiroco,  o  mesmo  que  eiroca; 
Engenhoca;  Feijoca  e  Feijogo  por  feijoco!...  Furoca!?... 
Marnoco,  appllido,  Tinoca,  Tinoco,  povoações  nossas. 


^    Confronte-se  Portimão  e  Porto  Máu?! 


536  'fENTATlVA   ETYMOLOGICO-TOPONYIVITCA 

Ocfie 

Cantroche  —  quinta. 

Oco,  ôgo  e  ouço 

Alvôco ;  Ba  loco  e  Balouço;  Barroca  e  Barroco;  Biocas 
e  Bioco;  Boca  Bôco;  Boga  e  Bogo;  Diogo  e  Viogo ;  Eirogo 
—  caldas  de  Barcellos  ;  Miôgo  ;  Mogo  ;  Moxoco ;  Tinoco ; 
Villarôco  e  Villarouco,  etc.  povoações  nossas. 

Oes  e  ões 

Pereirões  e  Preiroes,  por  Preirões,  etc.  povoações  nossas. 

Oi 

Estoy  é  uma  freguesia  do  Algarve;  Godoy  é  appellido 
nosso ;  Guissoi  —  Talvez  de  Vizoi  —  antigo  nome  pessoal, 
que  entre  nós  íoi  vulgar  nos  séculos  10  e  11. 

Vide  Vizeu,  longo  artigo  meu  no  Portugal  Antigo  e 
Moderno,  vol.  12,  pag.  1715,  col.  2.a  e  1716,  l.\ 

Note-se  que  vi  der.  gui  e  zo  deu  só  no  diapasão  leonez, 
etc.  Vizoi  também  teve  a  forma  Vizoy.  Magoi  é  uma  povoa- 
ção nossa.  Confronto-se  Maiolo  e  Mayolo,  nomes  de  santos, 
em  latim  Maiolus  e  Mayolus,  i,  que  já  se  escreveram  Majo- 
lus,  ê,  unde  Magolus,  i,  no  diapasão  castelhano. 

Por  seu  turno  Magoli  deu  ou  podia  dar  Magoi!... 

Confronte-se  também  o  italiano  magio  e  mago  —  mago, 
feiticeiro,  sábio,  unde  talvez  Magiolo,  Maiolo,  Mayolo  e  Ma- 
golo,  supra. 

Também  Maiolo  pelo  diapasão  italiano  podia  dar  Ma- 
gioli,  unde  Magoli  e  Magoi?  Nitheroy,  é  uma  cidade  do 
Brazil ;  Quirois  ;  Rajoi,  aldeia. 

Oiço   e   OUÇO 

Alouço  ;  Barcouso ;  Bouço ;  Cadoiço  e  Cadouça,  Cadouço 
e  Cadouços;   Choiça;   Chousa   por  Chouça  e  Cachouça  por 


TENTATIVA    ETYMOLOGICOTOPONYMICA  537 


Ca -f- Ctiouça ;  Lagoiços  e  Lagoços  por  Lagouços?  Morouço 
e  Morouços;  Pedroiços,  Pedrouço  e  Pedrouços ;  Penouços; 
Recouço  ;  Ribouça  ;  Villouços. 


Pontoiga.  De  Pontica,  Pontigas,  Ponteiga,  Pontoiga  ? 

Talvez  seja  uma  forma  de  pontoila,  diminutivo  de  ponte, 
como  Fontoura  por  Fontoira,  de  Fontolia,  quasi  Fontoila  e 
Fontoiga. 

Confronte-se  Rirasoila,  Moçoila  e  Piscoila,  pov.  nossas. 

Note-se  que  g  e  l  se  confundiram  e  substituiram  na 
onomástica  portuguesa. 

Vide  o  tópico  —  Substituição  de  letras. 

Confronte-se  Pontega  e  Ponteguinha. 

^  Oila 

Caçoila,  instrumento  culinário  e  também  apodo  ou  ap- 
pellido;  Formicoila;  Moçoila;  Papoila,  tlor  e  appellido ;  Picoi- 
la;  Rirasoila;  Rapoila  e  Rapoula,  etc,  povoações  nossas. 

Om 

Adão,  Adon  e  Adões;  Cabra,  Cabrão,  Cabrões  e  Cabrum 
por  Cabrom? 

Mas  Cabrum  talvez  seja  adjectivo,  indicação  de  gado 
cabrum  —  cabras  e  bodes. 

Confronte-se  Cavallum,  povoação  nossa,  e  ovelhum, 
nome  commum. 

O  snr.  Figueiredo  não  deu  o  adjectivo  cavallum,  mas 
somente  cabrum  e  ovelhum.     Foi  lapso. 

Carro,  Carrão,  Carron  e  Carrões;  Fonte,  Pontão,  Fon- 
tom  e  Fontões. 


Ona 

Arjona;  Atafona;  Atagona:  Barahona;  Barbatona;  Bar- 
jona;  Cachadona,  grande  Cachada?  Confronte-se  Cachadinha ; 


638  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 

Campona;  Carmona  e  Carona,  appellido.  O  povo  também 
diz  pernona,  mocetona,  pimpona,  solteirona,  babona,  mara- 
fona,  lambona,  frescalhona,  felisona,  Carrasona;  Crasona  por 
Casarona?  Dona,  Donas,  Casal  das  Donas,  Casal  Dona;  Fo- 
ros da  Catampona?  Lagardona  ou  Lagarda  Dona;  Mona; 
Monte  da  Feiteira  e  Monte  da  Feiteirona;  Quintandona  por 
Quinta  da  Dona;  Victorino  das  Donas;  Silveirona;  Sonna, 
etc,  povoações  nossas. 

Onfra 

Azugonfra  ?! . . .  casal.  " 

Onga  e  ongra 

Camatonga;  Longa,  Longra,  Pendonga;  Perlonga,  etc, 
povoações  nossas. 

Ontra  e  ontras 

Lontra,  Mastrontas,  etc,  povoações  nossas. 

Ostias 

Remostias,  aldeia,  etc. 

Ote  e  Oto 

Botto;  Carreiroto,  aldeia;  Carvalhote  e  Carvalhotinho; 
Coto;  Cotoviote;  Escrevote  por  Escrevelhote?  Confronte-se 
Escra velho  e  Escra velhos ;  Faleoto ;  Fatiota ;  Ferrariota ; 
Galé  e  Galeota,  povoações  nossas;  Marnoto;  Maroto,  appel- 
lido; Peixoto;  Perdigoto,  casal;  Pericoto;  Picoto  e  Picotos, 
muitas  povoações;  Pinhote. 

Ouço 

Barcouço;  Bouço  e  Bouços;  Cabadouso;  Oadouço  e  Ca- 
douços;  Couço  e  Couços;  Lagoiços  o  mesmo  que  Lagouços; 
Morouço  e  Merouços;  Pedrouco  e  Pedrouços;  Villouços. 


TENTATIVA     ETYMOLOGTCO-TOPONYMICA  539 


Ua 

Carapua.  Confronte-se  Carapia ;  Carcua ;  Gandua  ;  Gi- 
gua  e  Jejua;  Rua;  Tua. 

.     Ude 

Magude,  em  Lourenço  Marques;  Peuude,  concelho  de 
Lamego.  Vem  de  Penide  por  Penido  e  este  por  Penedo. 
Coníronte-se  Monte  da  Penida,  povoação  nossa,  como  Pe- 
nedo, Peneda,  Penedaes,  Penedia.  Note- se  que  a  freguesia 
de  Penude  e  a  serra  de  Penude  abundam  em  penedos. 

Um 

Cabrum  e  Cavallum;  Fatum. 

Ures 

Caldures;  Sezures. 

Uste 

Baguste;  Conguste;  Fuste;  Juste. 

UZQ 
Fauza  e  Fiúza.     Parecem  formas  do  mesmo  nome. 

Zote 

Vide  Casalote,  aldeia,  por  casalote,  pequeno  casal,  e 
Zote,  aferese  de  Cazalzote,  que  talvez  se  escrevesse  Cazal 
Zote.  Confronte-se  rapazote,  o  mesmo  que  rapazelho,  pe- 
queno rapaz,  antithese  de  rapazão,  o  mesmo  que  rapagão, 
rapaz  corpolento  e  forte. 


540  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Desinências  onomásticas  da  5espanha  pouco  Dulgares 
e  congéneres  das  nossas 


Alamico,  Alamillo  e  Álamo ;  Aldeã  e  Aldecos ;  Altico  e 
Alto  ;  Barqueras,  Barquilla,  Barquillo,  Batan  e  Batanejo  — 
pisão,  moinho?  Canal,  Canalica,  Canalito;  Capella  e  Oapellita; 
Carrascal  e  Carranalico ;  Casal,  Casar,  Casarito ;  Casa,  Casioa 
e  Casicas,  Casilla  e  Casillas  (Cacilhas)  Casita  e  Casitas  na 
Hespanha. 

Nós  também  temos  Casita,  e  dizemos  casota,  e  a  Hes- 
panha tem  Casota,  Cazalegas.  Cazalilla,  Cazolgas,  Cazorta, 
Cazullas,  Cazurra,  etc.  Cebral,  Cebrecos,  Cebreiro  e  Cebrei- 
ros ;  Celorico,  na  Hespanha  Cellorigo  e  Celorio;  Cerro.  Cer- 
rico,  Cerrito :  Cortijo,  Cortijico  e  Cortijillos;  Dehesa,  Dehe- 
sica  e  Dehesila;  Ficheco,  Fichos  e  Fica;  Janella  e  janeilita; 
S.  Joanico,  povoação  nossa;  Juanic,  Lugo;  Marchai  e  Mar- 
chalico^  Almeria;  Marchena  e  Marchenica,  Jaen-Mazo,  Ma- 
zon,  Mazueco  e  Mazuecos,  na  Hespanha,  e  Mazouco  em 
Traz-os-Montes ;  Mola,  Molar  e  Molarico;  Molia,  Molina, 
Molineto,  Molinecos,  Molinicos,  Molinilia,  Molinillo,  Molino; 
Montico;  Mora,  Moral,  Morales,  Moralicos ;  Naval.  Naval- 
guijo  e  Nalvaliego ;  Oliva,  Olivar  e  Oliveirico,  Oliveirica, 
Olivicos,  Olvillos ;  Oter^  Oterico  e  Otero  ;  Pedroco ;  Pedronco 
e  Pedrueco ;  Pilar,  Pilarejo,  Pilarico,  Pocico,  Pocicos;  Poza- 
cas,  Pozanco  e  Pozo ;  Ponte,  Pontica  e  Pontigo ;  Puentecico, 
Almeria ;  Quartico,  Quarto  e  Quartos. 


Desinência  EDGA  na  onomástica  da  Bespanha 


Confronte -se  Montuenga,  aldeia  de  Burgos,  Segóvia  e 
Seria;  Naval  e  Navaluenga — Toledo;  Paul,  Paulenga,  Paules 
e  Pauis;  Pazo,  Pazos  e  Pazuengos ;  Revenga,  em  Burgos; 
Riolen2:o,  em  Guadalajara;  Taboazas,  Tabuenca,  em  Sara- 
goça ;  Tor.  Torlengua — Huesca ;  Torremenga ;  Venta  de  Mon- 
tuenga —  Soria ;  Verengo  —  Orense ;  Zalengas  e  Zabagos  — 
Valhadolid. 


TENTATIVA    ETVMOLOGICO-TOPONYMICA  541 


Desinência  SEDDE  por  ZEDDE  na  onomástica 

da  5espanha 

Confronte- se  Gomesende  e  Gondesende,  em  Orense. 

Hermisende  —  Zamora ;  Lugo-Lesende  —  Corunha ;  Le- 
vosende  —  Lugo ;  Lousende  —  Lugo;  Madrosende  e  Modro- 
sende  —  Orense  e  Pontevedra;  Marcosende — Pontevedra; 
Mousende  —  Lugo  ;  Mosen  e  Mosende  —  Lugo  ;  Nava  Mor- 
cuende  —  Toledo;  Penansende;  Quetesende  —  Lugo;  Rasin- 
de  —  Leão;  Recesende,  —  Lugo;  Rejosende  —  Orense;  Troi- 
tosende ;  Tusende  —  Lugo ;  Vilalosende  —  Lugo. 


Desinência,  aço,  aça 

Gramacho  por  Gramaço  ?  Gramicho,  appellido,  talvez 
forma  de  Gramacho.  —  Gramicho,  quinta,  appellido,  etc.  — 
Vide  Gramacho  por  Gramaço,  o  mesmo  que  Gramido  por 
Gramêdo,  sitio  abundante  em  grama. 

Gramaços,  pov.  nossa,  é  plural  de  Gramaço  e  recorda 
Taboaço,  abundante  em  taboas;  Melgaço,  abundante  em  mel; 
Travasse,  abundante  em  trevo,  por  Trevaço  ;  Milhaço,  abun- 
dante em  milho  ;  Espinhaço,  o  mesmo  que  Espinhosa  e  Es- 
pinhoso, abundante  em  espinhos ;  Trigache  por  Trigacho  e 
este  por  Trigaço,  abundante  em  trigo  ;  Vinhaça  por  Vinhaço, 
abundante  em  vinho;  Colmassa  por  Colmaço,  abundante  em 
colmo,  etc. 

Também  temos  Cortegaça,  Cort^gacinha,  Cortegaço, 
Cortegada,  Cortiçada,  Cortiçadas  e  Cortiçadinhas,  que  to- 
maram o  nome  da  cortiça,  em  latim  córtex^  ida,  que  deu  cor- 
ticatus  e  corticosuSy  coberto  de  cortiça.  Por  seu  turno  cortica- 
tus,    a,   deu   Cortegada,   o    mesmo  que    Cortegaça,  pois  que 


Bó,  bé,  bí,  bó,  bú  e  ÍDó,  me,  mi,  mó,  mu,  iniciaes, 

confundiram-se : 

Baçal  e  Maçai ;  Bacalhau  por  má  calhau  ;  Bacalhôa  por 
Bacalhona  e  Macalhona,  povoação  nossa.  Baceira,  Baceiras, 
Maceira   e   Maceiras.  Badões  e  Madons,  quasi  i\[adões.  Ba- 


542  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


ganha  e  Maganha ;  Bairos  e  Mairos;  Bala  e  Mala;  Banhos  e 

Manhos. 

Note-se  que  junto  de  Lamego,  na  confluência  da  velha 
estrada  de  Lamego  para  a  Régua  com  a  nova  estrada  dis- 
trictal  de  Lamego  para  Castello  de  Paiva  por  Sinfães,  ha 
uma  quinta  e  uma  fonte  publica  denominadas  Manhos,  que 
bem  podiam  tomar  o  nome  de  banhos. 

Somma  e  segue : 

Banhosa  e  Manhosa,  povoações  nossas.  Banreza,  Banre- 
zes,  Marrazes  e  Manreza,  povoação  da  Catalunha.  Bariz  ou 
Variz  e  Mariz.  Barbelães  por  Barbelaes ;  Marmelal  e  Marme- 
laes.  Barbeloto,  Barbelote  ou  Barbelete  e  Marmelete.  Barce- 
lona e  Marzelona.  Barqueiros  e  Marqueiros.  Barquinha,  Bar- 
quinhas e  Barquinho.  Marquinha,  Marquinhas  e  Marquinho. 
Barra  e  Marra.  Barrada  e  Marrada.  Barrão  e  Marrão.  Bar- 
rancos e  Marrancos!  Barras  e  Marras.  Barreiras  e  Marreiras. 
Barreiros  e  Marreiros.  Barrocos  e  Marrocos,  quinta  do  Alto 
Douro,  que  tem  grandes  despenhadeiros,  barrancos,  barro- 
caes  ou  barrocos,  unde  Marrocos  por  Barrocos!... 

Somma  e  segue : 

Barrocal,  Marroquil  por  Marroeal  e  este  por  Barrocal ! 
E  assim  a  arte  nova.  Barrose  Marros.  Beco  e  Meco.  Bega  e 
Mega.  Beira  e  Meira.  Beiral  e  Meiral.  Beiriz  e  Meirins,  quasi 
Meiriz.  Confronte-se  Cabris  e  Cabrins,  povoações  nossas 
também.  Bejota  e  Mejota.  Beladãos  e  Maladão,  singular  de 
Maladãos.  Confronte-se  Valagões  por  Valadões,  unde  talvez 
Beladãos  por  Valadãos  e  este  por  Vadões. 

Belchior  e  Melchior.  Bellide  e  Melides,  plural  de  Me- 
lide.  Bellinho  e  Mellinho.  Bel  lo  e  Mello.  Bellos  e  Mellos. 
Beloitos  e  Menoita?  Bento,  Benta  e  Menta.  Bera  ou  Vera  e 
Mera.  Bertholo  e  Mertola,  quasi  Mertolo,  mas  Mertola  foi 
cidade  romana,  chamada  pelos  romanos  Myrtilis  (Júlia)  a  ci- 
dade da  murta,  planta  que  ainda  hoje  abunda  no  alfoz  de 
Mertola^  como  eu  já  vi. 

Batoque  e  Metoque.  Vidão  e  Midão.  Vidas  e  Midas. 
Vide  e  Mide.  Vidões,  plural  de  Vidão,  e  Midões.  Biga  e  Mi- 
gas, casaes.  Bilhão  e  Milhão.  Bilhó  e  Milho  por  Milheiro, 
singular  de  Milheiros? 

Vilheiro  e  Milheiro.  Vilhões  e  Milhões.  Bóia  e  Moia. 
Bofarda,  Bufarda  e  Mufarda  de  bufarada,  e  muitos  bufos? 
Bogo  e  Mogo.  Boiranita  por  Moiranita,  o  mesmo  que  Mou- 
rinha?  Boieiros  e  Moleiros.  Bom  Jardim,  Bomjardim  e  Mon- 
jardim,  appellidos. 


TENTATIVA   ETYMOLOGICO-TOPON YMICA  Í343 


Boreira  e  Moreira.  Boreiras  e  Moreiras.  Boriz  e  Morins? 
Bortaes,  Mortaes  e  Murtaes.  Bossejo  e  Mocejo.  Bota  e  Motta. 
Botas  e  Mottas.  Boução  e  Mução  por  Moução  ;  Boução  e  Mou- 
chão por  Moução? 

Bouçós  e  Mouçós.  Bouções  e  Mouchões.  Bouro  e  Mouro. 
Bouros  e  Mouros..  Bouquirihos  e  Mouquinho,  singular  de 
Mouquinhos.  Boreis  por  Buréis,  quinta;  e  Mureis  por  Buréis, 
outra  quinta.  Boriz,  Buris  e  Mouriz?  Brussó  e  Murçós,  de 
Brissolus,  diminutivo  de  Brissus,  e  nome  d'um  santo,  etc. 
Confronte-se  S.  Brissos,  povoação  nossa.  Bucella,  singular  de 
Bucellas  e  Mucella?  Bucellas  por  Boucellas,  o  mesmo  que 
Vouzellas  e  Mousellas. 


Ba,  be,  bi,  bo  e  na,  ne,  ni.  no,  iniciaes,  conlundíram-se 
na  onomástica  portugueza 

Babaes  e  Nabaes.  Babainhos  e  Nabainhos  por  nabalinhos. 
Babe  e  Nave.  Babelhas  e  Na  velhos.  Baceira  e  Naceira.  Ba- 
ceiros  e  Naceiros.  Bateira,  Bateiras  e  Nateiras.  Bêbeda  e 
Neveda.  Bellas  e  Nellas?...  Bello  e  Nello?...  Belmenso  e 
Nelmenso?...  Bera  e  Nera  ou  Neras.  Bespral  e  Nesperal. 
Bico  e  Nico.  Bingre,  appellido  e  Ningre.  Biqueira  e  Nigueira. 
Bobai  e  Noval.  Bobo  e  Nobo  (sic)  Bolonha  e  Noronha,  al- 
deias nossas  e  povoações  antigas. 

Também  temos  Noronha,  appUido  nobre  e  antigo^  talvez 
tirado  da  nossa  aldeia  de  Noronha,  freguezia  e  concelho  de 
Oeiras,  ou  de  Bolonha,  aldeia  nossa  e  cidade  de  França,  pois 
Bolonha  podia  dar  Noronha,  porque  bo  e  no,  lo  e  ro  confun- 
diram-se. 

A  Hespanha  não  íem  povoação  alguma  denominada 
Bolonha  nem  Noronha.  Apenas  tem  Lorona  ou  Lorona,  al- 
deia insignificante  de  38  almas. 

Re  (prefixo  augmentatiDo) 

Confronte-se  Baixia  e  Rebaixia;  Balde  e  Revalde;  Bal- 
deira, Baldieira,  Rebaldeira  e  Ribaldeira;  Baldio  e  Rebaldio; 
Baldos  e  Rebaldo;  Bella  e  Rebella;  Bellas  e  Rebellas ;  Bello 
e  Rebello ;  Bellos  e  Rebellos. 

Bentinho,  Yentinho  e  Rebentinho;  Bimbo,  Bimba  e  Re- 


544  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMIOA 


bimba;  Bôa  e  Reboa;  Boeira  e  Reboeira;  Bolho  e  Rebolho; 
Bola  e  Rebola;  Bolo,  Rebolo  e  Rebolos. 

Botto,  appellido,  e  Reboto;  Bouça  e  Rebouça;  Bougada, 
Vougada  e  Rebocada,  de  Revocata^  santa ;  Bougado  e  Revo- 
gato,  de  Revogatus,  santo. 

Cacho,  Cachos  e  Recachos;  Canto  je  Recanto;  Cardaes 
e  Recardaes  ou  Recardães;  Chã  e  Rechã;  Chans  e  Rechans; 
Chão  e  Rechão ;  Chãosinho  e  Rechãosinho;  Cheira  e  Re- 
cheira. 

Somma  e  segue : 

Chiada  e  Recheada ;  Choso  e  Rechoso ;  Chousa  e  Re- 
chousa;  Comeira  e  Recomeira;  Covellos  e  Recovellos ;  Cume, 
Cumo  e  Recumo;  Facha,  Faixas  e  Refaxa;  Falcão  e  Re- 
falcâo. 

Fijó,  Fijo  ou  Fojo,  Foia,  Foio,  Foios,  Fojo,  Fojos  e 
Refoios,  Refojo,  Refojos,  Refoyos  e  Refroias  o  mesmo  que 
Refoias?  Gançaria  e  Reganceira;  Garei  e  Recarei;  Gata  e 
Regata;  Gataria,  G ateira  e  Regateira. 

Manga  e  Remanga;  Mendeira,  Mendeiros  e  Remendei- 
deiros;  Mendo  e  Remendo;  Mirão  e  Remirão;  Moço  e  Re- 
moço (1.  Remoço),  Moinho,  Remoinho  e  Remunho;  Moinhos 
e  Remoir^hos. 

Junte-se  ainda : 

Ponte  e  Reponte;  Poupa  e  Repoupa;  Pouso  e  Repouso; 
Presa  e  Represa ;  Presas  e  Represas ;  Pulo  e  Repulo ;  Quei- 
jada e  Requeijada;  Queijo  e  Requeijo;  Queijo  e  Requeijó; 
Queiro  e  Requeiro;  Queixada  o  Requeixada. 

Samonde  e  Resamonde;  Sezinhos  e  Recezinhos;  Sião  e 
Recião ;  Sumil,  Reçomil  e  Resomil ;  Tacho  e  Retacho ;  Torta 
e  Retorta;  Torto  e  Retorto;  Velha,  Rebelha  e  Re  velha; 
Velhos,  Rebelhos  e  Revelhos;  Venda  e  Revenda;  Vilheiro  e 
Revilheira ;  Villões  e  Revilhões ;  Vinhas  e  Re  vinhas ;  Volta  e 
^  Revolta;  Voltinha  e  Re  voltinha, 

Diííerentes  formas  dos  mesmos  nomes 

Adalberto,  Alberto,  Aldeberto  e  Ildeberto;  Affonso,  Al- 
fonso,  Alonso  e  Ildefonso;  Alladio  e  Illidio,  santos.  Anibal 
e  Alibal.  Aprigio  e  Aprizio,  nome  dum  santo;  Arnaldo  e 
Armaldo;  Aroil,  Azuil  e  Zuil,  santo;  Augusto  e  Gustavo; 
Baldo  e  Ubaldo,  santos. 

Balduino,  Gualdino  e  Ubaldino ;  Beatriz  e  Brites.  Bricio. 


TENTATIVA    ETYMOLOOICO-TOPONYMICA  545 


Briço  e  Brissos,  santos;  Bruno,  Brwn,  Braun,  Broun  e  Brum  ; 
Calimaco,  Callimacho  e  Climaco. 

Carmelina  e  Carmelinda;  Clorina  e  Clorinda,  santas; 
Cosme  e  Gomes?  Deça,  Dessa,  Dueça  e  Eça,  de  Decia  (villa) 
e  este  de  Decius,  Decio,  nome  romano,  tirado  de  decem — dez? 
Doce,  Dulce  e  Adosinda;  Dulia  e  Obdulia,  santas;  Edgard, 
Edgardo,  Eduardo   e   Duarte   são   formas    do  mesmo  nome. 

Edgardo,  Eduardo  e  Duarte  foram  santos. 

Edwiges,  Edwigis  e  Edwizis ;  Eleutherio  e  Luthero; 
Ermigio,  Hermigio,  Reraigio  e  Remizio ;  Eulália  o  Olalha, 
santas.  Eupsichio,  Eupsiquio,  Eusiquio  e  Euziquio,  nomes 
de  santos. 

Everardo  e  Berardo;  Examena,  Exemia  e  Ximena;  Flo- 
rina  e  Florinda,  Florino  e  Florindo. 

Junte-se  ainda: 

Floro,  Froila  e  Fruela;  Fonseca  e  Affonseca,  de  fonte 
sêcca;  Frederico  eFradique;  Galama,  Glama  e  Galamba, 
appellidos;  Gerard,  Geraldo,  Gerardo,  Girai  e  Giraldo. 

Gustavo  e  Augusto;  Hermano,  Elmano  e  Germano; 
fíermas,   Hermes   e  Hermio,    santos;  Hesidio,  Egidio  e  Gil, 

Huberto  e  Humberto,  santos ;  Hugucião  e  Ugucião, 
santos;  Humbelina  e  Umbelina,  santas;  Hylarião  e  Hylario. 
satitos;  lacob,  Jacob,  Jacome^  Jayme,  Jacques,  Thiago, 
Diago,  Diego,  Diogo,  Diaz,  Dias,  Diogues  e  Diez. 

Juzarte  e  Zuzarte,  appellidos;  Libório  e  Ligorio,  santos; 
Livia  e  Lybia;  Luiza  e  Luzia.  Mafalda  e  Mathilde  ;  Nivaldo 
e  Nivardo,  santos;  Pedro,  Pêro,  Piro,  Peres  e  Pires. 

Peliquito  e  Periquito.  '  Odalrico  e  Uldarico,  santos ;  e 
Ulrik;  Odilia,  Obdilia  e  Optilia,  santas;  Olafo  e  Olavo,  san- 
tos; Orlando,  Rolando  e  Roldão. 

Rodblpho  e  Raul;  Rodrigo  e  Ru^r;  Rodrigues  e  Roriz; 
Salvato  e  Salvado;  S.  Cosmado  por  S.  Cosme  e  Damião; 
Soropita,  appellido  nobre  e  antigo,  de  suro+pito;  pito  suro? 
ou  de  Soeiro  Pita.     Confronte-se  Soropires,  de  Soeiro  Pires. 

Temudo  e  Themido  por  Temido;  Theodoro,  Theodora, 
Theodorino,  Theodorina,  Theodorinda,  Theodorindo,  Theodo- 
linda,  Tiíeodolindo,  Deolindo  e  Deolinda  são  formas  do  mes- 
mo nome. 

Theodora,  Theodoro  e  Theodorina  foram  santos. 

Ulmaro  ou  Urmaro  ou  Ursmaro,  santos;  Vivaldo  e  Vi- 
vardo,  irmãos  de  S.  Bernardo. — Chr.  Cister,  411. 

Walfrido,  nome  dum  santo,  é  o  mesmo  que  Alfredo  e 
Wilfrido,  também  santos. 

35 


546  TENTATIVA    ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 


Walter,  nome  germânico  pessoal,  deu  Valter  e  Gualter, 
nomes  de  santos,  Alter,  Alther,  Baltar,  Balteiro,  Gaitar,  Gual- 
tar,  etc,  povoações  nossas. 

Wencesláu  é  o  mesmo  que  Venceslau,  nome  d'um  san- 
to, etc. 

Willibaldo,  nome  d'um  santo,  é  o  mesmo  que  Villebaldo 
e  Vivaldo,  também  santos;  Vivar  e  Bivar,  appellidos. 

Wladimiro,  nome  germânico  e  nome  d'um  santo,  em  la- 
tim WladimiruSy  z,  deu  Baldomero,  também  santo;  Vai  d'Amil 
(sitio),  Vai  de  Mil,  Valdemir,  Valdemiro,  Valdemar,  Vai  de 
Mar  e  Vai  do  Mar,  povoações  nossas;  Waldemar,  Walde- 
maro,  Waldemira,  Waldemiro,  Waldimira  e  Waldimiro,  no- 
mes pessoaes  e  appellidos. 

Wladisláu  é  o  mesmo  que  Ladisláu,  nomes  de  santos,  etc. 

Wolfango  e  \Yolfgango  são  nomes  de  santos  e  talvez 
formas  do  mesmo  nome. 

Wulmaro,  Gumaro,  Vulmaro  e  Ulmaro,  são  nomes  de 
santos  e  formas  do  mesmo  nome? 


flÍDelIeiras 

Abeloiras  (por  Avelleiras),  Aboleira,  Aboloura ;  Aval  1[de 
Avellal?);  Avellada  (Avelleirada);  Avellaes;  Avellal,  Avella- 
mes,  por  Avelanes,  Avellans;  Avellar;  Avelleda,  (Aveilei- 
reda);  Avelleira;  Avelleiras;  Avelleiro,  Avellela;  Avellinha, 
(Avelleirinha);  Avellões  (Avelleirões) ;  Avellosa  (Avelleirosa) ; 
Avenal  (Avellal !...);  Aveneda  (Avelleda!...) 

Junte-se  Bellaido,  de  Avellanido,  o  mesmo  que  Bellide 
e  Bellido ;  Belledo  por  Avelledo  e  este  por  Avelleiredo.  Bel- 
lida  por  Bellidas  ou  Velleda,  Avelleireda;  Bellide  por  Bellido 
e   este  por  Belledo,  o  mesmo  que  Velledo  por  Avelleiredo. 

Também  temos  Bellido,  aldeia,  o  mesmo  que  Bellide 
supra. 

Revellada  (Re-(-Vellada);  Revelladas  (Re+Velladas) ; 
Vellada  (por  Vellada,  Velleirada,  Avelleirada,  Avelleda); 
Veladas  (por  Velladas);  Vellamoso  (de  Vellanoso,  Avella- 
noso);  Veilariça  (de  Avillaça  ou  Avellariça);  Velledos  (de 
Avelledos);  Vellida  (de  Velleda,  Avelleda);  Vellide  (de  Vel- 
leda, Vellido,  Velledo);  Vellosa,  Velloso  e  Villariça,  de  Vei- 
lariça por  Avellariça.  Vellosa  e  Velloso  podem  ser  formas 
de  Avellosa  e  Avelloso,  ou  vir  do  latim  velluSy  o  vello  da  lã. 
Vide  Lanhoso. 


TENTATIVA  ETYMOLOGICO-TOPONYMICA  Õ47 

Soromenhos  (pereiras  brauas) 


Lista  das  nossas  povoações  que  tomaram  d'ellas  o  nome : 

Juromenha  por  Soromenha;  Salmanha  por  Sarmenha? 
Saraminheira;  Saraminheiro ;  Sarmenha;  Sederma  por  Ser- 
meda  e  este  por  Seromeda  —  soromenheda  ?  Sermanha,  rio  e 
aldeia  na  margem  direita  do  Douro  e  viaducto  da  linha  do 
Douro,  junto  das  Caldas  do  MoUedo. 

Sermenheiros,  Seromenha,  Seromenho,  Serominhão,  Se- 
rominheiro,  Soromenho,  appellidos;  e  Siderma  por  Sederma  ? 
dos  soromenhos  —  pereiras  bravas. 

Vide  Saraminheira,  Saraminheiro,  Saramenha,  Sarme- 
nho,  Soromenha  e  Soromenho  em  Figueiredo. 

Note-se  que  a  aldeia  da  Sederma  demora  na  extremi- 
dade O.  da  freguezia  de  Godim,  concelho  da  Regoa  e  dista 
apenas  dois  a  três  kilometros  do  rio  Sermanha  e  que  Sider- 
ma, sitio  com  cinco  quintas,  pertence  á  freguezia  de  Gala- 
fura  ^,  do  mesmo  concelho  da  Regoa. 

Note-se  também  que  Salmanha  é  nome  d' uma  aldeia  da 
freguezia  de  Tavarede,  concelho  da  Figueira  e  nome  d'um 
casal  e  d'uma  quinta  da  freguezia  de  Villa  Verde,  do  mesmo 
concelho  da  Figueira,  onde  ha  salinas  e  que  o  povo  da  Fi- 
gueira dà  o  nome  commum  de  salmanha  aos  depósitos  do  sal 
6  ás  casas  onde  recolhem  o  sal. 

Também  o  povo  no  Douro  dá  a  Sederma  o  nome  de 
Sedesma,  porque  as  letras  r  q  s  confundiram-se. 


\;g;;-;y^     X^laaa    £.0    XX    ■^olMm.o    (X=g^ 


Galafura  vem  de  Glafura  por  Glafyra,  nome  d'um  santo,  etc. 


ABREVIATURAS 

a  —  anno. 

ant.  —  antigo,  antiquado. 

app."  —  appellido. 

cast.  —  castelhano. 

Cf.  —  confronte-se. 

desin.  —  desinência. 

dim.  —  diminutivo. 

dur.  —  duriense. 

n.  pess.  —  nome  pessoal. 

onom.  port.  —  onomástica  portugueza. 

pop.  —  popular. 

port.  —  portUguez. 

pov.  —  povoação. 

prov.  —  provincianismo. 

sec.  —  século. 

suff. — suffixo. 

s.  etyra.  —  sua  etymologia. 

tb. — também. 

teut.  —  teutónico. 

unde  —  d'onde,  ou  d'onde  se  deriva. 

V.  —  veja-se. 

v.  v.  —  vice-versa. 

vb.  — verba,  ou  palavra. 

V.  g.  — verbi  gratia,  ou  por  exemplo. 


CITAÇÕES    EM    BRANCO 

Pag.  92,  linha  9,  refere-se  a  pag.  80. 

Pag.  94,  linha  17,  a  referencia  é  a  pag.  220  e  seguintes  do  1."  volume. 


TERMINOLOGIA 

Desinência  — terminação  das  palavras. 

Onomástica  —  nomenclatura,  lista  dos  nomes. 

Patronymico  —  derivado. 

Pejorativo  —  para  peor. 

Tópico  —  ponto,  assumpto,  thema. 


índice 


Pag. 

A  Academia  Polytechnica  e  os  Lyceus  do  Porto  ......  203 

Abexim  ou  Boxim  —  e  Boxem  ou  Abexim  e  s.  etym 275 

Abraã,  Abram,  Abrão  e  s.  etym 62 

Abreviaturas 549 

Abricote  ou  Albricote 287 

Acebal,  Acebeda,  Acebedo  e  outros  nomes  da  Hespanha,  congé- 
neres de  Azeval,  Azevedo,  etc 257 

Aço 541 

Açor 271 

Adaufa,  Adaufe,  Adoufe  e  Adufe 304 

Adaufe,    Adoufe,    Adufe,    Dolves,   Nandufe,   Rendufe,   Regoufe, 

Regufe  e  s.  etym 56 

Adaufe,  Adufe,  Dolves,  Doufins  e  s.  etym., 41  e  56 

Adaufe,  Adoufe,  Adufe,  Casal  d'Ufe,  Dolves  e  s.  etym.       ...  133 
Adaufe,  Adolfo,  Adoufe,  Adufe,  Casal  d'Oufe,  Casal  d'Ufe,  Dol- 
ves,   Estrada   d'Ufe,    Fonte  d'Ufe,  Luffe,  Ufe,  Villar  d'Oufe 

e  s.  etym ^    265 

A  de,  prefixo ...  o  mesmo  que  a  granja,  quinta  ou  casa  de  campo 

de 104  e  105 

Adela,  Absila,  Alviella,  Viella  e  s.  etym.          67 

Adolpho  e  Adulpho,  nomes  de  santos  e  s.  etym 304 

Adorigo,  Adourigo,  Origo,  Oriz,  Ourique  e  s.  etym 105 

Adosinda,  Ouzenda,  Ozende,  Gende  e  s.  etym.          42 

Adosinda,  Aldosinda  e  s.  etym 55 

Advento  dos  lumes,  promptos,  do  telegrafo  eléctrico  e  da  illumina- 

ção  a  gaz  em  Coimbra 201 

Advogado  (um)  e  um  juiz  arbitario 179 

Afains,  Alcains,  Mains  e  s.  etym.          132  e  137 

Afilhada  e  s.  etym 52 

Affinidade  entre  a  onomástica  portugueza  e  a  hespanhola    ...  271 

Almargem,  Almarjão  e  o  Padre  Sousa .  133 


552  ÍNDICE 


Pag. 

Affonso,  Alonso,  Ildefonso,  etc 42 

Agares  e  s.  etym 62 

Agilde,  Cagide,  Cagil,  Cabide,  Athaide,  Tagilde,  Tainde,  Tangi  1 

e  suas  etym 49 

Agostem  e  s.  etym 275 

Agueiros,  Arrayoilos  e  s.  etym. 298 

A  Hus  ou  Logar  da  Hus  e  s.  etym 63 

Aido,  eido  e  suas  etym 33  a  35 

Al 5  e  80 

Al  e  ar 6  e  95 

Albano,  Bellino  e  vários  appeliidos  nossos  tirados  de  nomes  de 

santos .      48  e  49 

Alberto,  Alfredo  e  s.  etym 55 

Albino  Corvaceira,  meu  poli-parente 285  e  286 

Albino  Guedes  de  Mello  e  Eduardo  Guedes  de  Mello  ....  332 
Alborrol,  Albuquerque,  Alcobella,  Alcobia,  Alcovas,  AlcQmilhes, 

Alcordal,  Alcoruchel  e  s.  etym 270 

Abricoque  e  s.  etym 287 

Alcains,  Mains      ...'....*..     nota  2  de  pag.  137 

Alcoentre,  Coensos,  Coentral  e  s.  etym 269  e  270 

Aldarem,  Alvem,  Alvim  e  s.  etym 275 

Aldarete,  Aldrete,  Aldrêu  e  s.  etym 42 

Aldariz,  Aldrigo,  Aldriz,  Alhariz,  Amares,  Ariz,  Algeriz,  Aljeriz, 

Argeriz,  Viariz,  Vilharigues  e  suas  etym 44 

Aldoar,  Aldara,  Alda,  Aldarete,  Aldrete,  Aldreu  e  s.  etym.       .     .  270 

Aldova,  Dolves  e  s.  etym 303  e  304 

Alfarellos 64 

Alferrara,  Alferrarede,  Azurara,  Ferrara,  Ferreira,  Ferreiro  e  s. 

etym 211  e  212 

Alfontes,  Alfreita,  Frcita,  Freitas  e  s.  etym.          270 

Alfredo 55 

Alfredo  Alves,  distincto  escriptor 165 

Algar,  Algareira,  Algares,  Ligares  e  s.  etym. 223 

Algés  e  s.  etym.          42 

Algoso,  Vimioso  e  s.  etym. 12 

Algramassa^  Gramaça,  Gramacho,   Gramatinha,  Gramella,  Gra- 

mesinhos,  Gramido,  Graminheira,  Gramoinha,  Gramual,  Gro- 

micho  por  Gramacho,  como  talvez  Camacho  por  Gamacho 

e  s.  etym 250 

Alijó,  Crixó,  Eiró,  Eiró,  Eituró,  Figueiró,  Grijó-e  s.  etym.  ...  236 

Alijó,  Cidró,  Eituró,  Mourissó  e  s.  etym 307 

Aljariz,  Aljeriz,  Argeriz,  Algeruz,  Algiraz,  Forjaz  e  s.  etym.     .     .  g 


índice  553 


Pag. 


Almoriz,  Armoriz,  Esmorigo,  Esmoriz,  Esmorins,  Sanfiz,  Sanfins, 

Sinfães  e  s.  etym 44 

Almoster,  Alpedrinha,  Alpedreira,  Aquarelha  e  s.  etym.     .     .     .  270 

Alpalhão  e  s.  etym 10 

Alp.ajares  e  s.  etym 9 

Alquetes,  propriedade  minha  e  s,  etym 296 

Alva,  quinta  e  castello  —  Barca  d'Alva  e  s.  etym 10 

Alvaiázere 261 

Álvaro,  nome  prolífico  na  onomástica  portugueza 287 

Amadeiras  e  s.  etym 250 

Amarante  e  s.  etym. 59 

Amareira,  Mareira  e  s.  etym 251 

Amares  e  s.  etym 162  e  163 

Amigos  que  durante  longos  annos  me  honraram  com  a  sua  es- 
tima             317  e  seguintes,  ate  335  e  370 

A  minha  primeira  viagem  de  Lamego  para  Coimbra      ....  206 

Ancha 25 

Andaluzia  e  s.  etym 58 

Angueira,  Samora,  Zamora  e  s.  etym 35 

Antanhol  e  s.  etym.          231 

Antão,  Antões,  Antoinha,  Antunhaes  e  s.  etym 277 

Antelagar,  Lagarem,  Lagarinho  e  s.  etym 281 

António  Camillo  d' Almeida  Carvalho,  meu  amigo  da  velha  guarda.  328 
António  Moreira  Cabral,  o  Cabral  da  rua  das  Flores,  negociante 
de  vidros  e  grande  colleccionador  de  livros,  pinturas,  gra- 
vuras, mobiliário  antigo,  cerâmica  e  objectos  d'arte.  .  81  e  82 
António  Rodrigues  Pinto,  de  Sande,  meu  saudoso  amigo  .  .  .  325 
António  dos  Santos  Leal,  de  Moncorvo,  e  o  General  Silveira  .  .  322 
AppelHdos  importados  de  Hespanha  .  .  .  .  .  ,  .  117  e  118 
Appellidos  que  passaram  de  Portugal  para  a  Hespanha      ...  20 

Appellidos  tirados  da  militança 245 

Apodos,  appellidos  e  nomes  de  povoações  tirados  das  barbas .  257  e  seg. 

Apothicario  e  s.  etym (texto  e  nota)  251 

Aralla,  Arcellas  e  s.  etym.           251 

Araújo,  Azuaga,  Vilhena  e  s.  etym 117 

Ardão,  Armoniz  e  s.  etym 251 

Arnaldo 85 

Arnoia  e  s.  etym 341 

Aroal  e  s.  etym. 264 

Aroil,  Barril,  Cabril,  Bizarril,  Cabanil,  Carril,  Carvoil,  Fetil,  Fail, 
Malhadil,  Marroquil,  Landril,  Louril,  Ouril,  Outil,  Ovil,  Pas- 

mil,  Passil,  Resomil,  Touril  e  s.  etym 80  e  81 


554  índice 


Pag. 

Arramadas  e  s.  etym 252 

Arrefecimento  gradual  da  terra 163 

Arribana,  Arribas  e  s.  etym 252 

Arvores  grandes »      .     .  69,  70,  242  e  254 

Arzelas  e  s.  etym 253 

Asanto,  Assabeiros  e  s.  etym 252 

Assares,  Assarias  e  s.  etym 63 

Asseiceira  e  s.  tym. 249 

Assimilação  do  prefixo  árabe  ai  {o,  a,  os,  as)  na  onomástica  por- 

tugueza 249  a  257 

Assumar,  Lomar  e  s.  etym 230 

As  viagens  em  liteira  no  estio  eram  uma  tortura,  um  martyrio,  209  a  212 
Atagona,   Barbatona,  Cachadona,  Campona,  Crazona,  Feiteirona, 

Silveirona  e  Foros  da  Catampona 124 

Ataia,  Ataja,  Ataya,  Talaia 116 

Ataide,  Tainde,  Tagilde  e  s.  etym 253  e  289 

Atlas  de  Abrahão  Hortelio 158 

Athaufus,  í,  nome  germânico 303  e  305 

Athenor  e  s.  etym 11 

Atianha  e  sua  jocosa  etym.         254 

Atranco,  Trancão,  Trancões,  Trancoso  e  s.  etym 254 

Aval,  Avanteira,  Avarga  e  s.  etym 255 

Avelez,  appellido  e  s.  etym 103 

Avelleda,  Velledo,  Vellida,  Vellide,  Belledo,  Bellido,  Bellaido,  Vel- 

leirinho,  Aveneda,  Venade  e  s.  etym 255 

Aveleiras 255 

Avinho,  Crixó,  Grijó,  Figueiró,  Alijó,  Eituró  e  s.  etym.      .    236  e  256 

Avitureira,  Vitoreira  e  s.  etym 256 

Ayrão 297 

Azabucho,  Zabucho  e  s.  etym 256 

Azagões,   Azagaia,  Azalfrias,  Azavel,  Azebral,  Azeimota,  Zemoto 

e  s.  etym 256 

Azela,  Azelha,  Azei  la  e  s.  etym 67  e  68 

Azeredo,  Azevedo,  Azevo  e  s.  etym.     .     .     .     .     .     .      nota  de  243 

Azeredo,  Alvaiázere  e  s.  etym 261 

Azeval,  Azevido,  Azibal,  Aziboso  e  s.  etym 256 

Azibeiro  e  s.  etym 262 

Azueira  e  s.  etym 263 

Azuleiral  e  s.  etym.          263 

Azurara  e  s.  etym 263  e  seguintes  e  271 

Azurem,  por  Azurim  e  s.  etym 276 


índice  ddo 


Pag. 

Bá,  bé,  bi,  eíc,  e  má,  mé,  mi,  etc.  confandiram-se 541 

Bá,  bé,  etc.  e  ná,  né,  etc.  confandiram-se 543 

Bá,  bé,  etc,  e  pá,  pé,  etc 413 

Bacalar  ou  Vacalar  e  s.  etym.  (') 309 

Bacios  de  prata 216 

Bacorinhos,  Bácoros,  Barcos  e  s.  etym.     .     .     .       68  a  70,  75  e  76 

Bagauste,  Baguaste  e  s.  etym 46  e  294 

Baixellas  de  prata  no  Douro 215 

Balanxo,  Barbanxo,  Portanxo  e  s.  etym.          257 

Balça  ou  Balsa,  povoações  nossas;  valsa  e  valsar,  nomes  communs 

e  s.  etym 302  e  303 

Bajd,  suffixo  teutonico,  o  mesmo  que  bold  e  hard 84 

Balde,  Baldos,  Galdins,  Gualdino,  Balduíno  e  s.  etym.        ...  16 

Baldossa,  Lapaduços,  Peraduça,  Sapaduços,  Serra  d'Ossa  e  s.  etym.  229 

Baldrêu,  Baldrigo,  Bamonde,  Barrozende  e  s.  etym 46 

Baldrufa  e  s.  etym 304 

Baltar,  Gaitar,  Gualtar,  Gualler,  Valter  Walter  e  s.  etym.         .     .  56 

Barão  de  Forrester 240 

Barateza  do  vinho  e  da  aguardente  no  Douro  em  1851       .      .     .  153 

Barbosa,  Ferreira,  Mosqueira,  Moura,  app.os  e  s.  etym.,  259,  308  e  seg. 

Barcellos,  Vouzella  e  s.  etym 296 

Barcos,    Buarcos,   Sabrosa,   Sabroso,   Taboaço,    Tabosa,    Távora 

e  s.  etym 68  a  78  e  85 

Bargellas,    Vargellas,   Bargina,   Barigellas,  Varchinhas,  Varziella, 

Varzieta,  Varzinhas,  Fariginhas  por  Farginhas    e  s.  etym.       .  220 
Bargina,  Barigellas  e  s.  etym.  — V.  Bargellas. 

Barrabas,  Barrabeis  e  s.  etym '63 

Barranca,    Barrancha,    Barranco   do  Inferno,   Barranquinho,  etc. 

e  s.  etym 223 

Barrão  e  s.  etym 87 

Barreiria,  Barrocaria,  Bernardia,  Bordalia,  Caixaria,  Cançaria,  Ca- 

rapia.  Canária,  Casaria,  Castellaria,  Chamelaria,  Congeitaria, 

Cortezia,  Cocaria,  Coparia,  Couxaria,  Gouxaria  e  suas  ety- 

mologias 108  e  seg. 

Barril,  Barrai  e  s.  etym. 264 


(M    V.  Vallée  de  Nekar,  em  Bescherell  e  Devars. 


556  índice 


Pag. 

Barrillar,  appellido  e  s.  etym 309 

Belchior  d'Albuquerque  .     .      .     , 207 

Bem  Canis  e  s.  etym 47 

Bemnonis,  Mumadona,  Miomães,  Mões,  Monha,  Monim,  Moniz, 

Nunellie,  Monelhe,  Nono,  Nunes,  Nuno  e  s.  etym.      .      47  e  48 

Bem-q!ie-fede,  Caféde,  Caféo,  Chafé,  Gafete  e  s.  etym.        ...  60 

Bermudes,  Vermil,  Vermoil,  Vermoim  e  s.  etym 51 

Berrasco,  Berredo,  Borrão,  Varrão,  Verride,  Berraria,  Urra,  Urro, 

Urro,  Urros,  Urros,  Pedra  Curra  e  s.  etym.       ...     85  e  86 

Bertha,  Brette,  Brecht  e  s.  etym (nota)  55 

Bertiandos,  Britiande,  Brito  e  s.  etym 99 

Bibliotheca  esplendida  que  foi  dos  jesuitas 337 

Biographia  do  anctor  (notas  para  ella),  173  a  177,  187  (noU),  193, 

198,  324,  326,  336  alé  369,  372 e  no  fim  de  375 

Bivar,  Vivar  e  s.  etym.          80 

Bizarril  e  s.  etym. 264 

Blandina,   Brandão,  Brandião,  Brandim,  Brandinhaes  e  suas  ety- 

mologias 314  e  315 

Bojorreira  e  s.  etym. 226 

Bom  lanço  de  rede !.. . 101 

Bouça  de  Pupa  e  s.  etym 296 

Bouceguedim  e  s.  etym 301 

Boucelha,  Bucellas,  Vouzella  e  s.  etym 210 

Bouchina  e  s.  etym. 301 

Bouça  e  s.  etym 302  e  303 

Bouça  d'Airó  e  s.  etym 297 

Bouça  de  Guindas,  Guindaes,  Guinde,  Guindo  e  s.  etym.        .     .  297 

Bouçoães,  Bouçó,  Bouçós  e  s.  etym 302 

Bousias,  Bouxa,  Bozelha  e  s.  etym 302 

Brandão 315 

Brandião 315 

Breve  noticia  dos  fenícios 62 

Breve  noticia  dos  judeus  e  da  sua  barbara  expulsão  de  Portugal 

e  da  Hespanha 61 

Briche,  cambraia,  Carmona,  damascos,  pecegos,  tangerinas  e  suas 

etymologias 38 

Brito 99 

Bucella,  Vouzella 210  e  296 


indicp:  557 


Pag. 

Ces 21 

Ca  e  ga 53 

Ca,  có,  cu  e  ma,  mo,  mu 11^ 

Cá,  cô,  cu  e  pá,  pó,  pu IH 

Cabria,  Cabrial,  Cabrins,  Palmeira,   Valenqa,  Portugal  e  a  Hes- 

panha 80 

Cabril,  Carril,  Carvoil,  Fail,  Felil  e  s.  etym 264 

Cabulei  muito  em  Coimbra,  mas  nenhum  dos  meus  contemporâ- 
neos se  formou  nem  podia  formar  em  menos  tempo  —  e  sem 

umR    .     .      .           1S7 

Cachouça,  Machouça 113 

Cadorneiro,  Codorneiro,- Codornellas,  Codorno,  Cogorno  e  s.  etym.  230 

Cadouços  e  s.  etym.         298 

Calhandriz,  Calhariz,  Tralhariz 134 

Calor  no  Douro 121  (nota),  218  e  219 

Cães  do  Saltinho 3 

Calorno,  Cogorno  e  s.  etym 74 

Camoêsa  de  rosa  —  maçã  portugueza,  deliciosa ! 244 

Campanha  da  neve  e  da  academia  em  Coimbra 188 

Campos  fertilissimos  de  Távora 383 

Candemil,  Candomil,  Cartemil  por  Cantemil,  Contumil,  Contumilo, 

Gondomil,  Gontumil,  Gondomar  e  s.  etym.       .     .     51,  59  e  60 

Candomil,  Santomil  e  s.  etym 36 

Candumil,  Candomil,  Contumil,  Contumílo,  Gondomil,  Gontomil, 

Gondomar  e  s.  etym 230 

Cantim,  Contim,  Gondim  e  s.  etym 2S1  e  331 

Carapeços,  Carapeta,  Carapetal,  Carapeteira,  Carapeto,  Carapetosa, 
Carapicha,  Carapiço,  Carapita,  Carapito,  Carrapassal,  Carra- 
patal,  Carapatello,  Carrapato,  Carrapatosa,  Carrapatos©,  Car- 
rapichana, Carra  pitos  e  s.  etym.          269 

Cardão,  Casão,  Gardão  e  Guardão  por  Cardão,  Olivão,  Pinhão, 

Serrão,  Sobrão,  Tojão  e  s.  etym.         247 

Cárdia,  Cardida,  Cardido,  Cardiga,  Cardigos,  Cardim,   Cardote 

por  Cardalote,  Cardunxal  e  s.  etym 277 

Cárdia,  Caria,  Cúria,  Franzia,  Galleguia,  Mouria,  Mourisca,  Por- 

tuguedia,  Pousia,  Rebolia,  Regadia,  Soutaria  e  s.  etym.      .     .  308 

Cardoso  e  Fonseca,  appellidos  e  s.  etym.        . 310 

Careis  e  s.  etym 295 


658  ÍNDICE 


Pag. 

Carem,  Carim  e  s.  etym 276 

Carmões,  Garvão  e  s.  etym 243 

Carosa 333 

Carrasco,  Carrascosa,  Carrazeda,  Carrazede,  Carrazedo  e  s.  etym.  242 

Cartem,  Cartim,  Quartilho,  Quartilhaes,  Quartinhaes  e  s.  etym.  276 

Carujeiro    . 330 

Carvalha  do  Presépio  (Castro  Daire) 254 

Carvalhos,  cedros,  medronheiros  e  pinheiros  magestosos    .     .     .  242 

Carneiros  que  fizeram  fortuna 359 

Casa  da  Torre 373 

Casarollas,  Figueirola,  Moreirola,  Nogueirola,  Tabarola,  Taborla 

e  Taborda 73 

Casas  circulares  na  freg.  de  Poyares  cone.  de  Freixo  d'Espada  á 

Cinta 241 

Casemillo,  Creixomil  Queixomil,  Quixomar  e  s.  etym 51 

Casita  e  s.  etym 243 

Castaide,  Castainça,  Castainço,  Castedo,  Castendo,  Casteição,  Cas- 

tinçal  e  s.  etym 72 

Castanheiro  do  Salvado  . 70 

Castanheiro  magestoso  do  Alferce,  no  Algarve   ......  254 

Castello  do  Borges 239 

Castello  do  Calfão  e  s  etym 70  e  71 

Castro  Daire  e  s.  etym 206 

Castro  Laboreiro,  Laborim,  Laboris,  Lavoris  por  Laborins^e  s.  etym.  282 

Castrum 206 

Cata  e  Gata,  Catão  c  Gatão,  Catella  e  Gatella,  Catellaria,  Catellas, 

Cateosa  e  s.  etym 280 

Catem,  Gatim,  Guetim  e  s.  etym 230 

Cavalheiro  que  bem  merecia  a  grã  cruz  da  Ordem  de  Mérito 

Agricola 383 

Cavalluche,  casal  de  Sacavém  e  s.  etym 285  e  286 

Cecilio  Cláudio  Izidoro,  bem  mais  rico  do  que  eu  ! 49 

Ceiça,  Ceiçal,  Ceiceira,  Ceissa,  Seiça,  Seição,  Seixa,  Seixal  Scixalvo, 

Seixão,  Seixas,  Seixedo,  Seixeiros,  Seixinha,  Seixezello,  Seixido, 

Seixieira  e  s.  etym.—  V.  Seiceira. 

Cellorico,  Celleiró,  Celleiróz  e  s.  etym 341 

Celtas  e  teutonicos,  irmãos  gémeos nota  56 

Cemitério  de  Távora 373 

Cepeda 102 

Cercio  c  s.  etym 22 

Cezimbra  e  s.  etym .     22  e  248 

Cha  e  ca,  cho  e  co 109 


índice  559 


Pag. 

Charoeira  e  s.  etym 61 

Chavães,  Chave,  Chaves  Chaviães,  Chavões    ....         120  e  121 

Cheriz,  Oriz  e  s.  etym 266 

Chorido  e  s.  etym 231 

Chousal,  Chousas,  Chouso,  Chusas.  Inchousos  e  s.  etym.  .     .     .  293 

Christovam  (D.)  de  Noronha  Mello  e  Faro  de  Barreto  ....  329 

Ci,  ki,  ou  qui 52  e  5:i 

Cibrão  e  s.  etym 99  e  297 

Cicouro  e  s.  etym ]5  a  18 

Cigoffrey,  Guilhofei,  Jesufrei,  Safredo,  Vai  de  Safredo  e  s.  etym. 

51  e 52 

Cinheiros  e  s.  eym 230 

Cintra  e  s.  etym 22  e  248 

Citações  em  branco  —  preenchidas 549 

Có  e  pó 4 

Codeçal,  Codecedo,  Codexido  por  Codecido,  Codeçosa,  Guindaes 

e  s.  etym • 18,  297  e  298 

Coderneiro,  Codornellas,  Codorno,  Cogorno  e  s.  etym.—  V.  Ca- 

dorneiro. 

Códices  que  o  autor  deu  á  Bibliotheca  Publica  do  Porto    .     .     .  320 

Coimbra 248 

Coja 301 

Coina  e  s.  nebulosa  etym 299  e  seg. 

Cometa  de  cauda  preta. . .          351 

Como  eu  grangeei  as  vinhas  do  passal  de  Távora,  colhendo  muito 

vinho  sem  estrume,  nem  adubos  e  conservando-as  fortes  e 

pomposas 365  a  367 

Como  o  diabo  as  arma ! 357 

Concelho  de  Freixo  d'Espada  á  Cinta  —  Esboço  etymologico  .      .  1 

Concelho  de  Miranda  do  Douro  —  Esboço  etymologico      .     He  seg. 

Condes  de  Marialva 401  e  402 

Congregações  mensaes  e  finaes  no  seminário  de  Lamego    .     .     .  343 

Constantim,  V.  N.  de  Constância,  —  Punhete  e  s.  etym.      ...  17 

Contim  e  s.  etym 331 

Contraste  entre  os  vinhos  do  Douro  c  os  do  sul 226 

Contriz,  Gondariz,  Gondoriz,  Gontariz  e  s.  etym 58 

Contumil,  Contumillo  e  s.  etym.—  V.  Candemil. 

Correios  desde  Lisboa  no  século  XVIII 169 

Coruche  e  s.  etym 178 

Corujeira,  Escalhào,  Esgueira,  Esqueira,  Esqueiros,  Sequeiro,  Se- 

quieira,  Sitinheira  e  s.  etym 242 

Corvaceira  e  s.  etym. —  V.  Setiaes  e  pag.  400. 


560 


índice 


Pag. 

Cota,  Cotas,  Cotão,  Cotães,  Cotalleira,  Cotarejo,  Cotares  Cotari- 

nhos  e  s.  etym.         278 

Cotelaio,  Recaio,  Roçaio,  Focaio,  e  s.  etym. 278 

Cotelhe,  Cotello,  Cotelões  e  s.  etym 278 

Cotem,  Cotens,  Cuteis,  Cutens  ou  Cotins,  Cotinhos,  Coutinhos  ou 

Godinhos  e  s.  etym 295 

Cotens,  Cotões,  Cotolinho,  Cothurinho,  Cotoluda  e  s.  etym.    .     .  279 

Coto  — Outeiro 277 

Cotimos  e  s.  etym 279  e  280 

Cotinho,  Coutim,  Coutinho,  Cotem,  Coto,  Couto  e  s.  etym.  277  a  279 

Coturella,  Coturellos,  Cutarella,  Cuteis,  Cutello,  Cutinho  e  s.  etym.  279 

Coubella,  Beltrão,  Germano,  Roligo  e  s.  etym 93 

Couxaria,  Gouxaria,  Moucharia 115 

Cujo 134 

Curcomellos,  Zagalho,  Sangalhos 132 

Creixomil,  Queixomil  e  Queixomar.- V.  Pasmai  e  Pâsmil.     .     .  266 

Critica  de  mofa  é  critica  banal,  balofa,  imprópria  de  gente  séria    .  95 
Crixó,  Grijó  e  s.  etym. —  V.  Alijó 

Criz  e  s.  etym.  83,  nota  e 265 

Crizes  do  Douro  desde  tempos  muito  remotos  .     .     .     .     133  e  155 
Curso  theologico,  o  mais  numeroso  de  que  ha  memoria  no  semi- 

nario  de  Lamego nota  346 

Custodio  Gil 355  e  seg. 


D 


D  e  Z  —  Já  no  tempo  dos  romanos  se  confundiram      ....  93 

Dadim,  Daem,  Dem  e  s.  etym 289 

Daem,  Dem  e  s.  etym 280 

Daffões,  Deirão,  Dobeira,  Dobrigo,  Dordelinho,  Doroso  Odysseia, 

Pecúlio  e  s.  etym 74 

Daniel,  Ezechiel,  Gabriel,  Ismael,  Israel  e  s.  etym 88 

Desgraçado  arlequim ! 200 

Desinência  eira  no  patois  do  sul  da  França  que  parece  patois 

portuguez 234  e  235 

Desinências  da  onomástica  portugueza  pouco  vulgares.     .     .     .  497 

»            de  três  regiões 232 

»           da  Hespanha,  congéneres  das  nossas    .     .     .    540  e  541 

Desinência  aço 541 

»          a,  e,  i,  o 270 

»          aes,  ães,  eus,  ãos  e  ões  .     .     . 138 


índice  5G1 


Pag. 

Desinência  àes 137  e  4íMí 

»         àes  e  ans \^o 

»         àes,  ões,  etc 507 

>         ainho 504 

»          ai 5  e  80 

»         ancho 513 

»         eira 232,  233,  242  e  517 

»          el  e  ai 262 

»         elhe,  etc 519 

»         ens  por  ins.  Veja-se  diapasão  francez. 

»          êzes Qfí  c  523 

ia 107,  108,  115,  119,  308  e  524 

»         icho  por  inho 527 

»          iça 527 

il  e  ai 25,  80,  92,  264  e  268 

»          im 530 

»         im  em  volta  de  Lamego 232 

»         im  por  em  —  v.  diapasão  francez. 

»          ona 124  e  132 

»         ôso,  osa 280 

»          ote 284  e  285 

»          oufe 265 

*         udo 279 

»          zote 539 

Deus  nobis  haec  otia  fecit! 193 

Diapasão  francez  na  onomástica  portugueza 273  e  seg- 

»             »      no  port.  pop 294 

»             »      em  por  im      .     .     .   265,  nota,  275,  280,  283  e  288 

»             »      im  e  in  por  em 290  e  530 

»             »      ens  por  ins,  eis  por  êis,  o  mesmo  que  âes  e  ens.  294 

»             >      o  por  au 303  e  305 

»             »      tí  por  ou 290  e  296 

»        italiano  e  francez  no  ant.  port 292 

Differentes  formas  dos  mesmos  nomes 544 

Diminutivos  com  a  desin.  olus,  ola 13  e  29 

Diminutivos  de  nomes  de  santos  na  onom.  port.  terminados  em 

inho 99 

V.  tópico :  Dim.  com  a  desin.  olus,  ola 

Diminutivo  ote 284 

Dionizio  Ignacio  de  Sampaio  Mello 323 

Distincto  professor  de  latim 339 

Distincto  professor  de  rhetoiica 339 

36 


562  índice 


Pag. 

Doble  «  ou  W.     ..... 55  e  56 

Documento  lisonjeiro  para  mim 372 

Doenças  das  vides. 154 

Dois  Portos,  Portelladia,  Sobral  de  Monte  Agraço,  Liandro,  Si- 

zandro,  e  s.  etyní.     .............  228 

Dona,  Donairia  e  s.  etym 115 

Doufins  e  s.  etym 304 

Douro  —  paiz  do  ouro  e  da  prata   . 21ó  e  217 

Douro— sua  divisão  pela  antiga  Comp.  dos  Vinhos      ....  121 

No  Douro  tudo  é  bom  menos  o  que  falta nota  347 

-D.  Joaquim,  da  Soenga 327 

•D.  José  de  Moiira  Coutinho. 341 

Dr.  Francisco  Joaquim  Fernandes 104 

Dr.  Joaquim  Pinheiro,  de  Provezende 383 

Dr.  Manuel  Pinto  d'AraujO 177  a  183  e  185  a  187 

Dr.  Merguíhão 335 

Dous  conflictos  com  os'  estudantes  de  Lamego  e  os  serviços  rele- 
vantes que  eu  lhes  prestei 347  a  350 


£  e  i4  confundiram-se  e  substituiram-se 125 

E  t  O  confundiram-se  na  onomástica  portugueza     .           .     30  e  224 

Eddetua!... :     .  95 

Edras,  Edrosa,  Edroso,  Eira,  Ereira,  Ericeira  e  s.  etym.       .     .      .  235 

Egidio,  Gil,  Gilvaz  e  s.  etym. 73 

,Eido,  aido ...'......      33  e  274 

.Eira,  desinência  própria  e  característica  de  Portugal  e  dá  velha 

Galliza 233 

Eira,  Ereira,  Ericeira  e  s.  etym.  —  V.  Edras.  ' 

Eiras.  —  Lista  de  povoações  nossas  que  tomaram  d'ellas  o  nome  .  236 

Eiras  notáveis 237  e  238 

,Eirô,  Eiró,  Eituró  e  s.  etym.  —  V.  Alijó  e  o  tópico  —  Diminutivos 

emolas,ola. .              13,  236  e  297 

El,  il,  ai       . 80, 92,  250  e  264 

Em  e  im     .     .     . 265 

Eleições  da  mocada...          178 

Enfistella,  Infesta  e  s.  etym 294 

<  Entrada  franca  em  um  manicomio 88 

Enxudro,  Inxidro,  Inxurdeiro  e  s.  etym.          294 

Ericeira 235 


índice  5r,3 


Pag. 

Ericio,  nome  d'um  santo  e  s.  etym 2'i5 

Esboço  etym.  do  concelho  de  Freixo  d'Espada-á-Cinta  ....  1 

Esboço  etym.  do  concelho  de  Miranda  do  Douro 11 

Escândalo  que  faz  rir .^52 

Escurquella,   Fanadia,  Faria,   Faro,  Alarcão,  Araújo,  Azua^a,  Vi- 
lhena e  s.  etym.         117 

Escurquella,  Folgosa,  Sernancelhe,  Távora  e  s.  etym.     .     .     nota  240 

Esparto  e  9.  etym 84 

Especiosa  e  s.  etym.  Port.  e  o  Japão 24 

Esperes  ou  Espeses  e  s.  etym.         KJl  e  102 

Esquadra  de  350  velas  antes  da  nossa  era 313 

Estado  lastimoso  das  ordenações  de  Lamego  até  1858   ....  338 

Esther,  Parada  d'Esther  e  s.  etym 0.3 

Estradas  de  Távora 385 

Etymologias  de  pelle  diabi ! 9^7 

Etymologias— várias  para  um  só  nome— 5,  93,  94,  23 1  a  232,  299  e  300 


F  e  T     .     . 105  e  391 

Fá,  fé,  fi  e  vá,  vé  vi 126 

Fa  e  Ta 390 

Faria • 119  e  120 

Falorca  e  Palorca  .     . 125 

Fariginhas,  Farjella,  Faldigens,  Faldrêu,  Faileira,  Falia,  Falorca, 

Farrio,  Fiscainho  e  s.  etym 12ó  e  127 

Fariginhas  e  s.  etym.  —  V.  Barjellas. 

Faroia,  Forjães,  Forjão,  Forjaz,  Froes,  Froia  e  s.  etym.        ,     .      .  52 

Fartotes  de  feriados  em  Coimbra 177 

Favaios,  Chavães,  Chavim,  Chavões  e  s.  etym 120  e  121 

Fe  e  ré  cónfundiram-se  na  onomástica  portugueza       ....  130 

Feiposa 135  e  136 

Feitoria  e  s.  etym 121  e  122 

Felgaria,    Fetelaria,   Felgoso,    Folgosa,   Folgoso,    Feltia,    Fentela, 

Ventiella  e  s.  etym.        .     .     .   129,  130,  131,  132,  133,  134  e  135 

Félix 134 

Fenícios »     .     .     .  62 

Fenicios  e  hollandezes,  cumulo  de  maldade  e  avareza    .     .     nota  126 

Fens,  Fins,  Sinfães,  Sanfins  e  s.  etym 28S,  294  e  295 

Fens,  Finges,  Finzes,  Sanfins,  Sinfães,  Alcains,  Mains,  Mães  e  Mões 

es.  etym 132  e  137 


564  índice 


Pag. 

Feras  —  reminiscência 298 

Feriado  completamente  inesperado 187  a  192  e  198 

Fernando,  Fernão  e  Ferrão  são  formas  do  mesmo  nome  .  31  e  32 
Fernão  de  Magalhães,  Pinho  Leal,  José  Augusto  Pinto  da  Cunha 

Saavedra,  Henri  Vast,  Christovam  Colombo,  etc.    .     .    141  a  160 

Ferradosa  e  s.  etym 310 

Ferreira 259, 271  e  308 

Ferreirinha,  sua  fortuna  —  gastos  de  seu  segundo  marido  n'uma 

eleição 180  e  181 

Ferrem,  Terrem  e  s.  etym 290 

Fidalgo  distincto,  ferreiro  por  officio 310 

Fidalgos  prolíficos 336 

Fidalgos  ricos  sem  successão 334 

Fieitos,  fentos,  fetos 122,  129  a  135 

Filhos  beneméritos  de  Távora .  370 

Flariz,  Frariz,  Freiriz,  Fradique  e  Frique,  app.  e  s.  etym.    ...  45 

Foia,  Foio,  Foja,  Fojos,  Refoyos  e  s.  etym 298 

Folgosa  e  s.  etym.—  V.  Escurquella 240 

Fonseca 310 

Fonte  Lataca  e  s.  etym 22 

Foral  de  Penajoia 401 

Formarigo,  Formariz  e  s.  etym 45 

Formas  anteriores  da  nossa  desinência  ães  na  onom.  port.  .     .  137 

Fornos,  freg.  e  s.  etym 1 

Foros  de  Beja,  de  Oravão,  da  Guarda  e  de  S.  Martinho  de  Mouros  292 

Foros  da  Catampona  e  s.  etym.      . 299 

Fõrstmann  e  Martins  Sarmento 50 

Fortunato  Casimiro  da  Silveira  e  Gama 321 

Fortunhos,  Fortuinhos,  Portunhos  e  s.  etym 281 

Francaria,  Franzia,  Galleguía  e  s.  etym 273 

Francello,  Marcello,  Sendello  e  s.  etym 40 

Francisco  José  da  Silva  Torres 178  e  seg. 

Franzia,  Galleguia,  Judia,   Mouraria,   Algarvia,   Anadia,   Aravia, 

Cacia,  Cúria,  Pinheiria,  Portelladia,  Portoguedia  etc.  ...  107 
Frasqueira  importantíssima,  a  primeira  do  Porto,  de  Portugal  e 

talvez  do  mundo  todo ! 181 

Frederico 45 

Freguezias  annexadas 1 

Freitas,  serra  da  Freita  e  s.  etym 210e  270 

Freitosas 135 

Fretos 134  e  135 

Freixo  d'Espada  á  Cinta  e  s.  etym.       .......       1  e  2 


ÍNDICE  565 


Pag. 

Freixo  magestoso,  o  maior  de  Portugal 254 

Fretos,  Marcella,  Camarinhos,  Traliiariz,  Calhariz,  Corcumellos, 
Sangalhos,  Enxidro,  Enxuldro,  Taganhal,  Cujo,  Treixedo, 
Espindro,  Longra,  Lordeira,  Sepedros,  e  s.  etym 134 


Ga,  xa  e  za  confundiram-se 93  e  94 

Gabrieis,  Gabriella,  Gabriellas  e  s.  etym 63 

Galhufe,  Guilhufe  e  s.  etym 56 

Galifonxe,  Guilhafonce,  Guilhafonso  e  s.  etym 54 

Gajove  e  s.  etym 63 

Galamba  da  Beira .     .  334 

Gallegueira,  Gallises,  Francaria,  Franzia,  Mouraria  e  s.  etym.        .  246 

Gallisa.  —  E' irmã  gémea  de  Portugal 234 

Gama 259 

Gandufe,  Gondufe,  Gondufo,  Gonfão,  Gunde,  Gundufe  e  s.  etym.  60 

Ganfei,  Gavei  e  s.  etym 60 

Genisio  e  s,  etym 23 

Gerardo,  Geraldo,  Giraldo,  Girai  e  s.  etym 84 

Germanello,  Jarmello  e  s.  etym 93 

Gilberto,  Gualberto  e  s.  etym 56  e  330 

Godim,  Laurentim,  Nostim  e  s.  etym nota  283 

Golias,  casal  nosso,  e  s.  etym.         63 

Gonça,  Gonce,  Goncinha,  Goncinho  e  s.  etym 59 

Gonçala,  Gonçalves,  Gondizalves  e  s.  etym 59 

Gondarem,  Gondariz,  Gondoriz,  Contriz  e  s.  etym 281 

Gondesende,  Gozandina,  Gozende,  Gozendes,  Gozendinho,  Go- 

zendo,  Gozundeira,  Guizande  e  s.  etym 60 

Gondifellos,  Gondifellinhos  e  s.  etym 58  e  60 

Gondim,  Contim,  etc.  —  V.  Gontães 281 

Gondinhães,  Gontinhães  e  s.  etym 331 

Gondivau,  Gondivão,  Gondevae,  Gondivae,  Gondivenho,  Gondi- 

vinho  e  s.  etym 58 

Gondomar,  Gondomil,  Gontomil  e  s.  etym.  —  V.  Candemil. 

Gontães,  Gontens,  Gondim  e  s.  etym 295 

Gove,  Jouve  e  s.  etym 63 

Grande  cheia  do  Mondego 201 

Grande  desabamento  no  Douro  no  inverno  de  1822 221 

Grande  incêndio  em  Coimbra 200 

Gravatos,  Horta  da  Silva  e  s  etym 23 


566  índice 


Pag. 

Gregos 99 

Orijó     .   ■ 23Ó 

Guadiche 398 

Guilhabrêu  e  s.  etym 50 

Guilhamil,  Guilhemil,  Guilherme,  Guilhomil,  Guimara  e  s.  etym.  49  e  50 

Guimarães,  Gomaraens,  Gomares,  Gomariz,  Gumirães  e  s.  etym.  49 

Guindaes 18  e  297 

Guesto  Ansur,  Gostei  e  s.  etym *  .     .     .     .     nota  263 

Gumaro,  Uimaro,  Vulmaro,  Wimaro,  nomes  de  santos,  o  mesmo 

que  Vimarus,  Wimarus,  Wilmarus      / nota  50 

V.  W.  no  Índice  da  l.a  parte. 

Gund,  prefixo  íeutónico 38,  58  e  60 


H 

Hard,  suffixo  teutónico 44,  83  e  84 

Honra  o  teu  nome  e  elle  te  honrará  — seja  qual  íôr! 236 

Hulf  ou  ulphe,  suffixo  teutónico  e  celta 43,  84  e  85 


Iben  — filho  —  é  prefixo  árabe  que  se  encontra  em  muitas  povoa- 
ções nossas     .      .      .     .     , .     45,  46  e  47 

Iffanes  e  s.  etymologia 24 

Igo  e  ilho    .     .     .      • .     .  53 

Ildefonso  J.  Cardoso,  Custodio  Gil  Carneiro,  José  Estevam  e  o  Rei 

de  Paredes 355  e  seg- 

Im  por  em.  — V.  diapasão  francez 530 

Inchouzella  e  s.  etym 293 

Indicação  dos  tópicos  tantas  vezes  promettidos  n'esta  minha  louca 

Tentativa  Eiymologica 272 

Infante  D.  Henrique 161  a  171 

Ingosta  e  s.  etym 293 

Insua  do  cantado  e  decantado  Vianna 191 


Ja  t  ga .  60 

Ja  t  za .     .     .     .     '■ 94 


índice  567 


Pag. 

Jaca,  Jadão  e  s.  etym 64 

Jagaz  c  s.  etym ^-^ 

Jagunda  e  s.  etym 315 

Jalaleel,  Joel,  Raphaei,  Samuel  e  s.  etym 67 

Jalles,  Alfarella  de  Jalles  e  s.  etym 64 

Jambo,  Nabôa  e  s.  etym 313 

Javali  e  s.  etym.     , 87 

Jericó  e  s.  etym.          64 

Jeguinte,  Jeguintes  e  s.  etym -52 

João  Gomes  d'01iveira  Guimarães 253 

João  Maria  Mergulhão  Neves  Cabral  e  Accacio  Mergulhão  Neves 

Cabral,  meus  saudosos  primos 335  e  336 

Joaquim  Ferreira  de  Macedo  Pinto 77 

Joaquim  d'01iveira  Guimarães,  tão  bondoso,  como  desditoso,  165  e  166 

Joaquim  (D.)  de  Carvalho  Azevedo  Mello  e  Faro      ......  327 

Joaquim  Pinto  d' Araújo 183  e  185 

Joaquim  da  Silveira  (Dr.)  37  (nota  3),  40,  41,  53,  68,  78,  101,  111, 

133,  232,  234,  326,  350,  351,  353,  370,  371  e  nota          ...  374 

Joarim,  Joazim  e  s.  etym 64 

Joaves  e  s.  etym 63 

Joazim,  Sarraquinhos,  Serranchinos,  Serr&quim,  Sarrazim,  Serra- 

zim  e  s.  etym .  53 

Jordana,  Jordão,  Jordões  e  s.  etym. 65 

Jornal,  que  foi  o  thermometro  da  noss?i  pplitica 376 

José  Augusto  Pinto  da  Cunha  Saavedra 141  e  142 

José  Borges  de  Carvalho  Vasconcellos 333 

José  Ernesto  de  Carvalho  e  Rego,  prelado  da  Universidade,  meu 

patrício  e  i;nuito  meu  amigo IQO  a  1Q2 

José  Júlio  d'01iveira  Pinto,  morto  em  um  duello       .....  328 
José  Maria  dos  Santos,  grande  proprietário  e  capitalista  e  o  maior 
colheiteiro  de  vinhos  que  ha  no  Alemtejo,  em  todo  o  nosso 

paiz  e  no  mundo  inteiro 220 

José  (D.)  de  Moura  Coutinho,  bispo  de  Lamego 341 

José  Tibério  de  Roboredo  Sampaio  e  Mello 323 

Judeus ,     ,     .     .           61  e  62 

Judia,  Judias  e  s.  etym 64 

JuIio  Schneider,  privado  das  barbas  e  fazendo  rir  as  pedras  das 

calçadas     .,,.,.. 260 

Juncaes,  Juncal,  Juncalinho,  Juncosa,  Junqueiro,  Junquinho  e  s.  etym.  243 

Juromenha  e  s.  etym.  —  V.  Ledesma. 

Justiniano  de  Córdova  e  os  Marçaes  de  Fozcôa 334 


568  ÍNDICE 


Pag. 

Labarella  e  s.  etym 265 

Labourinho  e  s.  etym 265 

Labrunhal  e  s.  etym 265 

Laceíra  e  s.  etym 265 

Lacerda  e  s.  etym 265 

Laeira  e  s.  etym 265 

Lagares  —  Breve  noticia  d'alguns,  e  das  nossas  muitas  povoações 

que  tomaram  o  nome  d'elles 281  e  282 

Lagoaça  e  s.  etym 3 

Lama  Má , 1J3 

Lamó  e  s.  etym.         265 

Landril,  Lauril  e  s.  etym 264 

Lapaduços  e  s.  etym.  —  V.  Baldossa. 

Lardoeira,  Larjal,  Sarjal,  Sebadouro  e  s.  etym 229 

Larjal  e  s.  etym.  —  V.  Lardoeira. 

Latadas  e  o  x  em  Coimbra   ...•., 202 

Lavage  e  s.  «tym. 265 

Lebra,  Lebrem,  Lebrinho  e  s.  etym 282 

Leça,  Eça,  Deça  e  s.  etym 265 

Ledesma,  Sederma,  Sedesma,  Siderma,  Salmães,  Salmanha,  Ser- 

manha,  Juromenha  e  s.  etym 229 

Lei  do  menor  peso.  —V.  Apothicario  e  pag.  298. 

Leirão,  Leiró,  Leirós  e  s.  etym 265 

Leixões  e  s.  etym 230  e  249 

Lente  forjada  por  mim  a  martello 107 

Leonil,  Lomar  e  s.  etym 51 

Leonte,  sitio  histórico  do  Gerez,  e  s.  etym.         .     .     .       nota  2  83 

Lerdeira  e  s.  etym 230 

Lesid,  Sezite  e  s.  etym 230  e  265 

Lever  e  s.  etym « 265 

Levide  e  s.  etym 265 

Liga  Académica,  semelhante  á  Carbonária 185 

Ligares  e  s.  etym.  —  V.  Algar         3 

Lista  de  alguns  homens  notáveis  de  Sabrosa 151 

Lista  de  povoações  que  tomaram  o  nome  dos  cepos  e  troncos  das 

arvores      .     ;     ; 102  e  103 

Lista  de  algumas  povoações  nossas,  com  a  desinência  êde  .     .     .  232 


índice  569 


Pag. 
Lista  de  muitas  povoações  nossas,  com  a  desinência  Im,  todas 

próximas  de  Lamego 232 

Lista  de  muitas  povoações  do  concelho  de  Torres  Vedras,  com  a 

desinência  eira 233 

Lista  de  povoações  portuguezas  que  tomaram  o  nome  dos  francos 

ou  francezes 273 

Liteiras 210 

Livralde  e  s.  etym 315 

Locomoção  antiga  e  moderna 172  e  176 

Lo/so/z  —  sua  bagagem  de  salteador 216 

Lomar  e  s.  etym.  —  V.  Assomar. 

Longra  e  Longa 134 

Lordello,  Louredo,  Lourosa,  etc 265 

Lorigo  e  s.  etym .  265 

Louredo  e  s.  etym ' 332 

L  t  R  confundiram-se  e  substituiram-se 93  e  95 

JL  e  S  confundiram-se  na  onomástica  portugueza.  —  V.  o  tópico 

Substituição  de  letras 228  a  231 

Lourentim 283 

Luilhas  e  s.  etym 265 

Lumes  prontos,  gazómetro,  etc,  em  Coimbra 201 

Luriz,  Oriz  e  s.  etym 266 

Lutra,  Utra  e  s.  etym 266 

Luval,  Luvar,  Luvares  e  s.  etym 266 

M 

Má  —  suffixo  de  varias  povoações  nossas 4 

Macabio  e  s.  etym 65 

Maçada,  Malhada,  Penamacor  e  s.  etym.         59 

Maçãs  Camoezas  no  vinho 244  e  245 

Maçagoso,  Maçainhas,  Maçaira,  Maçai,  Maçanicas,  Maceda,  Macedo, 

e  Mazeda  — rua  de  Lamego  e  s.  etym.  (^)     .     .     .         243  e  261 
Macens,  Macide,  Macido,  Maciel,  Freixiel,  Pinhel  es.  etym.  — V. 

Maçagoso. 

Macedo 261 


O)  Maceda,  Macedo  e  Mazeda  podem  vir  também  do  hespanhol  Mãzaneda  e  Man- 
zaneda,  bosque  de  manzanas,  macieiras  ou  maçãs,  que  deram  Manzaneda  e  Manzanedo, 
muitas  povoações  da  Hespanha,  e  Manzanares,  rio  microscópico  de  Madrid. 


570  índice 


Pag. 

Maceira ■ 243 

Macinhata,  Maçoeira,  Maçoira  e  s.  etyra.  —  V.  Maçagoso. 

Madail  e  s.  etym 25  e  26 

Madalena  ou  Magdalena  e  s.  etym 66 

Magães,  Magalhôa,  Maganha,  Maganhe,  Magalão  e  s.  etym.     .     .  141 

Magalhães .     ., 140 

Mais  feriados  e  as  forças  caudinas  .     .     ...     ....     .....  190 

Malhadas  e  s.  etym.         ..............     25  e  26 

Mamarosa,  Lava  Côlhos,  Lava  Rabos,  Mija  Velhas  e  outros  no- 
mes portuguezes  que  devem  ser  substituidos   ...     17  e  18 

Manacás,  casal  nosso  e  s.  etym 66 

Mancilha  ou  Mansilha  e  s.  etym, 262 

Mandim,  Memende.,  Mendalvo,  Mendares  e  s.  etym 291 

Manoel  Henrique  da  Silva  Machado,  reitor  de  Bornçs   ....  323 
Manoel  d'OIiveira  Chaves  e  Francisco  de  Moura  Secco,  beneméri- 
tos filhos  de  Lamego      ^ 336 

Manoel  Pereira  Dias,  doutor  de  Capello,  Par  do  Reino  e  reitor  da 

Universidade ..,.,,., 327  e  329 

Manoel  finto  d' Araújo  e  a  saudosa  Thomarada  .......  175 

Mansilha 262 

Manoel  e  s. ,  etym.       . 66 

Marçaes  de  Fozcôa 335 

Mário  de  Castro 207 

Marquez  de. ...  Mashanaglass  \ 159 

Marquezes  de  Marialva 402 

Marrocos,  notável  quinta  do  Douro  e  s.  etym 222 

Martens  Ferrão  e  a  minha  barbara  preterição  no  concurso  para 

um  canonicato  de  Lamego  com  o  ónus  do  ensino  .     .  355  e  seg. 

Martens,  Martins  e  s.  etyrji,        296 

Martinel,  Martinxel  e  s.  etym.         277 

Matacães  e  s.  etym.— V.  Alhandra. 

Matheus,  Mathias  e  s.  etym. 65 

Maurelles,  Mauriz,  Moural,  Mouraz,  Mourel  e  s.  etym.       .     .     .  305 

Medelin 288 

Medim 283 

Medlicotte,  esboço  etymologico 284,  285,  287  e  288 

Meios  de  Ipcomoção  e  communicação  antigos  e.  modernos,  172  a  176 

Meixomil  e  s.  etym.         231  e  276 

Mello,  villa  e  appellido,  —  Melres,  quinta,  etc.  e  s.  etym.     .     .     .  223 

Melres 224 

Mendel,  Mendenha,   Mendiz,   Mendanha,    Mendonha  e  s.  etym.  291 

Menezes 96 


IXDICE 


571 


Pag. 

Mendo,  Mim,  Mem  e  s.  etym.          262 

Metem,  Medelim,  Médello,  Medim  e  s.  etym 283 

Meteoro  da  onomástica  portu^ueza 108 

Mezio  e  s.  etym 210 

Micahelis,  Migueis,  Miguel,  Miquei  e  s.  etym 67 

Mimosa  leitura  para  senhoras. . .           39 

Mimvaqueiro,  Mim  Velho  e  s.  etym 291 

Minde,  Mindeilo  e  s.  etym 292 

Minhatosa  e  s.  etym 280 

Miomães,  Moumiz,  Nunelhe,  Ceidão,  Seidães,  Pagons  e  s.  etym.  HO 
Miranda  do  Corvo,  Miranda  do  Douro,  Corvaceira,  Douro  e  s. 

etym 11,  26,  27  e  28 

Mirus,  i,  desin.  dos  ns.  germ.  na  onom.  port.  deu  mil  e  mar    .     .  51 

Mixilhoeira,  Scrpigeira  e  s.  etym.        . 246 

Mochos,  muchões,  lagartos  e  sardões  na  onom.  port.     .    ..    ll.'i  a  115 

Mões,  Monha,  Monim,  Mumadona  e  s.  etym 139 

Moinhos  de  mão  e  sepulturas  abertas  na  rocha 71 

Molães  e  s.  etym.       ...           296 

Monin,   Moniz,   Nunelhe,    Monelhe,   Nono,    Nunes,    Nuno  e   s. 

etym 47  e  48 

Monte  —  o  que  significa  no  Alemtejo  e  no  Algarve 274 

Monteiro 278 

Moreda,  Navarro,  Dias,  Diegues,  Thiago,  Biscainho,  Faria,  Oravia, 

Cárdia,  Franzia  e  s.  etym IIQ 

Morem,  Morim,  Mourins  e  s.  etym.      ^    .     .     .   288,  295,  305  e  307 

Morlinho,  Mourim,  Mourins  e  s.  etym 307 

Morgado  da  Ribeira  de  Sabrosa 152  e  153 

Morgado  gigante 232  e  333 

Morte  do  santo  bispo  de  Lamego,  D.  José  de  Moura  Coutinho  t 

a  sua  genealogia .      .     • 263  e  264 

Motivo  porque  certas  pov.  muito  estimavam  o  privilegio  de  não 

poderem  morar  n'ellas  fidalgos 292,  293  e  329 

Mourens,  Mouriz,  Mourizes,  Moreis  e  s.  etym 295 

Mourento,  Mouria,  Mouril,  Mourilhe,  MouriSsó,  Mouriz  e  s.  etym.  305 

Mouricão,  Mourigães  e  s.  etym 303 

Mouriga,  Tourega,  Touriga  e  s.  etym 307 

Mouros,  povoações  nossas  que  tomaram  d'elles  o  nome,  305  e  306 
Mouros.     Incommodaram-nos  muito,  mas  pagaram-nos  tudo  — 

próprio  e  custas ! . . .           306 

Mund,  suffixo  teutonico        57 


572 


ÍNDICE 


N 


N  tV  confundiram-se 

Naufrágio  do  grão  turco .     . 

Nazido  e  s.  etym 

Nomes  affrontosos 235  e 

Nomes  derivados  dos  açores 

»  »  de  adjectivos  numeraes  romanos  ...       331 

das  aveleiras  (')         

dos  barrocos 222  e 

dos  bezerros 

das  bouças 296,  301  e 

de  cabras 

dos  cardos 

dos  carrapatos 

dos  castanheiros 

das  cepas  e  troncos  das  arvores    .     .         102  e 

das  corujas 

dos  cotos 

dos  cucos       ...  

das  eiras 

das  favas 

-     dos  fetos   .     .     '. 122  a 

dos  francezes 104,  105  e 

dos  gatos 

do  hebraico 

da  hera 

dos  lagares 

dos  lagartos 

das  lebres 

dos  leões   ..........     83,  84  e 

das  maçãs ... 

dos  mochos 

dos  mouros 305,  306  e 

dos  ouriços  cacheiros 


Pag. 

93 
195 
262 
236 
263 
392 
255 
223 
226 
303 

80 
277 
269 

72 
103 
110 
277 
110 
236 
120 
137 
273 
280 

62 
235 
282 
113 
282 
236 
261 
113 
308 
235 


(1)  Vol.  1.0,  paginas  351  a  354. 


ÍNDICE  Õ73 


Pig. 

Nomes  derivados  dos  peixes nota  266 

de  porcos 79,  82,  85,  86  e  87 

»            »          de  possiigas 87 

>            »          das  romeiras  ou  romanzeiras 267 

»            »          dos  teixos 13 

»            »          dos  troncos  de  árvores 103  a  105 

»            »          de  urze 94  a  96 

»            »          das  zebras 243 

»  »  V.  Povoações. 

Nomes  indecentes 18 

»       importados 38 

»      que  devem  mudar-se 17 

Nostim 283 

Nunilona,  Nuno  e  s.  etym 331 


O  por  a  na  onomástica  portugueza 8 

Odivellas  e  s.  etym 73 

O  Douro  e  o  Marquez  de  Pombal        217 

O  Douro,  —  as  vides  europêas  e  as  vides  americanas     .     .     .     .  219 

Ois  da  Ribeira,  Ois  do  Bairro  e  s.  etym 311 

Olival  dos  Borrões  e  s.  etym 86  e  87 

O  meu  casarão  da  Corvaceira 214 

Onomástica  portugueza,  valente  auxiliar  da  historia 306 

Onomástica  portugueza  comparada.  106,  112,  115,  131,  134,  135  e  139 

O  palacete  do  conde  da  Borralha 197 

O  prefixo  árabe  ai,  perdendo  o  /  e  formando  um  todo  com  vários 

ns.  de  povoações  nossas 19 

Ordenações  do  Seminário  de  Lamego  —  sua  reforma,  340,  342  e 

seg.  350,  351  €     .     . •     .     .     .     .  352 

Ordenado  dos  antigos  professores  do  seminário  de  Lamego    .     .  364 

Ordiaes,  Orgens,  Orjaes  e  s.  etym 310 

Orreiro,  Orros,  Reiro,  Reiros  e  s.  etym nota  86 

Os  criados  também  podiam  succeder  nos  vincules  e  ser  morgados  153 

Ourai,  Ouraes,  Ouriçaes,  Ouriz  e  s.  etym 265 

Ourem,  Ourim,  Ourinho  e  s.  etym 265  e  288 

Ouril,  Ourai  e  s.  nebulosa  etym 264  e  seg- 

Ousarem  e  s.  etym 289 

Outil  e  s.  etym 266 

Outro  jorreiro  de  feriados,  ao  todo  mais  de  70 192 


Õ74 


índice 


Outro  jorreiro  de  feriados,  e  nós  todos  aprovados  sem  fazermos 
acto 


Pag. 
198 


Pa,  po,  pu  e  ba  bo  bu  confundiram-se 126 

P  e  T  confundiram-se  e  substituiram-se  na  onom.  port.       .     .     .  135 

Pacheco,  appellido  e  s.  etym. 311   a  316 

Paço  Frio  ou  Passa  Frio 70 

Padella,  Padreíla,  Penella,  Peninha  e  s,  etym.  V.  Lapella. 

Padim,  Paim,  Tainho,  Palada  Palleira,  Panque,  Paralheira,  Para- 

nhão,  Tavilhão,  Teixe,  Peja  e  s.  etym 135 

Pagade,  Serem,  Tranquilhos  e  s.  etym 316 

Paimogo  e  s.  etym 298 

Pai  Mouro,  Paião,  Paio,  Pais  e  s.  etym 305 

Paio  Pires  ou  Aldeia  de  Paio  Pires,  sua  apologia  e  s.  etym.     .     .  299 

Pais,  Paião,  Paio,  Sampaio  e  s.  etym.       ' 298 

Palácio  das  Sereias  ou  da  Bandeirinha  e  s.  etym,      .     .     .     .     .  212 
Palaçoulo  e  s.  etym.    Pertence  á  grande  série  de  povoações  nossas 
em  cujos  nomes  se  encontra  a  desinência  olus,  ola.    Indicam- 

se  muitos  dos  taes  nomes 29 

Palamoro,  Pé  de  Moura,  Porto  Mourim  e  s.  etym.         ....  306 

Palancar  e  s.  etym. 27 

Palha  caríssima 168 

Palorca. 135 

Panasqueira,    Panascal,    Panasquita,   Melrita,   Casita   e   s.  etym.  243 

Parada,  Paradella,  Paradinha  e  s.  etym 30 

Paraduça,  Peraduça  e  s.  etym.  —  V.  Baldossa. 

Paránhão 135 

Pasmai,  Pasmil  e  s.  etym. 51 

Passil,  Resomil,  Touril  e  s.  etym. 80  e  81 

Passil,  Passal  e  s.  etym -. 267 

Paturra,  quinta,  e  s.  etym.          3 

Pedro 393  e  B94 

Pedro  Bôcca  de  Porco,  era  o  nome  do  papa  Sérgio  iv  .     .     .     .  87 

Pedro  da  Silveira  Athayde  e  Vasconcellos 393 

Pedrogo  e  s.  etym •  98 

Pelagio 305  e  306 

Pelho,  Tanha,  Terá,  Perraço,  Perrâes,  Pigeiro,  ligeiro,  Pijão,  Tijão, 
Tinheiro,  Tanhel,  Tinhella,  Tires,  Tiroeira,  Pogeira,  Pugido, 


ÍNDICE  '')t-) 


Pag. 
Tugido,   Tuido,   Tosar,   Tujj^al,   Tuzar,   Tocho,   Toí,'o,  Tuxo 

e  s.  etym 136 

Pena  Branca  e  s.  etym.          28 

Penajoia  e  s.  etym 73 

Penajoia,  Taboaço,  Távora  e  a  baga  de  sabugueiro     .     307,  .jj^  c  4fX) 

Penozem  e  s.  etym.     . 289 

Penude,  Penide,  Penides,  Pindella  Pindello  e  s.  etym 210 

Perdagães,  Pintães,  Pitões,  Touraes,  Tourãcs,  Tourões  e  s.  etym.  139 

Perdão  d'acto 198 

Perfeitos,  familia  muito  antiga,  muito  nobre  e  muito  rica    .     .     .  237 

Petrus  in  cunctis 259 

Pexem  e  s.  etym 289 

Picote  por  Picoto  e  s.  etym 30 

Pintem,  Pintens  e  s.  etym. 296 

Pintim  e  s.  eiym 28^ 

Pinto  d'Araujo  e  o  Dr.  Castro,  vulgo  Castrinho 178 

Pinto  d'Araujo  e  o  seu  acto 186 

Plantação  de  vides  — preços  no  Douro  e  no  Alemtejo    ....  220 

Pobreza  do  districto  de  Bragança 1 

Poda  das  vides 365 

Poiares  ou  Poyares  e  s.  etym. 4 

Poído,  Pugido;  Tuido 136 

Poja,   Poledo,   Polo,   Tonta,  Tontão,  Tontello,  Porvilhão,  Tragai, 

Tredo,  Prilhão,  Trinhão,  Trofa,  Trovella  e  s.  etym.       .     .     .  136 

Politicão  d'agua  chilra 362 

Porca  de  Murça     .     .     .     .     ...     .     .     ...      .      .     .  86 

Porcalho,  Porcalhota,  Porcariça,  Porcariço,  Porcel,  Porcelhe,  Por- 

ches,  Porcimo,  Progo  e  s.  etym.          79 

Porcia,  Porciana,  Porciano,  Porcilia,  Porcilio,  Porcinia,  Porcinio, 

Porcino.  Porcio  e  s.  etym. '.     .  79 

Portelladia  e  s.  etym.— V.  Dois  Portos. 

Possijal,  Possilgaes,  Possilgão,  Possilgõ:;s,  Pexiigas  e  s.  etym.       .  87 

Pousadouro,  Pousadouros  e  s.  etym.'          7 

Povoa  e  s.  etym,          83 

Povoações  que  tomaram  o  nome  dos  t€Íxos 13 

Povoações  que  tomaram  o  nome  de  Martinus,  /        15 

»  que   tomaram    o   nome   de   Leodomirus,   Guntimirus, 

Theodomirus  e  Wladimirus,  /        23 

Povoações  nossas  qu€  tomaram  o  nome  dos  francos      .      .    104  e  107 
»          que    tomaram    o    nome    dos   feitos,   fentos,    fetos    ou 

fieitos 122  e  seg. 

Povoações  que  tomaram  o  nome  dos  bezerros 226 


Õ76  índice 


Pag. 

Povoações  da  Hespanha  que  tomaram  o  nome  das  maçãs  ...  261 

>          nossas  que  tomaram  o  nome  das  boiças  ou  bouças,  296  e  seg. 
»          —  V.  nomes  derivados. 

Praves 137 

Prazins  e  s.  etym 316 

Prefixo  ai 270 

Prefixo  castelhano  ta,  metathese  do  antigo  árabe  ai,  que  entre  nós 

deu  fl 265  e  266 

Prefixo  sub 387 

Pregaes,  Pregai,  Pregueira 136 

Prilhão  e  Trilhão 136 

Prime  e  s.  etym. 296  e  321 

Producção  das  vides  por  milheiro 227 

P  e  /  confundi ram-se 135 

Prova,  Provella,  Trovella 136 

Pulgas  em  barda  e  Albergaria  das  Cabras      .......  209 


Q 


Quarteira 396  397 

Queixomar 267 

Quinta  das  Águias 382 

Quinta  de  Castello  de  Borges  e  a  nossa  do  Campo  Velho,  ambas 

no  Alto  Douro  e  margens  do  Tedo 239 

Quinta  Grande 65 

Quinta  de  Valmôr  e  s.  etym 218 

Quintas  que  já  foram  parochias 1 

Quando  o   Douro   esteve  em   alta  eram  ali  triviaes  as  salvas 

faqueiros  aié  bacios  de  prata! 216 


R,  letra  falsa 134 

Rad,  rich,  hulf 43 

Rabaceira,  Rabaceiro,  Rabacinhos,  Rabaçosa  e  s.  etym.  ...  87 
Rabasca,  Rabasco,  Rabasqueira,  Ravasco,  Ravasqueira,  Ravasqui- 

nha,  e  s.  etym 87 

Rainha  D.  Theresa.—  Passeava  pela  Galliza  como  nós  por  nossa 

casa .  234 

Rainhas  de  Gouveia 38 


índice  577 


Pag. 

Ramada  e  suas  accepções 127,  128  e  274 

Rande,  Raul,  Rauiim,  Rolim,  Rodoipho,  Rol,  Rouíe,  Randufe,  Ren- 

dufe  e  s.  etym. 43 

Re,  prefixo  augmentativo 543 

Recarei,  Reçamonde,  Recamonde,  Recamunde,  Rica  Monte,  Roca- 

monde,  Reimonda,  Reimonde,  Reimondinho,  Raymundo  e  s. 

etym 56,  57  c  84 

Recião,  Reguião,  Requiães,  Requião  e  s.  etym nota  53 

Recordação  dos  tempos  de  Coimbra 173  a  20Í 

Redacção  que  era  uma  pequena  praça  de  guerra 183 

Refega  e  s.  etym 27 

Refujos 298 

Reiros,  etc nota  85 

Remesal 267 

Reminiscências  dos  gregos 99 

Rendimento  da  nossa  casa  durante  5  annos nota  380 

Republicano  opportinista e  374  384 

Resomil  e  s.  etym 267 

Rezenda,  Rezende,  Rezenta,  Rozem,  Rozim  e  s.  etym 290 

Ribaçaes,  Ribaçal 325 

Ribadeneira,  appel.  hesp.  e  s.  etym 234 

Ricardo 57  e  84 

Ricassos  do  Douro nota  215 

Rich  —  poderoso,  rico,  suffixo  e  prefixo  germânico  muito  prolí- 
fico        43,  44,  57  84 

Riqueza  de  Cecilio  Cláudio  Isidoro 49 

Rira  bien  qui  rira  le  dernieri 95 

Roberto 93 

Rodrigo,  Roligo,  Rorigo,  Roriz,  Ruy,  Ruins,  etc.  e  s.  etym.  42,  43  e  133 

Romagem  e  s.  etym 268 

Romaneira  e  s.  etym 267 

Romazelhas,  Romeiral,  Romeirão,  Romeirinha,  Romeirinhos,  Ru- 

melha  e  s.  etym 267 

Romeu,  Romaneira,  Romeirão,  Romezal,  Remezal,  Romeirinho  e  s. 

etym 65 

Rompecilhas  e  s.  etym.          210 

Ronca,  Roncanito,  Roncão,  Roncas,  Ronqueira,  Ronquilha,  Ron- 

quinha  e  s.  etym 86 

Ronceiras  é  talvez  o  mesmo  que  Ronqueiras  ....     nota  2.»  86 

Roteiro  de  Castro  —  hontem  e  hoje 167  e  168 

Ruminhal,  Ruminheira,  Ruminheirinha  e  s.  etym 268 

Runa  e  s.  etym.— V.  Alhandra. 

Ruy  Fernandes  e  a  ponte  dos  piares 5 

37 


578  índice 


Pag. 

Ser 127 

Saavedra  e  s.  etym nota  1.»  149 

Sabordella  e  s.  etym 228 

Sago  e  s.  etym 229 

Sagres,  Chaves,  Alares,  Amares  e  s.  etym 162  e  163 

Salvador  Paes 215 

Salmães,  Salmanha,  Sermanha  e  s.  etym. — V.  Ledesma. 

Salto  da  Pandeira  e  s.  etym 3 

Sameira,  Sameiras,  Sameiro  e  s.  etym 228 

S-^mel,  Samil,  Tamel,  Tamal  e  s.  etym 268 

Sanor,  Samora,  Samorão,  Samorim,  Zamora  e  s.  etym.       .     .     .  271 

Sampaio 305 

Samuel  Gelb  em  Coimbra 177  e  183 

Sancho  i,  Affonso  ii  e  o  Rei  Venturoso  não  leram  pela  mesma 

cartilha! 311 

Sande,  Sandiaes,  Sandião,  Sandim,  Sandinha,  Sandinho,  Sendim, 

Sendinha,  Sendinho  e  s.  etym 231 

Sandiaes,  Cepães,  Sepães,  Faldijaes,   Faldigens,  Fralães,  Farlens, 

Fundães,  Gontães,  Guntens,  Muçães,  Orjaes,  Orgens  e  s.  etym.  138 

Sandim,  Sendim,  Sindim  e  s.  etym 36  e  seg, 

Sanfins,  Sinfães 132 

S.  Gil  e  Tangil 91 

Santelmo 388 

Sapaduços  e  s.  etym.-^V.  Baldossa. 

Saragoça  Rainha  e  s.  etym 38 

Sarjal  e  s.  etym. — V.  Lardoeira. 

Sarrão,  Sarricos,  Sarranheira,  Sarroeira,  Serrão  e  s.  etym.        .     .  246 

Sa,   se,  so  e  ta,  te,  to,  confundiram-se   na   onomástica   portu- 

gueza 90,  268  e  269 

Schisto  —  pranchões 241 

S.  Colmado,  S.  Cosmado  e  s.  etym 231 

Sebadoiro  e  s.  etym.  —  V.  Lardoeira. 

Sederma,  Sedesma,  Siderma  e  s.  etym.  —V.  Ledesma. 

Seiceira  e  s.  etym 248  e  249 

Senande,  Sernande,  Sernancelhe  e  s.  etym 36  e  51 

Senandus,  etc '         .      .  231 

Sendiães,  Sendieira  e  s.  etym 39 

Sendim,  Sendinha,  Sendinho  e  s.  etym. — V.  Sande. 


índice  579 


Pag. 
Senhora  que  bem  merecia  uma  commenda  da  Ordem  de  Mérito 

Agricola         382  e  3-"1 

Sensaboria  por  causa  d'uma  poesia 

Sernancelhe  e  s.  etym.—V.  Escurquella 231  e  240 

Serra  da  Freita 210 

Serra  d'Ossa  e  s.  etym.  —V.  Baldossa. 

Serra  das  Talhadas  e  s.  etym.           210 

Serviços  que  prestei  na  freguezia  de  Távora    ...»         37^  e  seg. 

Setiaes  e  s.  etym 247 

Sever,  Severim,  Cervães  e  s.  etym 16 

Sinçães,  Sinceira,  Sinceirinha  e  s.  etym.  —V.  Seixeira. 

Sindieira  e  s.  etym 247 

Sizandro,  rio,  e  s.  etym. — V.  Dois  Portos 228  a  231 

Soares,  Soura,  Souro,  Soirinho,  Souralva,  Soure,  Sourinho,  Souro 

Pires  e  s.  etym 80 

Sobal,  Fancaria,  Palorca,  Freitosas,  Feiposa  e  s.  etym.         ...  135 

Sobrada,  Sobrado  de  Paiva  e  s.  etym 12^ 

Sobradinho,  Sobrainho  e  s.  etym 74 

Sobral  de  Monte  Agraço.  —V.  Dois  Portos 228 

Soenga,  Tulheiras  e  s.  etym nota  225 

Some-te,  coisa  má !.. .           nota  137 

Somil  e  s.  etym j»    .     .     .  230 

Soppo  e  s.  etym 230 

Soromenhos.  —  Povoações  que  tomaram  d 'elles  o  nome.    .     .     .  229 

Sousa,  rio,  Sousella,  etc.  e  s.  etym 230 

Substituição  das  letras  ^  e  O  na  onomástica  portugueza     .     .     .  224 

Substituição  de  letras : 

a 403 

b 409 

c 417 

d 432 

e ' 441 

/ 445 

g 45i 

/• 460 

j 465 

l 466 

m 474 

n 477 

O 480 

p 483 


580  "         índice 


Pag. 

q 486 

r 486 

s 491 

/ 494 

u 494 

V 495 

w 495 

Suffixo  hebraico  El-Deus 67 

Suffixo  e/— Daniel,  Gabriel,  Ezequiel,  etc 88 

Suimo,  Suina,  Suino  e  s.  etym 82 

Synonimias  de  Pacheco 314e  seg. 


Tep 135 

Tá,  té,  êtc.  deram  dá,  dé,  etc *.  289 

Tabaçô,  Tabelladas,  Tablado,  Taboaço,  Taboeira,  Taveira,  Ta- 
boeiro,  Toveiro,  Taboneira,  Taborda,  Tabosa,  Tavares,  Ta- 
veira, Taveiro,  Távora  e  s.  etym 71  e  73 

Taboada  de  Garrido  e  os  nossos  correios       ....         168  a  172 

Tadim,  Tagilde 289 

Tagilie 49,  Ql  289 

Taíís  arbor,  falis  fructus 326  e  360 

Talhadas 210  e  296 

Talís  vita  —  finis  ita 362 

Tanhal 136 

Taralhão 135 

Tavira 388  e  389 

Távora  —  filhos  beneméritos 370 

Távora  e  s.  etym.  — V.  Escurquella 240 

Teixeira 13 

Teixos  e  castanheiros  notáveis  e  uma  fidalga  muito  desequilibrada  14 

Telho,  Tellões,  Tenõese  s.  etym. 341 

Terminologia 549 

Thadim,  Thaim,  Tainde,  Tedim,  Thaide,  Tangil,  Tagilde  e  s.  etym.  289 

Theobalde,  Tibalde,  Tibaldo,  Tibau,  Tovar  e  s.  etym.         ...  85 

Tneomil,  Thomar  e  s.  eym.         ...           51 

Thomarada 175,  177,  185  e  324 

Thourim,  Tourem,  Turiz  e  s.  etym 290 

Tiburcio,  nome  pessoal,  e  s.  etym 40 


índice  Õ81 


Fag. 

Tinheiro 136 

Tinhella 136 

Tires 136 

Tito  de  Noronha 386 

Tocho,  Tojo,  Tuxo 136 

Toilo,  Touto,  Toutosa  e  s.  etym 269 

Toja,  Tocha 136 

Tomem  a  penna,  —  desçam  do  palanque,  —  entrem  no  redondel  — 

e  verão  o  que  lhes  succede! 95  e  100 

Tonce,  Torqueiros,  Trizio  e  s.  etvm.          137 

Tópicos  promettidos  e  outros  mais 272,  392  e  seg. 

Torres  Vedras,  Matacães,  Runa,  Alhandra  e  s.  etym.      .     .    227  e  242 
Torres  Vedras  e  s.  etynk — V.  Alhandra. 

Torres  Vedras  —  desineneia  eira 232  e  242 

Tougues,  Touguinha,  Touguinhó  e  s.  etym.         ....     nota  304 

Tour  du  Monde  ha  quatro  séculos  por  2  navegantes  portuguezes  157 

Touta,  Toutão,  Tontello,  Tontinha 136 

Tozal,  Tuzar,  Urzal,  Zurzaes  e  s,  etym 94 

Trancoso  por  Troncoso 254 

Transformação  completa  das  ordenações  de   Lamego,  de  1857  a 

1860 .  340 

Trisio 137 

Trofa 136 

Tufe,  Tufos  e  s.  etym 304 


u 

Urro 85 

Ursos.  —Varias  povoações  que  tomaram  d'elles  o  nome     .      .  229 

Urze,  planta  muito  prolífica  na  onomástica  portugueza  .     .     94  e  96 


V 

Vacalar 309 

Vaccaria,  Vacariça,  Vaqueira  e  s.  etym 291 

Vairão,  Ver,  e  s.  etym 35 

Vai  de  Mira  e  s.  etym 23 

Vai  de  Nácar :>91  e  392 


582 


índice 


Pag. 

Valdigem  e  s.  etym ^ 17 

Valdosende  e  s.  etym 54 

Varchinhas,  Vargellas,  Varziellas,  Varzieta  es.  etym.— V.  Bargellas  220 

Vasconcellos 118 

Viação  antiga 167,  168  e  173 

Viagem  deliciosa  do  Porto  a-^Villar  de  Maçada     .     .     .     .     .     .  211 

Viagem  de  Amarante  á  Rede  e  vice-versa  no  tempo  das  liteiras  e 

das  diligencias 213 

Videira  que  já  deu  em  um  só  anno  duas  pipas  de  vinho  de  550 

litros  cada  uma 255 

Vidigueira,  etc 255 

Viegas  e  s.  etym 45 

Villaça,  Vasconcellos,  Padim,  Queiroga,  Saldanha,  Tovar,  Calainho 

e  s.  etym -   .     .  118 

Villa  Duffe,  Villar  d'Oufç  e  s.  etym 304 

Villa  Fonche  e  s.  etym 133 

Villa  Pouca,  palácio  notável  de  Rezende 333 

Vinho  de  20$000  a  garrafa,  14:000$000  cada  pipa 181 

Vinho  do  Alto  Douro,  feito  d'uva  passa 238 

Vitoreira 256 

Vouzella 210  e  296 


w 

W 55  e  56 


« 


Za  e  ja 94 

Zamora 35 

Zaviel  e  s.  etym "  93 

Zebras  —  pov.  nossas  que  tomaram  d'ellas  o  nome 243 

Zeiteiros,  Zenha,  Zevinho  e  s.  etym ,     ,     .  256 

Zimbral,  Zimbreira,  Zimbreirinho,  Zimbro  e  s.  etym 243 


ERRATAS 


Pag.  1,  linha  7,  onde  se  lê  nos  concelhos,  leia-se  no  concelho. 

Fag.  13,  linha  6,  onde  se  lê  Tão,  leia-se  Taes. 

Pag.  30,  ultima  linha,  onde  se  lê  Beirão,  leia-se  beirão. 

Pag.  37,  linha  6,  e  n'outras  páginas,  onde  se  lê  —  meu  atávico 
successor — *entenda-se:  provavelmente  meu  successor  n'estes  trabalhos 
etymologicos,  mas  com  defeitos  moraes  atávicos,  ou  herdados  de  seus 
passados. 

Pag.  46,  linha  17,  onde  se  lê  Ranzendo,  leia-se  Rausendo. 

Pag.  65,  nota.  A  quinta  tem  só  16  kilómetros  de  circunferência,  com- 
preendendo propriedades  encravadas  d'outros  donos;  e  não  tem  três 
estações,  mas  apenas  a  do  Romeu  e  o  apeadeiro  dos  Avantos,  esta  quasi 
fora  da  mesma  quinta. 

Pag.  81,  linha  3,  onde  se  lê  e  Louriçal,  leia-se  Louriçal  e  Louridal. 

Pag.  95,  linha  7,  onde  se  lê  edd  tua,  leia-se  ede  tua  {ede  tua  opera 
—  publica  as  tuas  obras). 

Pag.  143,  nota  2.  Esta  nota  é  uma  errata.  Fica  sem  valor,  porque 
o  texto  está  bem. 

Pag.  175,  linhas  25  e  26,  onde  se  lê  vol.  ii,  pag.  774,  leia-se:  vol.  xi, 
pag.  775. 

Pag.  199,  linhas  30  e  31,  onde  se  lê:  em  Portugal  e  Coimbra,  leia-se 
em  Portugal  e  designadamente  em  Coimbra. 

Pag.  237,   linha  21,  onde  se  lê  ensocalculada,  leia-se  ensocalcada, 

Pag.  264,  linha  23,  onde  se  lê  ficitos,  leia-se /(e/tos. 

Pag.  285,  286,  etc,  onde  se  lê  proli-parente,  leia-se  poli-parente 
(muitas  vezes  parente). 

Pag.  339,  linhas  28  e  29,  onde  se  lê  122,  leia-se  121,  e  onde  se  lê  32' 
leia-se  18.     Veja-se  a  rectificação  na  nota  da  pag.  346. 

Pag.  340,  ultima  linha  de  texto,  onde  se  lê  de  fond  em,  leia-se  de 
fond  en;  e  na  l.a  linha  da  nota  supprimam-se  as  palavras  ainda  hoje  (1909). 

Pag.  341,  nota  2,  onde  se  lê  vol.  xi,  leia-se  vol.  ix,  e  onde  se  lê 
vol.  IX,  leia-se  vol.  xi. 

Pag.  345,  linha  17,  onde  se  \è  prosteri,  leia-se  pos/en. 

pag.  355,  linha  30,  onde  se  lê  entulhada,  leia-se  atulhada. 

Pag.  364,  linhas  9  e  10,  onde  se  lê  vemit  e  radicibos,  leia-se  venit 
e  radicíbus,  e  no  fim  da  nota,  onde  se  lê  vol.  ix,  leia-se  vol.  xi. 
^  Pag.  381,  linha  10,  onde  se  lê  lhe,  leia-se  lhes. 


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515 

V.2 


Ferreira,   Pedro  Augusto 
Tentativa  etymolico- 
toponyinica 


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