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OU
INVESTIGAÇÃO DA ETYMOLOGIA
OU PROVENIÊNCIA DOS NOMES DAS NOSSAS POVOAÇÕES
POR
Pedro Augusto Ferreira
Bacharel formado em Theologia,
continuador do Portugal Antígo e Moderno
e Abbade de Miragaya, aposentado.
SEGUNDO VOLUME
PORK)
TYPOGRAPHIA MENDONÇA (A VAPOR)
Rua da Picaria, 30
1915
n
Tentativa Etymologlco-Toponymica
ou
INVESTIGAÇÃO DA ETYMOLOGIA
OU PROVENIÊNCIA DOS NOMES DAS NOSSAS POVOAÇÕES
19G
II
IIAII líIiOlOii-IOPil
ou
INVESTIGAÇÃO DA ETYMOLOGIA
OU PROVENIÊNCIA DOS NOMES DAS NOSSAS POVOAÇÕES
POR
Pedro Augusto Ferreira
Bacharel formado em Theologia,
continuador do Portugal Antigo e Moderno
e Abbade de Miragaya, aposentado.
SEGUNDO VOLUME
PORTO
TYPOGRAPHIA MENDONÇA (A VAPOR)
Rua da Picaria, 30
1915
DP
SIS
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DUAS PALAVRAS PRELIMINARES
Os trabalhos etimológicos^ tão árduos que poucos
pacientes leitores cativam, eram para o Dr, Pedro
Ferreira, um prazer, um alegre passatempo.
Apaixonado cultor desta especialidade, sentia
grande satisfação quando lobrigava a origem ne-
bulosa do nome duma terra, como sucedeu por
exemplo com Tavira,
Infelizmente não viu concluída a sua obra; e
quando este 2f volume, a que ele algures chama 2.''
parte, estava impresso até páginas 384, faleceu em
17 de junho de^l913.
Depois disso, saiu a lume a sua Sluto-biografia,
que teve distribuição gratuita, assim como esta obra
a terá.
O Dr, Pedro Ferreira escreveu sempre de graça,
até mesmo no trabalhosíssimo SPortugal Jlntfgo e Sfco-
derno, de Pinho Leal e dele. O próprio opúsculo
Drês Canais de Srrigaçõo em SPortugal que príficipiou a
vender-se, foi retirado das livrarias para ser ofere-
cido e ainda lhe restaram muitos exemplares que
não chegou a dar, por não saber quem estimaria
recebê-los,
O terceiro e último volume da UentaUva vai entrar
no prelo,
Publica-se esta obra em homenagem à sua me-
mória e em satisfação da sua vontade, porque, sentindo
o peso dos 80 anos e prevendo o próximo fim dos seus
dias, recomendou que se imprimissem^os três volumes
da tentativa Stimotógica, para quc dcixou manuscritos
que è pena êle não possa rever.
Sirva ela de incitamento e auxilio a quem queira
dirigir as suas lucubrações mentais no sentido das
investigações etimológicas, onde há tanto que trabalhar.
Concelho de Freixo (l'Espada á Cinta
Esboço etymologico
Indicarei as freguezias todas por ordem alphabetica e algu-
mas povoações, casaes e quintas d'ellas.
— Note-se, porém^ que na parte leste do districto de Brarjari-
ça, nomeadamente nos concelhos supra, dá-se o nome de quintas
a muitas povoações, algumas das quaes ainda téem ÕO a 80 casas
e já foram parochias independentes.
Algumas ainda conservam a sua egreja matriz com pia ba-
ptismal e Santissimo j)ervianente ; mas, por não poderem susten-
tar a sua autonomia, foram extinctas e unidas a outras parochias.
Denominam-se annexas e ha na dita região mais de 100?!...
Não é raro encontrar-se alli um presbytero parochiando a
um tempo duas, três e até quatro freguezias — comprehendendo
algumas d'ellas — ires e mais annexas?! . . . ^
Tal 6 a pobreza do districto e do bispado de Bragança ^ por
falta de estradas a macadam e de linhas férreas. Mas devem mu-
dar as suas condições económicas e agricolas e prosperarão muito
com a via férrea de Fox, Tua a Bragança^ já concluida, — e
com a do Pocinho a Miranda, já principiada, mas ainda muito
aU^asada ! . . .
Deixemo-nos agora de cantigas e vamos ao esboço etymo-
logico das freguezias do concelho de Freixo d'Espada d Cinta.
# *
1.* — Fornos.
Talvez tomasse o nome dos fornos de coser pão, telha ou ce-
râmica— ou de apuramento de metaes.
1 Vejam-se no Portrigal antigo e moderno os meus artigos Vílla
Verde, concelho de Mirandella, vol. xi, pag. 1:094, — e Zava, concelho do
Mogadouro, vol. xir, pag. 2:078.
VOL. II ^
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
A mesma etvmologia elevem ter as nossas povoações deno-
minadas Fornello, Fornéllos, Fornea, Fornico ou Fornico, etc,
— ao todo mais de 100.
Podem ver-se os nomes d'ellas e de todas ou qiiasi iodas as
povoações do nosso paiz — na Chorographia Moderiia do sr. João
Maria Baptista, — obra muito interessante. — Para esta ordem de
estudo — é hidispensavel.
2.** — Freixo d' Espada á Cinta^ capital do concelho.
Talvez tomasse o nome do latim — Fraxinus ferro cinda —
freixo cingido de ferro para castigar delinquentes na falta de i)e-
loiírhiho, como por vezes, na falta de forca própria, — os réus de
pena capital eram enforcados ?ias arvores ? I . . .
Nós temos também uma aldeia chamada Ferro Cinto, que
tomou o nome de feiTo einctus e deu o titulo ao visconde de Fer-
rocinto^ ha poucos annos fallecido.
A mencionada villa tem desde longa data um pelourinho,
mas com certeza a povoação de Freixo d' Espada d Cinta ó muito
anterior ao seu actual pelourinho!. . .
O dr. João de Barros diz que a villa foi fundada por um
primo de S. Rozendo ém 977 e que, por serem as armas do dito
fidalgo — um freixo e uma espada — a villa tomou d'ellas o nome
de Freixo d' Espada á Cinta? ! . . .
Outros dizem que, chegando alli um capitão godo (?), por ap-
pellido Espadacinta (?), — muito cançado e muito fatigado, se dei-
tou á sombra d 'um grande freixo que alli encontrou e se ficou
denominando Freixo do Espadacinta, — nome que passou á villa,
cujas armas perpetuam a lenda, pois são — em campo de purpura
um freixo e uma espada.
Também junto da matriz e do pelourinho da villa se vê ura
grande freixo, que dizem ser o freixo da lenda ")!,.. ^
1 Foi isto o que Pinho Leal, meu benemérito antecessor, disse
das taes lendas etymologicas no seu artigo Freixo (V Espada á Cinta, vol.
Ill do Portugal antigo e moderno, pag. 334, — mas quem não acreditar não
pecca.
TKNTATI VA fH' YMOIiOOICO-TOPOX ¥3110 A
— Ao sr. (Ir. Guerra Jumpiriro, illustrudo filho da localida-
de, mimoso oscriptor o laureado poeta, — cumpro resolver tào in-
trincado problema. — Pude até s. ex.* dedicar-lho um poomoto ou
um poema.
A villa comprehendo varias quintas, entre ellas a do Juncal
que tomou o nome do jtinco. D'eile procede também o appellido
Junqueiro.
Outra quinta chama-se Patarra. Supponho que tomaria o
nome do Patarra, appellido ou apodo.
O cães de Freixo denomina-se cães do Saltinho. — É o termi'
nus da navegação do Donro e tomou o nome d'uma pequena cas-
cata ou catadupa que alli ha, — miniatura do í^alto da Pandeira,
mencionado supra.
*
8." — Lagoa ça.
Tomou o nome d'uma grande bacia que está junto da villa e
que por occasião das chuvas deve ser uma espécie de lagoa.
Dos lagos e lagoas tomaram o nome também mais de 300
povoações nossas.
4.^ — Ligares.
E metathese do ilgares, por algares: — fójos, barrancos, co-
vas, ravinas.
Note-se que a dita parochia 6 muito accidentada e abunda
em barrancos, algares, ravi')ias e quebradas.
5.^ — Mazonco.
Este nome, na minha opinião, — vem do provincianismo hes-
panhol masa, o mesmo que masada (lêem-se maça e maçada) —
quinta, herdade, estabelecimento rural, como diz Valdex.
Maxouco 6, pois, diminutivo de masa.^ — pequena quinta, pe-
quena herdade.
Cf. ViUarôco^ ou Villaronco, diminutivo de villar, como T7/-
larejo, VUlarelho, Villar inho, etc, povoações nossas.
Cf. também Masa, Masai^ach.^ Masarrochos, Maso, Masou-
cos (plural do Masouco? ! . . ,)., — Masueco, Maxarcllos (\è-%Q Ma-
çarellos ou Massarellos), — Maxares, Maxarete^ Maxas^ Maxo,
Maxon, Maxos, Maxueco, 3Iaxuecos (?), — Maxucla, Maxuelas,
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONTMICA
Mazuelo, etc, — povoações hespanholas, que talvez tomassem o
nome de masa supra, como — na minha opinião — Masouco ou
Maxouco, povoação nossa.
Também supponho que téem a mesma etjmologia masa ou
masada — em portuguez maça e maçada ou massa e massoda —
as nossas povoações seguintes : — Maça, Macacôrte por Maçacórte,
o mesmo que Massa Córte^ infra; — Maçada^ por Maçada ou Mas-
sada^ — Maçadas, Maças, Massa Corte (Y. Macacôrte^ supra); —
Massada^ Massamá por Massa Má; ^ —Massarellos^ Massas, Mas-
sorra^ — Mazo^ Mazôpo^ — talvez forma de Maxôco, pois co e po
substituiram-se e confundiram-se, ^ — Mazorra, grande masa,
grande quinta? — e Villar de Maçada ou de Massoda, povoações
nossas.
Para evitarmos repetições, veja-se o que dissemos de Ma-
zouco e de Samouco nas paginas 322 a 327;
*
6.* — Poiares ou Poyares.
A etymologia d'esta povoação e freguezia — hahet dentem
coelhi / . . .
Se a de Mazoueo é difficil, emmaranhada, — esta não lhe fica
a dever nada, como os leitores vão ver.
Na minha humilde opinião este nome Poiares pode vir de
poiaes e de pilares.
Proponho estas duas etymologias — e deixo campo aberto
* Cf. Quinta Má, o mesmo que Massa Má; — Lamaniá por Lama
Má, — Matamá por Mata Má, etc. povoações nossas. — Junte-se Pedra
Má — sitio no fundo do valle d'' Arouca.
E um despenhadeiro onde passa a nova estrada a macadam e onde
eu já passei quatro veze.sf !. . .
2 Cf. Comba e Pomba, — Combhilio e Pombinho, — Colombo e Pombo, —
Cotive e Pouve, — Couves e Pouves, — Coval e Poval^ etc. povoações nossas.
Também temos Alporão por Alcorão f — velha torre de Santarém.
Alcorão é também povoação nossa — e ainda hoje na Foz do Douro, etc.
o povo diz tricolantes em vez de tripulantes.
Veja-se o tópico infra: — Substituição de letras.
TENTATIVA 1<ÍT YMOI/)GICO-TOi'OX YMIOA
■# - •
para qualquer outra que melhor satisfaça — porque em assumpto
doesta ordem não ha precisão mathematica — c porque sábios ety-
mologistas francezes por vezes propõem duas, ires e mais etymo-
loíjias para o nome d' uma povoação.
Como já dissemos, Poiares pode vir de poiaes e de yUares.
A Hespanha tem differentes povoações com os nomes de
Poyal e Poyales.
Nós não temos povoação alguma com o nome de Poial ou
Poyal^ mas temos diííerentes povoações com os nomes de Poiaes
e Poiares.^ que talvez correspondam a Poyales supra.
Note-se que / e r trivialmente se confundiram e substituíram
— e que o / intervocalico muitas vezes cahiu.
Note-se também que a desinência ai na topon}Tnia portu-
gueza deu aes e ares no plural.
Cf. Alhal, Alhaes e Alhares, — Casal, Casa es e Casares, po-
voações nossas, — Casal^ Casais ou Casales, Casar e Casares, na
Hespanha.
— Felgar por felgal, — Felgaes e Felgares.
— Olival, Olivaes e na Hespanha Clivares por OU vales, o
mesmo que entre nós Olivaes.
— Palhal, Palhaes e Palhares^ povoações nossas.
Do exposto se vê que poial sem violência alguma deu ou po-
dia dar Poiaes e Poiares.
Também Poiares pode vir do antigo ^oriwgwQz poyares — pi-
lares.
Ruy Fernandes na sua minuciosa, muito interessante e muito
conscienciosa Descrição do terreno em volta de Lamego duas le-
goas, escripta em 1532, * foliando da ponte de pedra que D. Af-
fonso Henriques e sua mulher, a rainha D. Mafalda, mandaram
fazer sobre o Douro^ no ponto do Piar ou do Pilar ^ — entre a
freguezia de Barro, concelho de Rezende^ districto de Vixeu, — e
a freguezia de Barqueiros, concelho de Mexãofrio, districto de
Villa Real de TraS'Os-Mo7ites, diz textualmente o seguinte:
Inéditos de Historia portugueza, vol. v, pag. 54G e seguintes.
6 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
«Dos inares do Douro.
«Item entre a barca do hernaldo e a do porto de rrei estam
liuus fermosos ^peares de huua ponte que a Rainha Dona Mofal-
da 1 dysem que mandava fazer, os quaes sam dous no meio do
Douro, de muito grande altura e muj largo fundamento.
«Os dous que estam no rio, neste mez de maio hiram bem
dez palmos descobertos, e no Verão hiram bem 20 palmos, e
mais. E estam outros dous de fora, ^ hum da parte d 'aquém (La-
mego, margem esquerda) e outro da parte d'alem.
«Estes jjoyares (sic) foram já de dobrada altura, e os derri-
baram, e fezeram delles pesqueiros, ...» ^
Do exposto se vê que os pilares no antigo portuguez tive-
ram as formas piares^ peares e poyar^es ou poiaresí! . . .
Pode portanto Poiares vir de poiaes e de pilares.
Pode mesmo poial ser uma forma de pilar! . . .
Assim como pilares deu poiares, pilar podia dar também
jioiar e poial, porque na toponymia portugueza ar e ai trivial-
mente se confundiram e substituíram.
Cf. Avellal e Avellar^ — Marmelal e Marmelar.^ — Tojal e Tu-
%ar por Tojal, etc, povoações nossas.
Temos também Aldão e Ardão^ — Algar., Algarão, Algneirão
por Algarão, — e Argueirão por Algneirão? ; — Aljarix, Aljeriz e
Argeriz por Aljeriz — ou Aljeriz por Argeriz; " — Alvellos e ^r-
vellos^ — Arhouça por albouça — a bouça, etc, povoações nossas.
* D. Mafalda miillier de D. Affonso Henriques.
Note-se a substituição de o por a.
2 Veja-se no Portugal antigo e moderno os meus artigos Pontos do
Douro, vol. VII pag. 199, n.° 21, — e Villa Real de Traz- os- Montes, vol. xi,
pag. 932, onde dei um longo extracto da memoria de Ituy Fernandes su-
pra.
Note-se também a forma liesqueiros por pesqueiras.
3 Na minha oi:)inião Argeriqniz, patronimico de Argericus, nome
godo, deu Argeriz, Aljariz e Algeriz supra, — bem como Algeruz e Algi-
ràz, povoações nossas também.
Algiráz, pode vir de Argericaz, patronimico também de Argericus,
como Froila, nome godo, deu Froilaz, unde Forjaz, appellido d'alta co-
tação em Coimbra, etc.
TENTATIVA OTYMOLOGICO-TOPOXVMÍCA
*
Do exposto se ve que inlar podia dar muito bem poial — e
que Poiares p(3de vir de poiares e de pilares; mas qual d 'estas
duas etymologias 6 mais acceitavel?
— Não sei. Eu opto pela primeira e ahi vão as razDes em
que me fundo.
I^oial em portuguez 6 quasi o mesmo que j^oio, em caste-
lhano pot/o: — logar onde se assenta ou colloca alguma coisa;
banco fixo; assento de pedra, ordinariamente junto das portas das
casas e encostado ás paredes d'ellas do lado exterior, como dizem
com pouca diíferença Valdez e o sr. Cândido de Figueiredo.
Também poial por extensão pôde significar pouso, poiísadou-
ro, logar para pousar e descançar, — unde Pousadouro, Pousa-
douros, Pouso e Pousos, muitas povoações nossas, — e pousadou-
ros, sitios, onde lá no Douro os carretões das uvas, etc. costumam
pousar e descançar. — Assim tenho eu na Penujoiá, minha terra
natal, freguezia do concelho de Lamego, — no alto d'um caminho
publico, bastante Íngreme, uma propriedade com o nome de Pou-
sadouros, — nome que tomou certamente dos taes pousos ou poiaes.
Também supponho que os Poiaes de S. Bento, em Lisboa,
tomaram o nome d 'algum sitio que alli houvesse, onde costumas-
sem pousar e descançar os carretões.
Todas as nossas freguezias e povoações de Poiares podiam,
pois, tomar o nome de poial em qualquer das ditas accepções.
Podiam também tomar o nome de pilar, mas custa-me a
crer em tantos pilares — e haveria sempre dous^ pelo menos, em
cada uma das nossas muitas povoações denominadas Poiares.
Também me custa a crer que o nosso termo jjí7ar venha do
latim pilar is — e este de j>i7a^ como diz o snr. Cândido de Figuei-
redo,— desculpe s. ex.*
Pilar no latim o pila, mas pilaris em latim puro não signi-
fica pilar, mas coisa relativa ou pertencente d péla, como se lê no
Magnum Lexicon latino.
Ora a péla, como diz o sr. Cândido de Figueiredo, — 6 uma
bola e não tem relação alguma com o pilar: — simples cohimna
8 TENTATIVA ETTMOLOGICO-TOPOXYMICA
em que assenta uma construcção qualquer, — como diz o mesmo
senhor.
É possível que o adjectivo pUavis desse j?i7a7'^ — não no la-
tim puro, mas no baixo latim.
Y. o Glossário de Diicamfe, que agora não tenho á mão.
Somma e segue.
Nós também temos uma quinta com o nome de Paíaves, que
pode ser uma antiga forma de Poiares, pois na edade media todas
as nossas vogaes se confundiram e substituíram, — nomeadamente
o Q a.
N'este mesmo artigo Poiares viram os leitores que em 1532
Ruy Fernandes em vez de Mafalda disse Mofalda — e em vez de
pesqueiras, disse pesqueiros.
Também temos na toponymia portngueza o por a em muitas
povoações. Occorrem-nos as seguintes:
— Alivã por oliva.
Cf. Oliva e Olivão, povoações nossas.
— Alca?iena e Alcolena, talvez formas do mesmo nome.
— Ainbraxes — de Ainbrosiis, patronímico de Ambroxius.
— Aracio, o mesmo que Horácio.
— Arrentella e Orentella por Arentella ou Arrentella?
— Arieiro e Orieiro, o mesmo que Arieiro. ■"■
— Areóla e Oriolla, o mesmo que Areóla, de arenóla, dimi-
nutivo de arena, areia.
— Ariz e Oriz?
. — Arnolha e Ornolho?
— Aguella e Ouguella^ o mesmo que AgueUaf,,.
— Oressa, Ouraça, Ourassa e Ouressa — do provineianismo
aurecia — aragem, viração, vento suave.
* Os leitores podem rir, mas — rira bicn, qui rira le dernier?!. . .
E assim a arte nova, mas demanda aprendizagem — e qiiam quisque
norit arte.m in hac se exerceat?!. . .
TENTATIVA OTYMOI/XilCO-TOPONYMICA 9
— Carntello e Cnruicllo por Corntcllo.
— Caselha e Coxelhas (aro de Coitnbra), — por Caselhas. ^
— Caca o Cova por Cava^ do latim cavea — cova.
— Gonieira por ganieira — dos (jamos^ veados.
— Cf. Gameiro^ appellido e aldeia, — Gomella e Gumide por
õoinido e este por (jaifiêdo?
— Górça ou Pedras de Górça^ ponto do Douro. — De gar-
ça!,, ,
Note-se que ainda hoje no inverno se voem garças nas pe-
dras do Douro.
— Saldanha e Saldonha por Saldanha — de Sardenha ?
— Alcaforada e Alcoforado, povoações nossas.
— Alcordal por alcardal — o Cardai., povoações nossas.
r— Alcorriol por alcarriol — o carrinho, etc.
Do exposto se vê que Faiares pode ser o mesmo que Poiares.,
mas na minha opinião Faiares vem do castelhano j;«;'are5 — pa-
lheiros, palhaes, palhares.
Note-se que a Hespanha tem muitas povoações com os no-
mes de Pajar^ Fajares^ Fajarete^ Fajaron^ PajaroiícUlo., etc.
Também abundam na Hespanha Majada e Majadas, — entre
nós Malhada e Malhadas.
Também temos uma quinta denominada Majapão por Malha
JMO.
Poiares é muito provavelmente uma forma de Fajares supra,
— mesmo porque na edade media as letras, i, j e y, se confundi-
ram e substituíram. Por exemplo escreviam viajoi' e magor e
liam maior — Q vice-versa.
Podiam, pois, escrever Faiares e ler Fajares, recordação
leonesa, como escreveram Majapão por Malha-pão, quinta nossa.
É também recordação leonesa, como já dissemos, Alprajares
por Al -\- Fajares — e este por Al -\- Falhares — os palheiros, pa-
lhaes ou palhares.
1 Jimte-se Caselho, Caselhos e Cozelhos, povoações nossas tam-
bém.
10 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Cf. AlpaJhão—0 palheirão, grande palheiro — villa e fre-
guezia que demora entre o Crato e Niza.
Nós também temos Palheirão, herdade, — e a Hespanha tem
Pajaro7i, o mesmo que Palheirão.
— Alva, castello e villa extincta, hoje simples aldeia ou quinta
da freguezia de Poiares, supra.
y. Alva, Barca d' Alva, Freixo d' Espada á Cinta, Poiares e
Villa d' Alva, no Portugal antigo e moderno.
Pinho Leal foi pouco feliz no artigo Alva, supra; — tentou
reparar os lapsos no artigo Barca d' Alva, mas foi pouco feiiz
também.
As ruinas do castello e da villa à''Alva estão em sitio alto na
margem direita do Douro e algo distantes do rio.
A povoação da Barca d' Alva demora na margem fronteira —
esquerda — do Douro; — tem hoje (1907) talvez 100 fogos e 400
habitantes: — nunca teve castello algum — e já não é sesoriatica,
por estar toda litteralmente cercada de eiicahjptos.
Também a Barca d'Aha nunca teve capella alguma.
A capella ou santuário da Senhora d' Alva ou do Castello
d' Alva — esteve e julgo que ainda está junto das ruinas do castello
e da villa d' Alva, em Traz-os- Montes, — e nem se veda Barca
d'Alva^ província da Beira Baixa.
Fica assim d'algum modo rectificado o que disse o meu be-
nemérito antecessor nos artigos supra.
Mas deixemo-nos de cantigas e prosigamos com as etimolo-
gias.
O castello e a villa d' Alva podiam tomar o nome do sitio
onde estão, por ser alto, vistoso e desassombrado.
Cf. Montalegre, Monte Alto, Montalvão, Monte Al vinho e
Mo7italvo, povoações nossas.
Também Alva podia tomar o nome do latim Albi/s, Alvo,
antigo nome pessoal, o mesmo que Branco, appellido.
Albus podia dar Alba villa, como Regulus^ Regido, nome ro-
mano e nome d'um santo, deu Regida villa — a villa da Rcgoa.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPOXYMICA 11
E assim como Branco deu Branqnmho, — Albiis deu Alhi-
nuH, i — AU)Í7io, Alviíu e Alcem, povoação nossa, o mesmo que
Alvim — pelo diapasão fraucez em por irn, — como Agastem po •
Afjosflm, o mesmo que Af/osfinho, povoaçHes nossas também. ^
O mesmo AW/t.s — Alvo, — deu Alves^ appellido vulgar, pa-
tronimico de Alvo, — e talvez que Albano seja uma forma d' Albino,
posto que Albano piíde vir d' Albannm, cidade da Itália.
Desculpem os meus poucos leitores tantas divagações e tan-
tos dislates (V. . .) a propósito das etymologias de Poiares e de
Freixo d' Espada á Cinta.
— Sat prata biberunt.
II
Concelho de Miranda do Douro
Esboço etymologico
Seguiremos a ordem alphabetica das suas lõ freguezias.
1.^ — Athenor.
Pode vir de Antenor, nome grego d'um príncipe troiano, etc,
mencionado por Yirgilio na Eneida, livro 1.°, e que deu o patro-
nímico Antenovides aos seus três filhos mortos no cerco de Tróia. ^
Athenor pode vir também de Athenodor por Athenodoro^
nome grego d'um poeta cómico — trágico do tempo á' Alexandre
Magno e que Plutarco mencionou na vida d'aquelle imperador.
Chamava-se também Athenodoro um sábio grego, mestre e
amigo intimo di Augusto.
Athenodoro foi também nome de um santo e martyr, bispo
^ Veja-se o tópico infra — Diapasão francez. É curioso e muito
interessante para o estudo etymologico de varias povoações nossas.
^ Antenorides rima com Dioscorides, medico de Marco António e de
Cleópatra.
12 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPQNYMICA
de Neocesarêa, o mesmo que Nova Cesárea, irmão de S. Gregório
Thaumaturgo e discípulo d'Origenes.
Foi martyrisado no auno 233 da nossa era, reinando o im-
perador Aureliano.
É, pois, grego o nome d'esta freguezia e revela muita anti-
guidade ! Pode ser contemporâneo da occupação romana, porque
os romanos traziam comsigo contingentes das muitas nações que
haviam subjugado, uma das quaes foi a Grécia, mas adoraram-na
sempre e sempre a consideraram sua mestra no campo das artes
e das sciencias.
Pelo idioma grego modelaram os romanos o idioma latino,
— como nós modelámos pelo idioma latino o idioma portugtiex.
Atheiíor^ o lindo nome d'esta freguezia, pode vir, pois, do
tempo da occupação romana. Pode mesmo ser pre romano e vir
do tempo em que os gregos — anteriormente aos romanos — oc-
cuparam grande parte da Galliza e do norte de Portugal, como
diz Hercula7io.
Eeforça esta minha opinião o facto de chamar-se ainda hoje
Aldeia dos Gregos uma povoação do limitrophe concelho do Mo-
gadouro,— povoação que já foi freguezia autónoma com o mesmo
nome de Aldeia dos Gregos, — hoje simples annexa, da freguezia
de Saldanha.
Isto prova que os gregos tiveram demorada residência n'este
cantão / . . .
A freguezia á^Athenor ou de Antenor já pertenceu ao extin-
cto concelho á.''Algoso, hoje simples parochia do concelho de Vi-
moso^ que tomou o nome dos vimes, como Vimeira, Vimeiro^
Vimieira^ Vimieiro^ etc, — muitas povoações nossas.
Algoso o methathese de lagoso^ como prova evidentemente
uma lagoa que ha na própria villa, — lagoa que rivalisa com a de
Foscôa. ^
Também lagôsa^ lagosella e lagosêllo deram Kagósa, Nago-
1 Veja-se o meu longo artigo Villa Nova de Fozcôa no Portugal
antigo c moderno, vol. -xi, pag. 835.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 13
sella e Xagoscllo^ povoações de que adiante fallaremos, quando
volvermos a Távora.
Pertence á freguezia (VAihenor uma povoação denominada
Teixeira, que já foi parochia independente e tomou o nome dos
teixos^ como outras muitas povoações nossas. — Táo são Teixe^ o
mesmo que Teixo; — Teixedas^ Teixedo^ Teixeira., villa, duas fre-
guezias, etc. — Teixeira de Ciitia^ Teixeira de Baixo., Teixeiras^
Teixeirinha e TeixeÍ7'ó por teixeií-ola^ o mesmo que Teixeirinha. ^
Junte-se Teixinho., Teixello^ Teixo., Teixoeira, fórma ante-
rior de Teixeira., — Teixoso^ aldeia, freguezia e titulo de viscon-
dado, — e Treixedo por Teixeiredo., — ao todo mais de 20 povoa-
ções nossas.
Os teixos tomaram o nome do latim taxiis — e são arvores
silvestres e também oriíamentaes., por vezes lindíssimas, porque,
além de serem muito flexíveis, são muito resistentes — e têem fo-
lhagem mimosa que se presta a ser educada e aparada com te-
soura, como a murta.
Em Lamego vi eu dois teixos muito lindos! — Um d'elles es-
tava no cimo da rua da Esperança^ — no quintal do Félix., vene-
rando ancião e laureado fogueteiro que ordenou dois filhos !.. ,
Aquelle teixo era antigo e formava por si só uma pyramide
que tinha talvez 5 metros d'altura, terminando em uma coroa
muito correcta.
A base da pyramide era, como ella, quadrada, mas um pouco
mais larga e tinha nas quatro quinas superiores 4 pombas — em
1845, data em que eu fui para Lamego estudar preparatórios.
Julgo que ainda lá se conserva.
O outro teixo estava no jardim do palácio da Corredoura, da
nobre familia Pei^feitos., junto de Lamego. *^
* Teixeirola àçiW Teixeira, como areóla, diminutivo de área — eira
deu Eiró, pequena eira, — e Ecclesióla, diminutivo de ecclesia, deu Grijó,
pequena egreja, etc.
Veja-se o tópico infra: — «Diminutivos com a desinência ohis, ola.»
2 V. Cambres e Portello no Portugal antigo e moderno.
14 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPOXYMICA
Formava, revestia e sustentava uma casinha ou sala com 3
ou 4 janellas, — casinha que balouçava e tremia, mas não cahia.
Lá estive eu com a minha familia, aproximadamente em
1852, por occasião do grande arraial do Senhor dos Afflietos^ o
l.'' d'aquella freguezia, em Agosto,— -no rigor do verão.— E o sol
não nos incommodava nem batia nas janellas, porque a tal casi-
nha estava entre grandes tílias que a ensombravam.
Consta-me que já não existe, porque a sr.^ D. Mecia de Ma-
galhães^ herdeira e sobrinha dos Perfeitos^ mandou arrancar os
lindos teixos da tal casinha — bem como arrancou (De7(s lhe per-
doe!. . .j — os magestosos castanheiros da índia que povoavam e
ensombravam o campo fi'onteiro ao Palácio da Corredoura ?.'...
O dito campo é vasto e foi muito lindo, emquanto esteve
arborisado com os magestosos castanheiros da hidia.
D'elle tomou o nome de Corredoura (picaria) o grande palá-
cio— e n'elle ainda no meu i^m^o — como recordaçcw de melho-
res tempos — deram-se luzidas cavalhadas^ imitando as da idade
media', com jogos d'argolínhas^ pcmellas com yomhas^ etc. por
occasião do grande arraial do Senhor dos Afflictos.
Em uma das ditas cavalhadas entrou de lança em riste (?)
no anno de 1852 o meu irmão Jorge Augusto Ferreira^ que ao
tempo era t()n pimpão e cortava apenas 22 annos. Elle ainda hoje
vive, mas bastante alquebrado de forças, pois já conta 77 an-
nos ! . . .
A tal sr.^ D. Mecia de Magalhães Perfeito não só arrancou
os teixos da bella casinha e os magestosos castanheiros da India^
mas praticou outros dislates.
Birrando com a cor vermelha, rasgou muitas folhas dos titu-
les e prasos do seu volumoso cartório — por terem illuminuras
de nanquim? ! , . .
Mandou queimar preciosa mobilia do palácio: — biombos^
mesas^ commodas^ contadores^ etc. — só porque, tendo vindo^ em
tempos muito remotos, do Japão e da hulia^ — tinham acharoa-
dos vermelhos?! . . .
Agora um cumulo :
Dizendo-se muito religiosa e costumando ouvir missa na ca-
TKNTATIVA hTYMOl.OUKJO-TOPOXYMICA 15
pclla do palácio, — um bello dia ( — erediie posteríf) — mandou
reunir as imagens das suas capellas todas e qimmou-as^ — sendo
algumas d'ellas i)reciosas esenlpturas romanan'^ ! . . .
Nem poupou uma linda imagem romana de Sfcnlo A}itonw^
— chamando-se António Vieira Tovar de Lemos — o próprio ma-
rido d'ella — e António Perfeito de Magalhães o tio, de quem
herdou o palácio da Corredoura^ etc, etc.
Custa a crer, mas é facto! , . .
Prosigamos com o esboço etymologico do concelho de Mi-
randa.
*
* *
2.* — Clcoiiro e Constantím.
Estas duas povoações já foram duas freguezias autónomas,
independentes, mas, pela falta de vida d'este malfadado cantão,
hoje constituem uma S(5 freguezia.
A povoação de Constantiin tomou claramente o nome de
Co^istantíní, patronimico de Constantbius, i, que dou Constanti-
no, nome d'um santo, etc. — e Con^tantbn, como Augiistinus, í,
diminutivo à'Auijnstus — Augusto^ deu Agostinho e Agostem^ po-
voação nossa, o mesmo que Agostim, pelo diapasão francez etti
por Í7n.
Também Martimis, i, deu Martinho, Martino (ó nome pes-
soal aqui no Porto) — e Martim^ nome do lendário Martirn de
IPreitaSj alcaide-mór de Coimbra, etc,
*
Também Mar^tim deu o nome a differentes povoações nossas.
Taes são (Martini Annes (Martim, filho de João), — Martim
Branco, Martim Carro, Martim Diz (Diniz?); — Martim Gil,
Martim Joannes, o mesmo que Martim xhmes, — e Martinacha,
o mesmo que Martim Acha?
Também Martimts deu Martinelhis, i, que se encontra em
Martinel, povoação nossa; — Martines, casal, o mesmo que Mar-
tiniz; MartÍ7ihães, aldeia que tomou o nome úq Martinianis, pa-
tronimico de Martiniamis, ^, diminutivo de Martinus^ como
16 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
também Martinimios, casal, — Martins, appellido vulgar; — Mar-
tinxel — de Martínieellus, i, outro diminutivo de Martimis, ^
— e Martirizes, aldeia, plural de Martins'^
Também Martinho pelo diapasão leonez igo por inho — deu
Martigo e Martingo^ o mesmo talvez que Martinho, povoações
nossas.
Com a mesma desinência im por ino, de Coyistantim, Âgos-
tem por Agostim, Martim e Martins, temos também Severim e
Severino, diminutivos de Severus — Severo, como Severiano^ no-
mes de santos, etc.
Por seu turno Severus, i, deu Sever^ aldeia, e Sever do Vou-
ga, villa, freguezia e sede de concelho; — e Severiajiis, patroni-
mico de Severianus^ i, deu Cervães por Servães, — aldeia, fregue-
zia e actualmente appellido muito considerado no Porto, etc.
— Com vista ao sábio romano Sulpicio Severo — e ao meu
particular amigo, bem mais rico do que eu, — Severim José de
Brito — natural de Paredes de Coura, negociante e capitalista no
Porto e grande proprietário no Douro, etc.
Junte-se Galdins, povoação nossa^ plural de Galdim, o mes-
mo que Gualdim, aldeia e nome do lendário mestre do Templo —
Gualdim Paes de Marecos.
Por seu turno Gnaklir.i 6 o mesmo que Gualdim e Gualdi-
no, nomes de santos, etc, — diminutivos de Gualdns, forma latina
de Wild ou Wald^ nome germânico e appellido portuguez, que,
na passagem para o latim, deu Waldiis, i, unde TJbaldiis, i —
TJbaldo, nome d'um santo, etc.
Deu também Ubaldim,^ o mesmo que Gualdim, Galdim^
GualdÍ7io e talvez por metathese Balduino e Baldicino, nomes de
santos, etc.
— Com vista ao sr. Gualdino de Campos, talento superior e
distincto escriotor.
1 Veja-se o tópico infra: — «Diminutivos com a desinência cel-
IriSj i», tópico muito interessante para o estudo etymologico das nossas
povoações.
TENTATIVA ET i^AlOLOGICO TOPONYMICA 17
O mesmo Wild ou Wald pela forma l^halduHj è— na mi-
nha opinião deu Jialde e Baldos, povoações nossas, — e Val-
digem^ talvez, contracção de Uhaldini — fjliem ' — casa de
campo de Ubaldino, o mesmo que Gualdím, Galdim, Qual-
dino ou Balduíno ?
Vejam-se as paginas onde summariamente fallei do do-
ble W germânico e mostrei as modificações que soffreu na
passagem para o latim e do latim para o portuguez, por não
terem estes dois idiomas letra correspondente.
Mas qual a etymologia de Constantino e Constantim?
E' o latim constans, antis que, além de Constantino deu
Constância e Constando, nomes de santos, — Contanças, Cons-
tance e Villa Nova de Constância, povoações nossas, — Cons-
tantina e Constante, nomes pessoaes e appellidos, etc.
Villa Nova de Constância demora na confluência do Zê-
zere com o Tejo e foi assim denominada pela rainha D. Ma-
ria II, aproximadamente em 1848, porque durante a revolu-
ção popular de 1846 a 1847 se conservou fiel á mesma rainha
— e porque o nome anterior da mencionada villa era mal
soante.
Chamava se Punhete, deturpação de Pinhete por pinha-
Z^íe,— pinhalzinho, pequeno pinhal, como já dissemos.
Também o sr. conselheiro José Luciano de Castro, sendo
(ha bastantes annos) ministro do reiílo —ou presidente de
ministros, — e estando em vésperas de eleições, deu o nome
de S. João do Campo a uma freguezia do concelho de Coim-
bra^ chamada anteriormente Lava Rabos?/...
D. Francisco d'Almada também deu o nome de Fonte
das Virtudes a uma fonte do Porto, chamada Fonte de Lava
Cólhos, nome congénere de Lava Rabos.
Também houve aqui no Porto uma fonte com o lindo
nome de Mija Velhas, — outra chamada Fonte da Ourina por
1 Esta desinência ghem encontra-se como suffixo e n'esia mesma
accepção em muitos nomes de povoações germânicas. — Corresponde aos
nomes geographicos latinos: — Caesaris villa, Tiberii villa, Augusti villa,
etc. — casa de campo de César, de Tibério, d' Augusto.
Vide Fôrstemann ; mas Valdigem por Valdige é talvez o mesmo que
Valduge por Valdujo — valle do ujo, povoação nossa tambertl. Note-se
que o povo não diz Valdigem, mas Valdige!. . .
3
18 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Fonte Taurina f — e outra na rua do Laranjal com o nome
de Fonte do Olho do c. , .
Ainda tem o Porto nos Guindaes * a fonte de Mal m^a-
judas — e em Mivagaya a Fonte da Colher.
*
* *
Temos também ainda em Portugal muitas povoações que
deviam ser chrismadas e receber outros nomes, porque 03
seus nomes actuaes estão pedindo esponja.
Ahi vai uma amostra do panno :
— Banhados, Porco, Mc^arosa^ deturpação de Lama-
rosa ;— Mala guarda, Malaqueijo, Malas Caras, Malarranha,
Mal Curado, Mal Enforcado, Mal Julgado, — Mal Lavado,
Mal Penteado, Mal Talhado, Maluca e Malvado.
Junte-se Mamodeiro, Mamporcão, Mamprolé, Mancão,
Mangação, Mangancha (manga ancha), — M.ào pelo cão, o mes-
mo que Mamporcão supra.
Marafonas, Mardirtga, Margalho, Mariola, Mascarra,
Mata Bodes, Maia Burros, Mata Cães, Mata Christo (ff...) —
Mata Fome, Mata Ladrões, Mata Mouros, Mata Porcas, Mata
Porco, Mata sete. Mata Vacas^ Matraque, Mijão e Mijarella,
forma anterior de Misarella, cascata, catadupa, etc.
Mas basta de Constantim.
Paliemos agora da etymologia de Cicouro — etymologia
de pelle diahi! ...
* *
Cicouro por Sicouro é talvez uma forma de Sequeiro, no-
me de varias povoações nossas, tirado do latim siccus —
sêcco. Taes são as seguintes: — ASeca, Secalina^ Secarias, Se-
cas, Seco, Secos, Seculinho, por secalinho ou secalino?', Segolim
1 Guindaes é um despenhadeiro medonho de fraguedo nú, que
tomou o nome do leonêz ou castelhano ^«//7í/ú'/í's — ginjaes, ginjeiraes,
pois guinda cm castelhano significa ginja e guindai ginjal, como diz Val-
dez.
Eu ainda me recordo de vêr entre as ditas fragas gingeiras espontâ-
neas, bravas.
Ao poente dos Guindaes demora o Codeçal. — Tomou o nome do
codêço, fTlanta arbustiva que deu também Codeceda, Codecido por Code-
cedo, Codexido por Codecido, Codeçosa, etc, povoações nossas.
TENTATIVA ETYMOLOOICO-TOPONYMICA 19
por Segalim e este por secalim?', Sico e SicuriOj quasi Sicouro,
povoações nossas.
Cf. também Sequeira e Siqueira, apellidos, etc. ~ Sequei-
rinha, Sequeiro — de sequeirola, o mesmo que Sequeirinha ;
— Sequeiro, Sequeiros, Sequeiros, Siquieira, o mesmo que Se-
queira e Siqueira ; Sequinique, ^ Séquito, etc.
Também temos — Asseca por Al + Secca, ou ^ — Secca, ti-
tulo de viscondado, etc.
Cf. Aharella por A Barella e este por A Varella — a va-
rinha, povoação nossa, como Varella, Varellas e Varellinha.
Junte-se Abebera por A Bebera; Abicharias por As Bicha-
nas; Abicheiro e Abicheiros por Al — Bicheiro e Al — Bicheiros
— o Bicheiro e os Bicheiros, com o prefixo árabe ai — o, a,
os, as.
Note- se que Bichana, Bicheira, Bicheiro e Bicheiros tam-
bém são povoações nossas, como Bicha, Bichaca, Bichico,
Bichinha, Bicho, Bichoca e Bichos,
Junte-se também Aboicinhas por As — boicinhas, o mesmo
que Bouçainhas e Boucinhas, povoações nossas.
Também temos Aboim e Boim ; Aboinha e Boinhas;
Abouça e Bouça; Abroca e Broca; — Abrunheta e Brunhe-
ta ; Acharrua e Charrua; Acheiras e Cheiras; Acipreste e
Cipreste; Adanaia, Anaia e Danaia, etc, povoações nos-
sas.
Junte-se também Sigoeira por Siqueira e Sigueiro^ — idl-
vez formas de Siqueira e Siqueiro, pois ca, co, cu e ga, go,
gu trivialmente se confundiram e substituiram.
Notese também que na onomástica portugueza Siqueiro
podia dar Sicouro e Cicoif.ro, porque em portuguez ei e ou por
vezes se confundiram e substituiram.
Cf. Apeadeiro e apeadoiro ou apeadouro ; despenhadeiro
e despenhadoiro ou despenhadouro ? — Picadeiro e Picadouro,
povoações nossas, — como Fonteira e Fontoura, Refonteira e
Refontoura, Peneiços e Penouços, etc.
Cf. também venidero, quasi vindeiro, na Hespanha — e em
Portugal — vindouro.
Sem violência, pois, Sequeiro ou Siqueiro podia dar Si'
1 Cf. Saquinibaque, Manique, Peniquc e Toteniquc, povoações
nossas. — E talvez que Peniche e Penique sejam formas do mesmo nome,
pois ché e ké ou qué substituiram-se e confundiram-se, como havemos de
provar.
20 TENTATIVA ETYMOLOGICOTOPONYMICA
couro e Cicouro, —julgo eu. — Mas talvez que Cicouro venha
de sicorio, depreciativo popular de secco e synonimo de se-
quinho, como Séquito supra.
Ad ridendum ahi vão alguns termos populares deprecia-
tivos com a desinência — o7'io. Taes são latinório, simplório,
finório, chapelorio, foguetorio, vivorio, regalorio^ quintalorio^
tratantorio, capasoria e capasorio, — viUoria, vinhoria, farelo-
rio, palanfrorio, etc,
Junte-se Casalorio, casal nosso.
A Hespanha tem Frechorio, diminutivo de freixo, povoa-
ção de Oviedo^ — e Tenório, apellido de D. João Tenório, ri-
val do heroe nianchêgo.
Tenório é também appellido portuguez, vindo da Hespa-
nha, como outros muitos appellidos nossos, entre elles Camõen,
Saldanha, etc.
Por seu turno ha na Hespanha muitos appellidos por-
tuguezes, taes são Cardoso, Fonseca, Barrilar, Bacalar, etc.
Cardoso e Fonseca são appelidos muito nobres e muito
antigos, que têem o seu solar nas aldeias de Cardoso e Fon-
seca, pertencentes á freguezia de S. Martinho de Mouros, con-
celho de Bezende.
Veja-se no Fortugal antigo e moderno o meu artigo Villar,
povoação da freguezia de Barro, pertencente ao dito concelho.
Alli (pag. 1:174 do vol. xi) mencionei as nobilíssimas e anti-
quíssimas casas de Fonseca e Cardoso.
Os appellidos Barrilar e Bacalar na minha opinião pro-
vieram das duas povoações d'este nome, pertencentes á fre-
guezia, villa e concelho d^Armamar.
Note-se que em todo o nosso paiz — e em toda a Hespanha
— não ha outras povoações com os nomes de Bacalar e Bar-
rilar,— e que na Hespanha Bacalar é appellido muito nobre
e muito antigo !
D. Vicente Bacalar e Saíia foi marquez de S. Filippe e
distincto escriptor do século xvii.
Eu tenho a interessantíssima obra d'elle : — *Commenta-
rios de la guerra de Espana, e historia de su rey Phelipe V. —
Génova... 2 vols. 4.°.
— Com vista ao snr. Joaquim de Araújo, distincto escri-
ptor também e nosso cônsul actual em Génova.
Prosigamos.
Cicouro pode vir, pois, de siccorio e ser uma forma de
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPOXJfMlCA 21
Siconro. Mas — dirão os tímidos leitores — Sicoiiro daria Ci-
couro? — Se não deu, podia dar, pois na onomástica portu-
gueza c e s — mesmo iniciaes — trivialmente se confundiram
e substituíram.
Cf. Ceiça, Ceiçal, — Seixa e Seixal — do -latim — saxum —
pedra; Ceiceíra e Seiceíra ; Cella, Cdlão, (Mias — Sella, Sei Ião
e Sellas ; — Centas o Sentas ; Centieíra^ Centieiras — Sentieíra
e Sendeiras ; Cepa e Seppa; Cepães e Sepães ; Cepeda e Sepeda ;
Cerdeira e Serdeira ; Cerdeiral e Serdeiral ? ! . . .
Somma e segue.
Cernancelhe e Sernancelhe ; Cernande e Sernande — de
Sezinandus, — SezinandOy nome d'um santo, etc._, que pela forma
Sezinandicellus, i também deu ou podia àdiV Sernancelhel...
E' assim a arte nova.
A critica é fácil, mas a arte é difjicil — e eu direi que em
assumpto de tal ordem — a própria critica é difficil — não sen-
do critica balofa ou de mófa^ — critica imprópria da gente séria.
Quando volver a Távora, novamente falarei de Sernan-
celhe e então serei mais explicito.
Ainda temos : — Cerqueira e Serqueira, — do latim quer-
cus — carvalho, carvalha, carvalheira?, — como Cerqueiral q
Serqueiral ; mas, como já disse e novamente digo: — as for-
mas carvalho^ carvalha, carvalhal^ carvalheira_, e carvalhos, —
não vêem do latim quercus, mas de carpa, grande arvore,
que ainda se encontra em Carpalhosa, povoação nossa^ como
também Carvalhosa, pois bá e pá trivialmente se confundiram
e substituíram. ^
Junte-se ainda Certa, Certão e Sertão ; Cerzeda e Serxeda;
Cerzedello ■ e Serzedello ; Cever e Sever ; Cide e Side ; Cioga e
Sioga; Cisto e Sisto, o mesmo que Sixto, Xirio, Xisto e Xistro,
povoações nossas que tomaram o nome de Xisto, santo, etc,
— este do latim Sextus, Sexto, antigo nome pessoal^ — e este
de sextus, sexto, adjectivo numeral romano.
Sexto e Sixto foram também nomes de santos, como Xisto.
De passagem direi que os romanos tiraram nomes pes-
soaes de todos os adjectivos numeraes — desde primas até de-
cimus. Este tópico é muito interessante e bastante longo.
1 Note-se que no Minho em vez de Carvalhal, Carvalha, Carvalho,
Carvalhosa, etc, dizem Carbalha, Carbalhal, Carbalho e Carbalhosa.
E' diapasão callaico. pois na Galliza também ha muitas povoações
com os nomes de Carballa, Carballal, Carballo, etc, que soam Carba-
lha, Carbalhal c Carbalho, como no Minho.
22 TENTATIVA ETyMOLOGICO-TOPONYMICA
Prosigamos.
Temos também Cezimbra por Sezimbra, pois como jâ disse
na primeira parte d'estes meus dislates^ a povoação de Cezim-
bra tomou o nome do latim hotSimco sysimbrium — certa planta
que os romanos muito estimavam, porque dava flores brancas^
de que faziam grinaldas para os noivos.
Talvez que a dita planta não fosse vulgar e ao tempo
abundaria — abundará mesmo hoje ainda — na excepcional
íiora da Arrábida, junto de Cezimbra. ^
E talvez que os romanos levassem ou exportassem de
Cezimbra, povoação marítima, as taes plantas e flores para ou-
tras regiões do seu vasto império.
Note se que das plantas tomaram o nome centenares ou
antes milhares de povoações nossas.
Temos finalmente Cintra por Sintra^ pois na minha opi-
nião Cintra vem de Schintila ou Swintila, nome germânico,
posto que o meu benemérito antecessor Pinho Leal, no artigo
próprio diz que a formosa vi lia de Cintra vem de Cynthia,
nome que os celtas davam á lua?...
De Schintila ou Swintila — Sintila — Sintra — Cintra.
Note- se que em vários documentos antigos se encontra
a forma Sintra. •
Do exposto se vê que Cicouro pôde vir de Sequeiro ou
Siqueiro — e de Sicorio, afíim ou parente próximo de Sicurio,
Passemos adiante.
* *
3.* — Duas egrejas.
A etymologia d'esta parochia é tão clara como o nome
d'ella ; mas comprehende as povoações de Cercio, ValdeMira^
Gravatos, Fonte Lataca ,e Horta da Silva, cujas etymologias
não são fáceis.
— Cercio já foi freguezia autónoma e vem talvez de Sér-
gio, nome d'um santo, etc.
Nós também temos Cergio appelido, — e a Hespanha tem
Cercio e Cierzios, povoações.
— Fonte Lataca — talvez seja uma forma barbara de fon-
te lactata — aleitada ou láctea, cuja agua tivesse cor similhan-
te á do leite.
Cf. Fonte Leite, povoação nossa também.
' Chamamos para esíe ponto a attenção dos naturalistas que tenham
estudado ou se proponham estudar a interessantíssima flora da Arrábida.
TENTATIVA ETYMOLOOICO-TOPONYMICA *2;5
No latim ha lactaíus, a, um — coisa nutriaa ou alimeu-
tada com leite, — e ladata podia dar laiaca, pois ca, co, cu e
ta, to, tu, confundiram-se e substituiram-se.
Veja-se o tópico infra — Substituic^ão de letras.
Vai de Mira — pôde vir de Wladimíriís, i, nome germâ-
nico e nome d'um santo, etc, que na minha opinião deu
Valdemir, por Vtddemiro, quasi Valdemira ou Vai de Mira ;
— Vai de Mil, por Vdldemir, — e VahV Amil, sitio de que
logo íallaremos, quando volvermos a Távora.
Wladimirus, i também deu Baldomero, nome d'um san-
to, etc. ; — Baldomira e Baldomiro, nomes pessoaes e appel-
lidos, — e Vai do Mar, aldeia nossa, o mesmo que Vai de
Mar, Vai de Mil e Valdemir, supra.
Note-se que na onomástica portugueza i deu trivial-
mente a.
Cf. Leodomirus, i que deu Leomil e Lomar ; — Gunthi-
mirus i, Gunthimiro, nome germânico também, que deu Can-
demil, terra natal do snr. conselheiro António Cândido.— Cíiw-
temih Co7itumil, Gondomar, etc.
Note-se também que Miro e Mira foram nomes pessoaes,
— e Mírão, nome d'um santo e de varias povoações nossas.
*
* *
— Gravatos — é contracção do portuguez bem conhecido
garavatos, como garavetos, gravetos e talvez gr avi tos — Ga.\ a.-
cos, lenha miúda, chamiços.
Cf. Gravateira, Gravato, Gravedo por Graveto — Grave-
tal, Graveto e Gravito, povoações nossas.
Também temos varias povoações com os nomes de Ca-
vaca, Cavaco e Cavacos, — Cavaco, appellido e fabrica de cerâ-
mica no Porto — Chamiçal e Chamiço, aldeias.
— Horta da Silva — é o mesmo que horta da selva, — do
latim silva — selva, mata, bosque, brenha, que deram Brenha,
Mata e Bosque, appellidos vulgares, synonimos de Silva, ap-
pelido vulgar também.
*
4.* — Genisio.
Esta freguezia tomou claramente o nome de Genisio, o
mesmo que Genesio, antigo nome pessoal e nome d'um santo,
— em latim Genesius, ii, iis, que deu Genes, Gense S. Gensj
povoações nossas
24 TENTATIVA ETYMOLOGlCO-Tl'PONYMICA
Por seu turno Genisio também nome d'um santo, em la-
tim Genisius, ii, iis, — talvez desse Gerizes por Genizes, Gin-
zo por Genízo e este por Genisio ^ — e Giz, contracção de Ge-
nisiis, pois não ó provável que o giz desse o nome a duas
povoações nossas.
Esta freguezia já teve annexa a de Villar Secco^ actual-
mente freguezia do concelho de Vimioso.
Villar' Secco é pouco distante de Cicouro e está dizendo
que demoram em região secca, seccalina ou siccoria?/, ..
Veja se o tópico supraT— Cicouro e Constantim.
*
* *
Esta parochia de Genisio comprehende também uma
quinta — ou aldeia, sua annexa, chamada Especiosa, que já
foi parochia independente e tomou o nome de Especiosa vil-
la, — granja, quinta' ou casa de campo de Especioso, antigo
nome pessoal e nome d'um santo, etc.
Especiosa foi também nome de mulher, mas são raras,
raríssimas em Portugal e fora de Po7'tugal as povoações que
tomaram o nome das mulheres^ porque outr'ora ellas não ti-
nham a consideração que teem hoje.
Os tempos mudaram muito n'este ponto.
As mulheres são hoje tão consideradas como os homens
— e mais ainda ! — graças á nossa religião santa que aberta-
mente pugnou em favor d'ellas, pelo que chegou a denomi-
nar se religião das mulheres? I. , ., — Com vista ao Japão, etc.
5.* — Iffanes, curioso espécimen d' arte nova, — E' con-
tracção de Epiphaniis, patronímico de Epiphanius, ii — Epi-
phanio, antigo nome pessoal e nome d'um santo como Epi-
phania \
Estes nomes pertencem á serie dos muitos que foram
tirados d^ assumptos religiosos, como Deo Gratias, — Deus de-
dit, o mesmo que Deuladéu (Deus a deu) — nome da heroina
de Monsão, — Deodato, o mesmo que Adeodato [a Deo datus)
— dado por Deus — nomes também de santos, etc.
Junte-se Ascendo e Assenço, também nomes de santos,
tirados da festa da' Ascensão, em latim Ascendo, onis; Pas-
chal e Paschoal, também nomes de santos, tirados da festa
^ Fm trabalhos d 'esta ordem a bússola ê o ouvido?\
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 25
da Paschoa, como Epiphanio e Epiphanla supra foram tira-
dos da festa da Epiphanía ou dos líein.
Natal d Natália^ também nomes de santos, foram tira-
dos da festa do Natal que deu também Natalina, Natalino^
— Nataria e Nathalia por Natália, — Nathalio e Natario por
Natalio, etc. ^
Também a quaresma deu Quaresma, appellido, — e o Na*
tal deu Nascimento^ appellido também, — e Nadaes povoação
de Rezende^ que tomou o nome de Natalis, — forma latina de
Natal supra, nome d'um santo, etc.
Junte-se ainda Ossana por Hossana, nome d'uma santa,
etc, tirado do latim hossanna in excelsis, da festa dos Ramos,
6.* — Malhadas.
Do portuguez malhada que tem muitas accepções^ entre
ellas a de malhar pão.
Cf. Malha Pão, seis povoações nossas, — e Malhadancha,
o mesmo que Malhada ancha, malhada ou eira grande, — con-
génere de Mangam-ha, por Manga ancha, casal, que tomou o
nome de Mangancha, apodo ou appellido.
Junte-se Lameirancha — lameira ancha, ~ Pedrancha —
pedra ancha, etc, povoações nossas.
A' mesma série de Malhadas pertencem ao todo mais de
150 povoações nossas^ entre ellas Malhadoura. Malha Ferro,
Malha Grillos, Malha Milho, Malhadaes, Malhadal e Malhadil
por Malhadal.
Os leitores não se espantem com a substituição de Ma-
Ihadil por Malhodil. Encontra-se este diapasão em muitos no-
mes de povoações nossas. Taes são Arcil e Aroal; Barril por
Barrai, muitas povoações ; Cabanil por Cabanal ; Carril e
Carral; Fetd e Fetal; Ouril e Ourai) Outil por Outeiril e
Outeiral] Ovil e Ovial; Touril, Taural e Toural, etc
Junte-se Madail, povoação nossa, pois talvez seja uma
forma de Majadil, forma castelhana de Malhadil.
Malhada na Hespanha é Majada, que soa Magada, quasi
Maçada, unde talvez Micada e Maccada, povoações nossas !
Mas talvez que entre nós na edade média Mijada se escrevesse
também Maiada, como Penamajor deu Penamaior e Penama-
^ Cf. Rosa e Rosália nomes de santas, que deram Rosalina, Ro-
salina (?. . .) e Rosaria, forma popular de Rosália.
E' muito notável em Cambres (Douro) a quinta da Rosália, vul-
go Rosaria.
26 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
cor, pois Penamajor em castelhano soa Penamagor, quasi Pe-
namacor.
A Hespanha não tem Majadal nem Mojndil; mas tem
Majada, Mnjndaò' e MaJadiUas — entre nós Malhada, Malha-
das e Malhadinhas.
Se tivera Mnjadil, podia lêr-se entre nós na idade mé-.
dia Magadil e Maiadil. Por seu turno Maiadil talvez desse
MadailV..,. ^
Eira bien qui rira le dernier.
Prosigamos.
* *
7.* — Miranda do Douro.
Tomou o nome talvez do latim miranda — digna de
vêr-se ; ou que pode vêr-se ; — vistosa'^ — Tal é a cidade de
Miranda do Douro, pois demora em sitio alto, alegre e vis-
toso, coroando uma espécie de promontório de fraga núa,
que se estende de norte a sul, aprumado a E. sobre o Douro
— e a O. sobre o Fresno (em Portugal Freixo)^ — rios que
vêem de Hespanha e ali correm fundos, pelo que tornavam
no tempo das armas brancas muito defensável o dito pro-
montório.
E' elle accessivel unicamente do lado norte.
Veja-se Miranda do Douro no Portugal antigo e moder-
no.^ artigo do meu benemérito antecessor e que eu ampliaria
muito, se os editores não desistissem, como desistiram, do
promettido e tão preciso supplemento.
Era-me fácil amplial-o, porque visitei Miranda, como já
disse, demorando-me n'aquella cidade três dias — e honra me
com particular estima o seu illustrado prior e meu bom amigo
— rev."» José Bernardo de Moraes Callado.
* Note-se que antigamente em Portugal e na Hespanha em vez de
major escrevia-se mayor—t em vez de Majada, Majadas, e Myadil —
escreveu-sc Mayada, Mayadas e Mayadil, unde Madail por Mayadii
Também na Hespanha j/d ejá deram Ihá, unde Majapão, o mesmo
que Malha Pão e Malhapão, quintas e povoações nossas.
A Hespanha tem muitas povoações com os nomes de Maja, Maja-
da, Majadas, Majo, Majones, — Malla, que se lê Malha, Malladas, Mal-
ladoiro, (Malhadoiro), — Mallo, (Malho), — Mallon (Malhon, entre nós
Malhão) — e Mallona em Soria, que se lê Malhona e deu Malhoa, ap-
pellido actual portuguez em Lisboa, etc.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 27
Miranda vae em pronunciada decadência.
E' hoje a cidade menos populosa de Portugal. Conta ape-
nas 1Õ2 fogos e 550 habitantes.
Afreguezia comprehende 4 annexas denominadas quintaff.
São Qlldisv— \ Ideia Nova do Azin/ial, que dista de Mi-
randa, 7 kilometros para N. E. e tem 41 fogos e IGO habi-
tantes ; — Palancar, distante de Miranda, 5 kilometros para
N.; tem 14 fogos e 55 habitantes ; — Valle d' Águia, que dista
de Miranda G kilometros para N. E. e tem 23 fogos e 85 al-
mas, — Pena Branca, distante de Miranda 6 kilometros para
N. com 17 fogos e 60 habitantes.
Total da população das 4 annexas : 95 fogos e 360 habi-
tantes.
População total da freguezia de Miranda — 247 fogos e
910 habitantes.
O prior vê-se perdido para curar bem ou mal as 4 anne-
xas, distantes de Miranda b ^ 1 kilometros de péssimo cami-
nho t...
E' também muito áspero todo o anno o clima d'aquella
região : — frigidissimo no inverno e ardentíssimo no verão,
pelo que vulgarmente se diz que tem nove mezes d^inverno e
três d' inferno? I ...
Miranda vae em pronunciada decadência, mas devem
amparal-a certamente e dar-lhe muita vida a nova estrada a
macadam de Bragança a Miranda, já muito adiantada — e a
linha férrea do Pocinho a Miranda, também já principiada.
A pobre cidade tem, como, já disse, 4 freguezias anne-
xas. Chama- se uma Aldeia Nova do Azinhal, contracção d'a-
zinheiral — bosque ou mata d'azinheiras. — E denomina-se No-
va, porque a povoação actual é restauração d'outra que alli
houve em tempos muito remotos, como provam as muitas ve-
lharias romanas e pre-romanas que alli se teem encontrado.
Outra das suas annexas denomina-se Palancar, o mesmo
que Palancal, nome estranho, tirado talvez de palanco, —
certa graminea, espécie á''aveia, — no dialecto trasmontano.
V. Palanco no diccionario portuguez do snr. Cândido de
Figueiredo ^
Comprehende também a quinta ou povoação de Refega.
* A Hespanha tem Palancar e Pulancares, povoações de Sevilha
e Guadalajara.
28 TENTATIVA ETYMOLOaiCO-TOPONYMICA
Refega ou Refega pode vir do hespanhol Revêga — veiga
ancha, grande, — ou de revéga, o mesmo que reviéga -- revê-
lha, muito velha.
Cf. Reviejo (lê-se Reviego) — o mesmo que Revelho, po-
voação da Hespanha, — Recélha, Recélho e Revêlhos, povoa-
ções nossas.
Note- se que fev confundiram-se e substituiram-se.
Cf. Alfdfar por Alfavar ou Alfaval, o Faval, — povoa-
ção e freguezia do concelho de Penella, districto de Coimbra;
Âlfeloas, o mesmo que Alveloas, povoações nossas ; Jafa. vul-
go Java, porto de mar da Palestina ; Genovêfa, o mesmo que
Genoveva, nome d'uma santa; Olafo e Olavo, também nomes
de santos, etc, — formas de Olaf, nome actual na Suécia.
Do exposto se vê que Refega e Revéga podem ser for-
mas do mesmo nome.
Yal d' Águia tomou o nome das águias, como S. Pedro das
Águias e outras muitas povoações nossas.
Fena Branca ou PennaBranca — é o mesmo que penha
branca e tomou o nome da côr da dita penha ou dos lichens
que a envolvem.
Cf. Pedra Alva e Pedralva: Pedra Amarella; Pedra Pei-
tai; Pedra que Luz, unde talvez Queluz; Pedras Alvas ; Pe-
dras Brancas ; Pedras Negras — sem serem as pedras vulcâ-
nicas de Pungo Andongo, e Pedras Ruivas.
Somma e segue:
Pena \erde; Penalva; Penas fíoias; Penedo Branco; Pe-
nha Verde, o mesmo Pena Verde; Peralva, o mesmo que Pe-
dra Alva. Pedralva e Penalva; Peras Rubras^ o mesmo que
Pedras Raivas — e Penas Roias, pedras roxas, etc.
Junte-se Penedos Aniarellos, sitio junto de Miranda, mas
além do Douro, jâ na Hespanha, — e Penha Amarella ou Pe-
nha d' Águia, morro gigantesco da freguezia de Távora supra,
do qual fallaremos em tópico especial, como bem merece.
Nós temos varias povoações denominadas Miranda, pelo
que esta cidade se denominou Miranda do Douro^ para não
se confundir com as outras Mirandas.
Também a villa de Miranda^ do districto de Coimbra,
por egual motivo é denominada Miranda do Corvo.
Os corvos são aves bem conhecidas, que tomaram o no-
TENTATIVA ETYMOLOQICO-TOPONYMICA 29
me do latim corvus, i —e este do grego Jcorax^— talvez ono-
mástico? !. . .
D*elles tomaram o nome grande numero de povoações
nossas, incluindo a Corvaceira, minha terra natal, pequena,
mas vistosa e muito mimosa aldeia da vasta freguezia da
Fenajoia^ concelho de Lamego, na margem esquerda do Dou-
ro^— em frente das Caldas do Molledo.
Corvo deu Corveira e Corvaceira, como fogo deu Fogueira
e fogaceira — e lodo deu Lodeira e lodaceira.
O Douro^ rio, tomou o nome do latim Durius — e este
do sanscrito dru - correr, como já disse algures, citando
Ouillou. ^
Nós temos Miranda^ cidade^ etc. — Mlrandas, aldeia. —
Mirandella e M^randos.
Também temos Mirancas e Mirancos, talvez formas de
Mirandas e Mirandos, — e Miranquinhos, aldeia, diminutivo de
Mirancos.
A Hespanha tem M'^anda, Mirandela, e Mlrandilla, que
se lê Mlrandilha, o mesmo que Mlrandinha e Mirandella, di-
minutivos de Miranda. — Não tem Mirandas nem Mirandos^
— Mir ancas nem Mirancos, mas tem Mirancinos, que se lê 3Ii-
rancrnhos, quasi Miranquinhos í ! ...
Note se que o c já valeu l' e q.
Prosigamos.
*
8/ — Palaçoulo.
Esta freguezia tomou claramente o nome do baixo la-
tim palatiolus, ^, — palaciolo, palaçólo — Palaçoulo, diminutivo
de palatium — palácio e por contracção paço, como Pacô é
contracção de palaçólo ou Palaçoulo.
Esta forma de diminutivos com a desinência olus, ola
foi trivial na edade média e deu o nome a muitas povoações
nossas. Taes são Alijo, Arneiros, Barro, Bruço, Celleiró, Cel-
leiroz. Eiró, Eduró, — Figueiró, o mesmo que Figueirôa ; Fj.-
jó, Grijó, Leiró, Lijó., o mesmo que Alijó; — Lorjó, Mm^eiró,
o mesmo que Moreirola ; — Mosteiro, Paço, Palaçoulo, Pereiro^
laboaçó, Travassô, Vinho, Sidró, etc.
Petites ctymologies bretonncs.— Quimper, 1882, 1 vol. 8.° grande.
30 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Veja-se o tópico infra — Diminutivos em olus, ola — e a
primeira parte d'estes meus dislates.
Algumas etymologias d'aquelles diminutivos são bastante
nebulosas e, como o tópico indicado virá longe, — se algum
dos leitores tiver empenho em sabel-as, — basta que me diga
as que pretende.
9^—Paradella.
Nós temos muitas freguezias, casaes, quintas e aldeias
com os nomes de Parada, Paradella, Paradellas^ Paradellinha,
Paradinha, etc. — Todas ellas tomaram o nome do antigo
portuguez parada - jantar ou refeição, que os habitantes ou
cultivadores das ditas terras ou povoações eram obrigados a
dar aos senhores d'ellas, quando as visitassem por occasiáo
de caçadas, etc.
As ditas paradas eram por vezes muito incommodas,
muito pesadas e muito caras, mas quasi sempre raras, pois
só de longe em longe os reis, os bispos e quaesquer outros
senhores das ditas terras as visitavam pessoalmente.
Com o volver, porém, do tempo, as ditas refeições ou
jantares^ que deviam ser pagas em géneros, foram por impo-
sição dos reis e dos senhores das terras arbitradas em di-
nheiro, pelo que o termo parada se tornou synonimo de
tributo, mais ou menos pesado e annual, que se denominou
também Jaw ia?', censo^ colheita e procuradoria.
Vide Jantar e Parada em Viterbo, — artigos muito cu-
riosos.
Prosigamos.
*
* *
10.^ — Picote.
O nome d'esta freguezia foi tirado de picote, o mesmo
que picoto, sitio alto, a modo de pico, outeiro, cimo agudo
d'um monte.
Cf. Picarò, Picaritos., Pico, Picoila, Picota, Picoteira^ Pi-
cotim, Picotinho, Picoto e Picotos — mais de 50 povoações nos-
sas.
Picote é o mesmo que Picoto, pois na onomástica portu-
gueza e e o trivialmente se confundiram e substituiram.
Cf. AJfehrinho e Alfobrinfio; Arrojello, por Arroiello, o
mesmo que ArroyoUo por Arraiollo, pequeno arroio : — Per-
fia e Porfias; Beiraniia e Boiranita; Boirana por beirana, o
mesmo que beirôa, fem. de Beirão^ etc.
TENTATIVA ETYAÍOLOaiCO-TOPONYMICA 31
Hony soit qiii mal y penf^oi..
Juíite-se Ervedeiro^ Ervrdeiro e Orbideiro^ o mesmo que
Ervednro e ervodo— medronheiro.
Ortezedo por Ortozedo (cf. O^ío^e/Zo)— povoações nos-
sas, como Barrete e Barreto ; Cerp.je e Cerejo ; Gontije e Gon-
tijo; Liméde por limêdo — e Miirtêde por miirtêdo, o mesmo
quo Murtosa;, povoações nossas.
Temos ainda Marzogueira e Murçogiieira, por morceguei-
ra, abundante em morcegos? t . ..
A etymologia de Marzogtieira é um espécimen d'' arte
nova.
Junte-se Quintella e QuintoUa; Reboreda e Roboreda\
Reboredo e Roboredo ; ^ Recaio e Roçai o ; Reboleiro, Rebo-
leira e Roboleiro, etc.
Picote é, pois, o mesmo que Picoto, — ou diminutivo
de Picoto, como Picotinho e Picotim por PicotinJio, povoa-
ções nossas também.
A desinência o(e em portugiiez coramum designa depre-
ciação e dimmtnção — e é vulgar entre nós. Na onomástica
portugueza é rara, mas também se encontra. Alii vão alguns
espécimens :
Cabinotes, plural de Cabinote.
Cardote por Cardalote, pequeno Cardai.
— Carvalhote e Carualhotinho, synonimos de Carvalhinho,
— Chiote, Escravote, Farinhote (appellido), Garrote,
Leotet 3Iaricote, Negrote, Parrote^ Parrotes, (talvez formas
de barrote e barrotes) \ Pellote e Fernão Pote., povoações
nossas.
Fernão Fote é talvez o mesmo que Fernão Fote.
Cf. Permontelloy Fermentellos, Fermontellos, Formentellos
e Frumento, povoações nossas, cujos nomes foram tirados
do latim friimentum, i - pão em grão: trigo, cevada, milho^ etc.
Cf. também F^ernandaires e Fernandares, o mesmo que
Fernandairesy contracção de Fernando Ayres, o mesmo que
Fernando Árias, — de Árias., antigo nome pessoal, que deu
Airas, Ayres, etc.
Também temos varias povoações com os nomes de Fe7'-
nando Carneiro, Fernando Affon,<o, Fernando Luiz, e Fer^
nandolena por Fernando Leira ou Fernando Oleira.
Note-se que Oleira e Leira são povoações nossas.
Estes últimos 4 nomes foram tirados do latim robiir — carvalho.
32 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Junt3-se Fernão Bacho e Fernãohico por Fernão Bacho
ou Pernambuco?
— Fernão Calvo, Fernão Dias^ Fernão Domingues, Fernão
Garcia^ Fernão Gil, Fernão Joannes^ Fernão Lobo, Fernão
Mendes (i), Fernão Menino, Fernão Pinto (?)...., — Fernão
Porco (?). — Fernão Vaz, etc, povoações nossas.
Também temos 3 aldeias, uma quiuta e um casal com o
nome de Ferrão — o mesmo qne Fernando e Fernão — pois
Fernando vem de Ferdinand, nome germânico, — em latim
Ferdinandus, que no baixo latim deu Fernandus e Ferrandiis^
— unde Fernão e Ferrão^ appeliido, etc.
Com a desinência ote ainda temos Pinhote, contracção de
Pinhalote, diminutivo de Pinhal, como Punheteipor Pin/iete,
contracção de Pinhalete^ o mesmo que Pinhalote.
Ainda hoje temos povoações com os nomes dePinhefe e
Punhete, posto que a villa de Punhete que estava na foz do
Zêzere foi chrismada e é hoje denominada — Villa Nova de
Constância, como já dissemos.
Junte-se ainda Sacotes, plural de Sacofe.
Cf. Sacota^ Sacoto e Saciitos, povoações nossas que po-
diam tomar o nome dos sacos — ou de Z'icutus — Zacuto^ an-
tigo nome pessoal, que podia dar também Sagute (por Zacute).
povoação nossa.
Ainda temos Valigote, o mesmo que Valgode por valgote e
este por vallegote, diminutivo de valle, - antithese de Yalle-
gões augmentativo de valle s.
Com a mesma desinência ote ainda temos as povoações
denominadas Virote e Zote.
São ellas dois simples casaes, pelo que na minha opinião
tomaram os nomes de Virote e Zote — apodos ou appellidos
tirados do portuguez virote — espada curta — e de zote — pa-
teta, maluco, idiota.
Cf. Lança, Espada, etc, appelidos tirados das armas, —
e Doide^ quasi Doido, — Casal Doido, Casal do Louco, do
3farra, do Perlim, do Pernas ; — Bodegãa, Fome^ Fonina,
Maluca, etc, casaes nossos.
Basta de Picote, Virote e Zote, etc. — Prosigamos.
' Este Fernão Mendes c quasi homonyno do pobre Fernão Men-
des Pinto e Fernão Mendes Minto, auctor e martyr das suas Perigrina-
ções na índia, no Japão e na China,
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 33
11.^ — Povoa, antigamente Pohra, — Do baixo latim /jo-
pidn, o mesmo que populus — povo, sitio povoado, — aldeia,
logar; — no Alemtejo monte ;— no bispado de Bragança —
quinta^ etc.
Ao norte do nosso paiz também foram synonimos de po-
pnlns G popula — villa, viílar, vUlarinlio, — c no Minho assento,
residência, eido e aido — talvez o mesmo que assento e resi-
dencia?/...
Os leitores não se espantem, por que a etymologia de
eido e aido ~ hahet dentem coelhi/...
D'ella já se occuparam distinctos escriptores, mas — na
minha opinião — até hoje não disseram a ultima palavra sobre
tão nebuloso assumpto.
De passagem direi que os termos eido e aido são comple •
tamente desconhecidos na Estremadura, no Alemtejo e no
Algarve,
Ao sul do Douro — nos districtos do Porto, Aveiro e Coim-
bra — também mal se conhecem ; — pelo contrario são muito
conhecidos ao norte do Douro, nomeadamente no Minho, —
mas têem variadas significações.
Em algumas terras, como em Gondomar^ designam ape-
nas a loja ou lojas dos bois; — em outras o terreiro, qiiin-
chóso ou quinteiro do estabelecimento rural, chão que ó ou
costuma ser vedado.
Em outras terras designam aquelles termos um pequeno
chão vedado, — contiguo ás habitações ruraes e destinado
para flores, alfaces, hortelã, salsa e outras culturas mimosas.
Também algures designam parte das terras do casal
próximas da residência dos caseiros e dos donos d'ellas, com-
prehendendo por vezes a eira e o espigiieiro.
Noutras terras eido e aido designam toda a cerca da casa
e todo o prédio contiguo a ella, embora seja espaçoso.
No Alto Minho dão o nome de eido a um casal todo, com-
prehendendo o estabelecimento rural, abegoaria, casas d'habi-
tação_, toda a cerca e todas as propriedades pertencentes ao
dito casal, — embora distantes e em sitios difíerentes, como
pinhaes, devesas, moinhos, etc.
Eido no Alto Minho é synonimo de casal.
Em Rezende (Beira Alta), o snr. D. Joaquim de Carvalho
Azevedo Mello e Faro, dono da luxuosa casa da Soenga, tem
um casal impor tante_, denominado Eido^ que vale contos de
réis!...
34 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Na província de Traz-os-Montes só conhecem o termo
eido^ que vulgarmente empregam, indicando o logar próprio
das coisas e pessoas. Assim lá dizem : — põe o chapéu — o al-
vião, a. chave, o podão, a fouce, o machado, etc, — no seu
eido.
Também, estando sentados â mesa ou na cozinha, é tri-
vial dizerem : — vae para o teu eido ; estou no meu eido / esse
eido é de teu irmão, etc.
Eido significa, pois, em Traz-os-Montes — o assento ou lo-
gar próprio de cousas e pessoas,— não de bois nem de vaccas
— nem de ovelhas, carneiros, cavallos ou cabras.
Também lá não significa entrada nem sahida, pelo que
mal pode acceitar-se a pretensa etymologia latina aditus ou
exitus — entrada ou sabida.
Eido talvez seja o mesmo que aido, mas, como já disse-
mos,— no Alto Minho e em Traz-os-Montes — eido nada tem
com exitus nem aditus.
Agora um dislate meu :
No Minho, onde mais abundam povoações com os no-
mes de Eido e Aido, temos também mais de 500 povoações
com o nome de Assento, quasi todas no districto de Braga,
— poucas no de Vianna e do Porto — e no resto do paiz so-
mente duas — no districto de Villa Real ? !...
Com o nome de Residência temos também mais de 300
povoações, demorando quasi todas nos districtos de Braga,
Vianna e Porto, — na região dos Aidos, Eidos e Assentos f ! . ..
— Isto me leva a suppór que Aido, Eido, Assento e Residên-
cia pertencem á mesma familia — e que o seu tronco foi o
latim aedes — casa, — mesmo porque Braga, centro e capital
do Minho, foi cidade importantíssima no tempo dos romanos
e por elles denominada Bracara Augusta.
Note- se também que assento, residência e casa são entre
nós quasi synonimos ? I . . . — E talvez que aedes no latim popu-
lar da região bracarense tomasse a forma aedium — édio,
quasi eido ff...
Desculpem tantos dislates, porque do embate pôde sa-
hir a luz.
A Hespanha não tem adio, aido, edio nem eido, nomes
communs, mas tem nomes similares de povoações. Taes são
Ahedillo, que se lê Ahedilho, quasi Eidinho, em Burgos,
— Ahedo, quasi Eido, em Burgos e Hantander.
— Haedo, o mesmo que Ahedo, em Sontander e na Vis-
çaiaf!...
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 36
— Edillo, O mesmo que Ahedillo supra, — em Burgos,
— Edino ou Edino — em Santander.
— Eidian, Eido e Eidos na Gallisa — Pontevedra — e só na
provinda de Pontevedra^ — nos concelhos ou ayuntamientos de
Cafuza^ Puente — Caldellas, Paenteareas, Vigo, Tuije Redondela.
Prosigamos.
12.^ — 6'. Martinho d^Angueira.
Muito provavelmente esta freguezia, bem como a linda
ribeira que a banha, chamada Angneira, tomaram o nome de
Anghera, tribu de Marrocos, mesmo porque a dita ribeira
vem da llespanha e lá denomina-se Anguéra,
Note-se que este concelho de Miranda parte com a pro-
víncia de Zamora, que muito provavelmente tomou o nome
de Azamor, cidade de Marrocos também.
A cidade de Zamora já foi nossa no tempo do conde D,
Henrique e da rainha D. Thereza, pelo que .D. Affonso Hen-
riques, tendo apenas 14 annos de edade, se armou cavalleiro
na cathedral de Zamora no anno 1125.
A Hespanha tem varias povoações com os nomes de
Zamora, Zamoranos, Zamorela e Zanbroncinos, por Zamoron-
cinos, que se lêem Samora, Samoranos, Samorella e San-
broncinos.
Nós não temos Zamora, mas temos com o diapasão leo-
nez Samor, por Zamor e este por Azamor; — Samora por
Zamora ; — Samor ão por Zamor ano supra ; — Samor im e 'Sa-
morinha por Zamorim e Zamorinha, que recordam Zanbron-
cinos por Zamoroncinos supra.
Samorim e Samorínha vêem do baixo latim Samorinus,
Saynorina, o mesmo que Samor anus, -Samor ana, filho ou oriun-
do de Samora ou Zamora.
Cf. Zamoranos, em portuguez Samoranos, povoação de
Hespanha, — e Samorão^ o mesmo que Samorano ou ZamO'
rano, povoação nossa, como Adriano e Adrião, Romano e Ro-
mão, etc, nomes de santos e de povoações nossas.
Junte-se Vairão, freguezia que tomou o nome de Vale-
rião, o mesmo que Valeriano, nome d'um santo, diminutivo
de Valério, em latim Valerius, ii, também nome romano e
nome d'um santo, que se encontra em S. João de Ver, fre-
guezia nossa, antigamente denominada Sanctus Joannes de
Valerii — i?. João de Valério.
Também temos Valério, quinta.
*
36 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
13.* — Senãim.
O nome d'esta freguezia de Sendim^ que é a mais popu-
losa do concelho de Miranda ^ — vera de Sendintís, i, antigo
nome pessoal, o mesmo que Sandimis, i e Sandinkis, ii^ dimi-
nutivos de Sandus, i (?) que, além dos diminutivos Sandinus,
Sandinius e Sendinms, deu Sandanus, i, — e Sandianus, i, is^
— unde Sandão, Sande, Sandiães, Sandim, Sandinha, Sandi-
nho, Sendiães, Sendim, Sendinha, Sendinho, Sinde e Sindim,
o mesmo que Sandim e Sendim, povoações nossas.
Que prolífico nome foi o tal Sandus ou Sindtis, i,?!.,.
Na Hespanha apenas deu Sandan^ Sande^ Sandin, Sando,
Sendin, Sendiíia (Sendinha) — e Torresandino — Torre de San-
dino.
Sandino é também appellido nosso ainda hoje.
Mas d'onde virá Sandus, i? — ou Sindus, i?
Sandus encontra-se como prefixo em Sandimirus^ ?, que
deu Sandemiro, povoação da Hespanha; — Sandomil e Santo-
mil, povoações nossas, pelo que Sandus poderá vir do germâ-
nico ou teutonico sand, em latim — verus, verdadeiro, como já
li algures, com o suffixo germânico trivial mir.
Mas talvez que o prefixo germânico sand seja uma forma
de sind, que se encontra em Sindulphus, i — Sindulpho, nome
claramente germânico e nome d'um santo, etc, unde Cendufe
por Sendufe, povoação nossa.
Também supponho q\xe Sandimirus, ^, supra, é uma forma
de Sindimirus, i — o mesmo talvez que Sindimio, também
nome d'um santo, etc.
Também Sandus, i pôde ser contracção de Senandus, i,
que se encontra em Senande e Senant, povoações de Hespa-
nha,— e ewL Senande e Sernande ou. Cernande, povoações nossas.
Por seu turno Senandus, i é talvez contracção de Sezi-
nandus, i — Sezinando, antigo nome pessoal e nome d'um
santo, que, pela forma Senandus e Sernandus, i, supra, podia
muito bem dar SernandiceUus i — unde Sernancellus, i —
Sernancelhe, villa nossa, cuja etymologia Tiabet dentem coe"
1 Sendim tem cerca de 350 fogos e 1:500 habitantes; — a pobre
cidade de Miranda com as suas 4 freguezias annexas tem, como já disse-
mos, — 247 fogos e 910 liabitantes?!. . .
- Veja-sc o tópico infra : — «Diminutivos com a desinência cellus,
cellí^y.
—Também Sezinando deu Sizandro, casal nosso.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONVMICA 37
Também Sandus, i podo ser o mesmo que Indos, i — o
Indo^ rio que deu o nome á índia e que também se denomi-
nou SandOj como diz Poyares, paginas 230 e 371.
Com vista ao snr. dr. Joaquim da Silveira^ da Anadia^
meu atávico successor, depositário dos meus caros verbetes
e do meu arsenal etymologíco ! . . .
E' s. ex.* o amigo mais ingrato que n'este mundo en-
contrei, como já disse e repito.
Não só lhe dei os meus caros verbetes etfjmologicos todos ^
que pesavam cerca de 90 kilos, — fructo do meu insano tra-
balho de 10 a 12 annos, — mas dei-lhe também maitos livrou
raros e caros, entre elles um bello exemplar completo do
Portugaliae Monumenta, muito bem encadernado em dois vo-
lumes que pesavam 15 kilos !. . .
Fui demasiado generoso para com s. ex.* e hoje estou
arrependido, porque á ultima hora soube que— padece de ata-
vismo ? / . .
A^ bon entendeur — demi mot.
Prosigamos.
Também Sande, Sandim, etc, — podem vir de Zante, no-
me vulgar d'uma ilha do Árchipelago, chamada em latim Za-
kynthos, i, versão do grego Éyakinthos^ ilha do mar Jonio,
perto do Peloponeso, — unde jacintho, ílôr e Jacyntko, nome
d'um santo, etc. ^
Também Sande, Sandim, Sandinho, Sando, etc, podem
vir do latim sanctus — santo.
Cf. Santino e Santo, antigos nomes pessoaes e nomes de
santos, — como Bom e Bôa, em latim Bónus, Bona. ^
Também Sande^ Sandiães, SandiãOf Sandim, etc, podem
vir do teutonico ou flamengo sant ou sand por zand, areia,
prefixo de Santhamptum — cabedello, cabo ou pontal d'areia,
— antigo nome d'uma povoação marítima de Flandres, hoje
Nieivport — villa nova — como se lê em Chotin, pag. 120. '
^ V. Figueiredo, Magnum Lexicon e Poyares supra, paginas 445.
2 Saníino podia dar Sandino, como Centiães deu Sendiães — e
Centieira deu Sendieira, povoações nossas que tomaram o nome de centeio!...
3 Vide A. G. Chotin, — Êtudes étyniologiques siir les noms de
lieu de la Flandre Occidentale. Ypres, 1887, 1 vol. 8.° grande.
Foi uma das muitas obras francezas que eu comprei, li e extra-
ctei para os meus estudos etymologicos. D'ella tirei muitos dos verbetes
que tolamente dei ao meu ingrato successor? I. . .
38 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Damião de Góes in Hispânia também disse que o appel-
lido Sande é germânico e quer dizer sabulosus —■ orenoso, —
o mesmo que Arnoso e Aroso ? /. . .
Também Sinde, Sindim^ Sindino, etc, recordam Suindi-
nun?, capital dos Cenomanos, povo da Gália Transalpina^
cuja provincia e cujo destino actualmente sè ignoram. Ape-
nas se sabe que um ramo d'este povo no século vi atraves-
sou os Alpes e fixou-se na Itália, onde teve as cidades de
Brixia (Brescia), Cremona e Mantua,
V, Cenojnans em Devars.
De Cremona veiu talvez Carmona^ appellido nosso;
Mantua foi a pátria de Virgílio, pelo que se cognominou
Mantuario, — e Brixia talvez desse o noije de briche a certo
estofo de panno barato, grosso, como a saragoça tomou o
nome da cidade de Saragoça — e esta de Caesar Augusta ou
antes de Siracusa ? / . . .
E' bem conhecida também entre nós a saragoça rainha,
assim denominada — não por ser, como effectivamente é, a
rainha das saragoças^ absolutamente a melhor de Portugal, —
mas por ser fabricada pelos Rainhas, grandes iudustriaes de
Gouveia. Deixaram uma fortuna de quinhentos a seiscentos
contos, obtida muito honradamente só com o esmerado fa-
brico da saragoça?!.,. *
Também os razes tomaram o nome de Arraz ; — o panno
sedan — de Sedan ; o estofo gobelem — de Góbelin ; a bretanha
— da Bretanha; o jogo malabar — do Malabar ; a bisca sueca e
a gymnastica ,meca — da Suécia ; o jogo pacáu — de Macau f ;
as tangerinas — de Tanger ; os damascos — estofo e fructa —
de Damasco ; os pecegos — da Pérsia ; a couve gallega — da
Galliza — e a murciana — de Murcia ; as danças cracoviana.
varzoviana e siciliana — de Cracóvia, Varsóvia e Sicília ; o
solo inglez — da Inglaterra ; as quadrilhas francezas — da
França ; o cordovão e a azeitona cordovil — de Córdova ; o
marroquim — de Marrocos ; as peras ^i^aça* — de Picasa, nas
ilhas Baldeares ; os figos burjaqotes — de Burjasot, povoação
de Valência ; as malgas — de Málaga — e esta de Mala-
ca? etc.
Volvendo ao thema Suindinum supra, ainda diremos
1 Vcja-se no Portugal antigo e moderno o meu artigo Villa No-
va de Tazem, onde fallei amplamente dos Rainhas. Veja-se também o vol.
1. d 'esta Tentativa, pag. 369.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 39
que Suindínum podia dar Sindinum, Sindinus, Sindini, etc. —
unde, Slnde, Sindim, Sindino, Sandim, Sendírn, Senf/ino, etc.
Também Sandelhão por Sandilhão, Sandiães-, ^Sandião,
etc. — |.odem vir de Sandilanus, i, is, diminutivo de Sojidila^
nome germânico, mencionado em um documento do século xi.
Vide Areja, no Portugal antigo e moderno.
Talvez que Sandila seja uma forma de Zandilas, nome
pessoal do século vi.
<(.Zandilas, praefectus eorum qui domi nutriebantur..^*
Procopius, pag. 404.
Também Sandião supra, povoação nossa, talvez seja
uma forma de *S. Dion e n'este caso pôde vir de Dion, em
portuguez Dião, antigo nome d'um santo, etc.
Veja- se o meu Diccionario d'Appellidos e o Santoral hes-
panhol de Barcelona.
Também Sandim, Sendim, Sendino, Sinde, Sindim, etc,
podem vir de Sindhi, região da índia, ao norte de Pendjab,
unde Sindi ou Sindhi^ nome que os nossos chronistas deram
ao idioma d'aquella região — e *SY»fZo (portuguez antigo) —
nome que se dava ao mandarim da mesma região, como diz
o sr. Cândido de Figueiredo no seu Novo Diccionario da
língua port ugueza.
Nós também temos Centiães, Centiaes e Santiaes, povoa-
ções que tomaram o nome de centeio, — como Sendiães por
Centiães — e Sendieira por C^ntieira ? ! . . , ^
Podia, pois, o centeio dar também Sandiães, como deu
Santiaes, Centiães e Sendiães.
Que mimosa leitura para senhoras — e mesmo para a
maioria dos meus poucos leitores ? ! . , ,
Somma e segue.
*
* * '
Também Sendim, Sendinho, Sandino, Sendino, Sinde, etc.
podem vir de Cindeo e Sindimio, nomes de santos, — mesmo
porque Sindimio podia dar Sindinio,
Também Sinde pôde vir de Cinde, região da índia.
«De Badur foi ter á cidade de Por e d'alli... foi ató oCinde.y> *
* Mais uma vez recommendo aos meus poucos leitores a Cfioro-
graphia Moderna, onde no vol. Vi se encontram por ordem alphabctica
todos ou quasi todos os nomes das nossas povoações, incluindo os men-
cionados supra.
- Couio, Década VL
40 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Ad ridendum cf. Chinde, cidade portugueza da Afinca
oriental, na foz do Zambeze.
Chinde e Cinde ou Sinde^ etc, podem ser formas do
mesmo nome, como Changai e Sangai, — Xisto e Sixto, no-
mes de santos, etc.
Também Sendim, Sindim, Sendino, Sindino, Sinde, etc,
— podem vir de Sindus, i, nome pessoal romano.
«Magus vero Sindusque, praefecti Tiburtini, . . . » ^
Em vulgar— «Porém Mago e Sindo, prefeitos .Tiburti-
nos,. . . ))
E* obvio para todos que Sindus, i muito bem podia dar
Sindinus^ i e Sindianus, i, is, unde Sinde, Sindim, Sendim,
Sandim, Sandiães, Sandião, Sendiães, Sendinha, Sendinho,
Sendino, Sandino, etc.
Julgo que nada*mais ó preciso — desculpem a franqueza
— para ser admittido em um manicomio. Entretanto ahi vão
mais alguns dislates meus.
O Sindus — Sindo, de Procopio, também podia dar Sin-
delliis, i — Sindello, como Francus — Franco, appellido e
nome d'um santo, tirado do germânico franlc, — franco o
mesmo que francez, — deu Franca, Francisco e Francisca,
também santos, — Francella, Francello, Francellino e Francel-
Una, nomes pessoaes e appellidos.
Também Marcus — Marco e Marcos, nomes de santos ti-
rados de marcus — martello, deram Mareia, Marciana, Mar-
ciano, Marcella, Marcellina, Marcellino e Marcello, nomes de
santos, etc.
Por seu turno Sindelh^s, i deu ou podia dar Cendello,
aldeia, — Sendello e Sindello appellidos nossos.
Ainda com relação a Sendim, Sendino, Sinde e Sindo,
não posso deixar de transcrever o que diz Couto y Isaza, vb.
Eendesindo, pag. 79.
Refiro-me a uma obra, escripta em castelhano, — uma
das muitas que comprei e extractei, mas que jà não possuo,
porque — se bem me recordo — a dei com os meus caros
verbetes ao meu atávico successor, tantas vezes mencionado
* Procopius, pag. 72.
Procopio chamou Tiburtínos os prefeitos de Tiburtia, hoje Tivoli,
pequena, mas muito antiga cidade dos Sabinos, chamada também Tibur,
por ser fundação de Tiburto, filho de Amphiardo.
De Tibiiriia provém Tibiircío, nome de um santo. Em latim é Ti-
biirtíus o mesmo que Tiburíinus.
TENTATIVA ETÍMOLOGICO-TOPONIMICA 41
— O sr. dr. Joaquim da Silveira, da Anadia.^ —Nem posso
citar o titulo d'ella, porque dei também ao mesmo ingrato
senhor — como chave dos meus verbetes — a indicação das
obras nelles citadas.
Apenas tenho uma vaga lembrança de que a dita obra
era um estudo etymologico interessante, relativo á Colômbia? !.„
O extracto, que por fortuna conservo, diz textualmente
o seguinte: *
«... En un antiguo Inventario de siervos , . , en el qual
predomina el nombre Rudericus ó Rodericus (Rodrigo), bal-
íamos el nombre Rodesindus, y el patronimico Rodezindix. ..
y entre vários exemplos de doble denominacion vemos este: —
Segesinda^ cognomento Sinda.
«Además, hablando Godoy Alcântara dei nombre Ilde-
fonso y dice el mismo autor: — aild, radical que entra en la
composicion de vários nombres góticos : — líderedo, IldegisOj
Ildulfo, Rdesi?ido, ...» — En otro logar nota que el radical
de Árias f patronimico de Ares, conbinando-se con otros teu-
tones, formo Ariamiro, Ariulfo y Aresindo.
«Es, pues, indudable que el elemento Sindo ha sido
nombre jpor si solo, -^ y es mui probable que RudesÍ7ido, sea
uno compuesto de Rude (riz) ó Ru (y) — y Sindo,
«Es tambien de advertir . . . que los nombres terminados
en sindo, además de... Gumersindo y Gumesindo^ Hermesinda
y Hermesinda, hay otros muchos, como Wiliesindo, Adosindo,
Floresindo, Gundesindo, Osinda y Adosinda, Ausinda, Theo-
dosinda, etc. *
«Sindo en aleman significa — que tiene séquito. y>
Findou aqui o extracto e é muito interessante para o es-
tudo etymologico de varias povoações nossas, como os leito-
res vão vêr.
^Ildulfo^ em latim Ildulfus, i, is, deu Adolfo ou Adol-
pho e Adolfina, nomes de santos^ etc. — Adoufe, Dolves e
Doufins, povoações nossas. *
^ V. a pag. 37 supra, e no vol. i. Joaquim da Silveira, no índice.
■ Dou o extracto cm castelhano, porque os meus poucos leitores
entendem bem este idioma, irmão gémeo do nosso.
^ Occorre-me também Tructesindus — Trucfesindo, que deu o
nome a Tortosendo, importante freguczia nossa.
4 Também Ildulfus deu Odulfo, o mesmo que Adolfo, nome d'um
santo, e talvez Ataulfus, i, nome germânico, undc Adaufe, Ufe, Adufe
Casal dÕufe, Casal d' Ufe, Estrada d'Ufc, Villar d'Oufe e Fonte d'Ufe,
povoações nossas.
42 TENTA.TIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Dou fins vem de Adolfinis, patronímico de Adolfiyius^ i —
Adolftno, irmão gémeo de Adolfina supra.
— Ilderedo, em latim é Ilderedus, i, que deu Aldarete,
Aldrete e Aldrêu, povoações nossas.
— Ildegiso pela forma latina Ildegisits, i, is — deu Algé^i
no aro de Lisboa ? / . . .
— IldefonsiJs deu Ildefonso, Affonso e Alonso, nomes de
santos, — Affonsiirij Affonso, Affonsoeiro por Affonso Soeiro^
Aldonsa e Fonxe^ povoações nossas.
Também antigamente se dava o nome Sanio Alifon à
egreja de Santo Ildefonso da cidade do t^orto.
Somma e segue o prolifico extracto.
— Aiosindo e Adosinda, o mesmo que Auzindo e Oxinda,
na minha opinião deram Adosinda e Adosindo, nomes pes-
soaes. — Ouxenda, Oxenda^ Ozende, Oxendo e Zendo^ povoa-
ções nossas ^
Também temos Oende que pôde vir de Zende^ aferese de
Oxende, como Zeiido veiu de Oxendo.
Note-se que g e x trivialmente se confundiram e substi-
tuíram na onomástica portugueza.
Cf. Sargedo e Sarxedo; Tojal ^ Tugal e Taxar por Tojal;
Urge e Urxe; Urjal e Urzal, povoações nossas.
Também temos Varge e Varxea^ que o povo denomina
Varja por Vargea.
Junte -se Varxiella, Varxiellas, Varixellas por Varxiellas
— e Vargellas, povoações nossas também.
Ao mesmo diapasão obedeceiA — Aprigio e Aprizio, —
Brígida e Brixida, — Edwigis e Edwizes, Juxarte e Zuzarte,
nomes pessoaes e appellidos.
Volvamos ao prolifico extracto.
Rudericus ou Rodericus e o seu bárbaro patronímico Ro-
deriquiz, — deram Ruderico e Rodrigo, nomes de santos, —
Ruyy nome pessoal, — Rodrigues^ appellido vulgar, — Castello
Rodrigo, Rodriga, Rodrigo, Rodrigos, Rorigo e Roriz, contra-
cção de Róderiquiz, povoações nossas.
Também deu Ruyz, appellido em Portugal e na Hespa-
nha.
Junte-se Aldeia de Ruins, o mesmo que Aldeia de Ruizf
— Dom Rodrigo, Fonte do Rodrigo, Monte Rodrigo, Padre Ro-
drigo, Vai de Rodrigo e Vai do Rodrigo, etc, povoações nossas.
1 Adosindo é o mesmo que Ildcsindo, mímcionado no prolifico ex-
tracto.—Note-se que o prefixo germ. //, deu trivialmente ai.
TENTATIVA ETV^MOLOGICO-TOPONYMTCA 43
Rodrigo^ era francez Roderic e no baixo latira Rodericus,
vera do teutonico rad — prompto, activo, — ou de rad ou rat
— conselho — e rich — poderoso, rico, — segundo diz Boucrand.
Rodrigo tem, pois, o raesmo prefixo de Rodolpho^ em
francez Rodolphe, também nome d'um santo, mas o suffixo
de Rodolpho é o teutonico vulgar húlf ^ — ajuda, soccorro ;
em celta ulphe; em gaulez, anglo-saxão e inglez help — e era
flamengo hulp — ajuda, soccorro.^ — Veja-se Boucrand.
Rodolpho j no baixo latira Rodolphus i, e Radulphiis, i,
deu Rodolpho, nome d'um santo, — e Raul nome pessoal.
Também Raul, no baixo latira Raulus, i, deu RaulinuSj
i — unde Raulino, Raulim e Rolim, appellidos nossos.
Tarabera Rodolphus, i talvez desse Ral, Rol e Roíife^ po-
voações nossas. — Na onomástica portugueza todas as vogaes
se confundiram e substituiram, pelo que Ral e Rol talvez se-
jara fórraas do mesmo nome.
Em antigos docuraentos nossos tarabera se encontra Ran-
dulphus, ij nome pessoal, que na rainha opinião é o mesmo
que Rndulphus, Rodolphus e Rodolpho.
Note-se que a letra n foi muito caprichosa! — Radul-
phus, sem grande violência podia dar, pois, — Randulphus.
Note-se também que os nomes germânicos na passagem
para o latira e do latira para o portuguez, bera corao para o
castelhano, italiano e francez, — foram barbaramente e cruel-
mente deturpados.
Toraarara fòrraas tão diversas, que por vezes não pare-
cera os mesraos ! . , .
Vide Fõrstmann, que pacienteraente indicou as variadís-
simas formas que na edade média toraarara os noraes gerraa-
nicos.
Randulphus, i, deu Rendolphis, i, e Rendulphus, i —
unde Rande, Randinha, Randinho e Rando ? — Rendol, Rendu-
fas, Rendufe e Rendufinho, povoações nossas. ^
*
* *
Volvendo ao theraa Rodericus — i?oc?n^o — seja-rae licito
1 Esta desinência hulf encontra-se em outros muitos nomes germâ-
nicos.
2 Eni Rendufe, aldeia do concelho de Rezende, tem a sua esplen-
dida casa o sr. conselheiro M. Pereira Dias, que foi reitor da Universidade
de Coimbra, — e é natural de Rendufinho {Povoa de Lanhoso) — o sr. D.
Francisco José Vieira de Brito, actual bispo de Lamego.
44 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
dizer que o mesmo suffixo ri^h — poderoso, rico, se encontra
em outros muitos nomes pessoaes germânicos. Taes são : —
Alarico, Amalarico, Ardarico, Argerico, Ermorico, Frederico,
Fromarico, Genserico, Gunderico, Henrique por Henrico, Her^
menerico^ Honorico ou Onorico, Ilderico^ Romarico, Sabarico,
Theodorico, Wiliarico ou Vilianco^ Viarico^ etc.
Todos ou quasi todos estes nomes deram o nome a dif-
ferentes povoações nossas, como os leitores vão ver.
— Alarico, no baixo latim Alarieus, Alariqui, Alariquiz
talvez desse Ariz^ povoação nossa, — e Amalarico, no baixo
latim Amalaricus, Amalariquiz, talvez desse Amares, — como
Henriquie^ patronimico de Henriciis, deu Henriques, — e Vi-
liariquiXy patronimico de Viliaricus, deu Vilharigues, povoa-
ção nossa.
Também temos Alhares e Alhariz, que tomaram o nome
dos alhos ou de Aliar iquie, pois no diapasão castelhano Alia-
riquiz soa Alhariquiz, unde Alhariguiz e Alharix^t
— Ardarico, no baixo latim Ardaricus, Ardariquiz^ vem
do teutonico hart — corajoso, valente, '— com o suffixo noÃ,
poderoso, rico, e talvez desse Aldariz, Aldrigo e Aldriz^ po-
voações nossas.
Ardarico foi rei dos Getas, como diz Boucrand^ — e julgo
que teve as formas Ilderico e Aldarico .' . . .
Vide Fõrstmann.
— Argerico, no baixo latim Argericus^ Ârgeriquiz, — deu
Arge7'iz, Aljeriz, Algeriz e Aljeruz! ?. . . — povoações nossas.
— Rira hien qui rira le dernier.
Aljeriz deu Aljeruz, porque as letras e e w se confundi-
ram e substituiram na onomástica portugueza — e já no la-
tim por vezes se confundiram e substituiram.
Veja-se o tópico infra — Substituição de letras — q no-
te-se também que em trabalhos d'esta ordem, como já disse-
mos, — a bússola é o ouvido ! , . .
Prosigamos.
— Ermorieo, no baixo latim Ermoricus, Ei^moriquiz, —
pela substituição do r por s — deu Esmorigo, Esmorig^s, Es-
moriz e Esmorins por Esmoriz^ — como felix — feliz, — na
Hespanha deu San Felix, S. Felices, Sanfix e Sanfiz — e entre
nós Sanfins e S. Fins, o mesmo que S. Felix, S. Feliz e San-
fiz. Mas supponho que Ermoricus é o mesmo que Armoricus,
Armoriquiz, unde Almoriz e Armoniz —por Armoriz, povoa-
ções nossas.
A bússola é o ouvido, além de que as vogaes e e a — e as
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 45
consoantes /, w e r trivialmente se confundiram e substituí-
ram, bem como ser,
Veja-se o tópico infra — Substituição de letra.^.
Também supponho que Armoricus é o mesmo que Áre-
moricus — Aremorico ou Aremoricano, — filho ou oriundo da
Aremorica, antigo nome da Baixa Bretanha.
N'este caso, Armorico ou Rrmorico é nome cplta ou neo-
ceítay pois, como já li algures, Armorica ou Aremorica vem
do celta ar ou are - junto de, — em frente de — com o suf-
fixo. . . — inar. * — Armorica, pois, quer dizer — povo marí-
timo ou da beira-mar — e tal é, como a Bretanha, a nossa
importante freguezia de Esmoriz, concelho á^Ooar, que de-
mora ao sul de Espinho, ao longo da beira-mar.
Prosigamos.
Frederico, no baixo latim Frederieus, Freieriquix^ — deu
Frariz, e Flariz, o mesmo que Frariz, — e Frtiriz^ povoações
nossas, — bem como Fradique, appellido hespanhol e portu-
guez — e antigo nome pessoal.
Frederieus, deu Fraderiqui e Fradique na Hespanha,
como Henricus deu Henrique.
Frederico é nome d'um santo, etc.,— e Frederica, nome
actual de mulher.
Note se que Frederico, em francez Fréderic, vem do teu-
tonico fred ou fried — paz, repouso, — e este de frieden — vi-
giar, proteger, defender, — com o suffixo rich — poderoso,
rico, — segundo diz Boucrand.
Fromarico, no baixo latim Fromaricus, Fromariquiz, —
deu Formarigo e Formariz, povoações nossas.
Fromarigo Iben Egas figura em um documento do anno
de 1030.
Veja-se o meu longo artigo Vouzella, no Portugal antigo
e moderno, volume xii, paginas 2:116, — e o Catalogados
Pergaminhos da Universidade de Coimbra, paginas 113, n.° 1.
Iben Egas deu Beniegas e Veniegas, unde Viegas, povoa-
ção e appellido vulgar entre nós.
Viegas é, pois, contracção de Iben Egas e quer dizer fi-
lho de Egas, porque o prefixo Iben é árabe e significa filho.
O mesmo prefixo ainda hoje se encontra em muitas po-
voações nossas. Taes são as seguintes :
^ Com vista ao sr. dr. Joaquim da Silveira, depositário dos meus
verbetes e do meu arsenal etymologico!. . .
Vejam-se as pag. 37 e 41 supra.
46 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Bagauste, contracção e deturpação de Iben Augvsti, pois
na minha opinião Ihen Augusti deu Ben Augusti, Ban Au-
gusti e Banatigusti, unde Bagauste / . . .
A bússola é o ouvido. ^
Junte se Baguaste, povoação nossa também, pois na mi-
nha opinião Baguaste é metathese de Bagauste? ! . . .
Rira bien qui rira le dernier,
— Baldreu — de Iben 4- Ilderedus, i, antigo nome pessoal,
que deu também Aldarete, Aldreu, e Aldrete^ povoações-nossas.
— Baldrigo — de Iben -}- Ildericus, nome germânico infra.
— Bamonde — de Iben -f Bdmundi, patronimico de Ed-
mundus, i, antigo nome pessoal, que deu também Amonde^
povoação nossa.
Junte-se Barrozende — de Iben -\- Rodesindi, patronimico
de Rodesindus, ?, nome pessoal germânico supra, que teve
também a forma Ramisindué, i e deu Ranzendo e Rozendo,
nomes de santos, — Rezenda, Rezende, Rezenta, o mesmo que
Rezenda, — e Rozende, o mesmo que Rezende, povoações nossas.
Rozinda, nome de mulher, pode vir também de Rode-
zinda — ou antes de Rosina, santa, etc.
Note- se que as desinências ina, ino, dos nomes pessoaes
deram muitas vezes inda, indo.
Cf. Armelim, ou Armelino e Armindo.
— Armelina e Arminda.
— Carolina e Carlinda.
— Carolino e CarUndo.
— Carmelinda e Carminda.
— Carmelino e Carmindo,
— Ermelina e Ermelinda.
— Ermelino e ErmeUndo.
— Florina e Florinda^
— Florino e Florindo.
Florina e Florino, — são diminutivos de Flora e Floro,
antigos nomes de santos.
— GaUinda por Gallina — e Gallindo por Gallino, — di-
minutivos de Galla e Gallo, — nomes de santos, etc.
— Junte-se :
Laurina e Laurinda — Laurino e Laurindo — diminutivos
de Latira e Lauro, — antigos nomes pessoaes. La^^ro foi santo.
^ A escala talvez fôssc :
Iben — Agusti — Benaugusti.
Banaguste — Baganuste — Bagauste.
TENTATIVA ETYMOLOGICOTOPONYMICA 47
— Idalina e Idalinda.
— Ido Uno e Idalindo.
— Lucina e Lucinda — foram santos, bem como Lucinio,
quasi Lucino, que deu Lucinda.
Temos finalmente Jiaul, Raulino e Raulindo.
Rosina, o mesmo que Rosinda, nomes de santos, dimi-
nutivos de Rosa, também santa.
*
Volvendo ao thema Ibcn— filho, junte-se Bruzende, po-
voação nossa também, pois é o mesmo que Barrozende,
A ttendite et vidette :
Iben Rosendi — Benrosendi — Barrosendi — Barrozende.
— Banrozendi — Barozendi — Bruzendi — Bruzende ! . . .
A bússola é o ouvido — e note-se que ore muito falso.
Somma e segue :
— Bem Canis — de Ben Canis — filho do Cão, — appel-
lido nobre e antigo de Diogo Cão, etc. ^
— Bemnonis — de Iben + Nonis — filho de Nono^ Nunes
ou Nuno,
Nona, Nonia, Nonna e Nonno foram nomes de santos, ti-
rados do adjectivo numeral romano nonus — nono que deu
também Nonius e Nunus — Nuno, nomes pessoaes, — e Nunes
patronimico de Naus — appellido vulgar, — unde Nunes e
Nuno, povoações nossas.
Também Nonus e Nunus, pela substituição de n e m, ^
deram Mumus, Mumius, Munius, Monius, Moninus, i, Moni-
nius. ii, Monilius, ii, Nonilius, ii, etc.
Por seu turno Mumus, o mesmo que Nunus, deu Muma,
antigo nome de mulher, o mesmo que Nono, e Nuna — e tal-
vez Monas, nome d'um santo, — e Mono, appellido.
Por esta solfa Mumadona e Dona Mnmadona, pleonasmo
de Mumadona por Dona Muma, — a lendária fundadora de
Guimarães ou do riquíssimo convento de monjas e monjes,
que produziu aquella cidade, — é o mesmo que D, Nuna ou
^ Leoncavallo é appellido na Hespanha— e temos differentes nomes
pessoaes e nomes de santos tirados das feras. Taes são : Tigre, Leão,
Urso, Úrsula e Ursino, diminutivo de Urso — o mesmo que Ursulina e
Ursulino, também nomes pessoaes, mas não de santos.
2 Veja-se o tópico infra: substituição de letras.
48 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Nuna Dona — ou D. Muna, que se encontra em Muna, aldeia
nossa! ?. . .
Também Muna recorda Numa, antigo nome romano de
Numa Pompilio, etc, que podia dar Numanus, i, is, — unde
talvez Numães e Numão, povoações nossas, como Lomão por
Numão f . , .
Mumius deu Mumianus, i, is, que se encontra em Mio-
mães, freguezia do concelho de Rezende, pois na minha opi-
nião Miomães é metathese Mumianisf/ , . .
^ A bússola é o ouvido.
Também Mumius deu Muminius, ti, iis, que se encontra
em Moumiz, aldeia nossa.
Monius deu Monia (villa), unde MonJia, aldeia nossa
também.
Por seu turno Moninus, i, is — deu Monim, que se en-
contra em Ponte do Monim, casal nosso, ^ — Moninhas, Mo-
ninho, Moninhos, Monizae Moniz — povoações nossas, — e Mo-
niz, appellido vulgar pela alta cotação do lendário Egas Moniz.
Também temos uma freguezia e varias aldeias com o
nome de Mõe^, tirado talvez de Moniis, patronímico de Mo-
nius, ii — o mesmo que Nonius, ii. ^
Monius deu também Monilius, ii — e Nonius deu Noni-
lius, ii — unde Monelhe e Nunelhe, povoações nossas?!. . .
— Seja tudo pela alma da santa Dona Mumadona e do
meu bondoso e saudoso amigo F. Martins Sarmento.
— Com vista aos srs. Albano Bellino e Abbade de Tagil-
de, — meus bons e velhos amigos, distinctos escriptores e be-
neméritos filhos de Guimarães.
Como estou com as mãos na masssa, direi que Albano e
Bellino foram santos. O nome de s. ex *^ é, pois, formado por
dois nomes de santos — e os leitores talvez conheçam algu-
mas das pessoas infra, cujos nomes são formados por três no-
mes de santos. Eu podia citar muitos — mais de 500 — por-
que já organisei uma extensa lista d'elles.
1 Monini deu Monim, como Severinus, i deu Severino e Severim.
— Augusfinas, i deu Agostinho c Agastem por Agosiim, — Lancfelinus, i
deu Landim e Nandim por Landim, etc.
2 Veja-sc o tópico infra : — Nomes pessoaes tirados dos adjectivos
numeraes.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMTCA 49
Ahi vae uma amostra do panno :
— D. Clementina Rosa Duarte, D. Izabel Perpetua Mi-
quelina, dr. Joaquim Luiz Martha, D. Maria C. Josepha
Isidora, D. Felicidade Perpetua Garcia, D. Aurélia Aurora
Duarte, D. Maria Rosa Felícia, D. Isaura Urbano Marçal
e D, Anna Luiza Margarida Duarte.
Somma e segue.
— António Augusto Pedro, Joaquim Polycarpo Félix,
António Manoel Paulo, Manoel Affonso Duarte, Casimiro
Bento Pio^ dr. Alberto Thomaz David, Francisco José Libó-
rio, Padre Francisco José Patrício ^ distincto orador, escriptor
publico, ex-deputado, etc.
Por ultimo citarei um dos homens mais ricos da anti-
guidade — Cecilio Cláudio Izidoro — em latim Caecilius Clau-
dius IsidoriiSj romano.
Deixou em testamento aos seus parentes — alem d*ou-
tras bagatellas ejusdem fusfuris — 4:116 escravos, 3 :tiOO jun-
tas de bois, 107:000 cabeças de gado lanigero e 600:000 ar-
ráteis de prata, como diz Plínio e se lê no Diccionario Clás-
sico.
Era mais rico do que eu.
Ao meu bom e velho amigo, rev. sr. João Gomes d' Oli-
veira Guimarães, distincto escriptor publico, excellente pes-
soa e muito digno abbade de 7'agilde^ apenas direi que Ta-
gilde, é uma aferese de Athanagíldí, patronímico de Athana-
gildus, i - Athanagíldo, nome godo, que também deu Taínde,
Tangil e talvez Agilde, contracção de Athanagilde, povoa-
ções nossas.
Também temos Cagíl e Cagíde, que podem ser formas
de Tagil e Tágide por Tagílde, pois ca^ co, cu — e ta, to, tu,
confundiram-se e substituiram-se na onomástica portugueza,
como já disse e provei claramente, evidentemente, no primeiro
vol. d'esta Tentativa, pag. 336.
Athanagildí também deu Athaide, Thaide e talvez Ca'
liide por Thaide, povoações nossas?!. . .
Guimarães veiu claramente de Vimaranis, patronímico
de Vimaranus, i, nome germânico.
Também temos Gomarães e Gumirães, talvez formas de
Guimarães —çi podem ter a mesma etymologia Gomares e
Gomariz, por Gomarins {?) — de Gomarínis, patronímico de
Gomarinus, i, o mesmo que Vimarinus, í, pois Vi ou \Vi em
nomes germânicos deu gui.
Cf. Guilherme, versão portugueza de Wilhelm, nome
50 TENTATIVA ETYMOIX)aiCO TOPONYMICA
germânico, — e Wiliamirus ou Viliamirus, i, nome germâ-
nico também, que deu Guilhamil, Guilhemil e Guilhomil, po-
voações nossas.
E talvez que Vimaramis, i tivesse também a forma Vi-
waredus, i, unde Guimarei, povoação nossa. ^
Vimaranufs e Vimarinus ou Vimaremis, i, parecem di-
minutivos de Vimarus, i, que por seu turno deu ou podia
dar Vimara {villa, — granja, quinta, ou casa de campo) —
hoje Guimara, aldeia nossa, — como Fegulus, nome d'um
santo, deu Regula vtlla — hoje a formosa villa da Régua.
Os nomes germânicos na passagem para o latim — e do
latim para o francez, hespanhol e portuguez — foram barbara
e cruelmente deturpados, como já dissemos.
Tomaram por vezes formas tão estranhas, que nem pa-
recem os mesmos!...
* *
«
O sábio allemão Fõrstmann indicou muito pacientemente
e muito conscienciosamente, grande parte d'aquellas variadís-
simas formas em uma obra muito interessante, que eu já li
e extractei, mas que infelizmente agora não tenho á mão.
Dignou se emprestar-ma o nosso bom amigo, sr. dr.
Martins Sarmento e deve encontrar-se na bibliotheca da So-
ciedade Martins Sarmento, em Guimarães.
A Bibliotheca Municipal do Porto não possue a dita
obra, o que lamento, pois é indispensável para esta ordem
d'estudo, mormente com relação á etymologia dos muitos
nomes das nosssas povoações, tirados de nomes germânicos.
Alli deve encontrarse com as suas variantes o dito nome
Wimarus^ Wilmarus ou Viniaruf:, — e os seus diminutivos
supra — Vimaranus e Vimarinus, /, is, que deram Guima-
rães, Gomarães, Gumirães e talvez Gomares, Gomariz — e
Guiomar, nome d'uma santa, etc. ^
* Cf. Ildcrcdus c Wilftcdus, í, Afredo, nomes .s^crmanicos.
- Nos meus sanloraes encontram-se Gumarc, Gummaro, Ul-
maru, Vuímaru, Wlnmru e Wulniaro, nomes de santos que - na minha
opinião são formas do mesmo nome, bem como de Vimarus, Wimarus e
Wilmarus.
Também na minha opinião — Gumaro, em latim Cumarus, i, podia
sem violência dar Gumaranus, i, is, — Gumarinus, i, is, — e Gumiranus,
i, is unde talvez Gomares, Gomariz, Gomarães e Gumirães, metathese
de Guimarães ? !. . .
Valha-nos o santo Fõrstmann /, . .
TENTATIVA ETYMOLOOICO-TOPONYMIOA 61
Ao sr. abbade de Tagilde, benemérito filho de Guima
rães, rogo a fineza de verificar.
AUi deve encontrar se também Wiliamirus ou Víliami-
ruSy i, que deu Guilhamil, Guilhemil e Guilhomil ; Cazimi-
riiSj /, que deu talvez Creixomil^ freguezia de Guirnarãejf, —
Casmillo^ (luelvomil e Qnhromar por Qnixomiro^ povoações
nossas.
A bússola é o ouvido — e os leitores não se espantem,
porque a desinência nnrus, i, dos nomes germânicos na ono-
mástica portugueza deu mil e mar.
Cf. Leodomirus, i que deu Leonnl e Lo mar ; Theodomi-
rus, i, que deu Theoniil e Thomar ; Gunthimirtis, i, que deu
Gondomil, Gontomil, Candem/l, {terra, natal do snr. conselheiro
António Cândido, etc.) — Candomil, Conttimil, Contumillo — e
Gondomar"? I ...
— E' assim a arte nova. Eu sympathiso com ella, mas —
hahet dentem coelhi! . . .
Prosigamos.
Na mesma obra do sábio allemão Fõrstmann se deve qx].-
contra-r Randulphus, i, que deu. Haul, Nendol e fíol, povoações
nossas, — Hendufe e Ronfe^ povoações do concelho de Gui-
marães, — e RendufinhOy diminutivo de Rendufe.
Também alli se deve encontrar Sezinandus ou Sizenan-
dus, iy que deu ou podia dar Senande, Sernande e Sande, ou-
tra freguezia do concelho de Guimarães.
Lá se deve encontrar também Athanagildus, i, que deu
Athaide, Thaide, Cahide, Tagilde, etc, — e Veremundus, i,
que deu Bermudo, nome pessoal, Bermndes, patronimico de
Bermtfdo, — e Veremundinus, 2, que deu Vermoil ou Vermil
— e Vermoim, outra freguezia de Guimarães — ou Gumi-
rães I . . .
Lá deve encontrar-se também Segifredns ou Slgifrediis,
i, que deu Jesufrei, povo e freguezia do concelho de Fama-
licão, limitropho e visinho do de Guimarães. Supponho que
a mencionada freguezia de Jesufrei no século xiv se deno-
minava Cigoffreij.
Refiro mo a um interessante documento da Collegiada de
Guimarães, publicado pelo snr. abbade de Tagilde, sob o n.<>
89, na Revista de Guimarães, volume xxiii, pag. 17.
No citado documento da era 1389 — anno 1351 — a 1.^
testemunha foi Vnasco Lourenço, abbade de Cigoffreij.
52 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Na minha opinião, pois, Segifredus ou Sigifredus, i —
deu Jesufreij Clgoffrei e Guilhofrei, povoação nossa tambeni.
Mas — dirão os leitores — como podia Sigifredi dar Gui-
lhofrei ?
Lá vamos.
Sigifredi sem grande violência deu Cigoffrey por Sigof-
frey. Por seu turno Cigoffreij deu ou podia dar Guilhofrei^
pois íia edade média ci e Jci ou qui substituiram-se e confun-
diram-se na onomástica portugueza.
Cf. Jeguinte e Jeguintes, povoações nossas, por Jaguinte
e Jaguintes, formas de Jacinthi, Jacinfhis, por Hiacinthij is,
patronímicos de Jacinthus, i, que se lia JaMnfhus, i. versão
do grego — Hyaldnthos — Jacynfho, nome d 'um santo, etc.
Jacinthi, Jacinthis, que soavam Jaquinthij Jaqtdnthis,
deram, pois, sem violência Jaguinte^ Jagnintes, — Jeguinte e
Jeguintes.
Note-se que Jacintho, nome pessoal, vem do grego hya-
Jcintos — íiôr e pedra preciosa ; em italiano Jacinto e giacinto ;
em catalão jacint q jacinto ; em hespanhol Jadw^o; em fran-
cez hyacinthe e em ^ortwgWQz jacintho.
Note-se também que ainda no século xi entre nós, em
vez de Jocintho, escrevia-se Jaquinto.
«... ego marcela una cum filliis méis iaquinto et froia
placuit miei. . . ut faceret tivi afilliata mea lemjjede sicut et
facio cartula donationis de omnia ereditate . . . »
Documento do anno 1043 ^
Em vulgar: — «Eu Alarcella, juntamente com os meus
filhos Jacintho e Froia ou Froila, * muito espontaneamente
faço a ti, Lempeda (ou Lamjmda?), minha afilhada, doação
de toda a herdade ...»
Do exposto se vê que Jacinto no século xi era Iaquinto
ou Jaquinto — e que o termo afilhada vem do baixo latim
afilliata, como afilhado de afilliatus.
* Portugaliae Monumenta — Diplomata et C/zor/ae, pag. 200, n."
328.
2 Este nome foi vulgar na península e deu Fruela, Froiíanus, i, is,
e Froilaz, unde Forjão, Forjães, Froes e Froia, povoações nossas, — e
Forjaz, appellido de alta cotação em Coimbra no meu bom tempo.
Forjaz é o mesmo que Froilaz, patronímico de Froíla ou Froia,
que deu também Faroia, appellido.
TENTATIVA KTYMOLOGTCO-TOPONYMICA 53
Proseguindo com o thema ci por 7d ou qui, também te-
mos uma povoação com o nome de Joazím por Joacim — e
este por Joaquim.
Sarraquinhos por Sarraquinos — e este por Sarracinos —
sarracenos.
— Serranchinos, que se lê Serranquinos^ o mesmo que
Sarraquinos e Sarracinos, supra;
— Sarrazim e Serrazim por Sarracim^ o mesmo que
Serraqtãnij povoação nossa também.
Junte-se ainda :
— Ancião e Anquião.
— Cimbres e Quimhres,
— Cínico e Quinico.
— Cintas e Quintas.
— Sintião e Quintião — povoações nossas. ^
Do exposto se vê que na onomástica portugueza ci e ki
ou qui se confundiram e substituiram.
Também se confundiram e substituiram ca ou ka, Icè ou
qué^ ki ou qui, kó ou co, cu ou A'?í — e gá, gué, gui, gó, gu.
Também no diapasão castelhano igo por vezes corres-
ponde ao portuguez ilho.
Cf. o hespanhol higo — entre nós filho — e mijo (lê-se
migo) — entre nós milho, etc.
Note-se que Portugal foi um cantão da Hespanha,
Cigroffrei podia, pois, dar Quigofrei, Quilhofrei e Gui-
Ihofrei.
A escala é : — Sigifredus — Sigifredi — Sígofredi — Ci-
goffrey — Quigofrei — Quilhofrei — Quilho frei ? f . . .
Para atesto do casco ainda direi que Sigifredus — Sigifrê-
do — também deu Safrêdo, povoação nossa, — e tíegefredi,
antiga povoação nossa também, — o mesmo que Jesufrei,
Cigoffrei e Quilhofrei.
Carta de villa segefredi,
Portugalíce Monumenta — Diplomata et Cartae — n.« 49,
Livro de Manunadona, — documento do anno 10Õ7.
Valha-nos o santo Fõrstamnn I . . .
1 Junte-se também Recião, Reguião, Requiães e Requião, povoa-
ções nossas, que na minha opinião tomaram o nome de Riquilanus, i, is,
diminutivo de Riquila, nome germânico pessoal,
Com vista ao meu atávico siiccessor,— o snr. dr. Joaquim da Sil-
veira, da Anadia, ao qual dei os meus caros verbetes e o meu arsenal
etymologíco, porque ao tempo mal o conhecia !. . .
54 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
*
* *
Como bem ou mal expuz, Guílhofrei pode vir de Sigi-
fredus, i, pela forma Cigoffrei, mas, para descargo de cons-
ciência, ainda ouso propor uma outra etymologia de tão es-
tranho nome.
Os meus poucos leitores e os mesmos typographos e re-
visores vão dar ao diabo a cardada!...
— Gidlhofrei pôde vir também de Wilifredi, patronomico
de Wilifredus, i, o mesmo que Walfridus, Wllfredus e Al-
fredo^ nomes pessoaes germânicos e nomes de santos.
Wilifredus , i, podia dar Guilhofrei, como Willihaldus^ i
deu Willibaldo, Villebaldo e Vivaldo, nomes de santos, —
Vivalvo por Vivaldo — appellido, — Guilhovai, povoação nossa
— bem como Guilhoveis por Guilhovais^ — de Willibaldis, pa-
tronomico de Willibaldus, i.
Também pelo mesmo diapasão Wilifonsus, o mesmo que
Ildefonsus, Alfonsus e Affonsus, i, — Affonso, nomes de santos,
deu Vilefonso, antigo nome pessoal, — GaUfonxe, Guilhafonce
e Guilhafonso, povoações nossas.
Guilifonxi, o mesmo que Wilifonsi ou Vilifonsi encon-
tra-se em um documento do século xiii. ^
Vilifonso test. — encontra-se no Porta galiae Monumenta
em um documento do anno 1043. ^
Ilefonso é nome d\im santo e uma das muitas formas
de Ildefonso e Affonso^ nos santoraes hespanhoes.
«...gracias a san Ilefonso^...» —diz Covarriihias, vb. Leo-
cadia.
Willifonsus ou Ildefonsus deu também Alonso e Alifon,
nomes de santos.
A egreja de Santo Ildefonso (Porto) representa a velha
albergaria de Santo Alifon, o mesmo que Santo Ildefonso.
Também temos Walahonso e Valabonso, antigos nomes
pessoaes e nomes de santos, que talvez sejam formas de Va-
la fonso por Vilefonso, o mesmo que Ildefonso!...
Note-se que v. e f. confundiram-se e substituiram-se, —
bem como v. e /;. — /, eu. — il e ai, etc.
1 Nova Malta, ii, 79.
' Dipl. et Cliartae, pag. 199, n.o 326, — ibi.
Também na Memoria de Leça do Balia, pag. 85, col. 2 a — em um
documento do anno 1021— se lê... hereditaíe que fuit de Domno Vili-
fonso ...»
TENTATJLVA KTYMOLOQICO-TOPONYMICA 55
NÓS também temos Vai de Affon.so, aldeia, que talvez
seja uma forma de Valahonso ou ÍValabonso, o mesmo que
Affonsof
Também temos Valdoseiide, outra povoação, que podia
tomar o nome de Valle-^Zendo, povoações nossas também,
— ou antes de Wildesindas, ^, nome germânico pessoal que
deu Adosinda e Adosindo^ nomes actuaes, — e Alduzínda, po-
voação nossa, — de Wíldosinda villa — granja, quinta ou casa
de campo de Wlldosindo, o mesmo que Aldosindo e Adozindo,
*
(iuilhofrei pôde vir, pois, de Wilifridus, i, o mesmo que
Walfridus, Wilfredus, Wilfredo e Alfredo , nomes germânicos
e nomes de santos.
Boucrand diz que Alfredo vem do teutonico ai — todo
ou muito — e fred ou frled — paz, repouso, — significando
Alfredo — homem de génio muito brando, muito doce, — três
paisible.
Também diz que Alberto, vem do teutonio ali — todo, in-
teiramente, muito — e bert ou be7'th ou brecht ^ — illustre. Si-
gnifica, pois, Alberto — homem muito illustre^ muito nobre.
— Com vista ao meu bom e velho amigo desde «s seus
mais tenros annos — o snr. Alberto Velíoso de Araújo, distin-
cto escnptor agrícola.
* *
O prefixo á'' Alberto e à^ Alfredo é, pois, — segundo Bou-
crand, sábio etymologista francez, — o teutonico ai ou ali.
Eu concordo, mas, posto que nada sei d^allemão e menos
ainda do teutonico ou antigo allemão {?), — supponho que o ai
ou ali em questão teve as formas il e wil, — illi q wili, — ild
e icild^ — ildi e icildi, que na passagem para o latim e do la-
tim para o portuguez, por não haver n'estes dois idiomas le-
tra correspondente ao doble u ou. v — IV — teutonico, ger-
mânico ou allemão, — deram entre nós ai, valy vil, gal, gual,
guily gil, etc.
Assim Alberto na minha opinião (muito atrevida é a
1 Aqui temos nós a etymologia de Bertha, nome pessoal, — e de
Bret, Breite, Brect ou Brecht, appellidos nossos.
56 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
ignorância!...) — teve a forma anterior Walhert ou Wilhert^
— unde Wilberius^ Alberto, Gilberto e Gualberto, o mesmo que
Alberto, nomes de santos, etc.
Albert podia ter as formas Walbert e Wilbert, como Al-
fredo, em francez Alfred, teve as formas Walfred, Walfrid,
Wilfred e VPilfrid supra.
Também Walbert deu ou podia dar Gualberto ^ como. íFaZ-
ter deu Gualter, Gualtar, Gaitar, Baltar, Valter, etc.
Por sou turno Wilbertus deu ^Wilibertus e por metathese
Wilibretus, unde talvez Wilibredo, Guilhabredo e Guilhabreu
por Guilhabredo, povoação nossa.
A bússola e o ouvido.
* *
Também Wilifredus, i, supra, que deu ou podia dar Gui-
Ihofrei, como já dissemos, podia também dar Guilhafredo,
Guilhabredo e Guilhabreu por Guilhabredo^ pois f. b. e v,
confundiram-se e substituiram-se, como logo provaremos.
Note-se que 2vi deu gui — e tcili deu guilha e guilho.
Gf. Guilhafonxe, Guilhafonce e Guilhafonso, menciona-
dos supra, —formas de Wilifonsus, e,— e Guilhovai de Wili-
baldi, como já dissemos. — Assim também Wilifredus ou Wi-
libredus, i, podiam dar Guilhofrei e Guilhabreu,
Também Wiliulphus, i, nome germânico pessoal, — deu
Galhufe e Guilhufe, povoações nossas.
Wiliulphus vem do teutonico ivil ou icill, o mesmo que
ai ou ali supra, — todo, muito — e hulf — ajuda, soccorro,
— o mesmo que o celta ulphe — - soccorro também, como diz
Boucrand. ^ *
O mesmo suffixo teutonico e celta hulf ou ulphe se encon-
tra em outros muitos nomes germânicos. Taes são Atliaul-
phus, i, que entre nós deu Adolpho, Adoufe, Adufe, Dolves,
Adaufe, etc, povoações nosaas; — Ricuíphos, i, que deu Re-
gou fe e Regufe, povoações nossas também; — Landulphus, i^
que deu Nandufe por Landufe, aldeia, freguezia e titulo de
condado ; — Randulphus, i, que deu Rendufinho e Rendufe,
titulo de viscondado, etc.
*
* *
* Do exposto se vê ou parece aos profanos ver — que o celta e teu-
tonico são irmãos gémeos?!». .
TENTATIVA KTYMOLOGICO-TOPONYMICA 57
O prefixo de Riculplins^ i, é o teutonico rlch ou reich \
— rico, poderoso, que se encontra em outros muitos nomes
germânicos. Taes são Ricardo [rich ~ rico — e hard — ousado),
em latim Ricardus e no baixo latim Ricáredus e Recarédus,
i — unde Recarêdo, nome godo, e Recarei {Recaredi villa), po-
voação nossa.
Quer, pois, dizer Recarei— granja, quinta ou casa de
campo de Recarêdo ou Ricardo.
O mesmo rich — poderoso, rico — se encontra como pre-
fixo em Richmond, nome germânico pessoal, que em latim
deu Richemondu.s, /, unde Recamonda, Recamonde, Recamun-
de, Resamonde, Rica Monte e Rocamonde^ povoações nossas.
Também Richmond pela forma Rigmond ou Reigmond
talvez desse Raijniundo, nome d'um santo, — Reimonda, Rei-
mondè e Reimondinho, povoações nossas. ^
O suffixo de Richmond é o teutonico miind — homem.
Ray mundo quer pois dizer rico homem.
O mesmo prefixo de Richmond^ etc, se encontra como
sufflxo em outros muitos nomes germânicos pessoaes. Occor-
rem-me os seguintes : — Aliar ico, Amalarico, Ardarico, Arge-
ricOj Ermorico, Frederico^ Fromarico, Genserico, Henrique, Ho-
norico, Ilderico, Romarico^ Sabarico, Theodorico, Williarico ou
Viliarico, Viarico, etc.
Todos estes senhores deviam ser pessoas ricas, poderosas,
importantes, como dizem os seus nomes, — e todos viveram
neste cantão da peninsula, onde foram proprietários.
— Na falta d'outros documentos, assim o provam as nos-
sas muitas quintas e povoações por elles fundadas ou restau-
radas, pelo que tomaram d'elles os nomes.
Já indicámos algumas, que tomaram o nome de AUarico,
Amalarico, Ardarico, Argerico.^ Ermorico, Frederico e Froma-
rico. Vamos agora indicar outras que tomaram o nome dos
restantes fidalgos supra.
* *
Genserico, no baixo latim da edade media Gensericus,
Genseriquiz, não deu o nome a povoação alguma nossa, por-
que Genserico foi rei dos Vândalos, — o povo mais ferino e
1 Note-se que já em teutonico — / deu ei, como em porlugucz.
Veja-se o tópico infra: — Substituição cie letras.
2 Vide Regulus e Richenwnd em Boucrand.
58 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
mais bárbaro entre os bárbaros do norte que invadirara a íles-
panJia no século v.
Matavam, incendiavam e destruiam por prazer. Não cons-
truiam nem fundavam povoações.
Além d 'isso os Vândalos foram na sua maior parte para
a Andaluzia, que tomou d'elles o nome, como já dissemos i;
— d'alli passsaram para a Africa — e da Africa para a Itá-
lia, etc.
Pouco tempo se demoraram n'este cantão da Lusitânia
e n'elle só deixaram luctuosas recordações, pelo que d'elles
e particularmente do seu chefe Genserico nenhuma das nos-
sas povoações quiz tão detestado nome. Também o não en-
contro no meu Diccionario General de los pueblos de Espana
' — nem nos meus sanforaes.
Genserico, em francez Genséric, — vem do allemão ganz
—p ganço, ave — e rich — rico. Genserico significa, pois, — rei
das aves ou rico em aves, como diz Boucrand.
Gunderico, no baixo latim Gundericus, Gunderiquiz — deu
Gondariz, Gondoriz, Gontariz por Gondariz, Contriz por Con-
toriz, — este por Condoriz — e este por Gondoriz, povoações
nossas.^.'. . .
O prefixo de Gunderico é o teutonico gund — guerra,
que se encontra em outros muitos nomes germânicos. Taes
são os seguintes :
— Gondebald — gund e bald ou bold — ousado, corajoso,
— unde o inglez bold, — o italiano baldo, — o anglo saxonico
bald — e o franco baldo e paldo — atrevido,, ardente^ ousado.
Significa, pois, Gondebaldo — atrevido, ousado na guerra;
— valente capitão.
Um ou mais senhores d'este nome viveram em Portugal,
pois Gondebaldo, em latim Gondebaldus, i, com certeza deu
Gondivau por Gondibaldo, — Gondivão por Gondiváo, — Gon-
devae e Gondivae por Gondibaldi, — Gondivinho por Gondi-
baldino ou Gondibaldinlio, — e Gondivenho por Gondivinho,
povoações nossas.
Também temos Gondifellos e Gondifellinhos por Gondi-
vellos e Gondivellinhos, — e estes por Gondibaldellus e Gon-
1 Os Vândalos no baixo latim eram denominados Wandalí, pelo
que a Betica se denominou Wandalicia e Wandalucia, unde o castelha-
no Andalucia — em portuguez Andaluzia.
TENTATIVA KTYMOLOOTCO-TOPONYMir A 59
(//haldillit-s ou GondihaldinoH, como Gondivenhos e Gondivi-
nhoa, diminutivos de Gondihaldns?
Note-se que v e /* se confundiram e substituiram, como
logo provaremos á saciedade, pelo que Gondícellos e Gondi-
veUinhos sem violência deram ou podiam dar Gondifellon e
QondifelUnhos. ^
*
* *
O mesmo prefixo gund se encontra em Gundisalvufi, i, is,
que deu Gonçala, Gcncalinha, Gonçalo, Gonçalves, Gondizal-
.ves, Goncalvlnho, Gon(;alvinhos, — Gonça por Goncala í —
Gonce por Gonçale ? — Gonchiha e Goncinho por Gonçalinha
e Goncalinho, — povoações nossas.
Gonçalo é também nome d'um santo, natural de Tagilde^
no aro de Vizella, e domiciliado em Amarante, onde — com
o prestigio do seu nome e da sua grande virtude fundou o
magestoso convento de S. Gonçalo, núcleo da formosa villa
d'Amara7ite.
Com vista ao meu illustrado e muito considerado colle-
ga — João Gomes d'OUveira Guimarães — abbade de Tagilde
supra, — meu bom e velho amigo desde o tempo em que
bem ou mal escrevi a continuação do Portugal antigo e mo-
derno.
Forneceu-me s. ex.* muitos apontamentos para a dita
obra, nomeadamente para os três artigos Vizella, pelo que
mais uma vez lhe beijo as mãos agradecido.
Eu já dei a etymologia de Tagilde, que na minha opi-
nião é a mesma de Tangil, Athaide, Thaide e talvez Gahide,
etc, povoações nossas.
Também na minha opinião Amarante vem de Jimaran-
thíís, i. nome grego d'um santo,, tirado de amaranthos —
immortal, perpetuo, duradouro, — que não murcha, não enve-
lhece.
Amarantho é, pois, uma synonymia de Perpetua e Per-
petuo, também nomes de santos.
V. o Santoral hespanhol, de Barcelona,
Volvendo ao thema gund — guerra, — ainda diremos
que elle se encontra ôomo prefixo em Gunthimirus por Gun-
^ Vide Gandulphos infra.
— E' assim a arte nova !• .
60 TENTATIYA ETYMOLOGICOTOPONYMICA
dimirus, i, nome germânico pessoal, que deu, como já disse-
mos Candemil, Candomil, Contumil^ Contumillo, Gondomar,
Gondomil, Gontomíl, Gondar por Gondomar^ etc, povoações
nossas.
Também se encontra como prefixo em Gundesindus, i,
que por seu turno deu Gondesende, Gozandina, Gozende^ Go-
zendes, Gozendinho, Gozendo, Gozundeira e talvez Guizande
por Gondisdnde, povoações nossas.
Junte- se também Gandulphus por Gondulphus, i, que
deu Gandufe, Gondufe, Gondufo, Gonfão, por Gondufão, —
Gundufe, — e Gunde, por Gundufe, povoações nossas.
Também Gandulphus e Gondulphus, i, — pela substitui-
ção trivial de i e ^í — deram ou podiam dar Gundifellus e
GondifeUus, i, unde talvez Gondifellos e GondifelUnlios supra.
E por contracção — Gandifellí deu ou podia também dar
Ganfei e Gaveí por Gafei, povoações nossas.
Mas Gavei talvez provenha do Gavedi por Ga fedi, —
este por Gafeti — e este por Japhethi, patronimico de Ja-
phethus, i, latinisação barbara de Japheth, nome biblico.
* *
Note-se que ja, jo, ju pelo diapasão callaico por vezes
deram ga, go, gu e ca, co, cu.
Assim temos nós Malhada e Maçada por Malhada, o
mesmo que Majada (soa Magada), nome de varias povoações
da Hespanha.
Temos também* Penamacor, o mesmo que Penamaior,
do latim Penamajor, no diapasão callaieo Penamagôr, quasi
Penamacor,
Também Japheth pela forma Japhetus, i, lendo-se Ga-
phetus, i, — deu ou podia dar Gafete, Caféde e Bem-que-fe-
de (?!...) — por Iben ou Ben Japheth {Gafei ou Ca^fet) —
filho de Japhet — povoações nossas.
Veja-se o tópico Ihen, infra.
O mesmo Japheth deu ou podia dar Caféo, povoação
nossa também.
A escala seria :
— Japheth — Jafetiis — Gafetus — Cafetus — Cafedus —
Ca fedo — Caféo ?
Nós também temos Chafé, aldeia (?!...)— nome estra-
nho, que hoje se lê Xafé, mas talvez que outr'ora se lesse
TENTATIVA ETYMOLOGICO TOPONYMICA 61
Café^ pois cArt, che, chi cho já valeram e ainda hoje em al-
guns termos nossos valem Ârí, ke, ki, ko, *
Em ambos os casos — Chafé pôde vir também de Ja-
pheth, como Ca fede — quasi Café^ supra, — dado que Chafé
se lesse Café,— e mesmo lendose Xafe\ porque Já também
deu .Trt na passagem do castelhano para o portuguez.
Cf. Xavier — na Hespanha Jacier.
Também temos Jarroeira e Charoeira por Charroeira, o
mesmo que Jarroeira, — abundante em jarros, — planta bem
conhecida.
«Mas — dirão os leitores — que relação tem a onomás-
tica portugueza com o hebraico ?
«Você com a monomania etymologica até se lembrou de
ir buscar á Bihlia o pobre Japheth para — na falta d'outra
melhor — nos dar a etymologia de Gafete, Caféo, Ca fede,
e Bem-que-fede, o mesmo que fede hem ou cheira muito
mal! . . .
«Efíectivamente já fedem bem ou cheiram mal tantos
dislates da sua exótica Tentativa er^/mologica.»
Será assim^ mas não se espantem os timidos leitores,
pois temos na onomástica portugueza muitos nomes de povoa-
ções tirados de nomes hebraicos.
Isto é facto, como logo provarei.
Note-se que os judeus ou hebreus — povo antiquissimo e
nebulosissimo d'alta cotação mundial — abundaram em Por-
tugal desde os principios da nossa monarchia, sendo muitos
d'elles grandes proprietários e grandes capitalistas, muito
atilados, muito trabalhadores, muito illustrados, muito ver-
sados em finanças e negociantes de grosso trato.
Por todas estas considerações não faltou quem censu-
rasse nem falta ainda hoje quem censure a barbara expulsão
d'elles por D. Manoel, em Portugal, e pelos reis catholicos,
na Hespanha.
Os judeus abundaram em Portugal e na Peninsula desde
a sua dispersão posterior á morte de Christo.
Abundaram mesmo em tempos muito anteriores desde a
conquista e destruição de Jerusalém por Nabuchodonosor, rei
1 Vejam-se no i. vol., as pag. 303 a 305
62 TKNTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
OU imperador da Bahjjlonia, — muito antes do nascimento de
Christo — como já li algures
Note-se também que os fenícios, como diz Herculano, —
o'ccuparam a maior parte da Peninsula em temijos antenores
a Homero? /. . . ^
Pôde até dizer-se que os fenícios foram contemporâneos
dos celtas e conviveram com elles, pois Herculano deu aos
turdtdos, povo antiquissimo da Hespanha e da Lusitânia^ o
nome de ceifo- fenícios. ^
Do exposto se vê que os fenícios viveram entre nós
desde tempos muito remotos e, como já dissemos — elles
eram amigos inseparáveis, dos chaldéos — e uns e outros
— eram judeus! . . .
Todos sabem que os árabes, quando invadiram Portugal
e a Hespanha no século vni, traziam comsigo numerosos
contingentes dos povos que haviam conquistado, — nomeada-
mente egt/pcíos, mouros e judeus, — e que muitos d'estes se
conservaram em Portugal até o fim da reconquista no sé-
culo XIII.
Conservaram-se mesmo depois da reconquista, muitos
d'elles em bairros próprios, denominados mourarias e judia-
rias.
Do exposto se vê que os judeus abundaram na Penín-
sula e em Portugal desde tempos muito remotos, pelo que não
admira que tomassem d'elles o nome varias povoações nos-
sas.
Ahi vae uma lista d'algumas:
Domes de pouoações portuguezas tirados de nomes
hebraicos
— Abraã, Abraã Grande, Abraã Pequena, Ahrahão,
Abram e Abrão - de Abrahão nome hebraico^ mencionado
mais de 150 vezes na Bíblia com as formas Abraham e
Abram.
— Agares, duas aldeias.
1 Veja-se o i vol., paj^. 63, etc.
2 Vol. I, pa.8;. 107.
TENTATIVA ETYMOLOíJICO TOPONYMICA 63
De Agar, nome bíblico, -— ou de Arjarenh, patronimico
de Ágarenns, /, — filho ou descendente de Agar.
— A llus — ou LogíO' de JIus, — aldeia.
De liuff, nome bíblico pessoal e geographico,
— Assares e Assarias.
De Azarias, nome hebraico, mencionado na JUblia mais
de 50 vezes e que no diapasão hespanhol deu Assarias, na
falta do z sibilante.
— Balthazar.,. quinta, etc.
' De Jialfhasar^ nome hebreu^ mencionado na Bihlia 17
vezes.
— I^arrahãs o liarraheis — dififerentes povoações.
De Barrahhas, nome bíblico.
Barrabeis ó plural de Jiarrahás.
— Belchior — aldeia, casal, quinta, etc.
De Belchior ou Melchior, nome hebraico?
— Esther, Esther de Baixo, Esther de Cima e Parada de
Esfher.
De Esfher, nome hebraico, mencionado na Bihlia 34
vezes.
— Ezequiel, Ezequiel de Baixo e Ezequiel de Cima,
De Ezechiel, nome hebraico, mencionado na Bihlia õ
vezes.
Gabrieis, Gabriel, Gabriella e Gahriellas, — difíerentes
povoações nossas.
De Gabriel, nome hebraico, mencionado na Biblia 4 ve-
zes.
— Golias — casal nosso.
De Goliafhasf, nome hebraico, patronimico de Goliath,
mencionado na Biblia 8 vezes.
Gove, aldeia e freguezia, — e Joiíve — aldeia.
De Job, nome hebraico, mencionado na Biblia cento e
tantas vezes.
— Joaves — aldeia nossa.
De Joab, nome hebraico, mencionado na Biblia mais de
100 vezes.
— Jagaz, povoação nossa.
De Joachaz, nome hebraico,, mencionado na Biblia 24
vezes.
— Jacob — casal, quinta, etc.
De Jacob, nome hebraico, mencionada na Biblia mais de
300 vezes ? ! . . .
— Também temos Gajove, quinta, — metathese de Ja-
64 TENTATIVA ETYMOLOaiCO-TOPONYMICA
gove por Jacobe, — de Jacohi patronímico de Jacçhus, i, lati-
nisação do hebraico, lácoh — Jacob.
Somma e segue.
Jaca e Jadão por Jagão — povoações nossas.
De Jacan, nome hebraico, mencionado na Bíblia duas
vezes — e mais uma com a forma Jaclian.
— Joaquim..., — Joazim por Joacím, antiga forma de
Joaquim j — e Joarim por Joadm, o mesmo que Joacím por
Joazim, povoações nossas.
De JoachiUy nome hebreu, que também teve as formas
Joacim e JoaMm, mencionado na Bíblia 11 vezes.
— Jalles, appellido, — e
— Alfarella de Jalles, povoação nossa.
— De Jalelis, patronímico de Jalelus, z, barbara latini-
sação de Jalel, contracção de Jalaleel, nomes hebraicos men-
cionados na Bíblia, — bem como Jala — Jaleleel — e Jalelítae
--Jalelitas, o mesmo que Jalles^ tribu formada pela familia
supra.
De passagem diremos que as nossas povoações denomi-
nadas Alfarella, Alfarella de Jalles e Alfarellos, aldeia, fre-
guezia e estação do caminho de ferro do Norte^ de Torres e
da Figueira, — tomaram o nome do castelhano alfarevo —
oleiro, fabricante de louça.
O mesmo alfarevo na Hespanha deu alfareria — olaria,
fabrica de louça, como diz Valdez. ^
A Hespanha não tem Alfarella nem Alfarelíos, — Alfa-
rera nem Alfareros, — mas tem Alfar, Al fará, Al farda, por
Alfaraf ~ Alfaro e Alfareriasl...
Volvendo âs nossas povoações que tomaram o nome de
nomes hebraicos, ainda mencionaremos mais algumas. Taes
são :
— Judas, Judeu, Judia e Judias, — casas, quintas, etc.
De Jtida o mesmo que Judas, nome hebraico, mencio-
nado na Bíblia mais de mil vezes.
Do mesmo Juda ou Judas tomou o nome a Judéa, em la-
1 Com vista ao rev. parocho d'Alfarcllos e a todos quantos d'ora
avante passarem na linda estação dos alfareros ou Alfarellos.
TENTATIVA ETYMOLOGlCO-TOrONYMICA 65
tim Jiidaea, mencionada na Biblia mais do J(XJ vezes, -e da
Judêa tomaram o nomo os judêiiH, mencionados na Bíblia
mais do 400 vezes, como pôde verificar se na Concordância
Bíblica, obra interessante, — que estou medindo a comjjasso ?/..»
Jericó — aldeia, e talvez gerico, jumento.
De Jerichô, cidade da Palestina, mencionada na Bíblia
mais de 70 vezes.
— Jordana^ B casaes, — Jordão^ aldeia, casal, quinta e
appellido de alta cotação, — e Jordões — aldeia.
De Jordão, rio da Palestina, mencionado na Biblia mais
de 150 vezes.
— Jerusalém do Romeu — grande quinta de Traz-os-Mon-
tes, nos concelhos de Mirandella e Macedo de Cavalleiros. ^
De Jerosolynia, o mesmo que Jerusalém, nome hebraico
da cidade santa, capital da Palestina, mencionada na Bíblia
mais de 900 vezes ? ! . . .
— Romeu é o mesmo que Romano e Romão, nomes de
santos, tirados de Roma, como Romã, Ronianeira, Romeira,
Romeiral, Romeirão, Romeiras,, Romeirinhas, Romeiro, Ro-
meiros, Romezal, o mesmo que Remesal, contracção e detur-
pação de romanzeiral, bosque de romanzeiras, o mesmo que
Romeiral e Eomeiras supra, povoações nossas.
Junte-se Rominha e Romirinho (o mesmo que Romeiri-
nha e Romeirinho) — povoações nossas também.
-r- Matheus — casal, quinta, freguezia, etc.
De Matheus, em latim Mathaeusy nome hebraico d' um
Evangelista, mencionado na Biblia 5 vezes.
Matheus é o mesmo que Mathias e Mathathias, nomes
hebraicos mencionados também na Bíblia e tirados do he-
breu mathandh — dom — e lali-Senlwr. Significam, pois, —
dom do Senhor ou dom de Deus, como diz Boucrand.
Matheus foi também nome d'um santo.
— Mathias — nome d'um santo, casal, etc.
V. Matheus.
— Macabio — aldeia nossa.
^ A mencionada quinta é a maior que temos ao norte do nosso
paiz! Tem cerca de 80 kilomclros de circumferencia e é atravessada pela
via férrea do Tua a Mirandella e Bragança, que muito a valorisou, pois
deu-lhe três estações !. . .
Pertence ao sr. Clemente Joaquim da Fonseca Meneres, grande in-
dustrial e negociante do Porto, actualmente grande capitalista e grande
proprietário, morador em Villa Nova de Gaya.
66 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
E' talvez uma fórtaa de Machahên, nome hebraico,
mencionado na Bihlia 31 vezes.
Este nome vem do hebreu mecahbeh — que extingue, — de
cabah — ser extincto^ — cognome bem apropriado a Judas
Machahêti, filho de Mafhafhias, por haver acabado com as
dissenções internas dos judeus.
* *
— Magdalena (o povo diz Madanéla), — nome de varias
povoações nossas, — e Magdalenas, quinta, herdade, etc.
De Magdalena, nome d'uma santa, etc, tirado de Magda-
lena, cognome hebraico de Santa Maria Magdalena, menciona-
da na Bíblia muitas vezes assim, por ser natural ou filha de
Magdalum ou Magdala, povoação da Palestina^ mencionada
também na Bihlia 4 vezes.
Magdalum é a forma latina de MigJidalom, povoação da
Galilêa, — nome que tomou de Mighdhal — torre..
V. Boucrand.
Também temos Madanelo por 3íagdaleno, — casal.
— Manacás — casal nosso.
De Manasses, nome hebraico, mencionado na Bihlia mais
de 140 vezes.
Manasses, vulgo Manasse, vem do hebreu Manasche, —
nome feito de naschah — elle esqueceu, — e este de neschiah
— olvido, esquecimento.
— Manuel, nome d 'um santo e de varias povoações nos-
sas, — casaes, quintas, etc.
De Emmamiel, nome hebreu, mencionado na Bíblia 3
vezes e composto de 3 elementos hebraicos. São elles — im
— com, — noti — nós — e El — Deus. Significa, pois, Manuel
— Deus comnosco.
— Migueis, Miguel, Misquel (?) e S. Miguel — varias po-
voações nossas, — e Michaelis appellido.
De Mikael, nome hebraico, mencionado na Bíblia 15 ve-
zes.
Este nome vem do hebreu masJtal — semelhança ^ — e
El — Deus. Miguel significa, pois, — semelhante a Deus, como
diz Boucrand.
* Maskal c Misquel supra, aldeia nossa, — parecem irmãos gé-
meos?!
TENTATIVA ETYMOLOUICOTOPONYMICA fí7
Milmel deu em latim Michael, elis, unde Michae/is, ap
apellido allemão da sr.^ IJ. (Jdrolina MichaiUis Vascomiellos^
distincta escriptora nossa, doutora em phijlologia pela Uni-
versidade do Leipzig, sócia da Academia Real das Sciencias
de Lisboa e do Instituto de Coimhra^ etc.
Michaclis é o mesmo que Migueis appellido nosso, ti-
rado egualmente de Michael, e.lis — Miguel.
Também Micliael deu Michaela, nome d uma santa, etc.,
como (iabriel deu (iabriela, Manuel deu Manuela — e Baphael
deu llaphaela.
Por seu turno Michaela deu Michaelina, unde Michelina,
vulgo Miquelina, também santa.
Sufíixo hebraico El — Deus
Este suffixo de Manuel e Miguel encontra-se em outros
muitos nomes hebraicos.
Ahi vae uma lista curiosa d"alguns, mencionados todos
na Concordância Biblica, d'onde pacientemente os tirei.
Faço esta declaração para não me expor a censuras, pois
muitos d'elles parecem formas do mesmo nome, provenientes
talvez de lapsos dos copistas? :...
—Abdeel ; Abdiel ; Abiel ; Abimael; Adiei; Aharehel ;
Aviei ; Asael ; A.sahel ; Asiel ; Asrael ; Asriel ; Azael ; Azahel
e AzarreeH .'.,.
— Bathuel ; Beseleel ; Daniel; Esriel ; Ezechiel ; Ezriel ;
Gabriel; Ismael; Ismiel ; Israel; Jalaleel ; Jeriel ; Joel; Ma-
nuel ( — Emmanuel) ; Mafhusael ; Michael {Miguel) ; Misael ;
Natlianael ; Oziel ; Raphael ; Samuel; Suriel ; Uriel e
Zabdiel?!...
Todos estes nomes foram por mim tirados da Concordan.
cta Bíblica e alguns d'elles se encontram mais ou menos de.
turpados na onomástica portugueza.
— Abdeel — por exemplo — deu ou podia dar Abdeella
villa e por contracção Adela, aldeia nossa, mesmo porque não
é de suppôr que uma adela ou adeleira desse o nome a uma
aldeia ! . . ,
— Abdiel ou Abiel podiam dar Abdiela e Abiela viUa —
quasi Viella, nome de duas aldeias e uma quinta nossas, pois
nos campos não ha viellas. — E por metathese Abiela podia
também dar Abeila, herdade nossa, e Alviella, rio, etc.
— Azael podia dar Azaela villa — granja, quinta ou casa
de campo de AzaeL
()8 TENTATIVA. KTYMOLOGICO-TOPONYMICA
Por seu turno Azaela deu ou podia dar Azela, Azella e
Axelha^ aldeia nossa, pois no diapasão callaico Azella soa
Azelha ou antes Asselha.
O z sibillante é nosso.
*
— Bathuel podia dar Batel, aldeia nossa, dado que alli
não haja rio ou ribeiro navegável.
Dicant paduani.
Os leitores não se espantem, pois no concelho de Ta-
hoaço conheço eu muito bem a villa de Barcos, que também
já foi concelho e por certo não tomou o nome dos barcos, pois
demora em sitio alto, fragoso e secco, onde não ha rio, ri-
beiro, lago nem lagoa.
Barcos pôde ser contracção de Buarcos, villa do conce-
lho actual da Figueira, districto de Coimbra.
Por seu turno Buarcos pôde ser contracção de Bularcos,
forma latina de Bularque, nome grego d'um afamado pintor,
etc, — nome tirado do grego boulé — conselho — e aj-chê -
mando, governo. ^
V. Bularque em Boucrand e note-se que os gregos occu-
param em tempos muito remotos grande parte do nosso paiz,
como já dissemos.
Barcos pôde vir também do germânico ou teutonico
ba?xo (sic) — o mesmo que borJc e vark — porco ? !...
Yide Porcia em Boucrand.
Note-se que a villa de Barcos demora nas abas da serra
do Sabroso, que ainda ha pouco tempo abundava em lobos e
javalis — porcos bravos.
Também desde tempos muito remotos devia abundar em
porcos mansos, domesticados, pois demora, como dissemos,
nas abas da serra do Sabroso, o mesmo que Sobroso, povoa-
ção nossa também.
^ Com vista ao sr. dr. Joaquim da Silveira, da Anadia, actualmente
notário e advogado em Alcanena, — meu atávico successor, depositá-
rio (?■■■) dos meus caros verbetes c do meu arsenal etynwlogico, — o
amigo mais falso e mais ingrato que neste mundo encontrei !
— Ta lis arbor — talis fructus ? !. . .
Vejam-se as pag, 37 e 40 supra — e Joaquim da Silveira no Índice
da /.« parte.
Aili — nos meus caros verbetes, que s. ex/* muito astutamente me
empolgou, — deve encontrar-se outra etymoiooja de Buarcos.
TENTATIVA ETYMOrX)GICO-TOPONYMICA ^0
Por seu turno Sohroso é contracção de .sohreiro.sOj chão
abundante em sobreiros, arvores que dão bolotas, bom alimento
dos porcos.
Ainda actualmente no Alemtejo se alimentam milhares e
milhares de porcos com as boletas e bolotas dos sobreiros e
azinheiras.
O mesmo devia succeder na Beira, nomeadamente nos
concelhos de Barcos e 'Taboaço, pois abundavam alli os so-
breiros, como está dizendo o nome da serra de Bancos— ou
dos bacorosf — a serra do Sabroso ou Sobroso.
Abundaram também as ditas arvores em outros pontos
da mesma região, como provam os grandes sobreiros que
pompeavam na villa de Távora, concelho de Taboaço, ainda
no tempo em que eu alli fui parocho — 1861 a 1864.
Foram vendidos e arrancados posteriormente, mas ainda
hoje lá se vê e admira o tronco — só o tronco — d'um sobreiro
que foi incendiado pelos rapazes e tem 5 a 6 metros de cir-
cumferencia?!...
Deve contar, pois, — mais de mil amios, porque os sobrei-
ros são muito duradouros, como todos sabem, mas é muito
moroso o seu desenvolvimento.
*
Abundaram também desde tempos muito remotos na
província da Beira, nomeadamente no concelho de Taboaco,
os castanheiros, como provam alguns que ainda hoje se vêem
com espanto naquella provincia.
Avulta entre elles um que está na quinta da Boa Vista,
junto de Moimenta da Beira, — quinta que foi do sr. José de
Lemos de Nápoles Manoel, do Sarzedo, e é hoje do seu genro,
o sr. dr. Ovidio Alpoim.
O tal castanheiro é o maior da provincia ! — Tem cerca
de 15 metros de circuraferencia no tronco; — ainda está pom-
poso e forte^ — produz muitas castanhas — e promette longa
duração 1...
No santuário dos Remédios (Lamego) ainda hoje se admira
o tronco d'um castanheiro, que foi derrubado por um tufão.
Apenas poupou o tronco. Tem este cerca de 10 metros de
circumferencia e 5 a 6 d'altura^ — afora a sua ramagem, que
é bastante alta e ainda produz castanhas.
Está muito vigoroso, — é .tratado com todo o carinho pela
administração do formoso santuário —/ía»>'<í lhe seja! — e ainda
pôde durar séculos!...
70 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Agora o
Castanheiro do Saluado
Na freguezia de Samodães, terra natal e nobre solar do
snr. conde d'este titulo, no aro de Lamego, pompeou a ju-
sante da matriz, no chão do Salvado, um castanheiro que foi
talvez o maior da provincia no seu tempo e que do mencio-
nado ch^o, onde esteve, tomou o nome de Castanheiro de
Salvado.
Dizem-me que eram necessários 8 homens para abarca-
rem o tronco do tal castanheiro, mas já não existe.
Foi arrancado e cortado, aproximadamente em 1840, por
António Teixeira de Carvalho, —vulgo o Teixeirinha de Sa-
modães, quando fez o palacete ou casa da Fonte, que é hoje
do dito sr. conde.
No tal palacete empregou talvez mais de cem carros de
madeira, que tirou do magestoso castanheiro, comprehen-
dendo traves, barrotes, caibros, taboas, npas, etc.
Volvendo a Barcos e Taboaço, não- posso deixar de men-
cionar os muitos soittos de castanheiros que no século xv per-
tenciam ao grande^ enorme passal de Távora, que se esten-
dia por Chavães, Paradella, Nagosa, etc.
V. as paginas 458 a 480 do í.** vol. onde publiquei textual-
mente o tombo d'aquella abbadia, organisado no anno de 1496.
Houve effectivamente Qm. Távora, concelho de Taboaço,
grandes soutos de castanheiros desde tempos muito remotos,
comprehendendo exemplares soberbos, magestosos!
Ainda no meu tempo lá se via com assombro na quinta
de Passa Frio — ou antes Paço Frio — o tronco — só o tronco
— d'um castanheiro já muito carcomido, que estava servindo
de choupana ou cabana e tinha talvez mais de lõ metros de
circumferencia.
A mencionada quinta pertenceu ao sr. dr. Manoel de
Barros Nobre, meu saudoso amigo da velha guarda — ou d^sde
o nosso bom tempo de Coimbra— 1851 a 1856 — até que fal-
leceu no Porto em 1907, sendo alli desembargador da Relação.
A tal quinta demora na serra do Calfão, metathese de
Falcão, — a montante de Távora, — em sitio alto e frio, pelo
que se denominou Passa Frio, deturpação de Paço Frio. E
tomou talvez este nome d'um velho casarão, de ^^e hoje
apenas resta um montão de pedras e 4 columnas de granito
sem apparelho algum, que ainda lá se vêem na dita serra
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPOXVMICA 71
hem aprumadas e até hoje conservadas, como por mila-
grefl...
Também lá so vêem ainda hoje — 5 sepultaras cavadas
na rocha, — sepulturas antiquíssimas, talvez prehistoricas ! . . .
— e fragmentos de cerâmica de grande espessura.
Também lá appareceram duas mós de granito, de moi-
nhos de mão, — mós que hoje podem verse na casa que foi
do sr. dr. Barros Nobre, cm Távora.
Também junto da mencionada quinta de Paço Frio pom-
pêam as ruinas do Casfello do Callao, ainda muito visíveis,
que pertenceram ao mesmo sr. Barros Nobre,
*
* *
O dito castello foi talvez anterior á nossa monarchia —
e junto das ruinas d'elle estão as ruinas da oapella de Nossa
Senhora do Calfão, também antiquíssima!,, , ^
Tem, pois, muito merecimento archeologico a mencio-
nada quinta e é muito digna de ser visitada e estudada pelos
archeologos, posto que demora em sitio alto, agreste e frio.
Tinha também muito merecimento archeologico o ma-
gestoso castanheiro mencionado supra, — talvez contemporâ-
neo das taes velha riasí ! , . .
Quando volver a Távora serei mais explicito e fallarei
d'outras velharias não menos interessantes ci'aquella região.
Do exposto se vê que desde tempos muito remotos abun-
daram na Beira e no concelho de Taboaço os castanheiros.
A. mesma onomástica evidentemente o prova^ pois Ta
boaço é a forma portugueza de Tablazo, povoação hespanhola
de Oviedo, que tomou o nome do latim tabula — taboa ou
madeira para taboas.
Tablazo {Taboaço) quer, pois, dizer — souto de castanhei-
ros — ou região abundante em castanheiros, pois — tanto em
Portugal, como na Hespanha — desde os tempos mais remo-
tos até hoje ^ — a madeira melhor, mais vulgar e mais esti-
mada para taboas era a dos castanheiros.
*
* *
^ Vide Távora no Portugal antigo e moderno, vol. ix, paginas
515 a 520 — e Távora no indice do l.« vol. d'esta Tentativa.
^ Digo nté hoje, porque os castanheiros estão muito doentes.
Tendem a desapparecer e muito provavelmente serão substituidos pelos eu-
calyptos.
72 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
NÓS temos varias povoações — ao todo mais de 3CK,) —
que tomaram o nome dos castanheiros. Taes são :
Casfaide por Castanide, — este por Castanido—e este
por Casfanedo, que deu Casfêdo e Castendo, povoações nossas.
Castainça e Casfainço — por Castaniça e Casfaniço.
— Castanha, Castanhaes, Castanhal, Castanheira, Casta-
nheiro e Castanho, contracção de Castanheiro, como sobro ó
contracção de sobreiro e pinho de pinheiro, etc.
Castêdo e Castendo, mencionados supra.
— Casteição por Castanição, augmentativo de castaniço,
que se encontra em Castainço.
Castinçal por Castaniçal, etc.
Todos estes nomes foram tirados do latim castanea — cas-
tanha, fructo dos castanheiros, pelo que jà em latim puro
castanea designou também o castanheiro.
Também tabula — taboa, a madeira dos castanheiros
por excellencia, — deu o nome a varias povoações nossas.
Taes são :
Tabaco por Taboaçô, diminutivo de Taboaço.
— Tabelladas por Tabladas, o mesmo que tabuladas e
taboadas.
A forma Tabelladas é uma reminiscência da occupaçao
hespanhola, pois na Hespanha em vez de taboa dizem tabla^
unde Tabla, Tablada, Tabladiello, Tabladillo, Tablado, Tablan-
te, Tablares (unde Tavares, povoação nossa) ; Tobias e Tablazo
(cá está elle!.. ); Tablero (o mesmo que Taboeiro, — unde Ta-
veira e Taveiro ! . . .) ', Tabliega, Tahlizo, Tablones (taboões ?) ;
Taboada, Taboadela, Taboadelo, Taboazas, Tabuenca, Tabuyo,
Tabuyuelo, etc, povoações da Hespanha.
Nós também temos Tablado, Taboa, Taboaça, Taboaças,
Taboaço (cá está elle f . . . ) í — Taboadella, Taboadello, Taboado,
Taboas, Taboeira (unde Taveira, appellido nosso) ; Taboeirinha,
que podia dar Taveirinha ; — Taboeiro, o mesmo que Tablero
supra — e Taveiro, infra.
Junte-se Taboinho por Taboadinho'?— Taholado, Taboleda^
Taboleiros, Taboneira por Taboleira ? — Taborda por Taba-
rola? — Taborda ou Taborella (quasi Taborola — e Taborella
ou Taborda (sic) — povoações nossas, mencionadas na Choro-
graphia Moderna, — obra que mais uma vez recommendo aos
meus poucos leitores.
Junte-se ainda:
Tabosa por Tabulosa e — Taburreira — por Taboreira, o
mesmo que Taboneira por Taboleira supra, — e Tamboreira,
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 73
quinta e sitio próximos de Lamego, que ainda hoje abundam
cm castanheiros !?/...
— Tavares por Tablares supra, o mesmo que Taboares.
Em Portuguez commum nós temos pregos caibraes e pre-
gos tahoares — pregos próprios para caibros e pregos próprios
para faboas.
— Taveira e Taveiro por Tablera e Tablero, o mesmo
que Taboeira e Taboeiro por taboleira e faboleiro, supra.
Finalmente, junte-se Távora, rio e villa, que tomaram
o nome de fabula^ oomo Taboa, povoação nossa, — Tabla e
Tavaras, na Hespanha.
* *
Távora pelas suas antigas formas Tabora, Tabara e 7a-
vara, assim como deu TaboreUa e Tavarella, também deu ou
podia dar fabarola e taborola.
Cf. Casa, Casella e GasaroUas, plural de casarolla ; Quin-
ta, Qnintella, Quintola e qtdntarola ; Moreira por Moreirola,
— Nogueira por Nogueirola, — Figueiró e Figueirôa por Fi-
gueirola, etc.
Veja-se o tópico infra : «Diminutivos com a desinência
olus, ola-».
Por seu turno Tabarola deu ou podia dar Taborda, povoa-
ção o appellido, como já dissems e como os leitores vão ver.
Pelas leis da arte nova a escala seria — Tabarola — Ta-
borla — Taborda? — pois l e d confnndiram-se e substitui-
ram-se na onomástica portugueza.
Cf, Odivellas por Olivellas — oliveirinhas .
— Pena Júlia, PenajuleiaQ Penajudeia por Penajuleia, anti-
gas formas da minha Penajoia, — como Penajuia por Pena Júlia. ^
HeziodOj Egidio e Gil — de Egilii por Egidii ?
Heziodo é nome grego ; — Egídio é nome d'um santo e o
mesmo que Heziodo ; — OH é o mesmo que Egidio, também
nome d'um santo e de varias povoações nossas. Taes são:
— Gil, casal, quinta, etc. — Gil Aires, Gil Bogào, Gil
Moleiro, Gil Vaz ^, Gila, Gilbarbedo, Gilboé, Gilvaia, Gilvaz,
Frei OH, S. Gil e S. Frei Gil^ povoações nossas.
1 V. Penajoia e Penajulia no indicc da /.a parte d'estes meus dis-
lates.
^ D'este ou d'outro mata-mouros Gil Vaz procede o nosso termo
gilvaz — grande ferida, grande cutilada.
Se bem me recordo, os Diálogos de Christovam Rebello de Macedo
mencionam um fidalgo de Beja, por nome Gil Vaz, que decepou a cabeça
dum touro com um golpe d espada !. . .
74 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Também temos Portadeiros^ Portaleiro e Portanehvs, o
mesmo que portageiros, cobradores dos direitos de portagem .
Também temos Sobralinho, Sohradinho e Sobrainho, for-
mas do mesmo nome e diminutivos de Sobral, o mesmo que
Soveral por Sobreiral.
Junte-se Calorno, aldeia, por cadorno ou codorno, — e
Cogorno, appellido.
— Daffões e Lafões.
— Deirão ou Leirão — e Leirão ou Deirào.
— Dobeira e Lobeira.
— Dobrigo, Lobrigos e Lobrigo (Casal de Lobrigo):
— Dordelinho e Lordellinho.
— Doroso e Lorósos, plural de Loroso.
— Duro e Luro, povoações nossas.
Também temos Odysseia por Ulysseia. ? — nalga por ná-
dega ; adejar por alejar, — e o provincianismo leixar por dei-
xar, etc.
Também na Hespanha a forma popular de Cadiz — ó Cá-
lix. ^
A substituição de / e o? já vem do tempo dos romanos.
Cf. peculium por pecudium — de pecus, cudis — gado.
Confundiram-se também d q g, — d q n, — d q f, — de
m, — der, — de t, — d e v, — d e s, — dez, etc.
Também o d algumas vezes cahia e sumia se ; — outras
vezes inesperadamente surgia ou surdia.
Foi letra muito falsa, muito caprichosa; o r, porém, não
lhe ficou a dever nada ? ! . . .
Veja-se o tópico intra — Substituição de letras.
Do exposto se vê que Tabarola deu ou podia dar Taborla
e Taborda,
A bússola é o ouvido — e ó assim a a7'te nova.
* *
Volvendo á etymologia de Barcos, villa alcandorada na
serra do Sabroso, em chão alto, secco e pedragoso, — sem rio,
ribeiro ou lago navegáveis, — com certeza Barcos, como já
dissémoSj, — não tomou o nome dos bateis, barcas nem bar-
^ E no antigo castelhano diziam melecina melecinamiento c me-
lecinar por medecina, medicamento e medicinar.
V. Covarrubias c Valdez.
TENTATIVA ETYMOIvOGICO-TOPONYMICA 76
COS, mas talvez do teutonico harc-o — porco, — vocábulo tra-
zido talvez iá do norte pelos povos germanicoH que habitaram
a peninsula o Portuíjal 3(X) annos, — desde o século v até o
século VIII. •
Também o teutonico barco — porco podia dar o portu-
guez bácoro^ synonimo de porco,
Note-se que o povo não diz bácoro, mas bacro ou baquero.
Por seu turno barco deu ou podia dar também bacro, baquero
e bácoro, — methatese menos violenta, do que outras muitas
da onomástica portugueza, como Esnoga por Synagoga, etc.
Barcos pôde, pois, vir directamente do teutonico barcos
— porcos ou do portuguez bácoros, quasi Barcos, também
porcos.
A villa de Barcos na minha opinião quer, pois, dizer
villa dos bácoros ou dos porcos?!...
Julgo esta etymologia muito acceitavel, — jâ porque a
glottologia não se oppõe, —já porque o terreno da villa de
Barcos era muito próprio para a industria, alimentação e
creação dos bácoros ou porcos, pois, como já dissemos, a villa
demora na serra do Sabivso, — monte sobreíroso, abundante
em sobreiros e bolotas, magnifica alimentação para os porcos.
Abundaram também n'aquella região os castanheiros —
desde tempos muito remotos, como já dissemos, e abundaram
por consequência também as castanhas, magnifico alimento
para os porcos, — alimento superior ás bolotas.
Talvez que até in illo tempore, quando os sobreiros e os
castanheiros formavam naquella região soutos compactos, trou-
xessem bandos de porcos, pastando ao ar livre e comendo as
castanhas e as bolotas, como ainda hoje pastam nos montados
do Alemtejo, comendo as bolotas e as boletas dos sobreiros e
azinheiras. Assim pastavam nesta província da Beira, nas
cercanias de Lamego^ ainda no século xvi, comendo as casta-
nhas dos soutos, como diz o cónego tercenario Ruy Fernan-
des na sua interessante Descripção do terreno em volta de La-
mego duas léguas, tantas vezes por nós citada. ^
Note-se que na região da Beira, onde está a villa de
Barcos, não menos talvez do que em Lamego, abundaram os
castanheiros, como já dissemos, e assim o prova a onomás-
tica.
1 A dita memoria foi escripta em 1532 e publicada nos inéditos de
Hísioria portuguezã. E' a ultima do volume V,
76 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Aos nomes de Tahoaço, Távora, villa, e Távora, rio, jà
citados, — junte-se Tabosa — o mesmo que Tabiilosa ou Sou-
tosa, freguezia do concelho de Sernancelhe — Souto e Casfainço
— castaniço, castanheiro — freguezia» do concelho de Pene-
dono ; — Soutello e Castanheiro, freguezias do concelho da
Pesqueira, — concelhos limitrophes do de Tahoaço, metendo-
se de permeio apenas o Távora — rio dos castanheiros ou das
tahoaf^'^ /. . .
Na minha opinião, pois, a villa de Barcos tomou o nome
dos òacoros -7- porcos.
. Desculpem a franqueza os filhos da mencionada villa,
entre os quaes tenho parenteá'; mas rien n'est heau que le
vrai.
Dos bácoros tomaram também o nome outras povoações
nossas. Taes são: — Bácora, Bacoreira, Bacor eira de Baixo,
Bacoreira de Cima, Bácoro e Bacorinho.
Dos mesmos bácoros tomaram talvez também o nome
certos figos do Douro, chamados bacorinhos^ pois, sendo muito
pequenos, são muito saborosos! ...
O mesmo se dá com os bacorinhos ou leitões, porcos ainda
de leite e pequeninos, mas que, sendo cozinhados, como na
Beira e Traz os Montes se cozinham, — são deliciosos!...
Appello para os leitores que já por alli andassem e os
saboreasssem, como eu saboreei muitas vezes.
Os taes bacorinhos ou leitões — occupam rol distincto
entre os mais saborosos pratos portuguezes.
* *
Ainda a propósito de Barcos, dos bácoros e dos bacori-
nhos ou leitões, direi que Leitão é appellido nobre e antigo
— e muito vulgar em Taboaço, villa próxima de Barcos — a
villa dos bácoros, onde devia haver muitos leitões ou bacori-
nhos — e talvez provenham de Barcos os Leitões de Taboaço.
Honny soit qui mal y pense.
O appellido Leitão foi também antigo em Barcos, pois
em carta que á ultima hora recebi do meu bom e velho
amigo— snr. Joaquim Ferreira de Macedo Pinto, de Taboaço,
diz s. ex.* textualmente o seguinte :
« Não sei que actualmente em Barcos haja famílias com
o appellido Leitão.
« Aqui em Taboaço houve um Leitão nos principios do
século XIX que foi escrivão do juizado de fora e depois advo-
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 77
gado por provisão, cujos filhos e netos v... muito bem conhe-
ceu,— família numerosa que tende a extinguir-so,
«Entre os meus ascendentes houve um, por nome tiimão
de Mattos Leitão ^ que foi meu B.® ou 4.*^ avò, mas não conti-
nuou na familia aquelle appollido.
«Actualmente não conheço em Barcos Leitão algum. Se
os houve — já são Porcos...
(( Tahoúiio, 2G de Maio de 1908.
« Joaquim Ferreira de Macedo Pinto. »
Do exposto se vê que em Barcos, a villa dos bácoros^
ainda no século xvii havia Leitões.
Digo no século xvii, porque o snr. Joaquim Ferreira de
Macedo Pinto nasceu em 4 de Março de 1820. — Já conta
cerca de 86 annos e era o mais novo dos seus oito irmãos,
todos já fallecidos. i O mais velho foi o snr. dr. Bernardino
de Senna Macedo Pinto, que nasceu approximadamente em
1804, pelo que o seu 3.o ou 4.° avô /Simão de Mattos Leitão
devia viver nos fins do século xvi e talvez nos principies do
século XVII.
Ao snr. Joaquim Ferreira de Macedo Pinto agradeço pe-
nhorado o seu favor, que juntarei aos muitos — muitíssi-
mos!... — de que lhe sou devedor, bem como a minha familia
toda, pois, como s. ex.» já me disse duas vezes: — as relações
d' amizade entre as nossas famiUas jd vêem do tempo de nos-
sos avós ? ! . . .
Devem, pois, datar do meado do século xviii e contam
por consequência hoje — jyrincipios de 1909 — mais de cento e
cincoenta annos talvez?!..
Isto não é vulgar e muito me honra, porque se dá com
a amizade o mesmo que se dá com o vinho do Porto. — O
mais antigo é o melhor.
Além d'isso a familia Macedo Pinto é ha muitos annos
absolutamente a mais rica do concelho de Tahoaço — e uma
das mais ricas e mais consideradas no Dotiro todo! . . .
Ainda hoje — apesar da medonha crise duriense — a for-
tuna do snr. Joaquim Ferreira de Macedo Pinto é avaliada
1 Avultaram entre ellcs o snr. Visconde de Macedo Pinto e o snr.
conselheiro yose' Ferreira de Macedo P/n/o— lente da Universidade e au-
ctor da Medicina legal, etc.
V. no Portugal antigo e moderno o art. Miragaya, vol. 5/\ pag.
269; Sendim, vol. 9.o, pa^. 103; Taboaço, no mesmo vol., pag. 471, — e
Vicente (S.) vol. lO.o, pag. ^518.
78 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
em mais de seiscentos contos de reis, — sendo a maior parte
d'ella em dinheiro — e com pronunciada tendência para alta,
porque é muito bem administrada por s. ex.* e seu filho — o
snr. dr. Victor José' de Deus Macedo Pinto — já casado e com
successão — e excellente pessoa também.
Qui viget in foliis venit e raiicihus humor - ou tal a ar-
vore — tal o fructo, — tal o pae — tal o filho I ... ^
Elles vivem esplendidaniente, faustosamente, mas capita-
lisam muito^ porque não viajam nem dão banquetes nem bai-
les e, tendo uma grande fortuna, — têem o bom senso de vi-
verem na sua terra natal -a mimosa e formosa villa de Ta-
hoaço, onde a vida é muito mais barata do que no Porto ou
em Lisboa — e já Cícero dizia : — antes primeiro na aldeia, do
que segundo em Roma,
Elles vão repetidas vezes ao Porto, a Coimbra e a Lis-
boa, onde têem parentes próximos e passam parte do anno,
mas a sua residência habitual é a mimosa villa de Taboaço,
onde são os reis da terra.
Desculpem ss. ex,"* estas linhas, que por certo os inço m-
modam e violentam a sua grande modéstia, mas devo -lhes a
máxima gratidão e não posso d'outra maneira significar- lha.
Desculpem.
Cada qual dá o que tem! , ,
*
Volvendo á graciosa etymologia de Barcos, ainda direi
que, assim como dos bácoros tomaram o nome a villa de Bar-
cos e outras povoações indicadas supra, também os porcos,
synonimia de bácoros, deram o nome a varias povoações.
Taes são as seguintes :
1 Pela mesma lei de physiologia contrasta com ss. ex.as como a vida
com a morte ou como a luz com as trevas o meu atávico (? !. . .) suc-
cessor— dr. Joaquim da Silveira, da Anadia, actualmente notário e advo-
gado em Alcanena.
E' o amigo mais falso, que n'esie mundo encontrei, ao qual tão
generosamente como iolamente dei o meu arsenal eíymologico—cevca. de
80 kilos de verbetes, fructo do meu trabalho insano de 10 a 12 annos, —
além de muitos livros raros e caros, -o que tudo ha 20 annos eu não da-
ria por três contos de reis !. . .
Vejam-se as pag. 37, 40, 53 e 08 supra.
Salve-se quem puder, pois é um axioma popular : — Cesteiro que
faz um cesto faz um cento, tendo verga e tempo? !. . .
TENTATIVA KTYMOLOGICO TOPONYMICA 79
Porca, Porcalho, Porcalhota, Porção^ Porca)'i(;a, Pocariça^
o mesmo que Porcariça ? — Porcariço, Porcas, Porcel, Porce-
Ihe, Porches; Por cimo, talvez forma do J^orcino — Porco, Por-
queira, Porqueiras, Porquciro.s o Porquinhas, — ao todo mais
de 30 povoações nossas.
Junte- se Progo, aldeia, casal, quinta, etc, que pôde vir
de proculus, methatese do latim porctdus — porquinho, lei-
tão, bácoro, diminutivo de porcns — porco.
O mesmo porculus — porquinho — ou proculus — nascido
durante a peregrinação do pae — ou nascido de pães avança-
dos em edade ^ — deram ou podiam também dar Prochoro,
Proclo, Proculo e Procoro, nomes de santos e talvez formas
do mesmo nome!...
Também o latim porcus, i — porco, deu Porcii^ Porcios,
familia romana, — Porcia, Porciana, Porciano, Porcilia, Por-
cílio, Porcinia, Porcinio, Porcino e Porcio, nomes pessoaes e
appellidos.
— Porciano foi santo.
— Porches, supra_, —vem de Porciis, patronimico de Por-
citts, ii ~ Porcio, — ou de Porcii — ou Porcios, familia ro-
mana.
— Porcel e Porcelhe supra — podem vir do latim porcel-
lus, i — o mesmo que pojxulus, i — porquinho, leitão, bácoro.
Também Porcelhe pôde vir de Porcilius, ii — Porcilio^
diminutivo de Porcio, como Porcinio e Porcino supra.
— Porqueira vem do latim porcanus, a, um — coisa de
porco, — o mesmo que porcinus, a iim, que talvez desse Por-
cimo ou Porcino, povoação mencionada supra.
Também o latim sus, suis, ~ o mesmo que porcus e por-
ca — o porco e a porca— deram siiarius, ii, — o porqueiro ou
negociante de porcos, — unde Soeiro, o mesmo que suarius,
porqueiro^ appellido nosso, —bem como Soares por sua riis,
patronimico de suarius, ii.
Soares, appellido nobre e antigo, quer pois dizer — filho
do Soeiro ou do porqueiív? ! . . .
Por seu turno Soares e Soeiro, appellidos, deram Soares,
Soeira, Soeiro e talvez Soirinho por Soeirinho, — Souralva e
Sotiralvo por Soiralva e Soiralvo — de Soeiro Alvo, — Soure
por Soirc, contracção de Soe)-ii por Soarii, — Soarinho por
Soirinho supra, o mesmo que Soeirinho, - Souro Pires por
Veja-se o Magnum Lexicon latino.
80 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
tíoiro Pires, o mesmo que Soeiro Pires — Soeiro filho de Pe-
dro, — Sueira, Sueiro e Sueiros, povoações nossas.
O mesmo sus, suis — o porco e a porca — em latim puro
deu suile, is — o chiqueiro, pocilga, cortêlho ou curral de
porcos, unde talyez Sil por suilj povoação nossa.
Também caprile, is — o curral de cabras, deu Cabril e
(7(a/>r«Z,f diíferentes povoações nossas, — Cabris, plural de Ca-
bril, — e Cabrins por Cabris, em Barcelona — Cabrils.
Também temos Cabria e Cabrial, por Cabra, Cabril e
Cabral, — reminiscência da occupação hespanhola, pois Ca-
bria ó também uma povoação de Palencia, o mesmo talvez
que Valência, na Hespanha, — e em Portugal — Valença.
Desculpem os nossos bons visinhos o bater-lhes á porta,
pois já é tempo de acordarem e de investigarem também a
etymologia das suas povoações.
* *
A propósito : — Bivar, appellido nosso, foi importado de
Vivar, povoação da Hespanlia ; mas qual a etymologia de
Vivara — Na minha opinião é Vivaldus^ i — Vivaldo, antigo
nome d'um santo, etc.
Cf. Bernardo e Bernaldo, — Bernardino e Bernaldim, o
mesmo que Bernardino, Gerardo, Geraldo, Giraldo e Girai,
o mesmo que Giraldo, etc. Mas deixemos em paz a Hespanha.
— Cabril e Cabral são formas do mesmo nome, como já
dissemos, pois na onomástica portugueza confundiram-se e
substituíram as desinências il e ai.
Cf. Barril e Barrai — muitas povoações nossas, que to-
maram o nome do barro.
Aroil e Aroal, contracção de aroeiral, bosque ou matta
d'aroeiras ou de lentisco.
— Bezerral e Bizarril por bezerril — dos bezerros.
— Barrocal e Marroqiãl por barroquil, o mesmo que
Barrocal,
Somma e segue
— Malliadil e Malhadal.
— Aloura e Monral,
— Cabanil e Cabanal.
— Carril e CarraL
— Carcoil e Carcoal.
— Fail e Faial.
— Féfil e Féfal.
TENTATIVA ETyMOLOOTCO-TOPON YMICA 81
— Landnl e íjindal \)ov ÍMudral — das landras, bolotas?
— Lourll, Louvai o Louriral — bosque ou matta de lou-
reiros.
— Ouril e Onral.
— (Jutil por Outeíril — e Onteiral.
— (Jcily O Bevial o Ovial — de ovile, pi— curraX de ovelhas.
— Pasmil e Pasmai ? ! . . .
De Cazimiriis, i — Cazimiro, nome d'um santo, que deu
Casmillo e podia também dar Casniil. Por seu turno Casmil
deu ou podia dar Pasmíl e Pasmai, pois ca, co, cii^ e pa^ j)Oj
pu, confundiram-se e substituiram-se.
Veja-se o tópico infra — Substituição de letras.
*
Junte-se ainda:
— Passil e Passal.
— Resomil, Remesal e Pomezal, contracção de romanzei-
ral, bosque ou matta de romanzeiras.
— Resomil é metathese de Romezil. o mesmo que Reme-
sal e Romezalt, . .
— Touril, Taural e Toural, etc, povoações nossas.
Do exposto se vê que são formas do mesmo nome Cabril
e Cabral, como já dissemos.
Com vista ao meu bom e velho amigo António Moreira
Cabral^ negociante de vidros, bastante illustrado e muito
amante de livros!. . .
E' natural da freguezia de Cette, concelho de Paredes,
mas vive desde a infância no Porto, na rua das Flores, pelo
que vulgarmente o denominam Cabral das Flores.
E' uma excellente pessoa e tem uma das melhores livra-
rias particulares do Porto, comprehendendo muitas obras ra-
ras e caras — e ao todo mais de íiete mil volumes.
Adora Camões, pelo que foi um dos fundadores da So-
ciedade Camoneana do Porto — e tem uma luxuosa e preciosa
camoneana, avaliada em 800 a í)00 mil reis ? ! . . .
Comprehende centos d'exemplares dos Luziadas e d'ou-
tras obras de Camões em todas as linguas da Europa, in-
cluindo o idioma polaco e excluindo o russo.
Elle adora Camões, porque também cultiva e ama a poe-
sia, como provam as duas quadras seguintes, que fez e pu
blicou em 22 d'Outubro de 1903, dia do seu anniversario na-
talicio.
82 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Eil-as :
o flleu nascimento
Em Cêtte, aldêa formosa,
Setenta annos hoje faz
Que. uma Mãe carinhosa,
Ao mundo deu um rapaz;
Que depois do Sacramento,
Que dizemos baptismal,
«António» lá reza o assento,
E, de appellido «Cabral».
Porto, 22 de Outubro de 1903.
A. Moreira Cabral.
Nasceu, pois, o meu bom e velho amigo snr. António
Moreira Cabral, no dia 22 d'Oiitubro de 1833, na sua formosa
aldeia de Cêtte, — e eu nasci na mimosa e muito vistosa al-
deia da Corvaceira, freguezia da Penajoia, concelho de La-
mego,— mesmo em frente da estação actual do Molledo, — no
dia 14 de Novembro de 1832. ^
Somos portanto quesi da mesma edade. A differença é
d'um anno e 23 dias — em favor d'elle.
Ambos já transpozemos a bella casa dos 70 e muito pro-
vavelmente n'ella deixaremos a ossada!, .
*
Volvendo ao thema latino síis, suis — o porco ou a por-
ca— ainda diremos que também deu suillus, a, um e siiinus,
a, um, — coisa de porco ou de porca, unde talvez Suimo por
Suino supra, — A^zímo e Suína, dois lindos nomes pessoaes e
nomes de santos.
Suíno e Suina são synonimos de Porcia, Porcio, Porcia-
1 V. Corvaceira, Miragaya e Pcnajoia, no Portugal antigo e mo-
derno, — e Corvaçeira, no Índice do i vol. d'esta Tentativa,
TENTATIVA KTYMOLOOICO-TOPONYMICA 83
na, Porciano, Porcilia, PorcillOj Porcinia, Porcinio, Porcina e
Porcino supra o pertencem á classe dos nomes tirados das
feras, — como Tigre, Loim, í^eão, Urao, firsicio, f/r.nno, Ur-
sisceno, Úrsula, /.eocaflia, Leocricia ou Leocrisia, * Leonardo,
etc, nomes de santos/. . .
Junte- se Tigides ou Ti gr ides, Tigridia e Tigrio, também
nomes de santos, tirados de Tigris, is ou idis — o Tigre, fera,
rio e nome d'um santo.
Leocadia, Leocrisia, LeoniUa, Leonardo, Leoncia, L^eoncio,
Leonides, Leopardo, I^eohardo, o mesmo que L^eopardo, Leo
poldo e Pantaleão, nomes de santos, foram tirados todos do
latim leo, onis — o leão, fera que deu Leão, também nome
pessoal, nome d'um santo e de treze Papas ou pontífices ro-
manos.
Por seu turno leo, onis veiu do grego leon, leontos, * cuja
raiz, segundo se lê em Boucrand, é lis — leão.
O hebreu lãbi — leão é um termo formado do velho he-
breu lábáli, onomatopeia do grito do leão.
O hebreu laisch, também nome do leão, foi tirado do
verbo liscli — elle tem sido forte.
O grego léón passou para todas as linguas occidentaes.
Em hebreu teve as formas lábi, lébieh e laisch; em egy-
pcio laho; em copta lahoi; em árabe liis ou lejs e lehouah; em
allemão — lõice ; em teutonico leon; em inglez e francez lion;
em anglo-saxão — lio e leon; em hollandez leeu e leeuic ; em
sueco leion ; em dinamarquez loeve ; em polaco e bohemio
lew ; em islandico leo ; em baixo bretão leon; em italiano leo-
ne e lione • em basco leoina ; em belga leew ; em russo léic ;
em castelhano leon — e em portuguez leão. ^
Leocadia — vem do grego léon — leão — e hados — bar-
ril, cântaro, balde, celha, como diz Boucrand.
Por seu turno Leocadia deu Locaia e Vai de Locaia, po-
voações nossas.
Leonardo — em allemão Leonhard — vem do teutonico
^ Leocrisia foi santa e auctorisa a forma Leocrisio, em latim Leo-
crisius, ti, iis, — unde Liicriz, povoação nossa,— e talvez Criz por Lucriz
(o Criz?)— rio da Beira Alta?
— É' assim a arte nova !. . .
■^ Leontos deu Lconte, sitio histórico da serra do Gerez. Passava
em Leonte a estrada romana da Geira e ainda ha pouco alH se viam tom-
bados alguns marcos milUares d'ella.
^ — V. Léon, em Boucrand.
84 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Zeon — leão — e hard — corajoso. Leonardo, quer, pois, dizer
— valente e ousado como um leão.
O mesmo suffixo hard se encontra em muitos nomes
germânicos, taes são : Bernardo, o mesmo que Berardo, —
de beér — urso — e hard — ousado.
— Ricardo — em allemão Eichard — de 7Ích — rico — e
hard — ousado, valente.
Ríchard em latim deu Ricardus e no baixo latim da
edade media Ricárediis, Ricarédus e Recaredus, i, unde Reca-
rêdo, nome d*um rei godo, — e Recarei, povoação, — de Reca-
redi villa — granja, quinta ou casa de campo de Recarédo ou
de Ricardo.
*
* *
Leonides é o mesmo que Leonidio e Leonidas, nome gre-
go d'um rei de Sparta, cidade que deu o nome ao esparto,
planta.
Leonides ou Leonidas quer dizer — filho de leão ou nas-
cido de leão ou que tem sangue de leão!
Devia ser mais valente do que eu I . . .
Leohaldo, Leopardo e Leopoldo são formas do mesmo no-
me, em francez Léohald e Léopold — em latim Leobaldus,
Leopaldus e Leopoldtts, ^, — do teutonico leon — leão, — e
baldy o mesmo que bold e hard supra, — corajoso, valente,
ousado.
O mesmo suffixo germânico bald se encontra em Gonde-
bald, nome composto do teutonico gund, o mesmo que ger —
guerra — e bald, — Significa, pois, Gondebaldo — o mesmo que
Gerard — Gerardo, Geraldo, Girai e Giraldo — valente, ou-
sado e corajoso na guerra. ^
Gondebald em latim deu Gondebaldus, i — unde Gonde-
vae, Gondivae, Gondivau por Gondibaldo — e Gondivão por
Gondiváo, o mesmc que Gondivau, povoações nossas.
Al deu au supra, como Arnaldus —Arnaldo, nome d'um
santo, deu Arnau, Arnaud e Arnaut, appellidos nossos, o
* Gerardo, Geraldo e Giraldo foram santos.
A forma Girai por Giraldo é antiga e encontra-se em Girai Paes,
povoação nossa.
Giraldo deu Girai, como Vivaldo deu Vivar por Vivai, povoação
da Hespanha, e Bivar, appellido nosso.
TENTATIVA ETrMOrX)GTCO-TOPOyYMrCA 85
mesmo que Arnaud e Arnotdd, nomes francezes^ tirados de
Renaud e Renould — e estes de rein — puro, claro, fino, as-
tuto, como diz Boiícrand.
Também Theodohaldus, i — Theodobaldo, nome germâ-
nico, entre nós deu Theobaldo e Theobardo, nomes de santos,
— Theobalde, Tibalde e Tlbaldinho, povoações nossas, — Ti-
baldo, Tibau, Tíbeau e Tovar, appellidos.
Assim como Vivaldus na Hespanha deu Vivar, nome de
duas povoações, e entre nós Bivar, appellido, — também
Theodobaldus^ o mesmo que Theodobardus, na Hespanha deu
varias povoações com os nomes de Tebar, Tobar, Tobarra,
Tobaruela, Tobera, 7ovals, Tovar, etc, — unde Tovar, appel-
lido portuguez nobre e antigo.
Cf. Thibaut e Tibault, nomes francezes, o mesmo que
Theobalde, Théodebald e Theudibald.
Este nome vem do teutonico theod — povo, nação ; che-
fe, principe ; — e bald ou bold — ousado_, corajoso. Theodo-
baldo significa, pois, — chefe valente, corajoso.
*
* *
Volvendo a Barcos e aos bácoros, porcos, suínos, Soares
e Soeiros, porqueiros, negociantes de porcos, ainda mencio-
narei um vocábulo portuguez da mesma família, que prende
com a nossa onomástica. — E' elle varrão, o mesmo que bej'-
rão por verrão (o povo diz borrão) — porco inteiro — do latim
verres, is — idem, que já no latim deu Verres, appellido de
Caio Verres, cidadão romano, etc.
O mesmo verres, is talvez desse Verride, povoação nossa,
bem como Berredo por Verredo, o mesmo que Verride por
Verrido, pois na onomástica portugueza as desinências ida,
ide, ido, êda, êde e édo, por vezes se confundiram e substitui-
ram, como logo provaremos no tópico — Desinências onomás-
ticas.
Mas Berredo e Berredos, povoações nossas, talvez prove-
nham do portuguez popular berredo^ o mesmo que berraria e
berreiro — de berrar, dar berros, gritar ; — urrar, bramir, ron-
car, termos onomásticos da voz das feras.
Cf. Berraria, povoação nossa, que tomou claramente o
nome do portuguez berraria, o mesmo que berreiro.
A' mesma familia pertencem talvez Urra, Urro, Urro,
Urros e Urros, povoações nossas, — e Pedra Curra (pedra
que urra) — sitio próximo de S. Cosmado, terra natal do sr.
86 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
dr. Francisco Gomes Teixeira, mathematico distinctissimo,
lente e director da Academia Polyteclinica do Porto ^ etc.
A tal Pedra Curra bem merece o nome, porque demora
em sitio alto e desabrigado, muito batido pelo vento e tem
um buraco ou abertura natural que brame, quando sopra
vento forte. ^
Junte-se Ronca, Ronca de BaixOy Ronca de Cima, Ronca-
nlto, Roncão, Roncão de Baixo, Ronca o de Cima, Roncão d'El-
Rei, Roncão do Meio, Roncas, Ronco, Ronco de Baixo (?/...),
Ronco de Cima, RoncÕes, Ronqueira, Ronqueiras ^, — Ronqui-
Iha e Ronquinha, formas do mesmo nome talvez, pois na ono-
mástica portugueza Ih e nh confundiram-se e substituiram-se,
como l e n.
Veja-se o tópico infra ~ Lh e Is/h, — tópico muito curioso
e muito interessante para esta ordem de estudo ! . . .
Berredo e Berredos também podem ser formas de Bar-
redo e Barredos, povoações nossas, que tomaram o nome do
barro, como Barraes, Barrai, Barredo, bairro do Porto, —
Barrosa, Barroso^ Barril por Barrai, etc.
Junte-se finalmente Olival dos Borrões, sitio da Villari-
ça, em Traz-os-Montes, que tomou claramente o nome dos
borrões, por barrões ou varrões, berrões ou verrões — porcos
inteiros.
Note-se que no dito Olival dos Borrões ainda hoje se
encontram porcos de pedra, toscamente desenhados e grava-
dos em alto relevo nas fragas ou rochas, imitando a lendá-
ria porca de Murça, — o porco ou porca em que assenta o
pelourinho de Bragança — e outros porcos ou porcas de pe-
dra, que ainda hoje se encontram na mesma província tras-
montana, — talvez reminiscência d'algum povo que por alli
estanciasse e adorasse os porcos, como deuses .^ ! . . .
Varrâo, porco inteiro, virá do latim verres, idem, mas
Varro, onis — Varrão, — já se encontra em latim puro, como
1 Para atesto da pipa, junte-se — Orreiro e Orro$, o mesmo que
Urreiro e Urros, povoações nossas, — bem como Reiro e Reiros, talvez
aferese de Orreiro e Orreiros ? !. . .
— A bússola é o ouvido.
2 Temos também Ronceiras, casal, antiga forma de Ronqueiras.
Veia-se o tópico infra : — Substituição de letras.
TENTATIVA ETYMOLOGICO TOPONYMICA 87
appellido de Marco Terêncio Varmo, doutíssimo escri-
ptor, etc.
. O dito Olival dos Borrões pertence, pois, á lon^a série
das nossas terras e povoações que tomaram o nome dos por-
cos^ como Bácora^ Bacoreira, Bacorinho, Bácoro e Baixos —
dos bácoros, synonimia de porco'^.
Junte-se ainda Moita das Porcas^ Vai da Porca, Vai de
Porcas, Vai de Porco e Vai do Porco, Vai do Porquinho,
Horta do Porxes, Corta Porcas — por Corte das Porcas ? —
Cabeça de Porco e Cabeça do Porco, etc. — povoações nossas,
Ad ridendum, por ultimo direi que o nome do papa Sér-
gio IV — era Pedro Bocca de Porco?/..,
Também do portuguez pocilga, o mesmo que pocilgo —
curral de porcos, — e de pocilgão — grande pocilga ou po-
cilgo, — tomaram o nome Possijal, o mesmo que pocigal e
pocilgal ?y — Possilgaes, Possilgão, Possilgões e Pexilgaes, o
mesmo que Possilgaes ? — povoações nossas.
Eira bien qui rira le dernier f I . . .
Junte-se Barrão, quinta nossa, — o mesmo que Van^ão,
her^rão, verrão e borrão, supra.
Também temos Javali, — aldeia, que tomou o nome de
javali — porco montez, porco bravo.
Por seu turno javali — provém do árabe jabali — e este
de jabolon — serra, monte.
Nós também temos varrasco, — o povo diz barrasco e
berrascOf — o mesmo que varrão, berrão.^ verrão e borrão su-
pra,— porco inteiro, não castrado. E na minha opinião bar-
rasco ou verrasco por methatese deu — Rabasca, Rabasco, Ra-
basqueira, Ravasco, Ravasqueira e Ravasquinha, contracção
de ravasqueirinha., povoações nossas.
Elias têem muita affinidade glottologica — é certo —
com as nossas povoações — ao todo mais de 20 — que toma-
ram o nome das rabaças, ervas. Taes são :
— Rabaça, Rabaçal, Babacas, Rabaceira, Rabaceiro, Ea-
bacinha, Rabacinas, o mesmo que Rabacinhas, — Rabaçosa,
etc. Mas na minha opinião a série anterior não tomou, como
esta, o nome das rabaças mas dos barrascos ou varrascos —
porcos inteiros, como já disse, — e por ultimo direi que os
porcos gostam muito das rabaças l . . .
Desculpem os meus poucos leitores tantos dislates (?) a
propósito de Bathuel, dos bateis e de Batel, — de Barcos e
dos bácoros, bacorinhos ou Leitões, — Soares e Soeiro ou por-
queiro, — porcos bravos e mansos, castrados e não castra-
88 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
dos OU varrões, verrões, herrões^ borrões^ harrascos ou varras-
cos — Rabascos, Bavascos, etc.
Só por si este longo tópico me dá entrada franca —
não em um instituto ou academia^ mas em um ruanicomio f . . ,
Desculpem a vaidade e prosigamcs.
Volvendo ao tópico supra : — Suffixo hebraico El —
Deus, — já mencionámos muitos nomes em que elle se en-
contra— e muitas povoações nossas que tomaram d'elles o
nome.
Junte-se Daniel, nome hebraico, mencionado na Biblia
muitas vezes e que apenas deu Daniel, nome d'um santo, e
Daniella, nome de mulher, mas não de santa.
Este nome é composto do hebraico dan — juiz — e El
por Eloah — Deus.
— Ezechiel ou Ezequiel, nome hebraico, deu também Eze-
chiei, nome d'um santo e 3 quintas nossas.
Este nome é composto do hebraico chezeTc — força — e
El — Deus.
Significa, pois, — força de Deus.
— Gabriel — também nome d'um santo e de varias po-
voações nossas, como já dissemos.
Este nome vem do hebraico gíbor — forte — e este de
gebouráh — força — e El — Deus. Significa, pois, também
força de Deus, como Ep'echiel, supra; mas Gabriel pôde vir
também do hebraico geber -^ homem. — e El — Deus, como
diz Boucrand.
Também Gabriel deu Gabriella, nome pessoal, mas não
de santa, como Daniel deu Daniella e Raphael deu Ba-
phaella.
— Ismael — nome hebraico, deu Ismael, nome d' um san-
to, etc.
Este nome é composto do hebreu schamah — ouvir,
attender, — e El — Deus. Significa, pois, Ismael ^ Deus o
attendeu, o ouviu.
Ismael^ filho á^Abrahão e de Agar, foi o progenitor dos
árabes, pelo que estes se denominaram ismaelitas e agarenos.
— Israel^ cognome hebraico de Jacob, deu Israel, nome
d'um santo, etc.,. — bem como também deu o nome de israe-
listas aos judeus.
Israel vem do hebreu sârah — elle combateu — q El —
Deus, Significa, pois, — combatente de Deus,
TENTATIVA ETYMOLOQICO-TOPONYMICA 89
Também pôde vir do hebreu iasar — ser justo, recto,
— e El — DeuSy — significando J/z-vZ/ra de Deus.
Vide Boucrand.
Israel no latim deu Israel^ I.sraélis, undo talvez I.sraeléis,
o mesmo que Israelitas, — e Serrelóis, povoação nossa, meta-
these e deturpação de Israeléis.
A escala podia ser Israel — Israélis — Israeléis, — Esrae-
léls — Esreléis — Serreléis ?
Fiat lux.
— De Jalaleel, élis, nome hebraico, talvez provenha Jal'
les, povoação nossa, como já dissemos.
A escala seria : — Jalaleel — Jalalevlis — Jalélis — Jal-
les?
A bússola é o ouvido.
— Joel deu Joel e Zoei, nomes de santos, — e Juhel, ap-
pellido nosso.
Quanto a Manuel e Miguel, — já dissemos o bastante.
— Eaphael deu Rajphael^ nome d'um santo, — e Raphaela,
nome de mulher, mas não de santa, — Eaphael, Eaphael Ci-
meiro, Eaphael Fundeiro e Eaphaela, povoações nossas, — bem
como i?. Eaphael, casal e moinho.
Na Hespanha Eaphael deu Eafaeles e talvez Eafal, Ea-
falet, Eafelhafios, etc, varias povoações de Granada, Ali-
cante e Baleares.
Samuel, nome hebraico, mencionado na Bíblia, entre nós
deu Samuel^ nome d'um santo, — Samicell, appellido d'im-
portação, — Samuel.^ duas aldeias e duas freguezias, — Samel
por Samuel — e Samil por Samel, povoações nossas.
O mesmo Samuel, assim como deu Samel e Samil, tam-
bém deu ou podia dar Samal, unde talvez Samaldo por Sa-
maio?, povoação nossa.
Também Samal e Samel podiam dar e na minha opi-
nião deram — Tamal e Tamel, povoações nossas, — e Tamel,
nome d'um santo, — talvez forma de Samel por Samuel !, . .
Os leitores não se espantem, porque na onomástica por-
tugueza sa, se, so — e ta, te, to — conftindiram-se e substituí-
ram-se, como provaremos no tópico infra — Substituição de
letras.
*
* *
«E você a dar-lhe com o tópico — Substituição de le-
tras?/...
ftEsse tópico — dirão os leitores — é o seu bordão, como
90 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
foi para Fr. Bernardo de Brito — o Lay mundo, tantas vezes
por elle citado e que jamais alguém lobrigou ! »
— Têem vocencias muita razão e, porque o mencionado
tópico é longo, — milito longo — e talvez se demore, ahi vae
uma amostra do panno.
5q, 5é, 5Ó e tá, té,tó — confundindo-se e substituindo-se
na onomástico portugueza
— SangidnTial — Taganhal e Tanganhal por tanguinhalf
— Sainde e Tainde.
Todos os nomes que vou citando são nomes de povoa-
ções nossas, mencionados pelo sr. João Maria Baptista na
Chorographia Moderna.
Somma e segue.
— Sangue — e Tanque.
— Salahorda e Taborda.
— Carrapassal e Carrapatal,
— Carapeçal, Carapesal e Carrapetal.
— Carapeço e Carapeto.
— Carapiço e Car apito.
Carapesal foi appellido nobre e antigo de João Carape-
sal, alcaide-mór de Leiria no tempo de D. Sancho I.
V. Leiria no Portugal antigo e moderno, vol. 4.*^, pag. 79.
Carrapassal ou Carrapaçal, Carrapatal, Carrapeçal e
Carapesal são formas do mesmo nome, tiradas de Carapeço
por Carapeto, Carapiço e Carapito — e este por carrapato, con-
tracção de carrapateiro, espécie de feijão que dá o rícino e
que deu o nome a diíferentes povoações nossas.
Taes são: — Carapecos, Carapeta, Carapeta!, Carapetali-
nho^ Carapeteira, Carapeteiro, Carapeto, Carapetos^ Carape-
tosa, Carapicha, Carapiço, — Carrapassal, Carrapatal, Carra-
patas, Carrapateira, Carrapateiras, Carrapateirinhas, Carra-
pateiro, Carrapatello, Carrapatinha, Carrapato, Carrapatosa,
Cctrrapatoso, appellido, — Carrapetal, Carrapkliana, Carra-
pitos por Carrapatos, etc, — povoações nossas.
Junte-se também.
— Saião e Tayão,
— Sedões e Tedões.
— Sarrea, appellido, — Sarria, na Hespanha, — e 2'ar-
ria, casal nosso.
— Ceira e Teira.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 91
— Seixedo e Teixedo.
— Seixeira e Teixeira.
— ^Seixo.so e Teixoso.
— Celho [Cima Celho) — Telhe e Telho,
— Sello o Tello.
— Sellões, Tellões e Tendes por Tellõeft? f...
— Sendal e Tendaes^ plural de Tendal.
— Sendas o Tendas.
— Sente e Tente.
~ Serena e Terena?...
— Serina e Ter i na ? . , .
— Serrão e Terrão, aldeias!...
— Serrenho — Terranlio o Terrenho.
-^ Serrazim. Serrazina — e T'errazina. •
— Serrões e Terrões ~ aldeias ! . . .
— iSot/m e Taim,
— Setinha e Tetinha.
— Sesteira e Testeira.
— Sourinho e Tourinho.
— Semonde e Themonde.
— Cibões por Cibães ? — e Tibães.
Note-se que as desinências ães e ões confundiram-se e
substituiram-se - como ainda hoje se confundem e se subs-
tituem? /...
— Suga eiró por Sugeiro? — e Tojeiros. . .
Note-se que ge e gtie também se confundiram na ono-
mástica portugueza.
— Sonda e Tonda.
— Sonim — Tonim e Tunim,
— Soppo e Topo.
— Soutosa e Toutosa,
— Souto e Totito ? / . . .
— Soito por Souto — e Toito, o mesmo que Touto!...
Junte-se também Saganhal e Ta(/anhal, povoações nossas.
— Saide e Sainde — Thaide e Tainde!, . .
— S abeira, Sabeiro — Taveira e Taveira.
— Zaborreira por Saborreira ? — e Taburreira / . . .
— Sala e Talla.
— S. Gil, que se lê Sangil, — e Tangil ?
— Sarroeira e Tarrueira — quasi Tarroeira.
— Sardoeiro, Sardoura — e Tardouro, quasi Tardoura.
Cf. também os vocábulos portuguezes sarro e tarro —
sedimento de qualquer liquido.
92 TKNTATIVA ETYMOLOaiCOTOPONYMICA
Talvez sejam formas do mesmo nome, tirado do caste-
lhano sarro — e este de sar por sal? /. . .
Do exposto se vê que sá^ sé, só e lá, lé, ló se confundi-
ram e se substituiram na onomástica portugueza, pelo que
/Sarnííeí, ■ assim como deu Samal e Sameí^ podia também dar
e na minha opinião deu — Tamal e Tamel !
*
* *
Com relação ás desinências el, il e ai — veja-se o que
disse a pag. . . .
Samuel deu Samel — e por seu turno Sxmel deu ou po-
dia dar Samil.
Cf. Louvai^ Lourel e Louril, — Moural, Mourel e Mourilj
povoações nossas.
O povo ainda hoje também diz três mel réis, dez mél
réis, vinte mél réis — por dez mil réis, vinte mil réis, três mil
réis, etc.
Também o povo diz facel e deficel por fadl e diffidl,
versão portugueza do latim facilis e difflcilis ; mas o povo
alguma desculpa tem, porque vae com a maioria !
Nós temos alguns vocábulos com o apparelho de fácil,
taes são ágil, grácil, portátil, versátil, etc, mas temos muito
maior numero de vocábulos com o apparelho de facel. Taes
são :
—Adiavel, afável, amável, arável, amoravel, ampliavel, ado-
rável, cantavel, caroavel, cultivável, declinaoel, demostravel, du-
rável, dispensável, estimável, estável, execravel, fiável, findavel,
foi^midavel, friável, imaginável, incomparável, intratável, imi-
tavel, inimitável.^ insociável, etc.
Também temos alguns vocábulos com o apparelho de
difficil ; mas temos imcomparavelmente mais com o apparelho
de deficeL Taes são os seguintes :
— Amovivel, attendivel, audivel, comestível, concebível,
cognoscivel^ compatível, incompatível, corruptível, incorru-
ptível^ crivei, incrível, divisível, indivisível, elegível, ineligi-
vel, factível, fallivel, infallivel, horrível, immobil e immovel,
terribil e terrivel_, temivel, impassível, imperceptível, imper-
divel, imperfectivel^ impossível, preterivel, impreterível, solii-
vel e insolúvel, solvivel e insolvivel, msicel e invisivel, etc.
Do exposto se vê que o povo, dizendo facel e di/icel em
vez de fácil e difficil — alguma desculpa tem, pois vae com
o diapasão geral portuguez.
TENTATIVA ETYMOLOGICO TOPONYMICA 93
Fácil e difficil são excepções, mas devemos acceital-as
e respeital-as, porque — o uso é o mestre e arbitro das Uuguas,
Desculpem a digressão.
Volvendo ao tópico dos nomes hebraicos com o suffixo el
— Deus, mencionaremos por ultimo Zabdiel, que deu ou po-
dia dar — Zaviel, quinta nossa, denominada também Znniel.
N'este caso pôde vir de Daniel^ nome hebraico também, por-
que antigamente — já no tempo dos romanos — d q z confun-
diram-se e substituiram-se, como em Medentins por Mezen-
tiuSf etc.
Magnum Lexicon latino — verbo Z.
Também Zaviel pode vir de Xavier pela forma castelhana
Javier.
Note- se que er podia sem violência dar d, porque / e r
trivialmente se confundiram e substituiram.
Cf. Roligo e Rorigo, o mesmo que Rodrigo, povoações
nossas.
— Coulella^ Coulellas — Courella e Courellas — idem.
— Beltrão, nome d'um santo, o mesmo que Bertrand, ap-
pellido nosso, tirado de Bertrand, nome francez — e este do
teutonico bert, o mesmo que berth e brecht — ilustre ^ — e
hand — mão.
Junte se Eleutherio, Neoterio ou Neuterio e Neutel — no-
mes de santos e talvez formas do mesmo nome, tirado do
grego el eu th eros — livre.
Também temos Elmano e Hermano, o mesmo qne Ger-
mano, nome d'um santo, em francez Germain, que deu o no-
me de Saint Germain a um dos grandes boulevards de Paris.
Germano ou Germain, como diz Boucratid, vem do ger-
mânico wehr — arma, — ou ger, o mesmo que loar — guerra
(unde o baixo latim e o portuguez guerra), — e man — ho-
í Veja-se Alberto supra, pag. 55 — e Albert, Berthe e Bertrand,
em Boucrand.
O mesmo berí também teve as formas — pert, pret e precht, unde
Rupert— Roberto — do teutonico rat ou rad — conselho, — e pert ou
ôerf— illustre.
Aqui temos nós d a i— b e p confundindo-se e substituindo-se yd
em teutonico ? !. . .
Veja-se o tópico 'm[x^. — Substituição de letras — <: Boucrand vbs,
Berthe e Rupert,
94 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
mem. Significa, pois, Germano — homem de guerra ou guer-
reiro.
Outros dizem que Germanus vem do latim germinare —
produzir, multiplicar, por serem muito prolíficas as mulheres
germânicas e prodigiosa a multidão d'homens que habitavam
a Germânia. ^
Também Germano — diz Boucrandy — pôde vir do latim
germanus — irmão carnal, filho do mesmo pae e da mesma
mãe.
* *
Para atesto do casco direi que o latim germanus — irmão
— no baixo latim deu entre nós germanellus — irmãosinho —
unde Germanello, antigo nome d' uma villa e d'um castello
no concelho actual de Penella, districto do Coimbra.
Também supponho que o mesmo germanellus deu Ger-
mel e Jarmello, povoações nossas.
Vejam-se as paginas supra — e no vol. xii do Por-
tugal antigo e moderno o meu artigo Zambujal^ freguezia
actual do concelho de Condeixa. Alli — paginas '2:067 e se-
guintes — fallei também do castello do Germanello e dei a
etymologia d'elle — o germaneHus supra, por ter a mesma
forma cónica e approximadamente a mesma altura d'outro
morro, chamado na lenda Mello, seu visinho, do qual bem
pode dizer-se irmão germano, germanello ou wmãosinho.
Eu já os vi com muito prazer, indo de Condeixa para
Penella.
Do exposto se vê que Xavier pela forma castelhana Ja-
vier, podia dar Zaviel.
Note-se que já e za se confundiram e substituiram na
onomástica portugueza.
Cf. Tojal, Tozal e Tuzar por Tujal, o mesmo que Tojal,
povoações nossas, que tomaram o nome do tojo.
Tampem a urze, planta ericinia, o mesmo que tórga e
que iro, — deu Urgal, Urjal e UrzaL
Junte -se também Jorjaes, Jurzacs, Orgens, Orjaes, Zor-
zaes e Zurzaes, povoações nossas, que talvez tomassem o no-
me da urze^ supra — ou do francez orge — cevada ? ! . . .
* O sr. Cândido de Figueiredo no seu Novo Diccionario da Lín-
gua Portugueza, do qual eu tive a honra de ser o mais humildo coope-
rador, — diz que os povos germanos ou da Germânia tomaram o nome
do grtgo— germanos.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOrONYMICA 95
E' este um curioso espécimen da arte nova, que por
certo vae expôr-me ao desdém, riso e mofa dos profanos, táo
fáceis em rir e mofar d'aquillo que não entendem ; mas, como
já disse algures, — rira hien t/ui rira le dernier! . . .
A critica de mofa é critica banal, balofa, imprópria de
gente seria.
Aos meus acres censores mais uma vez direi : — edd tua!
Tomem a penna, — desçam do palanque^ — entrem no
redondel — e verão o que lhes succede?!...
Mas vamos ao thema proposto.
*
* *
— Jorjaes, Jurzaes^ Orgens, Orjaes, Zorzaes e Zurzaes,
povoações nossas, podiam tomar o nome da U7'ze supra — ou
do francez orge cevada.
A ifrze^ o mesmo que urgueira e urge, deu Urjal, Urgal
ou Orgal, Urgares, Urgeira, Urgeiro, Urgezes, Urgueira, Ur-
jal, Urjarica, Urzal ou Olgar {?),— Urzalão e UrzeJhe, — po-
voações nossas, mencionadas na Chovograpliia Moderna, que
mais uma vez recommendo aos meus poucos leitores.
— Urgal é contracção de Urgueiral, como Pinhal de Pi'
nheiral, Olival de OUieiral, — Cerdal de Cerdeiral, o mesmo
que Serdeiral, — Sobra f, o mesmo que Soveral de Sobreiral,
— Sorvai de Sorveiral, bosque ou matta do sorveiras, arvores
que dão sorvas, etc, — povoações nossas.
— Orgal é uma forma de Urgal, — como também Urjal
e Orjal, porque já, jé, jó, jú, pelo diapasão castelhano deram
gd, gué, gô, gií. Assim Urgeira deu Urgueira, etc.
— Ur gares — ó uma forma de Urgales, o mesmo que Or-
jaes, Urjaes e Urgaes, pois na onomástica portngueza ai deu
ar — e ales deu ares,
Cf. Alrozella e Arrozella ; — Alvellos e Arvellos ; Avellal
e Avellar ; — Marmelal e Mar melar ; Tojal e Tuzar por Tu-
jal, etc.
Cf. também Casal, Casaes e Casares por Casales ou
Casaes ; — Falhai, Palhaes e Falhares por Falhales ou Fa-
Ihaes, povoações nossas.
A Hespanha tem Casal e Ca^^ares — não Casales nem
Casaes; — Fajar e Fajares — não Fajal ou Falhai nem Fa-
jales ou Falhaes, — e nós, como reminiscência da occupação
hespanhola e árabe, temos Alprajares por Alpajares, a linda
calçada transmontana dos palhaes ou dos palhares, supra men-
cionada.
96 TENTATIVA ETYMOLOCUCO-TOPONyMICA
Junte-se Olival e Olivaes^ povoações nossas, — o mesmo
que Olivar e Olioares por Olivales, povoações da Hepanha. ^
— Urgéira e Urgeiro são o mesmo que Orgueira^ Orguei-
ro, Ulgiieira, Urgueira e Urqueira f ... — povoações nossas.
— Urgueira deu Urqueira pela trivial substituição de ga^
gue, gui, go, gu — e ca ou há, — hé ou gué, — là ou qui, — ho
ou cô — e Jcu ou cu na onomatisca portugueza.
Veja-se o tópico infra : — Substituição d^ letras.
— Urjal é o mesmo que Urzal, como também urge é o
mesmo que urze, pois jâ, jé, ji, jó, jú — e zá, zé, zi, zó, zú
confundiram-se e substituiram-se na onomástica portugueza,
como já dissemos e logo provaremos.
— Olgar — ó o mesmo que Orgal, Orjal, Urgal, Urjal —
Urzal (?/...) como está dizendo a Chorographia Moderna —
Olgar ou Urzal^ — Orgal, Orgal ou Urgal, — Urgal ou Or-
galj — Urzal e Urzal ou Olgar ? / . , .
— Urzalão — ó augmentativo de Urzal, o mesmo que
Urjal, Urgal, etc.
— UrzeUie é o mesmo que Urzelha, diminutivo de urze.
— Orjaes é o mesmo que Urjaes, povoações nossas,
cujos nomes são o plural nitido, puro e correcto de Crjal e
Urjal, o mesmo que Urgal, Urzal, Olgar, Orgal, etc, etc.
Do exposto se vê que a urze foi muito prolífica na ono-
mástica portugueza e, sendo uma planta muito áspera, tomou
formas variadíssimas nos muitos nomes de povoações d'ella
provenientes, já mencionados.
Mencionaremos ainda outros e entre elles um, que é uma
especialidade distíncta na tão linda como nebulosa arte nova.
EUe ahi vae :
— Urgezes — nome único em Portugal. — E' uma aldeia
e uma freguezia do concelho de Guimarães.
Com vista ao meu bom amigo e laureado escriptor vima-
ranense, o muito rev. e muito illustrado sr. João Gomes d'Oli-
veira Guimarães, abbade de Tagílde, etc, mencionado supra.
Desinência EZE5 das nossas pouoações
Os leitores devem rir e mofar, por verem ligar tanta
1 Obedecem ao mesmo diapasão de r por /— Ulmal, Urmal e Ur-
mar (?!...)
— Olmeira, Ulme ira e Urmeira, — Ulmeiro e Ur me iro, povoações
nossas, que tomaram o nome do latim ulmus, i — o álamo, alemo, olmeiro,
olmo e ulmeiro, arvore, o mesmo que choupo, negrilho, etc.
TENTATIVA ETYMOLOQICO-TOPONYMICA 97
importância a uma desinência tão vulgar no idioma portu-
guez ; mas rira hien qui rira le dernier !...
Eu não trato do idioma portuguez — mas da onomástica
porfugueza — e n'ella occupa um rol disfincfo a desinência
ezes^ que se encontra em Urgezes, supra, e cm um restricto
numero dos milhares ou milhões das nossas povoações, com-
prehendendo cidades, villas, aldeias^ herdades, quintas, casaes,
moinhos e sitios habitados, mencionados na Chorographia Mo-
derna^ obra indispensável para este ramo d'estndo.
Com a nebulosa e muito antiga desinência ezes ^ apenas
. temos 28 povoações. São as seguintes :
— Ahravezes, Andrezes, Banrezes, Barrezes, Bohezes, Bra-
quezes, Caldezes, Cambezes, Canavezes, Cortezes, Esperes ou Es-
gezes (sic), Francezes, Gemezes, Guilhadezes, Inglezes, Lanhezes,
Menezes, Mezes, Minguezes, Miradezes, Murracezes, Pairezes,
Queirezes, Repezes, Revezes, Saboguezes, Talharezes e Urge-
zes? /...
São fáceis ou aparentemente fáceis de attingir as etyrao-
logias de Braguezes, Cortezes, Francezes, Inghzes, Menezes,
Mezes, Miradezes, Revezes, Saboguezes, e Ur gezes; — as 18 res-
tantes são de pelle diabi!...
Eu hei de logo dizer algo d'ellas todas, mas titubeando,
— sem pensar nem por sombra em dizer a ultima palavra
sobre tão nebuloso assumpto. Apenas darei o thema para a
discussão, deixando a porta aberta e franca para pennas mais
competentes.
As mesmas etymologias de Menezes, Mezes, Revezes e
Ur gezes — habent dentem coelM! ...
Menezes é appellido vulgar, mas qual a sua etymologia ?
Difficilem rem postulasti.
Na minha opinião Menezes pôde vir de Menizis, patro-
nimico de Menizus, i, nome pessoal no século X.
Menizus presbiter scripsi et test. — Documento do anno
943. ^
Em vulgar: — « Eu o padre Menizo escrevi este docu-
mento e o assignei, como testemunha. »
Menizus é o mesmo que Menizius, e este é talvez o
mesmo que Menezius, metathese de Nemesius, ii, — Nemésio,
^ Esta desinência ezes das nossas povoações já se encontra em do-
cumentos do século X, que logo citaremos.
' Poríugaliae Monumenta, Chartae 30 — n.o 50.
98 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
nome romano d'um santo e d'um tribuno que foi pae de
Santa Luzia — em castelhano Lucília.
«Bien es verdade que huvo una santa virgen y martyr
llamada Lucilía, hija de Nemésio Tribuno... y) ^
Mas qual a etymologia de Nemésio^ em latim Nemesius,
ii, que por metathese deu ou podia dar Meniziis, Meneziis e
Menezes ?
— Na minha opinião é Nemesis, deusa da vingança, filha
de Júpiter e da Necessidade. — Castigava severamente os que
abusavam dos dons da fortuna.
Os gregos tiveram muitas divindades com o nome de
Nemesis — e foi particularmente adorada entre elles na Aitica^
onde teve uma celebre estatua de mármore, cinzelada por
Phidias ? / . , .
Nemesis, nome da tal deusa, vem do grego nemesis —
ira, inveja, indignação pelo bom successo dos maus.
V. Nemesis em Covarruhias,
Foi também Nemesis fervorosamente adorada pelos ro-
manos, unde o latim Nemesius, ii — Nemésio, nome dado aos
sacerdotes de Nemesis e aos devotos d'ella.
V. Nemesis no Diccionaino Clássico e no Magnum Lexi-
con latino.
Também Menezez pôde vir de Menoetiis (lê-se Meneciis),
patronimico de Menoetius -■ Meneceo, nome grego d'um prin-
cipe thebano, que se suicidou para obter a liberdade de The-
has, promettida com esta dura condição por certo oráculo.
Vide Meneceo e Patroclo no Diccionario Clássico — e Me-
noetius em. Boucrand, vb. Actor.
Menoetius é latinisação de Menoitios, nome grego do pae
de Patroclo^ em latim Patroclus, i, unde talvez Pedrogo e Pe-
drogos, povoações nossas.
Também Menezes pôde vir de Mnezis, nome pessoal
grego.
Chamava-se Mnezis um celebre flautista, muito estimado
por Ptolomeu Philadelpho, lendário rei do Egypto.
*
* *
Não se extranhe tantas referencias á Grécia, pois, como
Vide Cegar — em Covarrubias.
TENTATIVA RTYMOLOGICO-TOPONYMICA 90
já dissemos e repetimos com o sábio Herculano — os gregos^
em tempo muito anterior aos romanos, occuparam grande
parte do nosso paiz.
T3'elIos conserva ainda hoje o nome de Athenor uma fre-
guezia do conceliio de Miranda, pouco distante da Aldeia dos
Gregos, povoação nossa também — e temos na onomástica
portugueza e no idioma portuguez outras militas reminiscên-
cias dos gregos / . . .
Pôde também Menezes vir de Menix, icis — antigo nome
d'uma ilha da Africa no iUeíZíYerra/ieo, chamada também Gel-
ves e (ierbi. ^
Também Menix, icis podia dar Menice e Menici, appelli-
dos nossos, vindos talvez da Itália.
Note se que das ilhas do Mediterrâneo, por serem muito
conhecidas desde o tempo dos fenicioSy gregos, egtjpcios, roma-
nos e cruzados, foram tirados muitos nomes pessoaes e ap-
pellidos.
De Sidónia, velha capital da Fenicia que, antes de ser
conquistada por Alexandre Magno, era uma ilha, como diz
Plutarcho, veiu Sidónio, nome d'um santo, etc.
De Beijruth, ilha e porto de mar, chamados em latim
Beritus, i, — vem talvez Brito, appellido nosso.
Por seu turno Beritus, i, deu ou podia dar Beritianns, i,
— Bertiandos e Britiande, povoações nossas.
Também Chi/pre, em latim Cyprus, i, — deu Cyprianus,
h — Cypriano e Cibrão, nomes pessoaes e nomes de santos.
Cf. aS'. Cypriano, S. Cibrão e S. Cibrainlio por S. Cypria-
no e S. Cyprianinho, povoações nossas.
A forma S. Cibrainho recorda Smto Antoninlio, S. Ben-
tinho, S. Cosniadinho, S. Dominguinhos, S. Lourencinho, S.
Pedrinho, S. Joaninho, e Santiaguinho, povoações nossas.
Em Almelaguez por Almalaguez, freguezia do concelho
de Coimbra, o povo também dá carinhosamente a aS'. Sebastião
o nome de S. Sebastiãosinho.
Por ultimo direi que Menezes também pôde vir do néo
celta ou patois bretão menés — monte ^ — que entre nôs talvez
desse meneses, synonimia de montezes, serranos^ se7'renhos, —
bravezes e Abravezes por Al + bravezas ?
^ Covarrubias, vb. Gelves.
- Héricher, pag. 69.
E' para notar que a Hespanha tem uma povoação denominada Menes
(Menês ou Menés) — e outra Meneses ? !. . .
100 TENTATIVA ETYMOLOaiCO-TOPONYMICA
Será reminiscência dos celtas a nossa tão antiga, como
nebulosa e estranha desinência ezes das povoações apontadas
supra ?
Ella destoa do latim, do portiignez, do ca^ielhano, do cal-
laico, do leonez, do italiano, do toscano, do teutonico, ou ger-
mânico, e do francez.
A Hespanha, irmã gémea de Portugal, entre os seus mi-
lhões de povos apenas tem — que eu saiba — com a desinên-
cia eses, correspondente ao nosso ezes — as seis povoações se-
guintes: — Caneses, Fondereses, e Loureses — além de Ahrave-
seSy Cambeses e Meneses, como nós temos.
Chamamos para tão nebuloso assumpto a attenção dos
celtistas e fecharemos este tópico dizendo que na Monarchia
Lusitana, parte II, pag. 321, pôde ver- se uma etymologia
romântica de Menezes — etymologia que ponho de parte, por-
que para dislates bastam os meus.
Prosigamos.
E' também apparentemente fácil a etymologia de Revés
(Revés ou Revês*?) — e Revezes, povoações nossas, — dado que
tomassem o nome do portuguez recés ou revcz — fatalidade ;
mas duvido, porque em geral as nossas povoações já vêem da
edade media e é muito posterior o timbre do portuguez revés
ou revéz, pelo que hei de propor outra etymologia para Re-
vezes,
A mesma etymologia de Urgezes é bastante nebulosa, pois
vários documentos dos séculos X e XIII, que havemos de
citar, dão a Urgezes o lindo nome de Colgezes'? !...
E na minha opinião CoUjezes é eífectivamente o mesmo
que Urgezes pelo prisma da arte nova, como os leitores verão.
* *
Mas como explicar a tão nebulosa, como estranha e ar-
chaica desinência ezes das nossas 28 povoações indicadas su-
pra — e afinadas todas pelo mesmo diapasão .^ — E qual a ety-
mologia d'ellas ? ^
Eu vou dizer muitos dislates e os meus poucos leitores
vão rir e mofar, mas rira hien qui rira le dernier!...
Em assmpto de tal ordem a própria critica é difpcil!
Aos meus acres censores que julgam saber tudo e de tu-
do riem e mofam, apenas direi que tomem a penna, — desçam
do palanque, — entrem no redondel — e verão o que lhes succe-
de?/...
TENTATIVA RTYMOLOaiCO-TOPONYMICA 101
Eu VOU dizer muitos dislates-, mas por vezes os próprios
escândalos são úteis, porque do embate pude surgir a luz; —
mas vae illi per quem scandalum venit.
Ai de mim que vou diante e dou o escândalo!...
Basta de palinodias e de cantigas e íallemos das etymo-
logias de — Abravezea, Andrezes, Banrezes, Barrezes, Bohezes,
CaldezeSj Cambezes-, (Janavezes, Cortezes-, Esperes ou Espezes,
Gemezes, Gailhodezes, Inglezes^ Lanhezes, Menezes, Mezes, ^
Minyiiezes, Miradezes, MtirracezeSy Pairezes, Que/rezes, Rejte-
zes, Revezes, /Saboguezes, Talharezes e Urgezes.
Pondo de parte Braguezes, Francezes e Inglezes, povoa-
ções nossas, porque as suas etymologias são obvias, já me
lembrei de qua assim como Portugal deu portuguezes, —
bravial ou braval (?) deu ou podia dar bravezes e Abravezes ;
Barrai — Barrezes e Banrezes por Bar rezes ; Bobai — Bobe-
zes ; Canavial ou Canaval — Canavezes e Cambezes ; (juilha-
dal (?) — Guilhadezes ; Lanhai (?) — Lanhezes ; Murraçal —
Murracezes ; Pairai (?) — Pairezes ; Queiroal ou Queira l (?)
Queirezes ; Sabugal — Sahoguezes — e Urjal — Urgezes ?.'...
Este lanço de rede não foi mau de todo. Com certeza
cacei algum peixe, mas fugiu outro pelas tralhas malhas — e
muito de propósito não comprehendi no lanço Andrezes, Bra-
guezes, Esperes ou Espezes, Francezes, Meneies, Minguexes,
Miradezes, Repezes, Revezes e Talharezes.
— Bragueíes é a forma popular de bracarenses — filhos
ou oriundos de Braga, contracção de Bracara, pois Braga
representa a Bracara Augusta dos romanos.
— Esperes ou Espeses, — fica para segunda leitura,
— Com vista ao meu atávico successor que, por boas ou
más bulias se apossou dos m.ei\s caros — carissinios verbetes
— e do meu arsenal etyniologico. ^ — Talvez que alli se en-
^ Mezes é uma quinta nossa da freguezia da Annunciada, da cida-
de de Setúbal, —-quinta que por certo não tomou o nome dos mezes do
anno.
Na minha opinião Mezes é contracção de Menezes, unde quinta dos
Mezes por quinta dos Menezes.
Cf. Quinta dos Anjos, Quinta dos Barreiros, Quinta dos Claros,
Quinta dos Cordeiros, Quinta dos Lóios, Quinta dos Ramos, Quinta
dos Vigários, etc, quintas nossas.
- Vejam-se os meus pobres folhetins 61, 92, 93, 140, 146 e 14S, pu-
blicados no Conimbrecense — e agora as paginas 37, 40, 53, 68 e 78 (vz-
deie, videte!...) s\X{Dr2Lj — e Joaquim da Silveira no indice da 1.^ parte.
102 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMIOA
contre a etymologia de Esperes ou Espeses ; entretanto ahi
vae uma que no momento me occorre.
Cepal, chão abundante em cepas^ videiras, — ou em ce-
pos, troncos de arvores, — deu ou podia dar Cepeses, como
Portugal deu portiiguezes, — Barrai deu Barrenes e Banre-
zes ; Murraçal deu Murracexes ; Sabugal deu Sahuguezes ;
'Urjal — Urgexes, etc.
Por seu turno Cepezes muito bem podia dar Espezes,
porque as metathezes d'este género são trivialissimas na
onomástica portugueza.
Cf. Esnoga por Isnoga, — e esta por Synoga, contracção
de Synagoga f,..
— Escalhão por Secalhão, — terreno muito falto d'agua.
Tal é eíFectiva mente Escalhão, — vilia muito populosa, muito
rica e muito importante^ mas muito falta d'agua, tanto potá-
vel, como de regat...
Junte -se Escairo por Esqueiro e este por Sequeiro f
— Esquio por Sequio,
— Esquiró por Sequeiro.
— Esgueira, Esqueira, Esqueiro e Esqueiros — por Se-
queira, Sequeiro e Sequeiros, povoações nossas.
Junte-se também Cepeda e Sepeda, o mesmo que Cepedo
ou Sepedo — e Sepedros por Sepedos ou Cepedos, povoações
nossas. ^
Do exposto se vê que Cepexes muito bem podia dar Es-
pezes. Por seu turno Espécies podia dar Esperes, pois na ono-
mástica portugueza, como já dissemos e logo provaremos, —
ser confundiram-se e substituiram-se.
Note se também que as cepas e os cepos deram o nome a
muitas povoações nossas. Ahi vae uma lista d'algumas:
— Cepa e Cepães por Cepôes, porque na onomástica por-
tugueza as desinências aes, ães, e ões confundiram-se e subs-
tituiram-se, como havemos de provar em tópico especial.
— Cepeda, Cepellos, Cepo, Cepões, o mesmo que Cepães ;
— - Cepos, Sapa, o mesmo que Cepa ou Sepa ? — Sapal por Ce-
' Veja-sc o tópico Metathezes, infra; mas, como talvez se demore
ahi vão algumas, que não são feias.
Geromano & Jeronymo, nomes de santos; Cavídai por Cada-vae;
Gajove por Jagove e este por Jacob ; Gomes — de Cosme? ; Cliancrão—
por Cranchão e este por Granjão ; Concedeira por Codeceira — e Balu-
zal por Lubazal, o mesmo que Lobagueira e Luval, povoações nossas.
— A bússola é o ouvido.
TENTATIVA ETYMOLOaiCO-TOPONYMICA 103
pai OU Sepal unde Eapezes por Sepexes ? ; — Sepões o mesmo
que Cepães e CepÕes ; — Sepeda, o mesmo que Cepeda ; Sepe
dellos, o mesmo que CepelloH ou Cepedellos ; Sepedros, talvez
o mesmo que Sepedos ou Cepedos ^; tiepinho por Cepinho ; Se-
pins e talvez tierpim por (Jepínhos ? ; 6'^;?/)^ o mesmo que
/Sepa e Cepa ; Septellos, o mesmo que Bepedellos^ etc.
Note-se que na edade media ce e se se confuadiam e
substituíam por falta de bússola'^!, ..
*
* *
Basta de Cepas, Cepos, Cepal, Cepexes, Esperes e Espezes,
Ahi vae agora uma lista das nossas povoações que tomaram
o nome dos troncos das a7'vores, o mesmo que cepos, como já
dissemos.
Note-se que em Portugal, durante os longos- períodos de
guerras que assolaram o nosso paiz — desde os tempos mais
remotos — e durante as nossas expedições e explorações ma-
rítimas, que nos cobriram de gloria, mas que tolheram a nossa
lavoura — conservou-se inculta grande parte do nosso conti-
nente.
O arvoredo florestal attingiu proporções collossaes, ma-
gestosas, — nomeadamente os castanheiros, carvalhos e sobrei-
ros, — as nossas arvores de maior porte. D'ellas tomaram o
nome centenares — ou antes milhares de povoações nossas —
8 dos seus troncos — só dos troncos — as seguintes.
— Trancào por Troncão ; Trancões por Troncões ; Tran-
cosinho por troncozinho ; Trancoso por troncoso ; Trancoxão,
augmentativo de Trancoso, como Trancosinho, Trancoxello e
Trancoxellos são diminutivos.
T ranço xellinho é diminutivo de Trancozello e subdimi-
nutivo de Trancoso.
Junte-se Tronco^ Tronque por Tronco, — e Troncal que
pelo diapasão ai e ezes supra podia dar, mas não deu, Tron-
quezes, — nem Ameiral Ameirezes — nem Avellal Avellezes ;
mas temos Velez, appellido, que pôde ser aféreze de Arellex
ou de Avilex, appellido nosso também tirado d^Acila, como
Braguez de Braga, Francez de Franca, Maltez de Malta, Ir-
landez da Irlanda, M.ilaguez e Almalagiiez, no aro de Coim-
bra, de Málaga, — Angorêz de Angora, etc.
* Note-se que o r, como já dissemos, — é letra muito falsa e muito
caprichosa. Apparece e desapparece instantaneamente!. . .
104 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Também Carvalhal não deu Carvalhezes, nem Feital
FeitezeSy — nem Gestal Oestezes, — nem Pinhal Pinhezes, —
nem Sobral Sohrezes, — nem Vinhal Vinhezes^ etc.
— Francezes, herdade nossa, tomou claramente o nome
de França^ paiz dos Francos^ o mesmo que Franciscos (?...)
e Francezes — bem como outras muitas povoações nossas.
Pelo alto prestigio do benemérito conde D, Henrique,
natural da França^ pae do nosso primeiro rei D. Affonso
Henriques, vieram com elle da França muitos francos ou fran-
cezes — e posteriormente ainda mais, prestando-lhe uns e ou-
tros relevantes serviços — durante muitos annos — nas guer-
ras contra os mouros e contra os leonezes, ajudando-o a trans-
formar o condado portucalense no reino de Portugal.
Assim a meu ver se explica o facto de se encontrarem
no velho idioma francez muitos vocábulos portuguexes ^ — e
na onomástica portugueza muitas reminiscências da França,
entre ellas as nossas povoações seguintes: ^
França^ Franca, Francaria, o mesmo que Franzia por
Francezia, povoação nossa também ; Francos, France, Fran-
ceiras ou Franciscas, — Francelha, Francelheira, Francelhei-
rinha, Francelho, Francellos, Francezes (cá estão elles!...) —
Franciscas ou Franceiras (sic), — Francisco^ — Francisco Fer-
nandes, casal nosso, ^ — Franciscos, Franco, Francos. — A dos
Francos, o mesmo que A (villa, granja, quinta ou casa de
campo) dos Francos ou Francexes.
Cf. Adanaia^ Adarce, Adarnal, A das Sovellas por sobrei-
las — sobreirinhas, como Sovella por sobrella, antiga rua do
Porto, hoje rua dos Martyres da Liberdade.
Junte se ~ A de Barros, A de Formoso, Adefroia, A de
Junho, A de Justa, A de Martinho, Ademoço, A de Mourão, A
de Paulos, A de Velha, A do Alcaide, A do Baço, A do Bello,
A do Cavallo, A do Cêa, A do Coelho q A do Lindo,
Junte-se também A do Mealha, A do Motta, A do Pisco,
^ V. o Glossário dt Ducange, etc.
^ Veja-se também o tópico infra : — Diapasão francez — e a rua
dos Francos, uma das mais antigas da cidade de Guimarães, berço da
nossa monarchiíL -— A dieta rua dos Francos está dizendo que foi po-
voada pelos francos ou francezes, tah^ez contemporaneçs do conde D.
Henrique ? /. . .
^ Com vista ao meu bom amigo, o snr. dr. Francisco Joaquim
Fernandes, lente de Direito na Universidade de Coimbra, excellente pes-
soa e distincto advogado no Porio. — Só pela advocacia apura talvez
6 a 8 contos de reis — por anno ? ! . . .
TENTATIVA ETYMOLOGTCO-TOPONYMICA 105
A do Rainha, A Dorde, o mesmo que A da Ordem, — A do
Rocha, A do Serra, A do Vigário, A dos Bispos; A dos Cal-
ifas, A dos Corvos, A dos Ferreiros, A dos Francos (cá estào
elles ?!...) — A dos Gallegos, A dos Loucos (cá estou eu?!...),
— A dos Mattos, A dos Melros, A dos Molhados, A dos Negros,
A dos Neves, A dos Nobres, A dos Potes, A dos Ramos, A dos
Ruivos, A dos Vicentes e Adoiirigo, o mesmo que Adorigo,
povoações nossas, contracção de A d^Ourigo por A de Hono-
rigo, quasi Adorigo.
Note-se que flonorigo foi antigo nome pessoal, — em la-
tim Honor icKS, llonoriquix o Honoriquixi — unde Origo, Orix,
Ourigo (praia da Foz do Douro), — Ourique e Campo d' Ouri-
que, sitios históricos, — e Ouriz — povoações nossas.
Por seu turno Honoricus é o mesmo que liunericus, lati-
nisação barbara de Huneric, — Honerico, nome d'um rei
suevo, etc.
Adorigo e Adourigo querem, pois, dizer A granja, quinta
ou casa de campo de Hunerico ou Honorico.
Na falta d'outro documento pode afoitamente dizer-se
que a povoação de Adorigo, concelho de Tahoaqo, districto
de Vizeu, — já vem do tempo dos suevos'^!.., *
*
* *
Proseguindo com a serie das nossi^s povoações que to-
maram o nome dos francos ou fi^ancezes, temos ainda as se-
guintes :
— Franqueira e Franqueiro, sitios e casaes nossos que
podiam tomar o nome dos francos ou francezes, como Fran-
caria e Francelheira, supra. Mas f q t confundiram-se e sub-
stituiram-se na onomastia portugueza^ pelo que Fraacaria,
Franqueira, Franqueiro e Francelheira, talvez sejam formas
de Trancaria, Tranqueira, Tranqueiro e Trancelheira por
Tranquelheira ?!...
Por seu turno estes nomes talvez sejam formas de Tron-
cai^ia, Tronqueira, Tronqueiro e Tronquelheira, nomes tirados
dos troncos das arvores, como já dissemos.
Trancaria é appellido nosso ; — Tranqueira, Tranqueirão
* Eu conheço rasoavel mente Adorigo e tenho alli muitos parentes
desde os fins do século xviii, porque a minha avó paterna Paula Maria
da Fonseca— e a minha avó materna yoan/ia da Fonseca Pinto eram ir-
mãs e naturaes de Adorigo.
106 TENTATIVA ET í MOLOGICO-TOPON YMICA
Tranquilhos, Tranquilhoso, Trancelheira e Trancoso, são po-
voações nossas.
Com o mesmo diapasão de f por t— on v. v. também
temos Finança e Tranca ; ~ Fr ance e Trance; — Faroja ou
Faroia e Taroja por Taroia ?; Favella por Favarella — e Ta-
varella ; Fragusta e Targusta ; Farrio e Tarrio ; Fartaria e
Cartona?/...
Junte-se Fareja e Tareja; Faião e Tayão ; Feira e Tez-
r/i; i^eííce e Teixe ; Feixeiras e Teixeií^as ; Fejos e Tejos?!.,.
. — Fellões ou Foliões — Tellões e Tolões ? ! . , .
— Ferrão e Terrão ; Ferrenho e Terrenho ; Ferronha e
Terronha ; Ferrugem e Terrugem ? / . . .
— Féfelária ou Fetelaria — ■ Tetelária ou Tételwia ? / . . .
— Ferra e Terra; Fale, e Thaléíl...
— Fo/a e jToJíí ; Fo/o a Tq/o ; Fojos e To/oã ? / . . .
Somma e segue.
— Fontão e Tontão?/.,.
— Fontello e Tontello ? l . . .
— Fontínha e Tontinha f f . . .
— Forneiro e Torneiro ; Forneiros e Torneiros / Forno e
Torno?!,,.
Junte-se ainda :
— Foro e Toro ?
— Froia e T/om ? / . . .
— Fixoeira por Feixoeira, o mesmo que Feijoeira, — e
Teixoeira, povoações nossas ? ! . . .
E' este um espécimen curioso da onomástica portugueza
comparada.
Chamo para elle a attenção dos etymologistas nacionaes
e estrangeiros, pois talvez que em nenhum outro paiz se en-
contre um espécimen egual de substituição de letras, — E
como este encontram-se outros muito semelhantes na ono-
mástica portugueza, o que lhe dá um timbre particular!, . , *
Os meus poucos leitores, incluindo alguns doutores muito
illustrados, mas completamente leigos n'este tão curioso,
como nebuloso estudo d^arte nova, — entre elles um dos meus
mais antigos, mais illustrados e melhores amigos^ — riem e
1 Veja-se o tópico infra: — Substiiuição de letras.
TENTATIVA ETyMOLOGICO-TOPONYMICA 107
mofam dos meus dialntes (?...), mas, como já disse e repito
mais uma vez : — Hira bíen qui rira le dernier ? / . . ,
Prosigamos.
Do exposto se vê que Franca e Tranca ; France e Tran-
ce ; Francelheira e Trancelheira ; Franqueira e Tranqueira —
talvez sejam formas dos mesmos nomes.
As meias tintas confundem ; — eu já tenho a vista can-
çada, o que não admira, pois faltam-me apenas alguns mezes
para completar 77 annos, — e a minha lente da arte nova,
forjada por mim a martelo, está pedindo outra mais aper-
feiçoada.
Para atesto do casco junte-se Franzia, povoação nossa,
talvez contracção de Francezia^ o mesmo que Franqueira e
Francaria,
Cf. Callegueira, Galgueira, por Gallegueira e Gallegma,
povoações nossas também, que tomaram o nome dos gallegos.
Desinência — Ifl
Esta desinência ia é outro espécimen curioso da onomás-
tica portugueza, pois com o mesmo diapasão de Francaria,
Franzia e Galleguia temos outras muitas povoações, tal ó
Anadia, concelho e comarca.
Na minha opínão Anadia é o mesmo que aradia, lavra-
dia.
Cf. Lavradio, povoação nossa também, o mesmo que la-
vradia — e note -se que o chão da Anadia é todo arável, por
ser bastante plano, falto de pedra e abundante em hiimus.
— Também temos Pinheiria — o mesmo que Pinheiral e
Pinhal — bosque ou matta de pinheiros.
— Portello, Portella, Portellada e Portelladia, — sitio
abundante em Portellos ou Portellas, quebradas de montes,
passagens estreitas, de que são typo histórico e venerando
as Thermopilas.
Junte-se Portoguedia, aldeia nossa, talvez forma de por-
tuguezia, abundante em portuguezes, como Franzia por Fran-
cezia, abundante em francos ou francezes, — Galleguia — em
gallegos, — Aravia — em árabes, — Mouraria — em mouros,
— Judiaria — em judeus, — Algarvia ou Algravia, povoação
nossa também, — abundante em algarvios ou algarvéosí
Cf. Algarvios e Algravéos, povoações nossas.
Com a mesma desinência ia também temos Abbadia,
Abegoaria, Albergaria^ Alcaidaria, Caria e Alçaria, Alegria,
108 TKNTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Alfeiría, Almaclía^ Armaria^ Azedia e Astroluxia, deturpação
de astrologia. — E' um casal — habitação isolada e parece
um meteoro da onomástica portugueza, cahido lá para o sul,
no districto de Beja^ onde está o dito casal ou habitação dos
astrólogos e da Astroluzia.
Junte-se :
— Barreiría — abundante em havrOy como Barredo^ Bar-
rai, Barrosa, etc.
— Barrocaria — abundante em barrancos ou barrocos,
despenhadeiros. Tal é uma quinta do Alto-Doiiro, denomi-
nada Marrocos por Barrocos ? / . . .
Também temos Berbéria, povoação que tomou o nome
dos Berberes, povo africano de Marrocos.
— Bernardia — povoação que tomou o nome da ordem
de Cister ou dos Bernardos, porque talvez lhe pertencesse.
Junte-se Bordalia, povoação que podia tomar o nome
dos bordalos, peixes que tals^ez alli abundassem.
Cf. Lamprieira, povoação de Rezende, que tomou o nome
das lampreias, como Lontreira, casal, tomou o nome das lon-
tras.
Também temos Gançaria e Cançaria por Gançaria —
povoações que tomaram o nome dos ganços.
Junte-se Caixaria, Carapia, Caria, Carneiria, Carvoaria,
Casaria, Cascarria, Castellaria, Cavallaria, Chamelaria, Con-
geitaria. Cordoaria, Cortezia, Cotovia, Cocaria, Coparia, Cou~
xaria, Gouxaria, etc.
Agora mais alguns dislates meus.
Caixaria e Caixarias, cinco aldeias nossas, podiam to-
mar o nome das caixas; mas lembra-me outra etymologia
um pouco mais violenta, que julgo mais acceitavel.
Caixaria e Caixarias são povoações dos districtos de
de Vianna, Lisboa, Santarém, Coimbra e Leiria, — districtos
que abundam em pântanos, charcos, rios, ribeiros e i^ans, pelo
que talvez Caixaria e Caixarias sejam formas de Caxana e
Caxarias, por Coaxaria e Coaxarias.
Podiam, pois, as ditas aldeias tomar o nome do coaxo
ou coaxaria, coaxar ou grasnar das rãs.
Mas demorarão as ditas povoações perto d'algum sitio em
que abundem as rãs % — Dicant paduani ^
Os elefantes figuraram nas guerras entre os romanos,
^ Cf. Rana e Rans, differentes povoações nossas, — e rua das
Rans — na parte baixa e pantanosa de Coimbra ? !. . .
TENTATIVA ETYMOLOOICO-TOPONYMICA 109
cartaginezes e lusitanos ; — também usaram d'elles na penín-
sula muito posteriormente os árabes e mouros — e talvez
trouxessem da Africa também camelos^ como trouxeram as
zebras. E assim como as zehras — ha muito completamente
extinctas em Por f ir f/a l^ deram o nome a d iíf crentes povoa-
ções nossas, — tambcm dos cameloa podia tomar o nome de
Camelaria ou Chamelaria a nossa povoação ou quinta supra,
bem como as nossas povoações denominadas Camela e Camelo.
Note-se que
C5fl e Cfl — C50eC0
muitas vezes se confundiram e substituíram na onomástica
portugueza.
Veja-se o tópico infra : — Suhstitukão de letras^ mas,
como talvez se demore, ahi vae uma amostrinha do panno,
— outro espécimen curioso da onomástica portugueza compa-
rada.
Os leitores vão rir e mofar, mas, c<imo já disse e repito
mais uma vez,— rira hien qui rira le dernier? !...
— Chabouco e Cabouco. ^
— Chab rinha e Cabrinha.
— Chaeiros e Caeiros.
— Chães e Cães.
— Champana e Campanas, plural de Campana.
Somma e segue.
— Chanal e Canal.
— Chancella e Cancella
— Chanosa e Canosa.
— Chapa Q Capa.
— Chapinha e Capinha.
— Charão e Carão.
— Charniche, quasi Charnicha e Carnicha.
— Jarroeira, — Charoeira por Charroeira, — este por Jar-
roeira — e Caroeira por Charoeira.
Caroeira e Charoeira são formas de Jarroeira, povoação
que tomou o nome dos Jarros, planta aroidea.
— Charrão e Carrão.
^ Chabouco C Cabouco são povoações nossas, mencionadas na Cho-
rographia Moderna, — bem como iodas as que vou citar.
— Vejam-se os meus pobres folhetins 84, 85, 86 e 144, publicados
no Conimbricense — Q agora Chanal t Chabouco no indice da \.^ parte.
110 TENTÂTiyA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
— Charrasqueiras e Carrasqueiras,
— Charro e Carro.
— Chasco e Casco.
— Chasqueira e Casqueira.
— Chaveira q Caveira.
— Chaxão e Cachão.
— Chó e Có.
— Choradeira e Curadeir^as ou Coradeiras (sic) - plural
de Coradeira.
— Chorão e Corão.
— Chorda e Corda.
— Chorim e Corim.
— Chorozeira por Choruzeira — e Cor uj eira, povoações
que tomaram o nome das corujas^ como outras muitas po-
voações nossas.
V. Chorozeira, Coruche e Corujas no Índice da 1.* parte.
Ainda temos:
— Chouso, Couço e Cousso ? . . .
— Chouto e Couto ? . . .
— Chozende e Chozendo por Cozende e Cozendo — e estes
por Gozende e Gozendo. — De Gundesindus, i, nome germâ-
nico pessoal, que deu Godezende, Gozende, Gozendes, Gozen-
dinho, Gozendo — e talvez Gozandina por Gozendina^ povoa-
ções nossas.
Gozende e Gozendo são, pois, o mesmo que Chozende e
Chozendo^!.. ^
— E' assim* a arte nova.
Do exposto se vê que Chamelaria e CamelaHa podem
ser formas do mesmo nome.
Também podem ser formas do mesmo nome Cocaria e
Coparia — Couxaria e Gouxaria, mencionadas supra.
Cocaria por Cucaria tomou claramente o nome dos cucos,
aves, bem como outras povoações nossas, Taes são — Coca-
nha por Cucanha, — Coqueda por Cuqueda, Coqueira por
Cuqueira, — Cuca, Cucana, Cucanha, Cuco, Cucos, Ucanha,
antigamente Cucanha, — e talvez Cocujães, plural de cucujão,
— ao todo mais de 20 povoações nossas, comprehendeudo
aldeias, casaes, quintas, etc. — A Ucanha é freguezia, — já
foi villa — e pertence ao concelho de Mondim da Beira.
Coparia é talvez uma forma de Cocaria, pois ca, co, cu
1 A' mesma série pertence também Chousenda por Chozenda, po-
voação nossa. Junte N. S.^ de Conduzende, padroeira de Adorigo.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 111
e pa^ po, pu confundiram-se e substituiram-se na onomástica
portugueza. *
Ahi vae uma amostra do panno.
Ca, CO, cu — e pa, po, pu
— Cadella e Padella.
— Cadinho e Padinho.
— Caracha, Caraxa, Carocha e> Carochinha] — Paraxa,
Paraxinha, Parrocha e Parroxinha — povoações que toma-
ram o nome das carochas — insectos.
— Cavamos e Paramos.
— Cadraço e Padraços, plural de Padraço,
— Cair es e Paires.
— Cairos e Pairo, quasi Pairos.
— Calaceiro, aldeia, — Palaceiros, plural de Palaceiro,
— e Passeiro por Paceiro, contracção de Palaceiro.
— Cassadouro e Passadouro.
— Escalheiro por secalheiro, -- e Eapalheiros por Esca-
Iheiros ! . . .
— Escairo, Espairo e Espaio por Espairo'^. . .
— Escariz e Espariz.
— EscarigOj — Esporigo por Esparigo — e este por Eaca-
rigo.
Também temos Esprigo por Esparigo ou Esporigo.
Todas estas povoações tomaram o nome de Ascarigus,
nome germânico pessoal ^, cujo patronímico Ascariguiz deu
Escariz, Espariz, etc.
Junte-se Cauca e Pauca.
Veja-se Cauca, Cossourado e Villa Pouca d'Agtáar, artigo
meu, no Portugal antigo e moderno.
— Comba e Pomba.
— Combinho por pombinho.
— Coço e Poço.
— Couve e Pouve ! . .
— Coures e Pouvesí. . .
~ CovaJ e Poval.
1 Veja-se o tópico infra.: — Substituição de letras.
* Com vista ao meu atávico successor — o sr. dr. Joaquim da
Silveira, da Anadia, hoje notário e advogado em Alcanena c deposi-
taria (?!...) dos meus caros verbetes etymologicos.
Vejam-se as pag. 37, 40, 53, 68, 78 (videte, videte !. . .), — 101 su-
pra, — t Joaquim da Silveira no Índice da 1.^ parte.
11'2 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
— Cobrai e Pobral.
— Collo Q Polo.
— Conta e Ponta.
— Continha e Pontinha.
— Continhas e Pontinhas,
— Cortdha e Portelhaf
— Cortelhas e Portelhas ?
— Cortelho e Portelho ?
— Cortello e Portello ?
— Cortinha e Portinha ?
— Cortinho e Poi^tinho ?
— Corvella e Porvella? !..,
— Costa e Posta.
Junte-se finalmente escuma e espuma, — escumadeira e
espumadeira, — escumar e espumar — e triculantes por tinpu-
lantes, provincianismo actual na Foz do Douro, etc.
Do exposto se vê que podem ser formas do mesmo nome
— Cocaria e Coparia.
Talvez que a substituição de ^ e c venha do tempo dos
celtas, pois na Jrlanda dizem cran por pren ou pran — e na
Baixa Bretanha ou, Aremorica dizem cenn por penn — ca-
beça. ^
Nós também temos Chancrão por Cranchão, — talvez
forma de Granjão — ou de Pranchão ! . . ,
Cf. Pranchas e Prenxa por Pranxa ou Prancha, povoa-
ções nossas.
Junte-se Creiras e Pereiras, quasi Preiras? ! , . .
— Crestello e Prestello ? I , . ,
— Crestes e Prestes ? ! . . .
— Grela e Perello, m. de Perella, quasi Prela, povoações
nossas.
Também temos Creado, aldeia, singular de Creados ou
Criados, — e Priados, povoação nossa também, talvez forma
de Criados/...
Temos também Centieira, Sentieira e Pentieira.
— Centieiro e Pentieiros, plural de Pentieiro.
— Sendão e Pendão ? ! . . .
— Seninha e Peninha ? ! . . .
A quem haja de succeder-me recommendo esta e outras
muitas bellezas da onomástica portugueza comparada.
^ Vide Pcncran em Guillou, pagina 113.
O cuia. penn — cabeça — deu Pena e Penha, muitas povoações nossas.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 113
Basta de Cocaria e Coparia ; — fallemos agora de Cou-
xaria, Gouxaria e Moncharia^ povoações nossas, talvez formas
do mesmo nome, tirado dos mochos, aves — ou dos muchôes,
mosquitos.
Os mochos^ emblema da sciencia, abundam em varias
regiões do nosso paiz. — Eu nunca vi tantos em tão curto
espaço, como entre a estação do Crato e Nisa^ haverá vinte
annos, quando por alli passei no mez de Junho em uma dili-
gencia ou carro de posta, debaixo de sol tropical. Em muitos
penedos, pouco distantes da estrada, com surpreza vi no cu-
ruto d'elles mochos pousados meditando e talvez dormindo
com os olhos fechados, sem abrigo algum e expostos á tisneira .
Também nunca vi em tão curto espaço tantos sardões ou
lagartos, passeando muito satisfeitos e muito socegados na
poeira candente da estrada que segui amos. Não os amedronta-
va o carro — nem fugiam ou se escondiam. Apenas se desvia-
vam e logo proseguiam.
Dos sardões ou lagartos tomaram o nome talvez mais de
100 povoações nossas, taes são Lagartal, Lagarteira, Lagar-
tixo ou Lagartixa^ Lagarto^ Lagartos, — Sardão, Sardaça, Sar-
dadello, Sardal, Sardoal, Sardoeira, Sardoeiro, Sardoura e
Sandoeira (?/...), o mesmo que Sardoeira.
Também os mochos deram o nome a varias povoações
nossas. Taes são — Mocho, Mochos^ Mochinhos — e talvez Moa-
cho, Moachos, Moiichaes, Mouchão, Moucharia, Moucheira, Mou-
chinho, Mouchinhos, Moxoco, Moxori^o e Muxarro. — Mas tal-
vez que Mouchões, Mouchão, Moucharia e Moucheira tomas-
sem o nome dos muchões, como também Moção e Mouchão por
Mochão, — Moçarria por Mucharia ou Mouxaria, Mouchões,
etc, povoações nossas.
As meias tintas confundem e eu já tenho a vista muito
cançada ; mas na minha opinião Moucharia é uma forma de
Mocharia ou Mucharia e tomou o nome dos mochos ou dos
muchões.
Por seu turno Mouchaina deu ou podia dar Couxnria
por Coucharia, pois ma, mo, mu, e ca, co, cu, substituiram-se
e confundiram-se na onomástica pnrn»<j:iieza.
Veja-se o topicc infra: — Sid)stitnicão de letras, mas, como
talvez se demore, ahi vae uma amostra do panno.
— Cachouca, Cachouças- Mnchoça e Machossas por Macho-
nas — de 7?ia choça e rnds choças.
Cf. Lama Má, Matamá. Quinta Má, Pedra Md, Cova Máy
Rio Máu, etc, povoações nossas.
114 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
-^ Cadorno ou Codorno — e Madorno ?
— Caçoeira e Macoeira,
— Cadeiras e Madeiras.
— Cafarro e Mafarra^ quasi Mafarro.
— Cagide e Magide,
— Cainha^ Cainhas — Mainha e Mainhas?
— Cairos e Mairos.
— Calheiros e Malheiros ? !...
— Calveira e Malveira.
— Caheto e Malvedo.
— Cancellos e Mancellos ? I . . . .
— Canhão e Manhão.
— Carécos e Ma recos. ^
— Carimba, quasi Carimbo -e Marimbo.
— Cariola — Marioila, Marioula e Mariolai, . ,
— Carmelleiro e Marmeleiro.
— Carnofa e Marnota.
— Carutos por curutos, — Maruto e Marutos,
— Carvalho e Marvalho / . . .
— Carvão e Marvão ?. . . ^
— Catadouros, plural de Catadouro — e Matadouro,
— Catão e Matão .^
— Catellas — Matella e Matellas.
— Co e Mó9/...
— Coco e Moco.
— Cocharro — Moxarro e Muxarro 9 !
— Collares e Molares'? , . .
— Colles — Molles e Moldes ? / , . .
— Continhal e Montinhal.
— Coutinho e Montinho,
— Coutinho e Moutinho^/...
— Corim e Morim.
— Corjães e Murjães.
— Couxaria e Moticharia.
— Coií e 3ío:í, plural de Cô e J/o.
— Curalha e muralha.
1 Aos manes de Gualdim Paes de Mar ecos, famoso Mestre do
Templo.
^ A serra de Marvão quer, pois, dizer serra do carvão — e a
villa de Marvão — villa do carvão 71...
Também já dissemos que a villa de Barcos quer dizer villa dos
bácoros !. . .
— Rien n'est beau que le vrai.
TENTATIVA ETVMOLOGICO-TOPOXYMTCA 115
Também temos (■uneganda e Cunegundeò-, — Monetjunda
e Monefjnndes, nomes de santos, etc.
A substituição de ca, co, cu — e tua, mo, mu é um espe-
cimem distincto da ono/tta.sfira porfngyeza comparada ! ...
Do exposto se vê que Moncliaria deu ou podia dar (Jou-
xaria ; — por seu turno Couxaria — muito naturalmente e sem
violência alguma — deu ou podia dar (louxaria, pois ca, co,
cu — e ga, go, gu trivialmente se confundiram e substitui-
ram na onomástica portagueza. ^
Na minha opinião, pois, como já dissemos, — Couxaria^
Gouxarla e Mouxaria são formas do mesmo nome, tiradas
dos mochos, aves, — ou dos muchões, mosquitos.
E' assim a arfe nova — e /'ira hien que rira le dernier? !...
Volvendo á sonora desinência ia, temos ainda outras
muitas povoações afinadas pelo mesmo diapasão. Taes são :
— Donairia, Enfermaria, Enxertaria ou Enxertia, Es-
pia, Fanadia, — Fancaria, Faria, Feitoria, Ferraria, Franca-
ria, Freiria, Fumaria, Gafaria, (J areia, Gataria, G avaria,
Gordaria, Gravia, Guia, Joaria, Jugaria, Judia, Juhia, Juta,
etc.
Agora mais algun-s dislates meus.
Donairia dava um lindo nome para qualquer das ruas
mais luxuosas do Porto ou de Lisboa ; mas Donairia é uma
triste e pobre aldeia do districto de Leiria e o seu nome es-
tá dizendo que pertenceu a alguma ordem de Donas. Taes
eram as freiras dominicas de Villa Nova de Gatja, Donas de
Corpus Ghristi.
Também as emparedadas se denominavam Donas e a
uma d'ellaí? dedicou Arnaldo Gama o seu lindo romance his-
tórico — A Ultima Dona de S. Nicolau.
Cf. Dona, Donas, Casal Dona, Casal das Donas, (cá es-
tão ellas !...), — iMgardona ou Tragar da Dona, Quintandona
por Quintan da Dona, Victorino das Donas, etc, povoações
nossas.
Donairia, povoação das Donas, recorda Bernardia, po-
voação dos frades Bernardos, e Freiria, povoação das freiras
ou dos freires — cavalleiros pertencentes a ordens militares.
Veja- se o tópico mira.— Substituição de letras.
116 TENTA.TIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
— Enfermaria^ povoação nossa, tomou talvez o nome
d'alguma doação feita pelo senhor d'ella a determinado mos-
teiro para tratamento dos frades ou das freiras doentes.
Também Sajyataria, aldeia e freguezia, talvez tomasse o
nome d'alguma doação análoga para o calçado das freiras ou
dos frades — e Vestíaria, povoação nossa também, talvez to-
masse o nome d'alguma doação feita para vestuário.
Nas chronicas dos mosteiros encontram-se muitas doações
feitas aos monges e monjas para calçado, vestuário, tratamen-
to dos doentes e para sustentação da communidade, unde tal-
vez Ucharia, o mesmo que huxaria, deposito ou provisão de
mantimentos, etc, povoação nossa.
— Enxertaria e Enxertia, povoações nossas, tomaram o
nome talvez dos castanheiros bravos ou reboleiros enxertados.
E-efiro-me aos castanheiros, por serem arvores de grande
porte que muito avultavam e abundaram em differentes re-
giões do nosso paiz — desde os tempos mais remotos. ^
Cf. Enxertada, Enxertadinha, Enxertado, Enxertai, En-
xertim, Enxerto, Enxertos, etc, povoações nossas.
— Espia — vem do portuguez espia, pessoa que espreita
— e por extensão atalaia, esculca, vigia.
Cf. Atalaia, Atalaia Cimeira. Atalaia da Barroca, Ata-
laia da Corte, Atalaia da Guarita, Atalaia da Torrinha, Ata-
laia de Baixo, Atalaia de Cima, Atalaia do Campo, Atalaia
Fundeira, Atalaias^ Atalainha, lalaia, ^ Ataia por Atalaia,
Ataja ou Ataya por Ataia, etc, povoações nossas, — ao todo
mais de oitenta? !...
Todas estas Atalaias, Talaias, Ataias e Ataijas ou Atayas
supra, são reminiscências tétricas das muitas guerras que as-
solaram o nosso paiz desde os tempos mais remotos.
Ainda no ultimo século XIX — o século das luzes — em
Portugal correu muito sangue com a guerra da Península e
com as guerras civis posteriores.
Mal se imagina o que òs nossos antepassados soffreram!...
Felizmente vivemos em paz desde 1847 — ha 62 annos
— e Deus a prolongue, porque a ella se devem os melhora-
mentos de toda a ordem que por ventura gosamos e que pro-
mettem ir longe. — Mas o mundo treme e não sei o que suc-
cederá com as utopias ou aspirações dos atTieistas, socialistas^
ac7^atas e nihilistas — tão numerosos com.0 perigosos^. !..,
1 V. Castanheiros no indice do i vol.
^ Talaia é appellido nosso também e o mesmo que Atalaia.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 117
Neste momento — agosto de 1000 — a Rússia é um vul-
cão — e a lava pôde ir longe! ... *
A's nossas muitas jifa/dias junte-so Afalaião, sitio a mon-
tante de Portalegre, onde ainda hoje se vêem as ruinas d'um
castello.
Também temos Vigia, o mesmo que Espia, — e Vegião
por Vigião, o mesmo que Ataíaião, povoações nossas.
Junte-se também Esculca e Escurquella por Escnlquella,
pequena esculca, povoações nossas.
— Fanadia — fica para segunda leitura, posto que Ana-
dia, escrevendo-se, como talvez outr'ora se escrevesse Hana-
dia, dava sem violência Fanadia no diapasão hespanhol.
Cf. Haba, Ilahales, Harienda, Jfaciendas, Havia, Haro,
Haya, etc, povoações da Hespanha — em portuguez Fava,
Facaes, Fazenda, Fazendas, Faria, Faro e Faia.
— Fancaria é talvez o mesmo que Fraiicaria supra, pois,
como já dissemos ore uma letra muito falsa e muito capri-
chosa !...
— Faria — é appellido vulgar portuguez e nome de 14
povoações nossas; mas qual a sua etymologia?
Talvez seja o hespanhol Maria supra^ que podia dar Fa-
ria, como Haro deu Faro, etc.
Note-se também que temos grande numero de appelli-
dos, importados da Hespanha *. Taes são os seguintes :
— Araújo — de Arauzo, differentes povoações de Sala-
manca e Burgos.
— Aragão — do Aragão.
— Ávila — de Ávila, duas povoações da FJespanha.
— Azuaga — de Azuaga, povoação de Badajoz.
— Alarcão — de Alarcon, nome de varias povoações de
Málaga e Cuenca.
Somma e segue.
— Alcântara — de xilcantara, povoação da Hespanha,
— Cáceres — de Cáceres ou Cazeres, vil la e capital de
provincia na Hespanha.
— Burgos — de Burgos, cidade e capital de provincia
também.
— Andaluz — da Andaluzia.
— Vilhena — de Villena, povoação di Alicante.
' . Foi isto o que escrevemos no folhetim n.o 156 do Conimbricense.
'-' Por seu turno a Hespanha tem vários appellidos portuguezes como
já dissemos.
118 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
— Villaça — appellido e povoação nossa. — De Vllacha,
muitas povoações da Hespanha, —ow de Villaza, povoação
de Orense.
Vasconcellos, appellido nosso, é o mesmo que Basconcil-
los, duas povoações de Burgos ; mas na minha opinião Vas-
concellos, vem de Velascucellus , /, diminuitivo de Velascus,
quij quis, que na Hespanha deu Velasco, nome pessoal, — Ve-
lasco, nome de varias povoações de Jaen, Sor ia, (medo e
Logronho, — e Velascalvaro por Velasco Álvaro, nome d' uma
povoação de ValhadoUd.
O mesmo Velasats, qui, quis, entre nós por contracção
deu Vasco, nome pessoal, e Vasques, appellido vulgar.
Também temos Basco, Bascos, Vawão, Vasco, Vascões,
Vasconcellos, Vasconeto, contracção de Vasco Neto, — Vascos,
Vascoveiro, Vasques, Vasq^Esteves e Vasquinho, povoações,
cujos nomes são reminiscência dos bascos ou iberos, — povo
mysterioso e muito antigo, que já foi muito numeroso e actual-
mente se acha muito reduzido, alcandorado nos Pyreneiis.
Vejam- se as pag, 70 e segg. do l.o vol.
*
* *
Volvendo aos nossos appellidos importados da Hespanha,
ainda me occorrem os seguintes :
— Lemos — de Lemos, povoação da. Corunha.
— Noronha — talvez de Lorona, povoação de Hiiesca,
pois, como já dissemos, l e n — mesmo iniciaes, — confundi-
ram-se e substituiram-se.
— Padim e Paim por Padim — de Padíw, três povoações
de Pontevedra.
— Queiroga e Quiroga — de Quiroga, povoação de Lngo.
— Saldanha — de Saldana, nome de varias povoações
de Burgos, Segóvia e Falência.
— Tovar — de Tobar ou de Tovar, dififerentes povoações
de Cuenca, ValhadoUd, Albacefe e Burgos.
— Calainho por Alcalainho — de Alcald, nome de varias
povoações da Hespanha, avultando entre ellas Alcala de He-
nares, pequena mas importante cidade próxima de Madrid,
pelo que á sahida de Madrid, para a dita cidade lhe erigiram
um pórtico monumental que eu já vi, denominado Porta
d'Alcalá.
Demora a pequena distancia da Praça dos Touros — ou-
tro monumento de Madrid. — E' a praça de touros maior e
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 119
mais \uxu.oii3i da. Península, da. Europa e talvez do inundo in»
tetro?/.., — A sua lotação é para 19 a 20 mil pessoas.
Nem podia deixar de ser assim, porque Mo Madrid es
Cortei — dizem com orgulho os liespanhoes — e para elles as
touradas são tudo.
— Pan /y toros / — é a sua phrase proverbial caracteris-
tica.
— Vade retro!...
Volvendo aos nossos appellidos importados da Hespanha^
ainda me occorrem os seguintes :
— Moreda — talvez de Moreda, 11 povoações hespanholas.
— Navarro — da Navarra.
— Iglesias — de Iglesia e Iglesias,- mais de 100 povoa-
ções da Hespanha.
— Dias — de Diax por Diagax, patronimico hespanhol e
muito antigo de Diago, o mesmo que Thiago, Diego, Diogo,
Jayme, Jacome^ Jacob, etc, — nomes tirados de Jacob, patri-
archa biblico.
Vejam-se as pag. 81õ e 319 do 1.** vol.
— Diegues, appellido nosso, — veiu de Diegues, appelli-
do hespanhol, patronimico de Diego^ o mesmo que Diogo,
Diago, Thiago, etc.
— Biscainho e Biscaia, appellidos nossos, — vieram de
Biscaia, região da Hespanha, como Biscainha e Biscainho,
povoações nossas, — e Biscainhos, casa nobre e muito antiga
de Braga, ^
* *
Faria, appellido vulgar portuguez e nome de 14 povoa-
ções nossas, poderá vir, como já dissemos, do hespanhol Harta,
mas 8U não conheço na Hespanha o appellido Haria ou Fa-
ria — e com o nome de Haria ou Haría a Hespanha apenas
tem uma povoação nas Canárias — emquanto que nós temos
14:?!...
Isto me leva a suppôr que o appellica Faria não veiu da
Hespanha, mas é nosso e que talvez Faria seja contracção de
Favaria, o mesmo que Faval — campo de favas'^!...
Favaria deu ou podia dar Faria, como Alçaria deu Ca-
ria,— Algravia deu Gravia, — Cardaria deu Cárdia, — En-
xertaria deu Enxertia, — Francezia deu Franzia, — Fornaría
^ Vieram também da Hespanha Sepúlveda e Gusmão, appellidos
nossos.
120 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
deii Forniaf, — Gavaria deu Gavía ?; Judiaria^ Juia, Juhia e
Jma ? ; Mouraria — Mouria ; Rebolaria — RehoUa ; Touraria
— Touria'^ e Trafegaria — Trafaria ?
Também temos Ciiria. estabelecimento thermal, etc. cujo
nome pôde vir de Caria, ou de Curaria, corporação capi-
tular, — ou de Curaria, o mesmo que Enfermaria supra, doa-
ção de terras para a cura ou tratamento dos frades ou fre^^
ras doentes.
Favaria, pois, sem violência deu ou podia dar Faria,
Note-se que as favas, legume importante, já veêm do
tempo dos romanos — ou talvez de tempos pre romanos * -^
e deram o nome a difíerentes poVoaçõss nossas. Taes são : —
Fava, Favacal, Favaes, Favaial ou Favacal, Faval, Favaquei-
ra, Favariça, Favarrel, Favarrelinho, Favas, Favasal, Favas->
ga, Favaxa, Favaxinha, Favella e Favellinha.
Também temos Favaios, que podia tomar o nome das
favas — ou antes de Phebadius — Phebadio, nome d'um santo,
etc.
O nosso distincto escriptor Fr. Manoel dos Praxeres Ma-
ranhão, natural da villa de Favaios, auctor d'um Santoral
interessante e d'um interessante Diccionario Chorographico,
bem conhecido como Diccionario do Flaviense, julgou que Fa-
vaios vinha de Flavius — Flávio, nome romano e nome d'um
santo ; mas aliquando dormitat Homerus / . . .
Flavius não podia dar Favaios, porque na passagem do
latim para o portuguez fia deu cha.
Cf. Chaves, villa, que tomou claramente o nome de Flaviis
— ou Aquis Flaviis — cidade episcopal romana que a pobre
villa representa. *
Por seu turno o nosso appellido Chaves não vem das
chaves, mas da villa de Chaves supra.
Também Flavii, patronimico de Flavius, ii, deu Chave^
freguezia do concelho á' Arouca,
Chave quer, pois dizer — granja, quinta ou casa de cam-
po de Flávio ? I. . .
— E' assim a arfe nova.
^ Os romanos diziam Jabá — no velho toscano, idioma pre-romano
— fava, como em portuguez.
Os romanos diziam fabalia, um por faval, — no velho toscano /ava/^,
quasi faval.
V. Magnum Lexicon e Las Casas.
2 V. Chaves no Portugal antigo e moderno.
TENTATIVA ETYMOLOOICO-TOPONYMICA 121
O mesmo Flavius-, Flávio, deu Flavia, Flaviana e Flatia-
no, nomes romanos e nomes de santos, — Fiavinia e Flavinio,
nomes pessoaes e appellidos.
Por seu turno Flama no, em latim Flatianus-, i. is, deu
Chamães, Chavetes, e Chavões por Chavãe^, povoações nossas.
Também Flavinio, em latim Havinius, ii — deu Chavim,
aldeia, etc.
Para atesto do casco direi que Flávio, nome romano, vem
do latim fiavas — louro, da còr do ouro.
O nome ou cognome Flávio é, pois, tirado da cor do
cahello»
Prosigamos.
Feitoria — varias povoações nossas, — podiam tomar o
nome do antigo portuguez feitoria — fazenda, prédio rústico
— ou do portuguez actual feitoria — um dos processos de fa-
bricar vinho ; fabrico do vinho — como diz o sr. Cândido de
Figueiredo
S. ex.*refere-se talvez á denominação vinho de feitoria —
denominação vulgar no Alto Douro ^ no tempo da velha Com^
panhia dos Vinhos, fundada pelo Marquez de Pombal.
Effectivamente pela organisação da mencionada com-
panhia todo o Alto- Douro foi dividido em dois lotes paralle-
los ao rio, comprehendendo um dos lotes a parte mais baixa,
mais próxima do Douro, mais funda e por consequência mais
cálida, mais ardente e que produzia — e produt — o vinho
mais generoso ^ destinado para feitoria ou — para exporta-
ção, depois de bem preparado ou bem feitor isado.
Este lote era demarcado a jusante pelo rio — e a mon-
tant<^ por grandes mogos ou marcos de pedra com a letra —
P -> {Feitoria).
O lote immediatamente superior ou a montante era des-
tinado para os vinhos de consumo — ou de ramo — nome que
tomou dos ramos das tabernas em que era vendido — no Porto
1 O vinho melhor do Douro, como lá dizem, — é o que ouve ranger
a espadella dos barcos rabellos — ou creado nas vinhas mais próximas
do rio, — zona tão ardente, que alli na estiagem tremem com sezões os ga-
tos, as gallinhas e os cães, — estalam as pedras com o calor, — destempe-
ram-se os instrumentos de corte que fiquem expostos á tisneira — e chega
a derreter-se a solda das vasilhas de lata.
Custa a crer, mas é facto !. . .
122 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMIC A
e seus arrabaldes pela mencionada Companhia; — nas outras
povoações por quem quizesse vendel-o. — E era crime seve-
7'amenfe punido passar uvas ou vinho do lote de 7'amo para o
de feitoria — embora pertencessem ambos ao mesmo dono e á
mesma quinta, ^
Teve somente o Douro vinhos de feitoria, assim denomi-
nados — não pelo fabrico particular d'elles, mas por serem
provenientes das vinhas que estavam no lote da feitoria supra.
Não podiam portanto as. nossas povoações denominadas
Feitoria tomar o nome dos vinhos de feitoria, porque nenhuma
das ditas povoações pertence ao Alto Douro.
Demoram 5 no districto do Porto, — duas no districto
à^ Aveiro — e uma no de Lisboa.
Na minha opinião, pois, as nossas terras denominadas
Feitoria tomaram o nome de feitoria — fazenda, prédio rústi-
co— ou de feitoria por feitaria ou Fételaria, o mesmo que
Feitada, Feital, Feítosa, Feitoso, etc, povoações que tomaram
o nome dos feitos, planta arbustiva.
Notese que a e o trivialmente se confundiram e substi-
tuiram na onomástica portugueza *, pelo que Feitaria e Fei-
toria podem ser formas do mesmo nome.
Note-se também que os feitos, fentos, fetos ou feitos, sen-
do uma planta parasita e arbustiva_, deram o nome a centena-
res de povoações nossas, em muitas das quaes os fieitos toma-
ram formas tão estranhas, que só com a lente da arte nova se
distinguem, como os leitores vão vêr.
PouoQções nossas que tomaram o nome
dos feitos, fentos, fetos ou ííeítos
Ao meu bom amigo, ex-advogado no Porto e capitalista
— o sr. dr. José Corrêa Pacheco, — muito amante de flores e
de plantas, nomeadamente dos fetos, fentos ou fieitos, offere^
ço este insulso tópico, pedindo desculpa do meu arrojo e dos
meus dislates.
O tópico é longo, muito longo; estou, porém, certo de que
s. ex.* o lerá todo, porque sympathisa com este ramo de lit-
teratura.
1 Vejam-sc no Portugal antigo e moderno os meus artigos Victoria,
freguezia do Porto, — e Villa Jusã, freguezia do concelho de Mezãofrio.
'^ Veja-se o tópico infra: Substituição de letras.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 123
Foi um dos mais assiduos leitores dos meus pobres fo-
lhetins, que agora estou publicando em livro.
Sem mais delongas, — entremos na felga.
Afains (?/...), Afeitai, Afeifeira, Alfeirão, Al fel /-ia, Al-
feirõesj Alfeite, Alfeiteira^ Covão do Feto, Faitos, Falagueira,
Falagueirinha, Fuleira, Faleirinha, Faleiro, Falei j-os, Ffdga-
reira^ Falgarinho, Falgarom e Falgaroso.
— Feitada, Feital, Feitoria por Feitaria^ ; -- Feítosa,
FeitoHo ; Felegrosa, Felgaes, Felgar, Felgares, Felgaria, Fel-
goso, Felgueira, Felgueiras, Felgueiros, Feliteira, Feltia, Fen-
tella, Fétaes; Fetal, Feteira, Feteira de Baixo, Feteira de Ci-
ma, Feteira de DeiitrOj Feteira de Fora, Feteiras, Féteirinha,
Fetelaria ou Tetelaria, Fétil e Feto.
— Filgneiras, Filtreiraj Fitares, Fitos, Fitouro e Foitos.
— Folga, Folgada, Folgado, Folgados, Folgão, Folgar, Foi-
garosa, Folgas, Folgôa, Folgorosa, Folgosa, Folgoselhe, Folgo-
sinho, Folgoso, Foligueira, Monte da Feiteira e Monte da Fei-
teirona.
Agora ahi vae a minha lente, na falta d'outra melhor,
para os leitores verem que todos os nomes supra foram ou
podiam ser tirados dos feitos, fentos, fétãos, fetos ou f leitos^
— vocábulos que por seu turno foram tirados do latim filix,
icis — o feito^ planta, que já no latim deu filectum e filictum
— fetal, campo ou bosque de fetos, — filicétiim —o mesmo
que fdectnm — e filicatus, a, nm — coisa semelhante ao feto.
Também filix e filectum no baixo latim tomaram formas
variadissimas que podem ver- se em Ducange ou no (Hossa'
rio de Ducange — obra indispensável para este ramo de estudo
— bem como o Portugaliae Monunienta e a Chorographia Mo-
derna, tantas vezes por mim citada.
Veja- se o 1." vol.
O sr. Cândido de Figueiredo também dá aos fetos o no-
me de felgas — e o povo também diz : — que felga ! — que
azáfama !... — Talvez referencia ás difficuldades com qlie lucta
quem se vê em um massiço ou bosque de fetos.
— Com vista aos caçadores ; mal se imagina, porém, hoje
o que deviam ser as taes felgas, bosques ou massiços de fetos
noutro tempo, quando o nosso paiz esteve em grande parte
inculto durante séculos!...
Note^se que os fetos são plantas arbustivas muito viva-
zes. Deixando-os á vontade, multiplicam-se espantosamente.
As raizes lançam esporões que vão até um metro e mais
de profundidade: — a sua ramagem sobe também a um me-
124 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
tro e roais de altura e distende-se lateralmente em proporções
análogas, cruzando-se em todas as direcções e formando mas-
siços compactos, nos quaes se abrigam como em antros e vi-
vem como em casa própria os coelhos, etc.
Por vezes os caçadores cercam os taes massiços com os
seus cães e de um só dos taes massiços fazem sahir com gran-
de trabalho muitos coelhos!...
D'aqui vem a phrase vulgar dos caçadores : hoa feiteira !...
Corresponde á locução vulgar dos pescadores : — bom lan-
ço de rede!...
Os fetos são plantas arbustivas e parazitas sem valor, —
mas muito lindas, pelo que também se cultivam nos parques
e jardins, — nomeadamente no Porto, onde ha fetos arbóreos
que parecem palmeiras!
Chegam a ter um metro de circumferencia no tronco —
e 5 a 6 metros d'altura total, sendo por vezes avaliado íim
só em 300 a 400 mil réis ? ! . . .
Os fetos arbóreos talvez maiores, mais antigos e mais lin-
dos que ha hoje no Porto, são dois que pompêam no bello
jardim do sr. José Joaquim Guimarães Pestana da Silva, na
rua do Almada.
Dizem-me que já contam mais de 50 annos'^ ! . .
• Basta de cantigas e fallemos agora das etymologias das
povoações indicadas suprú, que na minha opinião tomaram o
nome dos fetos, — não dos fetos arbóreos dos parques e jardins,
— fetos muito lindos e de muito valor, — mas dos fetos arbus-
tivos, montanhosos, incultos e sem valor algum.
Entremos na felga — tão densa, como espinhosa e nebu^
losaf!...
— Afeitai e Afeiteira ^ — são o mesmo que Al Feital e
Al Feiteira ou Al feiteira infra — o fetal ou feital e a Fei-
teira,
— Alfeirão — de Alfeiteirão — o grande feiteiro ou a
grande feiteira, o mesmo que F'eiteirona supra.
Monte da Feiteira e Monte da Feiteirona recordam AtagO'
na, Barhatona^ Cachadona, Campona, Carrasona, Crasona^
Quintandona, Sílveirona, Foros da Catampona, etc, povoações
nossas.
1 Logo fali ar em os de Afains.
TENTATIVA ETYMOLOGICOTOPONYMICA 125
Pernona é nome commum popular, como solteirona, sa-
bichona, mocefona^ felizoiía, etc.
— Alfeiria — é talvez contracção de Alfeifai-iãy como Fel-
tia por Fetelaria, Mouria por Mouraria, Judia por Judiaria,
Juhía e Juia por Judia, etc, povoações nossas.
— Alfeirões — é plural de Alfeirão supra.
— Alfeite — é talvez uma forma de Al -{- Feito — o feito,
pois e G o trivialmente se confundiram e substituiram na ono-
mástica portugueza.
Cf. Barrete e Barreto, Burguete e Burgueto, Lourede e
I^ouredo, povoações nossas, como Limede por Liniedo, Murie-
de por Martelo, etc.
— Faitos — é talvez uma forma de Feitos, pois e q a tri-
vialmente se confundiram e substituiram na onomástica por-
tugueza.
Ahi vae uma amostra do panno.
— Almelagiiez — ÍYQgwezidi importante do concelho de
Coimbra, vem de Al malaguex, o mesmo que malagueno —
filho de Málaga^ como já dissemos:
Cf. também Fenescal por Panascal e Penascaes por Pa-
nascaes.
— Penada e Peneda.
— Penados e Penedos,
— Panasqueira e Penisqueira por Panasqueira.
— Pedra Fita por Petra fida, unde Perafita e Parafita
por Perafita.
— Vilhena e Vilhana, que se encontra em Peral Vilhana.
Cf. também Sopegal por Sopagal, — este por Sapogal —
e este por Sabugal, povoações nossas como Supagal e Supe-
gal, o mesmo que Sapogal, Sopegal e Sabugal.
E' assim a arte nova/, . .
Junte se Bur gatas por Burguetas.
Cf. Burgueta, Burguete, Burgete por Burguete, — Burgue-
to e Burguinho, diminutivos de burgo, que deu Burqo e Bur
gos, muitas povoações nossas — e Burgos, etc, na Hespanha-
— Falagueira e Falagueirinha — são talvez formas de
Felagueira e Felagueirinha, tiradas de falga por felga, como
Falgareira, Falgarinho, Falgarosa e Falgaroso supra, povoa-
ções nossas.
Falagueira pôde ser o mesmo que Falgareira e Felguei-
ra, mas talvez que Falagueira seja o mesmo que Vallagueira
e Valgueira, povoações nossas também, que tomaram o nome
das valias ou dos valles.
126 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Note-se que /a, fé^ fi — e va, ve, vi se confandiram e su-
bstituíram na onomástica portugueza.
Veja-se o tópico infra — Substituição de letras e como
pôde demorar-se, — ahi vae uma amostra do pano.
— Fariginhas por Farginhas e este por VarginJias, o
mesmo que Varzinhas I ?
— iarjella por VarjeUat ..
Cf. Barge, Èargellas^ Barges e Bargina por Barginha; —
Varga e Vargas por Varja e Varjas ; — Varg^ Vargellas e
Vargem, o mesmo que Barge e Varge ; — Varginha, Vnrgio-
ta, Varizellas e Várzea, o mesmo que Barge, Barja, Varga,
Varge e Vargea ; — Várzeas, Varziella e Varziellas, o mesmo
que Bargellas, Vargellas e Varizellas ;—r Varxiellinha^ Var-
xigueto, Varzina, Varzinha^ Varzinhas, etc, povoações nossas.
Junte-se :
— Faldigens, plural de faldigem. — e Valdigem ? f . . .
— Faldrêu^ Baldrêu, Valdrêu e Fraldêu por Faldreti'^.,,
— Faleira — Bateira e Valleira.
— Faleiro e Valleiro.
— Falia e Valia.
— Falorca, Palorca — e Baloca por Valloca ? / . . .
Na minha opinião — Falorca por Faloca é o mesmo que
Valloca; — e Palorca por Paloca é o mesmo que Baloca, pois
pa, po, pu e ba, ho, bu co.ifundiram-se e substituiram-se na
onomástica portugueza.
Falorca, Palorca — Baloca e Valloca, são, pois, formas do
mesmo nome. ^
Junte-se Faquinhas e Vaquinhas,
— Farrio — Bar rio, Barrias e Barriosa, o mesmo que
Barrosa e Barrosas, muitas povoações nossas.
— Felino e Bellino, nomes de santos, etc.
— Fermil, — Vermií e BermiL '
— Barrai^ Berrai e Ferral"}
— Berraria e Ferraria ?
— Fiscainho — Biscainha e Biscainho, o mesmo que Vis-
cainha e Viscainho ; mas também temos Fiscal, freguezia e
1 Como refuerzo a Murillo, direi que na minha PenajuUa ou Pe^
najoia, concelho de Lamego, ha um sitio denominado Palorca, pequeno
valle na foz d'um ribeiro que desagua no Douro.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMirA 127
aldeia, que tomaram o nome de fiscal^ funccionario publico.
Por seu turno íiscal podia muito bem dar Fiscainho por Fis-
calinho.
Do exposto se vê que Falagueira pode vir dos fétos^ como
Falfjareira e Felg?ieira, — ou dos valles como Vallagneira e
Valgiifira, contracção de Vaílagiieira.
Prosigamos.
— Faleira e Fal^irin/ia são contracções de Falagueira e
Fulag tf ei rinha — ou talvez formas de Valleira e Valleirinha,
como Faleiro e Faleiros talvez sejam formas de Valhiro e
Valleiros.
Cf. Valleira, VaUeirão, Valleira-^, Valleirinhos, Valleiro,
VaUinha, Vallinhas, ValUnho e Valiinhos, povoações nossas.
— Falgareira — é o mesmo que Felgareira e Felgueira'?
— Falgarinho — ó o mesmo que Folgosinho, porque felga
deu fahja e folgo. — e .s* e r confundiram-se e substituiram-se.
Também Falgarosa e Falgaroso são o mesmo que Felga-
rosa, Felqaroso^ — Folgarosa, Folgaroso, — Folgorosa, Folgo-
roso, — Folgosa, Folgoso e Felgoso — povoações nossas indi-
cadas supra.
Que bello espécimen da onomástica portugueza compa-
rada'^! . , .
E' assim arfe nova — e hurra h pelos fetos t
Prosigamos.
* *
— Feitada vem claramente dos feitos — e é o mesmo que
Felgueira e Feteira — bosque ou massico de felgas, feios, feitos
ou fieitos.
Feito deu Feitada como ramo deu ramada^ bosque ou
massiço de ramos, — unde ramada — pai-reira. latada ao norte
do nosso paiz; — ramada — carvalhal, ná Galliza, — e rama-
da — ahegoaria ou casa para recolher gado — no Algarve. Por
vezes alli as taes ramadas ou ahegoarias — são casas espaço-
sas, sem terem tima única videira, mas tomaram e conservam
o nome de ramadas do tempo em que abrigavam os bois etc,
á sombra da ramagem ou dos ramos das arvores.
Notem- se as diversas accepções de ramada em Portugal
e na Galliza.
Nós temos varias povoações com os nomes de Ramada^
Ramadas e Ramadinha, talvez synonimos de Barrada por
parreirada, — Par rainha por parreirinha, — Parral por parrei-
ral,— Parreira, Parreiral, Parreiras, Parreirinha, Par reirinhas.
128 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Parrella e Parrellinhas, povoações que tomaram o nome de
parra — folha das videiras e portanto dns videiras. ^
Mas talvez que Ramada^ Ramadas e Ramadinha tomas-
sem o nome da rama ou dos ramos sem serem das vides, co-
mo RamaJha, Ramaihada, Ramalhal, Ramalhão, Ramalhedò,
Ramalheira, Ramalheiro, Ramalhete, Ramalhido, Ramalho^
Ramalhos, fíamalhosa, etc, povoações nossas.
Do exposto se vê que feito deu feiteira ou Feteira, Fetal,
Feital e Feitada, como 7'amo deu Rameira, rameira (?», .) e
Ramada; ramalho deu. Ramalheira, Ramalhal e Ramaihada;
alho den Alheira, Alhal e Alhada; cardo- Cardeira, Cardai
e cardada ; sobro — Sobreira, Sobreiro, Sobral, Sobrada e So-
brado, etc, povoações nossas.
Sobrada e Sobrado de Paiva, etc, são o mesmo que So-
breda e Sobreda, povoações nossas também, contracção de so-
breireda e sobreiredo, bosque ou matta de sobreiros.
— Cardada q rameira supra são nomes communs.
Prosigamos'. .
— Feital é o mesmo que Ffdqar por Felgal — Fetal ^ —
Fétil por Fetal — e Folgar por Folgai, — povoações nossas
que tomaram o nome dos feitos, o mesmo que felgas, fetos e
folgas por felgas.
As desinências il, ai e ar confundiram-se e substitui-
ram-se, como já dissemos. ^
— Feitoria talvez seja uma forma de Peitaria, o mesmo
que Alfeiria, Felgaria, Fételaria e Feltia por Fetelaria, como
já também dissemos.
— Feitosa e Feitoso — vieram claramente dos feitos^
como Gestosa, Giestosa e Giestoso das giestas ; Pedrosa e Pe-
droso — das pedras; Lamosa e Lamoso — da lama, etc, po-
voações nossas.
* *
Felegrosa por Felgarosa — vem de felga, o mesmo que
feito, fento, feto e fieito.
Vide Falgarosa,
— Felgar e Felga7'es — são o mesmo que felgal e felgales
— sitios em que abundam as felgas.
^ O sr. Cândido de Figueiredo não deu a etymologia de parra, nome
commum portuguez.
^ Veja-se a pag. 80 supra.
E' assim a arte nova !...
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPOXYMICA 129
— Felgaes — é o mesmo que Fdgales e Felgares,
— Felgaria — vem de feUja e é o mesmo que Alfeiria por
Alfeitaria ou Al -\- Fei faria ou Al -\- Feitoria, — Fételaria e Fel-
tia por Fételaria,
— Felgos-o — vem de Fdga, como Falgarosa, Falgaroso,
Folgarosa, Folgosa e Folgo-so, de falga e folga por felga.
— Felg2f£Íra, Felgueiras e Felgueiros.
Vide Falagueira e Falqareira.
— Feliteira por Felicteira — vem do latim botânico feli-
dum — feito que deu também Filtreira^ o mesmo que Felitei-
ra e Feteira, — Fitares, o mesmo que Fetales e Fetaes,— Fitos
e Foitos, o mesmo que Feitos, — q Fitouro, o mesmo que Fi-
teiro, pois i deu ei — e ei —deu ou, como já dissemos e logo
provaremos. ^
— Feltia, como já dissemos, é contracção de Fételaria, o
mesmo que Feitoria por Feitaria, — Felgaria e Alfeiria.
— Fentella— talvez seja diminutivo de fento, o mesmo
que feito, feto e fieito.
Cf. Chã do Fento'?!... — povoação nossa também, que to-
mou claramente o nome dos fentos.
Também Fentella, pela substituição de fé e vé, '^ pôde
ser uma forma de Venfella, tirada do vento, como Venteiraf
Ventiella, Ventosella, etc, povoações nossas.
Pôde mesmo Ventella ser contracção de Ventiella ou
Ventosella!...
Pôde Fentella também ser o mesmo que Fontella, pequena
fonte, como Fontainha e Fontainhas, Fontella e Fontellas, Fon-
tinha e Fontinhas, etc, povoações nossas.
Escusado é dizer que e q o se confundiram e substitui-
ram na onomástica portugueza, pois n^este mesmo tópico te-
mos visto e veremos a trivial substituição de «^ e, i e o.
Fentella pôde pois, vir dos fetos, ou fentos, á?iS fontes e
do vento.
As meias tintas confundem e eu já tenho a vista muito
cançada.
Nem eu sei como, tendo tanta edade (77 annos?!...) —
ainda posso fazer habitualmente serão, lendo e escrevendo —
até ás duas e três horas da manhã.
— Seja tudo em desconto dos meus peccados ! . , .
Prosigamos.
Veja-se o tópico infra: — Substituição de letras — q pag. 19, supra.
V. a pag. 28, supra.
130 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Com relação a Fétaes, Fétaly Feteira, Feteira de Baixo,
Feteira de Cima, Feteira de Dentro, Feteira de Fora e Feteiras,
povoações nossas, — veja-se Alfeiteíra e Feital supra.
— Féteirinha, é diminutivo de Feteira, como talvez Fen-
tella por fenteirella ?
Féteirinha contrasta com Feiteirona, augmentativo de
Feiteira, o mesmo que Feteira, que se encontra no Monte da
Feiteirona supra, povoação nossa também.
Com relação a Fetelaria, veja-se_, Alfeiria, Felgaria e
Feltia supra.
A Chorogra;phia Moderna, diz — Fetelaria ou Tetelaria —
e Tetelaria ou Fetelaria.
Talvez que Fetelaria seja o mesmo que Tetela7'ia, já por-
que F e T manuscriptos facilmente se confundem_, — já por-
que na minha opinião /a, fe, fo — e ta, te, to, se confundiram
e substituiram na onomástica portugueza. *
Ahi vae uma amostra do panno, restricta á substitui-
ção de
Fé e Té
— Feira e Teiraff...
São povoações nossas, mencionadas na Chorographia Mo^
derna, bem como as seguintes:
— Feixe e Teixef...
— Feixeiras e Teixeiras"?...
— Feixegueira e Teixugueira.
— Fejos e Tejos!...
— Fellões ou Foliões — Tellões e Toldes?...
— Ferrão e Terrão.
— Ferrenho e Terrenho.
— Ferronha e Terronha.
— Ferrugem e Terrugem'^/
— Fazoura e Tesouras ?
— Festos e Testos ou Festos/...
— Ferra e Terra ? ! . . .
Do exposto se vê que Fetelaria e Tetelaria são ou podem
ser formas do mesmo nome, tirado dos fetos.
As substituições de fa e to, — fóe tó, são ainda mais
numerosas e mais curiosas.
Veja-se o tópico infra: — Substituição de letras.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 131
Chamamos a attenção dos leitores para este bello espé-
cimen da onamasflca portufjiieza comparada.
Prosigamos.
— Fctil — é o mesmo que Fetal e Feital, porque as desi-
nências el, il e aly trivialmente se confundiram o substitairam
como já dissemos. ^
Cf. Lourel, Louril e Loiíral, Mourel, Mouril e Moural^
Cabril e Cabral^ etc, povoações nossas. •
— Filgueiras — não vem na Chorographia Moderna, mas*
com certeza é uma povoação da importante freguezia de
CambreSy no aro de Lamego, — freguezia que tomou o nome
Cambres, do latim botânico de Plínio, crambe, es — a couve.
Noce-se que alli se dão muito bem as couves, e tanto que
a mencionada freguezia abastece de couves a praça da Regoa,
villa próxima.
Fagueiras é o mesmo que Felgueiras, pela trivial substi-
tuição de e e i.
Com relação a Filfreira, Fitares, Fitos, Fitouro e Foitos
— veja-se o tópico Feliteira supra.
— Folga, Folgada f Folgado, Folgados, Folgão, Folgar^
Folgarosa, Folgas, Folgôa, Folgorosa, Folgos, Folgosa, Folgo-
sas, Folgoselhe, Folgosinho e Folgoso — vêem de folga por felga,
o mesmo que feto, fento, feito e fieito, como já dissemos.
— Folga é, pois, o mesmo que Felga.
— Folgada — o mesmo que Felgada e Feitada supra.
— Folgado — o mesmo que Felgado.
— Folgados — o mesmo que Felgados, Felguedos e Fel-
gaes supra.
Folgão — o mesmo que Felgão, Felgueirão ou Feiteirão,
macho da Feiteirona supra.
— Folgar — é o mesmo que Felgar supra.
— Folgarosa — é o mesmo que Falgarosa por Felgarosa
e Felegrosa supra.
— Folgos por Folgas — é o mesmo que Felgas, como
Folga é o mesmo que Felga.
— Folgôa por Felgôa — é talvez contracção de Felguei-
rôa por Felgueirona, o mesmo que FViteirona supra ? I . . . *
* Veja-se a pag. 25.
- Também Folgôa por Felgôa pôde vir de Folgorola por Fclga-
rola, diminutivo àe felga ou Felgueira.
Cf. Figueiró e Figiieirôa — áQ figueirola, no baixo Mim ficaria la,
diminutivo áe ficaria— figueira, — e Arnoia por Arnôla, de areno/a, arei-
inha^ diminutivo de arena — areia.
132 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
— Folgorosa — é o mesmo que Falgarosa, por Felgarosa
— e Folgarosa supra.
— Folgosa — é talvez contracção de Folgorosa t...
— Folgosas — é plural de Folgosa.
— Folgoso — é talvez contracção de Folgaroso — ou antes,
o mesmo que Felgoso supra^ como Folgosa talvez seja o mes-
mo que Felgosa? ! ...
— íolgosehhe e Folgosinlio são diminutivos de Folgoso.
FoUgueira, nome lindíssimo d'uma aldeia nossa, também
na minha opinião tomou o nome dos fetos, pois FoUgueira
por Feligueira é quasi o mesmo que Filgueira e Felgueira?!...
A bússola é o ouvido.
— As etymologias de Monte da Feiteíra e Monte da Fei-
teh'ona, são claras.
Apenas direi que Feitelrona recorda Barbatona, Cacha-
dona, Campona, Atagona, Carrasona, Crasona, Quintandona,
Silveirona, Arjona e Atafona, o mesmo talvez que Atagona, —
e Foros da Catampona, povoações nossas.
Com o mesmo diapasão também temos Barahona, Bar-
jona e Pamplona, appellidos d'alta cotação. ^
— O povo também diz pernona, mocetona, pimpona, ma-
7'afona, balona, solteirona, lamhona, tapona, felisona, etc.
* *
Nunca se escreveram nem escreverão tão cedo tantos
dislates (?) com relação aos fetos, planta parasita sem valor,
mas prolífica, muito prolifi.ca e muito interessante na ono-
mástica portugueza, como os leitores já viram. E, para atesto
do casco, ainda mencionarei as nossas povoações seguintes,
que talvez tomassem o nome dos fetos — ou de Félix, nome
d'um santo, etc.
São ellas: — Afains, Fens, Fenxe. Finges, Finxes e Fins,
appellido.
Os leitores não se espantem, porque Fins com certeza
vem de Félix, icis — Félix ou Feliz, nome d'um santo, etc,
tirado do latim felix, icis, — nome que deu Sanfins, muitas
povoações nossas, o mesmo que S. Felix, S. Fins e Sinfães,
metathese de Sanfíns, povoações nossas também.
S, Felix, com certeza deu Sanfins e /S. Fins, porque o
PortugaUce Monunnenta, l. Inquisitiones, fallando da fregue-
Junte-se Carmona e Carona, appellidos nossos também.
TENTATIVA ETYMOLOOICO-TOPONVMICA 133
zia de Sanfins do Douro, concelho á"* Alijó, a qual tem como
orago Santa Maria, dá-lhe o titulo : — Sanefa Maria de Sancto
Felice — ou Santa afaria de San fins.
— Nada mais terminante! ... ^
Félix, icis, com certeza, pois, deu Fins — e talvez Afains
por Al e Fains, quasi Fins e Fens, pelo diapasão francez, pois
em francez in soa em.
Também Félix, icis, pela forma Felice podia dar Fenxe —
e pela forma Felizes, povoação nossa também, — com certeza
deu Finges e Finzes, pois ge e ze confundiram-se e substi-
tuiram-se, — bem como l e n. — Y. pag. 12, supra.
Por seu turno filix, icis -- o feto ou fento — quasi felix,
icis — feliz — se não deu. podia também dar Afains por Al-\-
fains, * Fens e Fenxe por felice ou felici, como dizendo villa^
granja, quinta ou casal do feto ou dos fetos.
Note-se que Fenxe é uma aldeia, e que na edade média
podiam muito bem dizer Felici villa — ou villa de felici, em vez
de Felicis villa.
Cf. Aldeia das Ho rtinhas, Aldeia de Ervidel {Ervedal !...);
Aldeia de Lordello (do baixo latim laurltelliim — Louriçal) ;
Aldeia de Ruins — ou do Rodriguez, porque Ruins vem de
Ruiz, contracção de Roderiquix, patronimico de Rodericus —
Rodrigo, que deu também Rorigo, Roriz e Roligo, o mesmo
que Rorigo, povoações nossas?!...
Cf também Casal do Alho, Casal do Feijão, Casal do
Marmello, Casal do Pedro, sem ser Ferreira ou Ferreiro; —
Casal Doufe por Casal á' Ufe, contracção de Adaufe, o mesmo
que Athaulphi, patronimico de Athaulphus, i, nome germâni-
co pessoal, que deu também Dolves, Adolpho, Adoufe, Adicfe,
Villa Duffe, etc, povoações nossas, como já dissemos.
Cf. também Villa de Cannas, Villa de Rei, Villa de Rei
de Baixo, Villa de Rei de Cima, Villa de Souto, Villa do Bis-
po, Villa do Conde, Villa do Monte, Villa do Touro, Villa Fon-
che, por Villa Alfonsi — villa do Affonso; Villa FrescainJia,
por Villa Fresquinha, etc, povoações nossas.
1 Com vista ao meu atávico successor, o snr. ár. Joaquim da Silvei-
ra, da Anadia, notário e advogado em Alcanena, ao qual tolamente dei,
como já disse, b meu arsenal eiymologico, — cerca de 80 kilos de verbetes
— e muitos livros raros e caros, entre clles um bello exemplar do Poriu-
galice Monumenta.
V. as pag. 37, 40, 53, 68, 78 {videte, videte) ; 101 e 111, supra, — e
Joaquim da Silveira no indice da l.^ parte.
- Cf. Faltos por Feitos supra.
134 TENTATIVA ETYMOLOGICOTOPONYMICA
Do exposto supra se vê que Afains por Al \-fains, Fens,
Fenxe, Finges, Fins e Finzes, podem vir de filix, icis — o feto ou
fento — ou de Félix, icis, nome d'um santo, etc, tirado de
felix, icis — feliz.
As meias tintas confundem ; — eu já tenho a vista muito
cançada — e a minha lente da arte nova, forjada por mim a
martello, está pedindo outra melhor e mais aperfeiçoada.
Ainda com relação a Félix supra, direi que só por si deu
nada menos de 65 santos, mencionados em difíer entes santo-
raes e, desdobrando-se, deu também Felice, appeliido, Felicia,
Feliciana, Feliciano, Felicio, Felicissima, Felicissimo e Felio,
o mesmo que Félix, na Hespanha, — todos nomes de santos,
exceptuando Felicio e Feliciana.
* *
Também parecem affins ou parentes próximos de Félix :
— Felicidade, Felisarda, Felisardo, Felisbella, Felisherta, Fe-
lisberto, Felishina, Felisbino, Felismina e Felismiiio, — todos
nomes pessoaes, mas não de santos, exceptuando Felicidade
e Felisberto.
Por ultimo, direi que Fretos, povoação nossa^ talvez se-
ja o mesmo que Fetos, plural de Feto, povoação nossa tam-
bém, mencionada supra, porque o r, como já dissemos, — é
letra muito falsa e muito caprichosa ! — Apparece e desappa-
rece instantaneamente.
Cf. Marcella.^ povoação nossa, que pôde vir de Marcellus,
nome romano, — ou da 9?2«ce/Za,. planta.
— Camarinha, Camarinhos e CramarinJios por Camarinhos.
— TraJhariz por Talhariz, — este por Calhariz — e este
por Calhandriz, sitio em que abundam calhandras, aves.
Calhandra, Calhandriz e Calhariz, são povoaçõss nossas.
— Também temos Curcomellos por cocomellos — cogume-
los, o mesmo que tortidhos, e na Beira gazalhos, — unde Ga-
zalha, Gazalho, Zagalho, Zangalho, Sangalhos por Zangalhos
e este por Gazalhos^ diíferentes povoações nossas.
Viva la gracia dos Curcomellos I
Também temos Enxido e Enxidro. — Enxudos, Enxudros
e Enxiddro?! ...
— Taganhal e Traganhal^ — Cujo — de crujo por Corujo.
— Teixedo e Treixedo, — Espindo e E^^pindro, — Longa e Lon-
gra, — Longas e Longras, — Lodeira e Lordeira, — Segude e
Sergude, — Cepeda, Cepedo, Sepeda, Sepedellos e Sepedros por
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 135
Sepedellos ou Cepedos^f... — Sohal e Sobral!... — Fancaria e
Francaria. — Falorca por Paloca, e este por halloca ou val-
loca, ut supra.
Baloca, JJalocas, Balôco e Balócos, são povoações nossat
Do exposto 9© vê que os fetos podiam dar Fretofi.
Também Fileto ou Filecto, nome d'um santo, em latim
Filetus ou Filectiís^ — sem grande violência podia dar Freios.
Junte-se ainda Freitosas^ povoação de Villa Nova de Gat/a,
junto do Candal.
Assim como Fetos deu ou podia dar Frétos, também Fei-
tosas deu ou podia dar Freitosas.
Feitoso e Feítosa são povoações nossas mencionadas na
Chorogmphia Moderna, — bem como Feiposa ou Feitosa — e
Feiiosa ou Feiposa?!...
Eis aqui outro bello espécimen da onomástica portagueza
comparada,
Feitosa deu ou podia dar Feiposa, porque na onomástica
portugueza, t q p confundiram -se e substituiram-se.
Veja-se o tópico infra : — Substituição de letras. — Ahi
vae entretanto uma amostra do vanno.
T e P confundiram-se e substituiram-se
na onomástica portugueza
Cf. Padim e Tadim. — São nomes de povoações nossas,
mencionados na Chorographia Moderna, bem como toáos os
nomes seguintes :
— Paião e Tayão; — Paim e Thaim; — Painho e Tainho;
— Palada e Taladas, plural de Talada-, — Palleira e Talleira;
— Falha e Talha; — Palhinha e Talhinha; — Palia e Talla: —
Falias e Tallas; — Panque e Tanque; — Papada e Tapada; —
Paralheira por taralheira?
Cf. Taralhão, Taralhàos e Taralhões, povoações nossas
que tomaram o nome dos taralhões ou tralhões, 3íYGS bem conhe-
cidas e que se encontram na phrase popular: — gordo como
um tralhão!...
Somma e segue.
— Paranhão — por paralhão e este por Taralhão?
— Pacinhas e Tacinhas, plural de Tacinha.
— Pavilhão e Tavilhão — Fecho e Peixe — Teixo e Teixe,
— Peixinhos e Teixinhos; — Peixeira e Teixeira; — Peja e
136 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Teja?!... — Pelho e Telho?/... — Penha, o povo diz Panha,
— e Tanha. — Pêra e Tera'^ ! ... — Perra (duas aldeias) — e
Terra] — Perraço e terraço: — Perigadas — Terrada e Terrados^
quasi Ter radas.
— Perrães por Pérrões (í) — e Terrõe^.
Note-se que as desinências ães, ãos e ões confundiram-se
e ainda hoje se confundem.
Somma e segue.
— Pigeiro e Tigeiro por Tojeiro ? — Pljâo e Tijão por
Tojão — e este por fojalõo ? !... — Pinheiro e TinheÍ7*o ? f . . . — -
Pinhel e Tanhel por Tinhel '^ — Pinhella e Tinhellaí ! . . , —
Pinta e Tinta; — Pintim e Tintim, aldeias, etc. — Pinto e Tin-
to; — Pires e Tires ? / . . . — Piroleira e Tiroeira por Tiroleira ?
— Pogeira e Togeira,
Notem os leitores a substituição de po e to — mesmo- ini-
ciaes, o que torna menos violenta a substituição do po e to
mediaes de Feiposa e Feitosa.
Junte-se :
— Poído e Pitqido — Tugido e Tuido — de Tugido por to-
jedo, o mesmo que Tojal, que deu também Tosar, Tugal e
Tuzarff. ..
Também Tojo deu Tôcho, Togo e Tuxoh^ . » .
E' assim a arte nova — e rira bien qiii rira le dernier ! ...
Somma e segue.
— Poja, Toja e Tocha por Tojal... — Poledo e Toledo,
povoações nossas ; — Polo e Tolo, — talvez de Polo, o mesmo
que PaulOf na Hespanha ; — Ponta e Tonta — duas aldeias e
uma quinta.
— Pontão e Tontão; — Pontello e Tontello ; — Pontinha e
Tontinha; — Pormlhão — e turbilhão ? — Pragal e Tragai; — •
Predo e Tredo; — Prega — e Trega ou Preqa, (sic). — Pregaes
e Trigaes f — Pregai e Trigal ? — Pregueira e Trigueira — (3
aldeias) —por trígoeira, o mesmo que Trigosa, que abunda
em trigo.
— Prilhão e Trinhão por Trilhão, o mesmo que Tralhão
ipor Taralhão supra?!...
— Prova e Trofa por Trova, — de prova — bacellada, vi-
nha nova.
— Provella e Trovella, que se encontra em Ponte de Tro-
vella.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPOXYMICA 137
Junte-se Pinouca por Pinoca — e Tinoca.
— Ponce, appellido, — o Tonce; — Porqtteiroíf e Torquei-
ros?!.., — Praven e Trave, singular de 'Traces,
— Praxeiro e Trazeiros^ plural de Trazeiro por Prazeh'o?
— Apriijio ou AprlziOf nome d'um santo, — e Trizio, ai
deia nossa, talvez o mesmo que Prízio, aferese de Aprizio! ...
Do exposto se vê que Felfo-sa deu ou podia dar Feipo.s-a.
Basta de fentos, fétãos, faitos, fetox^ feitos^ felgas, falgas,
folgas e fieifos.
Sat prata biberunt.
Prosigamos.
Antes de volvermos á sonora desinência ia^ que tem lar-
gas ensanchas, ahi vae outro jorreiro de dislates meus a pro-
pósito dos fetos.
Formas onieriores da nossa desinência ães,
na onomástica portugueza
Já dissemos que Afains por Alfains ou Al e Fains — é o
mesmo que /'e/i.ç, povoações nossas, cujos nomes talvez fossem
tirados de filix, icis, o feto., planta, que podia dar Fains e
íens, como Félix., icis, nome d\im santo, etc, deu Felizes^
Finges, Finxes, Fins, Sanfins e Sinfães.
Fains pelo diapasão francez em que ain vale ên, * deu
ou podia dar Fens na edade média. — Por seu turno Fens deu
ou podia der Féns e Fães, que no diapasão portuguez soa
Féns ou Félns, quasi Fã is.
Cf. Alcains, povoação nossa, o mesmo que Al -\- Cains,
por Kens ou Kéns ou Keins, quasi Cães!, . .
Cães, Cães, Cães de Baixo e Cães de Cima, são povoa-
ções nossas.
Afains por Alfains e Fens talvez queiram dizer os fetos
ou fieitos, como Alcains e Cães — os cães!
O diapasão á^ Alfains e Fens é o mesmo de Alcains e
Cães. "
Isto me leva a suppôr que a nossa particular desinência
ães teve as formas anteriores ains e ens?!,., — E a mesma
1 Veja-se o tópico iníva.— Diapasão francez.
' Junte-se Mains, casal nosso.
Pela substituição de ma e ca — Mains talvez seja uma forma de Cains,
o mesmo que Alcains e Cães supra; mas pela substituição de ains por
ães e ões —Mains talvez seja o mesmo que Mães e Mões, infra.
— Some-te, coisa má!. . .
138 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
desinência ães teve posteriormente e conjunctameute as for-
mas aes, ãos e ões na onomástica portugueza, como os leitores
vão ver.
Desinências aes, aes, ens, aos e ões
Cf. Almargem, Abnarjão, Almarjães, Almargens e AlmaV'
jões, povoações nossas que tomaram o nome do portuguez al-
margem, prado natural, — e este do árabe aVmardje, tirado do
persa, como diz o sr. Cândido de Figueiredo — ou do verbo
árabe marajá — dar pasto ou cortar herva para o gado, como
diz Fr. João de Souza.
Também Souza diz que Almarjam ou Almarjão significa
lugar das pedradas ou cumulo de pedras. — Do verbo árabe
7'ajama, apedrejar alguém?!., .
Risum teneafis.
Almarjão é augmentativo de Almarjem, e com certeza
tem a mesma etymologia, como Almarjães e Almarjões.
Prosigamos.
— Centiaes, Centiães, — Santíaes por Centíaes, — Sandíães
e Sendiães por Centiães^ — povoações nossas que tomaram o
nome do centeio, como Centieíra, Sentieira e Sendieira por
Centíeira ? / . . .
— Cejoães, Sepães e Cepões — povoações nossas também,
que tomaram o nome das cepas ou dos cepos, troncos d'arvores. ^
— Chã, Chans, Chão, Chães, Chãos e Chões ? /
— Faldijaes por Faldijães ? — e Faldígens por Valdtgens^
plural de Valdigem.
Faldijaes, Faldigens e Valdigem, são povoações nossas.
— Fanhaes por Fanhãesf—e Fanhões.
— Farelães, Fralães e Farlens? !. . .
— Fundão, Fundaes, Ftcndoães por Fundães? — e Fun-
dõesíl...
— Condam por Condão, — Contào, Contães e Conténs!...
— Mourão, Mourãos, Mourens e Mourões!. . .
— Mucão, Mucies, Mucães e Mucens ou Mucães (sic) —
povoações nossas.
— Crjaes^ Urjaes e Orgens por Crjães ?
1 Todas as povoações mencionadas e as que vou mencionar, encon-
tram-se na Cliorograplíia Moderna, obra indispensável para este ramo
d'estudo, como já dissemos.
E' assim a arte nova e rira bien qui rira le dernier ? !. . .
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPOXYMICA 139
— Perdigão, Perdigões, Perdagães por Perdigães, — e este
por Perdigões^! . . .
— Pinthn, Pintem, Pinfens, Pinfães, Pinfins e Pifões- — po-
voações nossas que tomaram o nome dos inntainhos^ chama-
dos também pintos e pitos.
— Pintainha, Pintainhos, Pinta, Pinto, Pitas e Pintos, —
são, também povoações nossas.
— Junte-se ainda — Tourão, Touraes, Tourãese Touivesff,..
*
Eis aqui outro bello espécimen da onomástica portugiieza
comparada.
A desinência ão dos substantivos e adjectivos portugue-
zes, — no plural deu ãos^ ães e Ões,
O povo sympathisa mais com a desinência ões. Assim,
em vez de mãos, pagãos, cidadãos, pães, escrivães, tabelliães,
etc, — diz mões, pagões, cidadões, pões, escricões, tahelliões, etc.
Nós temos cinco povoações e uma freguezia denominadas
Mões^ que por certo não tomaram o nome do portuguez popular
mões, por mãos supra, mas talvez de Monils, patronímico de
Monius, ii — Monio, o mesmo que Munius, ii — Munio^ anti-
gos nomes pessoaes tirados de nonus — nono, adjectivo nume-
ral romano que tomou formas variadissimas!...
O tal adjectivo nonus deu Nona, Nonia, Nonna e Nonno,
nomes de santos; — Nónio, nome pessoal e appellido; Noia,
também appellido, talvez contracção de Nonia ; Nuno, nome
vulgar, em latim Nunus, i, unde Nunes por Nunís, patroní-
mico de Nuno.
Também Nonius e Ntcnus, pela substituição de n e m de-
ram Monius, Munius, Mumus e Mumius? / . .
Por seu turno Monius deu Monia (villa), que se encontra
em Monha, aldeia nossa, — e Moninus, i, is, unde Monin, que
se encontra em Ponte do Monim, casal nosso, — Moninhas, Mo-
ninho e Moninhos, povoações nossas também, — e Moniz, po-
voação e appellido d'alta cotação pelo grande prestigio do len-
dário Egas Moniz. ^
Mumus ou Mummus deu Mumma, antigo nome de mu-
lher, unde Mummadona por Mumma Dona, o mesmo que Do-
na Mumma e Dona Mummadona, — a lendária fundadora de
1 Moniz vem de Moniniz, patronimico de Moninus, i — Moninho,
o mesmo que Monino, antigo nome pessoal.
140 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Guimarães, ou do grande mosteiro que produziu a cidade de
Guimarães. ^
Também Mumius, ií, deu Mumianus, i, is, unde Miomães^
metathese de Munianls, povoação nossa, — e Muminius, ii, iis,
unde Moumlz, povoação nossa também.
Junte-se Nonínha, povoação nossa que vem de Nonina,
villa, e esta de Nonirnis, i, diminutivo de Noniiis, ii^ que deu
também Nonilius ii, unde Xunelhe, povoação nossa também,
como já dissemos.
Yeja-se no l.*' vol. a pag. 384 — e o tópico infra:
Nomes pessoaes e nomes de santos tirados dos adjectivos niinie-
raes romanos.
Com relação á forma popular cidadões por cidadãos, cf.
Cidadão, Cidadãos, — Cidão por Cidadão,— Seidões e Cidões^ÇiOY
Cidadões, povoações nossas, pois na onomástica portugueza i
deu ei.
Mas talvez que Cidões e Seidões venham de Sidoniis., pa-
tronimico de Sidoniits, ii — Sidónio, nome d'um santo, etc,
tirado de Sidónia, antiga capital da Fenícia.
Note-se que os Fenícios foram dos mais antigos explora-
dores e colonisadores da Ilespanha e da Luzítania. -
O padre António Pereira de Figueiredo — sábio de primei-
ra plana — em uma das suas Dissertações publicadas nas Me-
morias da Academia Real das Sciencias, diz que os Fenícios
ílanearam pela Hespanha 1400 annos — ou mais — antes do
nascimento de Christo?! . . . — E em outra Dissertação diz que
os gregos ílanearam pela Hespanha antes da guerra de Tróia? !...
A forma ■popula.r pagões ^or pigãos supra, recorda Pagons,
casal nosso. — Por seu turno Pagons é deturpação ou antiga
forma callaica do Hespanhol paganos — pagãos, — forma tira-
da do latim clássico paganus — aldeão, — ou do latim eccle-
ú'à.bÚGO pag anus — idolatra, gentio, pagão.
Ainda a propósito da desinência ães, ahi vae outro clior-
reiro o\x jorreiro de dislates meus.
Desinências âes e ans — [Hagalfiâes e (Dagalhans
— [Tlalaga e os Fenicios
Como já dissemos, a nossa desinência ães teve as formas
aes, ens, ãos e ões — e também ans talvez ! . . .
1 V. Guimarães no Portugal antigo e moderno.
■ V. pag. 57 a 65 do I vol. — e o tópico Magalhães, infra.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 141
Cf. Magalhães e Magallians — o mesmo que Magalhãení
— povoações nossas.
Também temos Magães, que pode ser contracção de Ma-
galhães^— e varias povoações com os nomes de MagalhCi e
Magalhôa.
A Hespanha tem Magallanes, que se lê Maqalhan^s, quasi
Magalhães ; — Magallon, que se lê Magalhon, quasi Magalhão;
— Magan, talvez contracção de Magallan ; — Maganes^ talvez
contracção de Magallanes^ — e Magana, que se lê Maganha,
talvez contracção de Magallana — Magalhana ?
Nós também temos Maganhe, Maganha e Magalão. tal-
vez forma de Magalon supra, povoação da Hespanha. — £ a
Formosa Magallona, romance de cordel^ escrevendo- se Magal-
lona, pelo diapasão hespanhol dava em portuguez Magalhana,
quasi Magalhôa supra, povoação nossa.
Magalhães- é também appellido portuguez nobre e antigo
— e hoje muito vulgar pelo grande prestigio de Fernão de
Magalhães, natural de Sabrosa em Traz-os-montes, ^ que no
século XVI, andando ao serviço da Hespanha, descobriu a pas-
sagem do Atlântico para o Pacifico pelo estreito da America
do Sul, — estreito que tomou d'elle e conserva ainda hoje o
nome de Estreito de Magalhães, por onde seguiu da Hespanha
para as PhiUppinas, sendo alli barbaramente trucidado pelos
indígenas.
Vasco da Gama, partindo de Lisboa, dobrou o Cabo de
Boa Esperança nos fins do século xv e foi até á índia, con-
tornando a Africa; por seu turno, Fernando ou Fernão de Ma-
galhães foi da Hespanha até á índia também, alguns annos
depois, pelo sul da America.
No citado artigo Sabrosa, Pinho Leal com bom funda-
mento sustenta que Fernão de Magalhães era natural d'aquella
villa — e não do Porto, como dissera no artigo Porto, vol.
7.<», pag, 296. — Reconsiderou, por serem de muito peso as no-
ticias, até áquella data inéditas^ que lhe forneceu certo ami-
go d'elle e meu, cujo nome não publicou, como desejava e de-
clarou no mencionado artigo, porque o tal informador o não
consentiu.
Eu tive a honra de privar com ambos, pelo que posso
afoitamente dizer que o tal cavalheiro, informador de Pinho
Leal, — foi o sr. José Augusto Pinto da Cunha Saavedra, na-
^ Vide Sabrosa, no Portugal antigo e moderno, vol. 8.0, pag. 275,
col. 2.a e seg.
142 TENTATIVA ETYMOLOQICO-TOPONYMICA
tiiral de Provezende, villa do concelho de Sabrosa, — cavalheiro
respeitabilissimo, tão modesto como illustrado e muito ver-
sado nas genealogias transmontanas, etc.
Falleceu quasi de repente na sua nobre casa de Prove-
xende, no dia 26 de Abril de 1885 — e poucos sentiriam tan-
to como eu a inesperada morte de s. ex.*, — já por ser um
dos meus melhores amigos, já por me haver promettido mui-
tos apontamentos para o artigo Villa Real de Traz-os-Mon-
tes, — villa que s. ex/ muito bem conhecia por ser a capital
do seu districto e por ter alli muitas relações e parentes.
Com a morte de s. ex.*, perdi o melhor cyreneu para
aquelle artigo de tanta responsabilidade e que tanto trabalho
me deu / . . .
Elle ficou bastante extenso, pois comprehende 111 pagi-
nas— e é muito variado, mas gastei com elle uns três mezest
— Talvez tenha algum merecimento, mas teria com certeza
mais valor e ficaria mais correcto e mais completo, se me não
faltasse, como faltou, o auxilio de tão illustrado e dedicado
amigo. Quando s. ex.* falleceu, apenas deixou esboçadas algu-
mas linhas informes que não pude aproveitar.
Veja-se no Portugal antigo e moderno o meu longo arti-
go,— Villa Real de Trax-os-Montes^ vol. xi, paginas 926 a 1:041,
— e para a genealogia de s. ex.», o artigo Provezende, vol. vii,
pag. 680 a 714, — artigo em que Pinho Leal, meu benemérito
antecessor, aproveitou muitos apontamentos que o mesmo se-
nhor lhe forneceu.
Fernão de (Tlagalhâes
Antes de esboçar a nebulosa etymologia do nosso appel-
lido Magalhães, não posso resistir á tentação de dizer algo de
Fernão de Magalhães, afamado navegante portuguez, cuja bio-
graphia é muito vaga e muito nebulosa, posto que d'ella se-
têem occupado distinctos escriptores nacionaes e estrangeiros.
Pinho Leal, fallando de Fernão de Magalhães nas ephe-
merides relativas ao Porto e ao anno 1521, data do falleci-
mento de grande navegador, pois ignora-se a data em que
nasceu, diz textualmente o seguinte: ^
«Segundo alguns escriptores — e entre elles o esclareci-
do auctor dos Portuguezes illustres, o sr. M, Pinheiro Chagas —
nasceu na cidade do Porto o famoso Fernando de Magalhães,
Portugal antigo e moderno, legar citado.
TENTATIVA ETVMOLOGICO-TOPONYMICA 143
Foi creado da rainha D. Leonor, mulher de D. Joáo ii,
e depois, do rei D. Manuel, irmão da mesma sennora.
Em 1Õ04 foi para a índia com o seu primeiro vice-rei,
D. Francisco d' Almeida (V. Lisboa, vol. iy, pag. 321, col. 1.*)
e alli deu provas de grande valor, assim como na Africa, on-
de também se distinguiu em muitos combates contra os mou-
ros e turcos.
Requereu ao rei D. Manuel um pequeno augmento na
sua moradia, e como lhe fosse recusado, deixou Portugal e se
pôz ao serviço de Ccisfella.»
a Quando para alli foi, já ia persuadido de que o plano
de Chrisfovam Colombo, de buscar pelo lado occidental um
caminho para o Oriente^ se podia realisar, navegando mais ao
sul; conseguindo-se assim a posse das Molucas,
Ofifereceu-se Magalhães a Carlos v, para levar a effeito
esta empreza ; — o imperador acceitou este offerecimento, e
lhe deu uma esquadrilha, com a qual o nosso portuguez foi
em 10 d'Agosto de 1519, ousadamente, em demanda de ma-
res desconhecidos.
Rodeando os mares da America meridional, entre a Pa-
tagonia e a Terra do Fogo, ^ descobriu o canal que communica
o Atlântico com o Mar Pacifico, ou Grande Oceano Austral, e
por isso ao mesmo canal se deu o nome, que ainda conserva,
e que todos os geographos lhe dão, de Estreito de Magalhães.
«D'alli vogou para as Molucas ; mas foi morto em um
combate contra os habitantes das ilhas Fhilippinas, no dia
27 d'Abril, d'este anno (o tal das ephemerides supra — 1521.)
Foi Sebastião dei Cano que aportou ás Molucas, regres-
sando á Hespanha pelo Oriente ^ (Oceania) concluindo assim
uma viagem de circumnavegação em volta do mundo.»
— Foi isto o que Pinho Leal disse de Fernão de Maga-
lhães no artigo Porto ; vejamos agora o que disse o meu be-
nemérito antecessor no artigo Sabrosa, villa transmontana,
vol. VIII, pag. 275.
Desculpem a transcripção, porque ó muito interessante
para a nebulosa biographia do celebre navegante portuguez.
I A Terra do Fogo (nota de Pinho Leal) é uma ilha, e a extremidade
meridional da America, cuja ponta forma o Cabo de Horn, no Oceano
Atlântico Austral.
- Aqui houve lapso de revisão. — Em vez de Oriente — leia-se Oc-
cidenie.
Este tópico é interessantíssimo, como os leitores logo verão.
144 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Sob O titulo Fernando de Magalhães diz textualmente
Pinho Leal ;
— «No 7.° vol. (artigo Porto) ^ pag. 296, disse eu que —
segundo alguns escriptores—.tmhdi nascido na cidade do Porto
este navegador famoso, e n'aquelle logar dei uma rápida bio-
graphia d'este esclarecido portuguez.
«A um meu respeitável amigo e incansável investigador,
ao qual muito deve esta obra, devo amplas noticias sobre a
naturalidade Magalhães, e as vou aqui dar em resumo, como
o pede um diccionario. — A modéstia doeste cavalheiro pri-
va-me do prazer de publicar o seu nome, o que muito me
custa. 1
«Se não ha certeza, ha toda a probabibilidade para
crermos que Fernando de Magalhães nasceu na sua casa solar
da Pereira^ da villa de Sabrosa, ainda que uns o fazem na-
tural do PortOf — outros de Figueiró dos Vinhos e ainda
outros de diversas localidades.
A causa d'esta confusão, é porque no principio do sé-
culo XVI houve vários individues com este mesmo nome,
sendo alguns da mesma famiba de Fernando de Magalhães,
como se pôde vêr em differentes nobiliários.
Investigações feitas modernamente em face de documen-
tos authenticos, põem fora de toda a duvida que, se elle não
foi de Sabrosa, pelo menos alli tinha com toda a certeza a sua
casa e a sua familia, que foi herdeira e representante do seu
nome — e administradora do vinculo por elle instituído na
Cusa da Pereira, d'esta villa.
«O grande nobiliário do Casal do Paço, manuscripto da
Bibliotheca jmblica do Porto (volume vii pag. 189) diz que
Lopo Rodrigues foi para a villa de Figueiró dos Vinhos ser
tutor dos filhos do senhor de Figueiró e de Pedrogam Grande,
os quaes eram sobrinhos de D. Izabel de Souza, mulher de
seu tio João de Magalhães, senhor da Barca. ^ .
1 Já dissemos que o benemérito informador de Pinho Leal foi o
meu saudoso amigo sr. José Augusto Pinto da Cunha Saavedra, distin-
cto fidalgo e rico proprietário de Provezende.
— Suum cuique.
2 D. Izabel de Souza era filha de Ruy Vaz Ribeiro de Vasconcel-
los, senhor de Figueiró dos Vinhos e de Pedrogam Grande.
Vide Ponte da Barca e Paço Vedro de Magalhães (no Portugal
antigo e moderno).
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 146
aLopo Rodrigues teve da sua mulher oito filhos (4 de
cada sexo), tendo o mais velho por nome Fernando de Ma-
galhães^ como o seu avô materno. Note-se, porém, que ne-
nhuma das irmãs d'este Fernando de Magalhães se chamava
Thereza.
<í Gajo, no seu extenso nobiliário, existente no archivo
da Mise7dcordia de Barcdlos (tomo xxiii, letra M, § 27) con-
forraa-se com o manuscripto do Casal do Paço^ mas aponta
mais três indivíduos da familia Magalhães, todos chamados
Fernando de Magalhães, cada um dos quaes tem passado por
descobridor do Estreito de Magalhães.
O arcebispo de Braga (primeiramente bispo do Porto)
Dom Rodrigo da Cunha, auctor do Catalogo dos Bispos do
Porto, e que attentamente estudou a questão, fundando-se em
que do inventario de Fernando de Magalhães constava que
elle viveu na ilha da Madeira, é de parecer que Fernando de
Magalhães era filho de Lopo Rodrigues, o tal tutor de Figuei-
ró dos Vinhos. ^
«Ainda o mesmo Gajo nota que um dos três menciona-
dos Fernandos de Magalhães — era senhor do vinculo de Men-
Iheias, o qual perdeu, por passar ao serviço de Castella.
O sábio MuTioz diz que elle fizera um outro testamento
em 24 de Agosto de 1519, e que nelle se declarava — Vicino
de Oporto, — d'onde se collige que elle devia ser natural
d'esta cidade, — e accrescenta que n'este testamento instituiu
por herdeiro seu irmão Diogo de Sousa (ou de Magalhães, se-
gundo Gajo) — no caso que fallecesse o filho que havia tido
de sua mulher — D. Beatriz Barbosa, realisando-se esta ultima
hypothese. ^
«Finalmente, de antigos documentos consta haver nada
menos de seis Fernandos de Magalhães, em dififerentes terras
de Portugal, — sendo alguns d'elles militares e fazendo parte
das nossas expedições á Africa e á índia; mas é certo que
de nenhum d'elles ha noticias tão authenticas e positivas,
como do da Casa da Pereira^ de Sabrosa.
1 Eu modifiquei algo este tópico, pois é bastante confuso no origi-
nal que vou copiando. — P. Ferreira.
- Henri Vast na sua interessante obra —Le Tour du Monde - que
havemos de citar muitas vezes, — a pag. 120, fallando de Fernão de Ma-
galhães, diz: — «casou na Hespanha com D. Beatriz, filha d'um grande
personagem, commendador da ordem de S. Thiago, que desde 1501 tinha
feito numerosas viagens nos mares da índia».
— Nada mais diz do casamento de Fernando de Magalhães. •
10
146 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
«O sr. dr. Alexandre Manoel Alvares Pereira d'' Aragão, fi-
dalgo da casa real e cavalleiro da ordem de Nossa Senhora
da Conceição de Villa Viçosa^ natural da freguezia de Parada
do Pinhão^ concelho de Sabrosa, hoje residente em Villa
Flor (onde casou com uma sobrinha do general António Pin-
to de Seixas Pereira de Lemos, feito visconde de Lemos em 29
de Março de 1854) — é actualmente ^ o único representante
legitimo da casa e familia de Fernando de Magalhães.
Possue o dito sr. dr. Alexandre Manoel dois documentos
que derramam a luz mais clara sobre esta questão.
0 1.^ d'elles é o testamento do próprio Fernando de Ma-
galhães, feito em Belém, nas notas do tabellião Domingos
Martins, a 17 de Dezembro de 1504, — três mezes antes da
sua partida para a índia com o 1.° vice~rei d'ella — D. Fran-
cisco d' Almeida, que partiu de Lisboa a 25 de Março de 1505.
N'aquelle testamento institue por seus únicos herdeiros
— sua irmã D. Thereza de Magalhães, — seu marido João da
Silva Telles — e o filho doestes Luiz Telles da Silva, — sem
mencionar n'este documento qualquer outro seu irmão ou
irmã.
«De todos os seus bens, que elle mesmo declara serem
poucos, instituiu pelo testamento um vinculo em favor da dita
sua irmã, marido e filho, na sua casa da Pereira, de Sabrosa,
e na sua pequena quinta da Souta.^ junto de Sabrosa e so-
branceira ao Valle da Porca, com o encargo de doze missas
annuaes, — unindo tudo ao seu altar do Senhor Jesus, da
egreja matriz (a antiga) de Sabrosa.
Ora, se elle chama para lhe succeder no vinculo, uma
irmã, é de crer que não tinha irmãos, porque, se os tivesse
não legaria o morgado a fêmea, contra o uso geral d'aquelles
tempos.
«O outro documento que possue o sr. dr. Aragão, é um
testamento feito por Fr*ancisco da Silva Telles, filho do já re-
ferido I^uiz da Silva Telles.
Este documento não deixa a mais pequena duvida de
1 Refcre-se ao arino de 1878, em que Pinho Leal escreveu o artigo
Sabrosa.
O dr. Alexandre Manuel Alvares Pereira d' Aragão aiuda vivia em
Villa Flor e era alli um dos 40 maiores contribuintes do concelho em 1884,
Veja-se no Portugal antigo e moderno o meu artigo Villa Flor, vol.
XI, pag. 736, col. l.a.
TENTATIVA ETYMOLOQICO TOPONYMICA 147
que o Fernando de Magalhães que descobriu o estreito do
seu nome — é este de ^Sabrosa e não outro.
O testador, dominado pelo medo que ainda tinha ás iras
do rei D. Manoel, legadas aos seus successoras contra a sua
familia, exprime-se da maneira mais interessante e deixa
transparecer o terror de que estava possuido, querendo fazer
acreditar ás justiças d'el-rei, que elle desapprovava também
o procedimento do seu tio — Fernando de Magalhães'.
Dá muita luz á questão o seguinte periodo do tal testa-
mento :
«... mandando a todos os meus descendentes e herdei-'
ros que na minha casa da Pereira^ em Sabrosa, não ponham
armas, nem outro brazão, porque quero que em todo o tempo
se conservem picadas e rasas da mesma maneira que as man-
dou pôr o nosso senhor e rei, pelo delicio de Fernando de Ma-
galhães passar a Castella, em desserviço d'este reino, a des-
cobrir novas terras, onde morreu em desagrado do mesmo
rei. ^ E, como elle era irmão de minha avó D. Therexa de Ma-
galhàesy se mandaram picar as armas, por cujo motivo de
vergonha me passei a viver no Maranhão^ onde agora me
acho, ao tempo do outhorgamento doeste meu testamento. E
faço esta declaração para que aos meus vindouros fiquem para
exemplo não só os castigos do senhor rei, mas os do Céu, que
fez que o meu dito tio Fernando de Magalhães, irmão de
minha avó, morresse tão desastradamente, como dizem que
morreu, em uma ilha chamada Maltam, ás mãos de herejes, ^
ou melhor, — de seus peccados, atravessado por uma lança.
«E cuidem todos os meus descendentes e herdeiros, em
servir os seus principes, se querem a minha benção, que lhes
negaria, se soubesse que haviam de ter tão baixos sentimen-
tos e tão ruinosos para as familias, como tem sido para mim
e meu pae, que deixamos a nossa pátria por vergonha e medo
que se levantassem os visinhos contra nós, pois com justiça
não podiam soffrer quem ia contra Portugal^ que era a sua
pátria, servir caslelhinos, nossos inimigos naturaes, etc.»
^ Nenhum rei portuguez teve melhores ministros e mais bravos ge-
neraes, do que D. Manoel, — e nenhum dos nossos monarchas foi tão in-
grato, castigando até muitos que devia premiar.
Se elle fosse tão solicito em dar o premio áquelles que tanto lh'o me-
receram, como em castigar Fernando de Magalhães, que uma ingratidão
do rei lançara no serviço de Castella, mais bom mereceria da pátria e da
posteridade.
2 O testador queria dizer idolatras.
148 TENTA.TIVA ETYMOLOGICOTOPONYMICA
«Este testamento foi feito no Maranhão^ nas notas do
tabellião Damião Carneiro, a 3 de Abril de 1580.
O brazão da Casa da Pereira ainda está picado e arrasado,
tal como o mandou picar o rei D. Manoel.
O sr. dr. Aragão ainda possue outros documentos, pelos
quaes se prova a identidade d'este Fernando de Magalhães —
e que elle era da nobilissima família do appellido Magalhães,
— appellido que elle próprio no seu testamento diz — com
referencia ás suas armas — ser dos mais distinctos, antigos e
nobres d'este reino, pedindo que juntem ás suas armas as
dos Magalhães.
Foi ainda o medo que obrigou esta familia a deixar o
illustre appellido de Magalhães,
Na Noitvelle Biographie general, editada por Mr. M. Fer-
min Didot Frères, sob a direcção do doutor Hoefer, vem uma
extensa biographia de Fernando de Magalhães e alli se men-
ciona o seu testamento.
*
* * '
Segundo a tradicção, quando constou que Fernando
de Magalhães passou para o serviço de Castella, o povo de
Sabrosa fez toda a qualidade de insultos aos seus sobrinhos,
— chegando até a correl-os á pedra, pelo que se viram força-
dos a fugir para o Maranhão, nesse tempo ainda quasi todo
despovoado, — e não quizeram pedir ao monarcha hespanhol
o cumprimento do que havia promettido a seu tio.
A sua casa de Sabrosa, abandonada por elles, cahiu,
como é fácil de suppôr, no maior estado de ruína e, quando
regressaram á pátria, nem se animaram a voltar para a sua
terra natal, indo, ao que parece, residir em Fafe.
Só nos fins do século xviii é que os seus descendentes
se animaram a usar o appellido Magalhães.
« Em 1795 António Luiz Alvares Pereira Coelho da Silva
Castello Branco Magalhães, avô do sr. dr. Aragão, requereu
na qualidade de único herdeiro de Fernando de Magalhães,
ao governo castelhano — o titulo de odelantado e uma indem-
nisação, pela vintena, das terras e rendimentos promettidos
ao fundador da sua casa; — mas nada conseguiu.
« O antigo vinculo instituído por Fernando de Magalhães
está hoje em poder de pessoas extranhas a esta familia, por-
que a mãe do sr. dr. Aragão o vendeu e deixou partir.
« As armas da Casa da Pereira, picadas por ordem do
TENTATIVA KT VMOLOOICO-TOPON YMICA 149
rei D, Manoel^ foram apeadas na reconstrucção da casa e
servem hoje de cunhal em um dos ângulos d'ella».
♦ *
A transcripção foi longa, mas todos concordarão em que
é muito interessante para a nebulosa biographia de Fernando
de Magalhães.
Graças ao fallecido sr. José Augusto Pinto da Cunha
Saavedra ^ — distincto genealogista e auctorisado investiga-
dor, pôde hoje affirmar se que Fernão de Magalhães — o afa-
mado navegante, — era da villa de Sabrosa e dono da Casa
da Pereira^ da mesma villa.
Também Pinho Leal por informações do mesmo sr. Saa-
vedra deu no artigo, que vamos extractando, uma interes-
sante lista genealógica dos successores lateraes de Fernão de
Magalhães,
São elles os seguintes : *
« 1.*' — D. Thereza de Magalhães^ irmã de Fernando de
Magalhães, sua única herdeira a 1.* morgada do vinculo ins-
tituido na Casa da Pereira^ de Sabrosa.
Casou com João Telles da Silva, fidalgo da casa real e
tiveram
2.° — Luiz Telles da Silva, fidalgo da casa real, o que fu-
giu para o Maranhão.
Casou com D. Rosa de Castro Vasconcellos e tiveram
3.0 — Francisco Telles da Silva, fidalgo .da casa real.
Casou com D. Maria Moreira e tiveram
4.0 — António da Silva (de Magalhães?) Faria, fidalgo da
casa real.
Casou com D. Francisca Pereira da Silva e tiveram
5.0 — Gonçalo Alvares Moreira Telles. Casou com L>.
Maria Marinha (sic) e tiveram
^ Um sábio escriptor hespanhol diz que o appellido Saavedra vem
de saia velha ? !...
Na minha opinião Saavedra vem de Sala -f ve/era — casa. velha,
pois sala em antigo hespanhol (?) significou casa.
Também sala deu Sá, appellido e nome de varias povoações nossas,
— ao todo mais de ^0] bem como Sá de Baixo, Sá de Cima, Sá de San-
galhos, Salaberie {casa verde) ?, Sala e Salinha, povoações nossas.
Cf. Casa, Casa Vedra, Casa Velha, Casa Verde, Casa Vermelha,
Casarollas, Cdsarullos, Casas, Casinhas, etc, muitas povoações nossas,
ao todo mais de mil? !. . .
'^ Artigo citado, pag. 287.
150 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
6.** — D. Maria Moreira,
Casou com Francisco da Silva Pinheiro de Faria ^ de
Royos ou Arroyos, junto de Vilía Real de Traz-os- Montes^ e
tiveram
7. o — Manoel Alvares Coelho de Faria.
Casou com D. Anna Maria Pereira, da povoação de Do-
nello, freguezia de Covas do Bouro, concelho de Sabrosa, e
tiveram
8.° — D, Caetana Rosaura Pereira Coelho da Silva.
Casou com Luiz Ribeiro Valente Castello Branco e tiveram
9." — D. Quitéria Joaquina Pereira Coelho da Silva.
Casou com o dr. Amaro Pereira d' Aguiar, juiz de fora
de Villa Pouca d' Aguiar, e tiveram
10.0 _ António Luiz Alvares Pereira Coelho da Silva Cas-
tello Branco Magalhães.
Casou ai.* vez com a herdeira única da casa e vinculos
dos Cunhas Amaraes, de Provezende e Villa Real — e senhora
de mais cinco differentes vinculos. Teve d'ella duas filhas
que falleceram de tenra edade.
Casou segunda vez com D. Petronilla Lopes d'Alboim e
Cunha de Sande Soares Carreto, filha de D. Eugénio José Lo-
pes d'ATboim e Cufia, e sobrinha do tristemente celebre Go-
doy, ao qual o rei de Castella deu o titulo de príncipe da Paz.
Tiveram
li.*» — D. Petronilha Laura Alvares Pereira de Maga-
lhães, — a ultima senhora da Casa da Pereira»
Casou com o marechal de campo Manuel António Fer-
reira d' Aragão, da freguezia de Villar Chão, conce]h.o d^ Alfan-
dega da Fé, morgado e seohor da casa de seus pães. Tiveram.
12.° — O dr. Alexandre Manoel Alvares Pereira d' Ara-
gão, fidalgo cavalleiro da casa real, cavalleiro da ordem de
Nossa Senhora da Conceição de Villa Viçosa, actual represen-
tante da casa de Fernando de Magalhães.
Casou em Villa Flor de Traz os-Montes com a sr.* D. Fe-
licidade Amélia Pinto de Lemos, sobrinha do general visconde
de Lemos.
Ha d'este matrimonio até hoje (refere-se ao anno de
1877?) —dois filhos e duas filhas, todos ainda menores >
* ♦
Também Pinho Leal no mesmo artigo que vamos extra-
ctando — deu uma lista dos homens notáveis de Sabrvsa e,
TENTATIVA ETYMOIX>aiCO-TOPOXYMICA 151
principiando pela Casa da Pereira — a casa de Fernão de Ma-
galhães — mencionou os seguintes :
«!.• — O licenciado André da Silva Coelho (G.° sobrinho
de Fernando de Magalhães) — freire conventual da ordem de
S. Thiago de Pai mel la.
Foi alumno do Real Collegio dos Militares, áe Coimbra, —
e superior do convento de Palmella, fazendo as vezes de prior-
mór, — cónego e monsenhor da Pafriarchal de Lisboa, — do
conselho de S. M. etc.
2 o - Luiz Pereira da Silva, sobrinho do antecedente.
Foi prelado mitrado da Patriarchal de Lisboa e freire
conventual do mosteiro de Palmella.
3.0 — O dr. Manoel José Pereira da Silca, 9.° sobrinho
de Fernão de Magalhães.
Foi juiz de fora da villa da Barca e desembargador no
Eia de Janeiro.
«4° — António Luiz Alvares Pereira Coelho da Silva Cos-
tello Branco Magalhães, já mencionado.
Foi irmão do antecedente e morgado da Casa da Pereira,
cavalleiro da ordem de S. Thiago, encarregado de uma mis-
são secreta pelo governo de Ccistella junto do de Portugal,
para as pazes entre as duas nações. ^
Reclamou do governo hespanhol o cumprimento do tra-
tado feito com o seu 9.* tio Fernando de Magalhães, como
herdeiro do vinculo d'este e seu único e legitimo represen-
tante, morrendo, porém, da queda d*um cavallo, — nada obteve.
ò.° — A7itonio Pinto Alvares Pereira, brigadeiro ihoje
diz-se — general de brigada).
Fez a campanha peninsular e foi governador militar da
praça de Marvão, pelos liberaes.
Foi também deputado às cortes em 183-i e morreu no
anno seguinte.
Teve a medalha d'ouro de toda a campanha peninsular
e outras condecorações.
6.** — João Pinto Alvares Pereira.
Fez toda a campanha peninsular no posto de capitão de
cavaliaria e, ficando prisioneiro dos francezes na batalha
de. . . — teve a habilidade de poder fngir-lhes com toda a sua
companhia — sem perder um único soldado — indo reunir se
ao exercito anglo-luso.
1 Já se vê que este senhor havia passado também para o serviço
dos castelhanos.
152 TENTATIVA ETYMOLOGIOO-TOPONYMICA
Em 1823 acompanhou o sr. D, Miguel a Villa Franca
de Xira, , . — e falleceu em 1828, sendo coronel da cavalla-
ria de Chavesi>.
Agora mais alguns dislates meus.
Pinho Leal disse bastante com relação á nebulosa biogra-
phia de Fernão de Magalhães no artigo Sabrosa supra, e nelle
se encontram espécies novas, mas não disse a ultima palavra.
Menciona dois testamentos do nosso biographado, — um
feito em Lisboa (Belém) no anno de Lõ04, 3 mezes antes de
partir para a índia com o l."* vice-rei D. Francisco d^ Almeida;
— o outro feito na Hespanha em 24 d' Agosto de 1519, pouco
antes de partir para a sua gloriosa expedição (20 de Setem-
bro do dito anno).
No 2.® testamento, como diz Pinho Leal, citando Munoz,
instituiu herdeiro o seu irmão Diogo, no caso de fallecer um
filho que o testador já tinha da sua esposa D. Brites, o que
se realisou.
Do exposto se vê que Fernão de Magalhães teve pelo
menos um irmão, emquanto que Pinho Leal diz que o nosso
biographado no primeiro cestamanto vinculou a sua Casa da
Pereira e instituiu herdeira e administradora do vinculo a
sua irmã D. Thereza , . . pelo que Pinho Leal suppõe que
Fernão de Magalhães não tinha irmão algum, pois, se o ti-
vera, o instituirá administrador do vinculo, segundo a praxe,
com preferencia á irmã.
Este argumento é de pouca força, porque os instituido-
res dos vínculos por vezes nomearam administradores d'elles
— não o filho ou sobrinho varão mais velho, mas qualquer
outro dos mais novos.
Instituiram-se mesmo vínculos a favor das filhas e so-
brinhas, tendo os instituidores e seus successores filhos varões.
Era muito ampla, muito variada e por vezes muito com-
plicada a legislação vincular.
Eu nada sei de coisa alguma, nomeadamente de direito,
pois formei-me em theologia; mas refiro -me ao que tenho en-
contrado na historia, nas chronicas e em difíerentes nobiliários.
Ahi vae um espécimen curioso :
(Tlorgado da Ribeira de Sabrosa
Sob este mesQio titulo disse eu no longo artigo Villa
Real de Traz os- Montes — vol. xi do Portugal antigo e moder^
noy pag. 964, o seguinte:
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONTYMICA 153
«Na mesma egreja da santa casa, na capella de Nossa Se-
nhora da Co7^ôa, instituíram em 1598 um morgado, a que
vincularam todos os seus bens, — Fernão Pinto Pimentel^ ar-
mado oavalleiro em Ceuta, procurador d'esta villa ás cortes
d^Almeirini, etc, — esua mulher Maria Corrêa, ambos ádi pri-
meira nobrexa doesta villa transmontana, com obrigação de
certas missas, vestuário a pobres, etc.
«Nomearam primeiro administrador do dito morgado
seu sobrinho António Pinto Pimentel, com muitas condições,
algumas curiosas, v. g. — que o administrador d'este morgado
usaria os appellidos Pinto Pimentel, sendo varão, — e Corrêa
Pimentel^ sendo fomea.
«Que se o dito António Pinto Pimentel e sua mulher An-
na Corrêa não deixassem successão, passaria este morgado
com todos os seus bens — para um criado qualquer do ultimo
administrador {?[...), — porque não queriam os instituidores
que n'elle succedesse jamais António Corrêa, genro de Paio
Rodrigues, de Favaios, — nem Anna Pimentel, nem os filhos
ou descendentes d'estes — pelas grandes desobediências e cruéis
ingratidões que d'elles haviam recebido. ^
«Que os administradores doeste vinculo nos dois primei-
ros annos da sua administração lhe uniriam qui.renta mil réis
(somma importante naquelle tempo) — em dinheiro ou em fa-
zendas,— ■ comtanto que não fossem vinham ? !..>>
— Do exposto se vê que já vêem de longe as crises viní-
colas do Douro. — No momento (1908) está elle atravessando
uma das crises mais duras, mais cruéis - — e mais dura foi
ainda a crise porque passou em 1851, quando eu fui para
Coimbra.
Chegaram a vender-se na Regoa 3 quartilhos de bom vi-
nho por 20 réis — e a pipa d' aguardente de prova — 550 li-
tros de puro espirito de vinho — por trinta mil réisf!...
* Os taes senhores de Favaios, como revelam os appellidos e o
contexto, deviam ser parentes próximos dos instituidores. Imagine-se,
pois, como ficariam desesperados, quando se vissem preteridos por um
criado qualquer áo ultimo administrador do grande vinculo, — criado que
podia ser inclusivamente um gallego ? !. . .
'^ Vende-se alli actualmente a pipa de bom vinho de pasto a 18$000
réis — e com difficuldade, — porque a Extremadura e o Alemtejo produ-
zem muito vinho, que innunda o Porto e tolhe o consumo do Douro.
Só um proprietário do Alemtejo —o sr. José Maria dos Santos--
colhe 20 a 30 mil pipas de vinho por anno ? ! . . .
164 TENTATIVA ETYMOLOGIOO-TOPONYMICA
*
* *
Proveiu da abundância a tal crise, pois antes de manifes-
tar-se alli o oydium — a producçáo do vinho era espantosa ! . , ,
Com o apparecimento do oydium — cessou a crise da
abundância — e o vinho encareceu rapidamente, mas, em-
quanto não se descobriu a applicação do enxofre para com-
bater o oydium, a crise foi ainda mais violenta, porque as
videiras adoeceram, morriam e nada produziam !
Alguns lavradores do Douro, entre elles o meu pae, at-
tonitos compraram gado lanigero, forçados a volver á vida
pastoril? 1. . .
Com a applicação do enxofre os vinhedos em breve se
reconstituiram ; nao tardou, porém, nova crise com o appare-
cimento da maldita phyloxera e das 30 doenças que perse-
guem as vides d'aquella região.
Infeliz Douro ! . . .
Elle devia soffrer muito em 1598, como prova a institui-
ção do vinculo ou morgado da Ribeira de Sabrosa supra.
Também devia soffrer muito no século xv, como prova o
tombo do grande, enorme passal da freguezia, villa e honra
de Távora, concelho de Taboaço, districto de Vizeu^ — tombo
que foi organisado em 1496.
N'elle se mencionam 103 propriedades que então perten-
ciam ao dito passal, entre ellas — sob os n."' 19 e 54 — duas
courellas que já foram, vinha.
— Isto em Távora, parochia mimosissima^ fertilissima e
já então vinicola ? f
Veja-se o 1.° vol. d'esta obra^ onde dei copia fiel do men-
cionado tombo desde pag. 460 até 474.
Veja-se também ali a nota n.» 2 de pag. 464, onde men-
cionei umas inquiriçõefi reaes do século xiii, relativas ao con-
celho de Lamego, as quaes, fallando da freguezia de Samo-
dães^ terra natal do sr. conde doeste titulo, entre outras coisas
dizem: — . . . e ha aqui um souto que já foi vinha e paga de
foro ao rei. . . tanto por anno.
No mencionado volume disse e provei eu tampem que
na minha Penajulia ou Penajoia, minha terra natal, — a fre-
guezia mais TYíimosa do Douro e de Portugal^ visinha e limi-
trophe da de Samodães, ha também soutos que em tempos muito
remotos foram, vinhas ? / . . .
Note-se que as taes Inquirições do século xni já mencio-
navam difíerentes vinhas em Samodães.
TENTATIVA ETYMOLOQICO-TOPONYMICA 155
Não fallavam da minha Penajulia (o que muito senti),
porque desde os princípios da nossa mouarchia toda a minha
Penajulia foi reguengo ou propriedade da coroa. *
Volvendo ao tópico supra — Morgado da Ribeira de Sa-
brosa ~- disso eu ainda no meu longo artigo Villa Real de
T7'a2-Ofi- Montes :
«Tomou este vinculo o nome de vinculo ou morgado da
Ribeira de Sabrosa, porque na ribeira da freguezia de Sa-
brosa, margem direita do Pinhão, tinha uma das melhores
propriedades que o constituiam, a qual escolheu para seu ti-
tulo o barão da Ribeira de Sabrosa, — ultimo ou penúltimo
administrador d'este morgado, — Rodrigo Pinto Pizarro Pi-
mentel d' Almeida Carvalhaes, ministro de D. Mana ii, um
dos homens mais illustrados e mais honrados que teve For-
no século XIX.
Falleceu em 1841 sem successão.
V. Ribeira de Sabrosa, Sabrosa e Villar de Maçada^ no
Portugal antigo e moderno,
i(Sào hoje (1885J herdeiros e representantes do fallecido
barão os Nobrpgas Pintos Pizarros, de Villa Real ; mas a
grande quinta da Ribeira de Sabrosa foi vendida e os restan-
tes bens divididos, em virtude da lei que aboliu os vínculos.
*
* *
Proseguindo com o mesmo thema, ahi vae outro jor-
reiro de dislates meus.
Gajo — diz Pinho Leal supra — menciona três Fernandos
de Magalhães, notando que um d'elles era senhor do vinculo
ou morgado das Merilheias, o qual perdera por passar para o
serviço de Castella, como dissemos no extracto do artigo Sa-
brosa.
Não é de suppôr que o tal Fernando ou Fernão de Ma-
galhães fosse o nosso biographado, porque este, como diz Pi-
nho Leal, era muito nobre, 7nas pobre. — Apenas deixou o
pequeno vinculo da sua Casa da Pereira, — vinculo ou mor-
gado que devia perder, como o seu homonymo e talvez pa-
rente próximo, perdeu o das Merilheias, por haver também
passado para o serviço de Castella.
Note-se que D, Manoel, apenas soube que Fernão de Ma-
V. Penajoia e Penajulia no indice do i volume.
156
TENTATIVA ET YMOLOGICO-TOPON YMICA
galhães passou para a Hespanha, o perseguiu tenazmente. —
Não só mandou picar as armas da sua Casa da Pereira^ mas,
como diz Vast^ que havemos de citar muitas vezes, — recla-
mou instantemente de Carlos v, rei da Hespanha, a prisão e
extradição d'elle.
Carlos V, não accedeu e mais se convenceu de que Fer-
não Magalhães não era um aventureiro, um intrujão^ como al-
guém lhe dizia, — mas um homem d' alta cotação.
A tenacidade com que D. Manoel perseguiu o nosso bio-
graphado foi óptima recommendação para este ; mas era uma
vez um homem, se D. Manoel o podesse haver á mão ! , . .
Os reis da Hespanha desde que os portuguezes nos fins
do século XV assombraram o mundo com a feliz descoberta
da navegação directa para a índia, — não pouparam esforços
e dinheiro com o fito de angariarem pilotos e marinheiros
portuguezes. — Por seu turno os nossos reis puniam os trans-
fugas com pena de morte.
Já li algures que D. Manoel, constando-lhe que dois pi-
lotos portuguezes_, aliás beneméritos, iam a caminho da Hes-
panha, os mandou prender e matar, — e que, estranhando a
nossa marinha tanta severidade para com os dois pilotos, D.
Manoel simplesmente e muito friamente dissera : — Não gosto
de nrarinheiros que viajam por terra í! . . .
Fernão de Magalhães, como já dissemos, devia perder a
sua Casa da Pereira, pois é de suppôr que D. Manoel, perse-
guindo-o tão tenazmente, chegando até a enviar esquadras para
o Cabo da Boa Esperança e para os outros pontos do cami-
nho e do mar da índia com o fim de o prenderem, — não se
limitou a picar-lhe as armas da Casa da Pereira. — Muito
provavelmente confiscou-a, segundo a praxe para com os trans-
fugas — em Portugal e na Hespanha desde os princípios da
nossa monarchia.
Mal pôde portanto acceitar-se o que diz Pinho Leal : —
que a irmã de Fernão de Magalhães e os descendentes d'ella
ficaram possuindo o mencionado vinculo até o meado do sé-
culo XIX.
Mais. — No testamento do Maranhão supra, feito em
1580 por Francisco da Silva Telles, 2.** sobrinho de Fernão de
Magalhães, — ainda o testador chama sua a Casa da Pereira,
como vimos. — E é para extranhar que referindo-se á morte
de Fernão de Magalhães e 3lo primeiro testamento por elle feito
em Lisboa {Belém) no anno de 1504, — estando ainda solteiro,
— não faça a mínima referencia ao segundo testamento feito
TENTATIVA ETYMOLOOlCO-TOPONYMirA 167
na Hespanha^ como dizem Munoz e Vast, no anno de 1519, —
estando jd casado, — testamento que devia annular ou modi-
ficar o primeiro ! . . .
Logo daremos uma ligeira, mas interessante noticia do
segundo testamento de Fernão de Ma<jaUiães.
Pinho Leal também diz que o mencionado vinculo ou
morgado foi vendido pela máe do sr. dr, Alexandre d' Ara-
gão — ultima dona da Casa da Pereira. — Nào diz quando,
mas devia ser no meado do século xix, porque o dito senhor
ainda vivia em 1885, como já dissemos.
Vai longo, muito longo este tópico, mas não podemos
resistir á tentação de dar um ligeiro extracto do precioso e
luxuoso livro que temos sobre a nossa mesa d'estudo, intitulado
bc Tour du (Tlonde
Em vulgar: A volta ao mundo ha 4 séculos ou Vasco da
Gayna e Fernão de Magalhães por llenri Vast [íFnrique Basto ?),
professor no Lycêu Fontanes — Paris, 1880.
O mencionodo livrinho foi escripto em francez e faz
parte da interessante coUecçào de propaganda : — Bibliotheca
das escolas e das famílias.
Comprehende apenas 101 paginas (8.° grande) em óptimo
papel, bom typo e bella capa, luxuosa edição da livraria Ha-
chelte, com 2 bellos retratos de Vasco da Gama e Fernão de
Magalhães^ — 2 mappas. indicando um d'elles a viagem de
Vasco da Gama para a índia, seguindo o rumo leste pelo Cabo
da Boa Esperança. — O outro mappa indica a viagem do Fer-
não de Magalhães para a índia, seguindo o rumo occidental e
diametralmente opposto, atravessando 3i America sul pelo es-
treito que descobriu e d'elle tomou o nome actual : — Es-
treito de Magalhães.
D'alli navegou quasi em recta para a índia atraves-
sando com a maior felicidade e como por milagre o tenebroso
Mar Pacífico — nunca d'antes navegado em tal rumo — na ex-
tensão de milhares de léguas ?.'...
Dão particular merecimento ao dito mappa 3 quadrellas
que nelle se vêera^ representando uma d'ellas o emmara-
nhado, sinuoso e perigoso Estreito de Magalhães. '
O mencionado livro comprehende também 10 formosas
gravuras, representando uma d'ellas a nossa torro de Belém.
O livro é muito lisongeiro para Portugal, sendo para la-
mentar que até hoje não fosse traduzido em Portuguez.
1B8 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Dava um brinde muito próprio e muito interessante para
ser distribuido pelos alumnos dos nossos collegios e das nos-
sas aulas nas festas escolares.
Nós temos detractores nos paizes estrangeiros, mas tam-
bém temos amigos e admiradores, como Vast, desde tempos
muito remotos.
No atlas, que foi um dos mais notáveis do mundo, pu-
blicado em 1570 por Ahrahão Ho7'telio, d^Anvers, se lê no
mappa relativo a Portugal, o seguinte:
«O império lusitano é hoje (1570) o mais vasto possível,
porque se estende desde Lisboa até á China e ao Japão.
Os filhos de Portugal, partindo d'alli com um arrojo e
uma felicidade incriveis, devassaram o mundo inteiro.
Descobriram innumeraveis ilhas, d'alguma das quaes
apenas se sabia o nome e d'outras nem sequer o nome ; —
converteram em província sua grande parte da Africa^ — tor-
naram tributaria a Asia^ esse paiz abençoado, — e levaram a
religião de Christo até os paizes mais remotos.»
Decorou o mappa de Portugal com um simples galeão —
e o mappa da Pérsia e da índia com as armas actuaes por-
tuguezas de 7 castellos e 5 quinas.
Isto prova que não era sem fundamento que os nossos
reis se intitulavam: — Reis de Portugal e dos Algarves d'aquem
e d'além mar em Africa, senhores de Guiné e da conquista,
navegação e commercio da Ethiopia, Arábia, Pérsia, índia,
etc.
Faltou a Hortelio mencionar a nossa colónia do Brazil,
que só por si era tão vasta como a Europa toda!...
Não a mencionou talvez por não estar ainda bem deli-
mitada.
— E dava-se isto nos fins do século xvi, quando Portu-
gal propriamente dito — credite posteri I — n&o contava dois
milhões d'habitantes ^t ...
Nós perdemos grande parte das nossas colónias durante
os 60 annos da occupação hespanhola - 1580 a 16-40 — e, gra-
ças ao sr. D. Pedro iv, perdemos o Brazil em 18*22 ; mas
ainda assim Portugal é a terceira potencia colonial do inundo !. . .
Temos ainda hoje talvez mais de mil portos de mar na
Europa, na Africa, na Ásia e na Oceania, pelo que todas as
potencias nos afagam e namoram, por estarem hoje em foco
as guerras marítimas com vapores, — guerras em que os por-
tos de mar são indispensáveis, tanto para abrigo dos vapores,
como para abastecimento de carvão.
ENTATIVA ETYMOLOaiCO-TOPONYMICA 159
Os nossos mil portos de mar sào invejados pelas poten-
ciai marítimas todas, — mas todas os respeitam e nenhuma
ousa tocar-lhes, posto que a nossa marinha é hoje microscó-
pica. — Respeitam-nos, porque teriam de bater-se com a //!•
(jlaterra^ nossa alliada, — hoje a primeira potencia maritima
do mundo e que por certo nào cederia a outrem um único
dos nossos portos.
A nossa marinha é hoje microscópica^ mas já foi muito
importante, — a primeira do mundo no século xvi, pelo que
não ha muito, estando em manobras uma esquadra ingleza na
nossa bahia de Lagos^ o almirante inglez convidou para jan-
tar a bordo do seu grande couraçado o commandante d'um
vapor de guerra portuguez que alli foi saudal-o. — E ao des-
sert o almirante inglez brindou ao rei de Portugal — e á ma-
rinha portugueza, mãe de todas as marinhas? f ,. .
Foi um requinte d'amabilidade este brinde, mas não to-
talmente gracioso, porque em um livro francez já eu li ha
bastantes annos o seguinte:
a A marinha do guerra portugueza foi no século xvi a
marinha de guerra mais importante da Europa. Os seus gran-
des vasos de guerra montavam duas a três pontes d'arti-
Iheria, — nos cestos de gávea usavam artilheria mais leve —
e toda a sua artilheria era de bronze. - Não usavam canhões
de ferro fundido, como as outras nações».
Na bahia do Rio de Janeiro ha um sitio ou um castello
chamado Bota Fogo.
Talvez tomasse o nome d'um grande vaso de guerra por-
tuguez assim denominado, por ter muita artilheria a bordo.
*
* *
Volvendo a fallar dos estrangeiros que muito nos esti-
mam e consideram, não posso deixar de render preito a um
distincto escriptor italiano (?) — o Marquez Mac Siciney de
Mashanaglass, camarista particular de Sua Santidade^ mora-
dor no palácio Falconieri da Via Júlia., em Roma.
E' s. ex.* tão amigo de Portugal que, manuseando os
preciosos o volumosos archivos da Santa Sé, já publicou di-
versas obras muito lindas e muito interessantes relativas a
Portugal.
Eu conheço e possuo nada menos de cinco d'aquellas me-
morias, porque s. ex." muito gentilmente e muito amavel-
mente se dignou enviar- m'as, — fiiaeza com que muito me
160 TENTATIVA ETYMOLOQICO-TOPONYMICA
honrou e penhorau e pela qual novamente lhe beijo as mãos
agradecido.
As ditas memorias são as seguintes:
l.a — Les Précourseurs de Vasco da Gama — par le Mar-
quis Mac Stmney de Mashanaglass — Chambellan intime de Sa
Sainteté — Rome^ 1898.
Em vulgar : Os Precursores de Vasco da Gama — pelo
marquez Mac Swiney de Mashanaglass — camarista particular
de S. Santidade.
Roma, 1898.
2.* — Le Portugal et la Sainte Siège... —ou Portugal e a
Santa Sé. — As Espadas d^honra^ enviadas pelos Papas aos
Reis de Portugal no século xvi — pelo marquez Mac Swiney
de Mashanaglass^ camarista particular de S. Santidade, — Pa^
ris, 1898. ^
3 * — Le Portugal et la Sainte Siège... — ou Portugal e a
Santa Sé. — Os Enxovaes ou Cueirinhos bentos ^ enviados pelos
Papas aos principes reaes de Portugal —pelo marquez Mac
Swiney de Mashanaglass^ camarista particular de S, Santidade,
— Paris, 1899.
4.* — Le Portugal et la Sainte Siège.., — ou Portugal e
a Santa Sé. — Uma embaixada portugueza enviada a Roma,
sendo pontifice Júlio ii (I50õ) — pelo marquez Mac Swiney
de Mashanaglass j camarista particular de S. Santidade. —
Paris, 1909.
5.* — Le Portugal et la Sainte Siège... — ou Portugal e a
Santa Sé. — As Rosas d^Ouro enviadas pelos Papas aos Reis
de Portugal no século xvi — pelo marquez 3Iac Swiney de
Mashanaglass, camarista particular de S. Santidade. — Paris,
1904.
*
* *
Do exposto se vê que s. ex.^ adora Portugal / . . .
Sendo muito illustrado e muito versado em diversas lin-
guas, incluindo a portugueza^ a hespanhola e a italiana, fez
aquellas cinco memorias e publicações todas em francez, —
por ser actualmente o francez a lingua mais vulgar em todo
o mundo. — Era por consequência a mais própria para a vul-
garisação e propaganda que s. ex.* — honra lhe seja! —
muito espontaneamente se lembrou de fazer em favor de
1 Note-se que as ditas memorias são todas escriptas em francez.
'^ Les tanges bénits — diz o texto.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPOXYMICA IGl
Portugal, — E, havendo em lioma, onde vive, muitas e ópti-
mas typographias deu preferencia ás de Parin^ por serem
as publicações em francez e consequentemente de mais fácil
composição em Fran(;a, do que na Itália.
As ditas memorias todas andam fora do mercado, por-
que s. ex.* as destinou para brindes.
Sei que as enviou também ao meu santo prelado — o sr.
D. António Barroso^ actual bispo do Porto, — e por certo
brindou com ellas também outros bispos nossos, bem como a
nossa casa real, as secretarias do estado, etc.
S. ex.* não necessita de mais titulos nem condecorações,
mas ao nosso governo cumpre significar-lhe a nossa gratidão
condecorando-o, se ainda o não condecorou.
— Bem merece uma grã cruz da Ordem de S. Thiago.
Agora Le Tour du Monde, Henri Vast e Magalhães — e
como preliminar o Infante D. Henrique e Sagres, Christovam
Colombo e Vasco da (jama.
Um dos homens mais notáveis e mais beneméritos que
Portugal tem produzido até hoje — foi sem contestação o in-
fante D. Henrique, filho do nosso rei D. João i e da rainha
D, Filippa de Lencastre.
Sendo muito bondoso, muito illustrado, muito querido
pelos irmãos — e muito rico, pois era duque de Vizeu^ Grão-
Mestre da Ordem de Christo, senhor da Covilhã, na Beira Bai-
xa, e de Lagos, Portimão e Sagres no Algarve, podia viver
esplendidamedte na corte ou em Thomar, no seu magestoso
palácio e convento, solar da Ordem de Christo.
Podia também viajar, como o seu irmão D. Pedro, du-
que de Coimbra que, na phrase vulgar, percorreu as sete par-
adas do Mundo f /..,
— Mas o infante D. Henrique muito espontaneamente
deixou tudo o que tanto podia encantar e seduzir qualquer
outro e, fiel á sua divisa — talent de bien faire ou desejo de
bem fazer — foi no vigor da edade, contando apenas vinte e
cinco annos, alcandorar-se no promontório de Sagres, um dos
sitios mais ermos e mais solitários do nosso paiz todo e da
nossa província do Algarve» — E alli passou muito contente e
satisfeito a maior parte da vida — cerca de 41 annos — desde
1419 até 1460, data em que falleceu, contando (S^ annos de
edade, pois nasceu no Porto em 1394.
Custa a crer, mas é tem facto incontroverso^ — facto que
o immortalisou, bem como a Portugal^ pois a elle se devem
162 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
as nossas grandes explorações marítimas que assombraram o
mundo nos séculos xv e xvi.
Ditosa pátria que tal filho teve !
D. Henrique, pela sua muita illustração e pelas suas
viagens e expedições a Marrocos, aífeiçoou-se ao mar, — até en-
tão muito mal conhecido no grande mundo — e concebeu o
projecto de o explorar, — não com a mira da avareza e do
interesse próprio, como em tempos muito remotos o explora-
ram os Fenicios, ^ — mas para ser útil à humanidade toda,
fiel á sua divisa — talent de bien faire.
Com este santo e louvável intuito deixou Vixeu, Tho-
mar, Lisboa, a côHe, a familia — tudo — e foi viver, qual ere-
mita no solitário e deserto promontório de Sagres^ por ser o
local mais p^'oprio para as suas projectadas explorações ma-
rítimas.
Veja-se no Portugal antigo e moderno o interessante ar-
tigo Sagres do meu benemérito antecessor Pinho Leal, — vol.
vjir, pag. 323 a 329, — artigo muito acceitavel todo^ menos
a parte etymologica.
— «Esta villa (Sagres) é povoação antiquíssima, talvez
mesmo anterior ao domínio dos romanos; — diz elle textual-
mente, pag. 326 — e accrescenta :
«Os árabes lhe mudaram o nome para Chak Back (que,
segundo alguns, quer dizer — Ilha dos Rochedos) mudando-lhe
ainda depois para Sacron, que se corrompeu em Sagres.
<rSigo o que dizem escriptores de muito credito ; mas,
com sua licença, não me conformo com semelhante etymología.
«E' verdade que frei João de Sousa nos Vestígios da lin-
gua arábica em Portugal, diz que Sacron significa uma espécie
de peça d'artílheria : — mas, como podiam os mouros dar seme-
lhante nome a Sagres, se só passados 135 annos depois da sua
completa expulsão do Algarve, ó que cá appareceram pela
primeira vez, peças d^artilheria f
«Entendo que Sagres é corrupção de Chak-Rack e não
de Sacron ; mesmo porque era mais fácil a corrupção».
1 Vejam-se as pag. 63-65 do l vol.
De passagem diremos que os hollandczes nas suas explorações ma-
rítimas dos séculos xvi e xvii mostraram ter sangue de Judeus caos Feni-
cios, pois chegaram a fazer, publicar e vender mappas e roteiros falsos
com relação ao mar da Oceania e da Austrália ou Nova Hollanda, como
dizem Beschereíl c Devars. — Irra !. . .
Semelhante procedimento é um cumulo de villania, de maldade e
avareza.
TENTATIVA ETYMOLOGUCO-TOPONYIIICA 163
Vem, pois, Safjyes de Chak-RacJc na opinião de Pinho
Leal, mas na minha opinião Sagres vem de Hi/agriU patro-
nimico de títjagrius^ li — Sifagrio^ nome d'um santo, etc. — ti-
rado talvez do latim botânico de Plinio syagrus, i — cena
espécie de palmeira.
N'esta hypothese Sjjagrio quer dizer alto^ elegante e del-
gado como a palmeira.
SijagriiH deu tíajjre.s, como Flaviis, patronimico de Fia-
vius, ii, Flávio, nome romano e nome d 'um santo, deu Chavett
— e como Jh/lariis, patronimico de Hylarhis, li, — Hylario,
também santo, etc, deu Alares, povoação nossa.
Também Amaris, patronimico de Amanis^ i — Amaro,
nome d'um santo e do Amaro Mendes Gaveta, que pelo nome
não perca, deu Amares, villa e freguezia nossas.
Por seu turno Amanis — Amaro — vem do latim amarus
— triste.
E', pois, Amaro synonimo de Tristão e antithese de Hy-
lario, que vem de hilnrls — alegre.
Flavius, li — vem do latim flavus, i — louro, da côr do
ouro, como já disse
Também Sagres pôde vir directamente do latim Si/a-
grus, i — palmeira.
Notese que no Algarve dão-se muito bem as palmeiras
e melhor deviam dar-se no tempo de Plínio, porque o Algar-
ve, todo o nosso paiz e toda a zona temperada deviam ser
mais quentes outr'ora.
Refiro-me á theoria do arrefecimento gradual da terra,
pelo qual bons naturalistas e geólogos pretendem explicar as
muitas doenças que actualmente perseguem os vegetaes da
Europa todos, incluindo as videiras, cerdelras, laranjeiras, azi-
nheiras, castanheiros, carvalhos, pinheiros e sobreiros, que eram
as nossas arvores mais robustas, mais vivazes.
*
Volvendo a Sagres^ faremos algumas rectificações.
E' certo que o Infante D. Henrique passou a maior parte
da vida alcandorado no promontório de Sagres, — mas não
pôde marcar so com precisão e certeza o anno em que para
alli foi.
Eu indiquei o anno 1419, mas talvez fosse anteriormente.
Vast diz que o Infante D. Henrique fundou a celebre
Academia de Sagres (logo volveremos ao assumpto^ era 14:15,
164 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
— no seu regresso da tomada de Ceuta, ^ Concordam n'este
ponto vários escriptores ; outros dizem que o Infante montou
Si, celebre Academia de Sagres — no seu próprio palácio. Logo
em 1410 já tinha mandado fazer o dito palácio . . ,
E por certo que antes de fazer o palácio no deserto pro-
montório, aprumado sobre o oceano e muito exposto a ser
atacado e surprehendido pelos piratas berberescos ou da An-
dalttzia, ao tempo ainda occupada pelos mouros, já tinha for-
tificado, como fortificou, o dito promontório, transforman-
do-o, como transformou, em uma valente praça de guerra e
Tercena ou Terça Naval, — arsenal importante, representando
grandes sommasl,..
Pôde, pois, dizer-se que o Infante se instalou em Sagres
desde 1415 — ou ainda antes — e que preso com a sua cons-
tante lahufa das explorações marítimas, que eram para elle
tudo^ — alli se conservou até que falleceu em 1460 — ou du-
rante 45 annos aproximadamente.
Não quero dizer com isto que elle desde 1415 esteve sem-
pre em Sagres, mas — que alli passou a maior parte do tempo.
Somente obrigado por motivos de força maior, com
grande violência de quando em quando se afastou do seu
adorado promontório de Sagres^ volvendo rapidamente a elle,
pelo que foi denominado — e ainda hoje se denomina — o In-
fante de Sagres?!...
Emquanto viveu o pae — D. João i, que muito o esti-
mava por todas as considerações e por ser o filho que mais
se parecia com elle, passou algum tempo na corte, porque o
pae obrigava os filhos mais velhos — D. Duarte, D. PedrOy
D. Henrique e D. Fernando — a coadjuval-o na governação
publica — três mezes cada um por anno.
D. Henrique era pontual e o que melhor cumpria, mas
— logo que findava o seu trimestre — fugia rapidamente para
Sagres. Apenas uma vez ou outra por excepção e para obse-
quiar e poupar os irmãos, se demorava na corte mais alguns
dias, mas, logo que podia — fugia rapidamente para o seu ado-
rado promontório.
Digo rapidamente, porque era muito valente, muito enér-
gico e montava muito bem.
O irmão D. Duarte foi o mais destro, mais correcto e
mais afamado cavalleiro do seu tempo, como prova o seu in-
teressante livro Ensenãnça de bem cavalgar toda a sella. Mas
1 Tour du Monde, pag. 20.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOFONYMICA 165
D. Hennque, por ser mais valente, mais fogoso e destemido,
se não cavalgava tão correctamente, — galopava como nin-
guém. — Não corria — vonva /
Pôde dizer-se que até hoje ninguém o bateu galopando! ?. .
*
* *
Kefiro-me á interessante Memoria em commemoração do
quinto centenário do Infante D. Henrique, publicada no Porto
em 1894, por occasiáo das pomposas festas^ henriquinas, — Me-
moria que obteve o primeiro premio no respectivo concurso e
que íoi escripta pelo saudoso portuense Alfredo Alves,
Com o prematuro fallecimento de s. ex.* perderam muito
as boas letras, pois era uma excellente pessoa, talento verda-
deiramente superior, tão modesto, como illustrado, — investi-
gador benemérito, incansável, — ■ distincto escriptor e poeta.
Além da dita Memoria, escreveu e publicou dois livros
de versos — Melancolia (se bem me recordo) — e Folhah d'He-
ra, sendo este ultimo prefaciado pelo sr. Joaquim d' Araújo,
nosso cônsul actual em Génova, distincto escriptor e também
poeta, amigo particular do pobre Alfredo Alves.
As Folhas d'Hera foram publicadas na Tijpographia El-
zeviriana^ aqui no Porto , em 1886, — e são ellas um formoso
livrinho de xi 96 paginas (4.** grande) com 27 mimosas poe-
sias soltas, entre ellas uma — a primeira — dedicada ao seu
bondoso tio Joaquim d' Oliveira Guimarães, — outra á sua mãe,
— outra ao seu irmão, — outra á sua irmã, — outra ao sr. Joa-
quim d^ Araújo, etc, — todas sobre themas ou assumptos dif-
ferentes e com titulos próprios correspondentes.
Alfredo Alves publicou também uma Biographia de Santo
António e um romance histórico — it/arza dúbrilens (irlan-
deza), etc.
Cito de memoria — desculpem — e pouco mais posso
adiantar, posto que foi algum tempo meu parochiano e vi-
veu com o tio supra — Joaquim d'' Oliveira Guimarães — que
o adorava e morava no I^argo de Viriato, freguezia de Mira-
gaya, quando eu fui parodio d'esta freguezia.
O sr. Joaquim d'' Araújo pôde adiantar muito mais, por-
que privou mais de perto com o desditoso Alfredo Alves, que
era filho d'um lente de medicina da nossa Universidade de
Coimbra — o Z)r. Francisco António Alves.
Tentou formar-se em medicina também, mas, vendo certo
166 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
dia um cadáver em dissecação no theatro anatómico — perdeu
os sentidos, — adoeceu gravemente,^ ficou sempre triste e não
mais se restabeleceu completamente nem pôde formar-se? !...
O pae não deixou fortuna, mas o mencionado tio esti-
mava-o muito, — levou-o para a sua casa e, como dispunha de
bastantes meios, — nada faltou ao pobre moço até que falle-
ceu. — Morreria, porém, talvez de fome e desgostos, se vivesse
mais alguns annos e sobrevivesse ao bondoso tio, porque este
era negociante na rua de S. João, algo distante da casa onde
vivia e — confiando muito nos caixeiros — segundo me consta
— foi por elles atraiçoado e morreu pobre — pobríssimo !?.. .
O santo homem viveu bem, mas acabou mal! — Acabou
também mal o avô paterno de Alfredo Alves — João José d^ Oli-
veira Guimarães, pae do lente da Universidade, pois cegou
completamente e assim viveu annos aqui no Porto, havendo
ainda quem se lembre de o ver na rua, guiado pela mão do
seu netinho Alfredo ? / . . .
— Com vista ao sr. Joaquim de Araújo.
*
Na citada Memoria henriquina o sr. Alfredo Alves, depois
de descrever a tomada de Ceuta e a heroicidade com que D.
Pedro de Menezes, governador d'aquella praça, a tinha conser-
vado e defendido, diz que D. João i um bello dia, eçtando
em Cintra doente, recebeu a noticia de que os mouros de Fez,
colligados com os granadinos, havendo pregado e apregoado
a guerra santa contra os christãos, marchavam em grande
numero contra Ceuta e tentavam reconquistal-a.
A noticia do perigo de Ceuta estalou em Cintra como um
trovão — diz Alfredo Alves, pag. 48 e accrescenta: — ^(Só D.
Duarte e os Infantes mais novos estavam em Cintra, nos Pa-
ços da Serra, D. Pedro era em Vílla Real, — o Conde de Bar-
cellos em Bragança — q D. Henrique em Vizeu. Tinham partido
para esses pontos, porque de Castella se temiam alguns que-
brantamentos da paz.
«Assim que ao Infante D. Henrique — diz textualmente o
sr. Alfredo Alces — constou o risco em que estava de per-
der-se o theatro da sua maior façanha guerreira {CeutaJ, para
cuja conquista tanto havia trahíúhaido, — montou a cavallo e a
galope, a galope, sem pousar em cidade, nem villa, nem alber-
garia, — apresentou-se nos Paços da Serra, em Cintra, — den-
tro de vinte e quatro horas^ .
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 167
E' isto O que diz textualmente o sr. Alfredo Alves na ci-
tada e muito auctorisada Memoria henriquina, pfig. 48 e 49.
Do exposto se vê que o Infante J). Henrique — no pri-
meiro quartel do século xv foi de Vizeu a Cintra em vinte «
quatro horas— ^ a cavallo e a galope, serni^re a galope, — sem
descanço algum.
Isto custa a crer, pois ainda em 1767 — decorridos mais
de trezentos annos — João Baptinta de Castro no seu curioso
e muito consciencioso Roteiro de Portugal diz que Vizeu dis-
tava de Lisboa 47 léguas — e que Cintra distava de Lisboa
6 léguas.
Distancia total de Cintra a Vizeu 52 legoas, que pela
craveira d'aquelle tempo correspondiam a mais de 60 das
nossas léguas actuaes de 5 kilometros.
O mencionado Roteiro marca, por exemplo, — de Lamego
á villa da Régua 1 legoa — e da Régua a Villa Real 3, — Ao
todo 4 léguas de Lamego a Villa Real, emquanto que pela
craveira actual dos õ kilometros a distancia entre aquelles
dois pontos — é de 30 kilometros só da Régua a Villa Real
— e 13 da Régua a Lamego. — Total 43 kilometros — cerca
de 9 léguas — em vez de 4 — de Lamego a Vala Real?!»..
Do exposto se vê que o Infante para ir de Vizeu a Cin-
tra e percorrer mais de 60 léguas em 24 horas — não galopou
mas voou ! — mesmo porque as nossas estradas in illo tenipore
deviam ser e com certeza eram na sua maior parte — barrancos
e despenhadeiros, por onde se não podia galopar. — Nem ca-
vallo algum — mesmo ainda hoje nas melhores estradas a ma-
cadani — podia galopar durante 24 horas seguidas sem parar
nem ter descanço algum !
O //?/awíe podia distribuir cavallos — muitos cavallos —
desde Vizeu até Cintra para mudas d'espaço a espaço e assim
podia adiantar muito e aligeirar o percurso. Mas tal processo
devia ser moroso e a Memoria citada não faz a minima refe-
rencia a elle.
Apenas diz que o Infante — logo que recebeu a noticia...
partiu rapidamente ou no mesmo instante.
* *
Em uma minuciosa, muito interessante e muito conscien-
ciosa biographia do bispo de Vizeu — D. Jidio Francisco de
Oliveira (1740-1765) — escripta pelo padre Leonardo de Sousaj
congregado do Oratório, amigo e contemporâneo do dito pre-
168 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
lado, e publicada por mim na Vida Moderna, jornal do Porto^
em 1890, n.^^ 45 a 49, meneiona-se uma grande pendência
que houve entre o bispo D. Júlio — e toda a cidade de Vizeti,
a principiar pelo provedor, corregedor, juiz de fora, camará
municipal^ etc.
Foi uma questão gravissima que durou annos e obrigou
o prelado — sendo aliás um bispo benemérito e muito gene-
roso — a gastar mais de vinte e cinco mil crusados — e a cho-
rar lagrimas de sangue'^!... — E tudo por causa d' uma pouca
de palha, que não valia um caracol ? ! . . .
As bulhas principiaram em Setembro de 1744 — «e log^o
começaram a correr os postilhões, havendo tal que de Lisboa
a Vizeu — gastou menos de três dias I » como diz com espanto o
mencionado, muito illustrado e muito auctorisado biographo.
Dava elle a entender que os postilhões costumavam gas-
tar com o dito percurso 3 a 4 dias — ou mais ! — Isto de Vi-
zeu a Lisboa — afora as õ a 7 léguas de Lisboa a Cintra ,
Também o padre Sousa, descrevendo minuciosamente e
muito conscienciosamente a viagem do bispo D. Júlio, que
elle acompanhou, — de Lisboa até Vixeu, diz que partiram de
Lisboa no dia 9 de Março de 1743, ás 7 horas da manhã — e
que chegaram a Vizeu no dia 17 do dito mez e anno pelas 8
8 meia horas da noute.
Gastaram, pois, com a viagem cerca de nove dias — não
se poupando a noitadas e fadigas. ^
Note-se que o bispo fez a viagem toda em caleça — e a
comitiva a cavallo; mas por vezes a caleça enterrou-se na
lama até os eixos — e de Coimbra até Vixeu foi mister con-
certar expressamente e com antecipação vários lanços da es-
trada.
* *
Eu estou abusando muito da paciência dos leitores com
relação ao antigo percurso entre Vizeu e Lisboa, mas não
posso resistir á tentação de dar-lhes ainda uma ligeira noti-
cia tão interessante, como authentica e assombrosa, que se
encontra na Taboada Curiosa de João António Garrido, pu-
blicada em IJsboa no anno de 1747. — Eefiro-me á 4.* edição,
pois a dita obra, pelo seu particular merecimento (?) — teve
seis edições ou mais ! . . .
Na de 1747, pag. 165, se lê textualmente o seguinte:
1 Jornal citado, n.« 46, de 1890.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 169
«Conta para se saber quando se deitõo e tirão as cartas
do Correyo, e o tempo que tardõo em ir e tornar a Da-
rias partes do Reino, desde Lisboa
— «Trez dias tarda uma carta em ir e tornar desde Lis-
boa a Setuhal — nem 'perder corre f/o.
Vão de Lisboa sabbado e tterça-feira e tornáo segunda e
sexta-feira.
— a Sete dias tardam em ir e tornar desde Lisboa & Alem-
quer, a Santarém, a Torres Vedras, a Thomar, Ecora, Elvas,
e Beja, pelo correyo.
— «Qiuitorze dias tardam em ir, e tornar desde Lisboa a
Leiria, Coimbra, Aveiro, Faro, Esgueira, Porto (cá estou
eu!...), Campo d' Ourique, Algarve, Portalegre e Vizeu, (cá está
elle !...).
— « Vinte e hum dias tardam em ir e tornar desde Lis-
boa a Guimarães, Moncorvo, Braga, Lamego^ Guarda, Castel-
Branco, Vianna do Minho, Pinhel e Almeida.
— «Trinta dias (?!..-.) tardam em ir e tornar desde Lis-
boa a Bragança, Chaves ,^ Miranda, Monção, e Montalegre.y>
E faziam-se por aquelle tempo em Lisboa apenas duas
expedições na semana: — ás terçasfeiras para leste e sul: —
Algarve, Alemtejo, Franca, Hespanha e Itália ; — nos sabba-
dos para o norte : — Beira, Minho e Traz-os-Montes.
Yeja se o meu longo artigo Vias férreas — Estradas a
macadam — Rios e Canaes — Telegraphos, Correios e Pharoes
— no Portugal antigo e moderno, vol. x, pag. 467 a 502, —
publicado em 1884 — no anno em que eu tomei conta da dita
obra, por haver fallecido o meu benemérito antecessor Pinho
Leal em 2 de Janeiro de 1884, — deixando aquelle dicciona-
rio aproximadamente a meio do artigo Vianna do Castello e
do vol. X.
Coube-me, pois, a honra de bem ou mal concluir o men-
cionado artigo e o mencionado volume e de levar o pobre
diccionario até o fim do volume xii e ultimo, por haverem os
editores desistido do promettido e tão preciso supplemento. —
Elle daria mais alguns volumes {"! l .. ,) e eu então de bom
grado o escreveria, mesmo porque já tinha destinados para
170 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
èlle muitos maços d' apontamentos^ que ficaram inutilisados —
e com elles o meu tirocínio de mais de seis annos.
Também senti que os editores não quizessem dar ao me-
nos mais um volume com o índice geral da obra toda, — Ín-
dice que muito a valorisata, pois facilitava as consultas, como
eu lhes disse e lembrei repetidas vezes, prestando-me também
então a escrevel-o.
Veja-se a minha advertência — Ao Publico — no fim do
vol. XII e ultimo (?!...) do Portugal antigo e moderno,
Prosigamos.
No citado artigo Vias .férreas — Estradas a macadam,
etc, pag. 493, — dei eu aquelle tópico da Taboada Curiosa de
Garrido, — tópico já então muito interessante e hoje ainda
mais por se haver operado entre nós um progresso espantoso
na viação publica e na facilidade de communicações de toda
a ordem desde os fins do século xviii — e particularmente
desde o meado do século xix, como eu já então suppunha,
pelo que no principio do mencionado artigo disse textual-
mente o seguinte : -
«Conglobamos todos estes tópicos (Vias férreas. Estra-
das a macadam, etc.,) — pela intima ligação que os prende e
para aproveitarmos o ensejo de registar o que sobre tão im-
portante assumpto hoje gosamos e vamos legar ás gerações
por vir.
«E' inegável que neste ponto, bem como em outros mui-
tos, havemos progredido consideravelmente desde o principio
da segunda metade d'este século, ^ mas ninguém pôde calcu-
lar até onde irão os vindouros com a herança que de nós re-
cebem, — pois uma civilisação produz outra cimlisação — e tanto
mais assombrosa quanto maiores elementos herdar da cimlisa-
ção anterior.
«Estamos certos — certissimos — de que, em praso não
muito longo, elles rirão do nosso decantado progresso, como
nós actualmente rimos do que nos legaram nossos avós, —
mas outros nos vingarão rindo d'elles.
— RÍ7'a hien qui rira le dernier !...»
* Portugal antigo e moderno, vol. x, pag. 467.
- Referia-me ao século xix, pois, como já disse, estava escrevendo
o mencionado artigo em 1884.
TENTATIVA ETYMOLOOICO-TOPONYMICA 171
* *
Effectivamente nós habituados aos commodos e á velo-
cidade das nossas actuaes linhas férreas, dos nossos telegra-
phos eléctricos, telephones e automóveis — só a mofar e rir
podemos acreditar e ouvir que no século xviii os correios ou
postilhões gastavam 14 dias para irem e voltarem de Vizeu a
Lúhoa, como assevera O amido.
Não foi portanto sem motivo que o Padre Sousa na bio-
graphia de Z>. Júlio com assombro mencionou o facto de te-
rem alguns postilhões — certamente hem remunerados ! —íeito
a viagem de Vizeu a Lisboa em menos de três dias, pois a ta-
beliã oíEcial dos correios marcava sete dias para aquelle tra-
jecto — ou 14 para a ida e volta.
Custa realmente a crer que o Infante D. Henrique —
cerca de 300 annos antes — fosse de Vizeu a Cintra em 24
horas !
Graças ao progresso e ás nossas linhas férreas pôde fa-
zer-se hoje a rir, a palestrar ou a dormir (?!..,) a viagem de
Vizeu a Lisboa — 324 kilometros — em 10 horas aproximada-
mente, pois, segundo se lê em um horário que tenho pre-
sente, o percurso dos nossos trens do correio entre os dois
pontos mencionados é o seguinte :
— De Vizeu a Santa Comba-lJuo, entroncamento na linha
da Beira Alta — 50 kilometros — 2 horas e Yi •
— De Santa Comba-Dào, á Pampilhosa^ entroncamento na
linha do norte — 3õ kilometros -— 1 ^'^ horas.
— Da Pampilhosa a Lisboa — 339 kilometros — G Yg horas
E' este o percurso actual, mas seria muito menor, se as
nossas vias férreas tivessem a velocidade das linhas estrangei-
ras, nomeadamente dos trens relâmpagos, que ainda não temos.
Na linha de Lisboa ao Porto e de Lisboa a Madrid e Pa-
ris, já temos expressos^ que adiantam muito, mas são só para
viajantes^ — não tocam em todas as estações — nem vão a
Vizeu.
Notese também que as linhas férreas são muito mais
curtas do que as estradas a macadam, porque não podendo
dar voltas de pequeno raio, atravessam por vezes morros, pe-
nhascos e montes em tunneis — e muitos ribeiros, valles e
rios em pontes e viaductos, como a nossa linha da Beira Alta,
atravessou os contrafortes do Bussaco, etc.
Também a nossa linha do Douro tem abundância de tun-
neis, viaductos e pontes.
172 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Note-se também que hoje entre nós as cartas por vezes
são substituídas por telegrammas, pois já temos os nossos con-
celhos todos e todo o nosso paiz ligados com Lisboa e com o
mundo todo por telegraphos eléctricos, para os quaes não ha
distancias I
— Em poucas horas uma noticia pode dar volta ao mun-
do — não havendo impedimento nem solução de continuidade
no fio conductor — ou seja terrestre ou submarino. — Assim
em Portugal estamos recebendo noticias diárias da Rússia^ da
America, da índia, do Japão, etc.
*
* *
Accrescem também já os telegraphos sem fios — e pelos
telephones pôde conversar se na voz própria entre pontos
muito distantes, como já se conversa entre o Porto e Lisboa,
entre Londres e Paris, etc.
Também os carros eléctricos, muito vulgares entre nós —
e mais ainda noutras nações — representam um grande pro-
gresso pela sua belleza, commodidade, barateza e velocidade,
— bem como os automóveis recentemente descobertos e que
já abundam em todo o nosso paiz — tanto nas cidades, como
nas villas e mesmo em algumas aldeias e quintas ! , . .
Temos já hoje talvez mais de 500 automóveis em Portu-
gal — e o numero tende a subir 1 . . .
Elles são muito lindos^ muito variados, muito velozes e
levam vantagem aos carros eléctricos e ás linhas férreas, pois
não demandam leito próprio nem carris.
Podem trabalhar francamente nas estradas a macadam e
prestam-se para conduzir bagagem e mercadorias ; — mas são
bastante caros e perigosos.
Diariamente se registam choques, tombos e desgostos — tanto
em Portugal, como na França.^ na Inglaterra, na Allemanha, etc.
" Em automóvel podia ir em poucas horas o Infante D.
Henrique de Vizeu a Lisboa e Cintra, mas no século xv não
havia automóveis nem estradas a macadam, linhas férreas nem
carros eléctricos.
O transporte melhor e mais rápido eram os cavallos de
sella. — Julgo que na província — nem se usavam as liteiras,
que foram o transporte mais luxuoso em Portugal nos sécu-
los xviiT e seguintes até o advento das estradas a macadam,
da mala posta e das diligencias no meado do século xix.
TENTATIVA ETyMOLOGICO-TOPONYMICA 173
«
* *
Eu formei-me, como já disse, em 1851 a 1850 na lusa
Atlienas — sem ver uma diligencia; — vi, porém, com assom-
bro chegarem a Coimbra a mala posta e o telegrapho eléctrico,
— este vinha de Lisboa, — a mala vinha do Carregado, pois
ao tempo já estava construido o lanço da via férrea do norte
desde Lisboa até alli.
A malaposta era esplendida e foi uma das mais bem mon-
tadas que ao tempo havia na Europa — a todos os respeitos.
Os carros eram inglezes, magestosos e luxuosos ; os cavai-
los eram inglezes também — ou normandos ; os cocheiros e
conductores andavam todos fardados — e o serviço era pon-
tualissimo!
A estação de Coimbra estava em uma dependência do
extincto convento de Santa Cruz, pelo que a mala-posta pas-
sava com difficuldado na antiga rua do Coruche, muito es-
treita, que posteriormente foi alargada e substituída pela for-
mosa ri\a actual do Visconde da Luz,
Certo dia, subindo eu pela velha rua do Coruche ^ e ou-
vindo a corneta do cocheiro da mala-posta que vinha descendo,
— entrei rapidamente para uma loja de commercio da dita
rua, ficando junto da porta para ver passar o avejão!
A mala ia roçando pelas casas da dita rua, que não ti-
nha passeios, e tocou de raspão na humbreira da porta onde
eu estava. — Recuei logo e nada sofíri, mas cortou-me um
fragmento da capa que não recolhi a tempo e ficou sobrepu-
jando a humbreira.
Bom tempo era aquelle!...
Só Dassados annos a dita mala checou ao Porto — ou an-
tes a Villa Nova de Gaya, pois julgo que nunca entrou no Porto.
Conclui a formatura sem me utilisar da malaposta, por-
que eu era da região norte, — ella trabalhava só para o sul
— e eu então não viajava.
Só me utilisei d'ella quando em 1858 fui a primeira vez
de Lamego a Lisboa por terra, e para variar volvi de Lisboa
ao Porto por mar no vapor Lusitânia da carreira entre o Porto
e Lisboa.
^ Coruche é deturpação de Corucho — e este de corujo por coruja —
ave nocturna bem conhecida, que deu o nome a differentes povoações
nossas.
Vejam-se no i vol. as pag. 297 a 305.
174 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Na dita carreira ao tempo só trabalhava o Lusitânia^ por
haver naufragado o outro vapor seu companheiro, chamado
Porto, no dia 29 de março de 1852, jnnto da Foz do Douro.
O dito naufrágio cobriu de lucto a cidade invicta, pois
sepultou nas ondas talvez mais de 80 pessoas^ quasi todas do
Porto, sendo algumas d'ellas pertencentes ás primeiras famí-
lias d'esta cidade.
Não ha memoria de naufrágio tão luctuoso na barra do
Porto!.,. '
Durante a minha formatura (1851 a 1856) — apenas fiz
as viagens indispensáveis entre Coimbra e Lamego — ou antes
Penajoia — a terra das cerejas, minha terra natal, no aro de
Lamego. ^
O dito percurso pelo citado Roteiro de João Baptista, de
Castro era de 22 léguas, mas nunca o podemos transpor em
menos de dois dias e meio, — seguindo de Lamego pela serra
do Mezio, Castro d'Ayre, S. Pedro do Sul, Vouzella, Ponte Fora,
serra das Talhadas, Rompesilhas. Águeda, Sardão, Mealhada,
Fornos e Coimbra.
Nós gastávamos sempre dois dias e meio para transpor
as 22 léguas — e em Dezembro de 1854 gastámos com o dito
percurso das ?2 léguas — três dias e meio — levantando-nos de
madrugada com archotes, — recolhendo ás immundas hospe-
darias já de noute — e dando ao diabo a cardada!...
Na forma do costume nós tínhamos ido naquelle anno
para Coimbra em Oatubro; — pagámos livros e matriculas e
principiamos o nosso curso, mas, como grassava a cólera em
Coimbra, o governo mandou fechar a Universidade — e volve-
mos aos nossos lares. Declinando, porém, a epidemia, o go-
verno mandou abrir novamente a Universidade no dia 1 de
Janeiro de 1855, pelo que tivemos de marchar para Coimbra
nos fins de Dezembro, — rigor do inverno — por caminhos
diabólicos — sitios ásperos, altos e desabrigados — com chuva
torrencial e vento fortíssimo de vendaval, que por vezes ati-
rava com os cdiYSillos para fora do trilho?!... ♦
Eu ia em caravana com uns quatro estudantes meus pa-
trícios, todos novos e vigorosos ; — os cavallos eram valentes
e portaram-se bem: — os creados, também fortes, não esmo-
1 Veja-se no Portugal antigo e moderno o meu artigo Miragaya, vol.
V., pag. 256.
- V. Corvaceira, Miragaya e Penajoia no Portugal antigo e moderno
— e Penajoia c Penajulia no indice do i volume.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA. 175
receram nem adoeceram, e dós, para os animarmos, lhes dá-
vamos de comer e beber — a valer! — Cambaleavam, canta-
vam e riam, mas não cahiam!
A jornada foi trabalhosa e só passados três dias e meio
chegámos a Coimbra,
Também no mesmo anno de 1854, mas na primavera e
por tempo mais doce, mais ameno, — depois da celebre 71io-
marada {?...) — eu e o meu patricio que Deus haja — António
Rodrigues Pinto, de Sande, junto de Lamego, que foi juiz de
direito em Vílla Real, etc, e falleceu quasi de repente em
Mattosinhos, estando alli a banhos, — fizemos uma interessante
viagem de Coimbra até Lamego.
*
Xós gastámos com o percurso três dias, mas só em um
dia andámos cerca de 11 léguas tolamente — parte em gericos,
— parte em cavallos — e as ultimas 3 a 4 léguas a pé — desde
Avellans de Caminha até á villa d' Alva, onde pernoitámos,
chegando alli muito cançados, muito fatigados e molhados,
porque chovia.
Dissemos mal da nossa vida e ambos chorámos, mas d'ahi
a pouco já riamos e cantávamos?!...
Nunca fiz uma jornada assim.
— Pôde vêr-se detalhada no meu artigo Villa Maior, fre-
guezia do concelho de aS'. Pedro do Sul, que ad perpetuam rei
memoriam publiquei no Portugal antigo e moderno, vol. ii,
pag. 774 a 776.
Agora ahi vae uma ligeira notici* da saudosa Thoma^
rada supra.
Depois diurna grande desordem que houve em Coimbra
no carnaval do dito anno (28 de Fevereiro de 1854) — de dia
e de noite — entre a academia, o povo da cidade e a tropa da
guarnição, — a academia resolveu ir toda em massa e com as
suas vestes próprias a Lisboa pedir ao governo a transferencia
da Universidade — de Coimbra para outra qualquer cidade.
Eífectivamente partiu para Lisboa na quinta-feira imme-
diata — e eu a.companhei-a, por ser chefe do movimento o
distincto académico meu patricio — Manoel pinto d'' Araújo,
de Lamego — ou antes da minha Penajulia ou Penajoia, onde
nasceu, e d'onde em tenra edade passou para Lamego com os
pães, que foram alli negociantes.
Fomos até á cidade nabôa de Thomar, onde rindo e fla-
176 TENTATIVA ETYMOLOGUCO-TOPONYMICA
neando nos demorámos oito dias, dispostos a seguir pelo Tejo
para Lisboa, d'onde volvemos a Coimbra por capitulação com
o governo — capitulação lionrosissiwa para nós — pois o gover-
no, para nos acalmar e lisonjear, tratou-nos sempre cow. o
máximo respeito e com a maior longanimidade e generosidade,
— Prometteu-nos demitir — como demittiu — o adminis-
trador e o governador civil de Coimbra e o reitor da Univer-
sidade, — amnistiou logo todos os estudantes da rebellião que
o reitor e conselho dos decanos da Universidade — na ausên-
cia da academia — já tinham riscado. ^
Também o governo mandou a Tliomar o chefe d'aquelle
districto (Leiria) para dar aos estudantes que acceitassem a
capitulação — passaportes e o dinheiro que pedissem para a via-
gem — o que tudo aquelle magistrado cumpriu muito delica^
damente e sem a mimma reluctancia na casa dos nossos dire^
dores e na presença d^elles.
Collocou sobre uma mesa algumas folhas de papel, onde
os convencionados muito simplesmente escreviam os seus no-
mes e íis cifras que pretendiam — cifreiS qne p7'om2)tamente e
7nuito delicadamente — sem a minima observação — lhes eram da-
das por offi-ciaes do dito governador civil, que o acompanharam.
Eu estava attonito com tanta generosidade e disse cá
para os meus botões e para o académico meu patrício —
António Rodrigues Pinto^ supra : — O governo tem de receber
este dinheiro — ou de nós ou dos nossos pães; mas, para sa-
borearmos a fructa que era tentadora — libras e só libras, mui-
tas libras! — resolvemos eu e elle marcar também no papel —
uma libra cada um — verba minima.
Fomos muito generosos, porque felizmente nem da pobre
libra precisávamos para o regresso a Coimbra, mas houve tal
que — menos tímido e menos escrupuloso — pediu e recebeu
dez libras.
O governo gastou com a brincadeira bastantes libras,
porque eram muitos — talvez mais de 400 — ainda então os
convencionados.
Eu muito desejava ir de Thomar para Lisboa e cheguei
a pedir o passaporte, mas não pude obtel-o, porque o santo
governador civil muito delicadamente me observou que no
momento não podia dar para Lisboa mais passaportes, pois já
tinha dado muitos naquelle dia e o empenho do governo era
1 Ao tempo— se bem me recordo— já tinham riscado 22 académicos
e por certo iriam mais longe ? !. . .
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 177
obstar a que entrasse em Lisboa a academia junta ou incor-
porada, mas que no dia seguinte de bom grado me attenderia.
Regressei, pois, directamente a Coimbra com muitas sau-
dades de Thomar, porque os bondosos thomarenses — honra
lhes seja! — nos penhoraram com attençòes, bem como a coda
a academia, e nos trataram esplendidamente grátis durante
aquelles oito dias.
Também o governo concedeu aos académicos da rebelliáo
— e somente a estes? /! !.., — pela letra da convenção — 30
dias de feriados — e ainda posteriormente mais feriados, incor-
porando nas férias do Entrudo as de Paschoa, pelo que eu e
a maior parte dos convencionados ou da rebellião fomos gosar
o fartote das férias com as nossas familias.
Ao dito passeio da academia até á nabôa cidade de Tho-
mar deram os académicos o nome de thomarada.
Eu podia dedicar-lhe um grande folheto, aproveitando as
minhas saudosas reminiscências e o que disse d'ella o sr. Joa-
quim 3/artins de Carvalho no seu interessante livro : — Apon-
tamentos para a Historia Contemporânea^ pag. 241 a 248.
*
* *
Só a biographia de Manoel Pinto d' Araújo, bacharel for-
mado em Direito e bacharel em Theologia, promotor e dire-
ctor principal da celebre thomarada, pelo que foi cognominado
Samuel Geíb^ ^ podia dar um livro, — E seria bastante volu-
moso comprehendendo os artigos de fogo que publicou em dif-
ferentes jornaes contra gregos e troganos,,, justificando o
movimento da academia.
Davam também um largo capitulo os discursos de fogo
que pronunciou na camará dos deputados contra o governo^,
tomando só com um d'elles t7'es sessões completas, — não obs-
tante receber no fim da primeira alguns bofetões ou empur-
rões do sr. Guilhermino de Barros, seu velho amigo e contem-
porâneo em Coimbra, então deputado governamental.
Pinto d' Araújo, na sua estreia como deputado_, em breves
dias conquistou na camará logar distincto entre os deputados
da opposição, e a elle se deve o serem annuUadas as eleições
^ Foi assim cognominado, porque parece ter lido o romance Deus
Dispõe (?), no qual se descreve uma rebellião muito semelhante da acade-
mia de Heidelberg, na Allemanha, —rebellião promovida e muito bem di-
rigida pelo académico Samuel Gelb.
12
178 TENTATIVA ETYMOLOaiOO" TOPON YMIC A
do districto de Villa Real, que elle denominou — eleições da
mocada. ^
Com isto muito lisonjeou e penhorou o par do reino, ex-
cellente pessoa e grande capitalista — Francisco José da Silva
Torres — que o ficou adorando e o levaria ás nuvens, se Pinto
d' Arauto fosse mais prudente.
Elle era muito sympathico, muito illustrado, muito tra-
ctavel e orador distincto, mas o seu génio exaltado per*
deu'0 !..,
Quando chegou a Lamego depois de formado, era alli então
juiz de direito o dr. Januário Teixeira Leite de Cast7'o, homem
também muito enérgico, bastante rico e bem aparentado, pelo
que pouco se importava com as leis.
Já tinha sido guerrilheiro e, sendo juiz em Faro, — bateu
com um chicote no governador civil do districto em plena riia,
indo o governador em um trem descoberto, acompanhado da
esposa (?!...) — e o juiz passeando a cavallo, em direcção
opposta.
A biographia do tal juiz dava também um livro interes-
sante!, . .
Estava elle ancioso por conhecer o Pinto d' Araújo, pelo
que, apenas o viu em Lamego, abraçou-o e felicitou-o pelas
suas campanhas de Coimbra^ etc, concluindo por dizer-lhe que
abrisse banca d'advogado»
O Araújo agradeceu tanta amabilidade, mas dissé-lhe que
precisava de praticar algum tempo.
— «Eu sei que é um talento superior e muito illustrado,
pelo que não necessita de pratica — lhe retorquiu o bom juiz,
1 Denominou-as assim, por ter a opposição apprehendido uma carta
do governador civil de Villa Real para o governo ou para um amigo seu,
— carta em que affiançava o vencimento das taes eleições, ainda que fosse
á mocada !. . .
Fez sensação a dita carta, porque o Pinto d' Araújo não só a leu na
camará, mas publicou-a em differentes jornaes.
As ditas eleições da mocada tiveram logar em 1862 ou 1863, sendo
presidente de ministros o snr. duque de Loulé — e já nas ditas eleições o
sr. Torres foi chefe da opposição em todo o districto de Villa Real, —
bem como nas eleições que se fizeram no mesmo districto em substituição
das da mocada.
O sr. Torres perdeu a primeira campanha eleitoral, mas ganhou a se-
gunda.
Elle gastou muito dinheiro, mas levou de vencida o sr. duque !. . .
Foi um capricho e uma questão de familia, porque a sr.» condessa da
Azambuja — D. Maria d' Assumpção Ferreira, enteada do sr. Torres,—
era esposa do sr. conde á' Azambuja, filho do sr. duque de Loulé supra.
TENTATIVA ETYMOLOOICO-TOPONYMTCA 179
accrescentando : — Estabeleça-se e deixe o resultado por mi'
nha conta.y>
O Araújo abriu logo banca de advogado e, como o juiz
o adorava cegamente e cegamente o attendia e favorecia em
tudo, — os litigantes e consulentes todos rapidamente deixa-
ram em paz e ás moscas todos os outros advogados de Lame-
go, entulhando o escriptorio do Pinto d'ArauJo.
Apurou este — como estreia — no seu primeiro anno de
advocacia, talvez mais de três contos de réis — caso rarissimo
em Lamego!
Como era muito favorecido pelo juiz, augmentou espan-
tosamente a sua clientella e não se descuidou em elevar tam-
bém espantosamente a sua tabeliã.
O Araújo tinha a sua fortuna feita, acompanhando o men-
cionado juiz e conservando-se nas boas graças d'elle ; mas um
bello dia — não sei porque — indispozeram-se e não mais se
congraçaram.
O Pinto d^ Araújo — mesmo no tribunal — em um discurso
de fogo, lhe arrancou a pelle — e dirigiu ao tribunal da Re-
lação do Porto um requerimento de fogo também contra o mesmo
juiz, apontando muitas faltas d^elle, todas bem documentadas,
e pedindo providencias terminantes.
O juiz pouco se importou com as advertências da Pelação,
mas vingou-se do ^7*a2(;'o hostilisando-o e desconsiderando-o no
foro, tanto como até alli o considerara e favorecera.
Os litigantes e consulentes fugiram rapidamente do seu
escriptorio, deixando-o em paz e ás moscas também,. pelo que
o Araújo foi advogar para a villa da Regoa, onde o receberam
muito bem, mas certo dia, no próprio tribunal — atirou com um
tinteiro á cara do juiz? /. . . — Este desviou se à tempo. Nem
ferido íicou^ e foi tão generoso, que lhe perdoou, mas com a
condição de abandonar a comarca.
Passou para a de Alijó, onde viveu alguns annos e muito
se distinguiu como advogado e orador, pelo que o elegeram
deputado por aquelle circulo. *
Foi então que nas camarás se immortalisou, como já dis-
semos, e captou as boas graças do digno par do reino, — o sr.
Francisco José da Silva Torres — grande capitalista, muito hon-
rado e muito bondosOj — absolutamente o primeiro proprieta-
^ Foi eleito pela opposição e com a protecção do sr. Torres, nas taes
eleições da mocada.
180 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
rio do Douro — e o primeiro negociante de vinhos da praça do
PortOy durante muitos annos ? / . . .
Foi sua ex.a o segundo marido da sr.» D. Antónia Ade-
laide Fei^reira e, por consequência representante da casa Fer-
reirinha c?a i^g^/oa -^ absolutamente a mais poderosa e mais
rica ao norte do nosso paiz até hoje^ avaliada na bagatella de
seis a oito mil contos — muito sólidos ?! . , ,
Veja-se o volume l.^, pag. 289,— e no Portugal antigo
e moderno o meu longo artigo Villa Real de Traz-os- Montes ^
vol. XI, pag. 1:013, col. i.^.
Sendo annulladas as ditas eleições da mocada, procedeu-
se a novas eleições no districto de Villa Real.
O governo esforçou-se por vencei- as, mas o sr. Torres não
costumando ingerir-se na politica, d'esta vez — para saldar
certas contas com o governo — declarou-lhe abertamente oppo-
sição em todo o districto de Villa Real?/. ,
Gastou muito dinheiro^ mas teve a gloria de vencer as
eleições e derrotar o governo em todo o distncto?!...
Gastou na dita campanha talvez mais de 600 contos!...
Sendo a producçáo dominante no districto de Villa Real
o vinho — e o sr. Torres, como já dissemos, — o primeiro nego-
ciante de vinhos da praça do Porto, — para lisonjear os grandes
proprietários do districto comprou-lhe o vinho, — talvez mais
de 8 mil pipas, pelo que no dito anno juntou nos seus grandes
armazéns do Douro e de Villa Nova de Gaya — cerca de vinte
mil pipas de bello Port- Wine — e sem tremer, nem por som-
bra?!...
Náo exagero, porque o deposito de vinhos do sr. Torres
costumava ser de 15 a 16 mil pipas de bello Po)'t- Wine, todo
colhido nas suas vastas quintas do Douro que, antes de se
manifestarem as muitas doenças das videiras, produziam cerca
de 2:500 pipas de vinho por anno, pelo que não costumava
comprar vinhos estranhos. — Por excepção os comprou no
dito anno das duas campanhas eleitoraes.
O seu deposito de vinhos era muito grande — o maior
do Douro e de Villa Nova de Gaya — mas tinha muito cre-
dito e muito bons freguezes. — Vendeu muitos lotes de vinho
de 1:000 a 3:000 pipas — e um de 4:000 pipas para certa
casa de Londres, — todo de preço superior a 1008000 réis a
Fallecendo o sr. Torres em 1880, instituiu herdeira uni-
versal a sr.* D. Antónia Adelaide Ferreira, sua idolatrada es-
posa — e por fallecimento d'ella em 1896, foram seus herdei-
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 181
ros universaes os seus dois únicos filhos — o sr. António Ber-
nardo Ferreira e a irmã — sr." JJ. Maria d' Assumpção Ferreira^
esposa do sr. conde d'' Azambuja. — De commum accôrdo fun-
daram estes uma companhia para administrar o seu grand«^
deposito de vinhos que, por ser enorme, ficou indiviso.
Intitula-se olla : — Companhia Agricola e Commercial dos
Vinhos do Porto — a qual é muito bem dirigida e tem como
fiscaes effeotivos o sr. António Bernardo Ferreira e o sr. con-
de d'Azammja, etc, pelo que a mencionada companhia sus-
tenta com firmeza o credito e o prestigio da grande casa
Torres — ou da sr.» D. Antónia Adelaide Ferreira,
*
* *
O deposito de vinhos da mencionada companhia — se-
gundo me informam pessoas competentes — ainda hoje (1907)
monta a 16:CXX) pipas de hello Port-Wine, — e também já tem
vendido lotes de 3 a 4 mil pipas de vinho — de réis 808000
a tim conto e novecentos mil réis — cada pipa?!. . .
Note-se que a mencionada companhia recebeu da opu-
lenta casa Ferreirinha a sua frasqueira de 18'2 pipas de pre-
cioso Port-Wine, — todo de 1810 a 1868 — e todo engarrafado,
correspondendo cada pipa a 700 garrafas. — Total das 182
pipas 127:400 garrafas ?! . .
Passou a dita frasqueira para a mencionada companhia
da casa no valor de 400 contos por avaliação particular, — ci-
fra muito inferior ao seu valor real.
O sr. Torres não a venderia talvez por 600 contos.
Era e é absolutamente a maior e melhor frasqueira do
Douro, do Porto ^ de Villa Nova de Gaya — e talvez do mundo
inteiro ?/...
A mencionada companhia vende cada garrafa da dita
frasqueira por 400 réis ató 20$000 réis — e, correspondendo
cada pipa de vinho, como já dissemos, a 700 garrafas, cor-
responde o vinho da frasqueira a 210$000 réis — até 14 con-
tos deveis, cada pipa?t...
Desculpem os nossos poucos leitores tantas digressões, e
prosigamos.
Certo dia, quando o sr. Torres já tinha bem disposta a
segunda campanha eleitoral em substituição das celebres elei»
ções da mocada, e tratava de propor deputados pelos differen-
tes circules do districto de Villa Real, perguntou-lhe o Pinto
d^ Araújo quem tencionava propor pelo circulo da Regoa f
182 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
— O dr. José Júlio d' Oliveira Pinto ^ — lhe disse franca-
mente o sr. Torres,
— Pela Regoa — eu! — lhe retorquiu seccamente o Araújo.
Observou-lhe muito brandamente o sr. Torres — que já
tinha compromissos com o desditoso José JuliOj a quem devia
relevantes serviços e que, sendo natural da viila de Barquei-
ros, pertencia ao mesmo circulo da Regoa ; mas que podia o
Araújo estar certo de que seria eleito deputado por outro
qualquer circulo do districto de Villa Real, em questão.
Lembrou-lhe s. ex.*, por exemplo, o circulo à^ Alijó, —
circulo que tão distinctamente já tinha representade nas cor-
tes e que podia representar novamente, o que lhe era muito
honroso.
• «Demais a mais — aQcrescentou ainda muito branda-
mente s. ex.a — o sr. Pinto d^ Araújo não é filho da Regoa,
mas de Lamego.»
— Pela Regoa — euf — disse novamente e bruscamente
o Araújo, accrescentando :
— «Se V. ex.* deve serviços ao José Júlio, também os
deve a mim — e quando v. ex.* não me proponha deputado
pela Regoa — vou eu propôr-me ! )^ — e retirou-se mal humo-
rado.
Ficou attonito e muito magoado o sr. Torres, por ser
muito amigo do Araújo e ter vivo desejo de o ver nova-
mente na camará dos deputados.
Empregou todos os meios para o trazer a bom accordo,
chegando até a nomear uma commissão d'amigos para verem
se o Araújo cedia, — mas não cedeu!
Propoz-se effectivamente deputado pela Regoa, onde ao
tempo — á sombra do sr. Torres — era muito estimado e con-
1 Foi s. ex.a meu contemporâneo e do Araújo em Coimbra, excel-
lente pessoa, um dos primeiros talentos da Universidade no seu tempo,
deputado ás cortes, director geral do ministério dos negócios ecclesiasti-
cos, etc.
Promettia longo futuro, mas, sendo deputado, foi morto em um
duello nos arrabaldes de Lisboa por causa de certa semsaboria nas cama-
rás.
Ainda vive no Douro, na sua bella casa da Ermida, o conselheiro
António Camiílo d' Almeida Carvalho, também meu contemporâneo em
Coimbra e meu bom e velho amigo que, sendo então deputado também,
-r foi um dos padrinhos át José Júlio no duello que o matou ? I. . .
Veja-se o meu pobre folhetim n.o 80— -e no Portugal antigo e mo-
derno o meu longo artigo Zêzere, (Santa Marinha do) freguezia do con-
celho de Baião, — \o\. xii, paginas 2:115, onde mencionei o tal duello?!...
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 183
siderado, mesmo porque era o director e principal redactor
d'um jornal de combate que havia montado na Regoa. ^ Mas,
logo que o viram a hostilisar o sr. Torres com tanta ingrati-
dão,— todos lhe voltaram as costas, deixando-o em paz e d*
moscas — e ficou estatelado na votação.
Perdeu Pinto d^ Araújo a valiosa protecção do sr. Torres ;
— não mais foi deputado; — volveu para a advocacia — e
morreu pobre no hospital da Ordem do Terço, aqui no Porto^
ha bastantes annos.
De todos os meus patrícios contemporâneos foi o que
mais prometteu.
Podia conquistar fortuna, — ser muitas vezes deputado,
— conselheiro, embaixador, titular, ministro d'estado e até
presidente de ministros, mas por ser tão desiquilibrado, pas-
sou a maior parte da vida obscuramente e morreu pobre-
mente.
Assim acabou o tão decantado Samuel Geíb,
— A terra lhe seja leve !...
O Manoel Pinto d^Aranjo, com o seu altivo e desiquili-
brado génio perdeu-se e perdeu também o seu único irmão
— Joaquim Pinto d* Araújo — que também era bastante illus-
trado, muito valente e ainda mais desiquilibrado!.. .
As coisas passaram-se pouco mais ou menos assim :
O sr. Torres, quando se envolveu na grande campanha
eleitoral contra o governo em todo o districto de Villa Real,
montou na Regoa um jornal de combate, de que foi director
e principal redactor o Manoel Pinto d^Aravjo — e administra-
dor o seu irmão Joaquim Pinto d^ Araújo — então muito va-
lente e de pelle diabi ? / . . . ^
O governo mandou para a Regoa bastante tropa — e o
administrador do concelho armou os cabos e organisou ma-
gotes de caceteiros.
Receando o sr. Torres que fosse de dia ou de noute as-
saltada a casa da typographia e da redacção do jornal, órgão
seu, transformou-a em uma pequena praça de guerra.
Mandou chapear com ferro as portas ; — deu boas armas
de fogo aos typographos e a todo o pessoal da casa ; — muitas
1 Logo fallaremos do dito jornal, porque a certos respeitos — fo
talvez único em Portugal até hoje /. . .
Refiro-me ao Jornal do Douro, montado na Regoa pelo Pinto
d' Araújo, mas com o dinheiro do sr. Torres.
^ Veja-se a nota explicativa, supra.
184 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
granadas de mão — e foguetões para lançarem como aviso,
quando se desse o assalto.
Armou também centenares dos matulas mais vigorosos
dos seus armazéns e dos jornaleiros das suas quintas mais
próximas da Regoa, devendo todos marchar em defeza da
casa da redacção e da typographia do jornal, apenas ouvis-
sem os taes foguetões.
Note-se que o Joaquim Finto d' Araújo, administrador do
jornal e governador da pequena praça de guerra^ — já tinha
sido militar, mas, pelo seu génio turbulento, não fez carreira,
pois durante o seu tempo de praça respondeu a vários conse-
lhos de guerra!
Julgo que em Portugal nunca tivemos uma redacção e
uma typographia tão bem fortificadas e defendidas. — Nunca
foram assaltadas e correria muito sangue se as assaltassem ! . . .
Joaquim Pinto d* Araújo estava no seu elemento e anciava
por ter occasião de jogar a vida em defeza do seu redactor e
do sr. Torres.
Certa noite foi elle á formosa quinta das Nogueiras^
onde morava o sr. Torres, junto da Regoa, quando a lucta es-
tava mais accesa. — No regresso encontrou junto da villa um
bando dos taes caceteiros e cabos de policia que lhe ordena-
ram fizesse alto ; — elle, porém, metteu o cavallo a todo o
galope e seguiu.
Os taes senhores dispararam sobre elle alguns tiros, mas
por fortuna as balas não o attingiram.
Foi direito á casa, onde no momento estava reunido o
centro eleitoral do sr. Torres^ na villa da Regoa. — Contou
aos vogaes a occorrencia, — transmittiu-lhes as instrucções
que levava e retirou-se ; mas, quando chegou á porta da rua,
viu-a cercada pelos desordeiros que o haviam assaltado pouco
antes.
Como era muito valente e andava sempre bem armado^
não se intimidou, mas, apenas transpoz o limiar da porta, os
taes desordeiros metteram á cara duas clavinas contra elle,
dispostos a matal-o d queima-roupa! . . .
— Valeu-lhe um cavalheiro do partido opposto, mas
muito generoso, que por fortuna alli appareceu no momento
e, lançando as mãos ás clavinas, disse aos taes bandidos : —
Altot — Não se mata assim um homem!. . .
Por estes e outros factos, o sr. Torres era também muito
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 18Õ
amigo do Joaquim Pinto d' Araújo, — gastou com elle bas-
tante dinheiro e por certo o levaria longe e o coUocaria van-
tajosamente, se o irmão d'elle, o Manoel Pinto d' Araújo, fosse
mais prudente e não se revoltasse tão levianamente e com
tanta ingratidão, como já dissemos, contra o sr. Torres, —
chegando a insultal-o e a aggredil-o no seu próprio jornal.
Custa a crer, mas é facto, pelo que o Manoel Pinto
d' Araújo se perdeu — e perdeu também o pobre irmão Joa-
quim Pinto cV Araújo. — Corteu este sorte varia, mas sempre
adversa.
Foi director d'um coUegio na Meda (?) ; posteriormente
foi aqui no Porto professor de ensino livre muitos annos — e
por ultimo, estando já decrépito, falto de forças, pobre e
doente^ — foi assassinado em Lisboa ? l . . ,
flinda a Thomarada— tópico interessante
Manoel Pinto d^ Araújo ficou muito satisfeito com a letra
da convenção, receando, porém, que os lentes da Universidade
fossem no fira do anno lectivo severos para com os estudan-
tes convencionados, formou uma associação secreta denomi-
nada Liga Académica, muito semelhante á Carbonária, ^ com-
posta dos académicos mais enérgicos e de mais confiança —
para o que desse e viesse /. . .
Eu, por ser então muito novo e uma completa nullidade,
não fiz parte da dita associação — nem ella teve consequên-
cias tristes, porque os lentes foram muito benignos, muito ge-
nerosos nos actos para com os estudantes convencionados.
Eu só mais tarde tive conhecimento da tal associação e
então me lembrei do afan com que em certo dia, tendo de
fazer acto um dos estudantes mais compromettidos na revolta,
me convidaram e a muitos outros para irmos assistir ao acto
e não sahirmos da sala sem vermos como o dito estudante
era tratado no exame.
Eu fui. — A grande sala encheu-se litteralmente d 'estu-
dantes e com surpreza notei que todos conversavam, berra-
vam, jogavam piadas e papelotes. — Aquillo era um pande-
monio infernal! — Não se percebia o que diziam os lentes
1 Veja-se o interessante livro — Apontamentos para a Historia
Contemporânea, publicado pelo saudoso fundador, proprietário e redactor
principal do Conimbricense, pag. 241 a 248.
186 TKNTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
nem o examinando — só de quando em quando se ouvia gri-
tar com voz de estentor : — Ninguém se retire sem acabar o acto I
Logo que terminou o acto e vimos que o examinando
ficou approvado, — todos nos acercámos d'elle, tumultuosa-
mente, felicitando-o. Entretanto os lentes a custo foram sa-
hindo por entre aquella turba magna d'estudantes. — Nin-
guém lhes tocou nem os insultou, mas, segundo mais tarde
me constou, se reprovassem o tal estudante, correria sangue,
porque assim o resolvera a mencionada Liga Académica.
Note-se que os estudantes na occasião da grande desor-
dem do carnaval— todos estavam desarmados, mas, quando no
fim das grandes ferias regressaram das suas terras a Coim^
hra^ levaram muitas armas de toda a ordem.
*
* *
Era aguardado com vivo interesse por toda a academia
o acto de Pinto cC Araújo, e não sei o que succederia, por ser
a alma da revolta, — muito estimado pelos estudantes todos
— e chefe da tal associação académica, espécie de Carboná-
ria, — Ficámos, porém, todos desapontados, porque os seus
lentes se deram por suspeitos e se recusaram a examinal-o.
Queixou-se elle ao reitor da Universidade, pedindo-lhe
que nomeasse outros lentes para o examinarem, pois tinha o
seu anno provado e necessitava da formalidade do exame do
quarto anno para poder matricular-se no quinto anno e con-
cluir a formatura em Direito,
Todos os outros lentes da faculdade se deram egual-
mente por suspeitos e se recusaram também.
Ficou muito contrariado, mas não se deú por vencido o
Pinto d* Araújo.
Foi a Lisboa queixar-se ao governo, pedindo-lhe que
obrigasse os lentes da Universidade a examinal-o — ou que o
mandasse examinar em Lisboa por quaesquer jurisconsultos,
pois tinha o seu 4.o anno provado e só lhe faltava a mera
formalidade do exame, para poder matricular-se no 5.° anno
e concluir a formatura.
O governo, attonito com semelhante occorrencia — orde-
nou ao reitor da Universidade que o matriculasse xio 5.° anno
— sem o acto do anno antecedente, — caso raríssimo e talvez
único nos annaes da Universidade, depois da reforma de 1772.
Assim se matriculou no 5.° anno e o frequentou, mas,
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 187
quando tinha de fazer acto, — novamente se recusaram a exa-
minal-o os seus lentes e todos os lentes da Universidade.
O Pinto d^Araicjo clamou e gritou como possesso, de viva
voz e pela imprensa. — Volveu a Lliboa, queixando-se nova-
mente ao governo — e julgo que ao próprio rei D. Pedro V,
O governo deu instrucções terminantes ao reitor da Uni-
versidade para que os lentes de Direito examinassem o sup-
plicante.
Post tot tantosque labores, o Pinto d^ Araújo fez acto do
seu 4.° e 5.° annos de Direito — 7io mesmo dia, ficando appro-
vado em ambos.
Foi extraordinária a concorrência e todos concordaram
em que fez dois actos muito bons.
*
♦ *
Antes de deixar Coimbra, onde passei o melhor tempo
da minha já tão longa vida, consignarei aqui mais algumas
reminiscências do tempo da minha formatura — 1851 a 1856.
Qaauto a feriados, que são a fructa mais mimosa para os
estudantes todos, mormente para os cabulas como eu era —
desculpem a franqueza ^ — ainda mencionarei mais alguns
obtidos de modo estranho — além dos da thomarada — desde
o principio das férias d'entrudo até o fim das férias de Pas-
choa.
Uma bella noite, estando a academia toda (suppunhá-
mos) já entregue aos seus labores e alinhavando as lições para
o dia seguinte, não ouvimos o metálico som da cabra — sino
da Unicersidade, que á hora do estylo annunciava sempre
como dia d'aula o dia seguinte.
Ficou attonita a academia toda e, sendo véspera d'aula,
foram os estudantes todos para as janellas e muitos d'elles
para as ruas, gritando: — Bravo, bravo ! — Temos amanhã fe-
riado ! . . .
Assim foi, mas ninguém esperava semelhante feriado ca-
hido das nuvens. Só no dia seguinte se explicou tão estra-
nha occorrencia.
1 Cabulei muito e estudei pouco, mas nenhum dos meus contem-
porâneos se formou em menos tempo, como já disse, pois chegando eu a
Coimbra com os reles preparatórios de Lamego, em Junho de 1851,— em
Junho de 1856 concluí a formatura em Theologia — sem um R — com to-
dos os preparatórios da faculdade de D/rc/Yo -— accrescendo os dois exa-
mes de grego e de hebraico.
188 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
A' hora do estylo, quando o servente do guarda-mór ia
com as chaves próprias abrir a porta da torre para tocar o
sino, chamado cobra,— sl despeito de todos os seus esforços
não pôde abrir a fechadura. — Foi participar tão estranho
caso ao guarda-mór, que ficou também surpreso e de salto
correu a esgarafanchar ou escarafunchar ou escravelhar na
fechadura, mas também não conseguiu abril-a.
Foi logo procurar o reitor da Universidade e expoz-lhe
tão extranha occorrencia, dizendo que, mandando s. ex.*, elle
ia arrombar a porta !
O reitor ficou também attonito e, consultando o relógio,
viu que a hora do estylo já tinha passado ! — Limitou=se a
dizer ao guarda-mór que no dia seguinte mandasse arrancar
e concertar a fechadura. — Só então se viu que ella estava
entulhada com areias que certo estudante por brincadeira lá
mettera no fim da tarde do mencionado dia.
O guarda-mór e o reitor não gostaram da brincadeira, a
modo de bruxaria, mas folgou e exultou com ella toda a aca-
demia. ^
Folgou e exultou ainda mais toda a academia com ou-
tro feriado no inverno de 1854 para 1 855 — se bem me re-
cordo.
Frequentava eu então o 4.° anno e morava na rua dos
Estudos, lado norte. — Certo dia, sendo dia de aula e estando
eu ainda na cama, ouvi grande sussurro e gargalhadas na rua.
Fiquei attonito, porque no bairro alto de Coimbra a taes
horas e em dias d'aula rão se tolera barulho nem ruido se-
melhante.— O facto era anormal, pelo que saltei logo fora da
cama e fui das janellas ver o que se passava na rua.
— Estava toda entapetada ou atapetada de neve — caso
estranho em Coimbra !
— Vesti- me a correr e fui logo para a Universidade, pa-
tinhando sobre a neve, que alli era um pouco mais alta ainda,
por ser o ponto mais alto de Coimbra.
O terreiro da Universidade, ao tempo ainda não ajardi-
nado, como hoje, estava todo litteralmente coberto por uma
densa camada de neve e já n'elle patinhavam centos d'estu-
dantes, rindo e folgando loucamente.
Lembraram- se alguns de fazerem grandes bolas de neve^
1 No meu tempo ainda em Coimbra o povo acreditava em bru-
xas, feiticeiras e Uibisomes ou lobishomens, como tive occasião de saber.
Logo contarei o caso.
TENTATIVA ETYMOLOOICO-TOPONYMICA 189
rodando com ellas em diíferentes direcções sobre o dito largo
e com ellas entulharam a Porta Férrea e o cimo das Enca-
das de Minerva^ — as duas entradas únicas para o Pacp dos
Estudos.
— Sehastopolisemos a Universidade/ — gritavam elles, re-
ferindo-se á guerra da Cinméa que então se feria, avultando
n'ella a grande praça de SebastopoL
Fechámos effectivamente as duas portas com grandes
bolas de nece — e com outras também de neve, mais peque-
nas, a modo de balas ou granadas de mão., defendemos va-
lentemente as barricadas l — Nào mais entrou pessoa alguma
para a Universidade, — nem lentes, nem estudantes — nem os
cavalheiros e senhoras convidados para assistirem ao acto ma-
gno de certo doutorando que devia tomar capello no tal dia.
Dentro da praça da lusa Sebastopol — ficariam talvez ò(X>
estudantes — e eu com elles — sem nos importarmos com as
aulas nem subirmos para a Via Latina.
* *
O reitor, que já estava na secretaria^ por causa da festa
do capello, mandou por alguns archeiros — mtmidos d^ enxa-
das ? / . . . desobstruir a Porta Férrea, mas nós disparámos
contra elles tal chuveiro de balas de neve, que os pobres ar-
cheiros logo bateram em retirada, dando ao diabo os estu-
dantes e a cardada!
Assomou então á porta da secretaria da Universidade o
bondoso velho secretario Vicente de Vasconcellos — clamando
e animando os pobres archeiros, mas nós com outra descarga
de balas de neve, dirigida contra a dita porta, obrigámos o
santo velho a fechal-a.
O reitor, vendo que os estudantes não cediam e não po-
dia realisar-se a funcção do capello, mandou dizer-nos que
nos dava feriado n'aquelle dia e nos retirássemos. — Nós re-
cebemos a mensagem rindo e continuamos firmes no nosso
posto, defendendo a praça com toda a galhardia.
Só retirámos quando bem nos aprouve, — muito satisfei-
tos, muito enlameados e com os pés muito molhados, porque
fomos para a dita campanha da nece com o fardamento do
estylo académico : — batinas curtas, — meias de lã pretas — e
sapatos d' entrada baixa ? / . . .
Depois que nos retirámos muito espontaneamente ^ os po-
bres archeiros desobstruiram a Porta Férrea, amontoando
190 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
junto d'ella, do lado exterior, as taes bolas de neve, que alli
se conservaram alguns dias sem se derreterem.
Julgo que a neve também poisou no bairro baixo de
Coimbra^ pois indo eu por essa occasião ao alto da torre da
Universidade y com surpreza vi os arrabaldes de Coimbra até
grande distancia todos cobertos de neve.
filais leriados
Em um dos últimos annos da minha formatura, o santo
José Ernesto de Carvalho e Rego, sendo então vice-reitor da
Universidade, foi em serviço official — não sei agora bem por-
que motivo — a Pombal, onde se demorou apenas um dia, mas
com a ida e volta gastou três dias, porque ao tempo a linha
férrea do norte ainda não passava do Carregado — e elle foi
n'um trem.
Deixando o bastão da reitoria ao dr. Bandeira, lente e
decano da faculdade de Philosophia, fomos logo pedir-lhe
como estreia um feriado, que elle promptamente nos deu.—
Se bem me recordo seguiu-se um feriado da tabeliã — e fo-
mos pedir-lhe ainda outro feriado para o terceiro dia da sua
ephemera governança. — Recusou-se, porém, dizendo que ter-
minava n'aquelle dia o seu mandato, porque no mesmo dia
regressava de Pombal o dr. Ernesto,
Resolvemos ir esperar o santo vice-reitor na velha ponte
de Coimbra, onde devia passar, e alli nos demorámos algum
tempo, sentados nas guardas da ponte. — Como s. ex.» se de-
morasse e já tivesse anoutecido, comprámos archotes e íômos
pela estrada de Lisboa em marcha aux flambeaux esperal-o.
Surprehendemol-o e á sua comitiva um pouco além do
convento de Santa Clara. — Demos-lhe respeitosamente as,
boas vindas e pedimos-lhe o feriado.
Ficou s. ex.* attonifo e prometteu consultar o governo
pelo telegrapho logo que chegasse a Coimbra.
Apenas regressámos, dirigimo-nos em grande numero
para a porta da casa d- elle na rua da Alegria, com alguns
instrumentos, e alli estivemos algum tempo dançando, to-
cando e aguardando o telegramma. Eis que appareceu de
repente uma força d'infanteria que muito delicadamente pas-
sou por entre nós e fez alto a poucos passos de distancia da
casa do vice-reitor.
Ficámos attonitos c , ais ainda quando vimos descer
TEÍíTATIVA ETYMOLOGICOTOPONYMICA 191
pela mesma rua outra força de cavallaria, que também fez
alto a pequena distancia dos académicos.
Dirigiu-se entào a nós o administrador do concelho e
ordenou que nos retirássemos.
Dissemos-lhe que respeitávamos muito o sr. dr. Ernesto
e que estávamos aíli muito pacificamente aguardando o te-
legramma.
— lietirem-se ^já disse ! — repetiu o administrador.
E os académicos tiveram de retirar-se, passando pelas
forcas caudinas, pois a dita rua era muito estreita, — estavam
desarmados e mettidos entre dois fogos. — D'um lado a in-
fanteria com as bayonetas em bocca d'arma — do outro a ca-
vallaria com as espadas desembainhadas. — E a rua não tinha
travessas por onde fugissemos, pois corta transversalmente
de nascente a poente um despenhadeiro medonho, pelo que
só tem casas do lado norte ou superior.
Ao poente da casa do santo dr. Ernesto^ ao tempo havia
do lado norte um muro liso bastante alto, que não podiamos
transpor — e do lado opposto ou sul um parapeito ou guarda
de pedra, encimando uma medonha barreira de l-i metros
talvez d'altura, aprumada sobre a decantada insua do Vianna
— ou do cantado e decantado Vianna, dono d'ella no meu
tempo. ^
Eu então era muito vigoroso, — saltava muito bem — e
ainda me approximei do tal parapeito da rua, mas, quando á
luz tibia da noute vi lá no fundo a insua do Vianna — sensi
in fronte meo se arripiare cabellos! , . .
Tive, pois, de capitular e passar pelas forcas catidinas.
^ Como a tal insua era muito linda e estava muito próxima de
Coimbra, o dono d'ella, que era commerciante, ia visital-a e passear n'ella
muitas vezes, mormente de tarde para se distrahir.
Os estudantes, birrando com passeio tão frequente, apenas lá o viam
de tarde os muitos que a essa hora em dias de feriado costumavam ir pas-
sear para a velha ponte, principiavam a gritar:— O^ Vianna! Oh Vianna!...
Formavam logo coro com elles os muitos estudantes que moravam
na Couraça de Lisboa, superior á bel la insua e fronteira á dita ponte, bra-
dando eguaimente : — Ofi Vianna ! Ofi Vianna !. . .
E por vezes também os estudantes que passeavam além- Mondego,
no bairro de Santa Clara, formavam écco, bradando eguaimente : — Oh
Vianna ! Oh Vianna !. . .
Não exagero dizendo, que por vezes, a um tempo e durante alguns
minutos ouvi mais de 400 estudantes gritando como possessos e bradando
como estentores : -- Oh Vianna ! Oh Vianna !. . .
Era uma brincadeira innocente, pois não insultavam o referido com-
merciante, dizendo somente: — Oh Vianna ! Oh Vianna !. . .
192 TENTATIVA ETYMOLOaiCO-TOPONYMICA
como OS outros estudantes, dando ao. diabo a brincadeira e o
feriado.
Se eu estivera só, não me assustavam tanto a cavallaria
e a infanteria^ porque o santo dr. Ernesto, então vice-reitor
da Universidade, era meu patricio, também natural da minha
Penajidia ou Penajoia, e, se eu lhe batesse á porta^ — imme-
diatamente me recebia, como sempre me recebeu durante a mi-
nha formatura.
S. ex.^ era tão meu amigo, que chegava a dizer : — la-
mento que este rapaz não seja meu sobrinho !...
Foi durante a minha formatura toda o meu melhor e mais
dedicado protector e, como eu tinha pae alcaide — não me as-
sustava com bagatellas.
Honrou-me com a sua amisade até que falleceu em no-
vembro de 1875 — ha 33 annos completos, — e, para d'algum
modo lhe significar a minha gratidão, esbocei e publiquei no
Portugal antigo e moderno a biographia de s. ex.*.
Pôde lêr-se no artigo Penajoia, vol. vi, pag. 562 e seguintes.
Foi s. ex.» prelado da Universidade 21 a 22 annos con-
secutivos,— sempre adorado pela academia e muito estimado
e considerado pelo governo, — o que é raro, raríssimo nos an-
naes da Universidade,
Foi também s. ex.» agraciado pelo nosso governo e pelo
governo brazileiro com altas mercês e regeitou varias mitras
que o nosso governo lhe ofifereceu.
Deus o tenha em bom logar, como firmemente creio, pois
era muito bondoso, muito accessivel, muito tratavel, — um
santo!...
*
* *
Ainda outro jorreiro de feriados, ao todo mais de 70?!...
Como já dissemos, quando no anno lectivo de 1855-1856
— o 5.0 da minha formatura, chegámos a Coimbra em Outu-
bro de 55, grassava a cholera na lusa Athenas, pelo que o go-
verno, apenas nos matriculámos, fechou a Universidade sine
die, para não expor a academia a uma hecatombe.
Nem sequer tivemos um dia d'aula ! — Deixámos logo
Coimbra quasi todos no meado d' Outubro do dito anno e só
volvemos no fim de Dezembro do mesmo anno, porque o go-
verno, como já disse no meu pobre folhetim 168^ — havendo
declinado a epidemia, mandou abrir a Universidade nos prin-
cipios de 1856, para não perdermos aquelle anno lectivo.
TENTATIVA ETYM0L03IC0-T0P0NYMICA 193
Estivemos, pois, em ferias desde o meado d'Oiitubro até
o fim de Dezembro — ou mais do 10 dian?!...
A viagem do regresso á lusa Athenas foi trabalhosa, como
já dissemos, por ser feita a marcha forçada, no rigor do in-
verno e gastámos no percurso das '22 legoas de Lamego a
Coimbra — pela estrada militar d'aquelle tempo e mais certa
— três dias e meio. — Na viagem de Coimbra a Lamego — ou
antes á minha Penajulia^ no aro de Lamego, em Outubro, gas-
támos oito dias, porque nada nos incommodava, — o tempo
era doce — e já suppunhamos perdido aquelle anno lectivo.
Deus nobis haec otia fecií !...— dissemos com o Mantuano
— e fomos andando pausadamente em uma pequena caravana
de quatro amigos e contemporâneos, sendo um d'elles filho
dí* Águeda e ainda calouro — Augusto César Elmano da Ctiuha e
Costa — e os outros dois de Baião, lá no Douro e por conse-
quência meus patricios e visinhos: — um á^eWes — António d^ Al-
meida e Silva, ao tempo ainda calouro também, — e Francisco
da Cunha Coutinho, então alumno do 5.** anno de Direito.
De Coimbra até Águeda fomos em gericos, pois a mala
posta e a estrada a macadam ainda não passavam de Coimbra
para o norte.
Demorámo-nos 2 bellos dias em Águeda, rindo, passean-
do, palestrando e dançando.— No 4.° dia da viagem fomos
em um barco pelo Águeda para Aveií^o, d'onde seguimos atra-
vez da formosa 7'ia no barco da carreira para Gear, chegando
alli na manhã do dia seguinte.
Alugámos cavalgaduras em Doar e seguimos pela pobre
aldeia de Espinho — hoje villa esplendida e cidade em per-
spectiva 1 — para o Porto, onde chegámos já de noute e en-
contrámos os nossos criados aguardando-nos com os cavallos.
Demorámo-nos alli um dia — o 6.« da viagem — e fomos
dormir a Bailar, cerca de 3 legoas ao nascente do Porto,
d'onde no dia seguinte — o 7.° da viagem — seguimos pelo
Marco de Canavezes ou pela velha estrada do Porto ao Douro
e Lamego — para Baião, distante de Bailar cerca de 12 le-
goas ? ! . . .
Em Baião pernoitei na casa do Ervedal, freguezia de
Santa Marinha do Zêzere, — casa do meu companheiro António
d* Almeida e Silva, pouco distante da do outro companheiro
1 Deve dar-lhe muita vida a linha férrea do Valle do Vouga, em
construcção n'esta data (1909) e já aberta á circulação desde Espinho até
á villa á' Azeméis.
13
194 TENTATIVA ETYMOLOaiCO TOPONYMICA
Francisco da Cunha Coutinho, — ambos já fallecidos n'esta
data.
O Almeida e Silva formou- se em Direito ; — foi um ta-
lento superior, — estudante distincto e distincto advogado em
Baião. Passou depois para a magistratura e falleceu ha muitos
annos, sendo ainda novo e delegado em Macedo de Cavai-
leiivs.
O Coutinho foi também advogado em Baião e alli admi-
nistrador do concelho, bem como do de Mirandella, em Traz-
os-Montes. Por ultimo foi conservador em Baião e morreu ha
poucos annos.
V. Zêzere {Santa Marinha do) — longo artigo meu, no
Portugal antigo e moderno, vol. xii, pag. 2:119 e 2:129, onde
mencionei aquelles meus dois bons amigos, por serem ambos
filhos beneméritos da dita parochia.
Finalmente, no oitavo dia da viagem fui da nobre casa
do Ervedal para a minha Penajulia — ou antes para a minha
pequena povoação da Corvaceira, na extremidade leste da tão
mimosa, como espaçosa freguezia da Penojoia — decantada
terra das cerejas — concelho de Lamego, — na margem es-
querda do Douro — mesmo em frente das Caldas do MoUedo, ^
— distando a dita povoação da Corvaceira 11 a 12 kilome-
tros da nobre quinta do Ervedal supra.
* *
Toda a viagem pouco me incommodou — nem mesmo as
12 legoas de mau caminho que transpuzemos no 7.° dia de
Baltar ao Ervedal. Recordarao-nos até com saudade de alguns
episódios d*ella. Ahi vae um que nos fez rir a valer!
Quando sahimos de Coimbra^ o tempo estava húmido e
entre a Mealhada e Águeda.^ não havendo ainda estrada a ma-
cadam, tivemos de transpor com os pobres gericos um grande
atoleiro^ de 20 metros talvez de comprimento.
Eu logo suppuz que algum dos quatro cahiria ao charco,
pelo que, indo na frente da caravana, fui picando o meu ge-
rico e bradando-lhe para o animar.
Transpuz felizmente o atoleiro sem naufrágio e fiz alto
para ver a sorte dos meus companheiros.
Dois d'elles fizeram a travessia com felicidade também,
mas o quarto e ultimo — o tal Coutinho, appellidado em Coim-
ai. Penajoia e Penajulia no indice do i volume.
TENTATIVA ETYMOLOaiCO-TOPONYMlCA 195
hra — grão turco, por ser muito alto e usar grande cabelleira e
um bigodo também muito grande, muito áspero, hirto e
desgracioso, — nanfrarjou ! ...
Ia embrulhado em um cobertor, na falta de capa melho/,
para se abrigar da chuva, — e dormitando no couce da cara-
vana, por ser muito indolente, deixando o gerico á vontade.
— Foi este andando como pôde, mas, indo a meio do loda-
çal, tombou, ficando o pobre Coutinho enterrado no lodo até
o pescoço e com uma perna debaixo do gerico.
Só então acordou e principiou a berrar e gritar, cha-
mando o conductor do gerico.
O rapaz demorou-se, porque, para fugir do atoleiro, con-
tornou-o, seguindo por um monte próximo. Entretanto o ge-
rico, fazendo esforços para se levantar, sacudia fortemente e
constantemente a cabeça e as grandes orelhas, atirando com
ellas pazadas de lodo contra o rosto do pobre Coutin?io, que
mal podia gritar! Ficou em misero estado com a bocca, o
rosto, os grandes bigodes e a cabelleira cheios de lodo, bem
como a roupa toda e o cobertor que o embrulhava e lhe ser-
via de capa.
Quando sahiu do atoleiro — cortahat fios almae! , , .
Eu ri tanto, tanto, que fiquei suffocado !
Fui andando e só passados alguns minutos desabafei com
estridentes gargalhadas.
Os outros companheiros também riram a valei' — e con-
tinuámos a rir até grande distancia, porque o grão turco e o
seu burro ficaram todos litteralmente cobertos de lama!. . .
Eram assim as viagens n'aquelle tempo. — Eu ainda te-
nho saudades do tal episodio da lamarada, mas o pobre Cou-
tinho deu ao diabo o gerico, o atoleiro e a cardada!. . .
Como dissemos, fazia também parte da caravana o nosso
contemporâneo, ainda caloiro — Augusto César Elmano da
Cunha e Costa — filho á^ Águeda, que depois se formou em Di-
reito e foi muitos annos tabellião e advogado em Lisboa,
Em Águeda levou-nos para a sua casa e apresentou-nos
á mãe, uma excellente senhora que muito nos penhorou e
obsequiou durante dois dias — a mim e aos meus dois patrí-
cios — Almeida e Coutinho.
Na noite do primeiro dia da hospedagem, convidou s.
ex.* para a sua casa algumas senhoras visinhas, entre ellas
uma irmã e duas interessantes filhas.
Passámos deliciosamente aquella noite rindo, palestran-
do, cantando e dançando com as ditas senhoras, todas muito
196 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
sympathicas e muito amáveis, — e com duas meninas da casa,
irmãs do Elmano, também muito interessantes, muito lindas
e muito amáveis, mas terminou a soirée com uma semsaboria,
a que eu muito involuntariamente dei causa.
Tendo os meus companheiros recitado algumas poesias,
lembrei-me eu de recitar uma que pouco antes lera em um
jornal, tendente a inspirar no publico animo contra a cólera^
epidemia que então grassava e nos obrigara a deixar Coimbra.
Eu gostei da tal poesia, porque, além de ser muito lin-
da, conjurava o desanimo, predisposição que em tal conjun-
ctura todos deviam evitar, como instantemente recommenda-
vam os facultativos e a imprensa.
Jà decorreram 55 annos e eu já completei os 76, mas —
se bem me recordo — a tal poesia era pouco mais ou menos
a seguinte.
Desculpem os lapsos, porque cito de memoria.
Eil-a:
Dizem que a peste ahi está,
Que sem cautellas irá
Tudo raso !. . .
Mas da peste a face adusta
Não me importa nem me assusta
Nenhum caso !
*
Sem cidreira nem macela,
Sem receita com chancelia
Morrerei?
Quando arquêa os sobrolhos,
Bem me matam certos olhos
Que eu cá sei !. . .
A mim não me dá canceiras
D'essas aves agoureiras
O piar.
Se p'ra morrer acham cedo,
Fujam nas azas do medo
Sem parar /. . .
*
— Eu cá fico ! a face adusta
Da, tal peste não me assusta,
— Não senhor !
— Venha a morte ! — estou sereno.
O seu mal — dirá Galeno —
Foi amor.
Quando terminava a recitação^ em voz um pouco mais
alta, ficando hirto e muito animado, como que desafiando a
morte, senti certo rumor na sala.
TENTATIVA ETYMOLOÍilCO-TOPON YMICA lí-í?
— Era a irmá da dona da casa procurando as suas rou-
pas d'abrigo e dizendo ás filhas: — Vamos embora, meninas^
— fmmos embora /
— Que tens tu, oh mana ? perguntou-lhe a dona da cast.,
approximando-se d'ella.
— Vou-me embora, vou-me embora, porque estou incom-
modadifisima ! . . . respondeu a tal senhora.
— Incommodadissima ? — Porque ?
— Pois tu não ouviste aquelle senhor a rir e mofar
da cólera?
— EUe, como disse, não fez os versos. Leu-os em um jor-
nal — observou-lhe a dona da casa — e simplesmente os reci-
tou.
— Será assim, será ; mas vou-me embora, porque estou
incommodadissima ! — Estes senhores que vêem lá de Coim-
bra são todos pedreiros livres ! — não teem religião nem te-
mor de Deus!
— Vamos embora, meninas, vamos embora ! — disse ella
novamente para as filhas — e lá foram todas três pela porta
fora ? ! . . .
No fim da tarde do dia seguinte, a santa dona da casa
disse-nos muito contente : — Parece-me que vão passar muito
bem esta noite, porque o sr. conde da Borralha mandou-me
convidar e ás minhas filhas para irmos passar a noite na casa
d'elle. Eu agradeci muito o convite, mas disse que não po-
dia acceital-o, porque tinha em casa três hospedes, amigos e
contemporâneos do meu filho, que vieram com elle de Coim-
bra e amanhã devem seguir viagem para o Douro. — O sr.
conde é uma excellente pessoa, muito tratavel, muito obse-
quiador e provavelmente diz-me que vá com as minhas filhas,
com o meu filho e com os meus hospedes.
Effectivamente d'ahi a pouco tempo chegou á nossa porta
um grande carroção, tirado por valentes bois, e conjuncta-
mente um criado do sr. conde da Borralha com um cartão
de s. ex >, convidando-nos a todos para irmos passar a noite
no seu formoso palacete, pouco distante da villa à^ Águeda,
Recebeu-nos s. ex.» muito amavelmente, pondo de parte
etiquetas e formalidades, como Portugal velho e fidalgo distin-
ctissimo que era e ao mesmo tempo então o rei da terra ? ! , . ,
Fez-se boa musica, — palestrámos e dançámos muito —
8 retirámo-nos penhoradissimos alta noite sem o minimo des-
gosto.—Mas, quando iamos à^ Águeda para o formoso e ma-
gestoso palacete da Borralha, deu-se um episodio que fez mu-
198 TENTATIVA ETyMOLOGICO-TOPONYMICA
dar de cor o meu patrício e companheiro António d' Almeida
e Silva.
O carroção em que nós iamos era muito grande, enorme
e luxuoso, com alta imperial e janellas lateraes, mas d^ancien
regime e sem molas, assentando a caixa sobre valentes tiran-
tes de couro. — Balouçava, pois, muito, posto que á^ Águeda
até o palacete da Borralha o caminho era quasi plano.
Balouçava muito, porque o pavimento da estrada ainda
não era a macadam, como hoje, mas de pequenas pedras, no
estylo das velhas calçadas.
Em certa altura o tal meu companheiro levantou-se não
sei para que e, dando o carroção n'esse momento um forte
balanço, foi d'encontro a um grande vidro da janella do car-
ro.—Não só o partiu e despedaçou, mas ia cahindo da ja-
nella á rua! ...
Acudiu logo o trintanario, perguntando o que succedera.
— Quebrei este tidro — lhe respondeu logo o tal meu com-
panheiro muito afflicto, accrescentando : — mas eu pago-o^ eu
pago-o . . .
— O sr. conde não liga importância ao vidro — respon-
deu o criado.
O Almeida e Silva não se magoou e nada pagou, mas es-
tou certo que jamais olvidou tal episodio e se recordou d'elle
toda a vida.
*
* *
Mais feriados durante a minha formatura, dados pela
rainha D. Maria II.
Quando S. M. em Abril de 1852 visitou Coimbra pela
primeira vez ^ e em seguida o Porto ^ Barcellos, Braga, etc,
— muito pausadamente, acompanhada pelo duque de Salda-
nha e pelo joven príncipe D. Pedro, depois rei D. Pedro F,
etc, demorou-se oito dias em Coimbra. — Poisou com toda a
corte nos paços da Universidade e^ para ver toda a academia
exultando de contentamento, — não só lhe deu logo por ter-
minado o anno lectivo, antecipando o ponto obra d'um meZj
mas além d'isso deu-lhe perdão d^actof . . .
Ficámos, pois, íio dito anno todos em ferias e sem mais
canceiras desde Abril até Outubro — largos seis mezes — e
todos approvados nemine discrepante, sem fazermos acto.
Supponho que a mesma rainha nos deu também mais
três feriados, quando falleceu em Novembro do anno se-
guinte (?!...) — 1853 — e Coimbra, coberta de luto, celebrou
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 199
com toda a pompa do estylo a tocante cerimonia da quebra
dos escudos / . . .
Eu assisti ás duas grandes funcções de caracter diame-
tralmente opposto.
Na visita de 1852 Coimbra não se poupou a despezas
para receber, como recebeu, pomposamente S. M. — Levantou
junto da velha ponte, lado norte, um soberbo pavilhão, onde
a camará foi esperar a rainha e lhe apresentou, em uma salva
de prata muito linda, as chaves da cidade?
Ornou também varias ruas com bandeiras, colchas ri-
quíssimas, arcos triumphaes e palanques onde tocaram mui-
tas bandas de musica durante os mencionados oito dias.
Foi também enorme a concorrência de povo e forastei-
ros de toda a ordem do concelho e do districto de Coimbra^
bem como dos de Vizeu, Aveiro e Leiria^ durante aquelles
oito dias — e as danças e festas populares ou descantes — fo-
ram constantes.
* *
Durante a minha formatura — 1851 a 1856 — nunca vi
em Coimbra festas semelhantes.
Foram esplendidas e correram muito bem ! — Apenas me
recordo d'uma pequena semsaboria, que arreliou e contrariou
vivamente um pobre fogueteiro, mas que fez rir a bandeiras
despregadas centenares ou milhares de pessoas, nomeadamente
os fogueteiros todos de Coimbra,
Eil-a :
Estando então na lusa Athenas uma companhia estran-
geira d'arlequins, offereceu-se um d'elles á commissão das
grandes festas para apresentar e queimar no terreiro da Uni-
versidade fogo preso, como jamais se vira em Portugal e
Coimbra! . ,
Acceitou a commisão a proposta e no dia aprasado o ar-
lequim montou effecti vãmente no largo da Universidade enor-
mes arvores de fogo, que talvez correspondessem á especta-
tiva ; mas por infelicidade choveu algo no fim da tarde d'esse
dia, pelo que o pobre fogueteiro deu ao diabo a cardada l
As arvores não ardiam com a presteza e regularidade
próprias, mas só em fracções e morosamente, apesar do afan
com que elle e um bando de criados seus atiçavam o fogo.—
Algumas nem chegaram a arder por completo.
A hilaridade e os apupos da multidão, nomeadamente
dos fogueteiros de Coimbra^ zangados por se verem preteri-
200 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
dos e desconsiderados por um estrangeiro, — ensurdeciam,
atroavam os ares, ouviam-se além Mondego?!. . .
E nós, bem como toda a academia, — a multidão enorme
que entulhava o terreiro da Univeridade, — a rainha, os prin-
cipes e toda a corte que estavam aguardando das janellas do
paço o deslumbrante fogo de vistas, — ficámos todos desapon-
tados ! — E não menos desapontado ficaria por certo o pobre
fogueteiro.
Eu tive dó d*elle. — Tendo assistido a muitas festas se-
melhantes e a muitos arraiaes, — nunca vi uma coisa assim.
Desgraçado arlequim / . . .
Os fogueteiros de Coimbra exultaram com o episodio su-
pra, mas ahi vae outro em que elles choraram, occorrido tam-
bém durante a minha formatura.
Em certa noite da semana santa, estando eu e outros
muitos estudantes na capella da Universidade, assistindo ás
pomposas festas d^endoenças que alli se realisaram n'aquelle
anno, tocaram a rebate os sinos de vários templos de Coim-
bra e logo se espalhou a noticia d'um grande incêndio no
bairro baixo.
— Correram logo todos para a poi^ta férrea da Universi-
dade^ d'onde se viu o grande incêndio. — Parecia a cratera
d'um vulcão e devorou algumas casas de fogueteiros Fora de
Portas, — na extremidade norte da rua Sophia.
Não só causou prejuízos materiaes importantes, mas fez
algumas victimas. perecendo no grande incêndio — entre ou-
tras pessoas — a filha d' um fogueteiro, ainda nova e jnuiio
linda. Era considerada a tricana mais formosa de Coimhra ?!...
Também pouco antes, ou depois, suicidou-se em Coimbra,
no meu tempo d^estudante, outra moça ou tricana também
nova e muito linda,
A pobre moça não era filha de Coimbra, mas d'uma fre-
guezia próxima e, tendo ido á feira de Santa Clara, atirou
comsigo da velha ponte sobre o Mondego, que então ia muito
alto, muito cheio, pelo que pereceu afogada, posto que a ti-
raram da agua no mesmo dia.
O facto fez sensação em Coimbra e, sendo o cadáver da
infeliz tricana levado para o theatro anatómico, muitas pes-
soas o foram vêr, admirando todos a belleza d'ella que, se-
gundo me disseram, — se suicidou, porque, sendo muito bem
comportada, — certo moço que ella repellira — a infamava e
calumniava ? ! . . .
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 201
A propósito das cheias do Mondego^ mencionarei uma que
foi extraordinária e deu-se também durante a minha forma-
tura,— talvez no anno da campanha da neve supra, — inverno
de 18Õ4 a 1855.
O Mondego cobriu a velha ponte de pedra e derrubou al-
guns lanços das valentes guardas d'ella, que eram compactas,
muito grossas, muito pesadas e também de pedra.
Inundou também o Mondego diíFerentes ruas da haixa de
Coimbra^ sendo durante alguns dias os seus habitantes servi-
dos por barcos. — Eu e outros muitos académicos n'elles na-
vegámos também, percorrendo as diíferentes ruas inundadas
que nos traziam â memoria as de Veneza, posto que eram
quasi todas tortas e estreitas, a modo de hitesgas — e os bar-
cos nem por sombra imitavam as gôndolas.
A Praça do. Commercio e o Largo de Sansão — eram os
cães d'embarque e desembarque.
As cheias posteriores de 1860 e 1876 deviam ser maio-
res, mas talvez que não alteassem tanto no bairro baixo de
Coimbra, por estar então já bastante desenvolvido o grande
muro que lhe serve de resguardo e que hoje forma a grande
avenida ou passeio de Emygdio Navarro.
Evocando reminiscências do tempo da minha formatura
— 1851 a 1856 — ainda mencionarei o advento dos lumes
promptos.
. Parece-me ouvir ainda uns rapazes de Lisboa que appa-
receram em Coimbra^ cantando com certa graça : — Vam,os
aos lumes promptos j três por dez réis, seis quinze réis, — quem
me compra o resto'^
Os taes phosphoros eram de pau e enxofre, mas baratís-
simos; — hoje estão muito aperfeiçoados, mas carissimos ! —
Graças ao interessante progresso dos monopólios ? !
Também se fundou em Coimbra no meu tempo a Compa-
nhia do Gaz, mas não cheguei a ver a lusa Athenas illumi-
nada por elle, — Só vi parte da construcção do gazometro —
e os tubos de ferro estendidos ao longo das ruas do bairro
alto, — Foram o nosso entretenimento e d'outros académicos
muitas noutes nas ruas mais amplas e mais declivosas, no-
meadamente na Couraça de Lisboa.
Atravessando-os de certo modo, rodavam e rolavam até
grande distancia, indo bater uns contra os outros — e por ve-
zes contra as portas das casas, — fazendo grande ruido,
grande estrondo, a que nós achávamos muita graçafl,, .
Não deviam gostar da brincadeira os trabalhadores que
202 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
tinham de os arrastar novamente ; mas nunca protestaram
nem nos estorvaram e andaram prudentemente^ i , . .
*
* *
Mais uma reminiscência do meu bom tempo de Coimbra:
fls latadas e o X
Desde tempos muito remotos costumam os estudantes
das faculdades positivas — ou de Direito e Theologia, ter ponto
mais cedo do que os das faculdades naturaes de Philosophia^
Mathematica e Medicina.
Também desde tempos muito remotos costumam aquelles
ir em grande numero saudar (?) estes na véspera do seu pri-
meiro dia d'aula com uma berraria medonha e uma musica
infernal, composta de tudo quanto possa fazer barulho, pre-
dominando latas velhas, taes como bahús de folha e panellas,
pelo que os taes charivaris são denominados latadas.
Só no bairro alto de Coimbra — o bairro dos estudantes
— se toleram desde tempo immemorial estes e outros diver-
timentos semelhantes, — sem a minima observação nem ad-
vertência particular e sem a minima intervenção da policia
ou força publica da cidade — nem do guarda-mór e archeiros
da Universidade?!...
Em Coimbra o bairro alto é dos estudantes, que são e fo-
ram sempre rapazes e precisam de ar puro, liberdade e dis-
tracções.
Não se pode exigir d'estudantes, de rapazes, — a pru-
dência e a madureza d' anciãos.
— No bairro alto mandam elles — e quem os não puder
ou não quizer aturar rode por largo e procure domicilio em
outro bairro.
Poucas Academias estarão tão vantajosamente situadas e
terão tanta liberdade como a de Coimbra.
Aqui no Porto, por exemplo, como a cidade tem pros-
perado e prospera espantosamente, o palácio da Academia
Polytechnica, outr'ora situado extra muros, está hoje em um
dos pontos mais centraes, — todo cercado de ruas com grande
movimento. — Não tem um largo próprio qualquer, onde os
seus numerosos académicos possam rever as lições — e me-
nos ainda saltar^ passear, rir e folgar^ como estudantes que
\
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 203
sáo, — nem retemperar os pulmões com ar livre no intervallo
das suas aulas e das lições.
— E' uma barbaridade que revolta e brada aos céos! , . .
Basta que os pobres estudantes dêem qualquer piada ou
ponham uma simples tijela na cabeça^ para serem logo perse-
guidos, aífrontados e por vezes espadeirados e presos pela po-
licia civil e pela cavallaria Municipal P/. , .
Custa a crer, mas é facto.
Eu tenho muito — viuitissimo dó d'elles ! . . .
O palácio da Academia é esplendido e custou centos de
contos^ mas demora em sitio altamente impróprio para uma
academia tão importante e tão numerosa.
— Dêem- lhe outro qualquer destino e levantem outro pa-
lácio para a academia em local mais amplo, mais desafogado
e mais distante do centro da cidade.
Estão ainda em peores, muito peores condições os dois
Lyceus do Porto — e ambos em casa de renda ou d' aluguer'^!...
Removam-nos também para casa própria, bem localisada
e muito espaçosa, porque os dois Lyceus já hoje são muito
concorridos e mais concorridos serão de futuro.
Os palácios do Lyceu e da Academia devem ser cons-
truidos em chão amplo e bem desaffrontado — com amplos
terreiros ou largos próprios — não no centro da cidade, mas
em qualquer sitio dos seus lindos arrabaldes.
Construa-se também junto do novo Lyceu e da nova Aca-
demia um bom Jordim Botânico para instrucção e recreio —
dos estudantes e do publico,
O Pwto bem merece tudo — e noblesse oblige?!...
*
* *
Ainda o pandemonium das latadas.
São ellas uma troça infernal feita aos alumnos das três
faculdades de Phílosophia, Mathematica e Medicina^ compre-
hendendo-os todos^ — sejam de que anno forem, não exce-
ptuando os quintanistas, ainda os laureados, mais considerados
e premiados! — E, sendo infernal a troça, — tem algum tanto
de honrosa, pois nunca se moveram tantos alumnos de Direi-
to e Theologia para troçarem e arreliarem os caloiros e os
novatos.
Também nunca os archeiros nem o guarda-mór e o rei-
tor da Universidade — cohibiram ou tentaram cohibir tal pan-
demonium.
204 TENTATIVA ETYMOLOGIOO-TOPONYMICA
Note-se que são muito numerosos sempre os cursos de
Direito. Regulam por 100 a 130 os alumiios de cada um d'el-
les^ pelo que os juristas dos õ annos montam sempre a seis-
centos e tantos estudantes ? I .. .
Ai dos archeiros e do guarda-mór se tentassem cohibil-os,
emquanto que, deixando-os, como deixam sempre, em liber-
dade e á vontade, — não fazem mal a ninguém.
Certo anno eu, como alumno de Theologia, tomei parte
com o batalhão dos juristas em uma das taes latadas, que foi
das mais numerosas e mais luzidas. — Muitos estudantes le-
vavam campainhas de mesa, chocalhos, panellas de folha, la-
tas velhas e bahús também de folha, segurando os dois estu-
dantes pelas azas e rufando outros sobre os pobres bahús,
amolgando-os com pancadas.
Eu, a meio do pandemonium, quando nos abeirávamos do
quartel d'algum pobre mathematico, philosopho ou medico, ba-
tia palmas e recitava o soneto seguinte^ feito por um caloiro
transmontano do Mogadouro (?...)» q^e nós appelidavamos Ca-
mões, por ser quasi cego de um olho e fazer versos. — Julgo
que posteriormente foi professor no Lyceu de Bragança, mas
não mais o vi.
Ahi vae o tal soneto que elle dedicou ao X e era muito
bem apropriado á festança das latadas, mas infelizmente já
me não recordo d'elle todo.
Eil-o :
Fantasma aterrador d'um desgraçado
Que á sciencia do calculo se votou ;
Infame X, maldito o que inventou
Teu nome e forma e ser, oh ! desastrado ! . . .
Foi Satanaz sem duvida o malvado,
Que tão immundo parto lhe inspirou ;
Pague no inferno, pois, quem te gerou
Quantas dores de cabeça tens causado ! . . .
Newton o arranhe, Euclides môrda^
Sisson (?) o arrepelle sem piedade,
Faça-lhe. . . os ossos em açorda.
E fique lá bem no centro do averno {?)
Fazendo X por ioda a eternidade !. . .
Foram n'esse anno muito pomposas as ditas latadas, mas
por causa d'ellas fui preso! . . .
Tinha eu com antecipação arranjado por empréstimo de
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMTCA 205
um sacristão ou servente da egreja de S. Salvador uma
grande campainha, que no percurso da procissão ia tocando
muito pausadamente, a modo de andador das almas.
Quando alta noite seguiamos da rua Larga para a Cou-
raça dos Apóstolos, muito de propósito nos dividimos em pe-
quenos grupos algo distanciados, passando em frente da ca-
deia do Aljube. A sentinella esteve, pois, durante um quarto
de hora talvez, gritando constantemente:
— Quem vem láf — Quem vem lá ?
A pobre sentinella estava portanto já fatigada e muito
zangada, quando eu passei no couce da estúrdia e distanciado
50 metros talvez, tocando a grande campainha muito pausa-
damente, no estylo supra.
— Quem vem Zá ? — bradou novamente a sentinella.
A minha resposta foi dar á grande campainha uma forte
sacudidela.
— Quem vem Za ? — tornou ella.
E-espondi com outra sacudidela — - e fui andando.
— Faça alto, senão prendo-o !. . .
— Prender ? — Porquê f — lhe disse eu.
— Porque ó obrigado a responder á sentinella : — cama-
rada.
— Eu sou estudante e nada sei dos regulamentos milita-
res.
Acudiu logo o sargento da guarda e disse-me :
— O sr. está a caçoar com a tropa 1 — Bem sabe o que
deve responder á sentinella ~ e o que eu devia fazer era pren-
delo.
— Pois prenda f — lhe disse eu.
— Está o sr. preso ! — accrescentou elle, — atravessan-
do-se diante de mim, mas sem me tocar.
— Bem I Vamos lá para a cadeia. — E segui rapida-
mente para a porta do Aljube, pouco distante.
O sargento disse lâ para os seus botões : — Este rapaz é
maluco, por ver como eu corria para a cadeia ; mas apenas
me approximei do portão, que estava escancarado, dei um
salto para a esquerda e fui unir-me logo aos meus compa-
nheiros da festança^ que estavam a pequena distancia, ou-
vindo o dialogo.
D'ahi a pouco já novamente soavam a grande campai-
nha e as latadas na rua de S. Salvador e na da Mathemafica,
etc.
Bom tempo era aquelle ? ! . . .
206 TENTATIVA ETYMOLOGICOTOPONYMICA
Durante a minha já táo longa vida só o tal sargento me
deu a voz de preso ; mas não chegou a prender-me, — nem o
santo dr. EraestOy meu dedicado protector, mencionado su-
pra, teve noticia de tal occorrencia.
* *
Agora a minha primeira viagem de Lamego para Coim-
bra— o a ultima de Coimbra para a 'minha Penajulia.
Quando em Junho de 1851 parti de Lamego, ou antes —
da minha Penajulia para Coimbra, montado no meu roei'
nante, acompanhou-me um criado, com uma bagageira em
que levava dois bahús com roupa branca, etc. ^
Acompanhou-me também uma visinha já idosa, que ia
da minha Corvaceira para a casa d'um genro, morador na
povoação de Eiras^ junto de Coimbra, onde era então caseiro
da nobre quinta do Paço, da familia Champalímaud, da fre-
guezia de Cidadelhe, concelho de Mezão-frio, no Douro, — em
frente da minha Penajulia. — Ia também ella a cavallo e
acompanhada pelo dono da alimária.
Seguimos pelo caminho mais curto, mencionado supra :
— Lamego^ Castro Dayre^ S. Pedro do Sul, Vouzella, Talhadas
Rompecilhas, Águeda, Sardão, Mealhada, Fornos e Coimbra.
Chegando a Castro d'Ayre, ou Castro Dayre (^), pouco
depois do meio dia, apeámo-nos na única hospedaria da terra^
conhecida pelo nome à'Anna do Moinho, dispostos para jan-
tar, passar alli o rigor do sol e seguir para S. Pedro do Sul.
— Ficámos, porém, attonitos, quando a tal sr.» Anna do Moi-
nho peremptoriamente nos disse: — «Eu não os posso rece-
ber, porque tenho a casa toda tomada por uma familia de
Lamego que vae para Coimbra, i>
— De Lamego venho eu também — e vou também para
^ Já decorreram cincoenta e oito annos e meio n'esta data — junho
de 1909.— Contava eu então 18 annos, pois nasci em 14 de Novembro de
1832.
(-) Esta villa tomou o nome do latim Cí75frí//7Z — castello, fortale-
za, entrincheiramento, sitio fortificado, — e Árias, nome godo, que deu
Airas ou Ayras, sitio e casa nobre do conceiho da Feira,— Aires aldeia,
quinta, etc— e Ayres appellido.
Castro Dayre quer, pois, dizer Castro ou castello do Árias ou do
Ayres.
Também casirum deu Castro, appellido nosso, vulgar, nobre e an-
tigo,— Castro, Castros e por mctathese Crasto e Crastos, ao todo mais
^e 300 povoações nossas — e Cristello por Castrello, pequeno castro.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 207
Coimbra; quero apenas jantar, descançar um pouco e seguir
para S, Pedro do Sul...
— «Tenho a casa toda tomada e não posso dispor d*ella
nem receber pessoa alguma, como já lhe disse.»
— Venha cá, sr.* Anna — disse um cavalheiro que estava
descançando em um quarto próximo e ouvira o dialogo.
Obedeceu ella promptamente e o tal cavalheiro pergun-
tou-lhe quem era esse hospede de Lamego, que ia também para
Coimbi^a.
— Não sei — respondeu ella; — julgo ser um estudante.
— Chame o cá.
Volveu ella, dizendo-me : — O sr. Belchior Albergaria de-
seja fallar-lhe.
Annui promptamente e fiquei attonitò quando vi e logo
reconheci em um pobre quarto da locanda o sr. Belchior Pe-
reira Coutinho de Vilhena, um dos fidalgos então mais ri-
cos e mais considerados de Lamego^ representante da nobre
casa dos Albergarias, pelo que era vulgarmente conhecido por
Belchior Albergaria,
Era s. ex.* primo — co-irmão de Macário de Castro, o ve-
lho, par do reino, etc, que eu também conheci, — dono e re-
presentante da nobilissima casa das Brolhas, avô materno do
sr. Macário de Castro, hoje também par do reino por succes-
são e universal herdeiro do avô e do mencionado sr. Belchior
Albergaria, seu tio paterno, do qual herdou cerca de 300 con-
tos de reis I . . .
Ficou, pois, sendo — e é hoje ainda s. ex.^ — o fidalgo
mais rico entre os velhos fidalgos de Lamego, que eram mui-
tos desde tempos muito remotos.— Com a extincção dos vin-
cules em 1860? — os velhos fidalgos de Lamego foram sup-
plantados todos pelos novos fidalgos, avultando entre estes o
1.° e o 2.<* viscondes de Valmôr, o sr. conde d^ Almedina e o
sr. conde di Alpendurada^ todos já fallecidos.
Volvendo a Castro d^Ayre, perguntou me o sr. Belchior
Albergaria se eu era de Lamego.
— Sou natural da Penajoia — respondi eu — mas passei
os últimos quatro annos em I^amego estudando preparatórios
e lá vi muitas vezes a v. ex.*, porque morei na casa do sr.
cónego Araújo {}), a pequena distancia da casa de v. ex.* —
e agora vou para Coimbra formar-me.
(•) O dito cónego era um santo, muito estimado e muito conside-
rado em Lamego,
208 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
— Eu recordo-me de o vêr lâ — e até estimo que você
nos acompanhe — disse o fidalgo — porque vou também para
Coimbra assistir ao baptisado d'um meu sobrinho, filho da
minha irmã casada com o Diogo Barata, da quinta da Boa
Vista, junto de Coimbra. Levo commigo a minha esposa, uma
irmã e duas bagageiras com jóias e roupas de valor ! . . . Au-
gmenta, pois, a caravana e, para fugirmos ao sol, podemos
fazer a viagem de madrugada — e no fim da tarde até algu-
mas horas da noite.
Ordenou logo á dona da hospedaria que me desse um
quarto — e eu retirei-me satisfeitissimo, agradecendo penho-
rado a fineza.
No fim da tarde do mesmo dia fomos para aS'. Pedro do
Sul, onde pernoitamos em uma hospedaria bastante espaçosa
e muito acreditada.
— Era a maior e melhor que ao tempo havia entre La-
mego e Coimbra.
Accomodámo-nos bem alli todos, posto que era bastante
numerosa a caravana. — Compunha- se ella do sr. Belchior, es-
posa e irmã, — de mim e da tal visinha supra. — Total — 5
pessoas a cavallo, — duas em cella e 3 em andilhas, — mais 3
bagageiras e 4 criados, sendo 3 do sr. Belchior e um meu.
— Total 12 pessoas e 8 cavalgaduras.
A viagem correu bem até os Fornos, a uma legoa de
Coimbra e d'alli por diante melhor ainda, porque o sr. Diogo
Barata foi até alli com alguns amigos seus, todos muito bem
montados, esperar os seus nobres cunhados.
Seriam dez horas da noite quando chegámos a Coimbra,
onde eu fiquei muito satisfeito sem a troça e apupos do es-
talo. — O grosso da cavalgata seguiu para o palacete do sr.
Diogo Barata. (^)
Quando parti da minha Penajulia nem por sombra ima-
ginei fazer a viagem com tanta imponência e tanta satisfação
e entrar na lusa Athenas tão socegado e tão tranquillo, acom-
panhado por tantos e tão distinctos fidalgos.
Toda a viagem correu bem — muito bem, como já disse,
e d'ella me recordo e recordarei sempre com saudade ; mas
(i) S. ex.a offereceu-me a sua valiosa protecção, mas não o incom-
modei, pois, como logo direi, não me foi preciso passar da rua da Alegria.
TENTATIVA KTYMOLOGICOTOPONYMICA 209
ahi vae um episodio interessante, para os meus poucos leito-
res verem o que eram as viagens in illo tenipore.
No segundo dia partimos de >S'. Pedro do Sul de madru-
gada e, quando o sol já picava fortemente, fizemos alto em
uma pequena e pobre aldeia, onde havia algumas tabernas e
uma estalagem muito inferior á de Castro d^At/re. Tinha ape-
nas uma sala e dois quartos disponiveis com vidraças, onde
ficaram a esposa e a irmã do sr. Belchior. — Eu e este senhor
fomos deitar-nos e passar a tisneira — por lembraiic/i d'elle —
debaixo d'uns grandes carvalhos que povoavam um largo
contiguo e fronteiro á locanda onde ficaram as duas senho-
ras,— largo onde se fazia do mez em mez uma feira.
Mandou s. ex.» levar para alli algumas fachas de palha
centeia e dois lénçoes, onde nos deitamos e dormimos algo,
servindo de leito a terra e a palha — e de t:atre ou resguardo
as raizes, já muito salientes, d'um (fraude carvalho? !.. .
Acordando s. ex.* d'ahi a pouco, viu á janella do grande
hotel a irmã.
— Já te levantastes? — perguntou-lhe s. ex.^.
— Já me levantei ha muito, porque as pulgas eram em
barda! — respondeu a dita senhora.
Ao menos nós, os dois, não sentimos pulgas na cama de
palha.
Quem nos visse deitados em tão reles cama ao ar livre
— jttnto da estrada publica — não diria que estava alli o grande
fidalgo de Lamego, — Belchior Albergaria.
A cama era muito mais reles do que as dos pastores e
lavradores da sertaneja freguezia d^ Albergaria das Cabras^
na serra d' Arouca. — Os taes serranos — incluindo os mais abas-
tados — também costumam dormir todo o anno em camas de
palha solta, mas deitam-n'a entre quatro taboas lisas e postas
de cutellOj pregadas nas extremidades umas contra as outras
— e assentes nos sobrados ou pavimentos térreos das suas
pobres casas.
Mas — dirão os leitores — sendo tão nobre e tão rico o
sr. Belchior Albergaria, porque não fez a viagem de Lamego
a Coimbra em liteiras — o transporte mais luxuoso d'aquelle
tempo, —jamais levando comsigo duas senhoras?
Não fez a viagem supra em liteiras, porque ellas não
trabalhavam nem podiam trabalhar na dita estrada de La-
14
210 TENTATIVA ETYMOLOaiCO-TOPONYMICA
mego a CoimPra, por ser em grande parte montanhosa, esca
brosa e muito declivosa, principalmente desde Lamego até
Castro d'Ayre, atravez de Penude e da serra do Mezio — e 1
desde Voiizella até Águeda atravez da serra das Talhadas e I
da de Rompecilhas, dependência das Talhadas. "
Como alguns dos meus poucos leitores já estão fartos de
cantigas e pedem etymologias,— ahi vão algumas:
— Penude vem talvez de Penide por Penido e este por
Penedo.
Cf. Peneda., Penedo, Penedello, Penida ou Monte da Pe-
nida, Penido, Penidello, o mesmo que Penedello, — e Pindello,
o mesmo que Penidello, povoações nossas.
Também temos Pindella, aldeia, quinta, titulo de conda-
do, etc, — e na minha opinião Píndella é contracção de Peni-
della, diminutivo archaico de Penida supra.
— Mezio é o mesmo que Homizio — terra de Homiziados
foragidos, degredados.
V. Conto 111, em Viterbo.
— Vouzella — de òaucella, diminutivo de batiça — bouça.
Vouxella é o mesmo que Boucelha e Boucinha, povoa-
ções nossas. — Tem a mesma etymologia Bucellas por Bou-
cellas.
— A serra das Talhadas tomou o nome dos grandes pe-
nedos que lá se vêem partidos a meio pelos raios! . ■ .
Também temos Freita e Freitas, varias povoações que
tomaram o nome do latim petra fracta — pedra fendida, par-
tida, talhada, unde Serra da Freita^ em Ai'ouc(if o mesmo que
serra, da (pedra) Talhada ou das Talhadas.
Tem a mesma etymologia o nosso appellido Freitas.
— Rompecilhas tomou o nome d "uma ladeira medonha,
onde passa a estrada, porque os almocreves, para não se des-
penharem no abysmo as cavalgaduras, vão sempre concer-
tando as cargas e apertando as cilhas, unde Bornpecilhas?'...
flinda 05 liteiras
o sr. Belchior podia ir em liteiras de Lamego até Coim-
bra pelo Porto, mas o percurso das 22 léguas supra subia a
42 — o, em vez de gastar, como gastou, 3 dias com a via-
gem, gastaria 8 a 9 dias, porque as liteiras apenas transpu-
nham 5 a 8 léguas por dia — em bom caminho — e o do Porto
a Lamego estava longe de ser bom I
Tinha lanços diabólicos e muito declivosos, principal-
TENTATIVA ETYMOLOOICO-TOPONYMICA 211
mente de Amarante até á povoação da líêde, atravez de Qain-
tella, Volta Grande e Mezãofrio^ ua extensão de 40 kilometros
approximadamente.
Com o percurso pelo Porto gastaria, pois, 8 a 9 dias —
no rigor do verão, em Junho, — sempre exposto á tlsneira,
porque as liteiras, sendo luxuosas, eram perigOHas ! — Xão tra-
balhavam de noite, mas de dia somente e muito pausada-
mente!, . .
Andariam, pois, o sr. Belchior e as duas fidalgas expos-
tos á tisneira 8 a 9 dias, chegando a Coimbra torturados e
assados com o calor.
Devia succeder-lhes o que pouco antes ou depois succe-
deu a uma fidalga distinctissima do Porto — D. Maria Victo-
ria da Cunha Portocarrero, dona do Palácio das Sereias, ou
da Bandeirinha.
Estando s. ex.* no Porto — e o marido — Gaspar Finto
de Magalhães Cardozo Pizarro — na sua grande quinta de Vil-
lar de Maçada, concelho de Alijó, em Traz-os- Montes, recebeu
ella uma carta do caseiro parfcicipando-lhe que o marido es-
tava muito doente. ^
Sendo ella ainda nova e muito vigorosa, tomou imme-
diatamente uma liteira e partiu com um lacaio e uma baga-
geira para Villar de Maçada, distante do Porto mais de 80
legoas, pois teve de seguir da Regoa por Villa Real para
Villar de Maçada ?■ ^
Quando alli chegou^ passados 6 dias, encontrou já res-
tabelecido e bem disposto o marido, que ficou attonito com
a surpresa e lhe disse :
— Que trabalhos te trouxeram aqui por sol tão ardente,
no rigor do verão f
— Vim — respondeu a fidalga — porque me disse o ca
seiro que tu estavas muito doente.
— O caseiro é maluco ! — Eu estive incommodado, mas
logo me restabeleci, A doença foi passageira e, para não
mandarmos vir do Porto ou da Regoa outra liteira, podes
voltar para o Porto na mesma em qu,e viestes.
1 V. no Portugal antigo e moderno o meu longo artigo Myra-
gaya, vol. v, pag. 271 ; artigo Porto, vol. vii, pag. 519 — 525, onde se en-
contra uma extensa genealogia dos fidalgos da Bandeirinha ou do Palá-
cio das Sereias, — t Villar de Maçada, artigo meu também, vol. xi, pag.
1:233.
- Podia também seguir da Regoa pela/oz do Corgo, Poyares, etc,
como logo provaremos.
212 TENTATIVA ETYMOLOaiCO-TOPONYMICA
Isto me contou a própria fidalga^ ^ accrescentando :
— «EíFectivamente parti de Villar de Moçada, na mesma
liteira, no dia seguinte. — O sol parecia fogo! Eu ia abrazada
quando, depois de seis dias de viagem cheguei de retorno à
villa da Regoa. — Mandei logo encher uma canoa d'agua
fresca e tomei um banho geral, mas ia lá ficando^ pois adoeci
gravemente ! . . . »
Do exposto se vê que as viagens em liteiras no estio —
eram uma tortura, um martyrio! . . .
Não foi portanto, sem motivo, que o sr. Belchior Alberga-
ria, em Junho de 1851, preferiu os incommodos da viagem
supra de Lamego a Coimbra, aos commodos (?) das liteiras,
indo pelo Po7'to e tendo de andar com as duas senhoras ex-
posto á tisneira durante nove dias.
As liteiras propriamente ditas eram muito semelhantes
ás cadeirinhas, então muito vulgares e hoje quasi extinctas
no Porto, tiradas por dois galíegos cada uma, com a diffe-
rença de que eram um pouco maiores as caixas das liteiras.
— Tinham ellas dois assentos, em que podiam ir duas pes-
soos (díias somente) — emquanto que as cadeirinhas apenas
teem um assento em que vai uma só pessoa.
A caixa das liteiras, quasi sempre luxuosa, tinha como
a das cadeirinhas, dois varaes de cada lado, presos com for-
tes correias a dois grandes e possantes machos, carregados
de guisos 6 campainhas, para espantarem as feras ^ e para
os próprios machos — sempre com antolhos — não se espanta-
rem com algum tiro ou ruiao inesperados.
O liteireiro, que era sempre um homem forte e possante,
1 S. ex.a ainda vivia e viveu bastantes annos, depois que eu me col-
lei na freguezia de Miragaya (Porto), em 1864.
Foi s. ex.;^ minha parochiana até que falleceu, porque o palácio da
Bandeirinha ou das Sereias pertencia e pertence á dita parochia.
Era s. tx<^ muito tratavel e muito bondosa, pelo que palestrámos
muito e jogámos o voltarete no seu palácio muitas noites.
Não cheguei a conhecer o marido que, segundo me consta, tinha gé-
nio forte e áspero, — mas foi óptimo administrador da sua grande
casa ? !. . . »
O palácio das Sereias tomou o nome de duas formosas sereias
que tem no portão do lado sul, ornamentando as hombreiras c servindo
de apoio a uma sacada immediatamente superior.
■^ Note-se que as liteiras como logo provaremos, já vinham do sé-
culo XVI, tempo em. que abundavam entre nós lobos, Javalis e talvez ursos.
Estes desappareccram por completo ha muito ; — os lobos e javalis ten-
dem a desapparecer, mas ainda se encontram cm varias regiões do nosso
paiz.
TEXTATTVA KTYMOLOOTCO-TOPOXYMICA 213
guiava a liteira^ marchando ao lado do macho da frente; —
com uma das mãos segurava as rédeas ou as cambas do freio
do dito macho — e na outra levava sempre um grande chi-
cote.
Usavam também os liteireiros chapéu redondo e pe-
sado, de panno preto — jaqueta, collete e calças também de
panno preto — e botas de couro também pretas e de cano
alto, mas não passavam do joelho.
Os machos não trotavam ; — iam sempro a passo, e passo
muito curto, muito irregular e muito pausado nas descidas e
subidas e nos lanços mais perigosos.
*
* *
Na VoJfa Grande, por exemplo, entre Quintella e Me-
são-frio^ o lanço mais perigoso na linha do Parto ao Douro,
por vezes o caminho estava tão escalavrado, que na descida
a caixa da liteira tocava no chão, ficando o macho da frente
com as mãos no ar, sem as poder poisar ? /. . .
Irra ! . . .
Note-se que a maldita estrada, hoje macadamisada, é
muito declivosa, -- nunca teve guardas nem foi arborisada —
e corre na extensão de 10 kilometros atravez d'uma medonha
ladeira, aprumada sobre os confluentes do rio Teixeira.
Na descida tombaram e naufragaram alli muitas diligen-
cias, tiradas por cavallos ; mas na subida, desde a povoação
da Eêde, margem direita do Douro ^ até ao alto de Quintella,
cimo da Volta Grande, — bem como de Amarante ate Quin-
tella — as diligencias eram tiradas e morosamente arrastadas
por duas juntas de bois — cada umaí /. , .
E era tal o movimento, que alli trabalharam durante
muitos annos três diligencias diárias., a um tempo^ antes da
construcção da linha férrea do Douro.
Em Portugal nunca tivemos uma carreira de diligencias
tão importante, de tanto movimento — e tão perigosa ff...
As diligencias acabaram com as liteiras, que foram em
Portugal durante séculos o transporte mais luxuoso, mas tam-
bém perigoso e muit) caro/. .
Eram transportes para cnpitalisfas' síímente, para freiras,
para noivos e para fidalgos, preferindo muitos d'estcs viajar
em cella ou em cavallos.
As liteiras, como já dissemos_, não transpunham ordina-
riamente mais de 5 a 6 legoas por dia, em hom caminho — e
214 TENTATIVA ElTl^MOLoaiCO-TOf ONYMICA
custava o aluguel de cada liteira — ainda na primeira me-
tade do século XIX — uma moeda de 4$800 réis por dia, com-
prehendendo a ida e volta ou regresso^ — embora a liteira re-
gressasse vazia! — Accrescendo ainda o sustento dos machos
e do liteireiro, que eram sempre muito bem tratados e fica-
vam sempre muito caros^ mesmo porque os liteireiros d'ac-
côrdo com os estalajadeiros, deixavam sempre paga a viagem
do retorno.
Ora, demandando a viagem do Porto á villa da Regoa 4
dias e outros 4 o regresso forçado, que o viajante devia pa-
gar pela tabeliã supra, — custava só o aluguel da liteira oito
moedas ou 381400 réis — afora o sustento dos machos e do
liteireiro, que não custaria menos de 10 a 12 mil réis.
— Total da despeza com a viagem do Porto á villa da
Pegoa em lileira ~ 48$400 a 50$400 réis?.. . .
O transporte era luxuoso, mas perigoso e muito caro, —
mesmo porque as liteiras não dispensavam as bagageiras.
Também as liteiras incommodavam muito, porque baloi-
çavam constantemente — e a chocalhada dos guisos e das
campainhas punham os ouvidos dos viajantes em agua ! Dias
depois d'uma viagem do Porto ao Douro, em liteira, ainda o
viajante cambaleava e julgava ouvir a chocalhada.
Eu nunca viajei nas taes liteiras, mas vi muitas na Re-
goa e fora da Regoa, pois morava no meu casarão da Corva-
ceira ^ — mesmo em frente da estação actual do 3IoUedo, onde
passava o caminho do Porto para o Douro, que então, na mi-
nha infância, — no ditoso t^^mpo da velha Companhia dos Vi-
nhos — era o paiz do ouro, onde se vivia faustosamenle ! . , .
*
* *
* O tal casarão denomina-se casa da capella, por ter á entrada do
rocio uma capellinha feita em 1740 e dedicada a Nossa Senhora da La-
pa, com festa e romaria annual no dia 15 d'Agosto.
O dito casarão é muito vistoso e algo espaçoso, pois tem 30 metros,
d'extensão na fachada que olha para o Douro e para a estação do Mal-
ledo — e 15 metros na fachada que olha para o portão d'entrada para o
terreiro e para a capella.
V. Corvaceira e Penajoia, no Portugal antigo e moderno — e Pena-
joia e PenajuUa. no indice do l.o vol. d'esta Tentativa etymologíca.
TENTATIVA KTVMOL0(HC0-TOf'ON'YMÍCA 21'
Muitos lavradores do Douro tinham liteiras suas ^ — e
na Regoa, ainda no meu tempo, havia um bom estabeleci-
mento de liteiras^ que durou até ao advento das diligencias
do Porto á villa da Regoa — 1858? — Era o estabelecimento
José Braz (?), que passou para a viuva com o mesmo appellido.
Entre os grandes fidalgos, lavradores e proprietários do
Douro, que ainda na minha infância viviam mais faustosa-
mente e tinham liteiras sitas, avultou Salvador (7) Paes de
Saneie e Castro, o velho, da villa da Pesqueira, óptimo admi-
nistrador da sua grande casa e excellente pessoa, que falle-
ceu já idoso, approximadamente em 1840.
Para se formar ideia do fausto com que vivia o dito /a-
vrador, basta o que me disse um amigo meu, que assistiu a
um jantar de s, ex.' :
(cFiquei attonito quando vi a grande mesa do jantar
toda coberta de prata, pois eram de prata os talheres, as ser-
pentinas, os pratos, as terrinas, os paliteiros, o apparatoso e
magestoso centro da mesa, etc. — E em dois grandes apara-
dores lateraes viam-se ainda muitas salvas de prata, sendo
algumas enormes, — além d'outras muitas peças, também de
prata.
«Mas o que mais me surprehendeu — disse elle ainda —
foi ver que a prata servida era levada por criados valentes,
todos fardados, em grandes cestas, a modo de brezas, feitas
de grossas vergas também de prata, —e em cestas eguaes era
trazida a prata limpa.
— «Só as cestas vazias — accrescentou elle — fatiam ver-
gar os criados/...»
^ *
' Todos os proprietários do Douro foram sempre denominados la-
vradores, comprehendendo muitos fidalgos distinctos — e outros sem se-
rem fidalgos — com vinte a cem contos de renda — e mais ? !. . .
Avultou entre elles José Paulo, de Abambres, concelho de Villa
Real, que deixou uma fortuna de mil contos ! — Passou de mil contos a
casa Macedos Pintos, de Taboaço, ainda hoje uma das mais ricas do
Douro, muito dignamente representada pelo sr. Joaquim Ferreira de Ma-
cedo Pinto, e pelo seu bom filho — o sr. dr. Victor José de Deus Ma-
cedo Pinto.
Sobe talvez a dois mil contos a fortuna do sr. António Caetano
d' Oliveira, de Moncorvo - e teve centenares de contos de renia a c.sa
Ferreirinha, da Regoa, — absolutamente a maior, de que ha me.noria no
Douro e ao norte do nosso paiz até hoje, pois, como já disse. nos, —
quando em 18Q6 falleceu a sr.^ D. Antónia Adelaide FerreirUy digníssima
e virtuosíssima representante da dita casa, — foi a sua fortuna avaliada
em seis a oito mil contos — muito sólidos ? !. . .
210 TENTATIVA ETYMOLOCaCO TOPONYMIOA
Devia também s. ex.** ter muitos bacios de prata^ como
tinliam no sen tempo outros muitos fidalgos, lacradores e
proprietários do Douro.
Veja- se no Portugal antigo e moderno o meu artigo Villa
Jusã^ freguezia do concelho de Mesão-frio, volume xr, pag.
771, col- 2.^
O mencionado tópico é muito interessante e muito fri-
sa nte para o caso, pelo que não posso resistir á tentação de
o extractar.
Em Junho de 1808 chegou a Villa Jusã e Mesão frio o
sanguinário Loison^ general francez, com a sua divisão, em
marcha de Almeida sobre o Porto, que ao tempo já se havia
sublevado contra os invasores, bem como a villa á^ Amarante
e as provincias do Minho e Traz os- Montes.
Tentando Loison seguir para o Porto, foi surprehendido
por grande numero de populares armados, interceptando -lhe
a passagem do rio Teixeim, que alli corre fundo, e pelos
que, descendo de Villa Real, sob o commando do general
Silceira, se dispunham a mettel-o entre dois fogos.
Retirou Loison precipitadamente sobre Lamego, talando
e saqueando as terras que deixava após de si na extensão
d'uma grande légua desde Mezão-frio até á villa da Regoa,
onde passou o Douro já debaixo de fogo, batido pelos valen-
tes trasmontanos.
Chegou a Lamego na tarde do dia 21 do dito mez de
junho, — poisou com o seu estado maior no Paço Episcopal, —
e marchou na manhã do dia immediato para Vizeu com tal
precipitação, que deixou no quarto onde dormiu dois pesa-
dos caixões, todos chapeados de ferro.
Depois da convenção de Cintra e da expulsão dos fran-
cezes. foram os ditos caixões abertos por ordem do nosso
governo em fevereiro de 1809. — E, segundo eu li no inven-
tario que então se lavrou e dignou confiar-me o rev.<> snr. Tei-
xeira Fafe, cónego de Lamego, benemérito amador d'antigui-
dades, que possue outros manuscriptos muito curiosos no seu
interessante Muzeu, — nos ditos caixões, rtsto da bagagem e
rapina gem. de Loison, se encontraram as peças de prata se-
guintes :
Treze castiçaes, — 2 serpentinas grandes,— 2 escrivani-
nhas, — 3 bacias de mãos e 2 jarros, - 6 dúzias de garfos,
facas e colheres, — 4 clarins, — 2 grandes cruzes processio-
naes, — 1 imagem de Christo, — uma rica banqueta d' altar com
51 peças, — 6 grandes salvas, — 7 púcaros e 13 bacios ^ (cá es-
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPOXYMICA 21'
tão elles!...) — sendo 6 de cadeira, grandes, el de cabeceira,
mais pequenos^ — tudo de prata e com o peso total de 462
marcos e 6 onças, — além de uma caixa forrada de marro-
quim, contendo um bello apparelho de chá com 13 peças de
louça da índia.
Vejam que salteador :M • . .
Isto apanhou elle de corrida na pequena extensão d'uma
legoa, entre 'Mezão-frio e a villa da Regoa, como já dissemos,
— e é de suppôr que roubassem muito ma/,?— inclusivamente
jóias e dinheiro,— tSiUto elle como os salteadores da sua divisão.
Do exposto se vê que o Douro em 1808 — era o paiz da
prata e do ouro?/...
Se o maldito Loison não fosse, como foi, escorraçado pe-
los valentes minhotos e trasmímtanos — e o deixassem percor-
rer, varejar e saquear o Douro todo — carregaria um barco
ou navio de praia e ouro.
Talvez que em toda a Península e em toda a Europa, in
illo tempore, não houvesse um paiz tão rico, tão cheio de prata
e ouro, jóias, estofos, louça e mobilia do Japão e da índia,
como era o Douro. — Graças ao marquez de Pomhal, a quem
o Douro ha muito tempo devia — por gratidão — íqt levan-
tado um monumento — uma estatua, na formosa villa da Re-
goa,— villa que é o centro e coração do Douro, e não existia
antes do marquez de Pombal em 1756 fandar a poderosa Com-
panhia da Agricultura e Vinhos do Alto Douro.
A mencionada Companhia foi muito privilegiada, mas
transformou em luxuosos vinhedos, que produzem o vinho
mais generoso de Portugal e do mundo inteiro, — as Íngremes,
alcantiladas, pedragosas e ardentíssimas encostas da dita re-
gião, até alli sem valor, pois, como já dissemos no 1.° vo-
lume d'esta obra, as ditas encostas anteriormente estavam in-
cultas na sua maior parte e só produziam sumagre? f...
O Alto Douro é um cantão excepcional, que demanda le-
gislação igualmente excepcional. — Assim o comprehendeu o
primeiro ministro que Portugal tem tido até hoje — o grande
marquez de Pomhal.
Uma poderosa Companhia não só enriqueceu o Douro
—-mas Portugal todo ? ! . , .
A um meu ascendente disse n'aquelle tempo certo ne-
gociante de Lisboa : — «Nós mesmo aqui, nas transacções
commerciaes, notamos a decadência ou a prosperidade do
'218 TENTATIVA ETVMOLOGIOO-TOPONYMICA
Douro». — E mais — muito mais f. . . — devia e deve noíAr-se
no Forto^ por str o empório dos vinhos do Douro — e por-
que os negociantes, proprietários e lacradores (?) do Douro
se forneciam e fornecem quasi exclusivamente do Porto - e no
Porto consumiam e consomem a maior parte das suas rendas.
E' um disparate, uma loucura e falta de critério dos nos-
sos governantes o equipararem o Douro ás nossas regiões vi-
nicolas do centro e sul do nosso paiz.
O Douro, como todos sabem, — é muito escabroso, muito
ardente, muito alcantilado e muito pedragoso, mormente a
parte que produz o vinho mais generoso, — a que ouve ran-
ger a espadela dos barcos rabellos ou que está mais próxima
do rio e é a mais ardente. — O seu clima no verão sustenta o
confronto com a zona tórrida, pois, como já dissemos, no ri-
gor da estiagem tremera alli com sezões 0,9 gatos, as gallinhas
e os cães, — derrete-se a solda das vazilhas de lata e destem-
peram-se os machados, os cutellos, as podôas e outros instru-
mentos de ferro que fiquem expostos á tisneira.
As próprias pedras tornam-se candentes ; — estalam com
o calor — e durante a construcção da linha férrea do Douro ^
os jornaleiros assavam as sardinhas nos 7'ails, ainda em mon-
tão e expostos á tisneira. — Isto é facto que em Pinhão pre-
senciou um meu criado, filho de Lamego, homem sério, digno
de todo o credito.
O clima é tão ardente que por vezes as próprias perdi-
zes voando, sendo aves tão valentes, cahem a terra, suffoca-
das com o calor f ! ...
Parece incrível, mas é facto que eu posso affirmar e ju-
rar, pois certo dia, no rigor do verão^ sendo eu abbade de
Tavo7*a, no alto Douro e, seguindo a cavallo para o meu ca-
sarão da Corvaceira, no baixo Douro, e passava a jusante da
quinta de Valmôr ^ pela margem esquerda do rio, atravez
1 Este nome é de phantasia e moderno. O seu velho nome era
quinta da Penha, mas, quando a comprou José Izidoro Guedes, \xn\x\áo-2i
a outra que herdara do seu primeiro sogro, deu-lhe o nome de Valmôr c
.d'ella tomou o titulo de Visconde de Valmôr.
A quinta é uma das maiores do alto Douro e tem boa casa d'habi-
tação e bons armazéns que foram feitos sobre uma grande penha, pelo
que se denominou quinta da Penha. ^ O nome era bem apropriado, —
não o de Valmôr, pois quer dizer valle-mór, valle maior ou muito gran-
de,— valle que não se lobriga em tal quinta.
Ella pertence á freguezia da Folgosa e á de Villa Secca dArmamar,
pelo que lhe dediquei um largo tópico no Portugal antigo e moderno,
vol. XI, pag. 1:063, col. 2.» e seguinte,;fa)lando de Villa Secca de Armamar.
TENTATIVA ETYMOLOaiCO-TOPONYMÍCA 2VJ
d'um areal candente, porque ao tompo ainda não estava feita
a estrada marginal a macadam, — vi com surpreza uma per-
diz voando atabalhoadamente da direita do Douro p^ra a es-
querda e cahir no areal junto de mim, ficando inerte, como
fulminada !
*
Apeei-me logo e fui apanhal-a, pois não se movia, posto
que ainda estava viva ; — borrifei-a com agua do Douro e le-
vei-a para a minha parvónia, distante dez kilometros, abri-
gada pelo meu guarda sol. — Dei-a a uma senhora visinha,
que a metteu em uma gaiola ; cantava muito bem e viveu
alguns annos.
Do exposto se vê que durante a estiagem no alto-Douro
as próprias perdizes, voando, chegam a cahir suíFocadas pelo
calor !. . .
O clima é tão ardente, que no verão alli murcham e per-
dem grande parte das folhas as arvores todas, incluindo as
oliveiras, arvores vivazes e de folha permanente. — As figuei-
ras não só deixam cahir as folhas, mas o próprio fructo, pelo
que em muitas quintas não apanham os figos — aliás delicio-
sos^ magnificos ! — Estendem apenas debaixo das figueiras al-
guma palha, para os figos não cahirem na terra.
Alli na estiagem só as videiras em tempos normaes, que
vão longe, se conservavam pujantes e viçosas ; mas por ve-
zes o sol queimava ou crestava como fogo alguns bagos dos
cachos e alguns cachos todos ! . . .
Alli o thermometro costuma subir á temperatura do ru-
bro no estio, pelo que certos serviços próprios do verão, como
a redra, a enxofração, etc, são feitos só de manhã — desde o
nascer do sol até ás 8 ou 9 horas.
As ladeiras ou encostas marginaes do Alto-Douro talvez
tenham 100 a 200 metros de declive pór kilometro — termo
médio — e, por serem muito fragosas, foram alli sempre muito
caras as plantações das vinhas — e mais caras são hoje f , . .
Note- se que as vides europeias davam-se bem com as pe-
dras. Circundavam-nas e abraçavam-nas com as raizes — e
até gostavam d'ellas, porque ao lado das pedras havia fres-
cura.— As vides americanas são mais gulosas e muito exi-
gentes. Querem húmus, terra solta e, quando as raizes d'ellas
tocam nas pedras, - encaracolam-se, recuam, — e as videiras
definham, adoecem, morrem ? ! . . .
Assim a plantação das vides europeias apenas deman-
220 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
dava um arroteamento ou vallado d' um metro d'altura e ou-
tro de largura — sem remoção das pedras; — agora a planta-
ção das vides americanas lá no Douro, demanda vallados de
metro e meio d^altura e largura — alem da remoção das pe-
dras todas / . . .
Um meu irmão — Jor^e Augwíto Ferreira ^ — creado
no Douro e muito versado na lavoura de vinhas, ficou atto-
nito, quando ha annos foi a Valença do Douro e viu em uma
encosta grandes montões de pedra solta, espécie de mura-
lhas!— Depois soube que era uma quinta da opulenta casa
Ferreirinha, da Regoa, cuja plantação montou a íim conto e
duzentos mil reis por milheiro das taes vides americanas?/...
— E por egual preço a mesma casa mandou replantar outras
quintas suas lá no Douro, nomeadamente a de Vargellas, por
ser também muito pedragosa e muito declivosa/... *
E' assim o Alto-Douro., emquanto que as nossas regiões
vinícolas do centro e do sul — desde a formosa Anadia até á
Estremadura e Alemtejo — por assim dizer, não têem pedra.
Abundam em húmus e são pouco accidentadas, pelo que
a plantação da vinha é alii muito barata! — Regula por 5 a
10 mil reis, como já dissemos, a plantação das vides por mi-
lheiro— e ó também muito barato o grangeio.
Podem alli fazer-se — e fazem se por machinas a vapor —
a cava, a redra e a plantação das vinhas em algumas terras
do sul, nomeadamente na grande quiita do sr. José Maria
dos Santos, — - o maior colheiteiro de vinho que ha hoje em
Portugal e na Hespanha, —wd. Europa e talvez no mundo in-
teiro ! — Só na sua quinta do Poceirão, no Alemtejo, — se-
* Ainda vive actualmente, (1909), mas já conta 79 annos;— tenho uma
irmã com 80 annos — e eu já completei 7ò annos. A edade dos três dá,
pois, a bagatella de 235 annos !
' Vargellas tomou o nome de vargella, diminutivo do portuguez
varge, o mesmo que vargem, vargea e Ví7r2:^a— campina cultivada; chan.
Têem a mesma etymologia muitas povoações nossas, ao todo mais
de 300, Taes são : Barge, Bargellas, Barges, Bargina por Barginha^—
Barigellas, Barja, Varchinhas, diapasão gallego de Varginhas ;— Var-
ge, Vargem, Varginha, Vargiota, Varizellas, Várzea, Várzeas, Varziellas
e Varziellinha, diminutivo de Varzielía e subdiminutivo de Várzea.
Somma e segue:
Varzieta ou Varzieto, — Varzina, Varzinha, Varzinfias e Farigi-
nhas por Farginhas, o mesmo que Varginhas e Varzinfias, pois fa, fé,
fi, fó,fu — e vá, vé, vi, vó, vu, confundiram-se e substituiram-se, como já
dissemos.
— E' assim a arte nova — e rira bien qui rira Ic dernier !. . .
TENTATIVA ET VMOLOOlCO-TOrO-N VMICA 221
gundo me consta — já tem colhido em um só anno cinte a
trinta mil pipaa de unho ? !. . .
« *
Não podem, pois, equiparar-se de forma al^^uma as nos-
sas regiões vinicolas do centro e .sul com a do Alto Douro —
tão fragosa, tão alcantilada e toda valentemente ensucalcada,
pois desabando uma parede, por vezes leva outras muitas pa-
redes e sucalcos diante de si.
O desabamento mais triste e mais importante de que ha
memoria no Alto Douro, foi o que se deu na quinta de Mel-
res, muito escarpada e que demora na margem esquerda do
Douro — em frente da foz do Corrjo e da quinta da Vaccaria
pertencente â nobre familia Cunha Rt^is, de Braga, perten-
cendo a de Melres aos distinctos fidalgos Por tocarr eros, do
palácio das Sereias ou da Bandeirinha., no Porto.
No inverno de 1S22 para 1823, rebentou no alto da men-
cionada quinta uma espécie d'olho marinho que fez desabar
os prim^ros sucalcos e levou de roldão outros muitos a ju-
sante na extensão d'alguns centos de metros e na direcção
da casa da quinta, levando-a conjunctamente cora o armazém
e lagares até o Douro, que então ia muito alto e alli era
muito largo.
Foi tão grande a entulheira de terra e pedras, que sus-
teve por momentos a impetuosa corrente do Douro, fazen-
do o altear tanto, que subiu até ás janellas da casa fronteira
— a casa da quinta da Vaccaria — derrubando um grande cy-
preste e outras arvores que havia no terreiro da casa.
Também o Dmiro subiu pelo Corgo até á grande quinta
do Vallado, da opulenta casa Ferreirinha, da Regoa, — e na
vertiginosa descida arrasou e levou um grande estabeleci-
mento de moagens, pertencentes á mesma quinta.
Tantos e tão grandes penedos deixou no leito do Douro
que, apesar dos muitos que mandou partir e remover a Com-
panhia dos Vinhos e d'outros que foram partidos e aproveitados
para diversas construcções particulares, — ainda lá se vêem
bastantes, formando alguns d'elles o rápido ou ponto àoCorgo. ^
^ Veja-se no Portugal antigo e moderno os meus artigos Poiares,
freguezia do concelho da Regoa, vol. vii, paginas 121, col. 2.^, e — Pon-
tos do Douro (n.** 19) no mesmo vol., pag. 199, col. l.a — artigo que dei
ao meu antecessor Pinho Leal, no fim do qual declarou haver também re-
cebido de mim o longo artigo Pinhel, todo.
Veja-se também no mesmo vol. o artigo Porto, pag. 319 e segg. —
e no vol. XI, pag. 1:335, o meu artigo Villarinho dos Freires,
222 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Custa a crer, mas é facto !
O desabamento deu se de noute — e muito antes da meia
noute, pois na Regoa ainda vigora a tradicção de verem ir
na grande avalanche a casa do infeliz caseiro — e n'ella bri'
Ihando luz — o que prova que elle ainda não se havia dei-
tado.
O prejuizo foi grande, mas seria muito maior, se o de-
sabamento se desse na actualidade, pois com certeza levaria
e arrasaria "um lanço da via férrea do Douro, que alli passa
a jusante da casa da Facc«Wa, — bem como outro lanço da li-
nha do valle do Corgo, — a ponte commum ás duas linhas
sobre a foz do rio Corgo, — ponte com taboleiro de ferro
sobre pilares de pedra, — e outra ponte próxima, de pedra, na
estrada a macadam da Regoa para Poyares, etc.
Também levaria e arrasaria um lanço da estrada a ma»
cadam, que passa na margem esquerda do Douro e atravessa
toda a quinta de Melres.
Aquelle desabamento recorda o que em tempos muito
mais remotos se deu 5 a 6 kilometros a jusante, na margem
esquerda do Douro também, ik) pequeno ribeiro da minha
Corvaceira, que limita a O. a freguezia de Saniodães e a leste
a minha Penajulia, ambas do concelho de Lamego, — des-
abamento de que já fizemos larga menção.
A quinta de Melres, como já dissemos, é muito esca-
brosa, muito alcantilada, mas não menos escabrosas nem me-
nos alcantiladas são outras muitas quintas do Alto Douro,
nomeadamente a de Marrocos^ pouco distante da de Melres^
do lado nascente, o pertencente ao sr. Duapfe liuet Bacellar,
do Porto.
A mencionada quinta é uma especialidade no género,
pelo que na minha opinião Marrocos é deturpação de Bar-
rocos — barrocaes, despenhadeiros.
Cf. Barroca, Barroca Alta, Barroca da Pena, o mesmo
que Barroca da Penha — Barroca das Cilhas, Barroca das
Cortilhas, Barroca d' Alva, Barroca do Alcaide, Barroca do
Comprido, Barroca do Louro, Barroca do Rego, Barroca do
Bodelhão, Barrocaes, Barrocal, Barrocalinho, Barrocão, Bar-
roçaria, Barrocas, Barrochaes por Barrocaes ('1 \...). — Barroco,
Barrocos (cá estão elles ! ..), Barrogueira por Barroqueira?
— Barronda^ — Ban^oqueira, Barroquinha, Barraquinhas,
Barroquinho e Barruco por Bar)*ôco, singular de Barroco.^-,—
TENTATIVA ETYMOLOaiCOTOPON YMICA '223
ao todo mais de 4rX) povoações nossas, — todas mencionadas
na Chorographia Moderna, vols. vi e vii, — obra indispensá-
vel para este ramo d'estudo, como já dissemos e mais uma
vez repetimos.
A' mesma série de povoações que tomaram o nome dos
barroca es e 6arroco.v, -- despenhadeiros, pertencem também
as que tomaram o nome dos algares e barrancos^ attins dos
barrocos, — taes são as seguintes :
— Algar, Âlgarão, Algareira, Algares, Aígarinho, Alga-
rinlios e talvez Ligares, methatese de ligares, por Algares,
como já dissemos.
Junte se : — Barranca, Barrancão, Barrancas, Barran-
cha por Ba?Tancaf — Barranco, Barranco Alto, Barranco
Bravo (?!)... e — Barranco das Telxagueiras, que tomou o
nome dos teixugos, gatos bravos, que deram também o nomo
a varias povoações nossas.
Junte-se Barranco do Inferno? l. . . — Barranco do Lu-
zio, Barranco do Ouro, Barranco do Porco, Barranco do Ve-
lho, Barranco dos Pisões, Barranco Longo, /^arrancões, Bar^
ranços, Barranqiieiro, Barranqtdnho^ Barranquinho Grande^
Barranquinho Pequeno, etc.
Por seu turno a quinta de Melres tomou o nome da villa.
hoje simples freguezia de Melres, concelho de Gondomar.
Note-se quft na villa de Melres viveram outr'ora fidalgos
distinctos, entre elles um ramo da familia Bellesas do Douro,
do Porto, Borcellos, Valdigem, Gnya e Mattosinhos, descen-
dentes e ascendentes de Miguel Bellesa d^ Andrade, 1.» gover-
nador ou provedor da Velha Companhia dos Vinhos, fundada
pelo Marquez de Pombal.
Y. Mattosinhos, Provezende e Miragaya, artigo meu, no
Portugal antigo e moderno.
Viveram também na villa de Melres ascendentes dos
Portocarreros supra, donos da quinta de Melres, assim deno-
minada por viverem os seus donos na villa de Melres, que
tomou o nome dos melros, pois demora na margem direita
do Douro, — em sitio baixo, abrigado e mimoso com bellos
campos e muito arvoredo, — sitio em que abundam e deviam
abundar sempre os melros.
Pelo cGutrario são rarissimas as ditas aves na quinta
de Melres^ por ser muito árida, muito secca e muito es-
carpada.
— Não cultiva um, grão de milho e não tem uma laran-
jeira, um castanheiro ou uma n(»giieira, mas somente ajgumaia
224 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
oliveiras. — A sua producção dominante era o vinho — e
talvez que hoje nem vinho produza ?/. . .
Logo seremos mais explícitos.
Na minha opinião, pois, a villa de Melres tomou o nome
dos melros^ como outras muitas povoações nossas. Taes são :
— MeJre, Melreira, Melrêu por Melredo ?■ — Melriça, Melriqal
ou Mi Iris.ml, — Melrina, Melrineta, Meirinho, Melrinita, Mel-
rôa^ Melroeira^ o mesmo que Melreira, — Melroinha, Melros^
Mello, villa, titulo de condado, etc, — e Mellos, nome de
duas quintas, etc.
Note-se que a villa de Mello antigamente se denominou
Merlo, quasi Melro. — Eu já a visitei. Demora na pendente
norte da serra da Estrella, junto da villa de Gouveia, e tem
no seu pelourinho, como brazão parlante ou emblema, um pi-
nheiro e sobre elle um melro? !. . . ^
A escala seria Melro — Merlo —Mello, pois na onomás-
tica portugueza er e ar deram trivialmente el e ai, como já
dissemos.
Também Melro podia sem violência dar — e na minha
opinião deu — Merlo,
Também melro e melros podiam dar Melre e Melres, pois
na onomástica portugueza e e o trivialmente se confundiram
e substituíram.
x4.hi vae uma amostra do panno.
E e O confundipdo-se e substituindo-se
ne onomástica portugueza
— Quintella e Quintola — povoações nossas, bem como to-
das as que vou citar, como os leitores podem verificar na
Chorographia Moderna.
— Ortezedo, o mesmo que Ortozedo.
Cf. Orfozello e líorlozello. — Erredeiro, Ercideiro — e
Orbideiro — de ervedo por ervodo — medronheiro ? ! . . .
Orvida e Orzieira, 'contracção de Orvideira, o mesmo
que Orhideiro supra?
— Peneicos e Penoicos.
— Marcelino e Marcolino, diminutivos de Marcus —
Marco, nome d'um santo, etc.
— Rthoreda e Roboreda.
V. Mello, villa, no Portugal antigo e moderno.
TENTATIVA ETYMOLOaiCO-TOPONYMICA 225
— Reboredo e Roboredo.
— Marzugtieira e Murçogueira são formas de Morçe-
guêira, abundante em morcegos'.
— Recaio è Rocaio ?
— Rechoso e Rochoso.
— Reboleiro e Roholeiro.
— Fentella e Fontella / . . .
— Meloal, Molual^ e Peloal por Meloal f !
— Ferrenha e Ferronha.
— Alfebrinho por Alfobrínho — pequeno alfobre.
— Arrojello por Arroiello, o mesmo que Arraiólo, que
deu Arraiollos ou Arrayolos por arroiolosj povoações nossas,
cujos nomes são diminutivos do portuguez arroio — pequeno
regato, — em latim arrogium, que também deu Arrota, Arroi-
inhttj Arroio, Arroios e Roios, aferese d^ Arroios^ povoações
nossas — e Arroio ou Arroyo, appellido nobre, etc.
Junte-se :
— Per/ia, Por/ia, e Porfias, povoações nossas.
— Beiranita e Boiranita.
Também temos Bolrana por belrana, o mesmo que bei-
róa, f. de Beirão ?! ...
— Barrete e Barreto, povoações nossas.
Barreto é também appellido nobre e antigo. — Cf. D.
Christovam de Noronha Mello e Faro de Barreto, que foi dono
e ultimo representante do palácio de Porto Rei, no Douro,
primo ou parente próximo do snr. D. Joaquim de Carr^alho
d* Azevedo Mello e Faro, da nobre casa da Soenga, visinha
da de Porto de Rei. ^
^ Além da nobre casa da Soenga, temos algumas povoações mais
com os nomes de Soenga, Soengas e Siiengas — ca Hespanha tem na
província de Lugo também duas povoações com o nome de Soengas.
Este nome é talvez reminiscência dos árabes, pois a casa da Soenga
demora na muito antiga e muito importante freguezia de S. Martinho dos
Mouros, concelho de Rezende.^E na dita parochia ainda hoje soenga é
termo popular que significa fabrica de panellas de barro — industria
muito antiga na localidade !. . .
A nobilissima casa da Soenga tomou o nome do chão onde foi fei-
ta, denominado Soenga. por ter havido alli outr'ora ?i\gum?L soenga ou fa-
brica de panellas de barro.
A nobilissima casa da Soenga recorda o palácio das Tulherias, em
francez Tuilleries, pois na minha opinião tomou o nome do francez tuil-
/ene — fabrica de telha. — Talvez que alli houvesse antigamente algumas
das ditas fabricas, pelo que o dito chão se denominasse Tuitteries, unde
Tuilleries ou Tulherias, nome do grande palácio ?. . .
226 TENTATIVA ETYMOLOWICO-TOPONYMICA
Junte-se ainda :
— Feitos e Foitos — e para remate um cumulo :
— Bezerreira e Bojorreira, o mesmo que Bezerreira ? ! , , ,
Note-se que jd,jé,jifjo, ju — e za, ze, zi, zo, zu também se
confundiram e substituiram na onomástica portugueza, como
e e o, pelo que Bezerreira podia dar Bejerreiíri e Bojorreira
supra.
Bezen^eira quer dizer abundante em bezerros — novilhos,
dos quaes tomaram o nome varias povoações nossas — taes
são Bezerra^ Bezerral^ Bezerreiros, Bezerrins por Bezerrinhos,
— BezerrOy — Bizorreiro por Bezerreiro, Bizarril por Bizar-
ral — e este por Bezerral, pois, como já dissemos, — na ono-
mástica portugueza todas as vogaes se confundiram e substi-
tuíram^ bem como as desinências el, il e aí,
Cf. Barril e Barrai, Cabril e Cabral, Carril e Carral,
"etc, etc, povoações nossas apontadas supra.
E' assim a arte nova.
Volvendo á quinta de MelreSy dissemos nós que hoje tal-
vez nem vinho produza, pois deve estar toda phylloxerada^
inculta, abandonada, como outras muitas do Alio Douro, por
ser muito ardente, muito escabrosa, muito alcantilada, muito
pedragosa e por consequência muito cara a sua replantação
com as vides americanas.
E' assim o Alto Douro, todo muito escarpado, muito fra-
goso e todo ensucalcado, pelo que alli nunca trabalharam nem
podem trabalhar, como trabalham na região vinícola do sul,
machinas a vapor — nem mesmo simples arados tirados por
bois.
— Nem os próprios bois podiam subir e descer de so-
calco para socalco, porque as escadas ou escaleiras que dão
passagem d'uns socalcos para os outros em geral são muito,
Íngremes, muito estreitas e únicas tahez em Portugal ? ! . . .
As ditas escadas ou escaleiras são formadas ou feitas por
pequenas pranchas ou lageas de schisto, a pedra da dita re-
gião, que varam as paredes, ficando apenas fora do nivel
d'estas alguns decimetros, como que suspensos no ar, por onde
sobem e descem apenas pedestres — e com diííiculdade, — mor-
mente os jornaleiros carregados com os gigos das uvas, etc.
E' tão declivoso, tão pedragoso e tão alcantilado o chão
das quintas do Alto Douro, que o graugeio d'ellas (cava e re-
dra) é feito com enxadas de doig; bicos de ferro, tendo as pon-
TENTATIVA ETYMOLOGUCO-TOPONYMICA 227
tas d'aço bem temperado I — Só assim podem mover a casca-
lheira, pelo que o ruido da caca e redra com o movimento
das enxadas e das pedras, ouve-se por vezes a um kilometro
de distancia — e mais! , . .
Note se que os jornaleiros são por vezes 30 a 4r) — o an-
dam sempre em colunma — a cavar ou redrar.
E' assim o Alto Douro, emquanto que nas regiões viní-
colas do centro e do sul, por serem pouco accidentadas, abun-
dantes em húmus e faltas de pedra_, — a cava e a redra po-
dem ser feitas a vapor — ou com enxadas leves e rasas.
Note-se também que no Douro — mesmo em tempo nor-
mal— um milheiro de vides — em geral — apenas dava uma
pipa de vinho por anno, emquanto que nas regiões vinícolas
do centro e do sul — nomeadamente na Lourinhã — um mi-
lheiro de vides produzia e talvez produza ainda — duas a três
pipas de vinho?!,..
Eu já estive em Torres Vedras algumas vezes antes de
fazer-se a linha férrea de Lisboa por Torres á Figueira da Foz.
Também fui em diligencia de Torres até Alhandra — por
Matacães, Runa, Dois Portos e Sobral de Monte Agraço, — villa
que demora em sitio alto, alegre e vistoso, na cumeada ou cu-
mieira d'onde partem para O. o rio Si\andro, que banha Tor
res Vedras e morre no Atlântico — e a ribeira que vàe para
nascente e morre junto á'' Alhandra, no Tejo. — Nunca estive
na Lourinhã, mas consta-me que alli a producçào das vides é
espantosa / . . .
D'ella fallaremos mais d'espaço. Agora, para d'algum
modo satisfazer aos meus poucos leitores, que birram com
tantas e tão insulsas cantigas e querem etfjniologias, — ahi vão
algumas cora relação ás povoações mencionadas supra.
— Torres Vedras^ como todo? sabem, é o mesmo que Tor-
res Veteras — torres velhas, antithese de Torres Novas,
• — Matacães — pôde vir de matacão, planta venenosa que
talvez alli abundasse, ou de Mata Cães, apodo ou appellido.
Cf. Mata Bodes, Mata Burros, Mata Christo, Mata Fome,
Mata Ladrões, Mata Lobinhos, Mata Lobos, Mata Mouros, Mata
Porcas, Mata Porco, Mata Sete, Mata V^acas, etc, povoações
nossas.
— Runa talvez tomasse o nome do portuguez popular de
Coimbra — Runa, cano d'esgoto, por allusão ao rio Sizandro
que alli passa e corre fundo.
— Alhandra é talvez uma forma d\ilhambra — villa e
formoso palácio da Hespanha.
'i28 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
— Dois Portos — é uma freguezia muito importante e
muito linda, que tomou o nome de jporto na accepção de pas-
sagem estreita entre montes ou sitios altos, pois alli não ha
portos de mar nem de rios.
Porto na mesma accepção deu Portella, Portellada, Por-
telladia, Portellndinha, Portellas, Portellinha, Portellinhas, Por-
tellinho, Portellinhos, Portello e talvez Portinho e Porto — a
próprio cidade, porque o Douro ali é tão estreito, que parece
um canal ? / . . .
Somma e segue :
— Porto da Carne, junto da serra da Estreita, no conce-
lho da Guarda ; Porto de MoZy Portozello, etc, — ao todo mais
de mil povoações nossas, quasi todas distantes do mar e de
rios?/,.,
— Sobral de Monte Agraco — é nome composto de Sobral
por Sobreiral,— bosque ou mata de sobreiros, chamados tam-
bém corticeiros, — arvores que deram o nome a centenares de
povoações nossas, como já dissemos, dando a lista ou série da
maior parte d'ellas.
Eu não me recordo de ver alli sobreiros, mas por certo
alli abundaram outr'ora.
Monte Agraço — tomou o nome do sitio por ser uma cm-
m,eeira, — e do portuguez agraço — vinho verde, pejorativo de
agro — azedo, rascante. — Assim deve ser o vinho da locali-
dade, porque o sitio é o chão mais alto e desabrigado da re-
gião vinicola de Torres,
— Sizandro — o peqv.eno, mas formoso rio supra^ — to-
mou talvez o nome de Lisander — Lisandro, nome pessoal
grego, congénere de Alexander — Alexandre; — Leaader —
Leandro; Periander — Periandro, nomes históricos e alguns
d'elles nomes de santos, etc.
Note-se que Lisandro podia dar Sizandro — porque l e r,
mesmo iniciaes — confundiram-se e substituiram-se.
Veja-se o tópico Substituição de letras. Ahi vae, entre-
tanto uma amostra do pano:
h e 5 confundindo-se na onomástica poriugueza
— Sabordella, povoação nossa, é talvez uma forma d^
Saportella por La Portella — a portella í
Cf. Laportella e Saportella, povoações da Hespanha.
Note se que a Hespanha tem 29 povoaçõer; denominadas
TENTATIVA ETYMOLOOICO-TOPONYMICA 2'29
Portela, todas na Gallíza, — e fora da Galliza tem Portella^
Portellada^ Portiella, Portilla, Portlllo, etc.
Laportella e Saportella estão era Lerida.
— Laborim, povoação nossa, — e Sahorim ns. líeMpanha
Almedina — em Portugal e na ílespanha — e Halmedina
por U Almedina? — na ílespanha. ^
Somma e segue: — Lavariz, Sabariz Q Savariz ; Lago e
Sago'! Lameira e Sameira; Lameiras e Sameiras ; lameiro e
Sameiro?.», Larninho ou Samínho — e Santinho? . . . Landal
e Sandel, por Sandal ? Landim, Nandirn e Sandim ? Landeiro
— e Sandeiro ; Lapa e Sapa; Lapadncos — e Sapaduços ? /. , .
De lapa d* ursos!.., Cf. iMpa do Lobo, Serra d'Ossa, o mesmo
que Serra da Ursa, - Baldossa, o mesmo que Vai da Ursa^
etc., povoações nossas que tomaram o nome dos ursos, como
já dissemos. * — Lapinha e Sapinha; Lapdra e S>ppira; Lapeiro
e Sapeiro ; Lardoeira e Sardoeira ; Larjal e Sarj'd por Se-
rejal / Lavadouro, Levadouro e Sebadouro í Ledesma e Seder-
ma, que o povo denomina também Sedesrna.
Estas povoações tomaram o nome dos soromenhos, pe-
reiras bravas, que deram também Salmães, Salmanha, Sar-
menha (o povo também diz Ser manha)', — Sermenheiros, Sero-
menha, Seromenho^ Serominhão, Serominheiro, Siderma por
Sederma, — e Juromenha por Soromenha {í ...) — povoações
nossas.
Junte-se também Soromenho — appellido.
E' assim a arte nova!...
Mas dirão os leitores : — como podiam os soromenhos
dar Sedesrna, Sederma e Siderma f
Lá vou.
— Os soromenhos, pela forma popular seromenhos^ deram
seromenheda ; — e esta por contracção deu ser meda.— Sederma
é metathese de ser meda — e por seu turao Sederma deu Se-
desma, Ledesma e Siderma, porque na onomástica portugueza
s Q l, — er e es — e e i confundiram- se e substituiram-se mui-
tas vezes.
As pereiras bravas também se denominaram codornos,
que o povo chama cadornos^ — unde Cadorneiro, nome d'uma
povoação e de um ribeiro da minha Penajulia, denominados
^ Veja-se a nossa Chorographia moderna e o Diccionario general
de los Pueblos de Espana — Madrid- 1862.
2 Junte-se Peraduça por Pedra da Ursa, o mesmo que Lapaduça
ou Lapaduços.
230 TENTATIVA ETyMOLOGICO-TOPONVMICA
vulgarmente Coderneiro. — Jante se Codorneiro, Codornellas e
Codórno, povoações nossas, — e Cogórno por Codorna, appel-
lido, pois d e g também se confundiram e substituíram mui-
tas vezes na onomástica portugueza.
Veja-se o tópico — Substituição de letras, — tópico inte-
ressaniissimo para esta ordem d'estudo.
Prosigamos.
— Ledões e Sedões.
— Ledouro e Sedouro
— Leixões por seixões (ff...) plural de Seixão, povoação
nossa, como Leixosa e Seixosa? !, . .
— Lemede e Semedo, quasi Semede.
Cf. também Semide, povoação nossa.
— herdeira — Cerdeira e Serdeira ? ! . . ,
— Leomil. quasi Lomil — e Sn mil por Lomil? ^
— Leside e Sezite por Se^ide — de Le Sid — o senhor por
excellencia, unde Ruy Diaz el Cid, vulgo Cid Ruy Diaz, en-
tre nós Cid Ruí/ Dias — lendário cavalleiro hespanhol.
— Lesteiro e Cesteiro, povoações nossas.
— Lidadelha e Cldadelha. — Loòreiro e Sobreiro?
— Lomar e Assumar — por Al + Somar — e este por
Lomar, — de LeodomÍ7'us, i supra.
— Loure e Soure ? — Lourinhos e Sourinho ? — Louro e
Souro'^ — Lousa e Sousa? — Loicseiro e Souseiro'^ — Lousella
e Souzella.
Note-se, porém, que na minha opinião Sousa — rio, etc,
—vem do baixo latim saucia* — salgueiral.
Junte-se :
— Leiros e Seiros.
— Lemenhe e Semelhe.
Note- se que Ih e nh muitas vezes se confundiram e sub-
stituíram na onomástica portugueza.
— Libães por Libões — e Cibõesf
Note-se que em portuguez as desinências ães e ões con-
fundiram-se — e ainda hoje se confundem ? !...
— Linhaceiros, Linheiro — e Cinheiros.
— I^opo e Soppo?
^ Leomil vem de Leodomirus, i, que deu também Lomar, como
Gunthimirus, i deu Candemil, Candomil, Contumil, Contumillo, Gondo-
mil t Gondomar? !. . .
— Com vista ao sr. conselheiro António Cândido, natural de Can-
demil.
TENTATIVA ETYMOLOOICO-TOPOXYMinA 231
— Loredo, Loridos, plural de Lorido — e Chovido por
Sorido ?
A Hespanha tem Churide e Chorito, quasi Chovido. *
Do exposto se vê que na onomástica portugueza l q s
confundiramse e substituiramse, pelo que Lizandro deu ou
podia dar Sisandro.
Fiat lux — e hurra! pela onomástica portugueza compa-
rada / . . .
«
Também Sisandro pôde vir de Sizenando ou Sezinando,
antigo nome d'um santo, etc, — em latim Sizenandus e Se-
xinandus, i, que teve as formas Senandus, Sisnandus, Sesnan-
dus e Sernande por Sesnande, povoações nossas.
Por seu turno Senandus, i deu ou podia dar Sande,
villa, etc, — e Sandimis, i que deu ou podia dar Sandim, Sau-
dinha^ Sandinho — e Sendim, Sendinha, Sendinho, povoações
nossas.
Também temos Sandiães e Sandião, que podem vir de
Sandianus, ^, is, o mesmo que Sandinus, i — por Senandinus,
i supra.
Cf. Antonius, Antonimis, Antonianns e Antoniolus, i, di-
minutivo archaico á^Antonius — António.
Maximus, Maximinus, Maximianus, Maximilus e Maxi-
milianus, i, nomes pessoaes, diminutivos de Maximus — Ma
ximo — nome d'um santo, etc.
Maximilus, i deu Meixomil, freguezia de Paços de Fer-
reira — e Antoniolus i, supra, — deu AntanhoU freguezia do
concelho de Coimhvaf :... •
O mesmo Sizenando ou Sezinando podia dar Sizandvo
por SizandOy pois, como já dissemos, ore muito falso, muito
ca/?nc/?o-s'o / — Apparece e desapparece instantaneamente.
— E' assim a arte nova — e rira hien qui rira le der-
nier ff. , ,
Também Sezinandus, i pela forma Sernandus, i supra —
deu ou podia dar Sernandicellus, i, unde Sernancelhe, villa, etc. '
Nós propomos duas etymologias para Sizandro — e fica
* Como estamos a fallar de Torres Vedras, afamada região viní-
cola, junte-se para atesto do casco — S. Colmado e S. Cosmado, povoa-
ções nossas, lindíssimas formas de S. Cosme e S. Damião, como já dis-
semos.
' Veja-se o tópico : — Diminutivos com a desinência olus, ola.
' Veja-se o tópico : — Diminutivos com a desinência ccllus, i.
232 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
a porta aberta e franca para outra que melhor satisfaça, pois,
como já dissemos e repetimos : — em assumpto de tal ordem
não ha precisão rnathematica.
Os mesmos etymologistas francezes por vezes propõem
três e mais etymologias para o nome d'uma povoação e,
quando isto succede na França, onde a sciencia etymologica
está muito adiantada e ó já muito antiga, não se estranhe
que eu — sendo uma completa nullidade — titubie n'esta
louca Tentativa.
* *
Antes de passarmos adiante, ahi vão mais algumas ety-
mologias com relação ás povoações do concelho de Torres
Vedras, um dos mais importantes da Estremadura e que de-
via ser occupado e habitado desde os tempos mais remotos^
por estar a pequena distancia do Tejo, do mar e de Lisboa
— e por ser pouco accidentado, abundante em húmus, todo
arável, mimoso e fértil.
Da sua remota occupação por centenares de povos diffe-
rentes provieram os nomes das suas muitas povoações, pelo
que a etymologia d'alguns d'elles é difficilima ! — Têem
mesmo em geral um timbre particular.
N'elles abunda a desinência eira, como em volta de La-
mego a desinência im — e entre a Figueira e Coimbra a desi-
nência ede. Taes são : Araiede, Cantanhede ^ Limede, Murtedèj
Tacarede, etc, — e em volta de Lamego — Nostim, Godim^
Constantim, Penim, Lerreirim, Magustim, Cantím, Contim,
Lalim, Lazarim, Gogim, Goujoim, etc.
Isto não é vulgar e já dissemos o bastante com relação
á etymologia d esta ultima série de nomes de terras com a
desinência im, deixando a estranha série da desinência êde
para o meu atávico successor, que muito provavelmente será
o sr. dr. Joaquim da Silveira, da Anadia, hoje notário e advo-
gado em Alcanena, — tantas vezes mencionado n'esta pobre
Tentativa.— A eile, como visinho das ditas povoações, cumpre
velar ^ro domo sua, investigando a etymologia d'ellas.
*
. .' :Ahi vae agora uma lista d'alguns nomes das povoações
dó, concelho de Torres Vedras, com a desinência supra —
eim, — todos mencionados pelo sr. João Alaria Baptista na
Chòrograpthia Moderna.
TKNTA.TIVA ETYMOLOGUCOTOPON YMICA
á38
Sáo elles os seguintes :
— Crujeira, Sittnheira^ Carraffqueira, Carvoeira, Panas-
queira, Zihreira, Jíinqueira, Maceira, Bombardeira, Figueira,
Mixilhoeira, Serpiyeira, Gallegueira, Serreira, Sindieira, Sei-
ctira, Ordasqueira, ISecUheira, Zurragueira, Lameira, Espi-
nheira, Fortuxtira, Lchagueira^ Ermigueira, ou Ermigeira
(sic), — Freira^ Sthreira, Gourozeira e Brejoeira.
Somma e segue.
— Abrunheira, Bogalheira, RibaJdeira, Palameira, Feli-
teira, Murteira, Feteira, Soalheira, OUceira, Fixoeira, Alma'
greira, S. Fedro da Cadeira, Siloeira, Barreira, Brijeira ou
Brejeira, (sic), — Escravilheira, Sequeira, Vai da Ribeira, Lou-
riceira. Madeira, Amoreira, Monteira, Freixofeira, Melroeira^
Cadriceira, Mugedeira, Penfieira, Semineira, Chapuceira, Far-
ropeira, Ribtiray Bordinheira, Carregueira, Moça faneira (sic),
— Recomeira, Guilhalmeira, Gol íapeira, Maxarreira, Rochei-
ra, Xeira, Xeira-Maitos e Xeira Campos? l . . .
--Total — oitenta e tantas povoações com a desinência
eira, pois alguns dos nomes supra repetem se varias ve-
zes.
Esta desinência é própria e característica de Portugal e
da velha GaUiza, pelo que se encontra na onomástica de
todo o nosso paiz, mas no concelho de Torres Vedras abunda
mais do que em nenhum outro dos nossos concelhos.
Abundou também outr'ora e ainda hoje abunda na ono-
mástica da Galliza a mesma desinência eira.
Ahi vae uma ligeira amostra do panno ;
— Abelleira, Acelleira e Abelleiras; ^— Agueira, Agueiro;
— Barreira, Carballeira, que se lê Carbalheira, em portuguez
Carvalheira; — Carrasqueira, Carreira, Carreiras, Castinei-
ra, Castineiras, * Cumieira, Eira, Eiras, Feira, Feiteira, Fer-
reira, Ferreiras, Figueira, Figueiras, Franqueira, Frieira,
Galineira, Gamalleira, Herreira, Moreira, Moreiras, Nogueira
e Nogueiras.
Juntese:
Oliceira, Pateira, Pedreira, Pereira, Pereiras, Peniqueira,
Pesqueiras, Pineira, Porgueira, Pradeira, Ribeira, Ribeiras,
' Vide o Diccionario Qeneral de los Pueblos de Espana citado
-supra, onde se encontram como povoações da Galliza estas e outras
muitas.
' Junte-se Corbaceíras, Coruxeira e Coruxeiras.
2B4 TENTATtVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Eigueira, Rigueiras, Rivadeneira, * — Sahugueira, Sabuguei-
ras, SabugueÍ7'o, Solbeira e Solvei ra (formas de Sorveiraf); —
Teijeira e Tejugueira (são formas cal laicas de Teixeira e Tei-
xugueirOj povoações nossas) ; — Videira, Vidueira, Vidueiras,
Vidueiros, etc.
Do exposto se vê que a Galliza, como já dissemos, — e
irmã gémea de Portugal t...
N'elJa abunda a desinência eira, como reminiscência
talvez já do tempo em que a Lusitânia provincia romana,
compreliendeu a Galliza, como já dissemos, — ou do tempo
em que posteriormente a GalUza compreliendeu a parte norte
de Portugal até Coimbra, Vizeu e Lamego^ — ou do tempo
em que Poi^tugal por seu turno posteriormente comprehen-
deu parte da Galliza!...
E,efiro-me ao tempo em que no século xii, a rainha D.
Thereza passeava pela Galliza, como nós por nossa casa — e
trouxe durante annos na sua corte os bispos de Tui/ e Oreií-
se, como senhora d'aquellas duas provincias.
A desinência eira — como já dissemos — é própria e ca-
racteristica de Portugal e só se encontra na onomástica da
velha Galliza, pois actualmente e desds longa data a Galliza
é forçada a seguir e adoptar o idioma castelhano, pelo que
pôz de parte a desinência eira, substituindo- a pela desinên-
cia castelhana equivalente e^m, — desinência que abunda em
toda a onomástica da Hespanha.
Fdra da Galliza é rara, rarissima a desinência eira.
Eu apenas lobrigo Cantejeira na provincia de Leão.
Também se encontra a desinência eira no patois do sul
da França, nomeadamente na Provença,
— Com vista ao meu atávico successor, tantas vezes
mencionado, — o sr. dr. Joaquim da Silveira, da Anadia^
que por boas ou más bulas se apoderou dos meus caros ver-
betes, — ao todo cerca de cem kilos — fructo do meu traba-
lho insano de dez a doze annos — além de bastantes livros
raros e caros, avultando entre elles um óptimo exemplar com-
pleto do Portugalíre Monumenta histórica f ! , - ,
1 Com este nome ha duas freguezias e duas povoações em Lugp e
d'ellas tomou o appellido Ribadeneira um distincto escriptor hespanhol.
Ribadeneira quer dizer que demora nas ribas ou margem do Nei-
ra, rio de Lugo.
Cf. Ribadavia, Rivadesella, Rivaseca, etc, povoações da Hespa-
nha;- Riba d' Ancora, Riba d' Ave, Riba d'Ul, Riba Pinhão, Riba Tâ-
mega, Riba Tua, etc, povoações nossas.
TENTATIVA ETYMOLOOICOTOPONYMÍCA 235
O potois do sul da França —parece patois portuguez! . ,.
— Já dissemos algo sobre o assumpto e chamamos para este
ponto a attenção dos philologos.
Prosigamos.
Diremos agora também algo da etymologia das muitas
povoações do Torres Vedras com a desinência eira, princi-
piando por notar que, sondo tantas, nenhuma se denomine
Eira — ou tomasse o nome das eiras, — Uma d'ellas chama-se
Ereira, mas não tem relação alguma com eira, pois Er eira é
uma forma de Hereira — abundante em heras, planta bem
conhecida.
Por seu turno eira vem do latim área ; — e hera, nome
de varias plantas trepadeiras da familia das araliaceas, vem
do latim heclra, que deu o nome a differentes povoações nos-
sas. — Taes são:--^rí?, Erada, Eras, Ereira, Ereiras,--
Edras, Edrosa, Edi^oso, e Hera, — ao todo 15 a '20 povoa-
ções.
Não se estranhe a forma Era em vez de Hera, porque a
nossa orthographia é um cahos ou caos {?) — ainda hoje — e
os nomes de muitas povoações nossas jà vêem de tempos
muito remotos!. ..— Alguns d'elles são romanos e outros
pre romanos — do tempo dos celtas, celtiberos, gregos pheni-
cios, etc.
Não se confunda também hera, vulgo era, planta, com
era do verbo .ser — ou era — acontecimento, época em latim
aera, que se lê era.
Não se confunda também a etymologia de Ereira com a
de Ericeira, villa histórica e marítima do concelho de Ma-
fra, que tomou o nome do latim erice, es — a urze, pois na
costa da Ericeira, abunda, como eu já vi, uma espécie de urze.
A villa da Ericeira podia também tomar o nome do la-
tim zoológico de Varrão ericius — ericio, vulgo ouriço cachei'
ro, animal que ainda hoje se encontra em varias regiões do
nosso paiz.
O mesmo ericius — ouriço cachnro — deu Ericio, nome
d'um santo, etc, que se encontra nos sanloraes e em Santo
Ericio, aldeia nossa?/ . . .
Pertence, pois, Ericio á classe dos nomes affrontosos que
vários santos pela sua humildade e virtude adoptaram, tendo
sido apodos com que os affrontavam.
Dos bichos e feras foram tirados os seguintes nomes de
236 TENTATIVA ETYMOLOGIOO^TOPONYMICA
santos : — Lmo^ Leopando, Leobardó, o mesmo que Leopardo,
— Leohino, Leocadia, Lpoaricia^ Leodegario, Leonardo, Leon-
cia, Leôncio, Leonides, Leonilla, Leopoldo. Leocigildo, Lobo, Ti-
gre, Tigridia, Tigrio, — Urso, Urdcio^ Ursino, Urdsceno, Ur-
so, Ur Sida, Por cario, o mesmo que porqueiro, — e Porciano,
diminutivo de Por cio, etc, — todos nomes de santos — e os
últimos três tirados dos porcos?/...
Temos também muitos appellidos affrontosos : isso, po-
rém, .não obsta a que sejam alguns d'elles nohilissimos e d' alta
cotação !
— Honra o teu nome e elle te honrará — seja qual fôr 7
Prosigamos,
Temos também varias povoações que tomaram o nome
das eiras, taes são : — Eira, Eira Alta, Eira Barrenta, Eira
Cova, Eira da Isca, Eira da Loba, Eira da Mó, Eira da Pal-
ma, Eira da Pedra, Eira de Baixo, Eira de Cima e Eira de
Lapella. ^
Junte-se : — Eira de Mello, Eira de Sá, Eira de Tibães,
Eira do Cabo, Eira do Meio, Eira Doniga (das Donas?) ; —
EÍ7'a Grande, Eira Nova, Eira Pedrinha, Eira Vedra, afim
de Torres Vedras, mas d'outro concelho ; Eira Velha, o
mesmo que Eira Vedra ; — Eirão, o mesmo que Eira Gran-
de supra; — Eiras, Eiras Altas, Eiras d' Alem, Eiras dos Mou-
ros (?!...); — Eiras Vedras, irmãs gémeas de Torres Vedras;
Eirinha, Eirinhas, Eiró, Eiró, ^ etc. — ao todo mais de 800
povoações, que tomaram o nome das eiras. — Não pertence,
porém, uma única ao vasto concelho de Torres Vtdras, co-
lhendo bastantes cereaes e devendo colher outr'ora muito
mais /,,.
*■ Lapella é diminutivo de Lapa e o mesmo que Lapinha, Pedri-
nha e Peninha, — povoações nossas também, como Padrella por Pe-
drella, Penella, etc.
^ ^ Eiró e Eiró são diminutivos de eira, tirados de eirola, que deu
Eiró e Eiró, como Figueirola no baixo latim ficariola, deu Figueiró e Fi-
gueirôa, appeliido; Ecclesiola, diminutivo de ecc/es/fl — egreja, — deu
Grijó e Egrijó; Alexiolus, diminutivo de i4/ex/w5 — Aleixo — deu Alijó
t. por. aferése Lijó o mesmo que Aleixixinho ? !. . .
• Também Hectorolus, diminutivo de Hector, o ris — Heitor ~-áe\i
Eituró, o mesmo que Heitorzinho, etc, povoações nossas?!. ..
Veja-se o tópico : Diminutivos com a desinência olus, olu.
Na minha Penajulia ha um sitio chamado Eirõ, — e outro na fre-
guezia de Távora, concelho de Taboaço, — ambos relativamente altos,
expostos ao sol e bem talhados para eiras, eirinhas ou eirolas.
— E' assim a arte nova? !. ..
TENTATIVA ín'YMOLOGICO TOPONYMICA 237
Nào tem uma única povoação denominada Eira, porque
as suas eiras náo são fixos, permanentes e de pedra^ como as
das nossas provincias do norte, — mas de terra batida, calca-
da e endurecida, pelo mesmo processo adoptado e usado nas
provincias da Estremadura e Alemtejo^ por terem grande es-
cassez de pedra.
Pelo contrario nas provincias do norte — Minho, Douro,
Beira e Tiaz-os-Montes, — por terem muita e óptima pedra
de schisto e granito — ha centenares ou, antes milhares de ei-
ras fxas e perjnanenies de boa pedra, sendo algumas d^ellas
bastante luxuosas e caras/ , . . —Avulta entre estas a da quinta
d'' Entre Aguas, no concelho de Baião, da nobre familia Per-
feitos do Porto, Mesão-frio, Corredoura ou Cambres, Lamego,
Ade Barros ou A de Barros, Minho, Riodades, etc. ^
A dieta eira — que q\x já vi — custou contos de réis, pois
ó muito espaçosa e toda de bello granito aparelhado em es-
quadria, com guardas e casas ou cobertos espaçosos contíguos;
também de granito, etc. — E toda a quinta, que bem merece
o nome à^ Entre Aguas, por estar entre 2 ribeiros e ser toda
valentemente ensocalculada, bem regada no verão e limada
no inverno,— tem cales, caleiras ou regueiras de granito bem
aparelhado ao longo dos socalcos todos, para conducção e me-
lhor distribuição da agua, o que é raro — rarissimo —em
todo o nosso paiz, e custou muito dinheiroL . ^
Também no meado do século xix os mesmos srs. Perfei-
tos, para abastecerem d'agua potável de veia nativa o seu for-
moso palácio da Cori^edoura, junto de Lamego, foram bus-
cal-a a distancia d'alguns kilometros e gastaram com a sua
can ali sacão, etc. — mais de oito contos de réis?!...
Gastaram também por essa occasião muitos contos de réis
na conclusão do dicto palácio e projectavam fazer grandes
embellezamentos na cerca, posto que jà era muito linda e
muito digna de vêr-se.
Agora um cumulo, relativamente ás nossas eiras.
A d^Entre Agvas é absolutamente a maior e melhor de
todo o concelho de Baião,- toda de pedra, muito sólida e
' Vide Portello, povoações de Cambres, no Portugal antigo e mo-
derno.
'^ V. Zêzere (Santa Marinha do) — longo artigo meu, no Portugal
antigo e moderno, voJ. xn, pag. 2:118, onde fallçi da mencionada quinta
ç da luxuosa eira. ' • i ..•:r, i ..•• . : • ; .
288 TKNTATIVA ETYMOLOGICOTOPONYMICA
muito earâ, mas no concelho de Trancoso ha outra, também
de pedra, muito mais sólida, muito mais espaçosa — e bara-
tissima! . , .
Demora na freguezia de — a leste de Tran-
coso e ao sul da estação e freguezia de Villa Franca das Na-
ves^ na pendente sobre o valle onde passa a linha férrea da
Beira Alta, — vendo-se perfeitamente d'ella, como eu já a vi.
A mencionada eira, como já dissemos, é também de pe-
dra e muito sólida, muito espaçosa^, — antlquissima, baratis-
sima e talvez única em Portugal, no seu género !
— Foi íeita pelo supremo architecto do universo — e só
elle a podia fazer, pois é formada por um penhasco enorme
ou brulainontes, muito accessivel do lado O. — terminando em
superfície plana, muito exposta ao sol, onde malham e seo-
cam o pão todos os proprietários e lavradores da dita paro-
chia, — por vezes 6 e mais, a um tempo !h..
Com vista aos meus poucos leitores, filhos de Trancoso,
6 aos que viajem na linha da Beira Alta,
Prosigamos.
No Alto Douro ha poucas e pequenas eiras, porque as
uvas, producçâo dominante da localidade, vão directamente
das vinhas para os lagares. Mas por excepção também lá as
uvas, antes de pisadas, vão das vinhas para estendedouros —
e d estes para os lagares, quando se fabrica o vinho passa ou
de uvas empassadas, — vinho superior.
Assim lá certo anno, em que o meu pae vendeu em uvas
e antes da colheita o vinho da nossa quinta do Campo Velho,
margem direita do Tédo, ao nosso visinho — Félix Manuel
Borges Pinto, pae do primeiro visconde de Castello de Bor-
ges e avô do 2 « visconde do mesmo titulo,- que foi barbara-
mente assassinado na sua quinta do Té lo ou de Castello de
Borges, em 1905 — se bem. me recordo, — as uvas da nossa
quinta não foram directamente das vinhas para os lagares.
— Depois de colhidas — já muito sazonadas e grande parte
d'ellas empassadas \ — foram todas directamente das vinhas
para estendedouros — onde estiveram dois dias — e d'alli para
os lagares da quinta do tal senhor, distante da nossa pouco
mais de um kilometro.
í Note-se que a nossa vindima naqiielle anno foi feita oito dias de-
pois das outras vindimas — por condição preliminar da venda que o meu
pae fez ao dito sr. Félix e da qual muito se arrependeu, porque o dito
senhor lhe pagou tarde e mal?!. . .
TENTATIVA ET VMOLOOICO-TOPONYMICA 239
Sáo muito próximas as duas quintas e a producçáo prin-
cipal d'uma e outra é o vinho; ha, porém, grande differença
entre ellas.
A nossa está em um plató ou planalto muito lindo e
muito vistoso na margem direita do rio Tédo, pelo que muito
provavelmente outr'ora se denominou Campo Bello, no dia-
pasão leonez Campo Belho, unde o seu nome actual Campo
Velho,— masmo porque alli náo ha nem houve jamais campo
algum.^ — Apenas tem a pequena distancia uma fonte d'agua
potável, de mina^ — e uma hortinha.
A de Castello de Borges está em sitio fundo, abafado,
sem horisonte, muito ardente e nada vistoso, mas bastante
mimoso, — na margem esquerda do Tédo.
Eefiro-me á casa nobre da quinta, pois dista poucos me-
tros do rio Tédo — e passa junto d'ella um açude, que tem al-
guns centos de metrcs d'extensão e rega um pomar de laran-
jeiras e uma grande horta ou lameira numosinsima e fertiUs-
sima,— o que é raro nas quintas do Alto Douro.
Tem ella, pois, bastante agua de rega, mas pouca e pés-
sima agua potável, pelo que o tal sr. Félix que era bastante
illustrado e tinha viajado muito, mandava ir da fonte da nossa
quinta agtta para o chá? I...
A quinta d'elle produzia óptimo vinho, mas era pequena.
A sua producção nunca passou de 30 a 40 pipas, emquanto
que a producção da nossa regulava por 50 a 60 pipas. — E o
meu pae dispunha-se para leval-a a produzir 150 pipas — oti
mais, pois já tinha comprado montes para cento e tantas pi-
pas; mas, quando em 1864 se dispunha para os plantar —
adoeceu e morreu na mesma quinta, que elle tanto estimava!...
Deus o tenha em bom logar.
A quinta de Castello de Borges tomou este nome d'uma
pequena, mas bastante sólida torre, que Félix Manuel Borges
Pinto, approximadamente em 1856, mandou fazer em um an-
gulo da casa, — torre onde dormia e guardava as suas jóias, etc.
Elle tinha feito a guerra da península como alferes de
guias, mas, quando fez a torre, já era viuvo, velho e tímido.
* Refiro-me á casa d'habitação, armazém e lagares, pois a quinta
comprehende vinhas que tocam na margem do Tédo.
O mesmo planalto é cortado por 4 estradas publicas, bastante con-
corridas, pelo que já tinha mais 6 ou 7 casas de quintas — hoje todas
abandonadas, porque as mencionadas quintas e$tão todas phyloxeradas,
incultas? !...
240 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
A mencionada quinta charaava-se anteriormente quinta
do Tédo — e vulgarmeate quinta do Félix, desde que o dito
senhor n'ella fixou a sua residência.
Era elle natural da freguezia de Escu7'quella, na margem
direita do Tacora^ concelho de Sernancelhe, — casou na fre-
guezia da Folgosa, concelho á^ArmaiJiar — e falleceu, approxi-
madamente em 1870, na mencionada quinta, unde jaz, em um
mauzoleu que alli mandou fazer também, e uma capella com
o Santissimo permanente ^
Veja-se no Portugal antigo e moderno, vol. xr, pag. 1:059
e seguintes, o meu longo artigo Vllla Secca d Ar mamar,
onde fallei da mencionada quinta, pertencente á dita paro-
chia, e, aproveitando o ensejo, também fallei do barão de
Forrester, amigo particular de Félix Manuel, que varias ve
zes o recebeu e hospedou na sua quinta de Castello de Borges.
No mencionado artigo se encontra, pois, uma minuciosa
e conscienciosa noticia do naufrágio em que o dito barão,
sendo tão amigo do Douro, morreu afogado no mesmo Douro
— em 22 de Maio de 1861.
Volvendo ao tópico eiras, mencionaremos ainda uma
que ha 'na quinta supra, de Casfello de Borges. — E' pequena,
mas de pedra (schisto) e foi notável, porque formava o tecto
d'uma importante e muito interessante frasqueira que o dito
snr. Félix M. Borges Pinto fez em um subterrâneo ou buraco
no sopé d^uma encosta, a pequena distancia da sua nobre
casa da torre.
No Alto Douro não ha granito, mas somente schisto, po-
diam, porém fazer -se com elle eiras magestosas, pois, como
jà dissemos — em algumas regiões do Alto Douro ha schisto
especial, — único talvez em Portugal ? ! . ,
* Como os leitores estão fartos de cantigas e pedem etyniologias,
ahi vão algumas.
— Escurquella, supra, vem de Esculqnella, diminuitivo de esculca
— vigia, atalaia, sentinella.
Távora — vilias, rio, etc. — vem do latim tabula — tábua ou madei-
ra para taboas e por extensão castanheiros. '
— Sernancelhe, como já dissemos, — vem de Sernandicellus, i, di-
minuitivo do Sarnandus por Sesnandus e este por Sezinandus — Sqzí-
nando, nome d'um santo, etc, — Folgosa por Felgosa vem de felix, íeis
por filix, icis — o feito, por fento ou fieito. planta, como já dissemos em
um largo tópico supra, dedicado aos fieitQs, ~ vol. i., pag. 295! • - " -
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 241
Com elle se fazem ali pontes de arcos e de esquadria
muito .'iolidas, como se vê uma que a velha Companhia dos
Vinhos- mandou fazer na estrada marginal do Douro sobre a
Foz de Mil Lobos ou do no Temi Lúpus — a jusante e pouco
distante da Folgosa,
Ha também no Douro lagares com tampos de schisto de
6 a 7 metros de comprimento, 1 de largura e 4 decimetros
de espessura.
Podem ver-se e admirar-se na quinta do Ferrão, da no-
bre familia Pessanhas, junto da estação do mesmo nome, na
linha férrea do Douro ^
Em Villa Nova de Foscôa ha pedreiras de schisto que
dão esteios para ramadas, balaustres para varandas, pran-
chões para pontes, etc.
V. Villa Nova de Foscôa, longo artigo meu, no Portu-
gal antigo e moderno, vol. xi_, pag. 839.
Ha também tampos enormes de lagares, — maiores do
que os do Ferrão, — em Casal de Loivos, freguezia do conce-
lho d'' Alijó, — e dizem-me que appareceu alli ha annos soter-
rado, a certa altura, um pranchão natural de schisto, que de-
via ter approximadamente oito metros quadrados de superfície!
O tal pranchão por si só podia dar uma eira ; mas, por
que não necessitavam d^elle para eira nem para lagares ou
para outra qualquer obra, — lá ficou soterrado, como estava.
O que mais abunda, porém, no Alto Douro é schisto
miúdo, lascado, informe, que mal se presta para construcções
de casas, etc.
Eefiro-me particularmente á freguezia de Poyares, con-
celho de Freixo d' Espada-á-Cinta, onde, como já dissemos,
— ainda hoje se vêem e nós já vimos — casas circulares^ a
modo de pombaes, como as da Citania de Briteiros e as do
monte de Santa Luzia, em Vianna do Castello.
Na minha opinião construem-nas a^fesim, por ser aquelle
estylo tradiccional e porque a pedra da localidade é schisto
miúdo, lascado, informe, que offerece mais resistência tra-
vado em paredes circulares, do que nas paredes em linha re-
cta.
— Com vista aos archeologos, engenheiros e mestres
d'obras.
1 Os lagares da nossa quinta do Campo Bcllo ou Campo Velho,
supra, teem tampos com 27 palmos ou 6 metros de comprimento.
242 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
flínda Torres Uedras — succinto esboço etymologlco
Volvendo a fallar das muitas povoações de Torres Ve-
dras com a desinência eira, vamos dar a etymologia d'algu-
mas, seguindo a ordem porque as mencionámos, supra.
— Corujeira — tomou claramente o nome das corujas^
bem conao outras muitas povoações nossas.
— Sitinheira — tomou talvez o nome do latim sitis — se-
de, por ser o seu chão pobre d'agua potável ou de rega? —
N^este caso Sitinheira é uma synonimia de Sequieira e Sequei-
ra, povoações nossas também, como Escalhão é metathese de
Secalhão — e talvez que Esgueira por Esqueira seja uma me-
tathese de Sequeira/...
Cf. Esqueira, Sequeira e Sequeiras, — Esqueiro, Esquei-
ros e Isqueiros por Esqueiros, — Sequeiro, Sequeiro e Sequei-
ros, povoações nossas, claros espécimens de és por sé — julgo
eu — e 7'ira bien qui rira le dernier? !...
Note-se que as metatheses são trioialissimas na onomás-
tica portugueza.
Prosigamos.
— Carrasqueira — podia tomar o nome do portuguez
Carrasqueira, o mesmo que charrasqueira e reboleira — cas-
tanheiro bravo, — ou dos carrascos, oliveiras bravas também,
que deram o nome a outras muitas povoações nossas. — Taes
são Carrasco, Carrascos, Carrascosa, Carrascosinha, Carra-
zeda, Carrazede e Carrazedo por Carrasceda, Carrascede e
carrascedo — ou Carrasqueda, Carrasquede e Carrasquedo ?
Também Carrasqueda e Carrasquedo podem ser contra-
cção de Carrasqueireda e Carrasqueiredo.
— As meias tintas confundem; — eu já tenho a vista
muito cançada e a minha lente da arte nova, forjada por mim
a martello — está pedindo outra melhor e mais aperfeiçoada.
— Carvoeira — tomou claramente o nome do carvão e ó
uma reminiscência do tempo em que havia grandes matas e
brenhas no concelho de Torres Vedras, das quaes hoje ape-
nas resta um exemplar digno de menção, na freguezia de
Monte Redondo.
— E' a grande e bella mata da nobre quinta das Lapas,
do snr. conde de Tarouca, rival da do Bussaco, pois tem car-
valhos e cedros também magestosos, — pinheiros com 3 a 4
metros de circumferencia no tronco — e medronheiros que
podem dar taboas, tendo alguns d'elles mais de dois metros
de circumferencia no tronco, etc.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 243
Ha também no concelho de Torres Vedras uma fregue-
zia chamada Carmões^ deturpação talvez de Carhões por Car-
võeSf pois 6a, bo, bu e ma, mo, mu, confundiram-se e substi-
tuíram se na onomástica portugueza, como já dissemos.
Também do carvão tomou talvez o nome a nossa villa
do Garmo?!..,
— E' assim a arte nova.
Prosigamos.
— Panasqueira — tomou claramente o nome do panasco,
— erva umbilifera para pastos, que deu também Panasca, Pa-
nascal, Panasco, Panascosa, Panascoso, Panasqueíro, Panas-
quinhOf Panasquita, etc, povoações nossas.
Panasquita é congénere de Melrinita, Caslta, etc, po-
voações nossas também.
— Zibreira — pôde ser o mesmo que Zebreira, povoação
nossa também, que tomou o nome das zebras, animaes muito
lindos, hoje extinctos, mas que outr'ora abundaram na pe-
nínsula e deram o nome a varias povoações nossas. — Taes
são Zebra, Zebral, Zebras, Zebreiros, Zebrinho, Zebro, Zebros,
Vai do Ztbrinho, etc.
Também Zibreira pôde ser o mesmo que Zimbreira, po-
voação nossa, que tomou claramente o nome do zimbro,
planta, como Zimbral, Zimbreirinha, Zimbro, etc.^ povoações
nossas também. ^
— Junqueira — tomou claramente o nome do junco,
planta, bem como outras muitas povoações nossas, taes são :
— Juncaes, Juncal, Juncalinlio, Junco, Juncosa, Junqueiro,
Junqueiros, Junquinho, etc, ao todo mais de tresenfasf...
Deu também o appellido a um dos nossos mais distin-
ctos poetas da actualidade — o' sr. Guerra Junqueiro.
— Maceira — é o mesmo que Macieira, abundante em
maçãs ou macieiras, arvores fructiferas, muito antigas em
Portugal, pois deram o nome ás nossas povoações seguintes :
— Maçã, Macagoso (?), Maçainhas por maceirinhas (?) ; — 3Ja-
çaira por Maceira ; Maçai por Maceiral ; Maçanicas, Maçans,
Maceda por Maceireda ; — Macedinho, Macedo e Macedos por
Maceiredo e Maceiredos, *
* V. Zimbro, artigo meu, no Portugal antigo e moderno, vol. xii,
pag. 2:248, col. 2fi e a sua respectiva nota.
- Cf. Azeredo, contracção de azereiredo, bosque ou mata dazerei-
ros, — e Azevedo, contracção á'Azevinhedo, bosque ou mata á' azevinhos.
Também Azevedo por seu turno deu Azevo, aldeia e freguezia do
concelho de Pinhel.— A bússola é o ouvido !. . .
244 tp:ntativa etymologico-toponymica
Somma e segue. — ^faceiras, plural de Maceira supra ;
Maceirinha e Macens por Maçansí ! ...
Cf. Magalhães e Magalhans, povoações nossas.
— Macide e Macído por Macedo f ! ...
— Macieiras, Macieirinha, Macieirinhas, Madeiro, Ma-
deiros e Maciel, appellido vulgar, o mesmo que Macial por
Madeiral.
Cf. Pinhel por Pinhal e este por Pinheiral, — Freixiel e
Freixial, etc, povoações nossas.
— Macinhata — por Madnheirata ou Madnheirada ?
— Maçoeira — por Macieira, — Maçoira por Macoeira,
etc, — ao todo mais de 150 povoações nossas.
Hurrah ! pelas maçans e maceiras ou macieiras!...
Nós temos grande variedade de 7naçans porttiguezas e
francezas, mas talvez que as melhores, mais lindas e mais
mimosas, mais aromáticas e mais saborosas sejam as nossas
antigas maçans denominadas camoêsa de rosa, — nomeada-
mente as do concelho de Mondim da Beira e do de Tarouca,
a sueste de Lamego.
Appéllo para quem as tenha saboreado, como eu as sa-
boreei muitas vezes.
E' encantador o seu aroma — e só duas aromatisam uma
grande sala.
A sua polpa é finissima e, sendo tão mimosas, conser-
vam-se durante um anno?!...
Isto é facto, que eu já notei com assombro no paço epis-
copal de Lamego.
Estando ali hospedado por occasiáo da grande festa e
feira de Nossa Senhora dos Remédios (8 a 15 de setembro),
quando eu era abbade de Távora, concelho de Taboaco, —
em 1861 a 18()4 — e bispo de Lamego o sr. D. José de
Moura Coutinho, excellente pessoa e muito meu amigo, ^ no-
'' Veja-se no Portugal antigo e moderno, vol. ix, pag. 530, o meu
artigo Telho, casa nobre da freguezia á' Amola, concelho de Celorico de
Basto, — e no vol. xi, pag. 897, o meu artigo Villa Pouca, aldeia da
mesma freguezia á'Arnoia.
Para d'alguma maneira significar a minha profunda gratidão para
com o dito prelado, n'aquelles dois artigos dei a biographia e a geneolo-
gia de s. ex.a, então já fallecido.
Deus o tenha em bom logar, como firmemente creio, pois era um
santo !. . .
I
TENTATIVA ETyMOLOOICO-TOPONYMlCA 24Õ
tei que ao dessert vinham á mesa pratos com as taes ma-
çans camoésos de rosa, tendo a cútis encarquilhada.
— Estas maçans parecem velhas ! — disse eu ao bondoso
prelado.
— São effectivamente velhas ! — respondeu s. ex.*.
— Mas como podem conserval-as perto de doze mezes —
sem apodrecerem !
— Conservamol-as em palha nos forros da casa.
Não instei, porque respeitava muito o santo prelado,
mas, pedindo explicações a um criado, elle me disse que
effectivamente as conservavam nos forros do paço todo o anno.
— Mas na minha casa apodrecem!...
— Também aqui apodrecem bastantes, mas, como o sr.
D, José gosta muito d'estas maçans, faz sempre um deposito
de carros d^ellas e, como são muitas, escapam sempre algu-
mas.
São ellas muito aromáticas e mimosissimas, pelo que o
meu pae, tendo em deposito durante uns 10 a 20 annos seis
pipas de vinho precioso da nossa quinta do Campo Bello ou
Campo Velho supra, — vinho que elle muito estimava e
muito bem tratava, todos os annos, quando o passava a
limpo e lhe deitava aguardente, deitava-lhe também algumas
das taes maçans — muito escolhidas, descascadas e pisadas.
— Mais nada.
O tal vinho era uma delicia !
Vendeu-o approximadamente em 1854.
* *
Volvendo a Torres Vedras e ás suas muitas povoações
com a desinência eira, ainda temos as seguintes :
— Bombardeira. — Tomou talvez o nome de Bombar-
deiro, appellido, tirado da milifança.
Cf. Alabardeiro, Arcabuzeiro, Archeiro^ Artilheiro, Bes-
teiro, Besteiros, Cavallaria, Cavallarias, Cavalleira (?!...), —
Cavalleiro, Cavalleiros, Couraça, Couraceiro, Espada^ Espa-
dagão. Espadeira i^\...), — Espadeiro, Espadeiros, Espadi-
nha, Clarim, Corneteiro, Lança, Lanceiro, Tambor, Tambo-
reira, etc, appellidos e muitos d'elles também povoações
nossas. — Taes são : Cavalleira, Espadeira e Tamhoreira, que
rimam com Bombardeira.
Podia também Bombardeira tomar o nome d 'alguma fa-
brica de pólvora bombardeira que alli houvesse.
246 TENTATIVA ETyMOLOGICO-TOPONYMICA
Dicant paduani. — Respondam os filhos da localidade.
Prosigamos.
— Mixilhoeira ou Mexilhoeira — tomou talvez o nome
dos mexilhões, mariscos, mas, como em Torres Vedras não
ha portos maritimos, talvez que Mixilhoeira seja nome de
importação, como outros muitos nomes de povoações nossas.
Cf. Mexilhão, Mexilhoeira, Mixilhoeira da Carregação,
Mixilhoeira Grande e Mexilhoeirinha, povoações nossas tam-
bém.
— Serpigeira — pôde ser uma forma de Serpilheira, ti-
rada do portuguez serpillo, o mesmo que serpão e serpol,
planta bem conhecida e muito aromática.
— Gallegtieira — tomou claramente o nome dos gallegos,
como outras muitas povoações nossas. — Taes são : Gallega,
Gallegas, Gallego, Gallegos, Gallegos de Baixo, Gallegos de
Cima, — Alda ou Aldeia Gallega, Monte dos Gallegos e Gal-
leguia, que recorda Mouraria e Franzia, por Francezia, o
mesmo que Francaria, terra de francos ou francezes.
Junte se Galleguinha, Galleguinho, Gallisa, Gallizes por
Gallegos'^, etc, povoações nossas.
Mas — dirão os leitores — estando Torres Vedras tão dis-
tante da Gallisa, não é provável que a dita povoação to-
masse o nome dos gallegos !
Muito mais distante da Gallisa está hoje Aldeia ou Al-
da Gallega supra, que tomou claramente o nome dos Gal-
legos, bem como outras muitas povoações do districto de
Lisboa, já por nós citadas. — N'este mesmo concelho de Tor-
res temos nós Fixoeira, diapasão gallego de Fijoeira por Fei-
joeira — e ao mesmo diapasão pertence talvez Portuxeiraí!,..
Note-se, como já dissemos, que uma grande parte do
districto de Lisboa pertenceu e obedeceu aos reis de Leão e
á Gallisa — antes da fundação da nossa monarchia.
— Serreira. — E' talvez contracção de Serralheira, abun-
dante em serralhas, ervas de que tomaram o nome varias po-
voações nossas. Taes são, entre outras, as seguintes :
— Sarralha, Sarralhas e Sarranheira por Sarralheira 7,
— pois Ih e nh confundiram-se e substituiram-se na onomástica
portugueza, como já dissemos.
Junte-se ainda — Sarreira, quasi Serreira por Sarranheira
ou Sarralheira?
— A bússola é o ouvido .'. . .
— Serralhão, Serralheira, Serralheirinha, Sarrão e Ser-
rão por Serralhão, etc.
TENTATIVA ETYMOLOOICO-TOPONYMICA 247
Cf. Pinhão por pinhalão^ — Hohrão por sobralão, etc, po-
voações nossas, como Tojão por tojalão^ Olivão por OUvalão,
Cardão por Cardalão — e Casão por Casalão ou Canarão, po-
voações nossas também.
— Sinaleira. — Na minha opinião é uma forma de Sen-
dieÍ7'a, povoação nossa também, como Sentieira e Sentieiras,
povoações que tomaram o nome do centeio — além d'outras.
Ahi vae uma curiosa lista d'ellas : — Centeio, Centiaes,
Centiães por Centiaes i, — Centieira, Centieiras, Centieiro * ;
Sandiães por Sandiaes e este por Centiaes ; — Santeiro, quinta
e aldeia f.^/. . j, talvez forma de Santieiro por Sentieiro — e
este por Centieiro ?
Também temos Santiaes por Centiaes; Sendiães -por Cen-
tiães, o mesmo que Centiaes ; Sendieira por Centieira ; Senteno
por Centeno — do castelhano centeno — centeio ? ; Sentieira por
Centieira — e talvez Setiaes por Sentiaes — e este por Cen-
tiaes ? / . .
— Desculpem os etymologistas e apologistas do parque
Setiaes, um dos mais formosos de Cintra — na actualidade^
pois talvez que o chão d'elle em eras remotas — como no
tempo da invasão dos povos germânicos ou durante as luctas
com os árabes e mouros — estivesse inculto ou produzisse
apenas centeio, como as povoações, quintas e casaes supra.
Também temos outras muitas povoações, 'villas e quin-
tas, hoje muito importantes e algumas d'ellas muito lindas,
que tomaram o nome de feras, algumas já extinctas, — e das
brenhas, matas e bosques, de que não ha memoria !
Também muitas das nossas povoações tomaram o nome
de certas aves que ha muito desappareceram das localidades,
por haverem mudado do fo7id en comble as condições agrico-
las de varias regiões nossas.
Vem a propósito a minha terra natal — Corvaceira, —
pequena povoação da grande freguezia da Penajulia ou Pe-
najoia, que demora na margem esquerda do Douro, concelho
de Lamego — mesmo em frente da estação actual do Molledo,
^ Na onomástica portugueza, como já dissemos, confundiram-se
muitas vezes — ce e se, — ci e si — ães e aes, — ães, ãos e ões, etc.
2 Com vista aos manes do Centieiro que, sendo um pobre artista,
quasi analphabeto,— um serralheiro,— foi aqui no Porto em ISóO a 1S70
notável orador de comicios e grande influencia eleitoral !. . .
248 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
NÓS temos varias povoações com o nome de Corvaceira
e com certeza todas tomaram o nome dos corvos, aves de ra-
pina, posto que em algumas d'ellas — nomeadamente na mi-
nha — não ha memoria dos corvos — por ser muito fértil e
desde longa data muito mimosa, muito bem agricultada e
cultivada como um jardim! , . .
E', porém, bastante declivosa e, como já dissemos, de-
via ser outr'ora — como toda a minha Penajulia, a freguezia
mais mimosa do Douro e de Portugal todo — uma brenha, um
matagal enorme, em que abundavam os bichos e as feras,
cujos cadáveres attrahiam os corvos.
Data, pois, d'esse tempo immemorial o nome da minha Co7'~
vaceira — e talvez que o nome de Setiaes, venha do tempo em
que o chão do lindo parque fosse terra de centiaes ou centieira?/
— Fiat lux.
Também a propósito de Cintra direi, que na minha opi-
nião Cintra vem talvez de Sintila por Suintila ou Swintila,
nome pessoal germânico.
Note-se que em velhos documentos se encontra a forma
Sintra — como em vez de Cezimhra a forma Sezimbra, — forma
que devia adoptar-se, pois na minha opinião Cezimbra, como
já dissemos, — vem do latim botânico sisimbrium, ii — certa
planta muito estimada pelos romanos, porque dava flores
brancas, de que faziam grinaldas para os noivos, como se lê
em Ovidio e no Magnum-Lexicon latino. ^
Seiceira
Volvendo a Torres Vedras e á série de nomes das suas
povoações com a desinência eira —ainda temos bastantes.
Pela ordem da lista supra, segue- se agora :
— Seiceira. — Pôde vir do portuguez popular seiceira por
seixeira — abundante em seixos^ pedras, como outras muitas
povoações nossas. Taes são as seguintes :
— Ceiça, Ceiçal {?!»..). — Ceiceira, Ceiceiro, Ceissa, por
Ceiça? ; — Seiça, appellido ; Seição, Seiceira (cá está ella !...);
Seixa, Seixal, Seixalinho., Seixalvo por Seixo Alvo ; Seixào,
Seixas, Seixedo, Seixeira, Seixenha ou 'Seixinha ; Seixezello
por Seixozello ; Seixido por Seixedo ; Seixieira, o mesmo que
Seixeira ; — Seixinha, Seixinhas, Seixinho, Seixinhos e Seixo,
^ De sisimbrium — Sisimbria — Sezimbra^- Cezimbra !.
— E' assim a arte nova.
TENTATIVA ETYMOLOaiCO-TOPONYMICA 249
— Seivo Alvo, o mesmo que Seixalvo supra; Seixo Ama-
rello, Seixo B7'anco, o mesmo que Seixo Alvo e Seixalvo;
Seixo do Ervedal^ Seixo do Côa, Seixo Grande, Seixo de Ga-
tões, Seixomil (?f,,.j; — Seixos^ Seixosa, Seixoso — e talvez
Leixões por Seixões, fragoedo na foz do Leça, onde está hoje
a doca de Leixões,— e fragoedo ou penhasco marítimo, deno-
minado também Leixões, no Caho de S. Vicente.
Junte-se finalmente Leixosa, povoação nossa^ mencionada
na Chorographia Moderna com o titulo de Leixosa ou Sei-
xosa, (sic).
Note-se que l e s confundiram-se e substituiram-se na
onomástica portugueza, como já dissemos em um longo tó-
pico supra.
• — Seiceira pôde ser também uma forma de Sinceira, ti-
rada do portuguez sinceiro — salgueiro, que deu sinceiral —
salgueiral.
Cf. Sinçães por Sinçaes e este por Sinceiraes — salguei-
raes ; Sinceira, Sinceira ou Seiceira (cá está ella !...); *Sm-
ceÍ7^a Branca, o mesmo que salgueiro branco ? ! . » . \ — Sin-
ceira Grande e Sinceirinha, povoações nossas, mencionadas
na Chorographia Moderna.
Mas — dirão os leitores — como podia Sinceira dar Sei-
ceira ?
Lá vamos.
Pelo diapasão francez Sinceira deu ou podia dar Sem-
ceira, que, em portuguez sôa quasi Seinceira, unde talvez
Seiceira ?
A escala seria, pois, — Sinceira — Semceira — Seinceira —
Seiceira !
Desculpem os meus poucos leitores tantos dislates e pro-
sigamos.
— Seiceira é o mesmo que Asseiceira (por Al ou A Sei-
ceira),— villa e freguezia próximas de Thomar, onde no dia
16 de Maio de 1834 se feriu a ultima batalha entre as forças
de D. Miguel e de D. Pedro.
Pinho Leal, meu benemérito antecessor, deu-lhe, como
lhe dá também a Chorographia Moderna, o nome de Assei-
ceira, mas diz que antigamente se denominou Ceiceira — e no
foral de D. Manuel — Ceiceyra.
Por seu turno Ceiceira deu ou podia dar Aceiceira, hoje
Asseiceira, por Al Seiceira, reminiscência árabe — em portu-
guez A Seiceira.
Com o mesmo diapasão e a mesma assimilação do pre-
250 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
fixo árabe ai — em portuguez a, — temos outros muitos no-
mes de povoações. Taes são as seguintes :
— Alagôa e Lagoa ; Alagoas e Lagoas ; Alagoinha e La-
goinha; Alamella e Lamella; Alapella e Lapella; Alares e La-
res f Alçarão e Carão f Alcarapinha e Carapinha; Alcaravella
e Caravela (sic); Alçaria e Caria; Alcohella por Alcovella — e
Covella ; Alcongosta e Congosta ; Alcordal por Alcardal — e
Cardai! • . . Alcôrrego e Corgo por Córrego t, . . Alcovas e Co-
vas ? Alfaião e Faião ; Al farinha e Farinha ; Al faro e jParo ;
Alfarrobeira e Farroheira ; Al fava e Fava,
Somma e segue : — Alfeirão e Feirão ; Alfeirões e JFez-
rôe^; Alfeiteira e Feiteira; Al foliões e Foliões f Al fontes e i<b?i-
tes^f, . . Al fora e Fora; Alfreita e Freita; Al fundão e i^wn-
eíâo; Alfundega e Fundego, m. de Fundega; Algalé e Galé;
Algramassa por Algramaça e Gramaça, nomes tirados da
grania, como Gramacha por Gi^amaça, Gramacho, appellido,
eíc, — por Gramaço ? — Gramaços, Gramas, Gramatal, Gra-
matinha, Gramatinhos, Gramella, Gramezinhos por Gramosi-
7ihos?, ~ Gramido por Grainêdo ; Graminheira por Grama-
nheira? ; Gr amoinha ?;— Gr arnosa, Gramosos, Gramual, Gro-
micho por Gramachof etc, povoações nossas.
— Hurrah pela grama ! . . ^
*
* *
Junte -se : — Ahnarinho e Marinho; Almeirinho e Meiri-
nho) Almiiro e Muro ; Alornbada e Lombada; Alpalhão e Pa-
Iheirão, o mesmo que Pallião e Alpalhão!... Alparrel ^ov Al-
parral — e Parral, o mesmo que Parreiral. ^ Alpedreira e
Pedreira; Alpedrinha e Pedrinha; Alpendurada e Pendurada)
Alportel e Portel; Alpossas por Alpocas e Poças; Ahibagueira
e Lobagueira, o mesmo que Lobeira^ nome tirado dos Z0605,
como i;2VZe deu Videira e Vidigueira ? f . . . Alufinha e Lm/?-
TiÃa; Alumeara e Lumiara; Alvarão — Barão e Farão, que se
encontra em Santo Varão; Alvarães e Fa?*ãe5; Alvariz e Fa-
7*ú ; Alvélho e FeZ/io ; Alventella e Ventiella, quasi Ventella ;
Alviobeira e Viuveiro, m. de Viuveira ? Alvogas por Albogas
— e Bogas ; Amadeiras por Almadeiras — e Madeiras .'... ^wza-
1 Cf. Pinhel— e Pinhal, — Freixial e Freixial, — Maciel por Aía-
c/a/ e este por Macieiral, — Souzel por Souzal e este por Salgueiral ?!. . .
etc.
^/ra ô/en g^í/í nra /e dernier !. . .
TENTATIVA ETYMOLOGICOTOPONYMICA 251
reira e Mareira, — o mesmo que Amoreira e Moreira!,..
Ameada e Meada ; Arneda e Meda ; Amedo e Medo ; Ametra e
Meira. ^—Aweixedo e Meixedo, contracções de Ameixieiredo ou
Ameixoelredo, bosque de ameixieiras' ou ameixoeiras ; Amoinha
e Moinha?... Amolar e Molar?... Amora e Mora; Amoraen e
Moraes.
— Amoreira e Moreira; Amoreirinhae Morei rinha; Anaia
e Nata; Apariça e Pariço, m. de Parica; Apatil e Paul; Apaula
e Paula ; Apaulinha e Paulina, o mesmo que Paulinha ; Ape-
ral e Peral; Aperrai e Perral; Aperreia e Perrello (sic) — m.
de Perrella ; A Pomheira e Pombeira ; Apothicario e ac? riden-
dum Boticário — casal e quieta. *
Junte-se :
— Apparicios — Pariço e Porisso, o mesmo que Pariço,
formas de Apparicius — Aj^paricio, nome d'um santo, etc.
— Aprestimo e Préstimo; — Arbouça por Albouça — e
JBouça /... — Arcella por Alcella — e Cella; — Arcellas por Al-
cellas — e Cellas ; — Arcipreste (oito povoações?!...] por Alci-
preste — e Cipreste. ®
— Ardão por Aldão^. — Q Dão.
— Armoniz por Almoniz ou Al Moniz, o mesmo que O
Moniz — e Moniz^ aldeia, casal, quinta e appellido d'alta co-
tação desde o tempo de Egas Moniz ^. ! . . .
— Arochas, Arrocha e Arivchas por Alrocha e Alrochas,
o mesmo que A Rocha e As Rochas,— Rocha e Rochas!...
— Arrabaça por Alrabaça — e Rabaça.
— Arrabaçal por Alrabaçal, o mesmo que O Rabaçal, —
e Rabaçal.
— Arrabalde ou Rabalde — e Rabalde ou Arrabalde (sic).
— Arrabalde e Rabalde.
1 Estes últimos oito nomes de povoações talvez sejam formas de
Amieirada, Amieireda, Amieiredo c Amieira? !. . .—Fiat lux.
- Apothicario por Alpothicario e este por Al ■{• Boticário —quer
dizer— A (villa, granja, quinta ou casa de campo) — do Boticário.
Cf. A do Alcaide, A do Bello, A do Cêa, A do Coelho, A do Freire,
A do Moita, A do Rainha, A do Rocha, A do Vigário, A dos Bispos, A
dos Ferreiros, A dos Francos, A dos Loucos, A de Barros, Adefroia por
A de Froila, etc, povoações nossas.
Estes prefixos A de... — A do... — Q A í/os... — da onomástica
portugueza obedecem á lei do metior peso, como as contracções, apoco-
pes e afereses de muitos nomes de povoações de Portugal, á^Hespanha,
da França, da Itália, etc.
3 Cf, Arcipreste ou Cipreste — e Acipreste ou Cipreste (sic), po-
voações nossas também, mencionadas na Chorographia Moderna.
2Õ2 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
— Arrobai ou Arrabalde — Rabal e Rahalde (sic).
— Arrábida entre nós — e Rábida na Hespanha.
— Arraia — e Raia.
— Arramadas por Al Ramadas, o mesmo que As Rama-
das e Ramadas.
— Arramadinlias por Al Ramadinhas, o mesmo que As
Ramadinhas — e Ramadinhas.
— Arranas por Al Ranas, o mesmo que ^.s- Rans, —
Rana e Rans.
— Arranhadouro e Ranhadouro ; — Arranho e Ranho?!...
— Arrangel por Al Rangel, o mesmo que O Rangel —
6 Rangel, appellido e nome de varias povoações nossas.
— Arreçaio — Recaio e Roçaio / . . . — Arredonda e Re-
donda ; — Arredondo e Redondo ?l... — Arretorta — Retorta e
Retortinha ? / . . .
— Não temos Arrevolta, mas temos também Revolta e
Revoltinha. ^
— Arribas — Riba e Ribas.
— Arribam e Ribão, talvez o mesmo que Ribeirão, po-
voação nossa também ! . . .
— Arriconha — o mesmo que Al ou A Riconha, fórma
talvez de Riquinha, povoação nossa também.
Somma e segue.
— Arroga e Roça ; — Arrogada e Roçada ? !... — Arroga-
das e Roçadas ; — Ari-oçaio e Roçaio ; — Arrochella e Rogella,
o mesmo que Rochella, diminutivo de Rocha ?! . , .
— ArroeUas e Ruellas ?.'... — Arroio, Arroios — e Roios.
— Arromas por Arromãs ? — e Romãs.
— Arromba e Romba ?/. . . — Arrota e Rota; — Arrotéa
6 Rotea ; — A^^rote^ Arroto (sic). — e Roto ? ! . . .
— Arruellas e Ruellas ; — Arrufina e Rufino, m. de Ru-
fina.
— Asanto por Al Santo? — e Santo; — Assaheiros e Sa-
beiro, quasi Sabeiros, talvez contracção de Saboeiro e Saboei-
ros ? ! . .
Cf. Saboeiros, povoação nossa também, — e Saboneiro,
appellido.
1 Revoltinha é uma quinta pequena, fronteira ao meu casarão da
Corvaceira, no Douro, e contigua á estação do Moledo.
Tomou o nome d'uma volta muito cega, que dá junto d'ella uma es-
trada publica.
O re, prefixo de Revolta e Revoltinha é augmentativo, como o de Re-
torta e Retortinha.
TENTATIVA ETYMOLOOICO-TOFONYMICA 253
— Àssade e Sades, plural de Sade; — Assafroeira e Sa-
foeiro por Safroeiro, m. de Safroeira?
— Assamaça, Afssamassa e Samaca? — Asseca e í^eca; —
Asseiceira e Seiceira. Cd está ella ? !
— Assenta — Cenfas, Sentas, Senda e Sendas 1 /. . . — As-
silhò e Silho; — Assinceira e Sinceira ?/. . . — Assinzas e Cin-
zas '! . . ,
— Assorda e Sor da, que se encontra em Malhada Sor da;
— Assuhida e Subida; — Arzelas por Azelas ou Assellas — Cel-
las e Sellas ? / . . .
— Ataboeira e Taboeira; — Atnboeirinha e Taboeirinhaf...
— Atahide e Athaide; — Tainde por T^azcíg e Thaide, contra-
cções de Athanagildi, que deu também Tagilde, como já dis-
semos.
Com vista ao rev. sr. João Gomes d^ Oliveira Guimarães^
meu bom e velho amigo, distincto escriptor publico e bene-
mérito abbade de Tagilde, no aro de Vizella, ^
— Atalaia e Tala ia; — Ataia e Ta ias; — Atai j a e Taijas;
— Atalaião (em Portalegre) — e Tayão ? / . . .
Ataia e Taias, — Ataya e Taijas são contracções de
Atalaia e Atalaias, como Tayão é evidentemente aferese e
contracção de Atalayão ? ! . . .
A bússola é o ouvido.
Note-se que antigamente se escrevia Atalaya por Atalaia,
—Atalayas por Atalaias, — Atalayão por Atalaião, — Talaya por
Talaia e Talaija, por Talaya, unde Ataija e Taijas supra? !...
— i?iríi í^ieri g?íi rira Ze dernier.
*
* *
— Atalhada — Talhada e Talhadas — pedras fendidas
ou partidas pelos raios /. . .
1 Tem sido também s. ex.a presidente da camará municipal de Gui-
marães e da benemérita Sociedade Martins Sarmento — e é lioje s. ex.a
quem melhor conhece não só Guimarães, mas todo o seu vasto concelho,
como provam as longas séries de artigos que tem publicado na Revista
d'aquella Sociedade.
Também lhe deve muito o Portugal antigo e moderno, pois forne-
ceu vastos apontamentos ao meu benemérito antecessor Pinho Leal — ea
mim próprio, nomeadamente para os artigos Vizella, Caldas, — Vizella,
rio,— Vizella, S.João,— Vizella, S. Miguel— e Vizella, Santo Adrião,
como eu declarei nos mencionados artigos e novamente declaro, beijan-
do-lbe as mãos com profundo reconhecimento — para não me expor ao
labéu d'ingrato.
254 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
— Atalho — Talho e Talhos; — Atoleiro e Toleiro; — Ato-
leiros e Toleiros ? ! . . » — Atiíinha por Tia Anna, — ém cal-
laico — Tia Ana, que se lê Tia Anha.—Atianha quer, pois,
dizer A tia Anna!?, . .
Os leitores pódera rir, como eu próprio estou rindo ;
mas notem que temos também uma povoação denominada
Tia Annica, irmã gémea da Tia Anna — e talvez uma e a
mesma senhora, pois entre nós Anna e Annica são formas
do mesmo nome.
( "f. Annica, Annicas e Antonicas, povoações nossas também.
Junte-se Atranco por Altronco? — Trancão por Troncão;
Trancões por Troncões; Trancoso por Troncoso e Tronco l , . .
Atranco, aldeia, na minha opinião é uma forma de Atronco
por Al Tronco — O Tronco — e tomou talvez o nome d'algum
tronco d' ar core magestoso, que alli houvesse, como houve mui-
tos em Portugal — o ainda hoje se encontram alguns que as-
sombram ! — Já mencionámos castanheiros com 16 metros de
circumferencia no tronco — e na villa de Trancoso ha extra-
muros em freixo colossal — o maior do nosso paizf. . .
Eu já o vi com espanto muitas vezes e tenho duas bellas
photographias d'elle, tiradas expressamente para mim, quando
ha annos tentei escrever e publicar um livro com relação ás
nossas arvores e plantas mais notáveis,
Incommodei muitos amigos e cheguei a colher muitas
noticias d'arvores e plantas magestosas de todas as nossas
províncias, comprehendendo o Algarve, a Madeira, os Açores
e as nossas colónias africanas. — Tudo, porém, puz de parte,
por estar no fim da vida e porque esta pobre Tentativa e
outras impertinências litterarias me roubam o tempo todo.
De passagem direi que no Algarve — segundo me disse
o meu bom e velho amigo sr. José Gonçalves Vieira, muito
digno Prior e Vigário da Vara de Villa Nova de Portimão^
houve na freguezia do Alferce, concelho de Monchique^ um
castanheiro de tal ordem que, tendo o tronco já fendido, pas-
savam pela abertura d'elle cavalleiros — de um lado para o
outro?!. .
Tinha e tenho também apontamentos com relação a cas-
tanheiros magestosos ò.\4.rouca, do Fundão, de Vinhaes, etc,
— e a choupos de Setúbal, sobreiros do Alemtejo, nogueiras
àsi Beira Alta^ vides do Douro, de Paços de Ferreira, àQ Avin-
tes, etc. — e uma bella photographia da magestosa carvalha
do Presépio, de Castro Dayre,
O sr. Chrystiano Vanzeller, um dos cavalheiros mais con-
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 2ÕÕ
siderados e mais ricos do Porto, tem na sua quinta á^ Avintes,
concrelho de Gaya, uma videira americana isabella, que forma
por si só uma grande ramada e já deu em um só anno duas
pipas- de vinho, de 5õO litros cada uma^. ! , . .
Prosigamos.
— Atai — Vai e Valle ; — Avanteira — Aventeira — e,
Venteira. — Avanteira é diapasão francez de Aventeira. —
Avargas e Vargas — o mesmo que Vargeas^ Varjas e Varxeas.
Avargas por Al Vargas quer, pois, dizer As Varjas, Var-
geas ou Várzeas. — Avellal e Vellal por Avelleiral é o mesmo
(\\XQ Avellar. — Avellanoso e Vellanoso por Vellanoso.f /...
— Avelleda por Avelleireda — e Velledo, o mesmo que
Velleda, como Vellida e Vellide, povoações nossas também,
podendo juntar-se Bellida e Riba Bellida por Vellida. —
Belledo por Velledo^ o mesmo que Bellido ; — Bellide^ o mesmo
que Veílide e Bellido — e Bellaido por Vellanido, o mesmo
que avellanido, por avellanedOy que deu Bellide, Bellido, Veí-
lide e Velledo por avellanedo.
Junte-se Avelleiro e Veleirinho, aldeia, por Avelleirinho,
diminutivo de Avflleiro ; Avellosa por avelleirosa ou avella-
nosa — e Vellosa; Avelloso por avellanoso — e Velloso ; Aveneda
por Avelleda — e Venade por Veneda ? / . . .
— E' assim a arte nova — e rira bien qui rira le der-
nierf...
Note-se que a raiz d'estes últimos nomes todos é o latim
— avellana, avellã ; por seu turno avellana vem do latim Avel-
la, povo da Campania, — chamada também Avellino, unde
Avellino, nome d^im santo, etc.
Vellosa e Velloso podem vir também do latim vellus,
eris, — a lã ou o vello da lã. As meias tintas confundem.
Prosigamos.
— Aventeira, o mesmo que Avanteira supra, — e Venteira,
— Aventosa e Ventosa ; Averdiães por Averdiaes ou Averdeaes
— e Verdeal^ sing. de Verdeaes ; Avessada e Vessada : Avessa-
das G Vessadas ; Avihora e Víbora ; Avidagos — Vidago e Vi-
tego por Vidagoff, . .
Por seu turno Vitego deu Vedigal, Vedigaes, Vidigal,
Vidigalinlio, Vidigão, Vidigueira e Vidigueiras, povoações
nossas também.
Vidigão por Videgão e este por Vitegão — é augmenta-
tivo de Vitego.
Todos estes nomes supra foram tirados do latim vitis' — a
vide, a videira, a cepa, a uva e o vinho, productos das videiras.
256 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
* *
Junte-se: — Avinho e Vinho— do baixo latim víniola —
pequena vinha.
Viniola deu Vinhos como Ecclesiola deu Grijó, — ficariola
deu Figiieirôa e Figueiró, — Ahxiolus, diminutivo de Alexms
— Aleixo — deu Alijó e por aferese Lijô, o mesmo que Aleixi-
nho.
Também Hectoi% oris — Heitor — deu Hectorolus, i unde
Eituró por Heitoró, povoação nossa, o mesmo que Heitorzinho,
como já dissemos.
V. o tópico : — Diminutivos com a desinência olus, ola,
— Avitureira e Vitoreira por Vitureira — é o mesmo que
Abiiureira por Abutreira, abundante em abutres^ como já dis-
semos.
— Azabucho e Zabucho — são talvez formas de Azambujo! ...
Note-se que antigamente em vez de Azambujo escrevia-
se Azabujo, unde Azabujo, Azabucho, e Zabucho, -pois já, jó,
ju e chá, chó, chu com o valor de xá, xo, xu — trivialmente
se confundiram e substituiram.
— Azagãe-s por Azagaes — e zagaes, pastores.
— Azagaia e Zagaia; Azalfrias — Al fria e Frias f... —
Azambuja e Zamhuja; Azambujeira e Zambujeira; Azambuji-
nha e Zambujinha; Azavel e Zavel por Isabel/.,, Azebral e
Zebral — abundante em zebras. — Azeimota por Azémoita — e
Zémoto por Zémota ou Zé Moita, o mesmo que José Mota ou
José 3Ioita^
A zeimota por Al Zeimota — e este por Al Zémoita — o
José Mota ou José Moita — é um especinien da onomástica
portugueza; mas será tudo isto um dislate?
Fiat lux.
Cf. A do Mota — o mesmo que A granja, quinta, casa de
campo ou villa do Motta — povoação nossa também, mencio-
nada supra.
Junte-se ainda :
— AzeiteÍ7'os e Zeiteiros ! , , . Azenha e Zenha; Azenhas
e Zenhas; Azevedinho, Azevinho — e Zevinho.
Estas povoações tomaram o nome do azevinho, arbusto
espinhoso, que deu azevinhedo e por contracção Azevedo, ap-
pellido, etc, — e Axêvo, contracção de Azevedo.
Tèem a mesma etymologia :
— Azeval por Azevedal; Azevido por Azevedo; Azevinheiro,
Azevinhos^ Azibal por Azeval ? Azíboso por azivedoso e este por
TENTATIVA ETY&IOLOGTCO TOPONYMICA 257
azecedoso? Azido por advo e este por Azevo? !, . . Azical por
Azeval supra; Aziveiro por Azeveiro e este por azecedeiro.
Também Azival e Aziveiro podem ser contracções de
Azevinhal e Azeinnheiro.
*
A Ilefipanlia tem muitos nomes similares, corresponden-
tes aos nossos, taes são entre outros : — Acehal, Acebeda, Ace-
bedo, Acebeiro, AceMdo, Acebo, Acebosa, Acebro por Aceho ?
Acev€da,[Acevedo, etc.
Ao mesmo diapasão de Azevedo obedecem os nossos ap-
pellidos JJãrbedo, Azevedo^ Macedo^ etc.
Barhedo tomou o nome das Barbas que, por serem um
dos caracteristicos mais salientes do rosto, deram outros mui-
tos appeliidos — e por seu turno estes deram o nome a varias
povoações nossas. Taes são as seguintes:
— Barbacão por barbas de cão f — Barbacena, Barbada, o
mesmo que barbuda — mulher que tem grandes barbas, o que
não depõe muito a favor d'ella, pois já disse Covarrubias, sá-
bio escriptor hespanhol : — Mujer barbuda de lejo>; la saluda!...
Prosigamos.
— Barbadães por Barbadões? Barbadans por Barbadães,
Barhadãos onBarbadões ? Barba d''xiIho, povoação nossa, e
Barba de Fuerco (Barba de Porco) — povoação hespanhola,
que auctorisam a forma Barbacão por barbas de cão supra.
Barbadeno ? ; Barba de Pelle f Barbães por Barbadães supra ?
Barbaido por Barbido, infra, o mesmo que Barbedo, supra?
Barhaláo por Barbalão, talvez o mesmo que Barbadãol...
Ba7'banxa por Barbancha, contracção de barba ancha, gran-
de. Cf. Mangancha por manga ancha, — Pedrancha por x>edra
ancha, Malhadancha por malhada ancha, etc, povoações nos-
sas também, como Lameirancha por lameira ancha.
E' assim a arte nova — e rira bien qui rira le dernierf...
— Barbanxo — é o mesmo que Barbanxa^ supra.
Cf. Portanxo (sic), povoação nossa também, o mesmo que
portoancho, grande.
(^om o mesmo diapasão de Barbanxo e Portanxo tam-
bém temos na onomástica portugueza Balancho e Balanxo,
por vai ou imlle ancho, grande.
Não temos Valancho nem Vai ou Valle Ancho, mas te-
mos muitas povoações, ao todo rnais de mil, que tomaram o
nome dos .valles, — e mais de cem com os nomes de Vai Gran-
258 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
de, Valle Longo, Vai Maior, Vallongo, o mesmo que Valle
Longo, — e Valmôr, o mesmo que Valle Môr ou Valle Maior,
Proseguindo com a lista das nossas povoações que to-
maram o nome dos appellidos tirados da harha^ ainda temos
as seguintes :
— Barbas, Barbas de Lebr^e, Barbas de Porco (na Hespa-
nha Barbas de Fuerco, supra) ; — Barbas Novas, Barbas ra-
las (sic) ; — Barbatona, ^ Barbatoi^ta, Barbutos, Barbedo (cá
está eWel...);— Barbeira (note-se que é tima aldeia f !...] ; —
Barbeiro, Barbeiros, Barbeita, Barbeita de Baixo, Barbeita de
Cima, Barbeita ou Barbuta (sic?!...); — Barbeitas, Barbeito,
Barbeite, o mesmo que Barbeito f... ; — Barbeito ou Barbei-
ta (?/...); — Barbelães por Bar bala es ou Barbalões e este
por Barbadões.
Note-se que l e d confundiram-se e substituiram-se na
onomástica portugueza, como já dissemos e logo provaremos.
Somma e segue.
* *
— Barbeloto ou Barbelote, que recorda Barbofj appellido
no Porto. — Barbialhos por Barba d'Ál}ws, o mesmo que Borba
d' Alho, supra. — Barbido, o mesmo que Barbedo, supra, — e
Barbudo, infra.
— Barbitello, diminutivo claro de Barbito, o mesmo que
Barbido e Barbedo, supra, — e Barbudo, infra.
Por seu turno Barbito deu ou podia dar Barbeito q Bar-
beita supra, já porque na onomástica portugueza — i deu ei ;
— já porque temos Barbeita ou Barbuta, o mesmo que Bar-
bita, Barbida e Barbuda, — Barbuta ou Barbeita (sic), — e
Barbuto por Barbito e Barbeito?!...
— E' assim a arte nova — e rira hien qui rira le dernier /...
Prosigamos.
— Bnrbolega por «Barbolega» ou Barbolenga — é talvez
uma forma de Barbalenga por Barbalonga — barba comprida,
o mesmo que barba grande, barba ancha e Barbanxa supra.
Note-se que a, e q o trivialmente se confundiram na ono-
' Ao diapasão de Barbatona obedecem os vocábulos portuguezes
mocetona, pimpona, pernona, intrujaria, etc.,— e Campana, Silveirona,
Cachadona, Crasona por Casarona? ; — Atagona, Quintandona, Monte
da Feiteirona e Foros da Catampona ? /. . . — povoações nossas,
^í^isum tçneaiis,
TENTATIV^ ETYMOLOaiCO-TOPONYMICA 2.'í)
mastica portuguoza — bem como trivialmente se escrevia e
com til^ por en e cm. Fiat lux.
*
* ♦
Ainda temos JJdrhosn, appellido vulgar dhomem, po.sto
que entre nós a desinência a é feminina.
Adoptámos o appellido Barbosa por Barhoso, como Fer
reira por Ferreiro^ posto que Ferreira^ appellido d 'este Pe
tnis in cuncfls niliil in omnihffs-, talvez provenha do latim
ferraria — mina de ferro ou ferraria. ^
Em compensação temos outros appellidos com a desi-
nência a, em vez de o. Taes são Pei.roto por Peixota, de pei-
xota— pescada, — e Tinoco por Tinoca,— de tinoca, o mesmo
que tinalha — pequena tina ?
Cf. Tinallia, Tinalhas, Tinoca e Tinoquinha, povoações
nossas.
Na Hespanha também ha differentes povoações, cujos
nomes foram tirados das barbas. Ahi vae uma amostrinha do
panno :
— Barba de Puerco, Barbacana ? Barhacharro, em Bil-
bdu, provincia da Viscat/a ; Barbadanes, Barbadelo, Jíarba-
diUo, o mesmo que Barbadelo ; Barbain, Barbalimpia, em
Cttenca ; Barbalos, Barbarvoja — nós dizemos Barba Roxa ;
^ Barba ruens {Barbas ruins?); Barbnstro ? ; Barbate, Barba-
tain, Barbatana, Ifarbecho, Barbeira, Barbeiros, Bnrbeita, Bar-
beitas, Barbeito e Barbeitos, — ^stsis ultimas quatro povoações
demoram na Gallisa, irmã gémea de Portugal.
A Hespanha ainda tem Barbens, em Lerida ; Burboles^ em
Saragoça; Barbolla em Guadalajara, Soria e Segóvia; Bar-
bote, na Galliza,— G Barbués, em Huesca.
Desculpem os nossos bons visinhos o bater-lhes á porta,
pois já é tempo de acordarem e de investigarem também a
etymologia dos nomes das suas povoações.
Nós temos também muitos appellidos tirados das borbas,
taes são, entre outros, os seguintes :
— Barba — nobre e antigo.
Foi appellido de José Cardoso Barba de Menezes, d'Ar-
mamar, fidalgo distincto e distincto general, bera como do
brigadeiro seu irmão — Gonçalo Cardoso Barba de Menexes, etc.
^ Também dizemos Gama, mo Gamo, posto que o appellido Gama
vem de Gamo esp. de veado.
260 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
— Barbadão, appellido histórico do tempo de D. João I ?...
— Barba Longa; Barba mea, ou Barba meã. Este appel-
lido data do século xv.; Barbas de I^erro, Barbas de Lebre,
Barbas de Lobo, Barbas de Porco, Barbas Novas e Barbas
ralas.
Estes appellidos são também muito antigos, pois quasi
todos deram o nome a povoações nossas.
Junte-se Barbata, antigo nome de mulher, — Barbatanas
e Barbato, nome d'um santo, como Barbea, etc.
Fecharemos este longo tópico das barbas a propósito do
appellido Barbedo, mencionando o facto do nosso vice-rei da
índia que, para restaurar os muros da praça de Diu, obra que
demandava sommas^ de que elle no momento não podia dis-
por,— pediu-as á camará de Goa, dando como penhor alguns
cabellos das suas próprias barbas. — E a camará de bom
grado o attendeu, não exigindo outra caução ? ! . . ,
— E' facto único na historia — facto que muito recom-
menda os portuguezes d'outr'ora.
*
* *
Ad ridendum e a propósito da Barba de Pelle supra^ ahi
vai outro facto que se deu em I^io Tinto — nó meu tempo —
com o meu parochiano Júlio Schneider, allemão^ estabele-
cido como schipchandler aqui no Porto.
Era elle uma excellente pessoa,, muito sympathico, muito
generoso, muito animado e muito trabalhador, mas também
muito desiquilibrado e muito ^gastador.
Ganhou rios de dinheiy^o, mas quanto ganhava tudo gas-
tava ou malbaratava — e deixou a familia em precárias cir-
cumstancias ! . . .
Indo elle certo dia com um bando de comilões, seus ami-
gos inseparáveis, a Rio Tinto, por occasião da festa e roma-
gem de S. Bento das Peras, — depois de comer algo e beber
a valer na forma do costume, pôz-se a rir, saltar e brincar
com os lavradores e lavradeiras.
Usava elle grandes barbas — suissas muito compridas e
aguçadas — e, quando se dispunha a abraçar uma lavradeira,
certo aldeão que a acompanhava e não gostou da brinca-
deira,— rompeu contra elle e arrancou-lhe uma suissa in-
teira ? ! . , .
Armou-se grande motim, porque os taes comilões ou
zangões, que exploravam e acompanhavam o pobre Schnei-
TE>íTA.TIVA ETVMOLOGUCO-TOPONYilICA 261
deVf uniram-se logo a elle. — Por seu turno os lavradores em
grande numero, armados de cacetes e varapaus, uniram-se
rapidamente ao aggressor, dispostos a espancal-os a todos.
Interveiu a tropa que policiava o arraial e a tempestade
serenou ; mas o pobre /Sch/ieider ficou sem a grande suissa
que o lavrador lhe arrancou. — Assim andou muito tempo
manco das barbas e fazendo rir as pedras das calçadas, até
que a suissa que perdeu e ficou reduzida a barba de pelle —
novamente cresceu.
— Risum teneaUs,
ProsigamoS.
— Azeredo — appellido congénere à^ Azevedo e Barbedo,
— é contracção diazereiredo, bosque ou matta á^azereiros, —
arvore ou planta rosácea da tribu das armjgdaldceas.
Por seu turno azereiro pôde vir do latim acer, eris —
uma espécie de bordo pu faia que deu Azere^ nome d'uma
villa e de duas freguezias nossas. Isto me leva a suppôr que
acere (Azere) foi entre nós a forma anterior de azereiro por
acereiro ? ! . . .
A bússola é o ouvido.
Também na minha opinião Alvaiázere, villa e freguezia,
tomou o nome de Aha Azere — acere branca ou alva, como
faia branca, choupo branco, salgueiro branco, etc.
Cf. também Penalva, Pedralva, Villa Alva, o mesmo
que Villalva^ Montalvo, Casa Branca, Monte Branco, etc, po-
voações nossas.
Congénere à^ Azevedo e à' Azeredo é o nosso appellido
Macedo, que pôde vir de maceiredo — bosque de maceiras ou
macieiras, como já dissemos, — ou do hespanhol Manzanedo,
que se lê Mancanedo, — bosque de manzanas — m^aceiras ou
macieiras e maçans, quo deram o nome a differentes povoa-
ções da Hespanha.
Ahi vai uma lista d'algumas.
— Manzanal, Manzanares^ Manzaneda, Manzanedillo, Man-
zanedo (cá está elle!.. .); — Manzanera, Manzaneros, Manza*
neruela, Manzanete, Manzanilla, Manzaríillo, Manzano e Man-
zanos, — Massana, Massanar por Massanal, — Masana Masa-
nella (nas Baleares) ; — Masanel, Masegosa, Masegoso, Mase-
guilla, Masenga, Mases, Maset por Masanet e este por Man-
maneie? — Masid e Maside ipor Masanide e este por Manzanide,
o mesmo que Masanido por Masanedo ou Manxanedo ?
Junte-se Mazaeda por Mazaneda^ — Mazaira por Maza-
naira? — Mazan por Mazana? — Mazanal, o mesmo que J/a-
262 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
sanar, supra, — Mazara por Mazera e este por Mazanera ou
Manzanera, supra ; — Mazares por Mazanares e este por Man-
zanares, etc, povoações da líesjjanha.
Desculpem os meus bons visinhos tantos dislates.
Manzanedo, que na Hespanha se lê Mançanedo, podia
muito bem dar Mazanedo, 3Jaçaaedo e Macedo.
Por seu turno Manzaneda com o mesmo diapasão caste-
lhano de Mançaneda, podia dar maçaneda, unde Maceda,
nome de varias povoações nossas também. — E com o z sibi-
lante portuguez, Manzaneda podia também dar — e na minha
opinião deu — mazaneda e Maxedal nome 'd'uma fonte, de
uma quinta e d' uma velha rua de Larnego.
— E' assim a arte nova!
Também temos Nazído, aldeia, — talvez forma de Ma-
zido, por Mazedo, irmão gémeo de 3Iazeda, pois e e i — m e
n — confundíram-se e substituiram-se na onomástica porlu-
gueza^ como jà dissemos.
Na minha opinião também Manxanilla, supra, que se lê
Mancanilha, — deu Mancilha ou Mansilha^ appellido nosso!...
Mancillia ou Mansilha, quer, pois, dizer Maçanzinha ou
Maceirlnlia e pertence aos muitos appellidos nossos, tirados
das maçans e mac.eiras ou macieiras. Taes são as seguintes :
— Maçans ou 3Iaçãs, — Macedinlio, Macedo.^ Maceira,
Macewó^ Macens, povoação nossa e o mesmo que Maçãs; —
Macide e Macldo, também povoações e formas de Macedo ; —
Macieira, Maciel por Macial e este por Macieiral, etc.
Cf. Pinhel e Pinhal, Portel e Portal, Freixiel e Freixial^
Corvel e Corval, appellidos e povoações nossas, como Lourel
e Loural, Esjyinhel e Esiúnhal.^ Mourel e Moural, Ermdel e
Ervedal, Fael e Faial, — Ferrei e Ferral, Tamel e Tamal,
Turquel e Turcal, o mesmo que Torgal, Trogal e Trugal, ap-
pellidos e nomes de povoações tirados da torga, como Torgo,
Torgos, Torgueda, etc.
Volvendo ao longo tópico do prefixo ai, assimilando-se
na onomástica portugueza, junte se para atesto do casco:
— Azi beiro por Azihreiro ou Al Ziheiro — e Zihreiros, plu-
ral de Zihreiro. — Azido e Zido?f... — Azoia, Azoio — e Zoioí..,
— Azarara e Zurara. — A villa de Mangualde chamou-se an-
tigamente Zurara da Beira,
Veja-se no Portugal antigo e moderno — Azurara e Man-
gualde, artigos do meu benemérito antecessor Pinho Leal, —
e Zurara da Beira, longo artigo meu, no qual ampliei e re-
ctifiquei os do meu antecessor.
TENTATIVA ETYMOLOOICO-TOPONYMICA 263
AZURARA — esboço etymologico
Alguém diz quo Azin^ara vem de azul ara^ e quer dizer
altar ou ara de pedra azul ; mas na minha opinião Azurai-a
è uma forma de Azurera, o mesmo que Azureira e Açoreira,
povoações nossas, que tomaram o nome dos açorei.
Por seu turno açor, ave diurna de rapina ^ — vem do
latim astm\ uris, que na Hespanha deu astor e axôr — e em
Portugal açor, o mesmo que azôr, porque a Hespanha, não
tendo z sibilante, escreve azôr, mas lê açor. *
Azm^ara ou Axurera e Axureira são^ pois, reminicencia
da occupação leoneza ou callaica, e soavam in illo tempore
Acurara^ Açurera e Açureira^ unde Açoreira, povoação nossa,
que tomou claramente o nome dos açores, como outras mui-
tas povoações nossas. — Taes são as seguintes :
— Açor, Açoreira, Açoreiras, Açoreiras de Baixo, Aço-
reiras do Meio, Açoreiras do Porto, — e Açores, aldeia, villa,
freguezia, quinta e archipelago !...
Junte-se Axtieira por Azurara, o mesmo que Açoreira ?;
— Azueira de Baixo, Azueira de Cirna e Azueira do Meio, ir-
mã gémea de Açoreiras do Meio, supra.
— Azuleiral por Azureiral, o mesmo que A.çoreiral? !.. ,
— Azura7'a, Azureira e antigamente Zurara, o mesmo
Azurara, povoações que tomaram o nome dos açores pela
forma castelhana azôres.
1 O açor, como diz Valdez no seu Diccionario espaíwl-portugués,
é uma espécie d'ave rapina diurna da tribu dos falcões, siniilhante ao
gavião, e tem cerca de dois pés d'altura. — A sua côr é negra clara por
cima — e branca no ventre com manchas negras como nas azas e no bico.
A cauda é cinzenta e branca -• e as pernas são amarellas.
Foi denominado por Linnêu — falco palumbarius — falcão pom-
beiro.
Valdez, vbs. astor e azor.
2 O latim astar deu ou podia dar assar, como em bom latim has-
tala — maravalha — deu assula — ou v. v. — segundo se lê no Magnum
Léxico n.
Por seu turno assar deu açor por assôr — e talvez Ansur, appel-
lido archaico de Guesto Ansur, o famoso heroe das cem donzellas.
V. Figueiredo das Donas no Portugal antigo e moderno.
De passagem diremos que o estranho nome Guesto vem claramente
de Godesteus, ei, antigo nome pessoal, cujo patronímico Godestei deu Gos-
tei, freguezia nossa.
— E' assim a arte nova !. . .
Godesteus foi abbade do convento da Vaccariça e do de S. Salva-
dor de Bouças.
264 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Também temos Estoril por Astoril, que tomou o nome
do antigo castelhano astôr, o mesmo que azar e açor, — ou
directamente do latim astur, uris supra.
Estoril é, pois, o mesmo que Estoral, Astural, Açoreiral
ou Azuleiral ? — terreno, sitio ou praia abundante em açores,
— Estoril por Esforal, o mesmo que Astural, obedece ao
diapasão das nossas muitas povoações, em cujos nomes se
encontram as
Desinendias Ih e flh com o mesmo ualor
Occorrem-nos as seguintes :
— Aroil e Aroal, o mesmo que Aroeiraly bosque ou
matta rV aroeiras, — lentisco, planta.
— Barril e Barrai — povoações que tomaram o nome
do barro, como outras muitas povoações nossas, — ao todo
mais de cem.
Já demos uma lista d'ellas.
— Bizarril por Bezerril — e Bezerral f ! , .
— Cabril e Cabral ; — (7^rre7 e Carral ; — Carvoil e Car-
voai, povoações que tomaram o nome do carvão. — Fail e
Faial, povoações que tomaram o nome das faias, — Fetil e
BYtal — povoações que tomaram o nome dos fétoSj fentos,
ficitos ou felgas.
Já demos uma extensa lista d'ellas.
— Landril e Landal por Landral^ povoações que toma-
ram o nome das landes ou landras — bolotas. — Louril e Lou-
vai por Loureiral.
— Malliadil e Malhadal, povoações que tomaram o nome
das malhadas — eiras — sitios onde se malha o pão,— ou das
malhadas, colmeaes — ou das malhadas — curraes, sitios onde
se acolhe e dorme o gado.
Somma e segue :
— 3Iarroquil por Barroquil — e Barrocal, povoações que
tomaram o nome dos barrocos^ o mesmo que algares e bar-
rancos.
Já demos uma lista d'ellas.
— Mouril e Motiral, povoações que tomaram o nome
talvez dos mouros, como outras muitas povoações nossas, en-
tre cilas Monle de Adeus Mouros? ! . . .
— Ouril e Ourai?...
Ahi vae um jorreiro de dislates meus, que por si só me
dá entrada franca em um manicomio.
TENTATIVA ETV^MOLOOICO-TOPONYMICA 265
— Leia quem tiver coragem.
— Ouril e Otiralj na minha opinião -talvez sejam afe-
rese de LouriL e Loural? I . . .
Cf. Labarella o mesmo que Lavarella — o Varella, povoa-
ções nossas, bem como todas as que vou citar e que são um
espécimen interessante da onomástica portuçjueza comparada.
Labouclnlio o BoncinJio] Laòrunhal e Abrunhal ? l . . . La-
ceira e Cetra] Lacerda e cerda ?/ . . . Laeira e Eira] Lagiella-s
— e Giella por La(jiella ? ! , . Lamó e Mó] Lapella e Pella?
Lapinha o Pinha ? Larcã e Arca ou Arçã — como se le na
Chorographia Moderna] T^atães — Atdes e Athãesí! ... I^avage
— Bage e Vage / . . . — Lavaginhas — Baginha, Vaginha e Va-
ginhas f ! . . . I^avariz e Variz] Leça — Eça e Beca, appellidos
tirados de Decia villa — granja, quinta ou casa de campo de
Becio, nome romano?!... Leirão e Eirão] Leiró q Eiró] Lei-
rós e Eiroz] Leside por I^e Side — Cide e Side? I . . Lecer —
e Ver, que se encontra em ;iS^. João de Ver.
Junte-se Levide e Vide] T^origo e Origof.., Louraes e
Ouraes] — Loural e Ourai? ! . . . Louriçal, cujo plural é Lonri-
çaes e Oitricaes? — Louril — cujo plural é Louriz — e Ouriz — Lou-
ro e Ouro — na freguezia de Lordello do Ouro, freguezia que
tomou o nome do baixo latim lauritellus, dim. de lauretum, que
deu Loreto, I^oredo e Louredo por Loureiredo, — do latim Latc-
rus~-lou.YO e loureiro. — Lourim, que podia dar Louvem e Ou-
rem. ^ L^ourosa, Lotiroso e Ouroso f ! .. Lucriz e Criz, rio, etc. ^
— Lu/fe — e Ufe, Casal f/' Ufe, Estrada d^ Ufe, Fonte d'Ufe,
etc. — De Ataulphus, i, nome germânico, que deu também
Adaufe, Adufe, aldeia, — Adoufe, Adoufe ou Adaufe (sic);
— Villar d'Oufe, Casal Boufe por Casal d'Oufe e este por Ca-
sal d'Ufe, povoações nossas, — e Adolpho, em latim Adulphus,
i, nome pessoal ? ! . . .
— E' assim a arte nova — e rira bien qui rira le dernierl...
Junte-se Luilhas por Lo Llhas — O Ilhas ? - e Ilhas, po-
voação nossa.
1 Cf. Agastem por Afrosiim ; — Alvem e Alvim ; — Daem por Da-
dem — e Dadim; Carem e Carim;— Pintem e Pintim;— Tourem e Tau-
rim;— Alpoem- aldeia.— e Alpoim— c:isa. nobre, quinta e appcllido d'alta
cotação.
Veja-se o tópico mkã: — Diapasão francez.
2 Criz por Ocriz pôde vir de Ocrisiis, patronímico de Ocrisius, ii,
nome romano.
A mãe de Sérvio Tullio chamava-sc Ocrisia, como se' lê no Aía-
miim-Lexicon.
266 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
— Luriz por Loriz — e Orizt...
Cf. Loariz e Ouriz, supra.
Somma e segue :
— Lutra — e Utra, appellido, o mesmo que Lutra, casal,
etc, que tomou o nome do latim lutra — lontra, animal am-
phibio.
Cf. Lontra e Lontreira, povoações nossas, — Lampreia,
appellido d'alta cotação, — lampreia e Lamprieira^ povoa-
ções nossas também. ^
— Luval por Loval — e este por Lo Vai, o mesmo que
O Vai — Vai e Valle, povoações nossas ; mas louvai por Lo-
hal pôde vir também dos lobos, como Luvar, Luvares^ etc.,—
ao todo mais de cem povoações nossas.
Em muitos dos nomes supra, na minha opinião andam
absimílados e bem ou mal usados como prefixos os artigos
castelhanos lo, la, los e las, metathese do artigo árabe ai,
que entre nós deu talvez {?!...) — o, a, os e as, o mesmo que
em Hespanha lo, la, los, las.
— Fiat lux ! . , .
* *
Volvendo ao tópico das nossas povoações com as desi-
nências il e ai, — ahi vão mais algumas.
— Outíl por Otiteirilf— e Outeiral, Fasmil — e Pasmai!,..
A etymologia d'estas duas nossas povoações — habet den-
tem coelhi / . . ,
Eu supponho que Pasmai vem de Pasmil — e este de
Casmil por Cazimiri, patronimico de Cazimirus, i, — Cazi-
miro, nome d'um santo, etc, pois ca, co, cu e ta, to, tu con-
fundiram-se e substituiram-se na onomástica portugueza, como
jâ dissemos.
Cf. Casimira e Casimiro, povoações nossas, — bem como
também Casmillo por Casimiro ? ! t ! . * .
Também na minha opinião Cazimiri deu Creixomil, nome
de duas freguezias e de uma aldeia nossas.
A escala foi talvez: Cazimiri — Crazimil — Craximil —
Crixomil — Creixomil --pois i deu ei na onomástica portu-
gueza^ como jâ dissemos.
* Utra por Lutra — lontra, — e Lampreia, são appellidos tirados
dos peixes, como Sardinha, Cação, Bordallo, Enguia, Peixe, Peixoto, por
Peixota — pescada, Robalío, Eirol, Capatão e talvez Ruivo, etc.
V. o meu Diccionario de appellidos portuguezes.
TENTATIVA ETYMOLOUICO-TOPONYMICA 267
Por seu turno Creixomil por Crhroiiiil deu Quelxomil e
Quixomar, povoações nossas tamisem, como Leodomirns^ i
deu Leouiil e 'Lomav, — Ountiminis, i deu Candemil^ Cando
mil, ContujnU, Contumillo e Gondomar, — Theodomirus, i deu
Iheomil e Tliomar. etc., povoações nossas.
— E' assim a arte nova e rira bien qui rira le dernier? !...
Somma e segue.
— Paml — e Passal ; — Eesomil, metathese de Romezil ?
— Remezal e Romezal, formas de romanzeiral, bosque de ro
manzeiras, o mesmo que romeiras, arvores que dão rortians e
tomaram o nome do árabe romman, como diz o sr. Cândido
de Figueiredo. — Mas — desculpe s. ex.^ — talvez que rom-
man seja um dos muitos vocábulos romy ou latinos, que os
árabes levaram da Jlespanha para o seu idioma, como deixa-
ram na Hespanlia muitos vocábulos seus.
V. La Cimlisacion des Árabes, por Gustave Le Bon, ci-
tada por nós supra — repetidas vezes.
Na minha humilde opinião roman, fructo da romeira ou
romanzeira, pôde vir de Roma, como romanus deu Romão e
Romano, nomes pessoaes e nomes de santos^ — e Romana ^
também santa, o mesmo que romana e roman (sic) — natu-
raes de Roma.
Cf. também romaria, romeira, romeiro e romeiros, que
tomaram o nome de Roma — e talvez romeira na accepção
de romanzeira i . .
Roma podia muito bem dar e na minha opinião deu ro-
mana, roman, Romaneira, quinta nossa, — romano, romeira e
romanzeira, como Avella, outra cidade da Ltalia, deu Avel-
lana, avellano e avellanera na líespanha — e entre nós avel-
lan. avellaneira e avelleira.
Jâ dêmos uma extensa lista das nossas muitas povoa-
ções que tomaram o nome das avelleiras ; — ahi vae agora
também outra das que tomaram' o nome das romeiras ou ro-
manzeiras.
Além de' Resomil, metathese de Romezil f — Remezal e
Romezal supra, temos — Romã, Romaneira (cá está ella!. . .)
— Rontaneiras, Romaneiras de Baixo, Romaneiras de Cima e
Romaneiras do Meio; — Romãs e Romazelhas, o mesmo que ro-
mazeirelhas ou romanzeirellias ? I . . .
— Junte-se Romeira e Romeiras, — só com estes dois no-
mes vinte e sete povoações ?!!,..
— Romeiral, Romeirão, Romeirinha e Romeirinhas. — Ru-
melha — talvez forma de Ronielha e contracção de Ronianzelha!?
268 TKNTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Cf. Eomazelhas, ^ supra.
— BumhiJiai, Ruminlieira e Buminheirinlia^ povoações
nossas, não prendem com as romeiras, — São talvez formas
de Ramalhal, Ramallieira e Ramalheirínha, nomes tirados
da rama ou dos ramalhos.
Cf. Ramalhal e Ramalheíra, povoações nossas também
— e note-se que a^ i q u confundiram-se e substituiram-se na
onomástica portugueza — bem como Ih e nh — como já dis-
semos.
A' mesma familia dos Ramos e Ramalhos pertencem ou-
tras muitas povoações nossas, entre ellas Romagom, — talvez
forma de Ramagon, o mesmo que ramagão e Ramalhão? ! ...
Note-se que Romagom prende com o diapasão hespanhol,
em que ja, jo, ju se lêem ga, go, gu — ■ e no portuguez deram
lha, lho, Ihu. — Assim na Hespanha escrevem atajo, que se lê
atago, em portuguez atalho. Também lá escrevem remojo, que
se lê remogo — em portuguez remôlho, etc.
Também a desinência hespanhola on em portuguez deu ao.
Assim em callaico ou castelhano deturpado poiliam es-
crever ramajon, que soava ramagon e correspondia ao portu-
guez ramalhão.
Será tudo isto um dislate ?
Volvendo ás desinências il e ai com o mesmo valor, jun-
te-se também :
— Sahil 6 Saial — duas aldeias nossas? !... TourilQ Tou-
ral — dos touros — e, como finis coronal opus, fecharemos este
tópico das desinências il e ai, mencionando :
— Samel e Samil — Tamel, giiasi Tamil — e Tamal, po-
voações nossas, cuja etymologia hahet dentem coelhil...
Na minha opinião Samil, Tamel e Tamal — são formas
de Samel por Samuel, nome hebraico e nome d'um santo, etc.
Mas — dirão os leitores — Samel daria Tamel f
— Se não dou, podia dar, pois
5fl e Tfl
confundiram-se e substituiram-se na onomástica portugueza.
Cf. Saião e Tayão; Saim e Taim; Sainde e Tainde; Sala-
horda e Taborda ? Salla e Talla; São Gil, que se lê Sangil —
e Tangil; Sanque e Tanque; Sarrea, appellido, — Sarria, po-
voação da Hespanha — e Tavria, casal nosso. —Sarro e Tarro
— sedimento de qualquer liquido 7- nomes communs portu-
guezes, tirados do castelhano sarro — e este? — Talvez de
TENTATIVA KTYMOLOGICO-TOPONYMICA 2P)9
sar por sal?!.,. — Harroeira e Tiirrtteiro, m. de Tarroeira.
— Zabiirreka por Saburreira — e Taburreira.
Junte-se ainda :
- Sardoura^ Sardoeiro por Sardouro — o Tardouro? Car-
rapassal e Carrapatal l . , , Carape(jal e Carapesal por carra-
pessal — e Carrapetal ? !, , ,
Carapesal foi appellido nobre e antigo de João Carape-
sal, alçai de-mór de Leiria no tempo de D. Sancho I.
V. Leiria no Portugal antigo e moderno, vol. 4.", pag. 79.
Carapesal, Carrapacal, Carrapatal, Carnpeçal e Carrape-
tal são formas do mesmo nome, tiradas de Carapeco por Ca-
rapeto ou Carapito — e estes de carrapato, contracção àQ car-
rapateiro, espécie de feijão, que dà o rícino e abunda em va-
rias regiões do nosso paiz, pelo que d'elle tomaram o nome
differentes povoações nossas. Taes são as seguintes :
— Carapeços , appellido nobre, etc. — Carapeta, Carape-
tal, Carapeta linho, Carapeteira, Carapeteiro, Carapeto, Cara-
petos, Carapetosa, Carapicha, Carapiço, Carapito, Carapito,
Carrapassal, Carrapata, Carrapatal, Carrapatas, Carrapatei-
ra, Carrapateiras, Carrapateirinha, Carrapateirinhas. Carra
pateiro, Carrapatello, Carrapatinha, Carrapato, ^ Carrapato-
sa, Carrapatoso, appellido,— Carrapatal^ Carrapichana, Car-
rapitos por. Carixípatos, etc, povoações nossas.
Do exposto se vê que sa e ta confandiram-se e substi-
tuiram-se na onomástica portugueza.
Também se confundiram e substituiram so e to.
Cf. Sonda e Tonda. — Soppo e Topo. — Souto e Tonto. —
Soutosa e Toutosa. — Toito e soito, forma popular de souto.
Junte se Coensos, talvez forma de coentos por coentros,
povoação nossa também, que podia tomar o nome dos coen-
tros.
Cf. Coentral, Coentros, Alcoentre por Alcoentro — ^e .1/-
coentrinho, povoações nossas.
Do exposto se vê que Samel deu ou podia dar Samil,
Tamel, Tamil e Tamal.
— E' assim a arte nova — e rira bien qui rira le der-
dier ? /. . .
Frei João de Sousa, nos Vestígios da Língua arábica, —
diz que Alcoentre, supra, vem do árabe alconaifara — ponte
pequena, diminutivo de alcantara — ponte, como Alcantari-
1 Carrapato — é aldeia c quinta que muito bem se prestavam para
wm titulo de baronato !. . .
270 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
lha, povoação nossa, o mesmo que Alcantarilla, oito povoa-
ções da Hespanha.
— Aliquando dormitat Homerus.
Alcoentre é o mesmo que Alcoentro, pois, como já disse-
mos, as desinências e e o confundiram-se e substituiram-se na
onomástica portugueza.
Cf. Alfeite por Al feito — o fento, feito ou fiei to ; — Al-
ferrarede por Alferraredo ; — Barrete e Barreto ; — Bur gue-
te e Burgueto ; — Carrazeda, Carrazede e Carrazedo ; — Li-
mede por Limedo ; — Louredi, Lourede e Loiíredo ; - Picota,
Picote e Picoto, etc, — povoações nossas.
Alcoentre é, pois, o mesmo que Al -\- Coentro — o coen-
tro, planta aromática bem conhecida entre nós, cuja etymo-
logia ó o latim coriandrum, tirado do grego Jcoriannon.
Alcoentre não pertence, pois, â série das nossas povoa-
ções que tomaram o nome do árabe alcantara — ponte, mas
á grande série das nossas povoações^ cujos nomes apenas tem
do árabe o prefixo ai.
Ahi vae uma amostra do panno : — Albarrol e Alhorrol
por Alharral — o Barrai; — Albuquerque— de albus quercus,
— o carvalho branco; — Alcohella por Alcovella — a covella
covinha; — Alcohia por ai cavea — a cova; — Alcócas por Al
Covas — as covas; — - Alconilhes por Al Conillws — os coelhos;
— ■ Alcordal por Al Cardai — o Cardai; — Alcorochel por Al-
comichai — o Corujal.
— Aldara — de Ilduara, antigo nome pessoal que deu
Aldoar, em Bouças, Aldora, nomo d'um:\ santa. — Alda,
nome de mulher — e rua das Aldas, velha rua do Porto. —
Aldareto, Aldreie e Aldreii — de Ilderedus, i, nomo germâ-
nico ? — Alfontes — o mesmo que as fontes ; — Alfreita — o
mesmo que Freita e Freitas, muitas povoações nossas, —
e Freitas, appellido, — do latim fracta — pedra fendida ou
partida pelos raios, — o mesmo que Talhada e Talhadas, po-
voações nossas também.
— Almoster — de Al Monasterium, o mosteiro; — Alpe-
drinha — o mesmo que A Pedrinha — e — Alpedreira — o
mesmo que A Pedreira — do latim petra — pedra; — Alquare-
lha — o mesmo que aguarelha ou aguarella --- do latim aqua,
agua. etc._, etc.
Todos estes nomes de povoações nossas e outras muitas
que podíamos citar — ao todo mais de mil — mencionadas na
Chorographia Moderna com o prefixo árabe ai — só téem de
árabe o prefixo^ como Alcoentre por Alcoentro, etc.
TENTATIVA ETYMOLOOICOTOPONYMICA 271
flínda 05 açores — Rzurara e Zurara
Os leitores já viram que temos bastantes povoações,
cujos nomes foram tirados dos acfires ; — na Hespanha tam-
bém ha muitas.
Ahi vão algumas, para os leitores verem que ha grande
afinidade entre a onomástica portugueza e a hesparíhola.
— Astariz por Astoriz — é o mesmo que Estoriz, phiral
á^EstoriU, . .
— Afitor — é o mesmo que Açor, povoação nossa.
— Astorga — cidade do reino de Leão e capital das As-
urias, — vem do A.storica ou Asturíca, abundante em astures
ou astores — o mesmo que azores, entre nós açores,
— Asturqiiia por Astorguia prende com Astorga^ Asto-
rica e Asturica, supra.
— Astulez é uma forma de Asturez^ tirada de astiir ou
astor, o mesmo que azar e açor.
— Asturiannos é uma povoação de Zamora, cidade que
já foi nossa, pelo que na sua cathedral se armou cavalleiro
o nosso primeiro rei D. Affonso Henriques, como já dissemos.
Zamora tomou o nome de Azanwr, cidade marroquina.
Por seu turno A^amor e Zamora, que na Hespanha se
lêem Assamor e Samora, entre nós deram Samor e Samora,
reminiscências da occupação hespanhola, como Samorão, Sa-
morim e Samorinha, filhos ou oriundos de Samora.
Volvendo ao tópico açores, ha também na Hespanha as
povoações seguintes :
Azoreiras e Azoreiros, que se lêem Açoreira c Açoreiros;
— e Soreiros, por Azoreiros ou Açoreiros — na Galliza ? I . . .
— Em Córdova também ha Azores. que se lê Açores, etc.
Desculpem os meus bons visinhos tantos dislates. A
culpa é d'elles, pois até hoje não se lembraram de investi-
gar a etymologia das suas povoações.
Por ultimo direi que Azurara e Zurara recordam Fer-
rara; povoação e ducado da Itália, que talvez tomassem o
nome do latim ferrum — ferro, que em latim deu ferraria,
quasi Ferrara, — feraria ou mina de ferro.
O mesmo ferraria latino entre nós deu Al ferrara por
Al -\- Ferrara (?!.,.); Alferrarede por Al -f- Ferraredo; —
Ferraria, Ferrarias, Ferreira e Ferreiras, por ferrarias, —
ferrarias ou minas de ferro; — Ferreiro por ferrarióla, etc,
ao todo mais de cem povoações nossas, — e talvez Ferreira,
appellido meu e appellido vulgar.
272 TENTATIVA ETYMOI<OGTCO-TOPONYM1CA
Em italiano ferraria é actualmente ferriéra ; mas talvez
fosse antigamente ferrara, unde Ferrara supra, mesmo por-
que o cantão de Ferrara, pertencente á Lombardia Vene-
ziana— tem minas de ferro, como dizem BescJierelle e De-
varsj na sua Geographia histórica universal.
— Fiat lux.
Azíirara por Azurera — Azureira ou Açoreira — talvez
obedeça ao antigo diapasão portuguez de Ferrara por Fer-
reira, que se encontra em Álferrara, supra, — e ao diapasão
italiano de Ferrara, por Ferriéra, entre nós Ferraria e Fer-
reira — e na Hespanha Herraria, Herreria e Herréra ? / . . .
Desculpem os meus poucos leitores tantos dislates a
propósito da etymologia de Seiceira.
Volvendo ao concelho de Torres, diremos também algo
das outras suas numerosas povoações com a desinência eira,
mencionadas supra. Mais tarde lá chegaremos, porque é tempo
de darmos aos leitores d'esta minha louca Tentatica etymo»
lof/ico-toponymica um esboço dos tópicos tantas vezes pro-
mettidos!. . .
Serão elles:
1.°— Diapasão fi'ancez.
2.^ — Diapasão callaico.
3.« — Diapasão toscano.
4:.^ — Diminutivos com a desinência cellus, i.
5.0 — Diminutivos com a desinência ohts, a.
6.° — Bellezas da nossa orthographia.
7.° — Letras caprichosas.
8.0 — Substituição de letras.
9.0 — Prefixos deposição relativa, como:
— Alem — por alem de, , .
— Ante —■ por antes de. . .
— Cá — por áquem de. , .
— Prí?, do latim prae que se lê pré— e significa também
ante, antes ou — diante, — e — Tran.s, traz e trez por trans —
o mesmo que alem de. . .
Vou dizer muitos dislates, porque o assumpto é nebuloso
e em gi^ande parte novo ; — faltam-me as habilitações preci-
sas e mesmo as forças phisicns, pois já estou velho e de-
crépito.
TENTATIVA ET\'AIOLOGICO-TOPONYMTCA 273
Nasci em 14 de novembro de 18B2 e em 14 de novem-
bro do corrente anno de 1909 — se lá chegar — vou comple
tar setpnta e sete annos? .\ . .
— Com certeza diroi muitos- dislates, mas talvez que en-
tre elles algo seja aproveitável para este ramo de litteratura
d'arie nooa, — tão descurado até hoje em Portugal^ na Hespa-
nha e na Itália.
Diapasão francez
Nos princípios da nossa monarchia, como já dissemos,
viveram entre nós muitos francos ou francexes que trouxe con-
sigo da Fiança o conde D. Henrique — e outros que o mesmo
conde posteriormente chamou para o auxiliarem — como au-
xiliaram — nas guerras contra os mouros e contra os leone-
zes, castelhanos e aragonezes.
Também mititos francos ou francezes militaram com o
nosso primeiro rei D Affonso Henriques — e com os nossos
reis immediatos - não só francos ou francezes, propriamente
ditos, mas vários contingentes da Borgonha, Flandres, Nor-
mandia, Bolonha, etc.
Não admira, pois, encontrarem-se na onomástica portu-
gueza e mesmo no idioma portuguez tantos vestigios do dia-
pasão francex.
Datam d'aquelle tempo talvez o nome de muitas povoa-
ções nossas que tomaram e conservam o nome dos francos ou
francezes. — Tnes são — entre outras, as seguintes:
— A dos Francos — o mesmo que a villa, granja, aldeia
ou povoação dos Francos.
Cf. A dos Gallegos, povoação nossa também, mencio-
nada na Chorographia Moderna, como todas as que vou citar.
— França, Franca, Francaria e Franzia por Francezia —
terras de francos ou francexes.
Cf. Galleguia^ povoação nossa também, que está dizendo
terra de gallegos.
Somma e segue :
— Francas, France, Franceiras ou hanciscas,
Note-se que Francisco é o mesmo (jue Flanco e Francez.
Logo volveremos ao assumpto e seremos um pouco mais
explícitos.
-- Francelha, Francelheira, Franc-Veirinha, Francelho,
Francfllos, Francexes, Franco, Francos, Franqueira, Franquei-
ro e Franzia, o mesmo que Francezia, Franqueira e Franca-
18
274 TKNTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
ria, — como Gallegueira e Galgueíra por Gallegueira, povoa-
ções nossas também, são synonimos de Galleguia.
Somma e segue.
— Monte Franco — por Monte do Franco.
Note-se que Monte Franco não é monte baldio, mas nome
d'um casal e d'uma herdade ou quinta,
Note-se também que em algumas regiões do nosso paiz,
nomeadamente no Alemtejo —monte é uma synonimia de logar,
povo, aldeia, casal, quinta, eido, aido, assento e residência.
De passagem diremos que estes 4 nomes geographicos
ou nomes de terras : — Eido, Aido, Assento e Residência —
são vulgares ao norte do nosso paiz e em alguns cantões
d'elle teem a mesma significação, nomeadamente no Minho,
como ]k dissemos ; — não se encontram, porém, nas regiões
do centro e sul do nosso paiz.
Em compensação ao norte do nosso paiz monte designa
sempre um chão inculto, relativamente alto e deserto — e
nunca um chão habitado e povoado^ como no Alemtejo.
Também ao norte do nosso paiz ramada significa latada,
parreira ; — no Algarve é o mesmo que abegoaria, casa para
recolherem gado bovino e cavallar — e na Galliza, ramada^
quer dizer matta de carvalhos? !
Volvendo á lista das nossas muitas povoações que toma-
ram o nome dos francos ou francezes, ainda temos: — Porto
Franco — ou do Franco ?
Note-se que Porto Franco é uma quinta nossa — e que
até boje em Portugal nunca tivemos portos francos.
Junte-se : — Vai de Franca, Vai de Francas e Vai de
Franciscos, o mesmo que Francos ou Francezes — e Villa Fran-
ca. — Só com este nome 20 povoações ? ! . . .
Villa Franca da Serra, Villa branca das Naves, Villa
franca de Xira, Villa Franca do Deão e Villa Franca do Ro-
sário ^ — ao todo mais de cem povoações nossas.
Junte-se ainda ma dos Francos, velha rua da cidade de
Guimarães — cidade onde viveu o conde D. Henrique e onde
nasceu e foi baptisado o nosso primeiro rei J). Affonso Hen-
riques.
Também temos no aro do Porto a Quinta de Francos e
1 Vejam-se no Portugal antigo e moderno os meus artigos com re-
lação a estas ultimas 5 povoações, — nomeadamente o artigo Villa Franca
de Xira — o mais longo de todos e que não é obra de fancaria.
TENTATIVA ETYMOLOOICO-TOPONYMICA 275
a rua de Francos^ — rua que atravessa a mencionada quinta e
d'ella tomou o nome.
Do exposto se vê que os francos ou francezen tiveram,
demorada residência em Portugal desde os principios da
nossa monarcliia, como provam as nossas muitas povoações
mencionadas supra, que tomaram d'elles claramente o nome.
Obedecem ao diapasão francez também outras muitas po-
voações nossas, em cujos nomes se encontra a desinência fran-
ceza em por im — bem como ens por ins.
Também temos muitas povoações, em cujos nomes se en-
contra o por a — e ?í por oit^ como em francez.
Ahi vae uma amostra do panno.
Desinência EfU por Ifll na onomástica portugueza
— Abexim ou Boxim — e Boxem ou Abexim. ^
De AhijsdaiuSy ti, Abt/ssinio, antigo nome pessoal e nome
d'um santo^ tirado de Aòi/ssinia, como Romano, o mesmo que
Romão — de Roma ; Franco — da França ; - Egypcio — do
Egypto, etc.
— Agostem por Agostim — o mesmo que Agostinho por
Augiistinho.
De Augustinus, i, diminutivo de Augusfus — Augusto^
nome romano e nome d'um santo, como Agostinho.
— Aldarem por Aldarim — e este por Aldunrim ?
Talvez de Ilduariniis, i, diminutivo de Ilduarus. i, que
se encontra em Alduar ou Aldoar^ freguezia do concelho de
Bouças.
Cf. Ildwara, antigo nome de mulher, que figura em ve-
lhos documentos e na minha opinião deu Aldara e por con-
tracção Alda.
>
Cf. rua das Aldas, velha rua do Porto, no bairro da
Sé?/,.,
— Alpoem e Alpoim — povoações^ nossas — e Alpoim^ ap-
pellido muito nobre e muito antigo do snr. conselheiro e par
do reino — José Maria Alpoim Cerqueira Borges Cabral, etc.
— Alvem e Alvim — povoações nossas.
De Alhinus, i — Albino, nome d'um santo, etc. — dimi-
nutivo de Albus — Alvo, Branco.
Albino é, pois, o mesmo que Branquinho^ appellido nosso.
^ São povoações nossas, mencionadas na Chorographia Moderna,
bem como todas as que vou citar.
276 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
— Aztirem por Azorim — e este por açorim — açorinho ou
açorzinho — pequeno açor, — ou de Azurinus, i, diminutivo de
Azurius — Azurio, nome d'um santo, etc.
— Carem e Carim, povoações nossas.
De Carinus, i, diminutivo de Carus, i, ^ nome romano,
tirado do latim caruf< — bemquisto.
— Cartem e Cartím por Quartím, povoações nossas.
De Quartinus, i, diminutivo de Quartas, Quarto, nome
romano e nome d'um santo, tirado de quartas — quarto, adje-
ctivo numeral, pois, como já dissemos supra, os romanos ti-
raram nomes pessoaes de todos os seus adjectivos numeraes
— desde prinus — primeiro, que deu Primus, i, - Primo, nome
de um santo, e Prime, povoação nossa, — até decimus, que
deu Decimo, também nome pessoal.
Quai^tinus, i, — além de Cartem e Cartim — também deu
ou podia dar Quartilho por Quartinho — e Quartinos, povoa-
ções nossas.
Cf. Martino e Martinho, nomes pessoaes.
Também Quartinus, i, deu Qwarím, appellido, — e por me-
tathese Quatrim, appellido e nome de varias povoações nossas.
Também na minha opinião Quartinus, i, deu Quartinia-
nus, i, is, unde Quartilhães por Quartinhães — e Quartinhaes
por Quartinhaes, povoações nossas.
Qunrtus deu ou podia dar Quartinus e Quartinianus,
como também Maximus deu Maximinus, Alaximianus, Maxi-
minianus, Maximilianus por Maximinianus — e Maximilus
por Maximinus.
Por seu turno Maximilus, i, deu Meixomil, freguezia do
concelho de Paços de Ferreira, etc.
Também Martinus. i, deu Martínianus, i, is, unde Marti'
nhães, povoação nossa, como Quartinianis deu Quartilhães
por Quai^tinhães, supra.
Podia também Quartinianus ter a forma Quartilianus.
Cf. Maximianus, Maximinianus e Maximilianus.
Por seu turno Quartilianus, i, is, podia sem violência dar
Quartilhães.
Também Martinus, i, pelo diapasão italiano deu Marti-
nellus, i, que se encontra em Martinel, povoação nossa, — e
^ Carina foi santa.
TENTATIVA ETYMOLOQICO-TOPON YMICA 277
pelo diapasão toscano deu Marti nicelus, i, unde Martin cel, po-
voação nossa também.
Ao diapasão de Martinel por Martinelli pertence o nosso
appellido Pignatelli, que veio da Itália, — e AnfonelU, appel-
lido italiano, tirado de Antonius — António, que deu Antoni-
nus, Antonianus' e Antoniolns, i — unde Antanhol, aldeia e
freguezia do concelho de Coimbra, como já dissemos.
Também Antoninun deu Antoninho o mesmo que Anto-
nino, povoação nossa, como Antonina deu Antoinha, povoação
nossa lambem.
Junte-se Antonicas, nome d'uma quinta nossa, tirado de
Antonica, forma popular de Antoninha.
Também Antonius- na Hespanha deu Anton, unde Antão,
nome pessoal portuguez e de varias povoações nossas, como
talvez Affiões, três povoações nossas também; mas na minha
opinião Antões vem de Antoniis\ patronímico de Antonius, ii,
como Antunes, appellido e nome de dois casaes nossos.
Também Antonianis, patronímico de Antonianus, i, deu
Antunhaes por Antunhães, aldeia nossa.
Cf. Antonho, fdrma rude e popular de António.
E' assim a arte nova, mas basta de Cartem e Cartini.
Nós também temos Cnrdim, que pôde vir de Cartim ;
mas na minha opinião Cardim vem de cardinho por Cardai-
nho, contracção de CJardalinho, diminutivo de Cardai, povoa-
ções nossas também.
Veja se a lista supra das nossas muitas povoações que
tomaram o nome dos cardos, avultando entre ellas Cárdia
por Cardaria, — Cardida por Cordedn, — Curdido por Carde-
do,— Cardiga por Cardila, — C'i7^digos por Cardidos, — Car'
dosa, Cardoso, Cardote e Cardiinxal por Cardosal?
Prosigamos com o diapasão francez — em por im.
— Cotem, povoação nossa.
Talvez seja uma forma de Cotim por Coutim, quf> se en-
contra em Alcoutim, o mesmo que Al Coutim — o Coutinho
ou Colinho, pequeno coto ou pequeno couto.
Estes dois vocábulos teem significação muito differente.
— Coto é o mesmo que outeiro, pequeno monte; — couto era
chão privilegiado. Mas na minha opinião coto e couto por ve-
zes confundiram-se na onomástica portugueza. --já porque o
deu ou, ^ — já porque varias povoações nossas, denominadas
Couto, demoram em cotos, sítios altos e vistosos. — Taes são
Veja-se o tópico infra : — Substituição de letras.
278 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
duas quintas do Couto, fronteiras uma á outra no Douro ^ ^- e
Alcoutim^ no Algarve,
Note-se também que temos talvez mais de trezentas po-
voações com os nomes de Coutinho, Goutlnhos, Couto e Coutos.
— São demasiados coutos ou honras para um paiz tão pe-
queno.
Dos montes tomaram o nome talvez mais de dez mil po-
voações nossas, — dos outeiros talvez mais de cinco mil — e
dos cotos as seguintes :
— Cota e Cotas (Villarinho de Cotas) por Coto e Cotos? ;
Cotão por Cotalão ; Cotàes por Cotões? ; Cotai lei ra ; Colarejo ;
Cotares por Cotiles e este por Cotólosí ; Colarinhos por Coto-
rinhos, Cotolinhos, Cotosinhos ou Cotinhos?
— Coteiro e Couteiro — não vêem dos cotos, mas dos cou*
tos. ■
— Couteiro devia ser o guarda, superintendente ou fiscal
dos coutos.
Cí. Monteiro — o guarda ou superintendente dos montes.^
que os defendia das feras com m^ontarias, etc.
Junte-se Cotelaio — por Cotolaio e este por cotoloio — de
cotolo, pequeno côtof
Cf. Arreçaio, Recaio e Roqaio, povoações nossas também,
afifins de Cotelaio e de Tocaio, appellido nosso, importado da
Hespanha f
Na minha opinião Arrecaio e Beçaio são formas de Ro-
caio e este de Rocádio, o raesmo que Rozadio, povoação da
Hespanha em Bantander — e Roçado, povoação nossa.
Cf. Roçada, Roçidis, Roçadinhas, Roçado e Roçaio, po-
voações nossas; — R)sada, Rosadas, Rozada, Rozada>i e Ro-
zadio, povoações da Hespanha, que se lêem Roçada, Roçadas
e Roçádio, quasi Roçaio? ! . . •
— • E' assim a arte nova.
Prosigamcs.
— Cotelhe, povoação nossa.
- E' uma forma de Cutelho, diminutivo de coto, como Co-
tello o Cotatejo por Cotarelko. reminiscência da occupação
hespanhola.
Cf. Lagarejos, povoação da Hespanha, — e Lagarelhos,
povoação nossa.
— Cotelões por Cotolões — do cotolão, grande coto?
* Uma demora na fre^uczia de Cambres, concelho de Lamego;
a outra na freguezia de Fontellas, concelho da Regoa.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 279
— Cotens por Coãns — plural de Cotem por Coti/n — Co-
tinho, como já dissemos.
Junte- se Coto, Colinho, Cotinhos, Cotolinho por CotMlinlio^
diminutivo de Coteílo o subdiminutivo de Coto, — e Cothitri-
nho por Cotolinho ?!...
Também temos Cotões por Cotolões.
V. Cotelões supra.
Também temos Cotoluda, — aldeia, que podia tomar o
nome dos cotos.
A desinência iida, não, é vulgar em portuguez e na ono-
mástica portugueza.
Cf. Barbuda e Barbudo, — Beiçuda e Beiçudo, — Bicuda
8 Bicudo, — Cabeçudo e Cabeçudos, — Talurdo por Taludo,
etc, povoações nossas.
Também temos em portuguez: — amortida e amorudo ;
• — barriguda e barrigudo ; — bochechuda e bochechudo ; — car-
rancuda e carrancudo ; — cascuda e cascudo ; — cobelluda e
cabelludo ; — carnuda e carnudo ; — choruda e chorudo ; fel-
puda e felpudo ; lanzuda e lanzudo ; massuda e massudo ; na-
riguda e narigudo ; pançuda e pançudo ; taluda e taludo ; te-
Ihuda e telhudo ; trombuda e trombudo ; cachaçuda e cachaçudo;
papuda e papudo ; pelluda e pelludo; repolhuda e. repolhudo ;
rombuda e rombudo, etc.
Junte se o portuguez antigo : — bonheçuda e conheçudo
por conhecida e conhecido; — sabuda e sabudo por sabida e sa-
bido ; — temuda e temtido por temida e temido, — unde The-
mudo e Themido por Temudo e Temido.^ appellidos. — Ao
mesmo diapasão pertence também o nosso appellido Sanhudo
— e o antigo portuguez iiuda e mantiuda por tida e mantida.
Podia, pois, Cotoluda tomar o nome d'algum coto, se de-
morar n'elle ou junto d'elle.
— Dicant paduani — respondam os filhos da localidade.
Junte-se Côtto por Coto; Coturella e Coiurellos ; — Cuta-
rélla por Coturella ; — Cuteis por Cuteis e este por Cotens su-
pra ; — Cutêllo, aldeia^ por Cotéllo — e Cutinho por Cotinho ou
Coutinho, pois na onomástica portugueza ou pelo diapasão
francez deu u.
Veja-se o tópico infra: — Substituição de letras — e hur-
rah pelos coutos e cotos!...
Nós também temos Cotimos^ aldeia e freguezia do couce-
280 TENTATIVA ETYMOLOGICOTOPONYMICA
lho de Trancoso^ mas Cotimoa na minha opinião vem do la-
tim cotinus, espécie de zamhujeiro, como diz Plinio — Plan^
tce bacatoe, titulo vi, pag. ()98.
Por seu turno cotinus vem do grego Jcotlnos — a oliveira
brava ou zambujeiro ; em latim oleaster / em castelhano uze^
buche ; em catalão vilastre — e em tudesco wilderbaun.
Laguna, pag. 90.
*
* *
Proseguindo com o diapasão francez em pon im, já nos
ia esquecendo mencionar Catem, povoação nossa, talvez for-
ma de Gatem por Gatim — (gatinho) — povoação nossa tam-
bém; como Guetlm por Gatim?/...
Note-se que os gatos bravos ou teixugos deram o nome
a differentes povoações nossas, — ao todo mais de trinta!...
— Taes são :
— Cata e Gata? — Catão e Gatão? — Calarredo por ga*
tarredo ? — Catella e Gatella ,'. . . — Catellaria por gatellaria
— e Gataria! . . — Catdlas por gatellas ? — Catem por Ca-
tim — Gatim e Gitetim^ como já dissemos.
— Cateoza — por gateos'a ou gatosa ? — abundante em
gatos, — povoação nossa também.
Cf. Vermiosa, abundante em vermes ; — Formigosa, abun-
dante em formigas ; — Coelhosa, abundante em codhos ; — PiO"
Ihosa, abundante em piolhos? ; — Moscoso ou Moscosa, abun-
dante em moscas, — Gaioso e Gaiosa, abundante em gaioSy
etc, povoações nossas.
Para atesto do casco junte-se MinJiatosa por minhotosa —
abundante em minhotos — aves, o mesmo que papapintos ou
papapitos, milha frps, peneireiros, e, peneirinhas / — O povo assim
denomina os milhafres, porque, andando a voar e lobrigando
os pintainhos, seu manjar predilecto, mas que só se encon-
tram em sitios povoados, — suspendem o vôo. — Conservam-se
firmes no ar, fora do alcance dos tiros, batendo as azas, como
que peneirando e mirando os pintainhos, até que, vendo occa-
sião de os apanharem sem risco, — descem a prumo sobre el-
les, — rapidamente lhes lançam as garras e os levam ! . .
Proseguindo com o thema em por im, — junte se Dadini,
— Daem por Dadem, o mesmo que Dadim — e De m por
Daem, povoações nossas, mencionadas na Chorographia Mo-
derna, como todas as que vou citando.
— Formosem por formosim — formosinho ?
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 281
Cf. Formosa, Formoselha, Formosellos^ Formoso e For-
mosil por Formosim, o mesmo que formosinho? — como Fm'-
tim, povoação nossa tamVjem, por fortinho, pequeno forte, —
o mesmo que Fortunho, também povoação nossa, como For-
tunhos e Fortumhos por fortinhn^ ? / .
E' assim a arte nora — e rhn bien qvi rira le dernier.
No tópico Substituição de letras verão os leitores que u e
i — muitas vezes se confundiram e substituiram na onomás-
tica portugneza — bem como as desinências il e im, embora
mais raras vezes.
Prosigamos.
— Gomlarem por gondarim — e talvez Gondim por Gon-
darim ?
Cf. Gondariz por Gondaynns, plural de Gondarim — e
Gondoriz por Gondariz.
Mas Gondariz e Gondoriz talvez provenham de Gunde-
riquix, patronimico de Gundericus, nome germânico — E
Gondim talvez seja uma forma de Gontim^ povoação nossa^
como esta de Contim — e esta de Cantim, povoações nossas
também, cujos nomes talvez fossem tirados de Qiiintini, patro-
nimico de Quintimis, i — Quintino, nome d'um santo, etc, di-
minutivo de Quintiis — Quinto, nome romano e também nome
d'um santo.
A escala seria : Quintini — Quentim — Cantini — Contim
— Gonfim — Gondim ?. . .
— Junte-se Lacem por lacim — lacinho?
Cf. Laços e Lações, povoações nossas.
— Lagarem por lagarim — e Lagarinho, povoações nos-
sas, que tomaram o nome dos lagares, como outras muitas.
Taes são as seguintes:
Lagar e Antelagor (sic) por Ante Lagar, que está antes
ou diante do Ingar. Note-se que Antelagar é uma aldeia, o
que prova ser muito antiga e datar do tempo em que um la-
gar, por certo bem humilde, n'aquella região dava na vista e
era um monumento, uma maravilha!
Junto das Caldas da Felgueira vi eu um lagar, talvez
congénere, formado por leves cavidades abertas em um pe-
nedo nativo, com face declivosa e exposto ao ar livre.
As ditas cavidades eram pequenas regueiras que leva-
vam o mosto para uma biqueira do penedo, onde o colhiam..
O pobre lagar não podia ser mais tosco, mais simples
nem mais rudimentar!...
Em Monsão vi eu também outro lagar muito simples,
282 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYVÍICA
muito archaico e muito rudimeatar, — egualmente exposto
ao ar livre e formado por uma só pedra movei, cavada ligei-
ramente, onde esmagavam as uvas com certo apparelho de
paus fixos, mas não podia ferver o mosto. — Levavam-n'o as-
sim cru para as pipas ? ! . . .
Era um lagar muito hixuom com relação ao da Fel-
gueira, mas com relação aos lagares do Douro — causava
nojo!...
Volvendo ás nossas muitas povoações que tomaram o
nome dos lagares, citarei pelo exotismo Lagardona, que
pôde vir de Lagarona — ou de Lagar da Dona, — d'alguma
senhora, fidalga distincta.
(^f. Alde'*a da Dona, Casal das Donas, Dona Senhora
(sic), — Donaria, Donas, Fonte da Dona, Quintandona, etc,
povoações nossas.
Junte -se Lagai^ata por Lagareta, povoações nossas, —
como Lagarelhos, Lagariça, Lagariças, Lagarinlio, Lagari-
nhos, etc, — ao todo mais de cento e cinconta povoações^ que
tomaram o nome dos lagares.
Volvendo ao diapasão francez em por im, ainda temos
Lebrem por lehiim, o mesmo que Lebrinho, povoações nossas
que tomaram o nome das lebres, como outras muitas. Taes
são as seguintes :
— Lehra ? — Lebre, Lebreira, Lebres, Lebrinho, — Castro
Laboreiro, — Laboreiro e talvez Labor im por Lebrim!...
Note -se que o termo hhre vem do latim lepus, õris, que
no baixo latim deu Leporarius, ii — lebreiro abundante em
lebres e. caçador de lebres, unde Lebreiro, appellido nosso.
Também leporarius deu ou podia dar laporaritis, unde
Laboreiro e Castro Laboreiro, o mesmo que Lebreiro^ abundante
em lebres. Tal é e foi sempre a nossa região de Castro Labo-
reiro— uma das mais altas, mais ásperas, mais frias e menos
povoadas do nosso paiz.
Castro Laboreiro rivalisa com as serras de Monte do
Muro, S. Macário, vulgo Simagaio, unde Samagaio, appellido;
— Gralhnra e Penude, na Beira Alta, — e com as de Monta-
legre e Barroso, em Traz-os- Montes.
— E, assim como lepus, õris deu leporinas, i, unde Le-
brim e Lebrinho, também deu ou podia dar laporinus, i unde
Laborim por Leborim, forma anterior de Lebrim, — e Labo-
ris por Laborins ?
Será tudo isto um dislate ?
Prosigamos.
TE^íTA.TIVA ETYMOLOGÍCO-TOPONYMICA. 283
♦ *
— Meiem, povoação nossa, é talvez uma forma de Metim
por Medim, contracção de Metellim, que deu Medelíni e Me-
dim, povoações nossas também. ^
Por seu turno Medelim é uma das nossas muitas remi-
niscências da occupação romana, pois Medelim por Medellím
vem claramente de Metellinus^ i, diminutivo de Metellus, i,
nome ou cognome romano d^alta cotação, pois deu Metelli —
os Metellos-, uma das familias romanas mais nobres e mais
consideradas.
Avultou entre elles Quinto Cecilio Metello, cognominado
Numidico, por se haver imtnortalisado na guerra contra Ju-
gurtha, rei da Numidia,
Outro Metello da mesma familia salvou do fogo o Palia-
dio, quando o templo de Venta foi reduzido a cinzas — e elle
era Grão Sacerdote do dito templo.
Também Quinto Cecilio Metello Celer, da mesma familia,
se immortalisou na guerra contra Catilina.
A' mesma família pertenceu também Lúcio Cecilio Me-
tello tribuno do povo romano, que nas guerras civis entre
Cesnr e Pompeu foi partidário d'este ultimo e se oppoz
a César, quando este, havendo derrotado Pompeu, entrava
em Roma com o seu exercito triumphante.
Também outro Quinto Cecilio Metello da mesma familia,
famoso general, conquistou a ilha de Creta e a Macedónia,
pelo que foi appellidado Macedonico.
Outro Lúcio Cecilio Metello da mesma familia, foi appel-
^ No concelho de Penaguião houve uma freguezia denominada
Santo André de Medim. -■ Por ser pouco populosa foi extincta e annexa
a outra contigua, denominada Sanhoane, ou S.João, que prevaleceu com
o nome de Sanhoane, mas tornou e conserva como padroeiro Santo An-
dré, vulgo Santo André de Medim.
No mesmo concelho de Penaguião ha na freguezia de S. Miguel de
Lobrigos a povoação de Lourentim, que tomou o nome de Laurentinus,
i, diminutivo de Laureniius, li — Lourenço, nome de um santo, etc.
A pequena distancia de Lourentim ha no concelho da Regoa a fre-
guezia de S. José de Godim, que tomou o nome de Gotfiinus, i — Godi-
nho. — E na freguezia de Moura Morta, concelho da Regoa também, ha
Nostim, aldeia que tomou o nome de Naustinus, i, diminutivo de Naus-
tus, i, Nausfo, nome d'um santo, etc.
Nausiini deu Nostim pelo diapasão franccz o por aii.
Medim, Lourentim, Nostim c Godim pertencem á grande série de
povoações que ha em volta de Lamego com a sonora desinência im.
Já dêmos a lista e a etymologia d'ellas.
284 TENTATIVA ETYMOLOGTCO TOPONYMICA
lidado Cretico, por se haver immortalisado nas suas expedi-
ções a Creta, no anno 66, antes do nascimento de Chrlòto.
Também outro Metello da mesma familia se cobriu de
gloria na conquista da Dafmacia, pelo que se cognominou
Dalmatico.
Ainda outro Metello, general romano, se distinguiu na
guerra contra os Sicilionos e Carthaginezes.
Do exposto se vê que os MeteUoò- foram honra e lustre
do império romano desde antes do nascimento de Chrísto e
se immortalisaram na Greda, na Africa^ na Dalmácia, em
Roma, etc.
Não lhes foi também estranha a nossa peninsula, como
revelam as nossas povoações que tomaram o nome de Metellus,
pois além de Medím e Medelim por Metellim supra, — temos
Metella e Metello, povoações nossas, como também Medella,
MeUêllo e Medellos, por Metella, Metello e Metello^ — e Medel-
Unha por MeteUina. ^
Médêllo é uma povoação muito linda no aro de Lamego.
A Hespanha tem Medella, Medeias^ MedelUn e Medello.
Para atesto do cavco junte-se Mettdlo, pppelUdo muito no-
bre e antigo — e ad rídendum — Medlícotte, uma das muitas
quintas ^ da freguezia dos OUvaes, no aro de Lisboa.
Cf. Medlicott, appellido actual inglez de R. S. Medlicott,
parodio da freguezia de aS'. Thomé, da cidade de Porfsmotdh,
na Grã- Bretanha, como se lê no Século, jornal de Lisboa, n.®
8:826, de 22 de Agosto de 1906, — pag. 1.*, col. 7.*.
Medlícotte é o mesmo que Medlicott, o que me leva a sup-
pôr que a mencionada quinta pertenceu a algum parente do
parodio actual de Porlsmouth, que tomaria d'ella — ou vice-
versa — o appellido supra — Medlicott.
A desinência ote, em inglez ott — é muito vulgar, tanto
em portaguez puro, como no portuguez popular — e na ono-
mástica portugueza.
São povoações nossas, todas mencionadas na Chrorogra-
phia Moderna, alóm d'outras as seguintes:
— Alrote, Cardote por Cardalote. — ^arcalhote. Caznlzote
por Casalote, — Chiole, Garrote, Ingote, Fonte do Pote, Maca-
^ Cf. Meiellinus, a, um, latim puro de Cícero, — coisa pertencente
á familia dos Metellos.
- São nada menos de 145, todas mencionadas com os nomes pró-
prios, alguns muito exóticos, na Chorographia Moderna, vol. 4.o pag. 742.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPO.VYMIC \ 285
corte por Macacote ; ^ — Maricota e Maricote, — Mascote e
Medlicotte (cá está ella!...)
Junte-se ainda Mefote, Nec/rote, Parrote e Parrotes por
harrote e barrotes"^ ; — l'ellofe, Picote. Plnhote por pinhalote ; —
Pot^^, Si^tote e Vai Cipote (sic) : — Valligofe, Velhote, Zofe, Monte
do Zote^ Vai de Zote — e Farínhote, appellido.
Do exposto se vê (jue temos na onomástica portiigueza,
muitas povoações afinadas pelo diapasão de Medlicotte e julgo
que a desinência ote é porttiguezisòima, porque o.v idiomus to-
dos são formados pelo povo, como já li algures — e no portu-
guez popular a desinência ofe ainda hoje é trivial, muito ex-
pressiva e uma das caracteristiftas do nosso idioma.
Ahi vae uma ligeira amostra do panno.
*
* *
— Amarelote, amargote^azedote, hairofe, hrichote, breigeirote,
carote, ceote (pequena ceia), — esperta Ihote, fortote, feiote, filhote^
finote, franchinote, o mesmo que rapazelho e rapazole; — fran-
galhote, girote (vadio) ; — gran dote, pnpar ote, piparote, pipote, ra-
pazote, reguingote (que reguinga; * — ribeirote, tratantote, vi-
Ihacote, etc.
Todos estes vocábulos sd^o do ijortuguez popular hodierno
— e pertencem ao antigo po7^tu(juez popular ^ os seguintes:
— Cardote por cardalote f, — carcalhote, casalzote, escra-
vote, esfuziote (reprehensão) ; — farinhote, macacote. moricote,
melote, negrote, parrote por barrote, pellote, picote, pinhote, vai-
ligote, etc, que se encontram nas povoações mencionadas su-
pra, cujos nomes são muito antigos.
Junte se cavallicoqiie e cacallicote, diminutivos de cavallo,
como cavallinho — e outr'ora também cavaUicho, que se encon-
tra em Cavalluche por cavallucho, casal da freguezia de Sa-
cavém, annexo á quinta do Papagaio, — quinta hoje perten-
cente ao meu proli-parente Albino Rodrigues Cardoso Corva-
1 Também temos Macaco, povoação, e em portugucz popular ma-
cacão — homem astuto, finório !. . .
Ad ridendum seja-me licito dizer que no meu bom tempo de Coim-
bra (1851-1856) teve alli grande popularidade o José Macaco. Assim de-
nominavam certo criado do Hotel Mondego, por ter o nariz achatado,
como o de certo académico d'então, cognominado por esse motivo— C/za/e
Zé do Cão ?!. . .
2 Reguinga deu reguingote, como bala deu baloie, camará deu ca-
marote, capa deu capote, mala deu malote, pipa deu pipoie, serra deu
serrote, etc.
286 TENTATIVA ETYMOLOUICO-TOPONYMICA
ceira, negociante em Lisboa^ director da Companhia Interna-
cional de Seguros e excellente pessoa.
E' também dono da bella quinta do Reguengo, onde vive
junto do Lumiar, — e dono actual do casarão da Corvaceira,
^ onde eu nasci lá no Douro, — bem como de todo o casal
da minha Penajulia ou Pena joio, pertencente ao dito casarão
da Coroaceira, — casal que foi dos meus pães e por faileci-
mento d'elles foi meu e dos meus irmãos.
Agora o dito casal pertence todo ao dito snr. Albino Cor-
vaceira, pois herdou parte d'elle da sua 2.» esposa, minha so-
brinha ; — outra parte comprou-a a um meu irmão — e eu doei-
Ihe — ou antes á filha d'elle — ^ Maria Eugenia, — ainda menor,
minha afilhada e sobrinha em 2.° grau tudo o que lá tinha.
Denominei-o meu proliparenU, porque ó meu primo
co-irmão. sobrinho, compadre e afilhado? ! ...
Custa a crer, mas é facto, como os leitores vão vêr.
— E' meu primo co-irmão, porque a mãe d'elle e a mi-
nha eram irmãs.
— E' weu sobrinho, por haver casado com minha sobrinha.
— E' meu compadre, porque sou padrinho da filha d'elle,
— e é meu afilhado, porque fui padrinho ou paranympho no
casamento d'elle com minha sobrinha.
* *
Desculpem a digressão a propósito da quinta do Papagaio,
do meu proli parenU, pois, batendo-lhe á porta, não podia dei-
xar de cumprimental-o e descansar um ratito.
A' mencionada quinta, como já dissemos, pertence o ca-
sal de Cacalluche, íórma de Cavallucho por cavallicho, dimi-
nutivo popular de catai lo, " como cavallicoque ou caiallicote.
* A fachada principal, que olha para o norte, para o Douro, e para
a Estação do Moledo, tem 30 metros d'extensão; — a que olha para leste,
para o portão d'entrada e para a capella da casa — tem 15 metros de lar-?
•gura.
— E' uma das casas maiores e mais vistosas que ha nas duas mar-
gens do Douro.
2 p^ forma Cavalucho é toscana, — e muito antiga, pois Las Ca-
sas no seu Vocabulário de las dos Lengvas toscana y castellana, já por
nós citado, e publicado em Veneza em 1537 — ha 372 annos?!. .. -- men-
ciona como vocábulos da Toscana— cavallo e cavallucio — quasi cava-
lucho! — em antigo castelhano cavallejo — e em portuguez cavallinlio.
Cavalluche por Cavallucho pertence, pois, ao diapasão toscano, de
que já fallei e logo fallarei novamente.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 287
diminutivos congéneres de alhricoque e albricoff^ daraasco pe-
queno, trivial no Douro, etc, que deu Alhricoque, povoaçà"»
nossa no districto de Beja.
O snr. Cândido de Figueiredo diz que a/br/roque vem do
árabe ai + harcoque ; mas là no Douro o povo diz também
albricote, como cavai iicoque e cieallicnfe.
Isto me leva a suppôr que alhricoque vem de alhricofe —
e este de Alvaricote, diminutivo popular á^Alca)'o. nome pes-
soal, que pelo dispasão de cacallicoque e cavallicote podia dar
também Alvaricote, como deu outros diminutivos, alguns bas-
tante exóticos. — Taes são: — Aharetes, Alvarim, Alvarinha,
(de Alvarina, villa ? ', — Alvarinho, Alvarinhos, Alrariz por
Alvarins (de Alvarinis, patronímico de Alvarinus, i?) — e Al-
varol — de Alvarolus, i, diminutivo á^Alvarun — Álvaro, como
Antonius — António deu Anfoninus^ Antonianu.s e Antoniolus,
unde Antanhol, no concelho de Coimhra. ^
Além das povoações mencionadas supra, que tomaram o
nome dos diminutivos á^Alvarus — Álvaro, nome d'um santo
etc, também do prolífico Álvaro tomaram o nome outras po-
voações nossas. Taes são Álvaro, villa, etc. — Álvaro Affonso,
Álvaro Annes (o mesmo Álvaro^ filho de João), — Álvaro Gil^
Álvaro Gomes, Álvaro Pequeno, Álvaro Pires^ (o mesmo que Pe-
res, filho de Pedro) — e Alvaroqildes por Álvaro Gilles — filho
de Gil — o mesmo que Egidio e Heziodo, como já dissemos.
Também alvarinho, espécie de uva, podia tomar o nome
á^ Alvarinho supra, como outras muitas variedades dativas, ma-
çans, figos, peras, cerdeiras, dahlias, rozeiras, ratos, carneiros,
cavallos etc, tomaram o nome de nomes pessoaes.
Note-se também que os alhricoques ou albricotes (eu co-
nheço-os muito bem) são damascos miúdos, pequeninos, como
\k dissemos, o que me leva a suppôr que talvez de Álvaro,
seu introductor, fizessem alvaricotes, pejorativo popular de al-
varinhos, como cavallicoque, e cavallicotte, diminutivos de ca-
vallo, eão pejorativos populares de cavallinho.
Pelo mesmo diapasão portuguez de cavallicoque ou ca-
vallicote, diminutivos de cavallo — e de alhricoque oii a Ih ri cote
por nlvaricoque e alvaricote, diminutivos de Álvaro — também
Metellus — Metello supra podia dar Metellicote e Medellicote,
Veja-se o tópico inh^: —Diminutivos com a desinência olus, ala.
28S TEJÍTATIVA. ETYMOLOGUCO-TOPON^YMICA.
em portuguez popular — e por contracção Medlicotte, povoação
ou quinta nossa — unde talvez, Medlirott, appellido actual in-
glez em Portsmouth.
— Será tudo isto um dislate ?
Note-se que a mencionada freguezia dos OJicaes é muito
mimosa, muito hnda, muito espaçosa e nella têem vivido
desde longa data muitos inglezes, como prova uma das suas
numerosas quintas denominada Quinta dos ingJezes? f ...
E', pois, muito possível que algum inglez habitasse a
quinta de MedUcotte e que, sympathisando com ella e com o
exotismo do nome, tomasse d'ella o appellido Medlicott e o
levasse para a Inglatei^ra.
Note-se também que, assim como nós temos grande nu-
mero de appellidos importados da Hespanha, da França, da
Itália, da Inglaterra, da Allemanha, da Hollanda, etc, ^ —
também se encontram muitos oppellidos portuguezes em na-
ções estrangeiras, nomeadamente na Inglaterra, por termos
vivido desde longa data em intimo contacto com ella.
Mas será Medlicott appellido inglez ou portuguez?
— Com vista ao rev. prior dos Olicaes e da quinta de
MedUcotte — e ao rev. parocho de S. TJiomé de Portsmouth.
Fiat lux!...
Basta de Metem por Metim, contracção de Metellim, o
mesmo que Medelim e Medim, povoações nossas.
Volvendo ao diapasão francez em por im, junte-se :
— Morem, Moinni e Mourim, povoações nossas, que to-
maram o nome de Maurimts, i, is, — unde também Mauriz,
Mouriz e Mnurens por Mouriyis^ como Fens e Fins, povoações
nossas também, afinadas pelo mesmo diapasão francez. Mas
Fens e Fins são formas de Félix, icis, que deu S. Félix, San-
fins e Sinfães por Sanfins, povoações nossas, como já dis-
semos.
Na Hespanha o mesmo Félix, icis deu San Felices, San
Félix, Sanfix, Sanfiz — e talvez San F^eliú em Gerona e Bar-
celona!...
Somma e segue.
— Ourem por Ourim, o mesmo que Ourinho, povoação
nossa também.
1 Na Europa talvez não haja outra nação que sympathise mais com
Portugal do que a Hollanda.
Basta dizer que a lingua portugueza é a língua familiar da boa so-
ciedade hollandeza? !. . . E cm varias synagogas da Hollanda se encon-
tram ainda hoje inscripções portuguezas ! . .
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 289
— De Aiirinus, i, is, que deu também Oariz, plural de
Ourim.
— Ousarem — povoação nossa.
— E' talvez metatliese de Ourosem por Otcrosim, o
mesmo que Ourosínho^ diminutivo de Ouroso, povoação
nossa.
— Penozem? /...
Pôde vir de perozem por perozim, o mesmo que Perosi-
nho por Pedrosinho, diminutivos do Pedroso, povoações nos-
sas.
Cf. Morface7n e Ousarem supra — e note-se que n e. r
trivialmente se confundiram e substituiram na onomástica
portugueza.
— Pexem por pexim ?
E' talvez o mesmo que Peixinho, povoação nossa —
como Pexins por Peixinhos ?
* — Pintim por pintinho, — Pintem e Pintens — por pin-
tins ou pintinhos, — o mesmo que Pintainhos, povoações nos-
sas? !...
— Põem ou Ruim — e Ruim ou Roem (sic)?!...
— Agora um cumulo :
— Tadim, Thaim, Tainde, Tedim, Thaide, Athaide, Tan^
gil e Tagilde — povoações nossas, mencionadas na Chorogra-
phia Moderna.
— São formas do mesmo nome, tiradas de Alhanagildus,
i^ nome germânico.
Por seu turno Tadim deu ou podia dar também Dadim
supra — Daem por Dadem — e Dem por Dadem ou Daem,
como já dissemos.
— Para atesto do casco junte-se Attim por Athaim^
forma anterior de Thaim por Tadim ? /. . .
— E' assim a arte nova — e rira hien qui rira le der^
nier ! ...
* *
Note-se que ta, te, ti, to, tii — mesmo iniciaes — deram
da, de, di, do, du.
Veja- se o tópico infra: — Substituição de letras.
— Será assim — dirão os meus poucos leitores, — mas
vallia-nos Deus!...
— Valhanos Deus — digo eu também — e elle me vale
no momento, pois o vocábulo Deus vem do latim Deus — e
este do grego Theos, o que prova que já t71 illo tempore — na
19
290 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
passagem do grego para o latim puro de Cícero, Virgílio, etc,
— o t inicial foi substituido por d,
Somma e segue.
Thourim, Toiírim e Toitrem por Tourim, povoações nos-
sas.
— De Taurinus, i, is, antigo nome pessoal e nome d'um
santo que deu Turim, na Itália — e entre nós — além de
Thourim, Tourim e Tourem supra, — deu Torino, Toriz, Tou-
riz e Fonte Taurina, — vulgo Fonte da Ourina — estreita,
immunda e velha rua do Porto, ^
Também Taurinus deu Taurianus— Tauriano ou Taurião,
nome d'um santo, etc, — e um e outro foram tirados do la-
tim tauriis — touro.
— Junte-se Turiz por Toiíriz, povoação nossa também,
que logo citaremos novamente, pois Turiz por Touriz ó um
lindo exemplar do diapassão francez u por ou.
Somma e segue.
— Vai de Ferrem por Ferrim? — E' talvez contracção
de Ferreirim, povoação nossa também — como Terrem por
Ferremf
— Note-se que f e t confundiram-se e substituiram-se na
onomástica portugueza.
Veja-se o tópico infra: Suòstituição de lettras.
Junte-se finalmente:
— Roxem e Vai de Rocim por Vai de Roxim, o mesmo
que Vai de Rozem?
De Rauzendus, i — Rozendo, antigo nome pessoal, que
deu Rozendo, nome d'um santo, — Rezenda, Rezende, Rezenta^
o mesmo que Rezenda, — Rozem e Rozende, povoações nossas,
— e talvez Rozim^ o mesmo que Rozem! ,.
Cf. Menendus, i, supra, que deu Mendo, Mim e Mem?!... —
na onomástica portugueza, como os leitores vão vêr.
Dm e Dn por Efíl
Julgo haver demonstrado que pelo diapasão francez en-
Gontra-se em muitos nomes de povoações nossas em por
im,; — agora mostrarei que na onomástica portugueza e no
* Alguém diz que a tal rua da Fonte Taurina tomou o nome d'um
touro que ornamentava uma fonte que alli houve.
Eu tenciono dedicar um tópico ás Etymologias das velhas ruas do
Forto — t esse tópico será longo f...
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 291
antigo portugaez também se encontram im e in por em, co-
mo no írancez.
Mimvaqtieiro e Mira Velho, povoações nossas, na minha
opinião são formas de Mem VaquPÂro e Mem Velho, por Mendo
Vaqueiro e Mendo Velho.
Todos sabem que Men(>ndus, i, deu Mendo, antigo nome'
pessoal e nome actual — e Jlíem, antiga forma de Mendo; —
agora ficam sabendo que também deu Mim, como provam as
nossas povoações — Mimvaqueiro e Mim Velho supra.
Velho ainda hoje é appellido nosso, tirado da edade; —
Vaqueiro foi também appellido tirado das vaccas e hois, como
differentes nomes de povoações nossas. Taes são:
Voccaria, Vacariça, Vaqueira, Vaqueirinho, Vaqueiro (cá
está elle); Vaqueiros, Vaquinha, Vaquinhas e Vagueira por Va-
queira?, — espaçoso chão, muito próprio para pastos, junto
da ria d^ Aveiro.
Junte se Vagas por Vaccas? — povoação nossa também.
Por seu turno Menendus, i, deu o nome a varias povoa-
ções nossas também. Taes são:
— Mandim por Mendim, Mem Martins, Memende por Mem
Mende e este por Mem Mendes — o mesmo que Mendo, filho
d'outro Mendo; ^ — Mendalvo por Mendo Alvo; — Mendares por
Mendo Árias ou Mendo Ayres; — Mendavão por Mendo Alvão^
affim de Mendalvo supra.
Junte-se Mende, Mendel — de Menendellus, i ? ; Mende •
nha por Mendinha, — de Menendina (villa) — e este de Menen-
dinus, i, is, que deu Mendim, supra, — e Mendis ou Mendiz
infra.
— Mendes, appellido vulgar; Mendo, Mendo Affonso e
Mendo Affonsínho. — Mendo Cáceres, ^ Mendo Marques e Men-
danha, por Mendenha supra, o mesmo que Mendanha, appel-
lido nosso também.
Junté-se António Mendo, quinta; Casal Mendinho, João
1 Cf. Pêro Pires, povoação nossa também, o mesmo que Pêro Pe-
res — Pedro, filho d'oiitro Pedro.
Mandim por Mendim pertence ao diapasão francez an por en, de
que logo fallaremos em tópico especial.
- Com vista ao sr. Manoel d Albuquerque de Mello Pereira e Cá-
ceres, dono e actual representante da nobre casa da Insua, de quem já
falíamos supra e volveremos a fallar ainda.
E' s. ex.a também dono de Casal Vasco, antigo morgado e nobre
solar dos Cáceres, instituído em 1482.
V. Miragaya, longo artigo meu, no Portugal antigo c moderno,
vol. V,— pag. 271-275, onde dei a genealogia de s. ex.» e dos Cáceres.
292 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Mendes^ casal, etc.^ — Martim Mendes, herdade ; — Fernão
Mendes^ quinta; — Monte do 3/endes ; — Vai de Mendis ou Men-
diz ; — Vai do Mendo, Vil In Mende, Villa Mendo, etc.
Também Menendus, assim como deu Menendelhis, i, que
se encontra em Mendel supra, - deu ou podia dar Menindus
e Menindellus, — unde Minde e Mindello ?
Menendus também teve a forma archaica Melendus — e
talvez Melindus, i.
Por seu turno Meliadus, i (ad ridendum) — podia dar
Melinde, reino e cidade da Africa Oriental, mencionados por
Camões nos LuziadaiS.
Do exposto se vê que foi muito prolifico na onomástica
portugueza o tal sr. Menendus^ i — o mesmo que Mem, Mim
e Mendo.
Prosigamos.
O mesmo diapasão francez im e in por em — vogou tam-
bém no antigo portugiiez.
Occorre-me no momento Ordin por Ordem — e outrim
por outrem.
Nos Faros da Guarda, pag. 488 i, se lê textualmente ó
seguinte :
— «Primeyramente apellem ao Maestro dessa Ordin^ se
for em o Regno . . . »
Em vulgar : — « Primeiramente recorram ao Mestre da
Ordem, se for C^) no Reino.,. »
Aqui temos nós também no antigo portuguez uma amos-
tra do diapasão italiano, pois im\aestro e regno são vocábulos
italianos, que significam mestre e i^eino, como diz Prefumo.
Também nos Foros de Beja, pag. 490, se lê outrim por
outrem.
Os Foros de Beja, de Gravão, ^ da Guarda e de S. Mar-
tinho de Mouros são, como já disse, muito interessantes para
a historia pátria e um manancial precioso do antigo portuguez.
Veja-se no Portugal antigo e moderno, vol. xi, pag. 1:173
a 1:175, o meu artigo Villar, povoação da freguezia de Bar-
ro, concelho de Rezende e antigamente do concelho de S. Mar-
tinho de Mouros. — Alli mencionei e extractei os Foros de
S. Martinho de Mouros e disse coisas que mal se acreditavam
^ V. Inéditos de Historia Portugueza.
^ Note-se que ainda hoje em Lisboa o povo rude — e muita gente
bôa — em vez de carvão dizem cravão ? !. . .
— Risum teneatis.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 293
líoje com relaçáo á prepotência dos antigos fidalgos. — Pro-
vam ellas claramente o motivo porque certas povoaf;Oes nos-
sas, como o Porto, Pinhel ^ e outras^ muito estimavam o pri
vilegio de não poderem viver dentro dos seus muros fidal-
gos nem ricos homenH.
Volvendo ao diapasão francez im e in por em, — elle se
encontra em muitas povoações nossas. Taes são:
— Inchouzella por Em Chouzella — e este por choncella
ou choicella, pequena chouça ou choiqa, nome que o povo da
Beira dá a um acerbo informe de plantas agrestes — ou ma-
tagal.
Também Chousella pôde vir do portuguez cJiousa, o mes-
mo (^ue chousal e chouso : — redil ou sebe que os pastores ar-
mam no campo^ de verão, para ahi recolherem o gado, — ou
do portuguez antigo — chouso, pequena fazenda cerrada sobre
si; tapado; cerrado.
Cf. Choiça {?...), — Choiisa, Chousal, C^ousalinho, Chou-
sas, Chousella ( — cá está ella ! . • • )> — Chousellas, Chousinha,
Chouso e Chusas por Chousa^i? — povoações nossas.
Também temos Inchousos por Em Chousos, plural de
Chouso, supra.
— ingonços por engonços?
— Ingostas por Encostas, plural á' Encosta^ povoações
nossas.
. — Inguias por enguias. — Intendente, o mesmo que en-
tendente.
— Inviando, o mesmo que Enviande, povoação nossa
também.
— Inxameia, o mesmo que Enxamea? — povoações nos-
sas.
— Inxidro — o mesmo que Enxido e Enxidro.
— Enxudro — talvez o mesmo que Enxuldro por enxur-
ro, — como Inxudreiro por enxuldreiro^ e este por enxurr eiró,
povoações nossas.
Eu conheço a quinta do Inxudreiro. Demora em Ba-
gauste, no Alto Douro, margem direita, junto da estação
actual de Bagauste, na linha férrea do Douro. — E bem lhe
quadra o nome de Inxudreiro, por enxuldreiro ou enxurreiro,
pois comprehende na margem do rio um trato de terreno
^ Veja-se no Portugal antigo e moderno, vol. vii, pag. 60 a 101, o
meu artigo Pinhel, onde mencionei um facto interessantíssimo com rela-
ção ao despotismo dos fidalgos in illo tempore.
294 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
alagadiço, coberto lias enchentes pelo Douro, que alli deposita
grandes nateiros, formando grandes enxuldreiros, enxurreiros
ou inxudreiros.
De passagem direi que Bagauste é um dos sitios mais
interessantes do Alto Douro, — Comprehende hellas quintas^
entre as quaes avulta a dos Bahias ; — foi habitado desde
tempos muito remotos — e teve um convento anterior á nos-
sa monarchia.
Veja-se no Portugal antigo e moderno o artigo Bagauste
•^ e no Elucidário de Viterbo o artigo Bacalar.
O mesmo nome Bagauste é muito archaico e vem do
tempo dos mouros, pois na minha opinião Bagauste é contra-
cção e detuipação de Iben Augusti — íilho de Augusto^ como
já dissemos.
— E por metathese Bagauste deu Baguaste, povoação
nossa também.
Proseguindo com o diapasão francez, junte-se :
— Emjoostos por impostos, povoação nossa.
— Enfistella por Infestella, diminutivo de Infesta por en-
festa — cumeada, picoto^ — do latim fastigium ?
— Enfermaria — povoação nossa, — o mesmo que infer-
maria.
— Enfermos — o mesmo que infermos.
- Engenho — o mesmo que ingenJio, povoações nossas.
Também o povo portuguez, sem nunca ir a França nem
sonhar com o francez, trivialmente emprega im por em. —
Assim costuma dizer : — está im, Lisboa, im Bragança, im
Lamego, im Barcellos, im Faro, im Setúbal, im Tentúgal, etc.
— Não diz em Lisboa, em Bragança, em Lamego, etc.
Muito espontaneamente prefere o im francez ao em por-
tuguez.
Também costuma dizer : imbalar — não embalar ; imhan-
deÍ7'ar — não embandeirar ; imbarcar — não embarcar ; imbar-
gar — não embargar; imbrulhar — não embrulhar ; imprestar
— não emprestar ; impinhar não empenhar ; impurrar — não
empurrar, etc.
Somma e segue o diapasão francez. .
Ens por íns e eis por eis — o mesmo que aès e ens?
Fens, povoação nossa, e Fins, appellido, — são formas
do mesmo nome, tiradas de Félix, icis, nome d'um santo,
TENTATIVA ETYMOLOaiCO-TOPOXYMICA 295
etc, que deu 'S. Félix, Sanfin, San fins, S. Fins e por meta-
these Sinfães, povoações nossas, como já dissemos.
— Mourens por Mourins é o mesmo que Mouris, Moiiriz.
e Mourizes, povoações nossas. — De Maurinis, patronimico
de Maurinus, i, diminutivo de Maurus, i — Mouro ou Mau'
ro, nome d'um santo, etc.
Também temos uma povoação (quinta) chamada Mureis
por Mar tis, o mesmo que Murens por Mourens supra?
Note-se que na onomástica portugueza u deu ou — e ou
deu u, como já dissemos, pelo que Mourens deu ou podia
dar Murens.
Também Mureis pôde ser uma fórma de Mureis por Mu-
rens, — já porque o til facilmente se perdia ou esvaia nos có-
dices,— já porque na onomástica portugueza se encontram
de longe em longe as desinências aes, a es e ans com o mes-
mo valor, — o que me leva a suppôr que também se confun-
diram as desinências m, tis, ens?... ^
— Fiat lux.
Com o mesmo diapasão de Mureis temos também Careis,
povoação nossa, — talvez fórma de Çareis por Carens — e
este por Carins,
— De Carinis, patronimico de Carinus, z, diminutivo de
Carus, i, Caro, nome ou cognome romano do imperador
Marco Aurélio Caro ^, successor de Probo, etc.
Junte-se Cotem, Cotens e C úteis por Coteis, Coteis ou Cu-
teis, Cutens ou Cotins — Cotinhos, Continhas ou Godinhos ? /...
— De Coiim por Cotttim — Cotinho ou Coutinho, como
já dissemos, — ou de Gothinus, i — Godinho, como Godim, —
Goim por Godim, — Godinho, Godinhos, Godins e Goins por
Godins, povoações nossas.
— Vejam que salsada .^ /. . ,
— Irra I
Junte-se Gontães e Gontens por Gontins, plural de Gon-
tim por Gondim — povoações nossas.
Com vista ao meu bom amigo, laureado escriptor e cli-
nico, dr. Innocencio Osório Gondim.
1 Veja-se o tópico infra : — Desinências curiosas da onomástica
portugueza.
- Foi um general prudente e activo, — conquistou os Sarmatas e
continuou a guerra da Pérsia, que o seu antecessor iniciou.
Reinou apenas dois annos e morreu nas margens do Tigre, em uma
expedição contra a Pérsia, no anno 283 da nossa era, como diz Eutropio.
296 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Somma e segue :
— Molães por Molens — e este -por Molins — moinhos?
— Do baixo latim molinus, i — moinho, — ou do francez
moulins, que se lê mulêns, quasi Molães, — moinhos ? ! . . .
Cf. Gontães e Gontens por Gontins supra.
Molães é uma povoação do Douro na minha Penajulia»
Ainda temos Pintem por Pintim — e Pintens por Pin-
Uns — Pintinhos, o mesmo que Pintainhos, povoação nossa
também, como já dissemos.
Junte se Martens e Martins, appellidos nossos, tirados
de Martinis, patronimico de Martinus, i — Martino, Martim
e Martinho, nomes pessoaes, que por seu turno foram tira-
dos do latim Mars, Martis — Marte, deus da guerra, como
Apolo, deus da sciencia, deu Apolonio, nome d'um santo, etc.
Ahi vae agora mais um espécimen do diapasão francez
na onomástica portugueza e em portuguez.
U por OU
— Alquetes — propriedade minha no Douro^ muito vis-
tosa, que já foi cultivada e habitada pelos romanos, como já
dissemos e provámos.
Pode vir de ^/ + Jcouetes — as maltas — ou junto das
mattas.
Do celta ou neocelta l'ouete — matta — com o prefixo
árabe ai — o, a, os^ as, — ou com o prefixo também celta ou
neo-celta are — junto de... — em frente de... que se encontra
em Aremorica^ hoje Bretanha ou Baixa Bretanha, como já
dissemos.
A escala seria: Ar ou Al -\- Ivouetes — Alcuetes — Alque-
tes?
E' assim a arte nova e rira hien qui rira le dernier! , . .
— Bucellas — aldeia e freguezia do aro de Lisboa, no
concelho dos Olivaes,
Na minha opinião Bucellas é o mesmo que Boucellas, di-
minutivo de Bouças.^ como Boucelhas, Boucinhas, Bouçai-
nhas por Boucinhas, e Vouzella por Boucella, povoações nos-
sas, que tomaram o nome das bouças, como outras muitas, —
ao todo mais de- mil ! — mencionadas na Choroyraphia Mo'
der na.
Taes são : — Bouça, Bouça Boa, Bouça Chã, Bouça Cova^
Bouça da Casa, Bouça da Cruz, Bouça da Fronte, Bouça da
Lage, Bouça da Lama, Bouça da Ponte e Bouça da Pupa —
TENTATIVA ET\'A10L0GIC0-T0P0NYMICA 297
O mesmo que Bouça da Poupa. — Aqui temos nós um bello
espécimen do diapasão francez u por ou.
V. Pupa infra.
Somma e segue.
— Bouça da Vaca, Bouça do Ahbade., (não é minha) — e
Bouça d^Airó (?...) que podia tomar o nome de atro, ave
aquática, pela forma airol, como Airó^ e Airoles, povoações
nossas também.
N'este caso Alró e Airoles são diminutivos de ai7'o, que
podia dar também airão, Airão e AyrciOj povoações nossas,
como águia deu Aguião, gaio deu Gaião, etc.
Mas na minha opinião Airó é o mesmo que Eiró e Eirój
muitas povoações nossas — ao todo mais de 50 — que toma-
ram o nome de eirola, no baixo latim areola, diminutivo de
área — eira, como Eírirtha, Elrinhas, Eirinhos, Eirogo por
EÍ7'oca, o mesmo que eirola ou eiroca, etc.
Nós também temos Eirão, aldeia, que podia dar tam-
bém Airão e Ayrão supra, mas julgo que Airão e Ayrd.o vêem
de Arianus, i, Ariano, antigo nome d'um santo, que deu
Ariano e podia dar também Arião, Airão e Ayrão, como
Adrianus deu Adriano, Adrião e Santo Adrião, povoação
nossa, — Romanus deu Romano, Romão e S. Romão, povoa-
ção nossa também ; — Cyprianufí deu Cypriano, Ciòrão, ap-
pellido, S. Cypnano e S. Cibrão, o mesmo que S. Cypriano,
povoações nossas também.
E' assim a arte nova,
"Proseguindo com o thema bouças, ainda temos:
— Bouça de Baixo, Bouça de Cima, Bouça de Dentro e
Bouça de Fora, — Bouça de Grillo e Bouça de Guindas, o
mesmo que bouça àe ginjas {?!...) — pois Guindas, como
Guindaes, nome d'um antigo bairro do Porto, com toda a
certeza vem do castelhano guinda — ginja, que pela forma
guindai — gi^j^l, ginjeira!, deu guindales — e Guindaes.
Note se que entre o medonho fragoedo abrupto dos
Guindaes eu — se bem me recordo — vi ha muitos annos cer-
deiras ou ginjeiras bravas — e talvez que ainda hoje lá se en-
contrem algumas ! . . .
Também temos Guinde e Guindo, que tomaram o nome
do castelhano guindo, synonimo de guindai —ginjal, ginjei-
ral, como diz Valdez.
A O. dos Guindaes ha outro bairro ejusdem fusfuris —
não menos abrupto e o mais immundo, mais nojento do ve-
lho Porto, a sopé do antigo bairro da Sé.
298 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Chama-se Codeçal — e tomou o nome do codêco^ planta
arbustiva^ também espontânea, que alli talvez abundasse
outr^ora, como abundou em varias regiões nossas, pois temos
ao todo mais de cem povoações que tomaram o nome do co-
dêço. — Pelo exotismo do nome avultam entre ellas Codal
por Codeçal? — Codecido por Codecêdo — e pelo diapasão cal-
laico ou gallego Codexido por Codecido f /.. .
Volvendo á série das Bouças, ainda temos :
— Bouça de Padre { também não é minha) ; Bouça de
Bicos (idem); Bouça do Louro (idem); Bouça do Rei ^; Bou-
ça do Rio ; Bouça dos Agueiros^ o mesmo que Arroios e Ar-
rayollos por Arroyolos.
Bouça dos Fojos! — Este nome vem do tempo em que
abundavam entre nós as feras e se faziam fojos para as ca-
çar, — unde Foia, Foio, Foios^ Foja, Fojo, Fojos e Refoyos, o
mesmo que Refojos — grandes foios ou fojos, povoações nos-
sas.
Cf. Cabadouso, Cabaduço e Caòaduços por Cova do Urso
e Cova dos Ursos — fojos ou Covas para caçar ursos, — e Ca-
doucos por Cabadoucos, hoje rua muito linda na Foz do Dou-
roí!.., ^
Somma e segue.
— Bouça Fria, Bouça Milhaça, abundante em milho.
— Bouça Paio ! — De Pelagio, em latim Pelagius, ii, iis,
unde Paes, S* Pelagio, Sampaio e Paião, de Pelagianus, i,
diminutivo de Pelagius.
Também Paio, na onomástica portugueza, por apocope e
obediência á lei do menos pezo, deu Pai.
Cf. Pai Agua, Pai Alvo, Pai Cabeça, Pai Calvo, Pai Ca-
nito, Pai Cão, Pai Daniel, Pai das Donas, ^ Pai d'Aviz, Pai
Joannes, Pai Janes, o mesmo que Pai Joannes, Pai Lobo,
Paimogo por Paio Mogo ; — Pai Moure, Pai Penella, Pai Pol-
dro, Pai Sobrado, Pai Soeiro, Pai Viegas, Pai Vieira, Pai
1 Com vista ao sr. D. Manuel II, nosso rei actual, a quem Deus
guarde por muitos annos e bons.
^ Cadouços por Cabadoucos — cova d'ursos — é congénere de
Cova da Bouça, Cova da Burra, Cova da Lua, Cova da Onça, Cova da
Raposa, Cova da Serpa ou da serpente,— Cova da Zorra, o mesmo que
raposa, — Cova de Lobos, Cova do Coelho, Cova do Lobo, etc, povoa-
ções nossas também.
Dos ursos tomaram também o nome outras muitas povoações nos-
sas, como já dissemos.
3 Donas é appellido nosso.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 299
Villão, etc, — povoações nossas e o mesmo que Paio Agtia,
Paio Alvo, Paio Caberia, Paio Calvo, Paio Cão, Paio Canito, etc. ^
Também são povoações nossas Paio, Paio Affon.so, Paio
Calvo, o mesmo que Pai Calvo, supra, Paio Correia, Paio de
Pelle, Paio Mendes e Paio Pires, que se encontra na decan-
tada freguezia do Seixal, bem conhecida como Aldeia de Paio
Pires.
Pelo ultimo censo contava ella 1:027 habitantes. — E',
pois, mais populosa e mais importante do que centenares de
freguezias nossas, pelo que é uma injustiça flagrante conside-
rarmos a Aldeia de Paio Pires como a nossa aldeia ou povoa-
ção mais obscura e mais insignificante.
E' além d'isso muito vistosa, muito alegre e bastante mi-
mosa, banhada pelo rio Coina — e orgulha-se de haver sido
fundada pelo valente commendador de S, Tliiago e fronteiro-
mór do Algarve — o famoso Paio Peres Correia, do qual to-
mou o nome de Paio Pires, o mesmo que Paio Peres.
Comprehende muitas- quintas — ao todo mais de vinte e
oito — dispersas ou disseminadas pela sua vasta zona — • e uma
aldeia denominada Foros da Catampôna? !...
V. Aldeia de Paio Pires no Portugal antigo e moderno, vol. i,
pag. 89 — e a Chorographia Moderna, vol. iv, pag. 763 e 764.
Catampôna vem talvez de Catapôna, portuguez popular,
pejorativo de tapona — pancada. — Neste caso a povoação de
Catampôna ou P^ôros da Catampôna pertence á grande série
de povoações que tomaram o nome de apodos ou appellidos.
Nós não temos actualmente Catampôna, Catapôna ou Ta-
pona, appellido, mas temos o appellido Pancada, synonimo
de tapona.
Ahi vae agora um jorreiro de dislates meus a propósito
da etymologia de Coina, rio mencionado supra.
Como em assumpto de tal ordem não ha precisão mathe-
matica, vou propor d iffe rentes etymologias para tão extranho
nome e deixo a porta aberta e franca para outra que melhor
satisfaça.
Coina
— rio da Extremadura alemtejana, districto de Lisboa, que
banha a freguezia de Paio Pires, etc, no concelho do Seixal ^
1 Cão foi appellido nobre e antigo de Diogo Cão, etc. — Canito é
diminutivo de Cão e também appellido nosso.
Veja-se o meu Diccionario de Appellidos Portuguezes.
300 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
— e Coina, villa e freguezia extinctas, hoje annexas á fregue-
zia de Palhaes, concelho do Barreiro^ podem vir :
l.a — de Góina, antigo nome pessoal.
— Ego Góina Pefri de Cambar... — Tibi prefacia Góinae...
Em vulgar: — Eu Góina Peres de Cambar,.. —A ti su-
pra mencionada Góina...
Documento da Cathedral de Vizeu. Não tem data, mas
com certeza é do século xii — e pôde vêr-se no Elucidário de
Viterbo, tit. Deo Vota.
Góina podia sem violência dar Coina, pois ca, co cu e ga,
go, gu trivialmente se confundiram e substituíram na ono-
mástica portugueza.
Veja-se o tópico inírs,: — SubstituiçõU) de letras.
2.* — Também Coina pôde vir do árabe Jcouna, viso de
monte, cumeada, ^ pois entre nós oi e ou confundiram-se e
ainda hoje se confundem.
3.^ — Pôde também Coina vir do basco ou euskaro —
C(^iYi — altura, elevação, que se encontra em Tarragôna, ci-
dade da Hespanha, situada sobre um grande rochedo com
pendente rápida, como diz Moncaut, pag. 456 e 458, — vb.
Escoin.
O mesmo auctor accrescenta : — O prefixo thara de Tar-
ragôna — é basco também e significa pena, difpculdade.
Note-se a identidade da significação do basco ou etcsJcaro
coin — e do árabe l:ouna supra.
4.* — Também Pinho Leal, meu benemérito antecessor,
diz que a villa de Góina tomou o noms de Equa Bona, po-
voação romana que alli esteve — ou em Agua de Moura. ^
João Baptista de Castro também diz que a villa de
Coina representa a estação Equabona, mencionada no Roteiro
d' Antonino ; mas o dr. Emilio Húbner nas suas Noticias Ar-
cheologicas de Portugal, diz :
«A situação de Equabona é completamente incerta e não
pôde affirmar-se que ella corresponde a Coina pela remota
semelhança dos nomes.» ^
Nôs temos também Coja, Goia, Goija, Goixa, Goixo, —
1 V. Cherbonn, pag. 211. .
— Coina foi denominada Cóuna por D. Sancho \, no codicillo que
fez em 1188.
Elucidário, vb. Bemquerença, in fine.
2 V. Coina e Palhaes, no Portugal antigo e moderno, vol. ii,
pag. 358.
3 V. Palhaes na Chorographia Moderna, vol. iv, pag. 406.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 301
Goio^ Goja e Gojo, que talvez tenham a mesma etymologia de
Coina, pois Coina podia sem violência dar Cóiaj que antiga-
mente se escrevia Cojja e Coja?/...
Por seu turno Cóia podia sem violência dar Ooia, Goija,
Goja e Gojo, pela trivial substituição de go e co. — E pelo an-
tigo diapasão callaico também Goija e Goijo podiam sem vio-
lência dar Goixa e Goixo ? f...
Também como jà dissemos, Coja, Cojinha, Coixa, Coixi-
nho, Coixo e Coixos — varias povoações nossas — e Monte
Caixa {S. Domingos de Monte Caixa) — santuário e monte do
concelho trasmontano de Sabrosa, — Gogido por Gojêdo, —
Goija, Goije por Goija, — Goixa, Goíxe, por Goixo, — Goja,
Gojide por Gojêdo — e Gojo, povoações nossas, — podiam to-
mar o nome de tojo, pois ca^ go e to não raras vezes se con-
fundiram na onomástica portugueza.
Veja- se o tópico infra : — Substituição de letras.
Note-se que o povo não diz tojo, mas toijo, — e que o
monte de S. Domingos de Monte Coixo abunda em tojo.
V. Tojo e Tosar no Índice da 1.^^ parte, onde se encontra a
lista das nossas muitas povoações que tomaram o nome do tojo.
Pinho Leal no artigo Coja diz que esta villa tomou o
nome do árabe Copje, que nós pronunciamos Coje — e corres-
ponde ao latim praetor — pretor, significando assim Coja —
villa ou povoação do pretor.
V. Coja no Portugal antigo e moderno, vol. ii, pag. 358,
— e Coje, nos Vestigios da língua arábica, de Fr. João de Souza
— artigo que Pinho Leal aproveitou, posto que o não citou.
Podia eíFecti vãmente Copje dar Coja, mas na minha opi-
nião Coja vem de Toja, povoação nossa também que to-
mou o nome do tojo, como em Aveiro (?) o sitio denominado
Côjo?!...
— Fiat lux.
* *
Volvendo á lista das povoações que tomaram o nome
das bouças, ainda temos :
— Bouça Redonda. — Não admira que fosse redonda a
dita bouça ; mas temos uma povoação denominada Ponte Re-
donda, cujo nome faz scismar!. . .
— Com vista aos engenheiros.
— Boução, Bouças e Bauceguedini — por Bouça Godim
ou Bouça da Godim?
— Bauceiras, Baucinha, Boucainha e Bauchina por Bou-
302 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
cinha^ pois no velho diapasão callaico Boucínha podia escre-
ver-se Bouxiha — unde Bouxína e Boucliina pela suppressão
do til — suppressão que era fácil, como já dissemos, e na mi-
nha opinião deu se muitas vezes nos defumados e antigos có-
dices e na onomástica portugueza?...
— Com vista aos paleographos e ao meu suocessor.
Ainda temos Boução e Bouço por Bouça;— Boiições, —
Bouçoães por Bouçães, — e Bouçães ou Bouçõesf...
— Este Bouçoães é amphibio !
Junte-se Boiíçó e Bouçós — por Bouçolos ou Bouçolas, di-
minutivos de bouça, como Boucinha^ Bouçainha, Boucella e
Vouzella supra.
Veja-se o tópico infra: — Diminutivos com a desinência
olus, ola.
Para atesto do casco junte-se finalmente :
— Bousias por Boucias — Bouças'^ — Bouxa, diapasão cal-
laico de Bouça — e Bozelha por Bocelha — Boucelha ?
A Gallisa, irmã gémea de Portugal, tem muitas povoa-
ções com os nomes de Boucina e Bouziha, que se lêem Bou-
cinha ; — Bouza e Bouxas, que se lêem Bouça q Bouças ; —
Bouxo e Bouzos, que se lêem Bouça e Bouços ; — Bouzon que
se lê Bouçon e corresponde ao portu^uez Boução, etc.
— Nas outras províncias da Hespanha não ha nomes
eguaes .nem similares ff.,.
Fecharemos este longo tópico das Bouças, dizendo que
bouça, terreno inculto, "na opinião do snr. Cândido de Figuei-
redo— vem do portuguez balsa ou antes balça: — matagal;
terreno inculto^ onde nascem arbustos espinhosos ; balseiro
ou dorna em que se pisam e fermentam as uvas ; espécie de
funil de madeira, pequeno balde com que se lança o vinho
nas cubas e toneis; jangada; antigo pendão, bandeira, estan-
darte ou balsão dos Templários.
Mas qual a etymologia de balça ?
— Na opinião do mesmo sr. Cândido de Figueiredo ^ é o
latim baltea, plural de balteum, o mesmo que balteus.
Baltea daria, pois, balça, como puteum oii puteus deii poço
e 2^oça. — Mas balteum significa talim, talabarte, boldrié, tira-
colo, cinto militar, ^ — não estandarte ou bandeira e menos
' V. Novo Díccionarío da Língua portugueza.
- Vem, pois, claramente balteum do scandinavo ou teutonico bali
—fita, que deu também o nome ao Báltico, per ser mar muito estreito e
tortuoso, imitando ama fita, como se lê algures.
TENTATIVA ETYMOLOOICO-TOPONYMICA 303
ainda terreno inculto^ mafafjaly etc, como significam balça e
hou(^a.
Isto me leva a suppur que o portuguez houça vem talvez
do baixo latim banda '} — ou coisa semelhante — mesmo por-
que temos Bousias (quasi Houcían) aldeia mencionada supra.
Veja- se o Glos-sarfo de Ducange, que agora não podemos
confc;ultar, — notando-se que no dito Glossário, como já disse-
mos, — faltam muitos vocábulos do haixo latim, relativos a
Portugal, que podiam dar um grosso folioíl... ^
Nós temos 21 povoações com os nomes de Balsa, Balsas
e Balsinha -■ e eu conheço muito bem uma d'ellas. — Chama-
se Balsa ou Balça ,\ — é uma pequena povoação e forma com
outra ejusdem, fusfuids^ denominada Desejosa^ uma freguezia
pertencente ao concelho da Pesqueira, no Alto Douro.
Demora ella em sitio escabroso com pendente rápida so-
bre a margem direita do Távora^ pelo que a dita povoação
da Balsa ou Balça podia tomar o nome do toscano sbalzo —
despenhadeiro, como já dissemos no longo tópico supra, de-
dicado ao Diapasão toscano, vol. 1.**, pag. 45 a Ô7.
Mas viriam também do toscano svalzo todas as outras
nossas Balsas? — Fiat lux!...
Também no velho toscano — segundo se lê no curioso Vo-
cabulário de las Casas, publicado em Veneza no anno 1537 —
ha 372 annos ? !... — se encontra svalzo pulo ; — salto da pella;
— e svalzare — (quasi valsar 7) — saltar.
Pode, pois, sem violência, o portuguez valsar vir do tos-
cano — svalzare.
O sr. Cândido de Figueiredo diz que valsar vem de valsa^
— esta do francez valse — e esta do allemão ícalzer de icãlzen,
— Será assim; mas o velho toscano é anterior ao latim, ao
italiano, ao francez, ao castelhano e diO portuguez? ! ...
Desculpem os meus poucos leitores tantos dislates e pro-
sigamos com o diapasão francez.
O por flU
Na onomástica portugueza e em portuguez não é raro o
diapasão francez o por au.
Cf. Aldova por Adolfa — e Dolves por Adolves, povoa-
1 Com vista aos manes de Herculano, de Viterbo e de /oão Pedro
Ribeiro, — os antiquários mais sérios, mais illustrados, mais trabalhadores
e mais auctorisados que Portugal tem tido até hoje.
304 TENTATIVA ETYMOLOaiCO-TOPONYMICA
ções nossas, cujos nomes foram tirados de Adolphus^ i — Adol-
pho, nome pessoal e nome d'um santo, — e este de Athaulphus,
i, — nome germânico pessoal muito prolífico na onomástica
portugueza, pois na minha opinião Athaulphus, i, deu o nome
ás nossas povoações seguintes :
— Adaiifa, Adaufe ; — Adaufe ou Adoufe ( sic ' ; Adoufe
- e Adoufe ou Adaufe^ — povoações assim mencionadas na
Chorograpliia Moderna^ bem como todas as que vou citar.
— Adufe, Aldova por Adolfa, como já dissemos; Bal-
drufa por Balãufa e este por Valdufa ?, — Casal Doufe e
Casal d' Ufe ; Dohes por Athlves — e este por Adolphis, o
mesmo que Atliaulphis^ patronimico de Athaulpluis^ i, que se
encontra mais bem desenhado em Adaufe e Adufe.
Somma e segue.
— Estrada de Ufe ; Fonte d^ Ufe ; Vai d'oufe (sic) — o mes-
mo que Valdouve por Valdufe— valle d'Athaulplio^ ^ — ou de
Ihen Athaulphus — filho de Athaulpho, como Baldrupha por
Baldupha, mencionada supra. ^
Ainda temos :
— Villa Duffe, — Villar d'Oufe — e talvez Tufe e Tufos,
povoações nossas.
Tufe por Atufe devia ser a forma anterior de Adufe por
Ataufe^ tirada de Athaulphus, i, que pelo mesmo diapasão po-
dia também dar Athaulptus, — Tulfos — e Tufos I . . ^
O mesmo Athaulphus, t — deu Adolpho e Adulpho, no-
mes de santos, etc, — em latim Adolphus, i, is — unde Dol-
ves por Adolces, o mesmo que Adolphis — e Aldova por Adol-
pha supra — de Adolpha (villa) — a granja, quinta ou casa
de campo de Adolpho, como Regulus — Regulo, nome d'um
santo, etc, deu Regula Villa ~ hoje a formosa villa da Regua^
como já dissemos.
Também Adolpho deu Adolphina e Adolfino, em latim
Adolfinus, i, is — unde talvez Dou fins por Dolphinis, povoa-
ção nossa, aferese de Adolphinis 7 . . .
— E' assim a arte nova — e rira hien qui rira le dernier !...
1 Note-se que das estradas das fontes e dos valles tomaram o nome
talvez mais de nove mil povoações nossas, todas mencionadas na Choro-
graphia Moderna.
2 Veja-se o meu tópico supra: -- Thema Iben.
3 Cf. Tougues, Touguinha e Touguínhó por Thioguis, Thioguina
e Thioguinolusy i, formas anteriores de Diogues, o mesmo que Diegues,
Dioguinha e Dioguinho, tiradas do prolífico Thiagiis, o mesmo que
Diego, Diogo e Diago, como já dissemos.
TENTA.TIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 305
Do exposto se vê que foi muito prolífico na onoraa-stica
portugueza o tal sr. Afhaulphnfi, que pelo diapasão francez o
por au deu Adolphus i, is^ unde Adolpho, — Dolves por Adol-
ves, o mesmo que Adol/ls, Adaulfis e Athaidphls, — Adoufe, o
mesmo que Adaufe por Afhaiilphi, etc. — E pelo diapasão
francez u por ou — Adoufe deu Adu/e, JJufe e Ufe, etc, co-
mo já dissemos.
Somma e segue o diapasão francez o por ati.
Cf. Maurelles, Mauriz, Moura, Moura Morta, Moural,
Mourão, Mouraria, Mouras^ Mourata, Mourato, Mouralos,
Mouraz, Moure e Mourel, — o mesmo que Moural, pois, como
já dissemos, na onomástica portugueza confundiram-se e sub-
stituiram-se as desinências e/, il e aL
Junte-se:
— MoureUinho, Mourello, Mourellos, Mourens por Mou-
rins, o mesmo que Mouriz, povoação nossa também, mencio-
nada na Choro gr apMa Moderna^ como todas as que já citei e
as que vou citar.
— Mourento e Mouria por Mouraria supra, como Fran-
zia por Francezia, — Cárdia por Cardaria^ etc.
— Mouril, o mesmo que Motirel e Moural; — Mourilhe,
Mourim, Mourinha, Mourinho, Mourinhos, Mouris, Mourisca,
Mouriscas, Mourisco, — Mourissó (?!...); — Mouriz, Mourizes,
Alouro, Mourões e Mouros.
Junte-se ainda:
— Casal de Mouro e Casal do Mouro» Corte do Mouro.
— Cova da Moura. — Fonte da Moura. — Fonte do Mouro.
— Fonte Morena e l^onte Moura, — Foz da Mourisca. — Foz
do Mouro. — Maurelles, Mauriz. — Monte da Mourata. — Mon-
te da Mourinha.— Mour alves por 3Iouro Alves? — Monte do
Mourinho. — Monte do Mcurique. — Monte dos Mouriquinhos
e — Monte de Adeus Mouros? !...
Junte-se também :
— S. Martinho de Mouros. — Outeiro da Aloura. — Outei-
ro do Alouro. — Outeiro dos Aíouros.
Pai Mouro por Pelagio Alouro, o mesmo que Paio Alouro
e Palaio Mouro ou Paio Alouro. — De Pelagius, ii, antigo
nome pessoal, que deu Pelagio e Paio, nomes de Santos, que
se encontram em S. Pelagio de Fornos, freguezia do concelho
de Castello de Paiva, — S. Paio e Sampaio por S. Pelagio, —
appellido e povoações nossas, como Paio, Paio Pires, etc.
Também Pelagiis deu Pais, appellido nosso vulgar, — e
Plagianus deu Paião, freguezia do concelho da Figueira.
20
306 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Por seu turno Pelagius vem do Idcúiíi pelagus — mar —
e é synonimo de Mavius — Mário, nome romano e também
nome d'um santo, etc, como já dissemos.
Volvendo á serie das nossas povoações que tomaram o
nome dos mouros, ainda temos:
— Palamoro? — Fé de Moura — sitio nas margens do
Douro, — Pego Mourão, — Pego da Moura, — Penedo do Moíi-
ro, — Pêro Moreno, — Pêro Mouro e Pêro do Mouro ? ! ... — Po-
ço Mourão, — Poço do Mouro e Poço dos Mouros! ... — Ponte
de Mouro, — Ponte do Mourão e Ponte do Mouro I... — Porto
Mourisco e Porto do Mouro.
— Relva da Moura, — Riba de Mouro. — Rio de Mouro.
— Serra do Mouro. — Torre do Mouro. — Vai de Moura. —
Vai de Mourão. — Vai de Mourelles. — Vai de Mourisco. —
Vai de Mouro. — Vai de Mouros.- — Vai do Mouro. — Vai
Mourão e Vai Mourisco ? / . . . Villa Moura. — Villa Mouro.
— Villar de Mouros. — Villar do Mouro, etc, povoações nos-
sas — ao todo iuais de trezentas, mencionadas na Chorogra-
phia Moderna.
Isto prova que os mouros tiveram longa residência em Por-
tugal — e que a onomástica éum valente auxiliar da historia! ...
Elles demoraram se muito entre nós — nada menos de qui-
nhentos annos, — desde o século viii até o século xiii, data
em que foram expulsos do Algarve. — Coube- nos a gloria de
os expulsar definitivamente duzentos annos antes que a Hes-
jpanha os expulsasse do seu território^ pois só no século xv
os expulsou da Andaluzia.
Elles incommodaram-nos muito, — mas tudo pagaran com
o próprio e custas I^õ.o só os expulsámos aferro e fogo do
nosso paiz, raas fomos batel-os na Africa e lhes tomámos to-
do ou quasi todo o littoral de Marrocos!... — E, se não fo-
ra o revez à^ Alcácer- Kihir em 1580 — não sei até onde iría-
mos? !...
As muitas povoações mencionadas supra tomaram o nome
dos mouros, como já disse; mas note-se que algumas e não
poucas tomaram o nome dos mouros — não como conquista-
dores e senhores d'ellas, — mas como vencidos, prisioneiros e
captivos ? I . . .
Pondo de parte a historia e volvendo ao diapasão fran-
cez o por au, diremos que as ditas povoações tomaram o no-
me dos mouros, em latim mauri, orum, que no baixo latim
deu maurus, i — mouro e Mauro, nome d'um santo, etc. —
em castelhano Moro — e em portuguez Mouro, quasi Moro
TENTATIVA ETYMOLOGTCO-TOPONYMTCA 307
por Mauro, — nitido exemplar do diapasão francez o por au,
— thema dos nossos dislates no momento.
Maurus, /, entre nós deu Mauraniis, l, unde Mourão, ap-
pellido vulgar, etc. — e Maurdlus, i, is^ unde Maurelles^ Mou-
ref, Mourello e Mourellos, supra.
Por seu turno Maurellns, 2, deu Maurellinus, i — unde
MourelJinho supra, diminutivo de Mourello e subdiminutivo
de Mouro. ^
Também Maurus, i deu Maurimis, i, is — unde Maurix,
Moiírím, Mourinho, Mourinho^, Mouris, e Mouriz supra, — o
mesmo que Mauriz por Maurins e Mourens, diapasão francez
de Mourinsl..,
Por seu turno Mourim e Mourins deram Morim e Morins,
povoações nossas também, cujos nomes foram tirados de Mau-
rini, is, pelo diapasão francez o por au.
Também Mauriis, i, deu Maurilius, ii^ unde Moiiril, Mou-
rilhe e Moural por Moíiril, como cahra deu Cabril e Cabral.
Veja-se o tópico supra: — Desinências el, il e ai.
Também Maurus, /, deu Mauricus, i — unde Mouriga e
Mourigo, povoações nossas. ^
Por seu turno Mauricus, i, deu Mauricius — Maurício,
nome d'um santo, etc. — E Mauricius deu Mauriciolus, i,
unde Mourissó, povoação nossa também.
Mourissó é pois, diminutivo de Mauricio e quer dizer
Mauricinlio^ — como Alijó e por contracção Lijó, vêem de
Alexiolus, i, diminutivo de Alexius, ii — Aleixo, nome d'um
santo, — e querem dizer Aleixinho.
Também temos Eituró, povoação, cujo nome veiu de
Hectorolus, i, diminutivo de Hector^ oris — Heitor — e quer di-
zer Heitorsinho .
Cf. Santo HeitorzinJw, nome que o povo da freguezia de
Loureiro, concelho da Regoa, dava — e dá! — a um virtuosis-
simo fidalgo seu visinho, chamado Heitor, que falleceu ha pou-
cos annos e — sem estar ainda canonisado — é tido e venerado
como santo ? ! ...
Ha também no Douro, junto da villa da Pesqueira^ uma
formosa quinta, chamada Cidrô. — Pertence a um irmão do sr.
Marquez de Sovei^al^ nosso embaixador em Londres, ministro
' Junte-se Mortinho, aldeia nossa, contracção de Moiirelinho !. . .
— E' assim a arte nova — e rira bien qui rira Ic dernier.
- Também taurus, /—touro, deu fauricus e taaríca unde touriga,
uva, e Tourigo, povoação nossa, como Tourega, por Touriga!...
308 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
d'estado honorário, etc, e desde longa data persona grata de
Eduardo vii, rei da Grã-Bertanha, imperador das índias, etc.
Na minha opinião Cidró vem de Cidrolus, diminutivo de
Cidrus — CidrOf o mesmo Ixidro, contracção áe Ixidortis - Izi-
doro^ antigo nome d'um santo ^
— A quinta do Cidró quer, pois^ dizer — quinta do Izido
rinho?!...
— E' assim a arte nova — e rira bien qui rira le dernier,
Veja-se o tópico infra : — Diminutivos com a desinência
olus, ola.
Mauricus, i, deu Mauricius, como já dissemos, — e Mau
ricanus, i, unde Mouricão supra — e Mourigães por Mouri-
gões o mesmo que Mouricões, plural de Mouricão ? ! ...
Nós também temos Mouria, e Mourio por Moiiria, con-
tracção de Mouraria, como Franzia por Francezia, o mesmo
que Francaina, — Portuguedia, o mesmo quQ Fotuguezia{?);
— Touina por Touraria, — Cárdia por Cardaria, etc.
Cf. Galleguia, Pinheiria, Vacaria, Lameiria, Portelladia,
Begadia, Pousia, Soutama, Serviçaria^ que se encontra em Ou-
teiro da Serviçaria ; — Rebolaria e Rebolia, contracção do
Rebolaria, etc, povoações nossas,— e Bainharia (o povo diz
Banharia ?) — rua do Porto»
Veja-se o tópico supra : — Desinência — ia.
Volvendo á mourama da nossa onomástica, ainda temos
Mourisia, o mesmo que Mouraria e Mouria?
•^-Mourisca, Mouriscas e Mourisco supra — vêem de
mourisca e mourisco^ — terras de mouros, o mesmo que 3Jou-
risia, Mouraria e Momna supra.
— Mouro deu Mourisco e Mourisca, como Franco deu
Francisco e Francisca.
— Moura, appellido vulgar, é o mesmo que Mouro. —
Tomou a desinensia a por o, como Barbosa por Barboso, Mos-
queira por Mosqueiro ^ — e talvez Ferreira por Ferreiro; mas
Ferreira, appellido d'este Petrus in cumctis, nihil in omni bus,
— talvez provenha do latim ferraria — ferraria ou mina de ferro.
* Tambcm temos um casal c uma quinta com o nome de Cidro — e
nas Caldas do Moíledo os Quartéis do Cidro, bastante espaçosos e com
uma capella. mandados fazer nos princípios do século xix pelo capitão Ci-
dro, da Regoa.
São também povoações nossas Izidro, Izidoro, Santo Izidoro, Santo
Izidro — e Zido por zidro, contracção de Izidro ? / . . .
2 Mosqueiro é o mesmo que Moscoso, appellido portuguez nobre,
ç antigo também.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMÍCA 309
Veja-se no Ehiddario o longo tópico Ferros,- tópico
interessantissimol — O seu illustrado auctor n*elle prova que o
officio de ferreiro antigamente foi muito considerado e muito
importante, pelo que outrora o appellido Ferreiro foi appellido
nobre e adoptado por cavalheiros distinctos, que se orgulhavam
de ser ferreiros de forja e exploradores de minas de ferro.
Cita um documento das Salxedas, do anno 1227, no qual
figura como doador Fernão Martins Ferreiro, casado com Do-
na Águeda! — Isto prova que o dito Ferreiro era um fidalgo
distincto, pois no século xiii eram raras as senhoras com o
tratamento de dom.
No documento citado, — como diz Viterbo, — o tal Fer-
não Martins Ferreiro doou aos monges das Salzedas uma vi-
nha em Ermamar, onde chamam Vai de Nácar...
Ahi vão alguns dislates meus :
— Ermamar é hoje, sem contestação, Ar mamar, villa e
sede de concelho e comarca do districto de Vizeu.
— Vai de Nácar é talvez hoje Vacalar, povoação perten-
cente á freguezia, villa e concelho d^Armamar, mencionada
na Chorographia Moderna.
A escala seria: — Vai de Nácar — Valnacar — Valcanar
— Valcalar — Vacalar ?/ . . .
A Viterbo não occorreu tal etymologia, mas outra muito
'^ diíFerente, que pôde vêr-se no Elucidário, artigo liacalar ou
Baccallar (sic), — o mesmo que Vacalar.
A dita povoação é pequena, mas bem situada, muito an-
tiga, muito vistosa e única do seu nome em Portugal e na
Hespanha, pelo que na minha opinião, como já disse, d'ella
procedeu talvez o appellido Bacalar, muito nobre e muito
antigo na Hespanha. — O Marquez de S. Filippe, laureado es-
criptor hespanhol do século xvii, — chamava se D. Vicente
Bacalar y ^ana/..,
E' também appellido hespanhol Barrilar — e talvez pro-
venha da povoação do Barrilar, que demora em frente do
Vacalar, mettendo-se de permeio apenas um pequeno rio ou
ribeiro, — e pertence também á mesma villa e freguezia d^Ar-
mamar.
Note se que a povoação do Barrilar é também única do
seu nome era Portugal e na Hespanha, ^
^ Com vista ao meu proli-parente: —primo, sobrinho, compadre,
afilhado, herdeiro e exceíknte pessoa, mencionado supra, - Albino Ro-
drigues Cardoso Corvaceira — residente em Lisboa, pois é filho do Va-
310 TKNTATIVA ETYMOLOGICO-TOPOXYMICA
Também Cardoso e Fonseca são appellidos de varias fa-
mílias nobres em Portugal e na flespanha, — famílias que ti-
veram o seu solar nas pequenas povoações de Cardoso (abun-
dante em cardos) — e Fonseca {fonte secca), pertencentes á
freguezia de S. Martinho de Mauros y concelho actual de Re-
zende.
Volvendo ainda ao Fernão Martins Ferreiro^ dono da tal
vinha de Vai de Nácar em 1227, diremos que elle talvez
fosse habitante ou visinho do Vacalar, porque junto d'esta
povoação ha outra, chamada Ferradosa, o mesmo que Ferra-
jostty abundante em ferro, povoação nossa também.
Não será, pois, dislate suppôr que o tal Fernão Martins
explorasse in illc tempore os jazigos de ferro da dita povoa-
ção da Ferradosa, e que d'essa exploração tirasse a fortuna e
o appellido Ferreiro.
Desculpem os meus poucos leitores tantos dislates.
Viterbo menciona também o Grande Affonso Fernandes
Barhuz (sic), natural de Arrifana de Sousa^ hoje Penafiel, que
— sendo fidalgo distincto — era ferreiro por offlcio?!...
Também menciona um Pedro Ferreiro (quasí Pedro Fer-
reira'^!...)— que em 1222 deu foral aos que andavam po-
voando a sua herdade na margem direita do Zêzere, chamada
hoje villa de Ferreira do Zêzere ? /... — E cita documentos de
Thomar, nos quaes o dito Pedro umas vezes se chama Ferra-
rias,— outras Faher, o mesmo que Ferrarius — e outras Fer-
reiro, o mesmo que Faher e Ferrarius.
O tal meu homonymo Pedro Ferreiro era homem tão
importante, que dava foraes aos povoadores das suas terras?!...
Ao dito Pedro Ferreiro doou muito espontaneamente D.
Sancho I uma grande porção de terra, chamada Valdorjaens,
junto de Thoniar^ em 1191_, — • doação que D. Affonso ii con-
firmou, chamando as ditas terras Ordiaes, — o mesmo que Gr-
jaens ( Valdorjaens) supra^, — Grgens, Orjaes e Cevadaes, po-
voações nossas também.
Note-se que Ordiaes — na minha opinião — vem do la-
tim hordeum, i, — cevada; — q Gr jaens, actualmente Grgens
calar, visinho da Ferradosa e do Barrillar— e dono actual do casarão
onde eu nasci na pequena povoação da Corvaceira — mesmo em frente
da Estação do Molledo, como já disse.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPOXYMICA 311
e Orjaes, — vem do francez Orge, que significa também ce-
vada.
Nós actualmente não temos povoação alguma com c
nome de Ordeaes nem Ovdiaes, mas temos Orfje^ Orgens e
Orjaes — Cevadeira, Cevadinha e Cevadaen.
Tanto 1). trancho I n'aquella doação, como D. Affonso
II na confirmação, dizem que o tal meu homonymo Pedro
Ferreiro foi creado com elles no Paço, — militou com elles e
lhes prestou relevantes serviços na batalha de Monte Mor,
etc, — pelo que lhes cumpria estimal-o, defendel-o e ampa-
ral-o, — tanto a elle Fedro Ferreiro, como aos seus filhos e á
sua familia.
Não leu pela mesma cartilha o nosso rei venturoso I , . .
Devia ser muito importante a herdade supra — e muito
estimada pelo tal Pedro Ferreiro ; mas, não obstante isso, elle
— sendo casado e com successão — era tão rico e tão generoso
que no seu testamento a doou aos Templários^ addiccionan-
do-lhe ainda a sua Villa Verde, etc.
Legou também aos Templários o seu melhor cavallo e a sua
armadura de ferro completa— além de vinte morahitinos em ouro.
E' muito interessante a dita verba testamentária, pois
n'ella se mencionam todos os artigos d' uma armadura de ferro
completa in illo tempore, pelo que Viterbo a copiou textual-
mente no logar citado.— Attendite et videte.
Note- se, porém, que Viterbo a copiou textualmente no
baixo latim da época ; — mas não a traduziu nem é fácil a
traducçâo — mormente a dos vocábulos Perpuntum, carraxos
e templorittm ou iemptorium, que n'ella se encontram?!.. .
Veja- se o Glossário de Ducange.
No mesmo artigo, Viterbo falia muito e muito bem da
villa, do concelho, do castello e do convento de Ferreira
d'' Aves, bem como dos Paehecos, senhores da mencionada
villa, ostentando muita erudição no esboço histórico, et3'mo-
logico e genealógico do appellido Pacheco.
Fallando da villa de Ferreira d' Aves, entre outras coi-
sas diz, que a rainha D. Thereza a povoou ou repovoou e lhe
deu foral; — que os nossos primeiros reis alli puzeram juizes
— e que um dos juizes para alli mandado por D. Affonso
Henriques chamava- se Pedro Oydiz.
I)o exposto se vê que Oydiz foi appellido nobre e muito
antigo em Portugal, e na minha opinião Oydix ou Oydis deu
ou podia dar Ois da Ribeira e Ois do Bairro, povoações e fre-
guezias nossas. Fiat lux.
312 TENTATIVA ETYMOLOGUCO-TOPONYMICA
Agora o
flPPEhhDDO PflCBECO *
Viterbo, fallando dos Pachecos, antigos senhores de Fer-
reira á^Aves, descendentes de Fernão Rodrigues Pacheco, o
celebre defensor do castello de Celorico da Beira no anno de
124Õ, por D, Sancho II contra o Irmão D. Affonso III, conde
de Bolonha f insurge-se contra os que dizem que o dito alcaide
foi o primeiro que usau o appellido Pacheco.
Sustenta que o appellido PacheJco ou Pacheco é mais an-
tigo e com certeza já vem do século xii, — anno 1193 —
como provou no seu artigo Deo Vota,
. Viterbo também cita um documento de 1290, que faz
referencia a um certo Gonçalo, abbade da freguezia de Pa-
chaco, por certo muito antiga, da qual se originou o appel-
lido Pacheco.
Também diz que esta familia Pachecos produzira muitas
pessoas notáveis, entre ellas Lopo Fernandes Pacheco, um dos
doze da Inglaterra, cantados por Camões, — e Diogo Lopes
Pacheco, um dos assassinos de Ignez de Castro, etc.
Ahi vão agora também alguns dislates meus.
— No foral de Castello Mendo — anno de 1229 — figuram
como testemunhas Suerius Petri pacheca e Johannes menendi
pacheca.
Portugaliae Monumenta, 1. Foralia, pag. 612.
— Suerius Petri PacheÃ^a (talvez o vaesmo pacheca supra ! . . .)
— figura em outro documento sem data, mas do século xir.
Elucidário, vb. Deo Vota, pag. 259, col. 2.^ — mihi.
— Também no foral d^ Aguiar de Sousa — do anno 1269
— figura como testemunha Domingos pacheco ?
Foralia — 71õ.
— Também no foral da Azambuja, do anno de 1272,
figura entre as testemunhas — gonçaleannes pachacho cavalleiro
— e em uma variante se lê pachaco.
Foralia — 727.
Do exposto se vê que o appellido Pacheco foi vulgar
* Chamo para estas pobres linhas a attcnção do sr. dr. José Cor'
rêa Pacheco, meu bom e velho amigo e um dos meus poucos leitores,
fidalgo distincto, proprietário e capitalista e actualmente vereador da ca-
mará municipal do Porto.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 313
entre nós nos séculos xii e xiii com as formas Pachacho,
Pachaco, Pacheka e Pacheco. *
E' pois, como diz Viterbo^ — muito anterior a 1245, data
em que Fernão Rodrigues Pacheco se immortalisou defendendo
o castello de Celorico da Jieira.
Supponho até que o appellido Pacheco já vem do tempo
dos romanos e íoi tirado de Paciecis^ familia romana, men-
cionada por Damião de Góes na sua Hispânia,
O Magnum-Lexicon latino e o Diccionario Clássico não
mencionam tal familia ; mas Paciecus, nome ou cognome ro-
mano, é mencionado por Paulns Mamdiícs, Epist. 18; — Cicero^
Epist. 1.*, livro XII Ad Atticum e livro iv Famil. Epist. 18.
— e Hirtius — De Bello Hispani... *
Também nos Commentarios de César ^ pag. 232, se lê
pouco mais ou menos o seguinte :
Tendo César recebido emissários de Córdova, que então
obedecia di Pompeu, pedindo-lhe soccorros para tomarem aquel-
la cidade, César annuiu, mandando contra ella um bom nu-
mero de tropas, comprehendendo peões e cavalleiros — « de
los quales hizo capitan un hombre conocido de aquella pro-
víncia, hombre sábio, que se llamava Lúcio Jiinio Pacheco.. .y>
Do exposto se vê que na Hespanha — já antes do nas-
cimento de Christo — houve o appellido Pacheco?!...
Note-se que Pompeu Magno morreu assassinado no Egypto,
contando de edade 59 annos, — no anno 48 antes do nas-
cimento de Christo, — E Sexto Pompeu, filho de Pompeu Ma-
gno, foi assassinado no anno 35 A. Ch,
Apenas sobreviveu ao pae treze annos.
Era também muito valente e chegou a commandar uma
esquadra de 350 velas, pelo que se dizia filho de Neptuno e Se-
nhor dos Mares fl...
Nós, além do appellido ainda hoje vulgar — Pacheco,
temos varias povoações — aldeias, casaes e quintas — com os
nomes de Pacheca, Pacheca de Baixo, Pacheca de Cima, Pa-
checas, Pacheco e Pachecos.
— A Hespanha — que eu saiba — apenas tem quatro
povoações com os nomes de Pacheca, Pachecas e Pacheco nas
províncias de Albacete, Cadiz, Cuenca e Murcia — e Pachs na
de Barcelona,
1 Talvez que Pachacho se lesse Pachaco pois ch q k ou q substi-
tuiram-se e confiuidiram-sc, como já dissemos.
'^ J. Rosini, pag. 908, col. l.a e 2.»
314 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Cf. também Pachí, povoação da Anatólia, na Turquia da
Ásia, — Pachino e Paceco^ povoações da Itália, na Sicília,
mencionadas por Besclierelle e Devars.
Mas qual a etymologia de Pacheco ?
Viterbo, como já disse, lembroa-se da velha freguezia
Pachaco.
Eífectivamente Pachaco podia dar Pacheco. Supponho
até que Pacheco e Pachaco são formas do mesmo nome, —
bem como Pachacho por Pachaco supra; mas qual a etymo-
logia de Pachaco, Pachacho por Pachaco — e Pacheco?
Nos idiomas latino, porticguez, francez, castelhano, italiano
e toscano, apenas encontro o vocábulo italiano pachetto — pa-
cote, embrulho — que podia dar Pacheco, pois na onomástica
portugueza ta, to, tu e ca, co, cu substituíram- se e confundi-
ram-se, como já disse.
Mas deixemos o italiano pachetto — pacote, embrulho,
masso de cartas — e tentemos outra erymologia.
• Talvez que Pacheco venha do supposto latim bárbaro
paciecus, i, tirado de pt^x, acis — paz, como pacatas e pacificus
— pacato, pacifico, sereno^, manso, affavel, tranquillo, — for-
mas anteriores ou posteriores de paciecus ?
V. o Glossário de Ducange, que agora não tenho, á mão
e que é indispensável para este ramo d'estudo.
A forma paciecus, i, encontra-se em Paciecis, familia ro-
mana, mencionada por Damião de Góes na sua Lusitânia,
citada supra.
Paciecus podia sem violência dar Pacheco e n'este caso
Pacheco é synonimo de affahiUs — affavel, cortez, mimoso,
que por seu turno deram Cortez, appellido vulgar, — e Mi-
moso, appellido nobre e antigo.
Também temos Cortez, Corfezes, Cortezia, Cortezões, Mi-
mosa e Mimoso, povoações nossas, cujos nomes foram tirados
de Cortez e Mimoso supra, synonimias de Paciecus — Pa-
checo ?
Também Paciecus — Pacheco — é synonimo do latim
blandus, i — brando, — que deu Blanda e Blandina, nomes de
santos.
Blandina foi nome pessoal em Trancoso, no meu bom
tempo.
Blandanus, outro diminutivo de blandus — brando —
TENTATIVA ETYMOLOaiCO-TOPONYMIOA 315
deu Bnindano^ também nome d'um santo, o mesmo que bran-
dão, appellido e nome de varias povoações nossas.
liíandufi deu também lUandinus, i, unde Blandina, su-
pra, — e Jirandim^ povoação nossa.
Por seu turno BlandinnSy «, deu Blandianus', i — e Blan-
dinianus^ i, is — unde Brandlão e Brandinhaes por Brandi-
nhães, povoações nossas também.
Paciecus' — Pacheco í — é também synonimo do latim be-
nignus — aífavel, cortez, benigno, que deu Benigno, nomo
d'um santo, etc.
— Pôde também dizer-se que é synonimo do latim jíi-
ctmdus — alegre, jucundo, suave, que deu Jucundo, Jucunda,
Jucundinoe Jucundina. nomes de santos, — bem como Jagunda
por Jucunda — formosa campina junto da villa de Ceia^ ! . . .
— Pôde também dizer-se que Pacíecus — Pacheco? — é
s3^nonimo do latim álacris — jucundo, animado, vivo, alegre^
que deu Alegro e Alegre, appellidos nossos também, — Mon-
talegre, Portalegre, Vista Alegre, etc, povoações nossas.
Pôde egualmente dizer-se que Paciecus — Pacheco? — é
também synonimo do latim de Varrão mansues — brando^
plácido, pacifico, sereno, manso, que deu Manso, appellido
nosso também, —Manso e Mansos, nomes de santos, — Man-
sa, Mansas e S.. Mancos, povoações nossas.
— Pôde egualmente dizer-se que Paciecus — Pacheco? —
manso, pacato, pacifico, alegre, jucundo, generoso, é também
synonimo do latim bónus — bom, — que deu Bona, Bom e
Bôà, nomes de santos, — Bom João, aldeia, — Jambo, o
mesmo que João Bom e Bom João, povoação nossa também,
— e Santo Homem Bom, capella, rua e largo de Vianna do
Castello.
Junte se Casal da Nabôa ou d'Anna Boa, como se lê na
Chorographia Moderna, — ou antes Casal de Dona Boa, pois
em velhos documentos do cabido de Lamego já eu encontrei
Dona Boa.
Note- se que o dito casal — é muito antigo e muito lindo
— e demora junto do santuário de Nossa Senhora dos Remé-
dios, no aro de Lamego.
Pôde também dizer-se qu^ Paciecus — Pacheco — é syno-
nimo do latira generosus — liberal, generoso, que deu Gene-
rosa e Generoso, nomes de santos.
— E' também synonimo do latim Uberalis, e, que deu
LJberal, appellido, — e pela forma làthm liberal e — den Li-
vralde, povoação nossa.
316 TENTATIVA ETYMOLOGTCOTOPONYMICA
— E' também synonimo do latim pacatus — sereno, pa-
cifico, pacato, tranquillo, manso, que deu Pacato, appellido, e
pela forma Pacati deu Pagade, povoação nossa.
— Pôde egualmente dizer-se que Paciecus — Pacheco? —
é synonimo do latim seremis — tranquillo, pacato, sereno,
que deu Sereno e Serena, nomes de santos, — Serem, Serena,
Serenas, Sereno e talvez Serina por Serena, povoações nossas.
— E' também synonimo de tranquilltis — sereno, manso,
tranquillo, — que deu Tranquillo, Tranqmlla, Tranquillino e
Tranquillina, nomes pessoaes, — Tranquillino, nome d' um
santo, — e Tranquillo, appellido já do tempo dos romanos!...
Cf. Stietonio Tranquillo, famoso historiador romano.
Viveu no tempo do imperador Adriano e foi desterrado
da corte por falta d'attenção para com a imperatriz Sabina.
No seu desterro continuou a merecer a amizade de PU'
nio, o Moço, — correspondia-se com elle — e dedicou-se intei-
ramente ao estudo.
Escreveu muito, mas a única das suas obras que chegou
até nós — é A Vida e a Historia dos doze primeiros Cezares
— e alguns fragmentos do seu Catalogo dos grammaticos mais
celebres.
A dita Historia é muito considerada e muito elogiada
pela sua exactidão, mas censura se a dureza e aspereza com
que descreve os defeitos e as estravagancias dos Cezares. ^
Tranquillus deu ou podia dar Tranquilhos, povoação
nossa, — e Tranquillitas — o. Tranquillidade — foi uma das
muitas deusas da antiguidade.
Por ultimo diremos que Paciecus — Pacheco — é também
synonimo do latim placidiis — manso, tranquillo, pacato, se-
reno, plácido, que deu Plácida e Plácido, nomes de santos,
— e> S. Plácido, capella e sitio da freguezia e concelho de
Taboaço.
Também na minha opinião Placidinius, ii, lis, diminutivo
de Placidus, — deu. Prazins, nome de varias povoações e fre-
guezias nossas.
— Com vista ao meu boS e velho amigo —Plácido Au-
í A historia do povo-rei menciona outro Suetonio muito notável.
Refiro-me a Suetonio Paulino, o primeiro general romano que atravessou
o Atlas com um exercito.
Governou a Grã-Bretanha por espaço de vinte annos — e por ul-
timo foi feito cônsul.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMTCA 317
gusto de Moura Vasconcellos — chantre do cabido de Lamego^
tendo sido alli reitor do Seminário episcopal muitos annos —
e anteriormente fâmulo do í^r. I), Joné de ^foura Coutinho,
benemérito prelado de Lamego, patricio e particular amigo
d'elle, — ambos naturaes da freguezia á^Arnoia, concelho de
Celorico de Banto,
As minhas relações com o dito rev. sr. Plácido jà vêem
do tempo em que fomos condiscipulos em Lamego, nas aulas
de preparatórios —ou desde 184G. — Contam, pois, a bagatella
de sessenta e três annos?!..,
— Vive também ainda no Douro, — lá na minha Pena-
julia ou Penajoia — um meu particular amigo desde o tempo
em que fomos condiscipulos na aula d'instrucção primaria, em
1839 a 1841. — Contava eu então 7 a 9 annos ~ e elle talvez
8 a 10.
Chama-se José Fernandes d"" Almeida e — apesar de ser
um pouco mais velho — ainda está muito mais vigoroso do que
eu?!...
Contam as nossas relações a bagatella de 68 a 70 annos
— e foram sempre cordeaes.
Honram-me também ainda com a sua amisade — e mes-
mo intimidade — desde o meu bom tempo de Coimbra — 1851
a 1856 — o sr. dr. Manoel de Barros Nobre, benemérito des-
embargador actual na relação dos Acjores, prestes a ser trans-
ferido para a relação do Porto, — e o rev. dr. Abilio Ribeiro
Alvares de Mello, cunhado do fallecido conde de Tavarede —
e cónego á^Evora, etc.
Foi também meu contemporâneo em Coimbra e até hoje
meu intimo amigo — o sr. conselheiro António Camillo d' Al-
meida Carvalho, — dono da bella casa da Ermida, no Douro,
e que já foi deputado, etc.
Falleceu também ha poucos annos na cidade da Figueira
o dr. Júlio César d' Almeida Rainha, da opulenta casa Rainhas,
de Gouveia, que foi deputado em difierentes legislaturas, meu
contemporâneo' e condiscipulo em Coimbra e desde então meu
intimo amigo, até que falleceu.
— Honrou-me também com a sua amisade desde o nosso
bom tempo de Coimbra até que falleceu em abril ultimo —
o rev. dr. Alexandre J. Freire de Faria e Silva — que foi có-
nego — thesoureiro-mór do cabido à'' Évora e alli por vezes
governador do arcebispado, etc.
— Foi também muito meu amigo até que falleceu em
Braga, sendo alli cónego professor, o meu contemporâneo, cou-
318 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
discípulo, companheiro de casa no ultimo anno da nossa for-
matura — e primeiro premiado do nosso curso — José Gomes
Martins^ de S. Pedro da Torre, — por antonomásia o theologo
— pois era considerado e respeitado, como primeiro theologo
de Portugal, no seu tempo? !... — V. pag. B67 e 382 do 1.° vol.
— Foi também meu contemporâneo em Coimbra e meu
companheiro de casa no dito anno lectivo, o sr. dr. Pedro
Augusto Dias, depois lente muito distincto da Escola Medico-
Cirurgica do Porto^ actualmente aposentado, que é um dos
meus poucos leitores e ainda me penhora com a sua estima.
Honra-me também com a sua amisade e particular esti-
ma desde 1858 (?) o sr. conselheiro Francisco Ribeiro da Sil-
va, inspector geral das obras publicas, etc.
Honrou-me também sempre com a sua estima o sr. conde
d'' Âlpendm^ada — desde 1858 — até que falleceu ha poucos
annos. J
Também desde longa data o sr. conde de Samodães, meu M
patrício e visinho lá no Douro, me trata melhor do que eu í
mereço, — e em 1889 me deu a honra de acceitar-me como
collahorador do livro : — Monumento á memoria de D, António
Luiz da Veiga Cabral e Camará, bispo de Bragança.
Foram também coUaboradores do mesmo livro o sr. pa-
dre Arthur Eduardo d"" Almeida Brandão, distincto escriptor
publicO;, deputado em varias legislaturas, — meu bom amigo
também desde a sua infância, — e Mgr. Manoel António Pires,
então cónego de Bragança, excellente pessoa, distincto escri-
ptor também e meu bom amigo desde 1882 até que falleceu.
— Era um santo ! ...
— Penhoraram- me também durante muitos annos com at-
tenções e finezas os meus bons amigos e mestres — Joaquim
Possidonio Narciso da Silva, benemérito archeologo, — e o
distincto escriptor e virtuosíssimo sr. Ignacio de Vilhena Bar-
bosa, — até que falleceram.
Honrou-me também com particular estima até que falle-
ceu— o sr. D José' de Moura Coutinho, santo bispo de La-
mego, que me ordenou em 1857 e pouco depois me nomeou
professor do seminário, examinador synodal e vigário geral
interino, por estar velho e decrépito o rev. dr. Diogo de Ma-
cedo Per.eira, então provisor e vigário geral da diocese.
Prometteu-me também sua ex.* a nomeação definitiva de
TENTATIVA ETVMOLOOICO-TOPONYMTCA 319
provisor e vigário geral por fallecimento do dito senhor, mas
infelizmente íalleceu antes d'elle o santo bispo!...
Deus o tenha em bom logar, como firmemente creio, pois
era mrtuoslssimo !
J)evo-lhe as maiores finezas e — para d'algum modo lhe
significar a minha gratidão e não me expor ao infame labéu
de ingrato — vejam-se no Portugal antigo e moderno, vol. ix,
pag. 350, o meu artigo Telho, casa nobre da freguezia de
Arnoia, concelho de Celorico de Basto, onde s. ex.* nasceu,—
e Villa Pouca, aldeia da mesma freguezia á^Arnoia, vol. xi,
pag. 897, col. 2.» e segg.
Em um e outro dos mencionados artigos se encontram
largas noticias genealógicas e biographicas do sr. D. José de
Moura Coutinho — e dos seus últimos representantes — dois
sobrinhos.
Também, como já disse, me honrou com a sua amizade
e particular estima, desde que fui para Coimbra em 1851, até
que falleceu em 1875 na sua casa da rua da Alegria — o sr.
dr. José Ernesto de Carvalho e Rego — meu patrício^ pois era
natural da minha Penajulia ou Penojoia lá no Douro.
Foi meu lente de theologia na Universidade e depois vi-
ce-reitor da mesma — durante 21 a 22 annos consecutivos, —
caso raro, rarissimo, nos annaes da Universidade.
— Era tão meu amigo, que chegava a dizer: — Lamento
que este rapaz vão seja meu sobrinho !
Devo-lhe as maiores finezas, pelo que também para não
me expor ao infame lahe'u de ingrato, dei ao meu antecessor
Pinho Leal uma longa, minuciosa e muito conscienciosa bio-
graphia de s. ex.», que pode vêr-se no artigo Penajoia, do
Portugal antigo e moderno, vol. vr. pag. 562 a 564.
Devo também a máxima gratidão ao mordomo do santo
bispo de iMmego supra, que me ordenou.
Chamava-se elle José António Dias; — viveu muitos annos
com o dito prelado e era tão estimado e considerado por elle,
que, pelo facto de terem ambos o nome — José, se dizia que
em Lamego havia ao tempo dois prelados: —um José Bispo
— e outro Bispo José.
Ambos me estimavam muito ~ e o Bispo José — o tal
José António Dias, que era uma exceli ente pessoa, — na sua
rude franqueza chegou a dizer me: — Ninguém é mais seu
amigo do que eu — exceptuando unicamente seus pães!...
' — Effectivamente assim era e d'isso me deu provas pe»
nhorantissimas durante annos — até que falleceu.
320 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
*
* *
Devo também muita gratidão à memoria do meu bondoso
amigo e collega — Fortunato Casimiro da Silveira e Gama,
natural da cidade da Figueira e que foi muitos annos abbade
de Quinchães, junto de Fafe, onde se collou em 1859 e fal-
leceu no dia 10 de março de 1896, ás duas horas da ma-
nhã.
Era virtuosissimo e generosíssimo^ tão modesto como il-
lustrado — e um bibliophilo distincto.
Deixou uma livraria selecta, de cinco a seis mil volumes
talvez, sendo muitos d'elles comprados por mim nos leilões
do Porto.
Como tinhamos intimas relações e eu ao tempo era assí-
duo frequentador dos leilões de livros, — mandava-lhe os res-
pectivos catálogos, — elle indicava os n.°^ que pretendia, —
eu liçitava-os na praça e depois enviava-lhe os que podia
obter.
Era tão generoso, que estava sempre a dizer- me : — Tire
os que lhe agradarem, pois com isso me penhora.
Nunca tirei um único, mas s. ex.* deu -me alguns ma-
nuscriptos que são hoje códices da Bihíiotheca Municipal do
Porto, dados por mim.
Também s. ex.* possuia um bom mealheiro, comprehen-
dendo muitas medalhas e moedas antigas, sendo algumas ra-
7*as e caras, — mealheiro avaliado em um conto de reis apro-
ximadamente e que muito generosamente offertou ao Museu
Ai'cheologico da cidade da Figueira, sua terra natal, onde se
guarda e conserva.
Foi s. ex.^ educado em Vizeu, onde collaborou no Libe-
ral, jornal em que publicou vários artigos, avultando entre
elles, um intitulado : — O Cardeal D. Miguel da Silva e a
quinta de Fontéllo — interessante folhetim que assignou e pô-
de vêr-se em o n.** 163 do dito jornal.
Possuia elle^ cemo saudosa recordação do seu bom tem-
po, a collecção completa do mesmo jornal muito bem enca-
dernada, — collecção que por fineza especial me deu também
e hoje se encontra na Bibliotheca Municipal do Porto, dada
egualmente por mim, bem como outros jornaes, differentes
livros e vários códices ou manuscriptos, — ao todo mais de
setenta.
Só com relação ao mosteiro de Arouca dei á mencionada
Bibliotheca uns 15 a 20 códices, — alguns muito interessantes
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 321
e todos muito dignos de serem consultados por quem se pro-
ponha escrever com relação ao dito convento.
No meu longo artigo Vize/i, pôde vôr-se no Portu(j(d an-
ti go e moderno, vol. xir, pag. 1810 e 1817 a biograpliia do
meu saudoso amigo e collega — Fortunato Casimiro da Sil-
veira e Gama.
Deus o tenha em bom logar, como firmemente creio, pois
era um' .santo!...
Eu nunca tive a honra de o ver.
(guando visitei Fafe, em 186G^ ainda o não conhecia^ aliás
iria comprimental-o, pois já elle era abbade de Quinchãe.s,
freguezia próxima de Fafe.
Nasceu na Figueira no dia 22 de setembro de 183.o. ^ —
Foram seus pães Francisco Casimiro da Gama, varão de no-
bre linhagem, natural da villa á'Ançã, official do exercito e
um dos bravos do Mindello, tendo assentado praça como cade-
te, — e Z). Maria Manuela Cândida de Gouveia e Seixas, na-
tural de Vizeu.
Fallecendo o pae na Figueira, approximadamente em 1843,
a viuva passou para Vixeu, sua terra natal, e levou com ella
o filho, nosso biographado, que ao tempo contava apenas oito
annos.
Foi fâmulo do Bispo de Vizeu — D. José Joaquim de
Azevedo e Moura que, sendo transferido para o arcebispado de
Braga em 1856, o levou com sigo.
Em Braga concluiu a sua ordenação ; — no dia 24 d'ou-
tubro de 1858 celebrou com grande pompa a primeira missa
— e logo no anno seguinte — 1859 — foi apresentado e se col-
lou na abbadia de Quinchães, onde se conservou até que fal-
leceu em 1896, como já dissemos.
Foi portanto s. ex.^ abbade de Quinchães 37 annos, posto
que o sr. D. José Joaquim d' Azevedo e Moura, arcebispo de
Braga^ que muito o estimava, por vezes lhe oífereceu melhor
collocação e outras honras que o nosso biographado, pela -sua
modéstia e padecimentos recusou, bem como a eleição de pro-
curador á junta geral do districto, etc.
*
' Era cerca de três annos mais novo do que eu, pois nasci em 14 de
novembro de 1832.
21
o
22 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Foi s. ex.* sócio eífectivo da Sociedade promotora das
Bellas Artes em Portugal, — sócio correspondente da Real
Associação dos Be7iemeritos italianos de Palermo — e sócio fun-
dador e benemérito da Real Associação Arclieoloyica da cidade
da Figueira,
Travámos relações approximadamente em 1872 por causa
dos livros — e duraram ellas 24 annos — até que s. ex.* fal-
leceu em 1896.
As coisas passaram-se assim :
— Eu havia comprado em um leilão aqui no Porto um
ms. muito interessante, luxuosamente encadernado em chagrin
com filetes dourados, escripto em papel inglez e muito boa
caligraphia, mas sem assignatura.
Pelo contexto vi que o tal códice foi escripto pelo re\.
dr. António dos Santos Leal, de Moncorvo, deputado supplen-
te ás cortes de 1822, desembargador da camará ecclesiastica
de Braga, abbade de Quinchães — e por ultimo Vigário Geral
e governador do bispado de Pinhel, onde falleceu.
Desejando eu saber se o tal ms. era eíFectivamente do
dr. Santos Leal e autographo, — escrevi ac rev. abbade de
Quinchães, pedindo-lhe me esclarecesse_, ao que s. ex.* muito
amavelmente sem demora satisfez.
Começaram assim as nossas relações.
O tal ms. é hoje também um códice da Bibliotheca Mu-
nicipal do Porto, dado por mim, — códice muito interessante,
pois é a historia minuciosa e muito conscienciosa da revolução
que o general Silveira, 2.° conde d' Amarante e 1.** marquez de
Chaves, fez em Traz os Montes, no anno de 1823, derrogando
a constituição de 1820 e proclamando novamente rei absolu-
to D. João VI.
O ms. — além da revolução propriamente dieta — com-
prehende a emigração do general Silveira com a sua grande
divisão atravez da Hespanlia até ás proximidades de Burgos,
— a sua contra marcha até Salamanca — e de Salamanca até
Lisboa^ a pedido de />. Miguel, para o auxiliar na villafran-
cada, etc,
Note-se que o auctor do ms.— Santos Leal — era amigo do
general Silveira e o acompanhou durante a dieta revolução e
durante a emigração na Jfespanha,— indo com o estado maior
no quartel general e foi secretario particular do Silveira!?...
Santos Leal descreve, pois, a dieta revolução e a emigra-
ção cOiHO testemunha ocular, fazendo por vezes "apreciações, —
talvez muito justas, mas pouco lisonjeiras para o próprio seu
TENTATIVA ETVMOLOGICO-TOPONYMTCA 323
amigo general Silveira o para outrcs generaes da mesma di-
visão, porque o auctor, como se vê do contexto, escreveu o
dicto codico — não para o dar ao prelo — mas tão somente e
unicamente i)aí'(i seti uso particidar ! ...
— Tem, pois, muito merecimento o dicto códice, pelo que
eu, antes de o dar á /iihliotheca, o mostrei ao sr. Jo.sé Pereira
dr Sampaio (Urano) — distincto escriptor c historiador, auoto-
risando-o para o copiar, como eífectivamente copiou.
*
Tambom devo muita gratidão á memoria do rev. Manoel
Henrique da Silva Machado, reitor de Bornes, junto das Pe-
dras Salgadas, pois desde 1874 até que íalleceu ás 11 horas
•da noute de 26 de novembro de 1893, me honrou com part i-
cular estima.
Duraram as nossas relações 19 annos.
EUe não foi escriptor, mas era bastante illustrado e muito
amante de livros, pelo que deixou uma das melhores livrarias
transmontanas, comprehendendo ao todo cinco a seis mil vo-
lumes, comprados muitos d'elles por mim nos leilões do Porto.
Apenas se distribuiam os catalagos, eu mandava- lhe um;
— elle indicava^me os números que pretendia ; — eu licitava-os
na praça, como licitava outros para mim e para o santo ab-
bade de Quinchães ; — depois mandava- lhe os que podia obter.
Assim comprei nos leilões do Poi^to — durante longos
annos — muitos livros para o dicto meu collega e para o san-
to abbade de Quinchães, ambos já fallecidos — e eu prestes a
marchar! ...
Para a biographia de s. ex.^ veja-se no Portugal antigo c
moderno, vol. xr, pag. 1:371 e 1:372, — o meu artigo Villarinho
das Paranheiras, concelho de Chaves, — freguezia onde s. ex.*
nasceu no dia 26 d'abril de 1834.
Era mais novo do que eu cerca de dois annos^ pois nasci
em 14 de novembro de 1832.
T^oi também um dos meus amigos da velha guarda o rev.
Dionizio Ignacio de Sampaio e Mello — desde 184(i, data em
(pie nos encontrámos em Lamego nas aulas de preparatórios,
— até que falleceu na Cogulla. freguezia do concelho de Tran-
coso, no dia 2 d'abril de J 900 ~- ou durante Ò4 annos.
Elle era filho de Marialva, concelho actual da Meda, mas
na partilha da casa tocou lhe um bom casal que tinham na
Cogulla, onde passou os últimos annos da vida muito socegado,
B24 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Pertencia s. ex.* a uma familia das mais nobres e antigas
de Marialva, e era primo co- irmão do sr. dr. José Tibério de
Reboredo Sampaio e Mello, que foi também meu contemporâ-
neo em Lamego, nas aulas de preparatórios, ~ e depois em
Coimbra^ onde se formou em Direito, sendo posteriormente
advogado em Foscôa, governador civil de Viseu, deputado ás
cortes, etc.
Este sr. Tibério também tomou parte na grande desordem
que se feriu em Coimbra no dia 128 de fevereiro de 1854 —
entre a academia, o povo e a tropa que ao tempo guarnecia
a cidade, — desordem precursora da celebre Ihomarada.
Na campanha diurna s. ex.° nada soffreu : mas na cam-
panha nocturna do mesmo dia, quando tolamente parte da aca-
demia foi ao bairro baixo e na subida ou passagem da Praça
do Commercio para a rua da Calçada dispararam do angulo E.
S. E. da dita praça contra a academia alguns tiros, — foi um
dos três estudantes que ficaram feridos!...
— Uma bala partiu-lhe um dos dedos polegares; — outra
bala feriu de raspão na testa o académico Leandro José da
6V>síí7, natural de S. Thomô, na Africa Occidental ; — o terceiro
ficou ferido no peito, mas também de raspão e levemente.
— Eu acompanhei o farrancho : — assisti á campanha
diurna e nocturna — e fiz toda a celebre Thomarada, mas fe-
liz mente nada soffri.
— Bom tempo era aquelle em que eu apenas contava 22
annos, — emquanto que hoje — 1909 — estou derreado de todo,
vergado ao peso de 77 annos e de 87 kilos?!...
Vejam-se as pag. 175 a 187 supra, onde descrevi a ce-
lebre Thomarada.
Veja-se também no Portugal antigo e moderno^ vol. xi,
pag. 774 a 776, o meu artigo Villa Maior, freguezia do con-
celho de S. Pedro do Sul^ onde ad perpetuam rei memoriam
contei um episodio da mesma Thomarada, — eipisoáio que nip
fez chm^ar ; mas d'ahi a poucos minutos Já ria e cantava.
Prosi gamos.
O meu bom e velho amigo supra Dionisio Ignacio de Sam-
paio e Mello — era também primo do sr. António Maria Ho-
mem da Silveira Sampaio e Mello, do Pabaçal, freguezia do
concelho e comarca da Meda, — um dos fidalgos mais ricos,
mais distinctos e mais considerados da JJeira, no seu tempo.
TENTATIVA ETYMOLOaiCU-TOPONYMlCA 8*25
— Foi 8. ex.* quem promoveu a fundação da comarca da Meda,
só para ter o tribunal mais perto da sua nobre casa do Ra-
haail .
Os meus poucos leitores já estão fartos de cantigas', pelo
que ahi vão algumas et^^mologias, a propósito do Rahacal,
Esta freguezia tomou claramente o nome das rahaças,
como outras muitas povoações nossas, ao todo mais de vinte.
Taes são:
— Rahaça, Rabaçal, Rabacas, Rahaceira, Rabaceiro, Ra-
hacinha, llabacínas, no diapasão leonez Rabacihas, o mesmo
íjuo o portuguez Rahacinhas ; — Rabaçosa e — Rabal, contrac-
ção de Rabaçal f
Junte-se também Ravicaes, talvez forma de Ravaçaes, e
este de Rabaçaes, — o mesmo que Ribaçaes, povoação nossa
também, como Ribncal, nitida forma de Rabaçal f
W assim a arte nova.
O padre Dionizio era tão meu amigo, que por vezes foi
da Cogtilla, junto de Trancoso, visitar- me a Távora, concelho
de Taboaço, onde fui parocho três annos antes de passar para
a freguezia de Mlragaya, no Porto.
Também foi por vezes expressamente da Cogulla ao
Porto, só para me ver e abraçar e passar commigo alguns
dias.
Note se que elle já então estava muito doente, muito
gasto^ muito decepado e tinha de fazer a viagem da Cogulla
a Trancoso — 10 kilometros — em sella;— de Trancoso até á
villa da Regoa, cerca de 80 kilometros, — em diligencia, — e
da Regoa ao Porto 100 kilometros em via férrea.
Quando ia visitar-me da Cogulla a Távora transpunha
mais de 40 kilometros de péssimo caminho em sella — e de
Tíivora foi também um anno commigo em sella e por mau ca-
minho até o meu casarão da Corvacelra, distante de Távora
cerca de 30 kilometros para O.
Também eu fui — não de Távora, mas do Porto — varias
vezes á Cogulla só para o ver e abraçar e passar com elle
alguns dias.
— Elle tinha muito génio, — mas foi sempre meu ánilgo
extremoso^ muito sincero e muito dedicado !.. .
Foi também meu amigo intimo o dr. Anfonio Podriyues
Pinto, de Sande, junto de Lamego, alli meu eoudiscipulo nas
326 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
aulas de preparatórios em 1846 a 1849 — e depois meu con-
temporâneo em Coimbra, onde se formou em direito — e meu
condiscipulo no primeiro anno theologico — 1851 a 1852.
Fiz com elle a campanha da Thomarada em 1858 — e
com elle regressei de Thomar a Coimbra,
Pouco depois_, para melhor saborearmos o grande farfofe
de feriados que o governo por essa occasião muito generosa-
mente {?...) deu aos convencionados, — incorparando as férias
do Entrudo nas de Paschoa, — fiz com elle a exótica viagem
de Coimbra até Lamego, — viagem muito accidentada, que na
pobre villa d^Alva nos fez succumbir e chorar!...
Valeu-nos o santo regedor da pobre villa, que muito ge-
nerosamente nos acolheu. — Logo nos animámos e d'ahi a
pouco já riamos e cantávamos!...
V. pag. 175 e seguintes supra — e no Portugal antigo e
moderno, vol. xi, pag. 774 a 776, o meu artigo Villa Maior^
freguezia do concelho de S. Pedro do Sul, onde descrevi a
exótica viagem — ad perpetuam rei memoriam.
O tal meu bom amigo António Rodrigues Pinto — era um
talento verdadeiramente superior — e um cavalheiro a toda o,
prova, por ser filho de bom sangue.
O pae, grande proprietário de Sande, que eu também co-
nheci, -- era honradíssimo — e a mãe era uma santa!
— Qui viget in foliis venit e tradicibus humor ^— ou talis
arbor, talis fructus — tal a arvore tal o fructo. ^
O meu saudoso amigo dr. António Rodrigues Pinto foi
advogado em Lamego e em Castro d'Ai/7'e; — passou depois
para a magistratura e, sendo juiz de direito em Villa Real
de Traz os- Montes, um dia escreveu-me dizendo que tenciona-
va ir com a familia tomar banhos em Mattosinhos^ pelo que
me pedia que fosse alli arrendar-lhe uma casa.
De bom grado annui — e pouco me incommodei, pois vi-
via então, como vivo ainda hoje, no Porto. — Alli fui cumpri-
mentai o algumas vezes e em uma das ultimas disse-me :
— Vem jantar commigo tal dia... pois tenciono partir no
seguinte.
— Fui. Jantámos e palestrámos ; — no fim da tarde acom-
panhou-me até o carro americano e despedimo-nos, ficando
' Com vista ao meu aíavico successor que, se Deus lhe prolongar a
vida, será o sr. dv. Joaquim da Silveira, da Anadia, — o amigo mais fal-
so e mais ini^rato que n'cste muudo encoutrei.
— Suave qui pent /. . . — V. pag. 218 a 220,- 337 a 341, etc— t Joa-
quim da Silveira, no indice da l.a parte.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOFOXYMICA 32'
elle de perfeita saiide e muito hem dUposto, — Passados, po-
rém, dois dias, quando eu suppuuha que elle já estivesse em
Vil la Real de Traxos Montes, recebi de Mattos inhos um tek-
írramma da irmã, dizendo-me : — Falleceu o meu Antofiinho.
Fiquei attouito !... - Parti logo ; — encontrei-o ettéctiva-
mente já morto — e coube-me a tristíssima honra de acom
panhar o cadáver até ao cemitério? f. . .
Havia fallecido na véspera, quasi repentinamente. — ha-
verá doze annos — ou em 1897.
Xós deviamos ser da mesma edade: — convivemos muito
de perto em Lamego e em Coimbra — e tomos amigos Íntimos
durante mais de cincoenta annos talvez
Deus o tenha em bom logar, pois era uma excellente pes-
<<">a.um cavalheiro a toda a prova e um magistrado dignissimo.
Também ha muitos annos me trata melhor do que eu
mereço o ex "»** sr. D. Joaquim de Cor calho Azevedo Mello e
Faro, residente no Porto desde longa data, na sua linda casa
da rua Firmeza. E*. porém. s. ex * meu patricio, dono e re-
presentante da nobre casa da Soenga, uma (Jas mais antigas
e mais importantes do concelho de Rezende, pelo que lá no
Douro é cognominado D. Joaquim da Soenga.
Casou s. ex.» em Baião com uma senhora da nobre casa
de -í^enalca, freguezia d'Ancede e teve duas filhas e dois filhos.
Uma das filhas — a mais velha, D. Maria da Boa Xora
casou em primeiras núpcias com o sr. Carlos Maria da Cu-
nha Coutinho, das Casas Xovos, freguezia de Santa Marinha
do Zêzere, concelho de Baião também : * — e casou em se-
gundas núpcias com o sr. António Borges, da freguezia de
Fontellas, concelho da Regoa, sendo também já viuvo — e
agora viuvo novamente, pois a dita senhora, sendo ainda muito
rigorosa, já falleceu. deixando successão de ambos os maridos.
A outra filha do sr. D, Joaquim da Soenga chama se D.
Maria do Sacramento ; — casou com o seu primo ^4/caro d'A^e-
Yfdõ Pinto Leme — da dita casa de Penalva^ e ainda vive.
Dos filhos do sr. D. Joaquim — o mais velho, /). Ale.ran-
dre, ainda está solteiro — o mais novo. por nome D. Pedro,
casou ha annos com a sr.» D. Carolina Pereira Dias, filha do
sr. conselheiro e digno par do reino — dr. Manoel Pereira
Dias, dono da casa de Rendufe, em Rezende, que foi depu-
' \^eja-se o meu longo artigo Zêzere (Santa Marinha do), freguezia
do concelho de Baião, no Portugal antigo e moderno, volume xu, pag.
2:113 e 2:114.
328 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMÍCA
tado em varias legislaturas, lente e decano da faculdade de Me-
dicina na Universidade de Coimbra e durante annos reitor da
mesma Universidade.
S. ex.^ ainda vive na sua nobre casa de Rendufe^ mas
deve estar, como eu^ jâ velho e gasto, pois fomos contempo-
râneos em Coimbra e devemos ter com pouca differença a
mesma edade.
Volvendo â nobre casa da Soenga, ainda me recordo de
ver o sr. D. Alexandre^ pae do sr. D. Joaquim, — mas /a ca-
dáver, pois coube-me a honra de assistir ao funeral d'elle.
Também me recordo de dois irmãos de s. ex.* : — D.
Francisco de Carvalho Azevedo Mello e Faro, casado em Mões,
junto de Castro d^A(/re, — e D. Frederico d^ Azevedo Faro e
No7'onha, que foi lente de direito rornano em Coimbra , no meu
bom tempo d'estudante.
Morava s. ex.^ na Couraça de Lisboa, onde se dignou re-
ceber-me e palestrar commigo algumas vezes.
Era uma excellente pessoa.
As minhas relações com o sr. D. Joaquim da Soenga já
contam 54 a 55 annos, pois datam de 1854 a 1855, — anno
em que '(se bem recordo) s. ex.* casou ,com a sr.* D. Maria
Rosa Pinto Leme, filha de Francisco Carlos Pinto Leme, da
nobre casa de Penalva, freguezia de Ancede, em Baião. •
Datam as nossas relações d'aquelle anno, porque s. ex.*
para festejar o seu casamento — deu um grande baile na sua
nobre casa da Soenga, baiie para que se dignou convidar-me
e ao meu irmào Jorge Augusto Ferreira que, sendo mais ve-
lho do que eu dois annos, ainda vive no casarão da Corva-
ceira, onde nascemos. ^
Ao mesmo baile assistiu também o dr. José Júlio d' Oli-
veira Pinto, ao tempo meu contemporâneo em Coimbra e que
em 1862 ou em 1863, sendo deputado e director geral do
ministério dos negócios ecclesiasticos e de justiça, foi morto
em IJsboa no dia 29 de marco em um duello fatal. ^
í Eu nasci em 1832 — e o snr. D. Joaquim, segundo me consta,
nasceu em 1833 ou 1834.
Somos, pois, da mesma edade, com pequena differença.
2 V. Barqueiros no Porugal antigo e moderno, vol. l.o pag. 366,
— CO meu longo artigo Zêzere (S. Marinha doj, vol. xii, pag. 2115, on-
de mencionei a triste occorrencia, fallando da nobre casa da Ermida e do
meu bom e velho amigo, dono d'ella, — o conselheiro António Camillo
d' Almeida Carvalho, pois sendo então deputadr, foi padriniio áo dr. José
Júlio, seu visinho e amigo particular, no duello que o victimou !. . .
I
TENTATIVA ETYMOLOGICOTOPONYMICA 329
Eu senti muito aquella triste occorrencia ^por todas as
considerações, — nomeadamente porque s. ex * — além de ser
uma excellente pessoa o um talento superior, — foi meu con-
temporâneo em Coimbra, — tratou-me sempre melhor do que
eu merecia — e devo-lhe em grande parte a minha apresenta-
ção na abbadia de Tacora^ solar dos 'Javora.s, concelho de
'JahoaçOj onde fui parocho três annos — 18()1 a 1864— antes
de me transferir para o Porto.
Também a minha familia deve muita gratidão ao primo
do sr. D. Joaquim da /^oenga — D. Christocani Noronha Md-
1o e Faro de Barreto — dono do palácio de Porto de Rei, na
margem esquerda do Douro, — um pouco a jusante da nobre
casa da Soeriga, — mesmo em frente da estação actual de
Porto de Rei, na linha férrea do Douro.
Foi s. ex.'* padrinho d'uma minha irmã e teve muitas re-
lações com o meu pae desde 1828 até que falleceu, approxi-
madamente em 1890, — já decrépito, solteiro, sem successão
o ah intestato, na sua casa do Villar, freguezia de Barro,
concelho de Rezende também.
V. Villar, curioso artigo meu no Portugal antigo e Mo-
derno, vol. xr» pag. 1:173 a l:l7õ.
— E^ curioso o mencionado artigo_, porque eu, citando
os Foros de S. Martinho de Mouros, indiquei varias familias
que no século xiv avultavam entre as mais nobres de Rezen-
de e expliquei o motivo porque outrora algumas povoações,
como o Porto, Pinhel, Villa Real, etc, muito estimavam o
privilegio de não poderem morar nellas fidalgos nem ricos
homens.
Comprova também esta asserção o estranho e horroroso
facto que mencionei no meu longo artigo Pinhel, praticado
pelo marichal D. Fernando Coutinho, pelo seu filho D. Hen-
rique e pelo conde de Marialva^ seu sobrinho, no segundo
quartel do século xv.
V. Pinhel no Portugal antigo e moderno, vol. vii, pag.
70 e 71.
De passagem direi que o mencionado artigo — é todo
meu, — como Pinho Leal declarou no artigo Pontos do Douro,
artigo meu também, — no mesmo vol. vii do Portugal antigo
e moderno.^ pag. 200.
Volvendo á longa série d 'amigos que por fortuna encon-
trei neste mundo, ainda mencionarei mais alguns.
Foram também meus contemporâneos em Coiml)ra e
honraram-me com a sua estima vários filhos de Rezende, avul-
330 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
tando entre elles o sr. conselheiro e digno par do reino —
Manuel Pereira Díaí^, dr. de capello em medicina, lente e
decano da mesma faculdade, — excellente pessoa e talento
superior, — deputado ás cortes em varias legislaturas e por
ultimo bastantes annos reitor da Universidade^ qíc.
Casou s. ex.a com uma irmã do visconde de Rendufe e
teve dois filhos, que falleceram de tenra edade, — e duas fi-
lhas que ainda vivem. A mais velha — D Lucinda - casada
com o sr. dr. Albano de Magalhães, de Felgueiras, meu bom
amigo e magistrado dignissimo, actualmente juiz de direito;
— a mais nova — D. Carolina — casou com o sr. D. Pedro
de Mello e Faro, filho do sr. D, Joaquim da Soenga.
O sr. coxiselheiro e digno par do reino — Manuel Pereira.
Dias — deve ser da minha edade, mas já o não vi ha muitos
annos.
O sr. D. Joaquim da Soertga - além do filho D. Pedro
supra, teve mais dois filhos e duas filhas de legitimo matri-
monio.
Dos filhos um, de nome D. António (?) falleceu de tenra
edade ; — o outro, por nome D. Alexandre, como o avô, ainda
está solteiro.
Das filhas, a mais velha — D. Maria da Boa Nova — ca-
sou a primeira vez em Baião com o sr. Carlos Alaria da Cu-
nha Coutinho — e teve successão ; ^ — ficando viuva, casou se-
gunda vez em Fontellas, concelho da Regoa, com António
Borges, também viuvo e agora viuvo novamente, como já dis-
semos.— A mais nova — D. Maria do Sacramento — csison
em Penalva supra, com o seu primo, o sr. Manoel Alraro
d' Azevedo Pinto Leme.
Foi também meu contemporâneo em Coimbra um excel-
lente moço —António Pinto Dias Chaves, filho do dr. Manoel
Pinto Dias Chaves, dono da casa do Carujeiro, freguezia de
>S. Frei Gil, concelho de Rezende. ^ — O pobre moço não se
formou, porque adoeceu gravemente. O pae, que era um bom
fiacultativo, levou-o de Coimbra para a sua casa do Carujeiío,
onde o tratou com o maior disvelo_, mas, passado poucto tem-
po, falleceu, o que muito senti, porque tanto o pao como o
filho eram muito meus amigos.
' V. Casas Novas, no meu longo artigo Zêzere, do Portugal antif^o
e moderno, vol. xii, pag. 2:113, col. l.-i.
2 Carujeiro é unia fornia de corujeiro, abundante em corujas, aves
nocturnas; — Gil vem de Egídio — e este de Heziodo, nome grego.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA BBl
Foi também meu contemporâneo em Coimbra e muito
meu amigo até que íklleceu — o dr. José 'íeixeira Borges
Soeiro d^Ãhneida, natural de Fornêllo (pequeno forno) — fre-
guezia de .S'. Martinho de Mouros, concelho de Rezende tam-
bém.
Formou-se em direito, — seguiu a magistratura — e mor-
reu ha bastantes annos, sendo juiz de direito na villa da /V.v-
qneira.
(^utro meu contemporâneo, filho de Rezende^ foi o dr.
Frederico de Sequeira Coelho de Macedo, natural da povoação
de Cantini de Baixo, freguezia, concelho e comarca de Jíezende,
onde foi advogado. — Casou com a sr.^ D. Izabel Cardo^io Gi-
rão, da quinta do BairrOj concelho de Rezende também.
Ainda vive, mas já viuvo o com filhos — e deve ser da
rainha edade.
*
Como os leitoreu já estào fartos de cantigas, ahi vão al-
gumas etymologias.
— ^Na minha opinião Cantitti vem de Quentim, diapasão
francez de Quintim por Quintini, patronímico de Quintinus /,
— Quintino, nome d'ura santo, etc, diminutivo de Quintas ~
Quinto, nome romano e também nome d'um santo, tirado de
quinttis — quinto, adjectivo numeral.
Note-se que os romanos, como já dissemos, tiraram nomes
pessoaes de todos os seus adjectivos numeraes, — áe.^áe prinius,
que deu Primo, nome d' um santo, e Prime, aldeia, quinta e
titulo de condado, — até nonus e decimus,\xnáei Nonna, Nonno^
Nuno, Nunilona e Nunilono, nomes de santos, etc.
Também Quintus, i, deu Quintilitise Quintiliaiius — Quin-
tiliano, famoso sábio romano e professor de rethorica, auctor
do Compendio de Quintiliano, que vigorou entre nós até o
tempo cm que eu estudei preparatórios.
Também Quintus deu Quiutius e QuintiunuSj i, is, unde
Quinchàes, freguezia do concelho de Fafe — e Quintião^ aldeia
da freguezia de Camhres, concelho de Lamego.
Quintinus, i, como já dissemos, deu Cantim, duas aldeias
do concelho de Rezende, etc. — Por seu turno Cantini deu ou
podia dar Contim, Gontim, Gondim, etc. — povoações nossas,
— • e talvez Gontinhães.^ o (iondinhães — de (rontinianis, pa-
tronímico de Gontinianus, i^ diminutivo de Gontinus, i, que
deu Guntim e Gondim supra.
332 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
E' assim a arte nova — e rira hien qiii rira le dernier! ?...
Foram também meus contemporâneos em Coimbra — e
desde então afé hoje me honraram com a sua estima — dois
filhos de Rezende, naturaes da povoação de Córdova, fregue-
zia de S. Pedro de Pá as.
São elles o dr. Albino Augusto Guedes de Mello — e o
seu irmão Eduardo Guedes de Mello, filhos de Alexandre Ro-
drigues Osório, proprietário e capitalista.
O Eduardo passou alguns annos em Coimbra fianando,
pelo que não se formou. Também até hoje — 1909 — não ca-
sou. — E' uma excellente pessoa e ha muitos annos vive no
Porto com uma irmã — a mais nova, que elle muito estima.
— Chama- se ella D. Maria Au(/usta Guedes Pinto de Mello,
senhora de muito merecimento e também solteira.
Vivem com muita decência e muita independência, por
haverem herdado de seus pães boa legitima e terem o bom
senso de a conservarem.
Elle foi durante annos empregado da Real Companhia
Vinicola do Porto ^ da qual era e é accionista, bem como a
sua adorada irmã supra; mas, para não se fatigar e por não
ter filhos, abandonou o emprego — e leva melhor vida do
que eu ! . . .
Pode dizer com o Mantuano : — Deus nolns haec otia fe-
citl ...
Além d'isso é natural do bom génio? — Eu nnnca o vi
zangado, pelo que, tendo nascido em 1834 ou 1835 — está
bem disposto e muito bem conservado ! . . .
O irmão — dr. Albino, pouco depois de formado, casou,
com uma senhora muito linda, — D. Maria Angelina Finfo
Leme — da nobre casa de Penalva supra, irmã da esposa do
sr. D. Joaquim da Soenga — e teve apenas um filho, que fal-
leceu de tenra edade.
Foi administrador de concelho em Rezende e posterior-
mente conservador em Amarante ; mas, por ter meios de so-
bra para viver com decência e independência — e por não ter
filhos — deixou Amarante e vive com a esposa na sua bella
quinta de Lòuredo, contracção de loureíredo, fieguezia e con
celho de Rezende.
*
Tiveram ellos também .uma irmã — D. (Carolina Camlila
Guedes de Mello — que já falleceu, havendo casado em 18ò3
TENTATIVA ETYMOLOOICOTOPONYMICA 333
OU 1854 com o dr. Johv Borges de Carvalho Vasconc^llos^ da
froguezia (VOUceira, concelho de Mezão frio, — oxcol lente pes
soa e fidalgo distincto, que ao tempo era o caculheiro mais
rico da dita percebia e do dito concelho. '
I)'este consorcio tiveram 2 filhos e 'ò filhas: — António,
.Jose\ Maria FAuarda, outra Maria Eduarda e Afaria Josr, —
todos já fallecidos, exceptuando o Joòé e a Maria Jo.<>é.
O António falleceu de tenra edade.
O José ainda está solteiro e vive na sua grande casa
d'0//'í,7^/rí/, -— Chamase José Borges de CarvalJio Vasconcellos
tSoares d' Albergaria — e é talvez o homem mais corpulento
que ha no Douro ! . . .
Parece um gigante o dito morgado e, além de ser muito
vigoroso o muito alto, — é muito nutrido.
— Pesa talvez mais de cento e vinte Ailos? ! . . .
A sr." D. Maria José Borges de Corralho Vasconcellos^
irmã dó gigante, casou em Rezende com José Maria Teixeira
Pinto de (louveia Vasconcellos ^^\h.o do dr. João Teixeira Pinto
de Vasconcellos, conhecido no meu bom tempo como fidalgo de
Carosa, por viver na sua nobre casa e quinta de Carosa, fre-
guezia de Cambres, junto de Lamego, onde havia casado. Mas
s. ex.* era natural de Rezende, irmão do dr. José Manoel Tei-
xeira Pinto, morgado e senhor da nobre casa de Villa Pouca^
— edifício brazonado, muito espaçoso e de construcção impo-
nente^ com quatro faces e um terreiro, a modo de claustro,
no centro.
A casa de Villa Pouca é talvez a maior e mais regular
do concelho de Rezende — e é seu dono actual o dito sr. José
Maria Teixeira Pinto, porque o seu tio morgado lh'a deu em
dote, quando casou com a dita sr.^ D. Maria José Borges de
Carvalho,
Os drs. José Manoel e João Teixeira supra — eram filhos
de Diogo Luiz Teixeira Pinto, morgado e senhor da casa de
Villa Pouca, em Rezende, o qual teve três filhos, todos bacha-
réis formados em direito, — e seis filhas^ todas ainda soltei-
ras, — total nove filhos I . . .
Foi s. ex.^ bastante prolihco, mas levou- lhe a palma Ju-
lião Sarmento, visconde de Moimenta da Beira, fidalgo dis-
tincto e grande proprietário d'esta mesma provincia da Beira
Alta, pois, como já dissemos — a viscondessa, esposa d'elle,
1 V. Santa Maria d'Oliveira, curioso artigo ineii, no Portugal an-
tigo e moderno, vol. viii, paginas 428,
334 TENTATIVA ETYMOLOGICO TOPONYMICA
teve nada menos de vinte e seis partais — e vingou vinte filhos
e filhas í!...
O dr. João Teixeira Pinto, de Carosa supra, — além do
filho José' Maria leixeira, dono actual de Villa Pouca, teve
mais 4 filhas : — D. Maria da Piedade, hoje viuva de Manoel
Mendes, de Cambres, — D, Marii do Patrocinio, casada com
Ahilio de Mello Sampaio, da nobre casa do l^aco, freguezia
de S. José de Godim, concelho da Regoa^ — D. Maria dos
Prazeres e D. Maria da Conceição, ainda solteiras.
A casa e quinta de Carosa foi dividida pelos 5 irmãos,
mas o pae deixou a terça ao filho, dono actual da grande casa
de Villa Pouca supra, casado com a sr.^* D. Maria Jo^é Bor-
ges.— São, pois, bastante ricos, mas não têeni siiccessão — nem
ella, nem os tios d'ella supra, — nem o gigante e morgado
seu irmão ? ! . . .
A dita sr.* J). Maria José Borges, pelo lado materno é
prima do morgado de Córdova — Justiniano César Osório —
conhecido também por Justiniano de Cordoca, que no tempo
da revolução da Junta do Porto — 1846 a 1847 — deu brado
como guerrilheiro I
Não era natural do bom génio, como são os dois primos
e meus bons amigos Eduardo e Albino supra.
Birrando com as prepotências dos Cahraes, ~~ armou uma
guerrilha de 200 homens seus visinhos, muito valentes, bem
escolhidos e capitaneados por elle, como tenente coronel c com-
mandante do batalhão de voluntários de Rezende^ titulo dado
pela Junta do Porto.
Foi um guerrilheiro muito ousado e muito valente; —
deu brado durante a dita revolução — e pôde denominar-se o
Galamba da Beira.
Com os seus 200 voluntários incommodou muito a divi-
são do conde, então ainda barão do Casal, composta de õ:000
homens, que estava em Lamego, a 15 kilometros de Córdova,
pelo que o dito general, a instancias dos Marçaes de Foscôa,
que andavam unidos áquella divisão com a sua guerrilha ou
antes quadrilha, — mandou contra Córdova e Rexende forças
importantes varias vezes.
Foram ellas sempre batidas, escorraçadas e repellidas
pelo valente guerrilheiro _, mas, vendo que não podia conti-
nuar a bater se com forças tão superiores, — deixou Córdova
o recolheu-se ao Porto.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 335
Sabendo isto os Marçaes, foram com a sua guerrilha e
com outras forças ria mencionada divisão a ro?*r/otY/ ; sa(|uea-
ram a dita povoação e as povoações visinhas — e incendia-
ram 13 das melhores casas, principiando pela do inonjado
guerrilheiro, então ausente no Porto, — e pela do seu primo
o visinho — Alexandre Rodrigues (J.sorio — pae dos meus bons
amigos supra, Eduardo e Albino Guedes de Mello.
Terminada a lucta pela convenção de Gramido (detur-
})ação de gramêdo) foi o Galamha da Beira repetidas vezes
administrador do concelho e presidente da camará de Rezen-
de, portando se sempre com a maior dignidade, até que falle-
ceu no Porio em 2õ de julho de 1861.
Pouco depois falleceu também a sua esposa — 1). Leopol-
dina Adelaide e Mello^ da nobre família Mellos de Adalvdres,
junto de Lamego, sem deixar successão.
Veja- se no Portugal antigo e moderno o meu artigo Paus,
freguezia do concelho de Rezende, — vol. vi, pag. Õ09 a 512,
onde fallei de Córdova, povoação d'aquella freguezia, — e do
famoso guerrilheiro Justiniano de Córdova.
Veja- se também no mesmo diccionario o meu longo artigo
— Villa Nova de Foscôa — vol. xi, pag. 829 a 849, onde ren-
di justo preito (?/..,) aos Marcaes de Foscôa — desde pag.
842 a 844.
— Com relação à guerra da Junta do Porto — veja se
Gramido, vol. 3.", pag. 316.
* *
Volvendo á longa série de pessoas, que durante muitos
annos consecutivos me honraram e á minha família com a sua
amizade, ainda mencionarei mais algumas.
Occupa distincto logar entre ellas o dr. João Maria Mer-
gulhão Neves Cabral, da freguezia de aS. Romão, concelho
á^Armamar, que, além de ser uma excellente pessoa e um
íidalgo distincto, — foi um dos primeiros jurisconsultos de
Portugal, no século xix.
Falleceu já decrépito em 21 de novembro de 1884 e me
honrou sempre com particular estima, — bem como á minha
familia da ( orvaceira e do Bacalar, dando nos muito espon-
taneamente e muito generosamente o tratamento de primos.
Este tratamento é tradiccional entre as duas familias. -^-
Já vem do tempo dos nossos pães, avós e bisavós: — conta
mais de cem ou duzentos annos — e foram sempre cor deães as
relações entre as duas familias.
336 TENTATIVA ETYMOLOGICO»TOPONYMICA
Não ha memoria da miiiima divergência entre ellas, —
facto não vulgar e muito honroso para ambas, nomeada-
mente para a minha.
Quando s. ex.* falleceu em 1884, já tinha fallecido dez
annos antes — em 1874 — o seu único filho varão dr. Accacio
Mergulhão Neve.s Cabral^ bacharel Goxn. ditas formaturas em
direito.— uma no escriptorio do pae, distincto jurisconsulto ;
— outra na Universidade de Coimbra^ onde foi sempre laurea-
do estudante e preyniado, — Nem outra coisa era d'esperar,
por ser um talento superior, excellente pessoa e já muito ver-
sado em direito.
Quando íòi para Coimbra, — já podia reger cadeira^ —
pois levava o curso completo do pae — e promettia ir além
d'elle ; mas, por estudar muito, adoeceu e morreu pouco de-
pois de formado.
Antes de ir para Coimbra tentou ordenar-se e frequentou
o curso theologico no seminário de Lamego, quando eu fui
alli professor em I8õ7 a 1860, pelo que tive a honra de o
contar entre os meus numerosos discípulos.
Só na aula de historia ecçlesiastica — aula que eu bem
ou mal regi no anno lectivo de 1859 a 1860 — ( tive, se bem
me recordo) 122 discípulos?!... — E escusado é dizei: que
o meu primo Accacio era absolutamente o primeiro estudante J
do grande curso, — estudante distinctissimo ! . . . "
Foram também por distracção meus condiscípulos alguns
dias no meu primeiro amo lectivo de 1857 a 1858 os reve-
rendos srs. Manuel de Oliveira Chaves e Castro e Francisco
de Moura Secco, ambos filhos de Lamego — e que ao tempo
acabavam de ordenar-se. ^
— Eu também me ordenei, — recebendo as ordens todas
desde prima tonsura até á de presbítero — no anno de 18Õ7 e
no curto espaço de três mezes, por estar ao tempo já forma-
do em theologia. — E em outubro d'esse mesmo anno prin-
cipiei a reger a aula de direito canónico no seminário de La-
1 Eram dois talentos verdadeiramente superiores e ambos se dispu-
nham a ir para Coimbra.
O sr. Oliveira Chaves effectivamente foi, porque tinha recursos pró-
prios. — Formou-sc e doutorou-se em direito, como todos sabem ; — regeu
cadeira muitos annos — e tem sido ab alisado jurisconsulto.
O infeliz Moura Secco, por falta de meios não foi para Coimbra. —
Seguiu a vida parochial muito contrafeito ; foi abbade na freguezia da Rua
e depois na minha Penajulia, bispado de Lamego.
Foi também distincto orador, escriptor e poeta — e falleceu ha bas-
tantes annos ralado de desgostos ? !. . ,
TENTATIVA ETYMOLOGICOTOPONYMICA 337
mego, por haver fallecido o professor d'ella — dr. Francisco
José Pereira — e eu ser convidado pelo santo bispo da dioce-
se para substituir aquello professor.
Regi, pois, bem ou mal no dito anno lectivo de 1857 a
1858 — -e no de 1858 a 1850, a aula de direito canónico — e
no de 1859 a 18G0 a aula de historia ecclesiastica^ então
creada de novo no seminário de Lamego.
— Coubeme, pois, a honra de ser no dito seminário o
primeiro professor de historia ecclesiasticUj — disciplina de que
eu gostava muito! , . •
Mas — dirão os leitores - sendo você tão novo ^ e tendo
cabulado tanto em Coimbra, como você próprio já disse, —
como se atreveu a leccionar direito canónico e historia eccle-
siastica ? / , . .
Eu efíectivamente estudei pouco em Coimbra^ mas algo
estuarei, pois, havendo entrado em Coimbra no mez de junho
de 1851, com os tristes preparatórios de Lamego^ — em junho
de 1856 estava na minha parvónia formado em theologia —
com todos os preparatórios de direito, accrescendo ainda os
exames de grego e de hebraico!...
— Estudei pouco, mas nenhum dos meus contemporâ-
neos se formou — nem podia formar — em menos tempo.
— Estudei pouco em Coimbra, mas estudei muito em La-
mego, quando professor e, se não deixasse, como deixei, o
professorado, passando para a vida parochial e de escriptor,
— talvez que hoje soubesse algo do meu ofíicio.
Eu gostava pouco do direito canónico, mas gostava mui-
to da historia ecclesiastica — e por fortuna logo no primeiro
anno — (e ultimo ?!...) ~ em que bem ou mal regi a dita aula,
encontrei na bibliotheca do paço episcopal de Laynego, — bi-
bliotheca esplendida que foi dos jesuítas * — óptimos expo-
sitores, avultando entre elles a Historia Ecclesiastica de Fleu-
^ Nasci em 14 de novembro de 1832 e completei os 25 annos em
14 de novembro de 1857, quando yd era professor em Lamego.
- A extincção dos Jesuítas comprchendeu o collegio que elles tinham
na alta e inhospista serra da Lapa, concelho de Sernancelhe, junto do san-
tuário de Nossa Senhora da Lapa, diocese de Lamego, pelo que o gover-
no—ou antes o marqiiez de Pombal — deu aos^ bispos de Lamego o dito
collegio com a sua grande bibíioiheca.
Os bispos conservaram o collegio para residência dos capellães do
santuário e commodidade dos romeiros, mas levaram a bibliotheca para o
paço episcopal de Lamego.
O vasto edifício do collegio é actualmente uma bclla casa de educa-
ção.
?8
338 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
ry — e a de Tillemond^ — ambas completas e bem encaderna-
das, comprehendendo muitos volumes! ...
Também comprei e compulsei a grande Historia Ecclesias-
tica do Barão (THenrion — em francez, comprehendendo doze
volumes» — E' muito interessante, muito linda e parece escripta
por um auctor portuguez, pois menciona e descreve muito bem
todos os bispados portuguezes, — tanto os do continente, como
os do ultramar, comprehendendo os do Brazilj da Madeira,
dos Açores^ da Africa, da Asia^ da índia, da China, etc.
Note-se também que as ordenações de Lamego no tempo
em que eu para alli fui como professor — causavam dói...
Não havia periodo regular para matriculas — nem semi-
narioy pois, tendo sido devorado por um incêndio em 1834, —
ao tempo (1857) ainda se tratava da sua reconstrucção. — Só
se abriu no meu ultimo anno lectivo-— 1859 a 1860 — anno em
que residi nelle como professor, sendo vice-reitor do mesmo
seminário o meu bom e velho amigo supra — Plácido Augusto
de Moura Vasconcellcs.
Os ordinandos matriculavam- se quando bem lhes parecia
e por vezes — passado pouco tempo — requeriam ao prelado
licença para fazerem exame sobre a parte das disciplinas
theologicas estudadas, com o pretexto de mandarem vir de
Roma certos papeis, — obrigando-se á frequência da parte
restante do anno lectivo.
O santo prelado costumava deferir, mas os taes melian-
tes abusavam. — Feito o exame — não mais voltavam ás au-
las?! . • — Com isso também pouco perdiam, porque os exa-
mes todos naquelle tempo eram facilimos — tanto os das au-
las theologicas, como os de preparatórios, que então — credi-
te poslerif--SQ reduziam a lógica, retórica e latim^ estuda-
dos ordinariamente pro forma nas casas dos respectivos pro-
fessores.
Não havia exames d^instrucção primaria — nem de fran-
cez — nem sequer uma aula publica ou particular de francex ? /...
A primeira aula de francez que houve em Lamego — foi
regida espontaneamente e gratuitamente por mim no seminário,
em 1859 a 1860, — nas quintas-feiras, dias de feriado, — por
ter muita pena dos pobres ordinandos.
O professor de lógica era então o dr. e clinico — Domin-
gos Pinto Ribeiro — homem bastante illustrado e auctor d'um
compendio da mesma disciplina.
— De todos os três professores de preparatórios era o
que melhor cumpria.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 339
O professor de rhetorica era então o velho padre Mattos^
que durante muiton annos regeu a dita cadeira pelo compen-
dio de Quintllinyio — a ultimamente pelo compendio do grande
latinista e humanista padre António Cardoso Borges de Fi-
gueiredo,
O dito snr. Mattos era muito versado em rhetorica^ mas
por extremo bondoso, para não dizer ontra coisa.
— Nu7ica reprovo/l nm examinando ■ — quer fosse leigo,
quer ordinando, — e acceitava francamente tudo quanto elles
lhe davam ? ! . .
O professor de latim — João Tei.cdra de Mesquita — era
muito illustrado e um afamado latinista, mas muito excên-
trico e demasiado generoso para com os ordinandos. — Não
hesitava em os approvar^ — sem saberem muitos d'elles coisa
alguma de latim, pelo que muitos ordinandos in illo tempore
— nem compravam os compêndios theologicos, por serem to-
dos em latim.
— Custa a crer, mas ê facto / / . . .
Iam para as aulas theologicas sem cofnpendio e, quando
os professores os chamavam á lição, diziam simplesmente : —
Não vi!
A frequência era de banco, mas pela muita generosidade
dos professores ficavam todos approvados no fim do anno? ! . . .
*
Antes da minha ida como professor para Lamego — não
havia memoria de ficar um só ordinando reprovado? I...
Eu só no meu 3.° anno lectivo, — 1859 a 1860 — quando
bem ou mal regi a aula de historia ecclesiastica e tive 122
discipulos, — reprovei 32, — entre elles um que me foi 7miito
recornmendadol - Encontrando mais tarde no Porto o meu
amigo, protector d'elle, perguntei-lhe se o tal estudante che-
gou a ordenar se. Respondeu :
— a Effectivamente ordenou-se, mas está irregular, por-
que nem sabe ler o latim ? ! ... »
Note-se também que antes da minha ida como professor
para Lamego — tanto os exames de preparatórios, como das
disciplinas ecclesiasticas, — não eram feitos em mesa, — Os
respectivos professores examinavam os discipulos e ordinan-
dos a sós — nos cantos d'uma sala cochichando e fallando
talvez de tudo, menos da matéria do exame.
Também nas aulas não havia contínuos. — As faltas eram
340 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
unicamente marcadas pelos respectivos professores, — se é
que as marcavam, do que duvido^ porque ninguém lhes tomava
contas.
Também os ordinandos iam para as aulas theologicas
vestidos a seu hei 'prazer. — Devendo ir de crepe regular^ to-
dos levavam capa e batina, mas alguns sem cabeção e quasi
todos sem sapatos d'entrada baixa nem meias pretas, mas
com botas e sapatos de toda a ordem — e calças por vezes
de cotim.
Estavam tão desconceituadas as ordenações de Lamego,
que vários ordinandos de Braga e de Bragança.^ cidades, muito
distantes, tendo alli frequentado as aulas, iam em sella
por estradas, que ao tempo nem diligencias Unham, — fazer
os exames em La77iego, onde todos ficavam approvados, sendo
uma corja de díscolos, de cabulas e vadios ? !...
Eu, apenas tive conhecimento do facto, fiquei horrori-
sado e disse aos outros professores, meus collegas :
— « Isto é uma vergonha, uma affronta para nós, — affron-
ta que deve terminar. — Quando houvermos de fazer favor,—
seja aos ordinandos da nossa diocese; — não aos de dioceses
estranhas e tão distantes, ^ pois não os conhecemos. — Para
esses todo o rigor ! — e eu darei o exemplo. »
D'ahi a pouco disse-me o escrivão da camará ecclesiasti-
ca de La mego :
— Ahi vem um bando de seminaristas de Braga fazer
aqui os exames.
— Deixe-os vir, pois talvez seiam os últimos, — res-
pondi eu.
Eis que se apresenta um dos taes, como cerra- filas, que
elles mandaram deante em descoberta. — O pobre moço era
bom estudante, mas reprovei-o.
— Foi um remédio santo, pois não mais appareceu em
Lamego ordinando algum de Braga nem de Bragança.
Transíormaçôo completa das ordenações
de Lamego
Vão agora os leitores vêr como eu — sem plano formado
e sem violência alguma — transformei de fond em comble as
1 Lamego ainda hoje (1909) dista de Bra ora cerca de 26 legoas —
OU 130 kiJometros — e de Bragança pouco menos.
TENTATIVA KTYMOLOGICOTOPON YMÍCA 341
ordenações de Lamego nos três annos lectivos do meu profes-
sorado.
Desde que o santo prelado me ordenou em 1857, tratou
me sempre melhor do que eu merecia, porque, sendo s. ex.*
bispo de Lamego desde 1845 e tendo por consequência decor-
rido trexe annos —fui eu o primeiro dos seus diocesanos for-
mado^ a quem s. ex.* conferiu ordens, — como elle próprio me
disse.
Era s. ex.a o snr. B. José de Moura Coutinho, da nobre
casa do Telho, freguezia à'' Arnoia^ concelho de Celorico de Bas-
to '^^ onde nasceu em 1779, — talento superior, muito illus-
trado e muito virtuoso, — bacharel formado e licenciado em
theologia pela Universidade de Coimbra, — excellente pessoa,
muito tratavel e muito meu amigo.
Falleceu no paço episcopal de Lamego — no dia 3 d'ou-
tubro de 1861 — e devo-lhe a máxima gratidão ^ pelo que —
para não me expor ao infame labéu de ingrato— esbocei a ge-
nealogia de s. ex.* no Portugal antigo e moderno. ^
Poucos dias depois que s. ex.* me ordenou, como já disse,
nomeou-me professor de direito canónico, examinador syno-
dal e vigário geral interino, por estar decrépito o vigário ge-
ral effectivo — dr. Diogo de Macedo Pereira,
Como o santo prelado era muito accessivel, muito trata-
vel e multo meu amigo, palestrava com elle repetidas vezes.
Certo dia expuz lhe o estado lastimoso dos ordinandos e lem-
brei-lhe muito respeitosamente algumas providencias para que
elles tivessem uma frequência regular e adquirissem alguma
instrucção.
1 Como os leitores já estão fartos de cantigas, ahi vão algumas ety-
mologias:
— Telho vem talvez de Telliolus, diminutivo de Tellus, i — Tello,
antigo nome pessoal, cujo patronimico Tellis deu Telles, appellido vulgar.
Também Tellus deu Tellonius, como Apollus deu Apollonius—Apol-
lonio, nome d'um santo, etc— - E Tellonius, ii, tis, deu Tellões e Tenões
por Tellões, povoações nossas.
Arnoía, contracção de Arenoia — vem do baixo latim arenola ou are-
nolia, diminutivo de arena — areia, que deu outras muitas povoações,
como já disssémos.
— Cellorico — vtm de celloricus, diminutivo do baixo latim cellorius
por cellarius — ctWtno, cujo diminutivo cellariollus deu Celleiró e Cel-
leiroz, o mesmo que Celorico e Celorícos.
Cf. Machico, Burnico por Burrico, Pocico, etc, povoações nossas.
'^ V. Telho, vol. XI, pag. 530 a 533 — e Villa Pouca, aldeia da fregue-
zia á'Arnoia supra, vol. ix, pag. 897, col. 2.» e segg.
342 TENTATIVA ETYMOLOQICO-TOPONYMICA
Concordou s. ex.» em que a instrucção era para elles
muito necessária e muito útil. Dignou-se até s. ex.^ contar-
me o facto seguinte :
— Vagando uma egreja do bispado annos antes, apre-
sentou-se-lhe um presbytero, filho d'ella, pedindo-lhe a em-
commendação até que fosse provida, porque era pobre, bem
como a sua familia, que elle estava amparando.
De bom grado annuí, por ter dó d 'elle, e recommendei-
Ihe que se habilitasse para o concurso.
— Eu pretendo apenas a encomme?idação — respondeu o
padre,
— Mas, se a egreja lhe convém tanto por eneommendã'
ção — mais lhe convém a collação. Habilite-se, pois para o
concurso, que eu o favorecerei quanto possa. — Retardarei
até mais algum tempo o concurso para rever as doutrinas
que estudou e melhor se habilitar.
— Agradeço muito a bondade de v. ex.^ — acorescentou
o desgraçado chorando, — mas eu não posso ir ao concurso
nem habilitar-me para elle, porque não sei latim nem coisa
alguma?!. . .
— Mas você, quando se ordenou, devia juntar e por cer-
to juntou exames de preparatórios e das disciplinas theologi-
cas do seminário ! . . .
— Efifectivamente juntei, mas iiada sei — disse o pobre,
chorando, e acorescentou :
— O meu pae era um pequeno lavrador e, tendo três fi-
lhos, resolveu ordenar um: — embora com sacrificio. Mandou,
pois, para Lamego o meu irmão mais velho. Ordenou-se com
tanta facilidade, que o meu pae attonito, mandou também para
Lamego e ordenou com a mesma facilidade outro irmão. —
Restava ainda eu e, como o meu pae visse já dois filhos or-
denados, tendo gasto com as ordenações d'elles menos do que
esperava gastar com a ordenação de um, — mandou-me tam-
bém a mim para J^amego e com facilidade também me orde-
nei,—^w«6' nada sei!.., — disse o desgraçado chorando.
Tive muita pena d'elle — disse o bondoso prelado — e
concordo em que os ordinandos — mesmo por utilidade pró-
pria— devem ser obrigados a estudar e a ter uma frequên-
cia regular.
Vendo eu o santo prelado tão bem disposto, ftii-lhe lem-
brando paulatinamente e muito respeitosamente as providen-
cias mais urgentes para melhorar as ordenações e tiral-as do
cahos em que jaziam desde longa data.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 343
Fui tão feliz, que o prelado nunca se recusou a acceitar
lima única das minhas propostas — e auctorisou-me para lavrar
as portarias, como se íbra secretario d'ello. — Assim lavrei algu-
mas, depois de o consultar; — elle, depois de as lêr, assigna-
va-as ; — eu afixa va-as na porta da aula do seminário e cha-
mava para ellas a attenção dos ordinandos, concluindo por
dizer-lhes muito simplesmente: — Notem que na minha aula
aquella portaria cumpre-sef . . .
— Tanto bastava para elles a cumprirem pontualmente.
Doesta forma, com muita facilidade consegui estabelecer
um periodo fixo e ixgular para as matriculas nas aulas theo-
logicas do seminário — e pôr termo ao escândalo dos exames
que até então muitas vezes se faziam na primeira época do
anno lectivo com o pretexto de mandarem os ordinandos vir
de Roma certos papeis, chamados reverendas^— o que era um
pretexto para não mais irem ás aulas n'aquelle anno.
Também consegui a nomeação d'um continuo^ encarrega-
do de marcar nas aulas theologicas as faltas dos alumnos —
em voz alta, para o respectivo professor as marcar também
na sua pauta.
Consegui também do santo prelado uma portaria regu-
lando as faltas pela tabeliã da Universidade.
— Com um certo numero d'ellas ficavam os alumnos pre-
teridos;— com outro numero algo uislÍoy perdiam o anno, —
e também, como na Universidade, certo numero de faltas po-
dia abonar-se por doença.
Também consegui do santo prelado que o sacramental
não vi fosse considerado como falta inabo?iavel, das quaes um
limitado numero preteria — e outro pouco maior fazia perder
o anno aos alufnnos? f . . .
* *
Consegui também do santo prelado instituição de co?i-
gregações wensaes, relativas ás aulas theologicas do seminário
— congregações formadas pelos diversos professores, presi-
dindo a ellas o prelado.
Nas ditas congregações, para as quaes havia um livro pró-
prio, se tomava todos os mezes — com relação a cada um dos
alumnos — nota das faltas e das lições por elles dadas, com
as respectivas qualificações d'ellas, constantes das pautas dos
professores, — para se obviar a empenhos e escândalos no fim
do anno.
Havia também uma congregação geral no fim do anno
344 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
lectivo e nella se tomava nota dos alumnos habilitados para
irem aos actos_, — bem como dos que ficavam preteridos e dos
que haviam perdido o anno por faltas ou por outro qualquer
motivo, pois nas ditas congregações se registava também o
comportamento moral e civil dos alumnos.
— No paço episcopal de Lamego deve existir pelo me-
nos um livro com as actas das ditas congregações — ■ escriptas
por mim, — pois era eu o secretario d'ellas_, por ser o profes-
sor e vogal mais novo. — E todas devem estar assignadas por
mim, — pelos outros professores — e pelo santo prelado como
presidente.
As taes congregações foram um remédio santo para aca-
barem com os escândalos anteriores.
Note-se que até á minha ida como professor para La-
mego^ por vezes succedia ficar um alumno reprovado — e ser
na mesma semana e pelo mesmo professor novamente exami-
nado — e approvado? !!!...
— Custa a crer — mas é facto.
— No meu primeiro anno lectivo, entre vários alumnos
reprovei um, que apenas conhecia pela pauta e que era uma
nullidade completa.
No mesmo dia o snr. conde d'Alpendurada, que ao tempo
ainda não era conde mas simplesmente João Baptista. ... —
morador na rua dos Loureiros, •- excellente pessoa e muito
acceito do prelado ' escreveu-lhe, dizendo pouco mais ou me-
nos o seguinte :
— a Acaba de ser reprovado em direito canónico o por-
tador. . . que é filho d'um meu cazeiro, pelo que peço a v.
ex.* a fineza de ordenar ao professor que novamente o exa-
mine e approve, porque o pae d'elle é um desgraçado e porque
factos semelhantes — se têem dado aqui mais vezes. . . »
Com vista ao respectivo professor — escreveu no próprio
bilhete (nem carta era!...) — o santo prelado e mandou-me
o bilhetinho pelo tal meu disciplo reprovado.
— Eu fiquei attonito e bem quizera responder á leira ao
1 Note-se que o snr. D. José de Moura Coutinho, antes de ser bis-
po foi deão da Sé de Lamego, como coadjiitor e futuro successor do deão
D. Manuel F. Gameiro de Sousa, desde junho de 1812 até setembro de
1836 — e desde 1836 deão effectivo até 11 de março de 1855, data em que
foi sagrado bispo.
Foi s. ex.a pois, muitos annos deão da Sé de Lamego, onde teve por
collegas dois cónegos, tios do snr. conde d' Alpendurada c muito amigos
do santo prelado.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 345
tal senhor, mas, como vi no estranho bilhete a assigna-
tura do santo prelado^ — fui expôr-lhe de viva voz o que sen-
tia, protestando energicamente, embora muito respeitosamente^
contra semelhante pedido.
o venerando prelado concordou e desde aquella data —
o escândalo acabou / . . .
Foi até, talvez um dos motivos porque o sr. conde d' Al-
pendurada desde então, até que falleceu ha poucos annos, me
honrou sempre com particular estima.
— Sem violência alguma e até com muita satisfação
minha acabei com a immunda papar oca e com a empenhoca,
de que até á minha ida como professor para Lamego — de-
pendiam alli em grande parte as ordenações.
Note-se que desde o tempo do arroz de quinze os profes-
sores das aulas theologicas do seminário de Lamego — cre-
dite prosteril. . . — apenas recebiam 8$305 por mez — ou reis
99$660 por anno, pelo que — para não morrerem de fome —
acceitavam francamente dos ordinandos tudo quanto estes lhes
davam, — e, porquanto vós desteis — a todos approvavam ? I . . .
Custa a crer.
— Os pobres ordinandos davam-lhes mugens, lampreias,
sáveis, etc, do Douro \ trutas do Varosa e do Paiva; pipos e
garrafas de vinho ; açafates de laranjas, peras, figos, maçãs,
damascos, etc. ; — sacos de castanhas e de carvão de choça,
muito estimado em Lamego no inverno, po7' ser terra fria I ?
Davam-lhes também doce : — cavacas de Rezende, murcellas
de Arouca, viuvinhas de Villa Real, pasteis do convento das
Chagas^ de Lamego, etc; — lombos de porco, leitões, cordei-
ros e os decantados presuntos de Lamego; — perdizes, lebres,
coelhos, patos, perus, frangos, gallinhas, etc.
Também os três professores e examinadores de prepara-
tórios:— lógica, rhetorica e latim — nomeadamente os d'estas
ultimas duas disciplinas —acceitavam tudo quanto lhes davam
— inclusivamente dinheiro, — pelo que eram tão generosos e tão
brandos para com os ordinandos. — Davam-lhes inclusiva-
mente na véspera do exame os pontos e assim os approvavam
a todos / ? . . .
— Custa a crêr_, mas tudo o que levo dito era facto in
illo tempore, — facto de que ainda hoje se conservam as mais
tristes reminiscências em Lamego e fora de Lamego.
346 TENTATIVA ETYMOLOGUCO-TOPONYMICA
Quando eu para alli fui como professor de direito eano-
nico, em 1857 a 1858 — appareceram logo alguns dos meus
discípulos com os presentes do estylo. — Recusei-me termi-
nantemente a acceital-os, apesar das instancias d'elles — e
muito peremptoriamente e claramente lhes disse :
— « Não mais se incommodem com brindes e presentes,
porque não os acceito. — Para mim a melhor recommendação
e o melhor empenho será — estudarem e portarem- se bem,y>
Os moços ficaram attonitos, mas em breve se convence-
ram de que eu cumpria pontualmente o que dizia.
— Appello francamente para os que por ventura ainda
viverem.
— E vivem por certo muitos dos meus discipulos, por
serem numerosos e todos mais novos do que eu.
— Appello mesmo para as famílias d'elles e para os ami-
gos e representantes d'elles.
— Eu tratava o melhor possível .na aula e fora da aula
os que estudavam e se portavam bem.
— Cumprimentavo-os na rua e apertava-lhes a mão —
e nos actos tratei-os sempre com generosidade e brandura.
— Fui severo unicamente para com os díscolos e vadios
que se portavam mal e não estudavam coisa alguma, pelo que
reprovei muitos d'estes — sem attender a empenhos.
— São pobres e desgraçados ! — diziam-me os amigos que
os recommendavam e me pediam que tivesse dó d'elles e os
approvasse.
~ Eu mostrava-lhes a minha pauta, para que vissem a
frequência d'elles e o seu comportamento, concluindo por
dizer : Se são pobres_, — portassem-se melhor e estudassem
mais alguma coisa.
— Eu reprovei muitos, mas, sendo in illo tempore os ordi-
nandos tão numerosos ^ e não havendo então policia em La-
1 —Só no meu anno lectivo — em 1859 a 1860, quando bem ou
mal regia a cadeira de historia eccíesiastica, tive 121 discipulos! Ficaram
approvados nemine 4A; simpliciter 38; reprovados 18 — e perderam o
anno por faltas 21, — segundo consta d'uma nota d'aquelle tempo que no
momento encontrei.
Fica assim rectificado o que sobre o assumpto já disse na pag. 339
supra.
No mesmo anno matricularam-se em theologia dogmática 66 disci-
pulos ; foram approvados nemine 25 ; simpliciter 30 ; reprovados 8 — e
perderam o anno por faltas 6. — Matricularam-se em theologia moral 43;
•íkNTATIVA ETVMOLOGICO-TOPONYMTCA 347
mego, — eu passeava francamente de dia e de noute, quasi
sempre sô — e nunca os estudantes me desconsideraram nem
aíFrontaram, pois só os discolos olhavam para mira de travéx.
Tçdos os outros me estimavam e respeitavam — e em
questões sérias que no meu tempo surgiram contra os estu-
dantes — eu muito espontaneamente me coUoquei sempre do
lado d^elles.
Certa noite, por exemplo, estando eu no theatro, o admi-
nistrador do concelho ^ reprehendeu os estudantes que esta-
vam na plateia fazendo grande arruido e, como elles recalci-
trassem, mandou prendwr dois, — um dos quaes era irmão
do reverendo dr. João Manuel Cardoso de Nápoles, que foi
deão em Lisboa e arcebispo eleito de Goa, etc.
Eu muito espontaneamente me dirigi logo ao adminis-
trador pedindo-lhe que soltasse os estudantes.
— Não posso — respondeu elle, porque me desconsidera-
ram recalcitrando, quando eu os reprehendi.
— Estudantes são rapazes. Não se pôde exigir d'elles a
prudência d'anciãos —; lhe disse eu, — mas se a questão é do
arruido e barulho que faziam, — mande-os v. ex.* soltar, que
eu me responsabiliso pela tranquillidade d'elles.
— Promptamente annuiu e mandou logo commigo um offi-
cial de diligencias com ordem para o sargento da guarda sol-
tar os dois estudantes, que ainda estavam á porta do thea-
tro e em volta d'elles e dos soldados muitos estudantes vo-
ciferando.
Foram immediatamente postos em liberdade os dois pre-
sos — e eu, tocando no hombro d'um estudante do Alto Dou-
ro— muito valente e de pelle diabi ^ — disse-lhe que me res-
foram approvados nemine 13 ; simpUciter 5 ; reprovados 9 — e perderam
o anno por faltas 16.
Do exposto se vê que em 1859-1860 o curso theologico do seminário
de Lamego comprehendia 233 aiumnos ; vingaram o anno 155 — e perde-
ram-no 78.
— Não ha memoria de curso tão numeroso no seminário de Lamego.
^ Era então o snr. dr. José Beires, que posteriormente foi governa-
dor civil de vários districtos e por ultimo official superior e director d'uma
secretaria do estado em Lisboa, onde fallcceu.
Era s. ex.* irmão do snr. dr. Manuel de Beires, que falleceu ha pou-
cos annos no Porto, sendo juiz da Relação.
Um e outro eram excellentes pessoas; — foram meus contemporâneos
em Coimbra e rne trataram sempre melhor do que eu merecia.
^ —No Douro tudo é bom, menos o que falia ! — Desculpem os
meus patrícios a franqueza.
348 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
ponsabilisára para com o administrador pela tranquillidade
d'elles e que esperava me attendessem e não deixassem ficar
mal.
— Agradeço a fineza ^ e pode você estar certo de que
não o comprometteremos — disse elle — e muito generosa-
mente cumpriram,
— Na dita recita portaram-se como cordeiros, ficando o
administrador estupefacto ; — na recita seguinte foram ainda
mais longe.
— Tomaram a plateia toda — e convidaram-me para ir
ao espectáculo.
— Eu fui — e elles pareciam auto^natos. — Estavam com
tanto respeito e tão silenciosos como na aula e sempre com
os olhos fitos em mim. — Só applaudiam e davam palmas^
quando eu as dava, — o que foi para mim uma gloria, pois
mostraram ao administrador e á cidade toda quanto me es-
timavam e respeitavam.
*
* *
Outro facto mais eloquente:
— Era in illo tempere commandante do regimento de
infanteria n.° 9_, de Lamego, um brigadeiro geralmente esti-
mado e considerado; tinha elle, porém, filhos do vários ma-
trimónios, sendo dois d'esses filhos então sargentos e bastante
desequilibrados.
Birrando elles com os estudantes e sabendo que estes na
fprma do costume sahiriam certa noute com uma tocata, por
ser véspera de feriado, e percorreriam a cidade, — que fize-
ram os taes sargentos, filhos do brigadeiro?
Chamaram os outros sargentos, — distribuíram por elles
os instrumentos da banda regimental, incluindo os de panca-
daria e de metal, e foram na mesma noute com os instrumen-
tos, fazendo um barulho infernal, surprehender, affrontar e
provocar em uma das ruas principaes de Lamego os estudan-
tes, quando estes iam tocando e marchando em grande nu-
mero— talvez mais de trexentos — muito soce g adam ente? !,. .
O facto escandalisou a cidade toda. — Houve grande ar-
ruido e podia haver muito sangue, mas o conflicto passou.
Os estudantes . continuaram passeando e tocando — e os
sargentos recolheram se victoriosos ao quartel, saboreando o
estranho facto que haviam praticado e o grande escândalo que
haviam dado.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 349
No dia seguinte, um dos taes filhos do brigadeiro, andan-
do a passear na cidade com dois sargentos e encontrando um
grupo de estudantes, jogou-lhes certa piada affrontosa. Os
estudantes insultaram-nos e deram- lhes alguns bofetões.
O filho do brigadeiro foi logo queixar-se ao pae; este ofíi-
ciou também logo ao administrador do concelho, que era o
tal snr. dr. José de lieires supra, — mostrando-se muito ma-
goado e pedindo processo urgente contra os estudantes que ha-
viam insultado e desacatado o seu filho, mais dois sargentos,
indo unifoTinisados ! ...
Eu, apenas tive conhecimento de tão estranha occorren-
cia^ muito espontaneamente fui procurar o administrador e
disselhe que, se os estudantes andaram mal — os sargentos
andaram peor ainda^ como s. ex.* bem sabia.
— Que os estudantes eram rapazes — foram provocados
e tinham desculpa, — emquanto que os sargentos não tinham
desculpa alguma, por serem officiaes inferiores que, — deven-
do ser mantenedores da ordem, — eram os primeiros a provocar
a desordem^ como todos sabiam.
— Que o snr. brigadeiro, mostrando-se tão magoado e
tão irado contra os estudantes — era injusto, pois devia prin-
cipiar por manter a disciplina militar, castigando ou pelo me-
nos admoestando os filhos que o estavam cobrindo de vergo-
nha e expondo-o a graves censuras, como brigadeiro e com-
mandante de infanteria 9, — o que era publico e notório em
toda a cidade — es. ex.* bem o sabia, melhor do que ew,][por
ser filho de Lamego.
Disse-lhe mais : — Pode v. ex.* estar certo de que, se
mandar prender es estudantes incriminados, — eu levarei a
questão para a imprensa ; - narrarei tudo o que acabo de
dizer e algo más — e pedirei providencias terminantes ao
ministro da guerra.
— O administrador, que era muito prudente e muito ati-
lado e, como filho de Lamego, estava ao facto de tudo... —
conferenciou com o brigadeiro, — este reconsiderou — e tudo
terminou em santa paz, por meio d'uma conferencia no salão
nobre da camará municipal de Lamego.
— A' dita conferencia assistimos eu e elle, — os estudan-
tes incriminados^ — o major do regimento — e os taes sargen-
tos, — promettendo uns e outros porem termo ás provo-
cações e aggressões, o que — honra lhes seja! — cumpri-
ram.
— Na citada conferencia não houve a mínima alterca(^ão.
350 TENTATIYA ETYMOLOGIOO-TOPONYMIOA
— Tudo correu com a maior placidez, porque o major levava
os sargentos bem dispostos — e bem dispostos levava eu
também os estudantes.
Volvendo ao ayer e hoy das ordenações de Lamego, ain-
da direi que eu regulava as approvações e reprovações pela
pauta.
— Para mim, a frequência do anno lectivo era tudo — e
os actos pouco mais valiam do que uma lição ou uma sábha-
tina. — Apenas provavam que o examinando estudou nas vinte
e quatro horas do ponto.
Certo dia procurou-me um meu discípulo, tremendo com
sezões, na véspera do dia em que devia tirar ponto, e pediu-
me que lhe adiasse o exame para outubro próximo futuro,
por estar muito doente.
Eu fui ver a minha pauta e notando que o tal estudante,
que eu não conhecia nem me havia sido recommendado por
pessoa alguma, tinha hoa frequência e hom com por lamento ^ —
disse-lhe muito espontaneamente :
— De bom grado o adiarei para outubro, mas você tem
boa frequência e hom comportamento — e por consequência tem
três a a garantidos. Veja, pois, se amanhã pode tirar o ponto
e ir ao acto — e tenha a certeza de que fica approvado — em-
bora não diga coisa alguma, porque para mim a frequência é
tudo — 0 0 acto pouco, mais de nada,
— O pobre estudante ficou attonito t — No dia seguinte
foi tirar o ponto ; — fez acto com um lenço na cabeça, tre-
mendo ainda com as sezões. — Pouco disse, nem podia dizer,
por estar tão doente, mas eu falei por elle animando o — e
de bom grado o approvei.
Passado pouco mais de um anno, fui para Távora^ como
parocho ; — no dia seguinte foi elle cumprimentar-me dizendo:
— «Eu sou aquelle estudante que vc^ê tão generosamente
approvou ; — fiquei penhoradissimo e moro n'esta freguezia,
pelo que venho offerecer-lhe o meu limitado préstimo».
Chamava-se elle — Joào António Ribeiro Nobre; — pouco
depois ordenou-se ; — foi parocho muitos annos em Paredes
da^ Beira, a pequena distancia de Távora ^ sua terra natal,
onde eu também fui parocho em 1861 a 1864, — e alli falle-
ceu em 1905, sendo sempre meu amigo.
— Deus o tenha em bom logar.
— Com vista ao méu atávico successor... — o amigo
mais falso e tnais ingrato que n'este mundo encontrei.
TENTATIVA ETYMOLOQICO-TOPONYMICA 351
— Qhí viget in folíís venil c radicibus humorí ! . . , ^
*
* *
Volvendo ainda ao ot/er e hoy das ordenações de Lamego
in illo iempore — fiz mais.
— Sem violência alguma resolvi o santo prelado a pôr
termo aos actos ou exames feitos pelos respectivos profes-
sores e examinandos nos cantos d' uma sala cochichando a sós.
Desde aquella data, que no momento não me occorre, —
principiaram e continuaram a ser feitos em meza regula^^
como então se faziam em Coimbra — os actos e exames todos,
— tanto das disciplinas theologicas, como de preparatórios,
comprehendendo o latim, pelo que desde então os ordinandos
de Lamego, todos — ficaram sabendo algo de latim.
— Eu exultei de contentamento, mas íicou desesperado e
quasi doido o respectivo professor— </o«o Teixeira de Mesquita.
Não me podia ver, por lhe tirar a paparoca. — Certo dia
estando elle na Praça do Commercio a palestrar com alguns
amigos e passando eu a distancia, disse :
— Lá vae o cometa de cauda preta^ que veiu do inferno
para civilisar Lamego / . . .
— Chamava-me cometa de cauda preta, porque eu nos
dias d'aula costumava andar de crepe ou habito talar y para
dar o exemplo aos ordinandos, obrigando- os a usarem tam-
bém crepe nos dias d,'aula, como prescreviam os regulamen-
tos disciplinares do seminário, — regulamentos que, — a pe-
dido meu e segundo a letra d'uma portaria lavrada por mim
— o santo prelado estabeleceu.
Elles íóra das aulas podiam vestir-se laicâmente a seu
talante, mas — quando vestissem capa e batina — eram obri-
gados a crepe regular, usando também cabeção^ meias pretas
e sapatos d' entrada baixa. — E só assim — trajando crepe re-
gular ^ — podiam entrar nas aulas. — Apresentando-se vesti-
dos d'outra forma, — o continuo vedava-íhes a entrada e mar-
cava-lhes uma falta inabonavel .
— Assim puz termo ao escandaloso vestuário anterior
dos^ ordinandos — nas aulas e fora das aulas, pois como já
1 Wide Joaquim da Silveira, no indice da 1.;^ e 2.^ parte d'esta mi-
nha louca Tentativa.
— Elle queixa-se da dureza com que o trac.-O e com que o tenho
desmascarado, mas — - sibi imputei !. . .
352 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
disse, — por vezes trajavam capa e batina, mas sem cabeção^
— calças de cotim alegre^ — e butes ou sapatos de toda a or-
dem ?!...
* *
Volvendo ao ayer e hoy das ordenações de Lamego in
illo tempore, — ahi vai um escândalo que faz rir.
Quando eu me ordenei em 1857, o prelado não me obri-
gou aos exames do estylo para me conferir as ordens desde
prima tonsura até á de presbytero. — Deu-se por satisfeito
com as cartas da minha formatura ; mas tive de juntar para
as três ordens sacras três exames de cantochão.
— Effectivamente juntei certidões dos três exames de
cantochão — e com appr ovação, — mas sem saber uma nota do
canto — nem ir um dia único á dieta aula — nem sequer sa-
bia onde o professor morava? I...
O dicto professor de cantochão era cantor do cabido e
algo sabia da especialidade, mas — para não incommodar os
ordinandos nem elle também se incommodar, — era do estylo
entregarem os ordinandos meia folha de papel sellado com
a bagatella de 500 reis a um servente da Sé — mais um tos-
tão para o tal servente. — No dia seguinte o servente entre-
gava ao ordinando a certidão legal do exame de cantochão,
passada pelo dicto senhor na forma do estylo — com a nota
de approvação ? ! . . .
Assim juntei eu as três certidões de cantochão — sem sa-
ber onde o professor morava ! — Apenas soube que vivia na
rua da Calçada, depois que me ordenei e fui nomeado profes-
sor, porque o tal senhor foi cumprimentar-me e eu tive de o
procurar, paVa lhe pagar a visita.
Era o dicto professor mais delicado e mais sério do que
um seu antecessor que obrigava os ordinandos a irem a casa
d'elle, quando precisavam das certidões ; — collava-os ao'^an-
gulo de uma sala e dizia -lhes com certa graça: — aEstfja
firme, porque não quero jurar falso, dizendo que você está
firme no canto ? f . . .»
— Risum teneatis.
— Acabou também no triennio do meu professorado o
grande escândalo, porque o santo prelado a pedido meu
criou no seminário uma aula regular de cantochão. Foi seu
primeiro professor o rev. sr, Miguel Rodrigues de Jesus, muito
versado na especialidade e que é hoje (1909) capellào cantor
e regente do coro no cabido da Sé do Porto,
TENTATIVA ETYMOLOGICOTOPONYMICA 353
O dicto senhor é natural cie Ltíyttfgo e ali foi no meu tem-
po fâmulo do santo prelado D. José de Morna Coutinho.— O
outro fâmulo de s. ex.^ era o rev. riacido Avr/osto df-. Mo/ira
Vascoriccllos, actualmente Chantre na Sé do Lainego, mencio-
nado bupra — o ambos muito meus amigos desde IHKí até
hoje iliOD — ou durante sessenta e três anutjs ?J... ^
As nossas relações datam do tempo em que eu estudei
preparatórios em Latneyo nos annos de 184G a 1850 — depois
de estudar instrucção primaria e latim na minha Penajulia
ou Penajoia — decantada terra das cerejas . . — no aro de Im-
mego, margem esquerda do Douro — em frente das Caldas
do Moledo, como já dissemos.
Basta com relação ao oyer e hoij das ordenações de La-
mego in illo temjwre.
Julgo ter provado que durante o simples triénio d » meu
professorado — sem violência 'alguma as transformei de fond
en comble.
Só me restou crear distincções e prémios — embora fos-
sem títulos nominaes : — simples cartões de papel com as ar-
mas do prelado e com uma tarja qualquer.
Os áicios prémios — embora fossem nominaes e ào papel
- seriam muito estimados pelos ordinandos — e eu por certo
os crearia, se me demorasse em Lamego mais um anno — e
Deus conservasse a vida ao santo prelado — snr. D. José de
Moura Coutinho. Mas s. ex.'^ falleceu em 1861 — e eu deixei
Lamego eui 18G0, porque fui barbaramente preterido no con-
curso para um canonicato de Lamego com o ónus do ensino,
O nosso governo — hoira lhe seja!. — para melhorar a
critica situação em que viviam os professores dos seminários,
— por decreto de 26 d'agosto de 1859, referendado pelo con-
sídheiro João Baptista da Silva Ferrão de Carvalho Martens,
vulgo Martens Ferrão, — creou os conegos-professores com o
ónus de ensino em todas as nossas dioceses. Pôz logo a con-
curso grande numero dos dictos canonicatos para as nossas
differentes Sés, incluindo três para a de Lamego ^ por serem
três in illo tempore os professores do respectivo seminário.
Os canonicatos do Lamego — depois da extincção dos dí-
zimos— são dos menos rendosos de Portugal. — Renderão
^ Com vista ao meu benemérito successor.
33
354 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
apenas 300$000 reis por anno, verba pouco importante, mas
muito superior aos insignificantes 99$660 reis annuaes — ou
8$B05 reis mensaes, que recebiam os professores do seminá-
rio de Lamego, como já disse, pelo que eu e os meus dous
collegas nos habilitámos, como concorrentes aos três canoni-
catos, d'accôrdo com o santo prelado.
-^—Requeiram — disse elle — que eu de bom grado os pro-
porei e muito provavelmente serão providos, porque o gover-
no, pondo a concurso três canonicatos para Lamego, — clara-
mente visava os três professores d'este seminário. — Além
d'isso, no relatório do decreto, o ministro claramente diz que
se regulará pelas propostas dos respectivos prelados.
Eequeremos, pois, logo os três professores, contando
com o deferimento, nomeadamente eu, porque dos três era o
único formado. Os outros eram simples presbyteros — e da-
va-se ainda a circumstancia de que o prelado era muito meu
amigo / . . •
Eu não sympathisava com a vida de cónego, mas no mo-
mento cohvinha-me, pelo que mandei fallar ao ministro — sr.
Martens Ferrão^ com o qual não tinha relações, posto que
muito bem o conheci em Coimbra^ onde foi meu contempo-
râneo e excellente pessoa.
— Foi também s. ex.^ pinmeiro premiado sempre,— ge-
ralmente considerado e apontado pela academia como talento
verdadeiramente superior e assombro de todos os juristas da
Universidade no seu tempo — incluindo os próprios lentes ?!...
Ao deputado que por mim lhe fallou^ respondeu o snr.
Martens Ferrão :
— «Se elle é formado e professor do seminário de La-
mego — está despachado, sendo proposto pelo bispo. Escu-
sam, pois, de se incommodar.»
Eu depositava toda a confiança no snr. Martens Ferrão^
pelo que plenamente acreditei na sua resposta e não mais o
incommodei.
Deu-se até o seguinte facto :
Certo dia, na véspera ou ante-vespera da sua partida
para Lisboa, fez-me a honra de ir ao seminário despedir-so
de mim e offerecer-me os seus serviços o depufca-d® de La-
mego, que então era o snr. António Pinheiro da Fonseca Osó-
rio, posteriormente visconde á^A^^nei^^oz.
TENTATIVA ETYMOLOQICOTOPONYMICA 355
« Eu tenho esta pretonsáo. . , como s. ex.* sabe - lhe
disse, eu agradecendo ; —mas o ministro jà deu como certo o
meu despacho. Não quero pois incoramodar a v. ex.** e guardo
os seus bons oíficios para outra occasião »
— Como queira — respondeu s. ex.^ — e, quando poste-
riormente se commentava a minha barbara preterição, — fa-
zia allusão á minha ingenuidade sorrindo! . .
Os outros dois concorrentes, meus collegas, — por não
serem formados nem confiarem tanto no santo bispo, aperta-
ram com empenhos o ministro, pelo que este os despachou
sem delongas, emquanto que o meu despacho não aparecia ? ! .
Decorreram assim alguns mezes e vários amigos meus
estranhavam tanta demora; mas eu não me affligia, lembran-
do-me do que havia dicto o próprio ministro, — mal imagi-
nando a desillusão que me esperava?!. . .
As coisas passaram-se assim :
Quando o governo pôz a concurso os três canonicatos de
Lnmego, acabava de formar-se o rev.*' Ildefonso José Cardoso
d^ Almeida Santos, de Villa Secca d^Armamar^ então ainda
residente em Coirnbra, onde foi meu contemporâneo alguns
annos e convivemos amigavelmente como patricios.
Era elle bastante desequilibrado e muito arrojado, pelo
que — sem ser professor do seminário de Lamego^ nem ter
esperanças de ser proposto pelo prelado, — requereu também
um dos três canonicatos.
Arranjou em Coimbra muitas cartas de recommendação,
por ter sido ali durante annos prefeito no grande CoUegio de
iS. Bento^— e de Coimbra partiu com fé para Lisboa na mala-
jwsta que, na forma do costumo, ia entulhada de passageiros.
Também na forma do costume os passageiros, birrando
cora os padres e sendo elle o único padre do bando, iam der-
ricando com elle.
Por seu turno elle ia palestrando e derriçando cora
ura lavrador, já velho e mal vestido, que seguia no mesmo
carro, em contacto com elle.
A mata-posta chegou a Leiria já de noute e paro a junto
de uma hospedaria, onde os passageiros todos cearam e>n
mesa redonda, na forma do costume, por 500 reis cada um.
O padre pagou logo. O lavrador pôz-se a apalpar os bol-
ços e, fingindo não ter dinheiro para pagar a sua quota, disse
ao padre :
— Dê lá também por mim os 500 reis, que eu depois
lh'os darei.
356 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
O padre não gostou da lembrança, mas, para não dar
parte de fraco, pagou, — sendo um flautida em frente do tal
lavrador, que era um grande proprietário e grande capitalista,
como os leitores logo verão.
— Seguiram na mala-posta até Lisboa^ onde se apearam,
sem que o lavrador lhe pagasse os 500 reis, o que levou o
nadre a dizer para os seus botões, como elle próprio contou:
— «Eu durante a viagem caçoei com o lavrador^ — mas elle
codilhou-me, pois ceou á minha custa em Leiria !...y>
— O lavrador não o codilhou, antes muito generosamente
lhe pagou, — pois quando em Lisboa se despediam, o lavrador
disse ao padie:
— Você é lá da provinda. Tem aqui alguma pretenção?
— Tenho effecti vãmente.
— Que pretenção é?
— Pretendo um canonicato de Lamego.
— Eu vou com muita pressa para as minhas herdades do
Alemtejo e não me posso demorar — disse o lavrador; — mas
tenho aqui em Lisboa um amigo, que lhe pôde prestar bons
serviços. ^ Venha d'ahi seu padre,
Metteram-se logo em um trem e seguiram, dizendo o la-
vrador ao cocheiro:
— «Toque para a i^ua de tal... n.o tantos.»
Isto contou depois o padre em Lamego, accrescentando :
— «Eu acceitei e segui com o lavrador sem saber para onde
ia, porque elle ainda me estava devendo os 500 reis e, como
diz o dictado — a ruim paga venha empalha!... —Fiquei, po-
rém, attonito quando o trem parou á porta da casa indicada
e o lavrador disse muito altaneiro ao guarda- por tão:
— Está em casa o snr. José Estevam?
— Está, sim senhor.
— Diga-lhe que o Custodio Gil Carneiro o procura e de-
seja falar-lhe.
Volveu rapidamente o guarda-portão dizendo :
— Suba, suba.
Subiram os dous e foi o lavrador muito amavelmente
recebido pelo José Estevam, que logo o mandou sentar e lhe
perguntou que trabalhos o traziam a Lisboa.
— Eu vou com muita pressa para as minhas herdades do
Alemtejo e não posso demorar-me. — Quiz só cumprimentar-te
e recommendar-te este padre, com quem fiz a viagem desde
Coimbra e que tem aqui certa pretenção.— Peço-te que o pro-
tejas e lhe prestes os serviços que possas.
TENTATIVA KTYMOLOGUCO-TOPOXYMICA 357
— Que pretende você? — disse Johh Estevam ao padre.
— Pretendo um dos três canonicatos de Lamego^ que es-
tão a concurso.
— E que habilitações tem ?
— Sou bacharel formado em theologia.
— E' professor no seminário de Lamego ?
— Não, senhor.
— Foi proposto pelo bispo?
— Também não.
— Estamos mal ^ disse o José Estevam ao lavrador; —
em todo o caso eu falarei ao ministro e verei se consigo o
despacho.
— Nem eu peço outra coisa — disse o lavrador, accres-
centando ;
— A tua snr.» está em casa?
— Está, sim.
— Manda chamai -a.
— Veiu ella sem demora sorrindo, apenas viu o lavra-
dor.
— Está de pé, sr. Custodio? — Sente se, sente-se!...
— Não, minha senhora; não me sento, por que não posso
demorar-me.
— Quiz só cumprimental-a e recommendar-lhe aquelle
padre. . . — Eu já o recommendei ao seu marido, mas, como
elle traz sempre a cabeça a razão de juros, peço a v. ex.^ que
lhe lembre a minha pretenção.
— Esteja descançado, sr. Custodio, — respondeu ella.
— Você — disse o lavrador ao padre — quando vir que
o snr. José Estevam se esquece, — dirija- se a esta senhora.
Retiraram-se logo o lavrador e o padre, que ficou at-
tonito — e mais ainda quando, passados mezes, — talvez
cinco — foi despachado cónego professor para Lamego, ficando
eu harbaramente preterido !
— Vejam como o diabo as arma ? !. . .
*
* *
O lavrador, que eu posteriormente conheci no Porto,
sendo então ali abbade de Miragaya, -■ era, como já disse, —
o Custodio Gil Carneiro^ de Santo Thyrso, muito conhecido,
muito respeitado e muito considerado no Porto e fora do
Porto^ porque — apezar de viver sem fausto algum, confun-
dindose apparentemente com um simples lavrador,— tinha
358 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
uma fortuna superior a dous mil contos — em terras e em nu-
merário ?! . .
— Costumando ir á loja d'um grande cambista do Porto,
o cambista, apenas elle entrava, levava- o logo para o seu gabi-
nete particular, abandonando oe freguezes todos e quasi todos
capitalistas, pelo que um d'estes que não conhecia o lavra-
dor estranhando tantas attenções e deíferencias para com um
homem tão mal vestido, chegou a perguntar ao banqueiro
certo dia quem era o dicto homem.
E' um dos meus melhores amigos e melhores fregue-
xes I — respondeu o banqueiro. — N'este momento pôde sacar
contra mim até quatrocentos contos ! . .
Era tão modesto e tão mesquinho — ou tão avaro que,
vindo em certo dia de verão ao Porto com alguns seus visi-
nhos todos a cavallo, poisaram em uma modesta hospedaria
ou estalagem da rua do Bomjardim, aonde chegaram já do
noute. — Ficou muito satisfeito o dono da locanda e mais
ainda quando subiram os freguezes e lhe disseram que vinha
com elles o sr. Custodio Gil.
— Mandou logo o hospedeiro preparar camas para os
hospedes todos e todos tractaram de se deitar, mas não appa-
recia o grande lavrador e grande capitalista, freguez habitual
da modesta hospedaria.
— Onde ficou o sr. Custodio? — perguntou o dono da lo-
canda a um dos hospedes.
— Não sei! — Elle veiu comnosco e entrou para a cava-
Ihariça.
Mandou logo o hospedeiro procural-o por um criado.
Foi este á cavalhariça; — mirou e remirou, mas não o viu. —
Bradou então em voz alta:
— Oh snr. Custodio! — Snr. Custodio! , , .
— Você que pretende? — respondeu o grande proprie-
tário e grande capitalista, que estava deitado em uma mange-
doura na cacalhariça.
— Suba, subn! - lhe disse o creado, pois já tem a cama
íéita no seu quarto ! . . .
— Estou aqui muito bem!— Já é tarde; — as noutes são
pequenas e não vale a pena subir e descer as escadas. — Es-
tou aqui muito bem! . . .
E lá ficou o grande proprietário e grande capitalista
deitado na niangedoura nua, — sem roupa nem fronha - ao
pé do seu cacallo — para poupar os cento e vinte reis da ca-
ma!?...
TENTATIVA. ETYMOLOGICO-TOFONVMICA B59
Isto me contou mais tarde e com assombro o próprio
dono da locanda.
Era assim o grande proprietário e capitalista Caniodio
Gil Carneiro, — muito rico, mas muito modesto, ou antes —
muito avaro e muito sumitico ! . . .
Tendo grandes herdades no Alemtejo, o administrador
d'ellas vivia com mais fausto do que o dono e, porque este
se appelidava Carneiro^ - os taes administradores — fosse qual
fosse o appelido d'elles — eram no Alemtejo conhecidos por
Carneiros — e muito respeitados e considerados, porque fa-
ziam fortuna.
Dentro de poucos annos enriqueciam os taes adminis-
tradores e viviam com trem montado como grãs senhores f . . .
Certo dia o tal sr. Custodio Gil Carneiro, indo ver as
suas herdades do Alemtejo, onde tinha pendentes valiosas
transacções, preveniu o administrador para o esperar em certa
estação da linha férrea. — Quando ali chegou e se apeou, mal
vestido na forma do costume e levando na mão apenas uma
pequena saca de chita com alguma roupa branca, não viu o
administrador que devia esperal-o e que elle não conhecia
pessoalmente.
Apenas viu, luxuosamente vestido, um fidalgo com um
bom trem. — Este egualmente surprehendido por não ver
apear-se na dieta estação mais ninguém, approximou se do la-
vrador e perguntou-)he se conhecia o snr. Custodio Gil Car-
neiro, de Santo Thyrso.
— E' este seu criado.
Esbarretou-se logo attonito o dicto fidalgo, dizenáo :
— Eu sou o administrador das herdades de v. ex.» — o
já o estava esperando com o trem da casa. — Suba, suba!...
O grande proprietário e grande capitalista ficou assom
brado, aterrado e — suando mais do que se fosse a pé, — se-
guiu no trem do fidalgo ; mas em breve o despediu e mandou
para o Alemtejo, como administrador das suas herdades, um
filho.
* *
O tal sr. Custodio Gil Carneiro possuía também muitas
casas no Porto — e muitas quintas e casaes no concelho de
Aveiro, onde tinha também muitos foros e muito dinheiro
mutuado. — Dispunha por tanto ali de muito^t votos que dava
360 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
ao snr. José Estevam Coelho de Magalhães, pelo que este muito
o estimava e respeitava — e o lavrador por assim dizer — o
mandava, tractando-o inclusivamente por tu?/...
Sendo-lhe, pois, recommendado com tanto interesse o
dicto padre, foi logo o snr. José Estevam á secretaria dos ne-
gócios ecclesiasticos e de justiça procurar o sr. Martens Fer-
rão^ dizendo-lhe que tinha todo o empenho em que despa-
chasse o dicto padre.
E-ecusou-se o ministro, dizendo :
— Não posso despachar o seu afilhado, porque no relató-
rio do meu decreto disse que havia de regular-me pelas pro-
postas dos respectivos prelados — e o de Lamego propoz para
os três canonicatos os três professores actuaes do seminário,
dando a todos três boas informações. Não propoz o seu afi-
lhado — e deu-lhs informações péssimas, como pôde ver dos
autos_, que lhe mostrou. — Aíém d'isso elle não é professor do
seminário de Lamego o, se eu o despachasse, levantaria um
conflicfo seno com o respectivo prelado.
Foi isto — pouco mais ou menos — o que disse Martens
Ferrão, mas José Estevam não se deu por vencido e con-
tinuou instando pelo despacho do seu afilhado, emquanto
que eu dormia a somno solto, muito socegado e tranquillo,
confiado na palavra do ministro.
Pouco tempo depois de fechado o concurso, Martens
Ferrão, vendo-se apertado por diversos amigos que prote-
giam os outros meus coliegas, despachou-os — e quizera tal-
vez despachar-me tambsm, mas a pedido do snr. José Estevam
suspendeu o despacho.
Como o principal argumento do ministro eram as péssi-
mas informações que o prelado de Lamego tinha dado — não
sei porque ^ — ao afilhado do snr. José Estevam, tractou este
de ver se d'algum modo as modificava. — Com este intuito
retardou o despacho alguns mezes — e um bello dia o padre,
talvez d'accôrdo com elle^ — escreveu-me de Lisboa, onde se
conservava, para Lamego, onde eu estava, dizendo-me pouco
mais ou menos o seguinte :
' Eu nunca tentei saber o motivo que determinou o prelado de La-
mego a dar semelhantes informações ao dicto padre ; mas talvez influissem
as relações d'elle com outro irmão que tinha, também padre, — ainda
mais desequilibrado e muiío desordeiro, que foi envolvido na morte d'um
compadre, seu particular amigo, ctc.
Os taes meus coliegas —padeciam do sangue ? !. . .
— Talis arbor — talis frucius ! . .
TENTATIVA ETYMOLOarCO-TOPONYMICA 361
— «Já perdi de todo a esperança do ser despachado có-
nego para ahi, polo que mo habilitei para uma capellania
militar que va^ou no Castello de S. Jorge. Com a protecção
do duque de Saldanha e d'outros amigos, espero ser n'ella
provido^ se o prelado de Lamego modificar as informações que
me deu e que são realmente péssimos. — Muito me penhora-
ria você, falando-lhe n^este sentido, pois sei que elle é muito
seu amigo.»
Eu fui tão asno, que mostrei a própria carta ao prelado.
Respondeu s. ex.* :
— «Para capellão militar serve e — demais a mais — ■ fica-
nos longe. Eu farei o que entender».
*
Effecti vãmente escreveu ao ministro, modificando as
péssimas informações que alguns mezes antes tinha dado.
O snr. José Estevam, apenas teve conhecimento do facto,
— exultou de contentamento e atirou se bruscamente ao mi-
nistro, dizendo :
— Agora não peço — exijo o despacho do meu afilhado!...
— Não posso I — lhe disse Martens Ferrão — pelas razões
que já expuz e porque levantaria certamente conflicto com o
prelado de Lamego. -*~ Desculpe.
— O prelado de Lamego é um santo — retorquiu José Es-
tevam. — Ha cinco mezes^ por estar então de mau humor, deu
péssimas informações ao meu afilhado ; — agora deu-lh'as sof-
friveis — e se o padre podesse esperar outros cinco mezes, por
certo lhe dava informações melhores ainda. Mas elle é pobre
e não pôde continuar a viver em Lisboa, pelo que peço a
V. ex.* que o despache immediata mente.
— Não posso t — Não posso ! — desculpe ; — respondeu o
ministro muito contrariado.
— Se V. ex.* o não despacha, — eu passo para a oppo-n-
ção com armas e bagagens! — disse José Estevam muito zan-
gado e disposto a voltar as costas ao ministro e ao ministé-
rio, de que s. ex.^ era absolutamente o primeiro deputado.
Dirão os leitores :
— Você está a fazer versos / . , .
— Não faço.
— Tudo o que levo dicto ~ é facto, porque assim m'o
contou no Porto, passados alguns annos, — o Rei de Paredes
— snr. José Guilherme Pacheco, — assim cognominado, porque
362 TENTA.TIVA ETYMOLOGICOTOPONYMIOA
durante mais de trinta annos, como todos sabem, dispoz do
circulo de Paredes e por elle algumas vezes elegeu deputado
o próprio sr. Martens Ferrão. — Era, pois, amigo particular
do ministro ; — entrava sem formalidades no seu gabinete —
e por acaso entrou no momento do conflicto. como s. ex.* me
disse. — Tractou de conciliar os dous e, como ao tempo ainda
não me conhecia, — muito provavelmente se collocou do lado de
José Estevam !...
— O ministro cedeu ; — o padre foi despachado — e eu
fiquei a ver navios?! . . .
* *
Não me queixo contra o sr. Martens Ferrão, porque es-
tou certo — certíssimo — de que fez o despacho violentadissimol
Também não me queixo contra o sr. José Estevam nem
contra o sr. José Guilherme Pacheco., porque não me conhe-
ciam— nem eu lhes tinha sido recommendado.
— Queixo-me unicamente e somente contra o padre que
— sendo meu patrieio, meu contemporâneo em Coimbra e di-
zendo-se muito meu amigo — me atraiçoou infamemente, como
Judas a Christo.
A minha surpresa não foi grande, porque elle padecia do
sangue^ como já dissemos, — e era tão falto de critério que,
sendo já conego-professor em Lamego, se» jactava de me haver
codilhado, narrando tudo e concluindo por dizer que eu pró-
prio dei a co7'da com que fui por elle enforcado ? ! ...
— Era assim o tal snr. cónego professor —Ildefonso José
Cardoso d"" Almeida Santos, que já falleceu ha muitos annos.
— Deus lhe perdoe.
Em pouco tempo inutilisou tudo o que eu havia feito em
pró das ordenações de Lamego.
Tomando rumo completamente diverso do meu, — quiz
botar figura como politicão d' agua chilra ; — metteu-se a váu
sem botas na politica e — para arranjar votos — chamava a
sua casa os pobres ordinandos e os pobres discípulos ; dava-
Ihes beberetes e listas para os pães e parentes d'elles, etc.
— Nunca pôde arranjar trinta votos, mas cobriu-se de
vergonha como professor do seminário, — tornou-se muito
doente e acabou desprestigiado e obscuramente.
— Talis vita — finis ita.
Pouco tempo incommodou o santo bispo de Lamego —
snr. D. José de Moura Coutinho — ludibriado por elle também,
pois o tal snr. tomou posse do canonicato e do professorado
I
TENTATIVA ETYMOLOarCO-TOPONYMICA 363
em 1860e o prelado falleceu — como já dissemos, em 1861,
quando eu já era parocho em Távora.
Deu- se até o facto seguinte:
* *
Certo dia, estando eu em Távora, soube que fora sacramen-
tado o rev. dr. Diogo de Macedo Pereira, já muito idoso, vi-
gário geral e provizor do bispado, regente dos estudos do
seminário, etc. — Escrevi logo ao santo prelado, lembrando-
Ihe a promessa que já me havia feito dos cargos de provizor
e vigário geral, que me permittiam o viver em Lamego, dei-
xando em Távora um coadjutor.
O santo prelado respondeu sem demora em carta que
devo conservar, mas que^ no momento não encontro.
Eu costumo guardar as cartas dos meus amigos, mas não
as tenho colleccionadas e como são muitas-- ao todo mais de
mil — não me é fácil encontrar as que pretendo, como agora
— 1909 — a do prelado de Lamego, escripta em 1861 — ha 48
annos?!...
Foi uma das ultimas cartas que sua ex.* escreveu, pois
falleceu poucos dias depois— em 3 d'outubro de 1861, como
já dissemos.
Nella dizia o santo prelado, pouco mais ou menos o se-
guinte :
«Bem me recordo da promessa que lhe fiz e novamente
lhe faço, mas o rev. snr. Diogo de Macedo Pereira vae melho-
rando e talvez que eu seccumba antes d'elle...»
O coração presago não mente, pois efifectivamente passa-
dos poucos dias recebi em Távora a dolorosa noticia de que o
santo prelado fallecêra ! . . .
— E evL presagiei também o triste facto, pois, quando li a
carta de sua ex.*, notei que a letra d'ella differia bastante da
sua letra ordinária, que eu muito bem conhecia e era muito
igual, muito firme, emquanto que a da carta supra era des-
igual e tremida!, ■ .— Mostrei a até a um meu parochiano —
José Guedes de Gouveia Sarmento — fidalgo de Moimenta da
Beira, que tinha um bom casal em Távora, onde no momento
vivia, e se dizia parente remoto do prelado.
Observei-lhe a diíferença da letra e disse-lhe que na mi-
nha opinião o santo prelado estava doente^ posto que na sua
penhorantissima carta não falava de doença.
— Não me enganei, pois soube posteriormente que o santo
364 TENTATIVA ETYMOLOaiOO-TOPONYMICA
prelado contando já cerca de 83 annos (sua ex.^ nasceu em
8 de fevereiro de 1779) — se fatigara e suara bastante a con-
ferir ordens; — constipou-se e adoeceu. — Foi então que me
escreveu; — não mais se levantou da cama — e pouco depois
falleceu no infausto dia 3 d'Dutubro de 1861?!...
Deus o tenha em bom logar, como firmemente creio, pois
era virtuosíssimo e de sangue nobilíssimo ?l • . .
— Talis arhor — talis fructus — ou qui viget in foliis — ve-
mií e radicíbos humor / . . . ^
* *
Eu deixei Lamego com saudade, por haver tirado com
a protecção do santo bispo as ordenações do cáhos em que
jaziam, elevando-as com pouca differença ao seu estado actual.
— E sem violência alguma, além da pecuniária, pois, para
me conservar em Lamego três annos, — vivendo com decên-
cia — e com a porta travessa fechada — o que posso dizer alto
e bom som— sem temer contradicta — fiquei devendo aos
prestamistas de Lamego cerca de seis centos mil i^eis,
— Nem podia deixar de ser, porque eu apenas recebia do
seminário — 8$305 reis por mez — ou 99$660reis por annol?...
Celebrava missas, mas ao tempo em Lamego a esmola das
missas de rol era de 120 a 140 reis — cada uma? !... — Assim
celebrei muitas. — As de devoção regulavam por 200 reis a
240, mas demandavam horas e altares determinados, pelo que
não as podia celebrar, por ter de ir para a aula a hora fixa,
como ia pontualmente.
— Nem eu sei como os prestamistas ou agiotas confia-
ram de mim tanto dinheiro. — Talvez se lembrassem de que
os meus pães — que elles bem conheciam, por serem visinhos
de Lamego, — eram proprietários ou lavradores do Douro
abastados — e de que por morte d'elles a minha legitima da-
va de sobra para lhes pagar.
Paguei-lhes mesmo antes — muito antes - - dos meus pães
fallecerem, porque a abbadia de Távora rendia 300 a 400 mil
reis, — tanto ou mais do que os canonicatos de Lamego, —
e a abbadia de Miragaya rendia o dobro : — 700 a 800 mil
reis.
1 Vide Telho, artigo meu, no Portugal antigo e moderno, vol ix,
pag. 531, coi. l.a — e Villa Pouca, aldeia da freguesia d Arnoia, concelho
de Celorico de Basto, artigo meu também, no mesmo diccionario, vol. ix,
pag. 897, col. 2.a e segg.
TENTATIVA ETyMOLOGICOTOPONYMTCA 365
A abbadia de Távora tinha uma grande residência e um
grande passal, posto que ao tempo já não era a decima parte
do que toi nos princípios da nossa monarchia. ^
Eu não só o conservei^ mas valorisei-o bastante, pois,
dando ao meu antecessor — além d'outros géneros, foros,
milho, azeite, fructa, etc, — 14 almudes de vinho, - no meu
3." anno colhi 5 pipas de 550 litros cada uma — e, se ali me
demorasse, colheria 30 pipas — ou mais, dentro de poucos
annos.
*
* *
Você está a fazer versos! — dirão os leitores.
— Não faço nem exagero, como vão vêr.
~ Só nas vinhas velhas do passal eu colheria 8 a 10
pipas de vinho, passados um a dous annos, pois grangea-
va-as como nunca foram grangeadas, — cavando-as e redran-
do as o melhor possível — e podando-as a meu modo pelo sys-
tema Guiot (?) — de i:ara e torno.
— Deixava como espera um torno apenas com dois olhos
no principio da vara velha; —as outras vergonteas d'ella
cortava as todas, deixando apenas uma das primeiras^o?' ^o/iía
ou inteira, sem lhe aparar um só olho, embora tivesse muitos.
Ficava, pois, uma videira muitas vezes com 16 olhos e
mais, devendo ter apenas 8 a 10 pelo systema vulgar da poda;
mas qual era o resultado?
— Eu nos 16 a 2C olhos colhia mais vinho do que os
visinhos — e as videiras ficavam sempre fortes e com poda
melhor e mais certa para o anno seguinte.
Passando a seiva das vides toda pelos dois olhos da espe-
ra,— estes davam sempre duas grandes varas, das quaes no
anno seguinte eu deixava a primeira apenas com dois olhos
para espera — e a s,Qg\\v\á^ por ponta ou com os olhos todos!...
Por este systema a poda era muito simples ! — Um cego
a pedia fazer — e o resultado era surprehendente.
— Assim podei três annos ; — colhi muite vinho — e dei-
xei as videiras fortes e pomposas, nas melhores condições de
produção !?. . .
Outra vantagem do meu exótico systema de poda era
obstar quanto possivel ao prolongamento das videiras, pois
adiantavam por anno apenas o espaço de dous olhos — em
* Vejam-sc as pag. 458 a 480 da 1/ parte, nas quaes dei copia fiel
do tombo do dicto passal, organisado no scculo xv — anno 1:496.
366 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
quanto que pelo systema rotineiro adiantavam por vezes o
espaço de 3 a 4 olhos — e mais. As pobres videiras passados
ani;ios attingiam 3 a 4 metros de comprimento e assim as
conservavam com as podas reduzidas a macacos ou tornos de
3 a 4 olhos somente, porque toda a seiva das pobres vides
mal podia sustentar o seu longo e velho corpanzil cheio de
mataduras provenientes dos callos ou cortes das vergonteas
que aparavam todos os annos.
*
Pelo contrario — andando as vides curtas, — conserva-
vam-se mais íortes ; não se malbaratava a seiva ; — produ-
ziam mais uvas e davam melhor poda.
Eu mandei cortar ao róz-do-chão algumas das taes vides
velhas muito compridas que já poucas uvas davam e — depois
de cortadas e enxertadas — logo remoçavam e continuavam
a produzir uvas regularmente.
'Mais. — Como eu trazia as videiras curtas, reduzidas ape-
nas aos dois olhos da espera e á longa vara por ponta ^ - dei-
xava esta pousada e estendida sobre a terra. — Como que
recebiam da sombra e da humidade nova seiva ; — davam
muitas uvas; — enxofra vam-se com facilidade, levantando as
da terra apenas para a enxofraçào e deixando=as outra vez
na mesma posição, aspirando o enxofre cabido.
Davam assim mais uvas, do que se estivessem altas e ex-
postas ao ar e — para não apodrecerem e melhor amadure-
cerem as uvas,— nas proximidades da vindima fàzm a. empa,
levantando as dietas varas e isolando-as da terra apenas com
alguns chamiços e algumas pedras.
— Não se perdia nem apodrecia um bago — e davam
uvas em barda !...
No meu ultimo anno — 1864 — vendi o vinho, antes da
colheita das uvas a um meu irmão • Joaquim Augusto Fer-
reira — muito versado em agricultura. Não justei por ser meu
irmão ; -• acceitei o que elle me deu e ficou muito satisfeito.
— Nunca vi tantas uvas! . . — me disse elle.
*
As pobres videiras do passal, tendo dado ao meu ante-
cessor apenas 14 almudes de vinho no seu ultimo anno — 1860,
n'aquelle anno deram 5 pipas — e dariam 8 a 10, passados 2
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 367
annos, porque, estando as vides muito raras, eu tractei de re-
povoar as vinhas com mergulhas ou mergulhias.
Só no dito anno eu mandei lançar de empreitada cinco
mil pontas, que rapidamente se desíiuvolveriam e dariam mais
4 a 5 pi[)as de vinho, se eu lá me conservasse. — Infelizmente
o encommendado que me succedeu — padre António Rodngues
Cardoso, de Taboaço — deu e vendeu, como barbados, as taes
pontas ou videirinhas novas que eu havia lançado ?! . . •
Vendeu também por uma bagatella 5 ou G grandes oli-
veiras que estavam em um lindo chão próximo da igreja e
da residência parochial, — chão que, fazendo parte do passal,
o meu antecessor alienou ('?!.. . ), reservando para a abbadia
somente as taes oliveiras.
— Árcades ambof, . .
Eu — só nas vinhas velhas do passal — colheria, pois, 8 a
10 pipas de vinho, se ali me conservasse; — plantaria também
vinha no Campario, grande chão que ao tempo estava inculto,
pertencente ao passal e contíguo á residência parochial, — chão
que podia muito bem dar 20 pipas de vinho - ou mais, —
sendo a plantação relativamente /í^ícíV — e o dito chão muito
fértil í . . .
Não faço, pois, versos dizendo que, se me conservasse
em Távora, eu colheria nos bens do passal trinta pipas de vi-
nho— ou mais, — dentro de poucos annos.
Note-se que ao tempo apenas se conhecia o oydium, que
já não aterrava ninguém, pois combatia-se facilmente com o
enxofre em pó. — A phyloxera c as outras muitas doenças que
hoje perseguem as vinhas do Z^o^ro — appareceram mais tarde.
— Eu valorisei bastante o passal; mas ainda o valorisaria
mais se estivesse em Távora no tempo da carestia da baga
dos sabugueÍ7'0s.
Eu não apurei um real em baga, porque ella no meu
tempo estava muito barata e o passal não tinha sabugueiros.
Quando a baga encareceu e chegou a vender-se, como
se vendeu em Taboaço e no Douro a cinco e seis mil reis cada
airoba de 15 kilos, era então alli abb ide um meu successor —
José Lúcio de Luna Vasconcellos. Plantou elle muitos sabuguei-
ros no passal e chegou a apurar só em baga um conto de. reis,
em um annc ! — Foi bastante; mas se eu lá estivesse, apuraria
talvez mais de 1:500$000 reis, por ser muito versado na cul-
368 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
tura da baga, — industria antiga na minha Penajulia ena
minha casa da Co7'vaceira.
Eu encheria literalmente de sabugueiros todo o passal,
comprehendendo a parte regadia, o chão de seccadal — e as
próprias vinhas.
Os sabugueiros são parasitas. Gostam de terra húmida e
forte; mas também se desenvolvem e produzem muita baga
em chãos sem agua — sendo fortes e relativamente frescos,
taes como as vinhas do passal e os ditos chãos de seccadal.
Eu um anno semeei batatas em uma pequena parte das
vinhas e dos dictos chãos e — sem rega nem adubos — colhi
nove carros d'excellentes batatas!?. . .
Estou, pois, certo — certíssimo — de que, se plantasse nas
vinhas e nos taes chãos sabugueiros — elles se desenvolveriam
e dariam muita baga I
Note-se que o terreno de Távora é muito fértil^ abun-
dante em húmus e relativamente fresco. — E' análogo ao da
minha Penajulia ou Penajoia^ - decantada terra das cerejas
— uma das freguezias mais vastas, mais fértei:^ o mais mi-
mosas do Douro e de Portugal todo / . . .
— A minha Penajoia — é o jardim do Douro, como já
disse. ,
*
* *
Ella produz, como Távora, muitas cerejas, mas também,
como Távora, — produz algo mas do que cerejas : - laranjas,
pêras, maçãs, figos, castanhas, damascos, ameixas, pecegos,
etc. — ^ ao todo 500 a 600 carros d'optima fructa.
Foi também sempre o vinho, como em Távora, a sua
produção dominante. — Ainda hoje produz cerca dó 3:0(JO pi-
pas de vinho e 2 a 3ú,00 razas de baga; mas no tempo da
carestia d'ella chegou a produzir cerca de vinte mil razas de
baga por annofl. .
Pôde afoitamente dizer se que nenhuma outra freguezia
de Portugal e do Z)o?íro jamais produziu tanta baga — e quasi
toda em sabugueiros plantados entre as vinhas em chãos de
seccadal '. — E teve sabugueiros enormes que davam por anno
duas a três arrobas de baga'^! . . . — Infelizmente a baga baixou
de preço e, como os sabugueiros são parasitas e muito gulo-
sos, — estendem as raizes até grande distancia e com a som-
bra prejudicam muito as vides e as outras plantas,- arranca-
ram a maior parte d'elles.
A minha Penajulia e outras freguezias do Baixo Douro,
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 3G9
como Sande, Samodães', Valdigem, Camhres^ etc, apuraram
muito dinheiro em baga.— O mesmo succedeu por excepção
no Alto DourOy nomeadamente em Taboaço e Távora.
— Só a villa de Taboaço apurou em baga cerca de vinte
contos de reis — em um anno ! . . .
Apurou mais dinheiro em baga no dicto anno, do que em
vinho, sendo o vinho, como em Távora e nsi Penajoia, a sua
produção dominante. — E, se a baga encarecesse novamente
e houvesse a certeza de que ella sustentava durante vinte
annos o preço — não direi de õ a () mil reis, como no tempo
das vaccas gordas, mas simplesmente o preço de 2 a 3 mil reis
cada arroba, — a produção da baga duplicaria ou triplicaria
novamente e rapidamente/, . .
Note-se que os sabugueiros prendem d' estaca e — são ar-
vores de grande porte e de fácil cultura; — apenas demandam
poda — e dão vergonteas de 1 a 2 metros por anno. — E'
muito mais moroso o desenvolvimento das oliveiras — e de
todas as outras arvores fructiferasl...
Eu nunca fui lavrador, porque os meus pais desde crean-
ça me destinaram para o estudo e nunca me occuparam na
lavoura. Mas, por nascer e viver no Douro em contacto com
os lavradores e por ter lido algo d'agricultura, — a industria
mãe das industrias todas — algo sei da cultura das vinhas e
da baga. — E, se eu estivesse em Távora, quando o meu suc-
cessor apurou só em baga tim conto de reis em um anno, —
eu, como já disse, talvez apurasse mais de 1:500$000 reis.
*
* *
Talvez que nem me lembrasse de pedir a transfe-
rencia, — mesmo porque eu gostava — e gosto ainda hoje
muito — de Távora, — freguezia muito mimosa, muito fértil,
muito saudável — e hoje muito linda e muito habitável.
— E' uma das que mais tem progredido na Beira —no-
meadamente no concelho de Taboaco. ''
No meu tempo as suas estradas eram barrancos, despe-
nhadeiros, que mal podiam transpor-so em sella. — Hoje é
atravessada por uma linda estrada a macadam que, partindo
da bella ponte do Pinhão, no Douro, segue por Taboaço para
Moimenta da Beira, estando a parte maior e mais difficil já
feita.
*
* *
Atravessa toda a freguezia de Távora em linha horizon-
S4
370 TENTATIVA ETYMOLOQICO-TOPONYMICA
tal, formando uma bella estrada — rua^ que já tem difíeren-
tes casas, sendo uma d'ellas a mais luxuosa da freguezia
toda — e uma das mais luxuosas do concelho e da província
da Beira, «
Pertence a dieta casa ao sr. Adriano Gomes Seií^ano,
meu primo, por affinidade, capitalista brazileiro, filho de
Távora e excellente pessoa, que já mandou restaurar e dou-
rar os altares todos da egreja matriz — e é o grande prote-
ctor da freguezia.
— Graças a s. ex.* — a egreja de Távora é hoje a mais
formosa do concelho — e tem auxiliado a construcção d'uma
linda torre da mesma egreja, — construcção promovida por
outro filho benemérito de Távora — o sr. António de Bar-
ros Costa, — primo de s. ex.* e meu bom e velho amigo desde
o tempo em que ali fui parocho — em 1861 a 1864.
A linda torre concluiu-se em 1908 — e terá um relógio
de repetição com sino próprio, muito generosamente dados por
outro benemérito filho de Távora. — Refiro-me ao sr. dr. Ma-
nuel de Barros Nobre, actualmente desembargador da E-elação
do Porto, — magistrado digníssimo, i— E' s. ex,* primo do
sr. António de Barros Costa — e meu bom e velho amigo
também desde o nosso bom tempo de Coimbra — ou desde
1851 a 1856.
* *
— Mire-se n'este espelho o meu atávico siiccessor, que
muito provavelmente será o snr. dr. Joaquim da Silveira, da
Anadia, actualmente notário e advogado em Alcanena. — E'
o amigo mais falso e mais ingrato que n^este mundo encontrei,
— sendo um dos amigos que mais sincera e cordealmente es-
timei— e ao qual prestei mais finezas e mais relevantes ser-
viços?/...
1 V. Távora no Portugal antigo e moderno, vol. i. pag. 518, — e
os meus pobres folhetins. . .
Foi isto o que eu escrevi e mandei para o Conimbricense em julho
de 1907, mas em agosto do mesmo anno o dicto jornal acabou; — em se-
tembro do mesmo anno falleceu no Porto o meu bom ami^o desembarga-
dor Barros Nobre -c em junho do corrente anno de 1909 falleceu em
Távora o primo d'elle e meu bom amigo também — António de Barros
Costa ?! ■ .
A torre de Távora c muito linda e ficou concluída, — mas sem o re-
lógio, porque as duas sobrinhas, herdeiras do desembargador, se recusa-
ram a cumprir a promessa do seu tio — e até hoje nem mandaram fazer
no cemitério de Távora o mauzolèu cm que o tio deve ser inhumado? !...
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 371
— Além de bastantes livros, sendo alguns raros e caros,
avultando de entre elles um bello exemplar do PortiiqaUae
Monumenta, completo e muito bem encadernado, — dei-lhe os
meus caros verbetes ett/ mo lógicos todos — em numero de milhões,
talvez — e que pesavam cerca de ÍJO kilos, — fructo do meu
trabalho insano de 10 a 1'2 annos, — verbetes que eu, se
estivesse mais vigoroso, não dava por três contos de reis?!...
Protestando-me s. ex.a de viva voz e por escripta muitas vezes
eterna gratidão,— pagou-me com a mais negra e vil ingratidão.
Apenas se viu na posse dos meus caros verbetes, — es-
gueiron-se com elles^ tratando-me com desdém e voltando me
inclusivamente as costas, pelo que o deixei em paz e ás moscas.
O homem padece do sangue, o que eu ignorava, quando
me escreveu a primeira vez de Coimbra no seu 2.° anno de
direito, como repetente i, offerecendo-me os seus serviços na
labuta etymologica.
Padece do sangue, porque eu, não podendo explicar d'ou-
tra forma tão estranho procedimento, tratei de me iníormar
e soube que não me enganava?! . . .
— Qui viget in foliis — venit e radicibus humor — ou talis
arbor, talis fructus.
— Sauve qui peut! . . .
Eu gostava e gosto ainda hoje muito de Távora. — Passei
ali 3 annos admiravelmente, porque me honravam com par-
ticular estima as principaes familias de Távora, de Riodades
e de Taboaço, villa próxima de Távora, sede do concelho e
da comarca.
Eu estou derreado de todo com o peso dos meus 77 an-
nos e com o meu árido estudo — lima surda que mina a
existência.
Ha muito que não sahi nem tenciono sahir do Porto —
nem fui a Távora, mas, se ali voltasse, como desejava, seria
talvez bem recebido, 'porque, apesar de haverem decorrido já
45 annos desde que sahi de Távora em 1864, — ainda lá se
recordam de mim como prova o documento seguinte.
Desculpem a falta de modéstia :
1 Elle deve saber muito de direito, pois gastou com a formatura nove
annos?!. . .
Repetiu o l.o, 2.o. 4.o e 5.<) annos— e não repetiu o 3." porque eu me
empenhei para o salvar.
Passou por muito favor simpíiciicr? !. . .
.V. Joaquim da Silveira, nos índices da l.^i e 2.^ partes d'esta Ten-
tativa.
372 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
flcta da sessão de trinta de Dezembro de 1906
ftAos 30 dias do mez de Dezembro do anno de 1906, a
Junta de Parochia d'esta freguezia de Távora se reuniu na
salla das suas sessões. — Foram presentes a ella o presidente
Manoel Ferreira de Bastos Caulino, e os vogaes Manoel António
de Carvalho e Majwel Joaquim Monteiro, comigo João Baptista
Ignacio Ferreira, secretario da Junta, que esta escrevo.
«Aberta a sessão, o presidente propôz que fosse exarado
n'esta acta um voto de louvor ao... rev."^®... dr. Pedro Au-
gusto Ferreira. . ,, abbade jubilado de Miragaya, em virtude
d'este benemérito cidadão ter concorrido com a quantia de
quarenta mil reis, — sendo vinte mil reis para a arborisação da
estrada nova que passa n'esta localidade ^ — e outros vinte
mil reis para ajuda da construcção da torre que se pretendeu
construir n'esta parochia de S. João Baptista de Távora,
onde o illustre sacerdote mencionado supra foi parocho du-
rante alguns annos, prestando então relevantes serviços aos
seus parochianos e a Távora, — serviços que jamais serão es-
quecidos.
*
* *
«Tal proposta foi acolhida e approvada por unanimi-
dade, por traduzir a gratidão que os habitantes de Távora
devem ao seu querido e bondoso ex-parocho que, apezar de
hoje estar retirado da vida parochial e não ter obrigação de
pugnar pelos interesses d'esta freguezia, concorre tão gentil-
mente . . para os seus melhoramentos materiaes e se inte-
ressa e consola tão carinhosamente com os progressos que-
n'esta freguezia de Távora se vão notando, devido aos esfor-
ços e energia d'alguns filhos illustres d'esta terra.
(cNão havendo mais nada a tratar^ o presidente ordenou
ao secretario que sem perda de tempo tirasse copia d'esta
acta e a enviasse ao illustre sacerdote em questão_, — verda-
deiro ornamento das letras portuguezas, a quem a pátria
muito deve. — E por não haver mais nada a tratar, deu elle
presidente esta sessão por finda e acabada, que por todos vae
1 Em 1907 dei mais vinte mil reis para a arborisação da dieta es-
trada.
TENTATIVA ETYMOrX)aiCO-TOPONYMICA 373
ser assignada e por mim João Baptista Ignacio Ferreira, se-
cretario da Junta, que esta escrevi. Era ut retro.
O Presidente — Manuel Ferreira de Bastos Caulino.
O vogal — Manuel António de Carvalho.
O vogal — Manuel Joaquim. Monteiro.
O secretario — João Baptista Ignacio Ferreira.
— Está conforme ao original, que se encontra no livro
das actas das sessões d'esta Junta de Parochia, a paginas 49
verso, e oO.
O secretario — João Baptista Ignacio Ferreira. y>
*
* *
Effectivamente eu, lembrando-me de que os sinos de Tá-
vora, desde que foi construida nos fins do sec. XVIII a nova
egreja matriz, estavam em um pequeno e humilde campaná-
rio — e de que o meu bom e velho amigo — snr. António de
Barros Costa se propunha substituir o pobre campanário por
uma torre, — mandei-lhe iáO$000 reis para ajuda da despeza.
Note-se que elle tem uma fortuna modesta, mas — des-
culpe s. ex.^ a franqueza — ó um dos cavalheiros mais honra-
dos que eu conheço — e um dos mais beneméritos filhos de
Távora.
— Adora a sua terra natal e tem-lhe prestado relevantes
serviços, promovendo a reparação das fontes, das estradas,
etc. — E a camará municipal attende-o, porque sabe que elle
é honradíssimo e zela as obras municipaes com tanto inte-
resse como se fossem suas próprias.
— Assim no momento está zelando e fiscalisando a con-
strucção da nova torre_, — construcção promovida por elle, já
por ser uma obra de muito interesse para a sua adorada fre-
guezia, -— já porque mora na veneranda Casa da Torre? ! . . .
A dita casa é humilde, mas muito antiga, — a única do
Távora que tem inscripções na fronteria — e que, se hoje nãf)
tem torre, muito provavelmente já teve alguma torre, como
está dizendo o seu nome : — Casa da Torrei ! , . .
Note-se também que por coincidência a veneranda C<isa
da Torre demora no mesmo plano e a poucos metros de dis-
tancia da egreja matriz e da nova torre.
Mandei-lhe também 20$000 reis para a arborisação da
bella estrada a macadam, que passa atravez de Távora, a
montante da egreja matriz e a jusante do lindo cemitério da
villa, que pôde dizer-se — o jardim publico d''. Távora.
374 TENTATIVA ET YMOLOGICO-TOPONYMICA
— E' muito vistoso ; — domina a igreja matriz, — a resti-
dencia parochial, — a veneranda Casa da Torre e a viila
quasi toda.
— Tem um lindo portão de ferro, di£ferentes mauzoleus
com inscripções — e está bem arborisado.
O mauzoleu mais luxuoso é o do meu primo Serrano. —
Tem fronteria de mármore e custou-lhe 1:500$000 reis.
Eu, como presidente da junta de parochia, tentei fazer o
cemitério no mesmo sitio, quando ali fui parocho. Não o fiz
por causa da minha transferencia para o Porto, mas deixei
a planta para elle com o respectivo orçamento e as áuctorisa-
ções precisas — bem como a verba do orçamento já lançada
em derrama pela junta de parochia sobre a freguezia toda.
Construiu-se mais tarde — no anno de 1883 — quando eu já
era abbade de Miragaya, no Porto.
— I)e passagem direi que a planta do dito cemitério foi
— por deferência para commigo — levantada em 1863 pelo snr.
Joaquim Ferreira de Macedo Pinto, de TaboaçOj então ali be-
nemérito presidente da camará municipal. *
O dito snr. ainda hoje vive — e está muito mais vigo-
roso do que eu, posto que já conta cerca de 90 annos.
— E' o ultimo dos seus oito irmãos e por consequência
representante digníssimo da opulenta casa Macedos Pintos, de
Taboaço, — e ainda hoje — 1909 — muito meu amigo e da mi-
nha familia.
— Devemos-lhe as maiores finezas — e já s. ex.* duas ve-
zes me disse:
— ^1^ relações entre as nossas famílias já veeni do tempo
dos nossos avós.
— Contam, pois, mais de 150 annos, o que é muito hon-
roso para mim e para a minha obscura familia, porque os
snrs. Macedos Pintos, de Taboaço, — desde tempo muito re-
moto foram e são o grande blóeo, — a familia mais impor-
' — E' presidente actual da mesma camará o snr. dr. Victor José
de Deus Macedo P//z/o, — excellente pessoa e muito ilhi^rado, cavalheiro
a toda a prova e bacharel formado em Medicina, casado e com successão,
filho do snr. Joaquim Ferreira de Macedo Pinto.
— Talis arbor, talis fructus — ou — qui viget in foliis venit c ra-
dicibus humor
— Com vista ao meu atávico successor— — o amigo mais
falso c mais ingrato que n'este mundo encontiei.
— Sauve qui pcut !
V. Joaquim da Silveira nos Índices da 1.^ e 2.^ parte d'esta obra.
TENTATIVA KTVMOr>OaiCO-TOPON YMICA 375
taiite, mais considerada e mais rica do concelho de Tahocup
— o uma das mais importantes, mais consideradas e mais ri-
cas do Douro todo?!. . . ^
■i- *
Volvendo a Távora, ainda direi que a arborisação do
lindo cemitério foi dada pelo snr. dr. Victor José de Deus
Macedo Pinto, benemérito presidente da camará municipal de
Taboaço, filho do snr. Joaquim Ferreira de Macedo Pinto, — e
excellente pessoa — ou do mesmo sangue do pai! . . .
Eu apenas dei 40$000 reis para inicio da arborisação da
bella estrada nova que passa atravez de Távora e a jusante
do cemitério.
Foi a dita somma empregada nos eucalyptos que lá se
vêem, — graças ao meu bom amigo snr. António de Barros
Costa, que muito generosamente se incumbiu da plantação e
conservação d'elles.
Na falta d'outro monumento, os pobres eucalyptos, que
são muito vivazes, muito lindos e muito duradouros^ lembra-
rão aos vindouros o meu humilde nome e o do meu bom
amigo Barros Gosta,
EUe adora-os, — visita-os muitas vezes e trata-os com
todo o carinho. — Oriou-os, por assim dizer, como filhos ; mas,
como bom pai, estima e presa incomparavelmente mais o seu
único filho — snr. dr. Alberto de Barros Costa — excellente
pessoa também e um talento superior.
— Formou se em medicina no anno de 1906 — obtendo
sempre distincções ; — casou em Coimbra com a sr.* D. Her-
minia de Barros Costa e, sendo facultativo do ultramar, vive
actualmente no Congo portuguez, com a sua adorada esposa e
uma filhinha que já tem.
*
* *
Eu não posso esquecer Távora, por muitas considerações
e porque na grande residência parochial, — uma das maiores
^ Vejam-se no Portugal antigo e moderno os meus artigos Mira-
gaya, vol. 5. o, pag. 269, col. l.-i
— Sendini, vol. 9.«, pag. 103, col. 1.''^.
— Taboaço, no mesmo vol., pag. 468 a 475, — e Vicente (S.) — sitio
da freguezia e villa de Taboaço, vol. lO.o, pag. 516 a 519.
376 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
e melhores do bispado de Lamego, — me iniciei na vida d'es-
críptor.
Durante os três annos em que ali fui abbade — collabo-
rei no Almanach luso-brazileíro, publicando charadas, logogri-
phos e vários artigos em prosa humorísticos^ fazendo-me o
seu illustrado director a fineza de publicar todos os annos
três artigos meus, — numero máximo, concedido aos diversos
collaboradores, por serem muitos, — e pequeno o formato do
lindo Almanach.
Também durante aquelles três annos mandei para o
Jornal do Porto cartas ou correspondências noticiosas e se-
manaes, escriptas em Távora, mas com o titulo de Taboaço.
As minhas pobres cartas contribuíram talvez algo para a
febre das correspondências posteriores da provinda — e rela-
cionaram-me com o meu saudoso amigo António Rodrigues da
Cruz Coutinho, dono do Jornal do Porto, que — durante mui-
tos annos — foi o jornal politico de mais valor e mais peso
que houve em Portugal! . . .
— Era por assim dizer — o thermometro da nossa poli-
tica.
— EUe não só se intitulava, como outros muitos, — Cornai
independente, mas bem merecia o titulo, pois durante a longa
vida do seu benemérito fundador, proprietário e director — foi
o typo dos jornaes independentes — e nunca se filiou em par-
tido algum.
— A politica do Jornal do Porto, — era a do seu bene-
mérito fundador, proprietário e director Crtiz Coutinho su-
pra, — homem honradíssimo, — Portugal velho, propriamente
dicto, — e muito independente, por ser muito modesto e ter
fortuna própria, obtida muito honrosamente pelo seu traba-
lho como lioreiro-editor .
— A livraria Cruz Coutinho, aos Caldeireiros, foi durante
muitos annos, — uma das primeiras do Porto. — Já era muito
acreditada quando fundou o jornal e d'elle e da fortuna
obtida por ella vivia, — não do jornal, — posto que este algo
rendia também.
O Jornal do Porto, era muito bem escripto, muito de-
cente, muito bem dirigido, muito acreditado e muito respei-
tado por todos os governos, por ser independentíssimo t .. .
Chegou a ter larga tiragem e nunca lhe deu prejuízo,
posto que algumas vezes, quando declarava opposição franca
1
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 377
ao governo, se despediam em poucos dias muitos assifjnantes,
como eu observei, pois dava-me com o benemérito Cru2 Cou-
tinho o com o administrador do jornal — José António de Bar-
ros Braga.
Certo dia disse-lhe este :
— Já esta semana se despediram tantos assignantes / . . .
— Isso pouco me importa, porque felizmente tenho ainda
recursos para a féria d'esta semana e da seguinte, — respon-
deu Cruz Coutinho.
Elle era republicano, mas opportunista. ■
Nunca se pronunciou abertamente a favor da republica,
por ver que o nosso paiz era um paiz de analpliabetos que não
comprehendiam — com,o ainda hoje não comprehendem — o que
é a republica: — o governo do povo pelo próprio povo.
Era opportíinista e muito prudentemente aguardava dias
melhores ; entretanto acompanhava os governos monarchicos_,
mas não cegamente.
— Censurava um governo qualquer, logo que o julgava
dig)io de censura, — e louvava por vezes o mesmo governo,
quando o julgava digno de louvor, mas nunca foi pamphle-
tario.
Presou sempre muito a dignidade da imprensa. — Elo-
giava e censurava sempre modestamente e respeitosamente — e
era mais propenso a elogiar, do que a censurar.
Foi esta sempre a sua politica e a sua norma de condu-
cta, pelo que os governos todos o respeitavam e temiam / . . .
• Quando declarasse opposição franca a um governo qual-
quer — esse governo não ia longe.
Ahi vae um facto eloquente :
Um dos meus melhores amigos desde o nosso bom tempo
de Coimbra foi, como já disse, o dr. Júlio Cezar d^ Almeida
Rainha, da opulenta casa Rainhas, de Gouveia, — talento su-
perior e muito illustrado,
— Era licenciado com o 6." anno em theologia, — bacha-
rel formado e sempre premiado em direito, — deputado em
varias legislaturas, etc.
Foi tão meu amigo desde que nos encontrámos como
condiscipulos em Coimbra, até que falleceu em 1889 na sua
, casa da Figueira, que muitas vezez veiu de Gouveia e da Fi-
gueira ao Porto — só para mé ver e cumprimentar.
Por occasião de uma d'essas visitas, disse-me elle :
— Que te parece a nossa politica?
— Eu julgo que o governo actual tem os seus dias con-
378 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
tados — respondi eu — porque o Jornal do Porto lhe declarou
aberta e franca opposição.
— O governo não liga importância alguma ao Jornal do
Porto; — está firme e muito firme — e durará muito tempo l
— me disse elle ; mas, passados poucos dias, — o governo foi
de catrambias ! . . .
Outro facto:
Certo dia, estando no poder um dos nossos estadistas
mais considerados, mandou olferecer ao Cruz Coutinho — cem
contos de 7'eis para lhe vender o Jornal do Porto, mas o hon-
rado C7'uz Coutinho desprezou com o maior altruísmo tão li-
songeira proposta, — segundo me afíirmaram pessoas compe-
tentes.
Cruz Coutinho deixou uma fortuna muito solida, avaliada
em sessenta contos de reis, — uma livraria importante, muito
acreditada — e não menos acreditado o seu Jornal do Forto,
Deixou também um nome illibado ! — Se não fosse tão
cavalheiro e tão honrado — só com a proposta supra — podia
duplicar ou triplicar a fortuna.
Infelizmente deixou dous filhos naturaes que degenera-
ram.— Em poucos annos meteram a pique tudo o que o pai
lhes deixou.
— Venderam a grande livraria, o Jornal do Porto, etc,
— e, podendo viver muito bem, luctam com as maiores diffi-
culdades?!...
O mais velho — António Rodrigtces da Cruz Coutinho —
como o pai e pelo pai educado e destinado para seu successor,
— é um talento verd*adeiramente superior e muito illustrado.
— E' muito versado em portuguez^ francez, allemão, inglez,
etc, — e na industria dos livros ainda hoje é talvez o homem
mais competente e mais habilitado que ha no Porto, mas de nada
lhe servem tantas habilitações!...
Depois de dar cabo da sua livraria e da sua fortuna, já
esteve empregado em diversas livrarias no Porto, em Coimbra,
em Lisboa e no Brazil. — Agora está pela segunda vez no
Chinde, Africa Oriental, — como feitor ou coisa semelhante
em uma roça do sertão, — vivendo entre as feras e entre os.
selvagens, peores do que as feras?! . . — Elle que é tão illus-
trado e tem já 53 annos, estando por consequência já velho
e gasto! Foi também sempre muito franzino, débil, timido e
fraco — e nunca matou um coelho nem uma perdiz ! . . .
TENTATIVA ETYMOLOriICO-TOPONYMrCA 379
— Custa a crer, mas ê facto.
— Para feitor d'ama roça no interior da Africa era mais
competente qualquer salteador ou assassino degredado, como
o João Brandão ou o José do Telhado.
._ Pobre Cruz Coutinho! , . . — Degredou-se espontanea-
mente^ mas felizmente ainda está solteiro.
O irmão mais novo — Luiz da Cruz Coutinho — casou de
tenra idade e figurou. — Só em um anno gastou cinco contos
de reis, pelo que malbaratou em prazo breve a sua fortuna e
vive do seu trabalho como simples caixeiro l — Já esteve em
I^oanda e tem ido muitas vezes ao Brazil com amostras de
vinho.
*
Volvendo a Távora, seja-me licito dizer ainda — que eu
nos três annos em que ali fui parocho não só beneficiei o
passal, mas toda a freguezia, operando uma transformação im-
portante na agricultura d'ella, como no triénio do meu profes-
sorado beneficiei e transformei as ordenações de Lamego.
Não exagero, como os leitores vão ver.
— A freguezia de Távora é mimosíssima e fertilissima,
porque está no clima das larangeiras e das cerdeiras.
Pôde afoitamente dizer-se que desde a Regoa — coração
do Douro — até á Barca d' Alva, fronteira da Hespanha, — e
mesmo até á Andaluzia, a província mais fértil e mais mimosa
da Hespanha, — Távora nqo tem rival ! . . .
Produz grande quantidade de fructa saborosíssima e va-
riadíssima, nomeadamente laranjas e cerejas.^ pelo que Tá-
vora é no Douro cognominada, como a minha Penajulia ou
Penajoia — terra das cerejas ! . . .
A minha Penajoia, por ser muito mais espaçosa, produz
mais cerejas, mas Távora também produz muitas e muito
têmporas — e apura n'ellas muito dinheiro.
Como são as primeiras que amadurecem n'aquella região,
até muitas legoas de distancia nas províncias da Beira e
Traz-os-Montes^ — os filhos de Távora desde os principies de
maio, até os fins de junho costumam abastecer com ellas os
mercados, romarias e feiras d'aquellas duas províncias.
Levam-nas em cargas até Sernancelhe, Penedono, Moi-
menta da Beira^ Meda e Marialva, na' Beira, — e até á Torre
de D. Chama, em Trax-os- Montes, — sítios distantes de Tá-
vora, 20 a 50 kilometros.
Também produz muito e óptimo azeite, batatas, casta-
380 TENTATIVA ETYMOLOGUCO-TOPONYMICA
nhãs, milho, cevada, centeio, trigo, eto., — mas desde tempos
muito remotos a sua producção principal — é óptimo vinho de
mezal... — Está, por tanto, exposta ás crises vinicolas do
Douro e, quando eu fui para Távora em 1861 — causavam
dó os seus vinhedos, por estarem todos carregados e devora-
rados pelo oydium l. . .
Em grande parte do Douro, esta epiphytia já se com-
batia com o enxofre. — O primeiro lavrador ou proprietário
do Douro que o introduziu e applicou — foi o benemérito snr.
Félix Mavuel Borges Pinto, dono da quinta de Castello de
Borges, no valle do Tédo, — e o segundo foi meu pai — José
António Ferreira — na sua quinta do Campo Bello ou Campo
Velho, muito próxima da do Félix, no Alto-Douro. —Também
o meu pai ao mesmo tempo enxofrou o seu casal da Penajoia
ou Corvaceira^ no Baixo-Douro, pelo que o meu pai e o dito
snr, Félix — reconstituir a m logo os seus vinhedos e apuraram
bom dinheiro em vinho! . . - ^
Note-se que lauitos lavradores do Douro só passados an-
nos se resolveram a enxofrar, pelo que o vinho do Douro,
por ser pouco, — teve durante annos venda fácil e por alto
preço / . .
— Quando em 1861 eu fui para Távora, — ainda ninguém
lá enxofrava!...
Os vinhedos ainda não estavam mortos, por serem muito
bem agricultados ; — mas toda a freguezia não dava talvez
cincoenta pipas de vinho ?1 ...
1 O meu pai, pouco depois de reconstituir os seus vinhedos, ven-
deu por um tUulo único a um negociante do Porto —Augusto de Moraes
— todo o vinho que a nossa quinta do Tédo produzisse durante 5 annos
— a 72$000 reis cada pipa.
Apurou, pois, só no vinho da mencionada quinta 4:320$000 reis por
anno, durante aquelles 5 annos, porque ella dava, termo médio, 60 pipas
por anno.
Também por essa occasião vendeu a 50$000 reis, termo médio, cada
pipa de vinho do casal da Corvaceira, ou Penajoia, que dava 40 pipas por
anno.
Apurou, pois, só no vinho do dito casal 2:000$000 reis por anno,
que unidos aos 4:320$000 reis do vinho da quinta do Tédo, prefaziam
6:320$000 reis — só cm vinho por anno e durante 5 annos.
Pôde também computar-sc cm 500$000 reis o que produziam por
anno os dois casaes, cm azeite, baga, fructa lenha, madeira, cereaes, etc.
Total do rendimento da nossa casa in illo te mp ore — ():S20%000 reis
por anno, approximadamente.
TENTATIVA ETYMOLOaíCO TOPONYMICA 381
Eu fiquei horrorisado !
N'esse mesmo anno tratei de enxofrar as vinhas do pas-
sal e disse aos meus parochianos que enxofrassem também
as suas, expondo-lhes o que ao tempo se passava no Douro e
na minha casa.
Clamei e gritei, mas não os pude resolver a enxofrar.
— E' castigo da providencia!... — diziam elles — e cum-
pre-nos acceital-o.
— Deus também dá as doenças — lhe retorqui eu — e nós
acceitamos e applicamos os remédios contra ellas. — Appli-
quemos, pois, o enxofre, remédio fácil para combater o oy-
dium, como se está combatendo na Finança e na parte res-
tante do Douro.
— Não enxoframos ! . . .
*
Vendo eu tanta reluctancia, dirigi- me a um dos proprie-
tários então mais ricos de Távora e que melhor grangeava,
— por nome José Parente^— q disse-lhe:
— Enxofre as suas vinhas, como eu vou enxofrar as mi-
nhas.
— Não enxofro t — respondeu elle.
— N'esse caso proponho-lhe um partido : — «Eu enxofro
as suas vinhas — e o senhor dá me a terça parte do que ellas
produzirem» .
— Acceito de bom grado o partido, porque ellas não
produzem coisa alguma — • disse elle.
Feito o contracto, mandei logo no l.o anno do meu trié-
nio enxofrar as vinhas do passal e as d'elle.
O homem ficou attooito, assombrado, porque as vi-
deiras, costumando perder a folha muito cedo, conserva-
ram-se até depois da vindima luxuosas e verdes, — produzi-
ram muitas uvas e não se perdeu um bago!. , .
— No anno seguinte os meus parochianos todos enxofra-
ram as suas vinhas ; — em breve as reconstituiram ; augmen-
taram as plantações e — não tendo colhido a freguezia toda
talvez 50 pipas de vinho no anno anterior á minha ida para
Távora, — chegou a dar trezentas a quatrocentas pipas de vi-
nho por anno ? f . . . ^
^ Se a vaidade me não cega, bem merecia o habito ou uma coni-
menda da Ordem do Mérito Agrícola.
382 TKNTATIVA ETYMOLOGICOTOPONYMICA
*
Hoje não produz tanto, porque a pliyloxera e as outras
muitas doenças das videiras^ que mais tarde surgiram, nova-
mente destroçaram os vinhedos de Tawra ; - mas, se ali me
conservasse, — novamente as reconstituiria talvez l...
— Mas como ? — dirão os leitores.
— Imitando o processo adoptado pelos beneméritos do-
nos da quinta das Águias — ou do extincto convento de S.
Pedro das Águias, pertencente á mesma freguezia de Távora.
A mencionada quinta nunca produziu tanto vinho, como
produz na actualidade f /. . .
Pôde considerar-se uma escola agrícola, — uma quinta
regional — sem a minima protecção do governo.
— E' uma quinta modelo, — hoje absolutamente a pri-
meira do grande valle do Távora, — muito digna de sèr vi-
sitada — e dirigida por uma senhora ? ! ...
— Custa a crer — mas é facto !
Refiro-me á ex ™* sr.* D. 3Iaria Clementina Pinheiro
Leite, casada com o sr. Alexandre Augusto Pereira de Barros,
donos da mencionada quinta.
— E' uma senhora de muito merecimento, muito enér-
gica, muito atilada e muito digna d'uma commenda da Or-
dem de Mérito Agrícola.
— A ella e só a ella, como todos sabem, por ser muito
atilada e mais enérgica do que o marido, — se deve a pros-
peridade da sua bella quinta das Águias, — quinta que ella
adora ! . . .
Para evitarmos repetições — vejam-se na 1.^ parte d'esta
obra as pag. 382 e segg., onde falámos do convento e da quinta
das Águias.
Note-se que a dita senhora e o marido são excellentes
pessoas, muito tractaveis, muito accessiveis e não se recusam
a franquear a sua quinta a todos quanto pretendam visital-a
— nem a dar as explicações que lhes peçam.
*
Não se recusariam mesmo a dar ou vender por preço
rasoavel bacellos, barbados e enxertos das vides americanas
da sua bella quinta, — vides que são todas escolhidas entre
as mais resistentes e mais apropriadas ao terreno de Távora.
Note-se que as ditas americanas todas — foram indicadas
TENTATIVA ETYMOLOQICO-TOPONYMICA 383
pelo snr. dr. Joaquim Pinheiro d* Azevedo Leite, de Prove-
zende^ compadre e parente da dita senhora, — cavalheiro que
s. ex.* muito estima e respeita como seu mestre na especiali-
dade.— E não podia s. ex.* encontrar mestre melhor, pois,
como todos sabem, — o snr. dr. Joaquim Pinheiro, de Prove-
zendc, foi o benemérito introductor das vides americanas no
Douro ; — com ellas reconstituiu os vinhedos da sua grande
casa — e com ellas salvou os vinhedos do Douro e de Portu-
gal todo ! . . .
— Ninguém mais versado nem mais auctorisado do que
elle na especialidade. — Bem merecia uma commenda ou a
grã-çruz da Ordem do Meriio Agrícola, — e o Dotiro por gratidão
lhe devia erigir uma estatua na Régua ou no Pinhão!. . .
A quinta das Águias é hoje a que produz mais vinho na
freguezia de Távora. ^ por ser muito bem agricultada pela
dita senhora e, se os habitantes de Távora seguissem o exem-
plo d'ella, podia estar assim a freguezia toda ou quasi toda.
Note-se que Távora tem chãos mais mimosos e muito
mais férteis do que os da mencionada quinta das Águias. —
Avultam entre elles os da Ribeira, do Pí/ço, de Marinhos,
Quinta, Casal Tello e Villa Meã, — nomeadamente os cam-
pos que foram do Passal e que são hoje do snr. dr. e desem-
bargador da Relação do Porto — Manuel de Bar7'0s Nobre —
ou antes das sobrinhas e herdeiras d'elle.
Os dictos campos são absolutamente os mais férteis dá
freguezia de Távora e de todo o grande valle do Tavmm, —
de todo o concelho de Taboaço e dos concelhos circumvisi-
nhos ! • .
Quando ali fui parocho, os dictos campos andavam ar-
rendados pela terça parte da prodncçào, — isto é : — o caseiro
grangeava-os, dando ao parocho duas partes do producto, —
ficando elle somente com a terça — e muito satisfeito? ! . . ,
Note-se que os dictos campos eram muito bem regados
e limados, — depois de darem diíFerentes camadas d'erva —
davam t7'igo — e por ultimo, na restolha do trigo, davam mi-
lho.
— E tudo isto sem outros adubos, além dos que a agua
trazia da fonte publica de Villa Meã, onde se faziam cons-
tantemente barreias, pelo que a dieta agua era um montão de
lixívia, — óptimo adubo!. • .
— O trigo crescia tanto e com tal pujança, que dobrava!
Em 1908 produziu ella 150 pipas.
384 TENTATIVA ETYMOLOGIOO-TOPONYMICA
— Para não apodrecer, era preciso metter-lhe gado lanigero
para o comer e encurtar.
O maior contra do milho era também crescer tanto, que
por vezes tombava com o vento.
Quando os habitantes de Távora viam em qualquer parte
um campo de milho excepcionalmente pomposo e luxuoso,
costumavam dizer:
— Este parece-se com o do nosso passal!...
Hoje os dictos campos estão plantados de vinha ameri-
cana e dão muito vinho, mas já deram e podiam dar mais.
Prosigamos.
*
Também á dieta senhora D. Maria Clementina Pinheiro
d' Azevedo, benemérita agricultora da sua formosa quinta das
Águias, se deve em grande parte a bella estrada nova a ma-
cadam que atravessa a freguezia de Távora e muito a valo-
risou toda.
As coisas passaram-se assim :
Os srs. Macedos Pintos, de Tahoaço, que são desde longa
data a familia mais importante, mais rica e mais considerada
d'este concelho, havendo transformado de fond en comhle a
villa de Tahoaço, elevando-a a sede de comarca, etc, ^ — con-
ceberam o plano de dotar a villa e o concelho com uma es-
trada a macadam, em substituição dos antigos despenhadeiros.
Com este intuito o sr. conselheiro José Ferreira de Ma-
cedo Pinto, lente jubilado da Universidade de Coimbra, tendo
já certa edade e podendo passar o resto da vida muito soce-
gado e tranquillo, acceitou a nomeação de procurador á Jun-
ta Geral do Districto de Vizeu — durante annos — só para
advogar a demanda.
Conseguiu que a Junta Geral e o governo resolvessem
fazer e estrada districtal, n.° 40, — de Vizeu ao Espinho (foz
do Távora, na margem esquerda do Douro) — por Tahoaço e
Moimenta da Beira.
Do Espinho até Tahoaço correu bem o estudo da dieta
estrada, que devia seguir por Távora e Sendim para Moi-
menta da, Beira, mas o engenheiro encarregado do estudo en-
tre Tahoaço e Sendim, ficou aterrado com a medonha gargan-
' Vcjam-se no Portugal antigo e moderno, os meus artigos Mira-
gaya, vol. v, pag. 269 ; Sandím, vol. ix, pag. 103 ; Taboaço, no mesmo
vol., pag., 469 — c Vicente (S.), vol. x, pag. 516.
TENTATIVA ETYMOLOQICO-TOPONYMICA 385
ta do ribeiro Fradinho, que demora entre Taboaço e Távora.
Disse que era impossivel atravessar a medonha garganta
de fraguedo nú e abrupto^ pelo que abandonou o traçado
por Távora.
Fez o estudo ganhando em zigue-zagues a villa de Ta-
boaço e seguiu pela inhospita serra de Chavães para Sen-
dim, deixando em paz e ás moscas a mimosa freguezia de
Távora, que nem lobrigaria a nova estrada, pois passava
pela dita serra, cerca de 8 kilometros a montante de Távora.
Os snrs. Macedos bem queriam quo a nova estrada
seguisse por Távora, porque teem alli a sua bella quinta do
Rio-Bom, — precisamente na foz do tal ribeiro Fradinho;
mas concordaram com o engenheiro que ficou aterrado com
a medonha garganta do Fradinho ! . . . — E não menos ater-
rados por certo ficaram os engenheiros que, por ordem da
Velha Companhia dos Vinhos, a instancias de João Salter
de Mendonça, então dono da quinta da Avelleira, fizeram a
velha estrada, ligando Taboaço a Távora nos principios do
século XIX.
Os taes engenheiros, não se atrevendo a transpor a
medonha garganta, fizeram pela margem direita do Fra-
dinho, como já dissemos na 1.* parte d'esta obra, pag. 495
e segg., — uma calçada horrorosa e muito dispendiosa, de 400
a 500 metros d'extensão, aberta em rocha e com o desnivel
de 15 a 20 metros por cento !
O engenheiro de 1883, aterrado com a medonha gar-
ganta do Fradinho, apenas se abeirou d'ella, — fugiu com o
traçado para a serra ! . , .
Salvou a questão a dita snr.* D. Maria Clementina Pe-
reira de Barros, supra, dona da quinta das Águias, como no
Porto me disse o próprio snr. conselheiro José Ferreira de
Macedo Pinto, accrescentando :
— A dita senhora, horrorisada com tal solução, disse:
— O engenheiro nem sequer fez o reconhecimento atra-
vés da garganta do Fradinho ; e porque elle disse que era
impossivel passar por alli a estrada, ^. nós havemos de jurar
na sua palavra? Eu proponho que se mande vir do Porto
um engenheiro auctorisado que faça o reconhecimento.
Concordaram os snrs. Macedos e a commissão dos paro-
chianos de Távora, que os acompanhou na empreza, — com-
missão de que fazia parte o marido da dita senhora.
Mandaram logo ir do Porto o distincto engenheiro Tito
386 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMTCA
de Noronha, muito meu conhecido e que foi bem escolhido,
pois, além de ser muito illustrado, — era forte e vigoroso e
tinha pernas de galgo ! . . .
Atirou-se com animo e fé ao medonho gargantão ; —
teve muito trabalho, mas conquistou alli as suas esporas
d'ouro como engenheiro, resolvendo o intrincado problema
em favor do traçado por Távora!. .
Tanto os snrs. Macedos como a dita commissão exul-
taram de contentamento. — Foram a Vizeu e mostraram ao
respectivo director das obras publicas a planta levantada e .
muito bem desenhada pelo Tito de Noronha.
O illustrado director, António Casimiro de Figueiredo
ficou attonito !
Mandou logo um engenheiro de toda a confiança ao
local para ver se a planta estava exacta; — o engenheiro
concordou sem a minima divergência — e a nova estrada
fez-se através de Távora, como a dita senhora tanto desejava,
pois atravessa a freguezia toda e a sua bella quinta das
Águias ! . .
Ainda não está concluida, mas já atravessou a funda
ravina e as Íngremes ladeiras da Granjinha a E. de Távora;
ganhou o vistoso planalto dos Cabris^, passando a montante
e pouco distante da humilde povoação e do lendário castello
dos Cabris, — e já chegou á parochia de Sendim, distante
de Távora cerca de 8 kilometros.
Também já está coustruido um lanço d'alguns kilome-
tros a partir de Moimenta da Beira para Távora e Taboaço
E' de fácil construcção a parte restante ; mas o lanço
através do gargantão do Fradinho— lanço que eu jcá vi e é
muito interessante, muito lindo — foi um arrojo de constru-
cção ! .
Tem cortes de bastantes metros d ^altura em rocha viva
— e muros de supporte com altura de 14 a lõ metros — ou
mais ! . . .
Os taes muros são muito altos e muito valentes, mas
foram relativamente baratos, por haver óptima pedra de
sobra na localidade.
O dito lanço é horisontal ou plano, — muito suave, muito
lindo e muito digno de ser contemplado pelos engenheiros
todos.
Contrasta com a medonha calçada do Fradinho a mon-
tante è pouco distante, feita pela Companhia dos Vinhos —
e n'elle deve gravar-se uma inscripçao com o nome de Tito
TENTATIVA PrrYMOLOGICO-TOPONYMICA 3S7
de Noronha e a data em que s. ex.^ fez o respectivo tra-
çado, resolvendo com a maior felicidade tão intrincado
problema.
O texto da inscripçào deverá ser, pouco mais ou menos,
o seguinte :
O traçado d'esta linda estrada, entre Taboaço
e Távora, foi feito por Tito de Noronha, distincto
engenheiro, mandado vir expressamente do Por-
to, em ISSS.
Foi isto o que eu escrevi em 1907, quando estava pu-
blicando em folhetins no Conimbricense esta minha pobre
Tentativa, que agora estou fazendo sair em livro, por haver
expirado o Conimbricense em agosto do dito anno de 1907. (^)
Hoje, 1911, posso dar aos leitores a noticia de que a
mencionada inscripção supra, relativa ao engenheiro Tito de
Noronha, já se ve gravada em fortes caracteres romanos —
tal qual eu a propunha — em um dos fragões que foi cortado
na passagem do ribeiro Fradinho e ficou faceando com a
bella estrada de Taboaco a Távora.
Mandeia-a eu gravar em 1908. havendo já fallecido o
Tito de Noronha doze annos antes (em 1 de junho de 1896)
Foi uma homenagem posthuma bem merecida!
Voltemos às etymologias :
PREFIXO SUB
Sub Outeiro, é nome congénere de Sob-costa, Sob-her-
dades, Sob-outeiro, Sob-rego e Sorrego por Sob-rego ; —
Suadro por Sub-adro, Suarriba e Suarribas por Sub-ripa e
Subripas ou Sub-Ríba e Sub-Ribas.
0) A dita série comprehendeu 207 folhetins —desde o n.» 5:S94 do
saudoso Conimbricense, de 21 de maio de UJOI— até o n.o 6:228, de 24
d'agosto de 1907.
Foi a maior série de folhetins publicada pelo Conimbricense durante
a sua longa vida de 60 annos.
k
388 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Cf. Sub-Ripas, velha rua de Coimbra ! . . .
Somma e segue :— Sub-Adro, Sub-Baceilo, Sub-Borba,
Sub-Caia, Sub-Campo, Sub-Carreira, Sub-Carvalho, Sub-Ca-
sa, Sub-Christello, por Cristello, este por Crestello, este por
Crastello, este por Castrello, diminutivo de Castro, como
Castello por Castrello.
A rua do Christello, em Massarellos, — queria dizer —
Rua do Castello, que esteve no sitio onde está a igreja de
Nossa Senhora da Boa Viagem ou de S. Pedro Gonçalves
Telmo, padroeiro dos navegantes, — unde santelmo^ — nome
que os marinheiros, no alto mar, depois das grandes tem-
pestades dão aos fogos fátuos que por vezes brilham nas
extremidades das vergas e dos mastros, como prenuncio de
bonança — ou de que está com elles o seu protector S. Pedro
Gonçalves Telmo^ por abreviatura S. Telmo, unde santelmo.
O S. Pedro Gonçalves Telmo era natural de Tuy, na
Galliza, como lá me disseram.
Prosigamos : — Sub-Deveza, Sub-Devezinha, Sub-Egreja,
Sub-Estrada, Sub- Moinhos, Sub-Nogueira, Sub- Outeiro, o
mesmo que Sob outeiro supra; Sub Paço, Sub-Pena, Sub-Pòr-
tella, Sub-Quintã, Sub-Rego^ Sub-Riba, Sub-Ribas, Sub-Ri-
beiro, Sub- Serra, Sub -Torre, Sub- Veigas, Sulatesta por
Sub-la-testa, — Surriba, Surribas por Sub-Ribas, etc, povoa-
ções nossas.
Farminhão, freguezia do concelho de Vizeu, na minha
opinião vem de Firminianus, i, antigo nome pessoal, dimi-
nutivo de Firminus, i, subdiminutivo de Firmus, i.
VjÍ. Maximus, 3Iaximinus, Maximilianus e Maximianus ;
Antonius, Antoninus e Antonianus ; Justus, Justinus e Justi-
nianus, etc.
TflVlRfl
Caramurtíf nome indio do Brazil, em 1640 — quer dizer:
— homem de fogo e filho do Trovão.
Por seu turno Tavira, cidade do Algarve, na minha
opinião vem de Fabula, nome do seu penúltimo rei árabe, (^)
(') V. Tavira, no Portugal Antigo e Moderno, artigo de Pinho
Leal.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPON YMICA 389
pois fa deu ia na onomástica portugueza, e as letras i & u
confundiram-se, pelo que Fahúla deu Tavila e 7 avir a^ po-
voações nossas, pois na onomástica portugueza ler trivial-
mente se confundiram.
Tavira vem pois de Fahúla, nome árabe. — Por seu
turno Fábula, nome árabe, foi tirado do latim favilla. — re-
lâmpago, raio, faisca, nome bem apropriado a um valente
guerreiro árabe.
Cf. Raio, appellido nosso em Braga, etc, e Caramurúy
nome do chefe de uma tribu de Índios do Brazil, o qual em
1639 a 1641 auxiliou valentemente o grande patriota portu-
guez da ilha da Madeira, José Fernandes Vieira, para ex-
pulsar, como expulsou, os hollandezes de Pernambuco, sendo
capitaneados pelo duque de Nassau.
Caramurú, no dialecto indio, quer dizer — Homem de
fogo, filho do Trovão. Nós também temos Trovão e Trovoada,
appellidos . . — Fahida, nome árabe, foi tirado de favilla no
tempo em que os árabes viveram secretos na Hespanha,
vindo a nossa peninsula a augmentar o seu vocabulário com
o dos árabes, como diz Gustave Le Bon na Civilisation des
Árabes,
flinOfl TflUíRfl
Deriva-se de Fàbila e este de Fabiíla, nome do penúl-
timo rei mouro de Tay/ra— pois o ultimo foi Aben-Fabúla,
filho de Fabula.
A escala seria: — Fabula, Fabila, Tavila, Tavilla e
Tavira.
Note-se que as lettras i e ii, bem como l e r — trivial-
mente se confundiram e substituiram na onomástica portu-
gueza.
Também se confundiram e substituiram as letras F e T,
pelo que Fabula, sem violência, deu ou podia dar Favila e
Tavira, (i)
Ainda diremos que Fabula é talvez um dos muitos vo-
cábulos que os mouros e árabes, durante a sua longa perma-
nência na Peninsula (Portugal e Hespanha), levaram e apro-
veitaram do latim para enriquecerem o seu idioma, como os
C-) V. Tavira, no Portugal Antigo e Moderno, vol.Q.o, pagina 502,
col. 2.* in fine — e para a substituição das letras f t t — veja-se a 7..^ parte
da minha louca Tentativa Etymologica, pag. 105 e 106.
390
TENTATIVA ET YMOLOaiCO-TOPON Y MICA
povos da Península enriqueceram o seu idioma com muitos
vocábulos árabes.
Weste caso Fabula por Fabila ou Favilla, é talvez
deturpação do latim favilla, a faísca do fogo, o raio.
Cf. Raio, appellido nosso.
Cf. Favilla, povoação nossa também.
Para mostrar que Fabula podia dar Tavira, vejamos co-
mo se confundiram as letras.
Ffl e Tfl
Facha e Tacha, appeliido.
Facho e Tacho.
Fagilde e Tagilde.
Faias e Taias.
Faínha e Taínho, quasi Tainha.
Falia e Talla.
Fareja e Tareja.
Farrio e Tarrio, muitas povoações.
Farroeira, Tarrogeira e Tarrueíro.
Fartaria e Tartaria.
Favaqueira e Tavaqueira.
Favacal e Tavacal.
Favarrel e Tavarella.
Fazoura e Tezouras.
Alfaião e Tayão.
Fale e Thulé.
Feira e Teira.
Feixe e Teixe.
Feixeiras e Teixeiras.
Feixogueira, e Teíxugueira
Fera e Terá.
Ferra e Terra.
Ferrado e T.írrados.
Ferrão e Terrão.
Ferras e Terras.
Ferreirínho e Terreirinho.
Ferreiro e Terreiro.
Ferreiros e Terreiros.
Ferrenho e Terrenho.
Ferrões e Terrões.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 391
Ferrenha e Terrenha.
Ferrugem e Terrugem.
F e T
Festos e Testos.
Fetelaria e Tetelaria.
Fogueira e Tugueira.
Foja e Toja.
Foitos e Toito.
Fojaes e Tojaes.
Fojo é Tojo.
Fojos e Tojos.
Foíões e Tolões, talvez o mesmo que Telões e Tenões.
Fontão e Tontão.
Fontella e Tondella.
Fontinhal ou Tontinhal.
Fontinha e Tontinha.
Fora e Tora.
Forneira e Torneira.
Forneiro e Torneiro.
Forneiros e Torneiros.
Forno e Torno.
Foro e Toro.
Forrezello ou Forregello e Torrozello.
Forrejal e Torrejaes, plural de Torrejai.
Foucinhos e Toucinhos.
Fuzeiro e Tozeiro.
Fraguinhas e Traguinhas.
Franqueira e Tranqueira.
P^ranca e Tranca
France e Trance.
Francelheira e Trancelheira.
Francaria, Franqueira e Tranqueira.
Froia e Tróia.
Truta, Truta de Baixo, Truta de Cima, e Trutas, quatro
aldeias nossas — e não temos povoação alguma com o nome
de Fruta ! . , .
Em additamento a este 2.o vol., pag. 309, diremos que
— Vai de Nácar, sem violência, deu ou podia dar Vacalar.
^
392 TENTATIVA ETYMOLOGICO TOPONYMICA
Por seu turno Vai de Nácar na minha opinião vem de
Valée de Nekar (quasi Vai de Nácar) -- valle do Rio Nékar,
confluente do Reno, vale muito mimoso e muito fértil, pelo
que os povos germânicos (Visigodos) quando habitaram o
nosso paiz, talvez dessem ao rio Temilupus, que banha o
Vacalar e é confluente do Douro, o nome do Nékar.
V. Nékar na Geographia Universal de Bescherell e De-
vars.
Ahi se encontra, ipsis verhis^ vallée de Nékar,
Tópicos promettidos
e outros d^alguina utilidade para o estudo etymologico
da onomástica portugueza
NOMES PESSOAES E NOMES DE SANTOS TIRADOS DOS ADJECTIVOS
NUMERAES ROMANOS Q)
Primus^ ij primeiro, deu Primo, nome d'um santo, etc.
Por seu turno Primi, patronimico de Primus, i, deu Prime,
aldeia e quinta junto de Vizeu, e Prime, titulo de barão, vis-
conde e conde, tirado da mesma quinta de Prime.
Também primus, adjectivo numeral romano, deu Primia-
nus — Primiano, outro nome de santo, etc.
V. Prima, Prime, Primiana, Primiano e Primo, no meu
Diccionario d^Appellidos, já impresso, mas ainda não distri-
buido, porque lhe falta a introducção, que ainda não pude
escrever.
Também Primi, pela forma Pr^?^^, talvez desse Prim,
appellido hespanhol e portuguez, (*) bem como Primianis, pa-
tronimico de PíHmianus, i, talvez desse Priannes, duas po-
voações nossas, como Primiana deu ou podia dar Priana,
povoação nossa também.
A bússola é o ouvido; mas talvez que Priannes seja
contracção de Peri ou Peres, o mesmo que Pêro ou Pedro e
Annes, antiga forma de Joannes, patronimico de João.
(1) V. este vol., pag. 331.
(^) Primus deu ou podia dar Preminus, i, e Primianus, i, como Justus
deu Justinus e fusiinianus, Máximas deu Maximinus e Maximianus, etc.
Por seu turno Priminus, Primini, deu ou podia dar Prini, unde Prim
supra.
TENTATIVA ETYMOLOQICO-TOPOXYMICA 393
N'este caso Priannes quer dizer: — granja, quinta ou
casa de campo de Pedro, filho de João.
Cf. Annes, casal e appellido; Gonçalo Annes, Joanne,
Joannes, Martim Annes, Peres, Peres Alves e. Peres Escuma,
difíerentes povoações nossas; mais 14 povoações com os no-
mes de Pedro, Pedro Alves, Pedro Caldeira, Pedro Moura,
Pedro Ferreiro, quasi Pedro Ferreira, auctor d'estes rabis-
cos, Pedro Jorge, etc.
Temos ainda mais Õ6 povoações com o nome de Pêro, o
mesmo que Pedro ; mais de 200 com o nome de S. Pedro ;
2 aldeias e 15 casaes com o nome de S. Pedrinho; mais 5
aldeias com o nome — Casal de Pedro — além de Pedros e
Peros, o mesmo que Pedros, povoações nossas também, como
Pires (o mesmo que Peres; appellido e nome de 10 povoa-
ções nossas, e Paires por Pires !
Do exposto se vê que Pedro, nome d'este Petrus in cun-
ctis nihil in omnibus^ foi muito prolifico na onomástica por-
tugueza, posto que o povo rude não sympathisa com tal
nome. Costuma até (salvo seja !) dizer que os Pedros todos
são mause devemos fugir d'elles!.. (*)
Mas nem todos os Pedros são maus. Eu chamo-me Pe-
dro, porque o meu padrinho foi Pedro da Silveira Athayde
e Vasconcellos, excellente pessoa e fidalgo distincto da po-
voação de Relvas, freguezia de Parada de Cunhos, con-
celho de Villa Real de Traz-os-Montes. Elle nunca me deu
5 réis de folar, mas deu aos meus pães contos de réis, por-
que, sendo provador da velha Companhia dos Vinhos, e os
meus pães lavradores do Douro, dava sempre um grau de
favor ao nosso vinho ! . . ,
Eu não cheguei a conhecei- o, mas recordo-me de meu
pae dizer muitas vezes, depois da extincção da poderosa
Companhia : — «Nós iamos bem, se a Companhia durasse
mais alguns annos e vivesse o compadre Pedro da Silveira! . . .
Para significar-lhe d'algum modo a minha gratidão, dei
a genealogia de s. exc.a e da sua nobre familia, no meu
longo artigo Nicolau (S.) freguezia do Porto, (^) quando fallei
de D. Joaquim da Piedade da Silveira Mourão, abbade
d'aquella freguezia, excellente pessoa também e sobrinho do
meu bom padrinho.
(1) V. o 1.0 vol. pag. 356 a 367.
C) V. Portugal Antigo e Moderno, vol. ó.o, pag. 54, col. 1.^ e segg.
394 TENTATIVA ETYMOLOGICOTOPONYMICA
Do exposto se vê que nem todos os Pedros são maus, e
para meu conforto e dos Pedros todos jà um distinctb es-
criptor francez disse : — «Honra o teu nome e elle te hon-
rará, seja qual for!...
O nome Pedro foi muito vulgar e muito considerado na
igreja catholica, por ser dado pelo próprio Redemptor ao
principe dos Apstolos, pedra basilar e fundamental da nossa
igreja santa, catholica e apostólica romana.
O nome d'ell6 era Simon Barjona (^) — Simão, filho de
João e, quando o Redemptor o escolheu para principe do
Apostolado, deu-lhe o nome syriaco Cephas, que significava
pedra, r cha, em latim petra, do grego ^?^ríi, o mesmo que
petrós^ quasi p^trus^ rochedo, pedra. A raiz d'estes vocábu-
los é o sanscripto pattas^ pedra, que em malaio deu hat, pedra;
em hindu pathar, pedra, unde pathraná, apedrejar; em ben-
galez, pather, pedra; em jávanez, batta, pedra; em francez,
pierre, Pedro e pedra; em italiano, pietra ; em castelhano,
piedra e em portuguez, pedra
Vide Boucrand, vb. Pierre.
Também temos Petra, appellido, o mesmo que Pedro e
Pedra.
Ad ridendum fecharemos este insulso tópico dizendo
que em Coimbra no meu bom tempo d'estudante (I8õl-18õ6)
havia um lente de direito, chamado Pedro Augusto Monteiro
Castello Branco distincto jurisconsulto, a quem os estudantes,
por birrarem com elle, chamavam Pedro Penedo da Rocha
Calhau . . .
Prosigamos com a lista dos nomes pessoaes e nomes de
santos tirados dos adjectivos numeraes romanos.
Temos agora secundus, segundo, que deu os quinze no-
mes seguintes :
Secunda, Secundaria, Secundário, Secundiana. Secun-
diano, Secundilla, Secundillo, formas de Secundilha e Se-
cundilho, na Hespanha; Secundina, Secundino, Secundola,
(^) Beatas es Simon Bar-Jona (Matheus, cap. 16, v.l7).
Barjona, appellido nosso d'alta cotação, vem, pois, do hebraico
Bar-Jona e quer dizer filho de Jonas ou de João.
TENTATIVA KTYMOLOGICO-TOPONYMICA 39Õ
Secuiidolo, o mesmo que Secundula e Secundulo — Segunda
e Segundo o mesmo que Secunda e Secundo.
Todos estes quinze no.mes foram nomes de santos, exce-
ptuando os seguintes: — Secundaria, feminino de Secundá-
rio ; Secundiana, feminino de Secundiano ; Secundillo, mas-
culino de Secundilla o Secundola, feminino de Secun-
dolo.
Veja-se o meu Diccionorio d'AppelUdo8, mencionado
supra.
Por seu turno Secundaria deu ou podia dar Segundeira,
duas povoações nossas, bem como Secunda deu ou podia dar
Segunda, povoação nossa também, mencionada na Chorogra-
phia Moderna com o nome de Segunda Aldeia, por Segunda,
aldeia, pois a dita povoação é efifectivamente uma aldeia da
fregiiezia de Villar do Monte, concelho de Barcellos.
Prosigamos :
Tertius-f a, um, adjectivo numeral romano, deu Terceiro
e Tercio, nomes de. santos, que auctorisam as formas Tercia
e Terceira, como nomes pessoaes femininos e nomes de
baptismo.
De passagem direi que na igreja catholica romana to-
dos os nomes do baptismo devem ser tirados de nomes de
santos, mas infelizmente abusa-se e encontram-se na actua-
lidade muitos nomes pessoaes que nunca foram nomes de
santos. Alguns d'elles são nomes de mera phantasia e outros
tirados de comedias, romances, tragedias, poesias, etc.
Se os pães ou padrinhos das creanças querem dar-lhes
nomes pouco vulgares, consultem os differentes santoraes da
igreja romana e n'elles encontrarão nomes de santos para
todos os paladares, sendo alguns tão exóticos e tão estranhos
que fazem scismar! . .
Os romanos por vezes davam o nome de Tertia, em
portuguez Terceira, á filha que nascia em terceiro logar,
como se lê no Magnum Lexicon latino, vocábulo Ter-
tius.
Tertúlia, a terceira filhinha, é latim de Cicero, como se
lê também n'aquelle diccionario, e TertuUiano, em latim
Tertullianus, distincto escriptor christão romano que floreceu
pelos annos 196 de Christo, parece affim de Tertúlia.
O mesmo tertíus latino deu Terça, Terças e Terceiros,
varias povoações nossas, e Terceira, ilha do nosso archi-
pelago dos Açores, assim denominada, por ser a terceira na
ordem do descobrimento do mencionado archipelago.
396 TENTATIVA ETYMOLOaiCO-TOPONYMIC A
' Fallemos agora de quartus, quarto, adjectivo numeral
romano, que deu os seguintes nomes pessoaes e nomes de
santos : Quadrado ou Quadrato, Quartilla e Quarto, que au-
ctorisam as formas Quadrada ou Quadrata, Quartillo e Quarta
para nomes pessoaes e nomes de baptismo:
Também temos Quadragésimo, nome d'um santo, e
Quaresma, appellido vulgar portuguez, tirado do latim qua-
dragesima^ feminino de quadragesimus, o espaço de quarenta
dias ou dez vezes quatro, desde a quarta feira de cinza até o
domingo de paschoa.
Também prendem com o adjectivo numeral romano
quartus, quarto, os appellidos portuguezes Quadrio, Quadrios,
Quadros, Quartus, Quarteira, Quarteiha, Q^artelhas, Quar-
tim, Quartin, Quatrim, etc.
São também povoações nossas : Quarta Feira, Quartas,
Quarteira, Quartelhas, Quartilhas, Quartinos, Quartos, trez
povoações ; Quartos d'Além e Quartos d'Aquem, Quatrim,
Quatro Aguas, Quatro Azenhas, Quatro Caminhos, Quatro
Irmãos, Quatro Lagoas, Quatro Marcos, Quatro Olhos, Quatro
Varas, Quatro Rodas, etc.
Quarta Feira, povoação da freguezia de Sortelha, con-
celho de Sabugal, podia tomar o nome d'alguma feira im-
portante que alli houvesse outr'ora e que fosse a quarta
d'aquella região na ordem chronologica.
Dicant paduani — respondam os filhos da localidade
e note-se que dos mercados e feiras tomaram o nome talvez
mais de 40 povoações nossas, todas mencionadas na Choro-
graphía Moderna, entre as quaes avulta a Villa da Feira,
povoação muito antiga e muito importante, sede de conce-
lho e de comarca, tendo sido muito mais importante na
idade média. Estendia-se para o norte até á margem esquerda
do Douro, e comprehendia muitos concelhos e comarcas que
posteriormente d'ella se desmembraram.
V. Feira e Villa da Feira, no Portugal Antigo p Mo-
derno.
A Quarteira, vasta quinta do Algarve, no concelho de
Loulé, que foi morgado importante dos duques d'este titulo,
TENTATIVA KTYMOLOOICO-TOPONYMICA 397
por ultimo pertencente ao conde de Azambuja, filho dos du-
ques de Loulé, e actualmente a uma parceria do Porto, que
a comprou e explora, talvez se denominasse Quarteira, por
ser fertilissima í
Comprehende os chãos mais férteis do Algarve todo,
pelo que na tributação para o Estado talvez que outr'ora
pagasse de quatro um, ou a quarta parte dos fructos que
produzisse.
Os leitores não se espantem, porque os chãos da Quar-
teira são os mais férteis do Algarve todo e de todo o nosso
paiz, exceptuando a Veiga da Villariça, no Alto Douro, que
é absolutamente a mais fértil de Portugal todo.
Veja-se no Portugal Antigo e Moderno^ vol. xi, o meu
artigo Villariça, pag. 1314.
A tributação de 4, 1, era forte, mas talvez acceitavel.
Eu em 1861 a 1864 fui abbade da freguezia, villa e
honra de Távora, solar dos Tavoras, no concelho de Taboaço,
abbadia que teve um passal enorme ! Ainda no anno de 1496
o dito passal, que ao tempo já devia estar muito cerceado,
comprehendia 103 propriedades. (^)
Com o volver dos séculos os meus beneméritos ante-
cessores (?) alienaram a maior parte do dito passal, mas
ainda no meu tempo era um dos melhores do bispado de
Lamego e comprehendia campos também muito férteis, abso-
lutamente os mais férteis do dito concelho ! Os caseiros que
os grangeavam costumavam dar de renda aos abbades dous
alqueires de cada trez que produzissem os taes campos. Por
seu turno os abbades' apenas davam aos caseiros metade da
semente.
Os taes campos eram muito lindos e muito férteis, tal-
vez tão férteis ou ainda mais que os da Quarteira, mas
muito menos férteis do que os da Villariça.
Quanto á tributação de 4-1, lembra-me também o que
se dava na freguezia da Penajoia, decantada terra das cqxq-
(^) Veja-se Passal de Távora n'esta minha louca Tentativa EtymolO'
gica, parte l.a, pag. 458 e segg. onde, ad perpetuam rei memoriam, dei
uma nota authentica do tombo do dito passai, n'aquelle anno de 149Ó.
398 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMTC A
jas, minha terra natal pertencente ao concelho e bispado de
Lamego, freguezia que desde os principios da nossa mo-
narchia foi reguengo, villa e sede de concelho com justiças
próprias.
Também nos tempos prehistoricos da vida errante e pas-
toril foi cidade com o nome de Gruadeixe, G-uadixe ou Gadixo
por Gadinho. A Penajoia, era, pois, a cidade do gadinho,
nome bem apropriado, porque a sua população in illo tem-
pore, estava no sitio, hoje completamente deserto, chamado
G-uediche, nas abas da serra do Poio, ao longo da velha es-
trada de Lamego para Rezende, Sinfães, etc.
A dita estrada devia ter bastante movimento, pelo que
ao longo d'ella tinham os seus curraes e viviam os donos e
negociantes do gado que pastoreavam na grande serra a
montante.
Com o desenvolvimento da agricultura e da civilisação,
mormente no tempo da occupação romana, o povo foi bai-
xando da serra paulatinamente até que chegou á margem do
Douro, distante de Guediche cerca de três kilometros. Ha^
porém, entre aquelles dois pontos, talvez mais de 3Q0 me-
tros de diíferença de nivel, pelo que foi morosa e muito
dispendiosa a occupação. Demandou profundo arroteamento
e valente ensocalcamento que hoje não custariam talvez me-
nos do dous mil contos de reis ! . . .
Note-se que a minha Penajulia ou Penajoia é a fregue-
zia mais vasta de todo e concelho de Lamego. Comprehende
B a 7 kilometros de nascente a poente ao longo da margem
esquerda do Douro e cerca de B kilometros de terra culti-
vada, desde a margem do Douro até ás abas da serra ou
do monte do Poio, actualmente chão baldio, mas que ou-
tr'ora foi cultivado e tem cerca de 10 kilometros quadrados,
pertencente aos concelhos de Lamego, Resende e Castro
d'xAyre,. e por consequência também á freguezia da Penajoia.
Na linha norte-sul comprehende, pois, a minha Penajulia
ou Penajoia talvez mais de 15 kilometros d'extensão.
O arroteameuto e ensocalcamento da vasta freguezia até
á margem do Douro certamente foram muito morosos e
muito dispendiosos, mas conquistaram chãos fertilissimos e
mimosissimos, pois demoram no clima das laranjeiras. Pro-
TENTATIVA KTYMOLXJGICO-TOPONYMICA 399
duzem muitas e óptimas laranjas e outra muita fructa varia-
díssima da melhor do Douro e de Portugal todo, nomeada-
mente cerejas, pelo que a Penajoia c denominada o Jardim
do Douro e a terra das x>erejas, pois produz muitas, muito
boas, muito variadas e tão temporans, que em iodo o Douro
e em todo o norte de Portugal só alli S9 encontram cerejas
maduras no fim d'abril, todos os annos.
D'alli e só d'alli vão desde tempo immemorial cerejas
maduras todos os annos á feira de Santa Cruz, de Lamego^
no dia 3 de Maio. E alguns annos na Ribeira dos Fornos, —
o cantão mais fértil e mais mimoso da Penajoia toda e que
produz as cerejas mais temporans, — encontram-se, como eu
já vi cerejas maduras no mez de Fevereiro, creadas ao ar
livre nas cerdeiras sem folhas e sem abrigo algum, prove-
nientes da florescência outomnal!. . .
Também no meu pomar da Corvaceira, que é sem con-
testação o melhor da Penajoia, quasi todos os annos se vin-
gam algumas laranjas provenientes da florescência outomnal,
e tivemos na cerca do nosso casarão, chamado casa da Ca^
pella, na mesma povoação da Corvaceira, uma figueirinha
que todos os annos dava trez camadas de figos: — uns cha-
mados lampos^ que eram enormes ; outros vindimos, que ama-
dureciam no tempo da vindima, e outros que nasciam quando
estes últimos se colhiam, e a pobre figueira perdia as folhas.
Ficavam na arvore sem abrigo algum, todo o inverno, ama-
dureciam somente no fim da primavera seguinte, no tempo
dos figos lampos, eram os mais pequenos, mas em compensa-
ção os mais saborosos I . . .
Também na cerca da casa tínhamos uma figueira que
dava só figos lampos ; eram muito ordinários mas em car-
dume ; tantos como as folhas !
Também lá temos outra figueira que dá somente figos
muito serôdios. Amadurecem depois da vindima, quando as
figueiras todas perdem as folhas. Eram muito saborosos, mas
dificilmente se colhiam maduros, porque nós, os filhos da
casa, os creados e creadas e os mesmos jornaleiros e visi-
nhos andávamos sempre a mirar, remirar, apalpar e colher
os taes figuinhos, por serem muito serôdios e muito sabo-
rosos.
400 TEIÍ-TATIVA. RTYMOLOGICO-TOPONÍMICA
Com os da tal figueira das três camada.s, que fi.cavam
na arvore todo o inverno, ninguém se importava nem oa
apalpava ou colhia, por serem pouco saborosos e porque aó
amadureciam na primavera do anno seguinte.
Desculpem os leitores tantas divagações, a propósito da
minha terra natal, a decantada terra das cerejas, chamada
também jardim do Douro, por ser a mais mimosa do Douro
e de Portugal todo.
Para evitar repetições, vejam-se no Portugal Antigo e
Moderno os artigos do meu antecessor Pinho Leal:
Corvaceira, vol. 2.^ pag. 406 : Moledo, aldeia de Pena-
joia, vol. 5.*', pag. 373, e Penajoia, vol. 6." pag. 5õ9. coL 2.^
Veja-se também no mesmo diccionario o meu artigo
Vizellãj rio, vol. 12, pag. 1968, coL 2.a, onde, failando
da Corvaceira, ponto que ha no mesmo rio, dei uma lista
das nossas Corvaceiras todas, denominando-as Curvaceira e
Curvaceiras, em vez de Corvaceira e Corvaceiras. Ao tempo
ainda ignorava que a sua etymologia é corvo, ave, que deu
Corveira e Corvaceira, como fogo deu fogueira e fogaceira e
lodo deu lodeira e lodaceira. E' assim a arte nova,
Veja-se também Corvaceira e Penajoia nos índices da
primeira e segunda partes da minha louca Tentativa Etimo-
lógica,
Volvendo a fallar da Quarteira do Algarve e da sua
etymologia, eu já disse que talvez tomasse o nome da
tributação de 4-1, por ser o chão da Quarteira fertilissimo.
A propósito citei a Penajoia, minha terra natal e muito fér-
til também.
Como já disse, a minha Penajulia ou Penajoia foi
villa, reguengo e sede de concelho com justiças próprias —
desde os principies da monarchia. Teve foral velho, dado
por D. Affonso Henriques, foral novo, dado por D. Manoel,
confirmando^ ampliando e modificando o foral velho, que se
perdeu. Já náo se encontra na Torre do Tombo, mAs s<5-
mente o foral novo, de qual tenho uma copia authentica
sobre a minha banca d'estudo.
TENTATIVA ETYMOLOOÍCO-TOPOyYMICA 401
Ahi vae um ligeiro extracto.
O dito foral de D. Manuel, com a data de 15 de Julho
de 1514, tem o titulo seguinte:
Foral dado ao concelho de Penajoia^ termo
de Lamego^ por El-Rei D. Affonho Henriques. (/)
tD. Manuel, etc. Posto que pelo dito foral foram parti-
cularmente postos os direitos qne na mencionada terra se
haviam de pagar, os moradores da terra nào costumam pa-
gar os ditos direito?, mas outros, desde tempo immemorial,
segundo andam intitulados nos tombos e recebimentos dos
senhorios dos taes direitos e, sendo perguntado aos ditos
foreiros se queriam pagar os fóroâ como no dito foral velho,
dado por D. Affonso Henriques, estavam consignados, ou
como agora os pagavam pelos tombos dos senhorios, respon-
deram que queriam pagar como agora pagavam, com a mo-
dificação ou corregimento de certos aggravos que adeante
se declaram.»
Prosegue o foral novo, que c sem contestação o de
D. Manuel, posto que o titulo parece o mesmo do foral
velho, dado por D. AíFonso Henriques!. . .
Da parte exposta supra se vê que D. Manuel foi muito
attencioso para com os habitantes de Penajoia, consultan-
do-os e perguntando-lhes se queriam pagar como outr'ora
pagavam pelo foral velho de D. Affonso Henriques ou se
preferiam pagar, como ao tempo estav^am pagando, segundo
constava dos tombos dos senhorios. Ao que elles responde-
ram que preferiam pagar como ao tempo (1514) estavam
pagando, com a modificação e corregimento de certos aggra-
vos, o que D. Manuel acceitou.
Mas, se o concelho da Penajoia era reguengo e proprie
dade particular dos nossos reis, que senhorios eram os men-
cionados supra?
O foral não diz o nome delles, mas na minha opinião
os taes senhorios da Penajoia in illo tempore (anno 1514)
eram os condes de Marialva, appellidados Coutinhos, que
foram marichaen e meirinhos mores do reino, pessoas d alta
cotação no seu tempo, e riquíssimos!. . .
{}) Para tornar a leitura menos áspera, seja-me licito dar o promet-
tido extracto em portugucz hodierno.
26
402 TENTATIVA ETYMOLOGTCO-TOPONYMICA
Além de serem alcaides-móres e senhores de Marialva,
foram também alcaides mores de Pinhel (^) senhores dos
coutos de Leomil e d'Armamar, dos concelhos e terras de
Bem Viver, em Canavezes e de Penaguião, em Traz os-Mon-
tes, alcaides-móres de Lamego, condes de Loulé, senhores
do couto e morgados de Medello, no aro de Lamego, e da
villa, reguengo e concelho de Lamego também, hoje sim-
ples freguezia, mas muito vasta e bem conhecida como terra
das cerejas e mimoso jardim do Douro, minha terra na-
tal, etc. (2)
Tão ricos e tão considerados eram, que o infante
D. Fernando, filho legitimo do nosso rei I). Manuel, o ven-
turoso, e da rainha D. Maria, casou com D. Guiomar Couti-^
nho, íilha única e herdeira universal de D. Francisco Couti-
nho, ultimo dos ditos condes de Marialva que d'este modo
se uniram á familia real portugueza e se elevaram mais do
que nunca. Mas a dita alliança, tão lisongeira e tão promet-
tedora, foi para elles o ultimo canto do cysne, pois, não
tendo a dita senhora successão, extinguiram-se os condes de
Marialva e vagou para a coroa e para a casa do infantado a
maior parte das grandes rendas e dos bens que possuiam. {^)
Coisas d'este mundo !
Para a genealogia dos condes de Marialva supra, veja-se
a Historia Genealógica da Cam Real, vol. xii, e o grande
Nobiliário ms. de Gayo em muitos volumes que, pela disposi-
ção testamentária do auctor, se guarda na secretaria da Mi-
sericórdia de Barcellos, mas franco para quem pretenda con-
sultalo.
Não se confundam os Coutinhos, condes de ]\íarialva,
que tanto figuraram nos séculos xiv e xv, com os Menezes,
condes de Cantanhede, que no século xvii, foram agraciados
com o titulo de Marquezes de Marialva.
(^) V. Pinhel, artigo meu no Portugal Antigo e Moderno, vol. 8.*,
pag. 60 a 101.
('') V. Penajoia, no Portugal Antigo e Moderno, vol. 6.", pag. 559 a
564.
(^) O ultimo conde de Marialva, D, Francisco Coutinho, fp.lleceu no
anno de 1493 (era de 1531), como diz o padre Q^.xw2^ho,?^xi\go Bcrtiande,
que Pinho Leal extractou.
tp:ntativa etymologico-toponymica 403
V. Cantanhede no Portugal Antigo e Moderno, vol. y.**,
pag. 95, col. 1.* — e o tópico — Falado do Marquez de Ma-
riaíva, no artigo Lisboa do mesmo diccionario, vol. 4.",
pag. 134.
Substituição de letras na onomástica portugueza
fl e E
Alcanena e Qaenena por Canena, o mesmo que Alca-
nena.
Almelaguez por Almalaguez, o mesmo que Malagueíio,
filho de Málaga.
Burgatas por Burguetas.
Cf. Burgete, Burgueta, Burguete, Burgueto e Burgui-
nho, diminutivos de burgo^ que deu Burgo e Burgos, mui-
tas povoações nossas e Burgos, etc, na Hespanha.
Lavadouro e Levadouro ; Lavegada, Levegada e Lobe-
gada por Lobagueda, abundante em lobos?!. . ,
V. Lobagueira e Lobata, por lobagata.
Padral e Pedral; Padrão ou Pedrão; Padreda e Pe-
dreda ; Padreiro e Pedreiro ; Padrella e Pedrêlo; Padroso e
Pedroso; Panascal, Penascal e Penascaes por Panascaes;
Panasqueira e Penisqueira por Panasqueira; Parafita, Pedra
Fita e Peraíita; Parozellos, Pedrozello e Perozello; Penada
o Peneda; Penados é Penedos; Penagacha e Penegacha.
Samonde, contracção de Sallamonde, e Semonde por
Samonde, povoações nossas.
Cf. Sopegal por Sopagal, este por Sapogal e este por
Sabugal, povoações nossas, como Supagal e Supegal, o mes-
mo que Sapogal, Sopegal e Sabugal.
fl, B, I e O
Mendanha, Mendenha e Mendanha.
Mentrestido por Mentrastedo, abundante em mentrastos
fl, Ê, o e U
Marzugueira e Murçogueira por morcegueira, abundante
memorcêgos. A bússola é o ouvido.
404 TENTATIVA ETYMOLOGTCO-TOPONYMICA
fl e Ei
Fajão e í'eijão ; Fajarda e Feijarda; Fajó e Feijó; Fa-
jões e Feijões, povoações nossas.
Caguideiro por cagadeiro e este por cagadoiro!. . .
Cf. Caga-Jones, Cagança, Cagão, Cagarraz e Cagunça,
povoações nossas. Junte-se Monturo, sitio de Lamego, cha-
mado outr'ora Mérdeiro om velhos documentos do cabido
lamecense.
Adeganha e Adegainha; Angaeiro e Ingueiro ; Anquião
e Inquião; Asna e Isna; Asnanha por Asninha; Azavel, Isa-
bel e Zavel ; Birosa e Barosa; Cangostas, Congostas e Quin-
gostas; Canhão e Quinhão; Chintoada por chantoada; Cim-
bres, Quimbres e Cambres, são talvez formas do mesmo
nome.
Somma e segue: — Das Correias e Discorreias ; EscaUos
e Esquillos ; Esquinheira por Esquilheira e Escalheira; Fajó e
Fijó; Fauza e Fiúza; Farminháo, de Firminianus, i, dimi-
nutivo de Firmus, ?', como Firmino ; Fontascos, Fontaiscos
e Fontiscos; Galhufe e Guilhufe; Gramicho e Gramacho, de
Gramaço. Gramaço e Gramaços são povoações nossas, como
Gramido por Gramedo: Grimancellos por grabancellos e
Grimancinhos por grabancinhos; Guidieiros por Gadieiros,
como Guedieiros. {^) Guitoeira por gatoeira. Cf, Gataria e
Gateira, povoações nossas, bem como J^arroeiras e Barrei-
ras; Figoeira e Figueira; Teixoeira e Teixeira; Laboreiro e
Liboreiro: Laceiras e Liceiras; Lagares e Ligares; Lageira
e Ligeira ; La^o e Ligo ; Lateira por Liteira ; Libâo por
Labão, como Nabão; Ligena por Lagena; Maça, Massa e
Missa; Madons e Midões. Junte-se Magarreiro e Migarreira;
Malhão, Manhão, Milhão e Minhãos; Malheiro e Milheiro;
Malheiros e Milheiros; Malhões e Milhões; Malhundes e Aíi-
Ihundos; Manhoca por minhoca e Minhocal; Manhosa e Mi-
nhosa: Marão e Mirão; Marinella e Mirinella ; Mendanha
por Mendinha; Montido por Montado?; Mouraz e Mouriz;
(') De gadieiro, pastor ou negociante de ga io. Cf. boieiro, ovelheiro,
cabreiro, etc.
TENTATIVA ETYMOLOOICO-TOPONYMICA 40Õ
Panchorra e Pinchorra ; Perdagões e Perdigões; Portagem e
Portigens por Portagens?; Prachã, Pricbã e Pedra Cbà ;
Habai,'aes e Kibaçaes; Rabaçal, Ribaçal e Kibadal; Kabada e
Kibada; Rabal, E-ibal e Rival; Habasca, Rabasco, Kavasco,
Robisca e Ruvisco; Rabella e Ribella: Rapada e Ripada;
Rasca e Risca ; Raso e Riso ; Ravara e Rivára ; Raviçaes, de
Rabaçaes; Carviçaes por Carvajaes, e este por Carvalhaes ;
Raxão, Rechão e Rixào: Ribaçaes e Ribaçal, de Rabaçaes e
Rabaçal; Saco e Sico ; Salgueiros e Silgueiros; Salgado e
Silgado; Salvado e Silvado?; Samâo e Simão: Samarra e
Simarra; Samarrinho e Simarrinho; Sameira e Simeira; Sa-
meiras e Simeiras; Sameiro e Simeiro ! Samões e Simões;
São Gil, quasi Saogil e Singil; Tanheira e Tinheiro: Tanhel
e Tinhella; Tarrueiro e Tiroeira ; Tragai, Trigal e Trigoal!;
Traganhal por trigaohal; Tragazal por trigaçal? Trancão e
Trincào ; Yade e Vide ; Vaiamonte por Viamonte ; Valhe-
gas e Vilhegas ; Vallarinho e Villarinho? Vasêu e Viseu?!
De Basilêu- o mesmo que Basilio, nomes de santos, tirados
talvez de Basileia, hoje Bade, cidade da Suissa, etc. Basilêu
podia muito bem dar Vasêu e Viseu ; Vilhelho, Valheiho.
Cf. Valhelhas; Viilagueira e Vallagueira; Villar d'Azeu,
Villar de Izeu ou Villar de Geu; Viqueiras por Vaqueiras;
Virães por Varáes e Varaes ; Virella por Varella ; Albano e
Albino, Urbano e Urbino, nomes de santos, etc.
fl c O
substituiram-se no antigo portuguez.
Vide O, em Viterbo.
Abregueiro, Abrigueiro e Obrigueiro ! • . . (i) Aião, Ayão
e Oyam por Oyão ; Arrentella e Orentella ? ; Barrai e Borrai ;
Borrainho por Barrainho ! . Borrei por Borrai?; Cacella e
Coselhas por Caselhas ; Cacilhas, Caselha, Coselho, Caselhos,
Coselhas por Caselhas e Cozelhos por Caselhos.
Junte-se : — Carregosa e Corregosa; Cavalhão e Cova-
Ihão; Covallo por Cavallo ; Cavanca e Covanca ; Lambadas
por Lombadas; Lavegada, Levegada e Lobegada por loba-
gada, abundante em lobos. — V. Lobagueira e Lobata.
Somma e segue:
Longarella e Longorella ; Majapão, Malha Pão e Molha-
(') Junte-se Abreiro por Abregueiro.
406 TENTATIVA ET YMO LÓGICO -TOPONYMICA
pão; Marmoiral, Marmonrâl e Mormeiral, de memorial!...
Marzugueira e Murçogaeira por morcegueira, que abunda
em morcegos.
Nabaiaho e Novainho ; Pantilhões e Pontiihões ; Pasmo-
ria por pasmaria?
Cf. Pasmai, Pasmil^ Pasmo é Pasmosa.
Romadinha e Ramadinha; Romagom de Romagão, o
mesmo que Ramagão e Ramalhão.
Rosmono, de rosmano, planta, como Rasmaninhal e
Rasmanial, forma de Rosmaninhal e Rosmaninho, povoações
nossas também ; Saraminheira e Saramunheiro, de sora-
minheira e soramenheiro, e estes dos soromenhos, pereiras
bravas, como Seromenha e Seromenho, etc, etc, povoações
nossas também. (^)
fl, o c U
Sabugal, Sopegal, Supagal e Supegal por Sabugal, po-
voações nossas.
PI e U
Braceiro e Bruceiro ou Braceiro (sic) ; Bulonguinho por
Vallonguinho ; Cârtaxeira e Cartuxeira?; Carutello e Cu-
rotello ; Carutos por curutos; Friande e Friunde?de Ferdi-
nandi, patronímico de Ferdinandus — Fernando, que deu
Fernão e Ferrão.
flça e Ma
flço e fldo
Cortegaça e Cortegada por Cortiçada !. . . Milbaço, Mi-
Iharada e Milharado por milharaca e milharaço?; A Hespa-
nha tem Mijarada e Millarada, em portuguez Milharada.
Também temos Pamaraço e Pomarada, quasi pomaraça;
Taboaço e Taboado !. . . Taboaça e Tabnada.
A Hespanha tem Tabla, Tablada, Tâblaza, Tablazo, Ta-
boada e Taboazas ! . . . Cf. tabuada e tabuado, nomes com-
muns. Também temos Taboadella e Taboadello, diminutivos
de Taboada e Taboado. Junte-se Pedraca e Pedrada, o mes-
(^) V. pagina 229, supra.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMíCA 407
mo que Pedreda, povoações nossas também, como llabaçal,
Ribaçal e Kibadal.
fles c fles
Pecegáes por pecegaes, e este por pecegueiraes.
Cf. Ptícegâl, Pecegaeira, Pecegueiro, Pecegueiros, Pes-
segaido, por peceguedo, e Presigueda por percegueda ou
porsegueda, povoações nossas que tomaram o nome dos pe-
cegaeiros, deturpação de persegueiros, arvores vindas da
Pérsia. Talvez tenham a mesma etymologia, Pexigueiro por
pexegueiro, Pexilgaes por pexegaes, o mesmo que Peoegaes-?
O povo também diz Perzegueda e Prezegueda. A Hespanha
tem Pesaguero em Santander e os gallegos em vez de pece-
gos dizem percêgos ou persôgos ! . . .
Junte se ainda Tojaes e Tujães.
fles, fles e Ões
Perdagaes e Perdigões; Pinhaes, Pinhães e Pinhões
etc, povoações nossas.
fli e I
Bouçainhas e Boucinhas ; Cabrinha e Gabrainha ; Cer-
vainhos por cervinhos, diminutivo de Cervo-veado ? Este-
vainha por estevinha?
Fontainha, Fontainhas, Fontinha, Fontinhas ; Fontais-
cos, Fontascos e Fontiscos ! . . . Longa e Longainha por Lon-
guinha, etc, povoações nossas.
Deu aes e ares no plural.
Cf. Alhal, Alhaes e Alharos ; Casal, Casaes e Casares;
na Hespanha Casal, Casais, Casar e Casares; Felgar, o mes-
mo que felgaJ, Felgaes e Felgares ; Olival, Olivaes na Hes-
panha Clivares; Paíhal, Palhaes e Falhares, povoação nossa ;
Poyal e Poyales na Hespanha ; Poial, Poiaes e Poiares, entre
nós, o mesmo que Poyal e Poyales na Hespanha. Também
Poiares, povoação nossa, pôde vir do antigo portuguez Poya-
res — pilares.
Veja-se no Portugal Antigo e Moderno o meu artigo
408 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMTCA
«Villa Eeal de Traz-os-Montes», vol. 11, pag. 932, col. 2.% e
esta minha louca 2'entatha, pag. 4, supra.
fli C flu
Confronte-se Adalberto, santo ; Alberto, santo ; Alde-
berto, Auber, appellido, e Auberto, santo, formas de Wild-
berth, como talvez Gilberto, também nome d'um santo.
Hildeberta e Hildeberto, nomes actuaes, e Guiberto,
appellido, talvez forma de Gilberto, por Guilberto? e Gual-
berto, santo, etc.^ forma de Walbert por Wilbert ou Wild-
berth?
Junte-SG Arnaldo, nome d'um santo, etc. , Arnau, Ar-
naud e Arnaut, appellidos nossos, diíferentes formas de Ar-
naldo, em francez Arnaud e Arnould, metatheses de Renaud
e Renould, feitos de rein — puro, claro, íino, astuto, e hold-
amigo, como diz Boucrand, vbs. Regnaud, Arnaud e Al-
bert.
flI e 31
Cabral e Cabril; Carral e Carril; Carvoal e Carvoil;
O Bevial por Obevial, Ovial e Ovil^ de ovis, ovelha, como
ovile, curral; Ourai e Ouril, Outeiral, talvez o mesmo que
Ourai e Ouril ! . . .
Junte-se Outil por Outeiril e Outiz por Ouceiriz? Pas-
mai e Pasmil, Passal e Passil, etc, etc, povoações nossas.
Pll e Ou
Monte Alto e Montouto por Mont'alto?; Outeiro por
alteiro, de alto, (Cândido de Figueiredo, etc), e Souto, do
latim saltus, bosque.
flies e flres
Casares por Casales, Casaes; Pombares por Pombales,
Pombaes ; Valladares por valladales, valladaes. Silvares por
Silvadares e este por Silvadales? Confronte-se Silvadal, po-
voação nossa também.
flpt deu flu
Cf. auto, portuguez antigo do século xv — apto, do la-
tim aptus. Thebaida, port. vol. 1.° pag. 44 (nota).
TENTATIVA KT YMOLOGICOTOPONYMICA 409
flu e Ou
Cf. Laureiro e Loureiro ; Laurencia e Lourença ; Lau-
renciano, de Laurentianus, o mesmo que Laurentinus. i, unde
Laurentim, duas aldeias nossas ; Mouro e Moura de J^Iaurus
e Maura; Touro, de taurus,, etc.
B
caprichoso cahindo e surgindo.
Caramancha e Garambancha? Catacomas por catacombas,
catacumbas? Gamboa, Gramoal, Gamoalete e Gamoalinho,
por Gamboal, Gamboalete e Gamboalinho? ; Paramos e Pa-
rambos; Tarima e Tarimba, etc, povoações nossas.
B e D
Alhambra e Alhandra; Badim e Dadim são talvez for-
mas do mesmo nome, como Casal Dasco e Casal Vasco, por
Basco; Baixa e Daixa ; Barra e Darra; Bebereira, vulgo So-
breira, quinta e Dobreira ; Belães, freguezia extincta, junto
de Bretiande, e Delães; Bolciculo e Duciculos?
Cf. Bouça, Boução, Bouças, Rebouça, Redouça, Re-
doução e Redouças.
Rira bien qui rira le dernier! . . .
Cf. Dade e Babe, Bamonde e Damonde, Dardos e Bardo,
singular de Bardos ; Bouro e Douro ; Bragas e Dragas ; Bréa
ou Breia e Dreia;' Bubeiro, masculino de Bubeira e Dobeira;
Cabornegas por Cadornegas, dos cadórnos; Diogo e Viogo,
Donello e Bonellinho por Donellinho. — Cum suis abiacentiis
(por adjacentiisj e cum abicentionibus (por adjunctionibus)
suis.
Vimaranis Monum, 5, 2.*
B, D e \7
Beita por Deita. Cf. Torre Deita, de Ecta, antigo nome
pessoal. Bonelinho por Donellinho, diminutivo de Donello,
povoação nossa; Dalmiro Delmiro e Belmiro? Dalmiro e
Delmiro foram santos; escreder por escrever, om Riodades ;
Raiva, freguezia de Raida, nome d'uma santa, etc. A Tos-
'410 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONyMIOA
cana tem a palavra visenteria na accepção de camarás, dy-
senteria e nós temos muitos vocábulos toscanos. (^)
B e F
Brazão e Frazão, appellidos nossos.
B e b
Cf. Bianor, nome d'uma santa, e Lianor, forma popular
de Leonor ; Bobo, Lobo e Novo ; Boureiro e Loureiro ; Bouro
e Louro; Bouros e Louros; Bousado e Lousado; Bousende
por Bousinde e Luzindo? ! . . .
B, b e \7
Substituiram-so e confundiram-se na idade média.
Badieiro, Ladeiro, Ladoeiro e Lodoeiro, quinta da mi-
nha Penajulia ; Bage e Bages e Baginha, aldeias ; Baiza e
Laija por Lagea ; Bande e Lande.
Bandeira (muitas povoações)^ e Lavandeira; Banhas e
Lanhas; Banhosa e Lanhoso; Beça, Beças^ Leça e Leças;
Beiro, Beirós, Leiró e Leirós; Bello e Lello, appellidos ; Bes-
teiro e Lesteiro; Bicha e Lixa; Bicho e Licho ; Bigar e Li-
gares ; Bilhar e Linhar.
Bobai e Luval por Lobal?; Bobezes e Lcbazes; Bobo e
Lobo; Bodo e Lodo; Bofmha e Lufiuha; Bogo e Logo de
Deus; Bomba e Lomba; Bombarda e Lombarda ; Bombeira
e Lombeira ; Bombinhas, Lomba, Lombas e lombinhas ; Bon-
go e Longo; Bordeira e Lordeira.
Boriz e Buriz, Louriz e Luriz ; Bouçainhas e Louçai-
nha ; Boução e Louçam, por Loução ; Bouceiras e Louceira ;
Bouções e Loucões; Boureiro e Loureiro; Bouro, Bouros,
Louro e Louros; Bousado e Lousado; Bousinde e Luzinde.
Bubeiro, Lobeiros e Luveíro : Búzio e Liizio. Cf. Eulá-
lia^ Olaia, O vaia. Santa Ov^aia, Santa Vaia e Santa Valha
entre nós, Santabalha e Santa Baya na Hespanha. Cf. tb.
Baceira, Baceiras, Baceiro e Baceiros ; Laceira, Laceiras,
Laceiros e Ladeira, Ladeiras, Ladeiro.
(^) V. Diapasão toscano, na 1.* parte d'esta minha louca Tentativa
Etymologica,
TENTATIVA KTYMOLOGICO-TOPONYMICA 411
Labata de Lobata ou Valata, Vallada ; Labeado de Ba-
leado, Bailado ou Valiado?; Laboucinho de La por Al Bou-
cinho ;
Lagos e Vagos, vi Ha em contacto coro patameiras e
lagos da ria d'Aveiro ; Lilla o Villa (Veiga de Lila) ; Lillela
o Villela; Valim e Lalitn ; Vares e Lares; (^) Vedoiro e L?-
douro ; Veiros e Leíros, povoações nossas como Veiros e
Leirós.
B e m
Bacalhau por Má Calhau ou Máu Calhau? Cf. Matta
Má^ Lamamá, Quinta Má e Pedra Má, Pena Bôa e Panamá,
por Pena ou Penha Má, tal é a serrania que forma o istmo
de Panamá.
Bacalhôa e Macalhona, forma callaica de Macalhôa? Ba-
calhôa e Macalhona são povoações nossas; Baçal e Maçai;
Baçar, o mesmo que Baçal e Maçai ; Baceira e Maceira ; Ba-
ceiras e Maceiras; Bacias, 1 aldeia e 3 casaes, por Macias,
dô Macia, casal? V. Massia em Figueiredo ; Masouco ; Massa,
Massarellos, Maçada, Villar de Massada, povoações nossas;
e masia em Valdez.
Também Bacias pôde ser uma forma de Cacias, casi-
nhas; Bacunhal por Má- Cunhal ou Mau Cunhal; Badões e
Madons, forma callaica de Madões.
Baganha e Maganha ; Bagorrinho e Bagorro ; Magurra
e Magurro por Magorro ? Bagunte e Magonte; Bairos, Mai-
ros e Pairo, singular de Pairos ; Bala e Mala; Í3alaia e Ma-
laia?; Balhadouro e Malhadoura, quasi Malhadouro, mas
talvez que Balhadouro seja uma forma de Banhadouro,. po-
voação nossa também, pois Ih e nli confundiram-se.
Balhôa, Malho e Malhoa, appellidos ; Banhos e Manhos ;
Banhosa e Manhosa ; Barchiena e Marchiena ; Barco e Marco,
Barcos e Marcos; Barge, Vargem e Margem; Bário e Mário.
Junte-se: Barqueiros, Marqueiro, appellido e Marquiros,
herdade í Barra e Marra; Barrada e Marrada Alta; Barran-
cha e Marrancha, corcovado; Barrancos e Marrancos?; Bar-
rão e Marrão; Barreiras e Marreiras; Barreiros e Marreiros;
Barrocal e Marroquil por Marrocal.
Barrocos e Marrocos, aldeia; Barros e Marres; Basco,
(^) Vares pôde ser' também uma forma de Valles, pois / e r trivial-
mente se confundiram.
412 TENTATIVA ETÍMOLOGíCO-TOPON YMICA
Bascos e Maseos ; Batas e Mattas ; Batoque e 2»[etoque;
Bazorra, Massorra e Mazorra; Beco e Meco; Bedim e Me-
dim ; Bega e Mega: Beira e Meira; Beiral e Meiral; Beire,
Boire e Moire. Cf. Beiranita e Boiranita ; Beires e Meires ;
Beiriz e Meirins; Bejota e Mejota? ! . .
Belchior e Melchior; Bella e Mella; Bellinho e Melli-
nho ; Bello e Mello ; Bilhào e Milhão ; Bioco, Miogo e Viogo ;
Bocho e Mocho; Bofarda, Bufarda e Mufarda!. . .
BogadelJa, diminutivo de Bogada e Mogada. Cf. Voga-
Bossejo e Mocejo ; Boreira e Moreira; Boreiras e Mo-
da ; quasi Bogada ; Bógo e Mógo ; Boeiro e Moeiro; Bóia,
Goia e Moia; Boinhas, plural de Boinha e Moinha; Boire
e Moire; Boliqueime e Mogueime, e Muqueymes em Orense.
Bossejo e Mocejo ; Boreira e Moreira ; Boreiras e Mo-
reiras ; Boriz, Morins e Mouriz, Bormella por Barmella e
Marmella; Borracheira por Borraceira? Murraceira e Borra-
zeira ; Borracheiro por Borraceiro? Borrazeiro e Berreiro, de
Borra e por extensão lama.
Bortaes, Mortaes e Murtaes ; Bota e Motta ; Botas e
Mottas ; Bouçós e Moucos; Bouquinhos e Mouquinho; Bou-
ro e Mouro; Bouros e Mouros; Bozelha e Mozelho, mascu-
lino de Mozelha ; bugiganga e mogiganga ou mugiganga,
dança burlesca, momices, trejeitos. São formas do mesmo
nome tiradas de bugio.
Felisbina e Felisbino; Felisrnina e Felismino, sãó no-
mes pessoaes; Maladão e Vailadãu; Malado e Vallado ; Ma-
lagão e Vallagões, plural de Vallagão; Malagueira e Valla-
gueira; Marzelona por Barcelona; Mascozello por Bascozello
ou Vascozello^ de Vellascucellus. V. Vasconcellos, Vasco,
Vascões, Vasques e Vasquinho.
Mendeira e Vendeira ou Venteira; Mertoldos por Ber-
toldos, de Bertoldo ; Merufe por Berufe, o mesmo que Brufe,
de Ebrulfus, i; Murraceira e Morreira por borraceira e
borreira; Sarabagos e Saramagos; Vegide e Megide; Verim
e Merim ; Vinhos e Minhós, etc, povoações nossas.
B e n
Babaes e Nabaes ; Babe, aldeia, por Nave ; Babainho e
Nabainhos ; Baceira e Baceiras por Naceira ou Nasseira e
Nasseiras ; Baceiro e Naceiro ; Baceiros e Naceiros ! . . Ba-
teiras e Nateiras ! ; Bellas e Nellas ; Bello c Nello ; Bespral e
Nesperal ; Bico e Nico ; Biqueira e Nigueira ; Bóia e Noia ;
TENTATIVA KTYMOLOOICOTOPONYMICA 41B
Bobai, Nobal e Noval ; Bobo, Lobo, Nobo. Cf. Nobo, Nobos
e Novos, povoações nossas.
B e P
Ba, be, bi, bo, bu, e pa, pe, pi, po, pu.
Baçal e Passal; Baceiros, Palaceiros e Passeiros ; Baço
de Boi^ por Passo de Boi ; Bácora e Pecora, proviacianismo ;
Bade e Pade; Badela e Padella; Badieiro e Pardieiro?; Ba-
dim e Padim ; Badões, Padrões e Madons ; Bagões e Pagons,
por PagOes ; Baião e Paião ; Baiol e Paiol ; Bairos e Pairo,
singular de Pairos ; Bala e Palia ; Balaia e Palaia, appellido,
e Palaios, aldeia.
Balancho, Balanxo, Ballanxo e Palancha, feminino dePa-
lancho. Cf. Vallancho, sitio próximo de Luso ; Baleia, em
latim balena e Falena ; Baleira, Paleira e Valleiraí Balesta e
Palestra por Palesta? Balha e Palha, appellidos ; Ballinha,
Vallinha e Pallinha ; Ballão e Paião; Banhas o Penhas; o
povo diz Panhas.
Baloca, Palorca por Paloca e Valouta por Valouca, o
mesmo que Valloca? e Balouça, povoação nossa também como
Balouta e Balouto. Nós temos Baloca e !^>alocas ; Baloco e
Balocos ; Balota, Balouça e Balouço ; Balouta e Balouto ; Pa-
lorca, Valuuta, Balurco e Balutos.
Banco e Panco ; Bandeira, Pandeira e Salto da Pandeira ;
Bardeira e Pardeiro, masculino de Pardeira ; Bardo e Pardo;
Barja, Parja, e Varja e Várzea; Barra e Parra; Barrada e
Parrada ; Barradinho e Parradinhos ; Barrado e Barrados;
Barrai e Parral ; Barreira e Parreira ; 13arreiras e Parreiras ;
Barreirinha e Parrsirinha ; Barrella e Parrella ; Barrinho e
Parrinho; Barroja e Parrocha por Parroja?; Barrota, appel-
lidoj e Parrote por Barrote ?
Basseiro e Passeiro ; Basto, Bastos e Pastos ; Batacas e
Patacas ; Bataquinhas e Pataquinhas ; Batas e Patas ; Bateira
e Pateira; Batudes, quasi batudos e Patudos ; Baúlo e Paulo;
Beba e Peva ; Beça, Bessa e Peça ; Bechos e Pecho, singular
de Pechos ; Beduido e Pedorído por Peduido? (^)
(^) Beduido por Vedoido é metathese de vidoedo por vidoeiredo
bosque ou matla de vidoeiros, o mesmo que bétulas.
Cf. Biduedo ou Viduedo (sic), Bidueira, Vidual por Vidueiral, Vi-
duedo, Vidueiro e Vidueiros, povoações nossas também.
Pedorido vem talvez do latim petoritum — o carro ou a carroça li-
geira de quatro rodas. V. Magniim Laxicon.
4U
TENTATIVA KT YMOLOGICO-TOPON YMICA
Beixinheira, por Peixinheira, Peixeira?; Bella e Pella;
Benello e Penellos, plural de Penello ; Bera e Pêra ; Berlen-
gas e perlengas ; Berrai e Perral ; Bias e Pias, mas Bias foi
também um sábio da Grécia! Bica e Pica; Bicada e Picada;
Bicadas e Picadas; Bicalho e Picalhos, plural de Picaiho ;
Bicanha e Picanha, feminino de Picanho; Bicha e Picha;
Bicheiro, Pigeiro e Pigeiros por Bicheiro e Bicheiros ! . . .
Bico e Pico ; Bicos e Picos ; Bidarra e Pigarra ; Biscossa
por piscosa?; Bizoeircs e Pisoeira, feminino de Pisoeiro ;
Boas Eiras e Poaxiras por Poaxeiras (') ; Bocarinho, Pucarinho
e Pucarinhos ; Boeiras e Poeiras; Boeiro e Pceiro; Boisão e
Pousão por Poisão?; Bolão e Pulào ; Bolegueira e Pulgueira?
Cf. Pulga, Pulgas, Pulgueiros e Venda das Pulgas.
Bolo e F^olo ; Bombeira e Bombeira; Bombinhas e Pom-
binhas; Borbelia, Porvella, Porverba! e Provella, diminutivo
de Prova, bacellada, vinha nova.
Botão e Potam ; Bragal, Pargal e Pragal.
Bragança e Bragança; Brunhal e Prulhal; Brunheira e
Prulheira ; Bucara por Pucara. Cf. Pucariça, Pucarinhas, Pu-
carinho e Pucarinhos^ povoações nossas ; Bugalho e Puja-
Iho ; Bugalhos o Pujalhos ; Burga e Pulga ; Burgueiros e Pul-
gueiros.
Buxo, casal, Debuxo, arbusto, do latim buxus, e este
de grego puxos; Campizes, De Campezes por Cambezes, de
canabis, o linho cânhamo. V. Cambeiro, Cambelhe, Cam-
bellas, Cambezes, Cambiaço, Canameiras por Canabeiras,
chãos da Villariça, destinados para a cultura do cânhamo.
Junte-se Canavezes, Caneve, Canevezinhos e Cavez por Ca-
navez, singular de Canavezes.
Palazim e Vallazim; Palenca e Valença; Palias e Vai-
las; Parracheira e Barra Cheia por Barracheira; Pecelada e
Pecelar. V. Bacellada e Bacellar por Baceilal ; Praçaes e Ba-
raçal, singular de Baraçaes ; Ribança e Ripança, ponto do
Douro ; Sabugal, Sopegal, Supagal, e Supegal por Sabugal,
etc.^ povoações nossas.
B e R
Banginha e Ranginha ; Banhado e Ranhado ; Banhadouro
e Ranhadouro ; Banhas e Ranhas, etc, povoações nossas.
(') Posxeiras é diapasão cailaico cie Poas Eiras por Boas Eiras.
A bússola é o ouvido.
TENTATIVA KTYMOLOaiCOTOPONYMICA 415
B e T
Bacelinho e Tacelinho por Bacelinho? etc, povoações
nossas.
B por U
Encontra-se no antigo portuguez, ob por ou. V. Ob no
Portugal Antigo e Moderno e no Elucidário de Viterbo.
B. U e W
Cf. Ubaldino do Amaral (Dr.) nome actual no Brazil.
E' lá director do Banco da Republica; Wladisláu e Ladis-
láu ; Baltar, Balteiro, Balter, etc, são formas de Walter. (^)
B e V
Baçal e Vassal; Bacaria e Vacaria; Bacarice, quasi Ba-
cariça e Vacariça ; Bagueira e Vagueira; Bailadouro por Bal-
ladouro e Valladouro; Balancho, por Valancho, Valle ancho;
Baleira e Valeira; Baleizão e Valeizão ; Becaría e Vacaria;
Beladãos por Valladãos; Bermil por Vermoil, de Vermundi-
nus, i, como Vermoim ; Bulonguinho e Vallonguinho; Ca-
bana e Cabanas, Cavana e Cavanas, etc , povoações nossas.
B e V7
Anobra, de Hanower?; Swazilandia ; Wolfran, metal
que abunda no nosso paiz e é caro ! . . . Cf. Wolfran e Wul-
fran, Wlfrão nome germânico e nome d'um santo, etc, e ve-
ja-se W no índice da 1.* parte da minha louca Tentativa,
Bq e Ca
Bacias e Cacias. V. Cacia, Cacilhas e Caxilhas; Badou-
ços e Cadouços ; Badamallos por Cadavallos? Cf. Cadaval.
Barata e Caratão, quasi Caratã ; Barosa e Baroso por
Barrosa o Barroso, e Carosa por Barosa e Barrosa. Carosa,
(^) V. pag. 41, 104, 364 e 365 na l.--^ parte d'esta Tentativa Eiymo-
lógica.
416 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPON YMICA
povoação que eu muito bem conheço, na freguezia de Cam-
bres, junto de Lamego, demora em chão mimoso e muito
fértil. Barreteira e Carreteira; Barreto e Carreto, etc, po-
voações nossas.
Ba e Ga
Balazar e Galazar por Balazar, povoações nossas, de
Belisarius, ii, Belisiario, antigo nome pessoal.
Bobadella e Bogadella por Bobadella, povoações nossas;
de Abobadella, diminutivo de Abobada, nome de varias
povoações nossas também, como Abobadas, e Aboadella por
Abobadella?
Fiat lux.
Ba e Pa
Mesmo no Japão, v. g.
Barabara e parapara, ruido do que cahe, do que se dis-
persa, como a chuva, como uma multidão d'homens que se
dispersa para um e outro lado. Batabata e patapata, ruido
de bater das azas das aves ou de portas que se fechem viva-
mente.
«Carta do Japão» no Gommercio do Porto de 20 de ja-
neiro de 1906.
Também os árabes marroquinos em vez de pa dizem
ba, como Ichbânjâ por Tspania ou Hespanha.
Mem. Henriquina, d'Alfr6do Alves, pag. 52.
Barroca, Barrocaes, Barrochaes por Barrocaes e Barro-
quinha ; Parrocha por Parrooa e este por Barroca ; Parro-
chinha por Parroquinha ?, como Barrochaes por Barrocaes.
Notese que eh e k o\i q por vezes se confundiram e
substituíram na onomástica portugueza. Veja-se o tópico eh
e Jc ou $, pag. 301 e 304, na 1.» parte d'esta minha louca
Tentativa,
Bi e Pi
o povo ainda hoje diz supito e supita, em vez de súbito
o súbita, V. g. de supito ; morte supita, etc.
Bo e Do, Go e ÍHo
Cabornegas por Cadornegas; Bogim e Gogim; Bóia,
Goia e Moia? etc, povoações nossas.
TENTATIV^A ETYMOLOaiCO-TOPONYMIOA 4l7
Bra e Fra
Branca e Franca: Brancas e Francas, Brancelhe e Fran*
celha ; Brancelho e Francelho ; Branco e Franco ; Brancos e
Francos ; Br an queira e Franqueira ; Brazão e Frazão ; Bra-
zoes e Frazões. Cf. também brazumeira, portuguez popular,
— monte de brazas, e Frazumeira, povoação nossa.
C e D
Mirancas, Mirancos ; Mirandas, Mirandos e Miranquinhos,
diminutivo de Mirancos ? ! . . .
A Hespanha tem Miranda, Mirandella e Mirandilla ;
não tem Mirandas, nem Mirandos, nem Mirancas, nem Mi-
rancos, mas tem Miranciiios, quasi Miranquinhos.
Montido por Montico? — Cf. Montarecos, Monteco 6
Montecos, Montijo, Montijos, Montinho e Montinhos, povoa-
ções nossas.
C e D
ça e da, ce e de, ci e di.
Cf. Arregaça por A Regaça e Regada ; Cortegaça e
Cortegada ; Mocifas e Modivas ; Regacinha e Regadinha ;
Reganceira, quasi Regaceira e Regadeira, povoações nossas,
como Ribaçaes e Ribadaes, Ribaçal e Ribadal, etc.
C, F, 5 e T (ínicíaes)
Parece que também se confundiram e substituíram :
Carrascal, Tarrastal, Tarrasteira ? Terrastal ; Carras-
queira, Charrasqueira, Sarrasqueira e Tarrascal ; Ceira e
Teira; Celho, Selho, Telho e Telho; Cibões (por Cibaes?) e
Tibães ; (Jioga e Tinoca; Faião, Saião e Tayão ; Favacal e
Tavacal ; Favella e Tavilla ; Favaqueira e Tavagueira ; Fava-
riz e Tavarez; Favarrel e Tavarella.
Fonda em Hespanha, e Tonda ; Fundego e Tondogas,
povoações nossas.
Fontão e Tontão ; Fontella e Tondella ; Fontello e Ton-
tello ; Fontinha e Tontinha ; Fontinhal e Tontinhal ; For-
neira e Torneira; Forneiro e Torneiro; Forneiros e Tornei-
ros; Forno e Torno.
27
418 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Fruita, fructa e Truite ; Truta, Trutas e Trute, aldeias e
uma freguezia; Sabeira e Taveira; Sabeiro e Taveiro ; Sa-
cões e Tacões ; Sagasta, appellido hespanhol, e Tagasta, an-
tigo povo hespanhol.
Sainde e Tainde ; Salaborda e Taborda ; Sarael, Samuel
e Tamel; Sanque e Tanque; Sardoeiro, Sardoura e Tar-
douro; Sarroeira, Tarrogeira e Tarrueiro; Seixedo, Seixido e
Teixedo; Seixeira e Teixeira; Seixo e Teixo; Seixoso e Tei-
xoso ; Semide, Themido e Themudo ; Semonde e Themonde ;
Sezite e Thesido; Silvalde e Thibalde, etc, povoações nos-
sas.— Fiat lux,
C e K OU Q
Boucinhas, Boucinho e Bouquinhos por Boucinhos ? ;
Carroqueiro, por carroceiro?; Cercal de quercal, Carvalhal;
Cercosa por quercosa, como Cerqueira por querqueira, do
latim quercus — carvalho.
Cf. Carvalheira e Carvalhosa.
Cerqueda por querqueda, Carvalheda ; Cerquedo por
querquedo, Carvalhedo ; Cerqueiral por querqueiral ; Carva-
Iheiral ; Cerqueiras e Carvalheiras; Cerquida, Carvalhida?
Cerquidello, diminutivo de Cerquido, Carvalhido ; Cerqui-
nho appellido, e Carvalhioho ; Cerquinhos, Carvalhinho?,
etc, povoações nossas.
C e P
Confronte-se Alporão por Alcorão, velha Torre de San-
tarém.
Veja-se Santarém no Portugal Antigo e Moderno, vol. 8, o,
pag. 449, col. l.a e nota 1.
Confronte-se também Cauca e Pauca. — V. Cauca, Cas-
surado e Vi lia Pouca d' Aguiar no Portugal Antigo e Moderno.
Escariz e Espariz. etc, povoações nossas.
E' trivial na Irlanda, v. g. cran por pren ou pran. Tam-
bém na Baixa Bretanha ou Armorica dizem cenn por peiín,
cabeça. — V. Pencran em Guiliou, pag. 113, mihi, O cá e pá,
có e pó supra, serão reminiscência dos celtas?
C por Q e uice-uersa
Ancião, Anquião e Inquião ; Calamanda ou Calamandra,
TENTATIVA KTYMOLOGICO-TOPONVMICA 419
nome cl'uma santa, etc, o mesmo que salamandra?; ^ Cano-
sa, Chanoca por Cbajioça e Cbanosa ; Carroqueiro por carro-
ceiro ? — Cimbres e Quimbres : Cimico e Quimico ; Cintas e
Quintas ?
Coalbal e Soalbal ; Coalbeira e Soalbeira ; Cobra e So-
bra ; Cobrada e Sobrada ; Cobrados e Sobrados ; Cobrai e
Sobral ; Cobreira e Sobreira ; Cobro e Sobro ; Cobrosa e So-
brosa ; Codes e Sodes ; Cceira e Soeira ; Colarinha e Sola-
rinho, aldeia, masculino de Solarinha ; Collares e solares.
Veja-se Solar, aldeia.
Comas e Sommas ; Courellas e Sourellas ; Courinha e
Sourinho; Coutana e Soutana ; Couteiro e Souteiro; Coutello
e Soutello ; Coutinha e Soutinha ; Coutinho e Soutinho ;
Couto e Souto; Coval e Sobal por Coval? Covellas e Sovei-
las; Jeguinte e Jeguintes, de Jacintus, i, is, que se lia Ja-
kintus, Jakinti, Jakintis, de Hiacinthus, i.
Joazim por Joacim, o mesmo que Joaquim ; Lapaduços
e Sapaducos, formas do mesmo nome?; Maçada, Maçada e
Massada.
Pacar por passar, como diz a velha inscripção seguinte :
Emquanto tiveres delas, 2
Mira por ti, sê prudente ;
Assim como pacas a ponte,
Paca a vida brevemente.»
Antiga inscripção da ponte do Prado, sobre o rio Cavado.
Samossa por Samoça e este por Samoca, o mesmo que
Saboga, Sabuga, Sabogueira e Samoqueira.
Sarraquinhos de Sarracinos, sarracenos.
Confronte-se Sarrazim e Serrazim por Sarracim ; Sin-
tião por Cintião e Quintião? Sirão de Cirão. Y. Queirão e
Queiroz, Sirol, Siroles e Siroes; Soudel e coudel por Çoudel.
C OU 55 e D
Cacem e Cadem ; Cadema, Cadima e Cassima, p. nossas.
1 Note-se que os santos algumas vezes por humildade acceitavam
como nomes próprios os apodos com que os affrontavam.
Assim se explica o facto de haver santos com os nomes de Urso,
Ursino, Úrsula, Tigre, 'iigrio, Leopardo e talvez Calamandra por Çala-
mandra, o mesmo que Salamandra.
'^ Ideias, vida.
420 TENTATIVA ETYMOLOGTCO-TOPONyMICA
C e T
Alcarva, Carva e Tarva ! . . . De carpa, carpalha, que deu
Carvalha, Carvalho, Carvalhosa, Carpalhosa, etc, povoações
nossas ; attonito e atolico ; Barroso e Tarroso ; Calhariz e
Tralhariz por Talhariz ; Cameirão e Tameirão, appellidos,
são formas do mesmo nome tirado talvez de canabeirão ou
canameirão ! — Confronte-se Canameiras, chão da Villariça,
destinado à cultura do canamo ou cânhamo.
Carimba e Tarimba; Carocha, Carochia, e Taroija por
Caroicha ? Carrascal, Tarrascal, Tarrastal e Terrastal ! Carta-
ria e Tartaria; Coreixas e Tureixas, Tabarca por Cá-Barca?
Tagilde, Cagide, Cagil e Cahide por Tagilde,
Talaminho por Cá-Caminho? Confronte-se Laminho e
Laminhos por Lameirinho e Lameirinhos, povoações nossas
também. Talasnal por Cá-1'asnai e este por Cá-rArnal. De
Arnal por Arenal. povoações nossas ; Tamal por Carnal e este
por Camarnal, povoação nossa, como Tamel por Tamal. Tâ-
mara, aldeia, por Camará? — Note se que em Portugal são
raras as palmeiras que dão tâmaras; Touvedo por Couvedo?
Confronte-se Couval, Couve, Couvelha, Couves, etc, povoa-
ções nossas.
Ç e Z
Canizal por caniçal e Canizes por canices. Confronte-se
Alcaniz, Alcaiiices e Canices, povoações da Hespanha.
Ca e Cha
Camparão por Campanão, e Champanão por Campanão?;
Chabocos e Caboucos ; Chaboteira e Caboqueira por Cabou-
queira ; Chabouco e Cabouco ; Chabrinha e Cabrinha ; Cha-
deira. Cadeira, (Ca-d'Eira, Caeira, Caeiro?) Chaeiros e
Caeiros.
Chaes e Cães; Chafé e Café? de Japheth, Chaim e
Caim? Chamboa e Gamboa; Chamboeira de camboeira por
Gamboeira ; Chamboinha por Gamboinha; Champana e Cam-
panas.
Chanal e Canal ; Chancella e Cancella ; Chancrão por
Cranchão e Granjão ; Chanosa por Canosa, em castelhano
soa Canoça, unde Camossa, appellido ; Chapinha e Capinha;
Charitas por Caritas, etc, povoações nossas.
TENTATIVA KTYMOLOGICOTOPONYMICA 421
Ca, Co, Cu
e Da, Do, Du
Dardos e Cardos; Darei e Garei?; Daroeira e Caroeira ;
Dobra e Cobra; Dobreira e Cobreira; Dobrigo e Cobrica;
Donde, aldeia, e Conde ; Donegas e Conega, ou Donégas por
Conéga«, coelhas, Confronte-se Coelhas, povoação nossa.
Dorna e Corna; Domes e Cornes; Dume e Dames, Cu-
me e Cumes; Durrães por Durraes e Curraes; Mirandas e
Mirancas ; Mirandos, Mirancos e Miranquinhos, povoações
nossas. Junte-se perca e perda, substantivos femininos com
igual significação.
Ca, Co, Cu
c Ga, Go, Gu
Cavião por Gavião; Caviões por Gaviões; Continha e
Gontinha; Continho e Gontinho; Contumil e Gontomil; Cor-
vella e Gorvella ; Cravello e Gravellos ; Crixó e Grijó.
Cava e Gava; Gaya e Caya ; Gonde e Conde; Gondeixe
e Condeixa; Gonta e Conta; Gondim, Gontim e Contim;
Gunha e Cunha ; Labreco por Labrego ; Couxaria, Gouxaria
e Moucharia, "oovoacões nossas.
Ca, Co, Cu
e ma, mo, mu
iniciaes, confundiram-se e substituirarn-se:
Cachouça, Cachouças, Machoça e Machossas ; Cachuxo e
machucho ; Caçoeira e Maçoeira por Macieira? Cadarnedo por
cadornedo, cadorneiredo. — Veja-se Cadorneiro, Codorneiro,
Codornelias e Codorno.
Madorna e Madorno por Cadorno ? posto que Madorna,
Madorno, Madroa, Madroeira e Madroneira, podem vir dos
medronheiros^ em gallego madroucros?
Cadeiras, aldeia, e Madeiras; Cafarro e Mafarra ; Ca-
gide e Magide ; Cainha, Cainhas, Mainba e Mainhãs ; Cairos
e Mairos; Calheiros e Malheiros; Calvedo e Malvedo ; Cal-
veira e Malveira ; Canhão e Manhão ; Cancellos e Mancellos.
Carécos e Marécos ; Carimba e Marimbo ; Cariola, Ma-
rivila e Mariola ; Carmelleiro e Marmeleiro ; Carnota e Mar-
nota ; Carutello, Curutello ; Carutos e Marutos.
422 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMTOA
Carvalho e Marvalho ; Carvão e Marvão ; Cascarria e
Mascarra ; Catão e Matão ; Catadouros, Matadouro e Mata-
douros ; Catellas, Matella e Matellas ; Casa e Casas (no dia-
pasão castelhano lê-se caça e caças); Maça, Maças, Massarel-
los ; Massas, Massorra e Mazorra. Nós temos Casarollas e
CasaruUos que auctorisam as formas casarelios e Massarellos.
Co e Mó ; Coço e Moço ; Cochão e Mouchão ; Cocharro,
Moxarro e Muxarro ; Coeira, Moeira e Moleira; CoUares e
Molares ; Comeira e Momeira ; Conegundes ou Munegundes,
nomes de Santos; ^ Continhal e Montinhal; Continho e Mon-
tinho ; Corim e Morim ; Corjáes e Murjáes ; Coutinho e Mou-
tinho; Couxaria e Mouxaria ; Coz e Moz; Curalha e mura-
lha, etc, povoações nossas.
Ca, Co, Cu
e Ta, To, Tu
Veja-se paginas 336 e segg. da l.a parte d'esta minha
louca Tentativa Etymologica,
Ca e Ga
Cadilhe por cadilho, este por Cadinho e este por gadi-
nho, como Gadunho, povoação nossa ! . . . Confronte-se Gadi-
che e Guediche por Gadicho e este por gadinho ; Guedieiros
por Gadieiros ; Gadanha por Gadenha ; Gadelha, Gadelho,
Gadenha, Gados, Guedelha, Guedelhas, Guedelhinhas, Gue-
dexe, etc, povoações nossas que tomaram o nome do gado,
como talvez Caieiros e Gaieiros, por Gadieiros?; Caia e
Gaia ; Cainho e Gainhos ; Cairos e Gairos ; Calão e Galão ;
Galinha e Gallinha; Callecas e Callegos por Gallegas e Gal-
legos, povoações nossas.
Calvão e Galvão ; Calvões e Galvões ; Cambellas, Gam-
bellas e Gamellas ; Camboa e Gamboa; Camélia e Gamella;
Camilla e Gamilla; Canados e Ganados; Canal e Ganal ;
Cançaria e Gançaria; Candoso e Candoxo por Gandoso?
Canhoteira e Ganhoteira ! Canilho e Ganilhos ; Carção e
Garção; Cardaes e Gardaes ; Cardai e Gardal; Cardanha e
Gardenha por Gardanha ; Cardão e Guardáo.
Veja-se o meu Diccionario d'Appellidos.
TENTATIVA KTYMOLOOICO-TOPONYMICA 423
Carem, Carim e Garim ; Carrão e Garráo ; Carvão e Gar-
vào ; Casa e Gaxa? Casaria e Gaxaria? Casconha e Gasco-
nha : Caseta e Gazeta ; Casinha e Gaxinlia ? Cata e Gata ; Ca-
tão e Gatão ; Catella e Gatella ; Cato e Gato ; Cavallaria e
Gavaria ? Cavião e Gavião; Caviòes e Gaviões;
Junte-se finalmente Caetano, aldeia, nome pessoal e no-
me d'um santo, pois Caetano é uma forma de Gaetano, nome
pessoal italiano, tirado de Gaêta, cidade da Itália.
Gaetano foi um famoso violista italiano, que falleceu em
Milão no mez de novembro de 1907.
Entre nós também o povo geralmente diz gacho em vez
de cacho.
Ca e Gua
Por Gq e Ca
Cardai, Cardaes, Cardeira, Cardelha, Cardella ; Cárdia
por Cardaria: Cardiga por Cardida ; Cardosa e Cardoso; Car-
dunxal por Cardosal ? ; Gardaes por Cardaes ; Gardal por
Cardai; Guardaes por Gardaes; Guardai por Gardal; Guar-
dão por Gardão, este por Cardão, e este por Cardalão.
Guardeira por Cardeira; Guardete por Gardete, e este
por Cardete, contracção de Cardalete ! — Confronte- se Pu-
nhete por Pinhete, contracção de Pinhalete, etc. Guardilho
por, Guardinho, de Gardinho por Cardinho ou Cardalinho ;
Guardinhos por Cardinhos, Cardalinhos ou Cardainhos; Guar-
dizella por Gardizella, de Cardizella por Cardozella, diminu-
tivo de Cardosa.
Todas estas e outras muitas povoações nossas tomaram
o nome dos cardos, planta arbustiva, mas muito prolífica na
onomástica portugueza.
E' assim a arte-nova — e rira bien qui rira le dernier ! i
Ca e ha
Cabage e Lavage ; Cabos e Lavos ; Caceira e Laceira ;
Cacem e Lacem ; Cadeiras, aldeia e Ladeiras ; Cadoeira e La-
^ Junte-se ainda Gaitar e Gualtar, o mesmo que Alter, Alters, Gual-
ter, Valtir. Walter, Baltar, Balteiro, Valteiro, Balter etc. povoações nossas,
cuja raiz é Walter, nome germânico.
Veja-se paginas 41, 104, 364 e 365 na i.a parte d'esta minha louca
Tentativa Etymologica, e a lettra W no Índice.
424 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPON YMICA
doeiro, quasi Ladoeira por Lodoeiro e lodoeira, do lodo ou
dos lodos por lódãos, arvores.
Caeira e Laeira ; Cagidía e Lagidas, plural de Lagida ;
Cagide por Cagido e Lagido ; Camarão e Lamarão ; Caminho
e Laminho ; Camoça e Camossa, appellidos e Lamosa, em
castelhano Lamóça ou Lamossa. Em Pontevedra ha Lamosa.
Campas e Lampas ; Candal e Landal ; Candedo e Lan-
dedo ; Oandeira e Landeira ; Candeiro e Landeiro ; Canhoso
e Lanhoso?! ... Capa e Lapa; Capas e Lapas; Capinha e
Lapinha ; Caracha e Larachas ; Carção, Garção e Larçáo.
Cardosa e Lardosa ; Cargo e Largo; Carim, Garim e
Larim ; Casalão, Casão e Lazão, Cascas ou Lascas e Lascas
ou Cascas (sic) ; Cata, Gata e Lata ; Cata-peixe 3 aldeias ;
Cata-rouxos, aldeia ; Confronte-se pintarroxo, ave ; Catarredo
ou Cata-redol, aldeia; Cata-sol, 3 aldeias; Cata-tem, aldeia;
Ca-te-fica? aldeia; Catem por Catatem? duas aldeias; Ca-te-
vejo, quinta ; e Cá-vae.
Cavado e Lavado ; Cavadouro e Lavadouro ; Caveiras e
Laveiras ; Cederma ou Sederma (o povo também diz Sedes-
ma) e Ledesma. Confronte-se Ciderma, Yiterma e Seramena,
por Seramenha^ dos soromenhos ? I ^ Gateira e Lateira, La-
te-fica, herdade ou casal, e Cá-te-fica, aldeia, supra ; Latoeira
por gatoeira, unde Gateira e Lateira?!... etc, povoações
nossas.
Ca e fHa
Caceira e Maceira ; Cachada e Machada ; Cachadas e
Machadas, muitas povoações? Cachadinha e Machadinha';
Cachadinhas e Machadinhas ; Cachoça, Machoça e Machossas ;
Caçoeira e Maçoeira ; Cadeiras, aldeia, e Madeiras ; Cadei-
reiros por madeireiros ? unde talvez Madeiros e Medeiros, po-
voações nossas, e Medeiros, appellido.
Cadorno e Madorno ; Caeiros e Maeiros : Cafarro e Ma-
farra ; Cagide, Magide, Megide e Vegide ! Caia e Maia, Cai-
nha e Mainha; Cainhas e Mainhas ; Cairos e Mairos ; Cajada
e Malhada ; Cajadães e Malhadãéilí^ Cajados e Malhados ; Ca-
jam por Cajão e Malhão.
Calado e Malado ; Calheiros e Malheiros ; Calva e Malva ;
Calvada e Malvada; Calvas e Malvas; Calveira e Malveira;
Veja-se pagina 229, supra.
TENTATIVA ETYMOLOCUCO-TOPONYMICA 425
Camões e Mamões. ^ Canello e Manellos; Cancellos e Man-
cellos ; Canga e Manga; Cangas e Mangas; Cangueiros , Villa
Chã de) e Mangueiros.
Canhão e Manhão ; Canhoso e Manhosa ; Canhoto e Ma-
nhoco por Manhoto ; Cannas e Manas ; Canteiras e Manteira ;
Cantellães e Mantellães ; Cantim, que deu ou podia dar Con-
tim, Landim, Mandim e Mondim !
Canoa e Manôa; Cão e Mão; Carão e Marão; Carécos e
Marécos ; Careiro e Mareira ; Carim e Marim; Carimba e
Marimbo ; Carinha e Marinha ; Carinhos (Ribeiro dos) e Ma-
rinhos; Carioia e Mariola; Carmeleiro e Marmeleiro!
Carnota e Marnota! Marrada Alta por Carrada Alta?!
Carrão e Marrão ; Carreiras e Marreiras ; ( arreiros e Mar-
reiros ! ; Carroceiro e Marrouceiro por Marroceiro ? Carros e
Marros !
Cartem e Cartim por Martim ; Cartes e Martes ; Carutos
e Marutos ; Carvalho e Marvalho ; Carvão e Marvão ? ! . . . Cas-
carria e Mascarra ; Casqueiro e Masqueiro ? Cata e Matta ;
Catadouros, plural de Catadouro 6 Matadouro.
Catão e Matão ; Catella e Matella ; Catellas e Matellas ;
Mão de Ovelheiro por Cão de Ovelheiro ! . . . Mão pelo Cão.
Mascanho, de Cascanho por Castanho ; Mathueira, de catoeira
por gatoeira. Confronte se Gataria e Gateira, povoações que
tomaram o nome dos gatos bravos ou teixugos, como Teixu-
geira, etc.
E* assim a arte nova.
Ca e Pq
Co e Po
Cadella, aldeia, e Padella ; Cadinho e Padinho ; Cadraço
e Padraços; — Caires e Paires; Cairos e Pairos ; Calaceiro,
aldeia ; Palaceiros e Passeiro por Faceiro, de Palaceiro ; Ca-
Iheiros, Malheiros e Palheiros; Caracha, Caraxa, Carocha,
Carochinha; Paraxa e Paraxinha?. . . Parrocha e Parrochinha.
Carâmos e Paramos; Cassadouro e Passadourõ; Cobrai
e Pobral; Coço e Poço; CoUo e Pólo; Comba e Pomba;
^ Mamões e Mamouros podem vir de Camões por Ca -f Mões e
Cá -f- Mouros, povoações nossas ? ! . . .
Veja-se o meu longo tópico: — «Prefixo cá assimilado.»
426 TENTATIVA ETYMOLOGIOO-TOPONYMICA
Combinho e Pombinho; Conta e Ponta; Continha e Ponti-
nha; Continhas e Pontinhas; Cortelha e Portelha; Cortelhas
e Portelhas ; Cortelho e Portelho ; Cortello e Portello ; Cor-
tinha e Portinha; Cortinho e Portinho.
Corvella e Porvella?!. . . Costa e Posta; Couve e Pouve;
Couves e Pouves; Escarigo e Esporigo por Esparigo, e este
por Escarigo? Escairo, Espairo e Espaio por Espairo? Esca-
íhão, Escalheira, Escalheiro por Seccalhão, Seccalheira, Sec-
calheiro, o mesmo que Sequeira, Sequieira, Sequeiro, Sequei-
ros e Espalheiros por Escalheiros? Também temos Esprigo
por Esparigo ou Esporigo; Escariz e Espariz por Escariz?!
Cá, Qua e Gua
Escalheira e Esqualheiral por Escalheiral.
Confronte-se G-altar e Gualtar; Gardaes por Cardaes e
Guardaes; Gardal por Cardai e Guardai; Gardão por Car-
dão, Cardalão e Guardão ; Guardeira por Gardeira e este
por Cardeira ? I . . .
Ca e 5q ou Çq
Guncalus testis. Doe. 63 a 3:100. Vimaranis Mon. pag.
68, col. 2. a
Ca e 5a ou Za
Faval; Favacal e Favasal.
Cá e Ta e Dicq.-uer5a
Ce e te ; Ci e ti ; Co e to ; Cou e tou ; Cro e tro.
Alcarva, Carva e Tarva ; Cagide, Tagilde, Cahide, Thaí-
de e Athaide. ^ Calhandriz, Calhariz, Talhariz e Tralhariz^
são formas do mesmo nome, tiradas das calhandras. A forma
Talhariz encontra-se em Talharezes por Talharizes. Veja-se
o tópico «Desinência ezes.» Calhariz, Talharezes e Tralhariz,
^ De Atanagildus, i, nome germânico pessoal, que deu também
Tangil e Tainde, povoações nossas.
TENTATIVA. ETYMOLOOTCO TOPONYMICA 427
por Talhariz; CamaDho, appellido, e Caminha por Tamanha
e Tamanho, portuguez antigo. Veja-se Camanho em Viterbo.
Canha e Tanha ; Carimba e Tarimba; Caroeira, Tar-
roeira e Tarroeiro ; Carrascal, Tarrastal e Terrastal : Carras-
queira e Tarrasteira ; Cartaria e Tartaria ; Carves e Tarves ;
Ceira e Teira ; Cibões por Cibães? e Tibães ; Couvedo e Tou-
vedo ; Coz e Tós ; Croça e Troca ; Croxa e Trouxa ou Troxa,
etc, povoações nossas.
Ca e Ta ou Ta por Ca
Tabarca por Ca-Barca? Tamengos por Cá-Mengos. Con-
fronte-se Mengos, Toposo por Ca-Poço? Tariz de Calhariz ou
Ca + Ariz ; Tavilla de Tavira ou de Ca -|- Vilia ?
Tá deu cá ; assim tarambola, ave, deu carambola. Nós
temos tarambola, ave, mas não temos carambola, ave, nem
se encontra em Valdez.
Veja-se Carambola em Covarrubias.
Ça e Da Ci e Di Çó e Dó
Adelgaçar e Adelgadar, formas auctorisadas em bom
portuguez actual (1910) Arregaça por A Eegaça, e Regada ;
Cortegaça e Cortegada; Louriçal e Louridal, povoações nossas;
Madail por Maçai), metathese de macial, o mesmo que Ma-
ciel, appellido, e macieiral, bosque de macieiras. Confronte-se
Freixiel e Freixial, Pinhel e Pinhal ; Regacinha e Regadinha ;
Sobredo e Sobreço por Sobredo, povoações nossas, como Ri-
baçal e Ribadal.
Ça, 5a e Da
Contença, Contensa e Contenda ; Contenças, Contensas
e Contendas, povoações nossas.
Ce e Se
Já vem do tempo dos romanos, pois em latim se en-
contra, vigesimus por vicesimus — em portuguez vigésimo.
Magnum Lexicon.
Ce por Que
Ronceiras e Ronqueiras são povoações nossas e talvez
formas do mesmo nome, plural de ronqueira ?
428 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Ce e Ze (iniciaes)
Ceba e zeba ; cebado e zebado, provincianismo de Mel-
gaço, como cebar e zebar, por cevar, etc.
Confronte se Sevra e Zebra, povoações nossas.
Cha, Che, Chi, Cho, Chu
e Ca, Que, Quí, Co, Cu
Alcabideche e x^ílcabideque — são povoações nossas e for-
mas do mesmo nome.
A l.a pertence ao concelho de Cascaes ; a 2.'' ao conce-
lho de Condeixa.
Archinho por Arquinho ? Barranca e Barrancha, Barran-
cão, Barrancas, Barranco e Barrancos ; Barrochaes ou barro-
jaes por Barrocaes, povoações nossas, como Barroca, Barro-
cal, Barrocão_, Barrocaria, Barrocas, Barroco, Barrocos e Mar-
rocos por Barrocos !
Bochinhas por Boquinhas. Vejase Boquinha ! ; Bocho,
Boco e Bócos ! ; Borrecho, Borreco, Borrego e Borrelho ?;'
Cabra e Chabrinha por Cabrinha ; Caim, Chaim, Saim e
Xaim, povoações nossas e talvez formas do mesmo nome.
Chabocos e Chaboucos por Cabouco e Caboucos; Cha-
deira e Cadeiras; Chaeiros e Caeiros; Chães e Cães; Chafé,
Caféde, e Caféo de Japbeth, nome biblico.
Chambôa de Chãbôa ou de cambôa por gamboa, espécie
de marmeleiro que deu Gamboa, povoação nossa também.
Chamboinha é diminutivo de Chambôa, supra. Chame-
laria, é uma antiga forma de camelaria, terra em que abun-
davam camelos, animaes entre nós extinctos, como ãs zebras,
ursos, corças, etc.
Chamosinhos por Camosinhos — de gamosinhos, gamos
ou veados novos. Confronte- se Gamenhos por Gaminhos, Ga-
mita, Gamitinha, Gamito, Gamosa, etc, povoações nossas tam-
bém.
Chanal e Canal ; Chancella e Cancella ; Chancrão, me-
thatese de Cranchão por Granjão.
Veja-se Ganjão, povoação nossa também — e o tópico
Metathezes ou transposições, na 1.* parte d'esta minha louca
Tentativa^ pag. 334 e segg.
Chanosa; Yeja-se Canosa e Carosa, por Canosa? Chans
e Cans ; Chaparreira e Caparreira ; Chapinha e Capinha ;
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 429
Chapitel por Capitel, vinha nossa que, segundo supponho,
tomou o nome do latim capitellum, i, pote, alambique. ^
Chaqueda e Caqueda. V. Maqueda e Maceda. Charam
por Charão — ó uma forma de Charrão por Carrão, povoações
nossas também, como Charambeis por Charambois e este por
Carrão de bois.
Charniche é uma forma de Carnicha, povoação nossa
também.
Charoeira^ Caroeira e Jarroeira : Charrão. Veja-se. Cha-
ram e Carrão supra; Charrasqueira por Carrasqueira. Veja-
se Carrasca e Oasqueira; Charrino por Charriiio — é uma
forma callaica de carrinho; Charro e Charroada — são formas
de Carro e Carreada, como também Charruada, povoação
nossa. Chasqueira e Casqueira ; Chaxão. Veja-se Caxão e
Chacão, supra. Chorão e Coráo ; Chorda e Corda ; Chorim e
Corim ; Chorozeira por Corujeira, forma de Crucheira por
Crujeira, como Coruche, Crucho e Cruchos por Corujo e Co-
rujos, povoações nossas também. Junte-se Crujaes por Coru-
jaes e Crujães por Crujaes. Chorozeira e Corujeira soara
Churuzeira e Curujeira.
Chosende e Chosendo por Cosende e Cosendo (?) são
formas de Gosende e Gosendo_, povoações nossas também, tiu
radas de Gundesindus, i, nome germânico pessoal, que de-
tambem Gondesende, freguesia, etc. forma anterior de Go-
sende. ^
A escala seria: — Gundesindi ; Goudesende ; Gosende ;
Cosende (?) Chosende ?
E' assim a arte nova — e rira bien qui rira le dernier !. , .
Chouto por Couto ou Souto.
Inchonsos por incensos e Ins^onços.
Villa Cãa e ViUa Chã.
Cha, Cbe, Chi, Cho, Chu
e 5q, 5e, 5i, 5o, 5u
Choutaria e Soutaria ; Chouto e Souto : Chafurdaes e
Safordão ; Chaim e Saim. Veja-se Caim e Xaim, povoa-
^ V. Capote por Cá -f- Pote.
- Confronte-se também Nossa Senhora de Condezende de Adorjgo,
freguezia do concelho de Taboaço. Condezende é uma nitida forma de
Gondezende.
430 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
ções nossas, talvez formas do mesmo nome ; Chainça e Sainça
Chança e Sancha; Chapa e Sapa; Chapinha e Sapinha.
Chardinheiro e Sardinheira, feminino de Sardinheiro
Charilhe por Charilho e Sarilhos; Charrão, Sarrão e Serrão
Churrasqueiras e Sarrasqueira ; Chaveira e Sabeira ; Chaveiro
e Sabeiro ; Cheda e Seda ; Cheira e Ceira í Cheiros e Seiros
Çhellas, Cellas e Sellas ; Chellão, Ceilão e Sellão.
Chelleiros, Celleiro e Selleiro; Chenta, Centa e Sentas
Cherita e Cerita; Chiada, Geada, Geadas e Seada; Choeiro
Soeiro e Sueiro ; Choqueiro e Soqueiro; Chorão e Sourão
Chousa e Sousa ; Chousal e Souzel, o mesmo que Souzal
Chousella e Souzella ; Chousellas e Souzellas ; Ponchão e
Ponsão, de Ponciano, nome d'um santo, etc.
Cha, 5a e Xa
Chaim, » Saim e Xaim, povoações nossas; Chaim ó tam-
bém appellido : Chainça, Sainça e Xainça!... Chainha e
Chainho; Xainha, Xainho e Xainhos, povoações nossas.
Ché, Gé e Zé
Borracheira, Borracheiras, Borracheiro, Borracheta, Bor-
razeira, Borrazeiro e Burrazeiro. Da borragem? O povo diz
borrage, planta leguminosa. Confronte-se Burralhal por Bor-
rajal, como Carvajal por Carvalhal. Confronte-se também
Chedemiam e Getemião por Ze Damião; Ché, quinta, por
Zé; Cheira e Cheiras; Geira e Geiras, povoações nossas.
Cfii e Gi
Varchinhas e Varginhas ou Varjinhas, etc, povoações
nossas.
Cha Xa c Fa
Chou e Fou
Chadeira e Fadeira: Choupana e Foupana; Choupani-
nha e Foupaninha; Xabregas e Fadregas? povoações nossas.
^ Junte-se Caim, povoação nossa também, talvez forma do mesmo
nome ! . . .
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 431
Cho e 3o
Chorrar, o mesmo que jorrar. Chorreiro — ó o mesmo que
jorreiro. Chôrro é o mesmo que jorro. Soacho e Soajo, po-
voações nossas, são formas do mesmo nome.
Co ou Cu
por ÍHo ou (Ilu
Confronte-se Cunegunda, Cunegundes, Monegunda e
Monegundes, nomes de santos, etc.
Co e Go
Eirogo por Eiroco, o mesmo que Eiroca, Eirola, Eiró e
Eiró, pequena eira ; Feijoca e Feijogo, por Feijoco, etc, po-
voações nossas.
Co, Go e hho
Encosta e Ingostas, plural de Ingosta; Botéco, por Bo-
tego; Botelho e Botulho por Botelho? etc, povoações nossas.
Co e To
Bajouco e Bajouto ; Balouço e Balouto ; Campico e Cam-
pitos, plural de Campito, são povoações da Hespanha ; Tor-
tozendo por Turcozendo.
Confronfe-se Truycosendo Queda ou Guedes, avô de
Egas Moniz, o aio.
Commercio âo Porto, de 28 de Junho de 1907, pagina
1.% col. '2.* e 8.*, fallando do tumulo d'Egas Moniz e do con-
vento de Paço de Souza. Confronte-se também Tructezindo,
antigo nome pessoal.
Ça e Ta, Ço e To
Alvoroço e alvoroto, nomes communs.
l.o_D'e...
Vide Cândido de Figueiredo.
432 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
2.*^ — Do italiano alvorotto, alvoroço e alvoroto; i alvo-
roçado e alvorotado ; alvoroçadamente e alvorotadamente ;
alvoroçamento e aivorotamento; alvoroçar e alvorotar.
Cu e Pu
EM NOMES COMMUNS
Espuma e escuma ; escumadeira e espumadeira ; escumar
e espumar.
Triculantes por tripulantes — ainda hoje diz o povo na
Foz do Douro e talvez em outras povoações nossas.
D
Intervocalico e caprichoso.
Confronte-se o tópico: desinências ina, ino, inda e indo.
Alcarida por Alçaria ? ; Alcina e Alcinda ; Alcino e Al-
cindo ; Adelina e Adelinda ; Adelino e Adelindo ; Alfardim
por Alfarim. — Veja-se Alfarella, Alfarellos, Alfarins e Alfaro;
Alfrivida por Alfria, povoação nossa também, como Fria,
Frias, etc. Alvaro-gildes por Álvaro Giles ? ; Canedo e Can-
dedo; Caneira e Candeira; Caneiro e Candeiro ; Canosa e
Candosa?
Carmelina e Carminda; Casaldate por Calate ou Casa-
lote; Casal Dito por Casaldito, aldeia, de Casalito? Confron-
te-se Casalzote, Casainho, Casalinho, Casalito, Casalorio e
Casanito por Casalito, povoações nossas.
Cavandella por Cavanella? — Yejase Cabanella e Ca-
banellas, Cavana e Cavanas ; Florina e Florinda; Florino e
Florindo ; Hermano e Armando ; Humilde, do latim humilis,
e, ou como diz o Snr. Figueiredo, Humilde de humildar, e
humildar de humilde.
Tem graça ? ! . . .
Laura, Laurina e Laurinda; Laurino e Laurindo; Lou-
çana e Lousandas ; Lousanda de Losana ou Lozana, varias
povoações da Hespanha. Lucena, Lucenas e Luzendas ; Lu-
cinia por Lucina e Lucinda ; Luciro e Lucindo ; Luzendas
por Lucendas, de Lucenas, povoação de Granada. Na Hes-
1 Vide Prefumo.
TENTATIVA ETYMOLOOIOO TOPONYMICA 433
panha também ha difíerentes povoações com o nome de Lu-
cena, unde Lucena, appellido uosso.
Luzim, Luzinde e Luzindinlio.
L" — De Lucinius, ii, nome d'um santo, unde Luzim e
Luzinde.
2.0 — De Lucinus, i, Lucino, antigo nome pessoal, como
Lucina e Lucinda, nomes de santos.
Todos estes nomes foram tirados do latim lux. ucis. luz,
que deu Lúcia (santaj, Luciana, Luciano (santo) ; Lucidia,
Lucidio (santo). Lúcifer (santo) ; Lucília (santa); Luciliana e
Luciliano (santo) ; Lucilio, Lucilla, Lucina, Lucinda, Lucin-
do, Lucinia, Luciniana, Luciniano, quasi Luciliana e Luci-
liano, supra, Lucinio, Lucino, Lúcio, Luciola e Luciolo, no-
mes pessoaes e muitos d'elles nomes de santos. ^
Lucina e Lucino deram Lucinda e Lucindo. porque o d
é letra caprichosa e costuma surgir depois do n intervoca-
lico. Assim Normancos deu Normando, Normania deu Nor^
mandia, Florina deu Florinda, Florino deu Florindo, Lau-
rína deu Laurinda e Laurino deu Laurindo, nomes pessoaes :
Eosina deu Rosinda. Rosa, Rosiaa e Rosula, o mesmo que
Rosinha, foram Santas.
Também pinus deu Pindo; Pinella deu Pindella e Pinello
deu Pindello, povoações nossas. Britiani deu Britiande, Be-
i'it.iaaus deu Bertiandos; Mirana deu Miranda; Sona deu
Sanda ; Sonim deu Sondim.
Villaranda por Villarana, o mesmo que Villarina, Vilia-
rinha ; Villarandoilo por Villaranello, o mesmo que Villara-
uillo, Villarinho, etc. Confronte-se também Clorina e Clo-
rinda, nomes de santos.
Molães e ^loldães ; Rebelde, do latim rebéUis, lie; Sala-
monde, Sallamonde e Samonde, de Salomoni ; Sabordella de
Saborella, Sobrella? Veja-se Sobrello e Sovella por Sobrella,
antiga rua do Porto. ^ Villaranda, Villarandello por Villa-
rana e Villaranello?
D — cahindo
Aido de aditus ■? Beita, aldeia, de Benedicta (villa). Ben-
tes, appellido de Benedictis; Brêa e Vrêa, aldeias, de vere-
1 Veja-se o meu Diccionario d' Appellidos.
'^ Sobrello e Sobrella são diminutivos de sobro p:T sobreiro e que-
rem dizer sobreirinho e sobreirinha.
28
434 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
da, caminho, o mesmo que Breda, povoação nossa também;
Crer, do latim credere; Desnuar ó o mesmo que denudar,
em latim denudare; Faedus, feio; Fastio, do latim fasti-
dium; Moio do latim modium.
Junte-se : Peditare e Peditus ; Poio, do latim podium, e
este do grego podion; Radius, raio de luz; Raiar, do latim
radiare; Redintegrare, reintegrar ; Rer e raêr, do latim ra-
dere; Rido, is, ère, em latim antigo o mesmo que ndeo, c*,
ére, — rir, rir-se ; Traidor, do latim traditor, oris; Parrada
e Parrainha, por Parradinha, povoações nossas, etc.
D e F
Cotifo, casal, e Cottido nome d'um santo ; Guidães e
Guidões, Guifães.e Guiíões ; De Guido, onis. Guido e Gui-
don, antigos nomes de santos, etc.
Abrahão Ortelio no seu Atlas que publicou em Anvers,
no anno de 1570, dedicou ao Cardeal Guido Ascanio Sfor-
cia um mappa de Portugal, com esta dedicatória :
« GuíDONi Ascanio. ...»
D s G
Carredal e Carregal, Daivães por JDaivões, Gaivão e
Gaivões? Dama e Gama, do latim dama, corça, Gamo; Dan-
ço e ganço? Dardão e Gardão ou Guardão; Darei e Garei;
Datão e Gatão ; Deilão e Geilão por Gelião ; Delvira e Gil-
vira por Gelvira?
Dem e Gem ; Denetos, Genetia e Genetus? Dirão e Gi-
rão; Dobeira e Goveira ou Coveiras; Dueça e Gueço ;
Doide ou Doíde, Goido, Guide e Guido ; Donde e Conde ;
Dordelinho e Gorlinho?; Drave a Grave; Fundão, Fundedo
e Fundego ; Ladedo ou Lagedo ; Lameda e Lamega ; Lamedo
e Lamego?
Loredo, Lorido, Louredo, Lourido, Louridos e Lorigo
por Lorido? Nodal e Nodar por Nugal_, contracção de No-
gueiral, como Nodel por Nodal ; Pedredo ou Pedrego ; Tou-
rido e Tourigo por Tourido, povoações nossas.
Somma e segue :
Gelmires, patronímico de Gelmirus, i, Gelmiro, o mesmo
talvez que Delmirus — Delmiro, nome d'um santo, bem
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 435
como Delmira, etc. Tomos também Deltrude ou Deltrudes,
santa, o mesmo talvez que Gertrudes. Lenda e lenga-lenga
por lenda-lenda?, narração monótona, enfadonha. O snr.
Cândido de Figueiredo menciona lenga-lenga, mas nada
diz da sua etymologia.
Moenda e Moenga ; Parlenda, parlenga e perlenga, for-
ma popular de parlenga; Pudendas (partes) e pudengas, for-
ma popular.
D e G por D
Gandulpho e Gangulpho, nomes de santos. ^ Confron-
te-se Lamarigo por lamarido, o mesmo que lamaredo, lama-
cento ; Lamega e Lamego o mesmo que Latneda e Lamedo.
A Hespanha tem Lamego e Lamedo, aldeias, da lama, como
Lamareda, Lamarigo, Lamarosa, Mamarosa por Lamarosa,
Lamosa, etc.
D, G e h
Cadorno ou Codorno, Calorno e Cogorno, appellidos;
Dordelinho e Lordellinho ; Quintandonapor quintalona, quinta
grande ?
D, G, b e n
Confronte se F*ortadeiros^ Portaleiro e Portaneiros, po-
voações nossas, de portageiro, cobrador dos direiros de por-
tagem.
Ferradeira por Ferrageira. Confronte-se Ferrageiro,
quinta.
Do, Go e Do
Ferradosa por Ferrajosa, contracção de ferruginosa.
Filhagosa por folhagosa, o mesmo que Folhadosa, po-
voação nossa também.
D e h
Confundiram-se mesmo iniciaes. A substituição de l e d
já vem do tempo dos romanos, que de pecus, údis fizeram pe-
Veja-se o meu Diccionario d' Appellidos.
4.36 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
culium por pecudium! Veja-se Pecúlio em Figueiredo. Tam-
bém de pecus, udis, fizeram pecunia. Confronte-se o latim
peculioòus e pecuniosus — que tem grande pecúlio, endinhei-
rado, rico. — Em uma doação d'El-rei D. Aífonso Casto .fir
gura D. Vidulfo^ Conde Pando. Vidulfo era nome germânico,
talvez forma de Vilulfo ou Wiliulfus, i, unde Guilhufe?!
povoação nossa.
Também o Livro Fidei menciona em diversas escripturas,
especialmente em uma do anno 106õ — um monte do Minho
a que dá os nomes de T^deiras e Telleiras. — Tedeiras é,
pois, uma forma de Telleiras. Confronte-se também Aleste,
antigo nome do rio Deste, que banha a cidade de Braga.
Argote, vol. 3.° — 306, 307 e 309, diz:
«Item, Domnus Griraldus criou filo Joanne Vadasci.» —
Doe, a 1258.
Vadasci por Valasci, repete-se dififerentes vezes nas Iri-
quir. do dicto anno.
«Item, Dominicus Petri criou filio de Johanne Vadasci. y>
— «Item Johannes Martiniz criou fila de Johannes Vadasci.»
Loc. cit.
Confronte-se também Vermúlus por Vermudus?, nas
mesmas Inquirições, differentes vezes.
Adejar por Alejar, do latim ala — a aza; Calorno por Ca-
dorno; dacryma, antiga forma de lacrima, lagrima. Magnum
Lexicon ; ^ Dadim e Lalim; Daffóes por Dafões e Lafões;
Dama e Lama? 2 aldeias; Damas e Lamas? Deilão, Deirão
ou Leiráo, e Leirão ou Deirão ; Deimãos por Dimãos, Li-
mãos e Limões.
Leixar por deixar; Deolinda e Deolinda; Desdeixado e
desleixado; Dobeira e Lobeira; Dobreira e Lobreira, quasi
Lobeira; Dobiigo e Lobrigos, plural de Lobrigo; Dordeli-
nho e Lordeliinho, povoação nossa, diminutivo de Lordello.
Doroso por Loroso; Confronte-se Lorosos, Louroso e
Lourosa, povoações nossas; — Douro Calvo, — revela um no-
me pessoal, que podia ser Lauro ou Louro Calvo!, . . Douro
e Louro? Duro e Luro, etc , povoações nossas; Hezíodo,
Egidio e Gil, de Egilii por Egidii.
Nalga, corrupção de nádega ; Odivellas e Olivellas, de
Olivella, oliveirinha; Peculiar por Pecudiar, de pecus, udis —
gado? que já no latim deu pecuHuni por pecudium.
Também temes Sobral, Sobralinho e Sobradinho por Sobralinho.
TENTATIVA FTYMOLOOICO-TOPOXYMTCA 437
Regadeira e Regaleira, fcão talvez formas do mesmo no-
me, porque de e le confundiram-se e substituiram-se. Con-
fronte-se Penajudeia e Penajulia por Penajuleia, antigos no-
mes da minha Penajoia.
Relato e Reduto sáo povoações nossas e formas do
mesmo nome.
Segodim e Segolim, de Seccalim por Seccalino ? Con-
fronte-se Secalina povoação nossa^ bem como Sequinique e
Séquito, eto. Também temos Seculinho por Secalinho, o
mesmo que Seccalino? Asseca, Secarias, Sequieira, Sequeira,
Esgueira por Sequeira, Escalhão por Secalhão, etc, etc. po-
voações nossas.
D e h e h por D na Besponha
Confronte-se Caliz, forma vulgar e popular de Cadiz,
cidade da Andaluzia, anteriormente Gades.
Dizem ser nome fenicio, dado pelos Fenicios, seus fun-
dadores, significando valladar contra a fúria do mar e dos
inimigos.
Confronte- se o hebraico gadez, — muro, sebe, fim, ex-
tremidade, e o caldeu gadiz, coisa magnifica, engrandecida,
coisa cerrada, murada, acabada, como diz Covarrubias.
Note-se que o árabe, fenicio e caldeu são deturpações
do hebraico. "
Em antigo castelhano diziam melecina, melecinamiento
e-melecinar por medicina, medicamento e medicar.
— Valdez e Covarrubias.
D, h e n
— Luoidia, Lucilia e Luoinia; Lucidio* Lucilio* e Lu-
cinio * ; Luciliana o Luciniana ; Luciliano * e Luciniano =^ ;
Lucilia*, Lucina* e Lucinda*, nomes pessoaes e quasi to-
dos nomes de santos ^
D e m
— Cotimos, de Cotidus ou Cottidus ; Cotido ou Cottido,
antigo nome dum santo, etc. — Y. o meu Diccionario d'Appél-
lidos.
1 São nomes de santos todos os que vão indicados com o aste-
risco *.
438 TENTATIVA ET yMOLOQ-lCO-TOPONYMICA
D e n
— Cadaveira, Cadaveiras e Cadaveiro, por Canaveias oa
Canaveiras ou Canameiras, e Canameiro ou Cânaveiro. Tam-
bém temos Cadavaes, Canavaes e Cannaviaes, Cadaval e Ca-
nnavial?. . ..Mas Cadavae, Cadavaes, Cadaval Cadavoso, etc,
podem vir do hespanhol cadava, certa planta; Dnlcidia e
Dulcinia, Dulcidio e Dulcinio. São nomes pessoaes. Junte-se
também pecunia por pecudia, de pecas, lidis, como diz Fi-
gueiredo.
DeP
Duciclos por Pociculos, pocinhos, diminutivo de poço,
como Pocico, Poceco, Possacos, Bussaco por Possaco, Pos-
solos, etc, povoações nossas.
D e R c Dice-Dersa
A substituição do r e d já vem do tempo dos romanos.
Confronte-se pecus, coris e pecus, cudis — gado — no latim
de Cicero?!^ Açodar, apressar, antigamente açorar, como
■diz Figueiredo no Supplemento — Ciradelha por Cidadelha?
— Veja-se Cidadelhe.
Jardo, Jardoeira, Jardos e Jardosa, por Jarro, Jar-
roeira, Jarros e Jarrosa — de jarro, planta. — Confronte-se
Charoeira por Charroeira, o mesmo que Jardoeira- e Jar-
roeira, Sarreira e Sarroeira. Também Jardoeira pôde ser uma
forma de Sardoeira ou vice-versa.
Póríido, pórfiro ou porphyro ; Porfidito e porfirito ou
prophyrito, são nomes communs, mencionados pelo snr. Cân-
dido de Figueiredo.
D e S
Dissedse por dissesse.
Carta de Távora, concelho de Taboaço, com data de
26-11-1905.
Magnum Lexicon.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 439
D e 5 OU Z
Nagosa, Nagosella, Nagosello e Nagodinho por Nago-
sinlio? povoações nossas.
D e T
Centiaes, Centiàes e Sendiães por Ceutiães, o mesmo
que Centiaes. — Confronte-se Sande e Sante, na Hespanha
e entre nós Centieira, Sentieira e Sendieira; Chedemiam e
Getemião por Zé Damião ; Sandinies e Santenys por Sandi-
niz, na Hespanha. — - Vai de Soudo por Vai de Souto, o
mesmo que Vai do Souto, povoação nossa também ; Vital e
Vidal, nomes pessoaes e nomes de Santos, tirados do latim
vitalis, que dá, sustenta e conserva a vida; Drave e Trave,
povoações nossas.
D e \7
Casal Dasco e Casal Vasco, povoações nossas ; Escreder
por escrever, provincianismo de Riodades ; eorjdegildo test,
por Leovegildo test.
Vimaranis Mon. 24, 2.a doe. a. 1:009.
Padesada, o mesmo que pavesada. — Hercul. — Hist. l.*'
— 389 — padesadas, e Figueiredo, Supplemento.
Padiola o mesmo que paviola;
Para viso por Paradiso, — portuguez antigo, hoje Paraiso.
— Veja-se Paraiso em Viterbo.— Raiva, freguezia de Raida,
Santa? — Rebalvia e Rebaldia. — Confronte-se Rebaldio, po-
voação nossa. — -Santos Evos, por Santos Ivos e Santos
Idos ; Violinda por Deolinda, nomes pessoaes.
Veja-se o meu Diccionario d'Appellidos.
DaeUa
Cf. Valle do latim vallis, e este do sanscrito dal, valle.
Guillou, 140, vb. Taulé.
DeZ
Gulodice e Gulosice; Medentius, ant. latim, por Mezen-
iius.
Magnum Lexicon vb. Z.
440 TENTATIVA ETYMOLOGICÓ-TOPONYMICA
Da e Fa
Ameijoafa, Ameijoafia e Ameixoaíra por AmeixDada?
pov. nossas.
Da e 6a
-♦
Artida e Artiga, anteriormente Zahara,, segunda .espo-
sa de D. Ramiro II, de Leão, Tentativa Etymologica, parte l.a,
pagina 383.
D preposição e prefixo assimilado,
o mesmo que fl de...
Demenderes. -E' talvez o mesmo que Demendes por De
Mendes. Cf. Mendo, Villa Mendo, Mendes .e Mendiz (Vai de
Mendiz) pov. nossas. Cf. tb. Daires, Daldas, Dalva, Dalvare?,
Damonde, Danaia, Danço, Daporta, Dardão, Darnella, Da-
Toaes, Daroal, Daroana, Daroeira, Daroeiras, Degodana por
Pegodina, Degoiva, Deirão, Delhalva, por Del Alva.
Delouca, Demo, Demotta, Dessourinho, etc. pov. nossas,
em cujos nomes a preposição de se incorporou. Debroa e
Broa; Destriz e Estriz; Diagares e Agares; Dirão por Dei-
rão e Eirão; .Discorreias por Das Correias. Cf. Da Correia-.
Dobeira por Lobeira; Dobreira por Dobeira; Dobrigo.
V. Lobrigo e Brigo, aldeia. Doganda e Ogando? n. pess. ;
Dolves de Adolphis? Dônegas. De Onega, ant. n. pess. Do-
roana, Doroanna e Douroanna, de Ouroana, ant. n. pess. Do-
roeira. V. Daroeira, Doroso por Daroso. V. Arosa, contra-
cção de Arenosa; Dragas. V. Bragas?
Dueça por Do Eça. V. Eça e Deça ; Dume e Dumes, do
latim Dumus, i, o espinheiro, que deu dumetum, o espinhal,
unde talvez Medo por Dumedo, pov. nossas.
Da Do Du e Ga Go Gu, por da do du
no antigo portuguez.
São frequentes nos prazos estas locuções : — campa tan-
juda e campa tanjuga por campainha tangida ; e quando ha-
via interdicto : malho tanjudo, malho tanjugo e malho ba-
tudo por malho batido. Elucidário, vb. Batudo. — Nofee-sô
tb, a substituição de u por i, fzeil
TENTATIVA KTYMOLOaiCO-TOPOyVMICA 441
De e Re
Alferradede e Alferrarede, povoações nossas do conoe-
Iho d' Abrantes.
Dè por Té e Dí por Ti
Casal d'Ello por Casal Dello e Casal Tello, casal do
Tello. — Sendiães por Sentiães e este por Centiaes, povoações
nossas; Sendieira por Centieira, povoações nossas tamVjein.
Do Go e 3o por Go
Ferradosa por Ferragosa ou Ferrajosa ; era castelhano
s<3a ferragosa ; Folhadosa e Filhagosa, por Folhagosa o mes-
mo que Folhadosa; Regaendo e Regaengo em Viterbo, o
mesmo que Regalengo e Reguengo.
E — caprichoso
Recarei, de Recaredus, i, — Recarêdo, nome d'um rei
godo, etc, o mesmo ■ que Ricardus, i, Ricardo, — de Rikard,
nome germânico, em francez Richard. — Ricardus <^ Ricaré-
dus<[ ^ i íirédus, i <^ Recarêdo <^ Recarei. — Confronte-se Ca^
rabalho por Carvalho — outra epenthese!. . .
E e em
Painçage por Painçagem.
Veja-se e q em no tópico Desinências,
E e D
Cisto e Sisto, o mesmo que Sixto^ Xirto, Xisto e Xis-
tro, povoações nossas, que tomaram o nome de Sexto, antigo
nome pessoal, e este Úq sextxis — sexto,, adjectivo numeral
romano.— -Sexto, Sixto e Xisto,- foram santos.
Edanha e Idanha; Egreja e Igreja; Emproa e ímpro-
nas, plural de Improna, quasi Imprôa; Encados e Inçados;
Enviande por Enviando e In viando; Enxamêa e Inxamêa;
Enxidro e Inxidro ; Enxuldro, Enxudro e Inxudro.
442 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Ermigil e Irmigil, de Hermenegildo ; Loindreiro por
Loendreiro ; Lomite por Liraite ; Marcineiro por Marceneiro ;
Monte de Velarinho por Villarinho; Monte dos Algravéos
por Algarvios.
Recaredo e Recarei de Rickaridus, Rickaredi? Segarral
de Cigarrai. Confronte-se (^igarrinha e Cigarrosa, povoações
nossas também ; Sequeiros, Esqueiros e Isqueiros por Esquei-
ros, metathese de Sequeiros!... etc, povoações nossas.
E e O
Confundiram-se na latinidade férrea.
Já em latim se encontram as formas versus e vorsus,
versoria e vorsoria ; verto e vorto; Vertumnus e Vortumnus,
como se lê no Magnum Lexicon.
Arrojello por Arroiello, o mesmo que Arrayollo por
Arroiollo ; Barrete e Barrote, povoações nossas; Beiranita e
Boiranita. — Também temos Boirana por Beirana, o mesmo
que Beirôa, feminino de Beirão.
Beliago, appellido e Boliago, aldeia. — Bojorreira e Be-
zerreira. Note-se que ja, je, ji, jo^ ju, deram za, ze^ zi, zo, zu.
— Campezinhos e Camposinhos; Cobrada e Cobradinha por
Quebrada e Quebradinha.
Ervedal, Ervededo, Ervedeira^ Ervedeiro, Ervedinho,
Ervedosa, Ervedoso, etc. — de ervedo por ervodo, medro-
nheiro, Ervedeiro, Ervideiro e Orbideiro?!. . . são o mesmo
que medronheiro. Esmeriz, Esmoriz e Esmorins por Esmo-
riz, como Cabriz e Cabrins por Cabriz, Sanfins por S. Fiz,
de S. Feliz_, o mesmo que S. Félix. Confronte-se S. Félix,
povoação nossa, Sanfix e Sanfiz, varias povoações da Hespa-
nha. Confronte-se também Sinfães, metathese de Sanfins.
Junte-se Mouris, Mouriz, Mourens e Mourins, povoa-
ções nossas.
Feitos e Foitos ; Fentella e Fontella ; Fermentãos e
Formentãos ; Fermentellos e Formentellos ; Ferrenha e Fer-
ronha; Guerredoura por Gorredoura e este por Corredoura.
Lagueza por Lagosa, unde Nagosa ; Lamoso e Lamesinhos
por Lamosinhos ; Lavegada, Levegada e Lobegada por Lo-
bagada? Confronte se Lobagueira, Lobata, Lobeira^ etc, Lo-
batae Lobato são talvez contracções de Lobagata e Lobagato!...
Ledões e Lodões; Limede por Limedo ; Marcelino e
Marcolino, diminutivo de Marcus, Marco; Meloal, Molual e
Peloal ; Moinhella e. Moinhola.
TENTATIVA ET YMO LÓGICO- TO PONY MICA 443
Murço, Murçogueira, quinta, de Morcegaeira, abundante
em morcegos; Martede por Murtedo; Urbideiro por Ervi-
deiro; Ortezedo por Ortozedo. Cf. Ortozello; Orvida e Or-
vieira por Orvideira, o mesmo que Ervideira. V. Orbideiro,
supra.
Pedregal e Pedrogal; Ferfia, Porfia e Porfias; Prometor
por Promotor; Quintella e Quintola; Reboleiro e Roboleiro.
Reboreda e Roboreda; Reboredo e Roboredo; Recaio e
Roçaio; Rechoso e Rochoso; Sangemil e S. Jomil; Sante-
cinhos e Santosinhos; Seixezello e Seixoso; Seromenha,
Seromenho, Serominhão, Serominheiro, etc. dos soromenhos,
pereiras bravas, como Sederma, Sidesma, Siderma, Jurome-
nha, etc,
E e U
Gentios e Juntios? etc. pov. nossas.
Ee por Ei
Maria Migueez por Maria Migueis.
Doe. da Collegiada de Gruimarães a. 1352.
Ei e 1
Almeida, Almeidinha e Almidinha por Almeidinha; Ca-
saleixo por Casalixo, dim. de casal, como Cazalzote, Casalito,
Casanito por Casalito, Casalorio, Casalinho e Casainho por
Oasalinho. Esteira Manteus e Estira Manteus ; Feijó e Fijô ;
Feijoeira e Fixoeira por Fijoeira; Feitos e Fitos; Geira e
Gira.
Guadeixe por Gadixe, actualmente Guedixe, nome d'um
sitio que ha na minha Penajoia, sitio hoje deserto, mas que
outr'ora foi cidade, como diz a tradição local.
O foral de D. Affonso Henriques e o de D. Manuel,
dados á dita Penajoia, mencionam o tal sitio com o nome de
Guadeixe, por Gadixe, este por Gadixo e este por Cadi-
nho. Era, pois, Gadiche a cidade do Cadinho. O foral de
D. Manoel, de 1514, menciona Guadeixe com 7 casaes ^.
^ V. Penajoia nos Índices da l.a e 2.a partes d'esta minha louca
Tentativa.
444 TENTATI VA ET YMOLOQICO-TOPON YMICA
Leira e Lira; Leiria e Liria; Meira e Mira; Paires por
Peires e Pires; Qiieires e Quires; Queiroga e Qairoga; Teira
e Tira etc, povoações nossas.
Ei e Oi
Estiboiral por Estiveiral. Cf. Esteveira, Estiveira, Esti-
veirinha, Esteva! por Esteveiral e Estiboiral por Estiveiral.
A bússola é o ouvido!...
Ei Oi e Ou
Apeadeiro e apeadoiro oii apeadouro; Avelleira, Avel-
leiras e Abeloiras por Avelloiras ou Avellouras, o mesmo
que Avelleiras; Despenhadeiro e despenhadouro? Estiboiral
por estiveiral.
Feitos e Foitos; Refonteira e Refontoura; Seccadeira e
seccadoiro ou seccadoúro; Valleira e Valloura, o mesmo que
Valloira e Valleira; Yalleiro e, Baloiro por Valloiro ou Val-
louro, o mesmo que Valleiro; Venidero em cast., vindouro
em port. Junte-se finalmente : Milheiro e Milhouro, pov.
nossas.
Eh e ER
Cf. Mello, villa, outr'ora Merlo por Melro.
Note se que o pelourinho da villa de Mello, na serra
da Estrella, tem por emblema um melro sobre um pinheiro,
como eu já vi.
Também temos Xavier e Zaviel por Xavier (?) povoa-
ções nossas, e em bom portuguez aluguel e aluguer, o mes-
mo que aluguel.
Em e im
Agostem por Agostim, povoação nossa. Também seen-
contra em Magostim por Bagustim, de Iben Agustini, po-
voação do aro de Lamego. Alpoem e Alpoim : Alvem e Al-
vim; Cartem e Cartim ; Catem por Gatem e Gafim; DaHim
ç Daem por Dadem ? como Dem por Daem ! . . .
Lagarem e Lagarinho ; Lebrem e Lebrinho ; Mem Mar^
TJSilTATIVA ETYMOI/'í'rro-TOI'ON-VMTrA 445
tins ; Mim vaqueiro por Mem Vaqueiro' e Mira Velho por
Mem Velho.
Metem por Metim e oste por Metelim, uiide Medelim e
Medim; Morelim e Morem por Morim; Ourem por Ourim ?
Ousarem ; Peaozem por Perozem de Perozim por Perozinho,
como Penuzinhos por Perozinhos.
Pernigem de penugem? ou penuge, como Valdigem por
Valdige, Valduje por Vai d'Ujo; Pexem por Pexim, de
Peixinho; V. Pexins por Peixinhoá ; Pintem e Pintim por
Pintinho ou Pintainho, e Pintens por Pintins.
Porem por Porim e este por Porrim, o mesmo que Por-
rinho ; Roem ou Ruim; Rozem, de Rozende?... Confronte-
se Mem do Mende ou Mendo, e Memende de Mem Mendo ;
Tourem e Tourim de Taurinus, i, Taurino, antigo nome pes-
soal e nome d'um santo, diminutivo de Taurus, Touro ^.
Em, im e um
Medim, Metem por Metim e Metum por Medim ou Me-
tim, contracção de Medelim por Metellim, povoações nossas.
F, B, U e y
Confronte- se Aurego^ que em documentos antigos desi-
gnava o quadrante sul, porque se lia avrègo, o mesmo que
abrêgo por africo o mesmo que africano ou do lado da Africa.
«Outra casa pequena... Do agiom {lia-se aguiom por
aguião, o mesmo que aquilão, do latim aquilo, onis, norte)
parte com o muro; e da travesia (o mesmo que travecia e
travessia, lado poente) com a rrua que vay pêra o postigo;
e do ssoão (leste ou nascente, lado do sol ou solano) com
adro da Igreja e do aurego (cá está elle) com gil vasques
genrro do loução.»
Tombo da villa de Penella nas Notícias de Pendia, por
Delfim José d'01iveira, pag. 13.
Soão é o mesmo que solão ou solano, do lado do sol ou
do nascente.
1 Mem e Mim são contracções de Mendo.
- Veja-se o meu Diccionario d'Appellidos.
446 TENTATIVA ETYMOLOGICOTOPONYMICA
F por B OU y e uice-uersa mesmo iniciaes
Vide B, V e F, supra.
Alfobre, Alfofre e Alforre; Baldreu, Faldreu, Fraldeu e
Valdreu. De Wilderedub, i? V. Aldarete, Aldrete e Aldreu.
Baleira, Valeira^ Valeirinhas e Valeiro
Farginhas de Varginhas, dirn. de Vargea ou Várzea.
Cf. Varchinhas, Varginha; Varzinha e Varzinhas. Farginhas
é uma pov. visinha de Castro Dayre. Faldigens e Valdigem.
Faleira, Faleirinha, Faleiro e Faleiros; Valleira, Vallei-
ras, Valleirinhos e Valleiro; Fareja e Vareja; Farjella e Var-
jellas; Feijó e Beijos; Feijoca, Beijocas e Feijouca por Bei-
joca o mesmo que Feijoca ; Fofinho, Bofinho e Bufinhos.
Foia e Bóia; Foreira e Boreira; Forneira e Borneiras;
Forno e Borno; Francos e Brancos; Franqueira e Bran-
queira; Frazão e Brazão ; Frazões e Brazões; Frazumeira e
Crazumeira, port. popul. da Beira, muitas brazas.
Framão e Bramão, appeliido, e Bramanfão! Freme e
Bremes; Fretos e Bretos; Friellas e Briellas ; Frio e Brio;
Fulão o Bolão; Fumaria e Bornaria; Fornico por Fornico e
Burnico; Valia e Falia; Vallagueira o Falagueira? etc, pov.
nossas.
F e G
Atafona e Atagona por Atafona? Cochafonis e Cocha-
gonis por Cochagões, grandes coches? V. Alcochete no Ín-
dice da primeira parte desta minha louca Tentativa,
F e P iniciaes
Os neo-celtas de Galles, trocam por vezes f por p e
dizem v. g. fil por pil — dardo, lança. — Guillou^ 122. Facão
e Paçam por Pação; Fadeira e Padeira; Faião e Paião; Fa-
leira e Paleira; Falia o Palia; Falorca e Palorca, aldeia do
districto de Bragança e da minha Penajoia.
Fardo e Pardo; Fataca, Fatacos, Pataca, Patacas, Pata-
cos e Patacões ; Fatella e Patellas, plural de Patella ; Fati-
nho e Patinho ; Fato e Pato ; Favões e Pavões ; Fecho e
Pechos ; Feixeiras e Peixeiras ; Feliteira e Peliteira.
Fermedo e Premedellos por Permadellos — Fermedellos ?
mas Fermedo, como dizemos n'outrà parte,é talvez uma fór-
TENTATIVA ETYMOLOGICOTOPONYMICA 447
ma de sermedo, contracção de Seromedo por soromedo, so-
romenhedo, bosque de soromenhos. V. Salmanha.
Fermentellos, Fermontellos, Formentellos e Permon-
tello, singular de Permontelloa, o mesmo que Fermentellos
e Fermontellos, supra, povoações nossas, como Frumento,
que tomaram o nome do latim frumentum, i, — pão em grão :
trigo, cevada e milho, etc. V. Pernão Pote na minha louca
Tentatica Etymologica, parte II, pag. 31.
Confronte se também Ferràes e Perrães; Fernão Bacho,
Fernão Calvo, Fernão Gil, Fernão Pires, Fernão Porco e
Pernão Pote por Fernão Pote; Ferra e Perra; Ferradal,
Ferral e Perral ; Ferro e Perro, aldeias ; Fiães e Piães ; Fião
e Pião, 4 a4deias, 2 casaes, etc.
Ficalho e Picalhos, plural de Picalho ; Figoeira e Pi-
goeira?!. . . Figueiral e Piqueiral ; Piolhoso e Piolhosa, fe-
minino de Piolhoso ; Fixoeira e Pixoira por Pixoeira ou Fei-
joeira, povoações nossas também ; Focilgal, Possijal, que já
se leu Possigal e Possilgaes, plural de Possilgal ? ! . . . Tam-
bém temos Possilgão e Possilgões. A etymologia é a mesma
de Pocilga, Pocilgo e Pocilgão, vocábulos portuguezes tira-
dos do latim porcíle e este de porcus — como diz o snr. Fi-
gueiredo.
Foejo e Poejo, planta, do latim pulegium. Fója e Poja ;
Fojaco, Fujaco, Fujacos; Pujalho e Pujalhos por Pujaco e
Pujacos ? — Folhelho e l-^uihelho ; Folforinho e Polvarinho,
por Polvorinho ; Fonte Gallega e Ponte G-allega, antigo no-
me d'uma quinta do Padilha, onde se fez a villa da Regoa.
Fonteira e Ponteira; Fortunho, P'ortunhos e Portunhos;
Foupana e Poupana ; Foupaninha, Poupanita e Poupinha ;
Confronte-se também Choupana, Choupaninha e Choupanita.
Fragosa e Fragosa ; Frechào, Frijão, Frijom e Prichã ;
Fregeira, Fregueira e Pregueira ; Friães e Priannes ; Frieira
e Prieira ; F"ulão e Pulão ; Ponches e Fonxe, singular de
Fonxes ; ^ Porcalho e Forcalhos, plural de Forcalho, etc,
povoações nossas.
1 Ponches vem de Pontiis, que se lê Ponciis, patronímico de Pon-
tius — Poncio, nome romano de Poncio Pilatos e d'um santo, chamado
Ponciano.
Por seu turno Pontianus deu Ponchão e talvez Pensão, povoações
nossas também.
De passagem direi que Pontius e Pontianus, nomes romanos e no-
448 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
F e 5
Facaes por Favacaes e Sacaes^ bella quinta do Porto !
Faial e Saial; Faião e Saião; Fail e Sahil; Faimaes, Faimas
e Sahimes, Saima e Saime; Farafão, Sarafana, Safardão e
Safardana.
Farminhão por Sarminhão. Oonfroate-se Saraminheira,
Seraminheiro, Seromenha, Seromenho^ etc. dos soromenhos -;
Famão e Samão; Famõss e Samòes; Favaqueira e Sabachei-
ra; Favaxa e Sabacho; Faveira e Sabeira; Faveiro e Sa-
beiro.
Feixeiras e Seixeiras; Fermedo e Sederroa por Sermeda,
o mesmo que Sermedo e Fermedo? Fermino e Sermiiio;
Ferrado, Serrada e Cerrado; Ferraz e Serrazes; Ferreira e
Serreira; Ferrei e Serreleis; Ferrenho e Serrenho o mesmo
que Serrano (Algarve); Ferroa, Seroa e Serrôa; Ferrões e
Serrões,
Fiadeira, fiadouro e Siadouro; Fialho e Sialho; Fiandal
e Sianda; Fião e Sião; Figoeira e Sigoeira! Fois e Sois;
Folgos e Solgos! Folha e Solha; fonda e Sonda; P'ornea e
Sorna, etc. povoações nossas.
F e T
Fainha e Tainha; Fale e Tbalé ; Fareja e Tareja; Faroja
ou Faroia e Faroija por Taroia; Farrio e Tarrio ; Farropa e
Tarouba por Tarroba? Fartaria e Tartaria ; Fazoura e Te-
soura.
Favacal e Favaqueira, Tavacal e Tavagueira ; Tavarede
por Favarede ou Favaredo ; Tavarella por Favarella ? Fa-
vella por Favarella e Tavarella?
Feixegueira e Teixugueira; Feixeiras e Teixeiras; Fejos
mes de santos^ etc, foram tirados de Pontus, / — o Ponto, nome que os"
romanos davam ao Mar Negro.
Pondo e Ponciano querem, pois, dizer: — filhos ou oriundos da re-
gião do Mar Negro on do Ponto.
Com vista ao meu bom primo — Ponciano Luiz dos Santos, de
Adorigo, concelho de Taboaço.
- V. Ledesma, Salmães, Sederma, Sedesma. Siderma e Sorome-
nhos, supra, pag. 229 e seguintes.
TENTATIVA V.T\V(>T.C\r.JC:C>-T()]>C)S\\Ur\ 419
e Tejos; Fellões ou Foliões, TellOes ou Tolòes ? Ferra e Ter-
ra; Ferronha e Terronha ; Ferrào, Terrão e Torrão? Ferre-
nho e Terrenho ; Ferrugem e Terrugem !
Fôtelaria ou Tetelaria ! Fixoeira por Feixoeira ( feijoeira)
e Teixoeira ; fonda, Tonda, Tondella e Tondellinha; Foia,
Foia e Toja; Foios, Fojos e Tojos ou Fojos. Fontão e Ton-
tão ; Fontello e Tontello ! Fontinha e Tontinha ; Fontinhal
ou Tontinhal ! — Fontinhosa, Tontosa, Tontousa e Toutosa.
Forneira e Torneira ; Forneiro e Torneiro ; Forneiros e
Torneiros ; Forno e Torno ; Foro e Toro ; Fragusta e Tra-
gusta ; France e Trance ou France ; Francelheira e Trance-
Iheira ! Franqueira e Tranqueira ; Freixedo e Treixedo, o
mesmo que Freixedo ; Froia e Tróia, etc, povoações nossas.
F e y
Gafino por Gavino e este por Gavinho, unde Gabim,
Gavim, Gobim e Gouvim ? povoações nossas.
Fq, Ba e Va
Boucinhas, Boicinhas e Foicinhas ; Falagueira e Yalla-
gueira ; Faldigens e Valdigens ; Faldreu, Fraldeu e Yaldreu ;
Faleira, Valleira e Baleira ; Faieirinha e Valleirinha ; Faleiro
e Valleiro ; Faleiros e Valleiros ; Falia e Valia.
Falorca por Faloca, Baloca, Balouça, Baiouta e Pa-
lorca?!... — Fariginhas por Farginhas e Varginhas ; Far-
jella, Bargellas e Yargellas; Farrio, Barrio, Barrios e Bar-
riosa, muitas povoações nossas ; Farroeira e Barroeiras, plu-
ral de Barroeira ; Fascaim por Fiscal m, o mesmo que Fis-
cainho e Biscainho, povoações nossas. Fofinho, Bofinho e
Bufinho.
FPi, FE, FC, FU e Gfl, GE, 60, GU
Facha e Gacha ; Faia e Gaia ; Paião e Gaiáo ; Faias e
Gaias ; Fale e Galé ; Falia e Galla ; Farraia e Garraia ; Far-
robo ^ e Garrobo ; Fatella e Gatella.
^ Talvez de farropo ou íarroupo — porco ainda novo que não tem
mais de um anno. Confronte-se Leitão, appeliido nobre também.
29
450 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Fens e Gens; Feria e Geria; Fermil e Germil; Ferros e
Guerros; Foes e Góes; Fofe e Gove; Foritão, Gondão e Gon-
tão; Fonte e Gonte; Fon tinha e Gontinha; Frejufe e Gri-
jufe?!. . . Frota e Grota; Fundaes e Gundaes; Fundão, Gun-
dão e Guntão; Fundeiro, Gondeiro e Gundeiro, povoações
nossas.
Fq e Pa
Facão e Paçam; Faceira e Passeiro, masculino de Pas-
seira; Fadeira e Padeira; Faião e Paião; Faleira e Paleira;
Falia e Palia; Falorca e Palorca; Fataca e Pataca; Fatacos
e Patacos ; Fatella e Patellas ; Fatinho e Patinho ; Fato e
Pato; Favões e Pavões, etc. povoações nossas.
Fa e Ta
Fa deu ta no antigo portugnez, como já dissemos, e no
gaulez, normando e celta ou neo-celta.
Hericher, verbo Fang —^lòáo, lama, pag. 26 e 27, diz:
fang é um dos vocábulos que se encontram simultaneamente
nos idiomas celtas e germânicos e mesmo no latim (con-
fronte-se /irmis— esterco, lodo, lama), e no armoricano faneg
— lodo. — Que le mot {Fang) ait produit tangue^ le sahle des
estuaireSy c'est probable, quoique soit ires difficile de fairé le
passage de i à J.
Depois diz: — Esta etymologiâ se acha confirmada em
um documento relativo aos direitos su7' la tangue, a jusante
de Saint Lo:
<í langue e,stoit ce qu'ailleur appellent fange... icelle ap-
pelée tangue comme estant par fange. í)
Littrê não remonta este vocábulo além do século xv,
mas eile- é muito mais antigo: excepfa tanga — diz um do-
cument.o do anno 1192, e in tangaria mea — outro documento
do anno de 1198.
O francez tanguer e tangage se diz dos navios que mer-
gulham a proa na agua e no lodo, dàm^ la fange.
«Na Terra Nova os normandos dão o nome de tangon
a uma cruz de madeira qiie serve d'ancora, litteralmente qui
tangue, i, 6, que se enterra na areia.»
TL^XTATIVA KTYMOLOGICO-TCíPOVvvtir-A 451
Fa e Tq. Fe e Te na onomástica portugueza
Fagilde e Tagilde de Atanagildus, i, como Athaide,
Tainde, Tiiaide, Cagide, Cabide, etc, povoações nossas.
Faião e Tayão ; Faias e Taias ; Fale e Tiialé ; Favacal e
Tavacal; Favagueira e Tavaqueira, quasi Tavagueira; Tava-
rede por favarede ou favaredo?; Favarrel por Favarel e
Tavarella por Favarella?
Junte-se: — Faila e Talla; Falleira e Talléira; Fareja e
Tareja, antiga forma de Thereza; Farrio e Tarrio; Farroeira
e Tarroeiro, masculino de Tarroeira; Fartaria e Tartaria,
povoações nossas.
Feira e Teira; Feixe e Teixe; Feixegueira por Feixu-
gueira? e Teixugueira que tomou o nome dos teixngos, ga-
tos bravos.
f^eixeiras e Teixeiras; Fejo e Tejo; Fejos e Tejos; Fel-
lões ou Foliões {sic) e Tellões^ Tenões ou Tollões {sic)V....
Feras e Terá. singular de Terás; Ferra e Terra; Fer-
rado e Terrado; Ferrão e Terrão; Ferras e Terras; Fer-
reirinho e Terreirioho ; Ferreiro e Terreiro; Ferreiros e Ter-
reiros ; Ferrenho e Terrenho ; Ferrões e Terrões ; Ferronha
e Terronha?! . .
Junte-se ainda: — Festos e Testos ou Fustos (sic); Fe-
telaria ou Tetelaria e Tetelaria ou Fetelaria (sic), povoações
nossas, todas mencionadas na ChorograpMa Moderna, de João
M. Baptista, e que são um bello espécimen da onomástica
portugueza comparada.
Este íiião é muito interessante para o estudo etyinolo-
gico das nossas povoações, pois, como já dissemos, grande
numero d'ellas já vem da idade media, do tempo em que,
por falta de luz, todos andavam, a jogar a cabra-eega. A um
e o mesmo vocábulo por vezes davam diversas formas, e taes
formas deram a muitos nomes das nossos povoações, que mal
se acredita serem os mesmos. — Prosiecamos.
'to'
Alfafar por Alfafal, e este por Alfaval, o faval ; Búfalo,
do latim huhalus — búfalo, boi >nv^'>tre. Faldigens e F^aldi-
jaes por Faldijàes.
4Õ2 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
São talvez formas de Valdigens, plural de Valdigem,
mas Valdigem vem de Valdige, o mesmo que Valduge e
Valdujo por Valle do Ujo, povoações nossas também.
Faldreu, Baldreu, Valdreu, e Fraldeu por Faldreu?!...
Faleira, Baleira e Valleira ; Faleiro e Valleiro ; Falia e
Valia ; Falorca, Palorca e Baloca por Valloca ? Faquinhas e
Vaquinhas.
Farginhas ou Fariginhas por Varzinhas ou Varginhas;
Farjella por Varjella. Cf. Barge, Bargellas, Barges, Bargina
por Barginha, Barigellas, Barja, — Varga, Vargas, Varge,
Vargellas, Vargem, Varginha, Vargiota, Varizelias, Várzea,
Várzeas, Varziella, Varziellas, Varziellinha, Varzigueto, Var-
zina, Varzinlia, Varziellas, povoações nossas.
Jenovefa e Genoveva, dois nomes da mesma santa. —
Jafa, vulgo Java, porto de mar da Palestina. — Nafarros por
Navarros? Olafo * e Olavo, nomes pessoaes e nomes de san-
tos, etc.
Fe e Pe
Cf. Permontello, Fermentellos, Fermontellos, Formen-
tellos e Frumento, povoações nossas, cujos nomes foram ti-
rados do latim frumentum, i — pão em grão.
Fe, Be e Ve
Alféloas por Alvéloas. — Cf. Alvéola, povoação nossa,
que tomou o nome de alvéola, ave.
Felino e Bellino, nome d'um santo, e Avelino, também
santo.
Fermil, Bermil e Vermil, povoações nossas.
Fí e Pi
Ficalho e Picalhos, plural de Picalho? — Figoeira e Pi-
goeira?!... por Figoeira, o mesmo que Figueira. — Cf. Tei-
xoeira e Teixeira; Figueiral e Piqueiral, povoações nossas.
Fi e Ui
Fisoainho, Biscainha, Biscainho, o mesmo que Viscainha
e Viscainho. Também temos Fiscal, que podia dar Fiscainho
por Fisealinho; Gafino, Gabim e Ga vim por Gavino.
TF,\'T\TTV\ ■RTV\rí)r,<)r;rr'0-Tf)r'OXVMirA 453
Fo e Po ou Pho e Po
Já no latim puro se escrevia Bo.spfiuni.^, IrJosporus e
Bosporos, para designar o Bosphoro, — Focilgal, Prssijal,
Possilgaes, Possilgão e Possilgòes, F^ejo por Poejo; Foio e
Foios, Poio e Poios; Foja e Poja; Fnnxe e Ponches, de Pon-
tius, ii, iis.
Forca e Porca; Forcalhos e Porcalho, singular de Por-
calhos; Forcas e Porcas; Foupana e Foiípaninha pc:- Pou-
pana e Poupaninha? — Cf. Poupa, Poupana, Poup.mita e
Poupi/iha, povoações nossas. Cf. também Fortunhos, o Por-
tunhos por Portinhos ou Portinhos ; Foão, Fitlão e Pulão, etc,
povoações nossas.
Fo e To
Fontão 6 Tontão ; Fontella e Tondella ?; Fontello ou Ton-
tel)o e Tontello ou Fontello (sic) ; Fontinha e Tontinha; Fon-
tiuhal ou Tontinhal e Tontinhal ou Fontinhal (.sic); Forre-
jal e Torrejaes por Forrejaes?; Foucinlios e Toucinhos, etc,
povoações nossas.
Fo e Vo
Olafo e Olavo nomes de santos, etc, formas de Olaf^
nome actual (1908) na Suécia, etc,, Trevo de trífollium, que
tem 8 folhas.
G — cchindo
«Devemos desconfiar do g. E' uma letra eapricho.sa e
banal, que serve de liame euphonico entre duas vogaes,
quando ellas se pronunciam separadamente, mas desapparece
quando ellas tomam o som único de dithongo. Assim Braoll
de Bragogil, etc.» isto disse fíouzé com relação á França, e o
mesmo se dá com relação a Portugal, v. g. de Pelagio, Paio;
de Pelagianus, Pelagião. Paião? ruído de rugido? etc «Lo let-
tre g est sv/jette aux chutes.-» Hoiizê, 37 e 40.
Ba, Gq e 17a. Bu e Gu. V\ e Gui.
Balazar e Galazar, de Belisarim^ ii, povoações nossas;
454 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Balbana e Galvana; líalisa e Galliza? Baltar, G-altar e Gual-
tar^; Banal, Ganal e Canal; Banduja e Ganducha?
Barcia, appellido e Garcia, aldeia, appeliido, etc.
Bardeira e Gaarrl.-ii-a por Gardeira; Barrado e Garrado;
Barrido e Garrido, iiias Barrido é talvez uma forma de Bar^
rêdo. — Barrogaeirti por Barrojeira e Garrocheira por Garro-
jeira? Barrunchos e Garrunchos ; Bastos e Gastos; Batas e
Gatas; Bocha e Bouxa; Goija, Goixe, Goja e Goiíxa.
Bocho, Gocho e Gouxo ; Bodeal e Godeal ou Bodeal;
Bodim e Boim, Godim e Guim ; Bóia e Goia ; Boleta e Go-
leta; Boino e Boinos; Goio e Goios por Goino e Goinos ?
Borbella, Gorveila!... e Gorvellos. Cif. Corba, Corva, Cor-
vel e Corv3lla !. . .
Borda e Gorda ; Bordinheira e Gordinhoira ; Bordôa e
Gordôa ; Borraz e Garraz, antigo nome d'um sitio de Távora,
pertencente ao velho passal. Cairão por Gairão e Vairão *
Guerai e Veral ; Guerres e Verres, nome ou cognome ro-
mano.
Guidão e Vidão; Guide e Vide; Guilla e V^illa; Gui-
Ihão, Vilhano e Vilhões ; Guilheiro e Vilheiro; Guilhade e
Viihades '^; Guindaes e Guindas, do castelhano guinda, ginja'
que talvez desse Vinda, aldeia nossa.
Guissoi de Visoi *, antigo nome pesssoal. Guihe por
Gulho e Bulho ; Gulpilhares e Gulpilheira •— de vulpis — ra-
posa.
Galgodins, de Vai ie Godins. Confronte -se Vai de Go-
^ V. pag. 56, supra.
'^ De Valerianus, nome romano.
^ Guimarães, de Vimaranis, patronímico de Vimaranus, i, is, nome
germânico, e Guiraarei de Vimaredus, i, antigo nome pessoal também.
^ Visoi foi nome vulgar nos séculos x e xi, como provam vários
documentos, de todo o ponto authenticos, mencionados no Portugaliae
monumenia histórica.
Veja-se o meu longo artigo Viseu no Portugal Antigo e Moderno^
vol. XII, pag. 1715, col 2.*
Aproveitando o ensejo, ahi vai outra etymologia de Viseu e que é
talvez a mais acceitavel.
Viseu pôde ser contracção de Basilêu, o mesmo que Basilio, nome
d'um santo, etc. — O mesmo Basilêu também deu Vaseu, antigo nome
pessoal, que pouco differe de Viseu e na minha opinião Vasèu, Basilio e
Basilêu tomaram o nome de Basilia. antiga cidade da Allemanha, hoje
pertencent • á Suissa, com o nome de Bale.
Amda direi que Visoi deu Guisoi e no diapasão leonez Guiçoi ou
Guissoi ! . . . — E' assim a arte nova — e rira bien qui rira le dernier.
TENTATIVA ETYMOLOGUCO-TOPONYMICA 455
dinho, povoação nossa. Galgueira, Gallegueira e Valgueira;
Galvôa e Valbôa; Cxariz e Variz; Gasco e Vasco e Gasconha
por Vasconha, paiz dos Bascos ou Vascos, no baixo latim
Vasconia; Gasconha e Vasconha, etc, povoações nossas.
G e h
Ganfei. — Confronte-se Lamphey, povoação da Inglater-
ra, no principado de Galles.
Nós temos gaiva, provincianismo duriense — fenda aberta
na terra, e laiva, prov. dur. — ferida na cabeça?!...
Confronte-se Larção e Garção? Leira e Geira? Lenço e
Genço? Lesteiro e Gesteiro ou Giesteiro; Lestido e Gestidol...
Liboso e Giboso; Lira e Gira; Lirio e Girio; Liz e Giz;
Lodão e Godão; Loio e Goio; Lóios e Goios; Loivo e
Goivo? Loivos e Goivos? Loja e Goja, etc, povoações nossas.
G e m
Confundiram-se o substituiram-se já no velho grego,
como em mm^marisd e gargarisô.
Vide Margarida, Margaride, Margarido, infra, e Marga*
rite, em Guillou, pag. 119.
Gaia e Maia; Gaios e Maios; Gairos e Mairos; Galguei-
ra, Malagueira, Valgueira e Vallagueira; Galla e Mala, al-
deias; Galmeira e Malveira? Gandim e Mandimí...
Ganhoteira e Minhoteira; Garim e Marim; Gariz e Ma-
riz; Garnel e Marnel; Garrão e Marrão; Garvão e Marvão?
Geadas e Meadas; Gelhe e Melhe? Gera e Mera; Gigua
e Migoas; Goia e Moia; Goios e Moios; Golães e Molães?
Gondão e Mondão; Gondariz — casal nosso — e Monda-
riz — bello estabelecimento thermal da Galliza. Gondim e
•Mondim; Gontão e Montão; Gontijo e Montijo; Gontim e
Montim; Gontinho e Montinho; Gontinhos.e Montinhos;
Gorlinho e Morlinhol?...
Goulão e Moulões, plural de Moulão; Gouxaria e Mou-
xaria? Gulato e Mulato?... etc, povoações nossas. Margarida
— santa, Margaride — villa, e Margarido — appellido.
«O verbo grego mm^marizô significa brilhar ^ unde o la-
tim marmor — mármore. Este verbo pronunciava-se indiffe-
rentemente marmarizô e gargarizô; as duas formas se reuni-
456
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
ram para fazer margarite — brilhante, subentendendo-se o
vocábulo pedra,
«Este género de vocábulos denomina-se onomatopêa, Po-
pulus — povo, é onomatopêa de numero; papíllon — borboleta,
é onomatopêa de movimento; marmarizô é onomatopêa de
hriiho, em francez eclat.» — Guillou, pag. 119.
Margarida, Margaride e Margarido vêem, pois, do grego
margaritès — brilhante (pedra) — e este de marmarizô, o
mesmc que gargarizô — brilhar.
Figueiredo diz que margarida ou margarita — pérola,
pedra preciosa, —vem do latim margarita, este do grego rwar-
garitès, e este provavelmente do persa mervaridf! ...
G e Z
Aprigio e Aprizio; Beringel e Berinzel; Bojorreira por
Bezerreira; Brigida por Brizida; Eduviges e Edwizes; Ginzo
o mesmo que Ginjo, povoações nossas, como Ginja, Ginjal,
Gingeiro, Quinjeira e Quinjeirinha por Gingeira e Ginjeiri-
nha. Confronte-se tb. Guindaes, Guindas, Guinde e Guindo,
povoações nossas que tomaram o nome do castelhano guinda,
ginja.
Juzarte e Zuzarte, appellidos e povoações ; quigéras e
quigéste por quizeras e quizeste, (diz o povo) ; rapazão,, vul-
go rapagão ; Sargedo e Sarzedo, povoações nossas. Tojal e
Tuzar, aldeia. Urge e Urze ; Urjal e Urzal, povoações nossas ;
Varge, Vargea e Varja por Várzea (diz o povo).
Ga, go, gu e ja jo ju
Lagos e Lajos por Lagos? Laija e Laiga por Laija? o
mesmo que Lage ou Lagea, povoações nossas.
Ga e Gua
Baltar, Gaitar e Gualtar por Baltar e este por Walter ? !
Cardai, Gardal e Guardai por Gardal e este por Cardai;
Cardaes, Gardaes e Guardaes por Gardaes e este por Car-
daes ; Cardeira, Guardeira por Gardeira e este por Cardeira.
Galdim, appellido ; Galdins e Gualdim por Galdim, este
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMTCA 457
por Gaaldino e este por Ubaldino, diminutivo de Ubaldus —
Ubaldo, nome d'um santo, de Wild ou Wald, nome germâ-
nico?!.. . Trigal e Trigual, são também povoações nossas.
Ga 3a e lha
Camajam por Camagão e Camalhão ; Bodegão e Bode-
Iháo ; Bolegão e Borbelegão, Bolhão e Borbolháo ; Boucega
por Bouxega e este por Boucega, o mesmo que Bouoelha ;
Romagom, o mesmo que- Ramagom e Ramalhão, etc, povoa-
ções nossas.
Ga e 17a
Galazar, Balazar e Vai de Azares de Belisarius^ ii, Be-
lisario, nome d'um santo, etc, ou de Balthazar, também santo.
Galgodins de Valgodins.
Confronte-se V"al de Godinho, povoação nossa.
Galhufe de Viiiulphi por Wiliulphi de Wiliulphus, i, que
deu Guilhufe, povoação nossa também; Galifanxe, de Wali-
fonsi o mesmo que Wilifonsi por Ildefonsi!
Gaitar de Waiter, como Gualter, Gualtar e Baltar; Ga-
riz, de Variz e este de Viaríz por Viariquiz ^ ; varlopa e gar-
lopa. — Cândido de Figueiredo, no Supplemento.
Gê e Guê
Borguote, Burgo, Burgueta, Burguete, Burgueto e Bur-
gete por Burguete; Burgueiros e Burgeiros ou Burgeieiros ;
Correginha por Correguinha. V. Corguinha ; Gavei, de Ga-
vedi por Gafeti, de Japíieti, como Cafede, Bem-que-fede,
Chafé e Caféo, povoações nossas.
Gera e Guera; Gelhe por Gelho e Guelho. Confronte-se
Guemil, Sangemil e S. Gemil; Gueral, freguezia de Geral,
nome d'um santo, etc. o mesmo que General, também santo ;
ou de Geral por Girai, de Geraldo por Gerardo, o mesmo
que Giraldo, unde Girai Paes, povoação nossa, etc.
^ Patronimico, de Viaricus, nome germânico.
458 TENTATI7A ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Qé, Gué e Qué, Qi e Gui
Farragelinha ou Farraquelinha, de Farragem como Fer-
ragial; Gaga, Gago e Gagim por Gaguim ou Gaguinho?
V. Orgueira, Orijal, Urgal, Urgeira, Urgezes, Urgueira, Ur-
jal, Urjariça, Urzal e Urzalão. Junte-se Ulgueira e Cabeça
da Urqueira, o mesmo que Urgeira e Urgueira, etc, povoa-
ções nossas.
Ge, Gue e Ze
Sabuzedo por Sabuguedo, contracção de Sabugueiredo,
como Sabugo é contracção de Sabugueiro ; Sabugal — de Sa-
bugueiral, e Sabu^gosa^ — de Sabugueirosa.
Sargedo e Sarzedo, são também povoações nossas.
Ge e Se
Cf. Gestal e Sestal ; Gestosa e Sestosa : Giesta, o mes-
mo que Gesta e Sesta ; Sestaes por Gestaes, plural de Ges-
tal, etc, povoações nossas.
Ge e Xe
Rogel e Roxel, são também povoações nossas.
Ge e Ze
Beringel e Brinzel por Beringel ; Chorozeira e Corujeira ;
Finges e Finzes, etc, povoações nossas.
Gi Gui e .Qui
Cf. o antigo hespanhol gitar, que se lia guitar, unde
o portuguez quitar, tirar, deitar fora.
«. . .que todas las ditas gentes armadas sean gitadas de
Caragoça ...»
Doe. do a. 1410.
A versão hespanhola posterior e :
«... que echasse fuera de la ciudad de Caragoça las gen-
tes armadas ...»
Cf. Ginja, Ginjal por Ginjeiral , Ginjeiro e Ginzo por
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPOK VMIOA 4Õ9
Ginjo, povoações nossas. — Também temos (jruindaes por
Ginjaes, do castelhano guinda — gicija, que deu também
Guindas, Guinde e Guindo, povoações nossas. — Ginjeira e
Quinjeira por Guinjeira ? — Quinjeirinha, diminutivo de Quin-
jeira, etc, são povoações nossas também.
Gi Gy e Gui
Cf. gissa e gyssa, portuguez antigo, actualmente guisa,
— maneira, modo.
Archivo da CoUegiada de Guimarães, doe. do a, 1373.
Gi e Zi
Cf. Astroluzia por Astrologia, portuguez popular. — Cf.
Remigio e Remizio, nomes de santos, etc, e Vai de Remi-
gio. povoação nossa.
Cf também Ermigio e Hermigio, nomes' pessoaes e ap-
pellidos e Hermogio, nome d'um santo. — Hermogio é talvez
o mesmo que Hermigio, Ermigio, Remigio e Remizio?!...
As meias tintas confundem e a minha lente d' arte nova,
forjada por mim a martelo, está a pedir outra melhor e mais
aperfeiçoada.
Go e lho
A Hespanha tem Pontejos, que se lê Pontegos, entre
nós Ponteihos ; Pontigo, entre nós pontilho ; Pontigon, entre
nós Pontilhão ; Berdejo que se Ic Berdego, quasi Verdego,
unde Verdelho e Verdego, povoações nossas.
Gu e Uu
Na Hespanha antigamente escrevia- se git por mi,
«Que la magestad dei Emperador Carlos Quinto^ se-
guiendo el consejo dei Rey don Fernando su Aguelo...»
Aguelo, por abuelo, avô. — Doe. do a. 1Õ20. — Gulpilhares e
Gulpilheira, do latim vulpis — raposa.
Gue por \7é
Prouguer por prouver e este por aprouver. - - Doe.
d'Arouca de 1205,
460 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMTCA
Gue e Ze
Sabuzedo por Sabuguedo.
Gui s Qui
Guimaterra e Quimaterra ou Queimateirra ; Guimbra e
Coimbra ; Guinchães e Quinchães, de Quintianis, patroní-
mico de Quititianus, nome rumano ; Guinchoso, Quinchosi-
nho e Quinchousos ; Quinjeira de Guinjeira por Ginjeira;
Quinjeirinha de Guinjeirinha por Ginjeirinha, etc. povoações
nossas.
Gui e V\
Guilherme e Guilhermina do allemão Wilhelm e VVilhel-
mine ^; Guimarães de Vimaranus, Vimarani, Vimaranis; Guis-
soi de Vizoi?!. . . antigo nome pessoal, ut supra.
I — caprichoso
Alvaiázere por Alva Azere ; Buinhosa e Bunhosa ; Olmos
e Olimos!... Orijal e Grjal, o mesmo que Urgai, Urjal e Ur-
zal, unde Urzalão, etc. povoações nossas.
I e fli
Cabrinha e Gabrainha; Também temos Fetos, Fieitos,
Fentos, Fitos e Faitos, do latim fíhx, feto e filictum ou filice-
tum — fetal, feital, o mesmo que Felgar, Felgueira, Felguei-
las, Folgosa, Folgoso, Folgosinho, FoJgarosa, Feiteira, Fei-
tosa, etc.
Fontinha e Fontainha; Estevainha por Estevinha? Pires
e Paires? Quires e Caires; Sinde e Sainde; Sino Saimão por
signo Samão e este por Salomão? Viamonte, appellido, e
Vaiamonte. Também temos Vide Monte, aldeia e freguezia.
^ V. Guillaame em Boucrand.
TENTATIVA KTYMOLOGICO-TOFON YMICA 461
I por Ei e Ei por 1
Cf. Almeida, Almeidinha e Almidinha ; Barbeita e Bar-
beitas de barbita e barbitas? — Cide, Side e Seide; Cidòes e
Seidões ; Dirão e Deirão.
Einez Gonçalves por Ignez Gonçalves.
Doe. da CoUegiada de Guimarães, da era 1350, — Re-
vista de Guimarães, vol. '22, n.o 1. — Janeiro de 1907, pag. 9.
Estira Manteus e Esteira Manteus ; Fijó e Feijó ; Fitos e
feitos, ou fieitos; Fixoeira por Fijoeira e Feijoeira ; Meão
(o povo diz mião) e Meiáo ; Mira e Meira ?
Pias e Peias ; Quires e Queires ; Quiroga e Queiroga ;
Tira e Teira ; Tires e Teire, singular de Teires ; — Tive,
quinta, e Teive, aldeia ; Tapira por Toupira e Toupeira ; —
Torreilha por Torrelha, Torrilha ou Torrinha ; Sirogato e
Ceirogato, etc, povoações nossas.
I e 3
Alçaria e Alcarja por Alçaria, povoações nossas ; Aldeias
e Aldeijas por Aldejas, antiga forma de Aldeias.
I, 3 e y
*
Tijosa, Tojosa e. Toyosa por Tojosa, povoações nossas
que tomaram o nome do tojo.
I, o e U
Congosta e Quingosta; Congostas e Quingostas; Fijacos,
Fojaco, Fujaco e Fujacos; Filhadella e Folhadella; Filha-
gosa e Folhadosa por Folhagosa, como Ferradosa por Ferra-
gosa ; Guiães e Goães ; Lourizeila e Lourozella ; diminutivo
de Lourosa; Mintezello e Montosello; Nigueira e Nogueira,
etc. povoações nossas.
I, o e Oi, U e Ui
I deu ui, como ai, ei e oi,
Fortuir.hos por Fortinhos. V. Fortim por Fortinho e
462 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Forte. V. tb. Fortunho e Fortunhos por Fortinho e Forti-
nhos!... Gramoinha e Graminha; CTiimirães por Guimarães;
Gundaes por Guindaes; Portunhos, Portinho e Portinos,
quasi Portinhos, etc, povoações nossas.
! e U
Aguincheira^ Aguincho, Aguncheiro e Agunchos por
Aguincheiro e Aguinchos; Algeruz e Algeriz; Almiiro por
Al-Miro? Benevenuto, nome d'uTn santo e nome actual, de
Benevenitus, Bemvindo, que deu Bemvindo e Bemvinda, tam-
bém santos.
Bitarães e Butaraens por Butarães, de Victorianis; Bri-
nheiro e Brunheiro; Brinhola por Brunhola? Caçapunho por
Caçapinho. V. Caçapps, Cassapa e Cassapos, povoações nos-
sas também.
Derribar, o mesmo que derrubar, é portuguez actual -
Enxido e Enxudos; Enxidro, Enxudros e Enxuldro; Fijacos
e Fujacos por Fojacos, pequenos fojos? V. Fojaco ; For-
tunho e Fortunhos por Fortinho e Fortinhos, o mesmo que
Fortim e Fortuinhos, povoações nossas. Gainde, Guinde e
Gunde, de Galindns, i, ant. nome pessoal? Também Guinde
e Guindo podem vir de Gundesindus, i.
Gandim e Gandum? Gadunho por Gadinho; Garrido e
Garrudo, appellidos, Gçrducho por Gordicbo, Gordinho.
Confronte-se Lagartixo por Lagartinhp; Guilhufe e Vai de
Galhufe por Vai de Guilhufe: Gnimarãcs e Gumirães, pela
graphia Gimarães, quando gi soava gui, como ge soava gué.
Guindaes e Gundaes, do castelhano guinda e guindales,
ginja e ginjaes. Inxidro, Inxudreiro e Inxudro; Martinheira
e Martunheira. Confronte-se Mortinhaes, Murtinhal, Murti-
nheira, Murtede e Murtosa, etc. da Murta em latim myrtiis.
Portinhos e Portunhos, o mesmo que Portinhos. Con-
fronte-se Porto, Portinho, Portinos, o mesmo que Portinhos,
Portellinho, Portellinhos, Portozello, Portouro, de Portolo,
Portolio ou Portorio, pequeno porto, etc, povoações nossas.
Rebimbar (provincianismo) e rebombar ou rebumbar.
«Os criados e criadas hoje estão de rebimba o malho!*
— dizia um meu velho sachristão de Miragaya (Porto), cen-
surando os criados, como dizendo que mereciam grossa pan-
cadaria !
Rebimba o malho, era o mesmo que rebombe ou rebumbe
TENTATIVA ETYMOLOOICO-TOPOVYMICA 463
O malho, allusão ás obras (muros ou casas) feitas sobre esta-
cas, metidas a malho.
Rebombe ou rebumbe o malho, queria pois dizer: bata
com força ! faça rebombar o malho !
De bombo, termo onomástico.
Simodães por Samodaes, no sec. 14. Çumadaes por Ci-
madaaes ou Cimadães — chãos que demoram no alto, no ci-
mo ou cume d'uma encosta ou ladeira.
Tal é a posição de Samodaes, freguezia do concelho de
Lamego e titulo de Condado.
Soutilho, Soutinho e Soutulho por Soutilho ; Themido
e Themudo, appellidos. Valdigem por Valdige — de Valduge
por Vai d'Uio. — Note-se que o povo diz Valdige e temos
Valduge e Valdujo, povoações nossas também.
I e U por E
Penude, freguezia abundante em fragas e" penedos. —
De Penudo por Penido e este por Penedo. — Cf. Peneda,
Penida, Monte da Penida e Penido, povoações nossas, como
Azevedo e Azevido, Loureda, Lourede, Louredo, Louriçal,
Louridal e Lourido ; Carvalheda, Carvalhedo e Carvalhido ;
Roboreda, Roboredo e Robuido; o mesmo que Roborido,
etc. Junte-se Cardai, Cardida e Cardido por Cardeda e
Cardedo; Cabeda e Cabedo; Cabida e Cabido; Sobreda, So-
bredo e Sobrido, etc, povoações nossas.
I e Uí
Rival e Ruival; Rivoz e Ruivoz.
[ e y
Aiala ou Ayala e Ayalla, appellidos — de Ahala, cognome
da familia romana Servilios — Dicdonario Clássico. Arroio,
Arroyo e Arrayolos por Arraiolos; Caiado e Cayado; Meira
e Meyra.
Iço e Ido?
como aça deu ada.
Confronte-se Cortido por Cortiço; como Cortegaça por
Cortegada e este por Cortiçada, que já se escreveu Corticada.
464 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Ida, Ido, Iga, Igo
Confronte-se Cardeda, Cardida e Cardiga; Cardedo,
Cardido e Cardigos, plural de Cardigo ; Loureda, Lourido,
Loridos, Loriga e Lorigo, povoações nossas. Também temos
Pedreda, Pedrego Pedrido, que auctorisam as formas Pe-
dredo e Pedrego, Pedrido e Pedrigo.
Ido por Ijo ou Igo
Montido e Montijo, povoações nossas, notando-se que
Montijo veio da Hespanha, onde se lê Montigo. Também
temos Tourigo e Tourido por Tourigo?
II e IlE
Vermoim, Vermoil, Vermil e talvez Fermil por Vermil;
e Formil por Vermoil? De Verermindinus, /, diminutivo de
Vere7nundus, i, que também deu Bermudo e Bermudes.
Im e Inho
Agostem por Agostim e Agostinho. Confronte-se Magos-
tim; Alcoutim e Coutinho; Chaim, appelido \ Larim e Lari-
nho; Martim e Martinho; Picotim e Picotinho ; Quatrim por
Quartim? Confronte-se Quartínos; Eebolo e Rebolim, de re-
bolinho ! Requim e Requina lembram réquinho e réquinha?!...
Samarím e Samarinho ? Samorim e Samorinha; Sandim
e Sandinho; Santar, Santarém por Santarim e Santarinho?!...
Sarrazim, Serraquim por Serracim e Serraquinhos por sar-
racinos, sarracenos? Sendim e Sendinho; Senhorim e Senho-
rinha; Sepinho e Sepins por Sepinhos; Sezim e Sezinhos:
Thomazim e Thomazinho ; Thourim, Tourim e Tourinho ;
Trancoim por Trancosim e Trancosinho, etc. povoações
nossas.
^ Confronte-se Xaim e Xainho, povoações nossas.
TENTATIVA KTVXfOr nr;Trr. TOPr,VYMTnA 465
Ins por Inho5
Pitins por Pitinhos, Pintainhos? Também temos Pin-
tim, Pintem por Pintim e Pintens por Pintins, povoaçOes
nossas.
I5 e Ins
Barrins e Barris, plural de Barril; Bezerrins! Confronte-
se Bezerral e Bizarril! Cabris e Cabrins; Esmorins e Esmo-
riz; Mouriz e Mourens por Mourins; Ruins de Ruiz; Rodri-
gues, como Roriz, contracção de Róderiquiz, patronim. de
Rodericus, que deu também Roligo, povoação nossa.
3 e Z
O povo diz Campo da Jezua em vez de Jejua, o mesmo
que Gigua, povoações nossas; Bojorreira por Bezerreira, 7d
supra; Java e Zava ; Joio e Zoio, se é que Zoio não vem de
Zoilo; Jorjaes e Zorzaes ou Zurzaes ; Juzarte e Zuzarte ;
Tosar, Tozal e Tuzar por Tojal?!... Urjal ^ Urzal, etc, po-
voações nossas.
3a, Cfia e Xq
Javier na Hespanha. Xavier e Zaviel em Portugal. Tam-
bém temos : Chaim e Xaim, Chainça e Xainça, Chainha e
Xainha, Cbainho e Xainho, Chambôa e Cbambona, Charnaes
e Xarnaes, Chasqueira e Xasqueira, Gerez e Xerez, povoa-
ções nossas. O povo também diz — deijar por deixar.
3a e Ga
Tugal por Tojal, etc, povoações nossas.
3a e hha
Camajam, Camalhão e Camalhões; Caneja e Canelha ;
Carvajal, appellido, e Carvalhal, Majapão por Malha pão;
Majôa e Malhoa? Olalhas de Olajas, actualmente Olaias;
Quèjas e Quelhas; Zambujal e Zambulhal, povoações nossas.
30
466 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
3é e Che ou Xe
Peijes e Peixes, etc, povoações nossas.
3c e Gue
Tugueira por Tojeira, povoações nossas, Gonfronte-se
Tugal por Tojal, supra.
3é e Zé
Cliorozeira por Corujeira; Mojes e Mozes, etc, povoações
nossas.
3o e Go
Brejos e Bregos; Togo por Tojo, etc, povoações nossas.
3o e Xo
Ameijoafra e Ameixoafra, povoações nossas, como Amei-
joafa por ameixoada?
3o G Zo
Confronte-se Joel e Zoei, santos, etc.
3u e Gu
Jobim e Gubim, de Jiibino;,-, i, Jabino, nome dum santo,
etc. Jubina nome de mulher.
3u e Zu
Jurzaes e Zurzaes, o mesmo que Jorjaes, Orjaes e Ur-
jaes!... Juzarte e Zuzarte, etc, povoações nossas.
b— cafiíndo
Adito e aido? Borrainho por Borralinho e este por Bar-
ralinho. Confronte-se Borrai por Barrai; Cardai, Cardalinho
e Cardainhoí Carregainho e Carregaliuho; Casal de S. Juyaão
por S. Julião.
TENTATTV \ F'IY MOLOGICO TOr OVY^íTrA 4fí7
Documento da Collegiada de Guimarães da era 1850.
Casalinho, Casalinhos, Casainho e Casainhos por Casali-
nho 6 Casalinhos, povoações nossas; Certainha por Cercai-
nha, de Cercalinha, diminutivo de Cercal, carvalhal? Oervai-
nhos por Sorvainhos, de Sorvalinhos. Confronte-se Sorvai.
Nabainhos por Nabalinhos ; Novalinho e Novainho ; Par-
dainhos por Pardalinhos; Silvella e Sivella ; Sobradinho, So-
bralinho e Sobrainho; Solidão e soidão (ant.); Troviscainho
por Troviscalinho, etc, povoações nossas.
bem
L e m inioiaes também por vezes se substituiram como
l e n. Confronte-se Lamarosa e Mamarosa. Desatrelar e des-
atremar por desatrelar, pois l e m corifandiram-se e substi-
tuiram-se.
O snr. Cândido de Figueiredo vb. desatremar — perder
o tino, desarvorar, desviar-se do bom caminho, diz: — «é uma
expressão popularissima cuja origem desconheço. O sentido
liga-se ao de desatrelar, mas duvido do parentesco dos dois
vocábulos. »
O parentesco, na minha opinião, é a identidade, apenas
com a trivial substituição de I por m, como já dissemos.
O mesmo senhor no Supplemento dá atremar por atermar
— de termo — e desatremar como vindo de des -|- atremar.
Prosigamos.
Ladroeir^i, Madroeira, Madroneira e Medronheira, dos
medronhos; Ladrugães, Madruga Nova. Madruga Velha e
Madruguinha; Lembrar de membrar e este do latim memo-
rare, como diz Figueiredo, ou antes do toscano memhrare —
lembrarse. No tosoano ha também mernoranza — memoria,
lembrança. — V. Las Casas ^.
Lúcio e Luciano, Mucio Muciano, nomes de santos, etc.
h, m e n
Confronte-se Landim, Mandim e Nandim de LandeJinus,
i, nome d 'um santo. A Hespanha tem Mandim e Nandim
1 Veja-se também o tópico Diapasão Toscano, na primeira parte
d'esta minha louca Tentativa, paginas 45 a 57.
468 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
(na Gallisa), mas não tem Landim. Confronte-se tambam
ril, rim e rins do latim ren, enis, e no plural renes, unde o
portuguez rilada em vez de rinada?!... Junte-se Loura, Mou-
ra e Noura, etc, povoações nossas.
b e n iniciaes
Já vem do tempo dos romanos.
Aldeia de Nacomba por La Comba — a Comba ou pom-
ba. Confronte-se Laboucinho por Laboucinha? Laeira, por
La Eira, Lacerda, por La Cerda; Labrunhal por L' Abrunhal?
ou Lo Abrunhal? Casal da Nabôa ou d'Anna Bôa, talvez de
Dona Bôa?! . ..
Eleutherio, santo^ o Leutel, appellido, Neoterio ou Neute-
rio e Neutel, santos, etc. o mesmo talvez que LutJiero. Labão
e Nabão, rio ; Labnco, appellido, e Nabuco.
Laceira, Laceiras, Laceiros e Naceiros ; Laços por Na-
cos, o mesmo que naças? Confronte-se Lamprieira, Pesquei-
ra, Peixe, Peixe Cerne, Peixeira, Peixeiro, Peixinhos, Pei-
xota, Pexoto, Peixotos, Bacalhau e Bacalhóa.
Lagido por Lagêdo e Nazido por Nagido e Lagido?
Lamorello ou Namorello e Namosello ou Lamoselio; Landim
e Nandim; Landufe e Nanduíe; Laranja, Laranjeira e Laran-
jo; na Hespanha — Nararija, Naranxeira e Naranjo, varias po-
voações.
Lavios por Navios, nos concelhos da Povoa, Espozen-
de, etc. Leão e Neáo, santos, Lebrijo e Nebrijo, appellidos.
Lebução, aldeia, de Nepociano, santo; Leiva e Neiva, appel-
lidos. Lello e Nello ; Léo, aldeia, e Néo, santo e casal.
Leodegarius (Lodegero?) e Neodegarius. «En tercer lu-
gar sucedio — S. Neodegario, monge professo d'esta casa, . . .
O bispo de la ciudad de Augusta...» Yepes, 3.° — - 236, 2.»
Leonisia e Leonisio, appellidos e nomes pessoaes — Neo-
nisia, nome d'uma santa, e Neonisio, appellido ; Leopoldo e
Neopoldo, santos; Leveda, forma pop. de neveda; Liceia,
talvez de Niceia; Licha e Nicha; Lisga por Lisca e Nisca;
Livel e Nivel, do latim libella; Li velar e Nivelar.
Ló e Nó, appellidos, Lobazes, plural de Lobaz e Novaz;
Lobelhe e Novelhe; Lobios na Hespanha e entre nós Loivos
e Novios por Lobios — Loivos?
Lodão, Lodeiro, Lodeiros e Nodeirinhos por Lodeiri-
nhos, nomes tirados do lodo ou dos lodos. Confronte-se Lo-
TKNTATTVA ETYMOLOGTCO-TOPOXYMTCA 469
deiro, sitio da minha Penajulia com duas quintas, na margem
esquerda do Douro, mesmo em frente das Caldas do Molledo,
e note se que na minha Penajoia houve muitos e grandes
lodãos ou lodos!. .. Eu ainda vi^lguns.
Note-se também que no sitio do Lodoeiro não ha Indo.
Lodar (Lodares) e Nodar; Lo:não e Numão ; lomear,
forma popular de nomear; Loronha o Noronha, app*^iiidos;
Lorvão e Norbanus; Luval por Lobai e alifjuando Nov.nl por
Lobal? Luzellos e Nuzellos, povoações noysas; Lynipha —
agua — e Nympha deusa das aguas; membrar. hoje leiobrar;
Nacomba de Anna Comba ou de La Comba ou de D. ('omba?
Nagalho ou negalho, do aragonez ligallo (lê-se ligalho), liga,
atilho, cordel, negalho I. . .
Do mesmo ligallo pôde vir lagalhé — pessoa insignificante,
jagodes, badameco, bisbórria.
Ligallo <l'lagaího < lagaihé, - uma semelhança de na-
galho ou nagalhinho podre e pequeno^ sem valor algum.
Covarrubias, vb. Mesta.
Nagodinho por Nagosinb.o, Nagoseia o Nagosa por La-
gosinho, Lagosa, Lagosella e Lagoso? Confronte-se Lago,
Lagoa, Lagoaça, Lagoaceiro, Lagoços, Lagoeiro, Lagoella,
Lagoiços, etc. Nagosa, Nagosella e Nagosello, de Lagosa,
Lagosella e Lagosello.
Nebrijo por Lebrijo o mesmo que Lebrinho, povoação
nossa; Nevogilde e Novegilde de Leovigilde; Nobancha por
Lobancha — loba grande, ancha; mas Nobancha por Noban-
cho pôde vir de Noval ancho.
Nodar e Lodares plural de Lodar; Nodeirinhos por Lo-
deirinhos. Confronte-se Lodeim e Lodeiros; Norbana. Nor-
bano e Lorvão por Norvão ' ? Nordello (por Lordelln), pe-
quena povoação entre Queluz e BemfioH, no aro dt> Lisboa.
Noronha, appellido e aldeia, de Lorofn, povoRçã'~» da Hespa-
nha em Huesca, como Loroiio, na Viscaia.
A Hespanha não tem povoação alguma denominada No-
rofia (Noronha). Noura por Loura e este por Lonreira. Con-
fronte-se Loureira. Loureiro e Louro, povoações r^ossas;
Novato, Novata e Loba ta?. . .
^ Mas Lorvão pôde vir de laurus-vanus — loureiro vão, ôco, já car
comido.
470 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
h 2 n mediaes
Alcolena por Alcaleaa | Alcanena; Aloqiies da Biquinha
no Porto, por anoqu^-s. De anoque, vasilha ou tanque para
curtir couros. Note f^e que os Aioques da Biquinha eram
restos de cortumes, como provam o Largo dos Pelames e a
rua dos Pelames, pouco distantes dos taes Aioques.
Avellal e Avenal; Avelleda e Aveneda; Bononia e Bo-
lonha, cidade da Itália, etc. Cabril, Cabris e Cabrins por
Cabrils, fÓrma de Cabris, na Hespanha; Casalito e Gasanito ;
Fraguil e Fraguins por Fraguis e Fraguiis?
Monfaiiai e Monfanim ; Taboleda, Taboleiros e Tabonei-
ra por Taboieira? Taboneira por Taboleira é o mesmo que
Tabosa por tabulosa, e Taboeira do latim tabula — taboa
unde Taboa e Távora por -Tabula, o mesmo que Taboa.
Tello, Tellões, Tenães e Tenões, de j ellus, Tello, antigo
nome pessoal, como Toulões por Tolões e este por Tellões ?
povoações nossas; Virgilio e Virginio, nomes pessoaes, são
talvez formas do mesmo nome, como Zilia e Zinia, nomes
pessoaes também.
b e R
Abbade de S. Crimente por S. Clemente. — Doe. da
Collegiada de Guimarães da era de 1388, (a 13õ0) — Albo-
ritel por Arboritel? Alfarellos por Alfareros — oleiros; Al-
mansor e Armaçor por Armançor? Avellar e Avellal ; Alvellos
e Arvellos.
Alvre e Arvore; Avenal e Aveneda por Avellal e Avel-
leda e estes por Avelleiral e Avelleireda; Azuleirai por Aço-
reiral; Bernaldo e Bernardo; Borrões (Olival dos) e Monte
dos Bolrões; Burlateira por Borrateira ou Barrateira. Con-
fronte-se Borrazeira, Bustello, Bustellos e Bustarenga. Junte-
se Brácala por Brácara, no sec. 12. '
...sede sancte marie de hracala...
Doe. n.o 74, do anno 1124, no Vimaranis Monumenta,
parte l.a, pag. 74. Também na minha opinião tabula deu
Távora, como Bracara deu Bracala; Casalão e Casarão; Casi-
mira, Casimiro, Casmillo, Creixomil Queixomar, Queixomil,
Pasmai, Pasmil (; PosmilVl... povoações nossas. De Casimi-
rus, i, -- Casimiro, nome d'um santo, etc.
TENTATIVA ETYMOLOGTCO-TOPONYMICA 47 1
Casimiro, em francez Casimiro vem do slavo e significa
— homein celebre, ou senhor da casa. V. Boucrand.
Somma e segue: — Catalina por Catharina. — Doe. da
Collegiada de Guimarães — sec. 14. — (Catalina Fofenso, ibij.
Já os clássicos latinos escreviam Palilia e Parilia —
festas da deusa Pales, deusa dos pastores. — Palilitium e Pa-
rilicium o sete estrello. — Magniun Lexicon.
Clina e crina; Coulella e ÍJoarella; Conlellas por Coulel-
las e (?ourellas, povoações nossas.
Escurquella, de Esculquella, diminutivo de esculca —
atalaia ; Fancaria e Fancalhia por Fancalia, o mesmo que
Fancaria? . . Flariz, Frariz e Freiriz, de Fraderiquiz por
Frederiquiz, patronimico de Fredericus, iqui, uude Fradique,
appellido, etc, e Frique por Fradique, appellido nosso tam-
bém. Fleirinhas por Freirinhas.
Fulmino por Firmino, nomes de santos ; Geraldo e Ge-
rardo; Golpilhares de Golpilhales, Golpilhaes; Pombares de
Pombales, Pombaes. — Também temos ai e ar, que podiam
dar Golpilhal e Golpilhar, Pombal e Pombar, como Avellal
e Avellar, Marmelal e Marraelar, Cebolal e Cebolar, etc, po-
voações nossas.
Também temos Casal e Casares por Casales — Casaes.
Gorreta e Gulreta por Gurreta, povoações nossas; Lagoa de
Rabarrabos e Lagoas de E-abarrabos por Lava Rabos. Con-
fronte-se Lava E-abos, aldeia, e Rabarrabos, duas aldeias.
Mello, Merlo e Melro ; Milleu por Mirleu, o mesmo que
Milreu e Milrico por Melrico. — Dos melros. ~V. Mello e
confronte-se Milharico, Burnico por Burrico, Pocico, etc.
Monte dos Bolrões por Borrões; Natália, santa, e Nataria,
aldeia.
Junte-se ainda: Peliquito e Periquito, appellidos actuaes;
Pombares por Pombales — Pombaes; Portouro de Sangalhos,
de Portolio de Sangalhos? Confronte-se Radoal por Ladoal
e este por lodoal ou lodoeiral, como Ladoeiro e Lodoeiro,
— dos lodos ou lodãos, arvores.
Raimundo e Laimundo, o bordão de Brito ; Rameiro e
Lameiro; Rosália, vulgo Rosaria; Roligo e Rorigo, o mesmo
<^ue Rodrigo; Saldoura por Sardoura.
Solveira por Sorveira? — Das sorvas. — Confronte-se
Sorvai, três povoações nossas. Sirarelhos por Villarelhos '? —
Taboa e Távora por Tabula; Vernaldo por Bernardo, como
Bernaldo, etc, povoações nossas.
472 TENTATIVA ETYMOLOGTCO-TOPONYMICA
b e 5^
Abbadim e Sabbadim por L'Abbadim, de Labbadira por
Al-Abbadim? Almedina em Portugal, e na Hespanha, Salme-
dina (por Lalmedina?) na Hespanha; Laboriz, Lavariz, Lavo-
riz, Sabariz e Savariz?!
Lago e Sago; Lameira, Lameiras, Lameiro e Sameira,
Sameiras, Sameiro? Laminho ou Saminho e Saminho; Lan-
dal e Sandel por Sandal? Landeiro e Sandeiro; Landim,
Nandim e Sandim?
Lapa e Sapa; Lapaduços e Sapaduços por Lapaduços ;
Lapeira e Sapeira; Lapeiro e Sapeiros; Lapinha e Sapinha;
Lardeira e Lerdeira — Cerdeira e Sardeiras, plural de Sar-
deira — das cerdeiras — Lardoeira, Sardoeira, Sardoira e Sar-
doura. — Dos sardões.
Também Lardeira pôde ser contracção de Lardoeira,
como Sardeira e Sardeiras podem ser contracção de Sardoei-
ra e Sardoeiras, povoações nossas; Larjal ou Sarjal, Sargeal
e Sarjal ou Larjal, Serigal e Serjal. De Laranjal e Cerejal,
povoações nossas tiradas das laranjas e das cerejas.
Lavadouro, Levadouro e Sebadouro ; Lavariz, Sabariz e
Savariz. Junte-se ainda — Ledesma e Lederma (o povo tam-
bém diz Sedesma). Ledões e Sedões; Ledouro, Sedoura,
Sedouro e Sedouros; Leiros e Seiros.
Leixões por Seixões! Confronte-se ' Seição de Baixo,
Seição de Cima e Seixão; Leixosa e Seixosa; Lemede, Se-
mide e Semedo, appellido quasi Semede; Lemenhe e Seme-
lhe, por Semenhe, pois Ih e nli confundiram-se ; Lente e
Sente, appellido; Leomil, Solmil e Sumil, v. Lomar ^.
Lercas, aldeia, Cerca e Cercas; Lerdeira, Cerdeira e
Serdeira; Leside e Sezite, de Le Sid? Lesteiro e Cesteiro,
aldeias ! . . . Lever e Sever; Libães por Libões e Cibões.
Lidadelha e Cidadelha; Linhaceiros, Linheiro e Cinhei-
ros; Lizandro, nome grego, e Sizandro por Lizandro, rio de
Torres Vedras, ut alibi; Lobreiro e Sobreiro ; Lomar e Assu-
mar de Al e Somar por Lomar, de Leodomirus, i, que deu
Leomil e Loumar.
Lopo e Sopo? Loridos, Lourido e Chorido? Chorido é
^ Este tópico é áspero, mas talvez seja acceitavel ! — Fiat lux,
- De Leodomirus, i, nome germânico.
TENTATIVA ETYMOLOOICO-TOPONY.MTCA 478
forma callaica de Sorido por Lorido ou Lourido, o mesmo
que Louredo por Loureiredo. Loure e Soure ; Lourinhos e
8ourinho ; Louro e Souro ; Lousa e Sousa ; Louseiro e Sou-
zeiro ? Lousella e Souzella ^.
Somma e segue : — Quinta da Leixada, aldeia, por Quinta
da Seixada, o mesmo que Seixeda, povoação nossa também.
Sabordella. Confronte-se Saportella na Hespanha^ talvez for-
ma de Laportella, por La Portella, povoação da Hespanha
também.
Note-se que a Hespanha tem 29 povoações denominadas
Portella — todas na Gálliza; fora da (J-alliza tem Portella
Portellada, Portiella, Portilla, Portillo, ete. Saportella está
em Lerida bem como Laportella. Laportella enoontra-se no
meu Diccionario geographico da He,s'panha, pag. Iõ2, col. 2.*
Sapaducos por Sapaduços? e este por Lapaduços -—lapa
d'ursos? Confronte-se Peraduça — pedra da ursa? Sarrabina
por Larrabina e este por Ia ravina — a ravina? S. ('olmado e
S. Cosmado, etc, povoações nossas.
b e T iniciaes
Lagoeiro e Tagoeiro; Lourencinho e Tourenoinho por
Lourencinho ?
bh e nh
Lha, lhe, Ihi, lho, Ihu, por nha, nhe, nhi, nho, nhu.
Assilhô, de Azinho por Azinheirola, Azinheirinha. Con-
fronte-se Azilheira, Azinheira e Azinheirinha, povoações
nossas. Note-se que lhe e nh se confundiram e substituí-
ram, como l e n, Confronte-se Avellal e Avenal, Avelleda e
Aveneda, etc. Azelha e Azenha são formas do mesmo nome,
como Azilheira e Azinheira.
Baganha e Bagalhinha por Baganhinha; Balhadouro e
Banhadouro ; Baralha e Baranha; Bicalho e Bicanho.
Bilhão, Bilhar por Bilhal, Biihó, etc, de Vinhão, Vinhal
e Vinho... Calçadilha e Calçadinha, appellido portuguez; Ca-
rapilheira e Carapinheira, são formas do mesmo nome; Cha-
pilhar, o mesmo que chapinhar, dialecto popular transmon-
tano; Coelheiros e Coenheiros.
Sousa, etc, também podem vir do baixo latim saúda —salgueiral.
474 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Cortinho e Cortinhos por Cortilho e Cortilhos — Cortê-
Ihos? Cuvinhó por Ouvilhó. Vide Covilhó; engalfilhado e
engalfinhado; engalfilhar e engalfinhar; Fernandilho e Fer-
nandinho, povoações nossas; Figarillia e figurinha; Fornilhos
e Forninhos, povoações nossas. Godilho e Godinho, appellido ;
Ilha, Inha e Inha ou Ilha ! Lilhares e Linhares.
Junte-se ainda — Juromenha; no século 16 ~ Jurome-
Iha. como se lê no Livro das Fortalezab-, de Duarte d'Armas.
Paralheira e Paranheiras (Villarinho das); Povoa da Polvi-
nheira por Povoa da Polvilheir^í. Prulhal e Prulheira, são
formas de prunhal e prunheira, do latim prunus, ^, o abru-
nho. Confronte-se Brunhal e Brunheira, povoações nossas,
aferese de Abrunhal e Abrunheira, povoações nossas também.
Rasquilha e Rasquinha; Selhariz, Senharei e Senhariz,
de Seniorinus, i, is, que deu também Senhorim, Senhorinha e
Cannas de Senhorim. Confronte-se também engalfilhado e
engalfinhado, engalfinhar-se e engalfilhar-se, nomes communs
portuguezes.
1." — De...
Vide o Novo Diccionario, do Snr. Cândido de Fi-
gueiredo.
2. o — Do antigo portuguez filhar, agarrar á força; en-
galfinhado e engalfinhar-se, vêem, pois, de engalfilhado e
engalfilhar-se.
Soutilha e Soutinha, Soutilho e Soutinho; Telheiros e
Tenheiros; Vilha, cavSf.l, de Vinha, pois lhe e nh confundi-
ram-se, como em Bilhó por Vinho, Vilheiro e Vinheiro, Vi-
Ihelho por Vinhelho, Vilhões por Vinhões e este por Vinhei-
rões, pi. de Vinheirão, aldeia nossa.
Junte-se finho por filho, como já ouvi dizer no Douro.
(Tl — cafiindo
Cuibranitos por Coimbranitos ; Cuibrans por Coimbrans,
Confronte-se Coimbra, Coimbrã, Coimbrães ou Coimbrões,
Coimbrão, Coimbró, Coimbrões, etc, povoações nossas.
(Tl por n e Dice-Dersa
Confronte-se o latim botânico de Cicero e Tournefort,
nastiiriiiim o mastruço planta hortense. Alecrimes por Ale-
crines; Avellanoso e Vellamoso por Vel lanoso, o mesmo que
lENTATIVA ETyMOLOGICO-TOPON VMICA 47Õ
Avellanoso^; Camoça e Canoça, appellidos; Cotácoa por
Co tau a?
Uunfronte-se Coutanâ; Mandim e Nanrlim, de Landim!
Mavandeira ou Alavaiideira por Lavandeira? Mazes e Nazes ;
Mazo e Nazo (santuário transmontano da Senhora do Xazo).
Mogrão, Mogueira. Mogneiràes, Mogueiras e Mogueiri-
nha, da.s nogueiras; Moía o Noia, appellidorf; Nazido de Ma-
zido. Confronte se Macido por Mazido, de Manzanido por
Manzanedo. Confronte-se tarabem Mazeda, feminino de Ma-
zedo, rua, fonte e quinta de Lamego.
Nomedo por Namede e esto por Mamede.
«Emprazameato, em três vidas, dos moinhos da fregue-
zia de S. Nomede daldã, . . »
Doeumí-nto da CoUegiada de Guimarães do anno 1B4Í,*,
na Revista de Guimarães, vol. 2o. *^, pag. lõ. A freguezia de
S. Nocnéde daldã ó hoje a freguezia de S. Mamede d'Aldáo,
concelho de Guimarães.
Vai das Areraas por Vai das Arenas — areias. Coníroute-
se Vai de Areia, povoação nossa também.
m e P
Malheiro, Malheiros, Palheiro e Palheiros; Maral, Parai
e Peral; Maranhão e Paranhão ; Marreco e Parréco ; Messa-
gães por Messegáes e Pecegães, Pecegueda, Prezegueda, por
Pecegueda, Pesseguido por Peceguedo — pecegueiredo, etc.
Mortágua o Portagua; Portagide por Mortagide, Morta-
zide, Mortazede ou Murtazede, o mesmo que Murtede, po-
voação nossa, como também Murtal e Murtosa. Coafronte--se
Mortazel por Murtazal e este por Murtaçal — unde Murtal.
Somma e segue.
Maforinha, Mafra e Pafora? Mairos e Pairo; Marachão e
Parachão; Meloal, Molual o Peloal por Meloal : Montai e
Pontal; Montão e Pontão; Montega e Pontega; Monteira e
Ponteira; Montesella e Pontisella; Montesello, Pontisellos e
Monteserros por Montesellos?
Montido e Pontido! Montilhão e Pontilhão; Passadas por
Maçada e Maçadas; Portagide poi Murtagide, o mesmo que
^ Avellames, rio das Pedras Salgadas. E' ama forma de Avelanes
por Avellanas.
476 TENTATIVA ETYMOLOGIOOTOPONYMICA
Murtazede e Murtede. Confronte-se Morgido por Mortagido,
Portagide e Portagido ; Ribeira dos Pelrinhos por Meiri-
nhos? etc. povoações nossas.
m e T
Confronte-se o portuguez popular tarreca, tarreco, tar-
requinha, tarreqninho — e marreca, marreco, marrequinha e
marreq ninho, unde Marécas, Maréco, Marécos e Marrecos,
povoações nossas, e Marrecas, appellido nobre.
JuQte-se: — Magide, Mangide, Tagilde e Tangil, de
AthanaJ gidus , i, nome germânico pessoal, que deu também
Ataide, Thaide e Cabide, povoações nossas.
Temos ainda — Maias e Taias; Malhada, Malhadas — Ta-
lhada e Talhadas; Malurdo e Talurdo?!,.. Mancos, aldeia, e
Tancos, villa; Maré e Tare; Mariz e Tariz; Meira e Teira;
Melles e Telles?!... Mello e Tello; Mellões e Tellões; Mera
e Terá.
Junte-se: ~ Mó e Tho ; moras e Thoras; Moulões e
Toulões; Moura e Toura; Mourão e Tourão; Moural e Tou-
ral; Mouraria, Mouria e Touria por Touraria; Moure e
Toure; Mourigo, touriga e Tourigo; Mouril e Touril; Mou-
rim e Tourim ; Mourinha e Tourinha ; Mourinho e Tourinho :
Mouriz e Touriz; Mourões e Tourões.
Ainda temos — Mujães e Tujães por Tujaes ouTojaes;
Mucifal e Turcifal per Tucifal, povoações nossas, talvez
d^origem carthagineza! . . .
Confronte-se Annibal, Asdrúbal, Setúbal e Tentúgal
por Tentubal ou Tentuval,, povoações nosi^as também, con-
géneres de Mucifal e Turcifal ou Tucifal.
m e 17
Maldonados e Vai do Nado por Maldonado, povoações
nossas.
ÍDg, mal e mau, ioponimicos
Barrimau. de Barrio (Bairro ou barro) máu : Casal
Mau; Castro Mau; Costa Má; Cova Má; Gandra Má; Lage
Má; Lama Má; Macabrão por (Mau cabrão?); Macarra (por
Má Cara?); Malafaia (^por Mala faia?); Malas-casas.
Mal Caberão. Vide Malcabráo; Mal Cofarte por Mal que
TENTATIVA ETYMOLOOIOOTOPONYMICA 477
farte! Mal Curado, Maldonado. Confronte-se Mafalda e Ma-
faldo por Malfadada/ Mal dorme; Mal Enforcado; Mal
Forno, por Mau forno?, iVíal Gasto; Mal Joga e Mal JuJgada.
Somma e segue: — Mal Julgado; Mal Lavado; Mal Medra;
Mal Partida; Mal Partilha; Mal Pensa; Mal Penteada; Mal
Penteado; Malpica; Mal Pique; Mal Talhada; Mal Talhado;
Maltratado; Mal Vás por Mal Vaes ou Malvaes? Confronte-
se Malvedo e Malvedos.
Malvisins?; Manariz por Mau Nariz?; Masinha, aldeia;
Matamá e Matta Má; Mau Anno; Mau Frade e Mau Ladrão.
Junte-se ainda: — Mau Vinho; Maúcha por Má Ucha ^;
Mausinho, Mausinhos; Mavandeira por Má bandeira ou Má
Vendeira?; Ma viso por Mau-Viso?; Má Vontade; Outeiro
Mau, Pedra Má — sitio — d' Arouca; Portimão o mesmo que
Portimáo — Porto Máu? Confronte-se Barrimão e Barrimau';
Quinta Má; Rio Mau; Souto Mau; Terra Ruim, o mesmo
que terra má; Triguinho Mau; Vista Má — herdade. Maoarca.
l.o — De. ..
2.° — De Mácarcara.
V. Carcará e Carquere, povoações nossas. Confronte-se
Macarra, Machoça, Machossas, Malagarta, Malaguarda, Ma-
larranha, Malas-Caras. (Confronte-se Macarra por Má-Cara?);
Mala Venda por Má Venda ou Venda Mk.
Confronte-se Venda da Escarapeila, Venda das Pulgas,
'Btc, povoações nossas.
mó e Pó
Morfeito e Perfeito. — O povo diz Porfeito
D — caindo
Cabeda e Cabedo, povoações, e Cabedo, appellido.
l.« — De. . .
2.0 — De Canabedo e este de canabis — cânhamo? Vide
Cambiaço, Canavezes e Gavez^ por Canavez, etc, povoações
nossas.
^ Confronte-se Ucha, Ucharia e Uchas, varias povoações nossas.
- Barrimão e Barrimáu, povoações nossas, tomaram talvez o nome
de bairro ou barro mau, mas Portimão, segundo se lê na interessante
Monographia de Vilta Nova de Portimão, recentemente publicada pelo
muito iliustrado snr. José Gonçalves Vieira, prior aposentado da mesma
villa, iomou o nome de Portus Magnus -porto grande, como foi outr'ora
o de Portimão, hoje muito açoriado.
478 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
n — caprichoso
Abelenda, appellido, e Avelleda; Adegneiro e Aden-
giieiro, povoações nossas; Alvora por Alvore ou Arvore —
Alvorninha por Alvorinha? Antoinha por Antoninha? Con-
fronte-se Antonieas e Antoninha, povoações nossas.
Aragões e Arangões; Aragonez e Aranguez; Badões e
Bandões; Baginha e Banginha; Barris e Barrins!... plural de
Barril por Barrai, como Barraes!... Bezerrins por Bezerriz,
plural de Bezerril. Confronte-se Bezerral e Bizarril por Be-
zerril o mesmo que Bezerral.
Brissos ou Brincos, Briço e Brinco. — De Brissus, nome
d'um santo; Briche e Brinches; Briço e Brinco; Oacaborrada
e Cancaborrada — asneira, disparate.
Cabril, Cabris e Cabrins! Cancinhôgo e Cancinhola, de
Casinhoga e casinhola, no diapasão gallego cacinhoga e ca-
cinhola; Catalão, Catellâes e Cantellães? Ohichorro e Chin-
chorro; Codeceira e Concedeira, por Cocedeira, metathese
de Codeceira?
Corvaceira e Corvanceira ^. Confronte-se o portuguez
ribança que deu Ribança, aldeia, Ripança, ponto do Douro,
e ribanceira, de riba e este de ripa — margem de rio, ribeiro
ou ribeira *.
Somma e segue: — Costançana por Costazana: Covide, '
Covido e Convido; Cucos e (juncos; Cuqueira, Cuqueiro,
Conqueira, Conqueiro e Cunqueiro! Demenderes, de Deme-
triis? Destriz e Gestrins por Gestriz, o mesmo que Destriz?
Esmoriz e Esmoríns ; Fiadeira e Fiandeira; Fiadeiro e Fian-
deiro.
Gazalho, Zagalho e Zangalho, Sangalhos por Zangalhos
e este por Gazalhos; Labrengos e Labregos; Laçada e Lan-
çada; Ladeira e Landeira; Ladeiro e Landeiro; Lagedo e
Lagendo, Castedo e Castendo; Lavadeira e Lavandeira;
Lavadeiro e Lavandeiro.
Junte-se ainda: — Macedo por Mazedo, de Manzedo por
Manzanedo. Confronte-se Mazeda, sitio de Lamego; Maçores
e Mansores; Magide e Mangide; Martigo e Martingo; Me-
^ A etymologia de Corvaceira é corvo, que deu Corveira e Corva-
ceira, como fogo deu fogueira e fogaceira, e lodo deu — lodeira e loda-
ceira.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMTCA 479
deiros e Mendeiros; Medo e Mendo; Mide e Minde; Miguen-
zes e Minguezes.
Modellos e Mondellos; Mogueira e Moguciras por No-
gueiras!... Mujães plural de Mujáo e Munjão; Pedral e
Prendai? Picaros e Pincaros; Pintim, Pintens por Pintins;
Pintem por Pintim e Pintins; Reganceira de Regaceira, o
mesmo que Kegadeira; Rodolphus, Rodulphus, Radulphus,
Randolphus e Randulphus ^ De Rogerius, ii, Rogel, Rogil,
Rugel, Ragel (?; e Rangel?
n e P
Em algumas terras do concelho de S. Pedro do Sul
dizem marte em vez de parte — substantivo feminino.
n e R
Abaneja por A Baneja, o mesmo que A Vareja. Con-
fronte-se Vareja de Cima e Vareja de Baixo, povoações
nossas; Anal e Arai, de Arenal? como Areal e Arenal, po-
voações nossas; Banreza por Bunrosa e este por Barrosa?
Banrezes e Barrezes por Barrosos? Burnico por Burrico e
Burrinho, povoações nossas; Caoheina por Cacheira? Carta-
rida por Cantárida ; Cartemii por Cantemil e este por Can-
demil o mesmo que Candomil, Gondomil, Gontorail e Gon-
domar, de Guntimirus, i.
Correlhã de Corneliana; Correlho de Cornelio? Einó
e Eiró; Elvira e Elvina; Elviro e Elvino; Estorrinheira por
Estorninheira? Note-se que Estorrinheira pertence ao dis-
tricto de Braga, o mais fresco do nosso paiz ! Ethelvina e
Etelvira, são talvez formas do mesmo nome.
Junte-se ainda Nabainhos por Nabalinhos e Rabainho;
Nabal a Rabal: Pena e Pêra - pedra, do latim petra, que
deu Pêra, como Petrus, i, Pedro, deu Pêro e Peres.
Por seu turno Pêra deu Pena pela trivial substituição
de r e w.
Assim também aradía deu ou podia dar Anadia ! . . .
Picarnel e Picarrel, povoações nossas, e Monte do
Picarrel.
^ De Radulphus — Raul, — e de Randulphus, i — Rendufe, povoa-
ção nossa.
480 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Picarnel é um moinho e um casal meu na margem es-
querda do Tedo, freguezia de Santo Adrião, concelho de
Armamar.
Picarrel encontra-se no Monte do Picarrel, casal ou
sitio do districto d'Evora; Sandoeira e Sardoeira^ o mesmo
que Sardoura; Sangrinheira, Sanguinheira e Sargoinheira
por Sanguinheira, etc, povoações nossas.
n e 5
Paisso por Painço? Confronte-se Painça, Painçaes, Pain-
çal^ Painçage e Painzella por paincella ; Paniceiro por pain-
ceiro, e talvez Pariço por paniço, o mesmo que painço ! . . .
Junte-se também Porisso. aldeia, talvez forma de Parico?. ..
Do e nha
Azinal e Azinhal^ etc, povoações nossas.
Do por 5o
Confronte-se Vai de Nobrel por Nobral e Yal de No-
vreira por Nobreira, de Sobral e Sobreira? Confronte-se
Sobral e Sobrello ou Sobrallo e Sobreira, etc, povoações
nossas.
O — prefixo
O Bevial. Vide Ovial e Ovil, do latim avis — a ovelha.
Odiaz por O Dias; Oledo por O Ledo. Confronte-se Tio
Ledo, povoação nossa também.
O — caprichoso
Alcorovel por Alcorvel. Confronte-se Corval e Corvel;
Leiroinha por Leirinha, etc, povoações nossas.
O por E
Confronte-se Orbideiro, Ervedeiro e Ervideiro. O povo
também diz somana por semana.
TENTATI VA ETyM0L0f>IC0-T0PO>. i m H.\ Hl
O G Ou
Confronte-se Baloca, Balota, Balouça e Balouta, formas
do mesmo nome, como Palorca por Paloca, e este por Balo-
ca—Valloca; Baloco, Balouço e l^jalouto são também formas
do mesmo nome, como Balota e Balouta, Balouto e Baloto?
Barroca e Barrouca; Barrocal e Barroucal; Barrocas e
BarroLicas?! . . . Beijoca e Beijouca; Coto e Couto^ por Coto,
aliquando ! No Douro ha duas quintas do Couto — uma em
frente da outra — e ambas em picotos, sitios altos, vistosos
ou cotos. — Mazopo e Masoaco ou Mazouco, são talvez for-
mas do mesmo nome ^. Loupinho por Lopinho — lobinho;
Soza e Sousa; Villarôco e Villarouco, etc, povoações nossas.
O, Ou e U
Barroca e Barrocal, Barroco, Barrouca, Barroucal, Bar-
roucas e Barruco por Barroco, etc, povoações nossas.
Barroco e Barruco ! . . . Casarollas e Oasarallos por Ca-
sarollas? Chorozeira por Corujéira ; Chouças, Chousas e Chu-
sas; Choupal e Chupai; Curceiro por Corceiro; Curtinha
por Córtinha ; Curvaceira por Corvaceira; Curvai por Cor-
val; Curvella por Corvella; Curvo por Corvo; Curvos por
Corvos.
Custeira por Costeira; Cutelo por Cotello; Cutinho por
Cotinho; Cutarella por Cotarella; Cuval por Co vai; Cuvi-
Ihão por Covalhão; Cuvinhó por Covinhò e este por Covilhó.
Gandufe, Gondufe e Gundufe; Golfar e Gulfar; Golpi-
Ihares e Gulpilhares; Golpilheira e Gulpilheiras, de vidpu —
raposa; Gominhães e Guminhães; Gomirão e Gumirães por
Guimarães, de Vimaranus, i, is?\ . . .
Gondam, Cundam e Guntão; Gorreta e Gubreta por
Gorreta ; Marzugueira e Murçogueira, abundante em morcê--
gos?! . . . Morganheira e Murganheira, abundante em murga-
nhos (ratos pequenos); Mortinhaes e Murtinhal — da murta
ou dos mutinhos ; Mosoão e jMuscão — das moscas ; Moxarro
e Muxárro — dos muchões.
^ Para a etymologia de Masouco vejam-se na primeira parto d'esta
minha louca Tentativa, as paginas 324 e seguintes.
31
482 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Volcanos e Valcanus — Valcario; volgus e vulgus; Vol-
nus e Vulnus; Voltns e Vultus; Volturius e Vulturius; Vol-
turniis e Vulturnus, etc. — já diziam os romanos.
Juntem-se os nomes communs portuguezes — agoa e
agua, taboa e tábua, etc. e muito boa gente escreve também
Regoa e Régua, villa ^.
.01 e Ou
Confronte-se Adoufe por Adolfi e este por Athaulphi,
patronímico de Athaulphus, i, nome germânico muito prolí-
fico na onomástica portugueza, pois, além de Adolpho, nome
d'um santo, etc, deu Adaufa, Adaufe, Adoufe, Adufe, Aido-
va por Aldopha, víUa, Baldrufa por Yaldufa, Casal Doufe,
Casal d'Ufe, Dolves, Doufins por Adolphínis ! — Estrada de
Ufe, Fonte d'Ufe, Ufe, Valduve por Valdufe, Yilla Duffe,
Villar d'Oufe, etc, povoações nossas ^?!. . .
Ou e U
Ou deu II já no tempo dos romanos ou do latim.
J. Bosini — 884, vb. Fulviae^ — menciona Cneius fiulvius
e diz :
«Fouhius aiitem veteres scribehant, ut Fourius, et multa
hujusmodi, graecani scriptiiram imitantes.»
Também já entre os romanos i deu ei e více-versa.
«Opimiae, vel ut ed in argenteis denaríis, Opeimiae^ gen-
tis pleheiae frequens est mentio apud veteres sc7'ipiores» . — J.
Eosiní. 886, coi. 1.*
«Serriliam gentem {vel ut innummis notatum extat Servei-
liam) diciam forte a Sérvio praenomime, . . .» — Ibíd. 887,
col. l.a
Também já no velho latim se encontra r por 6- — Pluses
e plusima por plures e plurima. — Ibíd. õ82.
Theusaurus por thesauros, no antigo latim. — Ibid.
510, 2.^
1 Junte-se Maroíeira e Maroteiras, Maruto e Marutos por maroto
e marotos? etc. povoações nossas. — Risum ieneatis.
- Junte-se, finalmente, Cachadoufe e Cachoufe por Cachadoufe —
Cachada de Adolpho?!. . .
TENTATIVA ETYMOLOGTCO-TOPOXYMTCA 183
Valeridae por kalendae. — Ibid. 2Gr), 1.*
Chousas e Chusas por Chousas; Morim e Mourim;
Morins -por Moriz e IVlouriz; Moiirens e Mureis por ^lurins?
Mouria e MuriavS, plural de Muria; Mouriga e Murigães por
Mourigães ou Mourigaes? Mourões e Muròes ou Mourões;
Poupa e Bouça da Pupa, por Bouça da Poupa; Touriz e
Turiz por Touriz, etc. Veja-se o tópico diapasão francez :
u por ou.
P e Q
Pinhão e Quinhão; Pinheiro e Quinheiro; Pinhões e
Quinhões; Penique, quasi penico ou pinico e Qninico?... etc,
povoações nossas.
P e T'
Aprigio ou Aprizio, nome d'um santo, e Frizio, aldeia
de prizio, afereze de Aprizio?... Empregado por entrevado —
é termo popular; Padim o Tadim; Painho e Tainho; Palada
e Taladas; Paleira e Talleira; Palião e Talião.
Palha e Talha; Palhinha e Talhinha; Palia e Talla;
Palias e Tallas; Panque e Tanque; Papada e Tapada; Para-
Iheira, por Taralheira '? Confronte se Taralhão, Taralhãos e
Taralhões.
Paranhão por Paralhão e Taralhão; Passinha e Tacinha;
Pavilhão ou Tavilhão, Tavilháo ou Pavilhão e'Tivilhão por
Tavilhão! De pavilhão — bandeira. Confronte-se Bandeira,
appellido, povoação, etc. Pecho e Peixe, Teixo e Teixe;
Pedom e Thedom, hoje Thedo, rio.
Somma e segue: — Peixeira e Teixeira; Peixinhos e Tei-
xeinhos; Peja e Teja; Pelho e Telho; Penha (o povo diz
Panha) 0 Tanha?
Pêra e Terá; Perra (duas aldeias) e Terra; Perraço e Ter-
raço; Perrada, Terrada e Terrados; Perráes por Perrões (?)
Terrões e Torrões; Peso e Teso, muitas povoações; Peso ou
Teso e Teso ou Peso (sic).'^...
Talvez que a nebulosa etymologia de Peso venha do
portuguez teso, sitio áspero, alcantilado; outeiro; monte al-
cantilado ou Íngreme; cume de monte. Tal é o Peso da Re-
* Este tópico é muito interessante !
484 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
goa, pois demora um sitio alto com pendente rápida sobre o
Douro e sobre a formasa villa da E-egoa, e talvez que as
nossas muitas povoações denominadas Peso e Tcao -estejam
nas mesmas condições geographicas ! , . .
Dicant paduani — respondam os filhos d'ellas.
Peso e Teso são synonimos de Coto (Outeiro), que deu
Cotello, Ootinho e Cotinhos, como Peso deu Peselo, o mes-
mo que Pesinho, diminutivo da Peso, e Pesellinhos, diminu-
tivo de Pesellos?. . .
Também temos Outeiro E-edondo e Peso Redondo, Ou-
teiro do Meio e Peso do Meio, Outeiro de Cima e Pesos Ci-
meiros ou de Cima, Outeiro de Baixo e Pesos Fundeiros ou
de Baixo!...
Também temos Monteselio e Monte Sello por Montesello,
do baixo latim monticellos^ i, diminutivo de mons, mo'ãtis, que
deu Monte Ceie. o mesmo que Monte Cello, Monte Sello e
Montesello.
E' assim a arte nova — e rÍ7*a bien qui rira le dernier.
Montesello recorda Arcozello, do baixo latim, arcucellus,
^, diminutivo de arcus — arco; por seu turno arcucellus. i,
deu também arcucillus, z, unde Argoncilhe, povoação nossa.
Veja-se o meu longo tópico : — Diminutivos formados
pela desinência cellus, celli.
Veja-se também o tópico supra: — E e S ou Z.
Proseguindo com o tópico P e Tjunte-se Pexouro por
Pezouro e Thesouro; Piar e Tear, aldeia; Pigeiro e Tigeiro
por Tojeiro; Pijão e Tijão por Tojão, Tojaláo? Pinheiro e
Tinheiro; Pinhel e Tanhel por Tinhel? Pinhella e Tinheila?!...
Pinouca, quasi Pinóca e Tinoca; Pinta e Tinta; Pinte
e Tinte; Pintim e Tintim, aldeias; Pinto e Tinto; Pires e
Tires; Piroleira e Tiroeira pot* Tiroleira?
Pisoeira e Tiroeira por Tisoeira? unde talvez Trezouras
por Tezouras, este por Tisouras e este por Tisoeiras, Pisoei-
ras, Pisões, Pisoarias?
Pó e Thó; Pogeira e Tojeira; Poido, Pugido, Tugido e Tui-
do; Poja e Toja; Polo e Tolo?!... de Paulo, santo, etc, po-
voações nossas.
Junte-se ainda : — Pomar e Thomar ; Pomarinhos e Tho-
mazinhos; Ponce, appellido, e Tonce.
Ponta é Tonta; Pontão, Tontão e Fontão ; Pontello, ton-
tello e Fontello ; Pontinha, Tontinha e Fontinha ; Perinhas e
Torrinhas? Porqueiros e Torqueiros?!
Porrão e Torrão : Porreira e Torreira ; Porvilhão e tur-
TENTATIVA ETYMOLOarCO-TOPON Y JílCA 485
bilhão; Pragal e Tragai; Pravé, provincianismo da Beira,
vento áspero e frio no inverno, quando estão abertas portas
fronteiras. — De trave por través?!...
Praves, Trave, Traveira e Traves; Prazeiro e Trazeiros,
plural do Trazeiro; Predo e Tredo; Prega e Trega ou I^rega;
Pregaes e Trigaes ! Pregai, Trigal e Trigual ; Pregueira e
Trigueira (3 aldeias) por trigoeira, que abunda em trigo.
Priana e Triana?!... Trilhão e Trinhão por Trilhão? E talvez
que Trilhão seja uma forma de tralháo ou taralhão — ave,
porque as letras i q a trivialmente se confundiram e substi-
tuiram na onomástica portugueza, e porque tomos varias po-
voações com os nomes de Tralhão, Tralhãos e Tralhões, que
tomaram evidentemente o nome das ditas aves.
Note-se que os tralhões são aves de arribação que abun-
dam em varias regiões do nosso paiz, nomeadamente no
coração do Douro. E' assim denominado o cantão do nosso
paiz formado pelos concelhos de Lamego, Régua, Mesãofrio e
Santa Marta de Penaguião, tendo a formosa villa da Régua
como centro.
E' o cantão mais fértil e mais mimoso de Portugal e foi
também o mais valioso e mais rico no tempo em que vigo-
rou a Companhia dos Vinhos fundada pelo marquez de Pom-
bal, porque no dito cantão era e é o vinho a sua produ-
ccão dominante.
Veja-se o meu artigo Villa Jusã^ freguezia de Mesão-
frio, publicado no Portugal Antigo e Moderno.
Prova, Trofa por Trova, e este por Prova, do baixo
latim prova^ bacellada, vinha nova. Provella e Trovella, que
se encontra em Ponte da Trovella, etc, povoações nossas.
Pq e Tg no baixo latim
Feltaria por Felparia o mesmo que fdtrum-^eXtro. —
Ducange.
Pi e Qui
Pinhão Celle por Pinhãocello? e Quinhãocello!... Pinhão
e Quinhão; Pinheiro e Quinheiro ; Pinhões a Quinhões, etc,
povoações nossas.
Po e To
Confronte-se Sam Xpoíia por S. Christovam. Docu-
mento da CoUegiada de Guimarães, anno 1360, na Revista
486 TENTATIVA ET YMOLOOICO-TOPONYMIOA
de Guimarães, vol. 2õ. fascicnlo l.o, pagina 21, documento
n.o 26Õ.
Poido e Tuido por Tugido, de Tojedo; Pojeira e Tojei
ra; Poledo e Toledo; Polo e Tolo; Porqueiros e Torqueiros;
Porrão e Torrào, er,c., povoações nossas.
Q 3 T
Caboqueira por Cabouqueira e Chaboteira por Caboquei-
ra? Confronte-se Chabocos por Caboucos; ("haboco e Ca-
bouco; Chabrinha e Cabrinha; Ghadeira e Cadeira por Cá-
d'Eira? Chães e Cães; Chafé e Café; Chaim e Caim, etc,
povoações nossas.
Vide o tópico supra: — Chá por Cá.
Que e Te
Monchique e Monchite? -povoações nossas.
R por D e 5 '^
«jÇ — litera communionein hahet cum. s litera. Ifaque
apud aniiquos honos, labo-s, arbo.s, dicebantur: nunc honor,
labor, arbor.í)
Isid. Hisp. — Op. Omn. — 12, 119 e 169. Confronte-se
Massilia e Marsiiia — Marselha; Esmoriz, de Ermoriquiz por
Armoriquis. «R por d — laurea por laudea; auricula por au-
dicula; meridies por medidies, subedies por suberies (o so-
breiro), etc.»— Ibid. 231 e 232.
R falso
Baberques por Babeques e esto por Valieques — valles
pequenos; Espindo e Espindro o mesmo que Espedo, Espen-
do; Sepeda por Cepeda; Sepedeilos e Sepedros por Cepedos?
Lodeira e Lordeira; Longa e Longra; í^ongas e Lon-
gras; Palorca por Paloca, este por Balloca e este por Vai-
loca — pequena valia, como Vallega, Valleja e Vallelhas, etc,
povoações nossas também.
Vice o topieo infra : — /? e S.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPOXYMICA 487
R — caprichoso
Antolhos e antrólhos — como diz o povo; Antrepostos
(provincianismo minhoto) por antepostos — diz-se dos bois
antes de jungidos ou junguidos ou appostos ao carro. Cama-
rinha, Camarinhal, Camarinhas e Cramarinhos.
Cujo, de crujo por Corujo; Curcomellos por cocomellos
— Cogumellos; Demenderes por Demendes, o mesmo que
De Mendes? Vide o tópico supra: — /)«, preposição e prefixo.
Enxido e Enxidro ; Enxudos, Enxudros e Enxuldro ^ Esco-
char e escorchar ; Fancaria e Prancaria ; Lustosa e Lustrosa ;
Macella e Marcella — planta*; Picões e Pricões ; 'Registar e
registrar; Segude e Sergude *; S. Frausto, antiga forma de S.
Fausto, sec. 14, é hoje S. Faustino de Riba Vizella. Soba! e
Sobral; Taganhal e Traganhal; Teixedo e Treixedo ; Tralha-
riz por Talhariz, este por Calhariz, e este por Calhandriz, —
sitio em que abundam calhandras, aves, espécie de cotovias.
R por h
Aguiar por Aguial, das águias, como Aguilar; Avellar
por Avellal, Avelleiral; Marmelal e Marmelar; Rabarrabos
por Lavarrabos ; Raro, forma popular de rallo, — insecto, es-
1 Estas três povoações, bem como Enxudral, Enxudreira, Enxur-
reira e Enxurreiros, povoações nossas também, tomaram o nome do por-
tuguez enxurro, — corrente ou jorro de immundicies; patameira, lodaçal.
Em Bagauste, no Alto-Douro, margem direita, ha uma quinta deno-
minada Enxudreiro ou Enxurdeiro, que tomou claramente o nome de
enxurreiro ! — Note-se que a mencionada quinta (eu conheço-a) na parte
baixa, confinante com o Douro, é bastante plana, pelo que o Douro nas
enchentes a inunda até distancia e ali deixa ou deposita grandes nateiros,
lamaçaes, enxurdeiros ou enxurreiros, que estão plantados de vinha e
produzem muito vinho!. . .
Bagauste é talvez uma forma de Banagusti por ben ou iben Augusti,
filho de Augusto. Por seu turno Bagauste por metathese deu Baguaste,
povoação nossa também.
^ Murcella ou Ponte da Murcella, povoação nossa, na passagem do
Alva e Murcellão, na foz do Alva, talvez sejam formas de Marcella e
Marcellão.
3 Segude, Sergude e Sergudo são talvez formas de Sergidc e Ser-
gido, povoações nossas também, que tomaram o nome das cerejeiras,
como Cerejal, Cereje e Cerejo, Serigal e Serijal por Cerejal, e Serijo por
Cerejo, povoações nossas também. A bússola é o ouvido.
488 TENTATIV^A ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
pecie de grillo, do baixo latim rallus — rallo. Junte-se aiuda
Cebolal e Cebolar, etc,, povoações nossas.
R por n . ^
Rabainho por Nabainho. Yide Nabainhos, supra.
R, O mesmo que RR e uíce-Dersa ou r brando e forte-
Bairos, Bairosa, Barrio, Barrios, Barriosa e Barrosa !
Baraças, Barracha e Barraxas; Barosa, Baroso, Barrosa e
Barroso; Capareira e Capareiros, por Ohaparreira e Chapar-
reiros! Dos chaparros, sobreiros novos ^.
Caparosa, Caparrosa e Caparrosinha por Chaparrosa e
Chaparrosinha ; Caraoha, Caramào, Caraxa, Carazona, Cara-
zonas, Carazonita, Carazonitas e Carracho, Carrajóla, Carra-
mão, Carrazona^ etc.
Caricola por Garricola; Cariolinha por Carriolinha; Ca-
roada e Caroadinha por Carroada e Carroadinha; Caroca
por Carroça; Caroceiras por Carroceiras; Carocho por Car-
rocho; Caroeira por Carroeira.
Carotes por Carretes ;' Charoeira por Charroeira o mes-
mo que Sarroeira por Jarroeira, nomes tirados do jarro,
planta; Estorinheira por Estorrinheira; Muritta e Murrita,
nomes de santos.
Pitarella e Pitarrella; Poretos por Porretes. Porinhas
por Porrinhas. Confronte-se Porraes, Porreira, Porreiras,
Porretas, Porrinho e Porro, dos porros, planta hortense.
Portas Faronhas por Portas Farronhas e este por Portas
Ferrenhas. Confronte-se Portas de Ferro, povoação nossa
também, como Portas Fronhas por Portas Ferrenhas; Sarei-
la por Sarrolla, de Sarrazoila? o mesmo que SerrazoUa, po-
voação nossa também. Confronte-se Zarola.
R e 5
confundiram-se e substituíram- se. Confronte-se o Bretão,
armoricano ou neo-celta fiermir e Besmir, Bernard e Bes-
nard etc. Guillou^ 121, núhi. Também Gellio no latim escre-
Ou do latim cappari — a alcaparra, arvore e o fructo.
TENTATIVA ETYMOLOmOO-TOPON YMIOA 489
veu asa em vez de a7*a, como diz o Marjnum Lexicon, Vide
tópico supra: R por D e S.
Honos, orh', Oicero; Honor, oris% Cicero e Virgílio. Je-
CUV — o fígado e jecuscuhim — pequeno fígado. Cicero.
Na onomástica portugueza temos Adorarcos ou A dos
Arcos (sic). Aremel, que pode vir de Asemel ou antes de
Armei, povoação nossa também, como Armil, formas de Aria-
mivus^ i — Ario.mirOy nomo germânico pessoal, que antiga-
mente se escreveu Arjarnirus, i e Argimirus, i, e deu ou po-
podia também dar Armilo, ArgemiJ, Argomil e talvez Arga-
nil, por Argarail. povoações nossas, todas mencionadas na
Chorographia Moderna.
Com vista aos manes do snr. conselheiro J. Dias Fer-
reira, distineto jurisconsulto, deputado, ministro e presi-
dente de ministros, natural d'Arganil.
Somma e segue :
Arribas por As Ribas. Amado e Asnado, 'appellido
actual; Aroal, Aroil e Azuil? Arramadas por As Ramadas;
Arramadinhas por As Ramadinhas; Arranas por As Ranas,
quinta; Arreigadas por As Reigadas. Confronte-se Regada,
Regadas e Reigada ^; Arrecadas por As Roçadas.
Somma e segue :
Arrochas per As Rochas ; Arroellas por As Ruelias.
Vide Ruella e Ruelias, povoações nossas. Carinha, Carinhas,
Casinha e Casinhas, povoações nossas,
Cirne por Cisne e Cysne ; Corteirinhas por Costeirinhas.
Confronte-se Costeira e Costeirinha; Cubilhores por Cubi-
Ihoses e este por Coviihoz, Confronte-se Covilhã, Covilhão
e Covilhó, povoações nossas, bem como Figueiró e Figuei-
roz, Mó, Moz e Mozes?!...
Esmorigo e Esmorigos, povoações nossas, talvez sejam
formas de Ermorico e Ermoricos, por Armoricano e Armo-
ricanos, filhos ou oriundos da Armorica, hoje Baixa Bretanha.
Por seu turno Armorica vem do neo-celta e quer dizer :
— região da beira-mar ou que demora em frente do mar, pois
em neo-celta o prefixo a}' ou are significa junto de, em frente
de, — como diz Guillou.
Esmoriz, povoação e freguezia do concelho d'Ovar, — ó
' Do latim rigata - regada, part. p. de rigare — regar.
Note-se que na onomástica portugueza / deu ei.
Vide o meu longo tópico Substituição de letras.
490 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
talvez uma forma de Ermoriz, patronímico de Ermoricus
por Armoricos ou Armoricanos, supra.
Note-se que a mencionada freguezia de Esmoriz demora
á beira-mar, junto de Espinho, lado sul.
Também temos Esmorins, o mesmo que Ermorins, como
Esmoriz por Ermoriz, supra.
O mesmo diapasão comprehende o antigo portuguez cos-
sario e cossairo, por corsário.
Também temos Harse e Hasse, appellidos portuguezes
ou usados por cidadãos portuguezes.
Joarim e Joazim, o mesmo que Joacim por Joaquim?
Jor ou Joz, Jós e Jás ou Jor (sic), povoações nossas.
Junte -se ainda — Lamoreilo por Lamosello, diminutivo
de Lamoso. Confronte-se Lamesinhos por Lamosinhos, La-
marosa, Mamarosa por Lamarosa, Lamosa, Lamoreilo ou Na-
morello e Namorello ou Lamoreilo.
Leiria e Leisia por Leiria? Lobarim (Aldeia de) e Loba-
sim; Pegarinha, Pegarinhos e Pegarrinhos por Pegasinha e
Pegasinhos; Pontarrinhas por Ponterrinhas e Pontesinhas,
são formas do mesmo nome e diminutivos de ponte!...
Sermonde, freguezia de Gaya, antigamente Sismonde,
de Segismundus, i; Vai da Uça, Vai da Urra, Vai da Ursa e
talvez Urros e Urros por Ursos e Ursos.
Xisto e Xirto, o mesmo que Cisto, Sisto, Sixto e Xis-
tro, povoações nossas, de Sextus, antigo nome pessoal, e este
de sextus — sexto, adjectivo numeral romano.
Sexto, Sixto e Xisto foram santos.
R e 5 OU Z
Monterellos e Montesellos ou Montezellos; Outeiro, Ou-
tarello, Outorella e Outozello por Outeirello? Outrela, Ou-
trelle e Outrete por Outeirete, Outrello por Outeirello, Outil
por Outeiril o mesmo que Outeiral, e Outinho por Outeiri-
nho, etc, povoações nossas.
R e T
Lamatide por Lamaride? o mesmo que Lamaredo, La-
marigo, Lamareda, Lameda, Lamedo, Lamega, Lamego, etc.,
povoações nossas que tomaram o nome da lama.
TENTATIVA ETYMOLOOICO-TOPOXYMICA 491
R e Z
Sanradftlla, Sanzadella, Senradellas, plural de Senradella,
Senrelia e Senrellas por Senradella e Senradellas. Do por-
tuguez serradela, planta leguminosa, e este do latim serratu-
la, de serratiis, como diz o snr. Cândido de Figueiredo.
5, B e \7
Confronto- se Salteiros, Balteiro e Valteiro, de Baltarius
e este de Walter; mas Salteiros pôde ser uma forma de Sol-
teiros ou vir de saltão, insecto. Vide Saltão, Solteiras e Sol-
teiros, povoações nossas.
Fiat lux.
5 e b inicíQes
confundiram-se e substituiram-se.
Larjal e Sarjal; Lomede e Semedo, appellido. Leixões e
Seixões; Leixosa e Seixosa; Ledesma e Sederma. vulgo Se-
desma e Siderma, povoações nossas.
5 8 T Iníciaes
confundiram-se e substituiram-se.
Confrontem-se os vocábulos portuguezes sarro e tarro
— sedimento de qualquer liquido. Do castelhano srnTO e
e este? Talvez de sar por salf.
Carrapassal e Carrapatal, Garrapeçal, Carapesai e Car-
rapetal, Carapeço e Carapeto, Carapiço e Carapito; povoa-
ções nossas. Carapesai foi appellido nobre e antigo de João
Carapesai, alcaide- mór de Leiria no tempo de D. Sancho I.
Vide Leiria no Portugal Antigo e Moderno^ volume 4 o, pa-
gina 79. •
Carrapassal ou Carrapaçal, Carrapatal, Carapeçal, Car-
rapetal e Carapesai são íórmas do mesmo nome tirado de
de Carapeço, por Carapeto, Carapiço e Carapito, e estes de
carrapato, contracção de carrapateiro, espécie de feijão, que
dá o ricino.
Vide Carapeços, Carapeta, Carapeta!, Garapetalinho, Ca-
rapeteira, Carapeteiro, Carapeto, Carapeto&, Carapetosa, Ca-
rapicha, Carapiço, Carapita, Carapito, Carapuço e CíU-apuços,
por Carapicho e Carapiço, e Carrapassal, Carrapatal.. Car-
492 TENTATIVA ET^MOLOGICO-TOPOXYMICA
í-apatello... Carrapatosa, Carrapatoso, appellido, Carrapicha-
na, Carrapitos por Carrapatos, etc, povoações nossas.
Ceira e Teira; Celho (Cima de Celho) Telhe e Telho;
Cesteira e Testeira : Saboneiro, appellido e Taboneira ; Sabor-
reira, Zaborreira e Taburreira; Saião (Poço do Douro) e
Tayão.
Saim e Thaim ; Sainde e Tainde; Salla e Talla; Sa-
mel. Samuel e Tamel ; Sanque e Tanque; Sanguinhal e Tan-
ganhal por Tanguinbal: Sardoeira, Sardoura e Tardouro;
Sarrazim, Sarrazina e Terr;3zina; Sarrea, appellido. Sarria,
na Hespanha e Tarria, casal nosso.
Sarroeira e Tarrueiro; Sedões e Tedões; Seixedo, Tei-
xedo e Trcixedo; Seixeira e Teixeira.
Somma e segue:
Seixo e Teixo e Teixo ; Seixoso e Toixoso ; Sello e Tello ;
Sellões, Teliões e Tenões; Semonde e Themonde; Sendal e
Tendaes, plural de Tendal; Sendas e Tendas; Sente e Tente;
Serena e Terena; Serina e Terina?
Serrão e Torrão, aldeias; Serreira e Terreira; Serrenho
Terranho e ferrenho; Serrões e Terrões, aldeias; Setinha e
Tetinha; S. Gi« e Tangil: Sonda e Tonda.
Junte-se ainda: — Sonim, Tonim e Tunim; Soppo e
Topo; Sourinho, Thourim e Tourinho; Souto e Touto; Sou-
tosa e Toutosa; Sugueiro e Tojeiro; Taburreira e Zaburrei-
ra por Saburreira?
Toes, Toitão, Toito e Touto, povoações nossas.
1.0 — De...
2.° — De Theotonius, ii, iú, nome d'um santo. etc. a que
o povo chama Titonio, na Itália Titoni, unde Titonis — Toes.
De Titonio — Toito e de Toito, Touto? Também Theotonius
podia dar Titonius e Titonianus, unde Toitão? Confronte-se
Antonius e Antonianus; Aurelius e Aurelianus, etc, nomes
de santos.
* S.° — Toito e Touto parecem também formas de Souto,
a que o povo chama Soito. Confronte-se Soutosa e Toutosa,
povoações nossas : mas só daria tá ? Com vista aos mestres
de glottologia. Confronte-se também Sanganhal e Tanga-
nhal, Sainde e Tainde; Sabeira e Sabeiro, Taveira e Ta-
veiro; Tapedão por Tapadão, de sapadão — grande sapada?
ou de Tapadão — grande Tapada? etc. povoações nossas.
TKNTATIVA KTYMOLOOICO-TOPONYMTCA 4^3
5 e \7?
Sirarelhos por Villareihos? povoações nossas.
5 e X
Confronte-se Sextus — sexto, que deu Sexto, Sixto e
Xisto, nomes de santos, — Cisto, Sisto, Sixto, Xirto, Xisto e
Xistro, povoações nossas. Confronte-se também Estremo e
e Extremo ; Estremadouro e Extremadouro ; Estremadura e
Extremadura; estrangeira por extrangeira: estrangeiro por
extrangeiro; estranho por extranho; Estremoz e Extremoz;
extremas e estremas, etc.
5 e Z
O povo no Alemtejo, etc, diz ração em vez de rasão
ou razão.
«Quando já tinha uso de ração.» — Ibi. Confronte-se
Adozeiros, Sebouças, Seloureiros, Selouros, Sepedros, Sevi-
vos, Soliliveiras, Zeiteiros, Zabelleiras, etc, povoações nos-
sas, por As Bouças, Os Loureiros, Os Louros, As Oliveiras,
Os Pedros, ou Peros. Confronte-se Pedros e Peros, povoa-
ções nossas; As Avelleiras?!... e os Azeiteiros.
Junte-se Adozeiros por A dos Eiros ; Zorzaes por Os
Orjaes ou Urjaes ou Urzaes ou Os Urjaes ou Os Urzaes. Con-
fronte-se Orge, Orgens, Orjaes e Orje, Urjaes, Urjal e Urzal.
Do francez orge — cevada, ou da urze — planta. Confronte-se
também Soliveiras por As Oliveiras, e veja-se o meu longo
topic£): — Diapasão callaico.
5a e Xa
Ansara e Enxara, povoações nossas. Desenxabido por
desensabido, do latim sapidus, a, um — saboroso, que tem
gosto ou sabor. Cândido de Figueiredo e M. Lexicon.
5i e Xi
Sixto e Xisto, nomes de santos. Também temos Cisto,
Sixto, Xistro e S. Xisto, aldeias.
494 TENTATIVA ET YMOLOGICO-TOPONÍYMICA
5o e Tò
Coensos por Coentos e este por Coentros. Confronte-se
Coentral, Coentros, Alcoentre por Alooentro e Aicoentrinho,
povoações nossas.
T e 5
T deu -9 na Inglaterra e na Mancha, v. g, Tarn por Parn,
rio; Tara e Thara, hoje Saire (por Sara), rio da Mancha,
— (íexemple unique, à notre connaissance, ou le fh se soit adouci
en s, comine en anglais.»
Heriche7% 46 vb. Tarn.
Confronte-se Ceira e Teira; Sabacheira Tavagueira;
Sabeira e Taveira; Sabeiro e Taveiro; Sabordelia, Taborda
e Taborella.
Saganhal (por Sanganhal), Taganhal e Tanganhal; Saim
e Thaim ; Sainde e Tainde, de Athanagildi; Saindos por
Taindos, de Athanagildus ; Salaborda e Taborda.
Salla, Talla e Tallas; Samel e Tamel; Sanqiie e Tanque;
Saonda, Sonda e Tonda ; Sarraco e Tarraco, provincianismo
beirão. — rapaz baixo e gordo; atarracado ; Seixedo e Teixedo;
Seixeira e Teixeira; Seixo e Teixo; Seixoso e Teixoso; Sello
e Tello, povoações nossas.
Junte-se ainda: — Sellões e Tellões.; Serena e Terena;
Serges e Terges, ribeira do Alemtejo; Serina e Terina; So-
gilde e Tugilde; Soirão, Sourão e Tourão; Soirmho, Souri-
nho e Tourinho; Soleima e toleima, nome commum.
Sonim, Tonim e Tunim; Soppo e Topo; Sourões e Tou-
rões; Souto e Touto; Soutosa e Toutosa; Sugueiro, Tojeiro,
Tugai e Tugueira, povoações nossas.
T e Z
Confronte-se Taburreira e Zaburreira — chão que dá
milho zaburro ?
U e Ou
O provincianismo oupa ! é a forma popular de hupa!...
Vide Ou e U, supra.
TENTATIVA ErYMOLOOICO TOPONVMICA 495
U e Ui
U deu ui em bom portuguez do século xvii.
«...por cansa das muitas chuivas...» E' influencia do
latim pluma — chuva.
U e V
Em antigo hespanhol v valia it e vice versa.
Assim era documentos do século xiv e xv se encontra
uuo por uvo — houve, teve, e hiuo por tuvo, idem.
Também no século xv em Aragão se escrevia vuo por
uvo — houve, — como em Portugal se escrevia — vua por uva.
Também na Hespanha outr'ora se escrevia obtuuo, significando
obteve^ etc.
\7g, \7é, \7i, 17o, V\i deram Ga Gué, Gui, Go, Gu
Para evitarmos repetições, vejam-se os tópicos supra ^
G, B e y. Ga, Ba e Va. Gu e Vu.
Gué por Vé. Gui e Vi
Junte-se gô por vô, que se encontra em gomil, outr'ora
em vomil, do latim vomère — vomitar. O povo diz gomitar.
Elucidário^ vb. Vomil, artigo muito interessante.
w
Esta letra — W — de origem tentonica (?) soffreu tratos
de polé na onomástica portugueza e no idioma portuguez,
por não haver no latim letra correspondente. Assim W alter,
nome germânico e nome d'um santo, entre nós deu Alter e
Alther, Baltar, Balteiro, Balter, Gaitar, Gualtar, Gualter,
Valteiro, Valter, Walter, etc.
Para evitarmos repetições, vejam-se na primeira parte
d'esta minha louca Tentativa as paginas 41, 104, 364 e 365.
496
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPOXYMICA
X e Z
Menexas e Menezas ; Monxorro por Monzorro ! . . . Gon-
froute-^e Montorro, povoação nossa também.
Z por Ç C 5
Azueira por Açoeira e este por Açoreira? Azuleiral por
Açoreiral; Azurara por Açorará e este por Açorera o mesmo
que Açoreira? Azurva por A Sorva ou Sorveira. Oonfronte-
se Sorvai, povoação nossa também.
Vide o tópico S e Z, supra.
TENTATIVA ETYMOLOaiCO-TOPONYMlCA 497
Desinências da onomástica portugueza
pouco Dulgares
flc
E' terminação vulgar na Baixa Bretanha ou em r.eo-celta.
Confronte-se Polignac — domínio de Paulino ; Brissao
— domínio do bretão; Cognac — domínio do cum ou prín-
cipe, etc. — Guillou, lõO.
flça-Qçc
E' por vezes augmentatíva.
Barbaça; Barcaça (nome commum i ; Cambiaço por Cana-
biaço, abundante em canabis — cânhamo; Colmassa por Col-
maça — muito colmo. Confronte-se Palhaça: Cortegaça;
Ervilhaca; Gestaço e Gestaçô; Gramaça e Gramacho por
Gramaço.
Confronte-se Lagoaça, Villaça, Pedraça e talvez Alco-
baça por Al-f-Covaça, povoações nossas, como Vinhaça.
Confrontem-se também os nomes communs populares,
mulheraça, caraça, barcaça, barbaças, etc.
Melgaço e Melgaz ; Melgar e Melgasa ; Mijarada e
Millarada, em portuguez Milharada; Mílhaço e Mílhaça
(Bouça da Mílhaça) Mulheraça, mulher muito grande. Paja,
Pajar, Pajares e Pajaro, em portuguez Palba, Palhal, Palha-
res ou Palhaes o Palhaço, o mesmo que entre nós Palhaça;
Palhaça, não palhaço.
Pedraça, não pedraço; Pomaraço, o mesmo que Poma-
rão — grande pomar, antithese de Pomarelho e Pomarínho.
Populaça é termo vulgar, equivalente a populacho e plebe ;
Ricaço — muito rico, ricaça.
Sardaça e na Hespanha Sardon e Sardoncilio, que se lê
Sardoncilho, unde Sardonselhe por Sardoncelhe, o mesmo
que Sardoncelho e Sardoncilho — sardãosinho. Sadonselhe
32
498 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMTCA
é povoação Dossa. Senhoraça (nome commum), Taboaça, Ta-
boaço e Taboaçô, do latim tabula -- tsihoa..
Também ha na Hespanha- — Tabla, Tablada, Tablaza,
Tablazo, Taboada e Taboazos; Traba, Trabada, Trabazas,
Trabazo e Trabazos e Travazos : Travassô e Travasso, não
Travassa; Villaca, appellido, aldeia_, freguezia, etc. ; Vinhaça,
aldeia.
flço, masculino de aça
Brunhaxos por Brunhaços, plural de Brunhaço por
Abrnnhaço, grande Abrunhal; Calhamaço por canhamaço,
de canabis — cânhamo, como Cambiaço por Canabiaço ; Ca-
macho por Gamacho e este por Gramacho, da grama, como
Gramicho, Gramido, etc. etc. Carcasso por Carcaço? Con-
fronte-se Carcaça, casal nosso também; Cortegaço; Espi-
nhaço; Grandassos, plural de Grandaço por granataço, abun-
dante em grãos? Madraço por Malandraço — grande malan-
dro — nomes communs.
flçQ e ada
Cortegaça e Cortegada; Louriçal e Louridai; Milhaço
por milharaço e Milharado; Milhariça por milbaraça e Mi-
iharada; Rabaça e Rabada; Pedraça, Pedreda e Pedrada por
Pedraça, três aldeias. Samaça por simaça? e Simada; Ta-
boaça, Taboaço e Taboado. Não vingou a íórma Taboada.
flcho
Corbacho. Confronte-se Corvacho, Corbete, Corvete e
Corvite por corvinho; Gramacha, Gramacho, Gramaça e Gra-
maços.
Pico e eco
Fijacos por Fijocos ou Fojacos? Vide Fujaco, povoação
nossa; Forneço e Fornico por Fornico.
TKNTATIVA K'! VM'>t t,( •irc)-'y()['<>\ Y W.r \ 499
fida coIIectiDQ
Confrorite-se Bacellada ; Boiada; Burricada ; Cabrada ;
Cainçada; Canniçada; Carneirada; Farrapada; Fumarada;
Futricada; Grarotada; Gericada; Ninhada; Mascarada; Pape-
lada; Passarada; Salsada; Torresmada, etc, nomes communs.
Alhadas de Alhada; Carvalhada; Cortiçada; Feitada;
Leirada; Milharada e Milharadas ; Moitadas, plural de Moi-
tada; Outeirada; Panellada; Panelladas; Pereirada; Poma-
rada; Sobrada por sobreirada, etc , povoações nossas.
fldiga e adigas. flriga e arigas
Barcadigas ou Barcadias, povoações nossas, como Fradi-
gas e Fragas. Confronte- se Villardiga, em Zamora; Gar-
rida, em Poritevedra; Garriga e Garrigas, em Gerona e
Barcelona. Arandiga, nome d'um santo e d'uma povoação
da Hespanha. Cárdia por Cardaria; Cardida e Cardido;
Cardiga por Cardida e Cardigos por Cardidos? Caria, Carias
e Carigas; Alçaria, Alçarias e Alcarida, o mesmo que Al-
cariga ?
Carigas talvez seja uma forma de Caridas e Carias,
como Alcarida é uma forma de Alçaria, Cardiga, de Cardida
e Cardigos de Cardidos? Cardida e Cardido são talvez for-
mas de Cardeda e Cardedo. Confronte-se Lourido e Lou-
redo; Aze vido e Azevedo; Carvalhido e Carvalhedo ; Rebo-
rido, Robaido, Reboredo e Roboredo: Gestedo por Gestido ;
Barredo e Barrido; Ramalhedo e Ramalhido; Sobredo e
Sobrido.
Fragas, PVagoas, Fradigas, Pradizella e Fradizellas.
Fradigas e Fradizella são talvez o me.smo que Fragoas e
Fragozella ! . . .
Formas anteriores da desinência ães
Aefi, àos% õcs, p/n.9^ ães e ois por oes ; eis e eis.
Vide pagina 263 da primeira parte.
Albarrães por A 1 -j- Barraes ; Antunhaes por Antunhães,
de Antonianis? Azagães por azagaes.
500 TENTATIVA ETYMOLOGIOO-TOPONYMICA
Braadinhaes por Brandinhães, de Blandinianis , patroai-
mico de Blandimanus, L Confronte-se Brandão, Brandião,
etc. Brirães e Briraes ou Brirães; Brunhaes e Brunháes por
Brunhaes ou Abrunhaes.
Cães, Cães e Cacães por Ca-j-Cães; Cardaes e Recar-
dâes, de Recardaes; Carraes, Carrães e Carrões; Centiaes,
Ceiíbiães e Sentiaes; Cepães, Sepães e Cepões, dos cepos;
Cidrães e Cidraes; Corjães por Corjaes e este por Crujaes,
de Corujaes. Crastovães, de Christofanis, patronímico de
Christophanus, i, Christovam.
Faldijaes por Faldijàes e Faldigens por Valdigens,
plural de Valdigem? Fanhaes por Fanhães e Fanhões. Tal-
vez de fanha, nome que o povo dá aos defeituosos da falia.
Fu conheci o Fanha de Ooujoim^ assim denominado, porque
nas campanhas da mocidade perdeu os gorgomilos P....
Na mesma campanha, um campanheiro d'elle perdeu o
nariz, pelo que ficou sendo denominado o Sem Nariz, do
Bacalar; outro companheiro ficou apenas manquejando leve-
mente; outros dois companheiros succumbiram, A campa-
nha foi uma romaria ao Bom Jesus de Braga!...
Fiães, Fiaes e Povoa de Fiaes ; Guardaes e Guardães
por Guardaes. Vide Cardai e Cardaes.
Lamaçaes e Lamaçães por Lamaçaes.
Maçã, Maçans e Macens; Messegães e Pecegães por pe-
cegaes. Mogueirães por Mogueiraes e este por Nogueiraes?
Moiraes, Moirães, Moiram, Mourão, Mourãos, Mourens e
Mourões?!...
Orjaes, Urjaes e Orgens por Orjães? Pecegães por Pe-
cegães— dos pecegos ou pecegueiros; Penedaes por Penedàes
e este por Penedões. Confronte-se Penedão e Penedones ;
Perdagães por Perdigães e Perdigões; Pinhaes e Pinhães
por Pinhaes.
Sapogães por Sapogaes, o mesmo que sabugaes, como
Sapogal por Sabugal; Serraes (por Serrães?) ou Serrões;
Serròa, Serros e Serrões.
Serreleis de serrelaes, serrelães ou serrelens, e estes de
serrela por serradella, planta leguminosa, em latim serratula,
de serratus,
O povo também diz sarradela e senradela. Confronte-se
Sanradeila, Sanradellas, Sarnadeila por Sarradella? Sarna-
dello por Sarradello? Sarreira por Sarreleira; Sarrella por
Serradella; Senradellas por Serradellas; Senrella, Senrellas
por Senradella e Senradellas; Serradello; Serreira por Ser-
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONyMlCA 501
releira, e Serreleis por Serrelaes, Serrelães jou Serrelens,
como já dissemos.
Tibàes e Tivaes ^y Tojaes e Tujães por Tojaes; Touraes,
TouráQS, Tourem, Tourim, Tourão e Tourões?!...
Ruivaes e Ruivães.
Varáes e Varaes; Alvoraçães, AlvoraçOes e Alvações por
Alvorações?
Ardegães e Ardegão. Confronte-se Aldegão, Aldeão e
Aldeijas por Aldeias, unde Aldegão por Aldeijão, Ardegão
por Aldegão, Ardegães por Aldegães e este por Aldejães, o
mesmo que aldeães e aldeões. Alvarães e Alvarões; Azagães
por Azagaes e Azoes por Azagões? de Azagaes — pastores.
Bitarães e Butarens por Bitarens ou Bitarães*; Cepães e
Cepões: Chavães e Chavões, de Flavianis, como Chaviães;
Coimbrã, Coimbráes, Coimbrão, Coimbró e Coimbrões.
Juate-se Cuibrans, Cuibranitos, Guimbra, Guimbras e
Guimbriz, povoações nossas também.
Junte-se ainda dous carreiros muito Íngremes e muito
estreitos que ha em Avintes, aprumados sobre o Douro e
chamados guimbras, pelos quaes os negociantes de madeira
arrastam com o peso próprio e com o auxilio de cordas a
madeira que exportam pelo Douro para o Porto.
Nas taes guimbras d'Avintes talvez esteja a nebulosa
etymologia de Coimbra, pois na minha opinião guimbra por
goimbra. quasi Coimbra, vem de Colimbria, por Coiibria,
e este de coliher por coluher, serpente, cobra, por serem os
taes carreiros tão Íngremes, que somente podem vencer se
em torcicollos ou serpeando como as cobras. Taes são as ruas
da parte alta de Coimbra, e assim eram talvez as de Con-
deixa Velha ou da velha Coimbra, outr'ora Colimbria.
Coluber deu ou podia dar coliber, bri, pois já no latim
puro as letras i, e u se confundiram. Confronte-se monimen-
tum e monumentum e mytilus, o mexilhão, denominado tam-
bém mutilas, mutulus e mytulos por Plinio, Horácio, etc,
como se lê no Magnum Lexicon.
Coimbra pôde, pois, vir de coluber^ mesmo porque no
brazão d'armas de Coimbra figura uma serpente!...
^ São talvez tórmas de Estevaes, povoação nossa também.
2 De Victorianis, patronimico de Victorianus, i— Victoriano. antigo
nome pessoal e nome d'um santo, diminutivo de Victor, como Victorino,
também nomes de santos.
502 TENTATIVA i:TYMOLOOICO-TOPONYMir.A
Farelães e Farlens por Farelães? Fermentães,- Fermen-
tãos e Fermentões; Gontães ou Gontens e Goiitão; Guivães
e Guivans. «
Miiihães e Miiihãos; Negraes por Negrães e Negrões.
Pedaçães por pedaçòes? Confronte-se Pedaço, Pedaço
Mau e Pedaços, povoações nossas; Poldrães por Poldrões,
dos poldros? como Poldraria e Poldreirinhos.
Prós i gamos.
Quintães e Quintões; Samaiães e Samaiões; Sandiães,
Sandião, Santiaes, Sendiaes; Sapiães, Sapiões e Seipião;
Tabelliães e Tabelliões ; Tellões, Teriães e Tenões por Tel-
lões.
A desinência ão dos substantivos e adjectivos portugue-
ses no plural deu ãos, aes e ões. O povo sympathisa mais com
a desinência ões. Assim em vez de mãos, pagãos, cidadãos,
pães, escrivães^ tabelliães, etc. — diz mões, pagões, cidadões,
pões, escrivões e tabalhões.
«... que o levam almocreves e regatãees. . .» - portu-
guez do século xvi. Ruy Fernandes — Õ54.
— Adão, Adàes, e Adões, mas Adães pode vir de Atães
ou Attiães ou AtKeães povoações nossas também. — Aldeãos
e Aldeõ«^s; — Ancião, Anciã'es e Anções por Anciões? — Bur-
gão, Burgães e Burgões. — Chão, Chães e Chões, povoações
nossas; — Cidadão, Cidadãos e Cidòes por Cidadões, antiga-
mente cidadães; — Coimbrão e Coimbões; — Fontão e tbntões,
antigamente fontàes; Frião. Priães e Friões. Fundo, Fundão,
Fundaes, Fundoães e Fundões; Galeão, Galeáes e Galeões;
Galrão e Galráes por Galrões; Gavião, Gaviães e Gaviões.
De Guido, onis — Guidão, Guiáes por Guidáes. Guidãos^
Guidões, Guifães e Guifões !
Junte se Goães por Guiáes e Godão por Guidão; Con-
dão, Gondiães, Gondians, Gondião; Guidãos e Guidões, de
Guido ou Guidão e Guidon, nomes de santos; Gandão ou
Gondam, Gantão e Gontães ou Gontens; João e Joães por
Joões?
Limão, Limãos e Limões, povoações nossas; Mogáo e
Mogãos; Mourão, Mourões e Mourens por Mourães ou Mou-
rões; Moção, Mução, Muçaes e Macães ou Mucens ! povoa-
ções nossas.
Perdigão, Perdigões e Perdagães por Perdigães ou Per-
digões!.;.
Quintão, Quintãos e Quintões; Rebordãos e Rebordões,
povoações nossas. O povo também diz Rebordães.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 503
Santão, Santães e SantagOes, algo más do que SantOesr
e Santegãos por Santagãos, o mesmo que SantagOes po,
santarrões?; Sedão, Cedàes e Sedões; Sapiãos e Sapiões, de
Seipião; Simão, Simáes e Simões.
Taralhão, Taraihãos e Taralhões. De taralhão ou tralháo,
ave; Tecelão e tecelões, antigamente tecelães.
Afains por Al+Fains e Fens por Fins?; Agrações —
Povoa de Agraçãos e Sobral de Monte Agraço; Alcains por
Al-fCains; Cães e Cacães por Ca-f-Cães; Almargem, Almar-
jáo, Almarjães, Almargens e Almarjões? Alvar, Alvarão, Al-
varães e Alvarões. De Alvar, pinheiro? ou de Aivarus, Ál-
varo, nome d'um santo.
Bouça, Boução, Bouço, Boucoães e Bouções; Careis e
Careis e esto por Carins, de Carinis? Carro, Carrão, Carrães
e Carrões; Catello, Catellães e Oatellões; Chã, Chans, Chães
e Chões; Oidral, Cidraes e Cidrães; Coto, Cotães, Cotens,
Cotiães e Cotões.
Ervilha, Ervilhal, Ervilhães, Ervilhão, Revilha por Er-
vilha, Revilhães por Ervilhães e Revilhões por Ervilhões.
Parlens ou Farelães e Farelães ou Farlens (sic),
Maçans e Macens; Magalhã, Magalhães^ Magalhans e
Magães por Magalhães? Martim Duroaez por Durães. — Do-
cumento da CoUegiada de Guimarães, anno 1350.
«Dado ao cabido por Martim Lourenço e Joham Lou-
renço, irmãos, celorgioaes da villa de Guimarães»,... cirur-
giães da villa de Guimarães. — Documento da CoUegiada de
Guimarães do anno 1352. — Mureis por Mureis o mesmo que
Mourens, Mouris e Mouriz. De Mourinis?
Pia, Piães, Pião e Piões; Pintim, Pintem, Pintens,
Pitães, Pitins e Pitões. Dos pintainhos, chamados também
pintos e pitos; Portigens ou Portigans, talvez forma de por-
tagens? Confronte-se Magalhans e Magalhães.
Quinta, Quintans, Quintães, Quintão, Quintões, Quin-
tiáo, Quintians e Quintiães.
Revilha, Revilhães e Revilhões. Confronte-se Ervilha,
Ervilhas e Ervilhão; Rola, Rola, Rolans, Rolães e Rolão;
Ruival, Ruivaes e Ruiváes.
Sabugal, Sabugaes e Sapogões por Sabugaes, de Sapo-
gal por Sabugal; Sacões e Sacois; Silva, Silva, Silvan. Sil-
vanes. Silvão, Silvãos e Silvões. Do latim silva — selva,
matta, brenha, bosque.
504 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Ri
Canavae ou Canavai, de Canaviali? — A Hespanha tem
Canabal! Vide Cambiaço.
Donai. De Donadi por Donati, patronímico de Dona-
tus, i — Donato, nome d'um santo, etc.
Garibay, appellido hespanhol. de Garibaldi, appellido
italiano. Gondivae, de Gondibaldi? Guilhovai, de Wilibaldi
o mesmo que Vivaldi!... Viavai, de Vivaldi.
flinha e ainho
Agra e Agrainhas por Agrinhas; Andainho, Andai, An-
dalho, Andão e Andinho. Bouçainhas por Boucinhas; Ca-
brainha por Cabrinha; Campainhos por campinbos? Casai-
nho e Casainhos por Casalinho, diminutivo de Casal; Cer-
tainha e Sartainho; Cibrainho ou S. Cibrainho por Cypriani-
nho, diminutivo de Cibrão e S. Cibrão por Cypriano e S. Cy-
priano.
Estevainha por Estevinha ; Fontainha, Fontainhas e
Fontainho por Pontinha, Pontinhas e Fontiscos? Longa e
Longainha por Longuinha; Louçainha por Loucinha; Maçai-
nha, por Maçadinhas? Confronte-se Maçadas e Villar de
Maçada, de Maça ou Massa — granja, quinta, estabeleci-
mento rural.
Nabainhos, de Nabalinhos, diminutivo de Nabal, como
Nobainho por Nabalinho. Novainho por Novalinho, diminu-
tivo de Noval. Pardainhos por pardalinhos, diminutivo de
pardal.
Rabainho, de rabaninho, diminutivo de rábano, ou de
E-abadinho. Confronte-se Rabada, Rabadella e Rabadôa;
Regainho, de Regadinho. Confronte-se Regada, Regadas,
Regadia, Regadias, Regadinha, Regadinhas e Regado.
Sapainho, Sapal e Sapalinho; Sartainho, Sartainhos e
Casal de Sartainho por Sertainho, de certaninho? certanejo,
como Certaninha supra.
Sobrainho e Sobralinho.
Trochainho? de tochainho por tochalinho. Vide Toja-
linho. Troviscainho por Troviscalinho. Vide Troviscal, Viça
e Vicainha. Confronte-se Bica, Biquinha e Fontainha; Villa
Frescainha por Villa fresquinha.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPOííYllICA 505
fli e ar
Al e ar confundiram-se.
Aguiar por Aguial, o mesmo que Aguilar; Avaliai e
Avellar; Bacellal e Bacellar; Casal e Casares por Casales ;
Cebolal e Cebolar; Golpilhal e Golpilhares; Luval por lobale
e Luvar; Marmelal e Marmelar ; Rebolai e Rebolar; Tojal e
Tuzar por Tujal; Vinhal; Xapelar por Bacellar? Zebral; Ul-
mar, Urmal e Urmar, dos olmos, choupos, como Choupal.
Domes únicos
Armamar, Armamil, Armão, Armei, Armental. Armil,
Armoniz, Arnadello, Arneiricho, Arnequinha, Arnim.
Bacalar ou Vacalar, Valdigem.
Maçai por Macial — contracções de maceiral ou maciei-
ral, bosque de maceiras ou macieiras, arvores que produzem
maçans e deram o nome a muitas povoações nossas. Taes
são: Maçã, Maçans, Maceda, Macedinho, Macedo, Macedos,
Maceira, Maceiras, Maceirinha, Maçens por Maçans, — Ma-
cido por Macedo, Macide por Macido, Macieira, Macieras,
Marseninha, Macieiro, Maçoeira por Macieira, M azeda, rua,
quinta e fonte de Lamego, contracção do hespanhol Manza
neda, que deu Mazeda, o mesmo que Maceda supra. Tam-
bém manzanedo entre nós deu mançanedo e por contracção
Macedo.
Junte-se Maciel, appellido, o mesmo que macial e Maçai,
supra, como Freixiel e Freixial, infra, são formas do mesmo
nome.
Também temos Machiai e Machieira, Maxial e Maxieira
que talvez sejam formas de Macial e Macieira ou de Amei-'
xial e Ameixieira, povoações nossas que tomaram o nome
das ameixieiras ou ameixoeiras.
As meias tintas confundem.
Prosigamos com as desinências ai el e il.
m d íi
Alparrel por Aiparral, — o parreiral; Areal e Aroil por
Areil? ou Aroeiril por Aroeiral — bosque ou matta de aroei-
ras — lentisco.
Barril.
1."— De...
506 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
'2.0 - De barrai que abunda em barro. Confronte-se
Barrai, mais de 100 povoações nossas. Barrocal e Marroquil
por Barroqnil? Confronte-se Barrocos e Marrocos por Bar-
rocos ? Borrai e Borrei ; Cabanil ; Cabral e Cabril ; Caramoxel
por caramoxal, de Caramujo e caramujal.
Carral e Carril, povoações nossas; Carvoal e Carvoil;
Favaoal, Favaial, Faval, Favarrel por Favarral e Favasal por
Favacal; Fetal e Fetil, povoações nossas; Fraguil; Freixial e
Freixial; Juvenal e juvenil. Landal, o mesmo que Landral
e Landril; Loural, Lourel e Lourií, povoações nossas.
Maçai e Maciel, appellido; Malhadal^ malhadil e Ma-
Ihaíl, povoações nossas; Mamai e Marnel; Melriçal ou Mel-
rissal; Mortal por Murtal e Mortazel por Mortazal: Moural
e Mouril; Murtaçal, Murtal e Murtmhal, da murta.
Nesperal, Nogueira e Nugal ; Noval.
Olival; Orgal ou Urgal; Orijal! Ortigal; Ourai e Ouril;
Outeiral e Outil por Outeiril? Ovial e Ouvil.
Padral; Painçal; Pam pilhai; Panascal: Parai e Peral;
Pargal. Vide Espagal por Espargal ; Parragei por Parrajal
e este por Ferragial; Parral e Parreiral: Pedral, Pedregal;
Peral e Ferral; Pinhal e Pinhel; Portal e Portel; Pasmai e
Pasmil? Passal e Passil, povoações nossas.
Saboral e Sobral; Sabugal; Tarrastal por Carrascal?
Telhai; Tojal, TozaL Tugal e Tuzar, formas de Tojal?!...
Toural e Touril, muitas povoações. Trigal, Trogal, Trugal e
Turguel por Torgal etc. Tubaral e Tuberal. Ulmal, Urmal
e Urmar. Vide Ormal e Olmal; Urgal e Urjal. Vide Orjal.
Zambujal; Zebral e Zimbral.
El por QÍ
Alportel, Portel e Portal; Corvel e Corval: Ervidel e
Ervidal; Espinhei e Espinhal; Fael, Fail e Faial; Ferrei e
Ferral; Mourel e Moural; Nodel e Nodar por Nodal; Ponte-
vel por Ponteval, o mesmo que Ponte do Vai, povoação.
Tamel e Tamal por Thomar? Turquel por Turcal, o mesmo
que Torgal, Trogal e Trugal, da torga, urze.
II deu eí
O povo diz — dois mél reis, três mel reis, quatro mel reis,
etc, por dois mil reis, três mil reis, quatro mil reis, etc, e
em vez de fácil diz facel, e deficel por difficil.
TENTATIVA ETYMOLOOICO-TOPONYMTCA 507
Azuil e Zuil por Joel e Zuel, nomes de santos, tirados
de Joel ou Johel, nome bíblico.
Pina, ano, ào, an5, âes, aos e ões
Abbação, Abeção, Abelhão, Abrãa, Abragão, Abrahão,
Abrão, Abregã; Abregão, Adào, Adebagão, Adorão ; Adrào,
Adrejàes, Adriano, Adrião, Agadão (santo /, Agraçòes, Agrão,
Agro-chão^ Agniã, Aguião, Aguilhão, Aiana, Airáes, Airào,
Albardão, Alcanhões, Alçarão, Alcaron, Aldão, Aldeão, Alde-
gão, Aldrogões e Aldrogos, Alentejão, Alfaião, Alteirào,
Alfeirões, Alfoizirão, Allíblões, Alfundão, Algarâo, Algibei-
rão, Algueirão, Alhões, Aligào, Aljáo, Ailão, Allemão, Al-
marjáes, Almarjão, Almarjões, Almoíáes, Almorjão, Alpalláo,
Alqueidão, Alvação, Alvações, Alvaràes, Alvarào, Al varões,
Alvarrão, Alvarrões, Alviães, Alvões, Alvoraçôes, Alvorão,
Alvorrão, Ambrões, Anciães, Ancião, Anções, Andam e Ap-
dáo, Andeáo, And ões, Anhões, Anquião, Antão, Antõas, An-
tunhaes, Appellação, Aragão, Arangões, Arão, Arca, Arcam
e Arção, Ardào, Ardãos, Ardegães, Ardegão, Areaes, Areões,
Argana, Argueirão, Armação, Armão, Arões, Arranas, Arrão,
Arrachã, Arriais!... Arrolans, Arrudom, Arudáo, Ascensão,
Assoes, Atães, Atão, Atheães, Aveção, Avellaes, Avellans,
Avellões, Avessão, Avessões, Avesão, Avonões, Aião ou
Ayão, Ayrão, Azagães, Azeitão, Azinhaes^ Azoes.
Babaes, Badanaes, Badões, Baians, baião, Bailào, Bâi-
Iham, Baiões, Bairão, Bairraes, Bairrão, Baldo ?s, Baleizão.
Ballão, Ballugães, Bandilhão, Bandões, Barambão. Barão,
Barbacào, l^arbadães, Barbadans, Barbadão, Barbães ou Bar-
baes, Barbelães, Barracão, Barrancão, Barrancões, Barrão,
Barregáo, F^)arreirão, Barrigões, Barrimáo, Barrimau ou Bar-
rio mau, Barrocaes e Barroohaes, Barrocão, Barrosan, Barro-
são, Batocaes ou Batoçaes, Bei)'am e Beirão, Beladãos por
Valladãos? Berbedã, Berganção, Bodegào, Bodelhão, Boião,
Boisão, Boisões, Boivães, Boivão, Bojões, Bolão ou Rolão,
Bolbugáo. Bolegão, Borbolegão, Borbolhão, Boqueirão, Bo-
tão, Botelhão, Bouba, Boução, Bouçoães e Bouções, Braçaes
e Braçal, Braciaes e Bracial, Bramanfào e Bramão, appel-
lido, Brandão, Brandião, Bravães, Brazào, Brazões, Bregiaes,
Brejão, Brineào, Brirães ou Briraes, Brunhães ou Brunhaes,
Bugalháo, Bujão, Bulhão, Bulhões, Burbelão, Burgães, Bur-
gão, Burgões.
508 TENTATIVA ET YMOLOGICO-TOPONYMICA
Cabanões, Cabeçaes, Cabeção, Cabração, Cabrão, Ca-
brellões, Cabrões, Pacães, Cachão, Cachofães, Cadavão, Ca-
deirão por Ca de Eirão!... Cães e Cães, Cagão, Cajadães e
Cajados, Cajam por Cajadão, Calão, Calção, Calções, Caldei-
rão, appellido_, Caldeirões, Calvães ou Calvaes, Calvão, Cam
e Cão, Camalhão, CamalhOes, Camarão e Gamarão, Ca-
marão, Cambas e Cambas e Cambões, Camões, Campanhã,
Camparão, Camparrão, Campeã, Can-can, Candão, Canhão,
Canhões, Cans, Capões, Caramachão, Caramão, Carambon,
Carapuções, Caratão, Carção, Carcavão, Cardão, Carlão, tal-
vez forma de Cardão, Carraes e Carrães, Carramão, Carrão,
Carrasona e Carraxana por Carrazana? Carregam, Carrões,
Carrou, Cartão, Carvalhão, Carvão, Carvões, Casalão, Casa-
rão, Casarões, Cascalhão, Casões, Cassurrães, Castanhaes,
Castanheirão, Casteição, Castellans, Castellão, Castellãos,
Castellões, Castilhans, Castilhão^ Catalão, Catão, Catellães,
Catião, Catrivana e Catrivanita, Cavalhão, (^avalhões, Ca-
vallões. Caverna, Cavernães, Cavião, CaviÕes, Cebolaes, Ce*
dães e Sedões, Ceidão, Ceiíão, Ceivães, Ceilão, Centiaes,
Centiães e Sendiães, Cepães, Cepões, Cerciães, Cerejaes, Cer-
vães, Cevadaes, Chabão, Chães, Champana, Champanáo. Con-
fronte-se Campana e Camparão por Campanão? Chancrào.
Vide Grranjão; Chans, Chão, Chãos; Charco, Charcoes; Char-
naes : Charneiâo ; Cbarqueirão; Chavães; Chavão; Chaviães ;
Chavim ; Chavões; Chaxão; Chões; Chorão; Chorinca e Chor-
nica ; Choupana; Christovão; Christovãos; Cibões; Cidadãos;
Cidões por cidadões? Confronte-se Ceidão e Seidões. Cidraes
e Cidrães; Cidrão; Cigana; Cigano; Cintrão; Cinzão : Co-
brança ; Cochão ; Cochoírom ; Cochogom ; Cocões ; Cocujães ;
Codão; Codeçaes; Cogana; Coimbrã; Coimbràes ou Coim-
brões e Coimbrão e Coimbró!... Colchões; Colmeaes ; Com-
missão; Communaes; Concão ; Constanção; Corão ; Corça;
Corçães; Corçãos; Cordovão; Cordovões; Corgão; Corjães;
Corjaes; Crujães e Crujaes; Cortegana; Cortezões; Cortinhaes;
Cortões e Cortonis; Costães; Costançana; Costilha ; Costilháo;
Cotaes ou Cotães; Cotão; Cotellões ; Cotem; Cotens; Cotinho ;
Cotões; Coutana; Coutinho; Couvanas; Covaes; Covalháo.
Vide Cavalhão e Cavalhões; Covão; Covellães; Coviães : Co-
vilhã, Covilhães; Covilhans e Covilhão e Covilhó; Crasto-
vaes; Cravais; Crujaes e Crujães. Vide ...Cubalhão; Cucana
e Cucanha, hoje Ucanha; Cudição: Cuibrans; CuUão; Cun-
gaes; Cunhas; Curraes; C urra Ião ; Curralões; Curviáo; Cus-
taes ; Cutena ; Cutiães ; Cuvilhão ; Cuvinhó.
TENTATIVA KTYMOLOOIOO-TOPONYHICA 509
Daíioes por Dafòes e Lafões; Daivães... Dalhàes; Dar-
dào; Daroama; Datão; Deão; Deilão; Deimàos: Deirão ou
Leirâo!... Deláes ; Dirão da Rua; do Durão; Domiugào ;
Damões; Dos Caos; Dossáos: Durão, Duro, Durões; Dur-
rães por Durrões e este por Durões?
Eiraes; Eirão; Eirinhaes; Eixiào; Engarnaes: Enxo-
fráes; Ermentão ;* Ervilhaes ; Ervilhão; Ervões; Escamarão;
Escandaião; Escapães; Escarapão; Escrivã; Escrivão; Esmo-
gftes; Esmujães; Espaldão; Esperão; Esperões e Esporões;
Espigão; Estevaes; Estevão; Estorãos ; Estragamantens; Es-
traganhaes; Estrufans ; Estrujaes; Esturãos.
Facaes; Facão; Fafiães e Fafiào unde Fiães; Faião e
Fiào; Faimaes; Faiões; Fajão, Fajó Fajões; Falcão; Falcões;
Faldigense; Faldigaes por Faldijaes? Famaes; Famalicão:
Famão; Famões; Fandinhães; Fangarrifão; Fanhaes ; Fa-
nhões; Fào; Farafão e Farfão; Farelàes ou Farlens! .. Far-
minhão; Farrobeirão; Fasamões; Favões ; Feijão; Feijó;
Feijoaes; Feijões; Feirão, Feirões; Felgaes ; Fellões ou Fol-
iões ; Fermelã ou Fermellã ; Fermentães ; Fermentãos ; Fer-
mentellos; Fermentões; Fernão; Perradaes; Ferraes ou Fer-
rães; Ferram e Ferrão; Ferrões; Fiães; Fião; b^itaes ; Foão;
Fogões ou Fungões; Fojaes; Folgão; Foliões. Vide Fellões;
Fontanaes; Fontão; Fontões; Fontom; Forjães; Forjão ; For-
mão ; Formentões ; Fortinhaes ; Fragão ; Fraião ; Fralães ; Fra-
mâo; Framinhões; Frazão; Frazões; Frechão; Frejão ou
Frião; Frelaes ou Frelões; Friães; Frião; Frijão; Frijom;
Friões ; Fullão ; Fnnhaes ; Fundaes ; Fundão ; Fundilhões :
P'undoães; Fundões; Fungões.
Graibãa; Gaivão, appellido ; Galão; Galbào ; Galeães ;
Galeão ; Galifões ; Galiana ; Galiano : Galião ; Galiena ; Gal-
ráo ; Galvão; Galvões ; Gamarão; Garalhaes ; Garção; Gar-
ções; Gardaes ; G arfo es ; Garrão; Garrião ; Garvão ; Gaspa-
rões ; Gatão ; Gatians ; Gatões ; Gaviães Gavião ; Gaviões ;
Geliào ; Getemião. Vide Chedemião; Gião; Ginjões; Giões;
Goães ; Godão ; Goilão ; Golaes ; Golão ; Golegã ; Golões ;
Golpilhães ? . . . Gomarães; Gominhães ; Gomirào ; Gondam
ou Gondão ; Gondellães ; Gondiães ; Gondians ; Gondião ;
Gondinhães Gondivão e Gondivan ; Gonfào ; Gontaes ou Gon-
tens e Gontão ; Gontinháes. Vide Gondinhães ! Gordimães ;
Gorgolões ; Gorgorão ! Gorgulão e Gorgolhão ; Goriào ; Gor-
jões; Goulão; Gouvães; Gouveães; Graçáo! Gram; Graudão;
Granhão ; Granjão ; Grifão ; Grilhão ; Grilheiros ; Guardães :
Guardaes • Guardão ; Guiães ; Guidão ; Guidãos ; Guidões ;
510 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Guifães ; Cruinfães ; Guifões ; Guilhadães ; Guilbão ; Guima-
rães; Guinchães; Guicdaes; Guinfães;, Guivães e Guivans;
Giiminbães ; Gumirães ; Giindaes ; Gundam ; Guntão ; Gusmão
e Gusmões.
Hilarião.
Idães ; Idanha ; Improas ; Inqnião : Invenções.
Jandurão ; Joães ; João; Jordão; Jordões; Jorjaes ; Ju-
lião; Juncaes; Jurzaes: Jazão.
Lações; Ladrões; Ladrugães ; Lafão; Lafões; Lagarem;
Lagarinho; Lamaçáes; Lamaçaes; Lamaes; Lamarão; Lamei-
rão ; Lameirões ; Lanção ; Larçã ; Larção ; Latães ; Latagão ;
Lavatões; Lazão; Leão; Lebuçào; Ledões e Lodões; Leião;
Leirão; Leirião; l^eitão; Leitões; Lenteirão; Lenturões: Len-
tiscaes; L(ões; Leziíão; Lezirões; Libáes; Libão; Limão;
Limãos e Limões; Lobaes; Lobão; Lodão; Lodões; Lomão;
Lombão; Longões; Lorvão; Louçam; Louções; Louraes;
Lousã; Lumião.
Maca; Macabrão; Macans; Mação; Macens; Machiaes;
Mações; Maçom; Macotão: Madeira; Magães; Magalão; Ma-
galbã, Magalhães e Magaihans; Maganha; Magarão; Majapão.
Vide Malha Pão e Malbapao; Maladao; Malagão; Mal Cabe-
rão. Vide Macabrão; Malhadaes; Malbadões; Malbão; Malha
Pão e Malhapão; Maihões, Malho e Malhou!... Mamões; Mam-
porção e Mão-pelo-cão; Mancão; Mangação; Manjões; Man-
telães; Mão e Mílos; Marachão; Maranhão; Marão; Marchães,
Marchão, Marchiào; Ma-:cõ>es; Marrão; Martinhàes: Marvão;
Marxào; Marzogâo; Marzonaes; Mastarrão; Matào; Mean-
Means; Meão; IVledrões; Medronhaes; Meião; Meiões; Meijão
Meimão ; Meixões; Melão ; Meleões; Mendavão; Mendões; Me
redãos; Mergulhão; Meriães; Meriões e Merões; Mesquitana
Messagàes; Messejana; Mexilhão; Michão; Midão; Midões
Mijão; Milão; Milhão; Milhões; Minhães; Minhãos; Minho
toes; Mirão; Mirões; Mixao; Moção; Mões; Mogão; Mogrãos
Mogrão; Mogueirães por Mogueiraes, o mesmo que Noguei-
raes; Moiraes e Moirães, Moiram ou Moirão, Mourão, Mou-
rãos e Mourões; Molães; Moldães e Moldes; Mondrões; Mon-
jões ou Manjões; Monsao; Monsões; Montaes; Montalvão;
Montão; Moradaes; Morçoãs; Morentães; Moriães; Morilhões;
Morraçâ; Mosteirão; Mouchaes; Mouchão; Mouchões; Mou-
jazão; Moulões. Vide Mourões; Mourão; Mourãos; Mourens;
Mouricão; Mourões; Muçaes, Muçães ou Mucens!... Muçào.
Vide Moção; Mujães; Munjão; Murão; Murção ou Monsão;
Marcellão; Murigães; Murjàes; Muscão.
TENTATIVA KTYMOLOGUCO TOPONYMICA 511
Negrões ; Nevões ; Ninães ; Nizão,
Oldrões e Oldrons!... Olhão; Olheirão ; Olheirões ; OH-
vão por Olivalão; Orelhão: Orjaes ; Ossaes ; Ougrào ; Ouraes;
Ouriçaes; Oarilhão ; Outão ; Oateirão ; Ouzão ; Oveláo on
Avelão ; Oyam.
Pãa ; Façam ; Padirão ; Padrão ; Paiam e Paião ; Pai Cão ;
Painçaes ; Paiões ; Paixam e Paixão; Palhavã; Palheirão:
Confronte-se Alpalhão ; Palião; Pallão ; Palmazões; Panão ;
Pantaleão: Pantilhões ; Pão; Paracham e Parachão por Mo-
rachão; Paranhão. Confronte-se Maranhão? Passões ; Pata-
cão ; Patacões ; Patão; Paiões; Patrons ; Pavão; Pavilhão;
Pavões ; Pavoraes ; Pedacães : Pecegães ; Pedom ; Pedrão ;
Pedregaes, Pedregulhaes ; Pedrógão ; Pegões ; Pelagão ; Pe-
licano ; Pelicão ; Penaçães ; Penão ; Penascaes ; Pendão ; Pe-
nedaes ; Penedão ; Perdagàes por Perdigões ! Perdurão ; Pe-
reirão ; Pereirões ; Perrães ; Petimáo ; Piães ; Pião ; Picão ;
Picões ; Pijão ; Pimpão ; Pinhão ; Pinhosão ; Piodào ; Pisão ;
Pitães e Pitões ; Poceirão ; Poldrães por Poldrões ; Polvarão ;
Pomarão; Ponchão ; Ponsão ; Pontalão; Pontão; Poutãos;
Pontegãos ; Pontilhão ; Pontilhões : Porção ou Poroão ; Por-
raes ; Porrão ; Porvilhão ; í'osataes ; Possilgaes ; Possilgão ;
Possilgões ; Pousão ; Poveraes ; Povoação ; Povoações ; Pra-
caes ; Prachã; Pragaes ; Preirões ; Presandães ? Prichã ; Pris-
cões ? Prilhão ; Pulão.
Quarteirões; Quartilhães ; Quartinhaes; Quebrantões ;
Queijaes ; Queiram ; Queirão ; Queirões ; Queirom ; Quin-
chães ; Quinta; Quintaes ; (^uintães e Quintans; Quintão;
Quintáos ; Quintiães; Quintians ; Qnintião e Quintões de quin-
ta Iões ?
Rabecão ou Eabeção ; Rabiáo ; Ramalhão ; Ramalhões;
Randam e Randão ; Ranhào ; Rapejães de Rapejaes e este
de rasaes ? Ratão; Ratões; Raviçaes. Confronte-se Carviçaes
e Rabaçaes!... Raxão. Vide Rechão!... Rebentão; Reboltão ;
Rebordans ; Rebordãos; Rebordões; Recantào ; Recardães de
recardaes ! Rechã, Rechans, Rechão, Recião. Vide Reguião e
Requião ; Redouçãõ ; Refalcao ; Regueirão ; Reimão ; Relaos ;
Religães ; Religião ; Relvaes ; Relvão ; Remigão ou Remon-
gão ; Remicaes ; Remoáes; Repeilão; Requiães ; Resgaes?...
Revilhães. Vide Ervilhaes ; Revilhões ; Riáes ; Ribaçaes e Ri-
baçal. Vide Raviçaes ; Ribão. Vide Ribeirão. Roães ; Rochão ;
Rodam ou Ródão ; Rojão ; Rola, Rola, Rolães, Rolans ; Ro-
lão; Roldão; Rolhão ; Romã; Romagom; Romão; Romãos ;
Romarigães ; Romãs ; Romeirão ; Romeáo ; Romeões ; Ron-
512 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
dães ; Rondão ; Rotão. Vide Rolão ; Roulã ; Roulão ; Ruão ;
Rubiães ; Ruivaes ; Ruivães.
Sacarrão ; Sacões ; Sadão ; Saes. Vide Ossaes ; Safães.
Vide Safões; Safardão. Vide Safarão; Saffordão e Safur-
dão; Saiam e Saião; Sairrão; Salgam; Salgom ; Salmães;
Salomão; Saltão; Samaiães ; - Samaiões ; Samão; Samardã ;
Samardão; Samarrão; Samodães; Samões; Samorão; Sandão;
Sandarão; Sandelhão; Sandiães e Sandião; Saatães; Saata-
gões; San tão; Santegãos; Santiaes; Santulháo — de S. Julião?
Sapiãos e Sapiões; Sapogães. Vide Sabugaes; Sardão; Sar-
rão; Sarrião; Satam ; Sebastião; Sedão; Sedões; Segadães;
Segões ; Seição ; Seidões ; Seilão ; Seirrãos ; Seixão ; Sejães ;
Sellão; Sellões; Semião ; Semilhans; Sendão; Sendiães; Se-
pàes. Vide Cepões ; Sermagão ; Serralhão ; Serrão ; Serrões ;
Sertão; Serviaes; Sestaes. Vide Gestaes; Seteaes; Sevilhaes;
Sião; Silhães; Silhão; Silvan ; Silvão; Silvàos; Silvões; Si-
mães; Simão; Simões; Sinçães; Sinfáes; Sintiao; Sirão; Si-
rões; Sistaes; Soalhães; Sobraes; Sobram; Sobrans; Sobrão ;
Sobrecão; Soirào e Sourão; Solteirão; Sorens; Sortilhão;
Sourões; Sucçães: Sueirão; Sumaraes; Suxào.
Tabellião; Tacão; Tacões; Tagarraes; Tapedão; Tara-
Ihão ; Taralhàos ; Taralhões ; Tarrazães ; Tavilhão ; Tayão ;
Tedões; Telhaes; Tellões; Tenões ; Temperão; Têmpora;
Temporão; Temporãos; Tenães; Teiidaes; Tenraes; Terrão;
Terrões; Tibães. Vide Tivaes; Tições; Tijão ; Tivaes. Con-
fronte-se Tibães; Tivilhão; Toes; Toitão; Tojaes; Tojão;
Tolões. Vide Tellões, Tenaes, Tenões, e Toulões; Tontão;
Toqueirão; Torrão; Torreão; Torrejaes; Torrejão; Torrejões;
Torrões ; Tostão ; Toulões ; Touraes ; Tourães ; Tourão ; Tou-
rões ; Trancão ; Trancões ; Tranozam ; Transfontão ; Trevões ;
Trincão; Trinhão; Trobulhao; Tudão ; Tujães. Vide Tojaes:
Tuvirães.
Ulmaes; Unhaes; Unhão; Urbão; Urjaes. Vide Orjaes e
Orjães; Urzalão.
Vairão; Valeizão. Vide Valeirão; Valentão; Vallagões e
Vallegões; Valleirão; Vallões; Valmão; Varaes e Varaes;
Vascão ; Vegião ; Verão ; Verdizão ; Verdugão ; Vermões ;
Vião e Viando, que podia dar Vião, como Fernando deu
Fernão; Vidão; Videgao; Vigão; Vilhões; Villão; Villarião;
Villões; Vinhaes; Vinhão; Vinheirào; Viraes e Virella. Vide
Varães e Varella.
Zambujaes; Zangão; Zorzaes ou Zurzaes, e Zurzaes ou
Zorzaes. Vide Orgens, Orjaes, Urjaes, Urgal ou Orgal, Ur-
TENTATIVA KTYMOLOGICO-TOPON YMICA Õ13
gaes, Urgeira, Urgeiro, Urgezes, Urgueira, Urjal, Urjariça;
Úrqueira por Urgueira, Urzal, Urzalào. Urzelhe e Urzella.
Da urze, que o povo chama urge^ planta arbustiva.
flna e ena, irmos gémeas de ôna
Alcanena e Alcolena!.., Barbacena; Barcarena; Barquie-
na; Barratena por Barratana. Confronte-se Balrateira por
barrateira. Confronte-se também barbatana e barbatona,
carrazona, peruana^ mocetona, Silveirona, catapona e Foros
da Catampona por Catapona, de catapona, apodo ou appel-
lido.
Beirana é o feminino de Beirão, como beiroa; Boirana
e Boiranita por Beirana e Beiranita? Burratena; Carrapicha-
na; Cortegana; grande corte? Coutana; Goudigana; Guêna;
Matana; Matrena; Soutana.
flncQ, onco e ancos
Cobrança por Cobrança? Covanca; Mirancos: Poçanco ;
Tancos; Travanca.
flncha e ancho
Balancho ; Balanxo, Ballanxo; Barbanxa e Barbanxo.
De vaile ancho e barba ancha — grande valle e grande barba.
Barrancha, aldeia; Barranchó por Barrancho? terra abundante
em barro? Brejanja por Breíancha? Carreirancha; Corregan-
cha por Correga ancha. Confronte-se Corga, Corgas, Corgo e
Corgos, muitas povoações nossas. Cumeirancha por Cumieira
ancha? Lameirancha; Magancha e Monte da Magancha; Ma-
Ihadancha; Novancha — de Lobancha, loba grande, ou Novan-
cha por Novancho, Noval ancho? Pernancha? Pernanchinha
e Perna Chã por Pernancha? e Outeiro da Pernancha; Por-
tanxo; Pranchas, aldeia por Pedraíichas, pedras anchas,
grandes; Prenxa por Prancha? V. Pedrancha e Pranchas;
Vallancho, sitio próximo do Bussaco.
finços
Anços, Britanços, Pinhanços e Villa Nova d'xA.nços.
33
514 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
fins e ens
Maçans e Macens.
flo, ôas e ões
Limão, Limãos e Limões.
Ão e áu
Barrimão e Barrimáu; Burgáo ou Bargáu e Burgão ;
Gondivão e Gondiváu; Portimão; e Porto Máu?!...
flísco e isco
Fontasco, Fontaiscos e Fontiscos.
Ç\z
Alcafaz. Também temos Alcafache e Alcafacho, que pa-
recem affins de Alcafaz?!... Confronte-se Tavragem, vulgo
Travage e Travaz; Ferragem, vulgo Ferrage e Ferraz; Alfa-
razes, plural d^Alfaraz; Algaz. (Jonfronte-se Ferraz, Travaz,
Mouraz, Dardavaz, Geraz, Gervaz, Jagaz, lambaz, rapaz,
Serrazes, plural de Serraz; Alcafaz. Monsaraz, goraz e Go-
razes, plural de Goraz; Algiraz, Garraz e Casal do Garraz,
antigo casal da freguezia, villa e honra de Távora, concelho
de Taboaço; Gilvaz, Barrabas, etc. Algiraz. — Confronte-se
Aljariz, Algeriz, Argeriz, Aljezur, Algeruz, Argeriz e Alju-
riça por Aljariça?!... x^lvernar, appellido nos Açores; Barra-
bas; Braz, nome d'um santo e de varias povoações nossas.
Cagarraz e Chão do Garraz, antigo nome d'um sitio de
Távora (Taboaço). Dardavaz D' Alda \az? Dentazes, plural
de dentaz?,.. Detraz... P'erraz. (Confronte-se Ferroz!)...
Forjaz, appellido. Gervaz, de Gervasius^ ii, que deu Gervaz,
como Blasius^ ii, deu Braz, etc. Gilvaz, Goiaz; Gorazes,
plural de Gòraz; Jagaz; Jonas ou Jonas e Janós: Lobazes,
plural de Lobaz.,. Marrazes, plural de Marraz? Moas ou
TENTATIVA KTYMOl.OaiCO TOPONYMKA 515
Moaz? Monsaráa ou Monsaraz; Mouraz e Monriz!,.. Novaz,
de Novaes?... OrgynMz; Palrnaz, I''aLcaze:-; c; Paliri&zões; l'az;
Pelgazes, plural de pelgaz; (Juiraz. Quires o rbiímis; Thnmaz
e Thomazes ; Trâncaz; Travaz; Traz; Vaz.
E e em
Barje, Varge o Vargem; Valdigem e Valdigo — como
diz o povo e diz bfm, pois Valdigem vem de Valdige e este
de Valdiije por Vadujo, valJe do ujo ou dos ujos — aves
nocturnas de rapina que deviam abundar em Valdigem, por-
que demora no sopé da grande serra de S. Domingos. Con-
fronte-se Valduje e Valdujo, povoações nosssas também.
E e O
Alferrarede por Alferraredo; Alte e Alto; Alvite e Al-
vito; Harbeite e Barbeito; Barrete e Barreto; Batoque e
Batoco; Bellide e Bellido; Bertufe e Bertufo; Burguete e
Burgueto ; Cadeade e Cadeado; Calvelhe e Calvelho; Carra-
zedo e Carrazedo; Contraste e Contrasto; Cortelhe e Corte-
Iho ; Enviande e Inviando; Fofe e Fofo; Gainde e Gaindo;
Guinde e Guindo; Lavage e Lavajo; Limede por Limedo;
Lourede e Louredo; Morgade e Morgado; Murtede por Mur-
tedo ; Novelhe e No velho; Picote e. Picoto; Pomarelhe e
Pomarelho; Pousade e Pousado; Quelhe e Qiielho ; Rabalde e
Rabaldo ; Redonde e Redondo; Saide e Saido; Sambade e
Sambado ; Sergide e Sergido, o mesmo que Sergude e Ser-
gudo; Teixe e Teixo ; Torne e Torno.
Eco e ico
Montarecos; Monteco e Montecos, e Montega por mon-
teca; Monte do Sunioa por Sone<ía? Pocico; Ponte da Lago-
rica, por Lagarica e este por Lagariça?
Êda, êdo, ida, ido
Alferrarede; Alpedreda (Horta de). Antuzede e Anto-
sido; Arazede; Avelleda, Bellaido, Bellf>do, Bellido Belida,
Belide por Belido; Velleda, Velledos. V<41ida, Vellide e Riba
516 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Bellida; Azevedo e Aze vido, Barbaido por Barbedo; Bar-
redo e Barrido; Bellaido por Bellido ou Belledo, Avelledo ;
Cantanhede; Cardida e Cardido por Cardeda e Cardedo ;
Carrazeda, Carrazede e Carrazedo; Carvalheda, Carvâlhede,
Carvalhido; Codecedo e Codexido: Gestido; Ladreda, La-
dredo e Ladrido? Lagedo, Lagidas e Lagido: Lameda, La-
medo e Lamego por Lamedo? Limede; Louredo e Lourido ;
Macedo, Macide e Macido; Machede ; Morgido por ^loita-
gido. Coufronte-se Portagide por Mortagide, o mesmo que
Mortagido ou Murtagido, Murtede, Murtosa, etc. ^hirtede:
Nesprido; Pedra, Pedraido, Pedreda e Pedrido; Pisqueiredo
— dos piscos? CoufroQte-se Pisca, Piscaes, Piscàoselo? Pisco,
Piscola, etc. Pontido ; Portagide por Murtagide. o mesmo
que murtagede, murtazede e Martede supra. Confronte -se
Mortazel por Mortazal e este por Murtaçal. o mesmo que
Mortal e Murtal, abundante em murta, ou Murtosa. 2uó deu
pó. Confronte-se Mortágua e Portagua, etc, Pegido ou Pugi-
do? das pegas? Peneda, Penedia, Penedo, Penidello, Pin-
dello, Penido e Penida. V^ide Monte da Penida; Peseguido
e Pesseguido por peceguido e este por peceguedo, pecegal,
pecegueiredo ; Reboido, Reboreda, Reboredo, Reborido. Re-
voreda, Roboreda,. Roboredo, Robuide, Rovido, o mesmo
que Robuido e Reborido; Saborida, Saborido, Sobreda, So-
bredo e Sobrido; Seixedo e Seixido; Tavarede; Tiiesido,
Tugido 8 Tuido por tojedo ou tojido ; Torgueda e Trogueda,
da tórga como Torgal, Trogal, Trugai e Turgal por Tareai,
Torgal!,.. Tourido; Vai de Vellido; Zido. Vide Azevedo,
Azevido, Azeda, Azedo, Azevo e Azido.
r
Ega
Alvega, A Veiga? Arega; Ardega; Caregas; Ega; Fon-
tega ; Hortega, appeliido hespanhol e portuguez; Lamega;
Montega ; Pontega ; Vallega : Venega.
Ei c eis
Babe Porei ; Carem ; Boreis ; Careis : Cruéis ; Darei :
Dorneis; Fieis; Frei, aldeia; Gaufei ; Garei, o mesmo que
Girei ou Gorei? Gavei, de Japhedi por Japheti. Vide Café,
freguezia, Caféo e Bem que fede.
TENTATIVA ETYMOLOGICO TOPONYMICA .")17
Goraiei; Gostei; Giiilhofrei; Guilhovai e Guilhoveis ;
Guimarei; Jesufrei; Lizei. Confronte se Elizeu, em latim
Eli2<íus, Elizei, Lizei"/
Mel e Mei de Baixo. Confrontese Meio da Aldeia, Meio
de Baixo, Meio de Cima, Meio do Logar, Meio do Souto e
Meio do Valle; Migueis; Quartéis; Quitarei. E' talvez apo-
cope de Quitareis por Quitarães e este por Bitaraes, de
Victorianis, patronímico de Victorianus, i, diminutivo de
Victor, como Victorina e Victorino.
Bitaraes < Vitarães < Guitarães < Quitarães < Quitareis?
< Quitarei ?
Victor foi santo e deu Victoria e Victorius, ii, unde
Bitoure, povoação nossa, como Victor, Victoria, Victorias,
Victorina, Victorino, Viou^rio o Vitoiinho por Victorino.
Victoriano, Victorico, Victorina, Victorino, Vicíorio,
Victricio e Victuro o mesmo que Victorio? foram santos.
Quitarei é um espécimen de qui por gui e este por vi.
Confronte-se também Guinchães e Quinchães, de Quin-
tianis, ut alibi; Recarei; Senharei ; Serreleis ; Tare e Tarei.
Confrontese Guiraaré e Guimarei?...
Também temos Tares e Tariz, Gomares e Gomariz por
Guimares e Guimariz, como Gomarães por Guimarães e Gu-
mirães.
Confronte-se também Garei, Garim e Gariz.
Eime
Boliqueime e Mogueime, povoações nossas, Mugueymes,
em Orense. Mogueime foi nome pessoal.
Eira
Abelheira; Abutreira; Açoreira ; Agueira; Aguieira;
Aguincheira; Angueira; Avitureira ; Azureira; Bagueira;
Barregueira; Barroguoira ; Brogueira; Carregueira; Choro-
zeira e Corujeira ; Corvaceira e Victoreira ou Abitureira.
Confronte-se Andorinheira — sitio próximo das Caldas das
Taypas. Vide Observações d Citania do Dr. Hiihner, por Mar-
tins Sarmento, paginas 8, nota 4.
Cerveira; Cotovieira; Cuqueira; Curvaceira ; Esgr.eira;
Espargueira, Espregueira, appellido; Estorinheira e Estorri-
nheira.
518 TENTATIVA ET YMOLOGICO-TOi^DN VMICA
Falagueira; Felgueira; Figueira; Filgueiras ; Fogueira;
Formigueira; Fragueira e Fregueira.
(íafaalioeira; (lalgueiní; Galheira^; (lallegueira; Ga-
^ Vid^^ Qrallieira, infra.
vieira; (^avinheira; Grallieira; Lobagaeira; Longueira.
Malagueira; Margueira; Marzugaeira por Morcegueira ?
Melreira; Melroeira; JMiiihoteira, de miahoto, ave, papa-pintos;
Mogueira, Mogueirps e Mogueirinhas ; Mosqueira.
Moucheira. Confroute-se Mocho, Mochos, Moucharia,
Mouchiuho, Mouciíinhos, Mouchão e Mouchões, dos mochos
ou dos mochões ou muchões, espécie de mosquitos.
Murçogueira; Musqueira; Nogueira. Nogueiras e No-
gueirinhas; Ort.igueira; Palhagueira; Pardaleira ; Pecegueira;
Pedregueira; Pedreira; Perdigueira*; Picanceira ; Preguei-
ra; Purtigueiras; Regueira; Roieira.
Tavagueira; Teixugueira; Tramagueira; Trigueira; Tu-
gueira; Uigueira; Urgueira; Urgueiras; Vagueira; Valgueira;
Valiagueira; Valloagueira; Valiongueiray; Victoreira; Vidi-
gueira; Villagueira por Valiagueira? e Zurragueira.
Eis por ões ou ens
Careis por Carèis, e este por Carens, e este por Carins,
de Cariais; Cotem, Cotens, e Cuteis por Coteis ou. Cotens
por Cotiiis, Cotiiihos, Coutinhos ou Godichos; Mourens por
Mourins, o mesmo que Mouris, Mouriz e Mureis por Mureis,
o mesmo que Murens por Mourens.
Eita por ita?
Barbeifa e Barbeito; Gordeita por gordita? Confronte-se
Gorda, Gordesas, Gordim por gordinho? Gordina por gordi-
nha; Gordo, Gordòa, Gordos, Gorducho, Gorduras, etc, po-
voações nossas.
El por Ê*Ioah-Deu5
Abdeel; Abdiel; Abiel ; Abimael; Adiei; Aharehel ; Ariel;
^ Confronte-se Pertigueira, povoação nossa também, o mesmo que
Perdigueira?
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 519
Asael; Asabel; Asiel; Asrael; Asriel ; Azael; Azahel; Azar-
reel; Bathuel; Basebeel; Daniel; Esriel; Ezechiel; Gabriel;
Ismael; Ismiel; Israel; Jalaleei; Jeriel; Joel; Manuel (Em-
manuel); Mathusael; Miguel (Michael); Misael; Nathanael;
Oziel ; Raphael; Samuel; Suriel; Uriel; e Zabadiel.
Todos estes nomes foram tirados por mim dsL Concordân-
cia Bíblica e alguns d'elles se encontram mais ou menos
deturpados na onomástica portugueza.
Elha, elhe g elho
Alvitelha; Amarelho; Arelho; Bertelhe; Boelhe; Borre-
Iho; Botelho; Boucelha; Calvelha, Calvelhe e Cal velho;
Cambelhe; Cardelha; Caselha, Caselho, diminutivo de casa;
Cozelhas por Cazelhas, diminvtivo de casas; Cervelhos; Cha-
velhas, Chavelho ; Cidadelha e Cidadelhe, diminutivo de
cidade.
Cortelha, Cortelhe e Cortelho, diminutivo de corte ; Ca-
velhas, diminutivo de covas ; Cravelhe ; Ervelho ; Farelhe ;
Forelha ; Formoselha ; Francelha ; Francelho ; Gadelha ; Ga-
delho ; Gelhe ; Gelhelhe ou Gelhelha ; Gomelha ; Gontelhe ;
Gontelho ; Gravelhe ; Guerrelha ; Lagarelhos, diminutivo de
lagares.
Lidadelha; Linharelho, diminutivo de linhar; Lobelha,
Lobelhe, diminutivo dos lobos ; Lombelho ; Melhe ; Negrelho ;
Novelhe, Novelhes, Novelho e Novelhos.
Nunelhe ; Pardelhas e Pardelhe diminutivo das paredes ;
Pelho ; Pingarelhos ; Pomarelhas ; Pomarelhe, Pomarelho e
Pomarelhos, diminutivo de pomar; Pontelha e Pontelho,
diminutivo de ponte ; Porcelhe ; Portelha e Portelho ; Proze-
Ihas e Prozelho.
Pulhelho ; Quelha, Quelhas, Quelhe e Quelho ; Quarte-
Ihas ; Quintarelhos^ diminutivo das quintas ; Rebelha ; E-ebe-
Ihos ; Remelhe ; Revelha ; Revelhe e Kevelhos.
Sabadelhe e Sebadelhe, diminutivo de cevada; Sande-
Ihas; Sernancelhe; Silvarelhos; Telhe e Telhelhe, diminutivo
da telha? Torreilha por Torrelha ; Tourelhe, diminutivo de
touro, como Tourilhe e Tourinho, povoações nossas também ;
Urzelhe ; Valhelhas, diminutivo dos valles ; Verdelha ; Ver-
delho ; Vermelha e Vermelho ; Vilhelho ; Villarelho, diminu-
tivo de villar; Villelhe; Zarelho, casal, etc. povoações nossas.
520 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMIOA
El e er -
Confronte-se o portuguez aluguel e aluguer, auctorisado
pelos diccionaristas.
Xavier e Zaviel por Xavier, povoações nossas.
Em, na proDincia de Gôa (índia portuguesa)
Arondem ; Arvalem ; Assorem ; Barzem ; Betalbatem ;
Birandem ; Cacora Langem ; Canrem ; Caraxalem : Caraza-
lem ; Carchirem ; CÉorlem ; Cocoldem ; Colem e Calem ; Co-
lorem ; Compordem ; Conquirem ; Corangoenem ; Corfem ?
Damoxem ; Dantaxem ; Datem; Derodem.
Embarbacem ; Gavanem ; Gonsalem ; Goundogrem ; Laem;
Latobursem; Loiien ; Maem ; Malcomem? Mandrem ; Man-
quem ; Matiem ; Mauninguem ? Mencurem ; Mollem e Mulem ;
Morlem ; Nagarem ; Nenorem ; Nunem ; Ornem.
Paliem ; Parascalem ; Pernem ; Pissurlem ; Pololem ; Poran-
tem ; Poriem ; Porsem ; Potrem ; Pozem ; Salem ; Sanvordem ;
Sanvorxem; Sarolem; Sircorem; Tamboxem ; Tinem; Tor-
xem ; Ugem ; Ustem ; Vaddem ; Vaguriem e Vagorem ; Ve-
rem; Vertem; Vorondem ; Heldem, etc.
Ena
Alcanena; Alcolena por Alcalena? Barcarena e Barchie-
na; Burratena? Centena Guêna, Guêno. Confronte-se Buena
e Bueno, Boa e Bom, antigos nomes pessoaes; Lucena; Mar-
chiena; Matrena; Morelena (Paço de); Morena; Motrena;
Pontena por Pontella, pequena ponte? Confronte-se Fontella;
Quenena; Serena; Sobrena; Verderena; Vilhena.
Ende, na Bespanha
Gondesende, em Orense; Gosende em Orense; Gusen-
des, em Leão; Marcosende em Pontevedra; Modrosende, em
Pontevedra; Resende (não Rezende) em Lugo; Tosende, em
Lugo e Orense.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMTCA ')2l
Enga
Alvarenga ; de alva areneca — areiinha alva. Confronte se
Arealva e Arealve ; Arenga; Berlenga ou Berlengas ; Busta-
renga de Bostarenga, aldeias; Enga feminino (portuguez po-
pular) pasto, parasitismo; costume; uso.
E prefixo dé muitos vocábulos portugueses.
Lenga-lenga ; Moenga ; Mostrengo, nome commum ; Pen-
denga (brasileiro) pendência; Perlenga; Podenga ou podengo;
Pudengas (partes) por pudendas; Soenga, (^) solarenga?
Vilhenga, etc.
B'o
A Hespanha tem Ponteio e Fontéo. Nós temos Aléo e
Aléus ; Boléo-quinta ; Botaréos plural de Botaréo ; Coruchéo
e Coruchéos ; Lello, appelido e Léo, aldeia: Poríello eJPortéo;
Réo, pomar, etc.
Ermo e erma
Castermo, aldeia ; Caserma ; Casermo ; Fonterma ; Se-
derma. O povo também diz Sedesma ; Siderma.
Erto (desinência)
Alberto; Dagoberto; Felisberto; Gilberto; Roberto,
Gualberto, Gumberto, etc, nomes de santos.
Ete, eta
Achete; Alcochete, por Al-tojete? Aldarete ; Alegrete;
Azinhalete, diminutivo de Azinhal; Balicete; Bacello, Bacel-
lete e Bacellinho.
Baixetes; Barquete ; Barrete; Batanete; Bilrete ; Bor-
dalete e Bordalo; Borgo, Borguete, Burgete, Burgo, Bur-
gueta, Burguete, Burgueto e Burguinho.
de barro
^ Soenga vem do portuguez popular soenga — fabrica de panellas
52'2 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Brete, Bretes e Brefcos; Cadete; Caniveta e Canivete;
Cavallo, Cavallinho, Cavalucho e Cavallete; Corvete e Cor-
yite por Corvito.
Cruzetes por cruzetas. Confronte-se Cruzetinhas, Cru--
zetinhos, Cruzinha e Cruzinhas; Fragueta o Fraguinha;
Furreta e Fuzeta.
Gaeta? por Gaieta, dos Gaios, como Gaiata e Gaiate.
Confronte-se Gaia, Gaião, Gaio, Gaios, Gaiinhos, Gaioso,
Gaiosa, etc. Gafete de Japheth? Gamoalete e Gamoalinho ;
Gazeta por cazeta — quinta. Gorreta e Gulreta.
Guardai e Guardete por Guardalete, o mesmo que guar-
dalinho por Cardai e Cardalinho ; Guardinhos por Guardali-
nhos e Cardalinhos ; Guardete por Gardete, de cardete por
cardalete ?
Lagareta ; Marmelete; Olivete de Olivalete, diminutivo
de Olival; Outrete por Outeirete, diminutivo de Outeiro;
Palheta, Palhetinha, Palhinha e Vai de Palhete.
Pinhete ; Pipalete ; Piquete ; Panhete, de Pinhete por
Pinhalete, diminutivo de Pinhal, como Pinhalinho. Confron-
te-se Azinhalete e Azinhalinho, diminutivos de Azinhal;
Ramalhete, diminutivo de ramo ou ramalho ; Rodete ; Bo-
quete; Tapete; Villacete, etc. povoações nossas. .
Eu
Baldreu ou Valdreu, povoação nossa ; Caheu ou Alto do
Caheu ou Alto do Calhau^ povoação nossa; Milleu e Mirleu,
de millium, milho. D'aqai talvez Milreu!... e de sal, Salreu?
Yiseu e Viseus. De Visoy? antigo nome pessoal ou antes de
Yaseu, por Basileu, o mesmo que Bazilio_, antigo nome d'um
santo, tirado de Basileia, cidade da Suissa. Confronte-se Pom-
peia e Pompeu, Bazileia e Bazileu, Roma e Romeu, Thodeia
e Thadeu, etc.
De Vizoi ou Vízoy Visoius, Viseius <:^ Visêio, Viseu ? De
Bazileia << Bazileu <; Vazeu << Vizeu ?. . ,
Eu (nomes próprios)
Abreu ; Achillêu e Aquilêu, santos. Confronte-se Achilléa,
antigo nome d'uma ilha do Mar Negro, onde se crê sepultado
Achilles, e Aquileia antiga cidade da Itália. Vide j\Iagn. Le-
xicon. Aggeu, santo Agilêu e Agillèu, santos. Agyllêu foi
TENTATIVA KTYMOLOQICO-TOPONyMICA 523
nome d'um luctador famoso e d'um filho d'Hercules. Aquilêu,
santo.
Alfcu ou Alphêu, santos do latim AlphHus, /, Alphêu, rio
da Morêa, celebre nas fabulas, unde Alpheias, adis, Alpheia
ou Arethusa, Nympha, amante de Alphêu. AlphriU foi tam-
bém, nome biblico, em latim Alpheus, ii; Amadeu, santo,
Amidêu? Andrcu?
Argêu, santo^ do latim, Arg(luH, ei, o mesmo que Argi-
vus, i, d'Argos ou da Grécia. Astrcu. Bartholomeu, santo:
Basilêu, santo. E' o mesmo que Basilisio ou Bazilio; Borro-
mêu, santo; Briarêu?
Cachêu; Carizêu? Carizia, Carizio e Carisio foram san-
tos; Chaldêu; Cindco ou Cindêa, santo; Clodoveu? E* o mes-
mo que Ludovic, Luiz o Clóvis; Cyreneu ; Deuladeu, santa.
^' o mesmo que Deodata, Deod&to, e Deus dedit, também
santos.
Dorostovco ou Dorostoveu, santo ; X^orotêu, santo, como
Dorotoa, também santa; Dosiloo, santo ou Dosileu? Droto-
véo ou Drotovcu, santo; Eliseu, santo. E' o mesmo que
Elisio, Elyseu e Elyzeu, também santos: Filisteu; Filothêu
e Philotêu, santos; Galdêu; Hebreu; Idumêu; Irenêu. santo;
Isêu (em latim Isaeus) nome grego do mestre de Demos-
thenes.
Lebrêu; Lycêu; Macabêu e Machabeu, santos, unde Ma-
cabio, povoação nossa; Menelêu^ santo; Menêu, santo. Moseu
e Museu, santos; Morphêu (myth.); Narsea, santo; Nerêu :
Peleu, santo de Peleus, ei, Pelêu, pae de Achilles.
Perseu? Pompeu, santo; Promethêu (myth.); Prothéu;
Ptolomeu, santo, nome de 16 reis do Egypto ; Pyrêu ; Ro-
meu? Salrêu; Sandeu; Tadeu e Thadêu, santos; Thadêu,
Thadeia, Thodeia e Parada Thodeia ; Thesêu, rei d'Athenas,
filho de Egeu e de Ethrêa, filha de Pithêu ; Talalêu, santo;
Tolomêu, santo. Vide Ptolomeu; Vazêu? Zachêu, santo, de
Zachêus, ei, nome biblico ; Zebedêu, de Zehedeus^ ei, nome
hiblico, etc.
ÊZ; eza, ezas e ezes
Banrezd e Banrezes; Braveza, bravura, qualidade do que
é bravo, bravio ou Bravêz? unde bra vezes e Abravezes por
Al -[- Bravezes — na acepção de moutezes — pcrcos monte-
zes, cabras montezes, porcos bravos ou javalis e cabras bra-
vias, selvagens, bravas.
524 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Nós não temos actualmente, mas talvez que já tivéssemos
bravêz e bravezes na acepção de bravo e bravos, montez e
montezes supra, o mesmo que montanhez, adjectivação ti-
rada dos montes e montanhas. Burguês e burguezes; Cam-
bezes ; Canavezes ; Chaldeus e Chaldezes ; Cortês e Cortêz —
do baixo latim curtensis — de curtis=cortis — corte; descor-
tês e descortêz. São adjectivos e deram no plural cortezes e
deseortezes para os dous sexos, — não certezas nem dercor-
tezas, como soez, também adjectivo, — deu soezes — não soêzas.
Pelo contrario portuguez deu portuguezes e portuguezas ;
francez deu francezes e francezas ; inglez deu inglezes e in-
glezas ; irlandez — irlandezes e irlandezas; escocez — escoce-
zes e escocezas ; norueguez — noraeguezes e norueguez-as ;
dinamarquez — dinamarquezes e dinamarquezas ; leonez —
leonezes e leonezas, etc. "^
Parece que montez deu montezes, não montezas. Assim
dizemos porcos montezes e cabras montezes, não montezas.
Menezas e Menezes; Montês, não montez; Pequenez e peque-
neza; profundez, profundeza, profundidade, profundura e
profundas (popular).
Refesas e Refezes; Revés e revez, masculino. Robustez,
robusteza e robustidão; Rudez e rudeza; Seccura e sequidão,
não sequidez; Serenidade, não serenidez ; Sofreguidão, não
sofreguidez. O povo diz sofreguice.
Sordidez e sordideza; surdez, não surdidão nem sur-
deza; Talharezes, de Talhariz? Confronte-se Tralhariz por
Talhariz e este por Calhariz!... Confronte-se também Cana-
vezes por Canabizes, que deu também Campizes por Cam-
bizes e Cambezes?!... Terrantês e terrantez, natural d'uma
terra ou povoação.
la
Vide pag 107 e seguintes d'esta minha louca Tentativa
Eiymologica, parte 2.*
Abbadia; Abegoaria; Albergaria; Alcaidaria; Bernardia;
Cúria por Curaria; Freiria; Donairia; Alçaria; Alegria,
quinta do Douro; Alfeiria por Alfreiria ou Alfeitaria; Al-
fria... Algarvia ou Algravia; Almadia ou Armaria.
Alvadia; Anadia, de aradia? Confronte-se Lameiria, La-
vradio, Trabalhia, Sapataria, Cúria por Curaria, Mesadia,
Vestiaría^ Trafaria, Ucharia, I^ameiria.
TENTATIVA KTYMOLOGICO-TOPON YMICA 'j2h
Pedraria, Penedia, Pescaria, Pinheiria, Pisoaria, Pom-
baria, Portelladia, Portoguedia, Vallaria, Vessaria, Vistoria,
Cárdia por Cardaria; Aravia ; Astroluzia; Azedia; Bainha-
ria, Banharia e Picaria — raas do Porto,
Barreiria; Barrocaria ; Berbéria; Hernardia; Boquia?
Bordalia ? Bornaria por Borraria ou Barraria — das b('»rras
ou dos burros. Confronte-se Cavallaria, Chamellaria, Car-
neiria, Gançaria e Cançaria por Gançaria.
Aravia, Berbéria, Mouraria, Mouria, Cabria por cabra-
ria, Couxaria, Gouxaria, Gataria, Cocaria, Coparia por Cuca-
ria, Gavaria e Gavia por Gaviaria, Pataria, Vacaria, Pol-
draria; Brazia; Bugia.
Carapía por Casa Pia? Carneiria ; Carvoaria; Casaria;
Cascaria ; Castellaria ; Cavallaria ; (^hamelaria ; Cocaria e
Coparia — formas do mesmo nome, pois ca, co, cu e jja, po,
pu confundiram-se. Vide o meu longo tópico Substituição
de letras.
Congeitaria? Cortezia ; Cotovia; Couxaria, Gouxaria e
Mouxaria, povoações nossas, que tomaram o nome dos mo-
chos, aves e dos muchôes, mosquitos. Moucharia deu ou pedia
dar Couxaria e por seu turno Couxaria deu Gouxaria; En-
fermaria; Enxertaria e Enxertia; Espia; Fanadia; Faria;
Feitoria — talvez de Feitaria ou Fetelaria; Felgaria, o mesmo
que Fetelaria.
Francaria, dos francos, o mesmo que Franzia por fran-
cezia, dos francezes, e Galleguia, dos gallegos; Portoguedia,
o mesmo que portuguesia, dos portuguezes; Mouraria, dos
mouros; Judiaria, dos judeus; Andaluzia, dos andaluzes;
Berbéria, dos berebéres; Franzia por francezia.
Freiria; Fumaria; Gafaria; Garcia; Gataria; Gavaria
por Gaviaria; Gordaria por Cordaria e este por Cordoaria?
Gouxoria; Guia.
Joaria. Confronte-se Joara, Joarilla, e Juara em Leito,
na Hespanha. Judia; Jugaria. Confronte-se Jugueria em
Oviedo; Juhia e Juía; Lameiria; Lavradio, o mesmo que
lavradia; Leiria e Leisia.
Moía e Muhia (Villa Nova da Muhia), do castelhano
molina que deu também Moinha, povoação nossa, Moinhelha,
Moinhola e Munhota por Molinhota. Também temos Muli-
neta e Mulinheta.
Monceravia; Moria ; Mossomodia, de Mossamedia e este
de Mossamedes; Moucharia; Mouraria e Moura por Mou-
raria.
Õ2G TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Olaria; Pairia; Palmeiria; Pataria; Penedia; Pescaria,
rua de Gaya ; Pinheiria; Pisoaria; Poldraria; E^ombaria; Por-
fia o Porfias — contendas, lides? Portelladia ; Portnguedia.
Poiísia, Pousias, Pousios; Rebalxia; Rebalvia (Rebal-
dia?) Rebolaria e Rebolia, contracção de Rebolaria ou de
reboleiria, souto ou Soutaria de Reboleiras ou reboleiros, o
mesmo que Rebolai, Rebolar e Rebordai, povoações nossas.
Os castanheiros bravos tomaram o nome de reboleiros,
porque dão castanhas redondas, a modo de rebolos ou rebolas,
unde Rebordans e Reb.ordàos, o mesmo que Rebolãos, po-
voações nossas.
Rebordãos é o mesmo que rebolãos e Reboleiros, casta-
nheiros que dào castanhas rebolas ou arredondadas, unde
Rebolosa, Rebelião, o mesmo que Rebordão, Rebordainhos,
Rebordai, o mesmo que Rebolai, Rebolar e rebordeiral; Re-
bordans, Rebordãos, Rebordeiras, o mesmo que Reboleiras,
Rebordello, Rebordinho, o mesmo que Reboleirinho, Rebordo
Chão, Rebordões, Rebordondo, Rebordosa e Reboleiro, po-
voações nossas.
Rebordo Chão — e o mesmo que Rebordosão, augmen-
tativo de Rebordoso ou de Rebordão. Confronte- se Rc-borda-
chão em Pontevedra (Gallisa), o mesmo que Rebordasão, por-
que a Hespanha não tem z sibilante.
Rebordondo vem talvez de Rebordono, o mesmo que
rebordano e Rebordão. Regadia, Regadias e Regadio; Re-
xaldia ; Sapataria; Serviçaria e Outeiro da Serviçaria ; Ses-
maria ; Soutaria : Tetelaria ou Fetelaria. De Fetal, como
Felgaria de Fe]^'ar o mesmo que Fetal.
Tomadia; Touria por Touraria. Confronte-se Tural e
Toural ; Trafaria por Trafegaria. Umbria; Vacaria; Vallaria
e Vallia por Vallaria. Vespería por vesparia. Confronte-se
Vespeira e Vespeiro, Bespeira e Bespeiro e Zangaria dos
zangões; Vessaria; A^estiaria ; Vestoria ; Via... Vigia, Villa
Fria; Villa Garcia; Zangaria; Zombaria, etc. pov. nossas
íbal, úbal e úga!, taluez o mesmo que úbal
Setúbal e Tentúgal. Confronte-se Asdrúbal, general
cartaginez que figurou muito na nossa península. Também
Turcifal recorda Annibal, outro general cartaginez da pe-
nínsula.
TENTATIVA ETYMOLOGICO TOPONYMICA r)27
Ica e ico
Burnico por burrico ; Celorico, diminutivo de cellorio
— celleiro, no baixo latim cellariolu.s, unde Celleiró, Celleiroz
e Sellouros por CeJiouros? Ceroiico por Celorico; Choupica
e Choupico. Cobrica; Forneço e Fornico por Fornico I..
Joanico e Joaninho, etc. povoações nossas.
Iça
Adiça e Povoa d'Adiça; Alcainça por Alcaniça, ua
Hespanha; Aljuriça? Alvariça; Apariça; Canniça; Carva-
Ihiça; Castainça por Castaniça; Costariça; Favarica; Ganda-
riças ; Lagariça e Lagariças.
Melriça, o mesmo que Melrissal, Melreira e Melroeira,
abundante em melros — Milhariça ; Pocariça ; Porcariça ; Pu-
cariça ; Rapadica; Reboriça e E-evoriça em vez de roboriça,
de robur carvalho, como Carvalhiça; Roliça, abundante em
rolas? Confronte-se Melriça; Urjariça — da urze ou urge.
Confronte se Qrgal, urgares, Urgeira, Urgezes, Urgueira,
Urjaes, Urjal_, Urzal, Urzalão, Urzelhe, Urzella e Zorzaes ou
Zurzaes, o mesmo que Os urzaes ? Da urze, planta — ou do
francez orge, cevada.
Confronte-se também Jorzaes, Jurzaes, Orgal, Orge Or-
gem, Orgens, Orgueira, Orijal, Orjaes, Orje e Orjo?!...
Vacariça. Cf. Bacaria, Bacarice e Vacaria; Vellariça e Villa-
rica de Avellariça, bosque de Avelleiras, pov. nossas.
Iche, ique e íco
Peniche, Penique e Peniquinho? ! . . Talvez que Peniche
outr'ora se lesse Penique, pois eh já soou h ou q, V. o tópico
Substituição de letras.
Icho, ou ícho por inho
Arneiricho e Arneirinho ; Casaleixo por Casalixo e Ca~
salinho ; Cavalluche, casal de Sacavém, por cavallucho, este
por cavallicho, e este por Cavallinho, povoação nossa: Ga-
528 TENTATIVA ETYMOLOQICO-TOPONYMICA
vicho, appellido, e Gavinho ; Lagartixo por iagartinho ;
Rabicho e rabinho.
Ico
Celorico por celeirico, pequeno celleiro ou celleirinho,
cemo celleiro e Celleiroz, do baixo latim cellaiHolum, dimi-
nutivo de cellarium, celleiro; Cobrica, o mesmo que Cobri-
nha, povoações nossas; Fornico, o mesmo que Forneço, For-
nello, Fornilho e Forninho, pov. nossas.
Joanico e S. Joaniço, povoações nossas; Mendricos?
Milrico por melrico ou Meirinho, povoações nossas; Passico
por Pacico de palacico, o mesmo que Pacinho e Passinho,
Paço e Palaçoulo por palacinho? Pocico, o mesmo que Poci-
nho, povoação nossa. Também temos Poçoulos, PopoUo,
appellido, e Possacos, diminutivos de Poço, e talvez que
Bussaco venha de possaco? Roxico, diminutivo de Roxo? etc ,
povoações nossas.
Ida
Alcarida por Alçaria? Alfrivida por Altria? povoação
nossa também, como Fria, Frias, etc. Bastida, povoação do
districto de Vianna do Castello, e sitio deshabitado em um
esteiro entre Ovar e Estarreja, districto d'Aveiro.
Confronte-se Bastida, 4 povoações da Hespanha nas
províncias de Lugo, Lerida e Salamanca, e Bastido na de
Cadiz.
Confronte-se também Bastida na Toscana.
Bastidasse (em portuguez Bastidassa) duas povoações de
França, na Provença.
Bastide (em portuguez Bastida) duas povoações da Pro-
vença também.
Bastide (em portugez Bastida) 10 povoações do Langue-
doc, também sul da França.
Bastide (em portuguez Bastida) 7 povoações do depar-
tamento d'Aveyron (França). Junte-se Bastide, uma das
povoações da Provença no departamento do Var e note- se
que a nossa Bastida, sitio despovoado, demora no concelho
d'Ovar, quasi Var, disricto d'Aveiro, quasi Aveyron.
A França tem mais com o nome de Bastide, em portu-
guez Bastida, as povoações seguintes: 1 no departamento do
TENTATIVA ETYMOLOGTCO-TOPONYMICA 529
Cantai; 2 no de Gers; 1 no Lot ; 1 no de Lozère; 1 no
Rossilbão ; e 1 no departamento d'Ariège.
Tem, pois, a França B2 povoações com o mesmo nome
de Bastide, em portuguez Bastida, todas mencionadas na
Geogr. Univers. de Bescherelle e Devars. E talvez tenha
mais, porque a dita geographia náo menciona as povoações
todas, mas só as mais importantes. Junte-se Bellída. Cer-
quida, o mesmo que Cerqueda e Carvalheda, povoações
nossas.
Ige
Carcamige? por carcamuge, e este por carcamujo? Cf.
Valdige, forma pop. de Valdigem. Valdige é o mesmo que
Valduge por Valdujo — Vai do ujo, pov. nossa que eu já vi-
sitei duas vezes. E' uma freguezia pertencente ao concelho
de Trancoso.
II
no plural eis ou is.
Adail, adais ; Aguazil, aguazis ; Barril, barris; Buril,
buris ; Cabril, Cabris ; Canil, canis ; Cantil, cantiS ; Carril,
carris ; Ceitil, ceitis ; Estoril, Estoris ; Funil, funis ; Fuzil,
fuzis; Gentil, gentis; Gomil, gomis; Mercantil, mercantis;
Projéctil, projectis ou projécteis ; Quadril, quadriz ; Tambo-
ril, tamboriz; Têxtil, textis ; Viril viris.
II, ins e iz
Barrai, Barril por Barrai, Barrins e Barriz? Bizarril,
Bazarril e Bezerrins por Bezerris ; Cabral, Cabril, Cabrins e
Cabriz; Carril, Carris e Carrizes; Esmoriz e Esmorins por
Esmoriz; Fraguil e Fraguins; Loural, Louril e Louriz, etc,
povoações nossas.
Im e íno
Agostim e Agostinho. Confronte-se Agostem e Magos-
tim, povoações nossas; Alvim e Albino; Arentim por Aren-
tino, de Arinthinus, i, diminutivo de Arinthus\ i, Arintho e
34
530 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Arinto, antigos nomes pessoaes e hoje appellidos; Beduíno
e Bedim por Beduíno ; Bensafrim e Safrím, povoação nossa,
de Zephyrinus, i, Zephyríno ou Zeferino, santos.
Bernardim e Bernardino ; Cantim e Contim, de Quíntim
por Quintino; Constantim e Constantino; Gogim e Goujoim,
de Gosuinus, i\ Gualdim e Gualdino; Jozim (aldeia) e Jo-
sino; Landim, freguezia, e Nandim, appellido, de Landeli-
nus, 2, Landelino, nome dum santo. Por seu turno Landim
deu Nandim, como Landolphus^ ^, nome germânico, deu
Nandufe por Landufe ^.
Laurentim e Laurentino ; Lazarim e Lazarino ; Louren-
tim por Lourentino, de Laurentinus, i; Laurentino, santo, etc.
o mesmo que Lourencinho, casal, diminutivo de Laurentius, ii,
Lourenço, santo, que deu também Laurentianus , ^, unde
Laurenciano, casal nosso.
Martim, Martino e Martinho ; Mimvaqueiro por Mem
Vaqueiro, e Mim Yelho por Mem Velho, de Mendo Vaqueiro
e Mendo Velho. Cf. Agostem e Agostim supra. Nostim por
Nostino^ de Naustinus, i, dim. de Naustus, i Nausto, santo ;
Paim, appellido nobre e antigo, é o mesmo que Painho^ pov.
nossa, de Pelaginus, i, dim. de Pelagius, ii, que deu Pelagio,
Paio e Paes, como Pelagianus, i, deu Paião.
Tourim, aldeia e appellido de Taurinus, i, Taurino, S.*^
etc. dirí. de taurus, i, touro. O mesmo TaurinuSy i, deu
Tourem e Torino, pov. nossa, e talvez Torim, cidade italiana.
Severim e Severino: Verim por Verino, de Verinus, i, dim.
de Verus, z, Vero, santo.
Im e em por im (diapasão francez)
Abbadim e Abbedim; Agosteni por Agostim, o mesmo
que Agostinho; Aleanim e Alcaninzinhos? Alcoutim; Alda-
rem por Aldarim? e Aldarinho !... Alfardim por Alfarim.
Confronte-se Alfarins e Alfaro por Alfarero, unde Alfarellos?
Alfeixim por Alfreixim — o freixinho?
Alfenim, de Alfena? Almadanim? Almadantim? Almei-
rim, Almeirinho, Almeirinhos e Almeirões; Almorquim; Al-
poem e Alpoim; Alpolentim? Alporxim; Alquerubim ; Altim;
Alvarim; Al vem e Alvim.
Vide o tópico Substituição de letras.
TENTATIVA KTYMOLOGICO•TOPONY^fICA 531
Amorim; A.reiitira ; Arestim; Arpim (do); Attim. Vide
Altim; Badim; Baguim; Barturim, de Iben Arturini; Bas-
sim? Bediui por Badim? Bensafrim, filho de Zeferino.
Bodim. Confrorite-se Godim!... Bogim, Boim e Villa
Boiml... Oonfronre-se Roinhas, Boíno e Boínos; Bostelira;
Boucegodim por Bouçagodim, Bouça do Godinho!...
Brandim; Caim; Calquim; Cantim ; Caparim ; Cardim ;
Carem e Carim!... Cartem e Cartira ; Catem por gatem e
Gatim; Cedo vira?... Cedrim por cedrinho? Confroute-se Ce-
dro, povoação nossa.
Ceromil, de cerarail por celamil e este por celamim!...
Chacim ; Chaim; Chamoim ; Chavim; Chorim, Corim e Ca-
rim. São talvez formas do mesmo nome tirado de Carini...
Codim 6 Godim; Coixim e Coixinho?!... Confronte-se Coixa,
Coixo e Coixos; Constantim e Constantino: Contim. Vide
Cantim por Quentim de Quintini.
Cotem por cotim ou coutim, que se encontra em Ah30U-
tim ; Cotens plural de Cotens supra; Crespim — de Crispi-
nus, i\ Crestim e Crestins — de Christini, santo; Eidim e
Eidinhoí...
Enxertim por enxertinho? Escaroupim ; Espertim; Fal-
porrim ; Faseaim por Fiscaim o mesmo que Fiacainho ; Ga-
bim, Gavim e Gavinho ; Gobim e Gouvim?... Confronte-se
Gavião, Gavianito e Gaviãosinho, Gaviello, Gavinho e Gavi-
nhos. Gavim por Gavinho ; Gabim por Gavim ; Gobim por
Gabim ; Gouvim por Govim e este por Gobim. Também
Gobim pôde ser uma forma de Godim!... Confronte-se tam-
bém Gafino por gavino?...
Gagim por Gaguim ou Gaguinho. Confronte-se Gaga,
Gago e Gagos *; Gaiandim por Galantim e galantinho. Con-
froute-se Galante, appeliido ; Galdins e Galgodins — de Val-
Godins? Note se que va deu ga e gíia, et(3. — Gandim. Vide
Gaiandim, Gondim, Gontim, (>antim e Contim?!...
Gargoli-íi ; Garim ^; Gato e Gatim por gatinho? Gebe-
lim? — Godelim, Godim e Goim por (líodim. Confronte-se
Godos, Goda, Godel, Godela, Godilha, Godinha, Godinhella,
Godinho, Godinhos, e Godins, etc, povoações nossas.
Goivim por goivinho? — Confronte-se Goiva e Goival.
Gombim por combim? Vide Combinho, Comba, Pomba, e
^ Também Gagim pôde ser uma forma de Gogim!.
* Vide Carem e Carim, supra.
532 TENTATIVA ETYMOLOGTCO-TOPONYMICA
Pombinha; Grondelim e Gondim?!. . . Gordim e Gordinho?!...
Goujoim; Gouvim; Gradii, Gradim, Gradins (quinta e ponto
do Douro) e Gradiz, o mesmo que Gradins plural de Gradii?
Gualdira por Gualdino, etc. Confronte-se Galdins patro-
nímico de Galdim, velha forma de Gualdim; Guetim. Vide
Gatim; Guim. Vide Goim e Godim, Guins e Godins!. .
Joaquim, Joazim (por Joacim que já soou Joaquim) e
Joarim, são fórmas do mesmo nome; Jozim; ^ — Jubim. Vide
Jovim ; Laborim ; Landim e Naridim — de handelinus, if..,
que deu também Landina por Landelina; Larim, Vide Laza-
rim; Lebrem por lebrim, o mesmo que Lebrinho.
Levarim. Vide Laborim e Laboriz. unde Lavariz? — Le-
xim, de Aleixim por Aleixinho. Vide Alijó e Lijó ; Lobaim
por lobaguim ? Vide Lobagueira, Lubasim e Lubasins; Lou-
rentim, de Laurentinus, i, diminutivo de Laurentius — Lou-
renço ; Lourim ; Luzim, de Lucinii, etc. povoações nossas.
Im, na prouincia de Gôa (índia portuguesa)
Ambelim ; Ansolim ; Arossim ; Arsulim ; Bambolim ; Ba-
tim ; Benacolim ; Bicholim ; Bombaim ; Camorlim ; Camague-
nim ; Cancaulim ; Candolim ; Carmolim; Cartarim; Cave-
tossim; Champalim.
Chicolim; Coelim; Corlim; Cortalim; Cundaim; Cuissim;
Dabolim ; Dangerim ; Dangim ; Doncolim ; Gandaulim ; Gui-
rim ; Juarim ; Letolim ; Lontulim.
Marcaim ; Morgim ; Naguelim ; Naiquinim ; Navelim ;
Nertodim ; Orlim ; Pangim ; Purvarim ; Querim; Salganim ; San-
quelim ; Sarolim ; Siolim ; Sirtim ; Talanlim, Tivim; Ucassaim;
Vangutmim ; Vantim ; Vavelim; Vellim, etc.
Ina e inda. Ino e indo
Arminda — de Arminia ou Ermina, Ermino foi santo,
bem como Hermínia, Hermina é nome actual. Carlinda — de
Carolina ; Carlindo de Corolino ; Carminda de Carmilina ?
Carmindo — de Carmilino; Clorinda — de Colorina?
Ermelinda — de Ermelina; Ermelindo — de Ermelino; Flo-
De fesuinos, /— Jesuino, nome pessoal e appellido.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA 53B
rinda — de Florina; Florindo — de B'lorino ; Galinda — de íjral-
lina? Galirido — de Gallino. Confroare se Cialla e Gallo, no-
mes de santos, etc. Idalinda — de Idalina; Idalindo — Idalino.
Laurinda — de Laurina ; Lucinda * de Lucina * ou Lu-
cinia ; Lucindo — de Lucinio * ou Lucino ; Raindo — de
Raino — Rainho ? Raulindo — de Rauliuo ; Rosinda — de Ro-
sina * Rosinha * Zuzulinda e Zuzulindo? — de Zurzulina e
Zurzulino, nomes pessoaes e appellidos.
— Os asteriscos suppra (* *) revelam nomes de santos.
Inho e osinho
Camposinhos, em Leça da Palmeira, junto de Mattosi-
nhos, e Campinhos; Mattosinhos e Mattinhos; Ouro, Ouro-
sinho e Ourinho, etc. povoações nossas.
Ino e iano
Antonius, Antoninus e Antonianus; Florus, Flora, Flori-
nus, Florina; Florindus, Florinda e Florianu-<,a Justus, Jus-
tinus e Justinianus; JVlaximus, Maximmus, Maximianus e
Maximilianus ; Severus, Severinus e Severianus.
Ins, iz e izes (plural da desinência il)
Barrai, Barraes, Barril, Barrin??, Banrezes e Barrezes.
Confronte-se Meneixos; Menexas, Menezas e Menezes, po-
voações nossas, e Menizes, appellido archaico. Barril, Bar-
rins e Barris; Cabril, Cabrins e Cabris; Carril, Carris e Car-
rizes.
Mende, Mendel, Mendes, Mendalvo, Mendim, Mendis e
Vai de Mendiz; Moural, Mouraz, Mourel, Mourens por Mou-
rins, Mouril, Mourim, Mouris, Mouriz e Mourizes!... Junte-
se Morem, Morim e Morins, Boreis, Boriz e Buriz, por
Mourens e Mouriz (?), povoações nossas.
Ique e ico
Casal de Nique ; Henrique ; Laxique ou Vai do Laxique ;
Manique; Manrique; Monchique; Monte do Mourique ; Monte
634 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
dos Mouriquinhos ; Morachique e Mourachico ; Mourique
(Monte do Mourique).
Ourique; Peniche, villa, Penique e Peniquinho, casaes ;
Pussich, appellido nosso. Saquinibaque e Sequinique ; Vai
de Laxique; Tarik, nome árabe; Totenique; Vai de Brique,
etc. povoações nossas.
Isa e iza
Anisa, Balisa, Bemvisa, Clavisa, Devisa, Niza, Revisa,
etc. povoações nossas.
Isca, isco
Corisca, Coriscada, Coriscas e Coriscos ; Faisca, Faiscas
e Faisco; Fontaiscos e Fontiscos; Francisca, Franciscas e
Francisco e Franciscos ; Lentisca, Lentiscas e lentisco ; Pe-
nediscas, plural de Penedisca ; Pisca e Pisco ; * Robisca e
E-uvisco, etc. povoações nossas.
Ita e ÍÍO
Azenhita; Beiranica e Boiranita, são formas do mesmo
nome; Cabanita; Cabeçanita; Cabrita; Caganita (é uma quinta);
Casalito; Casita; Catrivana e Catrivanita; Cegonhita; Ciiel-
rito; Cor eitos e Fillipito.
Ganita, Gavianito; Guarita; Lopitos; Melrinita; Monte
da Ganita; Monte das Baionitasi; Monte do Melanito; Olei-
rita; Olhitos; Padre Cabeçanita; Pai Canito e Pai Cão;
Paixanita; Pisanito; Poupanita, etc, povoações nossas.
Iz e ins
Barril, Barris e Barrins; Cabril, Cabriz e Cabrins; Es-
moriz e Esmorins; S. Félix, S. Feliz, S. Fiz, na Hespanha,
^ Dos piscos, aves, ou de Priscus, Prisco, nome d'um santo, etc.
que deu S. Pisco, orago antigo da Regoa.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPOXYMICA 535
e entre nós Sanfins e Sinfáes por Sanfins!... Mouril, Mou-
ris, Mouriz e Mourens por Moiirins, etc, povoações nossas.
3ó por xó, G Dice-DersQ
Alijó e Lijó, de A lixo e este de Alexiolus, ^, Aleixinho,
diminutivo de Alexius, ii, Aleixo.
Crixó, de Grijó, o mesmo que Egrejó, de Ecclesiola —
egrejinha ou pequena egreja, o mesmo que Ermida, Mesqui-
tinha e Mesquinhata por Mesquitanha, o mesmo que Mesqui-
tinha, povoações nossas.
má e mau
Barrimão e Barrimau por Barro Mau ^? Carrimá ; Casal
Mau; Costa Má; Cova Má e Cova da Má ou Covada Má;
Lama Má; Massamá; Matamá e Matta Má; Quinta Má; Pe-
daço Mau; Pedra Má, sitio no fundo do Vai d'Arouca. E' um
despenhadeiro medonho, onde passa a nova estrada a maca-
dam. Porto Máu; Rio Máu, etc, povoações nossas.
nó
Comino, casal.
O por Ciro
Castanho e Castanheiro ; Louro e Loureiro ; Pinho e Pi-
nheiro ; Sobro e Sobreiro, povoações nossas.
Oca C ÔCO
Baloca, Baloco ; Balouça e Balouço; Balouta. Balouto ;
Beijocas ; Bejota por Beijota, este por Beijoca e este por
Feijoca ? Bichoca; Eirogo por eiroco, o mesmo que eiroca;
Engenhoca; Feijoca e Feijogo por feijoco!... Furoca!?...
Marnoco, appllido, Tinoca, Tinoco, povoações nossas.
^ Confronte-se Portimão e Porto Máu?!
536 'fENTATlVA ETYMOLOGICO-TOPONYIVITCA
Ocfie
Cantroche — quinta.
Oco, ôgo e ouço
Alvôco ; Ba loco e Balouço; Barroca e Barroco; Biocas
e Bioco; Boca Bôco; Boga e Bogo; Diogo e Viogo ; Eirogo
— caldas de Barcellos ; Miôgo ; Mogo ; Moxoco ; Tinoco ;
Villarôco e Villarouco, etc. povoações nossas.
Oes e ões
Pereirões e Preiroes, por Preirões, etc. povoações nossas.
Oi
Estoy é uma freguesia do Algarve; Godoy é appellido
nosso ; Guissoi — Talvez de Vizoi — antigo nome pessoal,
que entre nós íoi vulgar nos séculos 10 e 11.
Vide Vizeu, longo artigo meu no Portugal Antigo e
Moderno, vol. 12, pag. 1715, col. 2.a e 1716, l.\
Note-se que vi der. gui e zo deu só no diapasão leonez,
etc. Vizoi também teve a forma Vizoy. Magoi é uma povoa-
ção nossa. Confronto-se Maiolo e Mayolo, nomes de santos,
em latim Maiolus e Mayolus, i, que já se escreveram Majo-
lus, ê, unde Magolus, i, no diapasão castelhano.
Por seu turno Magoli deu ou podia dar Magoi!...
Confronte-se também o italiano magio e mago — mago,
feiticeiro, sábio, unde talvez Magiolo, Maiolo, Mayolo e Ma-
golo, supra.
Também Maiolo pelo diapasão italiano podia dar Ma-
gioli, unde Magoli e Magoi? Nitheroy, é uma cidade do
Brazil ; Quirois ; Rajoi, aldeia.
Oiço e OUÇO
Alouço ; Barcouso ; Bouço ; Cadoiço e Cadouça, Cadouço
e Cadouços; Choiça; Chousa por Chouça e Cachouça por
TENTATIVA ETYMOLOGICOTOPONYMICA 537
Ca -f- Ctiouça ; Lagoiços e Lagoços por Lagouços? Morouço
e Morouços; Pedroiços, Pedrouço e Pedrouços ; Penouços;
Recouço ; Ribouça ; Villouços.
Pontoiga. De Pontica, Pontigas, Ponteiga, Pontoiga ?
Talvez seja uma forma de pontoila, diminutivo de ponte,
como Fontoura por Fontoira, de Fontolia, quasi Fontoila e
Fontoiga.
Confronte-se Rirasoila, Moçoila e Piscoila, pov. nossas.
Note-se que g e l se confundiram e substituiram na
onomástica portuguesa.
Vide o tópico — Substituição de letras.
Confronte-se Pontega e Ponteguinha.
^ Oila
Caçoila, instrumento culinário e também apodo ou ap-
pellido; Formicoila; Moçoila; Papoila, tlor e appellido ; Picoi-
la; Rirasoila; Rapoila e Rapoula, etc, povoações nossas.
Om
Adão, Adon e Adões; Cabra, Cabrão, Cabrões e Cabrum
por Cabrom?
Mas Cabrum talvez seja adjectivo, indicação de gado
cabrum — cabras e bodes.
Confronte-se Cavallum, povoação nossa, e ovelhum,
nome commum.
O snr. Figueiredo não deu o adjectivo cavallum, mas
somente cabrum e ovelhum. Foi lapso.
Carro, Carrão, Carron e Carrões; Fonte, Pontão, Fon-
tom e Fontões.
Ona
Arjona; Atafona; Atagona: Barahona; Barbatona; Bar-
jona; Cachadona, grande Cachada? Confronte-se Cachadinha ;
638 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Campona; Carmona e Carona, appellido. O povo também
diz pernona, mocetona, pimpona, solteirona, babona, mara-
fona, lambona, frescalhona, felisona, Carrasona; Crasona por
Casarona? Dona, Donas, Casal das Donas, Casal Dona; Fo-
ros da Catampona? Lagardona ou Lagarda Dona; Mona;
Monte da Feiteira e Monte da Feiteirona; Quintandona por
Quinta da Dona; Victorino das Donas; Silveirona; Sonna,
etc, povoações nossas.
Onfra
Azugonfra ?! . . . casal. "
Onga e ongra
Camatonga; Longa, Longra, Pendonga; Perlonga, etc,
povoações nossas.
Ontra e ontras
Lontra, Mastrontas, etc, povoações nossas.
Ostias
Remostias, aldeia, etc.
Ote e Oto
Botto; Carreiroto, aldeia; Carvalhote e Carvalhotinho;
Coto; Cotoviote; Escrevote por Escrevelhote? Confronte-se
Escra velho e Escra velhos ; Faleoto ; Fatiota ; Ferrariota ;
Galé e Galeota, povoações nossas; Marnoto; Maroto, appel-
lido; Peixoto; Perdigoto, casal; Pericoto; Picoto e Picotos,
muitas povoações; Pinhote.
Ouço
Barcouço; Bouço e Bouços; Cabadouso; Oadouço e Ca-
douços; Couço e Couços; Lagoiços o mesmo que Lagouços;
Morouço e Merouços; Pedrouco e Pedrouços; Villouços.
TENTATIVA ETYMOLOGTCO-TOPONYMICA 539
Ua
Carapua. Confronte-se Carapia ; Carcua ; Gandua ; Gi-
gua e Jejua; Rua; Tua.
. Ude
Magude, em Lourenço Marques; Peuude, concelho de
Lamego. Vem de Penide por Penido e este por Penedo.
Coníronte-se Monte da Penida, povoação nossa, como Pe-
nedo, Peneda, Penedaes, Penedia. Note- se que a freguesia
de Penude e a serra de Penude abundam em penedos.
Um
Cabrum e Cavallum; Fatum.
Ures
Caldures; Sezures.
Uste
Baguste; Conguste; Fuste; Juste.
UZQ
Fauza e Fiúza. Parecem formas do mesmo nome.
Zote
Vide Casalote, aldeia, por casalote, pequeno casal, e
Zote, aferese de Cazalzote, que talvez se escrevesse Cazal
Zote. Confronte-se rapazote, o mesmo que rapazelho, pe-
queno rapaz, antithese de rapazão, o mesmo que rapagão,
rapaz corpolento e forte.
540 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Desinências onomásticas da 5espanha pouco Dulgares
e congéneres das nossas
Alamico, Alamillo e Álamo ; Aldeã e Aldecos ; Altico e
Alto ; Barqueras, Barquilla, Barquillo, Batan e Batanejo —
pisão, moinho? Canal, Canalica, Canalito; Capella e Oapellita;
Carrascal e Carranalico ; Casal, Casar, Casarito ; Casa, Casioa
e Casicas, Casilla e Casillas (Cacilhas) Casita e Casitas na
Hespanha.
Nós também temos Casita, e dizemos casota, e a Hes-
panha tem Casota, Cazalegas. Cazalilla, Cazolgas, Cazorta,
Cazullas, Cazurra, etc. Cebral, Cebrecos, Cebreiro e Cebrei-
ros ; Celorico, na Hespanha Cellorigo e Celorio; Cerro. Cer-
rico, Cerrito : Cortijo, Cortijico e Cortijillos; Dehesa, Dehe-
sica e Dehesila; Ficheco, Fichos e Fica; Janella e janeilita;
S. Joanico, povoação nossa; Juanic, Lugo; Marchai e Mar-
chalico^ Almeria; Marchena e Marchenica, Jaen-Mazo, Ma-
zon, Mazueco e Mazuecos, na Hespanha, e Mazouco em
Traz-os-Montes ; Mola, Molar e Molarico; Molia, Molina,
Molineto, Molinecos, Molinicos, Molinilia, Molinillo, Molino;
Montico; Mora, Moral, Morales, Moralicos ; Naval. Naval-
guijo e Nalvaliego ; Oliva, Olivar e Oliveirico, Oliveirica,
Olivicos, Olvillos ; Oter^ Oterico e Otero ; Pedroco ; Pedronco
e Pedrueco ; Pilar, Pilarejo, Pilarico, Pocico, Pocicos; Poza-
cas, Pozanco e Pozo ; Ponte, Pontica e Pontigo ; Puentecico,
Almeria ; Quartico, Quarto e Quartos.
Desinência EDGA na onomástica da Bespanha
Confronte -se Montuenga, aldeia de Burgos, Segóvia e
Seria; Naval e Navaluenga — Toledo; Paul, Paulenga, Paules
e Pauis; Pazo, Pazos e Pazuengos ; Revenga, em Burgos;
Riolen2:o, em Guadalajara; Taboazas, Tabuenca, em Sara-
goça ; Tor. Torlengua — Huesca ; Torremenga ; Venta de Mon-
tuenga — Soria ; Verengo — Orense ; Zalengas e Zabagos —
Valhadolid.
TENTATIVA ETVMOLOGICO-TOPONYMICA 541
Desinência SEDDE por ZEDDE na onomástica
da 5espanha
Confronte- se Gomesende e Gondesende, em Orense.
Hermisende — Zamora ; Lugo-Lesende — Corunha ; Le-
vosende — Lugo ; Lousende — Lugo; Madrosende e Modro-
sende — Orense e Pontevedra; Marcosende — Pontevedra;
Mousende — Lugo ; Mosen e Mosende — Lugo ; Nava Mor-
cuende — Toledo; Penansende; Quetesende — Lugo; Rasin-
de — Leão; Recesende, — Lugo; Rejosende — Orense; Troi-
tosende ; Tusende — Lugo ; Vilalosende — Lugo.
Desinência, aço, aça
Gramacho por Gramaço ? Gramicho, appellido, talvez
forma de Gramacho. — Gramicho, quinta, appellido, etc. —
Vide Gramacho por Gramaço, o mesmo que Gramido por
Gramêdo, sitio abundante em grama.
Gramaços, pov. nossa, é plural de Gramaço e recorda
Taboaço, abundante em taboas; Melgaço, abundante em mel;
Travasse, abundante em trevo, por Trevaço ; Milhaço, abun-
dante em milho ; Espinhaço, o mesmo que Espinhosa e Es-
pinhoso, abundante em espinhos ; Trigache por Trigacho e
este por Trigaço, abundante em trigo ; Vinhaça por Vinhaço,
abundante em vinho; Colmassa por Colmaço, abundante em
colmo, etc.
Também temos Cortegaça, Cort^gacinha, Cortegaço,
Cortegada, Cortiçada, Cortiçadas e Cortiçadinhas, que to-
maram o nome da cortiça, em latim córtex^ ida, que deu cor-
ticatus e corticosuSy coberto de cortiça. Por seu turno cortica-
tus, a, deu Cortegada, o mesmo que Cortegaça, pois que
Bó, bé, bí, bó, bú e ÍDó, me, mi, mó, mu, iniciaes,
confundiram-se :
Baçal e Maçai ; Bacalhau por má calhau ; Bacalhôa por
Bacalhona e Macalhona, povoação nossa. Baceira, Baceiras,
Maceira e Maceiras. Badões e Madons, quasi i\[adões. Ba-
542 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
ganha e Maganha ; Bairos e Mairos; Bala e Mala; Banhos e
Manhos.
Note-se que junto de Lamego, na confluência da velha
estrada de Lamego para a Régua com a nova estrada dis-
trictal de Lamego para Castello de Paiva por Sinfães, ha
uma quinta e uma fonte publica denominadas Manhos, que
bem podiam tomar o nome de banhos.
Somma e segue :
Banhosa e Manhosa, povoações nossas. Banreza, Banre-
zes, Marrazes e Manreza, povoação da Catalunha. Bariz ou
Variz e Mariz. Barbelães por Barbelaes ; Marmelal e Marme-
laes. Barbeloto, Barbelote ou Barbelete e Marmelete. Barce-
lona e Marzelona. Barqueiros e Marqueiros. Barquinha, Bar-
quinhas e Barquinho. Marquinha, Marquinhas e Marquinho.
Barra e Marra. Barrada e Marrada. Barrão e Marrão. Bar-
rancos e Marrancos! Barras e Marras. Barreiras e Marreiras.
Barreiros e Marreiros. Barrocos e Marrocos, quinta do Alto
Douro, que tem grandes despenhadeiros, barrancos, barro-
caes ou barrocos, unde Marrocos por Barrocos!...
Somma e segue :
Barrocal, Marroquil por Marroeal e este por Barrocal !
E assim a arte nova. Barrose Marros. Beco e Meco. Bega e
Mega. Beira e Meira. Beiral e Meiral. Beiriz e Meirins, quasi
Meiriz. Confronte-se Cabris e Cabrins, povoações nossas
também. Bejota e Mejota. Beladãos e Maladão, singular de
Maladãos. Confronte-se Valagões por Valadões, unde talvez
Beladãos por Valadãos e este por Vadões.
Belchior e Melchior. Bellide e Melides, plural de Me-
lide. Bellinho e Mellinho. Bel lo e Mello. Bellos e Mellos.
Beloitos e Menoita? Bento, Benta e Menta. Bera ou Vera e
Mera. Bertholo e Mertola, quasi Mertolo, mas Mertola foi
cidade romana, chamada pelos romanos Myrtilis (Júlia) a ci-
dade da murta, planta que ainda hoje abunda no alfoz de
Mertola^ como eu já vi.
Batoque e Metoque. Vidão e Midão. Vidas e Midas.
Vide e Mide. Vidões, plural de Vidão, e Midões. Biga e Mi-
gas, casaes. Bilhão e Milhão. Bilhó e Milho por Milheiro,
singular de Milheiros?
Vilheiro e Milheiro. Vilhões e Milhões. Bóia e Moia.
Bofarda, Bufarda e Mufarda de bufarada, e muitos bufos?
Bogo e Mogo. Boiranita por Moiranita, o mesmo que Mou-
rinha? Boieiros e Moleiros. Bom Jardim, Bomjardim e Mon-
jardim, appellidos.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPON YMICA Í343
Boreira e Moreira. Boreiras e Moreiras. Boriz e Morins?
Bortaes, Mortaes e Murtaes. Bossejo e Mocejo. Bota e Motta.
Botas e Mottas. Boução e Mução por Moução ; Boução e Mou-
chão por Moução?
Bouçós e Mouçós. Bouções e Mouchões. Bouro e Mouro.
Bouros e Mouros.. Bouquirihos e Mouquinho, singular de
Mouquinhos. Boreis por Buréis, quinta; e Mureis por Buréis,
outra quinta. Boriz, Buris e Mouriz? Brussó e Murçós, de
Brissolus, diminutivo de Brissus, e nome d'um santo, etc.
Confronte-se S. Brissos, povoação nossa. Bucella, singular de
Bucellas e Mucella? Bucellas por Boucellas, o mesmo que
Vouzellas e Mousellas.
Ba, be, bi, bo e na, ne, ni. no, iniciaes, conlundíram-se
na onomástica portugueza
Babaes e Nabaes. Babainhos e Nabainhos por nabalinhos.
Babe e Nave. Babelhas e Na velhos. Baceira e Naceira. Ba-
ceiros e Naceiros. Bateira, Bateiras e Nateiras. Bêbeda e
Neveda. Bellas e Nellas?... Bello e Nello?... Belmenso e
Nelmenso?... Bera e Nera ou Neras. Bespral e Nesperal.
Bico e Nico. Bingre, appellido e Ningre. Biqueira e Nigueira.
Bobai e Noval. Bobo e Nobo (sic) Bolonha e Noronha, al-
deias nossas e povoações antigas.
Também temos Noronha, appUido nobre e antigo^ talvez
tirado da nossa aldeia de Noronha, freguezia e concelho de
Oeiras, ou de Bolonha, aldeia nossa e cidade de França, pois
Bolonha podia dar Noronha, porque bo e no, lo e ro confun-
diram-se.
A Hespanha não íem povoação alguma denominada
Bolonha nem Noronha. Apenas tem Lorona ou Lorona, al-
deia insignificante de 38 almas.
Re (prefixo augmentatiDo)
Confronte-se Baixia e Rebaixia; Balde e Revalde; Bal-
deira, Baldieira, Rebaldeira e Ribaldeira; Baldio e Rebaldio;
Baldos e Rebaldo; Bella e Rebella; Bellas e Rebellas ; Bello
e Rebello ; Bellos e Rebellos.
Bentinho, Yentinho e Rebentinho; Bimbo, Bimba e Re-
544 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMIOA
bimba; Bôa e Reboa; Boeira e Reboeira; Bolho e Rebolho;
Bola e Rebola; Bolo, Rebolo e Rebolos.
Botto, appellido, e Reboto; Bouça e Rebouça; Bougada,
Vougada e Rebocada, de Revocata^ santa ; Bougado e Revo-
gato, de Revogatus, santo.
Cacho, Cachos e Recachos; Canto je Recanto; Cardaes
e Recardaes ou Recardães; Chã e Rechã; Chans e Rechans;
Chão e Rechão ; Chãosinho e Rechãosinho; Cheira e Re-
cheira.
Somma e segue :
Chiada e Recheada ; Choso e Rechoso ; Chousa e Re-
chousa; Comeira e Recomeira; Covellos e Recovellos ; Cume,
Cumo e Recumo; Facha, Faixas e Refaxa; Falcão e Re-
falcâo.
Fijó, Fijo ou Fojo, Foia, Foio, Foios, Fojo, Fojos e
Refoios, Refojo, Refojos, Refoyos e Refroias o mesmo que
Refoias? Gançaria e Reganceira; Garei e Recarei; Gata e
Regata; Gataria, G ateira e Regateira.
Manga e Remanga; Mendeira, Mendeiros e Remendei-
deiros; Mendo e Remendo; Mirão e Remirão; Moço e Re-
moço (1. Remoço), Moinho, Remoinho e Remunho; Moinhos
e Remoir^hos.
Junte-se ainda :
Ponte e Reponte; Poupa e Repoupa; Pouso e Repouso;
Presa e Represa ; Presas e Represas ; Pulo e Repulo ; Quei-
jada e Requeijada; Queijo e Requeijo; Queijo e Requeijó;
Queiro e Requeiro; Queixada o Requeixada.
Samonde e Resamonde; Sezinhos e Recezinhos; Sião e
Recião ; Sumil, Reçomil e Resomil ; Tacho e Retacho ; Torta
e Retorta; Torto e Retorto; Velha, Rebelha e Re velha;
Velhos, Rebelhos e Revelhos; Venda e Revenda; Vilheiro e
Revilheira ; Villões e Revilhões ; Vinhas e Re vinhas ; Volta e
^ Revolta; Voltinha e Re voltinha,
Diííerentes formas dos mesmos nomes
Adalberto, Alberto, Aldeberto e Ildeberto; Affonso, Al-
fonso, Alonso e Ildefonso; Alladio e Illidio, santos. Anibal
e Alibal. Aprigio e Aprizio, nome dum santo; Arnaldo e
Armaldo; Aroil, Azuil e Zuil, santo; Augusto e Gustavo;
Baldo e Ubaldo, santos.
Balduino, Gualdino e Ubaldino ; Beatriz e Brites. Bricio.
TENTATIVA ETYMOLOOICO-TOPONYMICA 545
Briço e Brissos, santos; Bruno, Brwn, Braun, Broun e Brum ;
Calimaco, Callimacho e Climaco.
Carmelina e Carmelinda; Clorina e Clorinda, santas;
Cosme e Gomes? Deça, Dessa, Dueça e Eça, de Decia (villa)
e este de Decius, Decio, nome romano, tirado de decem — dez?
Doce, Dulce e Adosinda; Dulia e Obdulia, santas; Edgard,
Edgardo, Eduardo e Duarte são formas do mesmo nome.
Edgardo, Eduardo e Duarte foram santos.
Edwiges, Edwigis e Edwizis ; Eleutherio e Luthero;
Ermigio, Hermigio, Reraigio e Remizio ; Eulália o Olalha,
santas. Eupsichio, Eupsiquio, Eusiquio e Euziquio, nomes
de santos.
Everardo e Berardo; Examena, Exemia e Ximena; Flo-
rina e Florinda, Florino e Florindo.
Junte-se ainda:
Floro, Froila e Fruela; Fonseca e Affonseca, de fonte
sêcca; Frederico eFradique; Galama, Glama e Galamba,
appellidos; Gerard, Geraldo, Gerardo, Girai e Giraldo.
Gustavo e Augusto; Hermano, Elmano e Germano;
fíermas, Hermes e Hermio, santos; Hesidio, Egidio e Gil,
Huberto e Humberto, santos ; Hugucião e Ugucião,
santos; Humbelina e Umbelina, santas; Hylarião e Hylario.
satitos; lacob, Jacob, Jacome^ Jayme, Jacques, Thiago,
Diago, Diego, Diogo, Diaz, Dias, Diogues e Diez.
Juzarte e Zuzarte, appellidos; Libório e Ligorio, santos;
Livia e Lybia; Luiza e Luzia. Mafalda e Mathilde ; Nivaldo
e Nivardo, santos; Pedro, Pêro, Piro, Peres e Pires.
Peliquito e Periquito. ' Odalrico e Uldarico, santos ; e
Ulrik; Odilia, Obdilia e Optilia, santas; Olafo e Olavo, san-
tos; Orlando, Rolando e Roldão.
Rodblpho e Raul; Rodrigo e Ru^r; Rodrigues e Roriz;
Salvato e Salvado; S. Cosmado por S. Cosme e Damião;
Soropita, appellido nobre e antigo, de suro+pito; pito suro?
ou de Soeiro Pita. Confronte-se Soropires, de Soeiro Pires.
Temudo e Themido por Temido; Theodoro, Theodora,
Theodorino, Theodorina, Theodorinda, Theodorindo, Theodo-
linda, Tiíeodolindo, Deolindo e Deolinda são formas do mes-
mo nome.
Theodora, Theodoro e Theodorina foram santos.
Ulmaro ou Urmaro ou Ursmaro, santos; Vivaldo e Vi-
vardo, irmãos de S. Bernardo. — Chr. Cister, 411.
Walfrido, nome dum santo, é o mesmo que Alfredo e
Wilfrido, também santos.
35
546 TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA
Walter, nome germânico pessoal, deu Valter e Gualter,
nomes de santos, Alter, Alther, Baltar, Balteiro, Gaitar, Gual-
tar, etc, povoações nossas.
Wencesláu é o mesmo que Venceslau, nome d'um san-
to, etc.
Willibaldo, nome d'um santo, é o mesmo que Villebaldo
e Vivaldo, também santos; Vivar e Bivar, appellidos.
Wladimiro, nome germânico e nome d'um santo, em la-
tim WladimiruSy z, deu Baldomero, também santo; Vai d'Amil
(sitio), Vai de Mil, Valdemir, Valdemiro, Valdemar, Vai de
Mar e Vai do Mar, povoações nossas; Waldemar, Walde-
maro, Waldemira, Waldemiro, Waldimira e Waldimiro, no-
mes pessoaes e appellidos.
Wladisláu é o mesmo que Ladisláu, nomes de santos, etc.
Wolfango e \Yolfgango são nomes de santos e talvez
formas do mesmo nome.
Wulmaro, Gumaro, Vulmaro e Ulmaro, são nomes de
santos e formas do mesmo nome?
flÍDelIeiras
Abeloiras (por Avelleiras), Aboleira, Aboloura ; Aval 1[de
Avellal?); Avellada (Avelleirada); Avellaes; Avellal, Avella-
mes, por Avelanes, Avellans; Avellar; Avelleda, (Aveilei-
reda); Avelleira; Avelleiras; Avelleiro, Avellela; Avellinha,
(Avelleirinha); Avellões (Avelleirões) ; Avellosa (Avelleirosa) ;
Avenal (Avellal !...); Aveneda (Avelleda!...)
Junte-se Bellaido, de Avellanido, o mesmo que Bellide
e Bellido ; Belledo por Avelledo e este por Avelleiredo. Bel-
lida por Bellidas ou Velleda, Avelleireda; Bellide por Bellido
e este por Belledo, o mesmo que Velledo por Avelleiredo.
Também temos Bellido, aldeia, o mesmo que Bellide
supra.
Revellada (Re-(-Vellada); Revelladas (Re+Velladas) ;
Vellada (por Vellada, Velleirada, Avelleirada, Avelleda);
Veladas (por Velladas); Vellamoso (de Vellanoso, Avella-
noso); Veilariça (de Avillaça ou Avellariça); Velledos (de
Avelledos); Vellida (de Velleda, Avelleda); Vellide (de Vel-
leda, Vellido, Velledo); Vellosa, Velloso e Villariça, de Vei-
lariça por Avellariça. Vellosa e Velloso podem ser formas
de Avellosa e Avelloso, ou vir do latim velluSy o vello da lã.
Vide Lanhoso.
TENTATIVA ETYMOLOGICO-TOPONYMICA Õ47
Soromenhos (pereiras brauas)
Lista das nossas povoações que tomaram d'ellas o nome :
Juromenha por Soromenha; Salmanha por Sarmenha?
Saraminheira; Saraminheiro ; Sarmenha; Sederma por Ser-
meda e este por Seromeda — soromenheda ? Sermanha, rio e
aldeia na margem direita do Douro e viaducto da linha do
Douro, junto das Caldas do MoUedo.
Sermenheiros, Seromenha, Seromenho, Serominhão, Se-
rominheiro, Soromenho, appellidos; e Siderma por Sederma ?
dos soromenhos — pereiras bravas.
Vide Saraminheira, Saraminheiro, Saramenha, Sarme-
nho, Soromenha e Soromenho em Figueiredo.
Note-se que a aldeia da Sederma demora na extremi-
dade O. da freguezia de Godim, concelho da Regoa e dista
apenas dois a três kilometros do rio Sermanha e que Sider-
ma, sitio com cinco quintas, pertence á freguezia de Gala-
fura ^, do mesmo concelho da Regoa.
Note-se também que Salmanha é nome d' uma aldeia da
freguezia de Tavarede, concelho da Figueira e nome d'um
casal e d'uma quinta da freguezia de Villa Verde, do mesmo
concelho da Figueira, onde ha salinas e que o povo da Fi-
gueira dà o nome commum de salmanha aos depósitos do sal
6 ás casas onde recolhem o sal.
Também o povo no Douro dá a Sederma o nome de
Sedesma, porque as letras r q s confundiram-se.
\;g;;-;y^ X^laaa £.0 XX ■^olMm.o (X=g^
Galafura vem de Glafura por Glafyra, nome d'um santo, etc.
ABREVIATURAS
a — anno.
ant. — antigo, antiquado.
app." — appellido.
cast. — castelhano.
Cf. — confronte-se.
desin. — desinência.
dim. — diminutivo.
dur. — duriense.
n. pess. — nome pessoal.
onom. port. — onomástica portugueza.
pop. — popular.
port. — portUguez.
pov. — povoação.
prov. — provincianismo.
sec. — século.
suff. — suffixo.
s. etyra. — sua etymologia.
tb. — também.
teut. — teutónico.
unde — d'onde, ou d'onde se deriva.
V. — veja-se.
v. v. — vice-versa.
vb. — verba, ou palavra.
V. g. — verbi gratia, ou por exemplo.
CITAÇÕES EM BRANCO
Pag. 92, linha 9, refere-se a pag. 80.
Pag. 94, linha 17, a referencia é a pag. 220 e seguintes do 1." volume.
TERMINOLOGIA
Desinência — terminação das palavras.
Onomástica — nomenclatura, lista dos nomes.
Patronymico — derivado.
Pejorativo — para peor.
Tópico — ponto, assumpto, thema.
índice
Pag.
A Academia Polytechnica e os Lyceus do Porto ...... 203
Abexim ou Boxim — e Boxem ou Abexim e s. etym 275
Abraã, Abram, Abrão e s. etym 62
Abreviaturas 549
Abricote ou Albricote 287
Acebal, Acebeda, Acebedo e outros nomes da Hespanha, congé-
neres de Azeval, Azevedo, etc 257
Aço 541
Açor 271
Adaufa, Adaufe, Adoufe e Adufe 304
Adaufe, Adoufe, Adufe, Dolves, Nandufe, Rendufe, Regoufe,
Regufe e s. etym 56
Adaufe, Adufe, Dolves, Doufins e s. etym., 41 e 56
Adaufe, Adoufe, Adufe, Casal d'Ufe, Dolves e s. etym. ... 133
Adaufe, Adolfo, Adoufe, Adufe, Casal d'Oufe, Casal d'Ufe, Dol-
ves, Estrada d'Ufe, Fonte d'Ufe, Luffe, Ufe, Villar d'Oufe
e s. etym ^ 265
A de, prefixo ... o mesmo que a granja, quinta ou casa de campo
de 104 e 105
Adela, Absila, Alviella, Viella e s. etym. 67
Adolpho e Adulpho, nomes de santos e s. etym 304
Adorigo, Adourigo, Origo, Oriz, Ourique e s. etym 105
Adosinda, Ouzenda, Ozende, Gende e s. etym. 42
Adosinda, Aldosinda e s. etym 55
Advento dos lumes, promptos, do telegrafo eléctrico e da illumina-
ção a gaz em Coimbra 201
Advogado (um) e um juiz arbitario 179
Afains, Alcains, Mains e s. etym. 132 e 137
Afilhada e s. etym 52
Affinidade entre a onomástica portugueza e a hespanhola ... 271
Almargem, Almarjão e o Padre Sousa . 133
552 ÍNDICE
Pag.
Affonso, Alonso, Ildefonso, etc 42
Agares e s. etym 62
Agilde, Cagide, Cagil, Cabide, Athaide, Tagilde, Tainde, Tangi 1
e suas etym 49
Agostem e s. etym 275
Agueiros, Arrayoilos e s. etym. 298
A Hus ou Logar da Hus e s. etym 63
Aido, eido e suas etym 33 a 35
Al 5 e 80
Al e ar 6 e 95
Albano, Bellino e vários appeliidos nossos tirados de nomes de
santos . 48 e 49
Alberto, Alfredo e s. etym 55
Albino Corvaceira, meu poli-parente 285 e 286
Albino Guedes de Mello e Eduardo Guedes de Mello .... 332
Alborrol, Albuquerque, Alcobella, Alcobia, Alcovas, AlcQmilhes,
Alcordal, Alcoruchel e s. etym 270
Abricoque e s. etym 287
Alcains, Mains ...'....*.. nota 2 de pag. 137
Alcoentre, Coensos, Coentral e s. etym 269 e 270
Aldarem, Alvem, Alvim e s. etym 275
Aldarete, Aldrete, Aldrêu e s. etym 42
Aldariz, Aldrigo, Aldriz, Alhariz, Amares, Ariz, Algeriz, Aljeriz,
Argeriz, Viariz, Vilharigues e suas etym 44
Aldoar, Aldara, Alda, Aldarete, Aldrete, Aldreu e s. etym. . . 270
Aldova, Dolves e s. etym 303 e 304
Alfarellos 64
Alferrara, Alferrarede, Azurara, Ferrara, Ferreira, Ferreiro e s.
etym 211 e 212
Alfontes, Alfreita, Frcita, Freitas e s. etym. 270
Alfredo 55
Alfredo Alves, distincto escriptor 165
Algar, Algareira, Algares, Ligares e s. etym. 223
Algés e s. etym. 42
Algoso, Vimioso e s. etym. 12
Algramassa^ Gramaça, Gramacho, Gramatinha, Gramella, Gra-
mesinhos, Gramido, Graminheira, Gramoinha, Gramual, Gro-
micho por Gramacho, como talvez Camacho por Gamacho
e s. etym 250
Alijó, Crixó, Eiró, Eiró, Eituró, Figueiró, Grijó-e s. etym. ... 236
Alijó, Cidró, Eituró, Mourissó e s. etym 307
Aljariz, Aljeriz, Argeriz, Algeruz, Algiraz, Forjaz e s. etym. . . g
índice 553
Pag.
Almoriz, Armoriz, Esmorigo, Esmoriz, Esmorins, Sanfiz, Sanfins,
Sinfães e s. etym 44
Almoster, Alpedrinha, Alpedreira, Aquarelha e s. etym. . . . 270
Alpalhão e s. etym 10
Alp.ajares e s. etym 9
Alquetes, propriedade minha e s, etym 296
Alva, quinta e castello — Barca d'Alva e s. etym 10
Alvaiázere 261
Álvaro, nome prolífico na onomástica portugueza 287
Amadeiras e s. etym 250
Amarante e s. etym. 59
Amareira, Mareira e s. etym 251
Amares e s. etym 162 e 163
Amigos que durante longos annos me honraram com a sua es-
tima 317 e seguintes, ate 335 e 370
A minha primeira viagem de Lamego para Coimbra .... 206
Ancha 25
Andaluzia e s. etym 58
Angueira, Samora, Zamora e s. etym 35
Antanhol e s. etym. 231
Antão, Antões, Antoinha, Antunhaes e s. etym 277
Antelagar, Lagarem, Lagarinho e s. etym 281
António Camillo d' Almeida Carvalho, meu amigo da velha guarda. 328
António Moreira Cabral, o Cabral da rua das Flores, negociante
de vidros e grande colleccionador de livros, pinturas, gra-
vuras, mobiliário antigo, cerâmica e objectos d'arte. . 81 e 82
António Rodrigues Pinto, de Sande, meu saudoso amigo . . . 325
António dos Santos Leal, de Moncorvo, e o General Silveira . . 322
AppelHdos importados de Hespanha . . . . . , . 117 e 118
Appellidos que passaram de Portugal para a Hespanha ... 20
Appellidos tirados da militança 245
Apodos, appellidos e nomes de povoações tirados das barbas . 257 e seg.
Apothicario e s. etym (texto e nota) 251
Aralla, Arcellas e s. etym. 251
Araújo, Azuaga, Vilhena e s. etym 117
Ardão, Armoniz e s. etym 251
Arnaldo 85
Arnoia e s. etym 341
Aroal e s. etym. 264
Aroil, Barril, Cabril, Bizarril, Cabanil, Carril, Carvoil, Fetil, Fail,
Malhadil, Marroquil, Landril, Louril, Ouril, Outil, Ovil, Pas-
mil, Passil, Resomil, Touril e s. etym 80 e 81
554 índice
Pag.
Arramadas e s. etym 252
Arrefecimento gradual da terra 163
Arribana, Arribas e s. etym 252
Arvores grandes » . . 69, 70, 242 e 254
Arzelas e s. etym 253
Asanto, Assabeiros e s. etym 252
Assares, Assarias e s. etym 63
Asseiceira e s. tym. 249
Assimilação do prefixo árabe ai {o, a, os, as) na onomástica por-
tugueza 249 a 257
Assumar, Lomar e s. etym 230
As viagens em liteira no estio eram uma tortura, um martyrio, 209 a 212
Atagona, Barbatona, Cachadona, Campona, Crazona, Feiteirona,
Silveirona e Foros da Catampona 124
Ataia, Ataja, Ataya, Talaia 116
Ataide, Tainde, Tagilde e s. etym 253 e 289
Atlas de Abrahão Hortelio 158
Athaufus, í, nome germânico 303 e 305
Athenor e s. etym 11
Atianha e sua jocosa etym. 254
Atranco, Trancão, Trancões, Trancoso e s. etym 254
Aval, Avanteira, Avarga e s. etym 255
Avelez, appellido e s. etym 103
Avelleda, Velledo, Vellida, Vellide, Belledo, Bellido, Bellaido, Vel-
leirinho, Aveneda, Venade e s. etym 255
Aveleiras 255
Avinho, Crixó, Grijó, Figueiró, Alijó, Eituró e s. etym. . 236 e 256
Avitureira, Vitoreira e s. etym 256
Ayrão 297
Azabucho, Zabucho e s. etym 256
Azagões, Azagaia, Azalfrias, Azavel, Azebral, Azeimota, Zemoto
e s. etym 256
Azela, Azelha, Azei la e s. etym 67 e 68
Azeredo, Azevedo, Azevo e s. etym. . . . . . . nota de 243
Azeredo, Alvaiázere e s. etym 261
Azeval, Azevido, Azibal, Aziboso e s. etym 256
Azibeiro e s. etym 262
Azueira e s. etym 263
Azuleiral e s. etym. 263
Azurara e s. etym 263 e seguintes e 271
Azurem, por Azurim e s. etym 276
índice ddo
Pag.
Bá, bé, bi, eíc, e má, mé, mi, etc. confandiram-se 541
Bá, bé, etc. e ná, né, etc. confandiram-se 543
Bá, bé, etc, e pá, pé, etc 413
Bacalar ou Vacalar e s. etym. (') 309
Bacios de prata 216
Bacorinhos, Bácoros, Barcos e s. etym. . . . 68 a 70, 75 e 76
Bagauste, Baguaste e s. etym 46 e 294
Baixellas de prata no Douro 215
Balanxo, Barbanxo, Portanxo e s. etym. 257
Balça ou Balsa, povoações nossas; valsa e valsar, nomes communs
e s. etym 302 e 303
Bajd, suffixo teutonico, o mesmo que bold e hard 84
Balde, Baldos, Galdins, Gualdino, Balduíno e s. etym. ... 16
Baldossa, Lapaduços, Peraduça, Sapaduços, Serra d'Ossa e s. etym. 229
Baldrêu, Baldrigo, Bamonde, Barrozende e s. etym 46
Baldrufa e s. etym 304
Baltar, Gaitar, Gualtar, Gualler, Valter Walter e s. etym. . . 56
Barão de Forrester 240
Barateza do vinho e da aguardente no Douro em 1851 . . . 153
Barbosa, Ferreira, Mosqueira, Moura, app.os e s. etym., 259, 308 e seg.
Barcellos, Vouzella e s. etym 296
Barcos, Buarcos, Sabrosa, Sabroso, Taboaço, Tabosa, Távora
e s. etym 68 a 78 e 85
Bargellas, Vargellas, Bargina, Barigellas, Varchinhas, Varziella,
Varzieta, Varzinhas, Fariginhas por Farginhas e s. etym. . 220
Bargina, Barigellas e s. etym. — V. Bargellas.
Barrabas, Barrabeis e s. etym '63
Barranca, Barrancha, Barranco do Inferno, Barranquinho, etc.
e s. etym 223
Barrão e s. etym 87
Barreiria, Barrocaria, Bernardia, Bordalia, Caixaria, Cançaria, Ca-
rapia. Canária, Casaria, Castellaria, Chamelaria, Congeitaria,
Cortezia, Cocaria, Coparia, Couxaria, Gouxaria e suas ety-
mologias 108 e seg.
Barril, Barrai e s. etym. 264
(M V. Vallée de Nekar, em Bescherell e Devars.
556 índice
Pag.
Barrillar, appellido e s. etym 309
Belchior d'Albuquerque . . . , 207
Bem Canis e s. etym 47
Bemnonis, Mumadona, Miomães, Mões, Monha, Monim, Moniz,
Nunellie, Monelhe, Nono, Nunes, Nuno e s. etym. . 47 e 48
Bem-q!ie-fede, Caféde, Caféo, Chafé, Gafete e s. etym. ... 60
Bermudes, Vermil, Vermoil, Vermoim e s. etym 51
Berrasco, Berredo, Borrão, Varrão, Verride, Berraria, Urra, Urro,
Urro, Urros, Urros, Pedra Curra e s. etym. ... 85 e 86
Bertha, Brette, Brecht e s. etym (nota) 55
Bertiandos, Britiande, Brito e s. etym 99
Bibliotheca esplendida que foi dos jesuitas 337
Biographia do anctor (notas para ella), 173 a 177, 187 (noU), 193,
198, 324, 326, 336 alé 369, 372 e no fim de 375
Bivar, Vivar e s. etym. 80
Bizarril e s. etym. 264
Blandina, Brandão, Brandião, Brandim, Brandinhaes e suas ety-
mologias 314 e 315
Bojorreira e s. etym. 226
Bom lanço de rede !.. . 101
Bouça de Pupa e s. etym 296
Bouceguedim e s. etym 301
Boucelha, Bucellas, Vouzella e s. etym 210
Bouchina e s. etym. 301
Bouça e s. etym 302 e 303
Bouça d'Airó e s. etym 297
Bouça de Guindas, Guindaes, Guinde, Guindo e s. etym. . . 297
Bouçoães, Bouçó, Bouçós e s. etym 302
Bousias, Bouxa, Bozelha e s. etym 302
Brandão 315
Brandião 315
Breve noticia dos fenícios 62
Breve noticia dos judeus e da sua barbara expulsão de Portugal
e da Hespanha 61
Briche, cambraia, Carmona, damascos, pecegos, tangerinas e suas
etymologias 38
Brito 99
Bucella, Vouzella 210 e 296
indicp: 557
Pag.
Ces 21
Ca e ga 53
Ca, có, cu e ma, mo, mu 11^
Cá, cô, cu e pá, pó, pu IH
Cabria, Cabrial, Cabrins, Palmeira, Valenqa, Portugal e a Hes-
panha 80
Cabril, Carril, Carvoil, Fail, Felil e s. etym 264
Cabulei muito em Coimbra, mas nenhum dos meus contemporâ-
neos se formou nem podia formar em menos tempo — e sem
umR . . . 1S7
Cachouça, Machouça 113
Cadorneiro, Codorneiro,- Codornellas, Codorno, Cogorno e s. etym. 230
Cadouços e s. etym. 298
Calhandriz, Calhariz, Tralhariz 134
Calor no Douro 121 (nota), 218 e 219
Cães do Saltinho 3
Calorno, Cogorno e s. etym 74
Camoêsa de rosa — maçã portugueza, deliciosa ! 244
Campanha da neve e da academia em Coimbra 188
Campos fertilissimos de Távora 383
Candemil, Candomil, Cartemil por Cantemil, Contumil, Contumilo,
Gondomil, Gontumil, Gondomar e s. etym. . . 51, 59 e 60
Candomil, Santomil e s. etym 36
Candumil, Candomil, Contumil, Contumílo, Gondomil, Gontomil,
Gondomar e s. etym 230
Cantim, Contim, Gondim e s. etym 2S1 e 331
Carapeços, Carapeta, Carapetal, Carapeteira, Carapeto, Carapetosa,
Carapicha, Carapiço, Carapita, Carapito, Carrapassal, Carra-
patal, Carapatello, Carrapato, Carrapatosa, Carrapatos©, Car-
rapichana, Carra pitos e s. etym. 269
Cardão, Casão, Gardão e Guardão por Cardão, Olivão, Pinhão,
Serrão, Sobrão, Tojão e s. etym. 247
Cárdia, Cardida, Cardido, Cardiga, Cardigos, Cardim, Cardote
por Cardalote, Cardunxal e s. etym 277
Cárdia, Caria, Cúria, Franzia, Galleguia, Mouria, Mourisca, Por-
tuguedia, Pousia, Rebolia, Regadia, Soutaria e s. etym. . . 308
Cardoso e Fonseca, appellidos e s. etym. . 310
Careis e s. etym 295
658 ÍNDICE
Pag.
Carem, Carim e s. etym 276
Carmões, Garvão e s. etym 243
Carosa 333
Carrasco, Carrascosa, Carrazeda, Carrazede, Carrazedo e s. etym. 242
Cartem, Cartim, Quartilho, Quartilhaes, Quartinhaes e s. etym. 276
Carujeiro . 330
Carvalha do Presépio (Castro Daire) 254
Carvalhos, cedros, medronheiros e pinheiros magestosos . . . 242
Carneiros que fizeram fortuna 359
Casa da Torre 373
Casarollas, Figueirola, Moreirola, Nogueirola, Tabarola, Taborla
e Taborda 73
Casas circulares na freg. de Poyares cone. de Freixo d'Espada á
Cinta 241
Casemillo, Creixomil Queixomil, Quixomar e s. etym 51
Casita e s. etym 243
Castaide, Castainça, Castainço, Castedo, Castendo, Casteição, Cas-
tinçal e s. etym 72
Castanheiro do Salvado . 70
Castanheiro magestoso do Alferce, no Algarve ...... 254
Castello do Borges 239
Castello do Calfão e s etym 70 e 71
Castro Daire e s. etym 206
Castro Laboreiro, Laborim, Laboris, Lavoris por Laborins^e s. etym. 282
Castrum 206
Cata e Gata, Catão c Gatão, Catella e Gatella, Catellaria, Catellas,
Cateosa e s. etym 280
Catem, Gatim, Guetim e s. etym 230
Cavalheiro que bem merecia a grã cruz da Ordem de Mérito
Agricola 383
Cavalluche, casal de Sacavém e s. etym 285 e 286
Cecilio Cláudio Izidoro, bem mais rico do que eu ! 49
Ceiça, Ceiçal, Ceiceira, Ceissa, Seiça, Seição, Seixa, Seixal Scixalvo,
Seixão, Seixas, Seixedo, Seixeiros, Seixinha, Seixezello, Seixido,
Seixieira e s. etym.— V. Seiceira.
Cellorico, Celleiró, Celleiróz e s. etym 341
Celtas e teutonicos, irmãos gémeos nota 56
Cemitério de Távora 373
Cepeda 102
Cercio c s. etym 22
Cezimbra e s. etym . 22 e 248
Cha e ca, cho e co 109
índice 559
Pag.
Charoeira e s. etym 61
Chavães, Chave, Chaves Chaviães, Chavões .... 120 e 121
Cheriz, Oriz e s. etym 266
Chorido e s. etym 231
Chousal, Chousas, Chouso, Chusas. Inchousos e s. etym. . . . 293
Christovam (D.) de Noronha Mello e Faro de Barreto .... 329
Ci, ki, ou qui 52 e 5:i
Cibrão e s. etym 99 e 297
Cicouro e s. etym ]5 a 18
Cigoffrey, Guilhofei, Jesufrei, Safredo, Vai de Safredo e s. etym.
51 e 52
Cinheiros e s. eym 230
Cintra e s. etym 22 e 248
Citações em branco — preenchidas 549
Có e pó 4
Codeçal, Codecedo, Codexido por Codecido, Codeçosa, Guindaes
e s. etym • 18, 297 e 298
Coderneiro, Codornellas, Codorno, Cogorno e s. etym.— V. Ca-
dorneiro.
Códices que o autor deu á Bibliotheca Publica do Porto . . . 320
Coimbra 248
Coja 301
Coina e s. nebulosa etym 299 e seg.
Cometa de cauda preta. . . 351
Como eu grangeei as vinhas do passal de Távora, colhendo muito
vinho sem estrume, nem adubos e conservando-as fortes e
pomposas 365 a 367
Como o diabo as arma ! 357
Concelho de Freixo d'Espada á Cinta — Esboço etymologico . . 1
Concelho de Miranda do Douro — Esboço etymologico . He seg.
Condes de Marialva 401 e 402
Congregações mensaes e finaes no seminário de Lamego . . . 343
Constantim, V. N. de Constância, — Punhete e s. etym. ... 17
Contim e s. etym 331
Contraste entre os vinhos do Douro c os do sul 226
Contriz, Gondariz, Gondoriz, Gontariz e s. etym 58
Contumil, Contumillo e s. etym.— V. Candemil.
Correios desde Lisboa no século XVIII 169
Coruche e s. etym 178
Corujeira, Escalhào, Esgueira, Esqueira, Esqueiros, Sequeiro, Se-
quieira, Sitinheira e s. etym 242
Corvaceira e s. etym. — V. Setiaes e pag. 400.
560
índice
Pag.
Cota, Cotas, Cotão, Cotães, Cotalleira, Cotarejo, Cotares Cotari-
nhos e s. etym. 278
Cotelaio, Recaio, Roçaio, Focaio, e s. etym. 278
Cotelhe, Cotello, Cotelões e s. etym 278
Cotem, Cotens, Cuteis, Cutens ou Cotins, Cotinhos, Coutinhos ou
Godinhos e s. etym 295
Cotens, Cotões, Cotolinho, Cothurinho, Cotoluda e s. etym. . . 279
Coto — Outeiro 277
Cotimos e s. etym 279 e 280
Cotinho, Coutim, Coutinho, Cotem, Coto, Couto e s. etym. 277 a 279
Coturella, Coturellos, Cutarella, Cuteis, Cutello, Cutinho e s. etym. 279
Coubella, Beltrão, Germano, Roligo e s. etym 93
Couxaria, Gouxaria, Moucharia 115
Cujo 134
Curcomellos, Zagalho, Sangalhos 132
Creixomil, Queixomil e Queixomar.- V. Pasmai e Pâsmil. . . 266
Critica de mofa é critica banal, balofa, imprópria de gente séria . 95
Crixó, Grijó e s. etym. — V. Alijó
Criz e s. etym. 83, nota e 265
Crizes do Douro desde tempos muito remotos . . . . 133 e 155
Curso theologico, o mais numeroso de que ha memoria no semi-
nario de Lamego nota 346
Custodio Gil 355 e seg.
D
D e Z — Já no tempo dos romanos se confundiram .... 93
Dadim, Daem, Dem e s. etym 289
Daem, Dem e s. etym 280
Daffões, Deirão, Dobeira, Dobrigo, Dordelinho, Doroso Odysseia,
Pecúlio e s. etym 74
Daniel, Ezechiel, Gabriel, Ismael, Israel e s. etym 88
Desgraçado arlequim ! 200
Desinência eira no patois do sul da França que parece patois
portuguez 234 e 235
Desinências da onomástica portugueza pouco vulgares. . . . 497
» de três regiões 232
» da Hespanha, congéneres das nossas . . . 540 e 541
Desinência aço 541
» a, e, i, o 270
» aes, ães, eus, ãos e ões . . . 138
índice 5G1
Pag.
Desinência àes 137 e 4íMí
» àes e ans \^o
» àes, ões, etc 507
> ainho 504
» ai 5 e 80
» ancho 513
» eira 232, 233, 242 e 517
» el e ai 262
» elhe, etc 519
» ens por ins. Veja-se diapasão francez.
» êzes Qfí c 523
ia 107, 108, 115, 119, 308 e 524
» icho por inho 527
» iça 527
il e ai 25, 80, 92, 264 e 268
» im 530
» im em volta de Lamego 232
» im por em — v. diapasão francez.
» ona 124 e 132
» ôso, osa 280
» ote 284 e 285
» oufe 265
* udo 279
» zote 539
Deus nobis haec otia fecit! 193
Diapasão francez na onomástica portugueza 273 e seg-
» » no port. pop 294
» » em por im . . . 265, nota, 275, 280, 283 e 288
» » im e in por em 290 e 530
» » ens por ins, eis por êis, o mesmo que âes e ens. 294
» > o por au 303 e 305
» » tí por ou 290 e 296
» italiano e francez no ant. port 292
Differentes formas dos mesmos nomes 544
Diminutivos com a desin. olus, ola 13 e 29
Diminutivos de nomes de santos na onom. port. terminados em
inho 99
V. tópico : Dim. com a desin. olus, ola
Diminutivo ote 284
Dionizio Ignacio de Sampaio Mello 323
Distincto professor de latim 339
Distincto professor de rhetoiica 339
36
562 índice
Pag.
Doble « ou W. ..... 55 e 56
Documento lisonjeiro para mim 372
Doenças das vides. 154
Dois Portos, Portelladia, Sobral de Monte Agraço, Liandro, Si-
zandro, e s. etyní. ............. 228
Dona, Donairia e s. etym 115
Doufins e s. etym 304
Douro — paiz do ouro e da prata . 21ó e 217
Douro— sua divisão pela antiga Comp. dos Vinhos .... 121
No Douro tudo é bom menos o que falta nota 347
-D. Joaquim, da Soenga 327
•D. José de Moiira Coutinho. 341
Dr. Francisco Joaquim Fernandes 104
Dr. Joaquim Pinheiro, de Provezende 383
Dr. Manuel Pinto d'AraujO 177 a 183 e 185 a 187
Dr. Merguíhão 335
Dous conflictos com os' estudantes de Lamego e os serviços rele-
vantes que eu lhes prestei 347 a 350
£ e i4 confundiram-se e substituiram-se 125
E t O confundiram-se na onomástica portugueza . . 30 e 224
Eddetua!... : . 95
Edras, Edrosa, Edroso, Eira, Ereira, Ericeira e s. etym. . . . 235
Egidio, Gil, Gilvaz e s. etym. 73
,Eido, aido ...'...... 33 e 274
.Eira, desinência própria e característica de Portugal e dá velha
Galliza 233
Eira, Ereira, Ericeira e s. etym. — V. Edras. '
Eiras. — Lista de povoações nossas que tomaram d'ellas o nome . 236
Eiras notáveis 237 e 238
,Eirô, Eiró, Eituró e s. etym. — V. Alijó e o tópico — Diminutivos
emolas,ola. . 13, 236 e 297
El, il, ai . 80, 92, 250 e 264
Em e im . . . 265
Eleições da mocada... 178
Enfistella, Infesta e s. etym 294
< Entrada franca em um manicomio 88
Enxudro, Inxidro, Inxurdeiro e s. etym. 294
Ericeira 235
índice 5r,3
Pag.
Ericio, nome d'um santo e s. etym 2'i5
Esboço etym. do concelho de Freixo d'Espada-á-Cinta .... 1
Esboço etym. do concelho de Miranda do Douro 11
Escândalo que faz rir .^52
Escurquella, Fanadia, Faria, Faro, Alarcão, Araújo, Azua^a, Vi-
lhena e s. etym. 117
Escurquella, Folgosa, Sernancelhe, Távora e s. etym. . . nota 240
Esparto e 9. etym 84
Especiosa e s. etym. Port. e o Japão 24
Esperes ou Espeses e s. etym. KJl e 102
Esquadra de 350 velas antes da nossa era 313
Estado lastimoso das ordenações de Lamego até 1858 .... 338
Esther, Parada d'Esther e s. etym 0.3
Estradas de Távora 385
Etymologias de pelle diabi ! 9^7
Etymologias— várias para um só nome— 5, 93, 94, 23 1 a 232, 299 e 300
F e T . . 105 e 391
Fá, fé, fi e vá, vé vi 126
Fa e Ta 390
Faria • 119 e 120
Falorca e Palorca . . 125
Fariginhas, Farjella, Faldigens, Faldrêu, Faileira, Falia, Falorca,
Farrio, Fiscainho e s. etym 12ó e 127
Fariginhas e s. etym. — V. Barjellas.
Faroia, Forjães, Forjão, Forjaz, Froes, Froia e s. etym. , . . 52
Fartotes de feriados em Coimbra 177
Favaios, Chavães, Chavim, Chavões e s. etym 120 e 121
Fe e ré cónfundiram-se na onomástica portugueza .... 130
Feiposa 135 e 136
Feitoria e s. etym 121 e 122
Felgaria, Fetelaria, Felgoso, Folgosa, Folgoso, Feltia, Fentela,
Ventiella e s. etym. . . . 129, 130, 131, 132, 133, 134 e 135
Félix 134
Fenícios » . . . 62
Fenicios e hollandezes, cumulo de maldade e avareza . . nota 126
Fens, Fins, Sinfães, Sanfins e s. etym 28S, 294 e 295
Fens, Finges, Finzes, Sanfins, Sinfães, Alcains, Mains, Mães e Mões
es. etym 132 e 137
564 índice
Pag.
Feras — reminiscência 298
Feriado completamente inesperado 187 a 192 e 198
Fernando, Fernão e Ferrão são formas do mesmo nome . 31 e 32
Fernão de Magalhães, Pinho Leal, José Augusto Pinto da Cunha
Saavedra, Henri Vast, Christovam Colombo, etc. . . 141 a 160
Ferradosa e s. etym 310
Ferreira 259, 271 e 308
Ferreirinha, sua fortuna — gastos de seu segundo marido n'uma
eleição 180 e 181
Ferrem, Terrem e s. etym 290
Fidalgo distincto, ferreiro por officio 310
Fidalgos prolíficos 336
Fidalgos ricos sem successão 334
Fieitos, fentos, fetos 122, 129 a 135
Filhos beneméritos de Távora . 370
Flariz, Frariz, Freiriz, Fradique e Frique, app. e s. etym. ... 45
Foia, Foio, Foja, Fojos, Refoyos e s. etym 298
Folgosa e s. etym.— V. Escurquella 240
Fonseca 310
Fonte Lataca e s. etym 22
Foral de Penajoia 401
Formarigo, Formariz e s. etym 45
Formas anteriores da nossa desinência ães na onom. port. . . 137
Fornos, freg. e s. etym 1
Foros de Beja, de Oravão, da Guarda e de S. Martinho de Mouros 292
Foros da Catampona e s. etym. . 299
Fõrstmann e Martins Sarmento 50
Fortunato Casimiro da Silveira e Gama 321
Fortunhos, Fortuinhos, Portunhos e s. etym 281
Francaria, Franzia, Galleguía e s. etym 273
Francello, Marcello, Sendello e s. etym 40
Francisco José da Silva Torres 178 e seg.
Franzia, Galleguia, Judia, Mouraria, Algarvia, Anadia, Aravia,
Cacia, Cúria, Pinheiria, Portelladia, Portoguedia etc. ... 107
Frasqueira importantíssima, a primeira do Porto, de Portugal e
talvez do mundo todo ! 181
Frederico 45
Freguezias annexadas 1
Freitas, serra da Freita e s. etym 210e 270
Freitosas 135
Fretos 134 e 135
Freixo d'Espada á Cinta e s. etym. ....... 1 e 2
ÍNDICE 565
Pag.
Freixo magestoso, o maior de Portugal 254
Fretos, Marcella, Camarinhos, Traliiariz, Calhariz, Corcumellos,
Sangalhos, Enxidro, Enxuldro, Taganhal, Cujo, Treixedo,
Espindro, Longra, Lordeira, Sepedros, e s. etym 134
Ga, xa e za confundiram-se 93 e 94
Gabrieis, Gabriella, Gabriellas e s. etym 63
Galhufe, Guilhufe e s. etym 56
Galifonxe, Guilhafonce, Guilhafonso e s. etym 54
Gajove e s. etym 63
Galamba da Beira . . 334
Gallegueira, Gallises, Francaria, Franzia, Mouraria e s. etym. . 246
Gallisa. — E' irmã gémea de Portugal 234
Gama 259
Gandufe, Gondufe, Gondufo, Gonfão, Gunde, Gundufe e s. etym. 60
Ganfei, Gavei e s. etym 60
Genisio e s, etym 23
Gerardo, Geraldo, Giraldo, Girai e s. etym 84
Germanello, Jarmello e s. etym 93
Gilberto, Gualberto e s. etym 56 e 330
Godim, Laurentim, Nostim e s. etym nota 283
Golias, casal nosso, e s. etym. 63
Gonça, Gonce, Goncinha, Goncinho e s. etym 59
Gonçala, Gonçalves, Gondizalves e s. etym 59
Gondarem, Gondariz, Gondoriz, Contriz e s. etym 281
Gondesende, Gozandina, Gozende, Gozendes, Gozendinho, Go-
zendo, Gozundeira, Guizande e s. etym 60
Gondifellos, Gondifellinhos e s. etym 58 e 60
Gondim, Contim, etc. — V. Gontães 281
Gondinhães, Gontinhães e s. etym 331
Gondivau, Gondivão, Gondevae, Gondivae, Gondivenho, Gondi-
vinho e s. etym 58
Gondomar, Gondomil, Gontomil e s. etym. — V. Candemil.
Gontães, Gontens, Gondim e s. etym 295
Gove, Jouve e s. etym 63
Grande cheia do Mondego 201
Grande desabamento no Douro no inverno de 1822 221
Grande incêndio em Coimbra 200
Gravatos, Horta da Silva e s etym 23
566 índice
Pag.
Gregos 99
Orijó . ■ 23Ó
Guadiche 398
Guilhabrêu e s. etym 50
Guilhamil, Guilhemil, Guilherme, Guilhomil, Guimara e s. etym. 49 e 50
Guimarães, Gomaraens, Gomares, Gomariz, Gumirães e s. etym. 49
Guindaes 18 e 297
Guesto Ansur, Gostei e s. etym * . . . . nota 263
Gumaro, Uimaro, Vulmaro, Wimaro, nomes de santos, o mesmo
que Vimarus, Wimarus, Wilmarus / nota 50
V. W. no Índice da l.a parte.
Gund, prefixo íeutónico 38, 58 e 60
H
Hard, suffixo teutónico 44, 83 e 84
Honra o teu nome e elle te honrará — seja qual íôr! 236
Hulf ou ulphe, suffixo teutónico e celta 43, 84 e 85
Iben — filho — é prefixo árabe que se encontra em muitas povoa-
ções nossas . . . . , . 45, 46 e 47
Iffanes e s. etymologia 24
Igo e ilho . . . • . . 53
Ildefonso J. Cardoso, Custodio Gil Carneiro, José Estevam e o Rei
de Paredes 355 e seg-
Im por em. — V. diapasão francez 530
Inchouzella e s. etym 293
Indicação dos tópicos tantas vezes promettidos n'esta minha louca
Tentativa Eiymologica 272
Infante D. Henrique 161 a 171
Ingosta e s. etym 293
Insua do cantado e decantado Vianna 191
Ja t ga . 60
Ja t za . . . . '■ 94
índice 567
Pag.
Jaca, Jadão e s. etym 64
Jagaz c s. etym ^-^
Jagunda e s. etym 315
Jalaleel, Joel, Raphaei, Samuel e s. etym 67
Jalles, Alfarella de Jalles e s. etym 64
Jambo, Nabôa e s. etym 313
Javali e s. etym. , 87
Jericó e s. etym. 64
Jeguinte, Jeguintes e s. etym -52
João Gomes d'01iveira Guimarães 253
João Maria Mergulhão Neves Cabral e Accacio Mergulhão Neves
Cabral, meus saudosos primos 335 e 336
Joaquim Ferreira de Macedo Pinto 77
Joaquim d'01iveira Guimarães, tão bondoso, como desditoso, 165 e 166
Joaquim (D.) de Carvalho Azevedo Mello e Faro ...... 327
Joaquim Pinto d' Araújo 183 e 185
Joaquim da Silveira (Dr.) 37 (nota 3), 40, 41, 53, 68, 78, 101, 111,
133, 232, 234, 326, 350, 351, 353, 370, 371 e nota ... 374
Joarim, Joazim e s. etym 64
Joaves e s. etym 63
Joazim, Sarraquinhos, Serranchinos, Serr&quim, Sarrazim, Serra-
zim e s. etym . 53
Jordana, Jordão, Jordões e s. etym. 65
Jornal, que foi o thermometro da noss?i pplitica 376
José Augusto Pinto da Cunha Saavedra 141 e 142
José Borges de Carvalho Vasconcellos 333
José Ernesto de Carvalho e Rego, prelado da Universidade, meu
patrício e i;nuito meu amigo IQO a 1Q2
José Júlio d'01iveira Pinto, morto em um duello ..... 328
José Maria dos Santos, grande proprietário e capitalista e o maior
colheiteiro de vinhos que ha no Alemtejo, em todo o nosso
paiz e no mundo inteiro 220
José (D.) de Moura Coutinho, bispo de Lamego 341
José Tibério de Roboredo Sampaio e Mello 323
Judeus , , . . 61 e 62
Judia, Judias e s. etym 64
JuIio Schneider, privado das barbas e fazendo rir as pedras das
calçadas .,,.,.. 260
Juncaes, Juncal, Juncalinho, Juncosa, Junqueiro, Junquinho e s. etym. 243
Juromenha e s. etym. — V. Ledesma.
Justiniano de Córdova e os Marçaes de Fozcôa 334
568 ÍNDICE
Pag.
Labarella e s. etym 265
Labourinho e s. etym 265
Labrunhal e s. etym 265
Laceíra e s. etym 265
Lacerda e s. etym 265
Laeira e s. etym 265
Lagares — Breve noticia d'alguns, e das nossas muitas povoações
que tomaram o nome d'elles 281 e 282
Lagoaça e s. etym 3
Lama Má , 1J3
Lamó e s. etym. 265
Landril, Lauril e s. etym 264
Lapaduços e s. etym. — V. Baldossa.
Lardoeira, Larjal, Sarjal, Sebadouro e s. etym 229
Larjal e s. etym. — V. Lardoeira.
Latadas e o x em Coimbra ...•., 202
Lavage e s. «tym. 265
Lebra, Lebrem, Lebrinho e s. etym 282
Leça, Eça, Deça e s. etym 265
Ledesma, Sederma, Sedesma, Siderma, Salmães, Salmanha, Ser-
manha, Juromenha e s. etym 229
Lei do menor peso. —V. Apothicario e pag. 298.
Leirão, Leiró, Leirós e s. etym 265
Leixões e s. etym 230 e 249
Lente forjada por mim a martello 107
Leonil, Lomar e s. etym 51
Leonte, sitio histórico do Gerez, e s. etym. . . . nota 2 83
Lerdeira e s. etym 230
Lesid, Sezite e s. etym 230 e 265
Lever e s. etym « 265
Levide e s. etym 265
Liga Académica, semelhante á Carbonária 185
Ligares e s. etym. — V. Algar 3
Lista de alguns homens notáveis de Sabrosa 151
Lista de povoações que tomaram o nome dos cepos e troncos das
arvores . ; ; 102 e 103
Lista de algumas povoações nossas, com a desinência êde . . . 232
índice 569
Pag.
Lista de muitas povoações nossas, com a desinência Im, todas
próximas de Lamego 232
Lista de muitas povoações do concelho de Torres Vedras, com a
desinência eira 233
Lista de povoações portuguezas que tomaram o nome dos francos
ou francezes 273
Liteiras 210
Livralde e s. etym 315
Locomoção antiga e moderna 172 e 176
Lo/so/z — sua bagagem de salteador 216
Lomar e s. etym. — V. Assomar.
Longra e Longa 134
Lordello, Louredo, Lourosa, etc 265
Lorigo e s. etym . 265
Louredo e s. etym ' 332
L t R confundiram-se e substituiram-se 93 e 95
JL e S confundiram-se na onomástica portugueza. — V. o tópico
Substituição de letras 228 a 231
Lourentim 283
Luilhas e s. etym 265
Lumes prontos, gazómetro, etc, em Coimbra 201
Luriz, Oriz e s. etym 266
Lutra, Utra e s. etym 266
Luval, Luvar, Luvares e s. etym 266
M
Má — suffixo de varias povoações nossas 4
Macabio e s. etym 65
Maçada, Malhada, Penamacor e s. etym. 59
Maçãs Camoezas no vinho 244 e 245
Maçagoso, Maçainhas, Maçaira, Maçai, Maçanicas, Maceda, Macedo,
e Mazeda — rua de Lamego e s. etym. (^) . . . 243 e 261
Macens, Macide, Macido, Maciel, Freixiel, Pinhel es. etym. — V.
Maçagoso.
Macedo 261
O) Maceda, Macedo e Mazeda podem vir também do hespanhol Mãzaneda e Man-
zaneda, bosque de manzanas, macieiras ou maçãs, que deram Manzaneda e Manzanedo,
muitas povoações da Hespanha, e Manzanares, rio microscópico de Madrid.
570 índice
Pag.
Maceira ■ 243
Macinhata, Maçoeira, Maçoira e s. etyra. — V. Maçagoso.
Madail e s. etym 25 e 26
Madalena ou Magdalena e s. etym 66
Magães, Magalhôa, Maganha, Maganhe, Magalão e s. etym. . . 141
Magalhães . ., 140
Mais feriados e as forças caudinas . . ... .... ..... 190
Malhadas e s. etym. .............. 25 e 26
Mamarosa, Lava Côlhos, Lava Rabos, Mija Velhas e outros no-
mes portuguezes que devem ser substituidos ... 17 e 18
Manacás, casal nosso e s. etym 66
Mancilha ou Mansilha e s. etym, 262
Mandim, Memende., Mendalvo, Mendares e s. etym 291
Manoel Henrique da Silva Machado, reitor de Bornçs .... 323
Manoel d'OIiveira Chaves e Francisco de Moura Secco, beneméri-
tos filhos de Lamego ^ 336
Manoel Pereira Dias, doutor de Capello, Par do Reino e reitor da
Universidade ..,.,,., 327 e 329
Manoel finto d' Araújo e a saudosa Thomarada ....... 175
Mansilha 262
Manoel e s. , etym. . 66
Marçaes de Fozcôa 335
Mário de Castro 207
Marquez de. ... Mashanaglass \ 159
Marquezes de Marialva 402
Marrocos, notável quinta do Douro e s. etym 222
Martens Ferrão e a minha barbara preterição no concurso para
um canonicato de Lamego com o ónus do ensino . . 355 e seg.
Martens, Martins e s. etyrji, 296
Martinel, Martinxel e s. etym. 277
Matacães e s. etym.— V. Alhandra.
Matheus, Mathias e s. etym. 65
Maurelles, Mauriz, Moural, Mouraz, Mourel e s. etym. . . . 305
Medelin 288
Medim 283
Medlicotte, esboço etymologico 284, 285, 287 e 288
Meios de Ipcomoção e communicação antigos e. modernos, 172 a 176
Meixomil e s. etym. 231 e 276
Mello, villa e appellido, — Melres, quinta, etc. e s. etym. . . . 223
Melres 224
Mendel, Mendenha, Mendiz, Mendanha, Mendonha e s. etym. 291
Menezes 96
IXDICE
571
Pag.
Mendo, Mim, Mem e s. etym. 262
Metem, Medelim, Médello, Medim e s. etym 283
Meteoro da onomástica portu^ueza 108
Mezio e s. etym 210
Micahelis, Migueis, Miguel, Miquei e s. etym 67
Mimosa leitura para senhoras. . . 39
Mimvaqueiro, Mim Velho e s. etym 291
Minde, Mindeilo e s. etym 292
Minhatosa e s. etym 280
Miomães, Moumiz, Nunelhe, Ceidão, Seidães, Pagons e s. etym. HO
Miranda do Corvo, Miranda do Douro, Corvaceira, Douro e s.
etym 11, 26, 27 e 28
Mirus, i, desin. dos ns. germ. na onom. port. deu mil e mar . . 51
Mixilhoeira, Scrpigeira e s. etym. . 246
Mochos, muchões, lagartos e sardões na onom. port. . .. ll.'i a 115
Mões, Monha, Monim, Mumadona e s. etym 139
Moinhos de mão e sepulturas abertas na rocha 71
Molães e s. etym. ... 296
Monin, Moniz, Nunelhe, Monelhe, Nono, Nunes, Nuno e s.
etym 47 e 48
Monte — o que significa no Alemtejo e no Algarve 274
Monteiro 278
Moreda, Navarro, Dias, Diegues, Thiago, Biscainho, Faria, Oravia,
Cárdia, Franzia e s. etym IIQ
Morem, Morim, Mourins e s. etym. ^ . . . 288, 295, 305 e 307
Morlinho, Mourim, Mourins e s. etym 307
Morgado da Ribeira de Sabrosa 152 e 153
Morgado gigante 232 e 333
Morte do santo bispo de Lamego, D. José de Moura Coutinho t
a sua genealogia . . • 263 e 264
Motivo porque certas pov. muito estimavam o privilegio de não
poderem morar n'ellas fidalgos 292, 293 e 329
Mourens, Mouriz, Mourizes, Moreis e s. etym 295
Mourento, Mouria, Mouril, Mourilhe, MouriSsó, Mouriz e s. etym. 305
Mouricão, Mourigães e s. etym 303
Mouriga, Tourega, Touriga e s. etym 307
Mouros, povoações nossas que tomaram d'elles o nome, 305 e 306
Mouros. Incommodaram-nos muito, mas pagaram-nos tudo —
próprio e custas ! . . . 306
Mund, suffixo teutonico 57
572
ÍNDICE
N
N tV confundiram-se
Naufrágio do grão turco . .
Nazido e s. etym
Nomes affrontosos 235 e
Nomes derivados dos açores
» » de adjectivos numeraes romanos ... 331
das aveleiras (')
dos barrocos 222 e
dos bezerros
das bouças 296, 301 e
de cabras
dos cardos
dos carrapatos
dos castanheiros
das cepas e troncos das arvores . . 102 e
das corujas
dos cotos
dos cucos ...
das eiras
das favas
- dos fetos . . '. 122 a
dos francezes 104, 105 e
dos gatos
do hebraico
da hera
dos lagares
dos lagartos
das lebres
dos leões .......... 83, 84 e
das maçãs ...
dos mochos
dos mouros 305, 306 e
dos ouriços cacheiros
Pag.
93
195
262
236
263
392
255
223
226
303
80
277
269
72
103
110
277
110
236
120
137
273
280
62
235
282
113
282
236
261
113
308
235
(1) Vol. 1.0, paginas 351 a 354.
ÍNDICE Õ73
Pig.
Nomes derivados dos peixes nota 266
de porcos 79, 82, 85, 86 e 87
» » de possiigas 87
> » das romeiras ou romanzeiras 267
» » dos teixos 13
» » dos troncos de árvores 103 a 105
» » de urze 94 a 96
» » das zebras 243
» » V. Povoações.
Nomes indecentes 18
» importados 38
» que devem mudar-se 17
Nostim 283
Nunilona, Nuno e s. etym 331
O por a na onomástica portugueza 8
Odivellas e s. etym 73
O Douro e o Marquez de Pombal 217
O Douro, — as vides europêas e as vides americanas . . . . 219
Ois da Ribeira, Ois do Bairro e s. etym 311
Olival dos Borrões e s. etym 86 e 87
O meu casarão da Corvaceira 214
Onomástica portugueza, valente auxiliar da historia 306
Onomástica portugueza comparada. 106, 112, 115, 131, 134, 135 e 139
O palacete do conde da Borralha 197
O prefixo árabe ai, perdendo o / e formando um todo com vários
ns. de povoações nossas 19
Ordenações do Seminário de Lamego — sua reforma, 340, 342 e
seg. 350, 351 € . . • . . . . 352
Ordenado dos antigos professores do seminário de Lamego . . 364
Ordiaes, Orgens, Orjaes e s. etym 310
Orreiro, Orros, Reiro, Reiros e s. etym nota 86
Os criados também podiam succeder nos vincules e ser morgados 153
Ourai, Ouraes, Ouriçaes, Ouriz e s. etym 265
Ourem, Ourim, Ourinho e s. etym 265 e 288
Ouril, Ourai e s. nebulosa etym 264 e seg-
Ousarem e s. etym 289
Outil e s. etym 266
Outro jorreiro de feriados, ao todo mais de 70 192
Õ74
índice
Outro jorreiro de feriados, e nós todos aprovados sem fazermos
acto
Pag.
198
Pa, po, pu e ba bo bu confundiram-se 126
P e T confundiram-se e substituiram-se na onom. port. . . . 135
Pacheco, appellido e s. etym. 311 a 316
Paço Frio ou Passa Frio 70
Padella, Padreíla, Penella, Peninha e s, etym. V. Lapella.
Padim, Paim, Tainho, Palada Palleira, Panque, Paralheira, Para-
nhão, Tavilhão, Teixe, Peja e s. etym 135
Pagade, Serem, Tranquilhos e s. etym 316
Paimogo e s. etym 298
Pai Mouro, Paião, Paio, Pais e s. etym 305
Paio Pires ou Aldeia de Paio Pires, sua apologia e s. etym. . . 299
Pais, Paião, Paio, Sampaio e s. etym. ' 298
Palácio das Sereias ou da Bandeirinha e s. etym, . . . . . 212
Palaçoulo e s. etym. Pertence á grande série de povoações nossas
em cujos nomes se encontra a desinência olus, ola. Indicam-
se muitos dos taes nomes 29
Palamoro, Pé de Moura, Porto Mourim e s. etym. .... 306
Palancar e s. etym. 27
Palha caríssima 168
Palorca. 135
Panasqueira, Panascal, Panasquita, Melrita, Casita e s. etym. 243
Parada, Paradella, Paradinha e s. etym 30
Paraduça, Peraduça e s. etym. — V. Baldossa.
Paránhão 135
Pasmai, Pasmil e s. etym. 51
Passil, Resomil, Touril e s. etym. 80 e 81
Passil, Passal e s. etym -. 267
Paturra, quinta, e s. etym. 3
Pedro 393 e B94
Pedro Bôcca de Porco, era o nome do papa Sérgio iv . . . . 87
Pedro da Silveira Athayde e Vasconcellos 393
Pedrogo e s. etym • 98
Pelagio 305 e 306
Pelho, Tanha, Terá, Perraço, Perrâes, Pigeiro, ligeiro, Pijão, Tijão,
Tinheiro, Tanhel, Tinhella, Tires, Tiroeira, Pogeira, Pugido,
ÍNDICE '')t-)
Pag.
Tugido, Tuido, Tosar, Tujj^al, Tuzar, Tocho, Toí,'o, Tuxo
e s. etym 136
Pena Branca e s. etym. 28
Penajoia e s. etym 73
Penajoia, Taboaço, Távora e a baga de sabugueiro . 307, .jj^ c 4fX)
Penozem e s. etym. . 289
Penude, Penide, Penides, Pindella Pindello e s. etym 210
Perdagães, Pintães, Pitões, Touraes, Tourãcs, Tourões e s. etym. 139
Perdão d'acto 198
Perfeitos, familia muito antiga, muito nobre e muito rica . . . 237
Petrus in cunctis 259
Pexem e s. etym 289
Picote por Picoto e s. etym 30
Pintem, Pintens e s. etym. 296
Pintim e s. eiym 28^
Pinto d'Araujo e o Dr. Castro, vulgo Castrinho 178
Pinto d'Araujo e o seu acto 186
Plantação de vides — preços no Douro e no Alemtejo .... 220
Pobreza do districto de Bragança 1
Poda das vides 365
Poiares ou Poyares e s. etym. 4
Poído, Pugido; Tuido 136
Poja, Poledo, Polo, Tonta, Tontão, Tontello, Porvilhão, Tragai,
Tredo, Prilhão, Trinhão, Trofa, Trovella e s. etym. . . . 136
Politicão d'agua chilra 362
Porca de Murça . . . . ... . . ... . . . 86
Porcalho, Porcalhota, Porcariça, Porcariço, Porcel, Porcelhe, Por-
ches, Porcimo, Progo e s. etym. 79
Porcia, Porciana, Porciano, Porcilia, Porcilio, Porcinia, Porcinio,
Porcino. Porcio e s. etym. '. . 79
Portelladia e s. etym.— V. Dois Portos.
Possijal, Possilgaes, Possilgão, Possilgõ:;s, Pexiigas e s. etym. . 87
Pousadouro, Pousadouros e s. etym.' 7
Povoa e s. etym, 83
Povoações que tomaram o nome dos t€Íxos 13
Povoações que tomaram o nome de Martinus, / 15
» que tomaram o nome de Leodomirus, Guntimirus,
Theodomirus e Wladimirus, / 23
Povoações nossas qu€ tomaram o nome dos francos . . 104 e 107
» que tomaram o nome dos feitos, fentos, fetos ou
fieitos 122 e seg.
Povoações que tomaram o nome dos bezerros 226
Õ76 índice
Pag.
Povoações da Hespanha que tomaram o nome das maçãs ... 261
> nossas que tomaram o nome das boiças ou bouças, 296 e seg.
» — V. nomes derivados.
Praves 137
Prazins e s. etym 316
Prefixo ai 270
Prefixo castelhano ta, metathese do antigo árabe ai, que entre nós
deu fl 265 e 266
Prefixo sub 387
Pregaes, Pregai, Pregueira 136
Prilhão e Trilhão 136
Prime e s. etym. 296 e 321
Producção das vides por milheiro 227
P e / confundi ram-se 135
Prova, Provella, Trovella 136
Pulgas em barda e Albergaria das Cabras ....... 209
Q
Quarteira 396 397
Queixomar 267
Quinta das Águias 382
Quinta de Castello de Borges e a nossa do Campo Velho, ambas
no Alto Douro e margens do Tedo 239
Quinta Grande 65
Quinta de Valmôr e s. etym 218
Quintas que já foram parochias 1
Quando o Douro esteve em alta eram ali triviaes as salvas
faqueiros aié bacios de prata! 216
R, letra falsa 134
Rad, rich, hulf 43
Rabaceira, Rabaceiro, Rabacinhos, Rabaçosa e s. etym. ... 87
Rabasca, Rabasco, Rabasqueira, Ravasco, Ravasqueira, Ravasqui-
nha, e s. etym 87
Rainha D. Theresa.— Passeava pela Galliza como nós por nossa
casa . 234
Rainhas de Gouveia 38
índice 577
Pag.
Ramada e suas accepções 127, 128 e 274
Rande, Raul, Rauiim, Rolim, Rodoipho, Rol, Rouíe, Randufe, Ren-
dufe e s. etym. 43
Re, prefixo augmentativo 543
Recarei, Reçamonde, Recamonde, Recamunde, Rica Monte, Roca-
monde, Reimonda, Reimonde, Reimondinho, Raymundo e s.
etym 56, 57 c 84
Recião, Reguião, Requiães, Requião e s. etym nota 53
Recordação dos tempos de Coimbra 173 a 20Í
Redacção que era uma pequena praça de guerra 183
Refega e s. etym 27
Refujos 298
Reiros, etc nota 85
Remesal 267
Reminiscências dos gregos 99
Rendimento da nossa casa durante 5 annos nota 380
Republicano opportinista e 374 384
Resomil e s. etym 267
Rezenda, Rezende, Rezenta, Rozem, Rozim e s. etym 290
Ribaçaes, Ribaçal 325
Ribadeneira, appel. hesp. e s. etym 234
Ricardo 57 e 84
Ricassos do Douro nota 215
Rich — poderoso, rico, suffixo e prefixo germânico muito prolí-
fico 43, 44, 57 84
Riqueza de Cecilio Cláudio Isidoro 49
Rira bien qui rira le dernieri 95
Roberto 93
Rodrigo, Roligo, Rorigo, Roriz, Ruy, Ruins, etc. e s. etym. 42, 43 e 133
Romagem e s. etym 268
Romaneira e s. etym 267
Romazelhas, Romeiral, Romeirão, Romeirinha, Romeirinhos, Ru-
melha e s. etym 267
Romeu, Romaneira, Romeirão, Romezal, Remezal, Romeirinho e s.
etym 65
Rompecilhas e s. etym. 210
Ronca, Roncanito, Roncão, Roncas, Ronqueira, Ronquilha, Ron-
quinha e s. etym 86
Ronceiras é talvez o mesmo que Ronqueiras .... nota 2.» 86
Roteiro de Castro — hontem e hoje 167 e 168
Ruminhal, Ruminheira, Ruminheirinha e s. etym 268
Runa e s. etym.— V. Alhandra.
Ruy Fernandes e a ponte dos piares 5
37
578 índice
Pag.
Ser 127
Saavedra e s. etym nota 1.» 149
Sabordella e s. etym 228
Sago e s. etym 229
Sagres, Chaves, Alares, Amares e s. etym 162 e 163
Salvador Paes 215
Salmães, Salmanha, Sermanha e s. etym. — V. Ledesma.
Salto da Pandeira e s. etym 3
Sameira, Sameiras, Sameiro e s. etym 228
S-^mel, Samil, Tamel, Tamal e s. etym 268
Sanor, Samora, Samorão, Samorim, Zamora e s. etym. . . . 271
Sampaio 305
Samuel Gelb em Coimbra 177 e 183
Sancho i, Affonso ii e o Rei Venturoso não leram pela mesma
cartilha! 311
Sande, Sandiaes, Sandião, Sandim, Sandinha, Sandinho, Sendim,
Sendinha, Sendinho e s. etym 231
Sandiaes, Cepães, Sepães, Faldijaes, Faldigens, Fralães, Farlens,
Fundães, Gontães, Guntens, Muçães, Orjaes, Orgens e s. etym. 138
Sandim, Sendim, Sindim e s. etym 36 e seg,
Sanfins, Sinfães 132
S. Gil e Tangil 91
Santelmo 388
Sapaduços e s. etym.-^V. Baldossa.
Saragoça Rainha e s. etym 38
Sarjal e s. etym. — V. Lardoeira.
Sarrão, Sarricos, Sarranheira, Sarroeira, Serrão e s. etym. . . 246
Sa, se, so e ta, te, to, confundiram-se na onomástica portu-
gueza 90, 268 e 269
Schisto — pranchões 241
S. Colmado, S. Cosmado e s. etym 231
Sebadoiro e s. etym. — V. Lardoeira.
Sederma, Sedesma, Siderma e s. etym. —V. Ledesma.
Seiceira e s. etym 248 e 249
Senande, Sernande, Sernancelhe e s. etym 36 e 51
Senandus, etc ' . . 231
Sendiães, Sendieira e s. etym 39
Sendim, Sendinha, Sendinho e s. etym. — V. Sande.
índice 579
Pag.
Senhora que bem merecia uma commenda da Ordem de Mérito
Agricola 382 e 3-"1
Sensaboria por causa d'uma poesia
Sernancelhe e s. etym.—V. Escurquella 231 e 240
Serra da Freita 210
Serra d'Ossa e s. etym. —V. Baldossa.
Serra das Talhadas e s. etym. 210
Serviços que prestei na freguezia de Távora ...» 37^ e seg.
Setiaes e s. etym 247
Sever, Severim, Cervães e s. etym 16
Sinçães, Sinceira, Sinceirinha e s. etym. —V. Seixeira.
Sindieira e s. etym 247
Sizandro, rio, e s. etym. — V. Dois Portos 228 a 231
Soares, Soura, Souro, Soirinho, Souralva, Soure, Sourinho, Souro
Pires e s. etym 80
Sobal, Fancaria, Palorca, Freitosas, Feiposa e s. etym. ... 135
Sobrada, Sobrado de Paiva e s. etym 12^
Sobradinho, Sobrainho e s. etym 74
Sobral de Monte Agraço. —V. Dois Portos 228
Soenga, Tulheiras e s. etym nota 225
Some-te, coisa má !.. . nota 137
Somil e s. etym j» . . . 230
Soppo e s. etym 230
Soromenhos. — Povoações que tomaram d 'elles o nome. . . . 229
Sousa, rio, Sousella, etc. e s. etym 230
Substituição das letras ^ e O na onomástica portugueza . . . 224
Substituição de letras :
a 403
b 409
c 417
d 432
e ' 441
/ 445
g 45i
/• 460
j 465
l 466
m 474
n 477
O 480
p 483
580 " índice
Pag.
q 486
r 486
s 491
/ 494
u 494
V 495
w 495
Suffixo hebraico El-Deus 67
Suffixo e/— Daniel, Gabriel, Ezequiel, etc 88
Suimo, Suina, Suino e s. etym 82
Synonimias de Pacheco 314e seg.
Tep 135
Tá, té, êtc. deram dá, dé, etc *. 289
Tabaçô, Tabelladas, Tablado, Taboaço, Taboeira, Taveira, Ta-
boeiro, Toveiro, Taboneira, Taborda, Tabosa, Tavares, Ta-
veira, Taveiro, Távora e s. etym 71 e 73
Taboada de Garrido e os nossos correios .... 168 a 172
Tadim, Tagilde 289
Tagilie 49, Ql 289
Taíís arbor, falis fructus 326 e 360
Talhadas 210 e 296
Talís vita — finis ita 362
Tanhal 136
Taralhão 135
Tavira 388 e 389
Távora — filhos beneméritos 370
Távora e s. etym. — V. Escurquella 240
Teixeira 13
Teixos e castanheiros notáveis e uma fidalga muito desequilibrada 14
Telho, Tellões, Tenõese s. etym. 341
Terminologia 549
Thadim, Thaim, Tainde, Tedim, Thaide, Tangil, Tagilde e s. etym. 289
Theobalde, Tibalde, Tibaldo, Tibau, Tovar e s. etym. ... 85
Tneomil, Thomar e s. eym. ... 51
Thomarada 175, 177, 185 e 324
Thourim, Tourem, Turiz e s. etym 290
Tiburcio, nome pessoal, e s. etym 40
índice Õ81
Fag.
Tinheiro 136
Tinhella 136
Tires 136
Tito de Noronha 386
Tocho, Tojo, Tuxo 136
Toilo, Touto, Toutosa e s. etym 269
Toja, Tocha 136
Tomem a penna, — desçam do palanque, — entrem no redondel —
e verão o que lhes succede! 95 e 100
Tonce, Torqueiros, Trizio e s. etvm. 137
Tópicos promettidos e outros mais 272, 392 e seg.
Torres Vedras, Matacães, Runa, Alhandra e s. etym. . . 227 e 242
Torres Vedras e s. etynk — V. Alhandra.
Torres Vedras — desineneia eira 232 e 242
Tougues, Touguinha, Touguinhó e s. etym. .... nota 304
Tour du Monde ha quatro séculos por 2 navegantes portuguezes 157
Touta, Toutão, Tontello, Tontinha 136
Tozal, Tuzar, Urzal, Zurzaes e s, etym 94
Trancoso por Troncoso 254
Transformação completa das ordenações de Lamego, de 1857 a
1860 . 340
Trisio 137
Trofa 136
Tufe, Tufos e s. etym 304
u
Urro 85
Ursos. —Varias povoações que tomaram d'elles o nome . . 229
Urze, planta muito prolífica na onomástica portugueza . . 94 e 96
V
Vacalar 309
Vaccaria, Vacariça, Vaqueira e s. etym 291
Vairão, Ver, e s. etym 35
Vai de Mira e s. etym 23
Vai de Nácar :>91 e 392
582
índice
Pag.
Valdigem e s. etym ^ 17
Valdosende e s. etym 54
Varchinhas, Vargellas, Varziellas, Varzieta es. etym.— V. Bargellas 220
Vasconcellos 118
Viação antiga 167, 168 e 173
Viagem deliciosa do Porto a-^Villar de Maçada . . . . . . 211
Viagem de Amarante á Rede e vice-versa no tempo das liteiras e
das diligencias 213
Videira que já deu em um só anno duas pipas de vinho de 550
litros cada uma 255
Vidigueira, etc 255
Viegas e s. etym 45
Villaça, Vasconcellos, Padim, Queiroga, Saldanha, Tovar, Calainho
e s. etym - . . 118
Villa Duffe, Villar d'Oufç e s. etym 304
Villa Fonche e s. etym 133
Villa Pouca, palácio notável de Rezende 333
Vinho de 20$000 a garrafa, 14:000$000 cada pipa 181
Vinho do Alto Douro, feito d'uva passa 238
Vitoreira 256
Vouzella 210 e 296
w
W 55 e 56
«
Za e ja 94
Zamora 35
Zaviel e s. etym " 93
Zebras — pov. nossas que tomaram d'ellas o nome 243
Zeiteiros, Zenha, Zevinho e s. etym , , . 256
Zimbral, Zimbreira, Zimbreirinho, Zimbro e s. etym 243
ERRATAS
Pag. 1, linha 7, onde se lê nos concelhos, leia-se no concelho.
Fag. 13, linha 6, onde se lê Tão, leia-se Taes.
Pag. 30, ultima linha, onde se lê Beirão, leia-se beirão.
Pag. 37, linha 6, e n'outras páginas, onde se lê — meu atávico
successor — *entenda-se: provavelmente meu successor n'estes trabalhos
etymologicos, mas com defeitos moraes atávicos, ou herdados de seus
passados.
Pag. 46, linha 17, onde se lê Ranzendo, leia-se Rausendo.
Pag. 65, nota. A quinta tem só 16 kilómetros de circunferência, com-
preendendo propriedades encravadas d'outros donos; e não tem três
estações, mas apenas a do Romeu e o apeadeiro dos Avantos, esta quasi
fora da mesma quinta.
Pag. 81, linha 3, onde se lê e Louriçal, leia-se Louriçal e Louridal.
Pag. 95, linha 7, onde se lê edd tua, leia-se ede tua {ede tua opera
— publica as tuas obras).
Pag. 143, nota 2. Esta nota é uma errata. Fica sem valor, porque
o texto está bem.
Pag. 175, linhas 25 e 26, onde se lê vol. ii, pag. 774, leia-se: vol. xi,
pag. 775.
Pag. 199, linhas 30 e 31, onde se lê: em Portugal e Coimbra, leia-se
em Portugal e designadamente em Coimbra.
Pag. 237, linha 21, onde se lê ensocalculada, leia-se ensocalcada,
Pag. 264, linha 23, onde se lê ficitos, leia-se /(e/tos.
Pag. 285, 286, etc, onde se lê proli-parente, leia-se poli-parente
(muitas vezes parente).
Pag. 339, linhas 28 e 29, onde se lê 122, leia-se 121, e onde se lê 32'
leia-se 18. Veja-se a rectificação na nota da pag. 346.
Pag. 340, ultima linha de texto, onde se lê de fond em, leia-se de
fond en; e na l.a linha da nota supprimam-se as palavras ainda hoje (1909).
Pag. 341, nota 2, onde se lê vol. xi, leia-se vol. ix, e onde se lê
vol. IX, leia-se vol. xi.
Pag. 345, linha 17, onde se \è prosteri, leia-se pos/en.
pag. 355, linha 30, onde se lê entulhada, leia-se atulhada.
Pag. 364, linhas 9 e 10, onde se lê vemit e radicibos, leia-se venit
e radicíbus, e no fim da nota, onde se lê vol. ix, leia-se vol. xi.
^ Pag. 381, linha 10, onde se lê lhe, leia-se lhes.
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515
V.2
Ferreira, Pedro Augusto
Tentativa etymolico-
toponyinica
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